DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 1 de 23

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Iris Helena

SUMÁRIO

TRANSPARÊNCIA E PARTICIPAÇÃO – O Popular ‘AGROCONFIANÇA’ EM ALTA – O Popular ASSEMBLEIA APROVA CONGELAMENTO DE PROGRESSÕES DE SERVIDORES PÚBLICOS EM 1ª VOTAÇÃO – O Popular KASSIO NA BERLINDA – Folha de São Paulo DIVERSIDADE NOS MOVIMENTOS NEGROS – Folha de São Paulo PEDIDO DO STF PARA RESERVAR VACINAS PROVA QUE ALGUNS VÍCIOS SÃO INCORRIGÍVEIS – Folha de São Paulo PARA ALÉM DA EMERGÊNCIA POLÍTICAS DE RENDA BÁSICA SERÃO NECESSÁRIAS – Folha de São Paulo PRECISAMOS DE UM CAMINHO SUSTENTÁVEL – Folha de São Paulo A FALSA ESCOLHA DE SOFIA – Folha de São Paulo FUX DIZ QUE PRESIDENTE DO STF 'NÃO PODE TUDO' E QUE NÃO DEVE REVOGAR DECISÃO DE KASSIO SOBRE FICHA LIMPA – Folha de São Paulo ENTENDA A LEI DA FICHA LIMPA, A DECISÃO DE KASSIO NO STF E OS QUESTIONAMENTOS DE GRUPOS ANTICORRUPÇÃO – Folha de São Paulo PODER INDEPENDENTE – Correio Braziliense EM CASA, MAS SEM TELEFONE – Correio Braziliense ALÍVIO NA CONTA DE LUZ EM 2021 – Correio Braziliense A RECUPERAÇÃO DO EMPREGO FORMAL – Correio Braziliense DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 2 de 23

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Iris Helena

JORNAL – O POPULAR – 24.12.2020 – PÁG.3

Transparência e participação

(Foto: Hegon Guimaraes)

Pesquisa da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) aponta que 84% da população brasileira considera o país burocrático, em especial no que diz respeito à capacidade de prover acesso aos serviços públicos básicos e à solução de problemas cotidianos.

Realmente, o excesso de exigências e normas e as constantes mudanças nas regras causam transtornos. São comuns as dificuldades de emissão de documentos; de abertura ou encerramento de empresas; de acesso à justiça, à defesa do consumidor, a benefícios sociais ou a serviços essenciais como água, luz, internet e telefone.

Em Goiás, não é diferente. O cenário encontrado no início do governo Ronaldo Caiado revela excesso de normas sobre temas recorrentes, um emaranhado que resulta em insegurança jurídica e contribui sobremaneira para o acúmulo de demandas nos tribunais.

Por todo o exposto, surge a Política Estadual de Atendimento ao Cidadão e o Programa Simplifica Goiás, para estabelecer e atender um pedido do governador de um novo modelo de prestação de serviços públicos, mais ágil, simples, acessível e que leva em conta as expectativas dos cidadãos. É um novo marco, que contempla a participação dos usuários dos serviços públicos, amplia os canais de atendimento ao cidadão e prioriza a migração dos serviços para o digital, numa parceria da Secretaria da Casa Civil com a Secretaria de Estado da Administração e a Secretaria de Desenvolvimento e Inovação.

O cidadão tem acesso, sem sair de casa, a novas funcionalidades do serviço público, via login e senha individualizados. Nasce, por exemplo, o Programa Revisa Goiás, com foco em oferecer simplicidade, acolhimento e transparência, inspirar confiança, conferir coerência e clareza às leis produzidas no estado. O Revisa é um portal que permite ao cidadão sugerir revisões nas normas vigentes - qualquer pessoa poderá enviar comentários, críticas, sugestões.

Mas um passo anterior relevante foi dado em novembro de 2019: uma análise dos decretos dos anos 2000 a 2018 apontou normas que caíram em desuso, ou eram redundantes e, por vezes, mais atrapalhavam do que ajudavam. Como resultado, revogou-se 639 (seiscentos e trinta e nove) atos, dos quais 130 (cento e trinta) tratavam de funções comissionadas. Foi um esforço concentrado para organizar o acervo legislativo estadual, eliminando dispositivos conflitantes, repetitivos, extravagantes ou desatualizados. Para isso, foram analisadas aproximadamente 42.000 (quarenta e duas mil) normas legais e infra legais.

Entendemos que o aprimoramento normativo deve corresponder à realidade social, que exige da administração pública posição coesa e a prestação de serviços e políticas públicas relevantes, voltados para a diminuição de desigualdades sociais e a geração de emprego e renda. DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 3 de 23

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Iris Helena

Goiás dá os primeiros passos para a adequação à lei federal que instituiu a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica e coloca um holofote sobre a reflexão da real necessidade de cada propositura normativa. Isso é responsabilidade e transparência no agir, para a criação de um ambiente participativo, que propicia o desenvolvimento e o crescimento econômico do Estado.

‘Agroconfiança’ em alta

José Mário Schreiner

A cada trimestre a Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), por meio do Departamento do Agronegócio (Deagro) apura o Índice de Confiança do Agronegócio, IC Agro, que mede as expectativas dos agentes do setor produtivo rural em relação ao seu negócio e ao ambiente econômico.

Para o 3º trimestre de 2020, o IC Agro registrou 127 pontos, 15,3 pontos acima do levantamento passado. Este valor é o melhor resultado desde o início da série histórica.

Toda esta confiança tem como alicerce os bons preços dos produtos agrícolas como soja e milho, além dos valores recebidos pelas proteínas animais que continuam a ser favoráveis, após longos anos de preços achatados.

Outro sinal que reflete bem o otimismo do agronegócio brasileiro está nos números do crédito rural. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), de julho a novembro já foram tomados pelo agronegócio mais de R$ 108 bilhões, valor 19% maior que no mesmo período do ano passado. Considerando apenas linhas de crédito para investimento, como compra de máquinas e equipamento, o resultado até aqui é 46% superior.

O Banco do Brasil confirma esta tendência. Para o principal agente financeiro do agronegócio nacional, de julho a novembro, aumentou no quase 23% a mais de crédito, em relação ao mesmo período do ano passado.

Os dados de aplicação de recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), retratam bem este cenário. No início de 2020 a previsão era de um empenho de R$ 1,75 bilhão, porém só foi aplicado R$ 1,6 bilhões. O único setor que utilizou todo recurso orçado e até mesmo recebeu redirecionamento de valor foi o agronegócio.

O setor produtivo rural foi um dos únicos setores da economia brasileira que não parou. O caráter essencial de sua atividade permitiu que, mesmo com as particularidades de 2020, produtores rurais e demais elos da cadeia produtiva do agro continuassem a produção, abastecendo os supermercados e gerando excedentes para a exportação.

Com a nova safra próxima de ser colhida, esperamos que toda esta confiança seja confirmada. Que a expectativa de mais uma safra recorde e de resultados superiores nas exportações possam contribuir de sobremaneira na recuperação econômica brasileira, propiciando maior geração de renda e novos postos de trabalho de forma direta na agropecuária de forma indireta e nos outros setores da economia. DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 4 de 23

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Iris Helena

JORNAL – O POPULAR – 24.12.2020 – PÁG.6

Assembleia aprova congelamento de progressões de servidores públicos em 1ª votação

(Foto: Carlos Costa)

A Assembleia Legislativa de Goiás aprovou em primeira votação a possibilidade de o Estado congelar as progressões de servidores públicos por seis meses. A determinação foi inserida como emenda jabuti (inclusão de tema que não está relacionado ao assunto da matéria) no texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata sobre a extinção dos fundos constitucionais do Nordeste Goiano e do Vale do São Patrício e Norte Goiano. A progressão diz respeito ao crescimento do servidor público na carreira, o que gera compensação financeira.

