Jornal do Teatro Em Cartaz André Garolli Camila Morgado

O Cristina Pereira Drica Moraes Marília Pêra

G uia de teatro Moacir Chaves Reynaldo Gianecchini Tuca Andrade P

Hérson Capri e Kiara Sasso em A noviça rebelde O musical mais popular de todos os tempos reabre o Teatro Casa Grande

ANO IX Nº 93 exemplar gratuito bastidoresbastidores A mulher atômica “­­Eu procurava um texto simples para montar meu primeiro es- petáculo como produtora. Simples como montagem, que exigisse pouca gente em cena e equipe reduzida. Foi quando me deparei com A Ordem do Mundo, de Patrícia Melo, a história de uma mulher com uma missão impossível: a de classificar notícias de jornal numa tentativa absurda de ordenar o planeta. E é neste cenário que refletimos sobre a sobrevivência em um mundo caótico. A necessidade de nos responsabilizar por nossas vidas, tomá-la nas mãos, ordená-la. Eu me senti intensamente provocada por essa mulher que, desde o início, sabemos que vai fracassar, mas precisa continuar tentando. O personagem poderia ser um homem, mas Patrícia cria uma mulher, a figura feminina que vive em um turbilhão. Que mulher atômica é essa que nós inventamos? Quem é este ser capaz de montar uma lista de supermercado e discutir a guerra do Iraque? Que mulher é esta que entende do alfinete ao foguete, que fala sobre fraldas e reciclagem de lixo? A peça trata da responsabilidade que temos em por ordem no que nos rodeia. E, como Helena, encaro a responsabilidade de minha primeira produção e de meu primeiro monólogo. Várias crises atemorizam o teatro hoje. Custos altos, patrocínios escassos. Espero que isso seja passageiro. O teatro é sempre uma atividade de equipe. Tanto que, apesar de ser um monólogo, nunca me sinto só no palco. Quando entro em cena, estou acom- panhada pela direção de Aderbal Freire-Filho, pela luz do Maneco Quinderé, o som do Marcelo Neves, a roupa do Marcelo Olinto e a bela produção de Claudia Marques e sua Fábrica de Eventos. E pelo apoio do próprio texto, que me dá retaguarda. Vivas ao Teatro, aos monólogos, aos grandes elencos, às tra- gédias e comédias, às vanguardas e aos clássicos. Lá é o lugar onde tudo é possível. É o lugar do ator! ” Lenise Pinheiro / d ivu l gação Drica Moraes, junho de 2008 jornaldoteatrojornal do teatro Pesquisa em cena Acervo vivo Todos os fins de semana, de Com o patrocínio da Petrobras, já maio e abril, a Mostra Novíssimas começou a ser recuperado o acervo Pesquisas Cênicas, organizada pelo da Sociedade Brasileira de Autores Centro de Estudo Artístico Experi- Teatrais (SBAT), que de 1917 até a mental, leva oito peças inéditas ao década de 80 catalogou todas as pe- Sesc Tijuca, sempre às 19h. Ao fim ças encenadas no País. Fundada pela da mostra, um único trabalho será compositora Chiquinha Gonzaga e escolhido por voto popular para pelo escritor João do Rio, a entidade fazer temporada em julho no teatro. tem mais de 1.700 documentos em Depois de cada sessão, o público seu acervo. A digitalização­ vai ter- é convidado a acompanhar os de- minar no início do segundo semestre bates. Informações pelo telefone e o material estará à disposição do 3238-2129. público pela internet.

Solidariedade Em português A produção da comédia Como Um público estimado de 12 mil Passar em Concurso Público, que pessoas deve acompanhar as já foi assistida por mais de 80 mil atividades do primeiro Festival pessoas em Brasília e no Rio de Ja- de Teatro da Língua Portuguesa neiro, concede desconto a todo es- (Festlip). Celebrando a riqueza e pectador que levar uma lata de leite a diversidade cultural dos países ao Teatro Clara Nunes. Em quatro lusófonos, de 4 a 15 de junho, dez meses de temporada carioca, foi companhias teatrais de Angola, arrecadada mais de uma tonelada Moçambique, Cabo Verde, Portugal de leite em pó, encaminhada ao e Brasil se apresentam no circuito Retiro dos Artistas. SESC-Rio. Agende-se!

Aplauso é uma publicação mensal da Sociedade Cultural Itaipava Ltda. Redação, adminis- tração, publicidade, informações sobre assinatura e correspondência: Rua Gal. Venâncio Flores, 620/101, CEP 22441-090, Rio de Janeiro, RJ. Tels.: (21)2233-6648, 2263-1372 e 2516-5056. E-mail: [email protected]. Diretora: Ivonette Albuquerque. Colabo- radores: Walkyria Garotti (edição de arte); Olga de Mello (textos). Jornalista responsável: Catarina Arimatéia MTb.: 14135. Certificado de Registro de Direito Autoral nº 155.441. Impressão: Grafitto. Capa: Roberto Schwenck / Divulgação www.aplauso.art.br palavrapalavrapalavra de ator Thiago Rodrigues A odisséia de cada um

Aos 13 anos, tive as primeiras aulas de teatro. Rapidamente percebi que estar em cena era fundamental para minha vida. Passei por diversas experiências até chegar, em 2006,

