Cidade Antiga

População e mobilidade nas cidades romanas de

Vasco Gil Mantas Universidade de / Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos [email protected]

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Resumo Os estudos de demografia histórica revelam-se particularmente difíceis quando as fontes disponíveis são limitadas e, por vezes, controversas. Em relação à Antiguidade Clássica a informação é desequilibrada, pois mesmo o cálculo da população da cidade de Roma continua a motivar acesas discussões entre os especialista. A epigrafia revela-se muito útil no estudo da mobilidade de populações e das relações entre cidades e entre grupos sociais urbanos. No período imperial não lhe faltam testemunhos, sobretudo no seio de grupos com posição social relevante ou seus dependentes. O estatuto das cidades reflecte-se, embora nem sempre, na dinâmica da mobilidade, notando-se pontualmente maior ou menor poder de projecção ou de atracção. Algumas famílias revelam particular capacidade de inter-relacionamento, directa ou indirectamente, em especial nos centros administrativos e económicos, como os Cantii de Idanha-a-Velha, com destacada presença em Bobadela e noutros locais, assim como os Iulii daquela cidade se encontram representados na Civitas Igaeditanorum, facultando um excelente exemplo de mobilidade na Lusitânia. Finalmente, o estudo da população luso-romana deve procurar identificar os elementos oriundos da colonização ou seus descendentes. No conjunto, a problemática da relativamente reduzida população urbana do periodo romano, suscita numerosas questões, mas, por isso mesmo, constitui um estimulante campo de pesquisa.

Os estudos de demografia histórica revelam-se particularmente difíceis para períodos e áreas em que as fontes disponíveis sejam escassas e, por vezes, controversas (Holleran / Pudsey 2011)1. Embora aparentemente menos prejudicado que o da demografia, o tema da mobilidade também enfrenta dificuldades significativas, tanto mais que a sua dependência das fontes, sobretudo de fontes escritas, não é menor e, nalguns casos, ainda mais marcada do que no primeiro caso. Tais limitações contribuem para muitas ambiguidades e não poucas discrepâncias nos estudos que vão surgindo e que se ocupam destas questões na Antiguidade Clássica. Acontece que a informação de que dispomos é desequilibrada, apesar de parecer muito abundante para cidades como Atenas ou Roma, onde não faltam epígrafes e outra documentação escrita com dados relevantes para a análise demográfica e para os diversos aspectos da mobilidade populacional, deixando os especialistas entregues

1 Abreviaturas inseridas no texto: Corpus Inscriptionum Latinarum, Berlim (=CIL); Ephemeris Epigraphica, Berlim (=EE); Força Aérea Portuguesa (=FAP); J. d’Encarnação, Inscrições romanas do Conventus Pacensis, Coimbra, 1984 (=IRCP); J. Vives, Inscripciones Latinas de la España Romana, Barcelona, 1971 (=ILER). Agradecemos cordialmente ao Dr. Luís Madeira a preparação das figuras desta comunicação.

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a acesas discussões, envolvendo o cálculo da população e a constituição dos vários grupos sociais urbanos (Scheidel 2001).

Figura1. Áreas comparadas das cidades de Roma, Pompeios, Conimbriga e Ammaia

Um dos aspectos que contribui para dificultar os cálculos é o que se relaciona com a diversidade de escalas com que deparamos na Antiguidade (Duncan-Jones 20022: 159- -184), influenciando determinados centros urbanos de dimensões excepcionais, como Roma, ou particularmente bem conhecidos, como Pompeios, conclusões tornadas extensivas a cidades de muito menor dimensão, como era a maior parte das que se situavam nas províncias (Fig. 1). O cálculo da população de Roma no seu apogeu, no século II , ronda por um milhão, valor mais ou menos consensual, mas que alguns investigadores consideram exagerado (Carcopino s/d: 23-35; Homo 1971:65-123). Embora a Cidade Eterna conte com um corpus epigráfico de milhares de inscrições e com listagens minuciosas dos seus monumentos e edifícios privados existentes na cidade, os chamados Regionari, fontes que podemos confrontar com o conhecimento preciso da área contida no interior da Muralha de Aureliano (Dey 2011), levantada no século III, a verdade é que subsistem numerosos problemas sem solução. Os Regionari, elaborados ao século IV, indicam que em Roma existiam 1797 domus e 46.602 insulae, mas permanece a dificuldade em definir um número médio de habitantes

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para umas e outras destas unidades de habitação, tanto mais que as insulae não eram todas idênticas, podendo ter mais ou menos andares, sem esquecer a ambiguidade do termo, igualmente utilizado para definir os quarteirões em que se dividia o espaço urbano. De acordo com os Regionari a percentagem de domus em Roma era de 5% do total atribuído às insulae, o que parece razoável (Hermansen 1978: 129-168). Quanto à muralha, cujo perímetro se estende por cerca de 18 quilómetros, permite definir uma área habitável de pouco mais de 20 quilómetros quadrados, o que, considerando a cifra de um milhão de habitantes, obriga a admitir uma densidade populacional de uns 50.000 habitantes por quilómetro quadrado. Como enfrentar esta dificuldade? Podemos admitir que, na época de Aureliano, a população já decaíra, sem que todavia possamos comprovar uma diminuição particularmente significativa não obstante as novas metodologias de investigação, nomeadamente a bioarqueologia (Killgrove 2010), ou considerar que a cidade, como algumas fontes literárias sugerem, era um local de medíocre qualidade de vida, não obstante a sua monumentalidade. Outros dados a que os especialistas recorrem nesta complicada questão são as listas de distribuição de géneros à população livre, particularmente cereais e vinho, que na época de Augusto contemplaria uns 250.000 beneficiados. Sucede, porém, que não temos a certeza se a distribuição se refere apenas a residentes urbanos ou se incluiu, como nos parece muito possível (Witcher 2005: 120-138), os habitantes da periferia de Roma, nomeadamente os que se encontravam estabelecidos na zona atribuída em tempos às dez tribos rurais primitivas. A comparação com outras cidades, como Óstia, não abre caminho ao esclarecimento das dúvidas, pois se trata de um centro com características urbanísticas muito diferentes, cujas casas de habitação, especialmente as insulae, estariam muito longe das dimensões das existentes em Roma, seguramente muito maiores e de construção mais ligeira, sem esquecer que Óstia obedeceu a um desenvolvimento urbano muito mais regular a partir do castrum republicano (Wheeler 1964: 30-42, 124-133; Packer 1967: 80- -95; Sears 1989: 103-133). Para complicar mais o cálculo da população romana, na qual os libertos deixaram uma marca muito forte, nomeadamente através da epigrafia, hesitamos em calcular no total por muitos admitido de 1.000.000, ou mesmo 1.250.000, a parte da população servil, talvez não tão numerosa no Alto Império como no período republicano tardio. A presença dos escravos e dos libertos suscita também um problema que se prende directamente com a questão da mobilidade, obrigando-nos a considerar dois tipos de mobilidade, uma voluntária, individual ou familiar, a que mais nos interessa neste momento, e outra involuntária. Ambas se encontram bem representadas na epigrafia da Urbe e nas fontes literárias. Recordamos ainda o desfasamento existente neste tipo de fontes entre as

