Jazz 15 de setembro 2012 Ciclo “Isto é Jazz?” Comissário: Pedro Costa Lotte Anker, Fred Frith, Sáb 15 de setembro · 21h30 · Pequeno Auditório · Duração: 1h · M3 -idiomática” o que praticam, tal como John Cage, Morton Feldman e Earle esta foi definida por Derek Bailey, mas Brown. De resto, estava aberto a muitas © Miriam Nielsen © Chippy um trans-idiomatismo que ignora as das nossas experimentações», explica “cascas” formais para aproveitar os con- Anker. teúdos técnicos e de léxico das adoções «O certo é que me fui afastando cada tipológicas realizadas. vez mais do jazz. Sentia que o jazz Frith prefere manter-se ao largo de escandinavo tinha congelado em torno quaisquer rótulos: «Tendo a resistir de clichés e hábitos estilísticos e quis aos “ismos” de qualquer tipo. Não fugir a isso. Por outro lado, através da penso em “idiomas” enquanto estou improvisação livre achei que poderia a tocar, e mesmo quando componho. ligar-me ao meu gosto inicial pela Gera-se material e tenta-se que este faça música erudita», acrescenta aquela que, sentido. Os materiais provêm do que com Ingrid Laubrock, representa uma Saxofones Lotte Anker Guitarra Fred Frith Eletrónica Ikue Mori somos e daquilo que vivemos. E para nova vaga de grandes sopradoras. todos os efeitos vivemos numa era em O trajeto de Fred Frith a partir What River Redux diversos tamanhos e interessam-me que todas as músicas estão igualmente da folk britânica teve várias frentes, mais as pessoas do que as combinações acessíveis. Já era assim quando eu era fosse tocando violino em orquestras São vários os trios em que detetamos as instrumentais, mas sim, acho que o trio adolescente na década de 1960 e hoje clássicas juvenis, cantando no coro presenças de Lotte Anker, Fred Frith e tem uma dinâmica particular.» tal é mais verdadeiro do que nunca. Não da igreja e ingressando em bandas Ikue Mori. Para além do que agora se E o que define esta? Avança Frith: é de todo surpreendente que se possa escolares de R&B. O agora professor apresenta em Lisboa, com os três a faze- «Não haver regras. Encontramo-nos e ouvir diferentes nucleótidos no ADN do de improvisação no californiano Mills rem o pleno das articulações já experi- tocamos. É uma conversação entre nós. que fazemos…» College não acredita que tenha havido mentadas, são de registar os de Anker Nada é planeado por antecipação ao O do jazz é o mais identificável por um momento de viragem na sua vida… e Mori com Steve Noble e com Sylvie momento em que vamos para o palco.» parte da saxofonista dinamarquesa, que «Não há viragens. A história não é uma Courvoisier e o de Frith e Mori com Ora, acontece que este grupo reúne frequentou workshops de John Tchicai, sequência em que algo dá lugar a outro Zeena Parkins. Também de assinalar o artistas com semelhantes perfis: todos Joe Henderson, David Liebman e David algo. Estou constantemente a ouvir de Mori com Courvoisier e Susie Ibarra eles se caracterizam por atravessar Murray e estudou composição com Bob coisas que me interessam e isso afeta o e o de Frith com Parkins e o desapa- várias linguagens musicais, entre o rock, Brookmeyer. «Até aos meus vinte e tal que criarei a seguir. Sempre tive muitos recido Tom Cora. Se esta é a segunda a folk, o jazz, a new music americana anos estive mais ligada ao jazz do que tipos de atividade musical e estes vão-se vez que tocam ao vivo (a primeira foi e a música clássica contemporânea da estou agora. Simplesmente, ligava o sobrepondo. Não me considero como há um par de anos no Europa. De recordar as origens de Fred saxofone ao género. Ao mesmo tempo “vanguarda”, nem sei exatamente o que Jazzfestival), os mesmos intervenientes Frith na frente Rock in Opposition da estava interessada na improvisação essa palavra significa hoje. Gosto apenas fazem parte do What River Ensemble, Grã-Bretanha, em formações como livre e para esse interesse foi decisivo o de experimentar soluções e considero constituindo como que uma versão Henry Cow e Art Bears, e o arranque meu primeiro professor, John Tchicai. que o mais importante é fazer música “redux” deste… de Mori na corrente no wave nova- Calhou estudar com Brookmeyer que seja viva e pessoal.» «Sim, tenho trabalhado em diversas -iorquina com os DNA, banda pioneira porque era o principal professor de Para Ikue Mori a questão colocou-se constelações com a Ikue e com o Fred do noise em que também se revelou Arto composição no New England Jazz de maneira distinta. Quando emigrou – admite Lotte Anker –, e mantenho até Lindsay… Conservatory e descobri que esta do Japão para Nova Iorque ainda mal duos com cada um deles. Perguntas-me Nesse sentido, se adotam as meto- figura história do jazz americano tinha tocava. Iniciou-se na bateria precisa- se gosto especialmente do formato trio? dologias da livre-improvisação, não é um grande conhecimento da obra de mente quando o projeto DNA arrancou: Bom, estou envolvida em bandas com aquilo a que se chama “música não- compositores contemporâneos como foi inventando a música à medida que