já com 18 anos, ao Galpão Aplauso, onde b a bi lemos / divulg ção descobri que meu trabalho não se limitava Ator da Cia Aplauso, Thiago Rodrigues à atuação, mas a compreender todas as pretende especializar-se em direção etapas da produção cênica. Participar de diferentes oficinas em todos os campos do texto encontramos, com todas as metáforas teatro, não apenas na apresentação, con­ e simbolismos, o real que nos cerca, as ‘tribuiu decisivamente para fortalecer minha experiências vividas. decisão de me profissionalizar. Pretendo, um Faço Thiago Ulisses, professor univer­ dia, ser diretor. sitário que é um paralelo com Thiago Atualmente, na Cia Aplauso, estamos em Rodrigues, morador de Benfica, estudante processo de desconstrução da exuberân­ de Pedagogia. Mas cada história tem uma cia artística, buscando sensações que se beleza específica a ser descoberta. E isso encontram no íntimo de cada um de nós. se revela na maneira como chegamos aos Sob a coordenação de Thierry Trémouroux, ensaios hoje: os atores estão mais presentes abrimos outros canais que fazem do ator o em cena, demonstram um prazer maior em autor de sua própria criação. encenar, em se apropriar do espetáculo com Desta forma, um pouco da história de paixão. Ao mesmo tempo, o mundo fora do cada um surge no palco. Neste momento, teatro passa a ser visto sob a ótica da Nossa estamos montando a Nossa Odisséia, es­ Odisséia. Quando a Cia Aplauso integra tudando a história de cada um através das às técnicas de representação a reflexão viagens de Ulisses, o herói grego. Um texto filosófica sobre virtudes e valores, não está que pertence à Grécia Antiga, ou seja, ao aprimorando apenas o trabalho do ator em alicerce de toda a cultura ocidental. Nesse cena, mas também o cidadão.” e de desrespeito a quem está a nosso lado, Seqüestro erótico interessados apenas em satisfazer nossos Para Cristina Pereira, Alzira Power é uma interesses”, diz Paso. comédia perigosa, escrita em uma época em Yolanda Cardoso foi Alzira nas primeiras que as pessoas “tinham tanta coisa na cabeça montagens, tendo como companheiros de que as idéias não cabiam no cérebro”, con- cena os então estreantes Antônio Fagundes, forme diz. “A peça continua atual, contem- na temporada paulista, e Marcelo Picchi, porânea aos nossos dias. É a história de uma quando a peça veio para o Rio de Janeiro. mulher aposentada dos Correios e Telégrafos Apesar do sucesso – Yolanda também rece- que deixa a porta do seu apartamento aberta beu diversos prêmios por sua interpretação e aí entra um corretor de automóveis, vivido –, o espetáculo só voltou a ser encenado pelo Sidney Sampaio, querendo vender um em montagens de estudantes de Teatro. “O fusca. Ela tranca a porta, joga a chave pela momento político pode ter contribuído para o janela e daí acontece um seqüestro ‘erótico’, texto ter ficado fora de montagens comerciais, com situações loucas, muito engraçadas, mas mas nem mesmo a linguagem empregada por também muito dramáticas entre esses perso- Bivar ficou datada”, observa o diretor. nagens que são igualmente antagonistas.” Gustavo Paso acha que a peça perdeu um pouco de sua conota- ção política, o que vem a reforçar a temática sobre a solidão. Alzira é uma mulher culta, aposentada, que vive com um cachorro que Alzira Power foge de casa. Chorando a perda Desejo, solidão e antagonismo marcam a peça do cão, ela deixa aberta a porta do de Antônio Bivar Por Olga de Mello apartamento, o que leva o jovem Ernesto a entrar, intrigado pelo solidão que só obtém companhia Idéias e desejos som de choro. Vendedor, casado na violência é um tema recorrente O diretor Gustavo Paso conheceu a peça e com filhos, o rapaz se revela A na literatura ocidental. A comédia quando estudava Artes Cênicas na Universi- alguém sem sonhos, conformado dramática Alzira Power, que conquistou o dade do Rio de Janeiro (Uni-Rio), em 1992. com uma existência modesta, que Moliére de melhor texto em 1969, mostra o “Os anos 60 e 70 foram muito ricos em é obrigado a reagir às provoca- encontro de uma mulher de meia idade com termos de dramaturgia no Brasil. Surgiram ções e humilhações que sofre de um vizinho medíocre, suscitando reflexões diversas peças emblemáticas como esta, em Alzira. “A peça foi revolucionária sobre a solidão, falta de comunicação, que duas figuras de mentalidades opostas por falar em repressão, mas hoje violência e a ruptura de parâmetros. Quase vivem um confronto de idéias e desejos. O ela toca direto na indiferença que quatro décadas mais tarde, o texto de An- que mais impressiona é que, passados 40 JR / divulga çã o e RONALDO SILVA PASO AVO dispensamos aos que são dife- tônio Bivar chega à Casa da Gávea, com anos, as coisas não mudaram. Continuamos rentes da maioria da sociedade”, os : GUS T t

Cristina Pereira no papel principal. vivendo situações dramáticas, limitadoras f o arremata Gustavo Paso. A noviça rebelde

O mais popular dos musicais reabre o Teatro Casa Grande Por Olga de Mello

m conto de fadas moderno, base- Política e romance ado em fatos reais, com toques de A referência da peça para os brasileiros U humor, reflexão sobre valores pes- está no filme de Robert Wise, estrelado por soais, política e boa música. Qual desses Julie Andrews como a jovem noviça contra- elementos – ou a junção de todos eles – fez tada para cuidar de sete crianças órfãs de de A Noviça Rebelde o mais popular musi- mãe, criadas por um severo oficial da marinha cal de todos os tempos? Desde sua estréia austríaca. “A peça é um pouco diferente. nos palcos norte-americanos, com as Tem mais política e menos romance. Mas composições de Richard Rodgers e Oscar mantém a figura do pai rígido que se rende ao Hammerstein II pontuando a saga da família charme da jovem governanta, com quem se Von Trapp, os aristocratas austríacos que casa. É uma história de Cinderella, mas com deixaram seu país às vésperas da Segunda um sabor especial, por inspirar-se em fatos Guerra Mundial temendo a ascensão do reais”, diz Möeller, orgulhoso por estrear uma nazismo, A Noviça Rebelde conquistou superprodução no Rio de Janeiro. “Já fizemos prêmios e público, arrebatando platéias diversos espetáculos grandiosos em São com sua versão cinematográfica, em 1965. Paulo, como Charity, que não começaram a “A história não envelheceu, continua emo- temporada aqui devido à falta de patrocínio cionando e encantando”, garante o diretor e ao mito do baixo poder aquisitivo das pla- Charles Möeller, que, ao lado do diretor téias cariocas. Mas sempre que trouxemos os musical Cláudio Botelho, está à frente da espetáculos para o Rio ficamos lotados. Está versão que inaugura o novo Teatro Oi Casa na hora de derrubar esse mito e dar ao Rio a

