MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO PÚBLICO DOS MUNICÍPIOS DA CALHA DO RIO SOLIMÕES-AMAZONAS: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

Rainier Pedraça de Azevedo(1) Engenheiro Civil graduado pela Universidade Federal do Amazonas - UFAM, Especialista em Engenharia de Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da FIOCRUZ e Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pelo Centro de Ciências do Ambiente da UFAM, Servidor da FUNASA, Superintendência Estadual do Amazonas.

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RESUMO

A calha do rio Solimões-Amazonas percorre todo o Estado do Amazonas no sentido oeste-leste e, ao longo desse trajeto, suas águas e dos mananciais subterrâneos são utilizadas no abastecimento público das sedes dos municípios margeados por esse rio. Este trabalho descreve as principais características desses mananciais nos quais 68,2% são subterrâneos, 22,7% superficiais e 9,1% mistos, ou seja, superficiais e subterrâneos. O estudo identificou problemas de poluição pontual nos mananciais superficiais usados nas cidades fronteiriças com a Colômbia e Peru, e que a construção indiscriminada de poços, a falta de operação e manutenção adequada, está comprometendo a qualidade das águas do manancial subterrâneo.

Palavras-chave: Mananciais, sistema de abastecimento de água, rio Solimões-Amazonas.

INTRODUÇÃO

Mananciais são reservas hídricas ou fontes que podem ser utilizadas no abastecimento de água. De maneira geral, quanto à origem, podem ser classificados em manancial superficial e subterrâneo. Segundo Richter e Azevedo Netto (1991), a decisão mais importante para um projeto de abastecimento de água é a definição do manancial a ser utilizado como fonte de suprimento. Sempre que houver duas ou mais fontes possíveis, a sua seleção deve se apoiar em estudos amplos, que não se restrinjam exclusivamente a aspectos econômico-financeiros. A qualidade da

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água, as tendências futuras relativas à sua preservação e as condições de segurança devem, também, ser pesadas. No estado do Amazonas, tanto o manancial superficial como o subterrâneo são utilizados no abastecimento público de água e, muitos são ou estão inadequados para essas finalidades. Assim, este trabalho identifica e descreve as principais características dos mananciais utilizados para o abastecimento público de água nas sedes dos municípios margeados pela calha do rio Solimões-Amazonas nesse estado da Federação.

MATERIAL E MÉTODOS

O complexo formado pelo rio Solimões-Amazonas corta todo o Estado do Amazonas no sentido oeste-leste. Ao entrar no país vindo do Peru recebe o nome de rio Solimões, quando encontra com o rio Negro em Manaus passa a ser denominado de rio Amazonas, nomenclatura essa que permanece até desembocar no oceano Atlântico. Suas águas são predominantemente ”barrentas” e ricas em sedimentos em suspensão provenientes da região Andina. Este trabalho sintetiza as informações levantadas pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e outras instituições no período de 2006 a 2016, sobre a caracterização dos mananciais utilizados nos serviços públicos de água das cidades localizadas ao longo da calha do rio Solimões- Amazonas, especificamente no estado do Amazonas. Essas informações, foram complementadas com visitas técnicas e por pesquisa bibliográfica disponível sobre o assunto, onde foram consultados: planos municipais de saneamento básico, projetos de sistemas de abastecimento de água, relatórios técnicos, livros, revistas especializadas e demais literaturas com conteúdos pertinentes ao objeto do estudo. Nas descrições dos mananciais usados pelas sedes municipais no abastecimento público de água, seguiu-se o fluxo desse rio iniciando pela cidade de , situada na fronteira com a Colômbia e Peru, finalizando na cidade de , divisa com o estado do Pará. Considerou-se todas as 22 sedes municipais banhadas pelo rio que se encontravam numa distância média de até 10 km da sua margem e não foi considerada a cidade de Manaus capital do estado do Amazonas, situada a margem esquerda do rio Negro. A Figura 1 apresenta as sedes municipais banhadas ou nas proximidades do rio Solimões- Amazonas.

