Midiatização, (In)Tolerância E Reconhecimento
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BARBARA HELLER | DANILA CAL | ANA PAULA DA ROSA ORGANIZADORAS Midiatização, (in)tolerância e reconhecimento UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA REITOR João Carlos Salles Pires da Silva VICE-REITOR Paulo Cesar Miguez de Oliveira ASSESSOR DO REITOR Paulo Costa Lima EDITORA DA UNIVERSIDADE ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FEDERAL DA BAHIA PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO (COMPÓS) DIRETORA Flávia Goulart Mota Garcia Rosa PRESIDENTE Maurício Ribeiro da Silva CONSELHO EDITORIAL Alberto Brum Novaes VICE-PRESIDENTE Angelo Szaniecki Perret Serpa Nísia Martins do Rosário Caiuby Alves da Costa Charbel Niño El-Hani SECRETÁRIO-GERAL Cleise Furtado Mendes Eneus Trindade Barreto Filho Evelina de Carvalho Sá Hoisel DIRETOR CIENTÍFICO Maria do Carmo Soares de Freitas Osmar Gonçalves dos Reis Filho Maria Vidal de Negreiros Camargo TESOUREIRO Marcel Vieira Barreto Silva PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB), Campus Darcy Ribeiro, Icc Norte - Subsolo, Sala Ass 633. Asa Norte, Brasília - DF. Cep: 70910-900 Barbara Heller Danila Cal Ana Paula da Rosa (Organizadoras) Salvador Edufba 2020 2020, Autores. Direitos para esta edição cedidos à Edufba. Feito o Depósito Legal. Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009. Capa e Projeto Gráfico Vânia Vidal Revisão e Normalização Equipe Edufba Sistema de Bibliotecas - UFBA Midiatização (in)tolerância e reconhecimento / Barbara Heller, Danila Cal, Ana Paula da Rosa, organizadoras. - Salvador : EDUFBA, 2020. 378 p. ISBN: 978-65-5630-000-9 1. Comunicação de massa. 2. Midiatização. 3. Intolerância. 4. Jornalismo - aspectos políticos. 5. Mídia. I. Heller, Barbara. II. Cal, Danila. III. Rosa, Ana Paula da. CDD – 302.23 Elaborada por Jamilli Quaresma – CRB-5: BA-001608/O Editora filiada à: EDUFBA Rua Barão de Jeremoabo, s/n Campus de Ondina Salvador - Bahia CEP 40170-115 Tel. (71) 3283-6164 www.edufba.ufba.br / [email protected] SUMÁRIO Apresentação 9 Barbara Heller | Danila Cal | Ana Paula da Rosa midiatização, discursos de ódio e feminicídio Polarização como estrutura da intolerância: uma questão comunicacional 19 José Luiz Braga Acontecimento, discursos de ódio e intolerância: uma análise da circulação do voto de Jair Bolsonaro no impeachment de Dilma Rousseff 37 Diosana Frigo | Aline Dalmolin | Viviane Borelli A ocultação do ódio: mídia, misoginia e medicalização 61 João Freire Filho | Júlia dos Anjos | Amanda Rezende Lopes O jornalismo e o direito ao esquecimento: premissas e interfaces jurídico-comunicacionais a partir do caso Guilherme de Pádua 83 Luciano Souto Dias | Maria Clara Aquino Bittencourt reconhecimento, intolerância e moralidades A Teoria do Reconhecimento em tempos de intolerância: retrocesso cultural e politização reativa 109 Rousiley C. M. Maia | Bruna Silveira | Maiara Orlandini Gabriella Hauber | Pedro Camelo Leonardo Santa Inês | Thais Choucair Como importar uma guerra cultural: populismo conservador e a crítica ao multiculturalismo no Brasil 131 Paulo Vaz | Amanda Santos | Nicole Sanchotene Ativismo em rede e a dimensão moral das lutas por moradia 159 Regiane Lucas de O. Garcêz | Kelly Cristina de Souza Prudencio Vanessa Veiga de Oliveira | Larissa Moreira de Oliveira Arantes Julia Ester de Paula migrações, alteridade e cultura Refúgio em cena: testemunho e fama na sociedade midiatizada 185 Mohammed ElHajji | Otávio Cezarini Ávila Imigração haitiana: tensões entre afetos, imaginários e hospitalidade 203 Sônia Caldas Pessoa | Jude Civil Midiatizações da intolerância em narrativas de migrantes no Brasil 223 Luís Mauro Sá Martino | Ângela C. S. Marques corpos, sexualidades e performances no audiovisual Identidades cambiantes, corpos instáveis: notas sobre gênero, visibilidades e cotidiano em narrativas documentárias trans 249 Denise Tavares | Sandra Pereira Os embalos de Tikal adornando a cena: memórias e percepções de um lugar sensível na película CorpoStyleDanceMachine (2017) 271 Baga de Bagaceira Souza Campos | Renata Pitombo Cidreira Hanna Cláudia Freitas Rodrigues Boy Erased: pânico sexual, intolerância e vigilância no Brasil contemporâneo 287 Allan Santos | Igor Sacramento | Julio César Sanches disputas de sentidos imagéticos, censura e consumo Negacionismo da censura no filme 1964 – o Brasil entre armas e livros (2019): 311 O Estadão e O Globo Gabriel Pansardi Ruiz | Márcia Neme Buzalaf Não farás para ti imagem: fé, política e pensamento mágico-imagético-circular 327 Vinicius Souza Efeitos de sentido, boicotes e rituais de despojamento: os significados transferidos pela publicidade aos bens de consumo 345 Pablo Moreno Fernandes | Maurício Gomes de Faria Sobre as organizadoras 363 Sobre as autoras e os autores 365 APRESENTAÇÃO barbara