Revista Aeronáutica ISSN 0486-6274 Número 305 2019 PRESIDENTE Maj Brig Ar Marco Antonio Carballo Perez Expediente 1º Vice-Presidente Out. a Dez. 2019 Cel Av Paulo Roberto Miranda Machado 2º Vice-Presidente Brig Ar Paulo Roberto de Oliveira Pereira

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SUPERINTENDÊNCIAS Sede Central Praça Marechal Âncora, 15 Sede Central Cel Av Pedro Bittencourt de Almeida Rio de Janeiro - RJ - CEP 20021-200 • (21) 2210-3212 Sede Barra 3 Brig Ar Paulo Roberto de Oliveira Pereira ª a 6ª feira de 8h às 12h e 13h às 17h Sede Barra Rua Raquel de Queiroz, s/nº CONSELHO DELIBERATIVO Rio de Janeiro - RJ - CEP 22793-710 Presidente - Ten Brig Ar Paulo Roberto Cardoso Vilarinho • (21) 3325-2681 CONSELHO FISCAL Presidente - Maj Brig Int Manoel José Manhães Ferreira 4ª a domingo de 9h às 17h30 COMISSÃO INTERCLUBES MILITARES Assessores Clube de Aeronáutica SEDE CENTRAL Maj Brig Ar Venâncio Grossi Diretor Cultural Cel Av Araken Hipolito da Costa Cel Av Araken Hipolito da Costa Cel Av Ajauri Barros de Melo Diretor Social, Tecnologia da Informação e Hotel Cel Av Ajauri Barros de Melo REVISTA AERONÁUTICA (21) 2220-3691 Diretor Administrativo e Chefe da Secretaria-Geral Cel Av Théo Salgado Falcão Diretor e Editor Cel Av Araken Hipolito da Costa Diretor Beneficente Cap Adm Ivan Alves Moreira Conselho Editorial Ten Brig Ar Marco Aurélio Mendes Diretor Jurídico Maj Brig Ar Marco Antonio Carballo Perez Dr. Francisco Rodrigues da Fonseca Cel Av Renato Paiva Lamounier Cel Av Araken Hipolito da Costa Diretor Financeiro e Patrimonial Cel Int Genibaldo Bezerra de Oliveira Jornalista Responsável Asp QOCON JOR Erika Blaudt Assessor Secretaria-Geral - Cap Adm Ivan Alves Moreira Produção Editorial e Design Gráfico Rosana Guter Nogueira SEDE BARRA Produção Gráfica Diretor Desportivo Luiz Ludgerio Pereira da Silva Brig Ar Paulo Roberto de Oliveira Pereira Revisão Diretor Aerodesportivo,Técnico e Operações Ten Cel QFO Dirce Silva Brízida Cel Av Romeu Camargo Brasileiro Administrativo Assessores Gabriela da Hora Rangel Social - Brig Ar Carlos José Rodrigues de Alencastro Amanda de Farias Lima Financeiro - Cel Int Carlos Eduardo Costa Mattos As opiniões emitidas em entrevistas e em matérias Administrativo e Pessoal - Cel Av Luiz dos Reis Domingues assinadas estarão sujeitas a cortes, no todo ou em parte, Infraestrutura - Ten Cel Av Alfredo José Crivelli Neto a critério do Conselho Editorial. As matérias são de inteira responsabilidade de seus autores, não representando, SEDE LACUSTRE necessariamente, a opinião da revista. As matérias não serão devolvidas, mesmo que não publicadas. Assessor - Cap Esp Met José Renato do Nascimento Voo a Vela Você pode ler, fazer download ou compartilhar esta revista e as edições anteriores no link http://www.caer.org.br/acervo/

Sumário 4 MENSAGEM DO PRESIDENTE 30 PROTEÇÃO E PRESERVAÇÃO Maj Brig Ar Marco Antonio Carballo Perez AMBIENTAL Evaristo de Miranda Escritor e Pesquisador 5 NOTÍCIAS DO CAER A Redação 33 A INTENTONA DE 1935 Gustavo Eugênio de Oliveira Borges 10 PRESIDENTE BOLSONARO NA ONU Cel Av

VOO A VELA NA ACADEMIA 14 O TRIBUNAL DE DIREITOS 36 HUMANOS DE ESTRASBURGO DA FORÇA AÉREA Eduardo Augusto Montenegro Duque Ives Gandra da Silva Martins Cap Av Jurista

PENSAMENTO ECONÔMICO 42 HISTÓRICO DOS CÓDIGOS 16 UTILIZADOS NA ACADEMIA NO BRASIL - segunda parte Ralph Miguel Zerkowski DA FORÇA AÉREA Economista (In memoriam) Brig Ar Carlos Geraldo dos Santos Porto

19 GUERRA DE NARRATIVAS 44 A ORAÇÃO NO NOSSO TEMPO E SUAS VÍTIMAS Papa Emérito Bento XVI - Joseph Ratzinger Percival Puggina Escritor 46 A NOITE EM QUE RUI E MEIRINHA IRIAM JOGAR 20 A GUERRA DO BRASIL BOMBAS EM BERLIM Frederico José Bergamo de Andrade Ivan Von Trompowsky Douat Taulois Cel Art Ex Cel Av (In memoriam)

22 O EMBLEMÁTICO ANO DE 1968 50 COM A FEB NA ITÁLIA Reis Friede Maj Brig Ar Rui Moreira Lima Desembargador Federal (In memoriam)

26 HANNAH ARENDT: 51 EDITORA REVISTA AERONÁUTICA PENSAR, QUERER E JULGAR É RETOMADA COM Carlos Frederico G. Calvet da Silveira PENSADORES PORTUGUESES Filósofo A Redação CLUBE DE AERONÁUTICA

MENSAGEM DO PRESIDENTE

Prezados sócios, civis e militares: Dezembro não é época de lamentações e reprimendas, mas de coração leve e de otimismo. É época de zerar as rusgas pessoais e de esvaziar aquela mala pesada que arrastamos há algum tempo. É momento de renovar laços de amor, de amizades e de parcerias. É tempo de pedir e dar perdão! Nesta edição trazemos muitas novidades na editoria Notícias do CAER para mostrar os principais acontecimentos das sedes do Clube de Aeronáutica. Lembrando que a revista está disponível no site, e agora também estamos inovando e produzindo conteúdo para o Facebook e o Instagram. Como sempre temos bastante conteúdo neste exemplar. Vários e bons artigos de antigos e novos colaboradores, cuja leitura nos trará especiais momentos. Aproveitem os bons conhecimentos disseminados. Nossa Diretoria deseja a todos um Natal de paz e harmonia e que o Ano Novo seja abençoado com muita saúde e realizações. Em 2020 o Clube de Aeronáutica continuará ombreando com os cida- dãos de bem deste País, no caminho de torná-lo cada vez mais próspero e grandioso, sempre sob o lema Ordem e Progresso da nossa amada Bandeira, que aliás, jamais será vermelha!!! Tenham todos uma boa leitura.

Maj Brig Ar Marco Antonio Carballo Perez Presidente do Clube de Aeronáutica j 4 BAILE DO AVIADOR COMEMORA 113 ANOS DO 1º VOO DO 14-BIS m comemoração ao Dia do Aviador Aviador e à FAB. Logo após todos cantaram O Baile do Aviador de 2019 mostrou, Ee da Força Aérea Brasileira (FAB), o emocionados o Hino do Aviador. uma vez mais, a importância da tradição e memorável Baile do Aviador, promovido Dentre os convidados especiais es- do congraçamento de homens e mulheres no dia 19 de outubro, na Sede Central do tavam o Ten Brig Ar Jeferson Domingues que compõem a nossa Força Aérea Clube de Aeronáutica (CAER), reuniu mais de Freitas, Diretor-Geral do Departamento Brasileira. Ao comemorar o dia 23 de de 710 convidados, para reverenciar o 113º de Controle do Espaço Aéreo (DECEA); outubro, data memorável do voo autônomo Aniversário do 1º Voo do Aeroplano 14-BIS os oficiais-generais das Organizações de Santos-Dumont, a Aeronáutica valoriza do inventor Alberto Santos-Dumont e foi Militares do COMAER na área do Rio de de forma indelével sua História. um sucesso. Janeiro; e os presidentes dos Clubes Naval A celebração marca a invenção de e Militar. Também estiveram presentes Parabéns, Aviadores! um sonho materializado pelo veículo mais diversas autoridades civis e militares. Salve a Força Aérea Brasileira! pesado que o ar, que decolou e aterrissou no Campo de Bagatelle, centro de Paris, no dia 23 de outubro de 1906, deixando uma multidão boquiaberta. O 14-BIS voou por cerca de 60 metros e voltou ao seu destino, intacto. Desde então, Santos-Dumont é considerado o Pai da Aviação e tem sido homenageado por todos os seus grandes feitos ao mundo. O baile reuniu elementos, cenários e personagens vestidos com trajes de época alusivos a Santos-Dumont como forma de homenageá-lo. Logo na entrada os convidados eram recepcionados por eles ao som de teclado e violino. Personagens alusivos ao Pai da Aviação recepcionaram o Maj Brig Ar Perez e a sua esposa Ten Cel Ped Estela A sofisticação também foi a tônica do evento, que contou com decoração impecável e ofereceu diversos atrativos aos presentes. Destaque também para a exposição fotográfica do Centro de Documentação da Aeronáutica (CENDOC), que relembrou a História da Aviação, trazendo mais vivacidade ao ambiente. Além disso, atrações musicais com banda e DJ animaram a festa. À meia Decoração valoriza tradição e história noite o Presidente do CAER, Maj Brig Ar Marco Antonio Carballo Perez, fez um pronunciamento destacando a genialidade, o caráter e a inventividade brilhante do Santos-Dumont. Na sequência agradeceu a presença de todos, convidando-os a fazer um brinde em homenagem ao Dia do

5 j NOTÍCIASNOTÍCIAS TRADICIONAL PICADINHO DO 1º GAVCA É REALIZADO NA SEDE CENTRAL tradicional Picadinho Jesus está cidade localizada na região central da Itália, O Comandante da Aeronáutica, Ten O Chamando do 1º Grupo de Aviação para o combate, a bordo das aeronaves de Brig Ar Antônio Carlos Moretti Bermudez; o de Caça (1º GAVCA) foi promovido pela Caça Republic P-47D Thunderbolt. Eram Ten Brig Ar Carlos de Almeida Baptista, ex- Associação Brasileira de Pilotos de Caça 350 homens, incluindo 43 pilotos que -Comandante da Aeronáutica; o Maj Brig Ar (ABRA-PC) em outubro, no Clube de integraram o 350th Fighter Group da então Marco Antonio Carballo Perez, Presidente Aeronáutica (CAER), e contou com a Força Aérea Americana (USAAF) na guerra do CAER; e o Brig Ar Marion de Oliveira presença de oficiais-generais do Alto contra as forças do Eixo. Peixoto também prestigiaram o evento. Comando, oficiais da ativa e da reserva. Os pilotos do denominado Esquadrão O Brig Ar Marion de Oliveira Peixoto, Dentre eles, 52 pilotos de Caça, cadetes da Jambock, também conhecido como 1st aspirante da Turma de 1945, integrou a Academia da Força Aérea (AFA) e alunos Brazilian Fighter Squadron (1st BFS), primeira turma de pilotos de Caça formada da Escola Preparatória de Cadetes do Ar deixaram um legado fundamental ao imple- no Brasil, no Estágio de Seleção de Pilotos (EPCAR), que prestigiaram o evento. mentar novos conceitos operacionais até de Caça (ESPC) de 1946, ministrado pelos O almoço também reuniu os familiares então desconhecidos. A atuação desses veteranos de guerra do 1º Grupo de Aviação de alguns veteranos e teve como objetivo pilotos de Caça contribuiu efetivamente de Caça em aeronave P-40. Ele foi mais retomar a história da missão cumprida pelo para a vitória dos aliados contra o totalita- um exemplo honroso de destaque nesse Grupo no norte da Itália, durante a Segunda rismo, além de trazer esperança ao mundo almoço promovido pela ABRA-PC para Guerra Mundial, e, ao mesmo tempo, ho- novamente. manter acesa a Chama da Caça. menagear esses bravos oficiais, graduados O Picadinho Jesus está Chamando Neste ano, a Associação patrocinou e praças da Força Aérea Brasileira (FAB), acontecia na casa do então Brig Ar ainda a vinda de uma comitiva formada que estiveram em combate, há 75 anos, Nero Moura (início da década de 80). por cadetes da AFA e por alunos da EPCAR honrando o juramento de defender a pátria Falecido em 1994, o Brig Ar Nero Moura para o evento. O Picadinho Jesus está com o sacrifício da própria vida. foi declarado Patrono da Aviação de Caça. Chamando é muito mais que um encontro, Homenagens foram feitas ao saudoso Esse encontro tem ocorrido anualmente representa a rememoração histórica da veterano Brig Ar Nero Moura, primeiro e é promovido pela ABRA-PC, que tem à resiliência, da força e do amor desses Comandante do Primeiro Grupo de Aviação frente como Presidente, o Brig Ar Teomar militares pela Pátria. de Caça, designado para a Campanha da Fonseca Quírico, e lembra a importância Jamais serão esquecidos! Itália. O 1º GAVCA foi criado no dia 18 de do 1º GAVCA na História da Aeronáutica dezembro de 1943 e chegou a Tarquínia, Brasileira. Senta a Púa! Brasil!

Oficiais-generais com o Comandante da Aeronáutica, Ten Brig Ar Antonio Carlos Imagem do Brigadeiro Nero Moura entre os alunos da EPCAR Moretti Bermudez, prestigiam evento j 6 do CAER COMANDANTE DA AERONÁUTICA PRESTIGIA EVENTO DO CAER Comandante da Aeronáutica, Ten Brig Na ocasião, o pesquisador e escritor favorece o congraçamento da classe, e O Ar Antônio Carlos Moretti Bermudez, Carlos Lorch recebeu uma homenagem do finalizou o discurso com um convite à participou de um encontro promovido pelo Clube: foi agraciado com o título de sócio associação. Clube de Aeronáutica (CAER), em outubro, honorário. O diploma foi entregue pelo Ten Esse momento especial contou com a com oficiais-generais, comandantes, che- Brig Ar Paulo Roberto Cardoso Vilarinho, presença do Ten Brig Ar Carlos de Almeida fes e diretores de Organizações Militares da Presidente do Conselho Deliberativo Baptista, ex-Comandante da Aeronáutica; área do Rio de Janeiro. do CAER, e pelo Maj Brig Ar Perez que Ten Brig Ar Jeferson Domingues de O evento objetivou a apresentação do agradeceu pela notável divulgação da FAB Freitas, Diretor-Geral do Departamento clube aos oficiais presentes e foi realizada prestada por Lorch. de Controle do Espaço Aéreo (DECEA); Ten pelo próprio Presidente, Maj Brig Ar Marco Finalizando o evento, o Ten Brig Ar Brig Ar Marco Aurélio Gonçalves Mendes, Antonio Carballo Perez, que explanou sobre Bermudez reforçou a importância do ex-Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica; a instituição, suas atividades e colocou-a Clube de Aeronáutica para os presentes, e Ten Brig Rafael Rodrigues Filho, Diretor do à disposição dos militares para futuros tanto pela sua atuação em âmbito nacional Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica encontros, reuniões e eventos. quanto pela estrutura organizacional, que (INCAER).

Entrega do Título de Sócio Honorário a Carlos Lorch pelo presidente do Conselho Deliberativo, Ten Brig Ar Vilarinho (à esquerda) e do presidente do Clube de Aeronáutica, Maj Brig Ar Perez (à direita)

Ten Brig Ar Bermudez, Comandante da Aeronáutica

7 j NOTÍCIASNOTÍCIAS X CURSO DO PENSAMENTO BRASILEIRO É ENCERRADO COM 64 CERTIFICADOS encerramento oficial da 10ª edição Também houve a participação de Bandeira Nacional pelas alunas, as advo- O do Curso do Pensamento Brasileiro, ouvintes que estiveram no Curso pela gadas Andrea Negrão Cochrane e Daniela promovido pelo Departamento Cultural do primeira vez e se engajaram no estudo. Seade; e a jornalista Edna Lúcia Bulhões CAER, no dia 29 de novembro, na Sede Ana Lúcia Silva Cunha, esposa do Ten Cel de Britto, foi seguida pelo canto dos Hinos Central, foi repleto de homenagens e Ar Astrogildo Nodari, o acompanhou em Nacional, da Bandeira e do Aviador, na emoção. Mais de 80 pessoas participaram algumas aulas e considerou relevante o parte externa do Clube. Logo após, todos do evento, que contou com a presença de estudo. “Achei o curso muito importante e se dirigiram ao Salão Costa Business para familiares dos alunos. Também estiveram vejo que precisamos colocar em prática o a solenidade de entrega dos certificados. presentes a Diretoria do Clube, autoridades que foi abordado”, disse. A Mesa oficial foi formada pelas e oficiais-generais. O Cel Av Luís Alberto Cutrim Costa, seguintes autoridades: Maj Brig Ar Marcus Os 64 participantes do Curso, que ex-professor de História e Instrutor de Voo Vinícius Pinto Costa, ex-presidente do teve início em agosto, puderam vivenciar na Academia da Força Aérea (AFA), havia CAER; Diplomata Jerônimo Moscardo, teorias e práticas relacionadas à cultura em participado como palestrante em uma das ex-embaixador do Brasil na Costa Rica geral, à filosofia, à sociedade brasileira e primeiras edições do Curso, e nesta décima e Bélgica; e Maj Brig Ar Marco Antonio à cultura aeronáutica, sob o contexto do edição participou como ouvinte. “Conheço Carballo Perez, presidente do CAER. pensamento brasileiro, na retórica de um as histórias da guerra e do poder aéreo, Antes da entrega dos certificados, país melhor. Os três meses de duração do porém, participar de um debate filosófico Curso propiciaram aprendizado, trocas de é diferente. Tenho me interessado em conhecimento e interação entre os alunos. participar cada vez mais do Curso para O economista Luís Carlos de Oliveira entender melhor o Pensamento Brasileiro Costa, filho de militar, ex-vice-presidente e debatê-lo”, relatou. da Associação dos Amigos do Museu A médica Heliana Helena Sales de Aeroespacial (AMAERO), e assíduo fre- Santana foi uma aluna assídua; participou quentador do clube, soube do curso pelo das dez edições do Curso e já aguarda a ex-comandante de aviação civil Teruo Ono, próxima. Desde a morte do seu esposo, mas só conseguiu participar este ano. o Ten Brig Ar Paulo Victor da Silva, ela “Sempre gostei de filosofia para entender se dedica aos estudos do Pensamento os nossos questionamentos, e o curso Brasileiro. “Foi uma das melhores vivências surgiu como uma oportunidade para esse da minha vida!”, exclamou. entendimento e, também, para muitas Uma cerimônia memorável emocionou trocas”, reforçou. a todos. Iniciada com o hasteamento da

Maj Brig Ar Perez, Brig Ar Clóvis de Athayde Bohrer, Embaixador Moscardo, Ten Brig Ar Pedro Ivo Seixas, Maj Brig Ar Vinícius, Brig Ar Pitrez, Cel Capelão Campos e Cel Araken (esq. para a dir.) j 8 do CAER

Cel Av Ajauri, Diretor Social; Maj Brig Ar Perez, Presidente; Cel Capelão Campos; Cel Av Araken, Diretor Cultural; Cel Av Falcão, Diretor Administrativo; e Cel Av Miranda, 1º Vice-presidente (esq. para a dir.)

os participantes. Um agradecimento O pensamento precisa de profundidade especial foi feito ao Cel Av Araken, que para se chegar aos reais valores de uma acreditou no projeto desde o início e vem sociedade em evolução e do entendimento construindo uma nova forma de pensar o da alma nacional. O Curso não entra Brasil, por meio da cultura aeronáutica. “O no debate político-partidário, mas num porém, a solenidade recebeu uma bênção Pensamento Brasileiro quer saber quem embate filosófico para trabalhar a nossa especial do Cel Capelão Campos, que somos nós, que nação é esta e qual nosso inteligência em um mundo de ideias con- felicitou a todos – participantes e autorida- sentido existencial. A Filosofia nos ajuda a traditórias que precisa de respostas sobre des presentes. A oradora da turma, Maria entender essas questões e a respondê-las. o sentido nacional”, concluiu o Coronel. Aline Soares Brito, também agradeceu ao Presidente do CAER e ao Cel Av Araken Hipolito da Costa, Diretor do Departamento Cultural do Clube, pela iniciativa, discur- sando sobre a importância do Curso na mudança que houve em sua vida, na de seus colegas e na sociedade. Após o discurso, foram entregues os certificados aos alunos. As autoridades agradeceram o convite e parabenizaram os envolvidos no evento, bem como CURSO PENSAMENTO BRASILEIRO SEM FRONTEIRAS s edições do Pensamento Brasileiro tiveram tanto êxito que o Curso será transformado em uma Aespecialização de 40 horas, presencial e à distância, no CAER, em 2020. A tratativa entre o Clube e a UNIFA (Universidade da Força Aérea) está em andamento e promete ampliar os horizontes do Pensamento Brasileiro, ultrapassando fronteiras. Uma novidade que vai certamente agradar alunos e todos os interessados em discutir filosoficamente os novos rumos do Brasil.

