Recital Dos Sons Às Cores Canções E Pinturas Brasileiras

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Recital Dos Sons Às Cores Canções E Pinturas Brasileiras Recital Dos Sons às Cores Canções e Pinturas Brasileiras Meio-soprano: Cristine Bello Guse Pianista: Fanny de Souza Lima Dos sons às cores Cristine Bello Guse Como seria possível combinar artes que possuem formas de expressão aparentemente tão distintas, tais como a canção e a pintura? Foi esta pergunta que serviu de inspiração para a elaboração do recital Dos sons às cores. A proposta foi de realizar um recital de canções (música e poesia) e somar à performance projeções de pinturas que pudessem se relacionar ao contexto poético e musical das canções. A poesia é uma arte que comunica através da consecução no tempo, da sequência das partes; desenvolve uma ação através do discurso e dos sons articulados no tempo, portanto possui uma forma transitória por natureza. Já a pintura comunica através da justaposição no espaço, da simultaneidade em um único instante; representa através de figuras dentro de limites espaciais e não temporais (LESSING apud MOSER, 2006, p. 45). De um lado a pintura é uma imagem congelada no tempo, e de outro a poesia, e também a música, são artes que lidam com o limite do tempo para desenvolver seu discurso. Contudo, as regras de temporalidade vigentes em cada forma artística podem ser quebradas se o criador da obra de arte levar em consideração a imaginação do receptor. A imagem também tem o poder de gerar uma ideia narrativa de passado e futuro na mente do apreciador, assim como a poesia e a música fazem com que o ouvinte viva uma extensão do tempo cronológico para um tempo psicológico. Observando isso, constata-se a possibilidade de aproximação das duas artes e de associar uma à outra. Não obstante, quando a poesia é unida à música na canção, a aproximação com a pintura é beneficiada pela abstração dos sons musicais e das cores. A relação entre cor e som que os indivíduos já fazem espontaneamente através da sinestesia traz uma liga à associação sonora-visual entre os contextos figurativo da imagem e narrativo da poesia. Desde muito tempo os músicos se utilizam da linguagem das cores para se referirem a seus conceitos abstratos. “A cor, croma entre os gregos, é uma palavra que se usa como equivalente de timbre. O adjetivo brilhante é empregado pelos músicos no sentido de nítido” (SAMPAIO, 2008). Também podemos observar o emprego dos conceitos de tom e harmonia em ambas as artes. Foi no Romantismo que a música se aproximou mais das artes visuais, não somente pelo amplo uso da escala cromática pelos compositores de modo a dar a composição tons emocionais mais elaborados em sutilezas, mas também pelo advento da música programática que tinha como base representações extra-musicais (MORAES, 2011, p. 5). Historicamente a relação entre cor e som, entre pintura e música, foi explorada por inúmeros compositores tais como Wagner e Skryabin, e inúmeros pintores tais como Kandinsky e Paul Klee. A construção de “imagens musicais” é um processo comum em qualquer ouvinte, e muitas vezes, é utilizado como ferramenta na interpretação musical. O processo de preparação da performance musical pelos intérpretes implica na decodificação dos símbolos musicais, na construção do entendimento da obra e na realização desse entendimento. A mediação do intérprete é fundamental na elaboração de uma performance musical e é nesta etapa que as “imagens musicais” auxiliam na integração do processo decodificação-realização de uma obra performática (FREITAS, 2007, p. 39). Em se tratando da interpretação de canções, o intérprete ainda possui a especificidade das palavras da poesia para guiar suas imagens interpretativas. Assim, o processo de elaboração do recital Dos sons às cores partiu da interpretação musical e poética das canções selecionadas, para a escolha das obras de arte a serem projetadas. A temática escolhida foi canções e pinturas brasileiras, visto que nosso país possui um repertório e acervo vasto em coloridos sonoros e visuais possíveis de serem associados entre si. Esta riqueza e variedade de estilos da arte brasileira possibilitou que a associação das obras musicais e plásticas fossem feitas apenas através da relação existente entre seus aspectos visual-poético-musical, na intensão de trazer uma experiência sinestésica ao público, sem necessariamente fazer qualquer relação didática de estilos e épocas. Fontes: BAVARESCO, Nelson. “Ouvir as cores e ver os sons”, (Abril 2011). Consulta feita em 15/04/2012 ao site: http://www.mundocor.com.br/cores/cores_sons.asp FREITAS, Alexandre S. de. “Um diálogo entre som e imagem: questões históricas temporais e de interpretação musical”. In: Música Hodie. Vol 7, n° 2 (2007). P. 29-41. LOUREDO, Paula. “Sinestesia”. Consulta feita em 15/04/2012 ao site: http://www.brasilescola.com/oscincosentidos/sinestesia.htm MORAES, Lucyane de. “Das relações entre música e pintura em Theodor Adorno”. In: Revista Gama On - Revista Eletrônica de Ética e