PUC-SP

VII COLÓQUIO DE ESTUDOS RETÓRICOS

CADERNO DE RESUMOS

28 de novembro de 2015

São Paulo 2015

1

SUMÁRIO O discurso de Conceição: comportamentos sociais no conto machadiano Luciane Oliveira da Costa Santos Damares Sousa Silva

Mirem-se no exemplo dessas mulheres: da submissão à revelação Claudia M C Quintas Maria Cristina Maximo de Almeida

Toda mulher é meio Leila Diniz? Cláudia Abuchaim Sandra Maria Barbosa Farias

A construção histórica do ethos feminino e sua desconstrução na canção Pagu Sílvia Scola da Costa Wilson Lopes do Amaral

O design de Deus para mulher: análise do ethos feminino no relato de Moisés em Gênesis Inês Teixeira

A constituição do ethos feminino na musica Pagu, de Elizabeth Rizzi Lyra Priscilla Harka

A construção da vilania feminina nos filmes infantis: uma análise do ethos retórico da bruxa em Branca de Neve Maria Sílvia Rodrigues-Alves Fernando Aparecido Ferreira

Os ethé dos juristas e a constituição do ethos feminino de uma das partes em um processo da esfera civil Letícia Machel Lovo Maria Flávia Figueiredo

O humor dos dramas femininos nas tirinhas de Pryscila Vieira – uma análise retórica e textual Helena Madeira Caldeira Silva

As figuras de retórica nas eleições presidenciais de 2014 como recurso intensificador na construção do ethos feminino. Luanny Maria Almeida Vidal Fernando Aparecido Ferreira

Sobre o riso que esconde a dor: a construção retórica do humor em “Maricson”, de Heloísa Périssé e Marcelo Saback Luana Ferraz

2

Análise retórica de uma entrevista: o discurso feminino em pauta Farnei Santos Maria Flávia Figueiredo

Inferências: semântica e pragmática em – o estranho procedimento de Dona Dolores – uma proposta de análise retórica no ensino fundamental II Andreia Honório da Cunha

Os recursos retóricos no gênero editorial de O Jornal das Senhoras, de 1852: argumentação e ethos discursivo Sandro Luis da Silva

A relação silenciosa da personagem Macabéa em A Hora da Estrela Maria Julia Santos Duarte

A construção das cenas da enunciação e a responsabilidade enunciativa na revista Piauí Mayara Evangelista Alegre

Uma outra face feminina: retórica, argumentação e ethos em entrevistas de Regiane Raquel de Oliveira

O idoso, a publicidade e a retórica: algumas reflexões Adriano Gonçalves dos Santos

Tensões entre ethé de Dilma Rousseff: o caso de postagens bem humoradas no Facebook Ana Cristina Carmelino Marcio Antonio Gatti

Sou foda! Coitado! A (des)construção do masculino nas músicas populares Acir de Matos Gomes Luiz Antonio Ferreira

Subserviência e dominação: a constituição do ethos feminino em Folhetim, de de Holanda Fernanda Martin Sbroggio Aidil Soares Navarro

O discurso feminino no interior da Igreja Católica Apostólica Romana: a ausência da mulher na instituição do sacerdócio. Cláudio Sampaio Barbosa

3

O discurso de Conceição: comportamentos sociais no conto machadiano

Luciane Oliveira da Costa Santos Damares Sousa Silva

Este breve estudo tem o objetivo de analisar o discurso da personagem Conceição, do conto machadiano Missa do Galo, a partir de pesquisa bibliográfica, com destaque para as obras de Erving Goffman (2010) e Luiz Antonio Ferreira (2010). Sem pretensão de esgotar o tema, são apresentadas aqui, em forma de tópicos indicativos, algumas noções sobre comportamentos sociais presentes no conto. Além disso, é possível observar que o enredo não apresenta grandes surpresas ao longo de seu desenvolvimento, mas é enriquecido por detalhes do comportamento humano, com descrições e reflexões, notadamente no discurso de Conceição que, repleto de ironia e pessimismo, revela o desejo não explícito num discurso que pode ser considerado ambíguo. A forma de comunicação entre os personagens principais – Conceição, com 30 anos de idade, e Nogueira, narrador personagem com 17 anos –, embora com diálogos compatíveis aos costumes da época, foge, em certa medida, das regras sociais impostas. Alguns fatores conduziram à conclusão: conhecimentos linguísticos sobre variáveis socioculturais, psicológicas e geográficas; estudos acerca de estratégias linguísticas de interação; e, enfim, conhecimento sobre a fala de cada época. O que se deve ressaltar ainda é que tais variáveis são coadjuvantes na análise, pois o interesse está em entender a interação, como objeto de estudo, na obra em questão.

