CONSELHO DE DISCIPLINA SECÇÃO PROFISSIONAL RHI N.º
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CONSELHO DE DISCIPLINA SECÇÃO PROFISSIONAL RHI n.º 04-20/21 DESCRITORES: Infrações dos Clubes - Deveres dos Clubes –Relatório dos Delegados da LPFP – Valor Probatório Reforçado – Presunção de Veracidade – Livre Apreciação da Prova – Flash Interview. Página 1 de 16 ESPÉCIE: Recurso Hierárquico Impróprio Recorrente: Clube Desportivo Feirense – Futebol SAD Recorrido: Conselho de Disciplina, Secção Profissional da FPF OBJETO: Processo sumário deliberado pela Secção Profissional do Conselho de Disciplina, em formação restrita, a 30 de outubro de 2020, publicitado através do comunicado oficial n.º 93 de 30.10.2020 da LPFP, que sancionou a Recorrente com multa no valor de € 429 (quatrocentos e vinte e nove euros) nos termos do disposto no artigo 127.º n.º 1 RDLPFP, por factos ocorridos no jogo n.º 20702 (204.01.056) entre a Clube Desportivo Feirense - Futebol SAD e a Clube Desportivo de Mafra, Futebol SDUQ , realizado no dia 26 de outubro de 2020, a contar para a Liga Portugal 2 SABSEG. DATA DO ACÓRDÃO: 24 de novembro de 2020. TIPO DE VOTAÇÃO: Unanimidade. RELATOR: Isabel Lestra Gonçalves NORMAS APLICADAS: Artigos 13.º, alínea f); 127.º n. º1, ambos do RDLPFP19; Refª. E32 do Regulamento das Infraestruturas e Condições Técnicas e de Segurança nos Estádios, anexo IV ao RCLPFP. SUMÁRIO: I. Os clubes estão sujeitos a respeitar os deveres que para eles decorrem das normas que regulamentam a sua participação no âmbito das competições organizadas pela Liga Portugal. II. O clube que, enquanto decorre a flash interview ao treinador da equipa adversária, aumenta o volume do som emitido pela aparelhagem sonora e, simultaneamente, desliga a maioria das luzes do recinto desportivo, assim dificultando a qualidade de som e imagem ao produtor da SporTV, incorre numa violação direta, consciente e intencional dos deveres a que está adstrito tornando-se incurso em responsabilidade disciplinar. Página 2 de 16 ACÓRDÃO Acordam, em Plenário, ao abrigo do artigo 206.º, nº 1, do Regulamento Disciplinar das Competições Organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional1 os membros do Conselho de Disciplina, Secção Profissional, da Federação Portuguesa de Futebol. I – Relatório 1. Registo inicial 1. A Recorrente, por meio de requerimento dirigido à Senhora Presidente do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, apresentado em 04 de novembro de 2020, constante de fls. 1 e seguintes dos autos, interpôs o presente Recurso Hierárquico Impróprio para o pleno da Secção Profissional do Conselho de Disciplina da FPF, tendo por objeto a decisão condenatória deliberada pela Secção profissional do Conselho de Disciplina, em formação restrita, a 30 de outubro de 2020, publicitada através do comunicado oficial n.º 93 da LPFP, que sancionou a Recorrente com multa no valor de € 429 ( quatrocentos e vinte e nove euros) nos termos do disposto no artigo 127.º n.º 1 RDLPFP, por factos ocorridos no jogo n.º 20702 (204.01.056) entre a Clube Desportivo Feirense - Futebol SAD e a Clube Desportivo de Mafra, Futebol SDUQ , realizado no dia 26 de outubro de 2020, a contar para a Liga Portugal 2 SABSEG. 2. Distribuído o processo à Relatora, por despacho de 4 de novembro de 2020, o presente recurso hierárquico impróprio foi admitido, por ser legal, tempestivo e interposto por quem tem legitimidade (artigo 291.º do RDLPFP), com efeito devolutivo. 3. Aos autos foram oficiosamente juntos os seguintes documentos com relevância para a decisão deste recurso: i) Comunicado Oficial n.º 93, e processos sumários de 30.10.2020, da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (cf. fls. 9 e 10 dos autos); 1 Regulamento Disciplinar das Competições Organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional, aprovado na Assembleia Geral Extraordinária de 27 de junho de 2011 (com as alterações aprovadas nas Assembleias Gerais Extraordinárias de 14 de dezembro de 2011, 21 de maio de 2012, 06 e 28 de junho de 2012, 27 de junho de 2013, 19 e 29 de junho de 2015, 08 de junho de 2016, 15 de junho de 2016 e 29 de maio, 13 de junho de 2017, 29 de dezembro de 2017, 13 de junho de 2018 e 29 de junho de 2018, 22 de maio de 2019 e 28 de julho de 2020, ratificado na reunião da Assembleia Geral da FPF de 26 de agosto de 2020), doravante abreviado, por mera economia de texto, por RDLPFP. O texto regulamentar encontra-se disponível, na íntegra, na página da FPF. Página 3 de 16 ii) Relatório de Árbitro, Relatório de Delegado e Fichas Técnicas dos Clubes, referentes ao jogo em apreço (cf. fls. 11 a 25 dos autos); iii) Cadastro disciplinar da Recorrente (cf. fls. 26 a 30). 4. Foi notificada a Comissão de Instrutores, para os efeitos previstos no artigo 292.º, n.º 3 do RDLPFP, tendo deliberado, a 5 de novembro de 2020, “não apresentar qualquer pronúncia sobre o pedido e os fundamentos do recurso apresentado pela Clube Desportiva Feirense - Futebol, SAD, no âmbito do processo em epígrafe.” (fls. 46 dos autos). 