RPPN Monte Alegre

ELABORAÇÃO

COORDENAÇÃO:

Ana Carolina Leite Cordeiro Bióloga/UECE – CRBio nº. 46.633-5D Ma. Gestão Ambiental de Recursos Hídricos Samuel Victor da Silva Portela Bióloga/UVA – CRBio nº. 59.014-5D Ms. Desenvolvimento e Meio Ambiente

EQUIPE TÉCNICA:

Cristiano Alves da Silva – Geógrafo/UECE

Caracterização Abiótica e geoprocessamento.

Ileane Oliveira Barros – Bióloga/UFC

George Machado Tabatinga Filho – Biólogo/UFC

Caracterização Botânica.

Fábio de Paiva Nunes – Biólogo/UFC

João Marcelo Holderbaum – Biólogo/UFC

Caracterização da Avifauna, Mastofauna e Herpetofauna

Samuel Victor da Silva Portela – Biólogo/UVA:

Caracterização Socioeconômica das comunidades de entorno da RPPN.

Hangley da Silva Félix - Estudante de Geografia/UECE

Estagiário da Associação Asa Branca RPPN Monte Alegre

APOIO

PARCERIA

Confederação Nacional de RPPN - CNRPPN

Associação Caatinga

RPPN Monte Alegre

AGRADECIMENTOS

Às inúmeras pessoas e instituições que há anos contribuem de forma significativa para a conservação da natureza através do incentivo à criação e gestão de reservas particulares.

Aos proprietários da RPPN Monte Alegre, Miguel Cunha Filho, Maria Adele Montenegro Vieira da Cunha e Maria Ninita Barreto da Cunha, pela idealização, criação e gestão desta Unidade de Conservação. À Lúcia Cunha pelo apoio logístico e pelas inúmeras informações concedidas à equipe executora do projeto.

À Associação Caatinga pelas várias formas de contribuição técnico-institucionais, que foram fundamentais para e execução deste projeto.

À Aliança da Caatinga, financiadora desse projeto, que contou ainda com o apoio da MPX, empresa do grupo EBX.

E por fim, a todos aqueles que contribuíram de alguma forma para a elaboração desse documento, seja no apoio logístico, nos levantamentos de campo (mateiros e caseiros) ou na facilitação de informações de grande valor sociocultural. RPPN Monte Alegre

APRESENTAÇÃO

Este documento é resultante do projeto “Elaboração do Plano de Manejo da RPPN Monte Alegre” executado pela Associação dos Proprietários de RPPN do Estado do – Asa Branca, apoiado financeiramente pela Aliança da Caatinga através do Programa de Incentivo à Conservação em Terras Privadas da Caatinga, que no seu 2º Edital elabora também Planos de Manejo para outras RPPNs localizadas neste Bioma no Estado do Ceará.

A iniciativa dos proprietários de criar a RPPN Monte Alegre foi de garantir a proteção legal e integral dos atributos naturais do Sitio Monte Alegre e Pitaguary, onde 63,9% da propriedade foi convertida em RPPN. A realização do Plano de Manejo (PM) é um compromisso assumido pelo proprietário junto ao órgão ambiental federal (ICMBio) ao ser criada a Reserva, e tem por objetivo orientar e acompanhar atividades que venham a ser desenvolvidas na Unidade de Conservação. Hoje o ICMBio estabelece um prazo de 5 anos para que o PM seja elaborado. O Plano de Manejo contribuirá para a captação de recursos e implementação das ações de gestão da reserva previstas neste documento, contribuindo para a conservação da biodiversidade local com maior efetividade.

A possibilidade de buscar recursos e meios para implementar os objetivos estabelecidos neste documento é de interesse dos proprietários gestores da RPPN, que hoje é mantida exclusivamente através de recursos próprios. Portanto, uma das expectativas do Plano de Manejo é consolidar um plano de sustentabilidade da Reserva, envolvendo também a captação de recursos externos no sentido de viabilizar as ações propostas.

Em definitivo, o Plano de Manejo da RPPN Monte Alegre deverá servir de referência e estímulo para as outras RPPNs que já existem ou que estão em processo de criação nesta área. A RPPN Monte Alegre fortalece a categoria das RPPNs no Estado do Ceará e incentiva a criação de Políticas Públicas mais efetivas para a conservação no Estado.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

ADA: Ato Declaratório Ambiental APP: Área de Preservação Permanente CCIR: Certificado de Cadastro do Imóvel Rural CREA: Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia CNRPPN: Confederação Nacional das Reservas Particulares do Patrimônio Natural CPF: Cadastro de Pessoa Física CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente FNMA: Fundo Nacional do Meio Ambiente FUNBIO: Fundo Nacional do Meio Ambiente FUNCEME: Fundação Cearense de Meteorologia IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMBio: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade IDACE: Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará INCRA: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária ITR: Imposto Territorial Rural IUCN: International Union for Conservation of Nature MMA: Ministério do Meio Ambiente ONG: Organização Não Governamental PIB: Produto Interno Bruto PNMA: Política Nacional do Meio Ambiente PREVFOGO: Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais PSF: Programa de Saúde da Família RPPN: Reserva Particular do Patrimônio Natural SESA: Secretaria Estadual de Saúde SUDENE: Superintendência Para o Desenvolvimento do Nordeste UC: Unidade de Conservação UECE: Universidade Estadual do Ceará UFC: Universidade Federal do Ceará UVA: Universidade Estadual Vale do Acaraú

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Visão geral da Serra de Aratanha e da cidade de Pacatuba. (Fonte: Google Earth) ...... 18 FIGURA 2: Zona de convergência intertropical (ZCIT) mostrada através das imagens do satélite METEOSAT-7. Fonte: (SILVA, 2006 apud CEARÁ FUNCEME, 2006) ...... 26 FIGURA 3: Aspecto geral da parcela 1 (coordenadas UTM 541574 9562906)...... 47 FIGURA 4: Delimitação da parcela 1 (coordenadas UTM 541574 9562906)...... 47 FIGURA 5: Frutos e folhas da gameleira – Ficus guianensis...... 48 FIGURA 6: Detalhe dos frutos da gameleira – Ficus guianesis...... 48 FIGURA 7: Caule da Gameleira – Ficus Guianensis...... 48 FIGURA 8: Aspecto geral da parcela 2 (coordenadas UTM 541122 9562744...... 50 FIGURA 9: Grande quantidade de cipós presentes na parcela 2 (coordenadas UTM 541122 9562744)...... 50 FIGURA 10: Árvore caída na trilha em decorrência do incêndio...... 51 FIGURA 11: Catolé (Syagrus sp.) atingido pelo fogo...... 51 FIGURA 12: Aspecto geral da parcela 3 onde se percebe grande inclinação (coordenadas UTM 540719 9562517)...... 53 FIGURA 13: Cipó-escada (Bauhinia radiata) presente na parcela 3 (coordenadas UTM 540719 9562517)...... 53 FIGURA 14: Aspecto geral da parcela 4 (coordenadas UTM 541140 9562012)...... 55 FIGURA 15: Aspecto das copas das árvores na parcela 4 (coordenadas UTM 541140 9562012)...... 55 FIGURA 16: Serrapilheira e plântulas na parcela 4 (coordenadas UTM 541140/9562012)...... 56 FIGURA 17: Flores e frutos de Orelha de burro – Rutaceae sp. 2 na parcela 4 (coordenadas UTM 541140 9562012)...... 56 FIGURA 18: Fruto e folhas do Cocão (Esenbeckia grandiflora) na parcela 4 (coordenadas UTM 541140 9562012)...... 57 FIGURA 19: Frutos do Amarelinho (Rutaceae sp. 1) na parcela 4 (coordenadas UTM 541140 9562012)...... 57 FIGURA 20: Aspecto geral da parcela 5 (coordenadas UTM 540507 95611591)...... 59 FIGURA 21: Serrapilheira e plântulas da parcela 5 (coordenadas UTM 540507/95611591)...... 59 FIGURA 22: Aspecto das copas e altura dos indivíduos na parcela 5 (coordenadas UTM 540507 95611591)...... 59

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FIGURA 23: Detalhe das epífitas na parcela 5 (coordenadas UTM 540507/95611591). ..59 FIGURA 24: Flor da Gustavia augusta – Lecythidaceae...... 60 FIGURA 25: Flores da Hippeastrum sp. Amarilidaceae...... 60 FIGURA 26: Paracatota – Guerlinguetos alphonsei (Foto: Ciro Albano)...... 63 FIGURA 27: Quandú – Coendou prehensilis...... 63 FIGURA 28: Mambira – Tamandua tetradactyla...... 64 FIGURA 29: Mambira – Tamandua tetradactyla...... 64 FIGURA 30: Vira-folhas (Sclerurus scansor), espécie de alta sensitividade e ameaçada de extinção...... 69 FIGURA 31: Pintor-da-serra (Tangara cyanocephala), espécie traficada e ameaçada de extinção...... 69 FIGURA 32: Chupa-dente (Conopophaga cearae), espécie de alta sensitividade e ameaçada de extinção...... 70 FIGURA 33: Papacum (Forpus xanthopterygius), espécie comumente traficada...... 70 FIGURA 34: Leptodactylus cf vastus...... 73 FIGURA 35: Proceratophrys cristiceps...... 74 FIGURA 36: Leptodactylus mystaceus...... 74 FIGURA 37: Rhinella jimi...... 75 FIGURA 38: Iguana - Iguana iguana...... 75 FIGURA 39: Caninana (Spilotes pullatus). Foto Carlos Ribeiro...... 76 FIGURA 40: Mabuya nigropunctata...... 76 FIGURA 41: Anolis fuscoauratus...... 77 FIGURA 42: Parte baixa do Sitio Monte Alegre. Fonte: Google Earth...... 91 FIGURA 43: Trilha de acesso à RPPN Monte Alegre. (Foto: Samuel Portela)...... 92 FIGURA 44: Atrativos da propriedade Monte Alegre (riachos, trilhas e artesanato). (Foto: Proprietários)...... 92 FIGURA 45: Plantações de banana ao longo das trilhas no interior da RPPN Monte Alegre. (Foto: Samuel Portela)...... 94 FIGURA 46: Lixo no interior da RPPN (pneu, sacolas, latas e garrafas de plástico). (Foto: Samuel Portela)...... 95 FIGURA 47: Vestígio de queimada no interior da RPPN Monte Alegre. (Foto: Samuel Portela)...... 95 FIGURA 48: Fezes de animais domésticos nas trilhas de acesso à RPPN Monte Alegre. (Foto: Samuel Portela)...... 96 FIGURA 49: Espécie invasora no interior da RPPN Monte Alegre (Cryptostegia grandiflora). (Foto: Samuel Portela)...... 96

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FIGURA 50: Acúmulo de lixo e lançamento de esgoto a céu aberto em comunidade vizinha (bairro São José) à Propriedade Monte Alegre. (Foto: Samuel Portela)...... 97 FIGURA 51: Localização da RPPN Monte Alegre no Mapeamento do projeto “Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Bioma Caatinga – PROBIO” (2006)...... 99 FIGURA 52: Algumas estradas e trilhas que cortam a propriedade. (Foto: Samuel Portela)...... 102 FIGURA 53: Cipó de leite (Cryptostegia grandiflora) (coordenadas UTM 541122/9562744)...... 105 FIGURA 54: Ciúme (Calotropis procera) (coordenadas UTM 541122/9562744)...... 105 FIGURA 55: Pedra do letreiro – ponto mais alto da RPPN Monte Alegre...... 106 FIGURA 56: Vista da pedra do letreiro...... 106 FIGURA 57: Flor da herbácea Cunhã – Centrosema sp...... 106 FIGURA 58: Flor da herbácea Beijo, utilizada por seu potencial ornamental...... 106 FIGURA 59: Flor do Pacotê - Cochlospermum vitifolium – espécie comum na caatinga...... 107 FIGURA 60: Bromélias epífitas, comuns em áreas úmidas como florestas - próximas ao ponto de coordenadas UTM 0541455 9562253...... 107

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Ficha resumo da RPPN Monte Alegre...... 23 TABELA 2: Lista de espécies vegetais da RPPN Monte Alegre, Pacatuba, Ceará...... 41 TABELA 3: Georreferencimento e diversidade de espécies nas cinco parcelas de 10x10m na RPPN Monte Alegre, Pacatuba/CE...... 45 TABELA 4: Dados fitossociológicos preliminares levantados na RPPN Monte Alegre. ....45 TABELA 5: Lista da Mastofauna da RPPN Monte Alegre...... 64 TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Monte Alegre...... 71 TABELA 7: Listagem dos anfíbios registrados na RPPN Monte Alegre em maio de 2011...... 77 TABELA 8: Listagem dos répteis registrados na RPPN Monte Alegre em maio de 2011. 78 TABELA 9: População Residente – 1991/2000/2010...... 80 TABELA 10: Domicílios Particulares Permanentes por Situação e Média de Moradores – 2010...... 80 TABELA 11: Índices de Desenvolvimento...... 81 TABELA 12: População Extremamente pobre: (com rendimento domiciliar per capita mensal de até R$ 70,00) – 2010...... 82 TABELA 13: Número de Empregos Formais – 2010...... 82 TABELA 14: Produto Interno Bruto – 2008...... 83 TABELA 15: Renda Domiciliar per capita (salário mínimo R$ 510,00) – 2010...... 84 TABELA 16: Profissionais de Saúde, Ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) – 2010...... 86 TABELA 17: Taxa de Analfabetismo Funcional para Pessoas com 15 anos ou mais – 2000/2010...... 86 TABELA 18: Domicílios Particulares Permanentes Segundo as Formas de Abastecimento de Água – 2000/2010...... 89 TABELA 19: Domicílios Particulares Permanentes Segundo os Tipos de Esgotamento Sanitário - 2000/2010...... 89 TABELA 20: Domicílios Particulares Permanentes Segundo Energia Elétrica e Lixo Coletado - 2000/2010...... 90

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LISTA DE MAPAS

MAPA 1 : Mapa de Localização e Acesso 14 MAPA 2: Mapa mostrando a região de clima tropical quente úmido onde está localizada a Serra da Aratanha 28 MAPA 3: Litológica da região onde está localizada a RPPN Monte Alegre 30 MAPA 4: Domínio geomorfológico do Sítio Monte Alegre e Pitaguary, em Pacatuba/CE 33 MAPA 5: Tipo de solo do Sítio Monte Alegre e Pitaguary (RPPN Monte Alegre) 35 MAPA 6: Hidrografia da área onde está localizada a RPPN Monte Alegre 38 MAPA 7: Zoneamento da RPPN Monte Alegre 113

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SUMÁRIO

PARTE A INFORMAÇÕES GERAIS ______13 A1) ACESSO ______14 A2) Histórico de Criação e Aspectos Legais da RPPN ______17 A3) Ficha-resumo da RPPN ______23 PARTE B DIAGNÓSTICO ______24 B1) Caracterização dos fatores abióticos ______25 B1.1. Contexto Regional ______25 B1.2) Clima ______25 B1.3) Geologia ______29 B1.4) Geomorfologia ______31 B1.5) Solos ______34 B1.6) Hidrografia ______36 B1.7) Vegetação ______39 B1.7.1) Flora e fotofisionomias ______40 B1.7.2) Levantamento fitossociológico ______44 B1.8) Fauna ______61 B1.8.1) Mastofauna ______61 B1.8.2) Avifauna ______65 B1.8.3) Herpetofauna ______73 B2) Caracterização da Área do Entorno ______79 B2.1. Caracterização do município de Pacatuba ______79 B2.1.1 Histórico municipal ______79 B2.1.2. Dados populacionais ______79 B2.1.3. Índices de desenvolvimento ______81 B2.1.4. Economia ______82 B2.1.5. Turismo ______84 B2.1.6. Cultura ______85 B2.1.7. Saúde ______85 B2.1.8. Educação ______86 B2.1.9. Infraestrutura ______89 B2.2. Caracterização da Propriedade ______90 B2.2.1. Pressões ______93 B3). Caracterização da RPPN ______98 B3.1. Visitação ______100 B3.2. Pesquisa e Monitoramento ______100 B3.3. Ocorrência de Fogo ______100 B3.4. Atividades Desenvolvidas na RPPN ______101 B3.5. Sistema de Gestão ______101 B3.6. Pessoal ______101 B3.7. Infraestrutura ______102 B3.8. Equipamentos e Serviços______103 B3.9. Recursos Financeiros ______103 B3.10. Formas de Cooperação ______103 B4) Possibilidades de Conectividade ______104 B5) Declaração de Significância ______105

RPPN Monte Alegre

PARTE C PLANEJAMENTO ______108 C1) Objetivos específicos de manejo ______109 C2) Zoneamento ______109 C2.1 Zona Silvestre ______110 C2.2 Zona de Proteção ______110 C2.3 Zona de Visitação ______111 C2.4 Zona de Transição ______111 C3) Programas de Manejo ______114 C3.1 Programa de Administração ______115 C3.1.1. Subprograma de Infraestrutura e Equipamentos ______118 C3.2 Programa de Proteção e Fiscalização ______121 C3.3 Programa de Pesquisa e Monitoramento ______123 C3.4 Programa de Visitação ______124 C3.5 Programa de Sustentabilidade Econômica ______127 C3.6 Programa de Comunicação e Integração com a Área de Influência ______129 PARTE D INFORMAÇÕES FINAIS ______131 D1) Referências Bibliográficas ______132

RPPN Monte Alegre

PARTE A

INFORMAÇÕES GERAIS

A1) ACESSO

A3) FICHA RESUMO DA RPPN

A2) HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS DA RPPN

RPPN Monte Alegre

A – INFORMAÇÕES GERAIS

A1) ACESSO

De acordo com o limite municipal do IBGE (2005), a RPPN Monte Alegre está localizada entre os municípios de Pacatuba e Maracanaú, Estado do Ceará, que pertencem a Região Metropolitana de , distante 13 km da capital, entre as latitudes 03°56’44,55”S e 03°58’43,88”S e longitudes 38°36’35,8”O e 38°38’43,83”O (Datum SAD69).

Cartograma de localização

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Localizada na porção sudoeste do Município de Pacatuba e extremo sul de Maracanaú, o acesso a RPPN Monte Alegre, partindo de Fortaleza no quilômetro 01 da Rodovia Estadual CE-060, é realizado seguindo esta Rodovia por 16.3km até o entroncamento com uma estrada vicinal, Travessa Etelvira Vieira Cunha, nas proximidades da localidade de Monguba, seguindo por 400m até o Sítio Casa da Torre parte da propriedade de acesso à RPPN Monte Alegre, conforme Mapa de Localização e Acesso (Mapa 1).

MAPA 1: Mapa de localização e acesso.

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A2) Histórico de Criação e Aspectos Legais da RPPN

A RPPN Monte Alegre está inserida nos limites da Área de Proteção Ambiental - APA Estadual da Serra da Aratanha, abrangendo parte dos municípios de Pacatuba e Maracanaú. Encontra-se a aproximadamente 30 km de Fortaleza – CE na Latitude: 3 95´S & Longitude: 38 54´W O acesso ao município é feito seguindo pela CE-060.

De acordo com informações fornecidas pelos proprietários da fazenda os sítios transformados em Reserva de Particular do Patrimônio Natural RPPN – Monte Alegre em 2001, pela Portaria do IBAMA nº 151 e Ministério do Meio Ambiente, tiveram sua origem em terras compradas por Gonçalo Batista Vieira – o Barão de , tetravô dos atuais proprietários, nos anos de 1856 e 1857. Essas terras pertenciam a Neutral Nauntrom de Alencar Araripe e outros conforme registro na folha 10 do livro da Receita da Alfândega da cidade de Fortaleza e, desde então, pertencem à família. Gonçalo Batista construiu aí sua residência de verão, local que conhecemos como a “Casa do Barão” e da qual restam hoje as fundações do sobrado e algumas paredes da casa como: cozinha, parte da senzala e do antigo tanque de capacitação da água. Estas ruínas permanecem no local como interesse histórico para visitação e, talvez uma restauração futura.