A votação foi apertada. O texto encaminhado pelo governo recebeu 25 votos favoráveis, o mínimo necessário para a aprovação de uma PEC. Outros 11 deputados votaram contra a proposta e discursaram contra o projeto durante a sessão. O congelamento das progressões já havia sido discutido na Casa em outras duas oportunidades, em que o governo tentou suspender o benefício por nove anos e, em seguida, por dois anos.

O dispositivo chegou a integrar os textos de duas PECs diferentes. A primeira, que tratava de autorização para estabelecimento de fundos para provimento de aposentadorias em Goiás, teve a parte que trata das progressões rejeitada no plenário. Depois, os dois anos de suspensão integrou o texto da PEC da Polícia Penal, mas o dispositivo foi retirado.

A secretária da Economia, Cristiane Schmidt, esteve na Assembleia na terça-feira (22), e participou de reunião com os deputados para esclarecer dúvidas sobre a matéria. Cristiane disse na oportunidade que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes aguarda a aprovação de leis locais como esta para conceder ou não liminar para que estados ingressem, em até seis meses, no Regime de Recuperação Fiscal (RRF).

A possibilidade de a entrada de Goiás no RRF impedir o pagamento de emendas impositivas voltou a ser discutida na sessão de ontem durante a reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ). O presidente da Casa, Lissauer Vieira (PSB), usou a tribuna para informar que, diante do debate, seria incluído na PEC um dispositivo que garanta o pagamento das emendas mesmo que o Estado entre em qualquer programa de recuperação fiscal. As emendas são instrumentos usados pelos deputados para contemplar suas bases com políticas públicas.

Citando parecer do STF, o deputado Antônio Gomide (PT) afirmou que o parlamento não poderia aprovar uma PEC que trata sobre exclusão de artigo da Constituição Estadual, mas que tem como objetivo final o DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 5 de 23

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Iris Helena congelamento das progressões. Lissauer e o líder do governo, Bruno Peixoto (MDB), destacaram a importância da aprovação para a adesão do Estado ao RRF.

Votações

Com 21 votos a favor e 12 contrários, também foi aprovada ontem a reestruturação do Sistema de Proteção Social dos Militares do Estado de Goiás (SPSM-GO). A criação do “policial militar temporário”, que consta do texto, voltou a ser lembrada pela oposição, apesar de o líder do governo ter afirmado em outra oportunidade que a matéria é cópia do projeto da Previdência das Forças Armadas, mas não dá ao Estado permissão para contratar policiais temporários. O projeto que trata de regime jurídico único para servidores dos poderes e órgãos autônomos também recebeu aval dos deputados em primeira votação, assim como a PEC que cria Polícia Penal.

Os deputados aprovaram em segunda votação o projeto de lei que cria taxa para atividade de mineração e um cadastro para fiscalização do setor. Os parlamentares também aprovaram em segunda votação o projeto que cria Fundo de Equalização para o Empreendedor (Fundeq).

A Assembleia terá mais uma sessão extraordinária na próxima segunda-feira (28), às 10h.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 24.12.2020 – PÁG. A2

Kassio na berlinda

Espera-se que ministro perceba que não precisa mostrar gratidão a Bolsonaro

O ministro Kassio Nunes Marques, no dia da posse no STF - Nélson Jr. - 5.nov.20/STF

Há menos de dois meses no Supremo Tribunal Federal, o ministro Kassio Nunes Marques já incorporou o que talvez seja o pior vício da corte: atuar como ilha, sem a devida atenção à colegialidade ou às decisões precedentes.

Em favor do novo magistrado do STF, pode-se afirmar que não tentou enganar ninguém. Afirmou desde o início seu perfil garantista e declarou-se um conservador nos costumes —e assim tem votado.

A mais controversa de suas decisões até aqui foi a liminar monocrática, expedida à véspera do recesso judicial, em que anulou trecho da Lei da Ficha Limpa, com o que reduziu o prazo de inelegibilidade imposto a políticos condenados.

A tese jurídica defendida por Kassio não é absurda, mas o ministro cometeu dois erros graves, um de método e outro de soberba. DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 6 de 23

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Iris Helena

Se há algo que todos os ministros deveriam abster-se de fazer é conceder liminares polêmicas a poucas horas do recesso. A experiência ensina que a tese controversa raramente vence e com frequência causa desgaste ao Supremo.

O segundo erro de Kassio foi pronunciar-se sobre matéria já pacificada. O STF discutiu detalhadamente os mais variados aspectos da Ficha Limpa, incluindo aquele sobre o qual o novo ministro decidiu, e a considerou constitucional. A corte não pode rever todos os seus precedentes sempre que um novo membro passa a integrá-la.

Em outra decisão que chamou a atenção, Kassio manifestou-se favoravelmente à reeleição de David Alcolumbre (DEM-AP) para a presidência do Senado, mas não à de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a da Câmara. Foi o único dos 11 ministros a votar dessa maneira, que coincidia com os interesses políticos do presidente .

Também optou por posição singularíssima quando votou a favor de que a vacinação seja obrigatória, mas apenas sob o comando da União e não de estados e municípios.

Aqui, curiosamente, foi bolsonarista, mas criou um problema para o Planalto —dado que a base de apoio mais inflamada do presidente é radicalmente contrária à ideia de vacinação compulsória.

O ministro ajudou a compor a maioria que rejeitou o reconhecimento de duas uniões estáveis simultâneas; tentou, sem sucesso, preservar um decreto presidencial sobre escolas especiais para crianças portadoras de deficiências.

Não há elementos para afirmar que as decisões de Kassio sejam motivadas por gratidão a quem o indicou para o posto, mas por ora é difícil afastar a desconfiança.

De toda maneira, ministros não costumam demorar a perceber que a vitaliciedade os desobriga de bater continência a seus patronos. Espera-se que o novo membro da corte não seja uma exceção.

Diversidade nos movimentos negros

Ações ligadas à morte João Alberto inovam por buscar justiça no âmbito criminal, reparação civil e reformulação social

Irapuã Santana

Doutor em direito pela UERJ e procurador do município de Mauá (SP)

2020 tem sido um ano diferente para a população negra. O combate à discriminação racial ganhou novos contornos, desde a chegada do coronavírus, passando pelo assassinato de George Floyd nos EUA, bem como pela disputa eleitoral no avanço de candidaturas DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 7 de 23

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Iris Helena antirracistas e, por fim, chegando à morte de João Alberto.

Todos esses eventos fizeram fervilhar na sociedade brasileira a busca pelos motivos de origem e das possíveis soluções. O racismo é uma doença e precisa ser extirpada de nossas entranhas —nisso (quase) todo mundo concorda—, mas a comunidade negra estuda as melhores formas de entender e (re)agir. Há divergências quanto à sua raiz, bem como quanto ao seu enfrentamento. E isso deve ser visto como positivo: quanto mais pessoas se interessarem e se debruçarem sobre o tema, maior será a chance de as múltiplas

Um problema complexo e multifacetado precisa de vários contra-ataques simultâneos. O assassinato de João Alberto é uma prova do que estamos analisando no momento. Afinal, existe um dano individual da família e há o dano social, em que toda comunidade negra foi atingida com o lamentável episódio. E, desse modo, emerge o papel fundamental dos movimentos negros do Brasil, que protestaram para buscar justiça no âmbito criminal, reparação civil e reformulação social.