9 j enhor presidente da Assembleia Geral, Tijjani Muhammad-Bande, Ssenhor secretário-geral da ONU, António Guterres, chefes de Estado, de PRESIDENTEPRESIDENTE BOLSONAROBOLSONARO NANA ONUONU governo e de delegação, Senhoras e Senhores, Apresento aos senhores um novo Brasil, que ressurge depois de estar à beira do socialismo. Um Brasil que está sendo reconstruído a partir dos anseios e dos ideais de seu povo. No meu governo, o Brasil vem tra- balhando para reconquistar a confiança do mundo, diminuindo o desemprego, a violência e o risco para os negócios, por meio da desburocratização, da desregulamentação e, em especial, pelo exemplo. Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou numa situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos que formam nossas tradições. o regime brasileiro e de outros países da eles os EUA, para que a democracia seja Em 2013, um acordo entre o governo América Latina. restabelecida na Venezuela, mas também petista e a ditadura cubana trouxe ao Brasil Foram derrotados! nos empenhamos duramente para que 10 mil médicos sem nenhuma compro- Civis e militares brasileiros foram mor- outros países da América do Sul não vação profissional. Foram impedidos de tos e outros tantos tiveram suas reputações experimentem esse nefasto regime. trazer cônjuges e filhos, tiveram 75% de destruídas, mas vencemos aquela guerra e O Foro de São Paulo, organização seus salários confiscados pelo regime e resguardamos nossa liberdade. criminosa criada em 1990 por Fidel foram impedidos de usufruir de direitos Na Venezuela, esses agentes do Castro, Lula e Hugo Chávez para difundir fundamentais, como o de ir e vir. regime cubano, levados por Hugo Chávez, e implementar o socialismo na América Um verdadeiro trabalho escravo, também chegaram e hoje são aproximada- Latina, ainda continua vivo e tem que ser acreditem... mente 60 mil, que controlam e interferem combatido. Respaldado por entidades de direitos em todas as áreas da sociedade local, Senhoras e Senhores, humanos do Brasil e da ONU! principalmente na Inteligência e na Defesa. Em busca de prosperidade, estamos Antes mesmo de eu assumir o gover- A Venezuela, outrora um país pujante e adotando políticas que nos aproximem no, quase 90% deles deixaram o Brasil, democrático, hoje experimenta a crueldade de países outros que se desenvolveram e por ação unilateral do regime cubano. do socialismo. consolidaram suas democracias. Os que decidiram ficar, se submeterão O socialismo está dando certo na Não pode haver liberdade política sem à qualificação médica para exercer sua Venezuela! Todos estão pobres e sem que haja também liberdade econômica. E profissão. liberdade! vice-versa. O livre mercado, as concessões Deste modo, nosso país deixou de O Brasil também sente os impactos e as privatizações já se fazem presentes contribuir com a ditadura cubana, não da ditadura venezuelana. Dos mais de 4 hoje no Brasil. mais enviando para Havana 300 milhões milhões que fugiram do país, uma parte A economia está reagindo, ao romper de dólares todos os anos. migrou para o Brasil, fugindo da fome e da os vícios e amarras de quase duas décadas A História nos mostra que, já nos violência. Temos feito a nossa parte para de irresponsabilidade fiscal, aparelhamen- anos 60, agentes cubanos foram enviados ajudá-los, através da Operação Acolhida, to do Estado e corrupção generalizada. A a diversos países para colaborar com a realizada pelo Exército Brasileiro e elogiada abertura, a gestão competente e os ganhos implementação de ditaduras. mundialmente. de produtividade são objetivos imediatos Há poucas décadas tentaram mudar Trabalhamos com outros países, entre do nosso governo. j 10 PRESIDENTEPRESIDENTE BOLSONAROBOLSONARO NANA ONUONU

Estamos abrindo a economia e nos mente intocada. Prova de que somos um àqueles que não aceitaram levar adiante integrando às cadeias globais de valor. Em dos países que mais protegem o meio essa absurda proposta. apenas oito meses, concluímos os dois ambiente. Em especial, ao presidente Donald maiores acordos comerciais da história do Nesta época do ano, o clima seco e os Trump, que bem sintetizou o espirito país, aqueles firmados entre o Mercosul e ventos favorecem queimadas espontâneas que deve reinar entre os países da ONU: a União Europeia e entre o Mercosul e a e criminosas. Vale ressaltar que existem respeito à liberdade e à soberania de cada Área Europeia de Livre Comércio, o EFTA. também queimadas praticadas por índios e um de nós. Pretendemos seguir adiante com vários populações locais, como parte de sua res- Hoje, 14% do território brasileiro está outros acordos nos próximos meses. pectiva cultura e forma de sobrevivência. demarcado como terra indígena, mas Estamos prontos também para iniciar Problemas qualquer país os tem. é preciso entender que nossos nativos nosso processo de adesão à Organização Contudo, os ataques sensacionalistas que são seres humanos, exatamente como para a Cooperação e Desenvolvimento sofremos por grande parte da mídia inter- qualquer um de nós. Eles querem e Econômico (OCDE). Já estamos adianta- nacional devido aos focos de incêndio na merecem usufruir dos mesmos direitos dos, adotando as práticas mundiais mais Amazônia despertaram nosso sentimento de que todos nós. elevadas em todo os terrenos, desde a patriótico. Quero deixar claro: o Brasil não vai regulação financeira até a proteção am- É uma falácia dizer que a Amazônia é aumentar para 20% sua área já demarcada biental. patrimônio da Humanidade e um equívoco, como terra indígena, como alguns chefes Senhorita Ysany Kalapalo, agora como atestam os cientistas, afirmar que a de Estados gostariam que acontecesse. vamos falar de Amazônia. nossa floresta é o pulmão do mundo. Existem, no Brasil, 225 povos indí- Em primeiro lugar, meu governo Valendo-se dessas falácias, um ou genas, além de referências de 70 tribos tem um compromisso solene com a outro país, em vez de ajudar, embarcou vivendo em locais isolados. Cada povo ou preservação do meio ambiente e do nas mentiras da mídia e se portou de forma tribo com seu cacique, sua cultura, suas desenvolvimento sustentável em benefício desrespeitosa, com espírito colonialista. tradições, seus costumes e principalmente do Brasil e do mundo. Questionaram aquilo que nos é mais sua forma de ver o mundo. O Brasil é um dos países mais ricos sagrado: a nossa soberania! A visão de um líder indígena não em biodiversidade e riquezas minerais. Um deles por ocasião do encontro representa a de todos os índios brasileiros. Nossa Amazônia é maior que toda a do G7 ousou sugerir aplicar sanções ao Muitas vezes alguns desses líderes, como Europa Ocidental e permanece pratica- Brasil, sem sequer nos ouvir. Agradeço o cacique Raoni, são usados como peça

11 j de manobra por governos estrangeiros na política indigenista, em prol de interesses incontáveis crimes violentos que, anualmen- sua guerra informacional para avançar seus políticos e econômicos externos, em te, massacravam a população brasileira. A interesses na Amazônia. especial os disfarçados de boas intenções. vida é o mais básico dos direitos humanos. Infelizmente, algumas pessoas, de Estamos prontos para, em parcerias, Nossos policiais militares eram o alvo dentro e de fora do Brasil, apoiadas em e agregando valor, aproveitar de forma preferencial do crime. Só em 2017, cerca ONGs, teimam em tratar e manter nossos sustentável todo nosso potencial. de 400 policiais militares foram cruelmente índios como verdadeiros homens das O Brasil reafirma seu compromisso assassinados. Isso está mudando. cavernas. intransigente com os mais altos padrões Medidas foram tomadas e consegui- O Brasil agora tem um presidente que de direitos humanos, com a defesa da mos reduzir em mais de 20% o número se preocupa com aqueles que lá estavam democracia e da liberdade, de expressão, de homicídios nos seis primeiros meses antes da chegada dos portugueses. O religiosa e de imprensa. É um compro- de meu governo. índio não quer ser latifundiário pobre em misso que caminha junto com o combate As apreensões de cocaína e outras cima de terras ricas. Especialmente das à corrupção e à criminalidade, demandas drogas atingiram níveis recorde. terras mais ricas do mundo. É o caso das urgentes da sociedade brasileira. Hoje o Brasil está mais seguro e ainda reservas Ianomâmi e Raposa Serra do Sol. Seguiremos contribuindo, dentro e mais hospitaleiro. Acabamos de estender Nessas reservas, existe grande abundância fora das Nações Unidas, para a construção a isenção de vistos para países como de ouro, diamante, urânio, nióbio e terras de um mundo onde não haja impunidade, Estados Unidos, Japão, Austrália e Canadá, raras, entre outros. esconderijo ou abrigo para criminosos e e estamos estudando adotar medidas E esses territórios são enormes. A corruptos. similares para China e Índia, dentre outros. reserva Ianomâmi, sozinha, conta com Em meu governo, o terrorista italiano Com mais segurança e com essas aproximadamente 95 mil quilômetros Cesare Battisti fugiu do Brasil, foi preso na facilidades, queremos que todos possam quadrados, o equivalente ao tamanho de Bolívia e extraditado para a Itália. Outros conhecer o Brasil, e em especial, a nossa Portugal ou da Hungria, embora apenas 15 três terroristas paraguaios e um chileno, Amazônia, com toda sua vastidão e beleza mil índios vivam nessa área. que viviam no Brasil como refugiados natural. Isso demonstra que os que nos políticos, também foram devolvidos a Ela não está sendo devastada e nem atacam não estão preocupados com o ser seus países. consumida pelo fogo, como diz mentiro- humano índio, mas sim com as riquezas Terroristas sob o disfarce de persegui- samente a mídia. Cada um de vocês pode minerais e a biodiversidade existentes dos políticos não mais encontrarão refúgio comprovar o que estou falando agora. nessas áreas. no Brasil. Não deixem de conhecer o Brasil, ele CARTA Há pouco, presidentes socialistas que é muito diferente daquele estampado em A Organização das Nações Unidas me antecederam desviaram centenas de muitos jornais e televisões! teve papel fundamental na superação do bilhões de dólares comprando parte da A perseguição religiosa é um flagelo colonialismo e não pode aceitar que essa mídia e do Parlamento, tudo por um projeto que devemos combater incansavelmente. mentalidade regresse a estas salas e de poder absoluto. Nos últimos anos, testemunhamos, corredores, sob qualquer pretexto. Foram julgados e punidos graças em diferentes regiões, ataques covardes Não podemos esquecer que o mundo ao patriotismo, perseverança e coragem que vitimaram fiéis congregados em necessita ser alimentado. A França e a de um juiz que é símbolo no meu país, o igrejas, sinagogas e mesquitas. Alemanha, por exemplo, usam mais de dr. Sérgio Moro, nosso atual Ministro da O Brasil condena, energicamente, 50% de seus territórios para a agricultura, Justiça e Segurança Pública. todos esses atos e está pronto a colabo- já o Brasil usa apenas 8% de terras para a Esses presidentes também transferi- rar, com outros países, para a proteção produção de alimentos. ram boa parte desses recursos para outros daqueles que se veem oprimidos por causa 61% do nosso território é preservado! países, com a finalidade de promover e de sua fé. Nossa política é de tolerância zero implementar projetos semelhantes em toda Preocupam o povo brasileiro, em para com a criminalidade, aí incluídos os a região. Essa fonte de recursos secou. particular, a crescente perseguição, a crimes ambientais. Esses mesmos governantes vinham discriminação e a violência contra missio- Quero reafirmar minha posição de aqui todos os anos e faziam descompro- nários e minorias religiosas, em diferentes que qualquer iniciativa de ajuda ou apoio à missados discursos com temas que nunca regiões do mundo. preservação da Floresta Amazônica, ou de atenderam aos reais interesses do Brasil Por isso, apoiamos a criação do ‘Dia outros biomas, deve ser tratada em pleno nem contribuíram para a estabilidade Internacional em Memória das Vítimas de respeito à soberania brasileira. mundial. Mesmo assim, eram aplaudidos. Atos de Violência baseados em Religião Também rechaçamos as tentativas de Em meu país, tínhamos que fazer algo a ou Crença’. instrumentalizar a questão ambiental ou a respeito dos quase 70 mil homicídios e dos Nessa data, recordaremos anualmente j 12 aqueles que sofrem as consequências Na sequência, visitamos Israel, onde sua identidade mais básica e elementar, nefastas da perseguição religiosa. identificamos inúmeras oportunidades a biológica. É inadmissível que, em pleno Século de cooperação em especial na área de O politicamente correto passou a XXI, com tantos instrumentos, tratados e tecnologia e segurança. Agradeço a Israel dominar o debate público para expulsar organismos com a finalidade de resguardar o apoio no combate aos recentes desastres a racionalidade e substituí-la pela mani- direitos de todo tipo e de toda sorte, ainda ocorridos em meu país. pulação, pela repetição de clichês e pelas haja milhões de cristãos e pessoas de Visitamos também um de nos- palavras de ordem. outras religiões que perdem sua vida ou sos grandes parceiros no Cone Sul, a A ideologia invadiu a própria alma sua liberdade em razão de sua fé. Argentina. Com o Presidente Mauricio humana para dela expulsar Deus e a A devoção do Brasil à causa da paz Macri e nossos sócios do Uruguai e do dignidade com que Ele nos revestiu. se comprova pelo sólido histórico de Paraguai, afastamos do Mercosul a ideo- E, com esses métodos, essa ideologia contribuições para as missões da ONU. logia e conquistamos importantes vitórias sempre deixou um rastro de morte, igno- Há 70 anos, o Brasil tem dado con- comerciais, ao concluir negociações que rância e miséria por onde passou. tribuição efetiva para as operações de já se arrastavam por décadas. Sou prova viva disso. Fui covarde- manutenção da paz das Nações Unidas. Ainda este ano, visitaremos im- mente esfaqueado por um militante de Apoiamos todos os esforços para que portantes parceiros asiáticos, tanto no esquerda e só sobrevivi por um milagre essas missões se tornem mais efetivas e Extremo Oriente quanto no Oriente Médio. de Deus. Mais uma vez agradeço a Deus tragam benefícios reais e concretos para Essas visitas reforçarão a amizade e o pela minha vida. os países que as recebem. aprofundamento das relações com Japão, A ONU pode ajudar a derrotar o Nas circunstâncias mais variadas – no China, Arábia Saudita, Emirados Árabes ambiente materialista e ideológico que Haiti, no Líbano, na República Democrática Unidos e Catar. Pretendemos seguir o compromete alguns princípios básicos da do Congo – os contingentes brasileiros mesmo caminho com todo o mundo árabe dignidade humana. Essa organização foi são reconhecidos pela qualidade de seu e a Ásia. criada para promover a paz entre nações trabalho e pelo respeito à população, aos Também estamos ansiosos para visitar soberanas e o progresso social com liber- direitos humanos e aos princípios que nossos parceiros, e amigos, na África, na dade, conforme o preâmbulo de sua Carta. norteiam as operações de manutenção Oceania e na Europa. Nas questões do clima, da democra- de paz. Como os senhores podem ver, o Brasil cia, dos direitos humanos, da igualdade Reafirmo nossa disposição de manter é um país aberto ao mundo, em busca de direitos e deveres entre homens e contribuição concreta às missões da ONU, de parcerias com todos os que tenham mulheres, e em tantas outras, tudo o que inclusive no que diz respeito ao treinamen- interesse de trabalhar pela prosperidade, precisamos é isto: contemplar a verdade, to e à capacitação de tropas, área em que pela paz e pela liberdade. seguindo João 8,32: temos reconhecida experiência. Senhoras e Senhores, “E conheceis a verdade, e a verdade Ao longo deste ano, estabelecemos O Brasil que represento é um país que vos libertarás”. uma ampla agenda internacional com está se reerguendo, revigorando parcerias Todos os nossos instrumentos, na- intuito de resgatar o papel do Brasil no e reconquistando sua confiança política cionais e internacionais, devem estar cenário mundial e retomar as relações com e economicamente. Estamos preparados direcionados, em última instância, para importantes parceiros. para assumir as responsabilidades que nos esse objetivo. Em janeiro, estivemos em Davos, onde cabem no sistema internacional. Não estamos aqui para apagar nacio- apresentamos nosso ambicioso programa Durante as últimas décadas, nos nalidades e soberanias em nome de um de reformas para investidores de todo o deixamos seduzir, sem perceber, por “interesse global” abstrato. mundo. sistemas ideológicos de pensamento que Esta não é a Organização do Interesse Em março, visitamos Washington não buscavam a verdade, mas o poder Global! onde lançamos uma parceria abrangente e absoluto. É a Organização das Nações Unidas. ousada com o governo dos Estados Unidos A ideologia se instalou no terreno da Assim deve permanecer! em todas as áreas, com destaque para a cultura, da educação e da mídia, dominan- Com humildade e confiante no poder coordenação política e para a cooperação do meios de comunicação, universidades libertador da verdade, estejam certos econômica e militar. e escolas. de que poderão contar com este novo Ainda em março, estivemos no Chile, A ideologia invadiu nossos lares para Brasil que aqui apresento aos senhores onde foi lançado o PROSUL, importante investir contra a célula mater de qualquer e senhoras. iniciativa para garantir que a América do sociedade saudável, a família. Agradeço a todos pela graça e glória Sul se consolide como um espaço de Tentam ainda destruir a inocência de de Deus! democracia e de liberdade. nossas crianças, pervertendo até mesmo Meu muito obrigado n

