A Língua Portuguesa Em La Codosera
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Anuario de Estudios Filológicos, ISSN 0210-8178, vol. XXVII, 13-21 «CÁ NO ALENTEJO»: A LÍNGUA PORTUGUESA EM LA CODOSERA Juan M. Carrasco González Universidad de Extremadura Resumen En este trabajo se exponen brevemente, para el caso concreto de La Codosera, los resultados de un proyecto de investigación. Se trata del proyecto Estudio Lingüístico e Histórico de las Hablas Fronterizas de Extremadura desarrollado entre los años 1997 y 1999, y financiado por la Junta de Extremadura y el Fondo Social Europeo (nº de registro PRI97E060). Se pueden destacar, como aportaciones más relevantes, la localización de localidades de habla portuguesa antes desconocidas, el estudio de su origen y su descrip- ción sociolingüística. Palabras clave: Dialectología, lengua portuguesa, frontera lingüística. Abstract This paper briefly discusses results in the light of a research project carried out on La Codosera’s dialect. This work, entitled Linguistic and Historic Study of Frontier Language (funded by the Regional Government of Extremadura and the European Social Funds [nº PRI97E060]), chiefly contributes to unveiling Portuguese speaking sites are unknown, their origins and socio-linguistic description. Keywords: Dialectology, Portuguese language, linguistic frontier. Esclarecimento Num inquérito que realizei em La Tojera há poucos anos, recebi a espon- tânea resposta de que «Cá no Alentejo, ao pára-chuva chamamos sombrinha». Escolhi para título esta resposta porque me pareceu exemplo ilustrativo da realidade sociolinguística que encontramos nas aldeias fronteiriças de La Co- dosera. Os habitantes destas aldeias vivem na Extremadura espanhola como se vivessem em Portugal. Aliás, quase todos nasceram em Portugal e ainda conservam o passaporte português. Note-se que, no caso da informante de 14 Juan M. Carrasco González «Cá no Alentejo»: a língua portuguesa em La Codosera que obtive a tal resposta, ela tinha nascido em Espanha, muito perto de La Tojera, no casario de Monteviejo (ali conhecido como Monte Velho) —mas também ela, como todos os habitantes daquelas aldeias, é da sociedade alen- tejana do que se sentiam partícipes. Falares fronteiriços Nos últimos anos temos realizado trabalhos de pesquisa na Extremadura espanhola com o intuito de estabelecer a fronteira linguística entre espanhol e português nesta região1. No caso da Província de Cáceres, são conhecidas desde inícios do século xx duas zonas onde a língua portuguesa penetrava em Espanha: ao Norte, no vale de Xalma2 (concelhos de Valverde del Fresno, Eljas e San Martín de Trevejo), e à altura do rio Tejo (concelhos de Herrera de Alcántara e Cedillo). Muitos dos grandes dialectólogos espanhóis e portugueses estudaram os falares do vale de Xalma já nas primeiras décadas do século (Leite de Vas- concelos, Federico de Onís, Aurelio M. Espinosa hijo, etc.), muito embora os estudos definitivos sejam mais recentes: o de Lindley Cintra quanto à origem histórica dos falares e o de Clarinda Maia quanto à descrição linguística e dialectal3. Nos últimos anos, porém, houve um renovado interesse por estes falares, com vários congressos pelo menos em parte a eles dedicados4, e com 1 Especialmente para os falares de La Codosera, os trabalhos foram realizados no quadro do Projecto de Investigação, por mim dirigido, Estudio Lingüístico e Histórico de las Hablas Fronterizas de Extremadura. Foi financiado pela Junta de Extremadura e o Fundo Social Europeu (número de registo PRI97E060) e desenvolvido nos anos de 1997 a 1999. 2 ‘Xalma’ em português, ‘Jálama’ em castelhano ou ‘Xálima / Sálima’ para os seus falantes… De facto, nunca existiu um topónimo comum para os três lugares, como também não existiu nunca uma denomição comum para a língua ou dialecto da zona —cada localidade tem a sua: ‘valverdeiru’ para o falar de Valverde del Fresno, ‘lagarteiru’ para o de Eljas e ‘mañegu’ para o de San Martín de Trevejo. Quanto a este problema, cf. José Enrique Gargallo Gil, Las hablas de San Martín de Trevejo, Eljas y Valverde del Fresno. Trilogía de los tres lugares, Mérida, Editora Regional de Extremadura, 1999, págs. 44-51. 3 Vid. Luís F. Lindley Cintra, A linguagem dos Foros de Castelo Rodrigo. Seu confronto com a dos Foros de Alfaiates, Castelo Bom, Castelo Melhor, Coria, Cáceres e Usagre. Contribuição para o estudo do leonês e do galego-português do séc. XIII, Lisboa [Publicações do Centro de Estudos Filológicos], 1959; Clarinda de Azevedo Maia, Os falares fronteiriços do concelho do Sabugal e da vizinha região de Xalma e Alamedilha, Coimbra, Suplemento iv da Revista Portuguesa de Filologia, 1977. 