Sim, movimentos negros, no plural.

A comunidade negra é diversa, tem independência de reflexões e isso é extremamente positivo e salutar para resolver o problema do racismo. É por esse motivo que precisamos não só protestar mas também utilizar essa energia para que ocorra uma transformação da nossa realidade. Logo, antever obstáculos, exigir ser ouvido e se sentar à mesa para dialogar são etapas importantes e complementares do combate antirracista.

Portanto não devemos nos ater às diferenças de perspectiva, mas sim nos esforçarmos para enxergar o que nos une nessa difícil batalha. Somente assim venceremos.

Pedido do STF para reservar vacinas prova que alguns vícios são incorrigíveis

Bruno Boghossian

Fux tentou corrigir lambança, mas é difícil não enxergar a velha marca da busca por privilégios

Luiz Fux quis corrigir a lambança que foi feita quando o STF pediu a reserva da vacina contra o coronavírus para 7.000 integrantes do tribunal. A ideia era reduzir o desgaste provocado pelo episódio, mas a explicação só mostrou que alguns vícios são mesmo incorrigíveis.

O presidente do Supremo afirmou nesta quarta-feira (23) que a solicitação da vacina era parte de um esforço "para não pararmos as instituições fundamentais do Estado". Numa entrevista à TV Justiça, ele disse ter "preocupação com a saúde dos servidores". "Tanto que o ambiente está vazio", completou.

Fux inaugurou sua gestão em setembro, quando a marca de 100 mil mortos já havia sido ultrapassada. Os julgamentos aconteciam de forma remota, mas o galope da doença não o impediu de organizar uma cerimônia presencial para sua posse no comando da corte. DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 8 de 23

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Iris Helena

Cerimônia de posse de Luiz Fux na presidência do Supremo Tribunal Federal, em setembro - Pedro Ladeira/Folhapress

A contradição não significa que o chefe do Judiciário seja indiferente à saúde dos funcionários do tribunal, mas prova que alguns argumentos podem ser facilmente manipulados de acordo com o momento. Nesse episódio, é difícil não enxergar a busca por privilégios que se tornou a marca de certas instituições.

Para defender a vacinação, Fux disse que a medida era importante para que o tribunal pudesse "trabalhar em prol das pessoas que sofrem" com a pandemia. O discurso pode parecer bonito, mas esconde o fato de que julgamentos e outras atividades do tribunal vêm sendo feitas a distância. Grande parte da população não tem essa vantagem e, sem a vacina, corre riscos para trabalhar.

A Fundação Oswaldo Cruz negou a solicitação e afirmou que não caberia ao órgão "atender a qualquer demanda específica por vacinas".

Sob críticas, Fux tentou esclarecer o pedido. Ele disse que ninguém furaria a fila da vacinação e que o objetivo era garantir as doses depois que os grupos prioritários fossem imunizados. "O importante é que o Supremo Tribunal Federal teve essa preocupação ética", acrescentou, exaltando a própria bondade.

Para além da emergência políticas de renda básica serão necessárias

Maria Hermínia Tavares

Tendo perdido a hora de ficar mais justa, a nação deverá se preparar para conviver com a pobreza por muito tempo

O fim do ano chegou sem que o governo fosse capaz de propor qualquer coisa que se parecesse com uma política para enfrentar o rebote da epidemia —em boa parte resultante, por sinal, da sua negação da gravidade da doença. O Planalto tampouco apresentou um plano claro de vacinação: só chutes a esmo sobre as vacinas que ainda não temos, nem as datas, a todo momento alteradas, do início da imunização.

Decerto esgotado pela enormidade que deixou de fazer, o ministro da Fazenda tirou férias (logo canceladas pelo presidente) sem resolver a situação da massa de brasileiros que sobreviveram até aqui graças às transferências que terminam no fim do mês. O número dos que ficarão a descoberto é impressionante. Por trás dele há pessoas de carne e osso vivendo em total insegurança, sem saber como pagarão as contas a partir de janeiro.

A pandemia colocou o Brasil face a face com a precariedade na qual estão imersos dezenas de milhões de habitantes que, vivendo sempre à beira da linha de pobreza, podem cruzá-la ao primeiro soluço da atividade econômica. A chegada da Covid-19 agravou uma situação preexistente, que os governos comprometidos com a redução da iniquidade não foram capazes de alterar estruturalmente, ainda quando proporcionaram alguma mobilidade social. DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 9 de 23

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Iris Helena

Da mesma forma, os abissais desníveis de renda provavelmente persistirão até bem depois da volta à normalidade. Tendo perdido a hora de ficar mais justa, lá pelos anos 1950 ou 60, a nação deverá se preparar para conviver por muito tempo —mais do que a vista alcança— com um imenso contingente de pessoas vivendo da mão à boca. Tem mais: caso a revolução tecnológica trazida pela internet das coisas, inteligência artificial, robótica e 5G produza apenas uma parte dos impactos sobre o emprego já previstos por especialistas, incontáveis brasileiros pobres, de baixa escolaridade e vivendo em precária pobreza se tornarão supérfluos.

Assim, qualquer sistema de proteção social que possa surgir deste que temos hoje —quando dispusermos de governos que voltem a pensar no país— não poderá dispensar o alicerce de um programa de renda básica robusto e permanente. Nesse sentido, o projeto de Lei de Responsabilidade Social apresentado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), embora modesto nos valores que propõe, é promissor. Inova na concepção — combinando garantia de renda e seguro— e permite pensar para além da pandemia. Desde que seja entendido como firme e necessária fundação de um conjunto mais amplo de políticas sociais, focalizadas em saúde, educação e previdência.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 24.12.2020 – PÁG. A3

Precisamos de um caminho sustentável

Em 2021, é hora de assumirmos as responsabilidades; todos as temos

Isaac Sidney

Presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos)

O ano de 2020 ficará como daqueles raros anos cujo legado e sofrimento irão se perpetuar para além do calendário. Em meio à grande apreensão que se abateu sobre o mundo, descobrimo-nos capazes de inéditas manifestações de solidariedade e resiliência enquanto choramos a perda de amigos e familiares.

A despeito do cenário adverso e doloroso, atravessamos 2020 em condições melhores do que as previstas, mas ainda estamos distantes de recuperar as perdas impostas pela pandemia de Covid-19. Serão necessárias toda a determinação que possamos mobilizar, todas as ações concretas que devamos empreender, toda restrição possível da retórica que nos separa e todo esforço capaz de promover a convergência das ideias.

O presidente da Febraban, Isaac Sidney - Alan Marques - 5.jul.16/Folhapress

O balanço deste ano é rico em aprendizados. A humanidade acordou para sua vulnerabilidade, e as pessoas reaprenderam a olhar o próximo. A solidariedade reuniu indivíduos, empresas e o setor público com rapidez e criatividade, que geraram DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 10 de 23

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Iris Helena estratégias sanitárias e econômicas.