13 j Ives Gandra da Silva Martins Jurista Advogado, professor emérito O TRIBUNAL DE DIREITOS HUMANOS DE ESTRASBURGO da Universidade Presbiteriana Mackenzie, presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP e fundador e presidente honorário do Centro de Extensão Universitária do Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS). [email protected] j 14 O TRIBUNAL DE DIREITOS HUMANOS DE ESTRASBURGO

ecebi do Gen Ref do Exército, constitucional, merecem algumas consi- seria incapaz de gerar prole por processos Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, derações jurídicas. naturais, não se assemelhando à família, Rpresidente da Academia de Ciências De início, quero esclarecer que não que deve ser prestigiada pelo Estado como Políticas e Morais, com sede no Rio de tenho qualquer preconceito contra os base da sociedade. A criação de uma Janeiro, resumo de decisão, que lhe foi homossexuais e – como todos os brasi- sociedade civil, outorgando-se mútuos enviada por Marcos Coimbra, do Tribunal leiros – tenho amigos que adotaram tal direitos e deveres, em contrato que lhes de Direitos Humanos de Estrasburgo, na opção na vida. Tenho, todavia, desde os permita garantirem-se no futuro, tudo isto qual 47 juízes de 47 países, que constituem Comentários à Constituição do Brasil, que é possível, são numerosas as relações o Conselho da Europa, por unanimidade, com Celso Bastos elaborei, em 12.000 jurídicas passíveis de conformar para este declaram que não existe o direito de páginas e 15 volumes pela Editora Saraiva, tipo de sociedade e de uniões. O que não casamento homossexual. entendido que a união de pares do mesmo são e nunca serão é família, no conceito Na referida Resolução – a sentença fala sexo não configura casamento, no sentido tradicional, aquela que tem permitido a em Resolução – contempla-se o conceito consagrado pela Lei Maior, a qual declara evolução da Humanidade pela geração tradicional de casamento, ou seja, a união ser a família a base da sociedade; que o natural de prole na relação entre pai e mãe, do homem e de sua mulher e de que aos Estado tudo fará para prestigiá-la, desde na imensa maioria dos casos. governos não deve ser imposta a obrigação de que formada por homem e mulher; que o Nem há que se argumentar com a abrir o casamento a pessoa do mesmo sexo. casamento religioso tem valor de casamen- exceção, ou seja, de casais que não têm A decisão lastreou-se no art. 12 da to civil entre homem e mulher; que deve, o filhos ou de pessoas que adotam filhos. A Convenção Europeia de Direitos Humanos, Estado, tudo fazer para transformar a união união de homem e mulher permitirá a seus com considerandos filosóficos e antropo- estável em casamento; que a família será filhos a opção mais natural, que é atração lógicos baseados na ordem natural, senso assim considerada, se houver prole, desde pelo sexo oposto. Na grande maioria das comum, relatórios científicos e no direito que ou o homem ou a mulher continue a hipóteses de homossexualismo, a opção positivo. educá-la; que o pátrio poder será exercido sexual realiza-se por influência externa Já o Tribunal Europeu decidira, tam- ou pelo homem ou pela mulher. e após certa idade. Mesmo aqueles que bém, em relação a caso que lhe fora sub- Em nenhum momento, a Constituição, pretendem impor uma ideologia de gênero, metido por casal de homem e mulher, em no art. 226 e seus cinco parágrafos sobre dizendo que os seres humanos nascem sem que o homem mudara de sexo na Finlândia, a família, cuidou de homem e homem e sexo definido – apesar de o aparelho genital pretendendo que fosse reconhecida a mulher e mulher para constituírem a família definir o sexo – sabem, porn experiências, união de duas mulheres como casamento, nos moldes constitucionais. que a esmagadora maioria das crianças tem algo proibido pela legislação finlandesa. Quando o STF decidiu, CONTRA O suas preferências e atitudes acompanhando Considerou que se desejasse mudar seu EXPRESSO TEXTO CONSTITUCIONAL, que sua natureza biológica. estatuto, deveria o casal divorciar-se e família também seria constituída pela união Parece-me, pois, que a decisão unâni- constituir uma nova sociedade civil – não de pessoas do mesmo sexo, VIOLOU o re- me, cujo resumo foi encaminhado pelo Gen casamento – pois casamento só poderia ser ferido artigo, comportando-se como poder Lessa, presidente da Academia de Ciências realizado entre homem e mulher. constituinte e não, o que a Constituição Políticas e Morais, proferido por Corte de Esclareceu, naquela ocasião, o Tribunal determinou ser sua função, ou seja, apenas países com civilizações muito mais antigas Europeu, que a maioria dos países da União de Guardião da Constituição (art. 102). que a brasileira e por juízes imparciais, pres- Europeia não admitia casamento entre Tanto é assim que, nem nas ações diretas tigia o casamento de homem e mulher, pois, pares do mesmo sexo e que cabe à União de inconstitucionalidade por omissão do no curso de toda a História da Humanidade, Europeia respeitar o direito de cada país, Poder Legislativo, a lei prevê que o Judiciário sempre foi a família tradicional, de homem pois esta matéria não diz respeito àquelas possa legislar em seu lugar (art. 103 § 2º). e uma mulher, que permitiu a evolução da de regularização comunitária. À evidência, não pretendo – e nem raça humana. As decisões mencionadas Embora ambas as decisões tenham seria lógico – retirar o direito de conviverem mereceriam reflexão pelos Ministros da tido pouca repercussão no país, à falta de pares do mesmo sexo. Entretanto tal Suprema Corte do país, que admiro por interesse de determinados segmentos de união não seria casamento, como definiu sua cultura, idoneidade e valor, mas que, torná-las públicas, parece-me, todavia, recentemente o Tribunal Europeu de Direitos neste ponto, não respeitaram a Constituição que, do ponto de vista exclusivamente Humanos de Estrasburgo, pois o casal Brasileira n

15 j Pensamento Econômico no Brasil

Ralph Miguel Zerkowski mazelas financeiras e administrativas pela sua luta contra a escravidão, mas Economista do Império, agravando-as de forma im- merece destaque no que diz respeito In memoriam pressionante, gerando em contraposição ao seu desempenho e visão na parte à Monarquia uma enorme instabilidade econômica. No seu famoso livro Minha esta parte iremos examinar os política, matéria prima para os estudos Formação desponta trechos em que se tempos, os fatos, os valores, bem posteriores dos nossos analistas sociais. revela um liberal econômico, a favor da Ncomo os principais protagonistas Há que se recordar que de uma industrialização com base em empreen- do período compreendido entre o final do maneira geral, tanto o mundo europeu dimentos nacionais, da reforma agrária e século e as implicações da República, como o norte-americano e até mesmo o da importância da criação de um mercado a chamada República Velha até atingir a asiático (Japão) passaram por transfor- interno. Lembrar que intelectualmente foi Revolução de Trinta e seus desdobramen- mações econômicas, políticas e sociais impactado pela sua estada na Inglaterra, tos até o fim da Segunda Guerra Mundial. que se iniciam no fim do século XVIII e se onde esteve durante alguns anos, além Entenda-se uma coisa. Os persona- aceleram na segunda metade do século de embaixador nos Estados Unidos de gens que irão frequentar estas páginas XIX, chegando ao seu ápice às vésperas 1905 a 1910. Walter Bagehot (1823-1877), são o que se denominaria hoje de pen- da Primeira Guerra Mundial. Este seria o Edmund Burke (1728-1798) e David sadores sociais, indivíduos dotados de mundo de boa parte do século XX até os Hume (1711-1776), dentre outros liberais uma ampla cultura geral, dentro da qual anos 70 aproximadamente. ingleses, também o viriam a influenciar. apareceriam alguns conhecimentos de Neste diapasão o Brasil se embre- Percebeu que o centralismo das grandes Economia, o que, aliás, já foi mencionado nhava em contradições, indecisões que capitais como Rio de Janeiro e São Paulo anteriormente. Talvez tivessem já um se arrastariam ao longo do século XIX, atrofiavam as atividades econômicas. conhecimento mais sofisticado e mais passariam para o século XX e só muito O segundo protagonista, já entrando consentâneo com o seu tempo. Entretanto lentamente se modificariam a partir da no período republicano, que deve ser se comparados aos atuais economistas ou eclosão da Grande Guerra que obrigaria, mencionado é Rui Barbosa (1849-1923). cientistas sociais, não passariam de livres após, a realizar um primeiro processo de Decantado em prosa e verso como dos pensantes brilhantes certamente, mas sem substituição de importações passando a mais inteligentes da História brasileira, o conhecimento técnico dos dias de hoje. ser autossuficiente em alimentos e im- dedicou-se também aos assuntos econô- Neste sentido não vale a pena com- plantando os pólos de algumas indústrias mico-financeiros. Quais as ideias essen- parar o Brasil à Europa, o que é óbvio, como a têxtil, por exemplo. ciais de Rui? Defendia a Industrialização mas aos Estados Unidos, que a partir da Por outro lado, tal como aconteceu em como meio de subsistência do país asso- segunda metade do século XIX enfatizaram outros países, a pressão demográfica se ciada à agricultura. Entretanto colocava-se e perceberam a importância das ciências acentuou passando de quase 10 milhões contra o protecionismo, mesmo que como sociais de uma maneira geral e da econo- em 1872 a 45 milhões em 1945, e o que incentivo inicial. No que diz respeito à mia de uma forma muito particular. Isto é é mais importante, com uma taxa de tributação, defendia a primazia dos tão relevante que já à época da Primeira urbanização crescente, muito embora a impostos diretos como mais justos e que Guerra Mundial existe uma admiração por população rural superasse ainda a urbana incentivariam a produção. Condenava parte dos europeus pela Nação americana. em 1945. Este é um dado importante para as emissões de papel moeda e defendia Lê-se em Machado de Assis, em um se entender as pressões econômicas, o monopólio estatal de sua emissão. O dos seus contos, que o funcionário do sociais e políticas que o século XX traria, crédito público para o setor privado era governo assim que se viu proclamada a obrigando os estudiosos a se dedicarem defendido como meio produtivo eficaz. República, simplesmente tirou da parede o mais às ciências sociais. Defendia a industrialização como meio retrato do Imperador e em seguida colocou Ainda dentro da Monarquia e depois de subsistência do país associada à a do Marechal Deodoro. Com isto queria na República teremos que dar crédito a agricultura, sem protecionismo. assinalar que nada teria mudado. De fato Joaquim Nabuco, cujo ano de centenário Pandiá Calógeras (1870-1934), mi- tardaríamos até ao início do século para de morte celebramos e que nasceu em nistro da Agricultura, Fazenda e Guerra, que algo mais moderado ocorresse. 1849, filho de outro não menos notável: além de empresário e deputado, ocupou Entretanto a República herdaria as o senador Tomás Nabuco. Notabilizou-se papel de mais amplo relevo. Sua obra é j 16 SEGUNDA PARTE Pensamento Econômico no Brasil 1889/1945 - República ao fim da Era Vargas

vastíssima: administração, finança públi- Há toda uma geração de financistas econômicos. Invariavelmente os temas ca, economia, direito de minas, política que tiveram a sua importância e que tratados eram o déficit orçamentário, a externa, História do Brasil dentre outros. pontificaram ao longo do fim do Império emissão de moeda (falava-se então em Sua frase célebre encerra uma lição de até à República Velha. Alguns deles: Amaro lastro), o gravame dos impostos, que obe- economia e finanças: todo orçamento Cavalcanti (1851-1922) foi prefeito do decia mais às necessidades orçamentárias reflete uma política de governo. Isto quer Distrito Federal e ministro da Fazenda; do que a qualquer princípio de razoabili- dizer que ele foi o primeiro a avaliar os Serzedelo Correia (1858-1932), ministro dade econômica e, também, à questão da aspectos qualitativos da receita e da dos Transportes, Fazenda e Agricultura; dívida pública, sua extensão, limites de despesa pública. Percebeu as implicações Joaquim Murtinho (1848-1911) foi mi- endividamento etc. Obviamente recorriam da dívida pública e sua relação com as nistro da Viação, Indústria e Comércio e a empréstimos externos garantidos por emissões e a política monetária de uma da Fazenda. Dentre eles, Murtinho foi o arrecadações futuras. Não faltavam maneira geral. Os problemas administra- que mais se notabilizou, permanecendo também os funding-loans, empréstimos tivos governamentais ocuparam sua vida e no governo de 1898 a1902; e Leopoldo para saldar empréstimos e consolidar percebia que de uma maneira ou de outra o Bulhões (1856-1928), ministro da Fazenda a dívida. Nas províncias eventualmente governo influenciava a vida econômica do em 1906. Como todos eles, suas obras se a coisa se repetia em menor escala e país, acabando com a ideia prevalecente expressavam em relatórios do Ministério terminaria com a Revolução de 30, umas de orçamento neutro. Teve o mérito de da Fazenda nos quais, através da prática das razões dela. A Revolução de 1930 juntar a prática administrativa à teoria. administrativa, se apropriava de assuntos muda o panorama do país e seu quadro

17 j administrativo. É a modernização dele mente um historiador social. Ainda assim podendo competir internacionalmente. Em como um todo. Neste sentido o elenco de percorre lateralmente o fenômeno eco- compensação, como exportador de pro- personagens é sensivelmente aumentado. nômico que estava por trás das relações dutos primários, tínhamos possibilidades Destacam-se Oliveira Vianna (1883-1951), humanas e sociais tão bem delineadas de exportar e ter um processo produtivo Caio Prado Júnior (1907-1980), Roberto por ele: o latifúndio, o problema de custo eficiente ,e como via de consequência, Simonsen (1889-1948), Eugenio Gudin de mão de obra e mesmo as consequên- gerar maior renda nacional. (1886-1986) e Otavio Gouveia de Bulhões cias econômicas do abolicionismo. Em De um modo geral a sensação que (1906-1990). De uma maneira geral Ordem e Progresso, que é uma espécie fica é a de que as ideias econômicas e a refletemo novo estado de coisas e vêm na de inquérito social familiar, aparecem as concepção mesma de ciência econômica esteira da industrialização e urbanização, feitas pelos seus entrevistados, em que penetraram tardiamente no Brasil, tal cujo corolário encontra-se na eclosão se fica sabendo que liam Karl Marx, só como o próprio desenvolvimento. Só da Segunda Guerra Mundial, que traria para exemplificar. Mas o faziam apenas para efeito de comparação, nos Estados profundas consequências para o Brasil. a título de cultura, como leriam liberais Unidos, na segunda metade do século XIX Oliveira Vianna aparece como ana- econômicos ingleses, sem que com isto com aceleração para o final do século, o lista econômico em História Social do se engajassem num ou noutro modo de ensino de economia já era algo estabele- Capitalismo no Brasil, no qual aponta o pensar necessariamente. cido, sem falar naturalmente da Europa n elemento do pré-capitalismo que seria Em meados dos anos 40 do século Notas: a base de existência do capitalismo e passado, assistem o debate que marcaria 1 - Não faltavam indivíduos franceses, ingleses, suas implicações para o atraso do país. para sempre as ideias econômicas no alemães que eventualmente consideravam Importante assinalar a obra Instituições Brasil. Trata-se do confronto entre Eugenio os americanos um tanto quanto primitivos e provinciais. Políticas Brasileiras, que servem de pano Gudin (1889-1989) e Roberto Simonsen 2 - A passagem do século XVIII para o século de fundo para o desenvolvimento do (1889-1949). O primeiro defendendo a XIX marca a chamada Era das Revoluções: a Francesa, a Revolução Americana, a Revolução país. O centralismo e certo autoritarismo prevalência do mercado e, o segundo, a Industrial, com desdobramentos que resultariam emergem desta obra, bem como o cor- intervenção governamental através do na emergência da Nação-Estado. Todo este desencadear de fatos gerou condições para porativismo, pano de fundo do fascismo planejamento. Os primeiros impactos do a aceleração do desenvolvimento material e muito em voga àquela época. keynesianismo já se fazem presentes, espiritual do mundo ocidental. De alguma forma o Brasil passava ao largo neste processo. A Caio Prado Júnior entra como histo- bem como o problema da intervenção percepção das informações se fazia com alguma riador econômico antes mesmo de Celso governamental quer seja sobre a ótica defasagem no tempo. 3 - O IBGE publica ao longo da década dos 40 Furtado, que só apareceria após 1945. de regulador quer seja sobre a forma de os Censos Econômicos de 1939 e o Demográfico Destaca os diversos ciclos econômicos empreendedor. de 1940. Em ambos parece claro a emergência por que passou o Brasil do ouro, da Também fica claro nesta discussão industrial brasileira e as transformações induzidas pela urbanização. Como não tinha havido cana, do gado etc. Destaca os elementos que, conforme foi dito, a controvérsia que Recenseamento desde 1920, estas transformações formadores. Usa moderadamente a empolgaria a década seguinte era a de que foram ainda mais contundentes dado o lapso de tempo entre os dois eventos. instrumentação marxista. É de certa forma o Brasil deveria ou não se industrializar. 4 - A obra de Oliveira Vianna é mais conhecida uma novidade, pois incorpora o econômico Simonsen colocava-se em favor desta através de “Instituições Políticas”, que é mostrada como uma versão do fascismo tropical. É uma à análise histórica. como meio de libertação econômica capaz pena, porque a sua visão de capitalismo é muito Na década de 1940 a dupla Gudin/ de empregar pessoas que, a esta altura, já interessante. 5 - O marxismo penetraria no Brasil de forma mais Bulhões apareceria e seria usada sempre se deslocavam para os centros urbanos. E sistemática a partir de 1932 pelas publicações do como fator de referência quer para elogios criar um mercado interno. É desta época jovem Marx, muito embora o Partido Comunista quer para ataques. É o gérmen daquilo a expressão produtos gravosos, ou seja, Brasileiro tivesse sido fundado em 1922. 6 - Ambos são os primeiros ao quais se pode que marcaria o debate econômico e que produtos primários que tendiam a altas atribuir o termo economista. vem até nossos dias, a intervenção ou flutuações de preços e, consequentemen- 7 - Autor de importante livro de História Econômica do Brasil. não do Estado no domínio econômico. te, aumentavam ou diminuíam as receitas 8 - Lembrar que datam desta época a Companhia Nesta época há a famosa controvérsia cambiais e a renda interna do país. Vale do Rio Doce, a Companhia Siderúrgica Nacional, a Previdência Estatal, o início do entre Gudin e Roberto Simonsen sobre Já do lado oposto veríamos Gudin ale- controle de preços etc. o planejamento econômico, que também gando que os custos desta industrialização 9 - Deve ter sido uma das primeiras vezes que alguém utilizou esta expressão no Brasil. Assinale- dominaria o cenário dos anos 50, 60 e 70. seriam elevados, já que não possuíamos se ainda que com a eclosão da Segunda Guerra Ainda com alguma reserva devemos vantagens comparativas, ou seja, pro- Mundial os preços tanto das matérias primas quanto dos produtos alimentares cresceram mencionar a obra de Gilberto Freire. duziríamos a preços não competitivos enormemente, dando a impressão eventual de Dizemos com reserva, pois foi essencial- prejudicando o consumidor interno e não que Gudin estaria certo. j 18 Percival Puggina Membro da Academia Riograndense de Letras, arquiteto, empresário e escritor [email protected] GUERRA DE NARRATIVAS E SUAS VÍTIMAS urante cerca de trinta anos, aqui em Porto Alegre, onde promover o convencimento dos alunos. O ambiente escolar é Dresido, participei intensamente de debates em programas sagrado demais para isso. de rádio e TV. O formato era mais ou menos o mesmo em todas Por outro lado, quase tão desonesto quanto mentir aos as emissoras: colocavam-se frente a frente duas posições alunos é esconder o ponto de vista divergente e ocultar autores e distintas sobre um tema em evidência. O objetivo não era que livros que contestem as ideias do professor, da disciplina, ou do os participantes chegassem a um improbabilíssimo consenso, departamento. E é exatamente isso que, há décadas, acontece mas digladiassem com as armas da lógica e da retórica para no Brasil, escondendo-se as obras de autores conservadores e convencerem a audiência. A regra ética prevalente, muitas vezes liberais, como Antonio Paim, Meira Penna, João Camilo, Roberto rompida, era a de não mentir. Eu tinha uma lista de mentirosos Campos, Ives Gandra, Olavo de Carvalho, dentre tantos outros. com os quais não debatia. Na contramão, intoxicam-se os colegiais com obras marxistas e Perante o tribunal da opinião pública, é aceitável que lados em com textos rasteiros, como o lamentável Veias abertas da América confronto, ao expor suas posições, sublinhem o que lhes convém, Latina, renegado pelo próprio autor. e descartem o que seja inconveniente. Apontar contradições e No mesmo diapasão, a mãe das humanidades, a grande e inconsistências de cada um, caso existam, é tarefa que compete apaixonante ciência da História, se tornou terreno fertilíssimo para ao outro lado da mesa. Mentir, porém, é sempre indecoroso. essa importação da retórica política ao campo da ciência. Nasceu Estou contando isso para reconhecer perfeitamente legítimo que, e prosperou, nos últimos anos, uma nova História, dita crítica, no debate político, cada lado adote a narrativa que melhor lhe que simplesmente prostitui a nobre ciência no leito das lascívias convier. Repito para absoluta clareza: refiro-me a esse específico do poder e das preliminares da disputa pelo poder hegemônico. tipo de interlocução. Como pode a História se converter em objeto de uma guerra de Recentemente, um professor a quem apontei a parcialidade narrativas, em que, como sempre, a verdade é a primeira a ser na qual afundou a educação em nosso país, contestou-me dizendo imolada? que isso se explica porque toda observação da realidade é feita a Intelectuais, historiadores e professores têm a obrigação de partir de um ponto, ou seja, um professor só poderia falar desde respeitar a sala de aula e a ciência. Não lhes é lícito ocultar interpre- o seu ponto de vista. Eu o refutei, sustentando que tal atitude era tações e autores divergentes nem exercer uma atividade militante válida no debate político, mas a sala de aula não era lugar para tais em que a mais grossa mentira é admitida pela habitualidade com disputas, nem para disputas com tais caraterísticas, mormente que é contada. Padecem a verdade e o conhecimento, restringe-se com protagonismo do professor. É totalmente impróprio, ali, a liberdade dos alunos e até sua identidade resulta afetada n