4

Mirem-se no exemplo dessas mulheres: da submissão à revelação

Claudia M C Quintas Maria Cristina Maximo de Almeida

A mulher, ao longo dos séculos, representou para muitos, a perdição do homem, chegou a ser vista como a encarnação do mal e teve a Eva como forte representante. Para outros, a figura feminina estava ligada à divindade ao intocável assim como Maria, mãe do Salvador. O tema feminilidade sempre foi objeto de constantes discussões. Podemos observar pela História que a mulher se revela capaz de superar essa submissão e aos poucos alcança seu espaço ao Sol. Por meio de diversas expressões artísticas e literárias, a mulher se revela ou é revelada. Nas inúmeras músicas que cantam a mulher, podemos perceber as diferenças de conceitos que se têm dela. Em Mulher de hoje (1973), de e Nelson Valença, encontramos, na temporalidade, duas facetas de um mesmo ser: antes, vivia para o lar; hoje, precisa sair para a luta a fim de sustentar sua família. Em Ai que saudade da Amélia (1942), Mario Lagos e Ataulfo Alves configuram a mulher ideal, comparada a uma mulher superficial, fútil e gananciosa. Seja como for, há sempre uma perspectiva subjetiva que norteia as diversas concepções do feminino ao longo do tempo, sobretudo filtradas pela visão enviesada do discurso masculino. Neste artigo, propomos um paralelo entre as mulheres apresentadas em Mulheres de Atenas, de Chico Buarque e , e algumas letras de funk, de autores diferentes, a fim de apresentar a trajetória da mulher na música brasileira que parte da submissão declarada e se encaminha para sua ascensão.

5

Toda mulher é meio Leila Diniz?

Cláudia Abuchaim Sandra Maria Barbosa Farias

A transformação da condição social feminina no Brasil permitiu que mulheres pudessem além de interpretar, também compor músicas que desnudassem os anseios femininos. Propõe-se, no presente trabalho, a análise, por meio dos recursos permitidos pelos artifícios retóricos, da música de Rita Lee “Todas as Mulheres do Mundo”, escrita na década de 90. No plano retórico, três questões importantes se impõem para o analista. A primeira liga-se à análise do ethos do orador (Quem fala?). A segunda estabelece relações com a temporalidade (Quando se fala?), e a última constitui o auditório (A quem se fala?). Como afirma Aristóteles (2012), o orador, simbolizado pelo ethos, tem credibilidade assentada no caráter que apresenta ao auditório. Para suscitar confiança, o orador deve revelar inteligência prática, caráter virtuoso e boa vontade. Para mover o auditório, simbolizado pelo pathos, precisa comovê-lo e seduzi-lo por meio do discurso, simbolizado pelo logos (a palavra). Os sentidos de um texto se modificam em função da época, dos acontecimentos que antecedem ou sucedem o evento analisado. Por isso, a análise de uma música escrita em 1993, que apresenta como ícone a atriz Leila Diniz, precisa levar em conta, a princípio, duas indagações: “Quando fala?” e “De quem fala?”. Faz-se necessário perscrutar-se a sociedade da época em que viveu Leila Diniz e a época em que foi composta a música. Apresentaremos, então, uma reflexão sobre a inserção feminina na sociedade a partir dos anos de 1960.

6

A construção histórica do ethos feminino e sua desconstrução na canção Pagu

Sílvia Scola da Costa Wilson Lopes do Amaral

Temos como objetivo neste artigo analisar a constituição do ethos feminino na canção popular brasileira. Como corpus, utilizaremos a canção Pagu, composta por Rita Lee e Zélia Dunkan, no ano 2000. Buscaremos entender como o discurso construído pelas autoras contribuiu para a compreensão da ressignificação do universo feminino em seu aspecto mais íntimo, sua individualidade, demonstrando um pouco de seus desejos e anseios. Com uma sintética retrospectiva histórica, tentaremos também entender como por meio do discurso presente na canção ocorre a desconstrução de estereótipos femininos tidos como supremos e necessários ao público masculino, com o objetivo de demonstrar e valorizar exatamente o oposto desses estereótipos.