No Brasil, vimos um trabalho conjunto dos setores público e privado, de governos e sociedade civil, de trabalhadores e empresários de todos os setores da economia. Um exemplo: os programas de auxílio emergencial tiveram impacto social, mas também na sustentação do consumo, da demanda agregada e da atividade econômica.

Foram igualmente importantes a atuação eficiente do Banco Central e a robusta concessão de R$ 3 trilhões em crédito pelo setor bancário, essencial para preservar vidas e empregos. A carteira de crédito das empresas cresceu 21% em outubro ante 2019, maior taxa em dez anos. O estoque de crédito das famílias e empresas deve se ampliar em 14% neste ano —desempenho extraordinário, pois a economia vai encolher fortemente.

Se 2020 não está sendo tão ruim quanto temíamos, isso deveu-se a muito trabalho. No início, as previsões eram de que a economia brasileira iria cair até 10%. Vamos fechar o ano com retração bem menor.

Mas todo sacrifício e conquistas acumuladas perderão o sentido se não encararmos os desafios que se impõem em 2021. É hora de assumirmos as responsabilidades. Todos as temos.

Aprendemos que, quando o interesse real da sociedade está em jogo, Executivo, Legislativo, Judiciário e o setor privado sabem e podem agir de forma coordenada e eficaz. É o que precisamos no próximo ano. Devemos aproveitar essa sinergia e trabalhar na superação das nossas vulnerabilidades fiscais e econômicas.

Para voltar a crescer, precisamos manter, com rigor, a disciplina fiscal e retomar urgentemente a agenda de reformas estruturais. Assim criaremos ambiente econômico e de negócios que permita uma retomada acelerada dos investimentos —a alavanca do crescimento e da melhoria das condições de renda da população.

Temos de preservar o teto de gastos como ponto de partida e de chegada. A disciplina fiscal não é garantia do desenvolvimento, mas a desorganização fiscal é caminho desastroso para o baixo crescimento.

Já andamos várias casas para trás e temos de acelerar o passo. O retorno à melhoria e ao aperfeiçoamento do nosso ambiente de negócios é fundamental. Precisamos investir para elevar a nossa produtividade. Fazer mais com menos.

O atual modelo tributário é vergonhoso e perverso com a produção, o consumo e os investimentos. É urgente sua reforma, não para aumentar ou reduzir a carga, mas permitir melhor funcionamento da economia. Outra prioridade é a reforma administrativa: o crescimento de longo prazo também passa por um funcionalismo mais enxuto, eficiente a alinhado com as necessidades da população.

Temos ainda de encarar o custo elevado e estrutural do crédito, para dar dinamismo à economia. Exemplos são a melhora da segurança jurídica das garantias e da recuperação do crédito; o custo da inadimplência; a cunha fiscal da intermediação financeira; e os riscos trabalhistas e legais que impactam nos custos operacionais. DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 11 de 23

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Iris Helena

Sem esquecer de todos que sofreram e da importância de ainda manter as cautelas sanitárias, ao superarmos as lições de 2020, abriremos o caminho sustentável e promissor para os próximos anos.

A falsa escolha de Sofia

Se deseja recuperar protagonismo, esquerda deveria ter candidato na Câmara

Breno Altman

Jornalista e fundador do site Opera Mundi

Algumas vozes progressistas recorrem ao clássico livro “A Escolha de Sofia”, de William Styron, para definir a disputa pela chefia da Câmara dos Deputados, prevista para fevereiro de 2021. A personagem central da obra, prisioneira em Auschwitz, viu-se diante da opção de salvar apenas um de seus dois filhos, entregando o outro aos braços da morte.

Para setores de esquerda e centro-esquerda, somente seriam possíveis dois caminhos na eleição para o comando da principal Casa parlamentar: apoiar o candidato preferido de Jair Bolsonaro, (PP-AL), ou Baleia Rossi (MDB-SP), escolhido pela oposição de direita.

A maioria das lideranças propõe sufragar o postulante indicado por Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, para derrotar o Planalto e supostamente garantir um Parlamento menos servil. Essa foi a principal razão aludida por PT, PC do B, PSB e PDT ao decidirem se integrar ao bloco articulado pelo atual comandante da Casa.

Ao contrário de Sofia, enclausurada pelo aparato nazista, aprisionam-se a si próprios os partidos que se conformam com essa dualidade conservadora. Jogam para dentro, não para fora, abdicando de disputar a opinião pública e fazer desse episódio um bom capítulo na acumulação de forças rumo ao que importa, a batalha pelo governo federal.

Mesmo dentro do PT, o principal partido de esquerda, com a maior bancada de deputados, é determinante o peso dos que defendem um papel circunstancialmente auxiliar à agremiação, refutando alternativa fora do pacto com a centro-direita. Insiste-se nessa tese ainda que seja em dois turnos o sistema de eleição para a presidência das Casas parlamentares. Trocando em miúdos: poderia ser apresentada, na primeira volta, uma candidatura do campo progressista, sem comprometer eventual composição, no segundo turno, que derrotasse o bolsonarismo.

O risco seria ficar, em caso de derrota, sem cargos na Mesa Diretora. A grande vantagem estaria em aproveitar as semanas de campanha para defender um programa independente, estruturado sobre três pontos fundamentais: votação da abertura do processo de impedimento contra Jair Bolsonaro, renda mínima emergencial de R$ 600 até junho de 2021 e revogação do teto de gastos, com o fortalecimento do SUS. DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 12 de 23

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Iris Helena

Se a esquerda pretende recuperar protagonismo para construir uma alternativa viável de governo que encante as classes trabalhadoras e a juventude, talvez devesse refletir sobre a prioridade de recompor sua identidade política, ideológica e cultural, enfrentando em todos os espaços a aliança estrutural entre neofascistas e neoliberais que domina a República.

Afinal, sem coerência permanente entre narrativa e prática, os discursos contra o golpismo e a crítica ao neoliberalismo, por mais aguerridos que sejam, perdem intensidade e credibilidade, dificultando a ruptura da inércia social sobre a qual viceja a extrema direita e avalizando o suposto caráter democrático da ala moderada do conservadorismo, que chefiou o enterro da Constituição em 2016.

Amarrados a uma falsa escolha, os partidos de esquerda podem deixar escapar a nobre chance de mostrar que são diferentes e capazes de animar o povo na luta por um novo rumo.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 24.12.2020 – PÁG. A6

Fux diz que presidente do STF 'não pode tudo' e que não deve revogar decisão de Kassio sobre Ficha Limpa

Ministro afirmou que recurso da PGR não foi direcionado à presidência e elogiou indicado de Bolsonaro

Matheus Teixeira

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, afirmou nesta quarta-feira (23) que “não pode tudo” e que não deve revogar a decisão do ministro Kassio Nunes Marques de restringir o alcance da Lei da Ficha Limpa. Para Fux, o colega atuou “dentro da sua independência”.

Em decisão liminar (provisória) concedida no último sábado (19), Kassio determinou que a contagem do prazo de oito anos de inelegibilidade tenha início a partir da condenação por um tribunal colegiado. Originalmente, a lei previa que o condenado só poderia concorrer a uma eleição oito anos após cumprir sua pena.

Nesta quarta, o presidente da corte fez referência ao pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) para que o despacho seja derrubado e disse que não pode tomar nenhuma decisão porque o recurso foi apresentado dentro da ação que tem Kassio como relator.

