UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Instituto De Geociências Departamento De Geografia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Instituto De Geociências Departamento De Geografia UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Instituto de Geociências Departamento de Geografia Do combate à convivência com a seca: os dilemas da participação no Programa Um Milhão de Cisternas Rurais nos Municípios de Virgem da Lapa e Araçuaí, Minas Gerais. Luciana Mendes Barbosa Julho de 2006 Belo Horizonte UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Instituto de Geociências Departamento de Geografia Do combate à convivência com a seca: os dilemas da participação no Programa Um Milhão de Cisternas Rurais nos Municípios de Virgem da Lapa e Araçuaí, Minas Gerais. Luciana Mendes Barbosa Trabalho apresentado na disciplina Geografia Aplicada B, do curso de Geografia da UFMG, sob orientação do Prof. Klemens Laschesfski e avaliado pelos professores Doralice Barros Pereira e Valter Lúcio de Pádua Julho de 2006 Belo Horizonte 2 RESUMO Esta monografia tem como foco a atuação das entidades executoras do Programa de Formação e Mobilização para a Convivência com o Semi-Árido: Um Milhão de Cisternas (P1MC), sendo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a Cáritas Diocesana, nos Municípios de Virgem da Lapa e Araçuaí respectivamente. Este programa, uma iniciativa da sociedade civil organizada e governo federal, propõe a construção de cisternas de placas para coleta de água de chuva como forma de viabilizar o acesso à água para população rural do semi-árido brasileiro. O objetivo desta pesquisa é avaliar a prática participativa empregada por este programa como forma de fomentar a participação da população no projeto de mobilização social para a construção da convivência com o semi-árido. Para tanto, foram realizadas entrevistas com representantes da Cáritas e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e com famílias rurais para investigar o envolvimento da população e de organizações locais na sua execução. 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO..............................................................................................................................09 CAPÍTULO I - DA MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA À CONVIVÊNCIA COM O SEMI-ÁRIDO.................................................................................................................................21 1.1 – O Programa Um Milhão de Cisternas Rurais........................................................................28 CAPÍTULO II - BASES TEÓRICAS...........................................................................................34 2.1 – Do Global ao Local: o novo paradigma do desenvolvimento ..............................................34 2.2 – Capital social: leituras a partir de três perspectivas clássicas ...............................................36 2.2.1 – O capital social na perspectiva das organizações internacionais..............................38 2.3 – O protagonismo da participação no processo local de desenvolvimento.............................43 CAPÍTULO III – ESTUDO DE CASO.........................................................................................46 3.1 – A proposta de capital social no P1MC..................................................................................48 3.2 – O Sindicato dos Trabalhadores Rurais..................................................................................53 3.3 – A Cáritas Diocesana em Araçuaí e a necessidade de se repensar o conceito de “comunidade”.................................................................................................................................56 3.4 – Desafios e limites da participação no P1MC : o mutirão e o Fundo Rotativo Solidário ........................................................................................................................................................61 DISCUSSÕES DOS RESULTADOS ...........................................................................................76 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................................80 APÊNDICES 4 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 – Mapa de distribuição espacial das secas no Nordeste Figura 2 – Mapa das deficiências hídricas anuais do Estado de Minas Gerais Figura 3 – Mapa da Localização da bacia do Médio Jequitinhonha em Minas Gerais Figura 4 – Mapa da localização de Virgem da Lapa e Araçuaí no Médio Jequitinhonha, Minas Gerais Figura 5 – Fotografia de um modelo de cisterna de placas Figura 6 – Organograma político-administrativo da AP1MC Figura 7 – Quadro síntese das principais definições de capital social 5 ÍNDICE DE SIGLAS E ABREVIATURAS AMEJE – Associação dos Municípios do Médio Jequitinhonha ANA – Agência Nacional de Águas AP1MC – Associação Programa Um Milhão de Cisternas ASA – Articulação com o Semi-árido CAA – Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas CAV – Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica CEB – Comunidades Eclesiais de Base CEMIG – Companhia Energética do Estado de Minas Gerais. CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CODEVALE – Conselho de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura COPAM – Conselho de Política Ambiental do Estado de Minas Gerais COPASA – Companhia de Saneamento de Minas Gerais CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito CPTSA – Centro de Pesquisas Tecnológicas do Semi-árido CSR – Catholic Relief Services DESA – Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FAO - Organização das Nações Unidas para a agricultura FIAN – Rede de Informação e Ação pelo Direito a se Alimentar FUNASA – Fundação Nacional de Saúde 6 GEVALE - Grupo de Executivo de Coordenação de Ações dos Órgãos e Entidades dos Governos Estadual e Federal no Vale do Jequitinhonha IDH – Índice de Desenvolvimento Humano IEF – Instituto Estadual de Florestas IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MMA – Ministério do Meio Ambiente ONGs – Organizações Não Governamentais PCSA – Programa de Convivência com o Semi-árido PDHS – Plano de Desenvolvimento Humano Sustentável PND – Plano Nacional de Desenvolvimento PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PMDES – Plano Mineiro de Desenvolvimento Econômico e Social P1MC – Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-árido: Um Milhão de Cisternas Rurais SAB – Semi-árido Brasileiro STR – Sindicato dos Trabalhadores Rurais UGM – Unidades Gestoras Municipais UGC – Unidade Gestora Central UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Criança UNRISD – Instituto de Pesquisa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Social 7 AGRADECIMENTOS É com alegria que encerro mais uma etapa da minha vida e inicio outra. Antes, porém, é preciso agradecer aqueles cujo papel foi fundamental para que eu chegasse ao fim de mais uma jornada. Agradeço a minha mãe, eterna guerreira, que com amor e austeridade não permitiu que eu perecesse. Aos meus velhos, novos e bons amigos que com descontração, me fizeram perceber que a vida não deve ser levada tão a sério. Ao Celinho que me reconciliou com a Geografia. Ao GESTA/UFMG (Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais) e sua equipe por me receber de braços abertos e enriquecer minha graduação e minha vida. Aos Professores Doralice, Klemens e Valter pelas orientações preciosas e por acolher tão bem este trabalho. Aos sertanejos do Médio Jequitinhonha pelo exemplo de persistência e coragem. A Deus por permitir que eu conhecesse pessoas tão maravilhosas e solidárias durante esta caminhada. 8 INTRODUÇÃO O Semi-árido brasileiro é um dos maiores do planeta em extensão geográfica e em população, com um território de aproximadamente 868 mil km2 (FIGURA1), abrangendo o norte dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, os sertões da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e uma parte do sudeste do Maranhão. Segundo dados do IBGE, sua população é composta por mais de 18 milhões de pessoas (POLETTO, 2001). Em termos gerais o Semi-Árido Brasileiro é caracterizado como uma província fitogeográfica das caatingas, onde dominam temperaturas médias anuais muito elevadas e constantes. Os atributos que dão similitude às regiões semi-áridas são sempre de origem climática, hídrica e fitogeográfica: baixos níveis de umidade, escassez de chuvas anuais, irregularidades no ritmo das precipitações ao longo dos anos; prolongados períodos de carência hídrica; solos problemáticos tanto do ponto de vista físico quanto geoquímico (solos parcialmente salinos, solos carbonáticos) e ausência de rios perenes, sobretudo no que se refere às drenagens autóctones. (AB’SABER, 1999, p. 07) Contudo, o semi-árido brasileiro é um dos mais úmidos do planeta, o que favorece o emprego de técnicas de captação de água de chuva. Em razão do desconhecimento do poder público e de determinadas organizações quanto às suas especificidades e características geográficas do semi- árido, seu ecossistema é freqüentemente desvalorizado pelas políticas voltadas para a promoção da região. Parte deste ecossistema é realmente árida, desertificada e se insere no Polígono das Secas1, outras apresentam ilhas de umidade, dispondo de água em seu interior, como as serras úmidas, os baixios e as vazantes. Em virtude desse desconhecimento e de não apresentar a mesma exuberância das florestas úmidas e de estar associado à imagem de pobreza e estagnação, esta 1 O Polígono das secas,
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