Memória Coletiva E Formas Representativas Do (Espaço) Religioso
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DANIELA F. DE FREITAS FERREIRA 2º CICLO DE ESTUDOS EM ARQUEOLOGIA MEMÓRIA COLETIVA E FORMAS REPRESENTATIVAS DO (ESPAÇO) RELIGIOSO. O contributo da epigrafia votiva para o entendimento das manifestações religiosas no contexto de ocupação romana da Beira Interior. 2012 Orientador: Professor Doutor Armando Coelho Ferreira da Silva Versão provisória. UNIVERSIDADE DO PORTO – FACULDADE DE LETRAS DANIELA FILIPA DE FREITAS FERREIRA 2º CICLO DE ESTUDOS EM ARQUEOLOGIA MEMÓRIA COLETIVA E FORMAS REPRESENTATIVAS DO (ESPAÇO) RELIGIOSO. O contributo da epigrafia votiva para o entendimento das manifestações religiosas no contexto de ocupação romana da Beira Interior. Dissertação apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, para a obtenção do grau de mestre em Arqueologia. Realizada sob a orientação científica do professor Doutor Armando Coelho Ferreira da Silva, presidente do Departamento de Ciências e Técnicas do Património e diretor de curso de Doutoramento do 3º Ciclo em Museologia DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS E TÉCNICAS DO PATRIMÓNIO Porto 2012 2 “[…] la religión est une chose éminemment sociale. Les représentations religieuses sont des représentations collectives qui expriment des réalités collectives; les rites sont des manières d’agir qui ne prennent naissance qu’au sein des groupes assemblés et qui sont destinés à susciter, à entretenir ou à refaire certains états mentaux de ces groupes. Mais alors, si les catégories sont d’origine religieuse, elles doivent participer de la nature commune à tous les faits religieux: elles doivent être, elles aussi, des choses sociales, des produits de la pensée collective.” (É. Durkheim 1925) “O sabor que nos fica é de continuidade pacífica. Vieram colonos. Trouxeram deuses, trouxeram nomes, trouxeram arte, poesia vinha também na bagagem. Aqui estavam deuses, habitantes de santuários e penedias; as gentes usavam nomes antigos, estranhos mas foneticamente identificáveis. E o casamento deu-se. As famílias cresceram. As villae também. Os deuses foram honrados. Os mausoléus fizeram-se. Ritual de morte, ritual de vida. Indígenas e colonos lavraram perenemente na pedra o sinal duma coexistência exemplar.” (J. d’Encarnação 1989: 319) 3 AGRADECIMENTOS O meu sincero agradecimento constitui um preito de justiça e de homenagem sentida a todos os que me acolheram, guiaram e apoiaram, permitindo a concretização da presente dissertação e a minha realização pessoal. Cumpre-me distinguir, em primeiro lugar, o contributo de todos os museus, organizações locais e demais instituições culturais que possibilitaram a investigação e o estudo dos monumentos epigráficos revelando uma imediata disponibilidade e um notável espírito de cooperação científica. A sua importância assume, no caso presente, uma valia tão significativa que, sem eles, teria sido impraticável chegar a qualquer resultado digno de menção. Por conseguinte, destacamos a colaboração do Museu Regional da Guarda, na pessoa da Dra. Dulce Helena Pires Borges, o contributo do Museu Arqueológico Municipal José Monteiro, do Museu Municipal de Penamacor, do Grupo de Estudos e Defesa do Património Cultural e Natural da Gardunha, e, por último, do Museu Etnográfico Egitaniense. As referidas instituições disponibilizaram o acesso às suas coleções epigráficas assim como o registo fotográfico dos monumentos mencionados no presente estudo. Sublinho igualmente a colaboração do Museu Tavares Proença Júnior na pessoa da Doutora Aida Rechena pela recetividade demonstrada na visita às reservas e estudos das suas epígrafes. Por último, acentuo a colaboração do Museu Municipal do Sabugal, na pessoa da Dra. Carla Augusto, expressa na cedência de informação relativa aos monumentos, na cedência de fotografias dos mesmos e na colaboração prestada. A todas as instituições, ficam aqui expressos os meus sinceros agradecimentos pela colaboração e pela amabilidade de me receber. Sublinho igualmente a cooperação do Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra e do Departamento de Ciências e Técnicas do Património da Universidade do Porto pelo apoio que sempre me disponibilizaram. Ressalvo ainda a colaboração da Casa do Castelo do Sabugal, na pessoa da D. Natália Bispo, pela recetividade demonstrada no acesso ao monumento epigráfico que se encontra à sua guarda. Acrescente-se o contributo do Dr. Marcos Osório expresso na cedência de imagens dos monumentos a seu cargo, na orientação prestada e na profunda recetividade demonstrada. Por último, desejo expressar o profundo reconhecimento pelo contributo do orientador científico da presente dissertação, Prof. Doutor Armando Coelho Ferreira da Silva, pelos fecundos ensinamentos e princípios de integridade científica que sempre me soube transmitir desde os primeiros momentos, e pela disponibilidade demonstrada na partilha da sua larga experiência como notável investigador. 