19 j Frederico José Bergamo de Andrade Cel Art Ex [email protected] A GUERRA DO BRASIL ltimo argumento dos reis e poderoso instrumento de conquista Úterritorial, o canhão tem sido apontado como símbolo maior da guerra convencional. No pensamento de Zbigniew Brzenzinsk, entretanto, autor de A Revolução Tecnetrônica, a diplomacia do canhão seria coisa do passado; o futuro caberia à diplomacia das redes, ou seja, aos órgãos e redes de comunicação social. Estes, ao contrário do poder bélico, de ação espacialmente horizontal, agiriam verticalmente, penetrando na grande reserva que é a alma humana (Edgar Morin). É que vivemos um tempo no qual uma doutrina de viés militar, rotulada de quarta geração, vem sendo aplicada em proporções cada vez maiores, por força do progresso tecnológico, nos conflitos entre nações. Nela são preconizadas ações psi- cológicas que visam interferir no campo psicossocial do país alvo, diminuindo a autoestima do seu povo, reduzindo ao mínimo seu espírito de coesão. Canhões de uma nova era, os órgãos de comunicação social, com ênfase na mí- dia televisiva, modelam a opinião pública, sobrepujando universidades, igrejas, mo- vimentos sociais e partidos políticos. Em função disso, muitos países se preocupam em regulamentar o funcionamento dos divisão político-ideológica entre esquerda de cobiça internacional, por eles negada; meios de comunicação social no intuito e direita por outra que posiciona, de um ora defensores de minorias étnicas, de impedir a formação de um oligopólio lado, agentes da desagregação étnica especialmente a dos povos indígenas, midiático que, respaldado pela liberdade e social, facilitadora de intervenções por eles condenados a viverem em de expressão, possa vir eventualmente a neocolonialistas e, de outro, patriotas uma espécie de jardim antropológico; promover interesses comprovadamente permanentemente vigilantes com relação ora arautos da incapacidade de o povo antinacionais. às tentativas espoliadoras do nosso brasileiro gerir o seu próprio destino; Por oportuno, cito o pensamento patrimônio físico e cultural. ora enaltecendo o coro de vozes que do de um dos mais ilustres brasileiros É fácil constatar, e também motivo exterior, de terras estrangeiras, se dedi- contemporâneos, Barbosa Lima Sobrinho, de patriótica preocupação, a presença cam a denegrir a imagem do Brasil. Não militante de uma esquerda então naciona- de ativistas do partido de Silvério se vexam em revelar publicamente seus lista: No Brasil só existem dois partidos: em setores da grande imprensa. Ora propósitos internacionalistas por conta- o de Tiradentes e o de Silvério dos Reis. transvestidos em defensores do meio rem, assim acreditam, com um ambiente Eu pertenço ao primeiro. ambiente, com destaque para o da cultural por eles próprios, formadores Tal assertiva substitui a tradicional Amazônia, região historicamente alvo de opinião, cuidadosamente cultivado j 20 A GUERRA DO BRASIL

ao longo dos anos, favorável aos seus o planeta terra devem ser tratadas sob de defenderem causas nobres e de nefandos desígnios. E porque existe uma uma ótica universal, não importando se âmbito universal, planejam, na realidade, o resistência patriótica nas redes sociais, isso venha trazer benefícios para uns e controle futuro da exploração de parte dos cria-se um cenário de enfrentamento, malefícios para outros. E entre os outros, ricos e abundantes recursos naturais que de confronto, um verdadeiro campo de estamos nós, o Brasil e o seu povo. o Brasil possui; e atendem, igualmente, batalha, objetivando-se a conquista dos Dentro dessa visão universalista, ao aos interesses dos que concorrem com corações e das mentes. introduzirem uma fórmula neocolonialista o Brasil na produção de alimentos. Eis a guerra do Brasil, sem fim e sem no trato da causa indígena e da questão Guerra do Brasil. Em face do exposto, tratado de paz. ambiental, tornaram o Brasil prisioneiro quem a está vencendo no momento são Para os internacionalistas o conceito de suas próprias terras. No Brasil de os partidários de Silvério dos Reis que, atual de soberania nacional tornou-se hoje, menos de 8% do seu território são infelizmente, para isso, contam com o arcaico e está sendo atropelado por uma de terras cultiváveis. Nossos porcentuais apoio de parte de uma imprensa também nova geografia que não respeita fronteiras de terras protegidas, preservadas e silveriana. físicas e nem mesmo as culturais. As cau- cultiváveis atendem, sim, aos interesses Em defesa de uma nação ameaçada, sas e questões temáticas que preocupam de países hegemônicos que, a pretexto resistir é preciso n

21 j j 22 Reis Friede Desembargador Federal, Presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (biênio 2019/21), Mestre e Doutor em Direito e Professor Adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. [email protected] O EMBLEMÁTICO ANO DE 1968

ano de 1968 foi ímpar (e emble- a juventude contestava as estruturas que estratégia mais eficiente (para se propor mático) na História do século XX. dominavam suas vidas, cotidianos e rela- ideias e buscar mudanças sociopolíticas).” OFoi o resultado de vários fatores, ções familiares (...).” (GABRIEL CARIELLO; (GABRIEL CARIELLO; O Ativismo na Era do mas, preponderantemente, a chegada à O Ativismo na Era do Desencanto, O Globo, Desencanto, O Globo, 24/06/2018, p. 11) suposta vida adulta (ou à denominada pós- 24/06/2018, p. 11) Porém, foram (reconhecidamente) mui- -adolescência) de uma expressiva parcela Portanto, esses novos (e expressivos) to exitosos em, involuntariamente, conceber da população que nasceu nos últimos anos contingentes populacionais acabaram por (e legitimar) pretensos ditadores, adiando, da Segunda Guerra Mundial (e, portanto, não vivenciar um (autêntico) mundo paralelo, muito provavelmente, a vitória (derradeira) testemunhou, conscientemente, os horrores completamente divorciado do mundo da democracia liberal sobre o totalitarismo daquele embate global), ou, mais preci- real, passando a contestar, com grande (e, em parte, os governos autoritários) e o samente, no imediato período pós-guerra veemência, uma realidade (efetiva) que próprio fim da Guerra Fria. (geração baby boom), desfrutando, pois, eles simplesmente não tinham capacidade Os países que mais diretamente so- de uma (inédita) era de grande prosperidade (e nem suficiente discernimento) para freram as (imaturas e irrefletidas) ações econômica e elevado desenvolvimento compreender em sua inteireza. dessa juventude (em, muitas vezes, in- social (não obstante a existência de tensões Destarte, embriagados por um roman- compreensível fúria) foram exatamente os oriundas da denominada Guerra Fria, que, tismo completamente desconectado da que mais recuaram em seus respectivos em decorrência de suas próprias caracterís- realidade, abalaram os alicerces (e estruturas caminhos para a implantação de um pleno ticas de exteriorização através de conflitos sociopolíticas) na maior parte dos países do regime democrático, com ênfase na França, localizados, foram muito pouco conhecidas mundo, muito embora, em nenhum deles, nos Estados Unidos, na Tchecoslováquia e compreendidas por esta nova geração). sem qualquer exceção, tenham (verdadeira- (incluindo a Europa Oriental, de modo geral) “Os estudantes tomaram as ruas. Os mente) logrado qualquer vitória no sentido de e no próprio Brasil. operários pararam as máquinas. Os negros alterar ou modificar o status quo. “A morte do Soldado MÁRIO KOZEL cerraram os punhos, e as mulheres queima- “Décadas depois (dos emblemáticos FILHO, em 1968, foi consequência do ram os sutiãs. Revistos com o benefício do anos finais da década de 60, com ênfase ambiente da Guerra Fria que se refletia no tempo, gestos de antes, durante e depois em 1968), os jovens voltaram às ruas. A mundo e penetrava no Brasil. Um período de hoje transformam aquele ano no ponto partir de 2010, uma onda de protestos na de entusiasmos artificializados, de intole- de convergência do ativismo no século XX: Tunísia e no Egito foi o epicentro da chamada râncias incitadas e de paixões extremadas um século que oscilou entre o autoritarismo Primavera Árabe. Levou jovens americanos que faziam os brasileiros míopes para a e a rebeldia (...). a ocupar o centro do sistema financeiro realidade civilizada. Foi um tempo que nos Os movimentos de 1968 foram eclo- internacional. Provocou confrontos vio- dividiu, que fragmentou a sociedade e nos dindo em vários países, sem ter neces- lentos entre policiais e manifestantes na tornou conflitivos. A fratura da sociedade é sariamente relação uns com os outros. O Turquia. E chegou ao Brasil em 2013, com uma experiência para ser lembrada. Deixou- sentimento geral era o de luta pela liberdade, os movimentos contra o aumento nas tarifas nos ensinamentos que não podem ser fosse política, social ou individual (...). O de transporte. esquecidos ou negligenciados.” (CLAUDIO protagonismo foi dos jovens. Dos subúrbios (...) (somente) depois dos atos de 2013, DANTAS; Exército Presta Homenagem de Paris às ruas de Praga, nas marchas de os movimentos sociais perceberam que o Inédita a Soldado Morto por Grupo de Dilma Washington e nas passeatas da Cinelândia, diálogo (e não a violência) passou a ser uma em 1968, Disponível em:

23 j < https://www.oantagonista.com/ termo ao processo de redemocratização brasil/exercito-presta-homenagem-ine- que, fatalmente, conduziria ao fim dos dita-soldado-morto-por-grupo-de-dilma- denominados, à época, satélites da União -em-1968/> Acesso em: <6 Jul 2018>) Soviética e aceleraria o processo de dissolu- Não foi, desse modo, um ano a se ção da mesma, o que somente veio a ocorrer festejar, como apregoam os menos avisados efetivamente em 1991) e por Costa e Silva (e mesmo alguns estudiosos que analisam no Brasil (em relação à edição do malsinado aquele período histórico com indesculpável AI-5, em 13 de dezembro de 1968), apenas superficialidade); muito pelo contrário, foi para citar os exemplos mais conhecidos uma época de grande retrocesso, ainda e propositadamente protagonizados por que tenha (também e em contraposição atores completamente distintos, seja sob crítica) marcado a ascensão protagonística o aspecto de suas divergentes concepções da juventude (e o início de discussões ideológicas, seja sob as distantes óticas importantes, como o feminismo e de outras geográficas e político-contextuais. questões até então inéditas) no processo “O verso do poeta FÉLIX DE ATHAYDE político mundial. exprime, melhor do que um tratado, o estado Dos Diversos Tipos de Autocratas: os de espírito dos que lutavam nas ruas do forjados pelas circunstâncias históricas e país contra o governo, instaurado em fins os geneticamente predisponíveis de março de 1964 por uma ampla coalizão Se, por um lado, é verdadeiro o fato civil-militar. de que existiram (e continuam a existir) As políticas adotadas pelo primeiro go- ditadores cujas veias totalitárias advêm, em verno militar suscitaram descontentamento. certa medida, de circunstâncias históricas Os trabalhadores sofriam com o arrocho umbilicalmente combinadas com distúrbios salarial. Os empresários, com a falta de de provável origem genética (v.g. Hitler, créditos. As classes médias, protagonistas Stalin, Pol Pot, dentre tantos outros), o sin- das Marchas da Família com Deus pela gular ano de 1968 (pontuado no contexto de Liberdade, que deram respaldo social ao outros emblemáticos episódios humanos) movimento, não se viam recompensadas. também foi útil em demonstrar, de forma, Grande parte da mídia que incentivara os no mínimo, surpreendente, que é igualmente militares a depor JOÃO GOULART cobria o possível forjar (artificialmente) tiranos governo de críticas (...). exclusivamente em função de situações- Os universitários e secundaristas -limite (caracterizadas por pressões de exprimiam com vigor as insatisfações. Em tamanha e incontrolável magnitude), em 1966-1967, passeatas nas grandes cidades que, simplesmente, não há (ou aparenta do país conferiram musculatura a suas não haver) outra alternativa para a própria entidades e autoconfiança às lideranças. A sobrevivência política (seja da agremiação (tímida) repressão policial (...) não conse- governamental ou do próprio titular do guia deter o processo. cargo), exceto através do emprego (em sua Em 1968, o país vivia sob o segundo ampla maioria, comprovado e curiosamente governo militar. Ele veio com promessas indesejado) da repressão em suas mais de ‘diálogo’ e ‘humanização’, porém, estas diversas gradações. boas palavras não mereciam crédito (por Foram os casos e episódios viven- parte de certos segmentos da) opinião públi- ciados, em particular reação aos desafios ca. A morte do jovem EDSON LUÍS DE LIMA impostos pelos acontecimentos de 1968, SOUTO, em fins de março, desencadeou pelo herói francês da Segunda Guerra novas ondas de protesto em todo o país. (...) Mundial, Charles De Gaulle (em relação Em maio e junho de 1968, passeatas no à necessária repressão aos estudantes Rio alcançaram um novo auge. (...) franceses), por Leonid Brejnev (no caso As lutas culminaram na passeata cha- da invasão da Tchecoslováquia para pôr mada dos Cem Mil, ocorrida em 26 de junho j 24 de 1968 (no contexto dos acontecimentos presos e três deixaram o país. Só um ficou internacionais).” (DANIEL AARÃO REIS; livre no Brasil, com outro nome. Nada é Dado, Tudo é Conquistado, O Globo, A VPR e suas congêneres nunca 26/06/2018, p. 12) defenderam a ordem democrática. Já os “Em 26 de junho de 1968 ocorreu a ministros que participaram da reunião do chamada ‘Passeata dos Cem Mil’, a jornada Conselho de Segurança Nacional que baixou durante a qual o Centro do Rio foi tomado o AI-5 exaltaram a democracia apesar dos por milhares de pessoas que defendiam as métodos empregados.” (ELIO GASPARI; 26 liberdades públicas. (...) A passeata tomou de junho de 1968: A Alvorada da Treva, O conta da história de 1968, mas ela foi um Globo, 10/06/2018, p. 6) crepúsculo. A treva amanhecera horas Porém – apesar de todas as suas antes, durante a madrugada, quando um inerentes diferenças – todos esses líderes caminhão com 50 quilos de dinamite explo- políticos, sem exceção – ainda que a seu diu diante do portão do QG do II Exército, modo (muitas vezes mais ditado pelas cir- matando o soldado (de apenas 18 anos de cunstâncias do que propriamente por suas idade) MÁRIO KOZEL FILHO e ferindo cinco vontades livres) – foram reconhecidamente outros militares. complacentes (pelo menos, em alguma O atentado foi obra da Vanguarda medida) com os desafios impostos por um Popular Revolucionária – VPR (...). Oito verdadeiro levante popular notadamente horas depois, no Rio, a passeata saiu juvenil, de inédita natureza anárquica (ou, no da Cinelândia e percorreu a Avenida Rio mínimo, de racionalidade duvidosa) em que Branco. No dia seguinte, todos os grandes não se conseguia, de forma lúcida, perceber jornais noticiaram com destaque os dois reivindicações lógicas e minimamente fatos. Aos poucos, porém, a lembrança do possíveis de serem plenamente atendidas. (cruel e sanguinário) atentado evaporou, “Não é possível travar discussões em abafada pelo romantismo da manifestação níveis distintos. Quando alguém discute no do Rio e pelo silêncio que protegia o nível cognitivo e outro no nível emocional radicalismo esquerdista da época. estão discutindo em circuitos diferentes e, Na passeata, enquanto uma parte dos portanto, incomunicáveis.” (REIS FRIEDE; manifestantes dizia que ‘o povo unido jamais Palestra Proferida na Escola Superior da será vencido’, outra, menor, proclamava Magistratura do Amazonas, em 25/06/2018) que ‘o povo armado jamais será vencido’. Tratava-se, no sentir de vários estudio- Seis meses depois, o presidente COSTA e sos, de uma autêntica tentativa de revolução SILVA baixou o Ato Institucional nº 5. (...) O inovadora, caracterizada por uma completa atentado serviu para estimular radicalismos, ausência de propósitos claros e objetivos influenciando a vida do país, enquanto a e, sobretudo, factíveis. Apresentava-se, passeata ficou como uma boa lembrança, ainda que de forma não intencional, como nada além disso. (...) um movimento do nada pelo nada, ou seja, (Por outro lado) o atentado e a facilida- consistente em sua forma (continente), mas de com que se assaltavam bancos no final absolutamente desprovido de substância da década de 60 deram aos grupos radicais (conteúdo). Tão verdadeira a assertiva que, de esquerda uma enganosa sensação de para completa surpresa de toda a sociedade invulnerabilidade. Quatro meses depois, (nos diversos e diferentes países em que dois dos terroristas que estiveram no ataque a mesma, quase que concomitantemente, ao QG participaram do assassinato de um emergiu) suas palavras (universais) de capitão americano que vivia em São Paulo. ordem, repetidas como se não fossem sequer O Regime Militar respondeu ao surto ouvidas pelos seus próprios verbalizadores, radical (...). Dos treze militantes que par- não fizessem qualquer sentido: tudo, absolu- ticiparam dos ataques ao hospital militar e tamente, era reivindicado, ao mesmo tempo ao QG, dois foram executados, sete foram em que nada concretamente era postulado n

25 j Carlos Frederico G. Calvet da Silveira Filósofo Vice-diretor do Centro de Teologia e Humanidades, presidente do Centro Dom Vital - RJ HANNAHHANNAH ARENDTARENDT [email protected]

filosofia política foi, desde seu sur- PENSAR,PENSAR, QUERERQUERER EE JULGARJULGAR gimento na Antiguidade, um saber A fundamental que articulava o saber prático sobre o comportamento humano e o saber político sobre a vida do homem na polis. Essa tradição continuou ao longo dos séculos formando um longo cabedal de problemas e temas que constituem as fontes das mais variadas teorias políticas que surgiram no mundo moderno. Com o crescimento dos estados democráticos, a reflexão política ganhou um espaço ainda maior do que tivera na História do Ocidente, de modo especial nos debates do século XX. Hannah Arendt insere-se nesse contexto de alto desenvolvimento do debate político e se torna um dos nomes mais respeitáveis da ciência e da filosofia política. Percorreremos seu pensamento a partir de três de suas obras, que representam também três momentos bem distintos do desenvolvimento das ideias de nossa filósofa.

