Transcrição Final Juninho 1
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Transcrição FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC) Proibida a publicação no todo ou em parte; permitida a citação. A citação deve ser textual, com indicação de fonte conforme abaixo. FONSECA JUNIOR, Alcides. Alcides Fonseca Junior (depoimento, 2012). Rio de Janeiro, CPDOC/FGV, 2012. 30p. ALCIDES FONSECA JUNIOR (depoimento, 2012) Rio de Janeiro 2013 Transcrição Nome do entrevistado: Alcides Fonseca Junior Local da entrevista: São Paulo, SP Data da entrevista: 18 de outubro 2012 Nome do projeto: Futebol, Memória e Patrimônio: Projeto de constituição de um acervo de entrevistas em História Oral. Entrevistadores: Bernardo Buarque, Bruna Gottardo e Felipe dos Santos Câmera: Thomas Dreux Transcrição: Fernanda Antunes Data da transcrição: 11 de novembro de 2012 Conferência da transcrição : Felipe Santos Data da conferência: 28 de novembro de 2012 ** O texto abaixo reproduz na íntegra a entrevista concedida por Alcides Fonseca Junior em 18/10/2012. As partes destacadas em vermelho correspondem aos trechos excluídos da edição disponibilizada no portal CPDOC. A consulta à gravação integral da entrevista pode ser feita na sala de consulta do CPDOC. Bernard Buarque – Juninho, uma boa tarde, queremos começar te agradecendo por estar aqui, por vir tão solicitamente de Ribeirão Preto aqui para o coração de São Paulo, Avenida Paulista, para prestar esse depoimento, falar um pouquinho das suas lembranças, da sua trajetória como jogador profissional e ídolo, como referência do Brasil. Então, muito obrigado, pela presença. Eu queria começar te perguntando quando e onde você nasceu. Alcides Junior – Primeiro eu quero agradecer. Acho que, para a história da... No desenvolver da nossa vida esportiva, o país cresceu e hoje nós temos isso, um museu para o futebol. Muito bacana, muito obrigado. Eu sou de 1958, nasci dia 29 de agosto, Transcrição em Olímpia, 450, 460 quilômetros aqui da capital, onde eu comecei toda a história do meu futebol, foi em Olímpia. B. B. – Coincidentemente você nasceu no ano em que o Brasil foi campeão do mundo! A. J. – Depois de ter sido campeão do mundo. B. B. – Meses depois de ter sido campeão do mundo. A. J. – Meses depois. B. B. – Juninho, você é de uma família que teve jogadores de futebol, seu pai era são- paulino, seu irmão jogou, também, futebol profissional. Conta um pouquinho as suas lembranças da sua família, os seus avós já eram da sua cidade natal, de Olímpia? Conta um pouquinho o seu passado. A. J. – Bom, o esporte na minha vida, ele flui naturalmente, como se eu só fizesse isso. Há pouco tempo atrás, há uns dois meses atrás, eu fui participar de uma palestra, e eu procurei nas minhas fotografias, que eu moro em Ribeirão Preto, procurei nas minhas fotografias, para que eu pudesse ter um sinal para dizer para os garotos em que momento o esporte começou a fazer parte, e ter um documento para que isso seja provado. 1961 porque é uma faixa de campeão, que lá embaixo tem, por sorte, a data [riso]. Então, em 61, eu tinha três anos. Provável que seja no início do ano, tinha dois anos e alguma coisa. Então o esporte na minha vida é fácil. O futebol na minha vida é fácil. Apesar de eu, enquanto atleta, ter competido em outras ações esportivas: fui atleta de handball, de 4x100, 100 metros rasos... - O que mais? A idade leva - Salto em altura... Praticar esporte, na minha vida, não necessariamente futebol, desde quando eu me lembro como gente. Talvez e provavelmente motivado pelo meu pai e pela minha mãe, o fato de ter um irmão mais velho que também é do esporte puxa. Tudo que eu participei tem a ver com a minha família, tem a ver com a minha escola, tem a ver com Transcrição o meu clube. Esses três ícones que são quem me conduziu para o esporte. Quer dizer que desde 61 eu estou ai enrolado com esporte. B. B. – Juninho, nas nossas conversas com jogadores, muitos falam que no início houve resistência da família, porque o futebol era visto como coisa de vagabundo. Havia uma imagem negativa que só com o tempo mudou. O seu caso foi diferente? A. J. – É, na cidade, quando eu fui... Eu jogava lá em Olímpia também, fazia todo o meu esporte em Olímpia. Tinham competições lá pequenas, que eram feitas pela Liga, meu pai era presidente da Liga, sempre estimulando, e, na verdade, quando eu fui convidado para ir para a Ponte Preta e fui para Campinas e fui aprovado nesse mesmo teste, avaliação, observação, que todo mundo faz, quando eu voltei para a minha cidade que houve uma pressão da sociedade para a minha família, no intuito de perguntar: - “Pô, mas ele vai ser jogador e o que mais?”