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diferentes classes sociais, umas copiosamente presentes na documentação e outras, como os escravos, pouco visíveis, devendo sublinhar, uma vez mais, a importância percentual de referências a libertos nas fontes relacionadas com a mobilidade. Dadas as evidentes dificuldades da matéria são numerosos os investigadores que não hesitam em aceitar como impossível determinar a população total de Roma e o número de escravos e libertos que comportava (Petit 1967: 255-259). Para as cidades romanas do território português o problema do cálculo da população apresenta-se com toda a acuidade, pois a falta de testemunhos não arqueológicos ou epigráficos é particularmente sentida. Na verdade, estabelecer, mesmo de forma aproximada, valores para o número de habitantes das cidades durante o domínio romano é tarefa difícil, mesmo recorrendo a cômputos baseados no número de inscrições que sobreviveram ou na área construída das referidas cidades. As inscrições romanas conservaram-se aleatoriamente, o que faz com que pequenas cidades, como a capital da Civitas Igaeditanorum (Idanha-a-Velha), contem com maior número de epígrafes que o município de Felicitas Iulia (Lisboa), seguramente a segunda cidade da Lusitânia (Sá 2007; Vieira da Silva 1944: 94-275). Quanto ao cálculo estabelecido a partir da área urbana, definida pelas muralhas e localização das necrópoles, não se revela mais seguro, pois durante o domínio romano os centros urbanos viveram modificações que tornam falíveis propostas baseadas nesta metodologia. Voltamos a recordar, a título de exemplo, que a muralha de Aureliano, com pouco mais de 18 quilómetros de circuito, abrigaria uma população de 1.000.000 de habitantes, enquanto que a cidade medieval de Évora, dentro da sua muralha fernandina, poderia, utilizando este sistema de cálculo assente na relação entre a área murada das cidades e a população residente, atingir o absurdo número de 150.000 a 200.000 habitantes. Se aplicarmos o cálculo de Torres Balbás para a população das cidades islâmicas hispânicas (Balbás 19852: 93-104), Évora poderia ter uma população de uns 36.000 habitantes, quando na realidade não deveria atingir os 10.000, ou mesmo um valor mais modesto. É claro que as habitações da cidade alentejana diferiam significativamente das existentes na Roma imperial, aproximando-se mais da tipologia dos prédios dos centros urbanos de dimensão média do Império. O valor sugerido por Balbás permite atribuir a Roma uma população de uns 750.000 habitantes, o que, aproximando-se do valor considerado acima, implica um tipo de povoamento urbano muito denso, dificilmente existente nas cidades romanas de Portugal O cálculo a partir dos raros edifícios de espectáculo que se conservaram, teatros, anfiteatros e circos, pouco contribui para nos elucidar, pois são ainda mal conhecidos e, ademais, eram construídos para um número de espectadores que ultrapassava os habitantes

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urbanos. Sabemos que o Circo Máximo, em Roma, podia receber 250000 espectadores, mas que informação concreta podemos extrair deste dado, tanto mais que os espectáculos se prolongavam por vários dias, renovando-se o público? De tudo o que fica dito podemos apenas reter a evidente dificuldade dos estudos demográficos para a época romana, tal como o são também para o período medieval, limitando-se os investigadores mais cautelosos a apresentar propostas de ordenação relativa da importância das cidades, frequentemente sem arriscarem números. O problema da escala, tantas vezes esquecido, revela-se essencial nestas tentativas de definir a população das cidades antigas, muito diferentes das que antecederam a Revolução Industrial, cujas consequências, aliás, só muito lentamente se fizeram sentir em Portugal. A título de exemplo lembramos que Coimbra, então a terceira ou quarta cidade do país, tinha em 1864 uma população de 12.727 habitantes, valor que a colocava muito à frente da maior parte das cidades portuguesas da época (Estatística 1868: VIII), nalguns casos menos populosas do que na época romana e muito próxima da população de Pompeia, calculada para o século I entre 12.000 a 15.000 habitantes (Étienne s/d: 417) Um pouco antes, em 1857, a antiga capital lusitana, Mérida, pouco passava de 5.000 almas. O estudo da mobilidade parece mais fácil atendendo ao tipo de documentação existente, ou menos falível. O mundo romano conheceu, sobretudo na época imperial, intensa mobilidade interna e externa, com viajantes muito numerosos e diversamente motivados, deslocando-se por terra e por mar (Chevallier 1983; Adams / Laurence 2001). Muitas destas deslocações, oficiais ou privadas, deixaram-nos testemunhos seguros e esclarecedores, sobretudo de tipo epigráfico, ainda que por vezes se limitem a indicar uma origem diferente da do local de achado da inscrição. A partir deste tipo de referências tem sido possível estabelecer hipóteses sobre a capacidade de projecção ou de atracção desta ou daquela cidade ou região, pois não faltam inscrições relacionadas com deslocações, profissionais ou não, em regiões pouco ou nada urbanizadas. Nalguns casos determinados materiais arqueológicos associados ajudam a estabelecer os itinerários seguidos pelos viajantes ou denunciam relações regulares a longa distância.