2. Defesa 5. Com o requerimento de interposição de recurso a Recorrente apresentou as respetivas alegações, que sintetizou em conclusões2, requerendo a revogação da decisão recorrida tomada em processo sumário “não sendo aplicada à Arguida qualquer sanção disciplinar”. II – Competência do Conselho de Disciplina 6. De acordo com o artigo 43.º, n.º 1 do RJFD20083, compete a este Conselho, de acordo com a lei e com os regulamentos e sem prejuízo de outras competências atribuídas pelos estatutos e das competências da liga profissional, instaurar e arquivar procedimentos disciplinares e, colegialmente, apreciar e punir as infrações disciplinares em matéria desportiva. No mesmo sentido, dispõe o artigo 15.º do Regimento deste Conselho4. 7. Nos termos do disposto no artigo 287.º, n.º 3, do RDLPFP, as decisões proferidas singularmente pelos membros da Secção Profissional do Conselho de Disciplina ou em formação restrita, são impugnáveis apenas por via de recurso para o Pleno da Secção. 8. Constituindo nosso entendimento que os autos fornecem todos os elementos necessários à prolação de uma decisão, não se determinou a realização de qualquer diligência complementar de prova. 2 Cf. determinado pelo RDLPFP (artigo 292.º n.º 1 RDLPFP). 3 Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro (regime jurídico das federações desportivas e do estatuto de utilidade pública desportiva) e alterado pelo artigo 4.º, alínea c), da Lei n.º 74/2013, de 6 de setembro (Cria o Tribunal Arbitral do Desporto e aprova a respetiva lei) e ainda pelos artigos 2º e 4º Decreto-Lei n.º 93/2014, de 23 de junho, cujo texto consolidado constitui anexo a este último. O artigo 3º, da Lei nº 101/2017, de 28 de agosto, veio também a introduzir alterações neste regime, embora sem relevância neste domínio. 4 Disponível, na íntegra, na página da Federação Portuguesa de Futebol. Página 4 de 16 III – Âmbito do Recurso 9. Com o requerimento de interposição de recurso a Recorrente apresentou as respetivas alegações sintetizadas nas seguintes conclusões: A. À Arguida não lhe pode ser imputada uma sanção por inobservância de outros deveres, conforme previsto e punido pelo artigo 127.º do RDLPFP. B. No decorrer da “Flash Interview” realizada no relvado, o som do estádio não aumentou de volume e não houve interferência na referida entrevista. C. Durante a “Flash Interview” as luzes do estádio da Arguida não foram na sua maioria desligadas. D. Não houve qualquer dificuldade de qualidade de som e imagem do produtor da Sport TV durante a “Flash Interview”. E. À Arguida não deve ser aplicada qualquer multa, por violação do artigo 127.º do RDLPFP. F. A “Flash Interview” decorreu em termos normais, apenas os tempos foram claramente excedidos, sendo essa uma situação que não é imputável à Arguida. G. A equipa de manutenção da Arguida foi desligando a potência da luz no Estádio para evitar desperdícios, sem que isso tivesse colocado em causa o trabalho do Operador de Televisão e das equipas de desmontagem. H. Não existiu perda de qualidade quer sonora quer de imagem, mantendo-se as mesmas inalteradas, desde o início da “Flash Interview” até ao seu final. I. A Arguida é alheia ao excesso de tempo com a “Flash Interview”, uma vez que o mesmo é da responsabilidade do Operador Televisivo. J. Pelo que inexiste qualquer culpa ou negligência da Arguida, não lhe sendo imputável qualquer sanção disciplinar. IV – Fundamentação 10. A questão que é submetida à apreciação deste Conselho, e a que cumpre dar resposta, é a de saber se o facto de a Recorrente, enquanto decorria a flash interview ao treinador da equipa adversária, ter aumentado o volume do som emitido pela aparelhagem sonora e, simultaneamente, desligado a maioria das luzes do recinto desportivo, assim dificultando a qualidade de som e imagem ao produtor da SporTV, incorre numa violação direta, consciente e intencional dos deveres a que está adstrita tornando-se incursa em responsabilidade disciplinar. Página 5 de 16 V – Fundamentação de facto §1. A prova no direito disciplinar desportivo 11. Em sede de direito disciplinar desportivo, atenta a particular natureza sancionatória do respetivo processo, tem plena validade a convocação para o exame crítico da prova do princípio geral da livre apreciação da prova, consagrado no artigo 127.º do Código do Processo Penal, de acordo com o qual «[s]alvo quando a lei dispuser diferentemente, a prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção da entidade competente». Aliás, o RDLPFP convoca a aplicação do Código do Processo Penal quando, no n.º 1 do artigo 16.º, onde estatui «[n]a determinação da responsabilidade disciplinar é subsidiariamente aplicável o disposto no Código Penal e, na tramitação do respetivo procedimento, as regras constantes do Código de Procedimento Administrativo e, subsequentemente, do Código de Processo Penal, com as necessárias adaptações».