2 3 a aprendeu, mudando depois para as sentido. É a intuição que nos ajuda a Miya Masaoka a Michael Formanek, mudou de Tóquio para Nova Iorque em drum machines que definiram a sua tomar boas decisões em conjunto e a Benoît Delbecq e Arve Henriksen. Em 1977. Na altura, era baterista, tendo for- sonoridade muito própria e finalmente mantermo-nos abertos a tudo o mais paralelo, compõe para dança e teatro, é mado com Arto Lindsay e Tim Wright para o laptop, num caso como no outro que acontece. Este não é um conceito um dos responsáveis da editora disco- a banda de no wave (tendência que «procurando ter uma abordagem ins- estático; muda constantemente, depen- gráfica Ilk e ensina composição, arranjo misturava o punk com a música expe- trumental da eletrónica». A sua maior dendo de onde estamos e com quem e improvisação no seu país e na Suécia. rimental) DNA. Os ritmos quebrados e compreensão do experimentalismo estamos a tocar.» as dissonâncias guitarrísticas do grupo musical foi-lhe proporcionada por John Sobre outro trio de que é a voz solista, Fred Frith guitarra tornaram-no um objeto de culto entre Zorn, que conheceu no início dos anos o que partilha com e Um pioneiro em diversas frentes da os jovens nova-iorquinos. Na década de 1980… Gerald Cleaver, observou Anker em música de hoje, nasceu em Heathfield, 1980 trocou a bateria pelas drum machi- O facto de ser uma das pouquíssimas entrevista que «explora os lados selva- Sussex, no ano de 1949. Começou a nes e virou-se para os meios da impro- saxofonistas atualmente em atividade gens, poéticos, bizarros, inesperados e fazer estudos de violino aos 5 anos de visação, ao lado de figuras como John não ocupa muito o pensamento de hipnóticos da comunicação musical», idade e mudou para a guitarra aos 13 por Zorn, Mike Patton (o mesmo dos grupos Lotte Anker, mas esta reconhece que se mas a mesma ideia tem sobre a presente influência do grupo pop The Shadows. de rock Faith No More, Mr. Bungle e trata de uma questão política deveras célula de criação… Vamos agora ter a Os blues chamaram-lhe a atenção Fantômas), Kato Hideki, Butch Morris, importante. «Aliás, o número de estu- oportunidade de o confirmar. muito em particular, mas também se Thurston Moore (Sonic Youth), Dave dantes femininas de jazz, improvisação interessou pela folk, pelo ragtime, pelo Douglas e Fred Frith, este um parceiro e rock diminuiu muito nos últimos anos Rui Eduardo Paes flamenco e pelos cordofones dedilhados recorrente. Mais tarde, nova mudança em Copenhaga. O que é triste. Por isso Crítico de música, ensaísta, do Leste europeu, da Índia, do Japão de instrumento, passando a utilizar mesmo, tenho estado envolvida em editor da revista jazz.pt e da Indonésia. Entrou na Cambridge um laptop munido de uma maior base projetos e seminários que discutem os University em 1967 e foi então que de sons. Integra os projetos Mephista, motivos desse abaixamento do interesse conheceu as músicas e os pensamen- com e Susie Ibarra, das jovens mulheres por estas músicas e Lotte Anker saxofones tos de John Cage e Frank Zappa. Um Phantom Orchard, com Zeena Parkins, e procuram soluções para o problema…» Nasceu em 1958 na cidade de ano apenas depois, fundou com Tim Kibyoshi, com Koichi Makigami e Mark Enquadrada entre a sua formação Copenhaga e estudou na universidade Hodgkinson a banda de art rock Henry Nauseef. Em 1999, ganhou aquele que é jazzística e a influência clássica, Anker local, onde teve oportunidade de fre- Cow, depressa esta se tornando num dos considerado o mais importante prémio coloca do lado da segunda a caracte- quentar cursos e workshops de figuras representantes maiores do muito poli- da música eletrónica, o Distinctive rização eletroacústica deste trio em cimeiras do jazz como Bob Brookmeyer, tizado movimento Rock in Oppositon. Award da alemã Ars Electronics. que os seus saxofones interagem com a Joe Henderson, Dave Liebman, John Passou por formações como Art Bears guitarra elétrica de Fred Frith e o com- Tchicai e David Murray. Depois de um e Skeleton Crew, mas foi o seu álbum putador de Ikue Mori: «Sim, podemos auspicioso início de carreira com Mette Guitar Solos, de 1974, que firmou o seu dizer que pertencemos a essa categoria. Petersen e Nils-Peter Molvaer, surgiu nome como um dos grandes inovadores Ou pelo menos que nos referenciamos como colíder (com Ture Larsen) do da guitarra, ao lado de Derek Bailey. nela. Mas como o aspeto improvisacio- Copenhagen Art Ensemble, uma big Tocou mais tarde nos Naked City de nal da nossa música é o mais impor- band de 12 elementos que apresentou John Zorn, o que lhe trouxe ainda mais tante, diria que se trata de “improvisa- projetos com, por exemplo, Django fama. É professor de improvisação no ção eletroacústica”.» Bates e Marc Ducret. Depois, vieram as californiano Mills College. Improvisação enquanto forma de suas muitas colaborações com Marilyn composição, assinale-se. Fred Frith: Crispell e Marilyn Mazur e emparceira- Ikue Mori eletrónica «Enquanto tal, envolve uma organiza- mentos com a nata da música criativa, Não gosta de dizer em que ano nasceu. ção dos sons que na altura pareça fazer de Sylvie Courvoisier, Tom Rainey e Para ela, a história começa quando se