Por sua localização em terras elevadas (o ponto mais alto está a 750m do nível do mar) a área apresenta clima mais ameno com temperaturas mais baixas e umidade favorecida pela presença de várias pequenas nascentes. Assim, alguns cultivos importantes à economia da época foram aí implantados como café e frutas diversas (laranja, tangerina, banana, limão, jaca, etc.) que contribuíam para abastecer os núcleos urbanos como Fortaleza e outros.

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FIGURA 1: Visão geral da Serra de Aratanha e da cidade de Pacatuba. (Fonte: Google Earth)

A construção da estrada de ferro, em 1875, ligando Baturité a Fortaleza veio contribuir para a expansão desses cultivos no conjunto de serras que compõem o Maciço de Baturité. É interessante salientar que os cultivos, a exceção da banana, não requeriam desmatamentos, então as frutíferas se misturavam a vegetação contribuindo para que hoje grande parte da área seja coberta por vegetação natural com a presença de espécies raras endêmicas. A cultura da banana diminuiu sua importância à medida que esse cultivo se desenvolvia em áreas planas favorecida por tecnologia de irrigação. Na propriedade essas áreas foram deixadas em processo de recuperação natural e já se misturam à beleza da paisagem.

Do ponto de vista da descrição da paisagem, têm-se testemunho desde meados do Século XIX quando a região foi visitada pelo famoso naturalista Luiz Agassiz, em 1865/66 na busca por antigas geleiras. “O caminho da montanha é selvagem e pitoresco, ladeado de imensos blocos, ensombrado de árvores e cheio dos sons argentinos das pequenas cascatas que saltam de pedra em pedra. Neste clima, uma estrada assim interrompida por uma série de rochedos é particularmente bela devido ao vigor luxuriante da vegetação. Plantas trepadeiras curiosíssimas, arbustos, até mesmo árvores crescem por todos os pontos em que podem encontrar terras suficientes para fincar suas raízes e, alguns desses rochedos isolados, são verdadeiros oásis de vegetação (...) entre as plantas nativas, as mais interessantes são o jenipapo (jenipa brasiliensis), imbaúba (secrópia), a carnaúba (coperinicia cerifera), o catolé (attalea humilis) e pau d’arco (tecoma speciosa)”. (Agassiz, L. e

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Agassiz, E.: Viagem ao Brasil-Cia. Editora Nacional, São Paulo. 1938, 544p.). Essa descrição refere-se ao trecho de Monguba e Pacatuba (parte da Serra de Aratanha). A situação de preservação da mata reflete-se numa fauna rica em aves, anfíbios e répteis que têm sido estudados por biólogos da Universidade Federal do Ceará. Algumas espécies vegetais têm seus princípios ativos estudados por professores e pesquisadores das Universidades Federais do Ceará, Alagoas e Brasília.

Como interesse arqueológico, existe, além das ruínas da “Casa do Barão” – primeiro proprietário, a chamada Pedra do Letreiro que contém inscrições rupestres, o secular caminho de tropas de mulas que subiam e transportavam as frutas e pequenos trechos de dutos de água que abastecia a primeira residência construída ao pé da Serra.

O motivo da decisão da família em criar uma RPPN nessa área foi essencialmente o interesse pela continuidade da preservação de uma mata de grande diversidade de espécies, que favorece as nascentes de riachos no topo da serra, abriga fauna inclusive com espécies ameaçadas de extinção e que, no futuro, com a proximidade das cidades e áreas industriais, venha a ser um “pulmão urbano”, ou seja, uma grande área verde dentro da metrópole de Fortaleza. Todavia, por ser uma área de difícil fiscalização por sua extensão e relevo aliado à pressão do crescimento da população no entorno, a RPPN vem sofrendo ameaças e destruição do seu patrimônio.

Há alguns anos, após a criação da RPPN Monte Alegre em 2001, a propriedade vem sendo alvo de ações judiciais que visam torná-la um território indígena. Em dezembro de 2006 foi publicada no Diário Oficial da União a Portaria de Nº 2.366 (Anexo 01), fundamentada em atividade administrativa da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, que declarou como de posse permanente do grupo indígena Pitaguary, os imóveis denominados Sítio Monte Alegre e Pitaguary, o que abrange cerca de 90% da área da RPPN Monte Alegre.

Por uma série de erros na comunicação entre a FUNAI e os proprietários da terra, estes vieram a tomar conhecimento da gravidade do problema quando em 2007, foi iniciada a demarcação sem a intimação dos proprietários para ciência de decisão da FUNAI. Então, baseado nas irregularidades do andamento desse processo, os proprietários entraram com a Ação Cautelar Inominada com pedido de Liminar e também com Ação Declaratória de Nulidade da Portaria Ministerial em maio do mesmo ano.

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Em 2010, face à decisão judicial que considerou a Ação Cautelar improcedente, os proprietários entraram na Justiça Federal com um Recurso de Apelação e em 2011 foi dada entrada no Supremo Tribunal de Justiça - STJ um Mandato de Segurança Preventivo, garantindo a posse da terra aos legítimos proprietários, mas que até o presente momento ainda não houve resposta do STJ. O Mapa 03 apresenta a delimitação das terras consideradas pela FUNAI como terras indígenas da tribo Pitaguary.

Cartograma de delimitação das terras consideradas pela FUNAI como terras indígenas da tribo Pitaguary.

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Esse momento da realização do Plano de Manejo é uma oportunidade para reflexão e definição de atividades e/ou propostas que estimulem a presença de pessoas mais comprometidas com a preservação do bem social e que possam desfrutar da Reserva sem destruí-la. Hoje algumas visitas têm sido feitas por grupos de jovens estudantes, escoteiros ou de igrejas, outros grupos praticam escaladas nas pedras e também pequenos grupos que realizam caminhadas de apreciação da paisagem. Face a todo potencial que a área permite, atividade comprometidas com a preservação podem ser ampliadas.

A família tem consciência de que é necessário um trabalho de fiscalização na Reserva, educação ambiental nas áreas vizinhas, programas de atividades ou de apresentação da RPPN nas escolas do município, em universidades e até em academias de preparação física, organização de trilhas temáticas e, quem sabe, até a construção de uma pequena pousada na entrada da Reserva que dê apoio aos visitantes. É importante pensar que o PM é um instrumento que pode gerar recursos financeiros com o objetivo de gerenciamento e auto sustentabilidade da RPPN Monte Alegre.

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A3) Ficha-resumo da RPPN

TABELA 1: Ficha resumo da RPPN Monte Alegre.

FICHA-RESUMO DA RPPN MONTE ALEGRE

Nome da RPPN Nome do Imóvel RPPN Monte Alegre Sitio Monte Alegre e Pitaguary Nome dos Proprietários e representantes Miguel Cunha Filho Maria Adele Montenegro Vieira da Cunha Maria Ninita Barreto da Cunha Endereço da RPPN Endereço para correspondência Rodovia CE 060 Km 17, Sítio Casa da Rodovia CE 060 Km 17, Sítio Casa da Torre, Torre, Monguba – Pacatuba - CE. Monguba – Pacatuba - CE. CEP: 61.800-000 CEP: 61.800-000 Telefone e email para contato Município e Estado abrangido (85) 3345.1630 e (85) 9992.5328 / Pacatuba, Ceará [email protected] Área da propriedade Área da RPPN 411,68 ha 263,17 ha Coordenadas Sede UTM (SAD 69 – Data e número do ato legal de criação 24S) Portaria 151 – DOU 205 – 25/10/2001 9563120N/542964E pg.121/122. Marcos e referências importantes Distância do centro urbano mais próximo nos limites confrontantes Sede municipal a 3Km RPPN Chanceller Edson Queiroz a 5km da propriedade Meio principal de chegada à RPPN Bioma Automóvel Caatinga/Mata Atlântica Atividades ocorrentes Foram realizadas pesquisas para o plano de manejo (fauna, flora, meio físico e socioeconômico). Ocorrem atividades de proteção e Visitação.

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PARTE B

DIAGNÓSTICO

B1) CARACTERIZAÇÃO DOS FATORES ABIÓTICOS

B2) CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ENTORNO

B3) CARACTERIZAÇÃO DA RPPN

B4) POSSIBILIDADE DE CONECTIVIDADE

B5) DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA

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B - DIAGNÓSTICO

B1) Caracterização dos fatores abióticos

B1.1. Contexto Regional

Conforme definido por Veiga (1999), a geodiversidade expressa as particularidades do meio físico, compreendendo as rochas, o relevo, o clima, os solos e as águas, subterrâneas e superficiais. Tais atributos resultam da atuação cumulativa de processos geológicos múltiplos e, por sua vez, condicionam a paisagem e propiciam a diversidade biológica e cultural nela desenvolvidas, em permanente interação ao longo da evolução do planeta.

O conhecimento da geodiversidade é essencial à abordagem criteriosa de qualquer região. Por preceder a biodiversidade, ajuda a entender a dinâmica ambiental vigente. Além disso, o subsolo pode conter recursos minerais, hídricos e energéticos, cujo aproveitamento precisa ser devidamente equacionado, para não comprometer a própria biodiversidade e a qualidade de vida dos seus habitantes.

B1.2) Clima

Localizada no maciço residual denominado Serra da Aratanha, entre os municípios de Pacatuba e Maracanaú, a RPPN Monte Alegre está inserida em uma região de exceção no contexto do Estado do Ceará, tendo em vista tratar-se de um enclave florestal submetido aos processos engendrados por topoclimas úmidos, inserido no domínio morfoclimático semiárido das caatingas.

Tal condição de excepcionalidade é explicada pela ação do relevo como barreira natural frente aos deslocamentos dos ventos úmidos oriundos do litoral, que ao encontrarem o anteparo do maciço se elevam, ocasionando o seu resfriamento e

25 RPPN Monte Alegre consequentemente a precipitação abundante na região barlavento do maciço, onde está localizada a RPPN Monte Alegre, exercendo também influência direta na temperatura local que varia em torno de 26°C.

Nesta região o período chuvoso se concentra entre os meses de janeiro e maio, sendo o mês de abril o de maior incidência de chuvas. Essa intensificação das chuvas neste período é causada pela influência da ZCIT – Zona de Convergência Intertropical. De acordo com Ceará (1992) apud Nimer (1977), no setor setentrional da região Nordeste, a marcha estacional das chuvas, que representa o principal componente do quadro climático da região, é regido pelo comportamento da ZCIT, onde durante o período correspondente ao verão-outono o sistema de correntes perturbadas de oeste, com pancadas de chuvas ocasionais, asseguram, quase exclusivamente, as máximas pluviais (FIGURA 2). Já no inverno-primavera, com o aquecimento deste sistema, essa região fica sob o domínio dos ventos anticiclonais de NE e de alta subtropical do Atlântico Sul, ocorrendo então o período de estiagem. Vale salientar que o período de estiagem é atenuado na região serrana pelo orvalho e nevoeiro comuns nesta região, possibilitando uma conservação da umidade do solo e diminuindo assim os efeitos da evapotranspiração tão evidente nas áreas sertanejas.

FIGURA 2: Zona de convergência intertropical (ZCIT) mostrada através das imagens do satélite METEOSAT-7. Fonte: (SILVA, 2006 apud CEARÁ FUNCEME, 2006)

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Neste contexto, de acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos - FUNCEME, a Serra da Aratanha está inserida em uma região de clima Tropical Quente Úmido. (MAPA 2).

MAPA 2: Mapa mostrando a região de clima tropical quente úmido onde está localizada a Serra da Aratanha. Fonte: FUNCEME.

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RPPN Monte Alegre

B1.3) Geologia

A RPPN Monte Alegre está localizada na porção norte da Serra da Aratanha que, segundo Souza (2000), corresponde a um relevo elevado próximo ao litoral denominado Maciço pré-litorâneo, constituído de rochas do embasamento cristalino, com primazia, por litológicas metamórficas.

 Neste contexto, segundo o Atlas Geológico do Estado do Ceará (BRASIL. CPRM/CEARÁ, 2003), a litológica da região onde está localizada a RPPN Monte Alegre está inserida no Complexo Ceará, Unidade Canindé, composta por paragnaisses associados a jazimentos estratóides e diqueformes de granitóides neoproterozóicos, cinzentos e rosados, gnaissificados ou não e, em parte, facoidais. (MAPA 3)

MAPA 3:Litológica da região onde está localizada a RPPN Monte Alegre: Complexo Ceará, Unidade Canindé.

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B1.4) Geomorfologia

O Maciço Residual da Serra da Aratanha, onde está localizada a RPPN Monte Alegre, é classificado de acordo com o Zoneamento da APA da Serra da Baturité, disponível em Ceará (1992) apud Souza (1988) como uma subunidade denominada planalto residual, correspondente à área serrana, pertencente ao Domínio dos Escudos e Maciços Antigos compostos por litotipos do embasamento cristalino datados do pré- cambriano.

A Serra da Aratanha possui direção predominante NE-SW, sendo sua altimetria elevada em comparação com as áreas periféricas, atingindo 750m de altitude, devido ao fato de suas rochas terem se comportado de forma mais resistentes às ações intempéricas em comparação com as litológicas das áreas circunvizinhas. No tocante a RPPN Monte Alegre a altitude varia entre 100 e 750 metros.

Elevação da área de localização da RPPN Monte Alegre.

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No tocante a RPPN Monte Alegre podemos observar que a mesma se encontra em uma lombada localizada na vertente nordeste da Serra da Aratanha, totalmente inserida no domínio geomorfológico dos maciços residuais. (MAPA 4).

MAPA 4: Domínio geomorfológico do Sítio Monte Alegre, em Pacatuba/CE.

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B1.5) Solos

De acordo com Zoneamento Agrícola do Estado do Ceará (1988), na área onde está localizada a RPPN Monte Alegre prevalece o solo Podzólico Vermelho- Amarelo Eutrófico (PE92), sendo este uma associação de podizólico vermelho- amarelo Tb textura média/média cascalhenta típica de floresta subcaducifólia; mais podizólico vermelho-amarelo Tb textura média argilosa com cascalho típico de floresta subperenefólia; e solos litólicos de textura média fase pedregosa e rochosa floresta subperenifólia com substrato gnaisse e granito, todos Eutróficos a moderado e relevo forte ondulado e montanhoso.

Tais solos são considerados de fertilidade de média a alta, entretanto o uso agrícola é limitado pela acentuada declividade, que expõe o solo à erosão e limita o uso de maquinário agrícola, bem como devido à falta de água nos longos períodos de estiagem.

São moderadamente ou bem drenados, excetuando-se os solos rasos ou com plinthite, que apresentam drenagem moderada/imperfeita. São moderadamente ácidos a ácidos, raramente neutros, ou mesmo alcalinos, como nota-se em alguns perfis de solos rasos.

O material originário é constituído, predominantemente, de saprolito de gnaisses e migmatitos do Pré-Cambriano Indiviso, de granitos e anortositos (Plutônicas Ácidas) e de micaxistos do Pré-Cambriano (A), entre outras rochas menos frequentes.

De acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, EMBRAPA (2006), este solos pertencem à ordem dos luvissolos, subordem crômico. Estes solos distribuem-se por boa parte do território brasileiro, com maior expressividade em regiões como o semiárido nordestino (MAPA 5).

MAPA 5: Tipo de solo do Sitio Monte Alegre (RPPN Monte Alegre).

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B1.6) Hidrografia

A Serra da Aratanha, onde está localizada a RPPN Monte Alegre, devido aos seus elevados índices pluviométricos, ocasionado principalmente pela ação do relevo como barreira natural frente aos deslocamentos dos ventos úmidos oriundos do litoral, tem a importante função de contribuir com o suprimento hídrico da Bacia Hidrográfica Metropolitana.

As características da hidrografia desta região são determinadas pela ação conjugada de fatores climáticos, geológicos, geomorfológicos e pelas condições de cobertura vegetal e de uso do solo.

A drenagem na Serra da Aratanha também sofre influência da geologia local e das formações superficiais, principalmente devido às características de impermeabilidade das rochas cristalinas, que provoca um maior adensamento dos cursos d’água que tendem a uma elevada ramificação, favorecendo o escoamento superficial, ficando as águas subterrâneas restritas à ocorrência de áreas diaclasadas ou fraturadas, sendo característica deste terreno uma densa rede de fraturas.

No tocante a influência da geomorfologia na hidrografia, o relevo influencia de forma direta através dos perfis longitudinais e transversais dos rios. Os gradientes que direcionam as ações de escoamento determinam à velocidade do fluxo hídrico ou a retenção da água bem como condições de transporte ou de sedimentação nos setores deprimidos.

As condições de cobertura vegetal e de uso do solo são fatores preponderantes no tocante a hidrografia, visto que os mesmos são determinantes quanto à proteção da superfície frente os elevados índices pluviométricos da região, atenuando os efeitos das precipitações.

Quanto maior a densidade da vegetação menor os efeitos do escoamento superficial através das vertentes íngremes, uma vez que a vegetação diminui o impacto da chuva com o solo, fazendo com que apenas parte da água atinja os fundos de vale e talvegues. Já nas áreas que não dispõem de cobertura vegetal, ou com baixa densidade, o escoamento superficial é intensificado provocando movimentos de massa, formando voçorocas e ravinas.

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Neste contexto, localizada no extremo norte da Serra da Aratanha, a RPPN Monte Alegre está localizada na Bacia Hidrográfica Metropolitana na sub-bacia do Cocó, sendo sua drenagem voltada tanto para a vertente ocidental quanto oriental (SRH, 2003).

No alto da Reserva, a 650m de altitude, está localizado um pequeno açude denominado Boaçú, na nascente do Riacho Alegrete que drena a RPPN Monte Alegre em direção a vertente ocidental da Serra da Aratanha até o Riacho Lameiro que a jusante deságua no Rio Cocó.

O restante da drenagem superficial da Reserva segue para a vertente oriental até o Rio Cocó a montante do Açude Gavião, um dos reservatórios de abastecimento de água da capital Fortaleza. (MAPA 6).

MAPA 6: Sitio Monte Alegre e Pitaguary: mapa apresentando o limite das sub-bacias da região onde está localizada a RPPN Monte Alegre.

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B1.7) Vegetação

Para levantamento da flora foi realizada uma viagem de campo nos dias 8 e 9 de outubro de 2011. Durante a estadia na Reserva foram realizadas trilhas, sem sistematização prévia, abrangendo o máximo possível da RPPN, acompanhadas por um mateiro, o Sr. Luiz Lopes, que informou os nomes populares das espécies observadas. Sempre que possível, as plantas foram fotografadas e tiveram ramos reprodutivos coletados (inflorescências, flores e/ou frutos). As amostras foram posteriormente prensadas para montagem de exsicatas com o objetivo de obter-se material de comparação para facilitar a identificação das espécies. Os principais materiais utilizados foram: GPS, máquina fotográfica, tesoura de poda, podão, fita métrica, prensa para material botânico, sacos plásticos, cordões para delimitação das parcelas, cadernos de campo para registro das informações e vara de medição para obter a altura das árvores.

A amostragem fitossociológica e de fisionomias da vegetação foi realizada no mesmo período do levantamento florístico. Houve uma pré-seleção das áreas de sorteio das parcelas, através de imagens de satélite, de modo que houvesse uma representatividade da vegetação da RPPN, evitando, dessa maneira, que fossem inclusas áreas de corpos hídricos ou rochosas. Posteriormente, foram sorteadas aleatoriamente, montadas, com o auxílio de barbante, e analisadas parcelas de 10 x 10 metros, na área da RPPN, dentro das quais foram registrados valores de diâmetro e altura de todas as árvores e arbustos que se adequassem ao critério de inclusão.

