A Renuncia De Jânio Quadros Nas Páginas Dos Jornais Última Hora (Porto Alegre) E a Razão (Santa Maria)
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1240 A RENUNCIA DE JÂNIO QUADROS NAS PÁGINAS DOS JORNAIS ÚLTIMA HORA (PORTO ALEGRE) E A RAZÃO (SANTA MARIA). Tamiris Carvalho Mestranda em História do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Maria Email: [email protected] Carlos Henrique Armani Professor Orientador da Universidade Federal de Santa Maria Email: [email protected] RESUMO: Este artigo apresenta como os jornais abordaram o impacto da renuncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961, nos jornais Última Hora de Porto Alegre e A Razão de Santa Maria. O Última Hora apresentando como alguns países e seus lideres reagiram frente a este momento político no Brasil, já no jornal A Razão são reportagens mais interioranas, mostrando como foi a reação no município e como os vereadores, prefeito entre outros reagiram frente a este momento histórico. PALAVRAS-CHAVE: Campanha da Legalidade; A Razão; Última Hora. REFLEXÃO TEÓRICA. O presente projeto está inserido na linha de pesquisa Integração, Política e Fronteira do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Maria, que compreende questões referentes à história política. O estudo conceitual do político visa analisar os sistemas de representações que comandam a maneira pelo qual, uma época, um país ou grupos sociais, conduzem sua ação e encaram seu futuro. Dentro dessa linha, a história das ideias analisa “a imprensa, e os movimentos de opinião, os panfletos e os discursos de circunstâncias, os emblemas e os signos” (ROSANVALLON, 1995:09). Esta perspectiva vem ao encontro de nosso projeto que analisará os discursos produzidos na sociedade de Porto Alegre e Santa Maria, em resposta ao movimento legalista. Este trabalho contribuirá para o avanço científico, pois entendemos que existem algumas lacunas referentes a esse tema. Levando em conta esse fator, percebemos que não existem trabalhos que tratem especificadamente desta região, nem da história dos discursos políticos sobre esse tema. Primeiramente realizamos uma breve análise histórica da história política, apresentando as críticas que a mesma sofreu e o seu retorno a partir dos anos de 1970. Nas tendências historiográficas contemporâneas, os historiadores questionam 1240 1241 paradigmas referentes ao papel do Estado, ao sentido dos conceitos como Pátria, Nação e identidade nacional, assim como o significado do político, enquanto dimensão que afeta o cotidiano. Desta forma, ao destacar o cotidiano e as relações sociais, mais que narrar o passado, o historiador considera-se como agente modificador da sociedade, alimentando as discussões sobre as diferentes manifestações coletivas no campo político. Além disso, a racionalidade instrumental deixou de ser eixo explicativo das ações humanas, o que levou os historiadores a romperem com os paradigmas de cientificidade com base em uma racionalidade, puramente objetiva, em crise desde o final do século XIX. Todas essas transformações possibilitaram uma renovada história política, desde o abandono da história tradicional em 1929, até a retomada do interesse pelo político em 1970. René Remond (1994) e Jacques Julliad, (1988), são autores que representam essa retomada do político, onde possibilitaram o alargamento do campo da história política, devido à interdisciplinaridade, pois utilizaram-se de outras áreas do conhecimento para se ter uma melhor compreensão da mesma. Ampliou-se o entendimento do político que pôde ser compreendido como o comportamento dos cidadãos responsáveis por seus rumos. A história do político recebeu influências da psicologia social, da ciência política, da linguística e da filosofia, sendo que o seu casamento com a antropologia trouxe à luz uma história dos costumes. Como se percebe, houve uma mudança na forma de pensar história, com novos objetos de estudo, que não apenas os fatos políticos tradicionais ligados ao Estado, brindando-lhes um olhar diferenciado. No Brasil, essa história constituída por acontecimentos associados aos grandes líderes e às questões do Estado, marcada pela linearidade e pelos critérios positivistas, marcou boa parte da historiografia até a década de 1960, claro que tivemos algumas exceções como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes que em suas obras trazem um olhar diferenciado para a sociedade em relação a política. Jacques Julliard, em 1974, foi um dos historiadores a pedir a reversão desse quadro e apontou os vícios e defeitos de que era acusada a história política, A história política é psicológica e ignora condicionamentos: é elitista, biográfica mesmo, e ignora a sociedade global e as massas que a compõem; é qualitativa e ignora o serial; visa o particular e ignora a comparação; é narrativa e ignora a análise; é materialista e ignora o material; é ideológica e não tem disso consciência; é parcial e não sabe o que é; atém-se ao consciente e ignora o inconsciente; é pontual e ignora o longo prazo; numa palavra, porque esta palavra resume tudo na gíria dos historiadores é factual. Em suma, a história política confunde-se com a visão