. Porque tinha aquela conotação, uma tarja sobre o atleta do futebol, na época, de que eram pessoas com comportamentos complicados, de índoles ruins, e tal. No meu caso, como eu sempre vivi com esporte, eu sempre vivi com o futebol por causa da minha família, do meu pai e do meu irmão, aquilo, para mim, era uma surpresa que não me abalava, não me abalou, porque, necessariamente eu era estudante, eu continuei a ser estudante. No meu caso não teve uma quebra de paradigma, que é “começou a jogar futebol, parou tudo”. Eu, apesar de ter parado durante o decorrer da minha carreira, hoje eu sou formado. Então, a sociedade, eu acho que de alguma forma nós, dessa época, nós mostramos para a sociedade que nós somos e fomos seres comuns. Eu sou atleta, mas sou igual a todo mundo. Porém, eu sou atleta também. Então foi uma coisa que surgiu, mas logo em seguida, no decorrer da história, a gente vai mostrando o comportamento, mostrando as relações humanas... Eu me casei, sou casado com a mesma esposa há 30 anos, que é da minha cidade também. De alguma forma, eu mostrei que eu não era aquilo, que se aquilo era uma pecha que tinha sobre o atleta do futebol, no meu caso foi superado com o que é a minha vida. B. B. – Então a sua família já estava em Olímpia há muito tempo? Seus avós... Transcrição A. J. – Isso, minha família, meus avós, todos de lá, sou descendente de italiano e português, sempre voltado... Como eu te falei, família, religião, escola, entendeu? Então para mim foi uma surpresa quando eu entendi que a sociedade nos enxergava assim. Porque eu torcia... Na época, a gente está falando em rádio e jornal, não estamos falando em televisão, televisão era muito pouco. Televisão, no Brasil, que competição ao vivo primeiro que eu lembro de ter assistido? Foi a Copa de 66. Então para mim, pelo fato de conviver muito com o esporte, e a própria cidade, a escola que eu vivi, ela entendia que eu, Juninho, era – na verdade Alcides – eu era uma pessoa que tinha uma condição clara de ser um atleta. Necessariamente não de futebol, como eu te falei, de outras modalidades. Acho que foi um resultado positivo o fato de eu ter me transformado em um bom atleta, um atleta de alto rendimento, no futebol, para, no meu caso, para a minha família é muito bom, porque os pais ficam com aquela fotografia de jornal, “que o Juninho saiu aqui”, e aquilo lá tudo. E a cidade, de alguma forma, ganhou também, porque, para onde eu vou, desde começo de 74, para onde eu vou, a minha cidade vai junto. Não tem como desvincular Juninho de Olímpia e Olímpia de Juninho. Então a cidade ganhou. B. B. – Você mencionou o colégio, o clube... Jogava-se futebol na rua? Você tem alguma lembrança disso? A. J. – Sim. Nós jogávamos futebol na casa do amigo que o terreno era maior [risos]. A gente, por exemplo, de oito a 12 anos, 12 anos é o ponto inicial da minha vida em competição registrada. Em 1970, lá em Olímpia, foi criado um torneio, que nesse torneio tem o registro. Então, nesse ano eu comecei a disputar futebol, 12 anos. A turma que jogava nesse ano era a turma de 55. Quer dizer que eu era talento, eu era avançado. Eu lembro disso por quê? Porque o meu irmão era um dos atletas mais velhos que tinha na competição, eu lembro claramente disso. Eu tinha essa condição por causa do colégio. Eu só fui competir porque o colégio foi competir. Nessa competição, por exemplo, tem a existência do meu irmão, que também foi atleta, do Joãozinho, o zagueiro do Santos, irmão do Bezerra, irmão do Reinaldo, que é lá da minha região, e Transcrição um outro menino lá de Olímpia, chamado Waltinho, que também jogou. Então, dessa primeira competição oficial, surgiram três, quatro atletas. A cidade de Olímpia, por exemplo, era uma cidade que curtia muito futebol. Então a Liga criou uma competição, que acho que foram oito, ou 10 clubes daquele bairro, e eu jogava em um colégio chamado Colégio da Vila, que hoje tem outro nome. E aí eu competi, durante cinco anos, eu joguei lá. Talvez se não tivessem criado esses torneios, eu não sei te dizer se eu teria esse crescimento que eu tive na minha carreira, porque me possibilitou jogar. E eu era, como eu te disse, eu era um dos menores que jogava. Durante três anos eu fui o menor de todos, de idade. E até de tamanho. Se você pegar a fotografia está lá, o Juninho pequenininho. Então, de alguma forma, aquilo que eu consegui virar como atleta, foi fomentado pela cidade, que me proporcionou, e pela família que tinha o estímulo de ir atrás do esporte. Felipe Santos – Quando você começa a jogar nesse campeonato ali em Olímpia, organizado pela Liga Olimpiense, seu pai ainda era...? A.