Três Irmãs, Três Vasos, Três Escrínios: Woody Allen E As (Im)Possibilidades Da Sublimação a Partir Da Interpretação Do Discurso Do Filme Interiores
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THAIS FONTANA GEMIGNANI Três Irmãs, Três Vasos, Três Escrínios: Woody Allen e as (im)possibilidades da sublimação a partir da interpretação do discurso do filme Interiores Pontifícia Universidade Católica São Paulo 2008 THAIS FONTANA GEMIGNANI Três Irmãs, Três Vasos, Três Escrínios: Woody Allen e as (im)possibilidades da sublimação a partir da interpretação do discurso do filme Interiores Trabalho de Conclusão de Curso como exigência parcial para graduação no curso de Psicologia, sob orientação da Profa. Dra. Talitha Ferraz de Souza. Pontifícia Universidade Católica São Paulo 2008 AGRADECIMENTOS Agradeço, e assim dedico. Aos meus pais, Luiz e Flávia, pelo carinho, dedicação, pela aposta na mudança tão radical em minha carreira, e, como não poderia deixar de ser, por terem compartilhado comigo a paixão pela arte, pelo cinema, por Woody Allen e pela vida. A Ana, pelos inúmeros anos de escuta, acolhimento e paciência, mas que fizeram a psicologia ser tão importante para mim. A Chu, pela maravlihosa oportunidade oferecida de estar tão perto da psicanálise, na teoria e na prática. A Talitha, por estar tão perto, tão preocupada e tão dedicada na realização deste trabalho. Finalmente, ao Fernando, tão longe e tão perto, por ser aquele que, com seu amor e carinho, pôde ser o amor real que me permitiu, enfim, criar. Thais Fontana Gemignani: Três Irmãs, Três Vasos, Três Escrínios: Woody Allen e as (im)possibilidades da sublimação a partir da interpretação do discurso do filme Interiores, 2008. Orientadora: Prof.a Dra. Talitha Ferraz de Souza Palavras-chave: Psicanálise, arte, Woody Allen, sublimação, interpretação do discurso. RESUMO Woody Allen é um dos mais brilhantes e controversos artistas norte-americanos, produtor de extensa obra cinematográfica que, embora trate de diversas problemáticas, carrega temas recorrentes, fundamentalmente filosóficos, metafísicos e caros ao próprio cineasta. O presente trabalho teve por objetivo discutir um desses temas recorrentes, qual seja, o questionamento das (im)possibilidades da sublimação para o artista. Para tanto, interpretou- se psicanaliticamente o discurso de Interiores (1978), filme de Woody Allen considerado “atípico” no contexto de sua obra, mas que metaforiza magistralmente as questões filosófico-existenciais relacionadas à condição do artista diante do impasse criação versus relacionamentos afetivos significativos. O método interpretativo adotado corresponde à interpretação do discurso, conforme postulado por Goldgrub (2004). A revisão teórica consistiu, num primeiro momento, em uma retomada de algumas aproximações possíveis, historicamente, entre a psicanálise e a arte, e entre a psicanálise e o cinema. Num segundo momento, explorou-se o conceito de sublimação a partir do retorno ao discurso de Freud e do trabalho de Joel Birman (2002), desenvolvendo-se os dois momentos da teorização freudiana a respeito do fenômeno psíquico e alcançando-se o conceito de sublimação como sublime ação, um processo psíquico complexo que supõe estruturação subjetiva, ruptura com fixações objetais narcísicas, criação de novos objetos de satisfação pulsional e de novas formas de subjetivação. Salientou-se o entendimento freudiano no sentido de que no jogo econômico da energia pulsional, embora se almeje a sublimação como um ideal civilizatório, parte da libido deve encontrar o recalque, e outra parte deve encontrar satisfação direta, caso contrário a doença pode ter lugar. Num terceiro momento, falou-se um pouco a respeito de Woody Allen e de sua produção cinematográfica, bem como das questões exploradas por ele acerca da condição do artista; fez-se, também, um relato do filme Interiores. Na discussão, buscou-se encontrar o sentido latente à significação do discurso do filme, considerando para tanto a totalidade dos elementos que constituem sua linguagem discursiva. Avaliou-se, nas considerações finais, que Interiores, com sua temática filosófico-existencial, mostra-se um filme muito mais típico de Woody Allen do que parece à primeira vista. Ponderou-se que o referido filme parece ser uma grande metáfora das (im)possibilidades que o sujeito tem de se posicionar frente à atividade sublimatória. Cada uma das personagens, no contexto do discurso total do filme, metaforizaria caminhos possíveis que um sujeito teria diante das (im)possibilidades de criação artística/sublimatória: o caminho da criação e do afastamento de relações amorosas significativas; o caminho da tentativa frustrada de criação; o caminho da arte tomada não como sublimação, mas como objeto de admiração pela sua beleza; e finalmente o caminho do uso da arte como subterfúgio, sem