“Eu não poderia cassar a decisão dele porque o recurso que apresentaram é dirigido ao relator”, disse. Segundo o ministro, o presidente da corte “pode muito, mas não pode tudo”.

Como a PGR havia entrado com pedido de liminar, integrantes do Supremo avaliaram inicialmente em reservado que Fux poderia, sim, atuar no processo, uma vez que cabe ao presidente despachar urgências que chegam à corte durante o recesso. DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 13 de 23

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Iris Helena

Fux, porém, ressaltou que só pode tomar decisão em casos como esse quando chega ao Supremo uma suspensão de segurança, recurso que, obrigatoriamente, vai direto para a mesa do presidente do tribunal.

O partido protocolou esse recurso ao STF, mas o presidente evitou comentar a ação em entrevista concedida à TV Justiça nesta quarta. Na ocasião, ele fez um balanço de 100 dias como presidente do Supremo.

Geralmente, a Justiça considera que partidos políticos não têm legitimidade processual para apresentar esse tipo de recurso. Em 2018, porém, Fux anulou decisão que liberava o ex-presidente Lula (PT) a conceder entrevista de dentro da prisão em pedido apresentado pelo partido Novo.

A postura de Fux foi vista por colegas como uma tentativa de pacificar a corte e evitar mais desgastes internos.

“Há casos em que as pessoas têm instrumento próprio, que se chama suspensão de segurança, aí a competência é só do presidente. Quando recebo suspensão de segurança eu analiso com a minha

A coluna Painel já havia antecipado que Fux conversou com colegas de tribunal sobre o tema e que havia descartado cassar a decisão do colega. Apesar disso, ele afirmou em conversas reservadas que deve buscar formas para que a liminar de Kassio seja revista.

Na entrevista, Fux classificou Kassio, indicado à corte pelo presidente Jair Bolsonaro, como um “homem de bem e de agradabilíssimo contato”. O ministro também procurou explicar a decisão do colega.

"O novo ministro Nunes Marques, dentro da sua independência, deu uma decisão entendendo que era excessivo aquele prazo de inelegibilidade. E isso, digamos assim, é questão que a própria lei poderia resolver, a Lei da Ficha Limpa, só que a Lei da Ficha Limpa tem a virtude de ser lei de inciaitiva popular", afirmou.

No recurso apresentado ao Supremo, porém, a PGR afirmou que o ministro não poderia ter adotado a medida e disse que o STF rejeitou a tese sustentada por Kassio quando declarou, em 2012, a validade da legislação que restringe direitos políticos de condenados em segunda instância.

A Procuradoria afirmou que há “cinco relevantes obstáculos jurídicos” para aplicação da decisão de Kassio.

O recurso é assinado pelo vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques, que sustenta que a decisão do ministro resultaria na anulação da súmula do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre a contagem do prazo de inelegibilidade a partir do fim do cumprimento da pena.

Além disso, a PGR acredita que a decisão representa quebra de isonomia no mesmo processo eleitoral, uma vez que o despacho vale, segundo Kassio, apenas para “processos de registro de candidatura ainda pendentes de apreciação, inclusive no âmbito do TSE e do STF”.

Fux tornou-se alvo de críticas internas neste mês devido ao julgamento que vetou a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP) nas presidências da Câmara e do Senado, respectivamente. DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 14 de 23

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Integrantes do Supremo afirmam que Fux havia se comprometido em votar a favor da recondução de ambos, mas, no final, ele acabou se opondo à medida, o que irritou colegas que buscavam viabilizar a manutenção dos dois à frente das Casas.

Nesta quarta, porém, o presidente do STF afirmou que não gosta de briga. “Você sabe, eu sou mais da harmonia, quero todo mundo cantando no mesmo tom”, disse.

O ministro comentou o julgamento. “Recentemente, nós tivemos o caso da reeleição. Isso era para ser resolvido por uma emenda constitucional”, disse.

Segundo ele, quando isso acontece, o Supremo tem que pagar o “preço social” que o Lesgilativo não paga por se omitir. “Esse protagonismo foi muito ruim para o Poder Judiciário. Qualquer problema que surge, eles não resolvem na arena política própria.”

Fux também voltou a criticar o excesso de normas legais e disse que a “orgia legislativa deslegitima a ideia de lei”.

“A cada dia cinco leis diferentes, haja conhecimento enciclopédico. Temos mais ou menos 14 mil leis, transformando incisos, artigos, temos milhões de leis”, disse.

Ele afirmou ainda que cada Poder tem a sua competência e que problemas políticos não deveriam “desaguar” no Judiciário. “Às vezes, temas que são da competência dos demais Poderes, vêm recair no Judiciário, quando há discordância entre os players”, analisou.

Entenda a Lei da Ficha Limpa, a decisão de Kassio no STF e os questionamentos de grupos anticorrupção

Decisão de ministro indicado por Bolsonaro encurta tempo de inelegibilidade de condenados

Wálter Nunes

Na reta final de 2020, o ministro Kassio Nunes Marques, primeiro indicado pelo presidente Jair Bolsonaro ao STF (Supremo Tribunal Federal), concedeu uma decisão liminar que afrouxa a Lei da Ficha Limpa.

O trecho suspenso pela decisão —de caráter provisório— regula a contagem de tempo da inelegibilidade de pessoas condenadas em segunda instância ou por órgãos colegiados da Justiça.

Na prática, a ordem de Kassio encurta o tempo que um condenado fica inelegível.

A liminar motivou críticas de movimentos de combate à corrupção e colocou o TSE (Tribunal Superior DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 15 de 23

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Eleitoral) diante de um impasse.

Entenda a Lei da Ficha Limpa, a decisão de Kassio e os principais desdobramentos.

O que é a Lei da Ficha Limpa e desde quando está em vigor?

Aprovada em 2010, no último ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a norma estabelece que políticos condenados por órgãos colegiados (como tribunais de segunda instância) ou cujo processo transitou em julgado ficam inelegíveis desde a condenação até oito anos depois de cumprirem a pena.

A lei lista dez tipos de crimes aos quais se aplica a proibição de disputar eleições, como corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas.

Qual foi a decisão de Kassio?

O ministro Kassio Nunes Marques concedeu uma decisão liminar que muda o cálculo para a contagem da inelegibilidade imposta pela Lei da Ficha Limpa.

A redação original da norma diz que a inelegibilidade tem início na condenação e só acaba oito anos depois de o condenado ter cumprido a sua pena.

Kassio, atendendo a um pedido do PDT, suspendeu os efeitos da frase "após o cumprimento da pena", que consta em um dos dispositivos sobre as hipóteses de inelegibilidade da Lei da Ficha Limpa.

Com isso, o cálculo muda e a pessoa fica inelegível por oito anos a partir do momento em que é condenada por um tribunal colegiado. Findo o período, pode concorrer novamente.

A decisão de Kassio determina que a mudança só seja aplicada a processos relativos a candidaturas nas eleições deste ano que ainda não tiveram o julgamento concluído pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Na prática, a ordem encurta o tempo que um condenado em segundo grau ou órgão colegiado fica inelegível, já que nem sempre o cumprimento da pena tem início quando da condenação.

O ministro do STF Kassio Nunes Marques em sua posse como ministro - .Nelson Jr /STF

Quais foram os argumentos do PDT para pedir a medida?