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Figura 2. Epígrafe do veterano C. Cassius Fundanus achada perto de Lisboa (Vieira da Silva 127)

A presença de militares, cujas deslocações em serviço não deixam de constituir um capítulo muito importante da mobilidade, alheia-se um pouco da temática que nos interessa, a menos que se trate de veteranos instalados após o término do serviço activo numa região diferente daquela onde nasceram. Como a maior parte do território actualmente português não contava com guarnições permanentes quase desde o início do Principado e o número de indivíduos identificados como veteranos é bastante limitado (Fig. 2), não nos ocuparemos particulamente deste aspecto, tanto mais que a presença de militares dependia do dispositivo estratégico ou de razões específicas, por exemplo de policiamento ou condução de trabalhos, correspondentes a este ou àquele período ou situação. É o caso de L. Lavius Tuscus, militar nascido em Olisipo (Lisboa), denominada apenas como Felicitas Iulia no cipo funerário, de forma vagamente parecida com um miliário, achado em Vila Nova de Gaia (ILER 6317). Este militar da Legio X Gemina, inscrito na tribo Emília, poderia estar envolvido nos trabalhos de construção ou de renovação da estrada entre o Douro e o Mondego, no período correspondente aos governos de Augusto e Tibério. Sabemos também que no distrito mineiro de Vipasca (Aljustrel) havia militares deslocados, como noutras minas do território ora português, por questões de policiamento da zona, controlo dos escravos e, seguramente, orientação de trabalhos especializados. Todavia, como o célebre regulamento estipula, os militares ali colocados podiam utilizar as termas, geridas por um concessionário, isentos de pagamento (IRCP 142), o que não deixa de sugerir que, se existia um campo militar em Vipasca, seria de medíocre dimensão e aparentemente desprovido de balneário, apenas adequado a uma pequena força, talvez destacada da Legio VII Gemina ou de um qualquer corpo auxiliar estacionado na Tarraconense, força da qual

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não se conhece por enquanto outro indício para além da referência no citado regulamento. Cremos que estes dois exemplos são suficientes para que deixemos por agora a mobilidade castrense e nos ocupemos apenas da população civil e das suas deslocações. Começaremos pelo problema da população das cidades romanas de Portugal. A urbanização do território português começou pelos finais do período republicano (Alarcão 1990: 43- -57) circunstância que obriga imediatamente a definir o modelo de cidade a ter em conta, o modelo clássico de origem mediterrânica na sua versão romana provincial. A análise do processo urbanizador não pode ignorar, todavia, a existência de importantes centros populacionais pré-romanos, oppida ou castella na designação latina. Independentemente do número de habitantes, que podia ser significativo, estes centros, mesmo quando influenciados por elementos exóticos, fenícios ou cartagineses, não podem, ainda que contrariando conceitos classificativos vulgares entre numerosos arqueólogos do mundo antigo não mediterrânico, ser identificados como autênticas cidades, na ausência de elementos essenciais como a escrita, um corpo de magistrados organizado e monumentos públicos. É claro que esta opção se presta a um debate alargado, que não pretendemos abordar aqui, mas optamos decididamente pelo conceito romano de cidade. A cidade romana era, antes de mais, um centro moral, capital de um território circunscrito habitado por uma população dotada de estatutos jurídicos diferenciados, cuja hierarquia no topo era ocupada por um núcleo de cidadãos, relativamente reduzido nas províncias até ao Édito de Caracala, em 212, que concedeu a cidadania a todos os homens livres do Império. A cidade tinha como função principal a administração de um território, cujos habitantes livres dotados de cidadania adquiriam o estatuto próprio da cidade, sendo inscritos numa das 35 tribos existentes na época tardo-republicana e imperial. No caso das cidades romanas de Portugal a maior parte delas gozava do direito latino, com os cidadãos inscritos nas tribos Galéria e Quirina, com poucas excepções (Wiegels 1985: 72-168; Le Roux 2010: 113-121). Algumas cidades contavam com uma posição privilegiada, como o município de cidadãos romanos de Felicitas Iulia Olisipo e a colónia de Pax Iulia (Beja), dotada do direito itálico. Assim, o Império Romano, pelo menos até ao século III, pode ser considerado uma grande confederação de cidades (Grimal 1989: 261-273), onde as relações bilaterais eram definidas a partir de Roma, caso a caso, embora tendendo, naturalmente, para uma normalização regida pelas condições locais e pelo evoluir da romanização. Não havia, portanto, nada que se parecesse com a discutida Constituição Europeia, instrumento que estaria, seguramente, fora do pensamento jurídico romano. Uma parte do território português, mais ou menos até à linha do Mondego, circunstância que Plínio não deixou escapar na sua descrição da fachada atlântica da Lusitânia (Plinio, N.H., 4,113), correspondia à área dominante da Cultura Castreja, enquanto a sul deste

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limite o padrão de povoamento denunciava maior influência mediterrânica, bem patente, por exemplo, em Bevipo (Alcácer do Sal), que o romanos denominaram, pelo século I a.C., Urbs Imperatoria Salacia (Mantas 2010: 211-213). Um dos aspectos que devemos referir neste momento é o de que muitas destas povoações pré-romanas continuaram a existir, dando lugar a cidades capitais das populações gradualmente reordenadas nos inícios do Império e que por isso conheceram uma rápida renovação à romana sem perderem, em certos casos, como em Conimbriga, a estrutura anterior. Convém recordar, no cenário de urbanização do território, a tese defendida por Jaime Cortesão, contrariada por Orlando Ribeiro, a propósito de uma pretensa atlantização do povoamento por iniciativa romana, o que nunca aconteceu, não obstante a importância relativa dos itinerários Olisipo-Collipo- -Conimbriga e Olisipo-Scallabis-Bracara, que ainda hoje se faz sentir, bastando para tal atentar na toponímia indígena das cidades repartidas ao longo destas estradas (Ribeiro 1977: 76-83). É claro que o padrão de povoamento não era idêntico em todas as regiões, mostrando desfasamentos que reflectiam as condições físicas do território, com vastas áreas montanhosas pouco habitadas, como também o era parte da zona costeira, com excepção do moderno Algarve, atingindo, um pouco como na actualidade, significativa densidade no que foi o convento bracaraugustano, ao qual Plínio atribuíu 285.000 habitantes livres, o que permite deduzir para a totalidade do território uma população de 1.000.000 ou 900.000 almas (Encarnação 1991: 395-39). Pálida imagem da demografia do Portugal romano que, no fundo, acaba por anteceder a realidade dos nossos dias, em que a chamada desertificação corresponde a um fenómeno milenar, já existente na época romana e com antecedentes na Idade do Ferro. Esta circunstância influenciou a criação dascivitates no início do Império, criando problemas aos arqueólogos quando se trata de identificar as capitais regionais do período romano em áreas como a Beira interior (Carvalho 2005:155- -170), tão pequenas elas eram numa zona de população dispersa, embora designadas como municipia na famosa inscrição da Ponte de Alcântara (CIL II 760). Assim, o povoamento geral não terá sofrido transformações drásticas, tanto mais que a administração romana imperial, pragmática, não adoptou procedimentos desnecessários aos fins em vista, a pacificação das populações e a exploração dos recursos existentes, limitando as muito faladas transferências populacionais. É certo que se verificaram sinecismos para povoar fundações novas, como terá sucedido, por exemplo, na Civitas Igaeditanorum (Idanha-a-Velha) e na Ammaia (S. Salvador de Aramenha / Marvão), mas sem preocupações de ordem estratégica. Não houve também, e isso parece nítido a norte da linha do Tejo, uma política alargada de colonização agrícola com estabelecimento em massa de elementos itálicos ou outros, cujo testemunho mais palpável se encontra na