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Figura 1 - Sede dos municípios margeados ou próximos ao rio Solimões-Amazonas

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os levantamentos realizados, os mananciais utilizados nas sedes municipais correspondem ao disposto na Tabela 1. Verifica-se que 68,2% dos mananciais são subterrâneos, seguidos por superficiais em 22,7% e mistos (superficiais e subterrâneos) com 9,1%. Entretanto, apenas três cidades (13,6%) utilizam águas do rio Solimões-Amazonas para abastecimento público. A primeira cidade do Amazonas banhada pelo rio Solimões é Tabatinga, localizada a margem esquerda desse rio na tríplice fronteira formada pelos países Brasil, Colômbia e Peru. Um importante estudo sobre a hidroquímica do rio Solimões-Amazonas foi realizado por Santos e Ribeiro (1988) em 11 trechos desse rio e em 31 de seus afluentes e subafluentes. Na amostragem tomada em frente à cidade de Tabatinga observou-se o pH de 7,20, condutibilidade elétrica de 132,30 μS/cm, a predominância de cloretos (expresso na forma de Cl) com 4,92 mg/L, ferro (Fe) com 4,06 mg/L e manganês (Mn) com 0,19 mg/L.

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O sistema de abastecimento de água (SAA) de Tabatinga utiliza o rio Solimões como manancial, cujo ponto de captação situa-se aproximadamente 1.000 m a jusante da foz de dois igarapés que recebem lançamentos indevidos de efluentes domésticos da cidade, e cerca 2.000 m de um dos pontos de lançamento de esgoto não tratado produzido pela cidade de Leticia, na Colômbia.

Tabela 1 - Resumo dos mananciais utilizados nas sedes municipais Rio Região Sede municipal Tipo e nome do manancial principal Solimões Tabatinga Superficial - rio Solimões Solimões Benjamin Constant Superficial - rio Javari Solimões São Paulo de Superficial - Igarapé do Ajaratuba Olivença Solimões Alto Amaturá Subterrâneo - poços tubulares Solimões Solimões Santo Antônio do Superficial - Igarapé São Salvador Içá Solimões Subterrâneo - poços tubulares Solimões Jutaí Subterrâneo - poços tubulares Solimões Fonte Boa Subterrâneo - poços tubulares Solimões Subterrâneo - poços tubulares Solimões Alvarães Subterrâneo - poços tubulares Solimões Tefé Subterrâneo - poços tubulares Solimões Médio Misto (Superficial - rio Solimões e Solimões subterrâneo) Solimões Codajás Subterrâneo - poços tubulares Solimões Subterrâneo - poços tubulares Solimões Anamã Subterrâneo - poços tubulares Solimões Misto (Superficial - rio Miriti e subterrâneo) Solimões Subterrâneo - poços tubulares Amazonas Metropolitana da Várzea Superficial - rio Amazonas (Paraná do Careiro) Amazonas Itacoatiara Subterrâneo - poços tubulares Amazonas Itapiranga Subterrâneo - poços tubulares Baixo Amazonas Subterrâneo - poços tubulares Amazonas Amazonas Parintins Subterrâneo - poços tubulares

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Na cidade de Benjamin Constant, o manancial utilizado é o rio Javari cuja captação está localizada muito próxima a foz desse rio que deságua no rio Solimões. Nas análises realizadas em amostras coletadas no rio Solimões nas proximidades da cidade de Benjamin Constant obteve-se pH de 7,5, cor verdadeira de 40 uH (unidade Hazen), turbidez de 87,5 uT (unidade de turbidez), alcalinidade total de 46,0 mg/L CaCO3 (carbonato de cálcio), o que reforça a necessidade de tratamento de ciclo completo das águas desse manancial. O principal problema desse manancial e motivo de preocupação e reclamação da população da cidade, deve-se a disposição a céu aberto do lixo coletado e o do lançamento direto no rio Javari dos efluentes produzidos pela vila peruana de Islândia, uma localidade de várzea, sujeita a inundações periódicas, localizada a cerca de 1.500 m a montante da captação de água. A contaminação dos recursos hídricos pelo lançamento de esgoto doméstico não tratado tem como indicador a presença de microorganismos patogênicos - coliformes fecais. O lançamento de esgoto é responsável também pelo enriquecimento dos corpos d’água com nutrientes, como nitrogênio (N) e fósforo (P). A disposição inadequada de resíduos sólidos representa outra fonte de poluição hídrica, a qual pode ocorrer pela contaminação da água através do chorume. Muito embora, os rios Solimões e Javari possuam a capacidade de diluir consideravelmente os elementos poluentes e contaminantes, há necessidade de ampliar o monitoramento da qualidade da água para realmente verificar o grau de comprometimento desses mananciais. Segundo a Agência Nacional de Águas, os problemas de qualidade da água na região ocorrem principalmente nos rios de pequeno e médio porte, como os igarapés que atravessam áreas urbanas e recebem esgotos domestico sem tratamento. Nesses casos, os parâmetros oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio e coliformes termotolerantes são os mais importantes (ANA, 2013). Todavia, é indesejável que essas fontes de contaminação estejam localizadas próximas as captações dos mananciais que abastecem as cidades. Seguindo o fluxo do rio, a margem direita encontra-se a cidade de São Paulo de Olivença, que utiliza o igarapé do Ajaratuba como manancial. De acordo com o CPRM (2009), a água do igarapé é ácida apresentando um pH de 5,4; a turbidez normalmente é baixa com 4,2 NTU e a tonalidade escura desse manancial confere a cor um valor de 71 mgPt/l. Segundo o Projeto de Desenvolvimento Regional do Estado do Amazonas para Zona Franca Verde - PRODERAM (2009a), têm-se verificado a piora excessiva da qualidade de água bruta captada desse igarapé, durante a ocorrência de chuvas muito intensas. Outro fator potencialmente agravante da qualidade da água no local da captação refere-se à existência de uma área de lazer, imediatamente à jusante das instalações, o que tem motivado a utilização das águas desse manancial pelos usuários, inclusive à montante da captação.

