PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 338 • ANO XXX JANEIRO 2001 • MENSAL • 250$00

Jornadas do Mar-2000 Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas

Quadro dos Navios de Guerra (Q. N. G.) O Q.N.G. foi, desde 1932, o local privativo de amarração a bóias dos navios de guerra no Porto de Lisboa. Situado no Mar da Palha, entre a Doca do Jardim do Tabaco e o cais da Estação Fluvial do Sul e Sueste, é composto, a partir de 1952, por 8 bóias de amarração fundeadas. A partir de 1979 deixaram de existir as referidas bóias e o local veio a constituir o fundeadouro E 3, também privativo dos navios da Armada, assinalado na Carta Náutica Oficial n.º 26305 (Porto de Lisboa – Alcântara - Cala do Montijo). Em cima: Em primeiro plano as fragatas: “Diogo Cão” (F333) e “Diogo Gomes” (F331). Em baixo: Identificam-se de jusante para montante as seguintes fragatas: “Diogo Gomes” (F331), “Corte Real” (F334), “D. Fernando II e Glória” e “Nuno Tristão” (F332). (Fotos cedidas por João Barros Maia) (2TEN RN – 2º CFORN/1959) SUMÁRIO Publicação Oficial da Marinha Periodicidade mensal Nº 338• Ano XXX Janeiro 2001 Marinha. O que o Futuro nos Propõe. Director Antevisão das futuras CALM EMQ RES capacidades da Marinha Luís Augusto Roque Martins Portuguesa. Chefe de Redacção CFR REF Jorge Manuel Patrício Gorjão Redacção 5 2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito Secretário de Redacção 1SARG T Vitor Manuel Gaspar Lopes Colaboradores Permanentes CMG REF Raúl de Sousa Machado CTEN FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos CTEN Abel Ivo de Melo e Sousa 1TEN REF Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves A Companhia de Fuzileiros nº 23, integrada no novo Administração, Redacção e Publicidade contingente Militar Português em Edifício da Administração Timor, desenvolve operações de Central de Marinha manutenção de paz. Revista da Armada Rua do Arsenal 1149-001 Lisboa - Portugal Telef: 21 321 76 50 12 Fax: 21 347 36 24 Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt e-mail da Revista da Armada [email protected] Fotocomposição, As “Jornadas do Mar 2000”, paginação electrónica, fotolito, realizadas na Escola Naval, montagem e produção evocaram o 5º Centenário da Página Ímpar, Lda. Descoberta do Brasil. Estrada de Benfica, 317 - 1º F 1500-074 Lisboa Tiragem média mensal: 6000 exemplares 18 Preço de venda avulso: 250$00 FOTOGRAFIAS ANTIGAS, INÉDITAS OU CURIOSAS 2 Registada na DGI em 6/4/73 com o nº 44/23 PONTO AO MEIO DIA 4 PARTICIPAÇÃO DO N.R.P. “D. CARLOS I” NA MISSÃO INTIFANTE 2000” 8 Depósito Legal nº 55737/92 DESENHAR UM SIMULADOR! TUDO É QUESTÃO DE QUERER… 10 ISSN 0870-9343 A MARINHA E AS “MILITARY OPERATIONS OTHER THEN WAR” 14 A MARINHA DE D. MANUEL (10) 15

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 338 • ANO XXX JANEIRO 2001 • MENSAL • 250$00 CARTA DO CEMA 16 ACADEMIA DE MARINHA 17 CONDECORAÇÕES 20 TOMADAS DE POSSE 21 INSTITUTO SUPERIOR NAVAL DE GUERRA 24 NOTÍCIAS 25 CONVÍVIOS 27 DESPORTO 29 HISTÓRIAS DA BOTICA (4) 30 Jornadas do Mar-2000 Poster Jornadas do Mar 2000 SAIBAM TODOS 31

ANUNCIANTES: QUARTO DE FOLGA 33 Galp; Telerus - Sistemas de Telecomunicações S.A. NOTÍCIAS PESSOAIS 34 PATRIMÓNIO CULTURAL DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 3 PONTO AO MEIO-DIA Ética Militar Os imperativos da obediência

obediência é uma virtude mili- O imperativo técnico da obediência Como aproximação aos imperativos tar suprema, essencial ao assumiu especial relevância desde que legais da obediência, pode referir-se A cumprimento pronto e efi- as tecnologias de telecomunicações que os militares só devem acatar ciente das ordens legais dos legítimos permitiram a intervenção, permanen- ordens que impliquem actos legais, superiores hierárquicos. Todavia, para temente e em tempo real, do decisor emanados de autoridades legiti- permitir desempenhos de carácter político no campo de batalha. Nem mamente instituídas. Nem sempre é nacional, deve ser fundada num ideal sempre o político resiste à tentação de fácil ou possível actuar desta forma. de competência profissional, materia- invadir a esfera de competência técni- Primeiro, porque há acções que, sendo lizado nas tradições e no espírito de ca do militar, querendo dirigir as legais à luz do direito interno, quando serviço público, factores unificadores operações e, até, por vezes, as acções praticadas no estrangeiro perdem esse e motivadores das Forças Armadas. tácticas elementares. Tal atitude repre- carácter; outras vezes, as acções estão Por isso, a obediência não pode senta uma violação e uma adulteração feridas de inconstitucionalidade no depender dos gostos ou das dos padrões profissionais do militar, próprio país. Quando surgem dúvidas afinidades sociais, económicas, políti- podendo originar um conflito entre a é sempre prudente ouvir a opinião de cas ou religiosas de cada indivíduo; obediência devida ao político e a com- juristas. Se a urgência da acção não deve resultar de um padrão comum e petência técnica ameaçada pelo políti- permite, ou se a isenção dos juristas é coerente de atitudes, valores e visões co. Para evitar os graves inconve- questionável, cabe ao militar decidir que fazem parte da ética militar. nientes desta situação, o político deve em consciência com a interpretação preocupar-se com os objectivos e as que faz da lei. A obediência dos militares está modalidades de acção, para que o mi- sujeita a imperativos de ordem políti- litar possa conduzir a acção armada A obediência moral do militar é ca, técnica, doutrinária, legal, moral e tirando pleno partido da sua com- exactamente igual à de qualquer outro operacional. No início de um novo petência especializada. cidadão. Assume grande relevância século, durante o qual os Estados, em situações de conflito e está pro- grandes e pequenos, ricos e pobres, No campo doutrinário a obediência fusamente ilustrada por massacres de continuarão a empenhar as suas rígida e inflexível impede que surjam população civil em territórios ocupa- Forças Armadas em operações de paz, novas ideias e torna os militares dos. O Kosovo e Timor são exemplos onde se verificam complexas inter- muito conservadores ao nível dos muito recentes onde os militares acções com os decisores políticos e as conceitos estratégicos. Como afirmou devem ser responsabilizados pelos populações civis, é importante perce- Liddel Hart "só há uma coisa mais seus actos, não podendo confundi-los ber esses imperativos, porque regulam difícil do que pôr na cabeça de um ou justificá-los com base em ordens o relacionamento profissional dos militar uma ideia nova, é tirar a anti- dos seus superiores, ou invocando as militares entre si e com os que não são. ga". Por vezes, a autoridade dos ofici- chamadas razões de Estado. Naquelas ais hierarquicamente superiores não circunstâncias, embora o militar deva Ao militar cumpre operacionalizar a reflecte maiores conhecimentos teóri- obediência como soldado, como Homem política do Estado, através do cos. Este desequilíbrio é especial- cumpre-lhe desobedecer. emprego da força armada, o que deve mente visível nos estados-maiores e ser feito colocando a competência nos estabelecimentos militares de Do ponto de vista operacional a obe- especializada adquirida com a for- ensino superior, com responsabili- diência é essencial para se alcançarem mação, o treino e a experiência profis- dades na produção e na difusão de os objectivos militares superiormente sional, ao serviço de uma absoluta doutrina, onde oficiais de diferentes definidos. Os comandantes devem ser neutralidade política. Este dogma da postos participam na actividade competentes, o que não impede os obediência militar, em democracia sig- reflexiva e formativa. Quando se veri- erros inerentes às decisões de qual- nifica servir com independência os ficam estas condições, por vezes que- quer ser humano. No entanto, normal- fins do Estado: informando as autori- bra-se a obediência hierárquica. mente, a obediência pronta às suas dades políticas sobre os meios Porém, antes que isto aconteça, o su- ordens evita consequências mais necessários para garantir a segurança bordinado deve ajuizar cuidadosa- gravosas que as decorrentes dos even- nacional; analisando e relatando as mente a oportunidade de apresen- tuais erros. Por isso, a obediência implicações militares das diferentes tação das suas teses doutrinárias, operacional nunca deve ser posta em linhas de acção política adoptadas avaliando se o que se ganha em efi- causa por disputas de competência.  para o Estado; e operacionalizando as ciência na instituição militar é superior decisões políticas sobre segurança aos prejuízos que decorrem das per- militar, mesmo quando não se concor- turbações que provoca na cadeia de António Silva Ribeiro da com a opção escolhida. comando. CFR

4 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA MarinhaMarinha OO queque oo FuturoFuturo nosnos PropõePropõe

Se no mar não fordes poderosos, tudo logo será contra nós. D. Francisco de Almeida

O AMBIENTE lados de Clausewitz acerca da guerra OS RECURSOS total entre os estados. O mundo parece té ao início dos anos noventa, as estar agora a entrar num ambiente Os governos dos países da União marinhas ocidentais tinham como estratégico dominado por formas de Europeia deixaram de poder responder A prioridade a guerra anti-submari- conflito mais parecidas com as ocorridas da forma tradicional (Keynesiana) às na. A Marinha soviética era fundamen- na Europa do século XIX e não com as dificuldades económicas desde que talmente uma marinha de submarinos. lutas entre estados-nações integralmente elegeram como objectivo vital a Embora possuindo porta-aviões e mobilizados, do século XX. adopção de uma moeda única. Os cri- cruzadores de grande capacidade mili- térios de convergência tornaram-se tar, o vértice da Marinha soviética eram Durante a guerra fria, preparámo-nos num imperativo político para que o seu os submarinos nucleares estratégicos para suster e rechaçar um eventual país não fosse colocado no grupo dos (SSBN) que ameaçavam os Estados ataque. Tudo mudou. Hoje teremos que que não conseguiram... No entanto, a Unidos e a Europa Ocidental, e os sub- nos preparar para resolver os problemas batalha interna para continuar os pro- marinos de ataque que impediam as que surgirem, tão perto da origem quan- gramas sociais (luta contra a pobreza, forças navais ocidentais de perseguirem to possível. Da estratégia da defesa da desemprego e exclusão social), de os SSBN soviéticos. Tratava-se da situa- Europa contra o invasor soviético pas- saúde, de educação e de infra-estru- ção potencial para a reedição da "bata- sou-se a uma estratégia expedicionária, turas, combinados com as medidas lha do Atlântico". não apenas naval, mas marítima, basea- restritivas de acesso à moeda única, da na projecção de força, na influência levaram à inevitabilidade da redução O colapso da União Soviética veio e no apoio à política externa do Estado. das despesas correntes do Estado e à modificar radicalmente este estado de Por vezes a projecção de força pode redução dos orçamentos menos em- coisas. Vivemos hoje num mundo onde expressar-se sob a forma de ajuda blemáticos. a ameaça de guerra generalizada é humanitária, de operações de apoio à Os orçamentos de Defesa dos países reduzida, embora, paradoxalmente, haja paz ou do auxílio em situações de da actual zona EURO foram tomados de menos paz. calamidade ou acidente. As crises assalto, tendo os respectivos Ministros Acredita-se hoje que a era das guerras podem variar mas a resposta provém sentido grandes dificuldades em manter convencionais de larga escala, iniciadas quase sempre do mar. o nível de despesas, para nem falar de pela Revolução Francesa, está a chegar A relevância das marinhas aumentou. aumento. A reorganização das Forças ao fim e com ela a relevância dos postu- É a chamada “aproximação ao litoral”. Armadas tem sido adiada e o reequipa- mento feito a conta-gotas, inviabilizan- do a modernização das forças e a aquisição de novas capacidades nomea- damente as que constam da Iniciativa de Capacidades de Defesa (DCI) da NATO.

O século XX foi o mais sangrento de todos até hoje. Enquanto a civilização espera que a raça humana tenha ultra- passado a fase de resolução de conflitos por meios violentos, não existem garan- tias de que o séc. XXI venha a ser menos sangrento que o precedente. A redução das forças armadas como divi- dendo da paz poderá trazer necessi- dades acrescidas e não exequíveis em tempo de crise. Na última década, os recursos disponíveis para a defesa diminuíram, em termos médios, em 1/3 nos países da Europa Ocidental. Em Portugal, segun- do o Anuário Estatístico da Defesa Nacional 97, as despesas de defesa em percentagem do PIB por habitante, A Fragata "La Fayette" da Marinha Francesa (e da Formosa), construída para ser furtiva. diminuíram 27,5% entre 1991 e 1997.

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 5 Como se deduz, os meios actuais não Os estudos internacionais levados a A retracção das despesas de defesa correspondem em alguns casos ao sis- cabo para a definição do que poderá ser em percentagem do PIB por habi- tema aprovado. Há, pois, que substituir o escolta do futuro levam a crer que ele tante, entre 1990 e 1997, foi: os meios obsoletos por meios novos, ou deverá ser substancialmente diferente - na Alemanha 43,78% mesmo usados, que correspondam às dos actuais, de que as “V. Gama” são - na Bélgica 32,33% necessidades actuais. Os casos mais uma boa referência. - no Reino-Unido 34,44% prementes, para além dos submarinos e As necessidades de comando e con- (fonte: Notícias da OTAN, Primavera 1998). navio polivalente logístico, são a subs- trolo, de protecção contra novas amea- tituição das corvetas e patrulhas da ças, nomeadamente as decorrentes da classe "Cacine" por patrulhas oceâni- sua utilização em águas litorais e à pro- O PLANEAMENTO DE FORÇAS cos, e a substituição das fragatas da liferação de armas de destruição maciça classe "J. Belo". e dos mísseis balísticos, hoje disponíveis A manutenção permanente de capacidades militares necessita, para além do pessoal, da doutrina e do treino, de um investimento continuado em material, de modo a manter os meios relevantes, quer por actualiza- ção, quer por substituição. No caso da Marinha, o elevado valor unitário dos meios combatentes agudiza essa neces- sidade, tornando premente um planea- mento atempado de aquisição de novos meios. A dependência externa em equipamentos torna ainda mais com- plexa a tarefa.

Para dar corpo ao planeamento militar Impressão artística da fragata proposta pelo Consórcio MEKO, que alia a modularidade à furtividade. foi criado um processo, o Ciclo Bienal de Planeamento de Forças, que permite, OS NOVOS MEIOS em cerca de trinta países, de apoio a de forma iterativa, manter actualizadas operações anfíbias e de operação fora as prioridades de investimento. Assim, Se a substituição das corvetas e patru- de área, fazem antever um conjunto de de dois em dois anos revêem-se os do- lhas pelo patrulha oceânico não parece características de que se destacam: cumentos estruturantes da defesa militar levantar celeumas, quer pela indubitável e retocam-se ou corrigem-se os objec- necessidade, quer pelo reduzido custo FURTIVIDADE tivos de forças que, após inclusão na Lei do projecto, quer ainda pelos ganhos de Programação Militar (LPM), serão potenciais que virá trazer, já a substitui- As operações em águas litorais financiados pelo Estado. ção das fragatas da classe “J. Belo” expõem de modo mais evidente as vul- Para a LPM actualmente em vigor, as poderá ser mais complexa. nerabilidades dos meios navais. Por isso, prioridades da Marinha foram atribuídas os navios do futuro disporão de assina- à substituição dos submarinos e à Inserido na NATO desde o primeiro turas radar e de infravermelhos mais aquisição de um navio polivalente logís- dia, Portugal tem mantido uma estratégia cuidadas. As antenas serão integradas na tico. Como é óbvio, a recursos limitados naval que lhe tem permitido fazer face estrutura, incluindo as dos radares, e as não poderão corresponder objectivos aos compromissos internacionais daí peças de artilharia e os lançadores dos limitados mas sim objectivos menos advindos e, ao mesmo tempo, dispor de mísseis serão ao nível do convés (lança- ambiciosos ou protelados. capacidades autónomas para fazer face a mento vertical). Os tubos lança-torpedos contingências em cenários próprios. serão integrados na estrutura, possuindo Neste contexto, a Marinha efectuou, Para que tal possa continuar a ser pos- portas à semelhança dos submarinos. de moto próprio, um estudo que lhe sível é fundamental dispor de um grupo As superfícies serão tratadas com mate- permitiu, com realidade, apresentar de fragatas moderno, homogéneo e mili- riais absorventes para redução do eco e alternativas de dimensionamento da tarmente relevante. As seis fragatas in- as formas do navio serão desenhadas Esquadra. Foram apresentadas várias cluídas no Sistema de Forças Nacional para evitar o reflexo. As fragatas france- opções que diferiam essencial e signi- aprovado, das quais duas são anti-aéreas sas da classe “La Fayette” e as corvetas ficativamente no número de fragatas e representam esse mínimo. suecas da classe “Visby”, as primeiras a respectivos helicópteros orgânicos. Foi Assim, logo que financeiramente pos- ser desenvolvidas com este propósito, seleccionada a versão mais modesta, sível, há que substituir as “J. Belo” por poderão ser um exemplo. correspondente ao que a Marinha con- navios compatíveis com as necessidades siderou de meios mínimos para o da missão. De acordo com o estudo COMANDO E CONTROLO cumprimento das missões atribuídas. efectuado pela Marinha, prevê-se que tal Este sistema de forças naval é constituí- aconteça até 2010. Os navios disporão de sistemas C4ISR do por seis fragatas, três submarinos, (Command, Control, Communications, oito helicópteros, um navio reabaste- A FRAGATA DE 2010 Computers, Intelligence, Surveillance, cedor, um navio polivalente logístico, Reconnaissance) em vez dos actuais sis- um batalhão ligeiro de desembarque, Mais uma vez a nossa participação na temas C4I. Estes sistemas permitirão dois destacamentos de mergulhadores, NATO, UEO e EUROMARFOR e a exe- manter um panorama de superfície em dez patrulhas oceânicos, treze patrulhas cução de missões sob os auspícios das tempo real, fazendo uso de sistemas de costeiros, quatro navios hidrográficos, Nações Unidas ou da OSCE, implicam computadores em rede, via satélite, que um navio balizador e um navio de com- um planeamento cuidado das caracterís- facilitarão a actualização dos dados e a bate à poluição. ticas dos futuros meios navais. troca de informação com outras forças

6 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Missile 3, permitirá interceptar e destruir mísseis balísticos até distâncias de cerca de 1500 quilómetros, nomeadamente enquanto o míssil inimigo se encontra fora da atmosfera. O Rolling Airframe Missile (RAM), virá substituir com vantagens os sistemas de defesa própria como os existentes nas “V. Gama” (Phallanx), permitindo inter- cepções até cerca de cinco quilómetros, podendo mesmo utilizar a estrutura Impressão artística da corveta “Visby” da Marinha sueca. onde hoje está montado o canhão. O Sea Sparrow evolui no sentido de, a navais, terrestres e aéreas. Os sistemas permitir reduzir o custo do desenvolvi- muito curto prazo, duplicar as capaci- fornecerão maior protecção às forças e mento destas novas munições de grande dades actuais. possibilitarão ataques de precisão com alcance e guiamento por GPS. mísseis e artilharia guiada, defesa contra O novo Harpoon Block II permitirá o GUERRA SUBMARINA ataques de mísseis tácticos ou balísticos disparo por submarinos, navios de e ainda a capacidade de ataque em superfície e aviões e a destruição de O maior avanço nesta área prende-se cooperação (co-operative engagement alvos no mar, mesmo para além do com a capacidade autónoma de detecção capability), onde um navio ou avião alcance radar, em zonas portuárias e até de minas. No litoral, as minas são uma pode atacar um alvo com base em infor- em terra, utilizando funções de posição, arma temível, e os navios não podem mação disponibilizada por outro meio busca ou anti-radiação. Eventualmente aguardar pela limpeza da área pelos naval, terrestre ou aéreo. será possível disparar Harpoon a partir pachorrentos navios de contramedidas de de camiões... minas. Neste sentido, as fragatas serão GUERRA DE SUPERFÍCIE E AÉREA O novo Tomahawk, com alcance até dotadas de sonares que permitam a 2500 Km, permitirá alterar a selecção de detecção e classificação de minas, e de Os navios do futuro disporão de peças alvos durante o voo, disporá de uma meios de inactivação. Também os heli- de artilharia encastradas para dis- câmara de vídeo que possibilitará vi- cópteros disporão de sistemas de detec- pararem verticalmente munições sualizar as fases de pré e pós ataque, ção de minas, tais como a “lâmpada guiadas com alcances superiores a cem poderá ser re-dirigido em voo, pairar mágica”, a laser, que lhes permitirão quilómetros. Nos Estados Unidos e na sobre o alvo enquanto aguarda “ordem” detectar minas até uma profundidade ele- Europa estudam-se munições de cinco para atacar e custará cerca de metade vada. Estuda-se ainda o melhor processo polegadas, auto propulsionadas e do preço actual. para a detecção e inactivação de minas guiadas, com alcances de cerca de O Standard Block IV permitirá, em em águas muito pouco profundas, até setenta milhas náuticas. Está também conjunto com um radar phased-array, dez metros, de modo a poder levar a em estudo a possibilidade de dotar os abater mísseis balísticos na sua fase cabo desembarques em áreas minadas. navios com peças de 155 m/m, seme- descendente, enquanto que uma versão lhantes à artilharia terrestre, o que virá mais musculada, designada Standard CONCLUSÕES Os navios que deverão substituir as “J. Belo”, mais do que manter a capaci- dade oceânica de superfície da Marinha Portuguesa, virão dar-lhe uma capacidade de influenciar directa e decisivamente os acontecimentos em terra, a partir do mar. O seu contributo para as operações con- juntas e combinadas será decisivo para o apoio à estratégia global e à política exter- na do Estado, integrando forças navais (ou conjuntas) nacionais ou multinacionais.