O partido argumentou, em pedido feito no dia 15 de dezembro, que em muitos casos a demora no julgamento de recursos acarreta um tempo de inelegibilidade indeterminado, já que, salvo exceções previstas em lei, o cumprimento da pena deve se iniciar somente após o trânsito em julgado (quando já não é mais possível recorrer e o processo se encerra).

Com isso, a inelegibilidade pode passar dos oito anos por conta de uma demora do próprio Judiciário. DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 16 de 23

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A legenda diz que o trecho que acabou sendo cortado "vilipendia direitos e garantias fundamentais", porque a interpretação da expressão tem proporcionado inelegibilidade por tempo indeterminado, dependendo do tempo de tramitação do processo.

A sigla explica na ação que, como a Lei da Ficha Limpa não foi aplicada nas eleições de 2010, o efeito do trecho questionado só veio a ser sentido de maneira mais significativa nas disputas deste ano, oito anos após o início da vigência da lei (nas eleições de 2012).

De acordo com o PDT, dos 557.406 pedidos de registros de candidaturas, 2.357 foram indeferidos com base na Lei da Ficha Limpa.

A ação, diz o partido, não se refere a todos esses casos, já que nem todos os indeferimentos se deram com base no trecho alterado pela decisão do ministro. A legenda afirma que há casos em que o prazo de inelegibilidade já foi cumprido antes do marco temporal estabelecido.

Quais foram os argumentos do ministro do STF para conceder a liminar?

Kassio justificou a decisão alegando não concordar com o prazo indeterminado da punição.

"A ausência da previsão de detração [abatimento da pena total por já se ter cumprido parte dela], a que aludem as razões iniciais, faz protrair por prazo indeterminado os efeitos do dispositivo impugnado, em desprestígio ao princípio da proporcionalidade e com sério comprometimento do devido processo legal", diz Kassio.

O ministro, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, argumenta ainda que "impedir a diplomação de candidatos legitimamente eleitos, a um só tempo, vulnera a segurança jurídica imanente ao processo eleitoral em si mesmo, bem como acarreta a indesejável precarização da representação política pertinente aos cargos em análise".

Quais os principais questionamentos em relação à decisão de Kassio?

O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral viu na medida de Kassio "uma articulação de forças que pretende esvaziar a lei, com ataques pontuais que visam dilacerar o seu conteúdo sob alegação de aperfeiçoá- la, tentativa essa oriunda daqueles que podem ser atingidos por ela ou que buscam poupar seus aliados".

O juiz aposentado Márlon Reis, autor da Lei da Ficha Limpa, classifica a decisão do ministro como "o maior atentado da história" à regra em seus dez anos de existência.

"Estão tentando relativizar prazos num assunto em que quem determina estes prazos são os próprios condenados. Sempre tivemos no Brasil um problema grave de réus que usam do grande sistema de recursos que temos no país, para protelar, para evitar a punição", afirmou Reis à Folha.

O que disse Bolsonaro? DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 17 de 23

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Iris Helena

O presidente Jair Bolsonaro defendeu a liminar de Kassio. Em entrevista, disse que a decisão do ministro não tinha “nada demais”.

“O que ele definiu foi prazo de inelegibilidade, que estava em aberto, apenas após a condenação. O cara estava dez anos respondendo. Quem erra tem que pagar. Mas não pode pagar 'ad aeternum'. Ele definiu que o prazo conta a partir da data do início do processo. Nada demais isso”, disse o presidente.

Quais os próximos passos?

A Procuradoria-Geral da República recorreu da decisão do ministro. O recurso foi apresentado ao presidente do STF, ministro Luiz Fux, responsável por temas urgentes que chegam ao tribunal durante o recesso, que vai até fevereiro.

No documento, a PGR pede que a liminar seja suspensa ou, alternativamente, sejam paralisados todos os processos de registro de candidaturas que se enquadrem no trecho da lei que foi suspenso por Kassio Nunes Marques.

Fux, contudo, afirmou que não deve revogar a decisão de Kassio Nunes e que o o colega atuou “dentro da sua independência”.

É esperado que o caso seja julgado no plenário do Supremo.

Qual o reflexo para o TSE?

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) está sendo impactado de imediato com a mudança causada pela liminar.

Desde segunda, segundo o jornal Valor Econômico, chegaram à cortedois recursos de políticos que pretendem assegurar vagas barradas pela Lei da Ficha Limpa, um condenado por tráfico de drogas e outro por crime contra o patrimônio público.

Um deles é o líder comunitário Júlio Fessô (Rede), que teve a candidatura barrada por ter sido condenado, em 2006, por tráfico de drogas. Ele pretendia ser vereador de Belo Horizonte.

Fessô cumpriu pena até 2011, mas foi considerado inelegível por conta de uma multa não quitada, que o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Minas Gerais só considerou prescrita em 2013.

O outro recurso é de Adair Henriques da Silva (DEM), que foi eleito prefeito em Bom Jesus de Goiás (GO), mas também foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Ele foi o primeiro prefeito eleito, neste ano, a ter candidatura barrada.

Silva foi condenado em 2009 por crime contra o patrimônio público. A extinção da pena só aconteceu em 2015, quando começou a contar o prazo de oito anos de inelegibilidade.

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Iris Helena

JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 24.12.2020 – PÁG.ON-LINE

Poder independente

Frente liderada por Rodrigo Maia define Baleia Rossi como adversário de Arthur Lira na disputa pela Presidência da Casa. Inspirado em Ulysses Guimarães, parlamentar do MDB promete diálogo, mas precisa garantir o apoio das legendas de esquerda

Jorge Vasconcellos

Rossi e Maia: escolha do emedebista resultou de uma negociação entre partidos que, apesar das divergências, buscam se contrapor ao Planalto (Luis Macedo/Câmara dos Deputados )

Após semanas de expectativa e muitas reuniões, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e líderes partidários do bloco formado para concorrer à Presidência da Casa anunciaram, ontem, o nome do deputado Baleia Rossi (MDB-SP) como o candidato do grupo. O emedebista foi o escolhido para enfrentar Arthur Lira (PP-AL), líder do Centrão e favorito do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na disputa. Com um discurso dedicado a demonstrar diferenças em relação ao lado adversário, Rossi defendeu a democracia e disse ter “ódio e nojo à ditadura”, repetindo a frase histórica do ex-deputado Ulysses Guimarães (1916- 1992).

A formação da frente ampla foi anunciada por Maia na última sexta-feira. Ela reúne partidos de centro — PSL, MDB, PSDB, DEM, Cidadania, PV e Rede; e de esquerda — PT, PCdoB, PSB e PDT. Ao todo, o bloco é formado por 11 siglas.

Filho do ex-deputado e ex-ministro Wagner Rossi, Baleia Rossi é líder do MDB na Câmara e presidente nacional do partido. Ele teve a candidatura formalizada após uma série de reuniões em Brasília nesta quarta- feira. No primeiro discurso nessa condição, ele fez questão de demonstrar diferenças em relação a Bolsonaro e seus aliados. “O que nos une, neste momento, é a defesa intransigente da nossa democracia, do estado democrático de direito, das liberdades, do respeito às minorias. E, claro, que num bloco partidário que tem posições diferentes sobre diversos temas, essa diferença nos fortalece e demonstra que, na democracia, uma das belezas é respeitar quem pensa diferente de você”, declarou Rossi.