4 5 Próximo espetáculo

© Mette van der Sijs Cadavre Exquis Cadáver Esquisito de Kassys em colaboração com Nature Theater of Oklahoma, Tim Crouch e Nicole Beutler

Teatro de qui 20 a dom 23 setembro Palco do Grande Auditório · 21h30 (dom às 17h) · Duração: 1h20 · M12

Encenadores Liesbeth Gritter (Kassys), Pavol os mesmos quatro performers, cada Culturgest, uma redução total de 16 500 kWh/ano, Liška & Kelly Copper (Nature Theater of companhia trabalhou durante duas Espaço CarbonoZero® o equivalente a cerca de 220 viagens de Oklahoma), Tim Crouch e Nicole Beutler semanas e criou aproximadamente A compensação das emissões de carro Lisboa-Porto. (nb projects) Intérpretes Esther Snelder, quinze minutos da peça como resposta carbono decorrentes da utilização dos Apesar de contribuírem para a Hannah Ringham, Jarid Rychtarik e a ter testemunhado apenas os 60 espaços da Culturgest, localizados redução das emissões de carbono, estas Bas van Rijnsoever Coordenação e assistência segundos finais dos quinze minutos no Edifício Sede da Caixa Geral de ações não são suficientes para evitar artística Mette van der Sijs Desenho de luz e técnica criados pela equipa anterior. Depósitos, está integrada na estratégia por completo estas emissões. Assim, as Adriaan Beukema do Grupo para o combate às alterações restantes emissões são compensadas Kassys é uma companhia holandesa que climáticas. Esta iniciativa enquadra-se através da aquisição de créditos de Um cadáver esquisito é um jogo coletivo apresentou LIGA – 50% Reward 50% num conjunto mais alargado de ações, carbono provenientes de um projeto surrealista. Por exemplo: o primeiro Punishment em 2010 na Culturgest; que vão desde a inventariação das emis- tecnológico localizado no Brasil e que autor escreve um verso num papel; os nova-iorquinos Nature Theater of sões associadas ao consumo de energia cumpre os requisitos Voluntary Carbon depois dobra-o de forma a que só fique Oklahoma têm sido presença regular em e ao tratamento dos resíduos produzi- Standard (VCS). A compensação das visível a última palavra; o segundo Lisboa (Teatro Maria Matos e alkantara dos nas instalações, à implementação emissões inevitáveis da Culturgest escritor continua (vai ser conduzido, festival), com peças como No Dice e os de medidas de eficiência energética constitui, assim, uma internalização ou não, por aquela última palavra); dois primeiros episódios de Life and para redução das emissões. Com efeito, da variável carbono decorrente da segue-se o terceiro escritor, etc. Times; o britânico Tim Crouch também tem-se vindo a assistir a uma redução utilização dos seus espaços e contribui, Cadavre Exquis é uma experiência é já conhecido do público lisboeta das emissões de carbono observando- igualmente, para a meta de neutralidade levada a cabo por quatro criadores: (England e The Author foram os últimos -se um decréscimo progressivo de carbónica expressa no Programa Caixa Kassys, Nature Theater of Oklahoma, espetáculos seus vistos na Culturgest); cerca de 35% face a 2008. Esta é uma Carbono Zero. Tim Crouch e Nicole Beutler. Foi de Nicole Beutler, coreógrafa alemã redução com tendência a acentuar-se criado como uma estafeta performativa: que trabalha em Amesterdão, podem Mais informações em: com a implementação de um conjunto www.cgd.pt/Institucional/ uma passagem de testemunho com destacar-se as peças 1: Songs, 2: Dialogue de medidas adicionais, estando prevista Caixa-Carbono-Zero limitações estritas. Usando sempre with Lucinda e 3: The Garden. Conselho de Administração Culturgest Porto Iluminação de Cena Presidente Susana Sameiro Fernando Ricardo chefe Fernando Faria de Oliveira Rui Osório de Castro Nuno Alves Administradores Miguel Lobo Antunes Comunicação Maquinaria de Cena Margarida Ferraz Filipe Folhadela Moreira Artur Brandão

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