BROTAS 1839-1920 Editora Brazil Publishing
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TEMPOS DOS CAMINHOS E DESCAMINHOS DE UMA CIDADE DO INTERIOR PAULISTA: BROTAS 1839-1920 Editora Brazil Publishing Conselho Editorial Internacional Presidente: Rodrigo Horochovski (UFPR - Brasil) Membros do Conselho: Anita Leocadia Prestes (Instituto Luiz Carlos Prestes - Brasil) Claudia Maria Elisa Romero Vivas (Universidad Del Norte - Colômbia) José Antonio González Lavaut (Universidad de La Habana - Cuba) Ingo Wolfgang Sarlet (PUCRS - Brasil) Milton Luiz Horn Vieira (UFSC - Brasil) Marilia Murata (UFPR - Brasil) Hsin-Ying Li (National Taiwan University - China) Ruben Sílvio Varela Santos Martins (Universidade de Évora - Portugal) Fabiana Queiroz (UFLA - Brasil) © Editora Brazil Publishing Presidente Executiva: Sandra Heck Rua Padre Germano Mayer, 407 Cristo Rei ‒ Curitiba PR ‒ 80050-270 +55 (41) 3022-6005 www.aeditora.com.br TEMPOS DOS CAMINHOS E DESCAMINHOS DE UMA CIDADE DO INTERIOR PAULISTA: BROTAS 1839-1920 Flávia Arlanch Martins de Oliveira Comitê Científi co da área Ciências Humanas Presidente: Professor Doutor Fabrício R. L. Tomio (UFPR – Sociologia) Professor Doutor Nilo Ribeiro Júnior (FAJE – Filosofi a) Professor Doutor Renee Volpato Viaro (PUC – Psicologia) Professor Doutor Daniel Delgado Queissada (UniAGES – Serviço Social) Professor Doutor Jorge Luiz Bezerra Nóvoa (UFBA – Sociologia) Professora Doutora Marlene Tamanini (UFPR – Sociologia) Professora Doutora Luciana Ferreira (UFPR – Geografi a) Professora Doutora Marlucy Alves Paraíso (UFMG – Educação) Professor Doutor Cezar Honorato (UFF – História) Professor Doutor Clóvis Ecco (PUC-GO – Ciências da Religião) Professor Doutor Fauston Negreiros (UFPI – Psicologia) Professor Doutor Luiz Antônio Bogo Chies (UCPel – Sociologia) Professor Doutor Mario Jorge da Motta Bastos (UFF – História) Professor Doutor Israel Kujawa (PPGP da IMED – Psicologia) Professora Doutora Maria Paula Prates Machado (UFCSPA- Antropologia Social) Editor Chefe: Sandra Heck Diagramação e Projeto Gráfi co: Brenner Silva Capa: João Neto Revisão de Texto: A autora Revisão Editorial: Editora Brazil Publishing DOI: 10.31012/978-65-5016-028-9 DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) BIBLIOTECÁRIA: MARIA ISABEL SCHIAVON KINASZ, CRB9 / 626 Oliveira, Flávia Arlanch Martins de O48t Tempos dos caminhos e descaminhos de uma cidade do interior paulista: Brotas 1839-1920 / Flávia Arlanch Martins de Oliveira - 1.ed. – Curitiba: Brazil Publishing, 2019. 352p.: il.; 23cm ISBN 978-65-5016-027-2 1. Brotas (SP) – História – 1839-1920. 2. São Paulo (SP) – História. I. Título. CDD 981.61 (22.ed) CDU 981.61 Curitiba / Brasil 2019 Para todos aqueles, lembrados ou esquecidos, que ao longo da história de Brotas, nas suas lutas pela sobrevivência, com o trabalho contribuíram para esta cidade ser o que é hoje. APRESENTAÇÃO Um acontecimento vivido é finito, ou pelo menos encerrado na esfera do vivido, ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites, por- que é apenas uma chave para tudo que veio antes e depois. Walter Benjamin O lugar em que viemos ao mundo corporifica significados que nos marcam profundamente com traços indeléveis e misteriosos, os quais não podemos subestimar, pois permanecem como paradigmas do ato fun- dador de nossa memória. É o afeto que brota da ligação com este local que nos ajuda a determinar as diferentes formas de como olhamos o mundo e direcionamos um sentido à nossa vida. Nasci em Brotas pelas mãos da parteira Ema Bicaleto e, embora tenha saído da cidade aos oito anos de idade, laços familiares sempre me envolveram estreitamente, impulsio- nando minhas raízes a nunca se desprenderem dessa terra. A este chão sempre retornei. Da mesma maneira que percebo a necessidade de apoiar minhas vivências no presente, buscando seus sentidos nos fragmentos da memória construídos e reconstruídos ao longo de minha vida, isso se dá com a cidade do presente com relação à sua memória/história. A diferença está no fato de ser este um trabalho coletivo. Sem a história para indicar os laços que unem e desunem as ligações entre passado e presente, a cidade perde sua identida- de. E sem os estímulos para manutenção dos referenciais da memória, em grande parte sinalizados pelo patrimônio urbano da cidade, este pode ser desprezado e aniquilado por demolições ou ainda sofrer alterações irrepa- ráveis. Foi o caso do jardim público da Praça Amador Simões, orgulho dos brotenses quando construído e referência de várias gerações, demolido no início da década 1970 pelas autoridades municipais que não perceberam sua importância e pela população que não se mobilizou para defendê-lo. Dele apenas restou o relógio de sol, que sobrevive marcando, além das horas, o tempo de sua existência. Sempre é preciso buscar as pontas dos fios que emergem do passado e, por meio de sinais que este nos envia, reconstruir o pano de fundo de uma realidade que o tempo deixou fugidia, muitas vezes convenientemente esquecida, e nela buscar o sentido da história da cidade e o porquê de seu presente. Uma cidade sem história