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onomástica e nos traçados cadastrais, como os de Santarém, Beja ou Évora (Encarnação 1984: 772-779; Mantas 2011: 121-134). A predominância de gentilícios próprios de grandes personalidades ligadas à conquista romana e ao advento do Império, como os Iulii, mostram que na maior parte dos casos se trata de clientelas de alguma forma ligadas a essas personalidades, clientelas em parte formadas por indígenas romanizados. Os traçados cadastrais, quando não correspondem a centuriações coloniais, podem reflectir apenas uma organização do território à romana, eventualmente para efeitos fiscais, como parece ser o caso de alguns a relacionar com o imposto fundiário (jugatio) estabelecido pela Tetrarquia, que originou casos de renormatio, ou seja, renovação do cadastro, quase sempre com uma orientação diferente do anterior, como, por exemplo, sucedeu no território de Pax Iulia, não obstante as reticências de alguns investigadores (Gorges 2010: 141-174)2. A existência de sistemas cadastrais implicava um espectro específico no padrão de povoamento da área em causa, como se verifica facilmente no território pertencente aquela colónia (Alarcão 1988: 214-216 [mapa 8a]; Lopes 2003 2: 112-113). A população das cidades romanas de Portugal, e nesta designação incluímos apenas as cidades dotadas de tal estatuto na estrutura administrativa romana, sem considerar, portanto os vici e outras aglomerações secundárias, dependentes ou não das cidades, era constituída maioritariamente por estratos populacionais de origem indígena, como a análise da romanização onomástica de numerosas famílias claramente demonstra (Encarnação 1995: 255-269; 2010: 175-184). Algumas das aglomerações secundárias tiveram, por motivos económicos, por vezes ligados à estrutura de comunicações, ou como continuidade de situações existentes no período pré-romano, particular importância em termos populacionais. Tomemos alguns exemplos em apoio do que escrevemos: Ierabriga, nos arredores de Alenquer, mansio do itinerário Olisipo-Bracara pertencente ao território olisiponense, conta com uma mancha de sítios satélites das mais importantes que se conhecem em Portugal; Nossa Senhora de Aires, perto de Viana do Alentejo, corresponde a um vicus viário com vários hectares, situado sobre a via Ebora-Pax Iulia (Carneiro 2008: 101-102); a norte, Cale (Porto), especialmente bem situada junto à foz de um grande rio navegável e na fronteira entre a Tarraconense e a Lusitânia, embora sem que lhe possamos atribuir um estatuto específico, vai-se afirmando como um sítio bem mais importante do que se considerava décadas atrás, apesar da reduzida epigrafia achada no local. Como é habitual, não temos possibilidade de avançar por ora qualquer cálculo de população para estes sítios.

2 O mesmo fenómeno, com idêntica cronologia, regista-se também em Conimbriga e, de forma mais evidente, em Ebora.

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O factor população, do ponto de vista quantitativo, não era fundamental para as cidades romanas provinciais. Muitas das civitates tinham um número de habitantes muito reduzido, como parece ter sido o caso de parte das capitais, mal conhecidas, das civitates do que é hoje a região da Beira e de Trás-os-Montes. Alguns destes centros foram construídos de raíz, como a capital dos Igaeditani, que parece mais importante do que muitas outras, cujas funções eram quase exclusivamente administrativas e comerciais, lugares de mercado que recordam as Ventae e os Fora conhecidos noutras regiões do Império, de dimensão diminuta e população exígua. É o caso da Civitas Cobelcorum, desconhecida até há pouco tempo, e cuja área envolvente do forum sugere limitada ocupação (Frade 2010: 47-68). Em certos casos, e aqui o mecenato dos notáveis locais parece ter desempenhado um papel significativo, algumas destas pequenas cidades destacaram-se das suas congéneres, como aconteceu com Bobadela, cujo nome romano se desconhece, mas que cremos ser a capital dos Interanienses, onde não faltava mesmo um modesto anfiteatro, tal como poderá ter existido outro em Idanha-a-Velha, cidades beneficiadas por iniciativa dosIulii e dos Cantii locais e que ascenderam ao estatuto municipal pelos finais do século I, muito provavelmente no principado de Domiciano (Mantas 2006: 49-92).

Figura 3. Ruínas da estação romana de Centum Celas (Belmonte)

Em zonas desprovida de povoados que pudessem facilmente transformar-se em cidades a administração romana parece ter optado por estabelecer pequenos núcleos em torno de um edifício público de dimensões significativas que servia de referência política e cultural, se não também comercial, às populações dispersas que aí se reuniriam regularmente. Pode ser a explicação mais plausível para sítios como Centum Celas (Fig.3), perto de Belmonte, ou Póvoa do Mileu, na Guarda (Guerra / Schater 2010: 333-342; Pereira 2010: 33-35). Em certas regiões, alguns grandes povoados da Idade do Ferro que persistiram sob o domínio

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romano teriam um número de habitantes bastante mais elevado que o destas pequenas cidades, ainda que sem ascenderem à categoria de cidades, porquanto à margem do direito latino. Recordamos o caso da conhecida Citânia de Briteiros ou de Monte Mozinho, perto de Penafiel, que ocupa uma área construída de cerca de 22 hectares, permitindo uma população de umas 5000 almas. Lembramos que estes estabelecimentos de tipo castrejo obrigam a considerar apenas a área construída, normalmente protegida pela última linha de muralhas, para cálculo da população, como temos que ter em conta, igualmente, nas cidades de urbanismo romano a existência de numerosos monumentos e espaços públicos não habitáveis. Não basta, pois, considerar o número de hectares dentro de um perímetro definido por muros ou necrópoles para obter a população de um centro urbano. Na cidade de Ammaia só o forum ocupava uma área de quase 7000 m2, valor a que devemos acrescentar as termas que lhe ficam próximas, a praça junto à porta sul e omacellum , sem esquecer os arruamentos (Mantas 2000: 414-415, 419; Corsi / Vermeulen 2008:13-30).