O candidato elogiou a presidência de Rodrigo Maia e prometeu continuar trabalhando para manter o protagonismo da Casa. “Pela independência da Câmara, para que a nossa Câmara continue com o protagonismo. Maia foi fundamental nesse período triste de pandemia, em que mais de 180 mil brasileiros perderam vidas. Todo o esforço da Câmara foi para atender às demandas da população”, discursou Rossi.

O parlamentar também se manifestou pelo Twitter, logo após a formalização da candidatura. “Vou conversar com todos os partidos do campo progressista. Respeito e reconheço nossos pontos divergentes. O importante DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 19 de 23

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Iris Helena

é focar na defesa da independência da Câmara. Nossa #frenteampla é em defesa intransigente da Democracia, pois temos 'ódio e nojo à ditadura'", escreveu o candidato da frente ampla.

A postagem é acompanhada de uma foto em que Rossi, ainda jovem, aparece ao lado do ex-deputado Ulysses Guimarães (MDB), um dos principais líderes da resistência ao regime militar (1964-1985) e que morreu em um acidente aéreo, em 1992. A expressão 'ódio e nojo à ditadura' entrou para a história ao ser dita por Guimarães durante a promulgação da Constituição de 1988.

Um passo à frente Rodrigo Maia afirmou que o bloco partidário formado por ele tem condições de vencer a eleição com o compromisso de garantir a “independência da Câmara”. “Acho que é importante, agora, o líder Baleia, que liderava um partido, muito focado no seu partido, dialogar com todos os partidos, mas, principalmente, com aqueles que têm divergências ideológicas conosco, mas uma convergência em princípios, principalmente nos princípios da democracia”, disse Maia.

Ele acrescentou que a frente ampla tem como prioridades a modernização do Estado, a redução das desigualdades, da pobreza e do desemprego, além da melhoria da saúde pública e da educação no país.

Resistências no PT Apesar de escolhido como candidato, Baleia Rossi enfrenta resistências dentro do bloco. Até a manhã desta quarta, deputados do PT vinham sendo pressionados por expoentes da legenda a negar apoio a um nome do MDB. Nas redes sociais, a ex-presidente (PT) lembrou da liderança do partido no processo de impeachment que sofreu em 2016, quando foi substituída no cargo pelo então vice-presidente, o emedebista . O mesmo alerta foi feito pelo ex-prefeito e ex-candidato à presidência Fernando Haddad (PT).

Ao mesmo tempo em que o nome de Baleia Rossi era anunciado como candidato, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), publicou em uma rede social que a sigla “só vai decidir” sobre uma eventual candidatura após debater com partidos de oposição.

Presidentes e líderes de PT, PSB, PDT e PCdoB divulgaram, em comunicado conjunto, que pretendem se reunir com Baleia Rossi na próxima segunda-feira (28/12), para conhecer “as propostas e compromissos de procedimentos que nortearão sua candidatura à Presidência da Casa”.

No discurso durante o anúncio da candidatura, o deputado Baleia Rossi citou os partidos de esquerda e do “centro democrático”, afirmando que deseja dialogar “com muita humildade com cada um dos parlamentares”. “Queria deixar, aqui, minha palavra de entusiasmo com este início de campanha, de agradecimento a todos os partidos, partidos do centro democrático, partidos da esquerda. (Dizer) que nos vamos fazer o diálogo, nós vamos mostrar claramente o que nós defendemos, e nós vamos trabalhar a partir de agora, conversando com muita humildade com cada um dos parlamentares, para mostrar que a Câmara livre e independente é o melhor para o futuro do nosso país”, declarou.

Perfil

Relator da reforma tributária DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 20 de 23

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Iris Helena

Luiz Felipe Baleia Tenuto Rossi nasceu em São Paulo, em 9 de junho de 1972. Formado em direito, está no segundo mandato consecutivo de deputado federal e é o autor da principal proposta de reforma tributária da Câmara, baseada na unificação de impostos sobre consumo. O parlamentar é filho de Wagner Rossi, ex- deputado e ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Baleia vive até hoje em Ribeirão Preto (SP), onde a família sempre manteve fortes laços políticos. Foi nessa cidade, também, que ele começou a vida profissional, como empresário. O político ingressou na vida pública há 20 anos, como vereador em Ribeirão Preto.

A partir de 2003, cumpriu três mandatos consecutivos como deputado estadual. Em 2014, foi eleito deputado federal, com 208 mil votos, e reeleito em 2018 com 214 mil votos. Na Câmara, entre outras frentes de atuação, Rossi tem como prioridade a defesa do sistema de saúde brasileiro, público e filantrópico.

Desde 2016, Baleia Rossi é um dos 100 parlamentares mais influentes do Congresso, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Como deputado federal, apresentou projetos como o que cancela o cadastro de estabelecimentos comerciais e industriais que utilizem madeira extraída ilegalmente. Também é autor de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para aumentar a parcela de recursos das prefeituras no Fundo de Participação dos Municípios.

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Em casa, mas sem telefone

Liberação do prefeito afastado Crivella, preso sob a acusação de receber propina, provoca atritos no Judiciário. Desembargadora determinou apreensão de celulares e computadores antes de expedir mandado de soltura, exigido pelo STJ

Renato Souza

Crivella chega à residência na Barra da Tijuca após deixar presídio de Benfica: 36 horas de batalha judicial (Andre Melo Andrade /Immagini/Estadão Contéudo )

A revogação da prisão do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), tornou-se uma novela no Poder Judiciário. O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins, substituiu a prisão preventiva por regime domiciliar. No entanto, a decisão não foi acatada de imediato pelo plantonista do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, desembargador Joaquim Domingos de Almeida Neto. Ele afirmou que a expedição do alvará de soltura deveria ser realizada pela relatora do caso, Rosa Helena Macedo. A magistrada, no entanto, determinou busca e apreensão na casa do político antes de autorizar a ida dele para o domicílio, um condomínio na Barra da Tijuca.

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Iris Helena

Crivella é acusado de chefiar um esquema de pagamento de propina para agentes públicos por parte de empresários. Ontem, no começo da noite, 24 horas após determinar a prisão domiciliar, Humberto Martins editou um novo despacho, desta vez, dando prazo de 48 horas para que Crivella fosse mandado para casa. O ministro alegou que a determinação anterior não foi cumprida. Ele pediu que o presidente do TJ do Rio, Henrique Figueira, preste informações sobre o andamento do caso.

Na terça-feira, ao receber a ordem de soltura, o desembargador Joaquim Domingos afirmou que não poderia expedir o documento que autoriza a ida do prefeito para a prisão domiciliar.

Ele determinou que Rosa Helena, juíza natural do caso, fosse oficiada para decidir. A magistrada, por sua vez, antes de autorizar a soltura, decidiu pelo cumprimento de um mandado de busca e apreensão. De acordo com o despacho, antes da ida de Crivella para o local, deveriam ser apreendidos “terminais telefônicos fixos, computadores, tablets, laptops, aparelhos de telefone celular e smart tevês da residência”, com a finalidade de auxiliar na investigação. Além disso, Rosa Helena determinou o uso de tornozeleira eletrônica por parte do investigado.

Movimentações No momento em que ia realizar exame de corpo de delito, procedimento de rotina para ingressar no sistema penal, Crivella afirmou ser inocente. Durante as investigações, relatórios de inteligência financeira apontaram movimentações atípicas na Igreja Universal do Reino de Deus, onde Crivella atua como bispo, mas se mantém afastado para exercer o cargo político.