Grande, no Leblon. grandiosidade que os cariocas merecem”. Sc hwen c k / divul g açã o s: R o be rto f oto 31 personagens Sucesso imediato Badim (‘Baronesa Elsa Schraeder’), Mirna Kiara Sasso, no papel da noviça Maria, e A história de Maria Von Trapp foi levada Rubim e Vera do Canto e Mello (‘Madre Su- Hérson Capri, como o Capitão Georg Von ao cinema alemão em 1956, tendo como periora’), Ada Chaseliov (‘Frau Schmidt’), Trapp, encabeçam o elenco de 44 cantores/ base sua autobiografia. Três anos depois, Dudu Sandroni (‘Franz’). atores que se dividem em 31 personagens. foi montada a produção teatral norte- Para acostumar o público às novas ver- Kiara e Capri estarão em todas as récitas, americana protagonizada pela atriz Mary sões em português de músicas conhecidas mas seus filhos se alternarão. “Criamos Martin, já com as músicas de Rogers como Do-Ré-Mi, The Sound of Music e My três grupos da família Von Trapp, pois são e Hammerstein. Sucesso imediato de Favourite Things, o elenco já gravou o CD sete filhos, adolescentes e crianças. Não crítica e público, recebendo oito prêmios da peça. “Na Brodway, normalmente, a podíamos sobrecarregar os menores, que Tony, o musical chegou ao cinema em gravação ocorre no primeiro dia de folga têm entre cinco e seis anos”, explica Charles 1965, com Julie Andrews como Maria. após a estréia. Decidimos inovar e abrir até Moeller. O núcleo adulto conta ainda com No mesmo ano, Música, divina música um mercado novo, pois sempre nos pedem A Volta do Casa Grande trazia pela primeira vez ao Brasil a versão Fernando Eiras (Max Detweiler), Solange a gravação das canções de nossos espetá- Inaugurado em agosto de 1966, o completa norte-americana. Houve outra culos, o que acabávamos fazendo ao vivo, Teatro Casa Grande se notabilizou por montagem brasileira, com Zezé Polessa perdendo parte da qualidade. A Sony nos ter se transformado em um centro de fazendo Maria, na década de 90. propôs lançar o álbum com 14 canções. resistência de artistas e intelectuais A resposta foi excelente”, conta Cláudio durante o regime militar, ao abrigar Botelho, diretor musical e responsável por os Ciclos de Debates da Cultura todas as versões das músicas. Contemporânea a partir de 1975. Mais de 100 profissionais, entre atores, Além de grandes shows, produções produção, técnicos e estagiários partici- teatrais como O mistério de Irmã Vap pam da montagem de A Noviça Rebelde. A e Nardja Zulpério ocuparam o palco superprodução tem 22 números musicais do Casa Grande, assim como apresentados pelos atores com apoio de O burguês ridículo, último espetáculo uma orquestra de nove músicos. Os onze di- em cartaz antes do grande incêndio ferentes cenários criados por Rogério Falcão que destruiu o local em 1997. O teatro reproduzem locais de Viena, como as mon- funcionou precariamente em um tanhas próximas à cidade, além de alguns galpão, apresentando peças como A máquina, O que diz Molero aposentos da mansão dos Von Trapp. e Woyzeck, em 2003, quando fechou definitivamente. Agora rebatizado de Oi Casa Grande, o teatro reabre suas portas com capacidade para 950 espectadores. A sala de espetáculos contará com um palco de 20 metros de altura e 13 metros de boca de cena, além de fosso para orquestra, telões de LED, doze camarins e três foyers. Gianecchini e Camila Morgado, à frente da entanto, a maioria do público me conhece por peça no Teatro dos Quatro. personagens dramáticos, a heroína romântica Alcione confessa sua surpresa com a da Casa de Sete Mulheres, a sofrida Olga longevidade do texto, que quase três déca- Benário Prestes, uma vilã em novela. Esta das depois ainda provoca gargalhadas no peça me dá a oportunidade de viver diferen- Doce público: “Comédias tendem a envelhecer, tes personagens em um pequeno intervalo mas o humor desta peça permanece atual. de tempo. Eu estava há seis anos longe do Estou vendo as platéias reagirem muito bem”, palco e queria voltar a fazer rir.” Difícil, nos diz o escritor, que criou situações a serem primeiros ensaios, foi estar sob o comando representadas conforme diferentes gêneros de Marília Pêra. “Eu imaginava como iria teatrais, do teatro do absurdo à ópera, pas- me desnudar na frente de uma das maiores deleite sando pelo teatro de revista. O universo do atrizes que existe. Ao mesmo tempo em que teatro, com seus personagens próprios, como me sentia gratificada por poder contar com o contra-regra, a bilheteira e o empresário, es- Marília, estava apavorada. Em pouco tempo, tão representados por Camila e Gianecchini, isso se modificou. Marília se preocupa com o que permanecem 90 minutos em cena, tro- ator e tem um tremendo domínio de qualquer Comédia com cando de roupa, maquiando-se e escolhendo processo dentro do teatro”, diz Camila. diferentes adereços, como perucas e barbas Reynaldo Gianecchini, que além de atuar, Reynaldo Gianecchini falsas, em frente ao público. estréia como co-produtor do espetáculo, e Camila Morgado faz também destaca a facilidade em “fazer rir” Fazer rir devido à direção de Marília Pêra: “É fantás- homenagem ao ator e “Houve diversos Deleites, incluindo um bem tico ser dirigido por ela. Por ser uma grande a todos que trabalham parecido com o atual”, conta Marília Pêra, que atriz e conhecer profundamente o projeto, já cortou alguns trechos da nova montagem. Marília passa uma grande segurança”, elo- em teatro “Sempre mexo nos textos de meus espetácu- gia. Com 12 números, Doce Deleite exigiu Por Olga de Mello los, vou adequando de acordo com a resposta uma preparação especial dos atores, que do público. Teatro é dinâmico. A peça atual é dançam balé e cantam ópera em cena. diferente da que eu fiz em 81, mas guarda a essência daquela, tem a mesma delicadeza. m 1981, Marco Nanini e Marília Pêra Voltar ao Deleite, desta vez na direção, é muito Sem Mauro Rasi pediram ao escritor Alcione Araújo que bom”, diz ela, que já conhecia o trabalho de A primeira montagem do espetáculo tinha textos E escrevesse alguns quadros para uma Gianecchini em teatro, mas só havia visto de Mauro Rasi que não entraram na atual versão comédia leve, que tratasse de diferentes Camila em cinema e televisão. A diretora porque estavam muito datados, explica Alcione assuntos. Nascia Doce Deleite, que perma- não poupa elogios aos dois atores: “Camila Araújo. “Havia um quadro engraçadíssimo, com neceu quatro anos em cartaz rodando boa é perseverante, disciplinada, estudiosa. Ela uma menina protestando contra a construção da auto-estrada Lagoa-Barra, num outro momento parte do País. Passados 27 anos, Marília e me lembra muito a , havia Emerson Fittipaldi como referência de Alcione voltam a fazer o espetáculo – muito por sua segurança e intensidade em cena. Já parecido e também bastante diferente da piloto de Fórmula 1. A peça atual está quase o Giane se arrisca, é um atleta, que provoca completamente atemporal. Sempre haverá uma ou versão original. Desta vez, Alcione é autor frisson em qualquer platéia”. outra observação sobre o momento atual, porém a de todos os textos dos esquetes (na outra Camila Morgado já havia feito uma comé- intenção é deixá-la com situações cômicas que não montagem, havia quadros de outros dra- dia de João Falcão no teatro e “um papel não precisem se prender ao circunstancial, que perde a maturgos), enquanto Marília dirige Reynaldo os : divu lga çã o força dramática assim que o momento muda.”