Figura 4. Planta sumária da cidade de Ammaia, com indicação de áreas públicas: forum, termas e porta sul

Desta forma, os 24 ou 25 hectares ocupadas pela cidade, que dentro da área murada não contaria com mais de uns 18 hectares de área construída3, resultam bastante reduzidos (Fig. 4), sugerindo uma população que poderia ter atingido, nos melhores tempos, talvez uns 5000 ou 6000 habitantes.

3 Admitindo o alargamento da muralha para ocidente da cidade a área aumenta consideravelmente, mas o terreno é aí pouco propício para construção e a qualidade honorífica da cerca não justifica tal amplificação.

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Figura 5. As duas muralhas de Conimbriga e a redução da área urbana no Baixo Império

Para além deste aspecto, é preciso considerar também as alterações sofridas pelas cidades ao longo dos cinco séculos do domínio imperial romano. As ruínas de Conimbriga (Condeixa- a-Velha) permitem abordar esta questão com a vantagem do sítio contar com intensa exploração arqueológica. Foi considerada a possibilidade desta cidade ter albergado uma população entre 10.000 e 15.000 habitantes (Alarcão / Étienne: 1977: 58-60) número talvez admissível para o Alto Império, com preferência pelo cômputo menor, período em que a cidade contava com áreas públicas importantes em pleno funcionamento. Mas a cidade sofreu uma redução na sua área habitável com a construção da muralha tardia (Fig. 5), ficando limitada a uns 12 hectares, sugerindo para o Baixo Império algo como uns 4000 a 4500 habitantes, os mesmos que se podem considerar para Évora no interior da muralha romano-visigótica, que reduziu igualmente a área urbana anterior (De Man 2011: 184-192). Nestes casos podemos admitir duas soluções: que a população decresceu ou que as condições de vida se alteraram radicalmente, ocupando-se, como está provado em diversos locais, os grandes monumentos públicos com finalidades habitacionais. Seja como for, as dúvidas permanecem, mesmo para cidades razoavelmente conhecidas, como Conimbriga, cidade para a qual há uma proposta que cremos pecar por defeito, pois limita o número de habitantes a perto de 5500 (Correia: 2010: 249-252). A tudo isto vem juntar-se o problema do traçado preciso das muralhas, nem sempre perfeitamente definido, para não dizer mais, e a questão bastante complicada da sua cronologia. Em , a muralha poderá remontar a Augusto, com sugerem alguns pormenores visíveis em fotogramas aéreos do século passado (FAP 1965 46055) e a importância desta fundação urbana numa zona desprovida de cidades. Todavia, o seu percurso geral, elíptico, corresponde melhor a uma construção tardia, como a muralha de Lugo, também ela resultante de uma alteração no traçado inicial (Mantas 1990: 86-87;

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Martins 2004: 163-164). Do que não é possível duvidar é da existência de um traçado ortogonal, normal em fundações ab initio como a cidade dos Brácaros, para a qual podemos imaginar uma população bastante razoável, talvez de uns 12.000 habitantes, aceitável para uma capital provincial tardia, mas na qual muito cedo se instalaram negociantes romanos, motivados pela dinâmica de uma zona onde a concorrência não seria muita e as oportunidades imensas (Morais 2005). Recordamos que o segundo grande centro romano no nosso território a norte do Douro, Aquae Flaviae (Chaves), só se desenvolveria quase um século depois.

Figura 6. A muralha medieval de Coimbra e o provável traçado da muralha romana

Referiremos ainda três outras muralhas a propósito do cálculo da população residente no seu interior: , Olisipo e Ossonoba. No primeiro caso, o de Coimbra, conhece-se bem o traçado da muralha medieval, ela própria objecto de várias reformas. A topografia complicado do sítio determinou, por razões evidentes, o traçado dos muros, em parte correspondente a uma muralha romana que cremos poder atribuir ao Baixo Império. Parece difícil aceitar para a muralha medieval o mesmo circuito, pois assim Aeminium teria uma superfície quase igual à de Olisipo, cidade com idênticos problemas de topografia, mas mais importante (Mantas 1992: 487-513). Quantos habitantes? Aeminium contava, sem dúvida, com áreas exteriores à muralha, desde logo a zona ribeirinha por onde passava a estrada Olisipo-Bracara (Fig. 6). Sem querer arriscar demasiado cremos ser possível uma população rondando as 10.000 almas, colocando-a a par de Conimbriga, tanto mais que a cidade conta com evidentes indícios de grande dinamismo, ainda que se lhe não conheça testemunho concreto do estatuto urbano, certamente idêntico ao daquela.