Uma esquadra dispondo de seis fragatas modernas com helicópteros orgânicos e submarinos pode disponibilizar meios para, em segurança, escoltar o navio poli- valente logístico, o navio reabastecedor e os navios de transporte necessários para a realização de operações de projecção de força sejam elas em situação de conflito ou de apoio à paz. Assim será possível aumentar a capacidade para dissuadir, ou seja, mostrar força suficiente para intervir ou retaliar contra aqueles que ousarem perturbar a paz. 

Impressão artística do DD21, Land Attack Destroyer, a construir pela Marinha Americana a partir de 2004. Para além de furtivo, será dotado de grande potencial de ataque a objectivos terrestres. Todos os mísseis Bráz da Silva serão de lançamento vertical. CFR

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 7 ParticipaçãoParticipação dodo N.R.P.N.R.P. "D."D. CarlosCarlos I"I" nana missãomissão "Intifante"Intifante 2000"2000"

CONCEITO DA OPERAÇÃO o período de 9 a 25 de Outubro de 2000, o N.R.P. "D. Carlos I" N esteve empenhado na missão TRANSCAN/INTIFANTE'00, durante a qual foram efectuados trabalhos de carácter multi-disciplinar no âmbito dos projectos INTIMATE e INFANTE. O projecto INTIMATE (Internal Tide Investigation by Means of Acoustic Tomography Experiment) é coordena- do pela Universidade do Algarve, e tem por objectivos determinar as dis- tribuições de propriedades físicas e correntes no meio marinho recorrendo a emissões activas e passivas, bem como o estudo dos fenómenos não li- neares gerados junto ao canhão de Setúbal utilizando tomografia acústi- ca. O projecto INFANTE é coordenado Setúbal. Durante toda a missão embar- lheita de informação ambiental, tais pelo Instituto Superior Técnico, e tem cou uma equipa da Divisão de Ocea- como o fundeamento e recuperação de por objectivo o desenvolvimento de nografia do Instituto Hidrográfico, três amarrações de correntómetros, o uma plataforma móvel autónoma para coordenada pelo CTEN Ferreira lançamento de XBT's e a colocação na aplicação a trabalhos de oceanografia Coelho. Durante os trabalhos de mar água de uma cadeia de termistores a partir do navio.

OPERAÇÃO DE MAR DO PROJECTO "INTIMATE" A operação de mar no âmbito do projecto INTIMATE teve lugar entre os dias 15 e 19 de Outubro de 2000. Foi fundeada uma cadeia de sensores, denominada ULVA (Ultra Light Vertical Array), constituída por 16 hidrofones, 8 termistores, 2 sensores de pressão e 2 sensores de inclinação, e uma bóia transmissora para envio da informação em tempo real ligada ao ULVA. Este equipamento foi adquiri- do pela Universidade do Algarve, Instituto Hidrográfico e Instituto Superior Técnico, no âmbito dos pro- jectos INTIMATE e INFANTE. Após o fundeamento deste sofisticado instru- mento (único do seu tipo existente no país), foram realizadas diversas expe- Colocação na água da bóia transmissora das cadeias de hidrofones ULVA e HFA. riências de emissão de sinais acústicos em posições designadas e ao longo de física e geológica. Ambos os projectos do projecto INTIMATE embarcou uma trajectos pré-programados, utilizando uma são financiados pela Fundação para a equipa científica da Universidade do fonte acústica de potência (cedida a Ciência e a Tecnologia (FCT) e contam Algarve chefiada pelo Prof. Sérgio de título de empréstimo pelo SACLATCEN, com a participação do Instituto Jesus. Durante os testes de mar do La Spezia), um dispositivo de implo- Hidrográfico. projecto INFANTE, embarcou uma são de lâmpadas e o próprio ruído equipa de especialistas do Instituto gerado pelo navio. Nos pontos em que As operações decorreram numa Superior Técnico, chefiada pelo Prof. o navio se encontrava a pairar foi mer- área a SSE de Sesimbra, incluindo António Pascoal. Foram ainda realiza- gulhada uma cadeia de termistores, a parte do canhão submarino de dos trabalhos complementares de co- fim de recolher informação directa da

8 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA temperatura no local e ao longo da coluna de água, para calibração dos modelos de propagação.

A operação decorreu com êxito, tendo sido atingidos todos os objec- tivos científicos. Todos os instrumen-

tos foram fundeados e recuperados (Fotografias: 1TEN Dias Correia) sem danos.

OPERAÇÃO DE MAR DO PROJECTO "INFANTE"

O teste de mar do projecto "INFANTE" teve por finalidade testar os sistemas acústicos de comunicação e efectuar testes aos sistemas de teleco- mando e navegação do veículo autónomo "DELFIM". Este veículo O N.R.P. "D. Carlos I" junto à bóia transmissora e flutuador de sinalização da cadeia de hidrofones ULVA. autónomo será no futuro associado a um AUV (Autonomous Underwater Vehicle) e dispõe de dois sistemas de todos os instrumentos e equipamentos expedito, um levantamento com sonar comunicação acústica (através de uma foram recuperados em perfeitas lateral e um levantamento com um cadeia de hidrofones específica e de condições. equipamento de sísmica ligeira da um módulo de fundo). área de fundeamento do ULVA/HFA Na segunda fase da operação de e dos trajectos acústicos. Estes levan- Para o teste dos módulos de superfí- mar do projecto "INFANTE", o navio tamentos tiveram por objectivo reco- cie e de fundo, o navio fundeou uma colocou na água o catamaran lher informação sobre a evolução da cadeia de hidrofones denominada "DELFIM", após o que este realizou batimetria, e sobre a natureza do HFA (High Frequency Array) e um sis- diversas trajectórias programadas a fundo e da cobertura sedimentar. tema constituído por um transdutor e partir dos instrumentos instalados no um módulo de electrónica (módulo de navio, testando os algoritmos de con- ASPECTOS RELATIVOS AO fundo). É de salientar que o HFA utili- trolo e os sistemas de navegação. Os objectivos dos testes foram plena- PLANEAMENTO E EXECUÇÃO zou a mesma bóia transmissora do DA MISSÃO ULVA para enviar a informação para o mente atingidos. Após a realização navio via rádio. Por razões não esclare- dos testes, o catamaran foi recuperado em perfeitas condições. Todo o planeamento da sequência de cidas, não foi possível estabelecer operações foi efectuado com base nas comunicações acústicas com o navio LEVANTAMENTOS DA ÁREA previsões meteorológicas do FNMOC através do módulo de fundo. Os testes (Fleet Numerical Meteorology and de comunicação entre o módulo de DE OPERAÇÕES Oceanography Center). Deste modo, superfície (operado a partir do navio) foi possível programar de forma optimi- e o HFA decorreram com êxito, tendo Para além das operações descritas zada os movimentos do navio e a se- sido atingidos todos os objectivos. anteriormente, foram ainda efectua- quência das operações dentro da janela Após a realização das experiências, dos um levantamento hidrográfico de tempo determinada no ORDMOVE da operação, aspecto que se revelou essencial para o cumprimento eficiente da missão. O sistema de aquisição de informação hidrográfica existente no navio, constituído por um computador dotado com o software HYPACK, son- das hidrográficas e um receptor GPS, revelou-se também fundamental para o controlo rigoroso de todas as mano- bras e evoluções. Durante as operações delicadas de fundeamento e recupe- ração dos instrumentos e equipamen- tos (de grandes dimensões e custo ele- vado) ficou patente a boa capacidade de manobra do navio, particularmente as possibilidades conferidas pelo propulsor de proa. O navio desempe- nhou de forma eficiente todas as ope- rações, o que contribuiu para transmi- tir às equipas científicas embarcadas uma imagem positiva da Marinha. 

O N.R.P. "D. Carlos I" junto do veículo autónomo "DELFIM", desenvolvido pelo Instituto Superior Técnico no Carlos M. Lemos âmbito do projecto "INFANTE". CTEN EH

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 9 DesenharDesenhar umum simulador!simulador! TudoTudo éé questãoquestão dede querer...querer...

om especial incidência após o final da 1ª guerra mundial a POSIÇÃO SIGNIFICADO VALORES POSSÍVEIS simulação passou a ser determinante na preparação técnica de 0 Proa-256 x Int (proa/256) 0 a 255 elevado número de militares, dada a necessidade de treino 1 Int (Proa/256) 0 a 1 C 2 Proa requerida-256 x Int(Proa/256) 0 a 255 repetitivo a diversos níveis e face a equipamentos cada vez mais caros 3 Int (Proa requerida/256) 0 a 1 e complexos. Não sendo possível dispor de material em número sufi- 4 Velocidade em nós 0 a 255 ciente para treino individual, também o treino de grupo ou em grupo 5 Velocidade requerida 0 a 255 6 Altitude em metros 0 a 255 é actualmente uma condição de sucesso na operabilidade de sistemas 7 Profundidade em metros 0 a 255 de armas e sensores. 8 Comandos simultâneos / MAD aéreos 0 a 1 9 Código da plataforma (ICL) A existência de simuladores a bordo, embora possível e conve- 10 Alcance da artilharia em NM (sup.) 0 a 255 niente, luta com a falta de espaço, em especial num navio de guerra 11 Display select (tipo da plataforma) 0 a 2 sempre cheio de material e equipamento essencial. Em consequência 12 Angulo do leme em graus 0 a 35 13 TN do contacto a interceptar 0 a 38 no que diz respeito ao treino táctico e de comunicações assiste-se á 14 TYPE ou NAME on/off 0 a 1 instalação e exploração de simuladores em instalações em terra, onde 15 TN on/off 0 a 1 elementos de uma ou de várias guarnições em simultâneo podem 16 Raio do círculo de aproximação em NM 0 a 255 17 Código da cor do símbolo 10 a 12 exercitar em ambiente controlado e assistido por pessoal competente, 18 Resistência/sobrevivência contacto % 0 a 10 as acções necessárias e os procedimentos correctos e adequados. 19 Alcance máximo do Radar 20 Alcance do Radar de superfície No passado ano de 1986 e desempenhando então o comando da 21 Alcance do Radar de Aviso combinado fragata "Almt. Magalhães Corrêa", a falta de simulação a bordo nessa 22 Alcance do Radar de Longo alcance área, fez ressaltar a possibilidade de com os meios informáticos já 23 Transponder IFF on/off 0 a 1 24 Interrogator IFF on/off 0 a 1 então existentes construir um programa que resolvesse o problema. 25 Alcance Sonar de Pesquisa/Ataque Não deveria ser difícil uma vez que os fundamentos e as necessidades 26 Alcance do MRSonar, LRSonar, VDS eram conhecidas bem como as características das armas e sensores 27 Sensor Infra Red on/off - Plot on 0 a 1 28 DJammer 1 on/off 0 a 1 no âmbito militar e civil. Já então se discutia a construção para a 29 DJammer 2 on/off 0 a 1 Marinha portuguesa das fragatas classe "Vasco da Gama", entradas ao 30 BJammer on/off 0 a 1 31 Controle do Plot 0 a 1 serviço 6 anos mais tarde, mas principalmente a necessidade de 32,33 Controle de visibilidade do contacto 0 a 1 manutenção num alto grau de operacionalidade das fragatas da classe 34 Controle da posicão de memória do Plot "Comandante João Belo" e dos restantes navios da esquadra, de tecno- 35 Track number da unidade Base do aéreo 0 a 23 36 Controle automático - helis com dipping sonar 1 a 2 logia menos recente. 37 Azimute da unidade / 2 Naturalmente que tanto as 38 Eixo da Screen (graus/2) / Right Bearing 0 a 180 capacidades do simulador 39 Distância á Screen (NM) / Inner radius 0 a 255 40 Número da Screen / Alvos em close control 1 a 9 existente no Centro de Táctica 41 Distância á screen (NM)/ outer radius 0 a 180 Naval (CITAN) como as obser- 42 Left Bearing (graus/2) 0 a 255 43 Número de sectores da cortina nº9 0 a 10 vadas durante o Maritime 44 Hora de recepção do ficheiro / SBTX em rede Tactical Course, do simulador 45 Contador de RX antes de apagar / SBRX rede na escola inglesa Dryed, po- 46 Size Attack Plan Cordon 47 Número de controle do Attack Plan Cordon diam e deviam servir de inspi- 48 Armazena o ICL original do RFP,DAT,FIX ração para o projecto de pro- inibe TXRX em rede gramação em mente, mas des- 49 Controla a sequência de representação das rackets tinado a ser corrido e operado num vulgar computador pessoal o que EM MÍSSEIS OU TORPEDOS permitiria pô-lo a funcionar de imediato, em qualquer navio. 6 Altitude 7 Profundidade Um tal programa de simulação deveria permitir a bordo ou 8 TN plataforma de origem 0 a 38 em terra: 10 Altitude ou profundidade requerida a) treino individual e/ou de conjunto em situações de simulação de 13 TN do Alvo 0 a 38 16 Código para ASROC 0 a 1 combate naval; 18 Sistema de contagem 0 a 255 b) treino de procedimentos e de navegação em formatura; 19 Minuto final da trajectória 0 a 59 c) treino de procedimentos para todo o pessoal de quarto no Centro 20 Distância ao alvo em milhas 0 a 255 21,22 Controle de trajectória de Operações; d) possibilitar o treino dos procedimentos Radiotelefónicos consen- Quadro 1 tâneos com o exercício em curso. Tendo em conta as vantagens de treino e operação por conjuntos mísseis, torpedos e campos de minas ou de sonoboias, mas estes dois de militares, calculou-se ser mais do que suficiente prever a possibili- últimos podendo ser representados de forma algo simplificada. dade de operação simultânea de 24 postos ligados em rede, corres- Qualquer exercício de simulação naturalmente que deverá ter pos- pondendo assim a 24 unidades no total ( de sub-superfície, superfície sibilidade de introdução de dados, uns particulares e respeitantes a ou aéreas) mas para facilidade de treino, cada unidade deveria poder cada unidade e outros comuns como os de armas e sensores do estar representada em mais do que uma posição, por forma a permi- mesmo tipo ou ainda respeitantes ao de controlo desse mesmo exercí- tir operar separadamente a guerra electrónica, controlar as operações cio. Também há que prever a possibilidade de variação pontual aéreas, as de superfície e de sub-superfície, em postos distintos. dessas características e mesmo a sua degradação ou anulação, função Também se considerou suficiente que o número máximo de armas dos danos sofridos, ou infligidos por outros intervenientes ou pela representadas e activas num dado momento fosse de 15, incluindo entidade responsável pelo exercício.

10 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Para armazenar em memória as escalas variando entre 4NM e Escala inicial: Armas e sensores Standard (Y/N) características próprias das armas e Número total de plataformas no exercício: Radar range 1024NM. Tendo em atenção que a TN : number 1 (18 to 36) NM alcances dos sensores de cada Nome (3 CHR): number 2 (24 to 120) NM actualização de qualquer gráfico unidade, bem como a respectiva X Pos: number 3 (48 to 240) NM depende da escala escolhida durante Y Pos: Missile range proa, velocidade, altitude, profundi- ICL (código): number 1 (3 to 6) NM o treino mas pesa em termos de exe- dade, tanto em valores actuais como Intercept (TN): number 2 (12 to 60) NM cução, quando conjugada com ou- Minimum distance: number 3 (30 to 150) NM futuros, ou ângulos de leme entre Course: Missile speed tros gráficos e cálculos necessários ao muitos outros, estimou-se ser sufi- Speed: number 1 (120 to 240) KN exercício, há vantagem em manter Altitud (metros): number 2 (160 to 800) KN ciente reservar um espaço de 50 Depth (metros): number 3 (200 to 1000)KN visível apenas a informação essencial, IFF Transponder "ON" (Y/N): Guns battery range posições de memória. Alguns destes IFF Interrogator "ON" (Y/N): number 1 (3 to 6) NM mas sem que tal deva influenciar a valores estão referidos no quadro 1: Comandos simultâneos (Y/N): number 2 (2 to 10) NM precisão requerida. Contacto inimigo classificado como mercante, number 3 (4 to 20) NM Há também que ter em conside- neutro ou desconhecido (Y/N): Sonar range Sendo a variação de posição de ração que a introdução inicial dos number 1 (1 to 2) NM cada unidade função da sua veloci- number 2 (4 to 20) NM dados necessários correspon- number 3 (8 to 40) NM dade e do tempo decorrido entre dentes a um dado exercício terá cada actualização, a referida posição de ser efectuada a partir de um é calculada tendo como base o reló- programa especial que execute as seguintes funções: gio interno do computador. Optou-se por actualizar cada posição de a) Proceder à iniciação e dimensionamento das variáveis de que o forma sequencial o que, mesmo tendo em conta o número máximo programa necessita. de plataformas passíveis de ser representadas em simultâneo (38), dá b) Limpar por completo a zona de memória destinada a receber os da- tempos de actualização bastante inferiores a um segundo. dos correspondentes às plataformas que farão parte do exercício. A representação da informação deverá ter em consideração cinco c) Introduzir os dados que respeitam às características de alcance e categorias: velocidade iniciais, na zona de memória de onde o programa os a) dados de sensores: (alvos radar, linhas de jamming, detecções irá posteriormente retirar ao ser escolhida uma arma, seja míssil, ESM, etc; torpedo, artilharia, etc. Estes dados estarão disponíveis na b) dados de natureza táctica gerados por computador: (posição de condição que os passos de programação que se seguirem os não unidades, vectores de direcção, pontos de referência, etc) modifiquem. Este procedimento torna-se necessário para dotar as c) dados sintetizados: (campos de minas, cortinas, linhas e vectores plataformas que forem criadas durante o exercício, logo não desenhados, etc) fazendo parte das inicialmente programadas, de sensores com d) dados para suporte do sistema: (dados da unidade própria, esta- características consideradas "Standard" até que o controlador do dos sensores, situação dos comandos de controlo gráfico e efectue eventuais alterações a que tenha acesso. zona do exercício) Para que a programação possa ser levada a efeito rapidamente, e) dados para posiciona- torna-se necessário que qualquer conjunto de dados esteja preparado mento dos diversos veícu- com antecedência, pelo que se segue um simplificado exemplo dos los simulados dentro dos mesmos, tal como aparecem na sequência de programação. limites da escala selec- Mas num exercício deste tipo também é necessário armazenar cionada. dados correspondentes aos valores que são comuns ás unidades inter- (ver figuras) venientes, como seja os alcances estabelecidos de sonoboias, minas, Por forma a manter simples armamento vário e principalmente os referentes á representação gráfi- o processo de operação deste ca mostrados em cada monitor. tipo de programa considerou- Num sistema complexo com múltiplas variáveis como o de um -se primordial que quando fun- simulador táctico é especialmente importante assegurar uma precisa cionando em rede, o software estivesse residente apenas no servidor, representação da posição uma vez que é a partir dos valores das conseguindo-se assim uma enorme facilidade de substituição ou posições relativas das várias unidades que podem ser efectuados os adição de novos postos. Também está previsto que os diversos postos cálculos dos alcances das armas e sensores e avaliar as consequências possam funcionar de forma independente mesmo com exercícios dis- para a sua eventual sobrevivência na guerra moderna. Por isso houve tintos, embora com uma pequena limitação. Por outro lado o exercí- que estabelecer um ponto de referência, origem de uma grade, a par- cio deve poder ser interrompido e armazenado em qualquer altura, tir do qual pudessem ser medidas as distâncias em termos relativos ou salvaguardando situações especialmente importantes que requeiram absolutos, correspondendo para efeitos de exercício à posição 09º estudo ou continuação posterior. Durante um qualquer exercício os 30´ W, 38º 30´ N a SW do cabo de S. Vicente atendendo à nossa dados referentes ás unidades ou os relacionados com os sensores zona mais provável para realização de exercícios. podem naturalmente ser impressos para melhor análise da situação A representação gráfica da linha de costa, dos campos de minas ou táctica ou para servirem de matéria de decisão durante as manobras das cortinas de sectores por exemplo tem igualmente como origem a efectuadas. origem de grade, traduzida tanto em coordenadas geográficas como Este programa de simulação que durou cerca de 4 anos a ser con- de grade para que haja uma relativa correspondência com os dados cebido e mais quatro para ser convertido numa linguagem mais efi- extraídos de uma carta de navegação. O desenho da linha de costa ciente (Qbasic 4.5 e versão 6 do Compilador) e redesenhado para deve ser portanto efectuado numa escala tal que permita adequada conter as rotinas necessárias para funcionar em rede, foi instalado na representação entre 4NM e 1024 NM. Escola Naval e manteve-se desde então operacional na Escola de Igualmente se considerou vantajoso desenhar a costa entre o norte Comunicações. de Inglaterra e a costa de África na latitude das ilhas Canárias, incluindo Recentemente foi transferido da Escola de Comunicações para a o canal da Mancha, parte ocidental da península Ibérica, entrada do Escola de Armas Submarinas no Grupo Nº 2 de Escolas da Armada, Mediterrâneo, ilhas Canárias, Selvagens, Madeira e Porto Santo, Aço- para uma sala especificamente preparada para o efeito, onde se res e Irlanda. A representação dos símbolos no exercício naturalmente espera sirva para treino de oficiais, sargentos e praças nesta tão sen- que terá que obedecer á simbologia standard, Naval Tactical Data sível e importante área de formação para a guerra no mar.  Systems (NTDS), sendo o Track Number e o Tipo ou Nome escolhi- dos pelo utilizador. A correspondência entre o espaço percorrido em milhas e a repre- sentação gráfica no monitor foi estabelecida em 20 pixels/milha na L.H.L. Silva de Carvalho escala de um para um, ou múltiplo desse valor para um total de 9 CMG

