MANANCIAIS DE ABASTECIMENTO PÚBLICO DOS MUNICÍPIOS DA CALHA DO RIO SOLIMÕES-AMAZONAS: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS Rainier Pedraça de Azevedo(1) Engenheiro Civil graduado pela Universidade Federal do Amazonas - UFAM, Especialista em Engenharia de Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da FIOCRUZ e Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pelo Centro de Ciências do Ambiente da UFAM, Servidor da FUNASA, Superintendência Estadual do Amazonas. Endereço(1): Rua Oswaldo Cruz, 51 - Glória - Manaus - AM - CEP: 69027-000 - Brasil - Tel: +55 (92) 3301-4134 - e-mail: [email protected] RESUMO A calha do rio Solimões-Amazonas percorre todo o Estado do Amazonas no sentido oeste-leste e, ao longo desse trajeto, suas águas e dos mananciais subterrâneos são utilizadas no abastecimento público das sedes dos municípios margeados por esse rio. Este trabalho descreve as principais características desses mananciais nos quais 68,2% são subterrâneos, 22,7% superficiais e 9,1% mistos, ou seja, superficiais e subterrâneos. O estudo identificou problemas de poluição pontual nos mananciais superficiais usados nas cidades fronteiriças com a Colômbia e Peru, e que a construção indiscriminada de poços, a falta de operação e manutenção adequada, está comprometendo a qualidade das águas do manancial subterrâneo. Palavras-chave: Mananciais, sistema de abastecimento de água, rio Solimões-Amazonas. INTRODUÇÃO Mananciais são reservas hídricas ou fontes que podem ser utilizadas no abastecimento de água. De maneira geral, quanto à origem, podem ser classificados em manancial superficial e subterrâneo. Segundo Richter e Azevedo Netto (1991), a decisão mais importante para um projeto de abastecimento de água é a definição do manancial a ser utilizado como fonte de suprimento. Sempre que houver duas ou mais fontes possíveis, a sua seleção deve se apoiar em estudos amplos, que não se restrinjam exclusivamente a aspectos econômico-financeiros. A qualidade da ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 35 água, as tendências futuras relativas à sua preservação e as condições de segurança devem, também, ser pesadas. No estado do Amazonas, tanto o manancial superficial como o subterrâneo são utilizados no abastecimento público de água e, muitos são ou estão inadequados para essas finalidades. Assim, este trabalho identifica e descreve as principais características dos mananciais utilizados para o abastecimento público de água nas sedes dos municípios margeados pela calha do rio Solimões-Amazonas nesse estado da Federação. MATERIAL E MÉTODOS O complexo formado pelo rio Solimões-Amazonas corta todo o Estado do Amazonas no sentido oeste-leste. Ao entrar no país vindo do Peru recebe o nome de rio Solimões, quando encontra com o rio Negro em Manaus passa a ser denominado de rio Amazonas, nomenclatura essa que permanece até desembocar no oceano Atlântico. Suas águas são predominantemente ”barrentas” e ricas em sedimentos em suspensão provenientes da região Andina. Este trabalho sintetiza as informações levantadas pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e outras instituições no período de 2006 a 2016, sobre a caracterização dos mananciais utilizados nos serviços públicos de água das cidades localizadas ao longo da calha do rio Solimões- Amazonas, especificamente no estado do Amazonas. Essas informações, foram complementadas com visitas técnicas e por pesquisa bibliográfica disponível sobre o assunto, onde foram consultados: planos municipais de saneamento básico, projetos de sistemas de abastecimento de água, relatórios técnicos, livros, revistas especializadas e demais literaturas com conteúdos pertinentes ao objeto do estudo. Nas descrições dos mananciais usados pelas sedes municipais no abastecimento público de água, seguiu-se o fluxo desse rio iniciando pela cidade de Tabatinga, situada na fronteira com a Colômbia e Peru, finalizando na cidade de Parintins, divisa com o estado do Pará. Considerou-se todas as 22 sedes municipais banhadas pelo rio que se encontravam numa distância média de até 10 km da sua margem e não foi considerada a cidade de Manaus capital do estado do Amazonas, situada a margem esquerda do rio Negro. A Figura 1 apresenta as sedes municipais banhadas ou nas proximidades do rio Solimões- Amazonas. ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 36 Figura 1 - Sede dos municípios margeados ou próximos ao rio Solimões-Amazonas RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os levantamentos realizados, os mananciais utilizados nas sedes municipais correspondem ao disposto na Tabela 1. Verifica-se que 68,2% dos mananciais são subterrâneos, seguidos por superficiais em 22,7% e mistos (superficiais e subterrâneos) com 9,1%. Entretanto, apenas três cidades (13,6%) utilizam águas do rio Solimões-Amazonas para abastecimento público. A primeira cidade do Amazonas banhada pelo rio Solimões é Tabatinga, localizada a margem esquerda desse rio na tríplice fronteira formada pelos países Brasil, Colômbia e Peru. Um importante estudo sobre a hidroquímica do rio Solimões-Amazonas foi realizado por Santos e Ribeiro (1988) em 11 trechos desse rio e em 31 de seus afluentes e subafluentes. Na amostragem tomada em frente à cidade de Tabatinga observou-se o pH de 7,20, condutibilidade elétrica de 132,30 μS/cm, a predominância de cloretos (expresso na forma de Cl) com 4,92 mg/L, ferro (Fe) com 4,06 mg/L e manganês (Mn) com 0,19 mg/L. ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 37 O sistema de abastecimento de água (SAA) de Tabatinga utiliza o rio Solimões como manancial, cujo ponto de captação situa-se aproximadamente 1.000 m a jusante da foz de dois igarapés que recebem lançamentos indevidos de efluentes domésticos da cidade, e cerca 2.000 m de um dos pontos de lançamento de esgoto não tratado produzido pela cidade de Leticia, na Colômbia. Tabela 1 - Resumo dos mananciais utilizados nas sedes municipais Rio Região Sede municipal Tipo e nome do manancial principal Solimões Tabatinga Superficial - rio Solimões Solimões Benjamin Constant Superficial - rio Javari Solimões São Paulo de Superficial - Igarapé do Ajaratuba Olivença Solimões Alto Amaturá Subterrâneo - poços tubulares Solimões Solimões Santo Antônio do Superficial - Igarapé São Salvador Içá Solimões Tonantins Subterrâneo - poços tubulares Solimões Jutaí Subterrâneo - poços tubulares Solimões Fonte Boa Subterrâneo - poços tubulares Solimões Uarini Subterrâneo - poços tubulares Solimões Alvarães Subterrâneo - poços tubulares Solimões Tefé Subterrâneo - poços tubulares Solimões Médio Coari Misto (Superficial - rio Solimões e Solimões subterrâneo) Solimões Codajás Subterrâneo - poços tubulares Solimões Anori Subterrâneo - poços tubulares Solimões Anamã Subterrâneo - poços tubulares Solimões Manacapuru Misto (Superficial - rio Miriti e subterrâneo) Solimões Iranduba Subterrâneo - poços tubulares Amazonas Metropolitana Careiro da Várzea Superficial - rio Amazonas (Paraná do Careiro) Amazonas Itacoatiara Subterrâneo - poços tubulares Amazonas Itapiranga Subterrâneo - poços tubulares Baixo Amazonas Urucurituba Subterrâneo - poços tubulares Amazonas Amazonas Parintins Subterrâneo - poços tubulares ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 38 Na cidade de Benjamin Constant, o manancial utilizado é o rio Javari cuja captação está localizada muito próxima a foz desse rio que deságua no rio Solimões. Nas análises realizadas em amostras coletadas no rio Solimões nas proximidades da cidade de Benjamin Constant obteve-se pH de 7,5, cor verdadeira de 40 uH (unidade Hazen), turbidez de 87,5 uT (unidade de turbidez), alcalinidade total de 46,0 mg/L CaCO3 (carbonato de cálcio), o que reforça a necessidade de tratamento de ciclo completo das águas desse manancial. O principal problema desse manancial e motivo de preocupação e reclamação da população da cidade, deve-se a disposição a céu aberto do lixo coletado e o do lançamento direto no rio Javari dos efluentes produzidos pela vila peruana de Islândia, uma localidade de várzea, sujeita a inundações periódicas, localizada a cerca de 1.500 m a montante da captação de água. A contaminação dos recursos hídricos pelo lançamento de esgoto doméstico não tratado tem como indicador a presença de microorganismos patogênicos - coliformes fecais. O lançamento de esgoto é responsável também pelo enriquecimento dos corpos d’água com nutrientes, como nitrogênio (N) e fósforo (P). A disposição inadequada de resíduos sólidos representa outra fonte de poluição hídrica, a qual pode ocorrer pela contaminação da água através do chorume. Muito embora, os rios Solimões e Javari possuam a capacidade de diluir consideravelmente os elementos poluentes e contaminantes, há necessidade de ampliar o monitoramento da qualidade da água para realmente verificar o grau de comprometimento desses mananciais. Segundo a Agência Nacional de Águas, os problemas de qualidade da água na região ocorrem principalmente nos rios de pequeno e médio porte, como os igarapés que atravessam áreas urbanas e recebem esgotos domestico sem tratamento. Nesses casos, os parâmetros oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio e coliformes termotolerantes são os mais importantes (ANA, 2013). Todavia, é indesejável que essas fontes de contaminação estejam localizadas próximas as captações dos mananciais que abastecem as cidades. Seguindo o fluxo do rio, a margem direita encontra-se a cidade de São Paulo de Olivença, que utiliza o igarapé do Ajaratuba como manancial. De acordo com o CPRM (2009), a água do igarapé
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