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Educação 9(3):216-220, set/dez 2005 © 2005 by Unisinos Hipertextos educacionais: relativizando o meio eletrônico

Educational hypertexts: relativizing the electronic media

Ângela Alvares Correia Dias [email protected] Geraldo Severino dos Santos [email protected]

Resumo: O presente artigo tem como objetivo se contrapor à tendência dos educadores de generalizar a idéia de que os hipertextos são inerentes aos meios eletrônicos e, como decorrência, de que as possibilidades da interatividade se restringem aos recursos da máquina. Desloca-se, assim, o foco exclusivo nos meios para privilegiar as vinculações entre a diversidade de vozes sociais, linguagens e gêneros discursivos que se defrontam, entrechocam e manifestam em diferentes percursos sígnicos na construção de sentidos.

Palavras-chave: hipertexto, dialogismo, intertexto.

Abstract: This article challenges a trend in education to generalize the idea that the hypertexts are inherent to the electronic media and that, as result, their possibilities of interaction are restricted to the resources of the machine. Thus, the exclusive focus on the media is turned into a focus on the links between the diversified social voices, languages and discourse genres that encounter, clash and are expressed in different signs in the process of the construction of meaning.

Key words: hypertext, dialogism, intertext.

O avanço que observamos a res- litasse novos processos de produzir Para Pierre Lévy (1993), o hiper- peito da teoria do hipertexto está textos, acessar e trocar informações, texto é um conjunto de nós (que po- muitas vezes associado às inova- além da associação instantânea a dem ser palavras, páginas, imagens, ções tecnológicas e leva ao entendi- outros textos – criando ramificações gráficos) ligados por múltiplas co- mento de que é necessário o meio e conexões com novas obras. Essa nexões. Ele se caracteriza pela aber- eletrônico para que ocorra a hipertex- forma de organização e estruturação tura que oferece ao leitor, permitindo tualidade. da informação, possibilitada pelos que este seja co-autor do texto, cons- Nesse sentido, é determinante a avanços da tecnologia, passou a ser truindo ele próprio a seqüência ou contribuição de Vanevar Bush e de denominada hipertexto que, segun- direção que deseja seguir, abrindo, Theodore Nelson (Levy, 1993), que do Bush e Nelson, apontava para a assim, espaço para uma leitura não compartilhavam a idéia do hipertexto revolução do nosso modo de pen- linear no qual o leitor/co-autor esta- a partir do meio eletrônico. Pesqui- sar, ler e escrever na medida em que belece livres redes de conexões e sadores vinculados à área da com- a construção hipertextual é análoga associações, adquirindo um papel putação tentaram desenvolver um às estruturas associativas, multidi- ativo. Desta forma, o hipertexto é um sistema de informações amplo, mensionais e não-seqüenciais da texto aberto, multilinear, multis- expansível e não-linear que possibi- mente humana. seqüencial e labiríntico em que o lei-