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 11 CrónicaCrónica dede TimorTimor Fuzileiros em operações de manutenção de paz, garantem regresso de deslocados do Sul do território

esde meados de Agosto que se en- contra em território timorense a DCompanhia de Fuzileiros nº 23, in- tegrada no 2º Batalhão de Infantaria Para- quedista, no âmbito do novo Contingente Militar Português em Timor. Perspectivava-se logo desde o início da missão que as condições de segurança em Díli nos dariam algumas preocupações, atendendo à realização do Congresso do Conselho Nacional da Resistência Ti- morense, e ao primeiro aniversário do re- ferendo que veio consolidar a conquista da independência deste território martirizado. Assim, passados escassos dias após a che- gada ao teatro de operações, o pelotão de fuzileiros que constituía a Quick Reaction Force (Força de Reacção Rápida) foi empre- gue no reforço da segurança à cidade de Díli que estava vivendo intensamente os aconte- cimentos. Alas e Same em Timor. Entretanto, em princípios de Setembro, aumentavam os rumores da presença de milí- cias no distrito de Manu-Fai (um dos seis que provocou o êxodo forçado de cerca 250 000 embarcarem nas viaturas que os haviam de compõem o sector central – sob o comando pessoas para fora da sua terra natal. levar até Alas – sede do sub-distrito das suas português). Com vista a pôr termo à actividade das residências, estando uma hora depois forma- As milícias foram uma criação do governo milícias foi levada a cabo de 11 de Setembro da a coluna de viaturas, constituída pelos três indonésio em Timor Leste, ainda em inícios a 16 de Outubro a operação "Cobra" no dis- unimog’s do pelotão, cinco viaturas pesadas dos anos oitenta, para serem utilizadas como trito de Manu-Fai. Participaram nesta ope- da Organização Internacional das Migrações forças de 2º escalão contra as Falintil, o braço ração dois pelotões de fuzileiros que con- (OIM) onde eram transportados os desaloja- armado da Fretilin, um dos partidos políticos tribuíram decisivamente para que, na sua dos e ainda três viaturas ligeiras. de Timor Leste. área de responsabilidade, as populações se Para além dos desalojados seguiram na A possibilidade da presença destes grupos passassem a sentir seguras, tendo como con- coluna a: Humanitary Assistance Officer para-militares provocou pânico junto das sequência directa o regresso dos deslocados da Administração do Distrito de Manu-Fai populações de algumas das localidades do às suas localidades de origem. – Paola Emerson, uma luso-americana já Sueste do distrito, com especial incidência o Em 28 de Setembro, o 2º pelotão de com experiência neste tipo de operações sub-distrito de Alas, levando a que cerca de fuzileiros, sob o comando do Asp FZ Silva, noutras latitudes, designadamente em 700 pessoas abandonassem as suas casas nos recebeu como missão escoltar 210 desloca- África na região dos Grandes Lagos; diferentes suku’s 1 por considerarem que não dos de regresso a suas casas. Allison Tuffs uma nutricionista americana tinham condições de segurança garantidas. Às 07.30, em Same – capital do distrito, os ao serviço do World Food Program Ficaram tristemente célebres as acções deslocados começaram a concentrar-se para (WFP), com a tarefa de fazer uma ava- violentas destes grupos contra os timorenses que se queriam libertar do jugo indonésio, especialmente desde que em Janeiro de 1999 Jakarta admitiu considerar uma alter- nativa que poderia conduzir à independên- cia, se o povo recusasse a possibilidade de Timor Leste ser uma região autónoma da Indonésia. Estão ainda bem vivas as recordações das atrocidades levadas a cabo pelas milícias na sequência do referendo 30AGO99 - Destruíram 80% das infraestruturas, agredi- ram, feriram e tiraram a vida a cerca de 1.500 timorenses, ante a passividade das tropas indonésias. O terror gerado por estas bárbaras acções Casas tradicionais ao longo da estrada à chegada a Alas.

12 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA É justamente durante a travessia do leito do rio que acontece um percalço, uma das viaturas pesadas que transporta deslocados fica atolada, motivando a paragem da coluna numa zona crítica. De imediato se tomam posições defensivas e manobra-se um uni- mog equipado com guincho, que rapida- mente resolve o problema. Se esta situação ocorresse algumas semanas mais tarde, não se resolveria tão facilmente, uma vez que as chuvas trariam transtornos acrescidos. Após duas horas de muitos solavancos, chegamos a Alas, mas ainda teremos que atravessar mais uma linha de água até Chegada a Alas. Desembarque de deslocados e de provisões (arroz). alcançarmos uma infraestrutura com telhado de chapas de zinco, assente sobre traves de liação do estado nutricional dos desloca- dade de cores faz o seu aparecimento madeira e com paredes de bambu a toda a dos, em especial das mulheres e crianças; através das buganvílias, árvores frondosas volta, – é o Centro de Acolhimento de quatro agentes da polícia civil das Na- e muito floridas. Estamos a chegar à loca- Retornados – utilizado para proteger as pes- ções Unidas (UN CIVPOL), e ainda jorna- lidade de Nabularan, onde faremos um soas do sol escaldante. listas portugueses da RTP, TSF e Agência alto. Adoptam-se as necessárias medidas Para chegar aqui percorremos uns escassos Lusa, dispostos a fazer a cobertura desta de segurança, e os desalojados apro- 30 quilómetros em mais de 5 horas de acção. veitam para descontrair, mulheres com viagem. Para os desalojados a jornada Antes de se iniciar a marcha o Asp. crianças de colo saem das viaturas e chegou ao fim, e antes de se deslocarem Silva, "briefa" os condutores das viaturas e embalam os seus filhos. para suas casas, que deixaram há mais de os já referidos participantes, acerca dos Esta paragem é feita também para car- dois meses, é ocasião de confraternizarem procedimentos a adoptar durante a mar- regar sacos de arroz do armazém da WFP, com os fuzileiros que os escoltaram. cha, incluindo os de reacção a eventuais e ainda barrotes e traves de madeira para Oferecemos pacotes de leite, bolachas e emboscadas. melhorar as condições de abrigo das doce das rações de combate e eles presen- A viagem até Alas fez-se atravessando paisagens com cambiantes diversos, esta diversidade paisagística é de resto uma das características da ilha de Timor. Até ao litoral vai-se descendo do planalto de Same, a estrada de asfalto é razoável, e serpenteia-se entre as ele- vações com vegetação muito verde e rela- tivamente densa, de onde se destacam bambús de grande porte, palmeiras fron- dosas, aqui e ali coqueiros altaneiros, mas também cafeiros, jaqueiras e mangueiras. Quando se alcança Betano a estrada inflete para Leste, junto ao mar - que nos fica a Sul, atravessamos agora a fértil planície onde se cultiva arroz. Viatura de transporte de deslocados atolada no leito (seco) do rio Lacklo do Sul . A escassos quilómetros a área cultivada dá lugar ao capim e a uma vegetação que habitações destes retornados, antes que teiam-nos com cocos agilmente colhidos por quase faz lembrar a savana africana na chegue a estação das chuvas. jovens. Distribuem-se cigarros aos mais ve- estação seca. Pouco tempo depois, rea- Reiniciada a marcha, começamos a subida lhos, que agradecem reconhecidos com um: parecem as árvores: palmeiras, coqueiros do leito largo mas ainda quase seco do rio "obrigado senhor", Ao mesmo tempo que e pela primeira vez a sumaúma. Lacklo do Sul, é a vez de aparecerem as algumas praças vão tentando comunicar em Começam a surgir casas tradicionais, a cazuarinas arvores de folha persistente a tetúm, o que provoca o riso das crianças, vegetação é mais escassa, mas a diversi- ornarem as margens. talvez pela estranha pronúncia destes malae mutin 2 . Após quase uma hora deste convívio, é altura de regressar-mos a Same e assim dar por concluída mais uma missão dos fuzileiros nas terras banhadas pelos mares do Sul.  Jorge Lourenço CTEN FZ

1 Suku – Expressão que em Tétum – Língua Nacional de Timor Lorosa’e – significa: "Divisão regional de um reino ou distrito" in COSTA, Luís, Dicionário de Tétum-Português, Edições Colibri / Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa, 2000. Em Timor os sub-distritos estão divididos admi- nistrativamente em suku’s. 2 Malae Mutin – significa literalmente: "Estrangeiro Coluna no leito do rio Lacklo do Sul. branco", empregue aqui sem qualquer conotação.

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 13 AA MarinhaMarinha ee asas “Military“Military OperationsOperations OtherOther ThanThan War”War”

ecorreu no CITAN, nos dias 26 e 27 de Outubro, o seminário A DMarinha e as “Military Operations Other Than War” (MOOTW) que teve a seguinte agenda de trabalhos: Abordagem Conceptual às MOOTW; Participação da Marinha em MOOTW; Cooperação Civil-Militar em MOOTW; A Comunicação Social e as MOOTW.

Este seminário teve a participação de diversos organismos militares e civis, bem como de diversos participantes a título individual, que contribuíram de forma determinante para o sucesso do mesmo. Assunto muito em voga e que se verificou criador de inúmeras questões, serviu este seminário, para alertar todos os partici- O seminário contou com uma numerosa audiência pouco frequente no CITAN. pantes para a crescente importância das Forças Armadas e em especial da Marinha ca e as capacidades de apoio em espectacularidade da notícia, em benefí- nas Operações de Apoio à Paz. Factor MOOTW melhorarão muito com a cio da sua autenticidade. Contudo de- igualmente de grande importância e alvo disponibilidade do aguardado LPD; verá ser sempre garantido o princípio de de análise pormenorizada, a relação exis- • A transição em curso, a nível NATO, do que, o segredo deverá ser a excepção e tente entre os órgãos de Comunicação conceito MOOTW para o conceito de não a regra. Social e os militares nos diversos níveis da Crisis Response Operations (CRO). hierarquia militar. Apesar dos problemas existentes e já Especial realce merecem nestas páginas • Do painel Participação da Marinha em identificados e que urge ultrapassar os oradores e os moderadores, que de MOOTW: podemos,em jeito de síntese, concluir forma graciosa e empenhada, contribuíram • Verifica-se uma necessidade urgente em deste seminário: para o sucesso desta iniciativa e sobretudo melhorar a interoperabilidade com os ou- para um melhor e mais profícuo conheci- tros ramos, em especial com o Exército; • A Marinha respondeu sempre de forma mento mútuo e troca de opiniões, que na- • O elevado prestígio granjeado em todas rápida e adequada e esteve ou está pre- turalmente ajudarão a ultrapassar estereoti- as missões, resultante das características sente em todas as MOOTW realizadas pos, infelizmente ainda existentes, no rela- dos nossos militares, em especial uma na última década; cionamento e cooperação que se deseja elevada capacidade de adaptação, alto • A idade e exiguidade dos meios navais e franca e aberta entre civis e militares. profissionalismo, dedicação ao serviço e algumas limitações do equipamento dos Pretendeu-se com este seminário dar espírito de missão. Fuzileiros requerem investimento mate- ênfase especial às lições aprendidas e às rial por forma a não inviabilizar futuras recomendações obtidas em operações já • Do painel Cooperação Civil-Militar em participações em MOOTW, afectando realizadas ou em curso. MOOTW: negativamente o cumprimento das mis- Apresentam-se algumas conclusões, • Necessidade de conhecer, de estabele- sões e consequentemente a imagem e vulgo lições aprendidas, consideradas cer a adequada ligação e de salva- prestígio da Marinha, das Forças mais relevantes: guardar a liberdade de actuação das Armadas e consequentemente de ONG, sem comprometer a sua segu- Portugal; • Do painel Abordagem conceptual às rança, nem a dos militares. • O modelo de constituição de forças MOOTW: conjuntas tem-se revelado adequado e • Uma premente necessidade da existên- • Do painel A comunicação Social e as apesar de algumas correcções a intro- cia, quando tal for necessário, de um MOOTW: duzir contém virtualidades a explorar; Gabinete de Crise político-militar envol- • A liberdade de imprensa não deve co- • A Marinha tem dado um contributo po- vendo todas as entidades intervenientes lidir com os imperativos de segurança, sitivo para uma nova cultura conjunta, (EMGFA, MDN, MNE, PM e outras); de quer dos jornalistas, quer dos militares; assente na experiência vivida, que lhe doutrina nacional conjunta aplicável ás • Necessidade duma política clara de advém, entre outros factores, do modelo MOOTW e de uma maior atenção à informação e relações públicas adequa- de treino e avaliação em vigor, o qual promulgação de Regras de Empenha- da ao tempo e local da operação; lhe permite operar em tempo de Paz mento; • O bom senso deverá continuar a impe- como opera nas MOOTW, em crise ou • O Comando e Controlo são vitais para rar sempre nas relações entre os órgãos em guerra.  as MOOTW, mas é necessário não de comunicação social e os militares, (Colaboração do CITAN) esquecer o princípio fundamental por forma a que sejam sempre salva- “deixar o Comandante comandar“; guardados os superiores interesses Textos e apresentações disponíveis na Internet, no • Constata-se que a mobilidade estratégi- nacionais, sacrificando se necessário a site do CITAN através do endereço www.marinha.pt

14 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA A MARINHA DE D. MANUEL (10) VascoVasco dada GamaGama nana ÍndiaÍndia (3ª parte)

ara entender algumas ques- mente estudada pelas instituições tões relacionadas com os científicas de oceanografia. Ppercursos e estadia de Vasco Na altura em que Vasco da Ga- da Gama na Índia, durante esta ma ali esteve, se ficasse fundeado sua primeira viagem, é preciso que perto da Calecut, teria tido graves atentamos a um conjunto de fenó- problemas de segurança, mas foi o menos atmosféricos determinantes próprio Samorim que lhe mandou para a navegação no Oceano Ín- indicar o fundeadouro de Panda- dico que afectam também as con- rane, talvez quando ainda estava dições de permanência dos navios acessível às propostas de amizade no Malabar. Estamos a falar do ÍNDIA e comércio portuguesas. Esse que é usual chamar de monções e fundeadouro já estava referencia- que constituem fenómenos perió- do pelos pilotos árabes do Índico e dicos em que se gera um vento do- era usado no tempo em que os minate que sopra de SW de Maio a juncos chineses ali comerciavam e Julho, e de NE de Janeiro a Março. precisavam de invernar Não vale a pena complicar muito a É claro que esta situação veio a explicação destes fenómenos, mas criar um outro problema: de certa será claro perceber que o vento de forma, os navios estavam imobi- SW seria bom para viajar de África lizados no único local abrigado da para a Índia, enquanto o de NE zona e de lá não poderiam sair, daria para fazer a viagem con- enquanto não passasse a monção. trária. Contudo, infelizmente, este Contudo, o que imobilizava os vento de SW, transportando uma portugueses, também, impedia Zona de Calecut e Pandarane com o fundeadouro onde ficaram os navios elevada quantidade de ar maríti- de Maio a Agosto. outras navegações, por isso o peri- mo, leva muito mau tempo à costa go de serem afrontados por qual- do Malabar, provocando o fecho da maioria expressão monção acabou por ser utilizada quer outro poder naval, durante aquela dos portos e a quase suspensão da activi- para designar o próprio fenómeno, mas os época, era nulo. Apenas as pequenas embar- dade marítima. Deve notar-se que os pilotos portugueses mantiveram, durante muitos cações costeiras chegavam ao pé dos por- árabes, quando Vasco da Gama entrou no anos, a designação de monção pequena e tugueses mas essas não constituíam um Oceano Índico, já tinham este regime bem monção grande, para indicar a época em que perigo de maior. No entanto, à medida que controlado (não diremos estudado, porque o era possível chegar com segurança à Índia. o tempo foi passando – e sem que Vasco da conhecimento das causas do fenómeno só Os períodos proibitivos ou perigosos eram, Gama tivesse a noção disso – as possibili- foi possível no século XX) e, sabendo das essencialmente, os meses de Junho e Julho, dades de amizade com aquele rei foram dificuldades que ocorriam nesse período de época em que a maioria dos navios indianos desaparecendo de todo, sendo possível que, ventos de SW, optavam entre duas soluções: era varada em terra e protegida do tempo. a curto prazo os portugueses viessem a cor- ou se faziam ao mar ligeiramente antes Desta forma, uma imediata interrogação rer perigo. Não sei se por acaso, se por qual- desse tempos pesados, conseguindo apa- que se nos coloca tem a ver com o facto da quer informação ou desconfiança, a 10 de nhar algum vento favorável, mas sem o esquadra portuguesa ter estado perto de Agosto, o Capitão-Mór mandou comunicar rigor dos meses mais duros; ou esperavam Calecut, desde Maio até Agosto, ou seja, na ao Samorim que tencionava retirar-se de pelo final da temporada e viajavam quando pior altura do ano, quando os mares são volta à sua terra. Esta atitude levou a um esse mau tempo já não era perigoso. Pode- impraticáveis a qualquer navegação. Existe crescimento da agressividade das autori- mos dizer que aproveitavam um pequeno uma explicação para que isso não tenha dades locais, mas com algumas manobras espaço antes da época mais dura, ou usa- resultado num absoluto desastre e essa intimidatórias, Vasco da Gama conseguiu vam o final da estação. E, em qualquer dos explicação tem a ver com a condução dos largar, trazendo até alguns reféns locais, que casos, sempre apanhavam vento favorável. navios para uma baía, ligeiramente a norte acabaram por ter um papel decisivo no Assim determinaram os períodos de da cidade, designada pelos portugueses de fornecimento de informações. Navegou demandar os respectivos portos onde que- Pandarane (Pantalyni-Kolan na designação para o norte, à procura dum local seguro riam chegar e chamaram a esses períodos actual). A baía não oferece protecção abso- para fazer aguada e querenar os navios, e foi algo parecido com monção do respectivo luta contra a monção de SW, mas acontece encontrá-lo em Angediva, uma pequena porto. A costa do Malabar, pelas condições ali um fenómeno insólito provocado pela ilha ligeiramente a sul de Goa, onde os por- que já explicámos, tinha uma monção pe- existência de bancos de lodo flutuantes, que tugueses viriam a estabelecer-se e a cons- quena pelo princípio de Maio, antes das desempenham uma função de amorteci- truir uma das primeiras igrejas da Índia.  grandes chuvas, e uma monção grande, mento da ondulação e fazem desaparecer depois de Agosto, passadas essas invernias. completamente a rebentação nas praias. Hoje em dia, depois de se terem estudado Esta situação não é conhecida noutras J. Semedo de Matos estes fenómenos com rigor científico, a regiões do globo, mas hoje está perfeita- CTEN FZ