que ela represente efetivamente a produção de novos objetos de satisfação, mas a reprodução de objetos de satisfação conhecidos. O sentido subjacente à significação literal do filme consistiria na idéia de que a criação artística, por si só, não é capaz de trazer felicidade ao homem, e para que ele tenha “alguma chance” de sobreviver psiquicamente, é necessário que encontre também relacionamentos que permitam a satisfação pulsional direta. Por fim, falou-se da presença, no filme, de figuras femininas, de três irmãs, outro elemento característico da obra de Woody Allen. Fez-se, então, um paralelo com o texto freudiano O Tema dos Três Escrínios (1913), que explora o tema humano da escolha de um homem entre três mulheres, em geral irmãs, e as três irmãs personagens do filme. SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................p. 1 1 METODOLOGIA...................................................................................... p. 7 1.1 A ESCOLHA DO FILME............................................................. p. 7 1.2 MÉTODO INTERPRETATIVO.................................................... p. 8 1.3 APORTE TEÓRICO: O CONCEITO DE SUBLIMAÇÃO............ p. 11 1.4 OUTRAS FONTES..................................................................... p. 12 2 PSICANÁLISE E ARTE: ALGUMAS APROXIMAÇÕES POSSÍVEIS.... p. 13 2.1 PSICANÁLISE E A ARTE DO SÉCULO XX............................... p. 14 2.2 PSICANÁLISE E CINEMA.......................................................... p. 15 3 SUBLIMAÇÃO......................................................................................... p. 19 3.1 DUAS TEORIAS FREUDIANAS SOBRE A SUBLIMAÇÃO....... p. 21 3.1.1 A dessexualização pulsional.................................... p. 22 3.1.2 A sexualidade como matéria-prima......................... p. 26 3.2 SUBLIMAÇÃO: UMA SUBLIME AÇÃO...................................... p. 35 4 WOODY ALLEN E SUA OBRA CINEMATOGRÁFICA.......................... p. 41 4.1 WOODY ALLEN..................................................................... p.41 4.2 INTERIORES (1978).............................................................. p.46 4.2.1 Relato do filme........................................................... p. 47 4.2.1.1 As três irmãs, filhas de Eve............................. p. 49 4.2.1.2 A separação.................................................... p. 54 4.2.1.3 Pearl ............................................................... p. 56 4.2.1.4 O mar.............................................................. p. 58 5 DISCUSSÃO DO FILME INTERIORES.................................................. p. 61 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... p. 84 6.1 TRÊS IRMÃS, TRÊS VASOS, TRÊS ESCRÍNIOS.................... p. 88 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................p. 92 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................... p. 95 ANEXOS.....................................................................................................p. 96 Anexo 1 – Filmografia de Woody Allen........................................ p. 96 Anexo 2 – Roteiro de Interiores.................................................... p. 105 INTRODUÇÃO Linda Christie: ‘Você se dá conta de que estamos em uma sala que guarda algumas das maiores conquistas da Civilização Ocidental?’ Alan Felix: ‘Não há garotas.’ 1 Woody Allen: comediante, escritor, cineasta, músico e ator. Um dos mais férteis e controversos artistas norte-americanos, que se destaca no cenário do cinema mundial não apenas por sua incrível produtividade, mas sobretudo pela capacidade que tem de capturar o público com suas piadas e discussões filosófico- existenciais mais profundas, seja arregimentando fãs (de famílias a estudiosos do cinema, de filósofos a psicanalistas), seja provocando seus opositores mais radicais. Em cerca de quarenta anos de carreira, Woody Allen escreveu livros, peças de teatro, roteiros e dirigiu trinta e oito filmes que, da comédia ao drama, trazem temas recorrentes que encerram questões fundamentalmente filosóficas e metafísicas caras ao próprio cineasta (Björkman, 2004; Kapsis & Coblentz, 2006), como por exemplo a existência de Deus e a religião – em especial o judaísmo; o conflito entre a inexorabilidade da morte e a possibilidade de viver; os relacionamentos amorosos e o conflito entre o amor romântico e o desejo sexual; a necessidade de fundar a vida em princípios éticos e morais para que ela tenha sentido; a psicanálise; o processo criador e a condição do artista (Lee, 2002). Estudiosos de diferentes áreas realizaram trabalhos a partir de filmes de Woody Allen, explorando um ou mais recortes das questões que aparecem recorrentemente em suas obras. O psicanalista Cohen (2004) trabalhou a importância da obra de Woody Allen no contexto do cinema