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tor interage com diversos discursos Jacques Roubaud, entre tantas outras A descontinuidade do hipertexto – palavras, citações, imagens, docu- que construíram narrativas labirínticas é inerente a qualquer meio, e nesse mentação, músicas, vídeos, etc. – e multidimensionais, rompendo com a sentido podemos observar que não produzindo seu próprio percurso tex- idéia de início-meio-fim predetermina- se manifesta de uma única forma de tual de leitura. Esse percurso do. Desde modo, o texto passa a ser leitura – uma leitura linear – mas vá- interativo com os diversos e múlti- entendido como produto não acaba- rias possibilidades m que seu senti- plos textos no qual o leitor realiza a do, uma obra em construção, permi- do é construído no contexto da pro- passagem de um espaço textual a tindo que o próprio leitor construa e dução e da leitura do texto, num jogo outro, de um fragmento a outro, de recrie, por meio de uma complexa rede de fluxo e refluxo do significado que uma página a outra, gerando um tex- de montagem, a invenção de novos sen- faz do processo hipertextual um mo- to efêmero e transitório, constitui o tidos de leitura e interpretação. Esse vimento sempre dinâmico de signifi- fundamento do hipertexto. descentramento é possibilitado pela cação. Neste sentido, a univocidade Há uma tendência em afirmar que “forma híbrida, dinâmica e flexível de lin- do autor é substituída pela as características de um hipertexto são guagem que dialoga com outras plurivocidade da diversidade das inerentes ao meio eletrônico; no en- interfaces semióticas, adiciona e acon- vozes sociais que são evidenciadas tanto, em contraposição a essa linha diciona à superfície formas outras de no hipertexto. A multiplicidade de de pensamento que defende ser o meio textualidade” (Xavier, 2004, p. 171). signos na apresentação do texto tam- eletrônico o espaço no qual se evi- Na realidade de uma escrita bém privilegia e evidencia a dencia o hipertexto e a não- hipertextual – seja em meio eletrôni- heterogeneidade de discursos que linearidade, deparamos com outra cor- co ou impresso – as fronteiras entre se entrelaçam nas redes intertextuais rente que defende que as narrativas o autor e leitor são diluídas na medi- ou intratextuais, eliminando, assim, hipertextuais podem ser encontradas da em que o autor abandona a posse o tom monológico, para atingir o sob as mais diversas formas e mani- do significado do texto para consen- dialógico. festações. Essa concepção é defendi- tir uma co-autoria com o leitor. As- É a partir do conceito bakhtiniano da por Raquel Wandelli (2003), que sim, o sujeito-leitor afasta-se da pos- de dialogismo que buscamos enten- evidencia que “o procedimento tura de simples consumidor e adota der a lógica do