Deslocamentos Intra-Urbanos Nas Cidades De Itacoatiara E Parintins/Amazonas
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DESLOCAMENTOS INTRA-URBANOS NAS CIDADES DE ITACOATIARA E PARINTINS/AMAZONAS Aline Damaceno Leite Universidade Federal do Rio de Janeiro Programa de Engenharia de Transportes Ellen Anjos Camilo Universidade Federal do Amazonas Programa de Pós-Graduação em Geografia Tatiana Schor Universidade Federal do Amazonas Departamento de Geografia Moisés Augusto Tavares Pinto Universidade Federal do Amazonas Centro de Ciências do Ambiente RESUMO Em Itacoatiara e Parintins, cidades do Amazonas, a necessidade de maior deslocamento implica numa diversificação dos modos de transporte utilizados o que por sua vez re-estruturam o transporte intra-urbano. A acessibilidade à capital do Estado do Amazonas e ao interior dos municípios é feita predominantemente através do transporte fluvial. Tem-se como objetivo principal deste artigo compreender e analisar como os diferentes modais e modos de transporte influenciam e caracterizam a mobilidade urbana da população nos deslocamentos diários. Como metodologia utilizou-se a coleta de dados primários com a pesquisa in loco ; coleta de dados secundários em bancos de dados nacionais, estaduais e municipais. Percebeu-se uma diferença importante entre as duas cidades, tanto em termos de formas de deslocamento quanto em termos de regulamentos e planejamento urbano. Conclui-se que a realidade urbana no Amazonas é diversa e por isso requer analises específicas para que o planejamento urbano possa condizer com a realidade. ABSTRACT In Itacoatiara and Parintins, Amazonas cities, the need for greater displacement implies a diversification of modes of transport which in turn re-structure the intra-urban transport. The accessibility to the Capital of Amazonas and the interior of the municipalities is done predominantly through river transport. The main objective of this article is to analyze and understand how the processes of urban expansion influence the daily movements of resident populations of these cities. The methodology used was based on primary data collected in loco and secondary data systematized in national, state and municipal databases. It was noticed an important difference between the two cities, both in terms of forms of displacement and in terms of regulations and urban planning. We conclude that the urban reality in the Amazon is diverse and therefore requires specific analysis so that urban planning can match reality. 1. INTRODUÇÃO O ciclo da borracha, conforme definiu Celso Furtado no seu clássico estudo Formação Econômica do Brasil (primeira edição de 1956), estabeleceu as bases urbanas da cidade de Manaus e de algumas cidades do interior do estado do Amazonas e a crise manteve estas cidades na sombra do desenvolvimento do seu tempo. Com o reconhecimento da importância geopolítica da cidade de Manaus na manutenção do território na Amazônia Ocidental o Governo Federal em 1957 institui a Zona Franca de Manaus que deveria naquele período funcionar como entreposto comercial (Fonseca, 1982:75). Com o intuito de desenvolver a região em 1967 a Zona Franca foi modificada e instituída a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) com o objetivo de transformar a Zona Franca em um centro industrial (Fonseca, 1982:75). Essa transformação gerou na região e em Manaus mudanças socioespaciais significativas que se perpetuam até hoje. Manaus é o centro dinâmico da Amazônia Ocidental, com o maior contingente populacional e com o Produto Interno Bruto (PIB) municipal ultrapassando o das principais capitais do Brasil (Oliveira e Schor, 2008, 2009 e 2010). A SUFRAMA vem atuando no desenvolvimento econômico da região desde 1967 e tem mostrado uma importante capacidade de se adaptar às mudanças no contexto econômico mundial. Esta capacidade reflete-se, em especial a partir do final dos anos 1990's e intensificando-se a partir de 2000, nos projetos de novas áreas industriais configurando o Pólo Industrial de Manaus (PIM) e no projeto de Interiorização do Desenvolvimento da Amazônia (AMOC). A consolidação do PIM significa, pelo menos em princípio, na criação e consolidação do AMOC que estaria lastreado em tecnologia de ponta e agregação de valor na cadeia produtiva de produtos extrativistas viabilizando a inserção de diversas localidades e cidades no crescimento econômico levado a cabo pelo PIM. Neste contexto, o Programa de Interiorização do Desenvolvimento da Amazônia, o AMOC, tem como objetivo “apoiar a interiorização do desenvolvimento econômico e social da Amazônia Ocidental (...)” (Relatório de Gestão SUFRAMA, 2007) tendo como fonte de financiamento os recursos gerados pelo PIM. A partir da abertura política de mercado do Governo Federal na década de 90 o modelo de desenvolvimento baseado na Zona Franca de Manaus ganhou uma nova dinâmica que podemos caracterizá-la como Pólo Industrial de Manaus. Esta dinâmica se consolidou a partir de 2003 com a prorrogação dos incentivos fiscais até o ano de 2023, depois no ano de 2011 prorrogada por mais 50 anos. Neste contexto a SUFRAMA estabeleceu novas linhas estratégicas que visam um impacto