Nesse estudo foram incluídos indivíduos com perímetro maior que 9 centímetros e altura maior que 1 metro. A medida do perímetro foi realizada na altura do solo e altura do peito. Uma vez que trata-se de uma vegetação mais fechada com plantas de maior porte, a medida de altura do peito seria mais adequada, entretanto para manter um mesmo parâmetro que possibilite a comparação entre áreas com vegetações diferentes o perímetro na altura do solo também foi mensurado.Todas as parcelas foram georreferenciadas para posterior zoneamento. O perímetro de cada indivíduo foi medido com o auxílio de uma fita métrica e a altura estimada por comparação com uma vara de alumínio composta por peças, de tamanhos conhecidos, que se encaixam permitindo a regulação da altura e a comparação com esta característica das árvores. Cada ramo ao nível do solo é considerado um indivíduo, entretanto, no presente levantamento quando observada uma rebrota partindo de um mesmo indivíduo, mas que ao nível do solo já apresentava ramificação impedindo, desta maneira, a medição foram somados os

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RPPN Monte Alegre perímetros dos ramos e considerado apenas um indivíduo. Tal procedimento é comum em levantamentos fitossociológicos e busca reduzir os erros de contabilizar um mesmo indivíduo duas vezes ou indivíduos diferentes da mesma espécie como um só (Moro, Martins, 2011).

Entre os parâmetros analisados a partir dos dados fitossociológicos obtidos temos: número de indivíduos amostrados, densidades absoluta e relativa, frequências absoluta e relativa, dominâncias (área basal) absoluta e relativa. Esses valores auxiliaram na aquisição de informações tais como predominância de indivíduos, espécies mais comuns e estrutura sucessional da comunidade. Os parâmetros foram calculados utilizando-se o microsoft excel.

Para construção da lista de espécies invasoras foram consultados, entre outros, a base de dados presente no site do Instituto Hórus (www.institutohorus.com.br) e o checklist de plantas da caatinga. Para verificar a presença de espécies ameaçadas de extinção foi consultada a “Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção”, publicada pelo Ministério do Meio Ambiente, disponível no site do Ministério do Meio Ambiente (www.mma.gov.br), foram descritas as principais fitofisionomias presentes na RPPN e feitas sugestões para o plano de manejo.

B1.7.1) Flora e fotofisionomias

Como consta na TABELA 2, no total foram observadas 120 espécies durante as trilhas feitas na área da RPPN Monte Alegre, das quais 30 constam como indeterminadas, 17 foram determinadas até família e 28 até gênero. A considerável quantidade de espécies indeterminadas relaciona-se ao fato destas não terem floração sincronizada, de forma que variam de acordo com as espécies e o período do ano, e encontrar indivíduos apenas com material vegetativo dificulta, quando não impossibilita, o processo de identificação.

Houve predomínio de arbóreas compostas por 73 espécies, seguidas pelas herbáceas, trepadeiras e arbustivas com 23, 10 e 9 espécies, respectivamente. A boa representatividade das herbáceas possivelmente decorre do fato da Reserva encontrar- se em uma transição entre caatinga e mata de altitude, sendo, portanto, mais úmida, o que favorece o desenvolvimento dessas plantas.

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Dentre as 22 famílias encontradas na RPPN, a melhor representada foi Fabacea com 18 espécies. A segunda família foi Bigoniaceae com 4, seguida por Apocynaceae, Bromeliaceae, Euphorbiaceae e Heliconiaceae cada uma com 3 espécies. O elevado número de famílias é um indicativo da grande diversidade observada na área, apesar da predominância das fabáceas. Várias famílias encontradas, entre elas: Amarillidaceae, Araceae, Arecaceae, Clusiaceae, Costacea, Erythroxylaceae, Heliconiaceae, Lecythidaceae, Myrtaceae, Orchidaceae, Plumbaginaceae, Rutaceae, Sapotaceae, Thymelaeaceae e Zingiberaceae são incomuns em áreas de caatinga, sua ocorrência é mais frequente em regiões mais úmidas, como nos maciços residuais.

Em levantamento florístico realizado na serra de Baturité tais famílias foram citadas como ocorrentes em florestas ombrófila montana e/ou submontana (mata úmida serrana), estacional semidecidual montana (mata subúmida) e estacional montana e/ou submontana (mata seca) (Araújo et al. 2007). Esses dados nos permitem classificar a vegetação encontrada como um gradiente indo de uma vegetação mais seca (na base da serra) a uma mais úmida (no topo) o que equivaleria a variação entre floresta estacional decidual submontana a floresta estacional semidecidual montana.

TABELA 2: Lista de espécies vegetais da RPPN Monte Alegre, Pacatuba, Ceará.

NOME ESPÉCIE FAMÍLIA HÁBITO POPULAR Melosa- Poikilacanthus harleyi Wassh. Acanthaceae Herbácea bilobada Melosa-roxa Ruellia paniculata L. Acanthaceae Herbácea Lírio Hippeastrum sp. Amarillidaceae Herbácea Cajazeira Thyrsodium schomburgkianum Benth. Anacardiaceae Arbórea Ata-braba Annonaceae sp. 1 Annonaceae Arbórea Cipó-de-leite Cryptostegia grandiflora R. Br Apocynaceae Trepadeira Pitiá Aspidosperma sp. Apocynaceae Arbórea Culhão de Apocynaceae sp. 1 Apocynaceae Trepadeira bode Imbé Philodendron sp. Araceae Herbácea Babaçu Orbignya phalerata Mart. Arecaceae Arbórea Catolé Syagrus sp. Arecaceae Arbórea Caroba Bignoniaceae sp. 1 Bignoniaceae Arbórea Pau-d'arco Tabebuia sp. Bignoniaceae Arbórea amarelo Pau-d'arco Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Bignoniaceae Arbórea roxo Standl. Peroba Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith Bignoniaceae Arbórea Pacotê Cochlospermum vitifolium (Willd.) Bixaceae Arbórea

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Spreng. Pau-branco Cordia oncocalyx Allemão Boraginaceae Arbórea Bromélia Bromelia sp. 1 Bromeliaceae Herbácea Croatá Bromelia sp. 2 Bromeliaceae Suculenta Barba de velho Tillandsia sp. Bromeliaceae Herbácea Almescla Protium sp. Burseraceae Arbórea Mandacaru Cereus jamacaru DC. Cactaceae Suculenta Crista de galo Centropogom sp. Campanulaceae Herbácea Oiticica Licania rigida Benth. Chrysobalanaceae Arbórea Garcinia gardneriana (Planch. & Triana) Bacupari Clusiaceae Arbórea Zappi Mangue-brabo Clusia sp. Clusiaceae Arbórea Cipaúba Thiloa glaucocarpa (Mart.) Eichler Combretaceae Arbórea Mameluco Terminalia mameluco Pickel Combretaceae Arbórea Banana-de- Costus spiralis (Jacq.) Roscoe Costacea Herbácea macaco Café-brabo Erythroxylum sp. Erythroxylaceae Arbustiva Maniçoba Manihot glagiovii Mull. Arg. Euphorbiaceae Arbórea Velame- Croton sp. 1 Euphorbiaceae Arbustiva branco Velame-preto Croton sp. 2 Euphorbiaceae Arbustiva Bálsamo Myroxylon peruiferum L. Fabaceae Arbórea Canafístula Senna sp. Fabaceae Arbórea Centrosema sagittatum (Humb. & Bonpl. Centrosema Fabaceae Trepadeira ex Willd.) Brandegee Cipó-escada Bauhinia radiata Vell. Fabaceae Trepadeira Coração-de- Caelsapinia pluviosa DC. Fabaceae Arbórea nego Cunhã Centrosema sp. 1 Fabaceae Herbácea Cunhã- Centrosema sp. 2 Fabaceae Trepadeira diferente Ingá Inga sp. 1 Fabaceae Arbórea Ingá-de-porco Inga sp. 2 Fabaceae Arbórea Ingaí Inga sp. 3 Fabaceae Arbórea Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) Jucá Fabaceae Arbórea L.P.Queiroz Jurema Fabaceae sp. 1 Fabaceae Arbórea Jurema-branca Fabaceae sp. 2 Fabaceae Arbórea Lava-prato Senna sp. Fabaceae Arbustiva Luetzelburgia auriculata (Allemão) Pau-mocó Fabaceae Arbórea Ducke Tiririca Piptadenia stipulacea (Benth.) Ducke Fabaceae Herbácea Camunzé Albizia polycephala (Benth.) Killip Fabaceae Arbórea Pau-dóleo Copaifera sp. Fabaceae Arbórea Heliconia Heliconia sp. 1 Heliconiaceae Herbácea Heliconia Heliconia sp. 2 Heliconiaceae Herbácea Pacavira Heliconia psittacorum L. f. Heliconiaceae Herbácea Tabaca-de- Gustavia augusta L. Lecythidaceae Arbórea

42 RPPN Monte Alegre guariba Carrapicho de Triumfetta semitriloba Jacq. Malvaceae Arbustiva cavalo Pseudobombax marginatum (A. St.-Hil., Embiratanha Malvaceae Arbórea Juss. & Cambess.) A. Robyns Munguba Pachira aquatica Aubl. Malvaceae Arbórea Mutamba Guazuma ulmifolia Lam. Malvaceae Arbórea Cedrela odorata L. Melliaceae Arbórea Gameleira Ficus guianensis Desv. ex Ham. Moraceae Arbórea Guabiraba Myrtaceae sp. 1 Myrtaceae Arbórea Jambo Myrtaceae sp. 2 Myrtaceae Arbórea Goiabinha Myrtacae sp. 3 Myrtaceae Arbórea Guapira graciliflora (Mart. ex J.A. João-mole Nyctaginaceae Arbórea Schmidt) Lundell Orquídea- Orchidaceae sp. 1 Orchidaceae Herbácea amarela Orquídea- Orchidaceae sp. 2 Orchidaceae Herbácea grande Loco Plumbago scandens L. Plumbaginaceae Herbácea Bambu Poaceae sp. 1 Poaceae Herbácea Taquari Poaceae sp. 2 Poaceae Herbácea Pajeú Triplaris gardneriana Wedd. Polygonaceae Arbórea Cajueiro-brabo Roupala sp. Proteaceae Arbórea Juazeiro Ziziphus joazeiro Mart. Rhamnaceae Arbórea Quina-quina Coutarea hexandra (Jacq.) K. Schum Rubiacea Arbórea Amarelinho Rutaceae sp. 1 Rutaceae Arbórea Cocão Esenbeckia grandiflora Mart. Rutaceae Arbórea Limãozinho Zanthoxylum sp. Rutaceae Arbórea Orelha-de- Rutaceae sp. 2 Rutaceae Arbustiva burro Engasga-vaca Pouteria sp. Sapotaceae Arbórea Maçaranduba Manilkara rufula (Miq.) H.J. Lam Sapotaceae Arbórea Paraíba Simarouba amara Aubl. Simaroubaceae Arbórea Canapum Physalis sp. Solanaceae Herbácea Jurubeba Solanum paniculatum L. Solanaceae Arbustiva Embira-branca Daphnopsis sp. Thymelaeaceae Arbórea Tipha Tipha sp. Tiphaceae Herbácea Gargaiúba Cecropia sp. Urticaceae Arbórea Torém Cecropia polystachya Trécul Urticaceae Arbórea Cissus Cissus gongylodes (Baker) Burch Vitaceae Trepadeira Uva-braba Vitaceae sp. 1 Vitaceae Trepadeira Colônia Renealmia alpinia (Rottb.) Maas Zingiberaceae Herbácea Angélica Indeterminada sp. 1 Indeterminada Arbórea Azedinho Indeterminada sp. 2 Indeterminada Herbácea Burdão-de- Indeterminada sp. 3 Indeterminada Arbórea velho Buriti-brabo Indeterminada sp. 4 Indeterminada Arbórea

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Carrapatinha Indeterminada sp. 5 Indeterminada Arbórea Casca-grossa Indeterminada sp. 6 Indeterminada Arbórea Cipó-calango Indeterminada sp. 7 Indeterminada Trepadeira Cipó-caninana Indeterminada sp. 8 Indeterminada Trepadeira Condurú Indeterminada sp. 9 Indeterminada Arbórea Coquinho- Indeterminada sp. 10 Indeterminada Arbustiva espinhento Corama braba Indeterminada sp. 11 Indeterminada Herbácea Corama Indeterminada sp. 12 Indeterminada Herbácea branca Desconhecida Indeterminada sp. 13 Indeterminada Arbórea Desconhecida Indeterminada sp. 14 Indeterminada Arbórea folha dura Embira-preta Indeterminada sp. 15 Indeterminada Arbórea Goiaba braba Indeterminada sp. 16 Indeterminada Arbórea Inharé Indeterminada sp. 17 Indeterminada Arbórea Japecanga Indeterminada sp. 18 Indeterminada Herbácea Jericó Indeterminada sp. 19 Indeterminada Trepadeira Loro-pinho Indeterminada sp. 20 Indeterminada Arbórea Miúm Indeterminada sp. 21 Indeterminada Arbórea Morcegueira Indeterminada sp. 22 Indeterminada Arbórea Orelha-de- Indeterminada sp. 23 Indeterminada Herbácea onça Pau-alho Indeterminada sp. 24 Indeterminada Arbórea Pau-marfim Indeterminada sp. 25 Indeterminada Arbórea Sabacuím Indeterminada sp. 26 Indeterminada Arbórea Sonda-luz Indeterminada sp. 27 Indeterminada Arbórea Tamarina- Indeterminada sp. 28 Indeterminada Arbustiva braba Tatajuba Indeterminada sp. 29 Indeterminada Arbórea Tinteiro-preto Indeterminada sp. 30 Indeterminada Arbórea

B1.7.2) Levantamento fitossociológico

A localização das cinco parcelas onde foram coletados os dados fitossociológicos encontra-se na TABELA 3. De acordo com os dados fitossociológicos, descritos na tabela 3, em relação ao número de indivíduos houve predominância do Loro-pinho (indeterminada sp. 20) com 7,55%, seguido por Sonda-luz e Tatajuba (indeterminada sp. 27 e indeterminada sp. 29) com 6,92% cada, Sabacuím (indeterminada sp. 26) com 6,29% e Pau-mocó (Luetzelburgia auriculata) com 5,66% do total de 155 indivíduos medidos. Pau-mocó (L. auriculata) e João-mole (Guapira graciliflora) foram as espécies mais frequentes sendo encontradas em quatro das cinco parcelas. Quanto aos valores de

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área basal, a espécie que mais contribuiu foi o Pau d’árco roxo (Tabebuia impetiginosa) com 12,02%, seguido pelo João-mole (G. graciliflora) com 10,71%, Gameleira (Ficus guianensis) com 10,07%, Embiratanha (Pseudobombax marginatum) com 8,61% e Sonda-luz (indeterminada sp. 27) com 6,35% da área basal total. Quando divida a área basal pelo número de indivíduos temos, em sequência, Pau d’árco roxo (T. impetiginosa), Embiratanha (P. marginatum), Gameleira (F. guianensis), Mangue-brabo (Clusia sp.) e Gargaiúba (Cecropia sp.). A partir desses dados é possível afirmar que as espécies de maior porte na área são as últimas citadas. Considerando o crescimento lento do Pau d’árco roxo, por exemplo, podemos usar esses valores como indicativos de conservação na RPPN.

Entretanto, foram observadas algumas árvores com rebrotas e árvores mortas pelo incêndio ocorrido na Reserva. Além disso, o fluxo nas trilhas de moradores das áreas próximas a pressão de caça e extração de lenha. Acrescentando-se a isso foi possível notar que muitas frutíferas foram plantadas na área da RPPN, tais como pés de tangerina, laranja e banana, havendo uma significativa alteração da vegetação nas proximidades de áreas onde anteriormente existiam casas e que hoje ajudam também na alimentação dos animais.

TABELA 3: Georreferencimento e diversidade de espécies nas cinco parcelas de 10x10m na RPPN Monte Alegre, Pacatuba/CE.

Parcela Coordenadas (UTM) Número de espécies Número de indivíduos 1 541574 9562906 12 31 2 541122 9562744 12 20 3 540719 9562517 15 40 4 541140 9562012 20 51 5 540507 9561159 16 33

TABELA 4: Dados fitossociológicos preliminares levantados na RPPN Monte Alegre.

* N = abundância absoluta de indivíduos; N % = Abundância relativa; Fr = frequência de ocorrência das espécies nas parcelas de 100m² (%) variando de 20 quando ocorrentes em apenas uma parcela a 100 quando observas em todas as parcelas; AB = área basal em cm²; AB % = porcentagem de área basal.

N Nome popular Espécie Família N Fr AB AB% (%) Ata-braba Annonaceae sp. 1 Annonaceae 2 1,26 40 1437 3,21 Catolé Syagrus sp. Arecaceae 8 5,03 40 2632 5,88 Pau-d'arco roxo Tabebuia impetiginosa Bignoniaceae 1 0,63 20 5377 12,02 Peroba Tabebuia roseoalba Bignoniaceae 2 1,26 20 1972 4,41

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Pau-d'arco Tabebuia sp. Bignoniaceae 2 1,26 40 1274 2,85 amarelo Almescla Protium sp. Burseraceae 3 1,89 20 30 0,07 Mangue-brabo Clusia sp. Clusiaceae 1 0,63 20 1463 3,27 Cipaúba Thiloa glaucocarpa Combretaceae 6 3,77 20 244 0,55 Café-brabo Erythroxylum sp. Erythroxylaceae 2 1,26 20 327 0,73 Camunzé Albizia polycephala Fabaceae 6 3,77 20 1663 3,72 Pau-dóleo Copaifera sp. Fabaceae 1 0,63 20 147 0,33 Jurema Fabaceae sp. 1 Fabaceae 3 1,89 20 1287 2,88 Jurema-branca Fabaceae sp. 2 Fabaceae 1 0,63 20 749 1,67 Ingaí Inga sp. 3 Fabaceae 6 3,77 40 162 0,36 Jucá Libidibia ferrea Fabaceae 3 1,89 20 406 0,91 Pau-mocó Luetzelburgia auriculata Fabaceae 9 5,66 80 1543 3,45 Tabaca-de- Gustavia augusta Lecythidaceae 5 3,14 40 64 0,14 guariba Pseudobombax Embiratanha Malvaceae 1 0,63 20 3852 8,61 marginatum Gameleira Ficus guianensis Moraceae 2 1,26 40 4506 10,07 Goiabinha Myrtacae sp. 3 Myrtaceae 4 2,52 40 453 1,01 Guabiraba Myrtaceae sp. 1 Myrtaceae 2 1,26 40 220 0,49 João-mole Guapira graciliflora Nyctaginaceae 5 3,14 80 4791 10,71 Cajueiro-brabo Roupala sp. Proteaceae 3 1,89 20 141 0,32 Quina-quina Coutarea hexandra Rubiacea 2 1,26 20 165 0,37 Cocão Esenbeckia grandiflora Rutaceae 8 5,03 40 276 0,62 Maçaranduba Manilkara rufula Sapotaceae 6 3,77 60 375 0,84 Engasga-vaca Pouteria sp. Sapotaceae 2 1,26 20 32 0,07 Paraíba Simarouba amara Simaroubaceae 2 1,26 20 430 0,96 Gargaiúba Cecropia sp. Urticaceae 1 0,63 20 1450 3,24 Carrapatinha Indeterminada sp. 5 Indeterminada 3 1,89 40 32 0,07 Casca-grossa Indeterminada sp. 6 Indeterminada 1 0,63 20 39 0,09 Condurú Indeterminada sp. 9 Indeterminada 1 0,63 20 436 0,97 Desconhecida Indeterminada sp. 13 Indeterminada 4 2,52 20 374 0,84 Desconhecida Indeterminada sp. 14 Indeterminada 2 1,26 20 36 0,08 folha dura Goiaba braba Indeterminada sp. 16 Indeterminada 1 0,63 20 147 0,33 Inharé Indeterminada sp. 17 Indeterminada 2 1,26 20 253 0,57 Loro-pinho Indeterminada sp. 20 Indeterminada 12 7,55 60 1015 2,27 Miúm Indeterminada sp. 21 Indeterminada 1 0,63 20 224 0,50 Morcegueira Indeterminada sp. 22 Indeterminada 1 0,63 20 241 0,54 Pau-alho Indeterminada sp. 24 Indeterminada 1 0,63 20 296 0,66 Sabacuím Indeterminada sp. 26 Indeterminada 10 6,29 60 643 1,44 Sonda-luz Indeterminada sp. 27 Indeterminada 11 6,92 60 2840 6,35 Tatajuba Indeterminada sp. 29 Indeterminada 11 6,92 60 697 1,56 Total 155 44741

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B1.7.2.1 Dados fitossociológicos da parcela 1

Nas FIGURAS 3 e 4 observamos o aspecto geral da parcela 1 e a delimitação feita para o seu estudo fitossociológico. A área é aberta com muitas plântulas de espécies arbóreas em recrutamento e poucas herbáceas. Foram observadas algumas suculentas como o Croatá (Bromelia sp. 2) e o Mandacaru (Cereus jamacaru). Segundo relatos do senhor Luiz Lopes, o local havia sido um roçado e nele encontramos um pequeno curso de água.