hipertexto. O “[...] as- hipertextual, marcado por característi- uma atitude emancipada e participan- pecto do dialogismo a ser conside- cas como a escrita em tela, a conexão, te frente ao texto, abrindo possibili- rado é o do dialogo entre os muitos a quebra de linearidade, a variedade dades de produzir novos e múltiplos textos da cultura, que se instalam no de recursos gráficos, não surgiu com significados de leitura. interior de cada texto e o definem o computador” (Wandelli, 2003, p. 24). Essa reelaboração do texto apre- [...].” (Barros, 1994, p. 4). O texto se Para demonstrar que o computa- senta-se como uma interação entre o apresenta como um tecido determi- dor não determina o processo de es- autor e o leitor evidenciada tanto no nado por fios dialógicos que se com- crita e leitura não-linear e que este momento da escrita proposta pelo pletam e se entrecruzam criando pode estar presente fora do ambiente autor, como no processo da leitura, novo sentido a cada momento da ob- digital, a autora redimensiona a con- no qual o leitor tem a liberdade de servação. Deste modo, não há uma cepção do hipertexto a partir das pro- interagir e intervir na estrutura narra- determinação do sentido; este se duções literárias. Nesse sentido, em tiva. Desta forma, não há uma constrói de acordo com as ligações seu livro Leituras do hipertexto: via- predefinição de sentido, nem o meio e articulações que cada leitor realiza. gem ao Dicionário Kazar (2003), en- pode estabelecer uma determinação Nesse sentido, “[...] os textos são contramos várias citações de escrito- da fluidez do texto, mas esta se apre- dialógicos porque resultam do em- res que subverteram as escritas linea- senta na atitude do autor e do leitor. bate de muitas vozes sociais; podem, res e seqüências preestabelecidas, no entanto, produzir efeitos de permitindo ao leitor fazer seu próprio A metáfora do hipertexto dá conta da polifonia, quando essas vozes ou al- percurso e, assim, concedendo aos estrutura indefinidamente recursiva do gumas delas deixam-se escutar, ou seus leitores a participação e interven- sentido, pois já que ele conecta pala- de monofonia, quando o diálogo é ção na estrutura narrativa. Dentre as vras e frases cujos significados reme- mascarado e uma voz, apenas, faz-se tem-se uns aos outros, dialogam e eco- obras citadas estão os contos de am mutuamente para além da ouvir” (Barros, 1994, p. 4). O diálogo Borges, o Dom Quixote, de Cervantes, linearidade do discurso, um texto já é bakhtiniano apresenta-se como a re- As cidades invisíveis, de Italo Calvino, sempre um hipertexto, uma rede de lação de um enunciado com outros 217 O jogo da amarelinha, de Julio associações (Lévy, 1993, p. 73). enunciados, e cada um destes con- Cortázar, O incêndio de Londres, de firma, complementa ou depende dos