t tão sério” em peça de Gerald Thomas. “No fo m plena Segunda Guerra Mundial, o seriam ruins por denotarem nossa carência argentino Adolfo Bioy Casares publicou de cultura, são positivos no momento em E sua obra-prima, A Invenção de Morel, que pretendemos fazer do espectador um uma novela intrigante que discutia angústia, cúmplice na jornada do protagonista, exata- A invenção crime, fuga, solidão, amor e domínio tecno- mente como no livro”, diz Chaves. “A narra- lógico, enredando o leitor em um turbilhão tiva é importantíssima, mas não estaremos de emoções contraditórias. Estabelecer com contando a história do personagem. Vamos de o espectador uma relação semelhante a mergulhar na investigação dessa superposi- que o escritor firma com o leitor foi um dos ção dos planos de existência/não-existência eixos da montagem que chega ao Teatro 3 que a obra nos proporciona”. Aventura do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Questões do teatro também são traba- fantástica sob direção de Moacir Chaves. lhadas na peça. “O tempo todo estão sendo Morel Narrado em primeira pessoa por um fu- discutidas as relações entre dois universos, discute gitivo da Justiça, A Invenção de Morel conta duas matérias, o que é um aspecto estrutural tecnologia, como esse criminoso consegue se esconder do trabalho em teatro. O ponto de partida da em uma ilha deserta, onde acaba encontrando encenação é a possível comunicação do sen- crime e máquinas estranhas e um grupo de turistas tido, das idéias dessa vida, desse amor, dessa universos que não toma conhecimento de sua presen- espécie. E aquele universo só não é fantástico ça. O narrador acaba se apaixonando por porque existe uma explicação”, afirma. paralelos Faustine, descobrindo que, anos antes, a ilha recebeu um grupo de visitantes liderado por Mestre do surrealismo Morel, inventor de uma máquina que arma- Há especialistas em literatura que zena e reproduz imagens, sons e sensações arriscam dizer que Adolfo Bioy Casares captados na realidade, projetando numerosas (1914-1999) só não foi o principal autor vezes as cenas filmadas. Escapar da realidade argentino do século 20 porque preferiu pela tecnologia ou enfrentá-la é o dilema que ser amigo de Jorge Luis Borges. o protagonista passará a vivenciar. Considera- A cumplicidade entre os dois escritores do um dos melhores romances do século XX, era tamanha que escreveram uma série o livro tornou-se famoso depois que inspirou de livros em parceria. Mestre na descrição Ano Passado em Marienbad, filme do francês e na mistura de situações surrealistas Alain Resnais, um dos principais expoentes ou fantásticas com sentimentos que do movimento nouvelle vague. poderiam ser vivenciados por qualquer pessoa, em qualquer lugar ou época, Ser ou não ser Casares, nascido em Buenos Aires, teve “O cinema tem um caráter ilustrativo, mas seu trabalho reconhecido publicamente aos 76 anos, quando recebeu o Prêmio o filme hoje não está no imaginário do pú- Cervantes, a maior honraria concedida a blico. E o livro também é pouco conhecido literatos de língua espanhola.

por aqui. De certa forma, esses fatores, que C l áudi a Ri b ei r o / divu g ção foto: os 34 anos de carreira, Hamilton Vaz Depois do começo Pereira pela primeira vez mergulha no A passado de sua geração em Depois do Co- meço do Mundo, em cartaz no Laura Alvim. Ao emergir, o olhar não é nostálgico ou saudosista: do mundo “O passado não precisa ser idealizado. Ele pode ser apenas recordado e servir de base para o nosso futuro”. A trajetória de quatro amigos que se conhecem no berçário, dividem aventuras e nem na velhice desistem de fazer planos é, mais que um elogio à amizade, uma reflexão sobre as pessoas “que não tem qualquer importância histórica, mas que fazem falta a tantas outras vidas simples”, explica o autor.

Pequenas histórias Na peça, Hamilton interpreta Khlestov e divi- de o palco com Maria Ribeiro (Adalgisa), Lena Brito (Zulmira) e Gilberto Gavronski (Ubiraja- ra), que consolidam sua amizade durante uma viagem no chamado Trem da Morte (que liga Corumbá, no Mato Grosso, a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia), utilizado por nove entre dez mochileiros na década de 70. Durante a dita- dura, o grupo vive próximo, no Rio de Janeiro, partindo para outras cidades de acordo com os caminhos pessoais e profissionais escolhidos, até se reencontrarem já no ano de 2046. “Não vejo o passado com saudosismo. A encrenca da vida ocidental foi pequena para impedir que se criem coisas cada vez A vida e os desencontros de mais incríveis. A verdade é que o mundo não vai melhorar, mas também não vai piorar um grupo de amigos que tanto assim. A história acontece em ciclos de se conheceu quando jovens dor e prazer, com conquistas graduais, que e volta a manter contato podemos encarar saudavelmente. Espero que

o s: divulg a çã o público deixe o teatro comparando nossas t f o muitos anos depois pequenas histórias urbanas, que não têm tanto Por Olga de Mello significado assim para a Humanidade, mas >> que são referenciais para quem cresceu ao Vaz Pereira reuniu colaboradores com que nosso lado. Ao mesmo tempo, espero que o já havia trabalhado em outras ocasiões. espetáculo obedeça ao princípio grego, que Jorginho de Carvalho iluminou seu primeiro inventou o teatro para o homem se fortalecer espetáculo, um infantil. Jorge Alberto San- e apreciar a vida”, diz o diretor. tos, responsável pelo cenário, foi um dos fundadores do Asdrúbal Trouxe o Trombone. Mito x realidade Mario Manga (Premeditando o Breque) faz Esta é a 31ª peça dirigida por Hamilton, parceria na trilha sonora em vários espetácu- que discorda da crise de idéias no teatro bra- los do diretor. E o artista plástico Luiz Stein é sileiro. “Quando percebi que esta poderia ser o responsável pela programação gráfica. minha profissão, há cerca de 30 anos, o desâ- nimo era total em termos de criação teatral. Portfolio A geração anterior havia sido tão talentosa A cada dois anos, Hamilton Vaz Pereira que comecei em terra arrasada. Volta e meia costuma apresentar um novo espetáculo. se fala em crise de criatividade, da falta de Autor, ator, diretor, compositor e produtor, foi tradição de freqüentar o teatro. Mas tirando também o criador do grupo Asdrúbal Trouxe essas reclamações, o que se vê é o público o Trombone, que renovou a linguagem aparecendo em busca de novas montagens. teatral na década de 70. Além de dirigir e Agora que já sou um velho dramaturgo bra- atuar, é o autor de Trate-Me Leão, Aquela Coisa Toda e A Farra da Terra, três das mais sileiro, posso afiançar que as crises são como bem sucedidas montagens do Asdrúbal. o passado dourado de que tanto se fala, ou Filosofia e literatura são referências seja, mais mitos do que realidade”. constantes em seus trabalhos, que Se na peça o grupo de amigos está também privilegiam a tecnologia, sempre sempre se encontrando, para a montagem aproveitada como elemento cênico. de Depois do Começo do Mundo, Hamilton não perca nãopercaO espectador assistiu, gostou e indica O jardim das cerejeiras “Moacir Chaves deu um tom diferente nesta montagem, ao incluir em cena a leitura das rubricas de Tchecov, um autor que não perde a atualidade porque fala da alma humana. Assim, o público compartilha com o elenco todas as determinações do dramaturgo, tudo o que ele queria passar nesta