4 Entre outras, cf. Juan M. Carrasco González y Antonio Viudas Camarasa (eds.), Actas del Congreso Internacional Luso-Español de Lengua y Cultura en la Frontera (Cáceres, 1 al 3 de diciembre de 1994), 2 vols., Cáceres, Universidad de Extremadura, 1996; Antonio Salvador Plans, María Dolores García Oliva y Juan M. Carrasco González (coords.), Actas del I Congreso sobre «a Fala» (20 y 21 de mayo de 1999, Eljas-San Martín de Trevejo-Valverde del Fresno), Mérida, Gabinete de Iniciativas Transfronterizas y Editora Regional de Extremadura de la Junta de Extremadura, 2000; Juan M. Carrasco González, Mª Jesús Fernández García y M. Luísa Trindade Madeira Leal (eds.), Actas del Congreso Internacional de Historia y Cultura en la Frontera-1er. Encuentro de AEF, vol. XXVII, 2004, 13-21 «Cá no Alentejo»: a língua portuguesa em La Codosera Juan M. Carrasco González 15 muitos especialistas a trabalhar em novos aspectos, nomeadamente a ‘filiação’, isto é, a relação destes falares com o português, o leonês ocidental e o galego moderno (é o caso de Antonio Viudas Camarasa e Xosé Henrique Costas González), e diferentes problemas sociolinguísticos, desde o uso e sobrevi- vência por grupos etários até à ‘normalização’ e ‘normativização’ linguísticas (José Enrique Gargallo Gil ou, por exemplo, a Associação «Alén do Val» de investigação linguística e cultural)5. Os falares de Xalma apresentam uma situação muito diferente dos outros falares fronteiriços por vários motivos. Em primeiro lugar, porque, sendo fronteiriços, não são de origem portuguesa, nem podem ser considerados em rigor dialectos portugueses. Em segundo lugar, porque são ainda de uso vulgar entre a população a todos os níveis etários, e não parecem estar em vias de extinção. Em terceiro lugar, porque estão a usufruir de um grande reconhecimento social e político, o que é consequência deste renovado interesse que desperta nos ambientes científicos e culturais. Desta maneira, as instituições administrativas já começaram a agir para a preservação destes falares que, por outro lado, estão a oferecer os primeiros testemunhos de criação literária6. A segunda zona de falares fronteiriços de Cáceres, neste caso estritamente portugueses, foi objecto de um completíssimo estudo monográfico por parte Lusitanistas Españoles (Cáceres, 10, 11 y 12 de noviembre de 1999), 2 tomos, Cáceres, Universidad de Extremadura, 2000. 5 Alguns dos trabalhos mais significativos ou mais recentes destes autores são: Antonio Viu- das Camarasa, «Un habla de transición: el dialecto de San Martín de Trevejo», Lletres Asturianes, iv (1982), págs. 55-71; Xosé Henrique Costas González: «Valverdeiro, lagarteiro e mañego: o ‘galego’ do Val do Río Ellas (Cáceres)» em Francisco Fernández Rei e Antón Santamarina Fernández (eds.), Estudios de Sociolingüística Románica. Linguas e variedades minorizadas, Santiago de Compostela, Universidade de Santiago de Compostela, 1999, págs. 83-106; José Enrique Gargallo Gil, op. cit.; Asunción Sóñora Abuín et alii, «Aproximación sociolingüística ó Val do Ríu Ellas (Cáceres): estudio dos usos e actitudes lingüísticas» em Actas del Congreso Internacional Luso-Español…, op. cit., i, págs. 407-414. 6 O Governo Autónomo da Extremadura reconheceu a necessidade de protecção e pro- moção destes falares no Decreto 45/2001, de 20 de Março, da Consejería de Cultura «por el que se declara Bien de Interés Cultural la “A Fala”» [sic] (doe de 27 de Março de 2001). Este Decreto, porém, não incluía medidas de normativização e de introdução na escola, o que faz com que a situação do dialecto continue exactamente igual nas aldeias onde se fala. Quanto às primeiras publicações, devemos referir em primeiro lugar Isabel López Lajas, Seis sainetes valverdeiros, edición e notas de Henrique Costas (Asociación Alén do Val) [San- tiago de Compostela], Edicións Positivas, 1998. Outras obras: F. Severino López Fernán- dez, Arreidis. Palabras y ditus lagarteirus, Mérida, Editora Regional de Extremadura-Gabinete de Iniciativas Transfronterizas (Junta de Extremadura), 1999; Domingo Frades Gaspar, Vamus a falal. Notas pâ coñocel y platical en nosa fala, 2ª edición revisada y ampliada, Mérida, Editora Regional de Extremadura-Gabinete de Iniciativas Transfronterizas (Junta de Extremadura), 2000. AEF, vol. XXVII, 2004, 13-21 16 Juan M. Carrasco González «Cá no Alentejo»: a língua portuguesa em La Codosera de Maria da Conceição Vilhena7. As duas localidades onde se fala português, apesar da proximidade e continuidade, possuem traços muito diferentes: português arcaico com grande influência moderna de castelhano no caso de Herrera e português moderno de tipo beirão, o mesmo português que se fala no outro lado da fronteira, no caso de Cedillo. Em qualquer caso, ainda que apareçam sem distinção relativamente aos dialectos portugueses ou entre eles, os falares fronteiriços destas duas zonas da Província de Cáceres foram recolhidos sistematicamente por atlas linguísticos e grandes monografias dialectais de âmbito português,