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O caso de Olisipo também é complicado. A chamada Cerca Moura só parcialmente correspondia à muralha romana, tardia tanto quanto se conhece (Vieira da Silva 1939)4, pois deixa de fora edifícios romanos como as Termas dos Cássios, renovadas em 336 (CIL II 191). A muralha devia estender-se até perto do esteiro do Tejo, como sugerem as necrópoles de S. Nicolau e da Praça da Figueira. A cerca medieval adaptou-se tacticamente ao terreno, deixando de fora áreas anteriormente protegidas. De acordo com a nossa proposta, Olisipo teria uma área equivalente a cerca metade de Óstia, o que permite atribuir-lhe, sem problemas, uma população nunca inferior a 20.000 habitantes, superior se incluirmos as áreas suburbanas, sempre muito difíceis de estudar (Alarcão 1999: 31-37). Uma população com este quantitativo, próprio de um porto importante com a respectiva densidade populacional naturalmente acrescida (Mantas 2003: 13-29), coloca Olisipo em segundo lugar na , cuja capital, Emerita Augusta (Mérida) teria cerca de 50.000 habitantes. Evidentemente, mais uma vez se trata de uma hipótese, que a arqueologia e a epigrafia não desmentem, embora este tipo de cálculos dependa tanto da determinação da área das cidades, como do tipo de habitações predominantes, domus ou insulae, mais difícil de conhecer. O estudo da cidade de Ossonoba (Faro) permite abordar os problemas resultantes das dramáticas transformações geomorfológicas que o sítio, inicialmente uma pequena península, registou desde então. A cidade romana era maior que a vila medieval, encerrada na muralha a que tem sido atribuída discutível origem bizantina (De Man 2011: 230- -236), muralha que reflecte, pela posição das portas, o traçado ortogonal da zona central da cidade, em torno do forum. A localização das necrópoles determina uma área muito superior, sugerindo que o muro actual tenha origem numa cerca tardia e que parte da cidade tenha sido abandonada, por razões que impediram a habitabilidade. Que população poderia ter vivido em Ossonoba dentro desta muralha? Se admitirmos uma concentração significativa podemos admitir uns 3500 habitantes para aOssonoba reduzida do final da presença romana, o que, considerando a importância das necrópoles conhecidas e a actividade portuário numa cidade que foi sede de um dos primeiros episcopados no nosso território, talvez possibilite para a cidade, no Alto Império, ainda que Mela a situe entre os parva oppida (Mela: 3,7), uns 5000 habitantes. Poderíamos continuar este exercício de cálculo para outras cidades, mas os resultados, tal como os anteriores, nunca seriam mais do que uma aproximação ao que nos parece possível, dependendo sempre de dados incompletos e que devem ter em conta, como

4 Escavações recentes comprovaram que a muralha romana coincide em parte da área ribeirinha com o traçado da cerca islâmica (Casa dos Bicos; Largo de S. João da Praça), integrando troços conservados e outros reconstruídos.

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no caso de Ossonoba, a cronologia das fontes disponíveis, pois as cidades evoluíram em circunstâncias que por vezes nos escapam, acontecendo que a época de apogeu não seja idêntica para todas. Finalmente, o cálculo de habitantes por hectare sofre de grande imprecisão, dependendo do tipo de cenário urbano e das funções desempenhadas pelas cidades, mais populosas se favorecidas por actividades económicas relevantes, menos se apenas destinadas a exercer funções administrativas e de representação. Por isso, muitas das cidades estabelecidas pelo poder romano como capitais regionais estiolaram quando este se eclipsou, acabando mesmo por desaparecer como centros urbanos, ruralizando-se as suas populações, como sucedeu em Ammaia (Oliveira / Pereira 2011: 171-186). Quanto à mobilidade entre cidades e outras regiões, a fonte documental mais importante encontra-se na epigrafia, mesmo quando esta fornece dados lacónicos (Encarnação 1984: 772-777; Haley 1991). As inscrições registadas fora do território português contribuem significativamente para o esclarecimento de relações com o centro do Império e com diferentes províncias romanas (Mantas 2007: 183-208), referindo indivíduos pertencentes a diversos estratos sociais, que vão desde um magistrado de Conimbriga a um escravo de Collipo, referidos em inscrições de Roma, sem que na maior parte dos casos se possam explicar as razões da viagem, contrariamente, por exemplo, ao olisiponense M. Cassius Sempronianus identificado em Tocina, na Andaluzia, que sabemos ser umdiffusor olearius ocupado na exportação de azeite para Roma. Como já tratámos desta problemática noutro local vamos centrar a nossa atenção apenas nas cidades romanas do território português. Não deixa de ser interessante verificar que a proeminência de determinadas cidades, cultural e económica, se reflecte indiscutivelmente quando alguns dos seus naturais se deslocam para outras regiões, como se verifica exemplarmente em Coria, na Lusitânia interior, onde a única inscrição em mármore, uma excelente placa do melhor recorte clássico, pertence a uma família de Olisipo (Albalá / Nevado 1998: 57). Essa mesma importância pode deduzir- se da presença de numerosos antropónimos gregos, frequentemente identificando libertos ou seus descendentes (Encarnação 1984: 766-769; 2011a: 301-312), como acontece, por exemplo, em Olisipo, Pax Iulia ou Ossonoba. Nalguns casos, a ascendência helénica, por vezes questionada, não permite dúvidas, como em Balsa (Luz de Tavira), onde se conhecem epígrafes redigidas em grego, a língua franca do Mediterrâneo oriental. A antroponímia grega pode, igualmente, camuflar a origem judaica de alguns dos seus portadores, como terá acontecido em Tróia. Com a questão da antroponímia grega podemos relacionar os cognomina dos magistrados, que em Olisipo reflectem o predomínio absoluto de elementos itálicos ou indígenas romanizados, sem antroponímia grega, ao passo que em Salacia o poder local coube a uma minoria de descendentes de libertos ou de emigrantes não italianos, como os Bocchi (Almagro Gorbea 2011: 287-332), que consideramos oriundos

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do norte de África. Recordamos que nesta importante cidade marítima uma emeritense, Flavia Rufina, foi flamínia provincial e do município IRCP( 183).

Figura 7. Inscrição rupestre de G. Sevius Lupus, junto ao farol romano da Corunha

Ao contrário das cidades portuárias do litoral, onde devemos incluir Myrtilis (Mértola) e Aeminium, de onde era natural G. Sevius Lupus (Fig. 7), construtor do conhecido farol da Corunha (CIL II 2559), na maioria das cidades do interior o grupo cimeiro da pirâmide social era constituído por famílias de indígenas romanizados, muitas desde longa data, outras mais recentemente, o que não significa que não existissem elementos oriundos da colonização romana, entendida aqui de forma muito lata. Referimos já os negociantes romanos estabelecidos em Braga, na época de Cláudio, cidade de população maioritariamente indígena e que parece ter desenvolvido, apesar da sua importância regional, uma mobilidade reduzida, destacando-se uma população constituída sobretudo, de acordo com a epigrafia, por peregrinos, libertos e escravos (Tranoy / Le Roux 1989- -1990: 183-226; Martins 2004: 151-153). Não podemos esquecer, porém, o sodalicium Bracarorum registado em Pax Iulia (IRCP 339), sugerindo um grupo profissional de razoável dimensão estabelecido nesta colónia. Mas atenção, que a falta de poucos testemunhos de mobilidade obriga a recordar um dos grandes problemas resultantes

