Francisco De Holanda E a Ascensão Do Pintor
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Universidade de Lisboa Faculdade de Belas Artes Maria Teresa Viana Lousa Francisco de Holanda e a Ascensão do Pintor DOUTORAMENTO EM BELAS ARTES Especialidade em Ciências da Arte 2013 Universidade de Lisboa Faculdade de Belas Artes Maria Teresa Viana Lousa Francisco de Holanda e a Ascensão do Pintor DOUTORAMENTO EM BELAS ARTES Especialidade em Ciências da Arte Tese Orientada pelo Professor Doutor José Fernandes Pereira 2013 Resumo Existe uma teoria que perpassa toda a obra de Francisco de Holanda: a defesa da superioridade do pintor. Em comunhão com o Renascimento italiano, Holanda irá defender e redefinir o papel da Pintura. O pintor é reencontrado com uma função e uma missão estética: o imperativo da criação artística assente na Ideia interior. Com preocupações tão sociais quanto existenciais, podemos sentir em Holanda uma dura crítica à falta de cultura artística em Portugal, onde a arte era pouco estimada, os artistas confundidos com meros artesãos e consequentemente mal pagos. Da mesma forma a sua obra reflete a amargura, por ter perdido o impacto que tinha junto da corte e sobretudo por nunca ter chegado a ver a sua obra valorizada. Na sua teoria acerca do Pintor, Holanda revela ser um verdadeiro pioneiro, de tal forma que a sua tratadística é apenas equiparável à italiana, já que tanto em Portugal como em Espanha, só muito mais tarde surgirão autores com preocupações semelhantes. O seu pensamento estético e metafísico sustenta a própria dignificação e ascensão do Pintor, que através da imitação do gesto demiúrgico, ascende a uma posição que mais do que liberal, é divina. Este autor desenvolve a teoria de que o pintor é um ser único e distinto do comum dos mortais. A excepcionalidade do artista, ilustrada e materializada essencialmente a partir da persona de Miguel Ângelo, confere- lhe uma superioridade única. A capacidade criativa do pintor, sempre original, manifesta-se no seu carácter melancólico, anticonvencional, extravagante e intelectual, o que contribuirá grandemente para um novo entendimento do artista que se irá desenhar a partir do século XVI: a passagem de artesão a génio. 5 Abstract There is a theory that runs through all the work of Francisco de Holanda: the defense of the painters’ superiority. In communion with the Italian Renaissance, Holanda would come to defend and redefine the role of painting. The painter reencounters with a role and an aesthetic mission: the imperative of the artistic creation from the concept of the inner Idea. With clear social and existential concerns, we can recognize in Holanda’s work a harsh criticism to the lack of artistic culture in Portugal where art was underestimated, artists underpaid and taken as mere craftsmen. Likewise his work reflects the bitterness over losing the impact within the royal court and more importantly, the fact of seeing his work disvalued. In his theory about the painter, Holanda revealed to be a true pioneer, in a way, that his beliefs and points of view can only be matched with the Italians, since both, in Portugal and Spain, the emergence of authors with similar concerns would happen much later. His aesthetic and metaphysical views sustain the rise and dignity of the painter, whom, through the imitation of a demiurgic gesture, materialized through painting, ascend to a status, which more than liberal is presented as divine. This author develops a theory in which the painter is an exceptional living being, apart from the common mortals. The uniqueness of the artist, illustrated and exemplified primarily through the persona of Michelangelo, gives him a unique superiority. The creative capacity of the painter, always original is manifested in his melancholy, anti-conventional, extravagant and intellectual nature. That's how Holanda will greatly contribute to a new understanding of the artist, which would be drawn from the sixteenth century onwards, establishing the boundary between the craftsman and the genius. 6 Palavras-Chave Estatuto do Artista; Processo Criativo; Furor Divino; Dignificação da Pintura; Ideia; Génio; Melancolia 7 Key Words Artist’s status; Creative Process; Divine Furor; Dignifying Painting; Idea; Genius; Melancholy 8 Dedicatória À minha filha Carmen gerada e nascida no curso desta Investigação 9 Agradecimentos À Fundação para a Ciência e Tecnologia, que financiou a minha Investigação. Ao meu Orientador Professor Doutor José Fernandes Pereira, que sempre me apoiou, acreditou em mim e me projectou para lá de qualquer insegurança. Ao Professor Fernando António Baptista Pereira, que me encorajou e orientou depois da perda lamentável do meu orientador, transmitindo-me sempre uma inabalável confiança. À Professora Isabel Sabino e à Professora Maria João Ortigão que deram um precioso estímulo para que esta tese chegasse a seu termo com maior assertividade e salvaguarda. Ao Professor Eduardo Duarte, à Professora Margarida Calado e à Professora Maria de Lourdes Sirgado Ganho pela solidariedade demonstrada. Ao meu marido, aos meus pais, às minhas amigas Maria João Santos, Inês Cardoso e Patrícia Barros, cada um à sua maneira deu uma grande ajuda. 