O TOTALITARISMO O primeiro impacto do pensamento de Hannah Arendt nos atingiu com As origens do totalitarismo, de 1951. Esta obra, complexa e erudita, articula-se em torno de três grandes temas: o antissemitismo, o imperialismo e o totalitarismo. A novidade da pesquisa de Arendt, nesse ponto de sua obra, consiste em compartilhar o antissemitismo com os próprios judeus. Cada judeu se tornava odioso na medida em que era associado mais de cem anos os judeus ocupa- verdade que as estatísticas não indicam ao Estado. Por quê? A autora completa: vam posições-chave, já estavam quase necessariamente processos históricos O antissemitismo alcançou o seu clímax “judenrein” – desjudaizados – e os judeus reais: mas é digno de nota que, para um quando os judeus haviam, de modo na Alemanha, após longo e contínuo estatístico, a perseguição e o extermínio análogo, perdido as funções públicas e crescimento em posição social e em dos judeus pelos nazistas pudessem a influência, e quando nada lhes restava número, declinavam tão rapidamente parecer uma insensata aceleração de um senão sua riqueza. Quando Hitler subiu que os estatísticos prediziam o seu processo que provavelmente ocorreria de ao poder, os bancos alemães, onde por desaparecimento em poucas décadas. É qualquer modo, em termos da extinção do j 26 HANNAHHANNAH ARENDTARENDT PENSAR,PENSAR, QUERERQUERER EE JULGARJULGAR

judaísmo alemão. (ARENDT, 1989 : 24). fundamental do continente no século tudo perde o significado, a não ser a Os conceitos de imperialismo e de XIX, política que consiste numa expansão própria força como motor indestrutível totalitarismo vêm completar e aprofundar de cunho econômico e, portanto, de e autoalimentador de toda ação política essas ideias inovadoras a respeito de an- viés capitalista. Mais correto seria até correspondente à lendária acumulação tissemitismo. Comecemos por considerar dizer uma subordinação da política aos incessante de dinheiro que gera dinheiro. o que a filósofa entende por imperialismo interesses econômicos como desenlace O conceito de expansão ilimitada como nos tempos modernos. Trata-se da natural do surgimento da burguesia e único meio de realizar a esperança de expansão europeia que torna a política do acúmulo do capital: Nesse caso, acúmulo ilimitado de capital, que traz

27 j um despropositado acúmulo de força, A CONDIÇÃO HUMANA télica, pertence à vida pública, é uma torna quase impossível a fundação de Esta obra de 1958 pode ser seguida forma de o homem nascer em sociedade, novos corpos políticos – que até a era por suas três partes fundamentais: labor, de manifestar-se humano. É uma expe- do imperialismo sempre resultavam da trabalho e ação. Estas são, na verdade, riência do ser e, ao mesmo tempo, não conquista. (ARENDT, 1989 : 167). as condições de vida do homem moderno se reduz à produção despersonalizada e A conjugação das ânsias burguesas na sociedade. Trata-se de centrar a massificada do trabalho. É a presença do em vista da exploração pelo capital e consideração do homem no seu aspecto homem no mundo: Com a expressão “vita as carências econômicas dos estados de ser em ação, caracterizando assim os ativa”, pretendo designar três atividades europeus, necessitados, pois, de fontes três tipos fundamentais de ação humana humanas fundamentais: labor, trabalho de financiamento econômico de seus (ou desumana). O labor é a atividade mais e ação. (...) O labor é a atividade que domínios, levam-nos a um comprometi- primitiva do homem, ou seja, o labor é corresponde ao processo biológico do mento com a nova classe em ascensão, aquela ação humana que se restringe às corpo humano (...). A condição humana a burguesia. O desenvolvimento de uma atividades de sobrevivência. É a atividade do labor é a própria vida. O trabalho é a política concorde com a nossa classe em que não deixa rastros, é de consumo, sem atividade correspondente ao artificialismo ascensão põe os judeus, detentores de algum sinal do homem propriamente. da existência humana (...). O trabalho grande capital naquele momento, na cena Pelo labor, nós consumimos o mundo: A produz um mundo “artificial” de coisas, da exploração expansionista, conquanto necessidade de subsistência comanda nitidamente diferente de qualquer am- se tornam financiadores dos estados e tanto o labor como o consumo; e o labor, biente natural. A condição humana do da política de expansão colonizadora do quando incorpora, “reúne” e mistura-se trabalho é a mundanidade. A ação, única século XIX. fisicamente às coisas fornecidas pela atividade que se exerce diretamente entre Por sua vez, o totalitarismo completa natureza (...). (ARENDT, 2007 : 111). os homens sem a mediação das coisas o quadro da obra e se mostra como Ao contrário, o trabalho consiste em ou da matéria, corresponde à condição o sustentáculo da política baseada na criar um mundo, pode-se considerar que humana da pluralidade, ao fato de que burocracia e no racismo, cujo objetivo o trabalho gera uma obra do homem pela homens – e não o Homem – vivem na Terra é a expansão territorial dos domínios do qual seu agir se torna visível: O trabalho e habitam o mundo. Todos os aspectos Estado. Domínio extensivo e intensivo, de de nossas mãos, em contraposição ao da condição humana têm alguma relação extensão territorial e das consciências ao labor do nosso corpo – o “homo faber” com a política; mas esta pluralidade é interno do Estado. Por isso mesmo, os que “faz” e literalmente “trabalha sobre” especificamente “a” condição (...) de judeus vão ser considerados partícipes do os materiais, em oposição ao “animal toda a vida política. (ARENDT, 2007 : 15). próprio antissemitismo, na medida em que laborans” que labora e “se mistura com” financiaram o surgimento dos impérios do eles – fabrica a infinita variedade de A VIDA DO ESPÍRITO século XIX. Esta tese polêmica alimentará coisas cuja soma total constitui o artifício Em A Vida do Espírito, de 1978, obra tantas outras polêmicas na vida pessoal humano. (ARENDT, 2007 : 149). incompleta e publicada postumamente, e intelectual de Hannah Arendt, como se Todavia o trabalho não é ainda aquilo Hannah Arendt concentra-se nestas pode ver no caso Eichmann e no filme que humaniza o homem. A humanidade três habilidades do homem: o pensar, o Hannah Arendt – Ideias que chocaram o manifesta-se em sua ação: A pluralidade querer e o julgar. O pensar é o que dá mundo (de Margarethe von Trotta, 2012), humana, condição básica da ação e sentido à vida humana: Uma vida sem que retrata este momento da vida da do discurso, tem o duplo aspecto da pensamento é totalmente possível, mas filósofa, seja em Israel, seja nos Estados igualdade e diferença. Se não fossem ela fracassa em fazer desabrochar sua Unidos. iguais, os homens seriam incapazes de própria essência – ela não é apenas sem O totalitarismo é movimento de compreender-se entre si e aos seus ante- sentido; ela não é totalmente viva. Homens massificação social. Trata, segundo Anne passados, ou de fazer planos para o futuro que não pensam são como sonâmbulos. Amiel (2007 : 78) de imunizar o indivíduo e prever as necessidades das gerações (ARENDT, 1993 : 143). contra a realidade, contra a experiência, vindouras. Se não fossem diferentes, se A vontade como faculdade do querer de modo que os totalitaristas acreditam cada ser humano não diferisse de todos e da liberdade, frequentemente em que tudo é possível. Daí a famosa frase de os que existiram, existem ou virão a existir, conflito com o intelecto na História do Arendt: O objetivo da educação totalitária os homens não precisariam do discurso pensamento ocidental, merece aqui uma nunca foi incutir convicções, mas destruir ou da ação para se fazerem entender. consideração especial, dado que é onde a capacidade de formar alguma. (ARENDT, (ARENDT, 2007 : 188). se pode inserir o problema do mal. Em 1989 : 520). A ação tem o teor da práxis aristo- algum lugar, Hannah Arendt dirá: Quanto j 28 mais superficial alguém for, mais provável princípio, possa haver algo como ação. BIBLIOGRAFIA: será que ele ceda ao mal. Uma indicação (ARENDT apud ALMEIDA, 2013 : 234). ALMEIDA, Vanessa Sievers de. Natalidade e educação: reflexões sobre o milagre do novo na de tal superficialidade é o uso de clichês. Nas três obras brevemente per- obra de Hannah Arendt. In: Pro-Posições I v. 24, Na verdade, o que se defende é que os corridas aqui, vê-se uma evolução no n. 2 (71) I p. 221-237 I maio/ago. 2013. AMIEL, Anne. Le vocabulaire de Hannah Arendt. possíveis e prováveis conflitos entre o pensamento, a passagem de uma con- Paris: Ellipses, 2007. intelecto e a vontade, o pensar e o querer, sideração mais negativa do homem para ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. se devem resolver pela faculdade de julgar. certo otimismo político que se baseie na . A vida do espírito. Rio de Janeiro: Relume Kant distinguira em sua Crítica do capacidade do homem pensar reflexiva- Dumará, 1993. Juízo, entre o juízo determinante e o juízo mente, pensamento que aqui e acolá se . Responsabilidade e julgamento. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. reflexivo. O primeiro estaria na ordem do mostram como o verdadeiro milagre da . A condição humana. Rio de Janeiro: Forense, conhecimento científico, no qual se deve vida humana n 2007. enquadrar um indivíduo numa lei universal; o segundo é aquele tipo de juízo que se dá sobretudo nas belas artes, em que se descobre uma lei universal na experiência particular. Esta distinção primorosa do filósofo alemão permite que Hannah Arendt revele o aspecto mais profundo do pensamento humano. É com esta mesma distinção que ela poderá elaborar sua reflexão do caso Eichmann. O pensamento reflexivo é o pen- samento em profundidade, quem se recusa a ele torna-se superficial, banal, cumpridor de regras burocráticas. Por isso, é preciso formar as consciências no sentido crítico, no sentido de tomarem posse de sua capacidade reflexiva:Pensar e lembrar (...) é o modo de deitar raízes, de cada um tomar o seu lugar no mundo a que todos chegamos como estranhos. O que em geral chamamos de uma pessoa ou uma personalidade, distinta de um mero ser humano ou de um ninguém, nasce realmente desse processo de pensamento que deita raízes. (ARENDT, 2004 : 166). Esta tarefa permite que aquilo que é importante para a condição humana não se banalize num processo político de massificação e de perda de identidades. Trata-se, como se disse, Hannah Arendt (1906-1975) foi uma filósofa política alemã, de origem judaica. A de uma nova natalidade, o nascimento privação de direitos e perseguição de judeus ocorrida na Alemanha, a partir de 1933, para o humano, para a vida pública: O assim como o seu breve encarceramento nesse mesmo ano, fizeram-na decidir emi- milagre que sempre está interrompendo grar para os EUA, onde conseguiu nacionalidade norte-americana em 1951. Trabalhou, o percurso do mundo e o andamento das entre outras atividades, como jornalista e professora universitária, e publicou obras coisas humanas e os salva da ruína, que importantes sobre filosofia política. Arendt defendia um conceito de pluralismo no nele se situa como germe e determina âmbito político. Graças ao pluralismo, o potencial de uma liberdade e igualdade como “lei” seu movimento, é finalmente política seria gerado entre as pessoas. Graças ao seu pensamento independente, o fato da natalidade, o ser-nascido, que seus trabalhos sobre filosofia existencial e sua reivindicação da discussão política é o pressuposto ontológico para que, em livre, Arendt tem um papel central nos debates contemporâneos.

29 j j 30 Evaristo de Miranda Escritor e pesquisador [email protected] PROTEÇÃO E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL Do livro Tons de Verde A sustentabilidade da Agricultura no Brasil

COMPARATIVO EUA e mais florestas e matas no Brasil. e plantio florestal e de reflorestamento. COM OS EUA São tons de verdes incomparáveis. Apenas lavouras. A Embrapa Territorial elaborou re- Segundo o estudo, o mundo tem 1,87 centemente uma comparação entre o COMPARATIVO bilhões de hectares de lavouras. Como a Brasil e os Estados Unidos sobre o uso COM O MUNDO população mundial chegou a 7,6 bilhões e a ocupação das terras, com ênfase na E qual a dimensão das áreas cultivadas em 2017, cada hectare, em média, estaria manutenção da vegetação nativa. Para nos diferentes países do mundo? Dados alimentando quatro pessoas. Na realidade, tanto, foram compatibilizadas até onde sobre esse tema dependiam essencial- a produtividade por hectare varia muito possível, em bases relativamente homo- mente de estatísticas de cada nação, nem em função de solos, climas, tecnologias gêneas, as categorias de uso e ocupação sempre seguindo a mesma metodologia empregadas e do tipo e da qualidade dos empregadas pelos órgãos responsáveis por e raramente com expressão cartográfica. cultivos produzidos. Disso decorrem gran- tais estudos, em ambos os países. Entretanto um trabalho recente da agência des diferenças no desempenho agrícola A situação de atribuição, uso e ocupa- espacial norte-americana (Nasa) e do dos países. ção das terras em cada um dos dois países Serviço Geológico dos Estados Unidos As maiores extensões cultivadas é muito diferente, por razões históricas, (USGS) mudou essa situação. Em no- estão na Índia (179,8 milhões de hectares), sociais e econômicas. Na utilização das ter- vembro de 2017, tais órgãos publicaram Estados Unidos (167,8 milhões de hecta- ras do Brasil, a fatia dedicada às diversas um amplo estudo com o mapeamento e res), China (165,2 milhões de hectares) formas de exploração é sempre inferior o cálculo das áreas cultivadas do planeta, e Rússia (155,8 milhões de hectares). à dos EUA. Aqui, a parcela dedicada aos baseado primariamente no monitoramento Juntos, os quatro países totalizam 36% da diversos usos agropecuários das terras é realizado pelo satélite Landsat 82. área cultivada do planeta. O Brasil ocupa de 30,2% do território nacional, enquanto, A Terra foi vasculhada com um deta- o 5º lugar, seguido por Canadá, Argentina, lá, é de 74,3%. lhe de 30 metros, durante dois anos, por Indonésia, Austrália e México. As áreas Já em termos de áreas dedicadas pesquisadores do Global Food Security desses países representam as seguintes à proteção e preservação da vegetação Analysis – Support Data at 30 meters porcentagens do total cultivado no planeta: nativa, a fração no Brasil é sempre (GFSAD303). O projeto buscava trazer Índia, 9,6%; EUA, 8,96%; China, 8,82%; superior à dos EUA, em que pese a subsídios sobre a segurança alimentar no Rússia, 8,32%; Brasil, 3,42%, num total de tradição conservacionista daquele país e planeta. Foram medidas: a extensão dos quase 40% de terras cultivadas. seu pioneirismo em algumas dimensões cultivos; as áreas irrigadas e de sequeiro; Em termos continentais, a Ásia reúne a do tema. No total, os EUA dedicam 19,9% a intensificação no uso das terras com maior porção de área cultivada do planeta, do território à preservação e proteção da duas, três safras e até com cultivo con- com 617 milhões de hectares, ou 33% do vegetação nativa – incluindo o Alasca – e tínuo, além de diversos outros aspectos total. A Europa, incluindo a Rússia, reúne o Brasil, 66,3%1. Isso sem avaliar a ques- de qualificação das culturas. Essas áreas 25,5% da área cultivada do mundo, algo tão qualitativa de áreas protegidas. Ela foram separadas daquelas com vegetação como 478 milhões de hectares. A Eurásia também é muito diferente em cada país, nativa (de campos a florestas). Não representa mais da metade das áreas cul- com mais desertos e regiões geladas nos entraram no cálculo áreas de exploração tivadas. Em outras palavras, Europa e Ásia

31 j (sobretudo o sudeste asiático) são as capi- entre 0,26 ha/hab a 0,50 ha/hab, onde essencialmente sobre as pastagens (como tais da agricultura no planeta. A América do também se situam Mongólia, Irã, Suécia, vem acontecendo, por exemplo, na implan- Sul, com 152 milhões de hectares (8,1% do Finlândia, África do Sul, Chile, Laos, Níger, tação de sistemas de integração lavoura- total), ocupa a penúltima posição, seguida Chade e México, dentre outros. -pecuária-floresta – ILPF). Na realidade, apenas por Oceania (sobretudo Austrália), Em resumo, os europeus desmataram atualmente, 21% do território nacional é que soma 44 milhões de hectares (2,3% e exploram intensamente o seu território. o percentual correspondente à vegetação do total cultivado). A Europa, sem a Rússia, detinha mais de nativa preservada pelos agricultores no O trabalho dos pesquisadores ameri- 7% das florestas originais do planeta. Hoje, interior dos imóveis rurais! canos interessa ao Brasil por duas razões. possui apenas 0,1%. A soma da área culti- A consideração anterior introduz o Em primeiro lugar, em 2016, a Embrapa vada da França (31.795.512 hectares) com próximo capítulo deste livro, focado na face Territorial calculou a área cultivada do país a da Espanha (31.786.945 hectares) equi- menos compreendida (popularmente) da em 65.913.738 hectares (7,8%), resultado vale à área cultivada no Brasil (63.994.709 sustentabilidade da agricultura brasileira: apresentado no capítulo anterior. A Nasa hectares)! O Brasil cultiva tanta terra quanto os sistemas de produção vegetal e criação calculou a área de lavouras do Brasil em Espanha e França juntas4. animal empregados nas áreas exploradas 63.994.479 hectares (7,6%). A diferença foi A maior parte dos países utiliza de dos imóveis rurais não crescem sobre de apenas 0,2%, sendo a medida da Nasa 20% a 30% do território com agricultura. áreas desmatadas, não dependem da a mais conservadora. Os membros da União Europeia usam expansão das áreas de uso. Os sistemas A pouca diferença é normal. Por exem- entre 45% e 65%; Estados Unidos, 18,3%; produtivos sustentáveis no Brasil resultam plo, os números da Nasa sobre as áreas China, 17,7%; e Índia, 60,5%. Os agricul- do emprego de tecnologias e inovações ocupadas pelas lavouras norte-americanas tores brasileiros cultivam apenas 7,6% próprias à agricultura tropical, desenvol- (18,3% do país) também apresentam do país, com muita tecnologia tropical e vidas pela pesquisa agropecuária pública pequenas diferenças em relação aos profissionalismo. E isso já faz do Brasil uma – organizada no país desde o século XIX – e dados oficiais do USDA, o Departamento potência mundial do agronegócio. privada. de Agricultura dos Estados Unidos (17,4% A Embrapa Territorial, com essas As inovações, focadas na susten- do país). bases de dados sobre atribuição, uso e tabilidade, no uso durável e adequado Em segundo lugar, o trabalho da Nasa ocupação das terras, pode comparar o dos recursos naturais, resultam de uma interessa ao Brasil por apresentar alguns quanto os grandes países, com mais de ampla interação entre o setor industrial e dados comparativos entre o uso agrícola 2,5 milhões de quilômetros quadrados, a agricultura. Não são o apanágio de um dos países que merecem destaque. Para protegem e o quanto cultivam do próprio tipo ou categoria de agricultor, mas estão começar, os métodos empregados pela território. Em que pese ser o que mais presentes em todos os biomas do Brasil e Nasa e pelo USGS foram homogêneos protege o território, o Brasil é também, em diversos contextos socioeconômicos em todo o planeta, e isso garante as em termos relativos, o que menos utiliza e dos produtores rurais. E contribuem comparações. cultiva terras. Na média, os países citados também para os múltiplos tons de verde O Brasil protege e preserva a vegeta- cultivam 17,4% do próprio território e da agricultura no Brasil n ção nativa em mais de 66% do território. protegem 10,9%. Em números absolutos BIBLIOGRAFIA CONSULTADA: E cultiva 7,6% das terras. A Dinamarca de porcentagem territorial cultivada, o 1 MIRANDA, Evaristo E. de. Vegetação protegida. cultiva 76,8%; Irlanda, 74,7%; Países Brasil só perde para Canadá e Austrália. Portal DBO, 04/10/2017. Disponível em: . Acesso em out. Alemanha, 56,9%. E a Europa por aí vai, territórios por terem amplas áreas inaptas 2017. com mais da metade das terras dedicadas para a agricultura, essencialmente por 2 USGS. New Map of worldwide croplands supports food and water security. U.S. Geological à agropecuária. razões ambientais (clima ártico, subártico Survey. Disponível em: . Acesso em fev. 2017. lação variam da ordem de 0,01 hectare/ Como seria o Brasil se a área total de 3 USGS. Global Food Security-Support Analysis habitante em países como Arábia Saudita, cultivo fosse três vezes maior, correspon- Data at 30m (GFSAD30). U.S. Geological Survey. Disponível em: . Acesso em fev. mais de três hectares/habitante no Canadá, se verifica no restante do mundo? Haveria 2017. 4 MIRANDA, Evaristo E. de. O Menino Jesus e Península Ibérica, Rússia e Austrália, por menos matas, menos conexões entre o lBGE, a Nasa e a Embrapa. Estadão, Opinião, exemplo. O Brasil tem uma pequena área áreas protegidas, menos habitat para a 22/12/2017. Disponível em: . apenas 0,3 ha/hab. O país está na faixa se o crescimento das lavouras se desse Acesso em dez. 2017. j 32 Gustavo Borges Cel Av In memoriam A Intentona de 1935 levante ou intentona (intento louco do emblemático exemplo da burrice e da disfarce do KGB, e a dissolução da União ou plano insensato) nasceu das tra- canalhice do homo sapiens vermelho. A Feminina do Brasil e da Aliança por Pão, Otativas de Luís Carlos Prestes (LCP) seguir, breve resumo das duas citadas Terra e Liberdade. A polícia agia com com os megalômanos elementos do KGB fontes, fundidas com as histórias a mim energia, efetuando prisões que abalaram o e do Komintern, na União Soviética. Todo narradas pelo meu tio Mal do Ar Francisco movimento. O Komintern exigia ação: decide seu desenvolvimento conspiratório, político, Assis de Oliveira Borges, participante da acelerar e pressiona Prestes (LCP). imperialista (tomada do Brasil pela URSS por retomada da Escola de Aviação. Iludida pelas notícias mentirosas dos mercenários) está minuciosamente narrado Ignorando o fracasso na Alemanha comunistas brasileiros, Moscou manda e documentado no livro Camaradas, do e a lentidão na China, o Kremlin decidiu, Prestes dar início ao ataque às capitais grande jornalista William Waack. O sustentá- em 1934, conquistar o Brasil. Para pre- estaduais. Sem um mínimo de sincronismo culo desse livro é a fantástica pesquisa nos parar o movimento, o Komintern enviou o ou de coordenação, em Natal (RN), em 23 arquivos do KGB realizada (após a Glasnost) agitador internacional Arthur Ernest Ewert de novembro, a Prefeitura e o 21º Batalhão pelo jornalista, em Moscou e no Brasil. Para (Harry Berger), liderando um grupo de de Caçadores são conquistados e os as ações militares aqui ocorridas, considero especialistas (civis ou militares?) listados comunistas assumem o poder durante três mais veraz, verossímil e completo o relato em (2) (c) – Civis estrangeiros. dias. No Recife (PE), com atraso de 24 do Brig Nelson F. L. Wanderley em seu Em 1935, os comunistas sentiram horas, é tomada uma parte do 29º Batalhão magnífico livro História da Força Aérea crescente oposição a suas atividades de de Caçadores, durante dois dias. No Rio, Brasileira, p. 176 a 179. Ambas as obras propaganda e agitação. A 11 de julho, o somente em 27 de novembro é tomado o são documentos de consulta obrigatória por governo (Vargas) decretou o fechamento 3º Regimento de Infantaria (Praia Vermelha), historiador desejando os detalhes autênticos da Aliança Nacional Libertadora (ANL), com numerosos assassinatos, sendo