7

O design de Deus para mulher: análise do ethos feminino no relato de Moisés em Gênesis

Inês Teixeira

A mulher pré-histórica era divinizada como deusa na terra. Em torno dos anos 9000 a.C, ela passa, então, a ser dominada pelo homem. Muito mais tarde, na idade média, a Igreja Católica medieval atribuía à mulher a culpa pelo pecado original de Eva. Neste quadro de coisificação, a mulher é reduzida a objeto e a fraqueza tornou-se parte do ethos constitutivo feminino. O objetivo deste trabalho é apresentar o relato de Moisés como instaurador de um ethos feminino que vai na contramão da história que condenou a mulher ao status de inferioridade. Embora os primeiros capítulos de Gênesis tenham sido escritos no período Monárquico e Pós-monárquico, quando a participação da mulher na história de Israel foi menos intensa, o relato de Moisés descreve um ethos feminino discrepante da cultura da época e da marca de inferioridade feminina presente em muitos povos, tantos antigos, da idade média até os dias atuais. Sem a pretensão de fazer uma exegese bíblica, usaremos as ferramentas da retórica que permitem uma leitura genuína do texto bíblico, cuja autoria é atribuída a Moisés. Para dar conta disso, foi feita uma análise retórica na leitura do texto bíblico, usando como fundamentação as contribuições teóricas de Perelman (1997), Reboul (2004), Ferreira (2010), além de uma pesquisa bibliográfica sobre da história do feminino. Esse estudo abre possibilidades para discussão sobre papel feminino na história, tão necessário para a compreensão do ethos feminino na pós-modernidade.

8

A constituição do ethos feminino na música Pagu, de Rita Lee

Elizabeth Rizzi Lyra Priscilla Harka

Neste trabalho pretendemos contemplar a imagem feminina na letra da canção Pagú, de Rita Lee. Nos anos 70, as mulheres se firmaram como compositoras, inovando ao expor de maneira direta temas antes proibidos como sexo, desejos, questionando seu papel na sociedade. O feminino aqui é um efeito de sentido projetado no discurso por meio de estratégias engendradas pelo orador e a partir dessa ideia, examinaremos os elementos e as estratégias retóricas para a constituição do ethos feminino formado na canção levando em consideração o contexto histórico, social, político e cultural e baseados nas teorias de Aristóteles, a Nova Retórica de Perelman e O. Tyteca bem como nos estudos linguísticos de Bakhtin, relacionando comunicação, homem e sociedade. Por fim, após a análise da canção, todas as referências encontradas na letra foram estruturadas com o propósito de averiguarmos a possibilidade de traçar um ethos feminino do orador no todo da canção analisada.

9

A construção da vilania feminina nos filmes infantis: uma análise do ethos retórico da bruxa em Branca de Neve

Maria Sílvia Rodrigues-Alves Fernando Aparecido Ferreira

A vilania está presente nas narrativas infantis. Tais vilões encontram-se na forma de personagens diversos, mas a bruxa é o personagem mais recorrente quando se tratam dos clássicos da literatura infanto-juvenil. Pensando na imagem que o orador constrói de si e dos outros no interior do discurso, ou seja, o ethos, a presente pesquisa se propõe a verificar os recursos que estão em jogo para engendrar o ethos retórico de uma bruxa em uma animação. A voz é o ponto de partida na construção de um desenho animado, pois através das falas é que se constrói a imagem, os movimentos e todo o cenário que se elabora no mundo das animações. Instaura-se, nesse sentido, a hipótese de que, no universo das narrativas audiovisuais infantis, um quadro se delineia com palavras, sons, cores e movimentos no embalo da voz do personagem. Assim, alicerçada na Retórica e na Prosódia, este trabalho estabelece um estudo do trecho do filme Branca de Neve, de produção original dos estúdios Walt Disney, no qual a rainha madrasta se transforma em bruxa. No que se refere à Retórica, consideramos como arcabouço teórico, as asserções de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), Eggs (2005) e Ferreira (2010). No campo da Prosódia, atentamos para os estudos de Cagliari (2007), Scarpa (1999) e Figueiredo (2006). Tais alicerces conduzem o estudo e propiciam o entrecruzamento das teorias para a análise do texto sincrético, considerando a relação do verbal com o imagético, com o suporte da voz.

10

Os ethé dos juristas e a constituição do ethos feminino de uma das partes em um processo da esfera civil