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 15 CARTA DO CEMA

a minha carta anterior, ao abordar a radas e receberão o reforço suficiente para questão do orçamento, pretendi alertar promover os ajustamentos do sistema retributi- Ntoda a Marinha para a eventualidade vo que estão perspectivados. - Finalmente a área da divulgação pública de não virem a ser urgentemente desblo- Não podendo ser exaustivo, nesta ocasião, da informação e da publicidade, com o prin- queadas as verbas indispensáveis para o fun- quanto à abordagem dos diversos assuntos cipal objectivo de projectar publicamente a cionamento do Ramo. De facto, a situação de que actualmente interessam à Marinha e aos imagem da Marinha, bem como de difundir a falta de liquidez a que se chegara, depois de seus servidores, pretendo, no entanto, referir informação que interessa aos candidatos ao esgotada a flexibilidade da gestão financeira, ainda a questão do recrutamento de pessoal, serviço voluntário, quer através de acções de tornava iminente o recurso a medidas extre- que considero de primordial importância por divulgação nas escolas, de visitas a unidades e mas, incluindo a imobilização de meios, com poder condicionar o futuro da Marinha. embarques, quer mediante "spots" publi- prejuízos graves para a actividade operacional A relativamente recente aprovação da Lei citários, a "internet" e a realização de actual e a prazo. Caracterizando em síntese a do Serviço Militar que estabelece a extinção exposições estáticas ou itinerantes. situação, a Marinha estava credora de um gradual do serviço obrigatório nas fileiras, con- Tendo regressado da Bósnia a Companhia montante superior a 5.0Mc, sendo de cerca jugada com o baixo índice demográfico que de Fuzileiros nº 21, renovo o meu elogio pela de 2.8Mc o valor das verbas congeladas na se tem verificado no nosso País durante os últi- acção desenvolvida durante cerca de seis área da Operação&Manutenção (O&M) e mos anos, reflectir-se-à numa redução progres- meses naquela missão humanitária e de paz, 2.2Mc o montante relativo a despesas siva do universo de voluntários para serviço na integrando um agrupamento conjunto com inopinadas no primeiro semestre, decorrentes Marinha, tornando necessário um crescente um Batalhão do Exército. Entretanto, regressou das missões no exterior, nomeadamente, em esforço na disputa dos escassos recursos de Timor a Companhia de Fuzileiros nº 22 Timor e na Bósnia. A agravar a situação, tar- humanos disponíveis. Atendendo a tais que foi substituída na área pela Companhia de dava a autorização governamental com vista circunstâncias promovi, em OUT99, a elabo- Fuzileiros nº 23, integrada num outro agrupa- à assinatura do contrato para aquisição de ração do estudo de novas soluções condu- mento conjunto com um Batalhão do combustíveis (o que implicava o gradual centes ao necessário recrutamento de pessoal Exército. aumento da dívida visto que as reservas exis- em regime de voluntariado e de contrato. É a eficiente realização de missões desta tentes estavam exauridas) e não tinha sido Desse estudo e das decisões tomadas pelo natureza que comprovam não só a vocação e ainda viabilizada a assinatura do contrato da Governo, resultaram medidas concretas que a capacidade das unidades da Marinha para Direcção de Navios com o Arsenal do Alfeite poderão agrupar-se em três grandes áreas de bem desempenharem operações conjuntas, (o que inibia a conveniente gestão do Arsenal, intervenção distintas: como também para dignificarem no exterior, em cujo orçamento se incluem também as o bom nome de Portugal. verbas para vencimentos de pessoal). - A dos incentivos, incluindo todas as condi- O inequívoco empenho revelado pelo ções atractivas de prestação de serviço, no- Perspectiva-se, para breve, uma nova fase Governo em regularizar a situação financeira meadamente as remuneratórias, as de rein- da evolução da Marinha em que, a par da da Marinha permitiu afastar os dramatismos serção na sociedade após o cumprimento do intensa actividade operacional planeada e anteriormente criados, conferindo temporaria- contrato, a certificação das habilitações das restantes acções prioritárias de pre- mente alguma tranquilidade no campo da adquiridas, a natureza das actividades e das paração das fragatas e respectivas guar- gestão orçamental. Porém, como bem sabe- funções profissionais a desempenhar nas nições, que permitirão assegurar o comando mos, a dissipação dos problemas passa neces- fileiras, e as possibilidades de ingresso nos da STANAVFORLANT neste ano, se tentará sariamente pela eliminação das suas causas e, quadros permanentes, entre outras; pôr em prática um conjunto de medidas ino- nesta área, haverá ainda que disponibilizar, - A área da reestruturação organizacional, vadoras no campo da gestão. Será uma fase com oportunidade, a totalidade das verbas promovendo os necessários ajustamentos ao igualmente marcada por decisões governa- ainda em falta (cerca de 2.0Mc). funcionamento da Marinha no sentido de mentais determinantes para o futuro e por Igualmente, a fixação do orçamento para aperfeiçoar e simplificar os processos de recru- alterações significativas na matriz interna, 2001 deverá possibilitar que a Marinha cum- tamento e selecção, reduzir os períodos das com realce para a estrutura superior, tornan- pra as missões de que está incumbida, sem incorporações, juntar os centros de atendi- do fundamental e indispensável a con- provocar as inconvenientes perturbações que mento do âmbito da Direcção do Serviço do tribuição individual de todos os militares, têm vindo a verificar-se anualmente no seu Pessoal (RRS e CRA) e criar condições moder- militarizados e civis, com vista a atenuar funcionamento, incluindo as imobilizações nas e mais aliciantes para os jovens que esta- eventuais perturbações e a garantir a estabili- de diversos navios por falta de capacidade belecem o primeiro contacto com a Marinha. dade do funcionamento da Marinha. financeira para os reparar. Está em curso a redefinição das responsabili- Há, no entanto, razões para admitir um dades da Superintendência dos Serviços do Ao terminar, pretendo manifestar o meu esforço acrescido do Governo para se Pessoal sobre esta problemática, bem como de apreço pelos progressos verificados no desen- alcançar a desejável estabilização orçamental todos os restantes organismos que, no seu con- volvimento da "intranet" da Marinha, que na área da O&M, tendo como certo que as junto, integram o sistema de gestão de recur- constitui um projecto do maior interesse para verbas respeitantes a Pessoal estarão assegu- sos humanos da Marinha; o Ramo. 

16 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA ACADEMIA DE MARINHA VIVI SimpósioSimpósio dede HistóriaHistória MarítimaMarítima PedroPedro ÁlvaresÁlvares CabralCabral

eve lugar no auditório da Academia de Marinha, nos dias 25, 26 e 27 do passado mês de Outubro, o VI Simpósio de História TMarítima. Organizado pela Academia e, desta vez, dedicado ao tema "Pedro Álvares Cabral", devido ao facto de este ano se come- morarem os 500 anos da chegada daquele navegador à costa brasileira, teve a sua comissão organizadora presidida pelo CALM Rogério d’ Oliveira, Presidente da Academia. O Simpósio, com cerca de 70 participantes nacionais e estrangei- ros, foi dividido em quatro grandes temas, de forma a poder abranger uma maior quantidade de assuntos de interesse, (ver caixa) tais como: navegações pré-cabralinas e antecedentes da viagem; descobrimento do Brasil: a viagem, os homens e os navios e por fim, as consequên- A mesa que presidiu ao Simpósio, estando no uso da palavra o Secretário Geral cias para o futuro de Portugal e Brasil. da Academia – CMG Cyrne de Castro. As comunicações apresentadas foram apreciadas, em devido tempo, por uma comissão científica constituída por membros da No dia 26 de Outubro, teve lugar o tradicional jantar de convívio Academia e presidida pelo Prof. Doutor Luís Adão da Fonseca. na Messe de Cascais, e na tarde do dia seguinte, a comissão organi- Na sessão de abertura do Simpósio, presidida pelo Ministro da zadora apresentou o relatório dos trabalhos e respectivas conclusões, Defesa Nacional e com a presença do Almirante CEMA, do tendo estas sido sujeitas à apreciação do plenário. Embaixador do Brasil e do representante da Comissão Nacional para Seguiu-se a conferência de encerramento sobre o tema “A as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Comandante memória dos Portugueses no Brasil: o Projecto Reencontro”, proferi- Soeiro de Brito, usou da palavra o Presidente da Academia, tendo da pelo académico Prof. Doutor Teodoro de Matos. seguidamente proferido a conferência inaugural o académico Prof. Após isto, o Presidente da Academia usou da palavra para agrade- Doutor Luís Adão da Fonseca acerca de "Uma reflexão sobre a cer a presença de tantos interessados e manifestar o seu regozijo à Viagem de Cabral 1500 – 1501!". organização e a todos os intervenientes pelo bom andamento impri- Orientados pela respectiva mesa, presidida e secretariada por mido a toda a actividade do Simpósio, facto este que, honrando a membros da Academia, as diversas sessões desenrolaram-se, Academia, honrava, ipso facto, também a Marinha, esclarecendo os sucessivamente, com a leitura das respectivas comunicações às presentes de que no planeamento das actividades da Academia para quais se seguiram períodos de debate, tendo estes últimos, por o ano 2001, constava a realização de um outro Simpósio de História vezes, atingido grande vivacidade e envolvendo apreciável Marítima cujo tema, no entanto, de momento não estava ainda per- número de interlocutores. feitamente definido. 

VI SIMPÓSIO DE HISTÓRIA MARÍTIMA PEDRO ÁLVARES CABRAL TEMA I – NAVEGAÇÕES PRÉ-CABRALINAS "A Família de Álvares Cabral em Santarém" "Roteiros portugueses de navegação relativos ao Brasil – E ANTECEDENTES DA VIAGEM Profa. Dra. Manuela Mendonça séc. XVI" - Dra. Maria Armanda Ramos Taveira Presidente: Prof. Doutor Luís Adão da Fonseca "A família Álvares Cabral antes e depois da crise Secretario: Comte. José Rodrigues Pereira TEMA III – A VIAGEM, OS HOMENS E OS NAVIOS sucessória de 1578-81" Dr. Margaça Veiga "Esoterismo e Ciência nos Descobrimentos Portugueses" Presidente: Coronel Nuno Valdez dos Santos - Dr. Silva Loução Secretário: Comte. António Silva Ribeiro TEMA IV – CONSEQUÊNCIAS PARA O FUTURO "Descobrimento do Brasil: desvirtuamento das fontes "Divertimentos a bordo na Armada de Cabral" DOS DOIS PAÍSES: PORTUGAL E BRASIL iconográficas" - Dr. Lourenço Fernandes Dr. Carlos Francisco de Moura Presidente: Prof. Doutor Justino Mendes de Almeida Secretário: 1TEN Costa Canas "Brasil: descobrimento ou achamento?" "Religiosidade na Carta de Caminha" Engº José Caro Proença 1TEN Costa Canas "Como se organizou económica e civilmente a Sociedade brasileira" "O exercício da autoridade e da obediência: o caso da Dra. Maria Rosalina P.Delgado TEMA II – DESCOBRIMENTO DO BRASIL Armada de Cabral" - Profa. Dra. Margarida G. Ventura Presidente: Prof. Doutor Iswtvan Szászdi "Aspectos psicológicos da Descoberta do Brasil" Secretário: Comte. José Cyrne de Castro "Os navios de Cabral" - Dr. Amaral Xavier Prof. Fernando Castelo Branco "Algumas reflexões sobre o Descobrimento do Brasil" "A via, os Homens e os Navios da Armada de Pedro "Povoamento e colonização do Brasil nos Sec. XVI e Comte. Henrique Alexandre da Fonseca Álvares Cabral" - Coronel Valdez dos Santos XVII" - Dr. Marques de Sousa "O Planisfério de Jorge Reinel de 1519 e o "Os navios e as primeiras armadas" "A língua portuguesa no Brasil, depois de Cabral" Descobrimento do Brasil" - Dr. José Manuel Garcia Prof. Doutor Adolfo Silveira Martins Prof. Doutor Justino Mendes de Almeida Dr. Mário Rodrigues Ferreira "A Carta, o Diário de Navegação e o Tratado da Terra "As frotas do Brasil (1715-1835)" do Brasil. Pêro Vaz de Caminha, Pêro Lopes "Os comandos da Armada de Cabral – uma análise Dr. Paulo J.A. Guinote; Dr. António M.B. Lopes; de Sousa e Pêro Magalhães Gândavo. sócio-política" - Prof. Doutor Oliveira e Costa Dr. Eduardo J.M Frutuoso 1500-1530-1570" - Dr. João Abel da Fonseca "Pedro Álvares Cabral: para além do Atlântico" Conferência de encerramento pelo Prof. Doutor "Algunas consideraciones sobre el viaje de Cabral y la Dr. João António Salvado Teodoro de Matos Corte Española" - Prof. Doutor Adam Szászdi Nagy / "A derrota de Pedro Álvares Cabral no Atlântico" "A MEMÓRIA DOS PORTUGUESES NO BRASIL: Prof. Doutor Istvan Szászdi Leon-Borja Comte. José Malhão Pereira O PROJECTO REENCONTRO"

(Colaboração da Academia de Marinha)

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 17 ESCOLA NAVAL JornadasJornadas dodo MarMar 20002000 DosDos MaresMares dede CabralCabral aoao OceanoOceano dada LínguaLíngua PortuguesaPortuguesa

O colóquio interdisciplinar todos os parâmetros e a Escola Naval não quis deixar cair a iniciativa, pensando na com o mar como tema de base. realização periódica de um acontecimento Uma realização destinada deste tipo, que tivesse como tema de fundo a estudantes do ensino superior, o mar – nas suas múltiplas perspectivas e abordagens – e evocando qualquer onde foi possível cruzar efeméride que se julgasse apropriada ao informações e saberes. momento do próprio Colóquio. No ano 2000 comemorávamos o quinto centenário s Jornadas do Mar nascem – porque da chegada de Cabral ao Brasil e as Jornadas não dizê-lo – de um conjunto de cir- do Mar 2000 teriam como subtítulo evocati- cunstâncias, vontades e recordações vo Dos mares de Cabral, ao Oceano da A Língua Portuguesa. de um passado não muito longínquo. Nascem com a ideia de reunir num mesmo Como é habitual neste tipo de realizações, fórum, estudantes do ensino superior, que o colóquio contou com uma Comissão de apresentem trabalhos da sua área de estudo Honra e uma Comissão Científica, constituí- e que convivam intensamente durante uns da por professores do ensino superior, convi- quantos dias, trocando experiências, ouvin- dados pela Escola Naval e vindos de diver- do os problemas doutras áreas científicas e sos estabelecimentos de ensino, de todo o sentindo o mundo fora do seu curso específi- país. A esta Comissão coube a apreciação e co, da sua faculdade, do seu espaço de tra- Prof. Doutor Luís Adão da Fonseca. aceitação dos trabalhos que se propuseram balho. Que terá um estudante de inicialmente, bem como o seu ordenamento Matemática a dizer a um aluno de História? redondas temáticas, realizações culturais de e classificação, para efeitos de atribuição dos Que poderá um cadete da Escola Naval toda ordem e – naturalmente – as diversões prémios que estavam previstos no regula- dizer a quem estuda linguística?... Todos eles que os estudantes nunca dispensam e que mento. A organização prática esteve a cargo poderão dizer muita coisa, que ultrapassa a servem para cimentar as relações de de uma Comissão Executiva, presidida pelo natural convivência da juventude, entrando amizade. O acontecimento tinha sido Contra-Almirante Leiria Pinto e de um pelo campo da compreensão dos saberes abraçado com grande entusiasmo por parte Secretariado, dirigido pelo Capitão- uns dos outros e gerando aquilo que se fala da Marinha, de diversos ministérios e do -de-Fragata FZ José António Ruivo. Esti- em todas as Universidades, mas que é tão próprio Presidente da República que não veram presentes estudantes vindos de 28 difícil de obter na vida corrente da investi- quis deixar de vir presidir à sua sessão de Faculdades e outros Estabelecimentos de gação científica: poderão aprender e enten- encerramento. O balanço era positivo em Ensino Superior, que apresentaram 49 comu- der o que é a interdisciplinaridade. Mas, como disse, esta ideia teve um princípio que se perde no princípio dos anos sessenta, quando teve lugar um colóquio semelhante, por ocasião das comemorações do quinto centenário da morte do Infante D. Henrique. O Dr. Ortigão Neves – então cadete da Escola Naval – e o Professor Dias Farinha – que então prestava serviço na Academia Militar, como oficial miliciano – relem- braram o acontecimento e a ideia ressurgiu por proposta do primeiro, à Escola Naval, em 1997. No ano seguinte comemorava-se o centenário da chegada de Vasco da Gama à Índia e o colóquio realizado em 1998 decorreu sob o signo de "Vasco da Gama, os Oceanos e o Futuro". Foi um sucesso. Apareceram estudantes de toda a parte do país que apresentaram as suas comuni- cações e viveram cinco dias de intenso tra- O Presidente da República preside à cerimónia de encerramento do Colóquio e Abertura Solene do ano lecti- balho, a que não faltaram quatro mesas vo 2000/2001.