33 j atacadas a Escola de Aviação Militar (no horas mais tarde, mataram vários colegas canto oeste) e a guarnição do 1º Regimento à traição e a sangue frio no Campo dos de Aviação (no canto sudeste), no Campo Afonsos (Escola de Aviação Militar), mas dos Afonsos*. A oficialidade da Escola foram cercados e presos. O manifesto de de Aviação reagiu e, ajudada por outras Prestes não deixa dúvida quanto ao man- armas do Exército, impediu sua queda; dante dos crimes, porém foi o Cap Agliberto o 1º Regimento de Aviação, idem, com que matou o Ten Benedito Lopes Bragança, Eduardo Gomes à frente, apesar de ter a já preso e desarmado. Às três horas de 27 mão varada por bala de fuzil. O 3º Regimento de novembro, o 1º Regimento de Aviação de Infantaria foi arrasado pela artilharia do resistiu sob o comando do então Ten Cel Exército (1º Grupo de Obuses), vindo de São Eduardo Gomes, e os revoltosos foram Cristóvão, sob comando do Gen Eurico G. repelidos, em todo o Campo dos Afonsos, Dutra, comandante da 1ª RM. pelo Regimento Andrade Neves, sob o LCP confessa ter assinado a ordem comando do Gen José Joaquim de Andrada. (Prestes, p. 96) de levante, no Rio, na Na Praia Vermelha (onde ficava o 3º RI) noite de 26 para 27 de novembro: A grande e no Campo dos Afonsos morreram assas- derrota (...) foi a inexistência de participação sinados, por não aderirem aos comunistas, popular. Não houve nenhuma greve operá- 30 militares do Exército. No Nordeste, ria. O movimento (...) fracassou (sic). Nem morreram um soldado da PM-RN (Natal) e os três grupos conseguiram se entender via um soldado PM-PE (Recife), totalizando 32 cabo submarino (Western). soldados do Exército e das PM. 1º Ten José Sampaio Xavier No Rio, na manhã de 24 de novembro Um dos praças do 3º RI foi encon- 2º Ten Res Lauro Leão de Santa Rosa de 1935, foi publicado manifesto de Prestes trado de bruços, na cama, atravessado (convocado) em que ele dizia: O Comitê Revolucionário, por uma baioneta, com tal violência que 2º Sgt Jaime Pantaleão de Morais sob minha direção (...) decide que todas as a lâmina varou o colchão e se cravou no 2º Sgt José Bernardo Rosa forças da Revolução estejam prontas para assoalho. Há fotografia da cena. 3º Sgt Coriolano Ferreira Santiago lutar pelas liberdades populares (sic) e dar 3º Sgt Abdiel Ribeiro dos Santos o golpe definitivo no governo de traição PARTICIPANTES PRINCIPAIS 3º Sgt Gregório Soares nacional de Getúlio Vargas (...). Os assassinados nos três focos do 1º Cabo Luiz Augusto Pereira Getúlio não era nenhuma vestal, mas levante foram: 1º Cabo Carlos Botelho acusá-lo de traição nacional continha certo Ten Cel Misael de Mendonça 2º Cabo Alberto Bernardino de Aragão exagero. E o que seriam liberdades popula- Maj João Ribeiro Pinheiro 2º Cabo Pedro Maria Netto res? Era o eterno jogo de palavras bonitas Maj Armando de Souza Mello 2º Cabo Fidelis Baptista de Aguiar para significar o oposto: a não-liberdade Cap Benedito Lopes Bragança 2º Cabo José Harmito de Sá popular imposta por ínfima minoria fácil de Cap Danilo Paladini 2º Cabo Ursulano dimensionar pelos resultados das sucessi- Cap Geraldo de Oliveira 2º Cabo Manuel Biré de Agrella vas eleições. As três ações militares – Natal, Recife e Rio – foram marcadas por saques, atro- cidades, crueldades e métodos traiçoeiros dos comunistas: mataram vários oficiais e sargentos enquanto dormiam, pelas costas, na calada da noite. Em suma, todos os meios eram bons e lícitos. Na madrugada (mais ou menos 00h) de 27 de novembro de 1935, o Cap Agildo da Gama Barata Ribeiro e o Ten Francisco Antonio Leivas Otero comandaram a matan- ça na Praia Vermelha (3º RI). Os capitães Sócrates Gonçalves da Silva e Agliberto Vieira de Azevedo, e os tenentes Ivan Ramos Ribeiro e Benedito Carvalho, somente duas j 34 Tropas governamentais no pátio do Quartel General se preparam para entrar no 3º Regimento de Infantaria, Praia Vermelha, Rio de Janeiro

2º Cabo Francisco Alves da Rocha 1º Ten Celso Tovar Bicudo de Castro Civis, estrangeiros (mais importantes): 2º Cabo Wilson França 1º Ten Benedito de Carvalho Arthur Ewert (aliás, Harry Berger), alemão 2º Cabo Péricles Leal Bezerra 2º Ten Francisco Antonio Leivas Otero Rodolpho Ghioldi, secretário geral do 2º Cabo Orlando Henriques 2º Ten Antônio Bento Monteiro Tourinho PC argentino 2º Cabo José Menezes Filho 2º Ten José Gutman Léon Jules Vallée, belga Pavel Stuchevski, ucraniano; e esposa 2º Cabo Manoel Alves da Silva 2º Ten Raul Pedroso Sofia, agentes do Komintern Sd Ex João de Deus Araújo 2º Ten Ivan Ramos Ribeiro Elise Saborovski (aliás, Saba), ucraniana, Sd Ex Álvaro de Souza Pereira 2º Ten Humberto Baena de Moraes Rego mulher de Ewert Sd Ex Genaro Pedro Lima 2º Ten José Gay da Cunha Olga Benário, alemã, agente da GRU (Exército Vermelho) Sd PM/RN Luiz Gonzaga de Souza 2º Ten Carlos Branwick França Amleto Locatelli, italiano (aliás, Bruno?), Sd PM/PE Lino Victor dos Santos Ten Dinarco agente do PCI Em memória desses patriotas, foi Asp Of Walter José Benjamim da Silva Jonny de Graaf, alemão 3º Sgt Victor Ayres da Cruz Victor Allen Baron, americano (operador erigido monumento na Praça Gen Tibúrcio de rádio) (Praia Vermelha), ao lado do atual Instituto Militares (punidos de outra forma): Militar de Engenharia (IME), no terreno - Ten Cel Newton Estilhac Leal Os demais implicados, quer os sim- - Cap Tácito Lívio Reis de Freitas onde ficava o 3º RI. ples executores materiais quer os pres- - Cap Henrique Cordeiro Oest tadores de auxílio ou de instruções para Os principais mercenários nos três - Ten Candido Manoel Ribeiro a execução dos crimes, se enquadram focos foram: Civis, brasileiros (mais importantes): na categoria de co-réus. Assim constam Militares (expulsos): Antônio Maciel Bonfim (aliás, Adalberto de seus nomes nos autos dos processos Cap Luiz Carlos Prestes Andrade Fernandes, Miranda, Queiroz etc.) arquivados no Tribunal de Segurança Maj Carlos Costa Leite Honório de Freitas Guimarães (assassino Nacional, extinto; além de numerosos Cap Ten Hercolino Cascardo de Elza Fernandes) Cap Ten Roberto Faller Sisson Lauro Reginaldo da Rocha (aliás, Lauro outros identificados por William Waack nos Cap Carlos Amorety Osório Reginaldo Teixeira) arquivos de Moscou, dentre eles Celestino Cap Agildo da Gama Barata Ribeiro Adelino Deycola dos Santos Paraventi, paulista, encarregado de receber Cap Álvaro Francisco de Souza Dr Silo Furtado Soares de Meirelles e repassar o dinheiro soviético (Waack, p. Cap José Leite Brasil Benjamim Soares Cabello 113) para Pavel Stuchevski n Cap Sócrates Gonçalves Dr Francisco Mangabeira Cap Agliberto Vieira de Azevedo Dr Manoel Venâncio Campos da Paz * À época existiam as Aviações Militar (“arma” do Exército) e Naval (“arma” da Marinha). Somente 1º Ten David de Medeiros Filho Dr Pedro Ernesto Baptista (ex-prefeito do DF) em 1941 essas duas “armas” foram fundidas, 1º Ten Durval Miguel de Barros Moacir Werneck de Castro formando a Força Aérea Brasileira (FAB)

35 j VOOVOO AA VELAVELA NANA ACADEMIAACADEMIA DADA FORÇAFORÇA AÉREAAÉREA

Eduardo Augusto Montenegro Duque Cap Av Instrutor de voo na AFA e Comandante da EVV [email protected]

O INÍCIO DO a justificativa que seria encaminhada por foram os primeiros a ter instrução no VOLOVELISMO NA AFA meio de ofício ao Gabinete do Ministro da novo equipamento e, depois, ambos se O MOTOPLANADOR Aeronáutica. encarregaram de transmitir o treinamento FOURNIER RF5 Assim foi feito e já no dia 21 de outubro aos demais desse grupo inicial. A partir daí, fase embrionária do voo a vela de 1972 foi criado o Clube de Voo a Vela foi iniciada a instrução dos cadetes que na Academia da Força Aérea teve da Sociedade do Corpo de Cadetes. Em desejassem desfrutar as delícias do voo a A início no final do segundo semestre dezembro do mesmo ano, foi adquirido vela e, como o Clube se destinava ao lazer de 1972. O Presidente da Sociedade um motoplanador Fournier RF5 que foi dos cadetes, a participação dos oficiais na Acadêmica do Corpo de Cadetes, Cad do trasladado, nos primeiros dias de junho de operação era proibida. 4º ano Sérgio Petrauskas, ao saber que o 1973, pelo Ten Cel Av Fernando César de No segundo semestre de 1973 a Adido Aeronáutico da Tchecoslováquia es- Oliveira, da CECAFA1. A chegada ocorreu operação do Fournier foi bem intensa, tava anunciando os planadores Blanik para em um dia normal de atividades, porém no ocorrendo nos finais de semana e feriados. divulgar a indústria aeronáutica daquele horário do almoço, para que os cadetes Uma dupla de instrutores era escalada país, decidiu lançar a ideia da criação de um pudessem apreciar. Houve uma passagem diariamente para, após a educação física, Clube de Voo a Vela na AFA. A justificativa baixa sobre a pista de grama, tendo como realizar um voo de manutenção da profici- foi propiciar atividade de lazer aos cadetes plateia privilegiada os cadetes dos apar- ência, já que nos dias de operação somente que permaneciam na Academia nos finais tamentos voltados para aquele lado, que voavam na função de instrutores. A rotina de semana, diante das poucas opções acorreram às janelas ao ouvirem o som dos dias de voo consistia da retirada do oferecidas pela cidade de Pirassununga. do motor. O Cad Luiz Fernando Gouveia avião do hangar após o horário do café Dessa forma, a ideia foi levada ao Maj Av Limeira, também do 4º ano, foi designado da manhã e do deslocamento para a pista João Jorge Bertoldo Glaser, Comandante coordenador do Clube que ali iniciava a de grama, tendo como base de apoio a do Corpo de Cadetes, que a acolheu, sua história. O Ten Cel Fernando César cobertura do caminhão de contra-incêndio incumbindo o Cad Petrauskas de redigir e o presidente de Sociedade Acadêmica e resgate, que ali permanecia durante todo j 36 VOOVOO AA VELAVELA NANA ACADEMIAACADEMIA DADA FORÇAFORÇA AÉREAAÉREA

Colaboraram na elaboração deste artigo o Brig Ar Clovis de Athayde Bohrer, Comandante da Academia da Força Aérea à época da inauguração e dos primeiros anos de atividade do CVV da AFA; e o Ten Cel Av Luiz Alberto B.F. de Athayde Bohrer que, quando cadete, participou do início da atividade de Volovelismo na AFA, como instrutor de voo

período. Para cada dia eram escalados os já estava apto à realização de voo solo etc. térmicas para manter-se no ar o tempo que instrutores que ministrariam o voo, sendo Os voos para o solo do cadete consis- fosse possível. Ao final, o retorno era feito um responsável pela coordenação. A esca- tiam da decolagem motorizada, treinamen- com pouso com motor para familiarização la era feita por ordem de chegada, havendo to de manobras chandele, oito preguiçoso, de reações e atitude e, depois, era realizado alguns critérios de prioridade como quem parafuso e looping (com e sem motor) e tráfego e pouso em voo planado. Já os voos já havia realizado voo anteriormente, quem de voo planado com a busca de correntes solo eram de trinta minutos, sendo que, no

Almoço de confraternização. Da esquerda para a direita: Ten Brig João Teles Camarão Ribeiro - Comandante Geral do Pessoal, Brig Clóvis de Athayde Bohrer, Ministro Araripe Macedo e Ten Brig Deoclécio Lima da Siqueira

37 j caso de o cadete encontrar condições favo- ráveis, poderia permanecer em voo planado por até sessenta minutos e regressar, sem o uso do motor, ao tráfego de planadores. No final do ano, os voos se destinaram ao preparo dos cadetes da turma seguinte, os próximos instrutores em 1974. Como existia apenas uma aeronave, sua utilização era bastante intensa, fato que concorreu para que operasse durante pou- co tempo. Com apenas dois anos ela teve de ser recolhida ao Parque de Aeronáutica de São Paulo para revisão geral. Nessa ocasião já era consenso no âmbito da Força Aérea Brasileira que o motoplanador não era o tipo de aeronave mais indicado para

o voo a vela dos cadetes, particularmente Foto que oficializou a criação do Clube de Voo a Vela em 1973. Da esquerda para a direita: por não assegurar aos seus usuários um Cadete Couto - líder do Corpo de Cadetes; Cadete Petrauskas - Presidente da Sociedade Acadêmica; Brig Ar Pavan - Comandante da AFA e Cadete Gouveia - 1º Presidente do CVV pleno treinamento para a atividade, pois não permitia uma das mais importantes da Academia da Força Aérea, o Ministro - estabelecimento de convênio com e típicas manobras do volovelismo: a da Aeronáutica autorizou a aquisição do Clube de Voo a Vela a ser definido, para a decolagem mediante reboque. Assim, em terceiro Ipanema. formação inicial de pilotos e de instrutores 1975, o Ministro da Aeronáutica, Ten Brig Tomada a decisão pelo Ministério da de planador, os quais, inicialmente, seriam Ar Joelmir Campos de Araripe Macedo, Aeronáutica, coube à Academia da Força oficiais incumbidos de habilitar cadetes decidiu que a AFA receberia, em futuro Aérea adotar todas as providências para selecionados para essas funções; próximo, os planadores a serem definidos, que, ainda em 1976, pudessem ter início - montagem de um curso para o bem como os respectivos rebocadores, os as atividades do Clube. Em meados do pessoal da manutenção dos planadores e quais viriam equipar um órgão que, sob a mesmo ano, com as datas de entrega dos dos rebocadores; supervisão direta dos setores competentes planadores e dos rebocadores definidas, - criação do uniforme do Clube, da AFA, se incumbiria de proporcionar não a AFA deu início aos preparativos para o bem como seu emblema, distintivo e apenas atividade de lazer aos cadetes, recebimento e funcionamento do novo respectivo lema. como, também, seria utilizado como com- órgão, que se denominaria Clube de Voo a Definidas as providências a serem plemento à atividade aérea estabelecida Vela da Academia da Força Aérea e cujas tomadas e o tempo indispensável à sua para o respectivo curso. atividades seriam coordenadas e supervi- concretização, foi ouvido o Gabinete do sionadas por um oficial superior designado Ministro da Aeronáutica e marcada a data OS PRIMEIROS ANOS DO pelo comando da Academia. da inauguração: 12 de novembro de 1976. CLUBE DE VOO A VELA DA AFA Em sequência, foi definida uma série de Os uniformes, o distintivo e o emblema Assim, considerando o critério mencionado providências visando à operação do novel ficaram a cargo de uma comissão sob a e após a análise de diversas opções, Clube, dentre as quais podem ser citadas: chefia do coordenador/supervisor, que foram adquiridos dez planadores Blanik - designação do oficial coordenador/ contou com elementos por ele escolhidos, fabricados na Tchecoslováquia pela em- supervisor; inclusive cadetes. O lema foi objeto de presa LET Kunovice. Para operar como - definição da estrutura do Clube; um concurso interno realizado entre os rebocador, a aeronave escolhida foi o EMB - fixação do efetivo de mecânicos cadetes, tendo sido escolhido o que está, 201 Ipanema, fabricada pela Embraer, e que integrariam a equipe responsável pela desde então, em vigor: VOAR PELO PRAZER que, na época, era utilizada apenas como manutenção do equipamento de voo – DE VOAR. Para a formação inicial de pilotos aeronave agrícola. Seriam adquiridas planadores e rebocadores; e instrutores foi feito um convênio entre duas aeronaves que, ainda na fábrica, - elaboração dos manuais de opera- a AFA e o Clube de Voo a Vela de Bauru, receberiam a indispensável adaptação para ções e de manutenção; entidade que, na época, era considerada seu novo uso. Posteriormente, atendendo - estabelecimento de áreas de opera- modelo de Clube de Voo a Vela no país. justificáveis ponderações do Comandante ção dos planadores; Concluídas as providências indis- j 38 pensáveis ao início das suas operações, Brig Ar Araripe, em planador comandado pelo Voo a Vela após as férias escolares ocorreu teve lugar, no dia estabelecido, 12 de Maj Av Padilha, oficial coordenador/supervi- em fevereiro de 1977, quando teve início novembro de 1976, a inauguração do sor do Clube. Ao encerrar a programação, foi o ano letivo, sendo nessa oportunidade Clube de Voo a Vela da Academia da Força realizado um almoço de confraternização, incorporados à rotina do Clube os ensi- Aérea. A solenidade foi presidida pelo mi- reunindo cadetes e convidados no hangar namentos obtidos durante a realização do nistro da Aeronáutica, Ten Brig Ar Joelmir sede do Clube. Campeonato de Voo a Vela. Campos de Araripe Macedo e contou No âmbito do Clube, em face do Paralelamente às atividades que deter- com a presença de inúmeros convidados, planejamento elaborado, que estabelecia minaram sua criação e, por isto mesmo, se destacando-se vários oficiais generais: que a partir do início do ano letivo de 1977 constituiu no principal objetivo a ser atingi- Ten Brig Ar Deoclécio Lima de Siqueira, a instrução em planador seria ministrada do – lazer para os cadetes e complemento Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, unicamente por cadetes, o período decor- à instrução aérea a eles proporcionada, Ten Brig Ar João Telles Camarão Ribeiro, rido entre sua inauguração e o término do passou o Clube de Voo a Vela a buscar Comandante Geral do Pessoal, Ten Brig ano letivo foi aproveitado, prioritariamente, um novo patamar de operacionalidade e Ar Silvio Gomes Pires, Diretor Geral do para a seleção e a formação dos cadetes eficiência, a fim de que viesse a se situar, Departamento de Aviação Civil, Maj Brig Ar instrutores. na área do volovelismo, no mesmo nível Clovis Pavan, Comandante do IV COMAR, e Visando ao estabelecimento de uma das melhores entidades congêneres, o Maj Brig Ar Pedro Frazão de Medeiros Lima, política de convivência com os clubes que viria permitir sua participação, com Diretor do Centro Técnico Espacial, além do congêneres e ao intercâmbio de experi- sucesso, em futuras competições. Presidente da Associação Brasileira de Voo ências que seriam extremamente úteis ao Com este objetivo, em um planejamen- a Vela e representantes dos Clubes de Voo Clube de Voo a Vela da AFA, o Comandante to para médio e longo prazo, passou-se a Vela de Bauru, São José dos Campos, da Academia, Brig Ar Clovis de Athayde a cogitar da aquisição de planadores de Nova Iguaçu e Jundiaí. Houve formatura Bohrer, devidamente autorizado pelo alto rendimento, o que proporcionaria aos do Corpo de Cadetes seguida de um desfile ministro da Aeronáutica, ofereceu as cadetes os indispensáveis meios para a durante o qual foram usados, pela primeira instalações da AFA para a realização do ascensão técnica. vez, os novos uniformes do Clube, os quais 19º Campeonato Brasileiro de Voo a Vela, foram aprovados naquele dia em boletim que teria lugar no mês de janeiro de 1977. A A SITUAÇÃO ATUAL interno da Academia. competição foi organizada pela Associação ESQUADRILHA DE VOO Em sequência, houve uma exposição Brasileira de Voo a Vela e levada a termo A VELA DA AFA dos planadores e voos panorâmicos nas no- no período de 22 a 29 de janeiro de 1977. vas aeronaves com alguns oficiais generais Mesmo não contando com condições Estrutura da Força Aérea, tendo o voo inaugural sido climáticas ideais, o campeonato foi um Desde sua criação, o foco do Voo realizado pelo Ministro da Aeronáutica, Ten sucesso, tendo a AFA colhido extraordi- a Vela na AFA sempre foi voltado para o nários ensinamentos com sua realização. cadete e permanece até os dias de hoje. Ao final, a Academia foi distinguida pelo Entretanto a atividade modernizou-se, não Diretor Geral do Departamento de Aviação apenas nas aeronaves, mas, também, na Civil com honrosa correspondência dirigida doutrina e até na estrutura. ao Comandante Geral do Pessoal com Atualmente a Esquadrilha de Voo a Vela elogiosas referências à Organização pelo conta com seis oficiais supervisores na trabalho desenvolvido durante o evento. sua estrutura interna e 110 cadetes. Além Deve ser registrado que, no último dia da desses, diversos outros oficiais participam competição, o Comandante da Academia, das atividades voluntariamente, incluindo Brig Ar Clovis de Athayde Bohrer, tornou-se oficiais da própria AFA e oficiais superiores o primeiro volovelista oficial general da FAB, da reserva com notável experiência em já que além de solar um planador conseguiu, voo a vela. A maioria deles participa como numa feliz oportunidade, o brevê C, isto é, pilotos de planador e opera tanto em sede manter-se mais de trinta minutos no ar. como, também, nos campeonatos. Desta Em consequência foi-lhe outorgada, pelo forma, diferentemente do que ocorria no Departamento de Aviação Civil, a Licença passado, nos dias de hoje a supervisão Da esquerda para a direita: Ministro Araripe de Piloto de Planador nº 1.161. dos oficiais passou a ser constante nas Macedo, Brig Clóvis de Athayde Bohrer e Ten Brig Silvio Gomes Pires - o então Diretor Geral do DAC O reinício das atividades do Clube de atividades do Voo a Vela.