s: divu l gaçã o f oto obra-prima. No elenco, afinadíssimo, Deborah Evelyn tem a delicadeza e a inteligência de uma atriz absolutamente tchecoviana – segura e sensível”. , atriz Mamãe não pode saber “Conheço o talento do grupo Os Surtados e tinha certeza de que eles fariam sucesso em qualquer espetáculo, até porque são cuidadosos na escolha de textos. A peça é uma comédia imperdível, divertida e inteligente”. Sheron Menezes, atriz A mulher que escreveu a Bíblia “Inês Vianna, uma atriz de recursos surpreendentes, conta neste monólogo uma história divertida e densa. O texto, adaptado da novela de Moacyr Scliar, ficou belíssimo”. Dudu Sandroni, autor, diretor e ator

Otelo “Uma montagem exemplar, que nos leva a refletir sobre egoísmo, vaidade, ciúme, fraqueza. É impressionante a interpretação de Diogo Vilella como Iago”. Luíza Thiré, atriz em cartaz emcartazpeças, horários, teatros e preços emcartaz

ALZIRA POWER OU O CÃO SIAMÊS 21h. Domingo, 20h. R$ 60 (quinta, de uma mulher. Texto: Martha Medei- cente, 52, Shopping da Gávea). Fone: A incomunicabilidade, a solidão, o se­ sexta e domingo). R$ 70 (sábado). ros. Direção: Paula Sandroni. Teatro 2540-6004. Quinta, sexta e sábado, xo e a violência eclodem no cotidiano Cândido Mendes (Rua Joana Angéli- 21h. Domingo, 20h. R$ 60 (qui., sex. de dois vizinhos no texto de Antônio COMO PASSAR EM CONCURSO PÚBLICO ca, 63, Ipanema). Fone: 2267-7295. e dom.) e R$ 70 (sáb.). Bivar, vencedor do Prêmio Molière de O grupo Cia de Comédia G7 satiriza a Quinta e sexta, 18h30. R$ 30. 1969. Direção: Gustavo Paso. Com obsessão dos brasileiros pela estabi- OS ESPECIALISTAS Cristina Pereira e Sidney Sampaio. lidade no emprego público, em texto DEPOIS DO COMEÇO DO MUNDO Quatro fuzileiros navais norte-ameri- Casa da Gávea (Praça Santos Dumont de criação coletiva. Teatro dos Quatro A trajetória de um grupo de amigos canos recebem a missão de assassi- 116, Gávea). Fone: 2239-3511. Sexta (Marquês de São Vicente, 52, Shopping que se conhece no berçário e se reen- nar um líder do Oriente Médio. Texto: e sábado, 21h. Domingo, 19h. R$ 30. da Gávea). Fone: 2274-9895. Quinta e contram até a velhice. Texto e direção: Adriano Shaplin. Direção: Bárbara sábado, 19h30. Domingo, 19h. R$ 30. Hamilton Vaz Pereira. Com Lena Brito, Bruno. Com Augusto Zacchi, Gustavo BEATLES NUM CÉU DE DIAMANTE Maria Ribeiro, Gilberto Gawronski e Rodrigues, Vinícius Vommaro e Ta- Charles Möeller e Cláudio Botelho CONTOS DE TCHEKHOV Hamilton Vaz Pereira. Casa de Cultura ciana Barros. Centro Cultural Justiça fazem uma releitura das músicas dos A atriz Joana Ferry apresenta quatro Laura Alvim (Av. Vieira Souto, 176, Federal (Avenida Rio Branco, 241 – Beatles, contando a trajetória de uma contos de Anton Tchekhov – Brinca- Ipanema). Fone: 2299-5583. Quinta, Centro). Fone: 3212-2550. De quinta jovem da adolescência à vida adulta. deira, A Noiva, A Aposta e O Violino de sexta e sábado, 21h. Domingo, 19h. R$ a domingo, 19h. R$ 20. Texto: Charles Möeller e Cristiano Rotschild –, todos com situações que 20 (Qui. e sex.). R$ 30 (Sáb. e dom.). Gualda. Direção: Charles Möeller. Di- levam ao questionamento existencial. UM HOMEM CÉLEBRE reção musical: Cláudio Botelho. Com Adaptação: Joana Ferry. Direção: DOCE DELEITE O musical baseado em conto de Ma- Gottscha, Marya Bravo. Teatro Leblon Evandro Meirelles. Teatro 2 e da Cia. de O universo do teatro mostrado através chado de Assis conta a história de um – Sala Fernanda Montenegro (Rua Teatro Contemporâneo (Rua Conde de de seus próprios personagens e estilos. compositor popular que sofre por não Conde de Bernadotte, 26, Leblon). Irajá, 253, Botafogo). Fone: 2537-5204. Texto: Alcione Araújo. Direção: Marília conseguir tornar-se um criador de peças Fone: 2274-3536. Quinta, 18h. Sexta Sábado, 21h. Domingo, 20h. R$ 20. Pêra. Com Reynaldo Gianecchini e clássicas. Direção: Pedro Paulo Rangel. e sábado, 21h. Domingo, 20h. R$ 50 Camila Morgado. Teatro dos Quatro Com Suely Franco, Júlia Rabello, Laura (Qui. e sex.) e R$ 60 (sáb. e dom.). CRUZ CREDO (Marquês de São Vicente, 52, Shopping Castro. Centro Cultural Banco do Brasil Monólogo com Gilberto Gawronski da Gávea). Fone: 2274-9895. Quinta a – Teatro 1(Rua Primeiro de Março, 66, AS CENTENÁRIAS como Jesus Cristo, que volta à Terra na sábado, 21h30. Domingo, 20h. R$ 70 Centro). Fone: 3808-2020. Quarta a Duas carpideiras, que passam a vida pele de um motorista de táxi. Texto: Déa (Qui. e sex.). R$ 80 (Sáb. e dom.). domingo, 19h30. R$ 10. em velórios e enterros no interior do Martins com colaboração de Fernando Nordeste, encontram com celebri- Ceylão. Direção: Gilberto Gawronski. DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS A INVENÇÃO DE MOREL dades locais e entram em confronto Teatro Cândido Mendes (Rua Joana An- Adaptação do romance de Jorge A solidão e o amor vividos por um com a Morte. Texto: Newton Moreno. gélica, 63, Ipanema). Fone: 2267-7295. Amado, em que a viúva Flor volta fugitivo da justiça que se esconde em Direção: Aderbal Freire-Filho. Com Terça e quarta, 21h. R$ 30. a se casar, mas continua recebendo uma ilha deserta. Texto: Adolfo Bioy , Andréa Beltrão e visitas do falecido marido Vadinho. Di- Casares. Direção e adaptação: Moacir Sávio Moll. Teatro Poeira (Rua São DE MIM QUE TANTO FALAM reção: Pedro Vasconcellos. Com Carol Chaves. Com Ana Velloso, Vera No- João Batista, 104, Botafogo). Fone: As atrizes Cristina Mayrink e Daniela Castro, Marcelo Faria, Duda Ribeiro. vello, Josie Antello, Cândido Damm, 2537-8053. Quinta, sexta e sábado, Olivert personificam as várias facetas Teatro das Artes (Marquês de São Vi- Ísio Guelman e Cláudio Gabriel. Centro em cartaz emcartazpeças, horários, teatros e preços emcartaz