18 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA palavra o Contra-Almirante Rebelo Duarte, que poderiam, neste encontro ou em encon- dando as boas vindas a todos os participantes tros deste tipo, encontrar soluções que estão Prof. Doutor Malaca Casteleiro e falando do Colóquio como um espaço onde ali mesmo à vista, para quem anda a estudar se cruzam os saberes de diversas áreas de outro assunto. Aliás, na complexidade em nicações, às quais foram atribuídos prémios estudo, num intercâmbio que simbolicamente que os problemas comuns se tornaram, cada e menções honrosas. O primeiro prémio, pode ser comparado com a conjunção de vez é mais difícil encontrar soluções sem patrocinado pela Fundação Luso-Americana conhecimentos conjugados num momento descer a um interdisciplinaridade que está de Cultura, tinha o valor de 1500 000$00 e específico da nossa História, levando a que fora do hábitos universitários, mas que pode foi atribuído ex aequo aos trabalhos: fossem possíveis as navegações de quinhen- ser recuperada com estes jovens que, desde Memórias da Viagem de Pedro Álvares tos. Não é vulgar reunir cientistas de várias já, tiveram uma experiência riquíssima nesse Cabral na Historiografia Portuguesa - apre- disciplinas para que se debrucem sobre um campo. Na mesma cerimónia, o Doutor Luís sentado por Lídia Baptista e Maria Cristina mesmo tema, trocando experiências e apren- Adão da Fonseca, Professor Catedrático da Fernandes, da Faculdade de Letras da dendo outras formas de olhar o mundo. Será Faculdade de Letras da Universidade do Porto Universidade do Porto – e A Carta de Mestre magnífico que os jovens agora ali presentes proferiu a oração de sapiência com o título João a D. Manuel I – apresentado por Carlos não percam esta ocasião única de mostrarem “Dois anos na vida de Pedro Álvares Cabral”. Valentim, da Faculdade de Letras da o que sabem do mar a colegas seus que para Nos dias seguintes, e até sexta-feira, dia Universidade de Lisboa. eles olham com visões tão diferenciadas. O 24 de Novembro, decorreram as sessões economista fala com o historiador; o técnico normais do colóquio, intercaladas com qua- Os trabalhos começaram na segunda-feira, de recursos humanos com o especialista em tro mesas redondas temáticas. A tarde de dia 20 de Novembro, pelas 09h00, com a dis- transportes ou na preservação de animais quarta-feira, e as noites dos restantes dias tribuição dos respectivos processos e progra- marinhos; e o matemático?... de que falaria o foram ocupadas com realizações culturais e mas e com a apresentação das primeiras matemático?... explicou como se faziam os recreativas, que incluíram uma visita recre- comunicações. Nesse dia à tarde teve lugar a cálculos de navegação no princípio do século ativa a Lisboa e a participação no baile de cerimónia solene de abertura do Colóquio, XIX, pelos velhos capitães do Bacalhau. recepção aos novos cadetes. presidida pelo Secretário de Estado da Defesa, Vejam só a diferenciação dos temas e a À semelhança do ano anterior, o Presi- em representação do Sr. Primeiro Ministro. riqueza de conhecimentos que, normalmente dente da República achou a iniciativa de No auditório grande da Escola, usou da vivem de costas voltadas uns para os outros e grande mérito e resolveu honra-la com a sua presença na Comissão de Honra e presidin- do à cerimónia de abertura do ano escolar da Escola Naval. O Dr. Jorge Sampaio foi Abertura Solene do Ano Lectivo na Escola Naval recebido no átrio de entrada pelo Batalhão A cerimónia de encerramento do Colóquio coincidiu com a tradicional Abertura de alunos, deslocando-se depois, na com- Solene do Ano Lectivo 2000-2001 e foi nesse âmbito que ocorreram algumas outras panhia de outras altas entidades para o realizações de natureza protocolar, igualmente presididas pelo Presidente da auditório da Escola, onde decorreria a parte República, Dr. Jorge Sampaio. mais significativa da cerimónia. No que O Sr. Presidente foi recebido pelo Almirante CEMA e pelo Comandante da Escola dizia respeito ao encerramento do Colóquio, Naval e recebeu as honras usaram da palavra o Contra-Almirante militares devidas, prestadas Rebelo Duarte, Comandante da Escola pelo Batalhão de Alunos, Naval, o Contra-Almirante Leiria Pinto, comandado pelo Capitão-de- Presidente da Comissão Executiva e o Doutor -Fragata Luís Picciochi. De Malaca Casteleiro, Professor Catedrático do seguida presidiu no Auditório Departamento de Língua e Cultura Portuguesa à cerimónia já descrita, onde da Faculdade de Letras da Universidade de o Almirante Rebelo Duarte fez Lisboa que, gentilmente aceitou o convite um balanço das actividades e para proceder à tradicional oração de sapiên- do aproveitamento obtido no cia, subordinada ao tema “A Língua Portu- ano lectivo anterior e onde guesa no Mundo”.  foram entregues os diplomas de licenciatura aos novos Guardas-Marinhas. Guarda-Marinha Pereira da Silva recebe o diploma de licenciatura. J. Semedo de Matos CTEN FZ

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 19 CONDECORAÇÕES CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA CONDECORADO PELO GOVERNO FRANCÊS ● Realizou-se no passado dia 26 de Setembro na Embaixada de França, a cerimónia de condecoração do Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias, com a Ordem de "Commandeur de la Légion d’Honneur". A condecoração foi imposta pelo Embaixador Pierre Brochand, em representação do Ministro da Defesa francês, que pretendeu assim homenagear a gloriosa Marinha portuguesa. No uso da palavra, o embaixador Pierre Brochand destacou três momentos da carreira militar do Almirante Vieira Matias: o cargo que actualmente desempenha como Chefe do Estado-Maior da Armada, a Chefia do Quartel-General da NATO para a área Ibero-Americana e o comando de um destacamento de fuzileiros especiais na Guiné-Bissau (de 1968 a 1970). O embaixador manifestou "admiração por tudo o que simboliza a sua função, ou seja, a herança, única no mundo, do casamento secular que uniu o seu país aos oceanos e que fez de Portugal, numa época crucial da História, a vanguarda da humanidade a descoberta de si própria". (...)

VICE-ALMIRANTE ARQUITECTO JOSÉ CARVALHEIRA CARLOS RAMOS ● Realizou-se no passado dia ● Teve lugar no passado dia 5 22 de Setembro no Gabinete de Julho a cerimónia de con- do Chefe do Estado-Maior decoração do Arquitecto Carlos General das Forças Armadas, Manuel Ventura de Oliveira General Espírito Santo, a ce- Ramos, com a Medalha Naval rimónia de condecoração do de Vasco da Gama. VALM José Alberto Lopes A cerimónia que decorreu no Carvalheira, com a Medalha Gabinete do Chefe de Estado- de Ouro de Serviços Dis- -Maior da Armada e que, por tintos. este foi presidida, contou com a presença de ilustres convidados, A condecoração foi imposta nomeadamente o Presidente da Comissão de Domínio Público pelo General CEMGFA, es- Marítimo (CDPM) – VALM Fausto Morais de Brito e Abreu e de tando presentes altas patentes demais Vogais daquela Comissão, bem como Oficiais Generais. No dos três Ramos das Forças decorrer da mesma, o CEMA fez questão de salientar as inúmeras Armadas. qualidades do homenageado, no que diz respeito ao elevado valor O VALM Lopes Carvalheira que passou à situação de refor- dos seus pareceres e à importância do papel por si desempenhado ma por ter atingido o limite de idade, vê assim coroada uma na Comissão, há já 25 anos, com particular destaque para a quali- brilhante folha de serviços prestados à Armada e ao País. dade das suas intervenções, nos trabalhos da CDPM.

PROFESSOR DOUTOR ADRIANO MOREIRA ● Em 31 de Outubro passado, aquando da ce- ricularmente autonomizada, tendo esta iniciativa rimónia de posse do novo Director do Instituto alcançado uma significativa elevação do nível de Superior Naval de Guerra (I.S.N.G.), o Almirante formação desse ensino. Assim, a Ciência Política CEMA condecorou o Professor Doutor Adriano e Relação Internacional passaram a constituir um Alves Moreira com a Medalha Militar de Ouro campo alargado de transmissão de saber deste de Serviços Distintos. Professor que veio a ser reconhecida como indis- A cerimónia contou com a presença das mais pensável na formação complementar dos oficiais altas hierarquias da Armada, muitos oficiais e da Marinha. convidados. O Almirante CEMA que produziu expressi- O Almirante Vieira Matias dirigiu significati- vo louvor ao Professor Adriano Moreira, afir- vas palavras de agradecimento ao Professor mou a dado passo " que a Marinha considerou Doutor Adriano Moreira, salientando que a sua ser seu dever atribuir ao seu querido Professor colaboração ao I.S.N.G. permanece há mais de 42 uma condecoração que, pelo seu carácter ho- anos, primeiro como conferencista no período de norífico, pudesse simbolizar todo o valor da 1958 a 1968 e a partir daí como docente daquele organismo. alta missão de serviço público que desempenhou", a qual ficou Referiu que o Professor Adriano Moreira foi quem aí iniciou o bem espelhada na formação de sucessivas gerações de Oficiais ensino, em Portugal, da disciplina de Política Internacional, cur- da Armada.

20 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA TOMADAS DE POSSE COMANDANTE DA ESCOLA NAVAL Universidade, en- transmissão do saber e esse saber tem, para quanto instituição -, o Oficial de Marinha, uma componente téc- porque o estatuto de nico-científica e uma vertente humanista escola superior exige que devem equilibrar-se para uma melhor esta interligação que adequação aos desafios do complexo século favorece a compre- XXI que se aproxima. ensão mútua e resul- Aliás, as palavras do Almirante Chefe ta no prestígio da do Estado-Maior da Armada corroboram profissão de Oficial precisamente esta preocupação de equi- de Marinha. Mas es- líbrio entre os diferentes campos do saber e te caminho só é pos- da preparação do novo Oficial da Marinha: sível mantendo o es- a capacidade técnico-profissional só pírito de inovação e poderá ser exercida se forem desenvolvi- de adaptação, por- das as aptidões marinheiras e, sobretudo, que as circunstân- se os novos oficiais receberem e interioriza- ● No passado dia 24 de Outubro, o VALM cias envolventes não param e a Marinha rem um “universo de códigos, de valores e Américo Silva Santos foi rendido no cargo tem de acompanhar o movimento inces- de princípios” que constituam um modelo de Comandante da Escola Naval, pelo sante do mundo moderno. de conduto que conferirão a dimensão CALM António Carlos Rebelo Duarte. A estas palavras acrescentou o CALM humana indispensável ao exercício das A cerimónia foi presidida pelo Almirante Rebelo Duarte que a missão da escola era a suas funções. CEMA e decorreu nas instalações da própria Escola, perante a formatura de todo o batalhão escolar, corpo docente, ofi- O CALM António Carlos Rebelo Duarte nasceu em 1946 e concluiu o curso da Escola Naval em 1967. Especializou-se em Comunicações, é ciais, sargentos, praças e todo o pessoal licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Economia da civil que presta serviço na unidade. Universidade Técnica de Lisboa e pussui, entre outros, os cursos Quem primeiro usou da palavra foi, na- “NATO Naval Officers EW Introdutory Course”, o “Curso Geral Naval turalmente o comandante cessante, que de Guerra”, o “Ace Staff Officers Orientation Course”, “Perspectivas do procurou caracterizar, em linhas gerais, os Islão”, o “International Defense Management Course” e o “Curso supe- rior Naval de Guerra”. Exerceu cargos diversos em Unidades em terra e aspectos mais significativos que regeram a Unidades Navais, tendo comandado o NRP “Argos” (em comissão na sua acção. Definiu esse caminho em três Guiné), o NRP “Honório Barreto” e o NRP “Jacinto Cândido”. Como palavras chave: "abertura", "inovação" e CMG exerceu funções de Chefe das Divisões de Comunicações (93/94) "adaptação". A abertura à Marinha e à e de Pessoal e Organização (94/97) do EMA; bem como as funções docentes no ISNG, onde foi coordenador da Área de Ensino de sociedade civil, que determina a nossa mis- Estratégia e professor da mesma cadeira. Foi promovido ao actual posto são e precisa de entender o que somos; mas em 10 de Agosto de 2000. abertura, também, às Universidades - ou à

DIRECTOR DA BIBLIOTECA CENTRAL E PRESIDENTE DA COMISSÃO CULTURAL ● Realizou-se no passado dia 3 de Novem- cazmente a sua missão, daí que não irei, bro no Gabinete do CEMA, a cerimónia da para já, promover quaisquer alterações ao tomada de posse do CALM José Luís Fer- funcionamento dos departamentos que reira Leiria Pinto como Director da Biblioteca agora me são confiados e também não me Central e Presidente da Comissão Cultural. sinto, neste momento, ainda apto a apresen- No seu discurso o CALM Leiria Pinto tar qualquer projecto para futuras realiza- referiu: "Ao assumir a responsabilidade de ções. Afirmo simplesmente que procurarei, um novo cargo parto sempre do princípio por todos os meios ao meu alcance, preser- que os que me precederam empenharam var, engrandecer e divulgar a cultura da todo o seu engenho e arte para cumprir efi- nossa Marinha.

O CALM Leiria Pinto ingressou na Escola Naval em Outubro de 1958. posto de Contra-Almirante em 14 de Agosto de 1991. Especializou-se em Armas Submarinas e Fuzileiro Especial e tem , entre ou- Foi Comandante da Escola Naval, Subdirector-Geral de Marinha, Vogal do tros, os Cursos Geral e Superior Naval de Guerra, do Estado-Maior Inter-Forças Conselho de Direcção do Instituto de Acção Social das Forças Armadas, Vice- e de Auditor do Curso de Defesa Nacional. -Presidente da Comissão do Direito Marítimo Internacional e membro do Esteve embarcado em diversas unidades navais, tendo comandado o NRP Conselho Superior da Disciplina da Armada. "Azevia" e o NRP "Schultz Xavier" e grupos operacionais em viagens de Instru- O CALM Leiria Pinto recebeu inúmeros louvores e foi agraciado com várias ção de cadetes da Escola Naval. condecorações de que se destacam, além da Cruz de Guerra atrás referida, o Na Guiné de 1966 a 1967 comandou o DFE no 6, tendo sido agraciado por Distintivo Especial da Ordem Militar da Torre e Espada. feitos em combate com a Medalha Militar da Cruz de Guerra de 2ª Classe e final- Na área do associativisno foi Presidente da Direcção do Clube Náutico dos mente em Timor de 1973 a 1975, onde foi Comandante da Defesa Marítima, Oficiais e Cadetes da Armada e mais tarde Presidente da respectiva Assembleia Chefe dos Serviços de Marinha e Director da Estação Radio Naval de Díli. Geral. Desempenhou igualmente o cargo de Presidente da Assembleia Geral do Foi também Comandante da Escola de Alunos Marinheiros, Comandante do Clube Militar Naval. Grupo nº 1 de Escolas da Armada e Director das Infraestruturas. Exerceu as Presentemente exerce, desde Fevereiro de 2000, as funções de Presidente da funções de Chefe de Gabinete do Almirante CEMA, tendo sido promovido ao Direcção do Grupo de Amigos do Museu de Marinha.

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 21 TOMADAS DE POSSE DIRECTOR GERAL DE MARINHA considero ser o mais adequado para o País que somos. De resto, como se o passado não bastasse O VALM António João Neves de Bettencourt e a gestão dos recursos pudesse ser perdulária, concluiu o curso de Marinha da Escola Naval em 1965. bastaria observar o que se tem passado, recente- Frequentou os cursos de Controlo Naval de mente, em países sem tradição de envolvimento Navegação Mercante, Gestão na “Naval das marinhas no serviço público, para se con- Postgraduate School”, Táctica Naval na cluir que não se deverá inverter o sentido do HMS “DRYAD” e o Curso Superior Naval de Guerra (1995). Entretanto concluiu a processo, a menos que se teime em soluções de Licenciatura em Finanças no Instituto oposição de fase como, por vezes, resulta do Superior de Economia de Lisboa. nosso atraso em relação a países mais evoluídos. Como oficial subalterno prestou serviço A Marinha e o SAM sempre assumiram, ao em navios operacionais, com comissões nos longo dos tempos e, particularmente na segunda Açores (1965), Moçambique (1966/69) e Cabo Verde (1972/73), tendo sido instrutor metade do século XX, uma complementaridade na Escola de Artilharia Naval no período de ● No passado dia 30 de Outubro tomou em missões e recursos que é forçoso sublinhar.” 1969/72. posse o novo Director Geral de Marinha, O VALM Bettencourt salientou nas suas Como oficial superior ocupou o cargo de VALM António João Neves de Bettencourt, palavras o seguinte: “O Sistema de Autorida- Subdirector-Geral da então Direcção-Geral de Fiscalização Económica (1976/79), em cerimónia presidida pelo CEMA, Almi- de Marítima vive com a Marinha. A presença prestou serviço no Estado-Maior da Armada rante Vieira Matias. dos senhores Almirantes, dos senhores oficiais e (1979/82), foi Capitão do Porto de Peniche No seu discurso, o Almirante Vieira Ma- do restante pessoal da Marinha significam para (1982/86) e Comandante do Corpo de tias referiu: mim a interiorização da realidade desse entrosa- Alunos da Escola Naval (1986/89). mento e um penhor de solidariedade para o Entre 1989 e 1991 foi Comandante da fra- “Seria desejável que ao dar posse ao gata “Comandante Sacadura Cabral”, inte- Almirante Bettencourt no cargo de Director- futuro. grando a STANAVFORLANT em 1990, por -Geral de Marinha, o quadro legal da área fun- Cabe-me, a partir de agora, conduzir o navio um período de 4 meses e a NAVOCFORMED, cional que vai assumir já estivesse conveniente- e a sua guarnição num mar alteroso, segundo em 1990/91, durante 5 meses. mente clarificado. E a clarificação tem a ver com um plano de navegação com constrangimentos Promovido a Contra-Almirante em 1996, exerceu o cargo de Director do Serviço de o terminar de indefinições qualquer que seja o diversos, impondo, eventualmente, a ponderação Pessoal (1997/99), o de Subchefe do Estado- sentido da decisão. É evidente que a Marinha, de rotas alternativas, por forma a alcançar em -Maior da Armada (1999/2000), tendo na sequência da sua longa experiência na área segurança o porto de destino, ou seja, salva- assumido o seu actual cargo de Director- do exercício da autoridade do Estado no mar, da guardando o essencial da eficácia e da eficiência -Geral de Marinha em Outubro de 2000. do Sistema da Autoridade Marítima.” Foi promovido a VALM em 12 de Dezem- sua vocação para os assuntos marítimos, tendo bro de 2000. em linha de conta as capacidades operativas e A terminar dirigiu palavras de exortação No decorrer da sua carreira recebeu di- logísticas de que dispõe, propugna por um modelo a todos quantos servem o S.A.M. com versos louvores tendo ainda sido agraciado que, em consciência e com sentido de estado, profissionalismo e dedicação. com diversas condecorações.

COMANDANTE DA ZONA MARÍTIMA COMANDANTE DA ZONA MARÍTIMA E CHEFE DO DEPARTAMENTO DO SUL MARÍTIMO DOS AÇORES

● No passado dia 28 de Setembro, o CMG José Manuel Marques ● Decorreu no passado dia 3 de Novembro no porto de Ponta Ribeiro Reis entregou ao CMG Mário Ceríaco Dores Sousa o cargo Delgada, a bordo do N.R.P. “Honório Barreto”, a cerimónia de de Comandante da Zona Marítima do Sul, em acumulação com os entrega dos cargos de Comandante da Zona Marítima dos cargos de Chefe do Departamento Marítimo do Sul e Capitão do Açores e Chefe do Departamento Marítimo dos Açores. Porto de Faro. Por inerência das suas funções, o Comandante Dores O CALM Álvaro Rodrigues Gaspar ao assumir aquelas Sousa é também, desde esse dia, o Comandante Regional da Polícia funções rendeu o VALM Carlos Monteiro da Silva que após Marítima do Sul e o Comandante Local da Polícia Marítima de Faro. cerca de um ano de exercício daqueles cargos, irá breve- A cerimónia ocorreu na Capitania do Porto, sendo presidida mente ser empossado como Comandante Operacional dos pelo VALM Mota e Silva. Açores. Estiveram presentes os Comandantes das Unidades Navais A cerimónia de entrega foi presidida pelo Comandante Naval atribuídas ao dispositivo da ZMS, bem como os militares, milita- VALM Mota e Silva, estando presentes vários convidados mi- rizados e civis que prestam serviço nas Unidades de Marinha e litares e civis, nomeadamente o VALM Botelho Leal, Coman- nos órgãos regionais e locais do Sistema de Autoridade Marítima dante Operacional dos Açores. do Algarve.

22 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA SUBCHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA ● Decorreu no passado dia 26 de Outubro a cerimónia da tomada de posse do cargo de Subchefe do Estado-Maior da Armada pelo CALM Carlos Alberto Viegas Filipe, que foi presidida pelo Vice-CEMA, VALM Reis Rodrigues. No seu discurso, o CALM Viegas Filipe salientou: (...)" Qualquer que seja a perspectiva e o nível em que nos coloquemos, somos levados a reconhecer que no essencial, o trabalho realiza- do no Estado-Maior da Armada deve ser orien- tado por um elevado sentido de coerência e unidade em torno dos objectivos estratégicos definidos pelo Almirante CEMA e que neces- sariamente balizam o desenvolvimento da actividade da Marinha num quadro de coope- ração solidária com todos os restantes organis- seguiu o curso de Especialização em Em 1986 e 1987 integrou o Gabinete das mos da Marinha. Artilharia, prestou serviço a bordo de diver- Novas Fragatas. Será portanto numa moldura de referência sos navios. No período de 1987 a 1991 serviu como configurada no conceito anteriormente Entre 1975 e 1976 foi instrutor de táctica assessor do Governador de Macau para a expresso que gostaria de ver orientados todos naval no CITAN e em 1978 foi nomeado área da segurança. os meus esforços no desempenho das funções para o cargo de Director da Escola de Em 1995, já promovido ao posto de capi- agora atribuídas, contribuindo assim para a Informações de Combate. tão-de-mar-e-guerra, desempenhou funções eficácia do Estado-Maior da Armada no con- Frequentou o Curso Geral Naval de docentes na área das operações no ISNG. texto das competências que lhe incumbem e, Guerra no ISNG, após o que exerceu fun- Em 1996 comandou o Grupo nº 1 de consequentemente, para a melhoria do pro- ções na Divisão de Pessoal e Organização Escolas da Armada, em 1998 frequentou o duto operacional da Marinha. do EMA, onde se manteve até 1983. Neste Curso Superior Naval de Guerra e em 1999 O CALM Viegas Filipe após terminar o período frequentou o Naval Staff College assumiu as funções de Chefe da Divisão de curso de Marinha na Escola Naval, a que se (1981) no Naval War College. Planeamento do EMA.