FIGURA 3: Aspecto geral da parcela 1 FIGURA 4: Delimitação da parcela 1 (coordenadas UTM 541574 9562906). (coordenadas UTM 541574 9562906).

Ainda na parcela 1 foi observada uma Gameleira (Ficus guianenesis) figuras 5, 6 e 7, árvore que produz raízes aéreas e utiliza outra como suporte envolvendo-a com estas raízes e impedindo o seu desenvolvimento, culminando com a morte da árvore suporte depois de alguns anos.

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FIGURA 5: Frutos e FIGURA 6: Detalhe dos FIGURA 7: Caule da folhas da gameleira – frutos da gameleira – Gameleira – Ficus Ficus guianensis. Ficus guianesis. Guianensis.

É importante que se entenda que a dinâmica da comunidade envolve diversos aspectos das interações ecológicas entre os organismos e não reflete apenas as perturbações ocorridas no meio como fica claro por esse exemplo. Buscamos encontrar padrões pra explicar como a comunidade se organizou e tentar prever que mudanças futuras poderão ocorrer, mas nossa observação é muito restrita a poucos processos e as interações podem ser bem mais complexas do que aparentam ser. Daí a necessidade de acompanhamento contínuo das modificações ocorridas na RPPN, de modo que as informações possam se complementar e dar uma ideia melhor do funcionamento.

Os GRÁFICOS 1 e 2 resumem as estruturas vertical e horizontal da parcela 1. Nesta parcela foram encontrados indivíduos de grande porte, como se percebe pela distribuição das alturas, com predomínio daqueles com 8 metros ou mais, alguns deles com mais de 12 metros. Com relação ao perímetro, houve uma concentração de representantes entre as classes de 20-40 e 60-80 centímetros com nove indivíduos cada. Poucos representantes tiveram seu perímetro maior que 100 e seis tiveram valores menores que 20 centímetros.

A partir desses dados, podemos sugerir que nesta parcela havia um estágio de regeneração com grande quantidade de membros arbóreos começando a ter porte significativo, ou seja, tendo alturas maiores que 2 metros e mais de 20 centímetros de perímetro, convivendo com outros de grande porte que contribuem com maior quantidade de biomassa pra comunidade e que possivelmente produziram as sementes e propágulos que originam as novas plântulas para a renovação da comunidade. É possível que esse

48 RPPN Monte Alegre grande recrutamento de novos indivíduos tenha relação com uma recuperação da vegetação após o uso da área apontado pelo mateiro, ou ainda que essa renovação faça parte do ciclo natural de estruturação da comunidade vegetal.

GRÁFICO 1: Estrutura vertical da parcela 1.

GRÁFICO 2: Estrutura horizontal da parcela 1.

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B1.7.2.2. Dados fitossociológicos da parcela 2

As FIGURAS 8 e 9 evidenciam o aspecto geral da parcela 2 e a grande quantidade de cipós presentes na área. O local é muito inclinado, com grande quantidade de serrapilheira, semiaberto, com poucas herbáceas e algumas plântulas de espécies arbóreas. Nas árvores e plantas de menor porte havia grande quantidade de formigas, chamadas pelo senhor Luiz, tracuá. Havia rebrota de algumas plantas em locais onde passou o fogo.

Nas FIGURAS 10 e 11 temos exemplos das consequências dos incêndios. Na primeira, uma árvore caída na trilha após ter sido atingida pelo fogo. Ao cair, uma árvore de grande porte como essa, derruba várias outras menores, abrindo clareiras. Tal fato poderia ser uma das explicações para a grande quantidade de cipós que comumente precisam de condições de luz maiores para germinar. Na segunda, temos um Catolé (Syagrus sp.) atingido pelo fogo, essa árvore de grande porte pode sobreviver ao incêndio, mas comumente eram observadas rebrotas decorrentes da perda de grande parte da biomassa de seus representantes. O fogo altera, e muito, a dinâmica da vegetação sendo um dos principais riscos em áreas florestais.

FIGURA 8: Aspecto geral da parcela 2 FIGURA 9: Grande quantidade de cipós (coordenadas UTM 541122 9562744. presentes na parcela 2 (coordenadas UTM 541122 9562744).

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FIGURA 10: Árvore caída na trilha em FIGURA 11: Catolé (Syagrus decorrência do incêndio. sp.) atingido pelo fogo.

Os GRÁFICOS 3 e 4 são gráficos representativos da estrutura vertical e horizontal observada na parcela 2. Observa-se que ocorre um predomínio de indivíduos de grande porte com mais de 8 metros na parcela 2. Entretanto, com relação ao diâmetro a distribuição tende mais para os valores pequenos ou medianos. Tal informação nos permite inferir que as principais espécies encontradas investem mais em altura do que em espessura durante o crescimento, isso é comum em áreas de vegetação mais fechada onde ocorre competição pela luz e, portanto, necessidade de alcançar maiores alturas para ter acesso à esta. Contraditoriamente a área observada era semiaberta com bastante entrada de luz nos estratos. É provável, portanto, que houvesse uma condição anterior de maior adensamento de indivíduos refletindo-se na competição e que o incêndio tenha afetado algumas árvores aumentando posteriormente a entrada de luz.

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GRÁFICO 3: Gráfico mostrando a estrutura vertical da parcela 2.

GRÁFICO 4: Gráficos mostrando a estrutura horizontal da parcela 2.

B1.7.2.3 Dados fitossociológicos da parcela 3

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As FIGURAS 12 E 13 são fotos da parcela 3. Na FIGURA 12 observa-se a grande inclinação da área e na FIGURA 13 o Cipó-escada (Bauhinia radiata), uma das muitas espécies de trepadeiras encontradas na RPPN Monte Alegre. Pode-se observar também que praticamente não existem herbáceas, embora sejam vistas várias plantas de pequeno porte. Estas últimas são arbóreas em estágios iniciais de seu desenvolvimento. A quase ausência de herbáceas relaciona-se com o fato da vegetação ser mais fechada, reduzindo a entrada de luz e aumentando a competição entre as espécies. Fica evidente na FIGURA 12 o papel fundamental das raízes na manutenção do solo, a grande inclinação levaria à erosão durante as chuvas, no entanto, a grande quantidade de raízes estabelece algo parecido com uma escadaria na qual a força do escoamento da água é reduzida. Além disso, as raízes formam uma rede que funciona como uma verdadeira “rede de contenção” do solo agregando e segurando as partículas. Percebe-se, dessa maneira, a enorme importância da cobertura vegetal em regiões de grande declividade como o que é observado na reserva.

Na parcela 3 a vegetação é fechada, com árvores altas e de grande diâmetro, muitos cipós nas árvores, bromélias epífitas e poucas herbáceas e plântulas. Próximo a essa área existe um riachinho que indica boas condições de disponibilidade de água.

FIGURA 12: Aspecto geral da parcela 3 FIGURA 13: Cipó-escada (Bauhinia onde se percebe grande inclinação radiata) presente na parcela 3 (coordenadas UTM 540719 9562517). (coordenadas UTM 540719 9562517).

Os GRÁFICOS 5 e 6 trazem informações sobre a estrutura vertical e horizontal das árvores encontradas na parcela 3. Houve uma concentração da altura dos indivíduos entre quatro e seis metros. E uma quantidade representativa, cinco, na faixa

53 RPPN Monte Alegre entre dois e quatro e cinco também acima de doze metros. Com relação ao perímetro houve predomínio das menores que 20, seguidas pelas que ficaram entre 20 e 40, depois entre 40 e 60. Apenas quatro indivíduos tiveram mais que 100 e um só entre 80 e 100 centímetros de perímetro. Esses dados sugerem que apesar de termos alguns indivíduos de grande porte, a maioria encontra-se ainda em desenvolvimento.

GRÁFICO 5: mostrando a estrutura vertical da parcela 3.

GRÁFICO 6: mostrando a estrutura horizontal da parcela 3.

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B1.7.2.4 Dados fitossociológicos da parcela 4

O aspecto geral da parcela 4 pode ser observado na FIGURA 14, havia muitos indivíduos jovens de espécies arbóreas. Como se percebe na FIGURA 15, as árvores eram altas com copas muito próximas, formando assim uma área fechada e adensada. Não houve observação de herbáceas.

FIGURA 14: Aspecto geral da parcela 4 FIGURA 15: Aspecto das copas das (coordenadas UTM 541140 9562012). árvores na parcela 4 (coordenadas UTM 541140 9562012).

Como se percebe na FIGURA 16 a serrapilheira cobria densamente o solo. Essa deposição de matéria orgânica permite a ciclagem e disponibilização rápida de nutrientes. Além disso, mantém a umidade e protege contra os impactos das chuvas ajudando a evitar a erosão. A FIGURA 17 mostra flores e frutos da Orelha de burro (Rutaceae sp. 2), que era uma espécie muito comum nesta parcela.

O fruto do Cocão (Esenbeckia grandiflora) pode ser visto na FIGURA 18, esta espécie, muito comum na reserva, estava bem representada na parcela 4. De acordo com informações do senhor Luiz, sua madeira é muito resistente, tendo diversos usos pela população local. Essa informação nos coloca diante de pelo menos dois temas. O primeiro referente à extração de madeira, que é uma das ameaças à conservação de áreas preservadas. A madeira comumente é utilizada para lenha, construção de móveis e outros utensílios e é retirada de maneira não planejada. Além disso, quando indivíduos de

55 RPPN Monte Alegre grande porte são derrubados acabam matando outras árvores menores com a queda. A segunda, refere-se à participação da população nativa na manutenção da reserva. Na RPPN Monte Alegre as trilhas são utilizadas para o deslocamento da população local. Existe, portanto, a necessidade de haver integração com ela. Projetos de educação ambiental se fazem urgentes para tornar os nativos parceiros da reserva, para que eles se sintam incluídos no processo e possam auxiliar na sua preservação. Além disso, o conhecimento de tais populações a respeito das plantas locais e seus usos é extremamente valioso. Algo que uma vez perdido dificilmente será resgatado e que faz parte da própria história da relação entre o homem e o meio ambiente.

Na FIGURA 19 temos o fruto do Amarelinho (Rutaceae sp. 2), outra espécies comumente encontrada na parcela 4.

FIGURA 16: Serrapilheira e plântulas na FIGURA 17: Flores e frutos de Orelha de parcela 4 (coordenadas UTM burro – Rutaceae sp. 2 na parcela 4 541140/9562012). (coordenadas UTM 541140 9562012).

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FIGURA 18: Fruto e folhas do Cocão FIGURA 19: Frutos do Amarelinho (Esenbeckia grandiflora) na parcela 4 (Rutaceae sp. 1) na parcela 4 (coordenadas UTM 541140 9562012). (coordenadas UTM 541140 9562012).

Os GRÁFICOS 7 e 8 trazem informações obtidas a partir dos dados fitossociológicos levantados na parcela 4. Houve predominância de indivíduos maiores que 12 metros, onde foram incluídos 15 indivíduos. As classes de 2 a 4, 4 a 6 e 6 a 8 metros ficaram com treze, oito e novamente oito representantes, respectivamente. As demais classes foram pouco representativas.

Dessa distribuição percebe-se que havia muitas árvores altas nesta parcela, e que também existiam muitas novas árvores possivelmente se desenvolvendo a partir de sementes das mais velhas, tendo assim uma renovação dos indivíduos. Com relação ao perímetro, houve uma distribuição em ordem decrescente em relação ao aumento deste parâmetro. Ou seja, a maior parte dos indivíduos apresentou pequenos valores de perímetro, diminuindo gradativamente a quantidade, à medida que se aumentava a classe de valores. Isto poderia ser justificado pelo fato de que devido ao adensamento dos indivíduos existe muita competição por luz na área, as espécies aí encontradas então investem mais em crescimento vertical.

GRÁFICO 7: mostrando a estrutura vertical da parcela 4.

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GRÁFICO 8: mostrando a estrutura horizontal da parcela 4.

B1.7.2.5 Dados fitossociológicos da parcela 5

Nas FIGURAS 20 e 21 observa-se o aspecto geral da parcela 5. Na FIGURA 20 pode-se perceber que os indivíduos encontram-se próximos uns aos outros, o que caracteriza a vegetação como mais fechada. A FIGURA 21 mostra o solo coberto por serrapilheira, extremamente importante para a ciclagem de nutrientes e proteção do solo, bem como diversas plantas em estágios iniciais de desenvolvimento.

Um indivíduo muito alto e o adensamento e sobreposição das copas das árvores são vistos na FIGURA 22. Assim como o que foi anteriormente descrito para a parcela 4, é possível que devido à competição por luz haja investimento maior em altura do que em diâmetro entre as espécies vegetais. Isso acaba gerando estratos na comunidade vegetal que vão desde árvores que apresentam as copas mais altas até as pequenas plântulas que iniciam seu desenvolvimento próximo ao solo. Na FIGURA 23 ressalta-se a altura do indivíduo ao centro e a grande quantidade de epífitas presentes em seu tronco. A parcela 5 foi perceptivelmente mais úmida e densa que as demais o que parece favorecer um maior número de epífitas, tais características estão relacionadas com a localização da parcela, localizada a 660m de altitude. Nas proximidades da área delimitada também podiam ser observadas muitas samambaias e sobre os troncos, diversas briófitas.

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FIGURA 20: Aspecto geral da parcela 5 FIGURA 21: Serrapilheira e plântulas da (coordenadas UTM 540507 95611591). parcela 5 (coordenadas UTM 540507/95611591).

FIGURA 22: Aspecto das copas FIGURA 23: Detalhe das epífitas e altura dos indivíduos na na parcela 5 (coordenadas UTM parcela 5 (coordenadas UTM 540507/95611591). 540507 95611591).

Na FIGURA 24 observa-se a flor da Tabaca-de-guariba (Gustavia augusta) da família Lecythidaceae, esta família é mais frequente em áreas de florestas, em regiões mais úmidas. A espécie foi encontrada na parcela 5 e em algumas regiões próximas às

59 RPPN Monte Alegre trilhas. As flores de Hippeastrum sp., presentes na FIGURA 25, foram observadas também perto de uma das trilhas. Estas flores destacam a beleza da área da reserva.

FIGURA 24: Flor da Gustavia augusta – FIGURA 25: Flores da Hippeastrum sp. Lecythidaceae. Amarilidaceae.

Além da contribuição para a preservação da biodiversidade a RPPN Monte Alegre também agrega grande beleza cênica. Esta característica é um indicativo de que o uso da área para visitas deve ser explorado. As visitas programadas de grupos de estudantes, populares e pesquisadores poderiam contribuir inclusive para auxiliar na manutenção da área, uma vez que com as visitas a importância da Reserva para a comunidade seria ressaltada.

A organização vertical dessa parcela, observada no GRÁFICO 9 demonstra que há predomínio de espécies com alturas variando entre dois e seis metros. Entretanto, indivíduos com mais de dez metros também apresentaram valores significativos na comunidade. Na parcela 5 foram observados os indivíduos mais altos entre todas as parcelas. Existem, portanto, indivíduos mais velhos, importantes como fonte de sementes, produtores de material da serrapilheira, suporte para inúmeras epífitas entre diversas funções, e outros mais jovens ou de menor porte que atuam na renovação da comunidade. Com relação ao perímetro, observamos no GRÁFICO 10 uma grande concentração de indivíduos com esse valor menor que vinte centímetros. Apenas quatro dos 33 indivíduos mensurados apresentam perímetro maior que 100 centímetros. Isso indica que há um investimento maior em altura do que em diâmetro nas espécies observadas.

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GRÁFICO 9: mostrando a estrutura vertical da parcela 5.

GRÁFICO 10: mostrando a estrutura horizontal da parcela 5.

B1.8) Fauna

B1.8.1) Mastofauna

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No Brasil, a maioria dos mamíferos é de pequeno porte e dificilmente são observadas, pois geralmente vivem camuflados entre a vegetação, iniciando suas atividades no início da noite e se recolhendo ao amanhecer (Reis et al., 2006). A mata atlântica possui 229 espécies de mamíferos (Fonseca et al. 1996) e a caatinga possui 143 espécies de mamíferos (Oliveira et al. 2003). Entretanto, esses valores podem ser bem maiores segundo MMA, 2002, que relaciona para mata atlântica brasileira e a caatinga 250 e 148 espécies de mamíferos, respectivamente (TABELA 5).

O Estado do Ceará possui atualmente 187.268,41 ha de remanescentes de mata atlântica e ecossistemas associados, distribuídos nas formas de mata úmida, cerradão, manguezal e restinga, sendo que a maior parte (65,75%) está na forma de mata úmida. A Serra da Aratanha possui 2,27% desse total de remanescentes e tem sua vegetação relativamente mais preservada, em virtude de que, em muitas áreas, o acesso é mais restrito pela própria condição de declividade (Tabarelli, 2005).

O levantamento da mastofauna da RPPN Monte Alegre foi realizado nos dias 25 a 27 de maio de 2011, através de busca ativa e entrevista com moradores locais.

Foram registradas 21 espécies de mamíferos dentro da RPPN e no seu entorno. Um dos registros mais interessantes é a presença do Paracatota (Guerlinguetos alphonsei) um pequeno esquilo que no Ceará só ocorre nas Serras da Aratanha e (FIGURA 26).

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FIGURA 26: Paracatota – Guerlinguetos alphonsei (Foto: Ciro Albano).

Apenas o gato-do-mato Leopardus tigrinus é considerado ameaçado de extinção (MMA, 2003). Entretanto, várias espécies sofrem algum tipo de ameaça, principalmente a caça, por servirem como fonte de alimentação: Cassaco (Didelphis albiventris), Tatu (Dasypus novemcinctus), Peba (Euphractus sexcinctus), Mambira (Tamandua tetradactyla), Punaré (Thrichomys apereoides), Preá (Galea spixii), Mocó (Keredon rupestris), Cutia (Dasyprocta prymnolopha), Paca (Cuniculus paca), Quandú (Coendou prehensilis) e Veado-catingueiro (Mazama gouazoubira).

As espécies supracitadas foram consideradas raras na região devido à caça e a perda de habitat.

FIGURA 27: Quandú – Coendou prehensilis.

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FIGURA 28: Mambira – Tamandua tetradactyla.

FIGURA 29: Mambira – Tamandua tetradactyla.

TABELA 5: Lista da Mastofauna da RPPN Monte Alegre.