Letícia Machel Lovo Maria Flávia Figueiredo

O presente trabalho nasceu da possibilidade de intersecção entre o Direito Processual Civil Brasileiro e os estudos retóricos. Para realizá-lo, partimos de um corpus constituído por um único processo, porém, que agrega em si sete diferentes gêneros textuais, quais sejam: a Petição Inicial, a Contestação, a Impugnação, o Agravo, a Sentença, a Apelação e o Acórdão. Encontramos, na Retórica, um meio para analisar o corpus selecionado. Assim, partimos das contribuições advindas das obras de Aristóteles, Meyer e Eggs, no que concerne a esse campo de estudos. Ademais, como suporte para o entendimento dos gêneros que compõem o corpus, contamos com as proposições de Bakhtin, Marcuschi e Costa, no campo dos estudos da linguagem, e com Gonçalves, no que se refere à caracterização dos gêneros da esfera jurídica. A partir daí, buscamos elucidar o modo com que cada um dos oradores, com vistas a atingir seus respectivos propósitos de persuasão, intentou descrever e, assim, construir o ethos feminino de uma das partes do processo. Findada a análise, pudemos observar que a presente pesquisa nos conduziu a um duplo entendimento: por um lado, nos possibilitou uma melhor compreensão das possíveis relações entre ethos retórico e gênero textual; e, por outro, nos permitiu vislumbrar algumas estratégias argumentativas utilizadas por juristas, dentre elas, a constituição dos ethé das partes envolvidas no processo de modo a atender seus propósitos persuasivos específicos.

Palavras-chave: direito processual civil; retórica; ethos retórico; gênero textual; ethos feminino.

11

O humor dos dramas femininos nas tirinhas de Pryscila Vieira – uma análise retórica e textual

Helena Madeira Caldeira Silva

A mulher contemporânea está cada vez mais independente, mas também com mais dilemas: trabalha, estuda, divide contas e tarefas e ainda precisa encontrar tempo para se cuidar. Apesar das conquistas, sobretudo na legislação brasileira, a mulher ainda sofre preconceito, existindo desrespeito e violações à sua integridade. Pensando em trabalhar com a conscientização das pessoas, especialmente dos homens, a cartunista Pryscila Vieira tem publicado diversas tirinhas em jornais e revistas, abordando as “tragédias” da mulher moderna de forma cômica. O objetivo deste trabalho é mostrar como a intertextualidade, presente nas tirinhas, pode ser eficaz para despertar as paixões dos leitores, criando empatia e levando-os ao riso. Segundo Cavalcante (2014), a paródia é um recurso de intertextualidade criativo que se constrói a partir de um texto-fonte e tem intenções cômicas, dentre outros. Demonstraremos, ainda, outros recursos persuasivos empregados nos quadrinhos e presentes nas tirinhas, com destaque para as expressões faciais, essenciais para tornar a história mais divertida e despertar o pathos. Faremos uma análise qualitativa de duas tirinhas da autora, com base nos pressupostos da Linguística Textual, da Retórica e da linguagem dos quadrinhos. Serão identificados quais mecanismos persuasivos estão presentes nas tirinhas e são responsáveis por despertar o riso no leitor. Utilizaremos as concepções sobre retórica, argumentação, texto e narrativa em quadrinhos, vindas de autores como Aristóteles (2000), Ferreira (2010), Reboul (2004), Cavalcante (2014), Ramos (2009) e Eisner (1999, 2013). Este trabalho suscita importantes discussões sobre o discurso feminino, como também promove os estudos retóricos, aplicando-os a textos verbo-visuais.

12

As figuras de retórica nas eleições presidenciais de 2014 como recurso intensificador na construção do ethos feminino.

Luanny Maria Almeida Vidal Fernando Aparecido Ferreira

Diante das campanhas políticas, é muito comum os eleitores se depararem com vários tipos de figuras de retórica (metáfora, metonímia, ironia, pleonasmo, dentre outras), empregadas como um argumento intensificador dos discursos nas propagandas dos candidatos. Considerando isso, o presente trabalho pretende identificar, nas campanhas à presidência do Brasil no ano de 2014, as figuras de retórica, que segundo Fiorin (2014) são operações do discurso que servem para intensificar o sentido de algum elemento da enunciação. Assim, propomos investigar o uso das figuras de retórica empregadas para intensificar o (ethos) feminino das candidatas, e compreender também como elas (as figuras) contribuem para intensificar argumentos (logos) e ativar paixões (pathos) no auditório. Para essa pesquisa, faremos uma análise à luz da Retórica e contaremos com autores como: Abreu (2013), Aristóteles (2012), Citelli (2005), Fiorin (2014), Ferreira (2015), Meyer (2007), Reboul (2004) e Perelman & OlbrechtsTyteca (2014). Este trabalho toma como objeto de investigação, textos verbo-visuais, mais especificamente os vídeos veiculados das mulheres candidatas no horário eleitoral gratuito, e tem como método a seleção as campanhas mais significativas para o propósito da pesquisa. Resultados preliminares revelam uma presença de figuras de retórica nas campanhas presidenciais, e esta análise contribuirá para a compreensão do uso das mesmas em discursos políticos e em textos verbo-visuais.