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da utilização das fontes epigráficas, que é o dos limites temporais da maior parte dos documentos disponíveis, quase inexistentes para o século IV, deixando na sombra o que se passou durante o apogeu de Bracara Augusta. Curiosamente, Olisipo, como porto importante, não conta na sua epigrafia com um número elevado de indivíduos claramente oriundos de outras regiões, em parte, talvez, por se encontrarem já plenamente integrados na população urbana. Mas não podemos deixar de recordar um duúnviro de Óstia, L. Cassius Reburrus (CIL XIV 413), com toda a probabilidade de origem olisiponense, tal como o armador C. Iulius Firmus, identificado no Testaccio (CIL II 5019; CIL XV 3893, 3894, 3895, 3896). Um C. Caecilius Gaetulicus, de uma epígrafe da Quinta de S. Gião (CIL II 280), em Torres Vedras, sugere, e não é a única na zona, contactos com o Norte de África. Relações com a zona de Norba Caesarina (Cáceres) reflectem-se na inscrição em que se nomeia uma dama de estatuto senatorial, Iulia Cassiana (CIL II 4994), cujo cognome lembra uma das mais importantes famílias olisiponenses (Loyzance 1986: 273-285). Para além de outros contactos na Lusitânia, como em Scallabis e Conimbriga, as relações entre Olisipo e a Bética, de que já demos um exemplo, foram muito intensas, sublinhando o longo predomínio desta província no comércio marítimo hispânico e na economia da antiga Hispania Ulterior (CIL II 190). Cidades bem situados na rede viária não deixaram de utilizar essa mais valia, como sucedeu com o município de Seilium (Tomar), de que se conhecem representantes no Lorvão, perto de Coimbra, e em Quiruga, perto da Corunha. Em Collipo, que possui um rico corpo epigráfico, está representada uma emeritense, o mesmo se verificando emEbora , a única cidade onde se identificaram famílias senatoriais (Étienne 1982-1984: 521-529; Encarnação 1984: 762-763). Como é natural, a capital da Lusitânia conta na sua epigrafia com referências a numerosas cidades situadas em território português: Aeminium, Ammaia, Civitas Aravorum, Conimbriga, Ebora, Interamnium, Lancia Oppidana, Lancia Transcudana, Pax Iulia e Salacia, bem como representantes dos Tapori e dos Turduli (Forni 1982: 74-75; Ramírez Sádaba 1990: 293-312 ). A cidade de Mérida, para além de uma excelente rede viária, contava ainda com o Guadiana, rio que, sem permitir o contacto directo com o mar, era navegável por largos troços.

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Figura 8. Inscrições de templos de Bobadela e de Idanha-a-Velha nomeando como seu construtor o evergeta C. Cantius Modestinus

Mas não eram apenas grandes centros urbanos aqueles em que a mobilidade característica da civilização romana garantiu relações regulares e diversificadas, bem estudadas para o convento escalabitano (Martineau / Tranoy 2000: 229-240)5. É o que a epigrafia da capital dos Igaeditani demonstra de forma eloquente, pois à corrente regional se junta outra constituída por elementos oriundos de cidades afastadas, seguramente atraídos pelo valor económico da região: Conimbriga, Clunia, Emerita, Italica, Lancia, Lancia Oppidana, Libia (Leyva), Norba, Salmantica, assim como gente oriunda dos Interanienses, Paesuri e Tapori. A estas relações devemos juntar ainda os contactos certamente importantes entre Idanha-a-Velha e Bobadela, protagonizados por C. Cantius Modestinus (Fig. 8), construtor de templos nas duas cidades e também presente em duas aras na zona mineira de Almaden (Sisapo), nos confins entre a Lusitânia e a Bética (Mantas 2002: 231-234). Este exemplo de influência à escala regional e interprovincial ajuda a compreender a rede de ligações entre notáveis, sobre as quais se fundou largamente o êxito da romanização e que em ambas as cidades estão representadas quer pelo Cantii quer pelos Iulii, família a que pertencia a flaminia Iulia Modesta, renovadora do forum de Bobadela (Amaral 1982: 104-126). Os interesses mineiros estão na origem de muitas fortunas e também de muitas viagens, nem sempre felizes, como a do conimbricense Vegetus Aviti f (ILER 6342), falecido jovem no distrito mineiro bético de Mons Marianus, na Serra Morena, interesses talvez reflectidos também na ida do conimbrigense M. Allacarius Celer Paulianus para Idanha-a-Velha (ILER 5304).

5 Cremos que a fronteira conventual considerada para delimitar a área do estudo de Martineau e Tranoy avança demais para Ocidente. Também não aceitamos que os talabrigenses referidos pelos autores sejam oriundos da Talabriga lusitana, pertencendo seguramente aos Límicos.

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Figura 9. Inscrição funerária de Ammaia referindo um cluniense (Museu da Ammaia)

Figura 10. Inscrição de Baleizão referindo a transferência de tribo de G. Blossius Saturninus (CIL II 105)

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O desenvolvimento da cidade de Ammaia ficou a dever-se também, pelo menos em parte, à exploração de recursos mineiros. Os seus contactos com outras regiões confirmam a existência de uma sociedade dinâmica, ainda que na maior parte dos casos a epigrafia se limite sugeri-los pela antroponímia (Mantas 2000: 399-405). Os contactos com Mérida (CIL II 501; EE IX 50) e com a região de Cáceres (EE IX 129) estão, pelo contrário, bem identificados. A presença de clunienses é notável naAmmaia (IRCP 619, 620, 629), levantando novamente o problema da razão da ubiquidade destas gentes: mineração, transumância ou clientelismo? A sua presença na Ammaia é especialmente significativa, pois não ocorrem em nenhum outro local português a sul do Tejo (Fig. 9). Recordamos também as duas pedras de anel ali achadas, uma com a Menorah e outros símbolos religiosos e outra com a harpa de David (Cravinho 2004: 233-242), que não podemos deixar de atribuir a elementos judaicos, que também deixaram testemunhos de presença em Tróia (Mantas 2010: 219-220). Muitas das deslocações, como é natural, ficaram a dever-se a movimentos sazonais, como as dos mercenarii referidos em Vipasca (IRCP 142) ou a dos artesãos de uma oficina de Mérida que executaram os mosaicos da villa de Santa Vitória do Ameixial, nos arredores de Estremoz (Lancha 1997: 255). Aliás, esta presença de gente urbana nos campos é, a vários níveis, uma constante da sociedade romana, alguma vinda de bem longe, como G. Blossius Saturninus, natural da Neapolis africana (Nabeul), domiciliado em Balsa e inscrito na tribo Galeria (Fig. 10), por residir no território de Pax Iulia (IRCP 294), cidade de cuja tribo foi transferida para a de Emerita Augusta, a Papiria, também por mudança de residência, Cretonia Maxima, uma cidadã local (Forni 1976: 34). Estes contactos com a África Proconsular foram intensos, como se deduz da presença de um cidadão de Utica em Mértola, L. Firmidius Peregrinus (IRCP 99), e das estelas funerárias produzidas na região de Cartago e achadas no Algarve, na Quinta de Marim, perto de Olhão. Sem mistério de maior são as movimentações motivadas por motivos religiosos, como aquela referida na célebre inscrição do médico pacense Attius Ianuarius (Fig. 11), achada em Santiago do Cacém e referindo um festival em honra de Esculápio (IRCP 144), realizado em Mirobriga, o que talvez explique a pouco habitual presença de um circo nesta pequena cidade, não muito longe do porto de Sines, recordemos. Em muitos locais onde as inscrições votivas são numerosas, como em S. Miguel da Mota, onde existiu o santuário de Endovélico, encontram-se também alguns indícios, não muito explícitos, é certo, da origem dos devotos, pois nas várias dezenas de textos conservados apenas ocorre um contendo a indicação da tribo do ofertante, Q. Sevius Firmanus, da Papiria, o que permite considerá-lo emeritense (IRCP 526). Mais interessante, no conjunto epigráfico referido, talvez seja a mescla nele presente, que contempla desde escravos a figuras de relevo económico e social