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O rio Solimões foi selecionando como manancial no novo projeto de ampliação do sistema de abastecimento de água a ser implantado em São Paulo de Olivença, em substituição ao igarapé do Ajaratuba. Na sequencia vem Amaturá, a primeira cidade dessa região a utilizar o manancial subterrâneo. Existem sete poços com profundidade média de 50 m que atendem o sistema público de água. Segundo a CPRM (2009), o pH dos poços variou entre 5,6 e 6,6 e alguns poços apresentaram contaminação por coliformes; excesso de turbidez e valores acima do máximo permitido para os elementos ferro (Fe) e manganês (Mn), muito provavelmente de origem natural, já que o aquífero Içá, de onde provem a água subterrânea foi constatado a presença desses metais. O aquífero Içá localizado na porção central do estado é classificado como aquífero livre a semiconfinado. Suas águas são rasas, o que pode facilitar a contaminação, porém, é muito produtivo e explorado na região para abastecimento urbano, apesar, de ser diagnosticado em suas águas, teores de ferro e manganês acima do permitido pela legislação. Rio Solimões abaixo, encontra-se a cidade de Santo Antônio do Iça, cujo sistema de abastecimento de água utiliza o igarapé São Salvador como manancial, onde o pH gira em torno de 5,7; a turbidez de 13,3 NTU; a cor aparente de 18,7 mgPt/l. Apresenta ainda, baixas concentrações de metais como alumínio, ferro e manganês. As margens desse igarapé são florestadas e não há moradores a montante, o acesso ao sistema de captação é extremamente difícil, em função do seu trecho inicial ser bastante íngreme, não há cerca de proteção e o acesso é livre. As chuvas intensas que ocorrem na região alteram significativamente a qualidade da água bruta carreando sólidos (areia ou argila de cor clara) em grande quantidade o que impossibilita o tratamento da água captada nessas ocasiões. Segundo o PRODERAM (2009b), o projeto básico de engenharia para implantação, ampliação e melhorias do sistema de abastecimento de água de Santo Antônio do Iça prevê a mudança de manancial do igarapé São Salvador para o rio Solimões. A ANA (2010) reforça a necessidade de se adotar um novo manancial em função da baixa disponibilidade hídrica do atualmente utilizado. Fechando a região conhecida como Alto Solimões, listam-se os municípios de Tonantins, Jutaí e Fonte Boa, todos utilizam o manancial subterrâneo. Em Tonantins, o fornecimento público de água na zona urbana é realizado unicamente a partir de captação subterrânea por poços tubulares. As análises realizadas pela Funasa em amostras coletadas em quatro poços tubulares, identificou a presença de ferro em teores elevados em três deles, variando entre 1,16 e 19,95 mg/L, superiores aos 0,3 mg/L permitido pela legislação. De acordo com a CPRM (2009), diversos poços ficam paralisados por falta de recursos para manutenção nas bombas e para a aquisição de materiais, peças e equipamentos. Foram detectados ainda, possíveis fontes de contaminação, tais como fossas e tanques de combustível a menos de 30 m de sete poços utilizados como manancial de abastecimento público. O aquífero