Palavras-chave: retórica; figuras de retórica; ethos feminino; campanhas presidenciais

13

Sobre o riso que esconde a dor: a construção retórica do humor em “Maricson”, de Heloísa Périssé e Marcelo Saback

Luana Ferraz

Há uma linha simbólica. De um lado, uma mulher ofendida, desprezada. Do outro, mulheres e homens ridentes. Em um ambiente como o teatro, onde tudo é pensado na perspectiva de facilitar o contágio pelas paixões, que estratégias retóricas seriam capazes de “anestesiar” o auditório, ainda que temporariamente, diante do contato com os afetos dolorosos? Partindo dessa questão, pretendemos identificar, nesta comunicação, alguns dos expedientes retóricos capazes de ressaltar o efeito humorístico em esquetes teatrais. De maneira mais específica, propomo-nos a observar como as estratégias retóricas atuam na construção do humor em “Maricson”, de Heloísa Périssé e Marcelo Saback, um dos nove quadros que compõem a peça Cócegas, interpretada por Heloísa Périssé e Ingrid Guimarães. O esquete em questão foi selecionado a partir do DVD Cócegas (EMI, 2004). Após a seleção, procedemos à análise dos componentes da cena, buscando revelar os expedientes retóricos (verbais e não verbais) envolvidos na produção do efeito humorístico. Foram utilizadas como respaldo teórico para este estudo as obras de Aristóteles (2000, 2005), Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996), Meyer (2000, 2007), Fiorin (2014), Bergson (1983), Pirandello (2009), entre outras. A partir de nossas análises, concluímos que a organização particular do logos (em especial, o uso de figuras da escolha, de presença e de comunhão) associada à utilização de diferentes recursos performáticos (

14

Análise retórica de uma entrevista: o discurso feminino em pauta

Farnei Santos Maria Flávia Figueiredo

Este trabalho faz parte de um projeto mais amplo que tem por objetivo verificar as marcas do ethos retórico manifestadas no gênero textual “entrevista”. Nele, analisamos entrevistas conduzidas por diferentes expoentes da cultura brasileira, a saber: , Marília Gabriela, Jô Soares e . A seleção das entrevistas considera o momento histórico em que cada uma delas foi proferida (caminhando dos anos 70 à primeira década dos anos 2000). Tomamos como corpus a entrevista concedida pela cantora Pitty a Abujamra (transcrita através do YouTube). Nela, nossa atenção esta voltada para os posicionamentos, manifestados pela entrevistada, acerca do discurso feminino na modernidade. Futuramente, com a evolução do projeto e com base no presente trabalho, intencionamos efetuar uma análise comparativa dos corpora supracitados. Alguns teóricos que sustentam esta pesquisa à luz da retórica são: Aristóteles (2012), Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996) Meyer (2010), Fiorin (2015) e Ferreira (2010). No que concerne ao gênero “entrevista”, tomaremos Bakhtin (1995), Marcuschi (2008), Machado (2006), Hoffnagel (2002) e Brito (2007). Esta pesquisa visa a contribuir para os estudos da teoria Retórica no que se refere aos laços vinculativos que o conceito de ethos e o gênero “entrevista” possam manifestar. Os resultados da análise da entrevista selecionada evidenciam que Abujamra revelou-se um entrevistador com potencial apoiado na phronesis, já que seu ethos retórico apoia-se sobretudo em seus argumentos e raciocínios. Esse procedimento levou a entrevistada a refletir sobre as questões direcionadas por ele, bem como a reavaliar suas respostas.

Palavras-chave: retórica; ethos; gênero textual; entrevista, feminino.

15

Inferências: semântica e pragmática em – o estranho procedimento de Dona Dolores – uma proposta de análise retórica no ensino fundamental II

Andreia Honório da Cunha

Proporcionar aos aprendentes um nível de análise de leitura crítica além da superficialidade presente no posto para adentrar o pressuposto do texto conforme o pensamento teórico de Grice corresponde a um desafio interessante e, sobretudo, necessário a ser proposto ao nível de entendimento referente à faixa etária dos estudantes do Ensino Fundamental. Esse desafio justifica-se na necessidade de demonstrar a função semântica e também pragmática embutidas nos sentidos e nos significados concernentes aos usos, sejam estes nos dicionários ou no falar cotidiano nem sempre evidentes, mas possíveis de serem apreendidos mediante análise voltada para este fim. Objetiva-se com a análise da crônica O estranho procedimento de D. Dolores adentrar-se esse nível de análise evidenciando a atitude da personagem feminina nas funções de mãe, mulher, dona de casa e suas necessidades evidenciadas pelas atitudes exageradas e atípicas bem como seus motivos ao grupo etário que compõe o ciclo II do E.F. as possibilidades de interpretação fundamentadas nessas inferências argumentativas. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa pautada na experiência de prática de sala de aula e os efeitos produzidos pelo uso desses recursos na produção de análises interpretativas autorizadas pelo texto mediante a busca pelos pressupostos mediante os postos do texto pela habilidade do autor. A conclusão, portanto, pauta-se pela importância de se desenvolver a competência retórica nas análises textuais como recurso fundamental para o desenvolvimento de uma capacidade crítica no ato da lei