Os valores suspeitos nas contas da instituição religiosa chegam à cifra de R$ 6 bilhões. Em nota, a Universal nega qualquer irregularidade. “A Universal já enviou à desembargadora relatora do processo no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), em outubro de 2020, uma petição esclarecendo cada uma das entradas e saídas dos valores que constam do relatório do Coaf. Dessa forma, com total transparência, a Igreja comprovou que não há ‘movimentação atípica’ ou ‘anormal’. Todos os valores têm origem e destino legais e declarados”, informou a igreja.

Pagamento de empresários Além do prefeito Marcelo Crivella, foram presos o empresário Rafael Lopes e delegado aposentado Fernando Moraes. O ex-senador Eduardo Lopes, também do Republicanos, está sendo procurado pela polícia. As investigações conduzidas pelo MInistério Público do RJ e pela Polícia Civil indicam que empresários com interesse em fechar contratos ou com dinheiro a receber do município entregariam cheques para o empresário, irmão de Marcelo Alves, então presidente da Riotur. Em troca, Rafael facilitaria a assinatura dos contratos e o pagamento das dívidas.

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Alívio na conta de luz em 2021

Agência Nacional de Energia Elétrica anuncia bandeira amarela a partir de janeiro de 2021, semanas após adotar cobrança maior aos consumidores. No início do mês, presidente Bolsonaro havia recomendado uso mais consciente de chuveiro e ar-condicionado DATA CLIPPING 24.12.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 22 de 23

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Iris Helena

Simone Kafruni

Atento à difícil situação financeira dos brasileiros em 2021, o governo anunciou, ontem, um alívio na conta de luz. A bandeira tarifária, que está vermelha no patamar 2, será amarela em janeiro de 2021, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Isso significa um custo extra de R$ 1,343 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Para efeito de comparação, o patamar 2 da bandeira vermelha representa acréscimo de R$ 6,243 a cada 100 kWh.

Segundo o órgão regulador, que determina qual bandeira é acionada, a previsão hidrológica para janeiro do ano que vem sinaliza elevação das vazões afluentes aos principais reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN). Esse cenário levou ao incremento no patamar da produção hidrelétrica, com a consequente redução nos custos relacionados ao risco hidrológico (GSF), e no preço da energia (PLD) em relação ao mês passado. O PLD e o GSF são as duas variáveis que determinam a cor da bandeira a ser acionada.

O aumento da conta de luz foi uma das preocupações do Planalto em dezembro. No início do mês, o presidente comentou sobre o assunto, em resposta a um internauta que, ironicamente, o parabenizou pelo reajuste tarifário. “As represas estão (com) níveis baixíssimos. Se nada fizermos, poderemos ter apagões. O período de chuvas, que deveriam começar em outubro, ainda não veio”, argumentou o presidente.

Dias depois, em uma live, o presidente abordou novamente a necessidade de se economizar energia. “Um apelo que eu faço a você: apague uma luz em casa agora. Se for possível, ligue o ar-condicionado mais tarde. Desligue mais cedo. Não bote naquela temperatura máxima. Fica bacana dormir ali com 12ºC, 15ºC. Tem gente que gosta. Passa para para 18ºC, 19ºC. Ajude a gente”, disse o presidente. Ele também pediu à população que tome banhos rápidos.

Sistema de bandeiras Criado pela Aneel, o sistema de bandeiras tarifárias sinaliza o custo real da energia gerada, possibilitando aos consumidores o bom uso da energia elétrica. O funcionamento das bandeiras tarifárias é simples: as cores verde, amarela ou vermelha (nos patamares 1 e 2) indicam se a energia custará mais ou menos em função das condições de geração. Durante a pandemia, a Aneel congelou as bandeiras na sinalização verde e só voltou a acioná-las em dezembro, direto para o patamar mais alto.

Conforme a agência, “com as bandeiras, a conta de luz ficou mais transparente e o consumidor tem a melhor informação, para usar a energia elétrica de forma mais eficiente, sem desperdícios”. A Aneel também dá algumas dicas de ações relacionadas ao uso consciente e ao combate ao desperdício de energia.

Tomar banhos mais curtos e selecionar a temperatura morna no chuveiro elétrico e reduzir o tempo de utilização do aparelho de ar-condicionado são algumas orientações, assim como só deixar a porta da geladeira aberta o tempo que for necessário e regular a temperatura interna de acordo com o manual de instruções.

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Iris Helena

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A recuperação do emprego formal

Em novembro, foram criados 414.556 empregos com carteira assinada nos setores de comércio (179.261) e serviços (179.077), segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). É o quinto mês de resultado positivo, em que o número de vagas superou o de demissões, e revelou-se o melhor para igual período da série histórica da pesquisa, iniciada em 1992. Nos últimos 11 meses, o saldo acumulado chega a 227.025 oportunidades, apesar da retração na economia, devido à crise epidemiológica do novo coronavírus.

Os dados do Caged foram motivo de comemoração para a equipe econômica. Segundo o ministro Paulo Guedes, “o Brasil está surpreendendo o mundo. As reformas prosseguem, em ritmo mais lento, mas seguem acontecendo, e a economia brasileira voltou em V, como poucos acreditavam. Em vez da destruição de 1,5 milhão de empregos, como na recessão de 2015, da destruição de 1,3 milhão em 2016”.

Quando os dados do Caged são confrontados com os da edição de novembro da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid-19 — a última da série —, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, nota-se um descompasso. O IBGE indica que o país ainda tem um contingente de 14 milhões de desempregados — 200 mil a mais do que em outubro último (13,8 milhões). A aparente contradição entre Caged e IBGE ocorre porque, com a flexibilização das medidas de restrição impostas pela covid-19, mais trabalhadores passam a procurar uma ocupação e acabam engrossando o contigente de desempregados medidos pelo IBGE. Há, ainda o fato, de o Caged fixar-se apenas na movimentação de trabalhadores com carteira assinada, enquanto o IBGE engloba toda a cadeia de trabalho, incluindo a informal.

Outro fator agrava a situação de quem está desempregado: 68 milhões de brasileiros não poderão contar com o auxílio emergencial de R$ 300. A última parcela foi paga neste mês. Em janeiro, parte deles não terá meios sequer para comprar alimentos. O rombo nas contas públicas, estimado em R$ 800 bilhões, impede o governo de manter o benefício. Em contrapartida, especialista preveem que, diante das limitações do caixa da União, a desigualdade, no país ,poderá chegar a patamar dos anos1980, início da década perdida.

Além disso, a inflação em ascendência tem forte impacto na camada mais pobre da sociedade, ao corroer o poder de compra de quem pouco ou nada tem. Inflação em alta e desemprego é uma combinação perversa. Hoje, esse quadro é agravado pela epidemia do novo coronavírus. A imunização em massa da população é medida que se impõe com a maior celeridade possível.

Retirar o país desse quadro de adversidades não é atribuição exclusiva do governo federal. A tarefa exige igual esforço do Legislativo, que, até agora, sequer aprovou o Orçamento da União para o próximo ano, devido à disputa pelas presidências da Câmara e do Senado. Mas, cabe ao Congresso apressar a aprovação de reformas estruturais, como a tributária e a administrativa, a fim de facilitar o reencontro do país com a via do desenvolvimento, indispensável para mitigar os danos causados pelo desemprego e pela crise epidemiológica.