Wilma Antunes Maciel

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Wilma Antunes Maciel UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL REPRESSÃO JUDICIAL NO BRASIL: O CAPITÃO CARLOS LAMARCA E A VPR NA JUSTIÇA MILITAR (1969-1971) Wilma Antunes Maciel Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Gradução em História Social, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em História Orientadora: Profa. Dra. Maria Aparecida de Aquino São Paulo 2003 2 Aos que ousaram sonhar e ousaram lutar por suas utopias. Ao Daniel, por seu espírito rebelde, e com esperança nas novas gerações. 3 Agradecimentos Duas palavras expressam os meus agradecimentos: gratidão e generosidade. Gratidão de minha parte e generosidade das pessoas que estiveram ao meu lado durante esse percurso. À professora Maria Aparecida de Aquino, pela acolhida, confiança e orientação rigorosa e competente. Aos professores: Marcelo Ridenti, pelo apoio desde o início do projeto, indicação e empréstimo de textos; Ana Maria Camargo, pela atenção e preciosas observações e Vera Lúcia Vieira, pela amizade e a quem devo o despertar do amor à pesquisa. Aos meus pais, Daniel e Aurélia, a minha irmã Wanda, que mesmo de longe sempre me apoiaram. Ao Gumercindo Sanchez, que sempre me incentivou a estudar. À Roberta da Silva, Admar Mendes, Marco Aurélio Vannucchi e Walter Cruz, por toda ajuda e amizade. Aos funcionários do Arquivo Edgard Leuenroth, pela gentileza e eficiência no atendimento aos pesquisadores. Ao CNPq, que financiou parte desta pesquisa. Ao Vicente Mathias, pelo apoio emocional, dedicação, cumplicidade e por ter sido a mão firme com a qual eu sempre pude contar, durante essa caminhada. 4 RESUMO Com a instauração do regime militar no Brasil em 1964 e a decretação do Ato Institucional no. 2 (AI-2) em 1965, os civis que cometiam crimes contra a Segurança Nacional passaram a ser julgados pela Justiça Militar. O presente estudo analisa os processos políticos movidos contra a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), no período de 1969 a 1971, principalmente aqueles que se referem ao seu principal líder Carlos Lamarca. Trata-se da compreensão das facetas da Justiça Militar, buscando apreender na lógica dos textos dos processos seus objetivos e significado histórico. Sendo que a atuação da Justiça revelou-se extremamente complexa, no julgamento dos militantes de uma das principais organizações de esquerda que empreendeu a luta armada contra o regime. A pesquisa abordou a relação entre a administração da Justiça e o Estado, os mecanismos de repressão denunciados nos tribunais, como a tortura, desaparecimento e mortes de militantes e as irregularidades na aplicação da legislação. A figura emblemática de Carlos Lamarca que permeia todas as fases dos processos, o perfil dos réus e da organização, as formas de atuação e estratégias adotadas pelos representantes do Ministério Público e advogados de defesa. O enfoque centrou-se no rigor da Justiça em defesa da Segurança Nacional e na repressão judicial como parte das práticas repressivas do regime, em que legalidade e ilegalidade não se separavam. Palavras-chave: Regime Militar, Luta Armada, Justiça Militar Abstract With the instauration of the military government in Brazil, in 1964, and the Institutional Act no. 2 (IA-2), in 1965, the civilians who committed crimes against national security started facing trials in the Military Justice. The following study analizes the political processes moved against the “Vanguarda Popular Revolucionária” (PRV – Popular Revolutionary Vanguard), between 1969 and 1971, particulary those concerning its main leader, Carlos Lamarca. It deals with the comprehension of the many aspects of Military Justice, trying to learn, in the logic of the processes texts, its goals and historical meaning. The acts of the Justice revealed themselves as being extremely complex while judging the active members of one of the main left organizations that fought the Military Government. This research treated subjects like the relation of Justice and State, the repression mechanisms denounced in court, like torture, kidnapping and the killing of militants, and the irregularities in the applications of the law. It also deals with the emblematic figure of Carlos Lamarca, who appears during the whole process, the profile of defendants and their organization, the ways and strategies of both the Public Ministry ( who acted as Prosecutor) and the defense lawyers. The attention focused on the rigorous way the justice acted in defense of the national security, and in the judicial repression as a part of the repressive acts of State, where legal and illegal were very similar. Keywords: Military Regime, Armed Fight, Military Justice 5 SUMÁRIO Introdução ....................................................................................................................07 I - Tortura e a Justiça Militar .....................................................................................47 I)1 – A institucionalização da tortura .........................................................................47 I)2 – Denúncias em juízo .............................................................................................56 I)2.1 – Legalidade e ilegalidade ...................................................................................75 I)3 – Mortos e desaparecidos .......................................................................................83 I)3.1 – Os mortos ...........................................................................................................83 I3.2 – Desaparecidos: os que “sumiram” ....................................................................89 II – Lamarca e a VPR .................................................................................................. 99 II)1 - Carlos Lamarca: presente ................................................................................. 99 II)2 - Lamarca: o personagem e a história................................................................108 II)3 -Perfil dos réus e da organização .......................................................................116 II)3.1 – Os irrecuperáveis ..........................................................................................121 III – Acusação e Defesa ..............................................................................................127 III)1 - Sob o signo do anticomunismo: contra o caos e a desordem ......................127 III)1.2 - O rigor da Justiça Militar em defesa da segurança nacional ...................132 III)1.3 - Ministério Público e estratégias ..................................................................138 III)2 – Defensores e estratégias ..................................................................................143 III)2.1 – Réus e advogados .........................................................................................157 III)2.2 – As acusações da defesa ................................................................................169 Considerações Finais ..................................................................................................175 Referências bibliográficas ..........................................................................................179 Fontes documentais ....................................................................................................184 6 Os historiadores se interessam pelas idéias não apenas porque elas influenciam as sociedades, mas também porque são reveladoras das sociedades que as originaram. (Christopher Hill) 7 INTRODUÇÃO Este trabalho de pesquisa tem como preocupação central a compreensão e o significado das formas de atuação da Justiça Militar, pretendendo expor a complexidade revelada pela administração da justiça nos processos judiciais analisados, em que foram julgados os militantes da organização armada Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), no período de 1969 a 1971. O regime militar, implantado em 1964 com o golpe civil-militar, apresentava uma ambigüidade na forma de atuar na repressão política contra seus opositores, ou seja, duas fases: inicialmente, os militantes eram seqüestrados e executados de forma sumária ou simplesmente desapareciam, ou então permaneciam incomunicáveis por tempo indeterminado, durante o período de inquérito policial, sendo interrogados sob tortura. Já na segunda fase, a judicial, o inquérito era formalizado e a Justiça Militar comunicada. Os autos dos processos que foram objeto de análise pertencem, portanto, a essa segunda fase, na qual os militantes eram processados com base na legislação do regime militar. O regime militar O governo militar inicia-se tendo como fundamento básico o binômio segurança e desenvolvimento, ambos intrinsecamente ligados e associados à Doutrina de Segurança Nacional, estabelecendo que só há desenvolvimento com segurança e, ele não pode, em hipótese alguma, significar uma ameaça à segurança. O projeto de desenvolvimento, no entanto, não contava com a participação popular e qualquer tentativa nesse sentido seria considerada como subversão. Para garantir o desenvolvimento dentro da lei e da ordem, foi criado todo um aparato de segurança com a finalidade de reprimir toda e qualquer dissensão, inclusive dentro das próprias Forças Armadas.1 1 COMBLIN, Joseph. A ideologia da segurança nacional: O poder militar na América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p.67; DREIFUSS, René Armand, e DULCI, Otávio
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