Vila Real História Ao Café 1 2 Vila Real História Ao Café
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ELÍSIO AMARAL NEVES A. M. PIRES CABRAL VILA REAL HISTÓRIA AO CAFÉ 1 2 VILA REAL HISTÓRIA AO CAFÉ ELÍSIO AMARAL NEVES • A. M. PIRES CABRAL 3 4 NOTA INTRODUTÓRIA À 2.ª EDIÇÃO Em mais de oito anos de actividade intensa da AET — Área de Exposições Temporárias do Museu de Vila Real (Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real), o primeiro de um significativo conjunto de equipamentos e serviços culturais com que a Câmara Municipal dotou, nos últimos anos, o concelho e a região —, foram muitas e muito importantes as acções que se realizaram nesse local. Exposições, actividade editorial, encontros, animação, refeições gastronómicas e sobretudo um ciclo de conferências quinzenais (mensais nos anos de 2001 e 2004) que se designou por História ao Café e decorreu entre 3 de Outubro de 1997 e 27 de Dezembro de 2005. Ciclo de conferências/comunicações cujo objectivo era múltiplo: valorizar alguns dos mais importantes aspectos da história local, usando geralmente certos documentos (muitos dos quais reproduzidos neste livro) como pretexto museológico; evocar e recriar pela regularidade na sua realização as antigas tertúlias de tanta tradição nas terras da província no séc. XIX e princípios do séc. XX, em particular em Vila Real, de que foram exemplo a barbearia do António Grande, os Cafés Tocaio e Clube, as Farmácias Fernandes e Almeida, a Tabacaria Áurea, a Livraria Araújo, a Alfaiataria Frederico, a Sapataria Estoril; sensibilizar os participantes para as questões do património lato sensu; e contribuir para o reforço do sentimento de pertença à comunidade. Para a apresentação dos temas foram convidadas 49 personalidades com diferentes formações*, que se responsabilizaram pela investigação (na sua grande maioria acompanhada pelo coordenador do projecto, Elísio Amaral Neves) e depois pela comunicação (os seus nomes vão, nas páginas que se seguem, assinalados junto das conferências por que foram responsáveis), a que se sucedia um espaço de debate, por vezes bem animado, que contribuiu para uma melhor compreensão da identidade vila- -realense e da vida da comunidade ao longo dos tempos. O livro que agora se publica em 2.ª edição revista (dado encontrar-se 5 há muito esgotado e mantendo-se o interesse do público nele), reúne os textos dos 182 temas publicados nas 162 fichas distribuídas nos dias das sessões (coleccionáveis e arquiváveis em pasta própria), de que são responsáveis Elísio Amaral Neves (que tomou a seu cargo grande parte da investigação e organizou a informação) e A. M. Pires Cabral (que elaborou o texto final). A sua edição justificou-se, entre tantas outras razões, como forma de reconhecer o inequívoco entusiasmo que atingiu todos os palestrantes, muitos deles responsáveis por mais de uma comunicação, cujo conteúdo, à medida que a iniciativa se foi consolidando e progredindo no tempo, se foi tornando igualmente cada vez mais exigente e completo. Finalmente, tenha-se em consideração que um trabalho sistemático de investigação possibilitou posteriormente a actualização, precisão, correcção, num ou outro caso, e complementação da informação disponibilizada nas fichas distribuídas durante o referido ciclo. * Aires Querubim de Meneses Soares (jurista, ex-governador civil de Vila Real), Albano Ribeiro de Sousa (comerciante), Albertino Correia (comerciante, coleccionador), Alexandre Ramires (professor, investigador), Alexandre Parafita (escritor), Álvaro Magalhães dos Santos (publicista), Álvaro Pinto (professor), A. M. Pires Cabral (professor, escritor), Ângelo do Carmo Minhava (sacerdote, musicólogo), Ângelo Sequeira (médico, coleccionador), António Belém Lima (arquitecto), António Meneres (gestor), Artur Costa (bombeiro), Carlos Fernandes (empresário), Duarte Carvalho (comerciante, fotógrafo), Elísio Amaral Neves (investigador), Fernando Meneses (bancário), Francisco Edgar Ferreira (professor), Frederico Amaral Neves (médico), Gaspar Martins Pereira (professor, historiador), Henrique Maria dos Santos (professor, ex-pároco da Sé), João Gonçalves Costa (sacerdote, escritor), João Montes (sacerdote, professor), João Ribeiro da Silva (museólogo, responsável pelo Museu de Vila Real), João Ribeiro Parente (sacerdote, historiador, ex-responsável pelo Museu de Vila Real), Joaquim Barreira Gonçalves (técnico-profissional de arquivo), Joaquim Magalhães dos Santos (filólogo), Joaquim Ribeiro Aires (professor, escritor), José Alves Ribeiro (professor, agrónomo, botânico), José Borges Rebelo (médico), José Daniel Barros Adão (militar, ex-comandante do RI 13), José João Pinhanços de Bianchi (professor), Júlio Augusto Morais Montalvão Machado (médico, historiador, ex-governador civil de Vila Real), Luiz Vaz de Sampayo (professor, historiador), Manuel José da Silva Gonçalves (arquivista), Manuel Rebelo Cardona (advogado), Manuel Vaz de Carvalho (advogado), Maria Filipa Borges de Azevedo (coleccionadora), Maria Hercília Agarez (professora, escritora), Maria Teresa Guimarães (professora), Mário Santos de Almeida (médico, coleccionador), Nuno Botelho (jurista), Paulo Mesquita Guimarães (arquivista), Paulo Vaz de Carvalho (professor, musicólogo), Pedro Abreu Peixoto (arquivista), Rodrigo Botelho de Araújo (bancário), Salvador Ribeiro Parente (sacerdote, professor), Tomaz Rebelo do Espírito Santo (engenheiro geógrafo, meteorologista, ex-governador civil de Vila Real), Vítor Nogueira (professor, escritor). 