Nome científico Nome popular DIDELPHIDAE

Didelphis albiventris Cassaco

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Gracilinanus agilis Catita DASYPODIDAE

Dasypus novemcinctus Tatu Euphractus sexcinctus Peba MYRMECOPHAGIDAE

Tamandua tetradactyla Mambira CEBIDAE

Callithrix jacchus Soim ECHIMYIDAE

Thrichomys apereoides Punaré SCIURIDAE

Guerlinguetos alphonsei Paracatota ERETHIZONTIDAE

Coendou prehensilis Quandú CAVIDAE

Galea spixii Preá Dasyprocta prymnolopha Cutia Cuniculus paca Paca Kerodon rupestris Mocó PHYLLOSTOMIDAE

Desmodus rotundus Morcego-vampiro FELIDAE

Leopardus tigrinus Gato-do-mato Puma yagouaroundi Gato-mourisco CANIDAE

Cerdocyon thous Raposa MUSTELIDAE

Eira Barbara Papa-mel Galictis cuja Furão PROCYONIDAE

Procyon cancrivorus Guaxinim CERVIDAE

Mazama gouazoubira Veado-catingueiro

B1.8.2) Avifauna

A Mata Atlântica constitui o bioma mais degradado do Brasil, restando de sua formação original apenas 5% no Brasil e 2% no Nordeste (Ranta et al., 1999). Parte da floresta atlântica nordestina encontra-se sob a forma de Floresta estacional Semidecidual Montana (Veloso et al. 1991), distribuída nos Estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte sob a forma de brejos de altitude, constituindo-se em enclaves de

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Floresta Atlântica inseridos na Caatinga. Os Brejos de altitude constituem importantes locais de refúgio para diversas espécies de aves.

A serra da Aratanha é um brejo de altitude, sendo registradas 112 espécies de aves (Albano & Girão, 2008). Possui uma avifauna com espécies associadas à mata úmida e espécies típicas de caatinga. É considerada uma IBA (Important Bird Area) pela BirdLife (Bencke et al, 2006).

As aves são fundamentais para o equilíbrio das relações entre plantas e animais, pois diversas plantas têm sua dispersão de sementes dependentes das aves. Além disso, várias famílias de aves possuem espécies polinizadoras, principalmente Trochilidae e Thraupidae (Rocca, 2008). Grande parte das aves atua como controladora de insetos, sendo diversas espécies insetívoras e outras que complementam sua dieta com artrópodos.

Da mesma forma que algumas plantas dependem de aves para polinização e dispersão de sementes, várias espécies de aves dependem de espécies vegetais epífitas (principalmente Araceae, Bromeliaceae, Cactaceae) que oferecem diversos recursos como flores, néctar, sementes, frutos, matérias e locais de nidificação, água para consumo e limpeza corporal. Além disso, raízes e folhas de plantas epífitas constituem micro-hábitats para presas de aves (Cestari, 2009). Aproximadamente um quinto das famílias de aves possui representantes que utilizam recursos disponibilizados por plantas epífitas, principalmente na Mata Atlântica. (Cestari, 2009).

O levantamento da ornitofauna da RPPN Monte Alegre foi realizado nos dias 25 a 27 de maio de 2011, através de busca ativa (visual e auditiva).

Durante os trabalhos foram registradas 60 espécies de aves de 34 famílias. Não existem dados publicados para se obter um percentual comparativo com o levantamento da RPPN, já que Albano & Girão, 2008, desconsideram as espécies que não ocorrem acima dos 600 m de altitude. Entretanto, considerando que a Serra da Aratanha é um subconjunto do Maciço de Baturité, e este possui 235 espécies registradas (Girão et al. 2007), subtraindo 11 espécies que certamente não ocorrem na Serra da Aratanha, pode-se considerar que as 224 espécies restantes representam sua avifauna. Assim sendo, as 86 espécies registradas no levantamento representam aproximadamente 27% da avifauna local.

Um dos registros mais importantes do levantamento é o do chupa-dente Conopophaga cearae. Trata-se do primeiro registro da espécie na Serra da Aratanha. É

66 RPPN Monte Alegre uma espécie ameaçada de extinção e no Ceará só era registrada na Serra de Baturité e .

As famílias com maior número de espécies registradas foram Tyrannidae (6), Thamnophilidae (5), Thraupidae (4). A análise dos grupos tróficos demonstrou a predominância de espécies insetívoras (32), seguido das espécies frugívoras (9) e onívoras (5). Por se tratar de mata úmida, o baixo número de espécies tipicamente polinizadoras e dispersoras de sementes pode ser resultado de sub-amostragem (GRÁFICO 11).

GRÁFICO 11: Grupos tróficos das aves da RPPN Monte Alegre.

Quanto ao uso do hábitat, as espécies de aves podem ser divididas em três categorias: dependentes, espécies que só ocorrem em ambientes florestais; semidependentes, espécies que ocorrem nos mosaicos formados pelo contato entre florestas e formações vegetais abertas ou semiabertas; e independentes que são espécies que ocorrem apenas em vegetações abertas.

Mais de 80% (49) espécies apresentaram alguma dependência de ambientes florestais, sendo 18 dependentes e 31 semidependentes. As outras 11 espécies são aves que preferem ambientes abertos ou se aproveitam de locais degradados. (GRÁFICO 12).

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GRÁFICO 12: Uso do habitat das espécies de aves da RPPN Monte Alegre.

GRÁFICO 13: Sensitividade das espécies de aves da RPPN Monte Alegre.

As aves são sensíveis (GRÁFICO 13) aos distúrbios causados por ações antrópicas. Essa sensitividade pode ser dividida em alta, média e baixa. Apenas três espécies apresentaram alta sensitividade, o jacu-verdadeiro (Penelope jacucaca), o vira- folhas (Sclerurus scansor) (FIGURA 30) e o chupa-dente (Conopophaga cearae) (FIGURA 32). Essas três espécies são as aves ameaçadas de extinção (MMA, 2003) que foram registradas na área. Apenas vinte espécies registradas apresentam sensitividade média, sendo a maioria (37) das espécies de baixa sensitividade aos distúrbios

68 RPPN Monte Alegre antrópicos. Foram registradas apenas duas espécies que sofrem pressão de caça e outras onze que são utilizadas no comércio ilegal de aves silvestres

FIGURA 30: Vira-folhas (Sclerurus scansor), espécie de alta sensitividade e ameaçada de extinção.

FIGURA 31: Pintor-da-serra (Tangara cyanocephala), espécie traficada e ameaçada de extinção.

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FIGURA 32: Chupa-dente (Conopophaga cearae), espécie de alta sensitividade e ameaçada de extinção.

FIGURA 33: Papacum (Forpus xanthopterygius), espécie comumente traficada.

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TABELA 6: Espécies de aves da RPPN Monte Alegre.

*Grupo Trófico – Frugívoro (fru), Insetívoro (ins), Carnívoro (car), Granívoro (gra), Detritívoro (det), Onívoro (oni) , Nectarívoro (nec); Uso do Habitat – Dependente (D), Semi-dependente (S), Independente(I); Sensitividade – Alta(A), Média(M), Baixa(B); Ameaça – “C”=caça, “T”=tráfico; ; (*) registros obtidos através de dados indiretos.

Família Espécie G. Uso Sensitivida Ameaç trófico do de a habitat CRACIDAE Penelope jacucaca fru D A C CATHARTIDAE Cathartes aura det I B Coragyps atratus det I B ACCIPITRIDAE Rupornis magnirostris car I B Buteo nitidus car I M FALCONIDAE Caracara plancus car I B Herpetotheres car S B cachinnans JACANIDAE Jacana jacana ins I B COLUMBIDAE Columbina squamatta gra I B Leptotila verreauxi gra S B C PSITTACIDAE Brotogeris chiriri fru S M T CUCULIDAE Piaya cayana ins S B Coccyzus euleri ins S M Crotophaga major ins S M STRIGIDAE Glaucidium brasilianum car S M CAPRIMULGIDAE Hydropsalis albicollis ins S B TROCHILIDAE Phaethornis ruber nec D M Amazilia leucogaster nec D B Amazilia fimbriata nec S B TROGONIDAE Trogon curucui fru D M GALBULIDAE Galbula ruficauda ins S B BUCCONIDAE Nystalus maculatus ins S M PICIDAE Picumnus limae ins D M Veniliornis passerinus ins S B THAMNOPHILIDA Formicivora grisea ins S B E Dysithamnus mentalis ins D M Herpsilochmus ins D M atricapillus Thamnophilus ins D B caerulescens Taraba major ins S B CONOPOPHAGID Conopophaga cearae ins D A AE SCLERURIDAE Sclerurus scansor ins D A DENDROCOLAPTI Sitassomus griseicapillus ins D M DAE Dendroplex picus ins S B FURNARIIDAE Cranioleuca semicinerea ins S M TITYRIDAE Pachyramphus validus ins D M

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RYNCHOCYCLIDA Tolmomyias flaviventris ins D B E Todirostrum cinereum ins S B TYRANNIDAE Zimerius gricilipes ins D M Camptostoma obsoletum fru I B Myiarchus ferox ins S B Pitangus sulphuratus ins I B Megarhynchus pitangua ins S B Myiozetetes similis ins S B VIREONIDAE Cyclarhis gujanensis ins S B Vireo olivaceus ins D B CORVIDAE Cyanocorax cyanopogon oni S M T TROGLODYTIDAE Troglodytes musculus ins I B POLIOPTILIDAE Polioptila plumbea ins S M TURDIDAE Turdus leucomelas oni S B T COEREBIDAE Coereba flaveola nec S B THRAUPIDAE Tangara cyanocephala fru D M T Tangara sayaca fru S B T Tangara palmarum fru S B T Dacnis cayana fru S B T EMBERIZIDAE Volatinia jacarina gra I B T Arremon taciturnus gra D M PARULIDAE Basileuterus culicivorus ins D M ICTERIDAE Icterus pyrrhopterus oni S B T Icterus jamacaii oni S B T FRINGILIDAE Euphonia chlorotica fru S B T

Um registro importante da RPPN é o do Udu-de-cabeça-azul (Momotus momota), feito por Ciro Albano em julho e dezembro de 2006. Trata-se do primeiro registro documentado da espécie no Ceará. Durante o levantamento da avifauna da RPPN foi realizada uma busca direcionada a esta espécie, mas sem sucesso. Um incêndio natural que ocorreu no local dos registros pode ter afastado o grupo para outro ponto. Não se sabe a qual subespécie os indivíduos pertencem, se forem M.m.marcgraviana, a mesma que ocorre no litoral paraibano, merecem atenção especial por ser um táxon ameaçado de extinção.

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B1.8.3) Herpetofauna

Favorecida pelas condições edafoclimáticas, cuja elevação acentuada, maior umidade das correntes atmosféricas e especificidade do seu solo, conferem a região da Aratanha a condição de brejo de altitude, com uma floresta úmida de exceção em relação ao seu entorno. Segundo Barbosa et al. (2004), as matas serranas dos brejos de altitude podem ser consideradas uma disjunção ecológica da Mata Atlântica, ilhadas pela vegetação de Caatinga, o que torna esses remanescentes áreas de elevada biodiversidade.

Apesar da carência de levantamentos herpetológicos na serra da Aratanha, essa região é apontada como um importante hotspot para estudos de biogeografia e para a conservação da natureza segundo o MMA (PROBIO, 2006), com possíveis ocorrências de endemismos.

O levantamento da herpetofauna da RPPN Monte Alegre, realizado em maio de 2011, através de busca ativa e entrevista com moradores locais apresentou um total de 10 espécies de anfíbios distribuídas em cinco famílias e 23 espécies de répteis, distribuídas em sete famílias de lagartos (12 spp.) e quatro de serpentes (12 spp.).

Abaixo, alguns registros fotográficos das espécies.

FIGURA 34: Leptodactylus cf vastus.

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FIGURA 35: Proceratophrys cristiceps.

FIGURA 36: Leptodactylus mystaceus.

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FIGURA 37: Rhinella jimi.

FIGURA 38: Iguana - Iguana iguana.

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FIGURA 39: Caninana (Spilotes pullatus). Foto Carlos Ribeiro.

FIGURA 40: Mabuya nigropunctata.

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FIGURA 41: Anolis fuscoauratus.

Apesar de nenhuma das espécies registradas na RPPN serem apontadas como ameaçadas de extinção, a serra da Aratanha é considerada um ambiente de exceção (apenas 2% do Ceará é coberto de floresta úmida) e altamente ameaçado. A ocorrência de uma herpetofauna diferenciada em relação ao entorno, representando um testemunho de uma cobertura vegetal pretérita e interconectado com outros biomas, torna esse ambiente e sua fauna associada de extrema importância para a conservação.

TABELA 7: Listagem dos anfíbios registrados na RPPN Monte Alegre em maio de 2011.

Família Espécie Nome Popular Ordem Anura Bufonidae Rhinella jimi Cururu Rhinella granulosa Cururuzinho Cycloramphidae Proceratophrys cristiceps Sapo Boi Leiuperidae Physalaemus albifrons Sapinho Physalaemus cuvieri Sapinho Leptodactylidae Leptodactylus_cf_vastus Caçote Leptodactylus mystaceus Caçote Leptodactylus troglodytes Caçote Hylidae Hypsiboa raniceps Perereca Scinax x-signata Rãzinha

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TABELA 8: Listagem dos répteis registrados na RPPN Monte Alegre em maio de 2011.

Família Espécie Nome Popular SERPENTES Boa constrictor Jibóia; Cobra de veado Boidae Epicrates cenchria Salamanta Leptodeira annulata Cobra Dormideira Liophis dilepis Costelinha-de-vaca Oxybelis aeneus Cobra cipó bicuda Oxyrhopus trigeminus Falsa Coral Philodryas nattereri Corre campo; Cobra de Tabuleiro Philodryas olfersii Cobra Verde Colubridae Spilotes pullatus Caninana Elapidae Micrurus sp. Coral Verdadeira Bothrops erythromelas Jararaca Viperidae Crotalus durissus Cascavel LAGARTOS Iguanidae Iguana iguana Iguana Briba brasiliana Briba Gymnodactylus geckoides Briba Gekkonidae Lygodactylus klugei Briba Gymnophthalmidae Micrablepharus maximilliani Lagarto-do-rabo-azul Scincidae mabuya nigropunctata Calango liso Polychrotidae Anolis fuscoauratus Calanguinho Ameiva ameiva Tijubina Cnemidophorus ocellifer Lagartixa Teiidae Tupinambis merianae Tejo Tropidurus hispidus Calango Tropiduridae Tropidurus semitaeniatus Calango Listrado

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B2) Caracterização da Área do Entorno

B2.1. Caracterização do município de Pacatuba

B2.1.1 Histórico municipal

O município de Pacatuba tem sua origem histórica relacionada com a formação de núcleos populacionais ao pé da Serra da Aratanha, por volta dos meados do século XVII, mediante a concessão de sesmarias nas terras férteis de suas encostas. A existência em abundância de um pequeno mamífero conhecido pelo nome de paca conferiu-lhe o nome que, na língua tupi, significa: paca (animal) + tuba (lugar abundante), traduzindo-se, portanto como "lugar de muita paca".

As terras férteis das encostas da Serra da Aratanha atraíram numerosos moradores, possibilitando a formação do povoado que, posteriormente, transformou-se em Distrito e Município cujo gentílico é pacatubano ou pacatubense, sendo este desmembrado do seu Município de origem, Maranguape.

De acordo com o histórico da Formação Administrativa do local, o Distrito foi criado com a denominação de Pacatuba, pelo ato provincial de 18-03-1842 e por lei provincial nº 1305, de 05-1869 e elevado à categoria de vila com a denominação de Pacatuba, pela lei provincial nº 1248, de 0810-1869, desmembrado de Maranguape.

E após uma série de adesões e desmembramentos de territórios vizinhos, em divisão territorial datada de 01 de junho de 1995, o município é constituído de 4 distritos: Pacatuba, Monguba, Pavuna, Senador Carlos Jereissati, assim permanecendo em divisão territorial datada de 2005.

Fonte: IBGE

B2.1.2. Dados populacionais

O município de Pacatuba no ano de 1991 possuía uma população estimada de 60.148 habitantes, e sofreu uma redução para aproximadamente 51.696 de acordo com o

79 RPPN Monte Alegre censo de 2000, como se pode observar na TABELA 09. Contudo se compararmos com o censo de 2010 nota-se um aumento na população em aproximadamente 20.000 habitantes. Em relação às zonas habitadas, pode-se observar que houve uma redução da população na contagem da população do ano 2000, tanto na zona urbana, quanto na zona rural, e que a zona urbana sempre apresentou uma população muito superior à zona rural do município.

TABELA 9: População Residente – 1991/2000/2010.

Em relação ao número de domicílios particulares pode-se observar que há uma grande diferença entre a quantidade de domicílios urbanos (18.737) e rurais (2.556), mas que reforçam os dados da tabela anterior que mostra uma maior concentração de habitantes na zona urbana do município. (TABELA 10).

TABELA 10: Domicílios Particulares Permanentes por Situação e Média de Moradores – 2010.

Pacatuba é considerado um município de médio porte em função da sua população de aproximadamente 72.299 habitantes (2010). O GRÁFICO 14 mostra evolução da população do município de Pacatuba entre os anos de 1991 e 2007.

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GRÁFICO 14: Evolução populacional do município de Pacatuba – 1991/2007. Fonte: IBGE 2012.

Neste gráfico pode-se observar um declínio na população de Pacatuba entre os anos de 1991 e 1996, e a partir daí, mantendo um crescimento linear até o ano 2007.

B2.1.3. Índices de desenvolvimento

O município de Pacatuba apresenta uma ótima colocação no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH entre os municípios cearenses ocupando a 4ª colocação, de acordo com os dados de 2000 do IPECE/PNUD (TABELA 11).

TABELA 11: Índices de Desenvolvimento.

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A população considerada extremamente pobre do município de Pacatuba perfaz apenas 8,05% da população, aproximadamente 5.817 pessoas (TABELA 12), sendo estes residentes, em sua maioria na zona urbana do município.

TABELA 12: População Extremamente pobre: (com rendimento domiciliar per capita mensal de até R$ 70,00) – 2010.

B2.1.4. Economia

Pacatuba não possui um centro comercial expressivo, sendo a maior fonte de empregabilidade a indústria, com mais de 3.000 funcionários, seguidos pela Administração Pública, como podemos observar na TABELA 13, a seguir.

TABELA 13: Número de Empregos Formais – 2010.

As principais atividades econômicas (GRÁFICO 15) estão relacionadas à indústria e à prestação de serviços, estando a agropecuária na 3ª colocação. Estas duas

82 RPPN Monte Alegre primeiras atividades são responsáveis por mais de 98% do PIB municipal. A agricultura está baseada no cultivo de algodão, banana, caju, cana-de-açúcar, mandioca e feijão e a pecuária na criação de bovinos, suínos e avícolas.

GRÁFICO 15: PIB por setor do município de Pacatuba. Fonte: IBGE 2012.

Em relação à indústria, o município faz parte do Distrito Industrial de Fortaleza, com 26 indústrias. A seguir, na TABELA 14 seguem os dados municipais em relação ao PIB por setor do ano de 2008.

TABELA 14: Produto Interno Bruto – 2008.

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Como se pode observar na TABELA 14 o setor da indústria é responsável por quase 50% do PIB municipal, seguido pela prestação de serviços e agropecuária.

TABELA 15: Renda Domiciliar per capita (salário mínimo R$ 510,00) – 2010.

A TABELA 15 nos mostra que mais de 15.600 pessoas, de um total de 18.713, possuem renda até um salário mínimo, o que representa mais de 80% da população economicamente ativa.