39 j Grandes mudanças ocorreram nos úl- e graduados. Esta profissionalização da ganhar experiência como instrutor e ser timos anos no que diz respeito à finalidade atividade tem sido o principal objetivo nos homologado checador, o cadete está apto do Voo a Vela na AFA. Nos últimos cinco dias atuais, buscando-se aproximá-la, ao a iniciar a fase de navegação e se tornar anos ocorreu forte direcionamento para o máximo, do que ocorre nos Esquadrões um piloto de competição. Atualmente a retorno aos campeonatos nacionais e para de Voo da FAB. Esquadrilha forma 20 instrutores e 10 a elevação da capacidade operacional dos pilotos de competição por ano. cadetes, através da formação de cadetes Operacionalidade Devido à capacidade acrobática do pilotos de competição. A partir de 2014, o Na parte operacional, os voos de TZ-20 DG1000, há um estudo de implanta- Clube de Voo a Vela tomou um grande vulto instrução são regidos pelo Programa ção de acrobacias no PIMO, mas tal fase devido à aquisição de 10 novos planadores, de Instrução e Manutenção Operacional ainda não é realizada com cadetes. Por elevando a complexidade de gerenciamento (PIMO), composto por diversas fases. enquanto, encontra-se em desenvolvimen- não só dos voos de treinamento, mas, Inicialmente, o cadete realiza o pré-solo, to apenas com os oficiais. também, da instrução básica. onde aprende a realizar os exercícios Duas mudanças significativas ocorre- básicos e a voar sozinho em horário não Aeronaves e Equipamentos ram no momento dessa transição. A pri- térmico. Esta é a principal atividade do Voo Com relação às aeronaves da meira foi que o Clube de Voo a Vela deixou a Vela, em que o cadete realiza 20 voos Esquadrilha, nota-se grande evolução na de ser subordinado ao Corpo de Cadetes antes de ser autorizado a voar sozinho capacidade dos planadores durante toda e passou à subordinação da Divisão de pela primeira vez. Nesse sentido, é válido a História do Voo a Vela, principalmente Operações Aéreas (DOA), aumentando, ressaltar que nos 43 anos da História do nos últimos anos. Voltando ao passado, assim, a supervisão das suas atividades. Voo a Vela na AFA, já foram formados introduzido em 1976, o lendário TZ-13 A segunda ocorreu com a implementação 1.620 pilotos. Atualmente, a esquadrilha Blanik foi, sem dúvida, o maior formador de uma estrutura similar a de um esquadrão forma 40 pilotos básicos por ano e voa de pilotos de planador da EVV, tendo de voo da FAB, com instrutores da AFA mais de 2.000 horas. sido voado por gerações e gerações de trabalhando exclusivamente no Voo a Vela. Na sequência, inicia-se a fase de militares da FAB. Após 25 anos de uso e Este processo inicial culminou em um aperfeiçoamento, ocasião em que o cadete devido ao desgaste do material, no ano marco alcançado em março de 2018: a al- aprende a girar térmicas em segurança e de 2000, foram adquiridos quatro TZ-23 teração na denominação de Clube de Voo a a voar sozinho no horário térmico. Após Super Blanik para substituí-los e dois Vela (CVV) para Esquadrilha de Voo a Vela essas duas fases, o cadete realiza voos Z-33 Blanik Solo para complementar a (EVV). Com isto, o objetivo de se adotar de treinamento até completar 45 horas de formação primária. Após oito anos, em um elevado profissionalismo no voo de planador, quando poderá começar a fase 2008, chegaram à AFA os planadores de planadores foi fortalecido, tanto por parte de adaptação à nacele traseira e, posterior- alta performance: três TZ-17 Duo Discus dos cadetes quanto por parte dos oficiais mente, a de formação de instrutor. Após XL e quatro Z-17 Discus CS, ambos com j 40 computador de bordo embarcado e vol- naves. A Esquadrilha conta ainda com um Prova AFA. Realizada anualmente desde tados para missões de navegação. Estes Guincho para lançamento de planadores 1981, faz parte do calendário nacional planadores promoveram uma atualização que se encontra em fase de testes e de volovelismo e tem a participação dos na doutrina e na estrutura da Esquadrilha implantação, aguardando a construção de principais pilotos de planador do país. É de Voo a Vela, necessárias não apenas uma pista de grama adequada e o contrato uma forma de proporcionar aos cadetes para dar continuidade à instrução básica, de manutenção. volovelistas a oportunidade de aplicarem mas, também, para passar a desenvolver Vale lembrar que, além do L-13 Blanik, seus conhecimentos sobre o voo planado, os voos de navegação. o Voo a Vela já contou com diversos outros ampliando, assim, sua cultura e experi- Uma diferente modernização ocorreu planadores, quais sejam: Z-16 Quero- ência aeronáutica, bem como promover no ano de 2013 quando a EVV recebeu o Quero, TZ-14 Nhapecan, motoplanador o congraçamento dos cadetes com os Guincho Sky Launch 2, equipamento que Super Ximango, TZ-23 Super Blanik e Z-33 demais pilotos de planadores pertencentes consegue decolar um planador e desligá-lo Blanik Solo. ao meio civil. a aproximadamente quinhentos metros de altura em menos de um minuto. Campeonatos O Futuro da EVV A última e maior modernização da Desde sua criação, a EVV sempre No que diz respeito ao futuro do Voo História do CVV ocorreu em 2015 com a participou de campeonatos organizados a Vela na AFA, estão sendo realizados chegada de dez TZ-20 DG1000, planador pela Federação Brasileira de Voo a Vela, em estudos no sentido de tornar o Voo a Vela de múltiplos tipos de instrução, desde todo o território nacional. Nestes eventos, uma atividade curricular para todos os a primária, passando por manobras e coloca-se em prática todo o aprendizado cadetes aviadores. Devido ao baixo custo, acrobacias, até à navegação. Este mesmo ocorrido nos voos em sede, e promove-se à simplicidade de operação e à diversidade planador é usado pela USAF na formação o intercâmbio de conhecimentos com os de conhecimentos que o Voo a Vela per- de seus cadetes aviadores e trouxe um melhores pilotos do Brasil. mite trabalhar, algumas Forças Aéreas já grande incremento na quantidade e na Nos últimos anos, ocorreu um incre- utilizam os planadores. Por estes motivos qualidade da instrução dos novos pilotos mento nestas participações. Em 2018, a a FAB está estudando a possibilidade de de planadores da FAB. EVV competiu em Bebedouro (SP) e, em seguir o mesmo caminho. Além desses dez modernos planado- 2019, em Tatuí (SP). Ainda em 2019, a Em paralelo a estes estudos, encontra- res de instrução básica, a Esquadrilha ain- Esquadrilha realizou um deslocamento para -se em fase final de implantação um da possui nove planadores de competição: a cidade de Araraquara (SP), a fim de rea- Simulador de Voo construído por oficiais quatro Z-17 Discus CS (monoplace), três lizar treinamento para voos de Navegação. da reserva entusiastas, apoiados por TZ-17 Duo Discus XL (biplace), um Z-15 Nestas missões os voos são geradores de engenheiros e volovelistas de São José Libelle (monoplace) e um Z-20 ASW-20 grande aprendizado tanto para os cadetes, dos Campos. Este equipamento revolu- (monoplace). Desta forma, a Esquadrilha como para os oficiais. cionará todas as instruções que ocorrem hoje possui 19 planadores, sendo 10 de Além de participar das competições, no Voo a Vela. Nele será possível treinar instrução básica e nove de competição, a EVV também marca presença como emergências, reboque com Guincho, pré- além de duas aeronaves rebocadoras principal organizadora de eventos deste -solo, formação de instrutores, acrobacias, EMB-202 Ipanema, totalizando 21 aero- tipo. O maior exemplo desse fato é a navegação e, inclusive, participar de competições on-line. Desta forma, com 21 aeronaves, Guincho, Simulador de Voo e um grupo experiente de oficiais participando das operações, a Esquadrilha de Voo a Vela vive um momento de elevado crescimento operacional, deixando de ser um Clube de Formação Básica e caminhando no sentido de tornar-se um Esquadrão Operacional, realizando diversos tipos de

Cap Duque missões com elevado profissionalismo e segurança de voo n

1 - Comissão de Estudos e Construção da Academia da Força Aérea

41 j Brig Ar Carlos Geraldo dos Santos Porto [email protected] HISTÓRICO DOS CÓDIGOS UTILIZADOS NA ACADEMIA DA FORÇA AÉREA s códigos uti- lizados na ins- Otrução aérea na Academia remon- tam ao tempo em que o Maj Av Brom Herndl recebeu a incumbência de organizar os estágios de voo – Avançado e por Instrumentos – no Destacamento Precursor da Escola de Aeronáutica, em Pirassununga. O Maj Leônidas tinha profundo co- nhecimento de navegação astronômica, adquirido quando servia no Esquadrão de B-17, na Base Aérea do Recife. Navegava pela Via Láctea com maestria: sabia a exata posição das estrelas como se estivessem fixas no céu. Assim, no planejamento da sua missão, teve a feliz ideia de utilizar os nomes das constelações, estrelas e planetas para, simbolicamente, colocar os cadetes do ar em contato com o espaço em que iriam viver, voando o seu possante North American T-6. Naquela fase, embora mais ama- durecidos, mais independentes, eram pequenas estrelas que ansiavam por voar ponto importante e que mereça atenção ciar a Instrução Primária no T-21. Exigia-se mais longe e dominar o espaço aéreo, ainda pelo conforto das instruções e orientações especial cuidado e atenção: o espaço era pouco conhecido. Para dar asas a esses irradiadas, penso eu. desconhecido por seus integrantes. Para sonhos, o Maj Leônidas, com seus alas, O planeta Júpiter, por ser o maior do protegê-los, só voariam no âmbito das em 1964 – primeiro ano de funcionamento Sistema Solar, e podendo ser observado a constelações escolhidas para as Classes da instrução aérea para os cadetes do olho nu, inspirou a escolha do nome para de Voo: Leo (da sua estrela Regulus origi- último ano da Escola de Aeronáutica, em o ponto de entrada para o tráfego, que nou-se o código de chamada do bombeiro Pirassununga – ao implantar o estágio deveria ser de fácil referência visual. no atendimento às emergências); e Orion avançado, constituído em Classes de A área de instrução não foi esquecida (guerreiro, lutador, e dessa constelação a Voo, assim programou: Antares (estrela e, para não haver acúmulo de aeronaves em estrela Bellatrix passou a ser o código de de primeira grandeza da constelação de alguma parte dela, foi dividida em subáreas, chamada da ambulância nas situações Escorpião); Castor (uma das duas mais com os nomes das constelações: Peixes, de emergência). A seguir: Aquila (esta brilhantes estrelas da constelação de Aquarius, Capricórnio, Gêmeos, Virgem constelação, do Equador Celeste, supos- Gêmeos – a outra é Pollux); Sirius (estrela e Taurus. Para cada uma há referências tamente representa a águia transportando de primeira grandeza da constelação de bem definidas e de fácil localização, o que a juventude); e, finalizando, Centaurus Cão Maior); e Vega (estrela de primeira permite ao instrutor/cadete saber da sua (constelação do Hemisfério Celestial Sul e grandeza da constelação de Lyra). exata posição em relação à Escola. Naquela próxima à do Cruzeiro do Sul). Outros setores também foram abran- época, o T-6 era soberano, e havia poucos Retornando às áreas de instrução, gidos pela criatividade do Maj Leônidas. cadetes. Durante os anos de 1964, 1965 e foi somente após a substituição dos já A torre de controle, por exemplo, recebeu 1966 funcionou dessa forma. cansados T-6 e T-21 pelos T-37 e T-23, o batismo de Capella, a estrela mais Em julho de 1967, a Turma Agora respectivamente, que elas foram implan- brilhante da constelação de Auriga. Por Vai, matriculada nos Afonsos em 1965, tadas em sua plenitude. Em consideração que esse nome? Quem sabe, por ser um apresentou-se em Pirassununga para ini- às performances das novas aeronaves e j 42 HISTÓRICO DOS CÓDIGOS UTILIZADOS NA ACADEMIA DA FORÇA AÉREA ao aumento da quantidade de cadetes, foi o código do controle radar. Está situada instrutores de T-25; Linx, constelação necessário realizar pequenos ajustes. O entre as constelações de Lyra e Aquila, e com baixa luminosidade, situada entre as sucesso da operação em conjunto veio a por elas protegida; Cometa, estrelas com constelações de Gêmeos e Ursa Maior, é comprovar a eficácia da solução formulada. cabeleira, na definição de Aristóteles, a frequência de recalada; é utilizada para Embora o Maj Leônidas tenha servido provém da palavra grega kométese, é o as aeronaves que se encontram perdi- pouco tempo em Pira, seu trabalho serviu código do Esquadrão e dos instrutores das; Fênix, da constelação de Phoenix, de inspiração para as gerações futuras, de T-27; Polaris, estrela da constelação frequência das aeronaves T-25 utilizada quando outros códigos foram criados, de Ursa Menor, é a frequência de escuta após a decolagem e ao livrar o tráfego; e dando continuidade às realizações im- das aeronaves T-27 na área de instrução; Argos, obsoleta constelação, substituída plantadas com notável profissionalismo, Solar, relacionada ao Sol, estrela mais pela constelação de Carina, é a frequência vibração e carinho. Ei-los: Pegasus, o próxima da Terra e a de maior brilho, é a de escuta das aeronaves T-25 na área de veloz corcel alado, uma das maiores torre de controle que atende à instrução instrução. constelações, é o código do helicóptero do T-25; Saturno, o segundo maior planeta, Assim, um pequeno pedaço da imen- de alerta SAR; Canopus, a segunda estrela é o ponto de entrada para o tráfego sidão da Via Láctea está montado simbo- mais brilhante do universo e a principal de T-25; Vésper, ou planeta Vênus, é a licamente para atender à instrução aérea estrela da constelação de Carina, era o frequência usada no táxi das aeronaves de em Pirassununga. É nele que os futuros código utilizado pela viatura que possuía os instrução do T-25; Apolo, da constelação gladiadores do ar se inspiram, treinam e equipamentos necessários para ser usada de Gêmeos, também conhecido como despertam seu espírito guerreiro para os como uma torre de controle. Atualmente Castor, é o código do Esquadrão e dos combates que hão de surgir n é o controle solo da Academia; Flecha MACTE ANIMO! ou Sagitta, terceira menor constelação, é GENEROSE PUER, SIC ITUR AD ASTRA HOJE ONTEM ACADEMIA DA FORÇA AÉREA DESTACAMENTO PRECURSOR DA ESCOLA DE AERONÁUTICA 2º ESQUADRÃO DE INSTRUÇÃO AÉREA 1º ESQUADRÃO DE INSTRUÇÃO AÉREA Sua bolacha, representada pela águia Sua bolacha, também representada pela Os Estágios de Voo Avançado águia altaneira, agora com a espada e as altaneira empunhando o espadim com as e de Voo por Instrumentos não palavras Ad Astra, simboliza a exortação palavras Macte Animo, simboliza incentivar possuíam bolachas das Classes de Voo: para manter o mesmo espírito dos primeiros o espírito dos cadetes nos seus primeiros Antares - Castor - Sirius - Vega passos, pois falta pouco para voarem ao passos em direção à conquista dos céus. lado da Constelação do Cruzeiro do Sul. Os Cadetes usavam as bolachas do Estágio Primário:

