O início da radiografia de obras de arte em Portugal e a relação entre a radiografia, a conservação e a política The first radiographs of works of art in Portugal and the relationship between radiography, conservation and politics António João Cruz Departamento de Arte, Conservação e Restauro, Escola Superior de Tecnologia de Tomar, Estrada da Serra, 2300-313 Tomar; Centro de Investigação em Ciências e Tecnologias das Artes (CITAR), R. Diogo Botelho, 1327, 4169-005 Porto;
[email protected] Resumo A primeira radiografia de pinturas em Portugal foi efectuada em 1923, por solicitação de Carlos Bonvalot, numa ocasião em que iniciativas semelhantes ocorriam noutros países. Tratou-se de um caso isolado que só teve continuidade em 1928 quando Roberto de Carvalho e Pedro Vitorino, também às próprias custas, iniciaram um projecto sistemático que deu origem a um número muito significativo de radiografias. De acordo com as interpretações feitas pelos seus autores e por Luís Reis Santos, algumas das radiografias punham em evidência significati - vos problemas de restauro e de autenticidade das obras. Entre 1934 e inícios de 1936, Carvalho e Vitorino foram proibidos de radiografar obras de museus do Estado, aparentemente a pretexto de os raios X poderem danificar as pinturas, mas mais ou menos na mesma ocasião foi adquirido equipamento de radiografia para o Museu Nacional de Arte Antiga, num processo, também pioneiro, em que esteve envolvido o conservador João Couto e o físico Manuel Valadares. Considerando a coincidência cronológica das duas iniciativas e o ambiente sócio-cul - tural da ditadura do Estado Novo que então vigorava em Portugal, a situação aparentemente contraditória é interpretada como uma forma de evitar a situação incómoda gerada pelas fortes críticas resultantes da interpretação das radiografias e controlar o surgimento de novos problemas a esse respeito.