B2.1.5. Turismo

As atividades turísticas do Município de Pacatuba estão voltadas principalmente para o ecoturismo. Lá o turista pode contar com uma série de trilhas ecológicas, como por exemplo, a trilha do Boaçu ou Trilha Serra da Aratanha, a trilha do Letreiro, e a trilha do CETREPF onde o visitante se depara com várias piscinas de água natural, um presente aos aventureiros após a longa caminhada. A Trilha Ecológica Serra da Aratanha, as trilhas da RPPN Monte Alegre com mirantes e quedas d’água, entre outras.

O município ainda possui a Gruta do Pimpim, bem como as águas cristalinas da Cachoeira Paraíso, a altivez do Pico do Letreiro e do Pico do Bicudo, e o Mirante, localizado a 1.400 metros do início da trilha do Boaçu, ponto que oferece uma visão única da cidade. O município dispõe também de esportes radicais como os voos livres, rapel e escalada, além dos recursos hídricos e a flora pacatubana que apresenta uma rica biodiversidade.

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B2.1.6. Cultura

O município de Pacatuba tem como principais eventos culturais:  O aniversário do Município;  O Recital de Natal;  O Fest Férias;  Pré-carnaval;  O Carnaval;  Pré-reveillon;  O Festival Saberes e Sabores; e  A Paixão de Cristo.

B2.1.7. Saúde

De acordo com os dados do IBGE 2010, o município de Pacatuba conta apenas com 15 estabelecimentos de saúde, sendo todos municipais, situação bastante diferente se comparada ao Estado do Ceará, como demonstrado no GRÁFICO 16.

GRÁFICO 16: Estabelecimentos de saúde do município de Pacatuba. Fonte: IBGE 2012.

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O município conta ainda com 255 profissionais de saúde, sendo a maioria deles, agentes comunitários de saúde e outros profissionais de nível médio, como consta na TABELA 16, a seguir.

TABELA 16: Profissionais de Saúde, Ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) – 2010.

B2.1.8. Educação

O município de Pacatuba apresentava no ano 2000 aproximadamente 5.700 analfabetos, entre as pessoas com 15 anos de idade ou mais (total 32.883). Estes dados nos mostram uma taxa de analfabetismo funcional de 17,48%. Já no ano de 2010, houve uma redução desta taxa, reduzindo proporcionalmente o número de analfabetos no município, como mostra a TABELA 17, a seguir.

TABELA 17: Taxa de Analfabetismo Funcional para Pessoas com 15 anos ou mais – 2000/2010.

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De acordo com os dados do INEP 2009, o município de Pacatuba possuía 543 docentes, distribuídos entre a pré-escola, o ensino fundamental e o médio, sendo o ensino fundamental o nível escolar com maior número de profissionais. O GRÁFICO 17 mostra a quantidade de professores por série no município de Pacatuba.

GRÁFICO 17: Docentes por série no município de Pacatuba. Fonte: IBGE 2012.

Em relação ao número de escolas por série, o município possui (INEP 2009) 73 escolas, sendo 30 pré-escolas, 37 de ensino fundamental e 6 de ensino médio (GRÁFICO 18).

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GRÁFICO 18: Número de escolas por série no município de Pacatuba. Fonte: IBGE 2012.

O município apresentou em relação ao número de matrículas (INEP 2009), um total de 14.207 matrículas, sendo 1.662 na pré-escola, 9.858 no ensino fundamental e 2.687 no ensino médio (GRÁFICO 19).

GRÁFICO 19: Matrículas por série no município de Pacatuba. Fonte: IBGE 2012.

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Em relação ao ensino superior o município de Pacatuba não possui instituições de ensino superior ou de ensino técnico.

B2.1.9. Infraestrutura

De acordo como os dados do IBGE (2010), o município de Pacatuba possui aproximadamente 18.713 domicílios particulares com abastecimento de água, sendo a maioria (17.884) ligada à rede geral de abastecimento, número que representa 95,57% dos domicílios, como demonstrado na TABELA 18 a seguir.

TABELA 18: Domicílios Particulares Permanentes Segundo as Formas de Abastecimento de Água – 2000/2010.

Dentre estes 18.713 domicílios, a maioria, aproximadamente 62% possuem sistema de esgotamento direcionado à rede geral (TABELA 19), sendo que as residências que possuem fossas sépticas, apenas 15,59% do total.

TABELA 19: Domicílios Particulares Permanentes Segundo os Tipos de Esgotamento Sanitário - 2000/2010.

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Em relação ao fornecimento de energia elétrica e coleta de lixo, dos 18.713 domicílios, 99,17% possuem fornecimento de energia elétrica e 93,96% têm o lixo coletado regularmente (TABELA 20).

TABELA 20: Domicílios Particulares Permanentes Segundo Energia Elétrica e Lixo Coletado - 2000/2010.

B2.2. Caracterização da Propriedade

A propriedade Rural denominada Sítio Monte Alegre e Pitaguary onde está inserida a RPPN Monte Alegre é formada por uma área plana ao pé da serra, onde estão situados os Sítios Boqueirão, Talismã e Casa da Torre e, a área da Reserva ocupando parte da vertente Leste da Serra de Aratanha, cortada pelo vale do riacho denominado Alegrete (FIGURA 42).

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FIGURA 42: Parte baixa do Sitio Monte Alegre. Fonte: Google Earth.

Na propriedade existem 11 casas construídas, sendo sete dos proprietários, algumas residências e outras utilizadas para temporadas. As demais são ocupadas pelos moradores que trabalham na propriedade. Estes moradores são responsáveis pela manutenção das atividades realizadas na propriedade como, gerência da granja, trabalhos domésticos, vigilância, coleta de frutas, manutenção das estradas, trilhas, cercas e outras infraestruturas e são orientados pelos proprietários. Em média cada família de moradores possui cinco pessoas.

No Sítio casa da Torre funciona uma granja que é fonte de renda da família. Além da produção avícola, há também uma produção de frutas, as quais são cultivadas rudimentarmente e intercaladas com a vegetação nativa ao longo dos sítios e nas partes mais elevadas.

A propriedade é cortada por trilhas que dão acesso à área da RPPN e propriedades vizinhas na região mais elevada da Serra da Aratanha. Durante a subida, existem vários mirantes que possibilitam avistar a sede municipal de Pacatuba, o município de Aquiraz e outras áreas da Região Metropolitana de Fortaleza. (FIGURA 43).

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FIGURA 43: Trilha de acesso à RPPN Monte Alegre. (Foto: Samuel Portela).

A propriedade está sob os cuidados da mesma família a seis gerações. A integridade florestal na reserva tem atraído pesquisadores botânicos, zoólogos e geólogos, fomentando o desenvolvimento da ciência. A tradição da pesquisa nesta área se iniciou na metade do Século XIX, com a passagem de cientistas renomados, como Louis Agassiz e Freire Alemão.

Trabalhos comunitários também vêm sendo desenvolvidos junto à população do entorno, sempre com enfoque ambiental. Durante um período funcionou uma escolinha de reforço escolar para crianças, tem atividades de tapeçaria com o aproveitamento de restos de malha de confecções, como da Marisol, cerâmica com decoração inspirada pelos desenhos de folhas e flores da Reserva, e é promovida uma seleção do lixo doméstico para reciclagem (FIGURA 44).

FIGURA 44: Atrativos da propriedade Monte Alegre (riachos, trilhas e artesanato). (Foto: Proprietários).

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B2.2.1. Pressões

O uso insustentável dos recursos naturais numa visão geral tem levado a uma rápida perda de espécies endêmicas, alteração de processos ecológicos chaves e a formação de núcleos de desertificação de regiões, o que aumenta a necessidade de estratégias de conservação nos domínios do bioma caatinga. Tanto a criação de novas UCs como a efetivação da gestão e manejo das existentes, é fundamental para a conservação e a ampliação do conhecimento acerca deste bioma.

Como citado anteriormente, o Sítio Monte Alegre e Pitaguary está localizado em uma zona apontada como uma área importante para estudos científicos desse Bioma, haja vista a sua variedade de fitofisionomias. Outro fator fundamental para proteção da RPPN nesta propriedade se traduz no fortalecimento da conservação da APA da Serra da Aratanha e a formação de corredores ecológicos com outra UCs da região, como é o caso da RPPN Chanceler Edson Queiroz no município de Guaiúba, a 5 km de Pacatuba. Estes corredores possibilitarão o fluxo gênico, além de ajudar na regeneração de outras áreas do entorno.

Durante os levantamentos de campo foram observadas algumas práticas que põem em risco a integridade da RPPN por estarem ameaçando a biodiversidade local. A seguir seguem as imagens das pressões sofridas pela RPPN Monte Alegre e as respectivas observações realizadas durante os levantamentos de campo na reserva.

O desmatamento de novas áreas para o uso agrícola e a retirada de madeira para comercialização, juntamente com a caça de animais silvestres, ainda são consideradas práticas comuns na região da Serra da Aratanha e localidades circunvizinhas. Estas atividades são as principais causadoras de impactos na região, juntamente com o crescimento desordenado do município. Estas pressões antrópicas, também muito comuns para toda a Caatinga, vêm causando grandes prejuízos ao meio ambiente como a redução da cobertura vegetal, erosão do solo e destruição de um ambiente natural propício para sobrevivência das espécies (FIGURA 45).

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FIGURA 45: Plantações de banana ao longo das trilhas no interior da RPPN Monte Alegre. (Foto: Samuel Portela).

A FIGURA 45 mostra uma prática muito comum nas regiões serranas do estado, onde as áreas mais úmidas são utilizadas para a produção de banana. Esta pratica contribui sobremaneira para a perda de solo e a redução da vegetação nativa. Na RPPN Monte Alegre esta atividade é feita em meio a mata, em pequenas áreas que estão sendo gradativamente desativadas. Nos programas de manejo serão sugeridas ações voltadas para a eliminação gradual desta atividade na área da RPPN considerando entretanto que as frutas são fonte de alimentação da fauna.

Em algumas áreas no interior da RPPN foram avistados resíduos sólidos deixados anteriormente por pessoas que transitam, muitas vezes sem autorização, no espaço recoberto pela reserva (FIGURA 46). Este tipo de poluição além de comprometer a qualidade dos recursos hídricos, afeta bastante a beleza cênica do local.

A FIGURA 47 mostra uma área que afetada por um incêndio na RPPN Monte Alegre. Embora este tenha ocorrido naturalmente, é necessário que medidas preventivas sejam tomadas para que a integridade da RPPN não seja comprometida. Estes incêndios além de causar danos ao meio ambiente com a poluição do ar, alteração do microclima do local e devastar a vegetação ainda põe em risco a área da RPPN e da propriedade como um todo, devido à grande facilidade de expansão do fogo e a ausência de aceiros.

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FIGURA 46: Lixo no interior da RPPN (pneu, sacolas, latas e garrafas de plástico). (Foto: Samuel Portela).

FIGURA 47: Vestígio de queimada no interior da RPPN Monte Alegre. (Foto: Samuel Portela).

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FIGURA 48: Fezes de animais domésticos nas trilhas de acesso à RPPN Monte Alegre. (Foto: Samuel Portela).

FIGURA 49: Espécie invasora no interior da RPPN Monte Alegre (Esquerda - D. Maculata) (Direita - Cryptostegia grandiflora). (Foto: Samuel Portela).

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O transporte das frutas coletadas no interior da propriedade é feito com o auxílio de animais domésticos (cavalos ou mulas), assim como para a circulação de pessoas entre propriedades vizinhas, sendo que esta última ocorre muitas vezes sem autorização ou conhecimento dos proprietários.

A espécie invasora mostrada na FIGURA 49 é extremamente resistente surge geralmente às margens dos rios e dominam a paisagem, recobrindo grandes áreas. Ela é muito comum na região Nordeste e tem comprometido seriamente muitos carnaubais no estado do Ceará. A erradicação desta espécie na área da propriedade será sugerida nos programas de manejo da RPPN Monte Alegre.

FIGURA 50: Acúmulo de lixo e lançamento de esgoto a céu aberto em comunidade vizinha (bairro São José) à Propriedade Monte Alegre. (Foto: Samuel Portela).

A ocupação desordenada no entorno da propriedade compromete a beleza cênica do local, a saúde dos moradores, contribui para contaminação do solo e dos recursos hídricos do município de Pacatuba. Medidas enérgicas devem ser tomadas pelos gestores públicos para que danos deste tipo, causados ao meio ambiente, sejam reparados possibilitando uma melhoria na qualidade de vida da população (FIGURA 50).

Por não ter área de amortecimento, o entorno da RPPN Monte Alegre é protegido apenas pelo restante da propriedade não recoberta pela reserva, sendo

97 RPPN Monte Alegre fundamental que a vizinhança (comunidades do entorno e confinantes) zele pela conservação de suas propriedades e evitem práticas que possam comprometer a integridade da RPPN Monte Alegre.

Por fim, durante os levantamentos de campo integrantes da equipe de elaboração do Plano de Manejo se depararam com caçadores portando armas de fogo no interior da propriedade, fato que comprova que na RPPN, ainda há caça e captura de animais silvestres, prática que compromete a biodiversidade local. Muitas vezes estes animais são capturados ou abatidos em áreas de refúgio, onde há uma vegetação conservada, e fontes de alimentos para suprir a demanda dos animais que ali se abrigam como é o caso da RPPN Monte Alegre. É fundamental que trabalhos sejam desenvolvidos com as comunidades circunvizinhas no intuito de alertar para a existência de uma Unidade de Conservação e que os órgãos ambientais intensifiquem a fiscalização na área.

B3). Caracterização da RPPN

A RPPN Monte Alegre foi criada pela Portaria 151 do IBAMA em 24 de outubro de 2001. A reserva possui 263,17 hectares e encontra-se inserida em uma propriedade Síto Monte Alegre e Pitaguary localizada na APA da Serra da Aratanha, sendo sua parte menor situada no município de Maracanaú e a parte maior no município de Pacatuba.

A RPPN Monte Alegre apresenta boas condições de conservação, e propicia um ambiente para refúgio de muitas espécies normalmente encontradas nos domínios do Bioma Caatinga e pode ser considerada de relevante interesse sociocultural e ambiental por conta das ações que serão desenvolvidas pelos seus proprietários e principalmente devido sua localização, visto que a mesma está localizada em uma área classificada como de prioridade extremamente alta, de acordo com o mapeamento do projeto “Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Bioma Caatinga – PROBIO1” (2006) (FIGURA 51).

1 O Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira – PROBIO tem por objetivo a identificação de ações prioritárias e disseminação de informações sobre diversidade biológica brasileira.

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FIGURA 51: Localização da RPPN Monte Alegre no Mapeamento do projeto “Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Bioma Caatinga – PROBIO” (2006).

Como pode ser observada na FIGURA 51, a localização da RPPN Monte Alegre é estratégica do ponto de vista ambiental, pois além de estar localizada em uma área classificada como de prioridade extremamente alta, fazer parte da APA da Serra da Aratanha e encontrar-se distante 5 km de outra RPPN no município de Guaiuba, denominada Chanceler Edson Queiroz, essa reserva se estende em direção a outras áreas classificadas como de prioridade extremamente alta no Maciço de Baturité. Este Maciço tem parte de sua área recoberta pela APA da Serra de Baturité e outras duas Unidades de Conservação, a RPPN Serra da Pacavira e RPPN Sítio Palmeiras, favorecendo a conexão entre essas regiões, servindo como corredor ecológico.

Desta forma, baseado na diversidade biológica levantada nesta propriedade, observa-se que esse ambiente possui grande relevância para manutenção do ecossistema local, bem como refúgio para as espécies ameaçadas, já que a RPPN Monte Alegre é portadora de uma vegetação em ótimo estado de conservação, com espécies raras e de grande porte.

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B3.1. Visitação

Na RPPN Monte Alegre as visitações ocorrem esporadicamente e não há ainda um sistema implantado de monitoramento e gestão das mesmas. As visitas ocorrem mediante autorização prévia dos proprietários e têm, na maioria das vezes, objetivos ecoturísticos, educacionais e científicos. A área da RPPN também é visitada por pesquisadores de instituições de ensino e ONGs que buscam fazer levantamentos, principalmente, de fauna e flora da região, haja vista que a RPPN Monte Alegre apresenta um remanescente rico de biodiversidade.

B3.2. Pesquisa e Monitoramento

Como citado no item anterior, à área da RPPN Monte Alegre é um remanescente rico de biodiversidade, sendo explorada cientificamente ao longo dos anos por pesquisadores de instituições de ensino e ONGs que buscam fazer levantamentos, principalmente, de fauna e flora da região e também, para a elaboração deste documento que consiste no Plano de Manejo da RPPN Monte Alegre.

Ainda não existe uma rotina de monitoramento na reserva e, até o momento em que estavam sendo feitos os estudos para a elaboração deste Plano de Manejo, o monitoramento é realizado pelos proprietários, moradores e por órgãos ambientais federais de forma esporádica.

B3.3. Ocorrência de Fogo

Durante os estudos para a elaboração deste documento, pôde-se constatar que na RPPN Monte Alegre houve uma ocorrência recente de fogo, contudo este ocorreu naturalmente a causou pequenos danos à reserva. Na propriedade não existe a agricultura de sequeiro, muito comum em todo o estado do Ceará, onde é constante a prática das queimadas para a limpeza das áreas de cultivo. Sendo assim na RPPN não há tanta ameaça de fogo, mas devido à ausência de aceiros e a facilidade de propagação do fogo é necessário que seja dada uma maior atenção a este tópico no capítulo de programas de gestão da Reserva.

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B3.4. Atividades Desenvolvidas na RPPN

Embora a RPPN Monte Alegre ainda não possua uma infraestrutura focada para o recebimento de visitantes, atualmente foram constatadas atividades de visitação na RPPN em direção a alguns dos pontos notáveis, com objetivos turísticos e de lazer, mas principalmente por motivos de pesquisas científicas. De acordo com dados obtidos em campo e com os moradores dos sítios, ainda existe alguma atividade de caça na RPPN, porém esta foi reduzida consideravelmente após a criação da Reserva.

Foi constatado ainda, que ao longo das trilhas que cortam a RPPN Monte Alegre e em alguns outros locais da propriedade, há o cultivo de banana. Esta atividade será alvo de discussão para a elaboração dos programas de gestão da RPPN, onde será proposta a extinção desta prática na área da Reserva.

B3.5. Sistema de Gestão

Os proprietários e os filhos são os responsáveis pela gestão da UC e as atividades de manutenção são desenvolvidas pelos trabalhadores dos sítios que compõem a propriedade e que residem no local. Estes moradores agem seguindo as orientações dos proprietários. Pretende-se com este PM a gestão da área com planejamento mais aprofundado e efetivo.

B3.6. Pessoal

Na RPPN Monte Alegre, ainda não possui uma equipe específica para os seus trabalhos de fiscalização e gestão. Estas demandas serão discutidas no Capítulo destinado aos programas. Até o momento estas atividades voltadas para a manutenção, fiscalização e gestão da RPPN são realizadas de forma esporádica pelos proprietários e moradores dos Sítios que compõem propriedade.

101 RPPN Monte Alegre

B3.7. Infraestrutura

Na propriedade, no entorno da RPPN, existem 11 casas construídas, sendo sete destas ocupadas pelos proprietários e distribuídas entre os três sítios que a compõem. Em relação aos proprietários, parte deles residem no local. As outras casas são ocupadas pelos moradores e seus familiares que aí trabalham. Estas casas em sua maioria possuem fossas sépticas, energia elétrica e utilizam como matriz energética para o preparo da alimentação o gás butano.

Na propriedade também foi construída uma granja situada no Sítio Casa da Torre. Além da produção avícola, há também uma produção de bananas e frutas diversas, espalhadas em diversos pontos da propriedade, ao longo dos sítios e nas partes mais elevadas, inclusive em alguns pontos da RPPN. Os bananais vêm sendo desativado para que a vegetação natural volte a ocupar as áreas.