Aquila Centaurus

Leo Orion

43 j A Oração no nosso Tempo Papa Emérito Bento XVI Joseph Ratzinger CONSIDERAÇÃO PRÉVIA: COSMOVISÃO E ORAÇÃO

emos dificuldades em rezar. A oração não se enquadra na nossa imagem T do mundo e na nossa compreensão da realidade. O seu sentido e a sua fundamentação interna se tornam problemáticos para nós. Não pertence a uma compreensão mágica e animística da natureza que nós simplesmente não podemos mais admitir? Isso nos parece mais evidente em relação àquelas orações que se referem imediatamente a realidades terrenas: a procissão pelos campos, a bênção para alcançar bom tempo, afastar tempestades, obter fertilidade, sol e chuva. Isso só parece ter sentido enquanto se julga que o mundo é dirigido por causas animadas, que distribuem o vento e o tempo, a chuva e o sol, podendo por isso serem dispostas à benevolência pela súplica, irritadas pela negligência. Quem, porém, conheceu o nexo causal mecânico em tudo, ataca o problema com meios racionais: com tudo o que a ciência oferece em possibilidades de assegurar a vida. Assim, para o pensamento de hoje, a oração não só parece estéril e ineficaz, mas até como fuga da realidade: em vez de agir mudando o mundo, volta-se para a expectativa de poderes transcen- dentes. Nesse contexto, muitas vezes se lembra a cena característica de Brecht, em Mãe Coragem, na qual os lavradores impotentes conjuram com as suas orações um Deus calado, enquanto a Kattrin muda salva a cidade de Halle, acordando os vigias, rufando o tambor1. De fato, isso parece instantâneo da situação de hoje em relação à oração: não é o pedido dirigido a poderes transcendentes que parece indicado, mas o cuidado das necessidades aqui de baixo. Assim, só a ação humana e humanizante seria verdadeiro culto de Deus, só o serviço do homem pelo homem seria religião real. A oração, no máximo, poderia continuar a existir transformada, como recolhimento e preparação para a ação. No fundo, está também uma concentração decidida do pensamento e da ação sobre nosso mundo de que podemos dispor, enquanto o mundo de Deus, o eschaton, é recusado como alienado da realidade e alienante. Aqui se poderiam levantar logo muitas perguntas: que é propriamente humano e quando está humanizado um homem, quando está humanizado o mundo? Quando se tornou feliz um homem, quando alguém o libertou da miséria etc.? Mas voltemos ao ponto de partida, pois assim seremos levados por nós mesmos também a essas perguntas. O ponto de partida propriamente dito do pensamento proposto é a ideia de que a oração, na nossa imagem do mundo, se tornou sem sentido, porque é ineficaz, e é ineficaz porque conhecemos o modo de ação do mundo que não é animista, e sim mecânico. Mas agora devemos fazer perguntas heréticas: o animismo (isto é, o pensamento de que o mundo é dirigido por seres animados) era de fato inteiramente falso? Ou estamos caindo agora no outro erro, pensando só j 44 A Oração no nosso Tempo CONSIDERAÇÃO PRÉVIA: COSMOVISÃO E ORAÇÃO

mecanicamente? O homem, por exemplo, é nada? Como totalidade orgânica, como ente vivo, pensante, que sente, não introduz um novo fator no mundo pelo qual se dão coisas novas nele? Mais concretamente; o especificamente humano é nada? A confiança e a desconfiança, o temor e a esperança, o egoísmo e o amor não são poderes que transformam o mundo? O amor não pode nada propriamente ou é um poder que constrói um mundo, porque cria intuição, visão, audição, desencadeando assim forças que transformam o mundo? Mas se é verdade que há uma causalidade espiritual, que o amor é uma realidade e por isso age, por que então o diálogo com aquele amor que conserva unido o mundo não poderia transformar o homem e com ele o mundo? Por meio de tais reflexões, torna-se claro que no sim ou no não em relação à prece de fato, cada vez mais é afirmada uma imagem do mundo e não só feita ou omitida uma ação individual acidental. Na questão da oração de que nos ocupamos nestas reflexões, o problema de Deus e a compreensão básica da realidade são atingidos também tácita e necessariamente. Logo a decisão de rezar tem um caráter muito englobante: rezar significa reconhecer que há um amor criativo do qual vive também cada indivíduo e que é acessível a cada indivíduo. Um amor criador do qual vem o mundo e que por ser eterno é simultâneo com cada indivíduo. O discurso sobre o além, como muitas vezes designamos o mundo de Deus, antes encobre o núcleo da controvérsia do que o desvenda. Com efeito, com ela se origina demasiado facilmente a imaginação de um segundo mundo espacial, ao qual o cristão se refere em detrimento da realidade concreta. A verdadeira alternativa é outra, como já terão mostrado as considerações que acabamos de fazer. Ela consiste na escolha entre uma imagem do mundo rigorosamente mecanicista e outra pessoal. Se o mundo é só um sistema de processos mecânicos, nele só se pode agir e reagir por meio de impulso e contra-impulso, pressão e contrapressão. Se, pelo contrário, o fundamento do mundo é espírito, isto é, contemplar e amar, ouvir e amar, o homem como espírito, isto é, igualmente como ser que vê, ouve e ama, está em relação para com este fundamento, e o diálogo de ambos constitui o eixo propriamente dito do mundo. A oração não é então um esporte ao qual alguém se possa dedicar, mas que também possa deixar; é o centro da realização humana de si mesmo, o processo real de reconhecimento do fato de que o homem não está sozinho, mas existe só por ser olhado e amado, devendo aceitar ativamente este ser olhado, a impossibilidade de encobrir a sua existência, a incapacidade de isolá-la, para não encalhar na contradição consigo mesmo, na separação das suas próprias raízes. O não-poder-estar-sozinho, essencial do homem, a abertura radical e total, exposição à vista da sua existência, se torna também a razão propriamente dita por que ele deve viver aberto, por assim dizer, de portas não trancadas, precisando dos outros. Desse modo, já se anunciam, ao mesmo tempo, as primeiras medidas para uma oração verdadeira, cristã, conforme com Cristo, com a qual simultaneamente devem resultar afirmações básicas sobre a existência escatológica do cristão. Mas fiquemos primeiro com o concreto, perguntando apenas praticamente: como é que se passa propriamente a oração? n

1 - B. Brecht, Gesammelte Werke, Suhrkamp, 1967, v. 4, 1432-1436.

45 j Ivan Von Trompowsky Douat Taulois Cel Av in memoriam A noite que RUI e MEIRINHA iriam jogar bombas em Berlim

lue Rose. A primeira vez que eu Leitor (a), eu vou abrir um parêntese. ouvi esse nome, quem falou foi Eu estava me deliciando com aquele diálo- BElianinha. Faz muito tempo. Em go. A mocinha, dezoito aninhos, já grávida Fortaleza, janeiro/fevereiro de 1960. (vomitava adoidado...), a senhorinha, dona Uns dois meses após nosso casamento. de casa, sabia o nome do arroz. E o que Ela já havia engravidado! Tudo bem. Eu mais me surpreendeu (até hoje), sabia o feliz como pinto ciscando no lixo. Estava nome do navio. Era impressionante! voando o Lokeed F-80 – Shootting Star. – Ivan, o Blue Rose, quando você O primeiro caça americano a jato. Um faz, ele fica soltinho, gostoso, uma senhor avião de Caça. Fez a Guerra da delícia. Aqui em Fortaleza só tem o arroz Coreia, 1950! do Maranhão, que é todo quebradiço (o – Ivan, no sábado, nós vamos ao chamado quirela), e vira uma papa quando Reembolsável do Exército. Eles receberam você faz. Com ele, eles fazem um prato um grande carregamento de arroz Blue típico do Maranhão. O Arroz de Cuxá 1. Rose. Quem trouxe foi um navio da Blue Rose. A luz vermelha apagou. Eu Marinha, Soares Dutra. Eu acho que o havia pegado a pane. Blue Rose era uma antecediam os dramas e as comédias nome é esse! jovem gostosa, sensual, sacana, pintada de Hollywood. Quando ela falou o nome desse arroz na fuselagem de uma B-17, que decolava Tem um pormenor, que eu acho – Blue Rose, acendeu uma luz vermelha. da Inglaterra todos os dias (e noite) para interessante ressaltar. As aeronaves, na Eu já conhecia esse nome. Não me lem- jogar bombas na Alemanha durante a guerra, tinham nome. Não eram o 8095, brava de onde. Esse nome, Blue Rose, eu Segunda Guerra Mundial (1939-1945). 3094, 2388. Não! Tinham nome. Como já tinha visto. Fiz-lhe uma pergunta, que Essa aeronave B-17 (eram chamadas eu e você. Memphis Blue, Sweet Jane, eu não tinha qualquer interesse em saber de Fortalezas Voadoras), eu devo ter Lady Virgen, Blue Rose. Hollywood fez a resposta: visto ou na Time Life, uma revista muito um excelente filme no início dos anos – E o quê que esse arroz tem de famosa na década de 1940, 1950 ou 1990, cujo título é Memphis Blue. O nome especial? nos cinejornais, tipo Fox Movietone, que da B-17! j 46 O porquê das moças pintadas haviam deixado nas grandes cidades é importante. Mas é onde aconteceu. na fuselagem. As Equipagens de e também nos pequeninos vilarejos Na etapa Galeão/Brasília – 1h30. O Combate (pilotos, copilotos, navega- do interior. Nas cartas, a saudade, o Brigadeiro Rui, gentilmente, convidou-me dores, mecânicos e artilheiros) eram desejo: – Quando eu voltar, vou lhe para ir no seu avião. Eu iria na vala comum. compostas por jovens. As guerras comer todas as noites! O GTE (Grupo de Transporte Especial) são injustas. São feitas pelos jovens! Leitor (a), eu criei essa frase. Mas, mandou um avião para ele! Ele merece. E As moças desenhadas na fuselagem, eu não tenho qualquer dúvida de que muito! Seria homenageado no dia seguinte muito bonitas, lábios carnudos, seios ela foi escrita! Tudo bem. Mas, Rui e pelo GTE. Ele foi o primeiro comandante fartos, bumbuns arrebitados, coxas e Meirinha iriam voar em uma B-17. À noi- do GTE. pernas perfeitas, eram as namoradas, te. Rumo a Berlim! Essa parte do conto Decolagem. (Beleza). Subida. Voo as noivas e as jovens esposas que eles eu vou tentar resumi-la ao máximo. Não nivelado (35.000 pés). E de cara, a

47 j reprimenda: – Trompowsky, você está te. Estava feliz. Lembro-me dele elogiando comandante das B-17 para nós irmos de enchendo muito a bola do Meira! o profissionalismo dos jovens pilotos de saco em uma missão noturna até Berlim? Brigadeiro Meira era nadador master. Caça nos dias de hoje. A Base deles é aqui do lado. Recordista brasileiro (1999). Nos 50 me- – Trompowsky, a Força Aérea de hoje – Você conhece o cara? tros. Costas, 80/84 anos. Fera. Amável. é muito melhor do que a de nosso tempo! – Não, mas ele é boa gente. Tá sempre Educado. E começou a me contar uma estória. de porre aqui à noite. É alegre. Bacana. Eu relatava na Revista bimensal Brigadeiro Rui é um grande contador de Era. Era muito bacana. da ABRA-PC (Associação Brasileira de estórias. Como é um grande escritor. – Vocês querem ir? Pilotos de Caça): – Esse filho da mãe é Como é um baita líder! – Eu os encontro amanhã, no rancho, piauiense (Rui é maranhense). Vai ser – À noite, nós nos reuníamos em às 17h30. difícil aguentá-lo! São muito amigos. São um Clube. Muita gente. Brasileiros. Leitor (a), eu acho que aqui vale um amigos há 70 anos. Os dois fizeram a Americanos. Ingleses. Pilotos de Caça. parêntese. Eu estou contando um conto Segunda Guerra Mundial. Na Itália. No 1º Bombardeio. Transporte. Equipagens de que me foi contado. Delicioso. E eu já vou GpAvCa. Rui, 94 Missões de Combate; Combate, etc. entrar numa briga. Desafio qualquer um Meira, 91 Missões de Combate. No meio daquele burburinho, Meira que tenha uma estória melhor do que a E o Brigadeiro Rui conversou bastan- me diz: – Rui, vamos falar com aquele minha. Sabem por quê? Dos cinquenta e j 48 cinco (55) pilotos de Nero Moura restam Eu não sei dizer quem respondeu. seus meninos. Os jovens não têm medo apenas três pilotos vivos. E dois estão na – Nós vamos fazer um voo até Berlim. de morrer. Os velhos têm! Os jovens minha estória. – Vão fazer porra nenhuma. Peguem são valentes, belos e fudedores! Eu vou – Vai encarar? suas coisas e regressem agora para sua aproveitar ainda esse minuto porque eu No dia seguinte, conversa com o Ten Unidade. Puta que pariu! serei cobrado: Cel Nero Moura. Eu não me lembro de Leitor (a), só existe uma imagem para – Pô, Trompowsky, e nós? quem falou. (Rui, Meirinha?). Nero Moura retratar essa cena. A de um cachorro Tudo bem. Nós também temos estó- escutando. O que eu me lembro era de vira-lata sendo enxotado de uma igreja! rias. Centenas. Conversem com o Ájax (T- uma frase deliciosa do Meirinha. 56). Em dez minutos, ele lhes conta umas – Coronel, é uma rara oportunidade! 3, Take three cinco. Eu estou em duas! Querem um Nero Moura, tendo a máxima paci- Rui e Meirinha chegando ao acam- exemplo? Fortaleza, início da década de ência: – Não basta vocês todos os dias pamento. Era uma noite agradável. 1970. Uma Esquadrilha de Demonstração enfrentarem a Flack Alemã; não bastam as Não estava frio. Final de abril de 1945. (quatro F-80, em Diamante). O líder perdas semanais que nós temos, e vocês Passam pela barraca do Ten Cel Nero fazendo um touneaux barril a baixa altura. vão querer dar chance, à noite, de saco? Moura. (Atenção câmera. Nero Moura Passando pelo dorso, ele diz: Os dois estavam irredutíveis. Nero estava lendo qualquer coisa. Tinha uma – Não vai dar! Moura já estava perdendo a paciência! luz acesa). Foi o espalha merda mais bem – Olha, tudo bem. Vocês vão. Mas – Coronel! organizado que eu já fiz. Todo mundo saiu vocês são inventores. Vocês estão – Sim. Podem entrar. Já voltaram? catando cavaco de dorso, livrando umas inventando! Foi bom o voo? mangueiras enormes na cabeceira da Cenas de um espetáculo, montado Meirinha falando: – Pô, coronel, pista. E nós nos divertíamos. Porque nós e dirigido pelo Ten Cel Av Nero Moura, chegou um oficial general, grosso, mal éramos jovens. E, por incrível que pareça, comandante do 1º GpAvCa, Unidade de educado, que nos colocou para fora da bonitinhos! Eu vou deixar em aberto Caça brasileira, operando na Itália durante Base! Falou uns palavrões. Filho da puta, aquele último adjetivo, fudedores! Pelo a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). mal educado! óbvio, que acredito, todos entenderão! Nero Moura deu uma gargalhada. À la chasse! 1. Take one Para surpresa dos dois. Rui e Meirinha, chegando de Jeep à – Fui eu que falei com o general para P.S. – Será que o B-17 que eles Base americana. Sentinela orienta que ir lá. Para colocar vocês dois para fora da voariam era o Blue Rose? parem a viatura. São identificados por um Base, seus malucos. E tem mais. Eu alterei negão, um armário, 2x2. Ele tem na mão a Escala de Voo para amanhã. Vocês estão uma prancheta. E checa alguma coisa. Há na minha Esquadrilha amanhã! Decolagem um pequeno diálogo. às 8h. Café da manhã às 6h30. Briefing – Oh, yes. Brazilian Fighters Pilots! às 7h. Alguma pergunta? Vão dormir seus Go straight and turn left. First building! malucos! Meirinha comenta com Rui: – Que The End! engrenagem, hein Rui? Leitor (a), eu lhes peço mais um 2. Take two minuto. Essa estória, desde a primeira vez Rui e Meirinha jantando, muita gente. que eu ouvi, eu sempre tive uma certeza: Equipagens de combate que voariam para é uma estória de jovens! Imaginá-la, uma a Alemanha, naquela noite. Alguém grita porra louquice de guerra (o comandante qualquer coisa. (Era – Atenção Rancho, das B-17 de porre no Clube dos Oficiais, oficial general!). Rui e Meirinha identifi- por exemplo), seria pouco inteligente. cam o general. Baixo. Mais para gordo. Eram jovens. Esse é o bingo, que eu 1 - Arroz de Cuxá. Cuxá (Aurélio – 1976) E caminhava em direção a eles. (Atenção quero fazer. Do Tupi “Ku” – o que conserva + “Xai” – azedo. câmera. Close nos dois. A surpresa. O Esse pedido de Rui e Meirinha (22 e Molho feito com folhas vinagreiras, general caminhava em direção a eles). 20 anos) é um pedido que só os jovens gengibre e outros temperos. O Brig Rui, – O que é que vocês estão fazendo fazem. Nero Moura, nessa estória, é um se ler esse conto, vai ficar com a boca aqui? pai, preocupado com as artimanhas de cheia d`água. É uma delícia!

49 j COM A FEB NA ITÁLIA

Com grande apreço publicamos este artigo extraído do acervo da Revista Aeronáutica, escrito pelo saudoso veterano da Segunda Guerra Mundial, Maj Brig Ar Rui Moreira Lima. Ele se destacou durante toda a sua trajetória na Força Aérea. Faleceu em 2013, aos 94 anos, e nos deixou o legado do heroísmo.

Maj Brig Ar Rui Moreira Lima In memoriam

exto transcrito do programa apresen- idade e que já dedicou cinco anos de sua hoje, só nos traz recordações. Felizes Ttado pela BBC de Londres no Natal de vida à aviação brasileira. e agradáveis recordações. Mas a moral 1944, percorrendo vários setores da FEB, Vou, pois, passar o microfone ao nos- continua forte e nos orgulhamos de poder começando na linha de frente e terminando so homem, que falará para vocês em nome cumprir com nosso dever e das famílias na base do Primeiro Grupo de Caça da de todos os seus companheiros de grupo, que tão corajosamente nos apóiam. Creio Força Aérea Brasileira na Itália. tanto os oficiais como os pracinhas de bem que a mensagem de Natal de todo o Repórter estúdio: voltando a Pisa, quem depende os serviços de manutenção grupo se reúne numa única palavra: fé. Fé fizemos uma visita aos rapazes da Força e outros indispensáveis à operação deu, na vitória dos princípios que defendemos; Aérea Brasileira cuja atuação na frente de uma Força Aérea. fé na força e sinceridade dos nossos batalha da Itália trouxe tanta glória às asas Tenente Rui: aqui nessa frente de sentimentos; fé na felicidade que o futuro do nosso querido Brasil. combate temos dois inimigos: o alemão e nos reserva. Repórter de campo: levamos nosso o tempo, esse amigo da onça de sempre. Por minha parte um grande e saudoso microfone ao lado de uma pista no aeródro- Não é fácil falar em nome dos meus com- abraço para o meu Maranhão n mo na Itália, de onde decolavam os aviões panheiros porque cada um deles tem os da FAB para apoiar as forças terrestres seus próprios problemas e opiniões, muito OBSERVAÇÕES DO AUTOR aliadas na frente italiana. embora estejamos todos aqui movidos 1. A mensagem foi ouvida em Caxias A vida do piloto na frente de combate pelo mesmo ideal. Num ponto, entretanto, (MA), por meus pais e por um amigo que oferece pouca oportunidade para folga ou tenho observado que nossos sentimentos morava em Goiânia, na época. descanso, pois ele tem de estar sempre coincidem: as saudades que sentimos de 2. Antes de gravar, escrevi a men- de prontidão, preparado para decolar a casa são imensas e se transformam, sem sagem sobre um engradado de munição qualquer instante. É por isso que não dúvida, numa das maiores provações da .50, antes de decolar para uma missão de estranhamos encontrar já ao lado do guerra. combate. O contraste: véspera de Natal; e seu avião um piloto da FAB que quero Agora que compreendemos o valor e a eu partia para cumprir o que a guerra pedia: apresentar a vocês: o Ten Rui Moreira falta das breves delicadezas e dos peque- destruição e morte. Duro à beça! Lima, em cujo Thunderbolt tem aqui o nos carinhos que estávamos habituados a Autor da reportagem: Jornalista Francis registro de mais de 15 saídas. O Ten Rui desprezar. O Natal, que normalmente reúne Hallawell, correspondente de guerra da BBC é um jovem maranhense de 25 anos de em si todos esses sentimentos familiares, de Londres, Pisa, 24 de dezembro de 1944. j 50 EDITORA REVISTA AERONÁUTICA É RETOMADA COM PENSADORES PORTUGUESES utro grande marco no CAER, em outubro, foi a retomada da Editora Revista OAeronáutica, com o lançamento do livro Pensadores Portugueses: séculos XIX e XX, de autoria do ensaísta, teólogo e filósofo Ricardo Vélez Rodríguez, ex-ministro da Educação. A Editora Revista Aeronáutica, registrada na Biblioteca Nacional em fins dos anos 80, é agora reativada para oferecer aos associados conteúdo qualificado que reflete o pensamento aeronáutico e brasileiro a partir de uma perspectiva filosófica, envolvendo diversos aspectos: o político, o econômico, o cultural e o social. O retorno da Editora se estabeleceu com uma sessão de autógrafos do autor, que aconteceu no Deck do Clube. O livro de Ricardo Vélez estabelece conexões entre a filosofia e o pensamento português de sete notáveis pensadores, como Antonio Braz Teixeira, Eduardo Abranches de Soveral e Antero de Quental, dentre outros. Quem esteve no lançamento pôde adquirir uma edição do livro. O evento contou com o patrocínio do ex-comandante da aviação civil Teruo Ono, que participa das atividades culturais do Clube, como o Curso Pensamento Brasileiro, há mais de dez anos n

Maj Brig Ar Perez, escritor Vélez, ex-comandante da aviação civil Teruo Ono Maj Brig Ar Perez na sessão de autógrafos e Cel Av Araken - Diretor Deptº Cultural do CAER (esq. para a dir)

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