Fernando Meirelles
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capa dura Fernando Meireles MOD 1 1 28/11/2007 16:24:05 Fernando Meirelles Biografia Prematura 26274015_mioloMeirelles.indd 1 9/12/2009 18:14:30 Edição especial para a Secretaria de Estado de Educação Governo do Estado de São Paulo São Paulo, 2007 26274015_mioloMeirelles.indd 2 9/12/2009 18:14:30 Fernando Meirelles Biografia Prematura Maria do Rosário Caetano 2a edição 26274015_mioloMeirelles.indd 3 9/12/2009 18:14:30 Governador José Serra Secretária da Educação Maria Helena Guimarães de Castro Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Diretor-presidente Hubert Alquéres Coleção Aplauso Série Cinema Brasil Coordenador Geral Rubens Ewald Filho 26274015_mioloMeirelles.indd 4 9/12/2009 18:14:30 Apresentação A relação de São Paulo com as artes cênicas é muito antiga. Afinal, Anchieta, um dos fundado- res da capital, além de ser sacerdote e de exercer os ofícios de professor, médico e sapateiro, era também dramaturgo. As doze peças teatrais de sua autoria – que seguiam a forma dos autos me- dievais – foram escritas em português e também em tupi, pois tinham a finalidade de catequizar os indígenas e convertê-los ao cristianismo. Mesmo assim, a atividade teatral só foi se desen- 5 volver em território paulista muito lentamente, em que pese o Marquês de Pombal, ministro da coroa portuguesa no século XVIII, ter procurado estimular o teatro em todo o império luso, por considerá-lo muito importante para a educação e a formação das pessoas. O grande salto foi dado somente no século XX, com a criação, em 1948, do TBC –Teatro Brasileiro de Comédia, a primeira companhia profissional paulista. Em 1949, por sua vez, era inaugurada a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, que mar- cou época no cinema brasileiro, e, no ano seguin- te, entrava no ar a primeira emissora de televisão do Brasil e da América Latina: a TV Tupi. 26274015_mioloMeirelles.indd 5 9/12/2009 18:14:30 Estava criado o ambiente propício para que o teatro, o cinema e a televisão prosperassem entre nós, ampliando o campo de trabalho para atores, dramaturgos, roteiristas, músicos e téc- nicos; multiplicando a cultura, a informação e o entretenimento para a população. A Coleção Aplauso reúne depoimentos de gente que ajudou a escrever essa história. E que conti- nua a escrevê-la, no presente. Homens e mulheres que, contando a sua vida, contam também a tra- jetória de atividades da maior relevância para a cultura brasileira. Pessoas que, numa linguagem simples e direta, como que dialogando com os leitores, revelam a sua experiência, o seu talento, 6 a sua criatividade. Daí, certamente, uma das razões do sucesso, dessa Coleção, junto ao público. Daí, também, um dos motivos para o lançamento desta edição especial, voltada aos alunos da rede pública de ensino de São Paulo. Formado, inicialmente, por um conjunto de 20 títulos, ela será encaminhada a 4 mil escolas es- taduais com classes de 5a a 8a série, do Ensino Fundamental, e do Ensino Médio, estimulando o gosto pela leitura para milhares de jovens, en- riquecendo sua cultura e visão de mundo. José Serra Governador do Estado de São Paulo 26274015_mioloMeirelles.indd 6 9/12/2009 18:14:30 “O que lembro, tenho.” Guimarães Rosa A Coleção Aplauso, concebida pela Imprensa Oficial, visa resgatar a memória da cultura na- cional, biografando atores, atrizes e diretores que compõem a cena brasileira nas áreas de cinema, teatro e televisão. Foram selecionados escritores com largo currículo em jornalismo cultural, para esse trabalho em que a história cênica e audiovisual brasileiras vem sendo re- constituída de maneira singular. Em entrevistas e encontros sucessivos estreita-se o contato entre biógrafos e biografados, arquivos de 7 documentos e imagens são pesquisados, e o universo que se reconstitui a partir do cotidia- no e do fazer dessas personalidades permite reconstruir suas trajetórias. A decisão sobre o depoimento de cada um para a primeira pessoa mantém o aspecto de tradição oral dos relatos, tornando o texto coloquial, como se o biografado falasse diretamente ao leitor. Um aspecto importante da Coleção, é que os resultados obtidos ultrapassam simples regis- tros biográficos, revelando ao leitor facetas que também caracterizam o artista e seu ofí- cio. Biógrafo e o biografado se colocaram em reflexões que se estenderam sobre a formação 26274015_mioloMeirelles.indd 7 9/12/2009 18:14:30 intelectual e ideológica do artista, contextua- lizada naquilo que caracteriza e situa também a história brasileira, no tempo e espaço da narrativa de cada biografado. São inúmeros os artistas a apontarem o impor- tante papel que tiveram os livros e a leitura em suas vidas, deixando transparecer a firmeza do pensamento crítico, ou denunciando precon- ceitos seculares que atrasaram e continuam atrasando nosso País. Muitos mostraram a importância para a sua formação terem atuado tanto no teatro, cinema e televisão, portanto, linguagens diferenciadas – analisando-as e suas particularidades. 