A propriedade é cortada por estradas que não são calçamentadas e ligam os sítios e a granja. Também possui várias trilhas que dão acesso à área da RPPN e propriedades vizinhas na região mais elevada da Serra da Aratanha. (FIGURA 52).

FIGURA 52: Algumas estradas e trilhas que cortam a propriedade. (Foto: Samuel Portela).

A propriedade não é totalmente cercada, fato comum nas regiões serranas o que dificulta sobremaneira a gestão da RPPN e diminui a proteção da mesma contra a sua

102 RPPN Monte Alegre utilização pelos animais domésticos e possibilita a entrada de pessoas não autorizadas no seu interior.

A propriedade possui coleta e seleção de lixo para reciclagem, material este recolhido por pessoas do entorno que trabalham com a sua reutilização.

B3.8. Equipamentos e Serviços

Até o momento a RPPN Monte Alegre não conta com equipamentos destinados aos trabalhos na Reserva, contudo para as atividades de pesquisa científica, é disponibilizada pelos proprietários, uma das casas do Sítio Casa da Torre para hospedar e dar suporte aos pesquisadores. Também são disponibilizados alguns funcionários para auxiliar a equipe nos trabalhos de campo e preparação da alimentação durante os períodos em que estiver hospedada.

B3.9. Recursos Financeiros

Todos os esforços de apoio financeiro desta RPPN partem principalmente de investimentos privados de seus proprietários e de editais de apoio à gestão de RPPNs (Aliança da Caatinga).

B3.10. Formas de Cooperação

Para a realização das pesquisas e elaboração deste documento foi estabelecida parceria com a Associação Asa Branca, Associação Caatinga e segundo Edital da Aliança da Caatinga, patrocinado pela MPX.

103 RPPN Monte Alegre

B4) Possibilidades de Conectividade

A RPPN Monte Alegre localiza-se ao Norte da APA da Serra da Aratanha, em terrenos de grande declividade, abriga várias nascentes de água, tem um açude perto do seu topo e é cortada por um riacho. Mais ao Sul da APA, já no município de Guaiuba, existe outra RPPN, a Chanceler Edson Queiroz.

A possibilidade de conexão entre essas áreas, seja pela formação de corredores ecológicos, seja pela criação de novas reservas auxiliaria muitíssimo na conservação da biodiversidade, aumentando o fluxo de organismos entre as diferentes zonas e fornecendo mais locais de refúgio e territórios maiores para animais de grande porte.

O nível de conectividade da vegetação de uma determinada paisagem condiciona, em grande medida, a conservação da biodiversidade desta (Carvalho, 2010). Entretanto, a perda e a fragmentação de habitats são as principais causas da erosão de biodiversidade no mundo e, nesse contexto, os corredores ecológicos têm se tornado ferramentas populares no esforço de mitigar a fragmentação e conservar a biodiversidade (Hess; Fischer, 2001).

As faixas de vegetação plantadas ao redor dos fragmentos poderiam em certos casos, conforme planejamento prévio, ser estendidas na direção de outros núcleos de vida silvestre, como por exemplo: fragmentos florestais remanescentes, matas ciliares ou áreas de reserva permanente, com a finalidade de se estabelecer elos entre as diversas áreas protegidas (Poggiani; Oliveira, 1998).

A manutenção da diversidade natural garante o funcionamento equilibrado do ambiente e pode funcionar como defesa também contra espécies invasoras que comumente aparecem em locais alterados. Algumas destas espécies invasoras foram observadas na Reserva ou imediações, como Cipó de leite (Cryptostegia grandiflora), o Ciúme (Calotropis procera) vistos nas FIGURAS 53 e 54, e espécies popularmente conhecidas como “comigo- ninguém-pode” e a “viuvinha”. Isto deverá ser prioritário no PM, como formas de controle de expansão e até erradicação total destas espécies. A conectividade entre as áreas e as medidas mencionadas anteriormente poderiam auxiliar no processo de evitar que tais espécies se alastrem causando prejuízos às nativas.

104 RPPN Monte Alegre

FIGURA 53: Cipó de leite (Cryptostegia FIGURA 54: Ciúme (Calotropis procera) grandiflora) (coordenadas UTM (coordenadas UTM 541122/9562744). 541122/9562744).

B5) Declaração de Significância

A RPPN Monte Alegre possui grande beleza cênica, seu ponto mais alto, a pedra do letreiro, situada a mais de 700 metros de altitude, permite a visibilidade de toda a região ao redor como pode ser visto nas FIGURAS 55 e 56.

A área tem muito potencial para atrair visitantes e servir como um estímulo à preservação ambiental. Visitações associadas a projetos de educação ambiental, envolvendo principalmente escolas e habitantes da região poderiam trazer ainda mais significado para a Reserva. Desta maneira, além de ser um local de refúgio para animais e proteção para os vegetais, seria também um espaço para integrar o homem e o meio ambiente.

É inegável também o potencial ornamental de muitas espécies encontradas na Reserva tais como: Gustavia augusta (FIGURA 24), Hippeastrum sp. (FIGURA 25), Cunhã (Centrosema sp.) (FIGURA 57), Beijo (FIGURA 58) e diversos tipos de pacaviras, orquídeas e bromélias dentre muitos observados e que aumenta a beleza e a atratividade do local.

105 RPPN Monte Alegre

FIGURA 55: Pedra do letreiro – ponto mais FIGURA 56: Vista da pedra do letreiro. alto da RPPN Monte Alegre.

FIGURA 57: Flor da herbácea Cunhã – FIGURA 58: Flor da herbácea Beijo, Centrosema sp. utilizada por seu potencial ornamental.

Além de potencial ornamental, muitas espécies têm aplicações medicinais. Algumas delas mencionadas pelo senhor Luiz, como conhecimentos passados através das gerações. Conhecimentos estes, etnobotânicos, são estritamente ligados à preservação, uma vez que dependem de plantas específicas só encontradas na região. Todas essas informações, uma vez degradada a vegetação, seriam perdidas também, causando um prejuízo irreparável.

A vegetação da Reserva também auxilia na proteção do solo. Na região as áreas apresentam grandes declividades e são encontradas também áreas de topo, que são vulneráveis à erosão pelas chuvas. As raízes formam uma verdadeira rede que prende e agrega as partículas de solo, reduzindo a erosão e evitando enxurradas. Caso o solo

106 RPPN Monte Alegre estivesse descoberto poderiam acontecer catástrofes com grandes deslizamentos de terra e soterramento de áreas vizinhas.

Muitas espécies frutíferas fornecem alimento não só para as populações humanas, como exemplo o Bacupari (Garcinia gardneriana), quanto para os animais como a Morcegueira (Indetrminada sp. 22). Fornecendo recursos essenciais para a manutenção dos processos ecológicos fundamentais do ambiente.

Além dos pontos citados, temos também como fator que evidencia importância da Reserva, o fato dela ser refúgio e um provável resquício de Mata Atlântica em meio ao semiárido. É um local, portanto, que apresenta uma gradação peculiar que vai desde espécies típicas na caatinga como o Juazeiro (Ziziphus joazeiro) e o Pacotê (Cochlospermum vitifolium) (FIGURA 59), nas regiões mais baixas, até outras mais comuns em florestas, como a Mata Atlântica, tais como as bromeliáceas (FIGURA 60), amarilidáceas, aráceas, entre outras.

Esse conjunto de fatores torna fundamental a preservação da Reserva e estimula a implantação de novas reservas na área com intuito de proteger o equilíbrio e garantir proteção à biodiversidade.

FIGURA 59: Flor do Pacotê - FIGURA 60: Bromélias epífitas, comuns Cochlospermum vitifolium – espécie em áreas úmidas como florestas - comum na caatinga. próximas ao ponto de coordenadas UTM 0541455 9562253.

107 RPPN Monte Alegre

PARTE C

PLANEJAMENTO

C1) Objetivos específicos de manejo

C2) Zoneamento

C2.1 Zona Silvestre

C2.2 Zona de Proteção

C2.3 Zona de Visitação

C2.4 Zona de Administração

C2.5 Zona de Transição

C2.6 Zona de Recuperação

C3) Programas de Manejo

C3.1 Programa de Administração

C3.1.1 Subprograma de Infraestrutura e equipamentos

C3.2 Programa de Proteção e Fiscalização

C3.3 Programa de Pesquisa e Monitoramento

C3.4 Programa de Visitação

C3.5 Programa de Sustentabilidade Econômica

C3.6 Programa de Comunicação

B4) Projetos Específicos

B5) Cronograma de atividades e custos

108 RPPN Monte Alegre

C - PLANEJAMENTO

C1) Objetivos específicos de manejo

Os objetivos específicos da RPPN Monte Alegre são:

 Proteger as paisagens naturais de notável beleza cênica;  Preservar as fitofisionomias existentes na área;  Proteger espécies da fauna, principalmente as espécies raras e/ou ameaçadas de extinção;  Proporcionar a pesquisa científica;  Aumentar a área protegida do bioma Caatinga e Mata Atlântica;  Realizar visitas na área da RPPN.

C2) Zoneamento

O zoneamento é o ordenamento territorial da Unidade de Conservação e estabelece usos diferenciados para cada área, de acordo com as características físicas, geológicas e estruturais, bem como suas potencialidades e especificidades, como atrativos culturais, belezas cênicas. Então, para o gestor, o principal objetivo do zoneamento ambiental é servir como um guia da UC, ou seja, um instrumento que permite integrar o uso limitado da RPPN com a conservação e manutenção da integridade da Reserva em longo prazo.

Para o desenvolvimento do zoneamento da RPPN Monte Alegre foram delimitadas áreas com finalidades específicas de uso e ocupação com o propósito de aumentar o grau de proteção da UC, através da determinação de normas de uso nas áreas internas e circunvizinhas. Então, seguem as categorias destacadas por Ferreira et al. (2004) e apresentadas no Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo para RPPNs.

109 RPPN Monte Alegre

C2.1 Zona Silvestre

Área considerada de extrema importância. Apresenta poucos indícios de alterações e possui alto grau de conservação, que se destina à preservação da biodiversidade local, monitoramento e pesquisas científicas, além de servir como banco natural de sementes para processos naturais de sucessão secundária na zona de regeneração.

Não será permitido na Zona Silvestre:

 Poluição sonora;  Presença de animais domésticos;  Presença de gado;  Visitas de pessoas não autorizadas;  Coleta de plantas, caça de animais silvestres ou extração de quaisquer outros produtos naturais sem a devida autorização do órgão ambiental competente ou do proprietário;  Soltura de animais e plantio de espécies exóticas;  Invasões ou instalação de assentamentos.

C2.2 Zona de Proteção

Áreas com poucas intervenções antrópicas, destinadas à pesquisa, monitoramento da biodiversidade, proteção dos recursos naturais, bem como contribuírem para dispersão das espécies em áreas que se encontram em estádio de regeneração.

Não será permitido na Zona de Proteção:

 Quaisquer atividades ou intervenções antrópicas que comprometam a preservação ambiental, processos naturais e a evolução do ecossistema;  Visitação, com exceção de pesquisadores com permissão do gestor da unidade e do órgão ambiental competente;  Coleta de plantas, caça de animais silvestres ou extração de produtos naturais sem a devida autorização do órgão ambiental competente ou do proprietário;

110 RPPN Monte Alegre

 Soltura de animais e plantio de espécies exóticas;  Invasões ou instalação de assentamentos.

Por esses motivos, tal área necessita de uma fiscalização intensa a fim de coibir as pressões antrópicas.

C2.3 Zona de Visitação

Zona constituída de áreas naturais, permitindo alguma forma de alteração humana. São destinadas à conservação e às atividades de visitação. Deve conter potencialidades, atrativos e outros atributos que justifiquem a visitação. As atividades abrangem educação ambiental, conscientização ambiental, turismo científico, ecoturismo, recreação, interpretação, lazer e outros. Essa zona permite a instalação de infraestrutura, equipamentos e facilidades, como centro de visitantes, trilhas, painéis, mirantes, pousadas, torres, trilhas suspensas, lanchonete, alojamentos e hotel, para as quais se devem buscar adotar alternativas e tecnologias de baixo impacto ambiental.

Não será permitido na Zona de Visitação:

 Quaisquer atividades ou intervenções antrópicas que comprometam a preservação ambiental, processos naturais e a evolução do ecossistema;  Coleta de plantas, caça de animais silvestres ou extração de produtos naturais sem a devida autorização do órgão ambiental competente ou do proprietário;  Soltura de animais e plantio de espécies exóticas;  Invasões ou instalação de assentamentos.

C2.4 Zona de Transição

Consiste em uma faixa ao longo do perímetro da reserva. Representa a área responsável por promover o amortecimento de intervenções antrópicas e contribuir com a integridade da RPPN.

Não será permitido na Zona de Transição:

111 RPPN Monte Alegre

 Qualquer tipo de visitação sem o acompanhamento do gestor ou monitor da RPPN;  Coleta de plantas, caça de animais silvestres ou extração de produtos naturais sem a devida autorização dos órgãos ambientais competentes;  Pesquisas sem autorização do órgão ambiental competente e do proprietário;  Soltura de animais e plantio de espécies exóticas;  Invasões ou instalação de assentamentos;  Remoção da cobertura vegetal para plantio de culturas de subsistência.

MAPA 7: Zoneamento Ambiental da RPPN Monte Alegre.

112 RPPN Monte Alegre

113 RPPN Monte Alegre

C3) Programas de Manejo

Os Programas de Manejo geram diretrizes e agrupam atividades para uma adequada gestão da RPPN. A estrutura do Plano de Manejo em programas permite que as atividades sejam descritas em grupos temáticos, facilitando a gestão e o manejo da RPPN.

Os programas descritos são os de Administração, Visitação, Proteção e Fiscalização, Pesquisa e Monitoramento, Sustentabilidade Econômica, Comunicação e Integração com a Área de Influência. Para um melhor detalhamento, o Programa de Administração deverá apresentar o Subprograma de infraestrutura e equipamentos.

Cada programa constará da seguinte estrutura:

 Objetivos e Resultados Esperados: são as situações positivas e desejadas;  Atividades, Subatividades e Normas: são as ações a serem desenvolvidas e acompanhadas de normas específicas;

Para a distinção das atividades e normas em cada programa e subprograma, deve-se considerar a legenda de marcadores abaixo:

LEGENDA N. Atividades N.n. Subatividades  Normas

Normas Gerais da RPPN Monte Alegre

 Os projetos específicos de pesquisa e monitoramento deverão ser elaborados e desenvolvidos, preferencialmente, sob orientação de profissionais especializados;

 São proibidas a caça e coleta de espécimes da fauna e da flora, ressalvadas aquelas com finalidades científicas, desde que autorizadas pelos proprietários e, obrigatoriamente, pelo ICMBio;

 Caso o desenvolvimento de alguma atividade apresente indícios de danos à RPPN, deverá ser suspensa para avaliação, bem como para elaboração e adesão de procedimentos corretivos;

114 RPPN Monte Alegre

 São proibidos o ingresso e a permanência na RPPN, de pessoas portando armas, materiais ou instrumentos destinados ao corte, caça ou quaisquer outras atividades prejudiciais à fauna, flora ou recursos naturais;

 É proibida a entrada de animais domésticos na RPPN.

Normas Gerais para a Propriedade

 Sugere-se o controle ou a erradicação de animais domésticos (gatos e cachorros predadores de animais nativos) na RPPN e em seu entorno imediato.

 Sugere-se a implantação de um viveiro de quarentena para readaptação de animais silvestres apreendidos para posterior soltura, sendo sua construção orientada pelo órgão ambiental competente.

C3.1 Programa de Administração

OBJETIVO

O programa de administração tem como objetivo gerar diretrizes que garantam o funcionamento da RPPN. Suas atividades e normas relacionam-se aos procedimentos administrativos a serem adotados, organização, controle, manutenção da área e, ainda, àquelas relacionadas à sua monitoria. Tendo em vista os principais objetivos da RPPN Monte Alegre, a saber: visitação, pesquisa e monitoramento para a conservação da biodiversidade; a sua gestão apropriada demandará, minimamente, um funcionário (que pode ser o próprio proprietário) e um ponto de apoio específico, que poderá ser na própria sede do Sitio Monte Alegre e Pitaguary. A gestão da RPPN estará sob a responsabilidade desse funcionário, que deve atuar de acordo com o disposto nesse plano de manejo.

As atividades a serem exercidas na RPPN englobam os recursos humanos, capacitação dos gestores e funcionários, bem como o estabelecimento de atividades de implantação, aquisição e manutenção de infraestrutura e equipamentos, em subprograma específico.

O responsável pela RPPN deverá:

115 RPPN Monte Alegre

Pesquisa e Monitoramento:

- Agendar expedições de campo de pesquisas;

- Controlar o fluxo de pessoas no interior da RPPN;

- Desenvolver e manter sistema de armazenamento de informações, ou seja, o acervo da RPPN, que será composto por:

 Documentação relativa à UC, como portaria do IBAMA/ICMBio, ADA, CCIR, ITR, eventuais laudos e pareceres técnicos, etc.;

 Projetos e respectivas autorizações de pesquisas, relatórios, publicações científicas, materiais audiovisuais, etc.;

 Convênios, acordos de cooperação técnica, termos de parcerias e outros instrumentos formais de cooperação técnica e científica;

 Manter infraestrutura de apoio a pesquisas e monitoramento, como alojamento para pesquisadores, trilhas, etc.

Visitação:

- Agendar as visitas;

- Estabelecer regras de visitação, tais como número de pessoas, horários de visitação, etc.;

- Cadastrar os visitantes e armazenar as informações referentes às visitas.

Comunicação:

- Construir e manter uma boa relação com as comunidades locais e instituições de pesquisa;

- Identificar especialista em comunicação e marketing, para criação da identidade visual e folheto de divulgação da RPPN junto às instituições acadêmicas, as comunidades locais e visitantes em geral.

116 RPPN Monte Alegre

RESULTADOS ESPERADOS

. Pessoas que trabalham na RPPN capacitadas;

. Rotinas de serviço estabelecidas;

. Orçamentos anuais elaborados;

. Sinalização implantada.

ATIVIDADES E NORMAS

1. Designar pessoa responsável pela gestão da RPPN

 O gestor da Reserva deverá ser capacitado e munido de conhecimentos suficientes sobre a área e os procedimentos legais de gestão.

2. Designar responsável (is) pela execução das atividades relacionadas à proteção, fiscalização, visitação e manejo de recursos da RPPN

 Este (s) responsável (is) deverá (ão) desempenhar as atividades listadas nos respectivos Programas de Manejo, além de suprir de mão-de-obra todas as demandas cotidianas da RPPN;

 Em caso de contratações, estas deverão ser realizadas conforme a legislação trabalhista.

3. Capacitar os funcionários que trabalham na RPPN no desenvolvimento das atividades

 Os funcionários deverão ser capacitados em temas relacionados à função de guarda- parque e guia turístico;

 Unir-se com os demais proprietários de RPPNs e chefes de UCs do município e adjacências, visando a realização dos cursos de forma conjunta, constituindo uma boa estratégia para a redução dos custos e para compartilhar experiências.

4. Aderir a rotinas e escalas de serviço

 Para a proteção e fiscalização deverão ser consideradas as demandas de serviço em diferentes épocas sujeitas aos seguintes fatores: a) riscos de incêndios, b) períodos mais

117 RPPN Monte Alegre propícios para apanha de animais e caça, c) rondas e segurança intensificada, d) acompanhamento de técnicos, pesquisadores no desenvolvimento de pesquisas, demais visitantes, dentre outros;

 Para o funcionamento do sistema de proteção, fiscalização e manejo de recursos, deverão ser adquiridos equipamentos e materiais específicos para este fim. A relação de equipamentos pode ser consultada no Subprograma de Infraestrutura e Equipamentos.