16

Os recursos retóricos no gênero editorial de O Jornal das Senhoras, de 1852: argumentação e ethos discursivo

Sandro Luis da Silva

Proponho nesta comunicação algumas reflexões sobre os elementos retóricos, em especial os que caracterizam a argumentação, que corroboram para a constituição do ethos discursivo na imprensa feminina, mais especificamente em três editoriais de O Jornal das Senhoras, nas edições de 01 de janeiro, 04 de abril e 04 de junho de 1852. Este jornal parece ter sido um dos primeiros a contar com mulheres na redação, além de ser destinado ao público feminino. Assim como os outros jornais da época, também trazia o editorial, crônicas, ilustrações, moda. A base teórica que pautou este estudo foi Maingueneau (1997, 2004, 2008, 2010 e 2014) em relação ao discurso e ao ethos discursivo; Meo (1985), Souza (2006) e Silva (2007), no tocante ao editorial Sodré (2011), Mouillaud e Porto (2012), Buitoni (1981, 2009) quanto à imprensa. Por meio de levantamento bibliográfico e análise dos elementos retóricos do editorial do corpus escolhido, pode-se constatar que a voz feminina enunciadora revela não só a consciência da realidade em que estava inserida, como também a necessidade de se lutar pelos direitos das mulheres daquele século XIX no Brasil.

Palavras-chave: Discurso. Jornal. Ethos feminino

17

A relação silenciosa da personagem Macabéa em A Hora da Estrela

Maria Julia Santos Duarte

“O silêncio é o real do discurso”, afirma Orlandi (1997). Nesse sentido, faz-se necessário entender a materialidade simbólica e específica do mesmo, de modo que se compreenda a relação discursiva das pessoas com o silêncio e com as palavras. Assim, a presente comunicação tem como objetivo examinar as manifestações de silêncio em Macabéa, personagem principal da obra A Hora da Estrela, Lispector (1997). Nesta comunicação o sentido do silêncio se configura como manifestação para o exercício de leitura sob a perspectiva discursiva retoma os estudos de Gadet e Pêcheux (2004), Le Breton (1997) para quem “o silêncio pode ser uma escolha, valorizada pela cultura que alimenta uma sobriedade da linguagem”. O estudo da manifestação do silêncio se justifica dada a importância de tratar-se de um signo socialmente estabelecido, criado através de pausas presentes durante o discurso. A ausência de palavras configura um desafio de sobrevivência diante do universo inexpressivo vivido pela protagonista. Nesse sentido, é importante se perceber como a materialidade discursiva se configura no texto literário. Essa apresentação é parte integrante de uma proposta mais ampla de discussão a respeito das teorias de leitura e práticas discursivas, que se encontra em fase inicial, e pretende examinar a ausência de palavras nas manifestações dos personagens Fabiano, no romance Vidas Secas (RAMOS, 2001), e de Macabéa, em A Hora da Estrela (LISPECTOR, 1997). Espera- se que ao examinar as manifestações de silêncio constituídas pelo não dito da personagem se entenda o encaminhamento dos múltiplos sentidos que o silêncio produz, como parte do discurso.

18

A construção das cenas da enunciação e a responsabilidade enunciativa na revista Piauí

Mayara Evangelista Alegre

O presente trabalho, Projeto de Pesquisa de Mestrado articulado ao Grupo de Pesquisa "Discurso em Cena", da Linha de Pesquisa “Texto, discurso e ensino: processos de leitura e de produção do texto escrito e falado”, da Universidade Cruzeiro do Sul, parte da pressuposição de que, tradicionalmente, a construção de reportagens no jornalismo impresso formaliza-se de forma rígida e neutra na apresentação dos fatos, no entanto as reportagens apresentadas na revista Piauí, especialmente na seção Esquina, assumem uma posição mais literária. Assim, busca-se compreender como é feita a construção das cenas de enunciação e da responsabilidade enunciativa da revista Piauí, analisando como a apresentação da informação jornalística e a manipulação estética e literária da palavra se articulam para a construção da cena de enunciação e da responsabilidade enunciativa das reportagens, utilizando-as como forma de legitimação do seu dizer. Para a execução da pesquisa, realizar-se-á a análise da materialidade linguística das reportagens selecionadas (julho de 2014 a junho de 2015), fundamentando-a, entre outros, a partir das proposições de Cenas da Enunciação e Responsabilidade Enunciativa de Maingueneau (1993, 2008, 2013 e 2015).