SUPERINTENDENTE DOS SERVIÇOS FINANCEIROS ● Ao empossar o novo Superintendente alto, deixado pelo seu antecessor, numa níveis, quer visando a conformidade legal da dos Serviços Financeiros, CALM AN Jorge correcta interpretação do que deve ser a despesa, quer também (e coloco nisso muito José Correia Jacinto, em 23 de Outubro continuidade do progresso. ênfase) verificando a eficácia e a eficiência da passado, não quis o Almirante CEMA dei- Dirigindo-se ao CALM Correia Jacinto despesa. Este sublinhado é necessário para xar de realçar o facto que há precisamente afirmou a dado passo: tornar visível aquilo que mais frequentemente 3 anos ter tomado posse o anterior "Temos de continuar o nosso espírito de se esquece". Superintendente, Almirante Rodrigues cruzada a caminho do objectivo expresso na A terminar, dirigiu palavras de estímulo Baptista. A este dirigiu palavras de muito Directiva de Política Naval de rentabilização ao novo Almirante Superintendente, o apreço pelo seu anterior desempenho, dos recursos. Há que utilizar a imaginação e qual ao enfrentar difíceis desafios e muito para além daquilo que já expressava todos os processos legítimos para rentabilizar os maiores responsabilidades, irá responder no louvor então concedido. recursos financeiros que são colocados à dis- com inteligência e dedicação, garantes de Salientou que é na renovação que se vão posição dos responsáveis em todos os patamares uma actuação à altura das expectativas. encontrar novos alentos para atingir os das cadeias de comando, direcção e chefia. Para O CALM AN Jorge José Correia Jacinto, grandes objectivos, como é o caso da isso, a desconcentração financeira constitui de 56 anos de idade, frequentou a Escola Superintendência dos Serviços Financeiros uma importante ferramenta, mas associada a Naval em 1962/66. onde os últimos Superintendentes têm algumas outras. A primeira, e sem procurar ser Embarcado, desempenhou as funções de procurado atingir os objectivos propostos, exaustivo no elencar das medidas, terá de ser o Chefe do Serviço de Abastecimento partindo do patamar, sucessivamente mais controlo da gestão financeira, nos diversos (1966/72). Em terra foi Secretário-Tesoureiro do Conselho Administrativo da Flotilha de Escoltas Oceânicos, Instrutor na Escola de Abastecimento, exerceu funções na Direcção de Construções Navais e na Direcção Geral de Material Naval. Foi Chefe do Serviço de Relações Públicas (1977/87), Chefe da 1ª Repartição da Direcção da Fazenda Naval (1987/92), Director da Administração Financeira (1992/96), e mais recentemente, Chefe de Gabinete do Superintendente dos Serviços Financeiros (1997 a Outubro de 2000). Foi promovido a Contra-Almirante em 11 de Agosto de 2000. REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 23 INSTITUTO SUPERIOR NAVAL DE GUERRA

TOMADA DE POSSE DO DIRECTOR DO INSTITUTO SUPERIOR NAVAL DE GUERRA ● Em 31 de Outubro passado teve Em continuação, teve lugar a ce- lugar no Instituto Superior Naval rimónia de posse do cargo de de Guerra a cerimónia de tomada Director do ISNG, tendo em segui- de posse do cargo de Director, a da os três agraciados proferido qual englobou igualmente uma algumas palavras de agradecimen- homenagem da Marinha ao Prof. to, após o que foi encerrada a Dr. Adriano Moreira. sessão. A cerimónia foi presidida pelo O novo Director do I.S.N.G., Almirante CEMA, e que pela pri- VALM Mendes Cabeçadas tem 57 meira vez teve lugar naquele anos de idade e ingressou na Escola Instituto, contou com a presença Naval em 1961, especializando-se das mais altas hierarquias da posteriormente em Comunicações. Armada, inúmeros oficiais e convi- Possui, entre ouitros, os Cursos dados. Superior Naval de Guerra, Curso Aberta a sessão foram lidos os O Almirante CEMA ladeado pelo anterior e actual Director do ISNG. de Táctica Naval e "Allied Com- louvores conferidos pelo Almirante mand Orientation Course". CEMA aos Prof. Dr. Adriano Moreira, VALM Magalhães Foi Comandante do N.R.P. "Quanza" (Guiné) e "Oliveira e Queiroz, Director cessante e VALM Mendes Cabeçadas, Carmo". Director empossado, após o que foram agraciados com a Serviu no Estado-Maior da Armada na 1ª e 2ª Divisões e Medalha de Serviços Distintos. entre 1984 e 1987 esteve como Adjunto da Missão Militar Seguidamente, o Almirante CEMA, Almirante Vieira Matias, OTAN em Bruxelas. De Jul94 a Nov96 fez parte do corpo dirigiu significativas palavras de agradecimento e louvor às docente do ISNG, após o que desempenhou o cargo de Chefe três entidades agraciadas. de Gabinete do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada.

SESSÃO SOLENE DE ABERTURA DO ANO LECTIVO 2000/2001

● Revestida da solenidade habitual e Seguidamente, o Director VALM com a presença distinta das altas Mendes Cabeçadas, após saudar os pre- patentes da Marinha e de numerosos sentes, teceu algumas considerações convidados, realizou-se no passado dia 3 sobre a problemática dos cursos curricu- de Novembro, no Instituto Superior lares do Instituto, passando posterior- Naval de Guerra, a tradicional cerimónia mente a referir o desafio que constitui a de abertura do ano lectivo 2000/2001, a necessidade de elevar a formação dos qual foi presidida pelo CEMA, Almi- futuros quadros superiores, e as suas rante Vieira Matias, com a presença do expectativas de desempenho, aos pata- Vice-CEME, Tenente-General José mares de exigência e de rigor que são Eduardo Garcia Leandro e do Comandante operacional da Força imperativos da Marinha hoje, como de modo acrescido no futuro. Aérea (COFA) Tenente-General José Francisco Fernandes Nico. Coube ao CMG Lopo Cajarabile, coordenador da área de Aberta a sessão, procedeu-se à entrega de diplomas e distin- Estratégia daquele Instituto, proferir a lição inaugural, subordi- tivos aos auditores do Curso Superior Naval de Guerra nada ao tema "O Apoio das Marinhas à Política Externa dos 1999/2000, e diplomas aos auditores do Curso Complementar Estados", após o que foi encerrada a sessão. Naval de Guerra 1999/2000, bem como dos prémios escolares Seguiu-se um porto de honra na Messe de Oficiais ao qual aos oficiais mais bem classificados destes cursos e do Curso Geral estiveram presentes convidados, membros do corpo docente, ofi- Naval de Guerra 1999/2000. ciais auditores e alunos dos diversos cursos navais de guerra.

ENCERRAMENTO DO CURSO DE INTRODUÇÃO À GEOPOLÍTICA E ESTRATÉGIA ● Decorreu no período mentos básicos que proporcionem uma melhor compreensão de 6 a 13 de Outubro do sistema de relações internacionais e da envolvente estratégi- passado, no Instituto Su- ca em que se inscreve a aplicação do poder naval no cumpri- perior Naval de Guerra, mento das missões das Forças Armadas, na salvaguarda dos um curso de Introdução interesses nacionais. à Geopolítica e Estra- Para além dos Professores militares de Estratégia daquele tégia. O citado curso, Instituto, foram também palestrantes e conferencistas o Prof. com a frequência de 20 Dr. Adriano Moreira, o Prof. Dr. Marques Bessa e o Vice- alunos, teve por finali- -Almirante Ferraz Sacchetti. dade habilitar os oficiais A análise dos resultados apurados no curso, permitem subalternos em início de deduzir do elevado interesse daquela iniciativa, que tudo Os alunos com o Director de Curso. carreira, com os conheci- aponta para que tenha continuidade no futuro.

24 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA NOTÍCIAS VISITA DO GENERAL CEMGFA À MARINHA

● Realizou-se no passado Para que o país tenha uma dia 31 de Outubro uma visita Marinha moderna, haverá que do Chefe do Estado-Maior dispor de meios modernos, opera- General das Forças Armadas, dos por pessoal com formação General Alvarenga de Sousa avançada e apoiados por uma Santos à Marinha. estrutura logística eficiente e efi- Depois de ter embarcado caz. Visualizando o futuro da na UAM “Alva”, na Doca da Marinha e mantendo como Marinha, com destino à Base objectivo supremo servir o País e Naval de Lisboa, o General defender os interesses nacionais CEMGFA foi recebido pelo segundo uma perspectiva de par- Almirante CEMA, sendo-lhe ticipação integrada, afigura-se prestadas as devidas honras necessário concretizar as solu- militares por uma companhia ções de modernização que foram de 2 pelotões da BF1. submetidas à consideração supe- Seguiu-se uma visita ao rior, de uma forma planeada, N.R.P. “Álvares Cabral” num clima de plena confiança onde o CEMA efectuou um entre Governo e Forças Armadas briefing, sobre a “Missão, que, por parte da Marinha, será Dispositivo e Organização da preservado na sua máxima Armada. Preparação, susten- extensão”. tação e emprego das forças O programa da visita navais”. prosseguiu com uma visita ao O Almirante Vieira Matias Comando do Corpo de Fuzi- concluiu a sua apresentação leiros, onde o General Alva- referindo que: renga de Sousa Santos teve a (...) “A reestruturação das oportunidade de observar o Forças Armadas, no relativo à dispositivo estático constituí- Marinha, passa fundamental- do por unidades/meios ope- mente pela modernização da esquadra, sua razão de existir. Todas as racionais. Seguiu-se a assinatura do Livro de Honra do Comando restantes peças de uma mudança que se revele eventualmente necessária do Corpo de Fuzileiros. deverão ser consideradas como menos prioritárias, designadamente qual- De regresso ao Alfeite, a visita terminou com um almoço no quer revisão do edifício legislativo, o qual deverá constituir um meio e salão nobre do Palácio e assinatura do Livro de Honra e troca de não um fim em si mesmo. lembranças.

CONDECORAÇÃO DO CLUBE MILITAR NAVAL ● No passado dia 15 de Novembro, dia do 134º aniversário do Clube Militar Naval (CMN), foi levada a cabo uma sessão solene pre- sidida pelo Ministro da Defesa Nacional que, em representação do Presidente da República, condecorou o CMN com o título de mem- bro honorário da Ordem da Liberdade, na presença de um elevado número de sócios. A atribuição desta elevada condecoração veio reco- nhecer a posição que o CMN e os seus sócios, desde a sua criação, têm assumido, e o papel que vêm desem- penhando na defesa dos va- lores da Democracia e da Liberdade, da Independência Nacional, da Dignificação do culminou no 25 de Abril de 1974, através do qual foi restituída Homem e, particularmente, a sua participação no processo que a Portugal a dignidade entre as Nações.

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 25 NOTÍCIAS

PARTICIPAÇÃO DA MARINHA NA MEKO© USER WORKSHOP 2000 ● No período de 17 a 19 de Outubro pas- Turquia, e de diversas firmas civis que equi- sores e sistemas de sado, decorreu em Mar del Plata, na pam os navios MEKO©. De relevar a dele- comando e controlo. Argentina, a 4ª edição da "MEKO© User gação do "German Frigate Consortium", No terceiro e últi- Workshop" ou MECON 2000, a qual con- composta por 10 elementos das firmas mo dia da conferên- grega as marinhas que operam actual- Blohm+Voss, Ferrostaal Argentina e cia, todos os delega- mente navios do tipo MEKO© e as mari- Thyssen Rheinstahl Technik. dos embarcaram a bordo do destroyer da nhas que num futuro próximo irão operar armada argentina ARA "Almirante Brown", navios deste tipo (actualmente em cons- O objectivo destes encontros anuais é o tendo efectuado uma demorada visita trução ou apenas na fase de projecto). de constituir um fórum para troca de expe- àquela unidade naval, enquanto esta nave- Tendo a primeira edição sido efectuada riências entre marinhas que operam meios gava ao largo da cidade de Mar del Plata. em Hamburgo, na Alemanha, em 1997, a navais muito similares. Tradicionalmente, segunda edição decorreu em Melbourne, na têm sido trocadas informações sobre os A delegação que representou a Marinha Austrália, tendo a terceira edição decorrido diversos aspectos da operação dos navios foi composta pelos CMG EMQ Dias Rego há cerca de um ano em Lisboa. MEKO© e as soluções desenvolvidas para (Direcção de Navios – Chefe do Depar- A MECON (MEKO© Conference) deste garantir uma mais eficiente exploração tamento de Manutenção) e CTEN Rosa ano foi organizada conjuntamente pelo destes meios navais. Mendes (CITAN – Chefe do Gabinete de "German Frigate Consortium" (GFC) e pela Na sequência dos anos anteriores, a Formação), tendo sido efectuadas três apre- Armada argentina, a qual desempenhou edição deste ano voltou a revestir-se de ele- sentações: o "Operational Report" das fra- com inultrapassável esmero o papel de vado interesse, face à qualidade e pertinên- gatas da classe "Vasco da Gama", versando marinha anfitriã. cia das apresentações efectuadas, as quais as missões efectuadas pelas nossas cobriram áreas tão diversas como os con- unidades MEKO© no decorrer do último Participaram cerca de 50 delegados das ceitos organizativos das diversas marinhas, ano; "O Impacte Esperado do Estudo MO marinhas da Argentina, África do Sul, novos conceitos na construção e 2015 na Modificação das Fragatas da classe Alemanha, Austrália, Chile, Grécia, manutenção das unidades navais, futuras Vasco da Gama" e "O Emprego dos Malásia, Nova Zelândia, Portugal e actualizações, evoluções nas armas, sen- Sistemas Integrados de Controlo das Comunicações nas Operações Navais". Pelo tipo de missões efectuadas pelas nossas unidades (com ênfase para a partici- pação nas INTERFET/UNTAET pelo N.R.P. "Vasco da Gama") e pela actualidade dos temas versados nas nossas apresen- tações, a participação da Marinha granjeou muito interesse, confirmado aliás pelos numerosos pedidos de informação suple- mentar que se seguiram à conferência.

Rosa Mendes CTEN

"COOPERATIVE SUPPORT 2000" PRIMEIRO EXERCÍCIO LOGÍSTICO CONJUNTO NATO / PARCERIA PARA A PAZ ● Realizou-se entre os dias 8 e uma Força-Tarefa combinada 14 de Novembro na Hungria, conjunta, que incluiu compo- o exercício NATO / Parceria nentes terrestres, aéreas e marí- para a Paz "Cooperative Sup- timas. Tratou-se do primeiro port 2000" (COSUP 00). Exercício Logístico Conjunto O COSUP 00 foi um exercício em que os participantes logístico conjunto, estilo semi- NATO/Parceria para a Paz nário, baseado num cenário fic- tiveram oportunidade de trocar tício que conduziu a operação, informações NATO sobre os as- destinado a promover uma pectos logísticos da Marinha, mais estreita cooperação militar Exército, Força Aérea e Anfíbia de e interoperabilidade entre a uma Operação de Apoio à Paz. NATO e as nações de Parceria O exercício envolveu mais de para a Paz. 100 Oficiais logísticos da maior O exercício centrou-se nos parte das nações NATO e aspectos logísticos de uma Parceria para a Paz. As nações operação de apoio à paz levada do Diálogo do Mediterrâneo a cabo por uma peça multi- foram convidadas a participar -serviços, multi-nacional, ou por A mesa que presidiu ao seminário. como observadoras.

26 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA CONVÍVIOS HOMENAGEM AO ALMIRANTE FRANCISCO FERRER CAEIRO

● Conforme aviso publicado na nossa sua mulher, Senhora Dona Carmen, a edição nº 335 (SET/OUT), para comemo- quem foram tecidos os mais rasgados rar o magnífico e inolvidável evento em elogios, seus filhos Pedro e José e seus título, teve lugar no passado dia 22 de netos. Outubro na Messe de Cascais, um Antes do bolo de aniversário e das almoço de confraternização que contou lembranças, foram enaltecidas as quali- com a presença de mais de seis dezenas dades invulgares deste marinheiro e de oficiais da Armada e familiares, aviador Português que constitui um ver- destacando-se o elevado número de dadeiro exemplo para as gerações vin- Almirantes. douras duma Marinha de Guerra de pas- O Almirante Ferrer Caeiro, em muito sado glorioso. boa forma, foi acarinhado por todos e especialmente pela sua querida família: (Colaboração da Comissão Organizadora)

“FILHOS DA ESCOLA” DE OUTUBRO DE 1968 ● Realizou-se no passado dia 14 de Outubro, no restaurante "Salões Cor- deiro" em Vale de Milhaços, o 2º almoço comemorativo, do 32º aniversário da incorporação na Armada, dos "Filhos da Escola" de Outubro de 1968. A concentração realizou-se na Base Naval de Lisboa, seguindo-se uma visita aos navios "Sagres" e "Comte. Sacadura Cabral". Seguiu-se o almoço-convívio onde fo- ram dadas as boas vindas aos presentes e guardado um minuto de silêncio em memória dos camaradas falecidos. O encontro contou com a presença de 270 pessoas e decorreu em ambiente de sã camaradagem e amizade, ficando a promessa que para o ano há mais.

CLUBE ESCOLAMIZADE

Dentro de um plano de actividades para o ano 2000, o Clube Esco- lamizade celebrou o 9º Aniversário da sua fun- dação. O programa das comemorações incluiu um magusto de S. Martinho na sua sede social em Albufeira, que contou com a pre- sença de cerca de duas centenas de associa- dos, seus familiares e convidados. No dia 13 de Novembro realizou-se, também na sua sede, a cerimónia do içar das bandeiras Aspecto do jantar comemorativo. Nacional, do Clube e da Câmara Municipal de Albufeira. No dia 18 de Novembro reali- "O ALCACHE" (Setúbal) e o Chefe de seu Chefe de Redacção e demais convida- zou-se o já tradicional jantar comemorativo Redacção da Revista da Armada. dos foi objecto duma singela homenagem do aniversário do Clube, em Vale Côvo- Tendo como lema "Para nós o Mar é realizada na sua sede social, no dia 19 de Boliqueime, com a presença de cento e uma Realidade Permanente", o Clube Novembro, a culminar as comemorações. oitenta sócios, seus familiares e convida- Escolamizade tem vindo a realizar, sempre A R.A. agradecida, congratula-se com dos. Presentes encontravam-se o CMG em crescendo, um trabalho notável de estes eventos e deseja as maiores felici- Dores de Sousa, Comandante da Zona associativismo na região do Algarve, com dades ao Clube Escolamizade cujo Marítima do Sul e Capitão dos Portos de vista ao futuro e para dar a conhecer as empenho na valorização do associativis- Faro e Olhão, o Delegado Marítimo de suas vastas actividades culturais e recreati- mo dos seus marinheiros se tem vindo a Albufeira, elementos da Direcção do Clube vas. A Revista da Armada, na pessoa do desenvolver de forma notável.