5. Elaborar o orçamento prevendo todas as despesas para atender a estrutura e demandas da RPPN.

 O orçamento deverá ser elaborado anualmente.

C3.1.1. Subprograma de Infraestrutura e Equipamentos

OBJETIVO

O Subprograma de Infraestrutura e Equipamentos visa garantir a instalação da infraestrutura, bem como a aquisição de equipamentos para o atendimento das atividades previstas nos demais programas.

Normas gerais para implantação de infraestrutura

 Deverão ser consideradas as APPs, respeitando os limites estabelecidos na legislação ambiental vigente;

 A infraestrutura deverá ser implantada mediante projeto específico;

 Os projetos deverão prever todos os impactos possíveis, principalmente erosões e contaminação das águas subterrâneas e superficiais;

 As infraestruturas serão instaladas privilegiando o sombreamento natural, as curvas de nível e, de preferência, utilizando materiais e a mão-de-obra local;

 Todo o conjunto seguirá um padrão estético e harmônico com o ambiente circundante, considerando as características histórico-culturais da região;

118 RPPN Monte Alegre

 Deverá ser prevista a disposição adequada de resíduos de construção, tubulações e outros resíduos;

 Deverá ser promovida a manutenção regular de toda a infraestrutura e equipamentos.

Normas gerais para aquisição, utilização e manutenção de equipamentos e materiais permanentes.

 Os materiais de segurança e apoio ao combate a incêndios serão de boa qualidade e armazenados em depósito específico;

 Deverá ser organizado e mantido um inventário atualizado de todo o patrimônio, bem como uma rotina de manutenção;

 Todos os produtos que vierem acompanhados de manual deverão ter suas indicações de uso praticadas obrigatoriamente pelos usuários, visando sua otimização e durabilidade.

ATIVIDADES E NORMAS

1. Adequar a trilha para minimização dos impactos e contenção de erosões

 Deverão ser melhorados os drenos já existentes, visando minimizar o escoamento superficial da água nas épocas de chuva;

 Em locais de descida sem afloramentos rochosos, deverão ser dispostas pedras formando uma escadaria e saídas laterais para água, visando tanto a redução de acidentes quanto a utilização de um caminho único;

 Na trilha, onde o trecho possui raízes expostas, deverá ser construída uma passarela gradeada de forma que o seu crescimento não seja prejudicado;

 Nos casos de focos de erosão deverá haver um trabalho mais intenso, com o manejo de troncos caídos e ações de redução da velocidade da água e carreamento do solo;

 Realizar o plantio de mudas nativas nas encostas das trilhas, quando for o caso, reduzindo processos erosivos.

2. Implantar a sinalização na área de acesso

119 RPPN Monte Alegre

 A sinalização deverá ser de dois tipos: indicativa e informativa. A indicativa deverá orientar a população sobre a existência de uma Reserva no local. A informativa tem a função de ilustrar (mapas e fotos) e informar/interpretar, por meio de painéis, por exemplo, os dados da RPPN e da região, tais como dados da flora e fauna, bem como histórico/culturais;

 Para os dois casos, deverão ser priorizados materiais rústicos e harmônicos ao meio ambiente.

3. Implantar marcos nos limites da RPPN com a área remanescente da propriedade

 Todos os vértices mapeados no memorial descritivo da RPPN correspondentes aos limites da Reserva com a área remanescente do Sitio Monte Alegre e Pitaguary devem ser materializados por meio de marcos de concreto.

4. Adquirir equipamentos e materiais permanentes de apoio às atividades de primeiros socorros, proteção e fiscalização, tais como: a. Proteção e fiscalização: calças e jaquetas resistentes, camisas identificando as pessoas da RPPN, botas, chapéus, luvas de couro, cantis, lanternas, canivetes, facões, radio comunicadores e kit primeiros socorros. b. Combate a incêndios florestais: equipamentos individuais (EPIs), abafadores, enxadas, facões, bombas costais, dentre outros.

 É obrigatória a adoção de uniformes e equipamentos de segurança específicos para as atividades de proteção e fiscalização, garantindo o conforto e segurança dos funcionários;

 Para evitar acidentes é necessário o uso de botas de couro ou borracha e luvas de couro, principalmente quando o funcionário estiver manuseando diretamente com entulhos ou materiais estocados. Essas providências reduziriam sensivelmente a quantidade de acidentes, principalmente com animais peçonhentos;

 A validade dos medicamentos que compõem o kit de primeiros socorros deverá ser constantemente verificada.

120 RPPN Monte Alegre

C3.2 Programa de Proteção e Fiscalização

OBJETIVO

O Programa visa garantir a proteção dos ecossistemas e a manutenção da biodiversidade.

RESULTADOS ESPERADOS

 Rondas periódicas de fiscalização;

 Sistema de Prevenção e combate a incêndios;

 Placas informativas em pontos estratégicos da RPPN;

 Abertura de trilhas rústicas para a fiscalização;

 Programar ações de prevenção e controle de erosões em trilhas.

ATIVIDADES E NORMAS

1. Realizar rondas periódicas de fiscalização

 Deverão ser realizadas rondas periódicas de combate à caça e à coleta ilegal de plantas nas trilhas desativadas e limites da propriedade;

 O (s) responsável (is) pela realização das rondas deverá (ão) ser capacitado (s) para o desempenho das atividades.

2. Implantar o sistema de combate a incêndios

 Firmar parceria com a brigada de incêndio que atende na região para combater eventuais focos de incêndio, através do órgão ambiental competente;

 Estabelecer contato com os proprietários vizinhos à RPPN, visando alertá-los do risco do uso do fogo e do risco de incêndios na Reserva;

121 RPPN Monte Alegre

 Denunciar queimadas não autorizadas no entorno da reserva à SEMACE e ao Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PREVFOGO/IBAMA);

 O funcionário responsável pela RPPN deverá ser capacitado para atuar no combate a eventuais focos de incêndio, com o apoio do PREVFOGO/IBAMA;

 Deverão ser utilizados aceiros como medida de contenção.

3. Inserir placas informativas em pontos estratégicos da RPPN

 Instalar placas de sinalização de advertência informando a existência no local de uma Reserva;

 Instalar placas no perímetro da Reserva próximo às comunidades do entorno alertando para a não realização de práticas que possam colocar em risco a Reserva, tais como queimar lixo, entrar sem autorização e controle de animais de criação.

4. Implementar ações de prevenção e controle de erosões em trilhas

 Deverão ser identificados pontos estratégicos de intervenção, visando minimizar os impactos;

 Deverão ser adotadas ações de redução da velocidade de águas pluviais a fim de diminuir sua capacidade de carrear o solo. O manejo de troncos e galhos caídos constitui ótima barreira tanto para diminuir a velocidade da água, como para fechar atalhos e caminhos paralelos;

 O material orgânico do solo não deve ser retirado totalmente, pois forma camada natural de proteção ao impacto mecânico da chuva, prevenindo erosões;

 A drenagem da trilha deverá ser feita por meio de canais laterais, em sentido perpendicular ou diagonal a trilha (tanto em nível, quanto subterrâneo);

 Valas e barreiras oblíquas à superfície da trilha deverão ser adotadas facilitando o escoamento e diminuindo a velocidade da água;

 O espaço limite para fazer o desbaste da vegetação deverá ser o corredor da trilha que inclui as áreas acima e nas laterais do caminho, sendo utilizada a roçagem, capina e poda como as formas corriqueiras de manejo;

122 RPPN Monte Alegre

 Todas as trilhas deverão receber constante manutenção quanto às medidas de contenção de erosões, invasão de plantas de rápido crescimento e presença de animais que possam causar acidentes, como abelhas e vespas.

C3.3 Programa de Pesquisa e Monitoramento

OBJETIVO

O Programa de Pesquisa e Monitoramento tem como meta proporcionar subsídios mais detalhados para a proteção e o manejo ambiental. Está relacionado às pesquisas científicas a serem complementadas, na definição de outros temas, auxiliando as ações de monitoramento a serem desenvolvidos na RPPN, bem como outros estudos que se fizerem necessários.

As pesquisas não devem ser limitadas à RPPN, tendo em vista que o seu entorno possui ecossistemas relevantes e funciona também para amortecer possíveis impactos. A propriedade será igualmente abordada nas atividades e normas que se seguem, embora as maiores restrições e cuidados sejam indicados para a área da UC.

ATIVIDADES E NORMAS

Normas gerais para as atividades de Pesquisa e Monitoramento

 A realização de pesquisa deverá ter autorização dos proprietários e do ICMBio, conforme legislação vigente;

 As coletas de material biológico deverão ser autorizadas pelo proprietário e pelo órgão ambiental competente;

 Os procedimentos deverão levar em conta o mínimo impacto ao ambiente e sua dinâmica, respeitando sempre as restrições estabelecidas pelo zoneamento da RPPN;

 As pesquisas deverão ser coordenadas por profissionais especializados nas respectivas áreas de abordagem;

 Todos os estudos serão precedidos de um projeto de pesquisa e de um termo de compromisso, disciplinando a conduta, o uso das instalações e manuseio adequado dos

123 RPPN Monte Alegre equipamentos da propriedade e firmando a obrigatoriedade de entrega dos resultados finais;

 Cópias de todas as pesquisas realizadas deverão ser arquivadas, incrementando o acervo da RPPN, bem como cadastradas num banco de dados;

 Os proprietários deverão fornecer aos pesquisadores dados de pesquisas já disponíveis sobre a área, otimizando as oportunidades de aprofundamento das informações geradas anteriormente.

1. Incentivar a realização de pesquisas científicas

 A realização de pesquisas científicas por parte de instituições acadêmicas e conservacionistas de interesse da RPPN deverá ser incentivada;

 Deverão ser elaborados projetos de pesquisa visando estudo para controle e possível erradicação de espécies vegetais invasoras no interior da RPPN;

 Deverá ser controlada a soltura de animais no entorno da RPPN, tendo em vista a grande concentração de aves de rapina oriundas de soltura sem estudo populacional da espécie na região;

 A elaboração de um Sistema de Informação Geográfica – SIG deverá ser formulado, composto por todos os dados levantados durante os estudos para a elaboração do plano de manejo, bem como informações geradas em pesquisas futuras.

C3.4 Programa de Visitação

OBJETIVO

O Programa de Visitação tem como meta estabelecer, orientar, direcionar e ordenar as atividades de uso público na RPPN, em relação às atividades de educação ambiental e lazer, enriquecendo as experiências de caráter ambiental, ecoturístico e histórico/cultural dos visitantes.

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RESULTADOS ESPERADOS

 Estruturas de apoio aos visitantes implantadas;  Alojamento e atrativos implantados;  Atividades de educação ambiental apoiadas;  Controle de visitação implantado;  Preços de ingressos definidos.

ATIVIDADES E NORMAS

Normas Gerais para as atividades de Visitação

 A RPPN será aberta para visitação durante o dia, exceto em casos especiais, como a prática de observação de fauna;

 Para a realização de atividades diferenciadas, que necessitem de horários distintos de visitação, o visitante deverá solicitar autorização prévia da administração;

 Todos os visitantes deverão necessariamente ser cadastrados pela administração, momento em que receberão instruções sobre os atrativos, custos e conduta;

 Os visitantes deverão ser advertidos de que somente poderão desfrutar das áreas destinadas ao uso público, evitando assim comprometer a integridade das áreas naturais e sua própria segurança;

 As trilhas deverão ser autoguiadas o que não impede a entrada de grupos organizados com seu próprio guia ou o serviço de condução oferecido pela RPPN.

1. Programar o roteiro de visitação

 Poderão ser instalados equipamentos de apoio, tais como bancos rústicos, passarelas e pontes;

 A Pedra do Letreiro poderá ter equipamentos de apoio: bancos e deck para melhorar o conforto e segurança dos visitantes, contanto que sejam implantados em local e de forma a não descaracterizar a área;

 As trilhas deverão ser organizadas com sinalização e equipamentos de apoio, implantando pontos de descanso.

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2. Implementar a sinalização na área de uso público e acessos

 A sinalização deverá ser de dois tipos: indicativa e informativa. A indicativa deverá direcionar o visitante, por meio de setas ou com o nome do atrativo. A informativa tem a função de ilustrar (mapas e fotos) e informar/interpretar, por meio de painéis, por exemplo, com dados da RPPN e região, sobre a flora e a fauna;

 A sinalização deverá ser implantada conforme descrito no Subprograma de Infraestrutura e Equipamentos do Programa de Administração.

3. Produzir material com informações do uso público

 Deverão ser produzidos materiais impressos sobre os atrativos da RPPN, com ilustrações e contatos, conforme descrito no Programa de Comunicação e Integração com a Área de Influência.

4. Apoiar e estimular a visitação de grupos de interesses específicos, tais como escoteiros, observadores de aves, etc.

 Grupos específicos devem ser apoiados, pois têm organização própria e poderão subsidiar novas atividades de visitação.

5. Organizar eventos em datas comemorativas

 Sugere-se para estas ocasiões, a divulgação e celebração de datas especiais ligadas ao meio ambiente e cultura, aproveitando as que já são comemoradas na região ou sugerindo novas.

6. Capacitar o funcionário para trabalhar com uso público

 A capacitação deverá privilegiar temas ambientais.

7. Implantar o controle de visitação

 Ao entrar na propriedade o visitante deverá ser direcionado à administração para ser informado sobre as opções, preços e conduta;

7.1 Definir o valor e a isenção da taxa de ingresso e dos serviços oferecidos

 Dependendo do tipo de visitação, os preços poderão aderir a pacotes promocionais;

 É importante que o visitante tome conhecimento que parte do recurso será destinada à conservação da RPPN;

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 Em eventos especiais (cursos, datas comemorativas) poderão ser feitos pacotes com descontos ou ingresso único com direito a usufruir de todos os atrativos e serviços;

 Entrada gratuita poderá ser oferecida aos alunos da rede de ensino público do município sede e vizinhos.

8. Organizar e apoiar atividades de educação ambiental

 A Educação Ambiental deverá estar presente em todas as atividades;

 As estruturas podem ser aproveitadas para a realização de oficinas e dinâmicas de sensibilização;

8.1. Apoiar visitas de escolas públicas municipais

 Sugere-se que sejam realizadas visitações de professores e alunos das escolas da região, com temas relacionados à grade curricular;

C3.5 Programa de Sustentabilidade Econômica

OBJETIVO

O Programa de Sustentabilidade Econômica tem como meta informar possibilidades e fontes de captação de recursos para implementar a gestão da RPPN.

A RPPN Monte Alegre possui quatro possibilidades de receita, conforme os itens abaixo.

- A primeira possibilidade de receita é a proveniente de fundos, financiamentos e doações, tais como:

 Fundo Nacional do Meio Ambiente (www.mma.gov.br)

Criado pela Lei 7.797 de 10 de julho de 1989, o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) tem por missão contribuir, como agente financiador e por meio da participação social, para a implementação da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Desde sua criação o FNMA apóia projetos ambientais em todo o país.

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 Aliança da Caatinga (http://www.acaatinga.org.br/index.php/alianca/)

A Aliança da Caatinga desenvolve desde 2007 o Programa de Incentivo à Conservação em Terras Privadas na Caatinga, que tem como estratégia três componentes principais: (1) o apoio à criação e gestão (plano de manejo) de reservas particulares e adequação ambiental de propriedades rurais; (2) fortalecimento da rede de associações de proprietários de RPPN e (3) a identificação e implementação de políticas e mecanismos que incentivem a criação e manutenção de reservas particulares.

 Fundação O Boticário de Conservação da Natureza (www.fbpn.org.br)

O Programa de Incentivo à Conservação da Natureza tem por objetivo financiar projetos que contribuam efetivamente para a conservação da natureza no Brasil, através do apoio a ações de: manejo de unidades de conservação, conservação e manejo de espécies ameaçadas, fiscalização e proteção ambiental, valorização e manejo de áreas verdes urbanas, controle de espécies exóticas invasoras, restauração de ecossistemas, desenvolvimento e implementação de políticas públicas e legislação ambiental e pesquisa aplicada em ecologia e conservação da natureza.

 Fundação SOS Mata Atlântica (www.sosma.org.br)

Comemorando em 2011 vinte e cinco anos de existência, esta fundação apoia projetos voltados à conservação da biodiversidade em regiões que ainda apresentam fragmentos de Mata Atlântica no Brasil, como é o caso do município de Pacatuba, local onde está inserida a RPPN Monte Alegre.

 ONGs Internacionais

The Nature Conservancy – TNC (www.tnc.org.br)

Conservation International – CI (www.conservation.org.br)

World Wildlife Fund – WWF (www.wwf.org.br)

- A segunda possibilidade de receita é a proveniente de isenção de taxas (Ex.: Imposto Territorial Rural-ITR).

- A terceira possibilidade de receita é proveniente de cobrança de taxas de visitação.

- A quarta possibilidade de receita é proveniente de recursos dos proprietários.

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C3.6 Programa de Comunicação e Integração com a Área de Influência

OBJETIVO

O Programa de Comunicação e Integração com a Área de Influência visa abordar as necessidades e formas de lidar com o público externo, institucional ou não, e comunidade local. Inclui questões como a divulgação da interação da área com seu ambiente de entorno direto e possíveis parceiros.

RESULTADOS ESPERADOS

 Logomarca aplicada em materiais;  Materiais de apoio e divulgação elaborados e confeccionados;  Parcerias para o desenvolvimento de atividades da RPPN estabelecidas;  RPPN divulgada.

ATIVIDADES E NORMAS

1. Utilizar a logomarca da RPPN

 A logomarca da RPPN deverá ser utilizada em todo material produzido, incluindo o uniforme do funcionário, painéis, panfletos, placas de sinalização, etc.

2. Estabelecer parcerias para o desenvolvimento das atividades da RPPN

 Deverão ser estabelecidas parcerias com os vizinhos, RPPNs da região, ONGs, instituições de pesquisa, Prefeituras Municipais, Instituições Governamentais Ambientalistas, dentre outras, objetivando fortalecer a RPPN, além de obter apoio técnico e troca de experiências, o que poderá reduzir custos.

3. Estabelecer parceria com os vizinhos da RPPN

 Essa parceria deverá ser estabelecida através da gestão integrada da RPPN Monte Alegre, visando à formação de brigadas de incêndios florestais, proteção de fauna e flora

129 RPPN Monte Alegre através de boa conduta e denúncias, adesão de melhores práticas ambientais, incentivo ao reflorestamento com plantas nativas na RPPN e em entorno, entre outros.

4. Integrar a RPPN às Redes de Reservas Particulares

 A RPPN Monte Alegre se manterá incorporada à Associação de Proprietários de RPPNs do Estado do Ceará - Asa Branca – e à Confederação Nacional de RPPNs - CNRPPN.

5. Estabelecer parcerias com a Prefeitura Municipal de Pacatuba e Prefeituras dos municípios vizinhos

 As Secretarias de Meio Ambiente poderão colaborar na realização de atividades de sensibilização e conscientização quanto à questão ambiental;

 O gestor da RPPN deverá se articular para participar de conselhos e outros grupos, caso existam.

6. Estabelecer parceria com o ICMBio e SEMACE

 O ICMBio e a SEMACE deverão ser informados sobre todas as ameaças à RPPN e deverão ser solicitadas, sempre que necessárias, ações de fiscalização no seu entorno;

 A RPPN poderá integrar-se aos programas de governo desenvolvidos na região.

7. Estabelecer parceria com instituições de pesquisa

 Alunos de graduação e pós-graduação, bem como pesquisadores em geral, poderão realizar suas pesquisas na RPPN. As universidades podem ser parceiras, colaborando com informações científicas.

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PARTE D

INFORMAÇÕES FINAIS

D1) Referências Bibliográficas

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D – INFORMAÇÕES FINAIS

D1) Referências Bibliográficas

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