heller danila cal ana paula da rosa Há temas que são de difícil abordagem. Outros preferimos não tocar para evitar que vozes dissonantes ou que o contraditório se transforme em tensão. Este livro, no entanto, desde a sua proposta inicial, lança-se a fazer ambas as coisas: tratar de temas difíceis, que remexem as nossas entranhas, já que nos levam a uma viagem aos nossos próprios valores, à nossa capacidade de ver o Outro; e, ao mesmo tem- po, propõe-se a projetar luz a angulações e a problemáticas que mostram as dis- sonâncias, os contraditórios, os desvios, os conflitos. Especificamente, buscamos evidenciar como a comunicação lida com tais questões em uma ambiência mar- cada pela midiatização cada vez mais complexa em termos de relações, vivências e formas de interação. Embora diversos autores, dentre eles Norbert Elias e John L. Scotson, na seminal obra Estabelecidos e outsiders (1964), já tenham abordado a intolerân- cia, e Foucault (2005) tenha produzido ampla obra sobre a temática do discurso de ódio, assim como Honneth (2003) tenha se dedicado a compreender a força motriz das lutas por reconhecimento, verifica-se que tais conceitos parecem ter adquirido novas dimensões na sociedade atual, intensificando-se globalmen- te tantos nas mídias massivas e nas digitais quanto nas relações interpessoais. É nesse cenário que passamos a pensar a sociedade brasileira e questionamos: 9 como compreender as crescentes manifestações da intolerância, das mais varia- das naturezas? Lilia Moritz Schwarcz (2019) afirma que sempre fomos intolerantes, em ra- zão da nossa colonização violenta, responsável pela imposição da cultura europeia sobre a dos índios nativos, e à longa escravidão, cujas consequências, apesar dos esforços de alguns governos mais democráticos, permanecem até a contempora- neidade, agravando as desigualdades sociais. Portanto, ser “cordial” nunca foi uma característica típica brasileira. Mal in- terpretado, esse conceito formulado por Sérgio Buarque de Holanda em 1936, em Raízes do Brasil, é agora retomado. Somos dissimuladamente cordiais. Sob a fina película da alegria e da hospitalidade brasileiras, existe uma matriz de origem pa- triarcal e rural que potencializa as diferenças de gênero, de religião, de raça, espe- cialmente depois do binarismo exacerbado pelas campanhas eleitorais presiden- ciais recentes em nosso país e também no exterior. No Brasil, o Outro tem sido visto como um inimigo em potencial, sobre quem sentimos aversão e de quem não devemos nos aproximar. O modelo a ser seguido e preservado nas várias instâncias da vida, como a sexualidade, as crenças e os rituais religiosos, a identidade nacional, entre outros, é determinado política, econômica, social e etnicamente pelas classes hegemônicas. Números recentes comprovam o crescimento da intolerância sobre as cama- das mais vulneráveis da população, como as mulheres, os LGBTQI+, os indígenas, os imigrantes, os afrodescendentes, os judeus, os umbandistas etc. Para ficarmos em apenas três exemplos, recorremos ao Atlas da violência (2019), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (CERQUEIRA, 2019), cujos números infor- mam que, em 2011, ocorreram 12.087 estupros/mês, contra 22.918/mês em 2016, ou seja, um aumento de 89,61%. Enquanto a taxa de homicídios de homens negros saltou 11,08%, de 21.895 casos/ano em 2000 para 46.217 casos/ano em 2017, o de homens não negros decresceu 19,88%, pois em 2000 foram registrados 16.460 ca- sos/ano, contra 13.187 casos/ano em 2017. As gritantes diferenças numéricas entre homens negros e não negros vítimas de homicídios e o aumento de mulheres vítimas da violência sexual corroboram a ideia de que estamos diante de processos biopolíticos (AGAMBEN, 2010), em que determinadas vidas parecem ter mais valor que outras. No lugar do Estado de Direito, usa-se o poder do Estado para exterminar líderes políticos aparentemente contrários à ordem vigente e perseguir mulheres, negros, pobres, travestis, gays e 10 midiatização, (in)tolerância e reconhecimento trans em nome da preservação da moral e dos costumes. Contudo, para além do fazer do Estado, são os cidadãos que também se voluntariam em suas páginas e dis- positivos digitais a negar o Outro e a amplificar o discurso intolerante e as práticas de exclusão do diverso ou do antagônico. Certamente, as práticas de intolerância, não reconhecimento e polarização são frutos de um contexto nacional muito maior. As enormes desigualdades nas cinco regiões do país, em suas cidades e municípios, no que se refere às ofertas de tra- balho, de acesso a moradias dignas, ao saneamento básico, à mobilidade social e à educação, entre vários fatores, ajudam a compreender os diferentes índices de violência em cada uma delas. Quanto mais violentos, mais intolerantes nos torna- mos e vice-versa. Isso porque intolerância, ignorância