ingênua das coisas, visão que atribui a causa dos fenômenos ao seu agente mais evidente, mais elevado na escala, e que avalia a sua importância real de acordo com a repercussão na consciência imediata do espectador. (JULLIARD, 1988:57). Julliard lembra que a história política “não desapareceu, sob a forma narrativa, 1242 bigráfica e psicológica, ela continua a representar, quantitativamente, uma fração importante, possivelmente dominante da produção livresca” (1988:181). Por algum tempo ela deixou de produzir uma problemática e de trazer a luz trabalhos inovadores. René Remond, também apresenta suas críticas, que a história política sofreu. “Ela reunia todos os defeitos contra os quais as novas gerações de historiadores desejavam definir-se, reagindo a uma negligência demasiado prolongada dos historiadores mais velhos frente às outras realidades não menos importantes...” (1994:04). Porém, há uma retomada na história política que René Rémond chama de “retorno do político”, o próprio autor não gosta deste termo, porque ela faz pensar que se trata de uma volta atrás ou de uma restauração, quando na verdade trata-se de algo bem diferente, de uma outra história, que se beneficiou do enriquecimento de todas as gerações anteriores e trouxe, não resta dúvida, o político para a frente do palco (RÉMOND, 1994:04). Julliard ainda propõe que pensemos a volta do político ligada ao seu crescimento nas sociedades modernas definindo “a história política como a história da intervenção consciente e voluntária dos homens em todos os domínios onde são resolvidos os seus destinos, uma extensão do papel e do campo de aplicação do político” (1988:183). O autor acrescenta que os meios de comunicação modernos e as informações tornam imediatamente político um grande número de acontecimentos, onde estes ganham uma repercussão pública enorme. Seguindo Julliard nos coloca que o “o historiador político deverá fazer cada vez mais apelo ao longo prazo” (1988:187), ou seja, devemos trabalhar com a permanência e não apenas com a mudança. E também não devemos considerar esse tempo homogêneo, mas sim “reunir por meio da comparação, os elementos de uma estrutura que o acontecimento oculta, atrás de singularidade” (JULLIARD, 1988:186). Essa abertura, ou melhor, a renovação da história política permitiu o surgimento de novos objetos como já mencionamos. Podemos citar a geografia eleitoral, a opinião pública, a imprensa, os discursos entre outros objetos, a partir de diversas fontes. Nesse caso utilizaremos como fonte os jornais. A construção do inimigo foi algo recorrente, é possível perceber em alguns jornais Última Hora dos primeiros dias da Campanha da Legalidade onde já criava-se a ideia de que o Brasil poderia vir a ser um inimigo. Devido à relação que havia entre Fidel Castro e Jânio Quadros, que eram considerados “melhores amigos”, o que para o EUA era motivo de alerta em certos círculos norte-americanos. Brizola tomou a posição de líder para que a Constituição fosse validada, com isso contou com seu carisma, que aderiu milhares de pessoas em torno da Praça da Matriz, em Porto Alegre, durante a Campanha da Legalidade. Havia uma lealdade entre ele e seus 1242 1243 seguidores, porque até mesmo em outros municípios do estado do Rio Grande do Sul houve mobilização, através do rádio Brizola também se fez ser ouvido pela população gaúcha. A seguir traremos como os jornais abordaram a renuncia de Jânio Quadros e a forma como essa notícia repercutiu nos jornais Última Hora (Porto Alegre) e A Razão (Santa Maria). Os Jornais. Os jornais escolhidos foram Última Hora de Porto Alegre e A Razão de Santa Maria, por serem fontes que abordaram a Campanha da Legalidade em suas páginas e trazem os discursos que foram produzidos durante este período e por se tratar de um jornal de circulação na capital do Estado e outro no município, mais regional. Portanto, foram fontes que delinearam o projeto de mestrado. A seguir trataremos um breve histórico dos jornais, tendo em vista que o projeto se encontra em andamento, ainda não realizamos a analise das fontes, mas sim o levantamento das mesmas. O jornal Última Hora foi criado em 1951, no Rio de Janeiro, pelo empresário Samuel Wainer, o mesmo foi criado com o apoio do então presidente na época Getúlio Vargas, este seria um jornal de apoio ao governo. O jornal foi então, o porta-voz do governo, através dele medidas, programas e ideias do governo circulavam, mostrava-se alinhado ao presidente. Em 1952, foram abertas edições regionais, em outras localidades do país. Primeiro foi criado à edição em São Paulo, logo depois no Paraná, e em 1958 em Porto Alegre. O jornal criado na capital gaúcha era partidário, foi criado inicialmente como experiência em formato tabloide, enquanto os outros eram em formato “standard”. Segundo Jefferson Barros (1999), “o Última Hora gaúcho foi a mais radical das Últimas Horas”, inclusive a ponto de discordar das orientações que Samuel Wainer dava à rede nacional. Um exemplo foi a posição que o Última Hora gaúcho tomou frente à renúncia do presidente Jânio Quadros em 1961, onde o jornal apoiou a posse de Jango, enquanto a orientação nacional era acatar o parlamentarismo.