19

Uma outra face feminina: retórica, argumentação e ethos em entrevistas de Hilda Hilst

Regiane Raquel de Oliveira

Problema: Como se constrói o ethos e as possibilidades do ser feminino no discurso da escritora brasileira Hilda Hilst? Objetivos: Geral: Demonstrar como se constrói o ethos em entrevistas da autora Hilda Hilst. Específicos: Explicar o que é retórica e a questão do ethos nesse contexto; Mostrar as diferenças no discurso feminino de Hilda - Analisar entrevistas de Hilst na formulação de uma outra visão do papel da mulher e da sua escrita Metodologia, esboço teórico e resultado obtido: Entende-se a retórica como uma das mais antigas ferramentas a favor da argumentação, ou seja, uma técnica argumentativa ou, como explica Reboul (2004), “a arte de persuadir pelo discurso” (p. 14). Um dos desdobramentos colocados pela retórica é a questão do ethos, termo de origem clássica que trabalha o caráter do orador na aquisição da credibilidade de seu auditório, como coloca Perelman (2002). Hilda Hilst, poeta, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira, reconhecida pela sua maneira nada comum de exercer a comunicação através de sua linguagem “diferenciada”, trabalha a argumentação na construção de uma nova ideia do “ser mulher”. Cristiano Diniz (2013) organizou o livro intitulado “Fico besta quando me entendem” que apresenta uma reunião de entrevistas de Hilst e alguns fragmentos das respostas da autora são utilizados como corpus para a investigação neste artigo. Portanto, o resultado desse estudo é a prova da construção de um ethos através do discurso argumentativo em entrevistas de Hilda Hilst, que acabam por formular uma espécie de “atrevimento” no escrever - e ser - feminino.

20

O idoso, a publicidade e a retórica: algumas reflexões

Adriano Gonçalves dos Santos

O envelhecimento da população mundial coloca a velhice no centro do debate social. É indispensável atentar para a dimensão sociocultural da velhice, incluindo a participação das imagens mediadas dos mais velhos nos modos de viver e entender o contemporâneo. Consideramos que a retórica é a arte de persuadir, envolvendo uma série de elementos que leva os sujeitos envolvidos no processo de comunicação a criar imagens de determinados sujeitos e objetos. Esta comunicação pretende apresentar uma reflexão sobre a construção social dos modos de ser a partir da análise dos elementos retóricos que constituem um anúncio publicitário voltado para o público idoso, na tentativa de compreender as transformações dos valores fundamentais que informam o discurso publicitário a partir dos elementos retóricos que o constituem. A base teórica de que nos valemos pauta-se Lenoir (1990), Thompson (1991) no tocante aos estudos retóricos na publicidade e no que diz respeito ao envelhecimento, Debert (1999), Beauvoir (1976).

Palavras chave: comunicação, consumo, envelhecimento, publicidade

21

Tensões entre ethé de Dilma Rousseff: o caso de postagens bem humoradas no Facebook

Ana Cristina Carmelino Marcio Antonio Gatti

Ao refletir sobre a relação existente entre estereótipo e ethos, esta comunicação pretende não só defender que certos casos de ethos prévio podem ser compreendidos como de ethos-estereotipado, mas também tratar das tensões estabelecidas entre ethos estereotipado e ethos efetivo de Dilma Rousseff, presidente que governa o Brasil desde 2011, em algumas postagens bemhumoradas feitas em seu perfil na rede social Facebook. Para isso, busca-se mostrar o contraste entre os diferentes ethé construídos pela/para a presidente nessas postagens e os que, em geral (no Facebook ou não), se construíram ou circula(ra)m sobre ela. O referencial teórico que fundamenta as análises advém especialmente da Análise de Discurso francesa, a partir das considerações de Amossy e Herschberg-Pierrot (2001) e Maingueneau (1997, 1998, 2006a, 2006b, 2010). O corpus de análise compreende quatro postagens publicadas entre janeiro e setembro de 2015 que abordam o ensino superior no Brasil, mais precisamente os programas do governo voltados à seleção e inserção de estudantes nas faculdades e universidades do país.