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Içá normalmente produz águas em boa quantidade e qualidade, porém não está imune a contaminações antrópicas, principalmente quando os poços são mal construídos e mal localizados. Na cidade de Jutaí, as profundidades dos poços variam de 34 m a 60 m. Segundo a CPRM (2009), verifica-se que a primeira “camada” do solo da zona urbana, com até cerca de 6 m de profundidade, é muito argilosa e protege o lençol freático das contaminações, pois retém os resíduos orgânicos, provenientes da ausência de saneamento básico, que se infiltram no solo. Um bom exemplo disso vem de um poço que, apesar de estar situado a menos de 10 m de uma vala negra, possui águas isentas de contaminações. As principais alterações nos aspectos físico- químicos ocorrem na cor e turbidez de alguns poços, possivelmente devido às deficiências construtivas ou falta de operação e de manutenção adequada. Em Fonte Boa, os resultados laboratoriais comprovaram águas de boa qualidade físico-química para os sete poços públicos analisados, com parâmetros dentro dos limites dos padrões de potabilidade estabelecidos pela legislação vigente, exceto para os valores de turbidez obtidos em amostras de dois poços que estavam com valores acima do permitido, resultante do material particulado em suspensão. Na região do Médio Solimões, todas as sedes municipais correspondentes as cidades de Uarini, Alvarães, Tefé, Coari, Codajás, Anori e Anamã utilizam o manancial subterrâneo. A cidade de Uarini está assentada sobre os sedimentos arenosos da Formação Içá, que possuem boa porosidade e permeabilidade e que se constituem em bom aquífero. O sistema de abastecimento público de água conta com seis poços tubulares localizados em terrenos cercados, bem cuidados e apresentam boa proteção sanitária, com lajes de concreto. As águas desses poços apresentam bons indicadores físico-químicos, com valores de pH e condutividade elétrica que podem ser considerados normais para o aquífero Içá. Em Alvarães, treze poços com profundidades variando de 45 m a 68 m, integram o serviço público de água da cidade, sendo quatro de responsabilidade da Companhia de Saneamento do Amazonas (COSAMA) e nove da Prefeitura. Em Tefé existem mais de vinte e dois poços administrados pela Prefeitura e poucas informações construtivas existem sobre esses poços. As análises físico-químicas revelaram principalmente a presença de ferro em seis poços, com concentrações superiores as preconizadas pela legislação. Coari é a primeira cidade da calha do rio Solimões-Amazonas que utiliza no sistema público de abastecimento de água mananciais mistos (subterrâneo e superficial). O sistema com captação superficial é de responsabilidade da COSAMA e por captação subterrânea compete à autarquia municipal, Companhia de Água, Esgoto e Saneamento Básico de Coari (CAESC). O manancial de superfície é o rio Solimões, e nas imediações do local de captação verifica-se um intenso tráfego de embarcações como balsas e lanchas para transporte de pessoas e

ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 41 mercadorias; não há mata ciliar e ocorre o arraste de sedimentos argilosos nas proximidades do ponto de captação. O manancial subterrâneo é explorado através de mais de trinta e quatro poços tubulares, com profundidade variando entre 30 m e 70 m. Em Codajás, o principal aquífero explorado para captação de água é o Içá. No geral, este aquífero apresenta água de boa qualidade, desde que não sejam captadas de horizontes ricos em ferro e/ou manganês. Existem oito poços em funcionamento para abastecimento público na cidade, dos quais quatro apresentam elevados teores de ferro na água. Na cidade de Anori, a profundidade média dos poços existentes é de 50 m, atingindo apenas as camadas dos depósitos aluvionares e as camadas superiores da Formação Içá. Essa cidade desenvolveu-se sobre extensa área de várzea, às margens do Lago de Anori, onde ocorrem alagações que podem durar entre 4 e 6 meses no período da cheia. As águas subterrâneas nas áreas de várzea da região podem apresentar teores elevados de elementos como zinco (Zn), cobre (Cu), manganês (Mn), ferro (Fe) e Alumínio (Al), entre outros. Os municípios de Anori e Anamã sofreram com as grandes cheias ocorridas na região, onde poços públicos e particulares foram inundados pelas águas dos rios nos anos de 2012 e 2013 (AZEVEDO, 2013). Na região Metropolitana da capital Manaus, a cidade de Manacapuru utiliza o rio Miriti como manancial superficial contando com dois pontos de captação e o aquífero subterrâneo com vinte e nove poços tubulares com profundidades variando entre 110 m e 220 m. Ambos os mananciais sofrem pressões, uma vez que o rio Miriti é ameaçado pelo lançamento dos esgotos domésticos localizados no entorno das captações e do manancial subterrâneo, a super explotação vem causando rebaixamento do nível estático e a redução da vazão dos poços. Iranduba é a última cidade antes do rio Solimões encontrar o rio Negro e passar a se chamar rio Amazonas. Seu abastecimento público de água é realizado através doze poços tubulares com profundidades variando entre 80 m e 150 m, e que não são suficientes para atender as demandas geradas. A cidade já foi abastecida por manancial superficial, atualmente usa água subterrânea e projeta-se o retorno da utilização das águas superficiais com captação do rio Solimões. A partir de Manaus até Parintins, a cidade do Careiro da Várzea é a única que utiliza o manancial superficial de um braço do rio Amazonas. As cidades de Itacoatiara, Itapiranga, Urucurituba e Parintins utilizam o manancial subterrâneo do aqüífero Alter do Chão, através de poços tubulares. Itacoatiara e Parintins têm um longo histórico de utilização de água subterrânea quando foram construídos poços tipo amazonas para o abastecimento público a partir de 1947. O abastecimento da zona urbana de Urucurituba é realizado exclusivamente através da captação de água subterrânea por poços tubulares com profundidade média de 90 m, apresentam valores de condutividade elétrica em torno de 8,6 μS/cm a 55 μS/cm e pH entre 4,8 e 5,3, similares às

ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 42 consumidas pela população de Manaus, em especial da Zona Leste e Norte da capital, típica do aquífero Alter do Chão que tem água de boa qualidade e quantidade (CPRM, 2010). Parintins é a última cidade do estado banhada pelo rio Amazonas. Segundo a CPRM (2005), nessa cidade a maior parte dos poços de abastecimento público produzia águas com composição química que não atendia à legislação, destacando-se contaminação por nitrato (expresso como N) e alumínio (Al). As altas concentrações de nitrato deviam-se à baixa profundidade e deficiência construtivas dos poços, somados à ausência de um sistema de esgotamento sanitário. Para solucionar o problema, foram construídos poços mais profundos e sanitariamente melhores protegidos. Os poços problemáticos foram desativados e lacrados.

CONCLUSÃO

Apesar da elevada disponibilidade hídrica superficial proporcionada pelos rios da região, a grande maioria das sedes municipais do estado do Amazonas localizados na calha do rio Solimões- Amazonas, utiliza como fonte de suprimento público de água o manancial subterrâneo. O rio Solimões-Amazonas é utilizado como fonte de suprimento público de água em apenas três sedes municipais, Tabatinga, Coari e Careiro da Várzea. Cidades como Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Iça e Manacapuru utilizam mananciais superficiais de afluentes ou subafluentes desse rio. Entretanto, Coari e Manacapuru também fazem uso do manancial subterrâneo conjuntamente com o superficial. Em princípio, esse rio poderia ser utilizado como manancial em todas as cidades pelas quais margeia, muito embora haja problemas de poluição pontual nas cidades fronteiriças com a Colômbia e Peru. Os mananciais subterrâneos dos aquíferos Iça e Alter do Chão são os mais explorados ao longo da calha do rio Solimões-Amazonas, pois apresentam bons índices de produtividade em diversas áreas; facilidade de exploração; baixo custo de operação e manutenção do abastecimento por poços tubulares. Ao todo,nesse trecho, quinze municípios utilizam exclusivamente o manancial subterrâneo. Muito se discute que o mais interessante para a região seria a utilização do manancial superficial nos sistemas públicos de água e deixar as águas subterrâneas como uma reserva estratégica para o futuro. Por sua vez, o manancial subterrâneo já é bastante utilizado na região, pois, praticamente, suas águas não requerem tratamento completo e sim uma simples desinfecção. Entretanto, a construção indiscriminada de poços, a falta de operação e manutenção adequada, cada vez mais vem comprometendo a qualidade das águas desse manancial e consequentemente da água distribuída a população.

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REFERÊNCIAS

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