6 TESOURO DE VILA MARIM João Ribeiro Parente Quando o Sr. Manuel Ribeiro Catalão, de Vila Marim, por volta de 1971, procedia a uma remoção de terras, fez uma descoberta inesperada: nada menos que um tesouro com 19 quilos de pequenos e médios bronzes do séc. IV. No mesmo local apareceria também uma sepultura romana, um oenokoé (jarra, neste caso de bronze com incrustações de prata, do tempo de Augusto) e um conjunto de instrumentos agrícolas. Não sendo este tipo de achados particularmente raro naquele tempo, o Tesouro de Vila Marim é um conjunto de grande importância numismática e arqueológica. Esse tesouro foi adquirido na quase totalidade pelo Padre João Parente e passou a integrar a sua notável colecção de moedas romanas, hoje património municipal por doação, que constitui o acervo do Museu 7 de Vila Real, a inaugurar provavelmente em 1998, cujos núcleos centrais serão a Numismática e a Arqueologia. São aproximadamente 5.000 moedas que cobrem o período de 318 a 395 d.C., de que, para melhor compreensão, foram seleccionadas seis, que se descrevem a seguir, reproduzindo a descrição constante do catálogo do “Museu de Vila Real — Moedas”, Tomo I, Vila Real, 1997, da autoria do Padre João Parente. COISAS DE FARMÁCIA A. M. Pires Cabral A farmácia de outros tempos não era o lugar frio e impessoal que é hoje, quase sempre. Pelo contrário, era um lugar onde se convivia e onde se estabeleciam relações humanas calorosas, determinadas pela própria função que a farmácia tinha de olhar pela saúde das pessoas. Os hospitais e os médicos eram relativamente raros e a farmácia tinha de suprir-lhes a falta. Para além dos medicamentos que vendia — uns fabricados nos laboratórios, outros manipulados ali mesmo, na farmácia — as pessoas necessitadas sabiam que encontravam ali quem lhes aconselhasse um remédio, quem lhes fizesse um penso ou desse uma injecção, até mesmo quem lhes arrancasse um dente. Para poder assegurar esta função múltipla, a farmácia precisava de ter — para além da “Pharmacopêa Portugueza”, de 1876, uma obra de referência fundamental — toda uma bateria de aparelhos: balanças (normais e de precisão), almofarizes e respectivos pilões, espátulas para as pomadas, os aparelhos para fabricar hóstias, supositórios e óvulos vaginais, o termómetro de serviço, o alicate para extrair dentes, fio de sutura, pesa-álcoois, uma gama enorme de boiões de grés e frascos de vidro de cores fortes… As coisas de farmácia hoje mostradas provêm de um estabelecimento com grandes tradições de tertúlia em Vila Real: a Farmácia Almeida, 8 fundada em 1906, que há cinco gerações se encontra na posse da família e que esteve desde sempre situada naquela corrente de prédios onde ainda se encontra, nas imediações da Sé. Ali se reuniam pelo final da tarde, para a tertúlia diária, figuras marcantes da Vila Real desse tempo, como o seu proprietário António Correia d’Almeida, o Sr. João Inácio Tocaio, o Dr. Henrique Botelho, o Sr. José Augusto Rebelo, o Dr. Filinto Monteiro, o Dr. António Agarez, os Srs. Manuel Mendes e Dr. Sebastião Claro, o capitão-médico José Tibúrcio Monteiro. E consta que, depois de a farmácia fechar, a tertúlia continuava animada, desta vez lá dentro, em torno de um salpicão e de um copo de vinho, guardados num armário que ainda existe e é testemunha desses tempos em que ainda havia tempo para conversar e jogar uma bem praguejada partida de gamão. ACTA DA SESSÃO DE 20-XI-1888 DA JUNTA GERAL DO DISTRITO DE VILA REAL Elísio Amaral Neves Desde o último quartel do século XIX que a criação de um museu animou a vida cultural de Vila Real, normalmente associada ao reconhecimento da importância arqueológica do Santuário Rupestre de Panóias, que funcionava assim como uma espécie de motor de arranque para essas iniciativas. Assim aconteceu em 1888, data da primeira iniciativa conhecida do movimento museológico vila-realense. Foi muito provavelmente um artigo de José Leite de Vasconcelos sobre Panóias, publicado na “Revista Archeologica”, que inspirou José Homem de Sousa Pizarro, elemento da Junta Geral do Distrito, a propor à sessão de 20 de Novembro que, entre outras medidas de alcance cultural, se reservasse uma sala do edifício em construção da mesma junta Geral para