22

Sou foda! Coitado! A (des)construção do masculino nas músicas populares

Acir de Matos Gomes Luiz Antonio Ferreira

Existe uma complexidade de perspectivas e conceitos para tentar compreender como homens e mulheres interagem no campo da linguagem e da sexualidade. Há uma linguagem proibida ligada ao erotismo e à pornografia. Importa compreender em que lugar retórico é aceitável romper o preconceito ou tabu linguístico nesse campo discursivo. Temos como corpus duas músicas brasileiras de propagação massiva (sertaneja) e como base teórica a Retórica pretendemos analisar os ethe masculino e feminino, notadamente no que se refere à contradição, à transgressão, ao rompimento de um tabu, de um discurso machista, que ainda impera na sociedade brasileira (discurso dominante). Nas músicas analisadas percebe-se uma escalada da insegurança e da perda da referência, da identidade do masculino e feminino, ethe até então cristalizados pelo discurso dominante. As mulheres adotam ao que parece o “modelo discursivo masculino” de se posicionar no mundo e esquecem de que o “poder” pode estar na “sedução”, entendida como “domínio do universo simbólico” e que se opõe ao discurso da “produção de tudo fazer, falar e gozar”. A análise comprova a tentativa de manutenção do ethos masculino e uma autoconstrução do ethos feminino, de uma identidade e representação feminina, que “não é expressão de uma essência, mas uma afirmação de poder pela qual mulheres se mobilizam para mudar de como são para como querem ser. Reivindicar uma identidade é construir poder”, construção que permeia o valor simbólico da forma linguística como dado, o enunciador aprende e usa e cria sentidos, identidades e filiações de forma constante e mútua. O ethe masculino e feminino, por força da liberação e proliferação inclusive do discurso sexual, (des)constrói a identidade do homem e da mulher e produz incerteza, dúvidas, divergências e problemas, campo fértil para atuação da retórica.

23

Subserviência e dominação: a constituição do ethos feminino em Folhetim, de Chico Buarque de Holanda

Fernanda Martin Sbroggio Aidil Soares Navarro

Este trabalho tem como objetivo analisar a dicotomia subserviência/dominação a partir da constituição do ethos feminino na letra da canção Folhetim, de Chico Buarque de Holanda. Acreditamos que a música, observada a partir de sua materialidade mais concreta – a letra, o texto –, revela a sua relação com o mundo externo e passa a ser percebida como um elemento que provoca reflexão, mexe com a emoção, a afetividade e os valores do público a que ela se destina. Para a realização desta análise pautamo-nos nas bases teóricas da Retórica e tomamos como referencial as obras de Aristóteles (s/d), Reboul (1998), Perelman e Olbrechts-Tyteca (2002), Meyer (2007) e Ferreira (2010), para os quais os enunciados (exposição simplificada que explica ou demonstra uma proposição) visam persuadir por meio de técnicas argumentativas utilizadas pelos oradores. Buscamos com esse trabalho contribuir não apenas para a leitura e interpretação da letra, mas também explicitar os mecanismos de construção do texto cantado de forma mais ampla. Optamos pela música Folhetim por considerar que a imagem feminina construída na canção, embora estivesse ancorada nos valores e pensamentos da sociedade do século XX, dialoga em muitos aspectos com o perfil da mulher atual.

24

O discurso feminino no interior da Igreja Católica Apostólica Romana: a ausência da mulher na instituição do sacerdócio.

Cláudio Sampaio Barbosa

Este trabalho tem como objetivo analisar o discurso feminino no interior da Igreja Católica Apostólica Romana diante da não legitimação da presença da mulher na instituição do sacerdócio, ou seja, do sacramento da Ordem, não obstante o fortalecimento do discurso da emancipação feminina nos tempos atuais. Portanto, pretende-se primeiramente verificar os recursos retóricos de persuasão da instituição Católica em defesa de um papel coadjuvante da mulher na hierarquia clerical da Igreja. Num segundo momento, analisa-se os efeitos desses argumentos na construção de discursos convergentes e divergentes por parte dos membros leigos que compõem o catolicismo romano. A análise ocorreu de forma a contemplar procedimentos teóricos-analíticos, portanto, a partir dos fundamentos retóricos do discurso religioso, observou-se os discursos contidos em documentos oficiais da Igreja Católica Apostólica Romana e o discurso de lideranças leigas reconhecidas no ambiente católico. O trabalho encontra-se embasado na retórica clássica aristotélica e nos estudos retóricos de Ruth Amossy, Olivier Reboul, Chaim Perelman, Lucie Olbrechts- Tyteca, Michel Meyer e Luiz Antônio Ferreira, além de aspectos relacionados à linguística textual, como os fatores de textualidade de Beaugrande e Dressler (1981). Os resultados obtidos evidenciaram o discurso de aceitação, ou resignação em alguns casos, da condição da mulher no ambiente católico. Observou-se que este resultado encontra justificação na crença de que homens e mulheres apresentam papeis distintos no plano salvífico de Deus que, segundo a teologia cristã, é a razão da existência do homem.

25