10 Índice Resumo 5 Abstract 6 Palavras-Chave 7 Key Words 8 Dedicatória 9 Agradecimentos 10 Introdução 15 Capítulo I Biografia de Francisco de Holanda: Do Humanismo entusiasta ao Exílio Melancólico 1. Évora: O Berço da Cultura Humanista de Francisco de Holanda 19 2. A Viagem a Itália como sedimentação dos valores classicistas 31 3. As Obras da Maturidade e a Melancolia Pós-conciliar de Francisco de 41 Holanda 4. Aproximação histórica à Bibliografia de Francisco de Holanda 53 Capítulo II O Estatuto Liberal do pintor na obra de Francisco de Holanda 1. Estatuto do Artista no Renascimento: De artesão a Génio 65 2. O Estatuto do Artista em Portugal no séc. XVI 79 3. Reflexão de Holanda acerca da Situação Artística Portuguesa 91 4. Confronto entre duas realidades paradoxais: Itália e Portugal 99 11 5. Nuno Gonçalves: o artista português aclamado por Holanda 5.1 O contributo de Francisco de Holanda para a Identificação da Autoria dos Painéis de S. Vicente 107 5.2 Nuno Gonçalves como o único pintor português a pintar ao “estilo italiano” 115 Capítulo III As Estratégias de Legitimação da Pintura 1. A Pintura como arte aristocrata: Superioridade da Pintura 125 2. Pintor: Sabedoria Universal 137 3. Em louvor da Antiguidade 145 4. A superioridade da Pintura relativamente à Poesia, ou a disputa entre a visão e a audição 157 Capítulo IV No Rasto de Holanda: A defesa da superioridade da Pintura e da dignidade do Pintor na tratadística de arte portuguesa e espanhola 167 1. Filipe Nunes e a Arte da Pintura 169 2. Luís Nunes Tinoco e o Elogio da Pintura 179 3. Félix da Costa, um manuscrito esquecido em louvor da Antiguidade da Pintura 185 4. Ecos de Francisco de Holanda em Espanha. Autores do séc. XVI e XVII que partilham a mesma temática 4.1 Século XVI 195 4.2 Século XVII 203 12 Capítulo V Legitimação Estética e Metafísica da identidade do Pintor 1. A Origem da Pintura enquanto Metafísica da Criação 209 2. A Imaginação do Artista, da Ideia à Obra Final 221 3. A noção de IDEA na Teoria da Arte a partir de Francisco de Holanda 233 4. O pintor como Deus in Terris: influência de Ficino em Holanda 243 5. O Furor Divino ou o êxtase criativo em Francisco de Holanda e suas 253 fontes Capitulo VI Caracterização da personalidade artística na obra de Francisco de Holanda: fontes, sustentação ideológica e abordagem das suas repercussões 1. O carácter excepcional do artista na obra de Holanda 263 2. Relação entre humor melancólico e personalidade do pintor 275 3. Miguel Ângelo: protótipo do artista excepcional e saturnino 289 4. O Pintor em Holanda e o Génio em Kant 299 5. O Olhar Melancólico de Francisco de Holanda a partir de Afrodite e Eros 311 Conclusão . 3 2 3 Índice Onomástico 327 Bibliografia 331 Imagens 355 13 14 Introdução O objectivo desta investigação é encontrar na obra de Francisco de Holanda uma teoria acerca do pintor1, onde este ascende de artesão a génio, ou antes, de homem comum a um ser divino. Pretende-se através do levantamento das mais diversas abordagens, mostrar como a pouco e pouco se vai configurando uma teoria, não sem grandes rasgos de ousadia e de originalidade, onde este autor pretende, acima de tudo, mostrar a importância e a superioridade do pintor no contexto de uma época e de uma sociedade que estava muito alheia a essa problemática. No que respeita ao próprio título desta tese cumpre-nos delimitar o sentido da expressão: “ascensão do pintor”. Com “ascensão” pretendemos remeter para o novo entendimento do pintor que Holanda propõe: a sua excelência fundamenta-se numa superioridade metafísica e dialética, em que o talento natural e o seu modo de vida virtuoso o colocam acima do comum dos mortais, o que se manifesta tanto pela sua capacidade criativa, sempre original, como também pelo seu comportamento melancólico, ascético e intelectual. Assim, o estatuto social ou a “ascensão” social é apenas uma consequência natural e necessária de tal superioridade de carácter. A nobreza do pintor tem origem essencialmente na sua ligação com o divino e na imitação do acto criador, através da Pintura. Com o termo “ascensão” pretendemos ainda demonstrar como Holanda foi um percursor da teoria do Génio, tal como este será entendido sobretudo a partir do Romantismo. Partindo da análise da sua biografia e bibliografia, no Capítulo I, veremos como estas são indissociáveis da compreensão do tema proposto. As vicissitudes da sua vida acompanham a estrutura metafísica da sua obra, 1 O conceito “pintor” é entendido por Francisco de Holanda, numa acepção lata, como artista. 15 revelando o lado humano de Francisco de Holanda, onde este tendo vivido uma juventude auspiciosa, acaba com o passar dos anos, por se ver esquecido e silenciado por força dos factos políticos que dominaram o fim da sua existência.