8 Muitos títulos extrapolam os simples relatos bio- gráficos, explorando – quando o artista permite – seu universo íntimo e psicológico, revelando sua autodeterminação e quase nunca a casualidade por ter se tornado artista – como se carregas- se consigo, desde sempre, seus princípios, sua vocação, a complexidade dos personagens que abrigou ao longo de sua carreira. São livros que além de atrair o grande público, interessarão igualmente nossos estudantes, pois na Coleção Aplauso foi discutido o intrincado processo de criação que concerne ao teatro, ao cinema e à televisão. Foram desenvolvidos temas como a construção dos personagens interpreta- 26274015_mioloMeirelles.indd 8 9/12/2009 18:14:30 dos, bem como a análise, a história, a importân- cia e a atualidade de alguns dos personagens vividos pelos biografados. Foram examinados o relacionamento dos artistas com seus pares e diretores, os processos e as possibilidades de correção de erros no exercício do teatro e do cinema, a diferença entre esses veículos e a ex- pressão de suas linguagens. Gostaria de ressaltar o projeto gráfico da Coleção e a opção por seu formato de bolso, a facilidade para se ler esses livros em qualquer parte, a clareza e o corpo de suas fontes, a iconografia farta, o registro cronológico completo de cada biografado. Se algum fator específico conduziu ao sucesso 9 da Coleção Aplauso – e merece ser destacado – é o interesse do leitor brasileiro em conhecer o percurso cultural de seu país. À Imprensa Oficial e sua equipe, coube reunir um bom time de jornalistas, organizar com efi- cácia a pesquisa documental e iconográfica, e contar com a disposição, entusiasmo e empenho de nossos artistas, diretores, dramaturgos e ro- teiristas. Com a Coleção em curso, configurada e com identidade consolidada, constatamos que os sortilégios que envolvem palco, cenas, coxias, sets de filmagens, cenários, câmeras, textos, imagens e palavras conjugados, e todos esses seres especiais – que nesse universo transitam, 26274015_mioloMeirelles.indd 9 9/12/2009 18:14:30 transmutam e vivem – também nos tomaram e sensibilizaram. É esse material cultural e de reflexão que pode ser agora compartilhado com os leitores de todo o Brasil. Hubert Alquéres Diretor-presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo 10 26274015_mioloMeirelles.indd 10 9/12/2009 18:14:30 Introdução O cineasta da hora. Ao aceitar o convite de Ru bens Ewald Filho para escrever este registro da traje- tória de Fernando Meirelles, sabia que assu miria tarefa ao mesmo tempo agradável e difícil. Agradável, porque o cineasta realizou um filme – Cidade de Deus – em fina sintonia com nosso tempo, vigoroso, controvertido, capaz de desper- tar paixão ou ira. Tanto que o filme foi matriz da mais barulhenta polêmica cinematográfica ocorrida no Brasil desde que Terra em Transe (Glauber Rocha / 1967) acirrou ânimos e acendeu um dos mais vibrantes debates de que temos no- tícia. Cacá Diegues costuma dizer que o tercei ro 11 longa de Glauber permanece em cartaz ainda hoje, passados 40 anos de seu lançamento, pois continua motivando animadas discus sões. O lado difícil da empreitada que nos foi enco- mendada pelo editor da Coleção Aplauso viria justamente da imensa repercussão social obtida por Cidade de Deus, terceiro longa de Meirelles. Afinal, o cineasta estava com sua agenda tomada por novos projetos, todos no exterior. Tudo começou em Cannes / 2002 (onde o fil- me causou furor, mesmo fora da disputa pela Palma de Ouro). Depois, Cidade de Deus seria mostrado – durante a campanha eleitoral que anta gonizou Lula e Serra – ao candidato petista, 26274015_mioloMeirelles.indd 11 9/12/2009 18:14:30 pelo romancista Paulo Lins, autor do livro que lhe deu origem. No dia 31 de agosto de 2002 Cidade de Deus chegaria ao circuito comercial brasileiro. E cairia como uma bomba junto ao público. Vendeu 3,2 milhões de ingressos. Em setembro, só se falava do filme de Fernando Meirelles. No campo da reflexão estética, acirrou-se o deba- te polarizado entre duas correntes: uma, que se filiaria (e defenderia) à Estética da Fome (pro pos- ta por Glauber Rocha em manifesto apresentado na Itália em 1965) e outra – mesmo não assumida por ninguém – agregaria os adeptos (ou pratican- 12 tes) da Cosmética da Fome (termo cunhado pela ensaísta Ivana Bentes, professora da UFRJ). Esta corrente (vale reafirmar, sem manifesto e sem cineastas-defensores), tornou-se o território (ou purgatório) dos que cosmeti zariam a miséria bra- sileira, retratando-a com enfei tes e sofisticações técnicas pedidos de empréstimo à Publicidade. Em outubro de 2002, Fernando Meirelles enfren- tou auditório superlotado (no Espaço Unibanco de Cinema paulistano), palco de seminário que discu- tiu o tema Estética da Fome x Cosmética da Fome. O sucesso de Cidade de Deus, que 17 meses de- pois de sua estréia receberia quatro indicações ao Oscar (indicações de peso, como direção, ro- teiro, fotografia e montagem), paradoxalmente 26274015_mioloMeirelles.indd 12 9/12/2009 18:14:30 ampliou o quadro de dificuldades para a redação do texto final deste livro.