vive à deriva. Tendo como trabalho a ciência histórica, sempre senti uma dí- vida para com Brotas por nunca ter escrito nada sobre ela. Muitas vezes, cheguei até a ser provocada para tal intento, e em outras ocasiões, em face de informações que chegavam até mim sobre seu passado era instigada a voltar os olhos sobre ele, no entanto, nunca arregacei as mangas para pôr em prática essa tarefa. A iniciativa em agora analisar seu passado não adveio de um pro- jeto pensado, mas sim por ter sido estimulada por informações sobre a ci- dade que chegavam até mim ao consultar, para outra pesquisa, o jornal A Província de São Paulo1. À medida que os dados afloravam, fui percebendo que, com certa frequência, apareciam pequenas notas ou informações de correspondentes brotenses sobre a cidade tratando dos mais diversos as- suntos como vida política, econômica, social, cultural e religiosa do passado, informações essas que desconhecia. Frente a isso, quase que por instinto co- mecei a anotá-los. Ao avolumarem-se estes registros percebi que dispunha de uma quantidade significativa de informações que permitiriam a elabo- ração de um texto. Diante disso, comecei a sistematizar aqueles subsídios e ao mesmo tempo fui despertada para começar a escrever algo sobre eles. Quando me dei conta estava escrevendo a história de Brotas. Mesmo assim, para efetivamente elaborar um texto com fun- damentos da ciência histórica, necessitava de mais informações, referen- te tanto à história de caráter geral como local, bem como cercar-me de princípios metodológicos que norteassem o trabalho. Para essa emprei- tada, lancei mão de uma bibliografia sobre a Província, depois Estado de São Paulo e, em termos locais, a princípio, utilizei o livro organizado por Adriana Ramos e outros2. Achava que poderia parar aí, mas quanto mais questionava os dados que vinham à baila delineando o perfil desse pas- 1 Até 1890, o jornal O Estado de S. Paulo tinha como título A Província de São Paulo, e o primeiro número saiu em janeiro de 1875. O jornal disponibiliza on-line todos os seus números. 2 RAMOS, Adriana et al. Brotas: Cotidiano e História. Brotas: Prefeitura Municipal de Brotas, 1996. sado, mais me dava conta da sua obscuridade, e que, portanto, a pesquisa precisaria avançar mais. Lendo as notícias enviadas de Brotas para o jornal A Província de São Paulo percebi que, sobretudo quando das disputas po- líticas no intuito de expor seus pontos de vista nas controvérsias locais, correspondentes brotenses recorriam também a outros jornais da capital, como o Correio Paulistano e o Diário de S. Paulo. Encontrei esses jornais on-line na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, disponíveis desde o pri- meiro número, ou seja, respectivamente, 1854 até o término da pesquisa em 1920, e 1865 até 1878 quando o jornal parou de circular, o que permitiu coletar algumas informações a respeito de Brotas desde a década de 1850. Também consultei O Commercio de São Paulo e A Gazeta de Campinas igualmente disponíveis on-line na mesma Biblioteca, bem como um nú- mero da A Gazeta de Brotas referente ao ano de 1895 e O Piratininga do ano 1849. Fui também ao Centro Cultural de Brotas e lá fiz um levan- tamento da documentação existente sobre o passado da cidade, por sinal, exígua. Posteriormente, tive à minha disposição o Nosso Álbum, publicado em 1933, o Livro Tombo da igreja Matriz de Brotas e o Almanach de Brotas para o ano de 1906, que trouxeram informações importantes sobre o pas- sado da cidade. Vale aqui lembrar que, pelo próprio caráter das fontes his- tóricas disponíveis, que prioriza setores mais privilegiados da sociedade, não foi possível dar conta da vida de todos os segmentos sociais da cidade, em especial das camadas menos favorecidas. Entretanto, mesmo tendo dados disponíveis para a história de Brotas nos seus primeiros cinquentas anos de existência, foi uma tare- fa difícil, pois, quando fui realizar o levantamento no acervo que abriga documentação sobre a cidade no Centro Cultural, percebi que os docu- mentos oficiais anteriores a 1890, como Atas, Requerimentos e Ofícios da Câmara Municipal haviam desaparecido. Diante disso, o que proponho aqui é apresentar uma avaliação com base em uma costura de dados esparsos encontrados em documentos diversos, especialmente em jornais, ou seja, alguns sinais que o passado nos deixou nessas fontes de informação. Assim, os fios condutores de uma parte das questões aqui apresentadas alinhavam-se, como sugere Carlo Ginsburg, com muitos “talvez”, “é possível”, “pode ser”, uma vez que irei trabalhar com subsídios nem sempre diretos para captar a reconstrução dos sujeitos sociais aqui tratados, contudo, com evidências bastante ób- vias3. As inter-relações com a história da Província e depois Estado de São Paulo, bem como com a da região da qual Brotas faz parte permitiram inserir certas determinações no contexto da história local. Por fim, quero dizer que não pretendo cortejar o passado da cidade e sim entendê-lo em suas determinações históricas. É preciso aqui fazer alguns esclarecimentos a respeito da orga- nização do texto.