Filosofia. Volume 13 - 2011/01. Disponível em: www.gamaon.com.br MOSER, Walter. “As relações entre as artes por uma arqueologia da intermidialidade”. In:Aletria ( Jul./Dez.2006), p. 42-65. Disponível em http://www.letras.ufmg.br/poslit SAMPAIO, Rodrigo. “A música do Silêncio – Relação entre pintura e música”, (Maio 2008). Consulta feita em 15/04/2012 ao site http://conteumponto.blogspot.com.br/2008/05/msica- do-silncio-relao-entre-pintura-e.html Programa Brisas do Sul I – Tristeza Tristeza, encanto, desejo. Como é possível sabe-lo, um gozo incerto e dorido De carícia a contra-pêlo Tristeza Obras projetadas: Di Cavalcanti: Mulheres com frutas (1962), Mulher com chapéu (1940), Moça na janela (1957) II – Cata-vento Cata-vento enlouqueceu Ficou girando, girando, girando Em torno, em torno, em torno do cata-vento Dancemos todos em bando Em torno do cata-vento Dancemos, dancemos, dancemos todos Cata-vento enlouqueceu Obras projetadas: Luciana Teruz : Cata-vento (s/d), Boba (s/), Anjos Músicos (s/d) III - Nuvens Nuvens que venham Nuvens e asas Não param nunca, nem um segundo E fica a torre sobre as velhas casas Fica cismando como é vasto o mundo Vasto, o mundo Obras projetadas: Alfredo Andersen – Paisagem (1919), Vista da curva do cadeado (1920), Entrada da Barra do Sul (s/d) Holmes Neves – Paisagem de Minas I (1983), Paisagem (1977), Paisagem de Minas IV (1983) IV – Silêncio do Céu Deito-me ao fundo do barco sob o silêncio do céu Sob o silêncio do céu Obras projetadas: Alfredo Volpi – Barco com bandeirinhas (1955), Dom Bosco (1965), Sereia (1960), Vela Rosa (1972) Compositor: Henrique de Curitiba Poesia: Mario Quintana Pregão da Saudades De quem quer minha tristeza De quem quer minha aflição Se quiser vendo barato Fiado não vendo não Também tenho uma saudade, uma saudade de um bem querer Todos dois dou até dado Pois não quero mais sofrer Obras projetadas: Iberê Camargo – No vento e na terra (1991), Figuras (1987), Solidão 91994), Tudo te é falso e inútil III (1992) Compositor: Cláudio Santoro Poesia: Vinícius de Moraes Quero dizer baixinho Quero dizer baixinho um dia, ao teu ouvido Todas estas canções de amor, que sei decór, que sei decór... Só tu compreenderás seu íntimo sentido... São preces musicais que eu fiz devagarinho Preces em que ao te ver, ungida de carinho Pus o que na minha alma havia de melhor, de melhor... Quero dizer baixinho um dia, ao teu ouvido Todas estas canções de amor, que sei decór, que sei decór... Obras projetadas: Tarsila do Amaral – Idílio (1929), Antropofagia (1929), Abaporu (1928), A Lua (1928) Compositor: Mozart Camargo Guarnieri Poesia: Suzana de Campos Retrato Eu não tinha este rosto de hoje, Assim calmo, assim triste, assim magro Nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo Eu não tinha estas mãos sem força, Tão paradas e frias e mortas; Eu não tinha este coração que nem se mostra Eu não dei por esta mudança Tão simples, tão certa, tão fácil: Em que espelho ficou perdida a minha face? Obras projetadas: Anita Malfatti – A estudante (1915-1916), A boba (1915 – 1916), A mulher de cabelos verdes (1915-1916) Compositor: Oswaldo Lacerda Poesia: Cecília Meireles Dentro da Noite Dentro da noite côr de treva Sem uma estrela cor de leite Canta violão para eu sonhar Para eu sonhar... Na casa humilde do cabôclo Que fica ao fundo do grotão Geme violão Para eu sonhar na casa humilde do caboclo Geme violão Quero esquecer! Quero esquecer! Deixa que durma a natureza E nos envolva o seu mistério Chora violão, para eu dormir! Para eu dormir! Obras projetadas: Almeida Júnior – Moça com livro (s/d), Caipira picando fumo (1893), O violeiro 91899), Repouso (s/d) Compositor: Oscar Lorenzo Fernandez Poesia: Osório Dutra Canção da fonte Cansada canção da fonte que corre na tarde que morre... A canção é uma prece ao sol que esmaece na tarde que morre A canção é a saudade ao sol que se evade na tarde que morre... Cansada canção da canção da Fonte que corre na tarde que morre... Obras projetadas: Cândido Portinari – Os retirantes (1955), Marias (1936), Casamento na Roça (1944), Retirantes (1944) Compositor: Oscar Lorenzo Fernandez Poesia: Oscar Lorenzo Fernandez Lua quebrada Mais de mil pedaços no céu Repartindo a minha dor Espalhados na noite véu Dessa lua que quebrou Nosso amor também se partiu Quando viu a lua quebrar Como fosse feito da luz Que havia nesse luar Triste o tempo vai Lembra o que se foi Passa agora só por passar Sem razão, sem luz sem luar É rio que não procura mais o mar Obras projetadas: Adélio Sarro – Pensamento solitário (s/d), Cordas adormecidas (2009), Composição mística (s/d) Compositor: Julio Bellodi Poesia: Julio Bellodi Valsa dos Olhos da Menina Lá no alto daquela colina Uma menina com seus olhos de farol Como um sol que a cidade ilumina a disfarça o tom da solidão Os telhados que se espalham neblina Mágoa fina desenhada a nanquim Mora em mim rodando como bailarina Num pas des deux Valsando em vão Girando triste num compasso sem jeito Lá no fundo do meu coração .
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