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outros. O diálogo pode ser expresso cepção hipertextual. Do mesmo modo drando as oposições arcaico-mo- pela paródia, pela citação ou ainda que os textos literários as expressões derno, local-universal. por marcas no texto que levam a alu- da arte – poesia, música, fotografia, dir ou referenciar outro texto, poden- pintura, cinema, teatro – podem ser Se faz uma jangada do, ainda, manifestar-se em qualquer realizadas e vistas a partir do proces- Um barco que veleje. Um barco que forma da expressão cultural. so hipertextual. Entendemos que es- veleje nesse informar A discussão da dependência ou sas manifestações e produções cul- Que aproveite a vazante da infomaré. não do hipertexto em relação ao meio turais se compõem na relação entre a eletrônico instiga-nos a discutir o realidade vivida pelo artista, o mo- Neste navegar, a canção nos in- hipertexto educacional. Apesar de mento social no qual esse está inse- cita a nos aproximar da Internet para estarmos vivenciando a introdução rido e a realidade daquele que obser- que possamos aprender uma nova e disseminação de novas e va e contempla a obra, sendo que postura, que não seja determinada incipientes modalidades de práticas esse último também está carregado nem determinante, mas que utilize- sociais de leitura e de escrita, o mo- de sua história de vida. A postura crí- mos a rede – gerada pelos novos delo institucional de educação tende tico-interacional do sujeito envolvi- meios de informação e comunicação a resistir às mudanças advindas da do no processo de produção e de lei- – para navegarmos por múltiplos sociedade. Neste sentido, indepen- tura hipertextual expressa a atitude pontos, sem caminho predefinido, dentemente do meio e dos níveis dialógica bakhtiniana e propõe esta- tecendo uma elaborada rede de fu- tecnológicos que se apresentem, a belecer um ambiente no qual se insti- são e entrelaçamento de múltiplos forma tradicional de construir o co- tui uma polêmica interativa que bus- percursos e trechos como propõe a nhecimento é, na maioria das vezes, ca respostas e produz novas indaga- música Pela Internet, de : marcada pela rigidez, falta de espaço ções, incitando novas interpretações De Taipé – símbolo da resistência para a autonomia e criação, reforçan- e enlaces que são subjetivos e de- ao comunismo chinês – a Calcutá – do, assim, uma atitude do aluno pendentes da experiência e na com seus mistérios e cultu- marcadamente passiva e receptiva historicidade de cada leitor. ras milenares, a Helsinque – símbo- (Ramal, 2002). Neste contexto, o tem- Para exemplificar a presença do lo da retomada das confraterniza- po é ocupado pela transmissão de hipertexto expressa pela arte, propo- ções olímpicas no pós-2ª Guerra e uma grande quantidade de conteú- mos analisar a canção Pela Internet, na efervescência da guerra fria do dos programáticos escolares apre- de Gilberto Gil (1996), na qual as ca- mundo bipolar. De lá para sentados de forma linear, seqüencial racterísticas hipertextuais estão ma- Connecticut, estado no leste dos e impositiva, colocando o emissor – nifestas por meio da elaboração de EUA, em um país que marca o avan- o professor – como propositor de um jogo de linguagem que ressalta a ço das pesquisas da informática e mensagens e o receptor passivo di- abertura polifônica e intertextual. da Internet. A Milão, ao Japão ou ante delas; assim, o espaço intera- Ao analisarmos a primeira estrofe ao Nepal, nas imponentes cordilhei- cional praticamente não existe. da música de Gilberto Gil, podemos ras do Himalaia, ou ainda no Gabão, A expressão da escola mostra-se, notar que essa abertura indica o de- na África de culturas e etnias múlti- portanto, monofônica, avessa ao sejo de construir uma cultura plas, e, por fim, aportar no Brasil pluralismo e à real complexidade exis- colaborativa e participativa, ou seja, fazendo uma alusão ao primeiro tente no processo cultural da socie- trocas culturais e simbólicas entre de sucesso gravado no país, dade, desconsiderando, assim, a vários povos e suas identidades: assim dizendo: polifonia, a intertextualidade e o dialogismo que permeiam as múltiplas Eu quero entrar na rede Que o chefe da polícia carioca avisa produções culturais da sociedade. Promover um debate pelo celular Em contraste, observamos que a Juntar via Internet Que lá na Praça Onze tem um postura ativa e participativa é mais Um grupo de tietes de Connecticut videopôquer para se jogar evidente no mundo literário do que no mundo educacional, na medida em No segundo bloco estrófico, Gil- Ao utilizar o procedimento que propõe uma leitura mais reflexiva berto Gil elabora uma construção intertextual, Gilberto Gil inova com os do visto e vivido, rompendo a barrei- híbrida e associativa resultante de termos “telefone celular” e 218 ra “do reproduzir o conhecimento uma justaposição de elementos da “videopôquer”, realidade técnica de posto”, e nos incita a navegar pelo cultura nativa – a jangada – e do seu cotidiano, dialogando com a ver- conhecimento por meio de uma con- moderno – a tecnologia, enqua- são original que diz:

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O chefe da folia na mescla-se com a temática do Nesse entendimento, a palavra Pelo telefone manda me avisar tecnológico por meio da justaposi- não é um ponto fixo que ancora o Que com alegria ção de diversos discursos que se texto, mas é por meio dela que se tor- Não se questione para se brincar interpenetram constituindo um con- na possível estabelecer cruzamentos junto pluridimensional. Essa realida- na superfície dos textos como links Uma outra versão desse samba de que Gilberto Gil nos coloca é de que fazem aflorar o diálogo de diver- que critica a repressão do jogo é as- uma visão hipertextual e rizomática. sos textos e de diversas vozes: a do sim cantada por : No nosso entendimento, seu traba- autor e do leitor, ambos inseridos em lho brinca de forma lúdica com ter- determinado contexto cultural. A ação O chefe de polícia mos e expressões, contrapondo-se ao do leitor com o texto ocorre na inter- Pelo telefone pensamento linear tradicionalmente venção da leitura, preenchendo va- Manda me avisar adotado na postura da escola e em zios e lacunas e envolvendo-se, as- Que na Carioca muitos ambientes digitais presentes sim, na narrativa do texto. Tem uma roleta Para se jogar... na rede mundial de computadores. Kristeva (1974) nos coloca que A partir da linguagem musical de “todo texto é a absorção e a transfor- A versão gravada por Martinho Gilberto Gil, podemos dizer que não mação de um outro texto” (p. 64). As- da Vila em 1973 fala da repressão ao é o suporte físico da rede que deter- sim, o texto não se apresenta como jogo ao parodiar o samba original de mina a hipertextualidade, mas esta se uma obra original, mas está impreg- e Mauro Almeida (1916). Em torna possível se utilizarmos a con- nado de outras obras e de outros tex- relação à diversidade da Internet, o cepção e a lógica do pensamento tos permitindo a exposição das múlti- samba apresenta a mesma em rede para que se desloque o foco plas vozes que se apresentam no em- heterogeneidade da Internet na me- dos meios, já que eles facilitam o bate da criação da obra. Nesta pers- dida em que concebe a música a par- acesso sem contudo definir a idéia pectiva, a leitura do texto se apresen- tir de uma miscigenação cultural, uma do hipertexto, para privilegiar a pos- ta influenciada pelo contexto históri- mistura de ritmos e sons, de tura do leitor frente a uma nova for- co-social e literário do leitor, o que sincretismo cultural que expressa a ma de leitura. permite uma atuação crítica desse e luta de uma cultura reprimida pela evidencia uma interação leitor – texto história de servidão. O hipertexto concretiza a possibilida- – autor, tornando o primeiro capaz de de de tornar o usuário um leitor inseri- Desta forma, a música de Gilberto produzir e reproduzir idéias e concei- do nas principais discussões em curso Gil nos convida, como podemos ob- tos. A concepção hipertextual e no mundo ou, se preferir, fazê-lo ad- dialógica evidencia-se nessa relação. servar nos versos abaixo, a romper com quirir apenas uma visão geral das gran- as barreiras, mostrando como pode- des questões do ser humano na atuali- mos conjugar e sobrepor em um mes- dade. Certamente, o hipertexto exige A noção de hipertexto passa, assim, mo texto elementos anacronicamente do seu usuário muito mais que mera pela idéia de hipertextualidade como dispersos, que não estão necessaria- decodificação das palavras que flutu- uma potência – que pode ou não ser ativada – e está embutida na capaci- mente ligados, mas que nem por isso am sobre a realidade imediata. Aliás, qualquer leitura proficiente de um tex- dade de a escrita e a leitura alcança- se excluem totalmente, pois fazem par- to impresso tradicional leva sempre o rem um espaço fluido de produção te do nosso contexto social e cultural. leitor a lançar mão de seus conheci- textual e agenciamento de percursos, mentos encicoplédicos, cobra-lhe in- a partir de uma base de lexias. Quan- Que veleje nesse informar tenso esforço de atos inferenciais, pre- do o aparato material e a história tra- Que aproveite o vazante da infomaré enchimento de lacunas e interstícios balham a favor dessa potência, atra- Que leve um Oríki1 de meu velho orixá deixados pelo autor, até porque o tex- vés de recursos articulados com a Ao porto de um disquete de um micro to, em qualquer superfície, não pode paratextualidade, multilinearidade, em Taipé. dizer tudo, por motivos óbvios de fal- interatividade, fragmentação e ta de espaço e obediência às regras do interconectividade, a hipertextua- Nestes versos, a presença da cul- próprio jogo que constitui as lingua- lidade materializa-se no objeto tura baiana com ascendência africa- gens (Xavier, 2004, p. 172). hipertexto. O livro ou o computador