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(Encarnação 1984: 561-624; 2011b: 468), sugerindo que a democracia só se encontra na religião.

Figura 11. Epígrafe de Mirobriga alusiva ao festival subsidiado por Attius Ianuarius(Museu de Santiago do Cacém)

De tudo o que dissemos ressaltam as dificuldades que o estudo da população das cidades romana do território português, quando ultrapassa aspectos estritamente étnicos ou culturais, oferece, exigindo quer disciplina, quer flexibilidade ao investigador. Na verdade, o nosso conhecimento das cidades é ainda, em quase todos os casos, insuficiente para propor hipóteses solidamente estabelecidas. Parece correcto considerar que algumas cidades do litoral desenvolveram dinâmicas específicas que as valorizaram, mas encontramos no interior outras, comoEbora ou Aquae Flaviae cujo dinamismo não foi menor, ao que não será estranho o seu estatuto (Alarcão 1989: 66-67, 75; Colmenero 1997)6. Pelo contrário, uma colónia como Scallabis, apesar de bem situada numa rica região, não forneceu até agora provas de ter constituído um êxito (Guerra 2002: 179-184). Não podemos esquecer que durante os séculos do domínio romano houve evolução económica e não apenas cultural e política, propícia a alterações que a arqueologia sugere mais do que comprova.

6 Ambos os municípios desempenharam importante acção como centros urbanos privilegiados, Liberalitas Iulia Ebora logo no início do Império, Aquae Flaviae no momento em que se intensifica, com os Flávios, o processo de romanização a norte do Douro.

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Mesmo quando temos larga informação, como no caso de Pax Iulia (Lopes 2003 1: 105-203), que poderia ter uma população residente de umas 12500 almas, não faltam interrogações. Cremos que a cidade reunia dois grupos populacionais, constituídos por indígenas e elementos itálicos, cada um com o seu estatuto próprio (CIL II 52 = IRCP 233). Sem discutirmos de novo o problema da fundação, anterior a 27 a.C., por iniciativa de Octaviano, levanta-se a dúvida sobre a origem dos primitivos colonos itálicos, dado que não se conhece nenhuma referência explícita a veteranos na epigrafia da região (Encarnação 1984: 772-775). Não nos parece, pois, impossível que na cidade da paz se tivessem estabelecido veteranos das legiões dissolvidas do vencido exército de Marco António, daí a não indicação dessa pertença. Não faltam, como se vê, problemas a estimular a pesquisa e a imaginação, sem a qual não é possível quebrar o círculo vicioso das velhas teses. Outra questão a ter em conta é a das evidentes diferenças entre o território meridional e setentrional, que não podem deixar de se ter feito sentir na urbanização romana e no quotidiano das relações. Se o sul teve cidades desde muito cedo romanizadas, o norte tinha uma população muito grande e as cidades criadas ou renovadas acima da linha do Tejo podem, em certos casos, reflectir essa pujança populacional, que se pode deduzir através da epigrafia e da área habitada, com a ressalva de que é necessário conhecer o tipo das habitações, que em Bracara e em Conimbriga, por exemplo, não parece ter ultrapassado um andar (Martins 2004: 164-168; Alarcão / Étienne 1977: 135-140; Alarcão 2010). Se admitirmos para o Portugal romano uma população de cerca de um milhão de habitantes, que parcela deste total podemos considerar urbana, tendo em conta que a maioria da população residia em ambientes rurais, nalguns casos marcadamente arcaicos? O recenseamento português de 1864 fornece algumas pistas, sublinhando já que se trata de simples comparações, tanto mais que o referido recenseamento apenas confere o estatuto urbano às cidades principais. Ora verificamos que apenas 11,43% dos pouco menos de 4.000.000 de habitantes do continente são considerados urbanos, percentagem que cai radicalmente se excluirmos Lisboa e Porto, que contam em conjunto 237.088 almas (Estatística 1868: II). Mantendo uma percentagem semelhante verificamos que os 100.000 habitantes urbanos disponíveis para a época romana serão rapidamente absorvidos por um pequeno grupo de cidades mais importantes, determinando que a maioria das restantes tivessem efectivos populacionais bastante reduzidos. Podemos deduzir esta situação, por exemplo, considerando a população de distrito de Beja em 1864, que era de 6874 habitantes urbanos para um total de 128.634 rurais, incluindo pequenas vilas, aldeias e montes. Não cremos que a situação na época romana, nomeadamente no interior do território e a norte do Douro fosse significativamente diferente. Num momento em que se torna tão difícil entender o presente, não é possível exigir rigor extremo à investigação

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da população urbana do período romano, acerca da qual aqui deixamos algumas reflexões, alargadas à mobilidade que a pax romana possibilitou e estimulou7.

7 Agradecemos cordialmente ao Dr. Luís Madeira o desenho dos mapas desta comunicação.

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