Cultural Banco do Brasil – Teatro 2 Sexta e sábado, 21h30; Domingo, da Gávea). Fone: 2264-9895. Terça e ção: Sidnei Cruz. Casa Mercado 45 (Rua Primeiro de Março, 66, Centro). 20h30. R$ 30. quarta, 19h30. Quinta, 17h. R$ 40. (Rua do Mercado, 45, Centro) Fone: Fone: 3808-2020. Quarta a domingo, 8137-8140. Sábado, domingo e se- 19h30. R$ 10. MAMÃE NÃO PODE SABER NO NATAL A GENTE VEM TE BUSCAR gunda, 19h. R$ 20. Uma família que vive de aparências Mulher pensa que vai morar com uma I LOVE NEIDE! entra em pânico com a iminente visita prima, mas a família decide interná-la A ORDEM DO MUNDO Monólogo com Eduardo Martini inter- da mãe, que mora em outra cidade em um asilo. Texto e direção: Naum No monólogo criado por Patrícia Melo, pretando uma especialista em auto-aju- e pensa que o genro é o prefeito do Alves de Souza. Com Claudia Jimenez, Drica Moraes discorre sobre questões da e sua trajetória em um programa de Rio de Janeiro. Texto e direção: João Rodrigo Phavanello, Analu Prestes e cotidianas da vida contemporânea sob televisão. Texto de Pablo Diego e Mar- Falcão. Com Flávia Guedes, Rodrigo Ernani Moraes. Teatro do Leblon – Sala o ponto de vista feminino. Direção: celo Saback. Direção: Eduardo Martini. Fagundes, Thaís Lopes e Wendell Ben- Marília Pêra. (Rua Conde de Bernadotte, Aderbal Freire Filho. Teatro Clara Nu- Teatro dos Grandes Atores (Avenida delack. Teatro Glória (Rua do Russel, 26, Leblon). Fone: 2274-3536. Quinta a nes (Rua Marquês de São Vicente, 52, das Américas, 3555, loja 116/117, Bar- 632, Glória). Fone: 2555-7262. Quinta sábado, 21h30. Domingo, 20h. R$ 70 Shopping da Gávea, Gávea). Fone: ra da Tijuca) Fone: 3325-1645. Sexta a sábado, 21h30. Domingo, 20h30. R$ (qui., sex. e dom.) e R$ 80 (sáb.). 2274-9696. Quinta a sábado, 19h30. e sábado, 21h. Domingo, 20h. R$ 50 30 (qui. e sex.). R$ 40 (sáb. e dom.). Domingo, 19h. R$ 55 (Qui. e sex.). R$ (sex. e dom.). R$ 60 (sáb.). A NOVIÇA REBELDE 60 (Sáb. e dom.). MEMÓRIA AFETIVA DE UM AMOR ESQUECIDO Baseada em fatos reais, a história de O JARDIM DAS CEREJEIRAS Inspirado no argumento do filme amor entre uma jovem noviça e seu OTELO O clássico de Anton Tchecov mostra Brilho Eterno de Uma Mente sem Lem- patrão, às vésperas da Segunda Guer- O sucesso de um estrangeiro em a decadência de uma família de aris- branças, o grupo Os Dezequilibrados ra Mundial, tornou-se um dos mais po- Veneza atrai a inveja e provoca uma tocratas russos no fim do século 19. faz espetáculo itinerante pelo casarão pulares musicais da história e estréia tragédia motivada por vaidade e ciú- Direção: Moacir Chaves. Com Deborah do Oi Futuro, discutindo a superficia- no Rio em superprodução assinada me. Direção: Marcus Alvisi e Diogo Evelyn, André Stock, Cláudia Sardi- lidade das relações no mundo con- por Cláudio Botelho e Charles Möeller. Vilela. Com Luciano Quirino, Diogo nha. Teatro (Rua temporâneo. Direção: Ivan Sugahara. Com Hérson Capri, Kiara Sasso, Vera Vilela, Reinaldo Gonzaga. Sesc Gi- Padre Leonel Franca, 240, Gávea). Com Ângela Câmara, Cristina Flores, Canto e Mello, Fernando Eiras, Dudu nástico (Avenida Graça Aranha, 1287, Fone: 2274-7722. Terça a sábado, José Karini e Saulo Rodrigues. Oi Sandroni e outros. Oi Casa Grande Centro). Fone: 2279-4027. Quinta a 21h. Domingo, 20h. R$ 30. Futuro (Rua Dois de Dezembro, 63, (Av. Afrânio de Mello Franco, 290, domingo, 19h. R$ 25. Flamengo). Fone: 3131-3060. De Leblon). Fone: 2511-0800. Quarta, LIMPE TODO SANGUE ANTES QUE sexta a domingo, 21h. R$ 15. quinta e sexta, 20h30. Sábado, 16h e O PROCESSO MANCHE O CARPETE 20h. Domingo, 16h. R$ 60 a R$ 120 A crítica ao estado burocrático do Quatro jovens em busca de suas ilu- A MULHER QUE ESCREVEU A BÍBLIA (Qua.). R$ 90 a R$ 150 (Qui. e sex.). clássico de Franz Kafka traz Tuca sões e capazes de tudo para realizar Thereza Falcão adaptou o romance R$ 120 a R$ 180 (Sáb. e dom.). Andrada no papel de Josef K., um ho- seus sonhos. Texto: Jô Bilac. Direção: de Moacyr Scliar sobre uma mulher mem que não sabe por quê está sendo Vinícius Arneiros. Com Bruno Ferrari, que, no século 10 antes de Cristo, foi ONDE VOCÊ ESTAVA QUANDO EU ACORDEI? processado. Adaptação e direção: José Pablo Falcão, Graziela Schmitt e Ta- uma das 700 esposas do Rei Salo- Cristina Flores e Márcia do Valle vivem Henrique. Com Tuca Andrada, Antonio thiane Amaral. Centro Cultural Solar mão. Direção: Guilherme Piva. Com duas mulheres que decidem mudar Alves, Gustavo Ottoni, Letícia Guima- de Botafogo (Rua General Polidoro, Inês Viana. Teatro dos Quatro (Rua de vida, cansadas da hipocrisia em rães e outros. Teatro Maison de France 180, Botafogo). Fone: 2543-5411. Marquês de São Vicente, 52, Shopping que estão enredadas. Texto e dire- (Av. Antônio Carlos, 58, Centro). Quin- em cartaz emcartazpeças, horários, teatros e preços