1 Os Oríki (do yoruba, ori = cabeça, ki = saudar) são versos, frases ou poemas que são formatados para saudar o orixá referindo-se a sua origem, suas qualidades e sua ancestralidade. Os Oríki são feitos para mostrar grandes feitos realizados pelo orixá. Com isso, podemos deparar com Oríki feitos não 219 somente para nossos orixás, mas para pessoas que foram grandes líderes, caçadores, governantes, sacerdotes, reis, rainhas, príncipes e todas as pessoas que em um passado distante ou recente fizeram algo importante para uma comunidade ou para o povo. Porém, para entendermos bem o significado desses Oríki, devemos ter bons conhecimentos dos orixás.

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como suporte e o hipertexto como os papéis de emissores e receptores Diante dessa visão, este trabalho processo explodem a leitura linear para a dinâmica relacional, co-auto- pretendeu apontar para um possível princípio-meio-fim e incluem o leitor res/criadores. modelo de comunicação hipertextual, na construção da narrativa (Wandelli, que se preocupe com a possibilida- 2003, p. 40). Considerações finais de para o diálogo entre diferentes vozes, para a negociação de senti- A idéia de um espaço fluido com- dos e para a construção coletiva do Observando os princípios e as posto de diversos signos, mensa- pensamento, e não apenas com o flu- características mencionadas acima, gens e representações, que seja hí- xo das informações, sinais e códigos podemos afirmar que, se, no âmbito brido e intertextual não pode ser li- a serem decodificados. da educação tradicional, a comuni- mitada a uma forma de expressão téc- Nesse sentido, propõe-se um cação é definida de forma estruturada nica. Pierre Lévy nos apresenta a novo olhar sobre a interatividade nos e controlada, a perspectiva hiper- idéia de hipertexto de forma clara ao hipertextos educacionais, visando a textual subverte a ordem linear e comparar o hipertexto à cultura. Para caracterizá-los como um ambiente de seqüencial concebendo a comunica- esse autor: aprendizagem, aberto e flexível, cuja ção como um processo móvel, frag- dinâmica alegórica abre espaço para O conjunto das mensagens e das re- mentado, descentrado e indeter- o desvelar de significados, a negoci- presentações que circulam em uma minado. Ao romper as regras de or- ação de sentidos e a mediação dos sociedade pode ser considerado como dem e hierarquia, evocadas pelo mo- múltiplos saberes. um grande hipertexto móvel, delo linear de comunicação, o labiríntico, com cem formatos, mil hipertexto deixa mais evidente a no- Referências vias e canais. Os membros da mesma ção de interatividade e surge como cidade compartilham grande número de elementos e conexões da megarrede nova modalidade comunicacional, manifestando e imprimindo suas mar- BARROS, D. e FIORIN, J. (orgs.). 1994. comum. Entretanto, cada um tem ape- Dialogismo, polifonia, intertextualidade: nas uma visão pessoal dele, terrivel- cas em múltiplas esferas do mundo em torno de Bakhtin. São Paulo, Edusp. mente parcial, deformada por inúme- contemporâneo, em busca de uma KRISTEVA, J. 1974. Introdução à sema- ras traduções e interpretações. São nova dimensão. A participação ativa nálise. São Paulo, Perspectiva, 199 p. justamente estas associações (interativa) implica partilhar, trocar LÉVY, P. 1993 As tecnologias educacio- indevidas, estas metamorfoses, estas opiniões, associar, estabelecer rela- nais. , Ed. 34. torções operadas por máquinas lo- ções entre diferentes gêneros tex- RAMAL, A. 2002. Educação na ciber- cais, singulares, subjetivas, tuais assim como, diversas repre- cultura: hipertextualidade, leitura, es- conectadas a um exterior, que rejei- crita e aprendizagem. Porto Alegre, sentações visuais e gráficas, tais tam movimento, vida, no grande Artmed. hipertexto social: a “cultura” (Lévy, como: textos poéticos, artigos, no- WANDELLI, R. 2003. Leituras do 1993, p. 185). tícias e anúncios de jornais, cartas, hipertexto: viagem ao Dicionário telegramas, fotografias, desenhos, Kazar. São Carlos, Ed. da UFSC; São A expressão do grande hipertexto ilustrações, cartazes, propagandas, Paulo, Imprensa Oficial do Estado de social nos indica que a expansão que expressam diferentes sentidos São Paulo. deste é uma forma da expressão e e percepções. XAVIER, A. 2004 Leitura, texto e hipertexto. In: L. MARCUSCHI e A. percepção individual de cada sujei- Ao observarmos que o hipertexto XAVIER (orgs.), Hipertexto e gêneros to presente na sociedade e que nos possibilita uma forma mais digitais: novas formas de construção interage com os demais. As expres- dialógica e intertextual de arquitetar de sentido. Rio de Janeiro, Lucerna, p. sões da cultura de toda sociedade é um ambiente educacional, permitin- 170-180. que evidenciam esta rede de relações do-nos romper com a cultura marcada pelo confronto entre o “eu” monológica expressa pelo discurso e o “outro”. Essa inter-relação signi- oficial da escola, torna-se necessá- fica transformar e redimensionar o rio defender que a escola se trans- espaço da recepção como espaço de forme em um ambiente em constante Ângela Alvares Correia Dias interação e transformação, modificar construção e renegociação. UnB Geraldo Severino dos Santos UnB 220

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