Guimarães Rosa 1956
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GUIMARÃES ROSA 1956 Ao publicar Sagarana , em 1946, numa estréia um tanto tardia, aos 36 anos de idade, o diplomata e médico mineiro João Guimarães Rosa vinha infundir no regionalismo da nossa literatura _ que parecia um tanto esgotado após a grande floração do romance nordestino _ uma inédita força lírica, um sopro épico inigualado, trazendo ao primeiro plano da ficção nacional o sertão mineiro, a civilização do couro do nosso interior, tema literário que aparentemente se esgotara nas mãos de um Afonso Arinos ou de um Hugo de Carvalho Ramos. Oito anos antes do seu aparecimento em livro, Sagarana já dera ensejo a um grande debate literário, ao perder o concurso de contos Humberto de Campos, organizado pela Editora José Olympio, para Maria Perigosa, de Luís Jardim. Após uma década de silêncio, acontece esse annus mirabilis da nossa ficção e de Guimarães Rosa, 1956, no qual o genial fabulista publica, com a diferença de meses, dois dos maiores títulos da literatura brasileira, dois livros imensos, titânicos, na extensão e na intrínseca grandeza. Corpo de baile, com as sete magistrais novelas que o compõem, e Grande sertão: veredas, romance de ressonâncias épicas que alçará o sertão brasileiro ao mais alto plano da expressão universal. A força sem paralelo dessas obras, a sua visceral e inesperada inventividade lingüística, mobilizando todos os recursos possíveis da língua portuguesa, dos mais longínquos arcaísmos aos mais atuais processos de expressão literária, todos esses fatores desconcertaram parcialmente o público leitor, perdido entre a estranheza e a fascinação, o mesmo acontecendo com a critica nacional, tudo colaborando para fazer de 1956 o "ano Guimarães Rosa”, conforme expressão aguda e profética com que o nomeou então Alberto da Costa e Silva. Cinqüenta anos depois, envolvido pela compreensão consensual de sua grandeza, Guimarães Rosa retorna na presente exposição, com a qual a Academia Brasileira de Letras, através da Galeria Manuel Bandeira, comemora tão notável efeméride. Reunindo vasto e muitas vezes inédito material epistolar, gráfico, plástico e bibliográfico, além de um minucioso percurso fotográfico sobre o autor, podemos dizer que Guimarães Rosa 1956 , ainda que inegavelmente centrada no ano central de sua vida, abarca-a inteira, oferecendo ao visitante um contato próximo com um dos maiores escritores brasileiros de qualquer época. Marcos Vinicios Vilaça Presidente da Academia Brasileira de Letras .