4 RESUMO O entendimento das manifestações religiosas assume-se como uma das óticas de estudo mais relevantes na abordagem das dinâmicas inerentes ao processo de aculturação verificado entre indígenas e romanos em território nacional. A fonte primordial para este entendimento cabe à epigrafia votiva, compreendida como provedora de nomes divinos, de rituais de culto, de modelos de dedicantes e de fórmulas organizativas de pensamento. A Beira Interior portuguesa, detentora de um avultado número de testemunhos epigráficos e depositária de uma notável diversidade de teónimos de leitura segura e de menção exclusiva na região, afigura-se como um espaço ímpar para o estudo das expressões religiosas indígenas e, por conseguinte, para o estudo das comunidades pré-romanas. Tomando em consideração esta singularidade, e partindo da análise conjunta do somatório de monumentos votivos consagrados a divindades indígenas; formulamos uma proposta de ordenação do panteão religioso pré-romano baseado no grau de exclusividade dos teónimos registados, relativamente à região em estudo. A finalidade última compreendeu a verificação de regionalismos religiosos e o entendimento das relações que se estabelecem entre as diferentes divindades, organizando-se, por conseguinte, a aparente desordem subsequente de uma tão marcada diversidade teonímica. O resultado desta interpretação expressou-se na individualização de teónimos de menção exclusiva da Beira Interior portuguesa, na particularização de teónimos regionais que atestam a possibilidade de um panteão votivo alargado às regiões adjacentes, e na distinção destas especificações relativamente aos teónimos de âmbito geográfico alargado, i.e., em relação às designações divinas amplamente representadas no restante território hispânico. A proposta organizativa apresentada permitiu percecionar âmbitos geográficos específicos de cada um destes grupos; contribuindo assim para a definição do campo de ação de cada uma das divindades evocadas e para a consequente definição dos seus atributos. *** Palavras-Chave: Religião; epigrafia; aculturação; indígena; panteão. 5 ABSTRACT The understanding of religious manifestations is assumed as one of the most relevant studies in the dynamics inherent to the process of acculturation occurred between indigenous and Romans in the Portuguese territory. The primary source for this view lies with the votive epigraphy, understood as a provider of divine names, rituals of worship, models of worshiping and forms of thought organization. The Portuguese Beira Interior, possessor a large number of epigraphic testimonies and repository of a remarkable diversity of theonyms and unique words in the region, appears as a singular area for the study of indigenous religious expressions and, consequently, for the study of pre-Roman communities. Taking into account this singularity, and based on the joint analysis of the sum of votive monuments dedicated to indigenous deities; we have formulated a proposal of organization of the pre-Roman religious pantheon based on the degree of exclusivity from the theonyms recorded in the region under study. The ultimate goal focused the understanding of regionalism and religious thought established between the different deities, and the organization, in consequence, of the apparent disorder subsequent to such a marked diversity of theonyms. The result of this interpretation has expressed in the individualization of theonyms only mentioning in Beira Interior, in the particularization of regional theonyms which confirm to the possibility of a votive pantheon extended to adjacent regions, and in the distinction of these specifications in relation to a wider geographical scope of theonyms, i.e., in relation to the designations of the divine, widely represented in the rest of Hispanic territory. The proposed organization allowed us to perceive specific geographical areas of each of these groups, thus contributing to the definition of the fields of action of each evoked deities and the consequent definition of their attributes. *** Keywords: Religion; epigraphy; acculturation; indigenous; pantheon. 6 ÍNDICE NOTA INTRODUTÓRIA 09 PARTE I. Enquadramento CAPÍTULO I. Definição e natureza dos conceitos utilizados. 14 Problematização dos conceitos e aplicabilidade ao contexto estudado. 1.1. O conceito ocidental de religião como uma noção culturalmente 14 determinada. Projeção da mentalidade religiosa moderna na interpretação da organização religiosa indígena e romana. 1.2. Conceito de Panteão aplicado às expressões religiosas pré-romanas. 19 1.3. Esclarecimento e problematização dos conceitos de romanização; 20 etnia e indígena. CAPÍTULO II. Resenha histórica dos estudos alusivos à epigrafia votiva