ta a sábado, 21h. Domingo, 20h. R$ 40 ÜBER (Qui. e sex.). R$ 50 (Sáb. e dom.). Em quatro histórias curtas, Luis Salém e Alcemar Vieira mostram situações PÃO COM MORTADELA limites que revelam o lado oculto de A infância e juventude do escritor um suburbano aspirante a playboy, de Charles Bukowski em adaptação de um cozinheiro que é astrólogo e de um João Fonseca e Sacha Bali. Direção baiano que se muda para a Finlândia. Charles Bukowski. Com Gustavo Nu- Texto: Luis Salém. Direção: Stella Mi- nes, Jorge Lucas, Freitas, Rosanna randa. Teatro Candido Mendes (Rua Viegas e Sacha Bali. Casa da Gávea Joana Angélica, 63, Ipanema). Fone: (Praça Santos Dumont, 116 sobrado 2267-7295. Sexta e sábado, 21h. – Gávea). Fone: 2239-3511. Sexta e Domingo, 21h. R$ 40. sábado, 21h. Domingo, 20h. R$ 30. VALENTE! OS PRODUTORES O encontro imaginário entre Assis O musical de Mel Brooks e Thomas Valente, Madame Satã e Carmem Meehan mostra como dois vigaristas Miranda, nos momentos que antece- planejam enriquecer investindo numa dem o suicídio do compositor. Texto peça que tem tudo para fracassar. Di- de Anamaria Nunes. Direção Cláudio reção: Miguel Falabella. Com Vladimir Villela. Teatro Gláucio Gil (Praça Brichta, , Miguel Falabella. Cardeal Arcoverde, s/n). Fone: 2547 Vivo Rio (Rua Infante Dom Henrique, 7003. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 85, Parque do Flamengo). Fone: 20h. R$ 30. 2272-2900. Sexta e sábado, 21h30. Domingo, 19h. R$ 30 a R$ 150. ZONA DE GUERRA Inspirado nas “peças do mar” de Eu- RÁDIO NACIONAL gene O’Neill. Drama. A suspeita de As Ondas que Conquistaram o Brasil. que um marinheiro seja um espião Musical de Fátima Valença mostra a divide a tripulação de um cargueiro importância da Rádio Nacional para a durante a Primeira Guerra Mundial. cultura brasileira. Direção: Fábio Pillar. Direção e adaptação: André Garolli. Com Adriana Quadros, André Dias, Com Roberto Leite, Guilherme Lo- Cláudia Vigonne. Teatro Villa-Lobos pes, Bruno Feldman, entre outros (Av. Princesa Isabel, 440, Copaca- Caixa Cultural – Teatro de Arena bana). Fone: 2275-6695. Quinta a (Av. Almirante Barroso, 25, Centro). sábado, 21h. Domingo, 20h. R$ 30 Fone: 2544 4080. Quinta a domingo, (qui.) e R$ 40 (sex. a dom.). 19h30. R$ 10. depois do teatro depoisdoteatroA peça termina, as cortinas se fecham, mas o programa continua Cláudia E. Delícias sem fim Gostinho de Brasil O Zazá Bistrô, em Ipanema, é Estive em São Paulo para assistir à uma ótima opção para um papo “diva” Bibi Ferreira e Juca de Olivei- depois do teatro. O lugar é aco- ra em Às Favas com os Escrúpulos. lhedor, com decoração especial e Lindo ver uma dama do nosso teatro atendimento bastante bom. Peça em cena, brilhando... Depois do te- de entrada umas tapioquinhas com atro, o jantar no restaurante Brasil queijo coalho e camarão, acom- a Gosto também foi de arrancar panhadas de molho de damasco e aplausos. A casa dá um show de gengibre, ou uma espetada de quei- brasilidade com charme, elegância jo de coalho com mel de engenho e sabor. O couvert tem biscoito perfumado com limão... É tudo! de polvilho, chips de mandioca, Outras sugestões são os crostinis batata baroa e batata doce – com de brie com caramelo de nozes, a tradicional manteiga Aviação e e os de queijo feta com tomate e outra feita de alho com castanha. Os manjericão. Enquanto escolhe o pães são de enlouquecer: de leite, de prato principal, saboreie uma das queijo com sal grosso, de abóbora, caipirinhas diferentes da casa – pedi broa de milho... E mais petiscos: a de abacaxi com gengibre e horte- beiju com carne de siri morna e lã e não me arrependi. Como prato molho vinagrete, pastel de queijo principal, uma pedida tropical: cur- palmira, canapé de banana com ge- ry de frango ao leite de côco com léia de pimenta e queijo coalho com legumes orientais, capim limão, melaço. Tudo em pequenas porções gengibre e banana, acompanhado muito bem apresentadas. O prato de arroz basmati com damasco e principal foi abadejo com crosta de amêndoas. E a sobremesa também castanha sobre um purê de banana segue a mesma tendência: cubos da terra e vinagrete de laranja lima. de manga marinados com gen- Supimpa! A sobremesa, um luxo: gibre, hortelã e limão com farofa cocada ao forno com sorvete de crocante de amêndoas e calda de limão. Uma refeição no Brasil a frutas verme­lhas. O nome é ótimo: Gosto nos enche de um orgulho delícia magrinha... danado de sermos brasileiros. Rua Joana Angélica, 40, Rua Professor Azevedo do Amaral, Ipanema. Fone: 2247-9101 70, São Paulo. Fone: 11 3086-3565 O PROCESSO Situações absurdas e irônicas de Kafka mostram a vulnerabilidade do homem Por Olga de Mello O homem e o imponderável m janeiro de 2007, o diretor José trabalhou em escritórios, acompanhou pro- Infl uenciado por três culturas Henrique experimentou uma situação cessos, via pessoas se desesperarem com a diferentes – a tcheca, a alemã e a E inusitada e bastante semelhante às des- morosidade da Justiça. Qualquer um que pre- judaica – Franz Kafka abandonou o critas pelo romancista Franz Kafka, enquanto cise driblar a burocracia vai se deparar com manuscrito de O Processo durante aguardava resposta ao pedido de inscrição na situações absurdas e revoltantes. É um tema uma depressão. Considerado um dos Lei Rouanet de uma peça basea da em O Pro- político, fi losófi co, social e, principalmente, principais romancistas do século 20, cesso. Intrigado pela demora, telefonou para muito atual”, diz José Henrique, responsável morreu em 1924. No ano seguinte, a Funarte e soube que havia um problema pela adaptação do romance. O Processo foi publicado e alçado na documentação, já que faltava a assinatura O espetáculo originou-se da leitura dra- à condição de obra-prima, por de um dos integrantes da equipe: o próprio mática da adaptação apresentada na Escola tornar-se referência na literatura e em Franz Kafka. Depois de entregar uma decla- de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, diversos campos do