maior no desenvolvimento da região da Amazônia Ocidental, diferenciando o período da Zona Franca do atual Pólo Industrial. Este fato pode ser objetivamente considerado a partir do Objetivo XIV do Planejamento Estratégico da SUFRAMA: “Aprimorar o processo de interiorização dos efeitos do modelo Zona Franca de Manaus” (Relatório de Gestão SUFRAMA, 2007:13). Para tal pretende “fomentar a produção no interior da região, com agregação de valores através de indústrias vinculadas que aumente a produção, a atividade econômica e renda regional.” Nesta perspectiva considera-se uma mudança significativa entre o período anterior a 2003 que chamaremos de Zona Franca de Manaus, para o período posterior que denominamos de período Pólo Industrial de Manaus. O forte vinculo do discurso da sustentabilidade, econômica, ecológica e social, nas políticas que ordenam o PIM, permite em um primeiro momento que tenhamos com hipótese de análise que a consolidação do Pólo Industrial de Manaus, em especial do Programa de Interiorização do Desenvolvimento da Amazônia, afetará o crescimento urbano das cidades no Amazonas. Para analisar a hipótese é necessário tecer alguns comentários acerca das cidades e da rede urbana no Amazonas. Claramente as cidades ao longo do rio Amazonas dispõem de um maior número de serviços e infraestrutura quando comparadas com as localizadas no rio Solimões. Manaus estava estagnada desde a segunda década do século XX e começou a enfrentar sobressaltos com as inovações ocasionadas a partir da criação da zona franca. As mudanças não afetaram apenas a paisagem da cidade, mas, principalmente o, o modo de vida das pessoas que estava baseada no extrativismo e que passa a ser influenciado por uma nova forma de produção articulada a mundialização da economia (OLIVEIRA E SCHOR, 2010). As características naturais da Amazônia influenciam diretamente nos contrastes socioeconômicos, que permeiam a estruturação da rede urbana, seja ela em qualquer unidade federativa que compõe a região. É visível a existência de um contraste urbano que perpetua na estruturação da rede, este contraste é em função da articulação interna e aproximação com o centro difusor do estado, a capital Manaus (RODRIGUES E SCHOR, 2011). A principal razão para esta diferença é o fato de que a rede urbana ao longo do Amazonas está conectada tanto com Santarém quanto com Belém recebendo influência direta destas e estão localizadas no trajeto do fluxo de mercadorias e pessoas entre as duas metrópoles regionais, Belém e Manaus. Além desta conexão, existe também a rede de transporte de mercadorias e pessoas que vem de Porto Velho pelo rio Madeira desembocando em Itacoatiara. A re- pavimentação da BR319 deverá modificar ainda mais este quadro, fortalecendo determinados aspectos da rede urbana na calha do Amazonas no estado do Amazonas. O argumento que se estabelece neste artigo é que devido à localidade e posicionamento na rede urbana do Estado do Amazonas as cidades de Itacoatiara e Parintins deverão sofrer transformações físicas e econômicas decorrentes da consolidação do Pólo Industrial de Manaus. Para isso consideraremos alguns aspectos históricos, demográficos, econômicos e culturais em ambas as cidades visando identificar quais seriam os possíveis impactos do PIM nelas e, por conseguinte na rede urbana no Amazonas. Neste sentido, o presente trabalho parte-se da premissa que o aumento da população e a conseqüente ampliação do espaço urbano implicam no aumento dos deslocamentos na cidade. A necessidade de maior deslocamento tanto em termos de distância quanto de quantidade inviabiliza o andar como modo de transporte, e, portanto implica em uma diversificação dos modos de transporte utilizados o que por sua vez re-estrutura o transporte intra-urbano especialmente nas cidades da Amazônia que apresentam modos tão peculiares e únicos de lidar com a dinâmica espacial urbana. O crescimento populacional em ambas as cidades exemplifica o fato descrito acima. A tabela (01) mostra a evolução da população das duas cidades em questão juntamente com os dados da capital do Amazonas. Tabela 01. Evolução da população das Cidades de Manaus, Itacoatiara e Parintins. CIDADES 1970 1980 1991 2000 2010 Urbana 283.673 611.843 1.006.585 1.396.768 1.792.881 Manaus Rural 27.949 21.540 4.916 9.067 9.133 Total 311.622 633.383 1.011.510 1.045.835 1.802.014 Urbana 16,746 29.504 41.591 58.125 69.890 Parintins Rural 21,340 21.877 17.192 32.025 32.143 Total 38,086 51,381 58.783 90.150 102.033 Urbana 16.084 26.996 37.380 46.465 58.1557 Itacoatiara Rural 21.262 21.262 21.377 25.640 28.682 Total 37.346 52.882 58.757 72.105 86.839 Fonte: Dados do IBGE, Censos 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010. Ao mostrar a tabela acima, o objetivo foi evidenciar como a implantação do Pólo Industrial de Manaus (PIM), apesar de concentrador de população, colaborou para o crescimento populacional das cidades próximas a Manaus, visto que a influência exercida pela cidade de Manaus sobre a região não pode ser simplesmente tratada como pólo de atração, pois no decorrer das décadas as cidades no baixo Amazonas tem tornado-se também pólo de atração populacional.