conhecimento, como Direito, Filosofi a, Psicanálise ração garantindo que o escritor não poderia dentro do projeto Teatro na Justiça, que já e Ciências Sociais. Os três principais assinar o pedido, por haver falecido 83 anos apresentou diferentes peças literárias que trabalhos de Kafka – O Processo, antes, José Henrique obteve a autorização tratam de Justiça e Direito, como Testemu- A Metamorfose e O Castelo – falam para a captação do patrocínio. “Kafka acha- nha de Acusação, de Agatha Christie; Doze sobre a falta de respostas para va divertidíssimas essas situações absurdas Homens e uma Sentença, de Reginald Rose; questões do cotidiano. Seja Josef causadas pelo autoritarismo obtuso”, diz José e A Pane, de Friedrich Dürrenmatt. K, respondendo a um processo Henrique, que ao adaptar o romance para a que ignora; Gregor Samsa, que em peça, em cartaz no Maison de France, privi- O que eu fi z? Metamorfose descobre, ao despertar, legiou o humor: “A única forma de aturar os Tuca Andrade, que participou da leitura que se transformou em um imenso desvarios burocráticos é rir da ignorância que na Escola de Magistratura, foi convidado a inseto; ou no agrimensor K, de O os provoca”, afi rma o diretor. interpretar Josef K, o bancário que é detido Castelo, que não consegue encontrar no dia de seu aniversário de 30 anos e passa as pessoas que o contrataram, Teatro na Justiça os próximos doze meses tentando descobrir seus personagens têm grande Embora O Processo não seja uma comédia, em qual delito incorreu. “Meu último trabalho carga simbólica, porém apóiam- a ironia surge em diversos trechos. “Normal- em teatro foi um musical sobre Orlando Silva. se no homem comum, que sofre mente, associamos Kafka à angústia, mas há Meu conhecimento sobre Kafka se restringia à perseguições por suas indagações e diversos relatos de amigos contando quanto leitura, muitos anos atrás, de A Metamorfose, diferenças. A temática da solidão está ele se divertia com as situações descritas em mas eu queria trabalhar um personagem mais muito ligada à obra de Franz Kafka, que O Processo. Ele costumava ler trechos para denso, com uma vivência mais questionado- não se furtou a criar climas sombrios os amigos e parar a leitura de tanto rir. Kafka ra”, diz Tuca. e sofridos em seus romances. FOTO: MARCELO CARNAVAL / DIVULGAÇÃO MARCELO CARNAVAL FOTO: textos do início da carreira de O’Neill, em de foram experimentados pelo grupo em que o autor utiliza suas lembranças da época 2006, quando passaram um dia ensaiando, em que foi marinheiro. fechados em um porão, sem saber que São Paulo sofria ações contínuas de violência Zona de guerra Medo e violência por determinação da facção criminosa PCC. Zona de Guerra conta a história de Smitty, “Quando estávamos para sair é que soube- um rapaz que se emprega em um cargueiro mos do pânico que tomava conta da cidade. da marinha mercante que contrabandeia Ficamos três horas à espera de notícias até munição dos Estados Unidos para a Inglaterra termos tranqüilidade e voltar para casa. Ao em plena Primeira Guerra Mundial. Smitty alcançarmos as ruas, percebemos que os tem uma misteriosa caixa preta que a tripu- boatos eram mais aterrorizantes do que a lação considera um indício para suspeitarem realidade. É exatamente isso que O’Neill que ele seja um espião a serviço dos alemães. discute em suas peças, quanto o temor cria É neste ambiente que eclode a violência. situações que poderiam ser evitadas desde “O espetáculo traz uma questão contem- que fossem compreendidas, Confrontar- porânea que estamos assistindo, com a in- se com o universo do mar e sua potência vasão do Iraque pelos Estados Unidos, sob a simbólica, lidar com a energia masculina e alegação de que havia armas potencialmente com a tragédia moderna são outros pilares perigosas, algo que jamais foi comprovado. do projeto. Queremos trazer à tona o ama- Escrita em 1916, Zona de Guerra pode ser durecimento do artista através de seus textos lida como um grito contra a violência a que menos conhecidos, sem todo o acabamento estamos sujeitos em momentos de medo e dramatúrgico”, diz André Garolli. contra a possível queda do estado de direito em nome da segurança coletiva. Após a queda do World Trade Center, e diante das Homens ao mar freqüentes ações de grupos do crime orga- Com direção e adaptação de André nizado nas grandes capitais, a atenção dos Garolli e tradução de Fernando Paz, o Peça de Eugene O’Neill mostra o temor pelo desconhecido meios de comunicação ao terrorismo e à vio- projeto Homens ao Mar contempla a lência ganharam espaço, e assim questões tradução e montagem de quatro textos e suas conseqüências em momentos de tensão como segurança, intolerância, desconfiança escritos entre 1914 e 1917 por Eugene e privacidade impõem-se à reflexão”, diz O’Neill (1888-1953). São eles: Luar xiste uma boa guerra, a dominação so- masculino e claustrofóbico do dramaturgo André Garolli, diretor do espetáculo e autor Sobre o Caribe, Cardiff , Zona de Guerra e Longa Viagem de Volta Pra Casa. No bre um provável agressor antes que ele norte-americano Eugene O’Neill em Zona da adaptação, que permaneceu um ano e elenco estão Roberto Leite, Guilherme E possa se manifestar? A violência pode de Guerra, que faz curta temporada carioca meio em cartaz em São Paulo. Lopes, Bruno Feldman, Kalil Jabbour, ser justificada? O terrorismo existe ou é fruto na Caixa Cultural. A peça ganhou o Prêmio Daniel Ribeiro, Wagner Menegare, da imaginação paranóica? Responder a estas 2006 de melhor espetáculo da Associação Na própria pele Pepe Ramirez, Alexsandro Santos e O isolamento e a falta de comunicação e outras indagações foi um dos motivos para Paulista de Críticos de Arte e é parte do pro- Reinaldo Taunay. que geram incompreensão e agressivida- a Cia Triptal debruçar-se sobre o universo jeto Homens ao Mar, composto por quatro : A ndr é G aroll i / d v u lga çã o foto cenaabertacena aberta

Antonio Fagundes e Ewerton de Castro em “O Homem Elefante”, 1981