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 27 Bima ..vi" .. um ptd.l(o d~

modalidades do CISM 37º CAMPEONATO DO CISM DE ESGRIMA (Conselho Internacional Viterbo e Montefiascone / Itália do Desporto Militar), 16/23 Jun segunda organização O 37º Campeonato do CISM de Esgrima, apresentou um eleva- multi-desportiva do do nível desportivo, dado os países participantes terem apresenta- Mundo a seguir ao Comité Olímpico do as equipas que habitualmente participam nos Jogos Mundiais e Jogos Olímpicos. Portugal competiu na prova de espada, sendo Internacional. Apresenta-se seguidamente a classificação obtida pelos nossos atiradores a seguinte: uma retrospectiva daquilo que de mais 31º TCOR Diogo significativo as delegações portuguesas 35º CAP Alves fizeram em 2000. 37º TEM Lucena 37º CAMPEONATO DO CISM DE TIRO ANKARA / TURQUIA 21/27 Jul Com uma equipa constituída por 21 atletas, Portugal fez-se representar na capital da Turquia, Ankara, para a 37ª edição do Campeonato do CISM de Tiro. O desempenho da representação portuguesa situou-se em bom plano, com realce para os seguintes resulta- dos:

Pistola de precisão: 27º Agente Faria – PSP – 571 pt Pistola de velocidade militar: 26º CAP Henriques – Exército – 570 pt Pistola feminina: 28º SOLD Gaspar – GNR – 548 pt Pistola de velocidade militar/feminina: 19º Agente Nora – 559 pt 48º CAMPEONATO DO CISM DE CORTA-MATO Carabina feminina: 32º SOLD Calção – GNR – 565 pt ARGÉLIA / ARGEL 21/26 Fev 48º CAMPEONATO DO CISM DE PENTATLO MILITAR HOLSTEBRO / DINAMARCA As nossas cores registaram mais 11/20 Ago um comportamento brilhante na va- riante curto, ao obter-se o 3º lugar Numa modalidade eclética e muito exigente em termos físicos, colectivo, se tivermos em conta as que engloba as provas de tiro, corrida de obstáculos, natação util- "estrelas" de palmarés internacional itária, lançamento de granadas e corta-mato, Portugal logrou alcançar presentes. Para esta classificação o 21º lugar entre 26 países. A melhor classificação individual per- foram decisivos os 4º, 11º, 12º e 18º tenceu ao 1SAR Máximo do Exército, o 82º lugar entre 157 atletas. lugares obtidos respectivamente pelos atletas SOLD Ramos, SOLD Maravilha, SARG Junqueira e SOLD 33º CAMPEONATO DO CISM DE ORIENTAÇÃO Costa, da GNR. EVJE / DINAMARCA Na variante longo, registe-se o bom 7º lugar entre 18 equipas, 21/27 Ago destacando-se no plano individual os 27º e 37º lugares para os SOLD Pinto e SOLD Cunha da GNR, respectivamente. Portugal fez-se representar na sempre popular modalidade de Orientação com uma equipa mista de 11 atletas, desfalcado de 7º CAMPEONATO DO CISM DE TRIATLO alguns dos seus habituais elementos, por força dos empe- SABANDIA / ITÁLIA nhamentos operacionais internacionais do nosso país, cuja 11/16 Jun prestação pode considerar-se meritória, numa competição onde estava reunida a fina flor mundial. As classificações mais impor- Competindo com a elite dos triatlistas mundiais, a equipa por- tantes foram então: tuguesa obteve o 12º lugar entre 18 países, tendo como palco a pitoresca cidade de Sabandia, construída de raiz em 1934 e Individual masculinos: inserida na província Italiana de Latina. 19º SARG Reis – Exército 21º SARG Sousa – Exército Como já vem sendo hábito nos últimos anos, a equipa 31º 2TEN SEG Rodrigues – CEFA/Marinha nacional contou com a presença dos atletas CAB CM Horta e Individual femininos: CAB FZM Lopes do CEFA, resultado de um trabalho profícuo e 35º Guarda Silveira – PSP continuado que se louva e aponta. 42º TEM Santana – FAP

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 29 HISTÓRIAS DA BOTICA (4) OO Sr.Sr. AspiranteAspirante XX

lguns de nós são, por com o que seria considerado natureza, mais reca- aceitável, pela maioria dos Atados que outros. oficiais da câmara . O Sr. Menos afirmativos da sua Aspirante X, esse, foi rapida- personalidade. Geralmente, mente condenado a praxes também, mais introspec- diversas, mais ou menos tivos. Este tipo de pessoas, bem intencionadas como ler das quais todos os leitores poesias em francês antes da reconhecerão alguém, são refeição, decorar e repetir, muitas vezes mal com- sem erros, a ementa da sema- preendidas, discriminadas, na e outras, que suportava ou, pura e simplesmente, com séria estoicidade. Ao Sr. ignoradas – por serem dife- Aspirante Y, ainda que por rentes. Têm, no entanto, vezes lhe fossem impostos muitas qualidades e, sobre- tais deveres, a eles muitas tudo, uma grande determi- vezes se furtou, com afa- nação e vontade. Alguns são zeres inesperados, que o mesmo capazes de suportar impediriam de se dedicar humilhações, trabalhos e com aprumo a tais deveres, incompreensões dos seus ou até com uma rouquidão pares, para levar a bom inesperada, que lhe limitaria porto o quer que conside- a capacidade de pronunciar ram certo. bem o francês, língua em É que, acredito, estas pes- que, aliás, se afirmava perito. soas são como sementes Também nas tarefas quoti- num campo: precisam de dianas as coisas não corriam um terreno fértil e de um bem ao Aspirante X, a sua clima adequado para flo- atitude humilde, junto dos rescer. Precisam, ainda que oficiais, era frequentemente nem sempre o reconheçam, interpretada como insegu- de uma oportunidade e da rança. A sua simpatia como compreensão dos outros. fraqueza. A sua seriedade Destes homens, enfim, nem como atrapalhação. Torna- sempre reza a história, mas ram-se frequentes os comen- procurarei eu, humildemen- tários dos oficiais, muitas te, dar aqui conta de um deles. talhe. Respondia por monossílabos e só vezes pouco elogiosos, a propósito do X, quando activamente questionado. Morava muitas vezes na frente do próprio. Ele não Há já algum tempo, numa corveta em na margem sul. O seu pai, ainda no activo, desarmou, trabalhava arduamente, respon- que embarquei, apresentaram-se para era oficial subalterno, tendo efectuado uma dia com singeleza e rapidez a qualquer cumprir estágio dois aspirantes da classe de carreira a pulso a partir de praça. Quando solicitação, mas sentia-se-lhe o sofrimento. Marinha. Um deles, que por facilidade de questionado sob desportos, disse, de forma Enquanto isto o Sr. Aspirante Y afirmava-se referência vou chamar Aspirante Y, deu nas tímida, que gostava de jogar futebol. como estrela em ascensão, um homem vistas desde o primeiro dia. Entrou com a Parecia amedrontado pela atitude inquiri- cheio de certezas, sem desperdiçar calma dos eleitos. Era alto e bem constituí- dora dos "Senhores Oficiais", incitando-os ocasiões para aparecer a brilhar. do. Tinha um ar bronzeado, que rapida- ainda mais, como seria de esperar, a per- Entre a guarnição, contudo, o Aspirante X mente fez saber, ser devido à prática regular guntas e comentários jocosos. Na com- era estimado. Talvez pela tom pessoal como de surf, nas praias da linha do Estoril, onde petição que se ia desenrolar entre os dois, dirigia o serviço que lhe era dado coordenar, também residia. Era, ainda, filho de um ofi- como concluirão os leitores, o Aspirante X sem gritos nem exaltações, de uma forma cial da Marinha, na reforma, mas que tinha parecia condenado à partida. compreensiva, ainda que exigente, fazendo atingido patente elevada na hierarquia, sob que, mesmo o mais humilde, de entre a o qual o Comandante tinha servido, como Na realidade, o alto e desempoeirado, guarnição, fosse considerado importante. oficial de guarnição e de quem guardava "rapaz da linha", rapidamente se adaptou a Conseguia, facilmente, mobilizar até os que, gratas recordações. bordo. Utilizando técnicas consagradas na boca de outros eram mais renitentes. O outro Aspirante, que cognominei de pelo tempo, para a ascensão rápida, repetia Infelizmente, nem sempre esta eficácia era Aspirante X, fez uma aparição bem mais como se dele fossem, todas as teorias do Sr. reconhecida pelo Comando – o que acen- discreta. Tinha estatura mediana e uma Imediato, ria quando o Sr. Imediato ria e só tuava, assim pude perceber, a sua tristeza. magreza acentuada pela farda, que mais imitia pareceres, por mais insignificantes Com o tempo, essa tristeza foi-se agravan- parecia dois números acima do verdadeiro que fossem, desde que se coadunassem do. Temendo pela saúde mental do nosso

30 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA jovem, decidi intervir. Ao longo da vida, encontrado. Dei-lhe coragem. Disse-lhe no Inverno. À chegada fomos recebidos senti-me, eu próprio, muitas vezes em ma- para continuar a trabalhar como sempre. numa tempestade medonha, típica das que lhas semelhantes, o que aguçava a minha Afirmei-lhe que a justiça é muitas vezes assolam, nessa estação, aquele arquipélago. vontade de fazer qualquer coisa. Falámos imperceptível, mas acaba por vir. Disse-lhe, Na faina de atracação no porto de Ponta longamente e ele, sentindo-se interpelado enfim, que acabaria por encontrar em si Delgada, uma forte rajada empurrou o no seu sofrimento íntimo, escondeu as tudo o necessário para vencer. navio contra uma embarcação de pesca a lágrimas que lhe afloravam ao rosto. ré. Houve um desequilíbrio geral. O nosso Lembrei-lhe então, tal como fizeram comi- Há na vida, todos o sabemos, coincidên- jovem fazia faina na tolda, o oficial tinha go há uns anos, uma história consagrada cias que nos abanam. Foi assim, que alguns caído e, inconsciente, sangrava profusa- na sabedoria oriental: dias após esta conversa, houve um jogo de mente do couro cabeludo O Aspirante X, Havia um nobre japonês que tinha dois fi- futebol entre o navio e uma fragata alemã, rapidamente, como que por instinto, dis- lhos, em treino nas artes da guerra. Um que nos visitava. O nosso homem foi, claro, tribuiu tarefas a todos à sua volta, reorgani- deles, o mais velho, tornou-se rapidamente remetido para o banco dos suplentes. A zou a amarração e segurou o navio. mestre na arte de manejar o sabre e um pe- nossa equipa não levava por diante a tarefa Comunicou, ainda, com precisão e calma, o rito com o arco e flecha, para grande orgu- de vencer os germânicos, estando o score sucedido à ponte. Entretanto, alertado para lho do pai. O outro era esforçado, mas por em uns pouco honrosos 5: 1, quando um o camarada caído, rasgou parte da camisa e vezes, falhava o alvo e já tinha sido derrota- dos jogadores se lesionou e os outros fez compressão na ferida. Quando chegou a do no sabre. O pai, preocupado com este suplentes não mostraram grande interesse ajuda, eu incluído, o oficial havia retomado filho, dirigiu-se ao mestre e perguntou-lhe o em participar em tal humilhação. Entrou o a consciência e o ambiente era de orien- porquê dos seus erros, bem como do menor Aspirante X, e rapidamente a maré do jogo tação e serenidade. brilhantismo, relativamente ao irmão. O mudou. Qual Eusébio, o aspirante fazia a Nesse dia foi brindado por todos. mestre, velho guerreiro, ter-lhe-á respondi- bola passar entre os gigantes alemães, como do, aqui estamos nos treinos, saberás qual se ela lhe estivesse colada ao pé. A marujada Desta vez consegui, cansei os amigos dos teus filhos comete erros na guerra. animada, com tal habilidade, gritava o nome leitores: utilizei símbolos de equações Daí a algum tempo, o Japão foi ameaça- dele e os restantes jogadores encorajados matemáticas em que X é diferente de Y e do pelas hordes mongóis. Foi reunido um consolidaram a equipa, até á derrota alemã. contei uma história de adormecer, em tons grande exército para os combater. Na linha A guarnição, orgulhosa, deu vivas, nos orientais... Espero que me perdoem, penso, de batalha, junto do shogun japonês, estava dias seguintes, a este feito. Só o Sr Y, sentin- todavia, ter resolvido o enigma. É que, acre- um pequeno escol de eleitos, de entre eles, do o estrelato fugir-lhe, atribuía a vitória ao dito, a Marinha tem no Sr X um excelente os dois irmãos. Percebendo que o correr do cansaço dos alemães e à inadaptação destes oficial. Um homem com fraquezas, com combate parecia favorecer o inimigo, o ao piso. Em tudo isto, o nosso aspirante dúvidas, com incertezas – mas capaz de no shogun mandou o grupo, à sua volta, em manteve a humildade e continuou a traba- momento certo resolver, num lance de ataque suicida, abater o general inimigo. lhar como antes. – O jogo foi, contudo, a inspiração, uma situação em que outros Cinco cavaleiros avançaram. Ousado, o pedra de toque para a mudança. fraquejariam. É esta, caros leitores, a marca irmão mais velho disparou, assim que a dis- dos grandes homens. tância permitira, 5 flechas sucessivas contra O Sr X aparecia mais seguro. Com a com- Daqui a alguns anos, estou seguro, haverá o general, que falharam o seu objectivo, até petência de sempre, reagia a sorrir aos no Alfeite um navio comandado por ele. A ser ele próprio ferido. Dos cinco, por fim, só comentários, ou praxes, a que ainda se via guarnição falará do comandante com pra- o irmão mais novo cavalgava, ainda, de sujeito. Dedicado, abraçava qualquer tarefa zer. O navio terá um comportamento encontro ao general mongol. Então, como com uma alegria contagiante, até ai contida, magnífico. E até eu direi, com orgulho - que por milagre, uma força dentro de si, fez muito bem acolhida pela marujada. Com o estive embarcado com ele há uns anos - com que deixasse de ouvir os sons da bata- tempo, bastava-lhe sugerir, nem era neces- assim dirão todos os que o conhecerem... lha, pôs a primeira flecha no arco e olhou, sário ordenar, para que tudo aparecesse E o Sr. Aspirante Y, perguntarão os leitores? concentrou-se na cota de armas do general, feito- esta capacidade, vinda de um mero Após o episódio da atracação adoptou ati- passou a ver só o botão que a segurava, aspirante não deixou de impressionar os tudes de maior humildade e descrição. No finalmente só viu a frecha permitida pelo superiores. final, acabaram por colaborar X e Y, num botão – soltou a flecha e não precisou de Mas a glória e a confirmação absoluta das projecto de trabalho conjunto. Estou convic- olhar, para saber que tinha atingido o alvo. suas qualidades, ainda estavam para chegar. to, que os dois beneficiaram com estágio.  E os Japoneses ganharam a batalha... Por esses dias, o navio encaminhou-se para Reforcei as qualidades que nele tinha mais uma comissão nos Açores, desta feita Doc.

SAIBAM TODOS DAS - ADMA – EXTENSÃO DE ACORDOS ● Informa-se que a ADMA procedeu à extensão de acordos com CIRE – Centro de Imagens Radiológicas e Ecográficas, Ldª as seguintes entidades e abrangendo os serviços abaixo indicados: Largo Formigal de Morais, nº 8 – 2710 Sintra Telef. 21 923 51 15 CLIPOVOA – Clínica Médica da Póvoa de Varzim, S.A. *Osteodensiometria. Póvoa de Varzim, Apartado 130 – 4494 – 909 Póvoa de Varzim Telef. 25 269 09 00 Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde *Osteodensiometria Av. Dr. Artur Cunha Araújo, nº 12 ECOSADO – Serviços de Ginecologia e Obstetrícia, Ldª. 4480-667 Vila do Conde – Telef. 25 264 09 00 Av. D. João II, 48B –Loja J – 2910-549 Setúbal – Telef. 26 554 30 90 *Osteodensiometria, Ecocardiografia, Ecotomografia/Ecografia e *Ecotomografia/Ecografia Electrocardiografia. CLISA – Clínica de Santo António, S.A. MEDICONDE – Clínica de Medicina Física e de Reabilitação, Ldª Av. Hospitais Civis de Lisboa, nº 8 – Reboleira Rua Sousa Martins, Lote 535 R/C 2720-275 Amadora – Telef. 21 495 25 41 2975-301 Quinta do Conde – Telef. 21 210 10 29 *Quimioterapia. *Ortopedia.

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 31

QUARTO DE FOLGA JOGUEMOS O BRIDGE PALAVRAS CRUZADAS (Problema Nº 28) (Problema Nº 316) Tente primeiro resolver a 2 mãos tapando E-W. 1234567891011 Norte (N): 1 ♠ ♥ ♦ ♣ 2 D 4 R 9 3 V 2 9 7 6 3 5 4 4 5 2 Oeste (W): Este (E): 6 ♠ ♥ ♦ ♣ ♠ ♥ ♦ ♣ 7 7 9 D D 10 V V A 8 5 5 8 3 9 10 6 R 4 7 8 4 6 9 3 2 7 10 2 6 Sul (S): 11 ♠ ♥ ♦ ♣ HORIZONTAIS: 1 – Árvore brasileira, cujo fruto é comestível. 2 – A A A V Cheio de água. 3 – No meio de ansa; metal que se encontra nos R R 10 10 minérios de platina; dois romanos. 4 – Poeta e publicista croata (ap); 8 D 5 8 artilharia antiaérea; no princípio de latitude. 5 – Rogas; débito ou 3 despesa de um estabelecimento comercial. 6 – Tornar oco; dai pios. 7 – Soltar o cisne a voz. 8 – Vogal (pl); aipos; doutor. 9 – Ninho; digni- dade militar entre os turcos; ate. 10 – Pompa; novidade. 11 – Como deve S jogar para cumprir o contrato de 3ST, com saída a Membros do areópago. ♥9. VERTICAIS: 1 – Alcunha dada em Inglaterra em 1877 aos partidários (Solução neste número) da guerra imediata contra a Rússia, e que se tornou sinónima de pa- triota fanático, belicoso e exagerado; referente aos jingas. 2 – Curo; fe- char as asas para descer mais depressa. 3 – Utensílio doméstico; SOLUÇÕES cheiro desagradável; o mesmo que olá. 4 – Que está no lugar mais PROBLEMA Nº 27 fundo; nome de mulher; palavra composta de prep. a e do art. o. 5 – Numa primeira análise parece que a linha a seguir será desfru- Organismo americano fundado em 1958, e encarregado de dirigir e tar, e esperar pelo ♦R em W e/ou ♣A em E, fazendo mesmo 12 coordenar as pesquisas aeronáuticas e espaciais civis nos Estados vazas se tudo estiver bem. Todavia, o carteio exige segurança e Unidos; cabelo raro (pop). 6 – Chamar às armas; espécie de pulga das não depender apenas da boa colocação das cartas. É o caso regiões quentes da África e da América. 7 – Trave ou tábua que sepa- deste problema, em que se deverá procurar uma linha de jogo ra as cavalgaduras nas cavalariças; nome dos dois músculos abdomi- que defenda o desprotegido ♣R, não deixando a mão ir para E; nais que se estendem anteriormente pelas partes laterais das vértebras daí a passagem a ♦R só em último recurso. Vejamos a linha lombares (sing). 8 – Composição poética (inv); apelido; letra grega. 9 – segura e com maiores probabilidades: faz ♠A e joga pequena ♥ Satélite de Júpiter; tragédia de Shakespeare; departamento de França. passando o 9 para V de W; este joga ♦ que pega de A e vem à 10 – Rio do estado do Paraná (Bras. e inv); deusa. 11 – Mármore de mão no ♥R; joga trunfo para o 9 e no ♥A balda o outro ♦ da um verde obscuro, listrado de veios amarelados intrecruzados; super- mão; joga ♦D e corta ou balda um ♣ conforme E apresente o R fícies. ou não; mesmo que ♦R estivesse em W ainda tem uma ida ao morto no ♠R para baldar mais 1 ou 2 ♣. Repare que esta linha só obrigará ao recurso da passagem a ♦R se ♥DV estiverem em SOLUÇÕES E, o que detectará se ele jogar uma delas na 2ª jogada. Se tudo PALAVRAS CRUZADAS Nº 315 estiver mal foi azar, mas resta-lhe a consolação que jogou bem. HORIZONTAIS: 1 – Alter; gaeli. 2 – Pornocracia. 3 – Ena; coa; ont. 4 – Lg; parva; os. 5 . Oirar; evite. 6 – Mil; Ari. 7 – Aerea; PROBLEMA Nº 28 arapa. 8 – Pt; Olavo; pi. 9 – Ira; ila; asi. 10 – Oiras; resto. 11 – ♥9 mostra que W terá certamente saído no curto, portanto deixe Saude; areal. ♥ fazer a 1ª vaza para se precaver com a eventual longueira a em VERTICAIS: 1 – Apelo; apios. 2 – Longimetria. 3 – Tra; rir; aru. 4 – E e já irá conseguir apurar um ♣ sem problemas, para a 9ª vaza ♥ ♣ En; paleo; ad. 5 – Rocar; alise. 6 – Cor; al. 7 – Grave; avara. 8 – que lhe falta. Se a fizer repare que irá cabidar dando 2 e 3 . Aa; avaro; er. 9 – Eco; ira; ase. 10 – Linotipista. 11 – Iatse; apiol. Nunes Marques Carmo Pinto CALM AN 1TEN REF

REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2001 33 NOTÍCIAS PESSOAIS ● COMANDOS E CARGOS CAB Arnaldo José Ribeiro dos Santos CAB Bento Eduardo Cordeiro Lopes ● CAB Manuel da Silva Dias ● NOMEAÇÕES CAB Artur Joaquim Gomes Gaspar ● CAB Manuel Gonçalves de Carvalho ● CAB Armando do Carmo ● VALM Luís Manuel Lucas Mota e Silva, Vice-Chefe do Ferreira ● CAB Humberto de Jesus Silva ● CAB Luís Estado-Maior da Armada ● VALM Américo da Silva Bento Faria ● CAB Luís Ambrósio Rodrigues ● CAB Santos, Comandante Naval e Comandante Chefe do Sul do Virgílio Ruíz Sousa Gomes ● CAB Silvestre da Palma Atlântico (SOUTHLANT) ● CALM Luís Pereira do Vale, Fouto ● CAB Altino Lopes Amaro ● CAB José Maria da Vice-Presidente da Comissão de Direito Marítimo Mota Nascimento. Internacional, em substituição do CALM José Luís Ferreira Leiria Pinto ● CALM Álvaro Rodrigues Gaspar, Comandante da Zona Marítima dos Açores e em acumu- lação Chefe do Departamento Marítimo dos Açores, em REFORMA substituição do VALM Carlos Monteiro da Silva ● CALM Carlos Alberto Viegas Filipe, Subchefe do Estado-Maior da ● CALM Joaquim Manuel Barreiros Espadinha Galo ● Armada, em substituição do CALM António João CMG António Manuel Duarte Mendes dos Santos ● CMG Bettencourt ● CMG António Manuel Abrantes Lopes, José Marques Fernandes Canteiro ● CMG Carlos Alberto Chefe do Gabinete do Almirante Chefe do Estado-Maior da Mano Simões Lopes ● 1TEN Cândido Gonçalves do Armada ● CFR António Manuel Fernandes da Silva Cruzeiro ● 1TEN Aluízio Martinho da Silva ● 1TEN Ribeiro, Comandante do Agrupamento de Navios Silvestre Abreu da Silva ● 1TEN Manuel Simão Silva ● Hidrográficos, em substituição do CFR Augusto Mourão SMOR Nuno José Dias Apolónia ● SMOR Rafael Coelho de Ezequiel ● CFR José Domingos Pereira da Cunha, Sousa ● SMOR Duarte António Morais Tomás ● SCH Comandante do N.R.P. "Vasco da Gama", em substituição Faustino António Lança ● SCH Luís Fernandes Gama Dias do CFR Bento Manuel Almeida Gonçalves ● 2TEN Pedro ● SCH Simão Alves Torres ● SCH António Fernando José Clara Aires de Castro, Comandante do N.R.P. Riachos Raimundo ● SCH João Pereira Caetano ● SCH "Cassiopeia", em substituição do 2TEN Ricardo Cordeiro Joaquim Duarte Anastácio de Carvalho ● SCH Joaquim de Almeida. António da Conceição Domingos ● SCH José Maria de Magalhães Osório ● SCH José Bernardo Carvalho Marvão ● SAJ Manuel Pinto Pereira ● SAJ José Joaquim Pino ● EXONERAÇÕES SAJ Carlos Agreira Matias ● SAJ José dos Santos Reis ● SAJ António Duarte Ramalho ● SAJ Ezequiel dos Reis ● VALM Alexandre Daniel Cunha Rui Rodrigues exonera- Pires ● SAJ José Francisco Caneco da Luz ● SAJ Manuel do do cargo de Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada ● Augusto de Jesus Mota ● SAJ Mário Nobre Aleixo ● SAJ VALM Luís Manuel Lucas Mota e Silva exonerado do João de Sousa Lobo ● SAJ José Venâncio Pereira ● SAJ cargo de Comandante Naval ● CALM José Manuel Garcia Manuel Francisco Bento ● SAJ Diamantino António Dias Mendes Cabeçadas exonerado do cargo de Chefe de ● 1SAR Vasco Manuel Henriques Costa ● 1SAR Joaquim Gabinete do Almirante Chefe do Estado-Maior da Montes Albino Roque ● CAB Manuel António dos Reis ● Armada. CAB Ramiro Caetano Mendes ● CAB Armindo Moreira Fernandes ● CAB António José Torres Piaçab ● CAB João Pedro da Cruz Guerreiro ● CAB Tomás Rovisco Nabo ● CAB Francisco José Moreira Barão. RESERVA ● CMG Fernando Alberto dos Santos Lourenço ● CMG ● Luís Manuel Bernardes Pedreira Carneiro CMG António FALECIMENTOS Carlos da Costa Paiva ● CFR José Maria Cabaços de Assunção ● SMOR Manuel José Simões Vaz ● SMOR ● CFR SG REF Marcos Romão dos Reis Junior ● 1TEN Amaro Lemos Martins ● SMOR Jovite Salvador Madeira ● SEC REF António Nuno de Oliveira Monteiro ● SMOR FZ SMOR Lourenço Augusto Pascoal ● SMOR Amândio RES Manuel Candeias Carichas ● SCH M REF Manuel Ferreira Quadrado ● SMOR Álvaro de Almeida Alves ● Rosado ● SAJ CM REF António Joaquim Pereira ● SAJ SMOR Manuel Cordeiro Capela ● SMOR José Manuel MQ REF Manuel de Sousa Ramos ● SAJ E REF Francisco Horta Gião ● SMOR Luís Pereira Marques ● SMOR Evangelista Mourinho ● SAJ V REF António Martins Adelino Cardoso Martins ● SMOR Vasco Jorge Semedo da Alexandre ● SAJ A REF Aníbal Pacheco Mendes ● SAJ A Silva ● SCH Victor Manuel Lima Tavares Dias ● SCH REF António João Pires ● SAJ TR REF Verdi Pereira António Manuel Marques dos Santos ● SCH José Augusto Duarte ● SAJ MQ REF Raul Joaquim Pereira Cosme ● SAJ Rodrigues de Almeida ● SAJ Alberto Madeira Rodrigues ARE REF Álvaro Correia de Oliveira ● SAJ CM REF ● SAJ António dos Santos Ricardo ● SAJ Hermenegildo Amadeu Henriques Teixeira ● SAJ C REF Manuel de Brito Correia Dinis ● SAJ António Luís de Sousa ● SAJ António Álvares Pessanha ● 1SAR MQ REF João de Andrade ● João Ferreira Duarte ● SAJ Mário Ribeiro ● SAJ Rogério 1SAR CM REF António Jaime ● 1SAR L REF Augusto de Rodrigues Costa ● SAJ Joaquim Cruz Ribeiro ● 1SAR Oliveira ● 1SAR CE REF Manuel Amorim Ferreira da Silva Alberto Luís Barata da Costa ● 1SAR José Joaquim ● 1SAR T REF António Zacarias Cordeiro Marchão ● Godinho ● 1SAR João Lopes Lourenço ● 1SAR Luciano de 1SAR CM Armando Rogério da Cruz ● CAB TFD REF Abreu Maciel ● 1SAR Jorge Américo Bacharel Martins ● Francisco Evaristo Viegas Gonçalves ● CAB TFD José 1SAR António Joaquim Piçarra Foge ● 1SAR Victor Lopes Galveias ● CAB M REF Francisco Carlos de Castro Manuel Pereira Rodrigues 1SAR Carlos Alberto Glória das ● CAB CM REF Alberto Gonçalves ● CAB C REF Emídio Neves ● 1SAR António Manuel Vieira Bicho ● 1SAR José Duarte de Abreu ● 1MAR TFD REF Reinaldo Adelino dos Gonçalves Correia ● CAB Francisco João Pereira Coelho ● Santos ● MAQ2 CL Francisco Jorge Batista Guerreiro.

34 JANEIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

23. As Marinhas de João Vaz no Museu de Marinha

Existem no Museu de Marinha nove obras do pintor João Vaz. Trata-se de óleos sobre tela, quatro das quais de grandes dimensões, que pela sua qualidade e pelos temas escolhidos muito enriquecem o espólio do Museu. João José Vaz, nascido em Setúbal em 1859, desde cedo revelou marcadas tendências artísticas que o levariam a entrar na Academia de Belas Artes, apenas com treze anos de idade. Aí teve a oportunidade de conhecer o mestre Tomás da Anunciação que lhe transmitiu o melhor da sua experiência. Admirador de Silva Porto, dele apreendeu subtilezas técnicas alcançando atmosferas e céus de cor azul semelhantes às melhores obras daquele artista. Orientou a sua pintura para temas de paisagem terrestre e marítima, centrando- -se numa linha naturalista pura. Atraído pelos temas marítimos, certamente influenciado pela paisagem com que conviveu desde criança, o rio Sado, João Vaz, dedicou-se à pintura de marinhas em que se viria a distinguir, interpretando com raro sentimento lírico trechos do Tejo e do Sado, onde sobressaem o colorido e a luminosidade. Com pinturas a óleo e aguarelas participou em exposições da Sociedade de Belas Artes, do Grémio Artístico e do Grupo do Leão de que foi fundador junta- mente com outros artistas da sua geração. Na Escola Industrial Afonso Domingues, onde foi professor de desenho cerca de quarenta anos, foi erigido um busto em bronze do artista, obra que em 1949 viria a ser reproduzida em mármore no monumento construído em Setúbal. As suas obras encontram-se em muitas colecções oficiais e particulares. No Museu de Marinha podem ver-se: Canoa Regressando da Pesca, Um Dia Turvo, Praia de Buarcos, Douro (Trecho do Rio Douro), Setúbal (Doca de Pesca), Muleta do Barreiro, Praia de Espinho, Barcos Varados na Praia de Olhão (Concertando Redes), as três primeiras pertencentes à colecção Seixas. O quadro que se reproduz, com as dimensões de 3.00 x 1,70m, representa a actividade na Doca de Pesca em Setúbal. João Vaz retrata com vivacidade a azáfama do desembarque do peixe, sendo evidentes a luminosidade e cor carac- terísticas marcantes do autor. As obras do pintor João Vaz que integram a exposição permanente do Museu de Marinha formam um conjunto que se evidencia pela harmonia dos motivos e pela cor e luminosidade que o autor lhes soube imprimir, pelo que constituem aliciante para quem visita o Museu onde podem ser apreciadas na Sala da Pesca.

Museu de Marinha (Texto do CMG Adriano Beça Gil) Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

23. As Marinhas de João Vaz no Museu de Marinha (Foto do Arquivo Museu de Marinha) PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 339 • ANO XXX FEVEREIRO 2001 • MENSAL • 250$00

AMARINHA NA COOPERAÇÃO Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas

Entre estas duas fotografias está decorrido mais de meio século. Ontem como hoje, continua a ser digno do maior apreço o aprumo e a atitude que os cadetes da Escola Naval sempre assumem, quando chamados a representar a nossa Armada. Mais do que uma nobre tradição, tem sido esta a cultura da Instituição –MARINHA- e sempre assim há-de ser por todos os tempos, enquanto o sentir da Nação continuar a reconhecer a missão militar como valor fundamental e indiscutível da vida colectiva, como o prova o testemunho dos séculos.

Em cima: O Presidente da República, Marechal Óscar Fragoso Carmona, passa em revista o Corpo de Alunos da Escola Naval, em 1940, identificando-se os seguintes cadetes, da esquerda para a direita e de cima para baixo: • Teixeira da Mota, Pestana Malhado, Fonseca Caxaria, Lopes Praça; • Costa Maia, Antunes da Mota, Cupertino Guerra, Sousa Machado, Gil Conde, Luís de Oliveira, Santos Gaspar; • Martins Ramos, Soeiro de Brito, Carlos Mota, Alcibíades Cruz, Costa Bastos, Sousa da Fonseca; • Pereira Soares, Almeida Pinheiro, Sousa Uva, Esperança Barroco. Em baixo: O Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, passa revista ao actual Corpo de Alunos, aquando da última cerimónia de abertura solene do Ano Escolar na Escola Naval. SUMÁRIO Publicação Oficial da Marinha Periodicidade mensal Nº 339• Ano XXX Fevereiro 2001 Director CALM EMQ RES O Instituto Hidrográfico está empenhado Luís Augusto Roque Martins em dois projectos (Estações DGPS e Cartas Electrónicas de Navegação – CENO) Chefe de Redacção para a navegação em segurança. CFR REF Jorge Manuel Patrício Gorjão Redacção 2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito 5 Secretário de Redacção 1SARG T Vitor Manuel Gaspar Lopes Colaboradores Permanentes CMG REF Raúl de Sousa Machado CTEN FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos CTEN Abel Ivo de Melo e Sousa 1TEN REF Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves Administração, Redacção e Publicidade Edifício da Administração Fuzileiros colaboram Central de Marinha na Campanha Nacional de Revista da Armada Vacinação contra a Rua do Arsenal Poliomielite em Timor. 1149-001 Lisboa - Portugal Telef: 21 321 76 50 Fax: 21 347 36 24 8 Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt e-mail da Revista da Armada [email protected] Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito, montagem e produção Página Ímpar, Lda. Estrada de Benfica, 317 - 1º F As viagens de James Cook 1500-074 Lisboa à Austrália e Nova Zelândia abriram novas perspectivas para o futuro Tiragem média mensal: destas zonas do Pacífico. 6000 exemplares Preço de venda avulso: 250$00 Registada na DGI em 6/4/73 com o nº 44/23 16 Depósito Legal nº 55737/92 FOTOGRAFIAS ANTIGAS, INÉDITAS OU CURIOSAS 2 ISSN 0870-9343 PONTO AO MEIO DIA 4 COOPERAÇÃO TÉCNICO-MILITAR 10

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 339 • ANO XXX FEVEREIRO 2001 • MENSAL • 240$00 ESCOLA NAVAL 12 EFEMÉRIDE 14 A MARINHA DE D. MANUEL (11) 15 CARTA DO CEMA 21 AQUÁRIO VASCO DA GAMA 22 TOMADAS DE POSSE 24 NOTÍCIAS 26 DESPORTO 29

AMARINHA NA COOPERAÇÃO HISTÓRIAS DA BOTICA (5) 30 Fuzileiros em Timor. BIBLIOGRAFIA 31

ANUNCIANTES: QUARTO DE FOLGA 33 Clínica Santa Madalena; Telerus - Sistemas de Telecomunicações S.A. NOTÍCIAS PESSOAIS 34 PATRIMÓNIO CULTURAL DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 3 PONTO AO MEIO-DIA

A Cooperação Técnico-Militar e a Defesa Preventiva

primeira vista parece um contra- siderado aceitável apenas depois de divulgação dos orçamentos, planos e -senso utilizar as forças armadas esgotados todos os outros instrumentos políticas militares. Esta postura é essen- Àpara fomentar segurança e o de influência ou coacção do Estado. cial porque, se a arte da guerra requer o desenvolvimento pela via da coope- Em quase todos os países africanos os segredo e a surpresa, a arte da paz ração técnico-militar. No entanto, a militares são uma importante força impõe a transparência e a confiança. experiência portuguesa em África, ao política interna. Quando as crises ocor- Através desta divulgação, os países ga- evidenciar essa possibilidade, permitiu rem é essencial que apoiem inequivoca- nham visões das intenções estratégicas materializar, entre nós, um novo tipo de mente as soluções democráticas e recíprocas, reduzindo as tensões para se missão: a defesa preventiva. Tal como a desempenhem um papel positivo na sua envolverem em conflitos resultantes de medicina preventiva cria condições para resolução. Por isso, contactos regulares, corridas armamentistas ou de atitudes a saúde dos indivíduos e torna a doença formais e institucionalizados, entre os político-militares mal calculadas. menos provável, a defesa preventiva militares portugueses e os militares dos É certo que tarda a solução da guerra destina-se a apoiar a paz, a tornar a PALOP, revelam-se da maior utilidade civil angolana. Contudo, a forma como guerra menos provável e a dissuasão para que estes incorporem os valores e os militares da Guiné-Bissau conduzi- desnecessária; inclui esforços para aprendam como funcionam as forças ram os destinos deste país durante a desencorajar o gravíssima crise, conflito e voca- interna e externa, ciona os apare- em que estive- lhos de defesa ram envolvidos, dos países objecto só foi possível deste tipo de mis- graças aos efeitos são para o fomen- benéficos de anos to da democracia, de cooperação da confiança e do técnico-militar. entendimento Em idênticas cir- dentro e entre os cunstâncias e, Estados. noutros países A modalidade africanos, assisti- de operacionali- mos hoje a inter- zação da defesa mináveis confli- preventiva ado- tos de inusitada ptada por Portu- violência, cujas gal é a coope- consequências ração técnico-militar, um instrumento armadas numa democracia e para que políticas, económicas e sociais perdu- estratégico do Estado que visa cumprir estabeleçam relações de confiança com rarão no tempo. Poderemos pois afirmar os seus propósitos através do consenti- os seus vizinhos. No campo dos valores que a cooperação técnico-militar por- mento institucionalizado pelas partes, realçam-se os progressos conseguidos tuguesa é um exemplo paradigmático rejeitando conscientemente os processos relativamente à afirmação dos direitos do insubstituível papel da defesa pre- de coacção material ou física. Pressupõe, humanos, da democracia, do respeito ventiva no fomento da segurança e do em tese, objectivos de segurança com- pelas minorias e da primazia do direito. desenvolvimento que estrutura a paz em patíveis e visa estabelecer relações con- A existência de adequados programas África. Como tal, constitui uma referên- juntivas entre parceiros. A base para a de formação, onde se educam e alimen- cia doutrinária fundamental e um sím- cooperação técnico-militar é a aceitação tam estes aspectos, complementados bolo da participação responsável de mútua de que os processos cooperativos pela promulgação de legislação apro- Portugal na manutenção da ordem se destinam unicamente à preparação priada à estruturação das forças mundial numa região que conhece bem, das forças armadas para os desafios armadas ao serviço das respectivas o que fomenta a credibilidade e o res- inerentes à sua inserção no Estado e em sociedades nacionais, revelam-se fac- peito internacional do país, aspectos sociedades democráticas, o que implica, tores essenciais à regulação da forma de essenciais para que as opiniões dos nos- por um lado, torná-las mais aptas ao actuação das organizações militares dos sos governantes sejam acolhidas durante desempenho das múltiplas tarefas de PALOP. Entre as medidas mais impor- a resolução dos grandes problemas defesa nacional e, por outro lado, tantes para fomentar a confiança entre mundiais.  consciencializá-las de que o emprego da os PALOP e os países vizinhos, pre- força militar deve obedecer às limi- conizadas no âmbito da cooperação téc- António Silva Ribeiro tações do consenso internacional, con- nico-militar, encontra-se a regular CFR

4 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA NavegaçãoNavegação emem segurançasegurança nono novonovo miléniomilénio Contributos do Instituto Hidrográfico

INTRODUÇÃO comparando essa posição com a posição Em Portugal foram feitos testes a partir de obtida pelo sistema GPS podem-se gerar duas estações experimentais, montadas pelo preocupação com a segurança marí- correcções. Essas correcções são radiodi- IH (com material cedido a título de emprés- tima e a segurança da navegação fundidas para os utilizadores nas proximi- timo por firmas do sector), no Cabo Espichel A tem aumentado muito nos últimos dades por forma a que eles possam melho- e no Cabo Carvoeiro (ver Figura 1) e que já anos. A opinião pública está cada vez mais rar a exactidão das suas soluções de posi- foram desmontadas. Nos testes e experiên- sensível e atenta aos acidentes marítimos e cionamento. cias realizados com essas duas estações, aos seus efeitos sobre o meio ambiente. A tabela seguinte sumaria os vários erros durante o ano de 1999 (e numa altura em Acidentes como o do Exxon Valdez, em do GPS, com estimativas da sua magnitude que ainda havia Selective Availability), a 1989, provocam danos irreversíveis e prejuí- média e da possível melhoria conseguida média dos erros das posições diferenciais zos elevadíssimos que urge tentar evitar. pelo DGPS, para utilizadores localizados observadas foi de 3,2m (95%), o que é um Este acidente, que terá sido o mais grave da perto da Estação de Referência. Nesta bom resultado, sobretudo por se tratar de história, provocou um derrame de aproxi- tabela, já não se considerou o erro devido à estações experimentais. madamente 42 milhões de litros de crude, Selective Availability, uma vez que as Agora que a Selective Availability foi sendo responsável pela morte de cerca de autoridades Americanas desligaram em 1 desligada poderá questionar-se a importân- 250 mil aves, 5300 mamíferos e um número de Maio de 2000 ano esse mecanismo de cia do DGPS, uma vez que o GPS natural, desconhecido de peixes. Os prejuízos ron- degradação intencional da exactidão do por si só, já garante uma exactidão aceitá- daram os 480 milhões de contos, tendo o GPS. vel para alguns utilizadores. No entanto, acidente resultado de um erro de nave- para os navegantes marítimos os benefícios do DGPS não se esgotam na melhoria de gação, já que o navio após sair da sua rota Origem do Erro GPS (m) DGPS (m) exactidão. Outra das vantagens mais signi- para evitar icebergues acabou por colidir Atraso Ionosférico 10 - 15 0 - 0,5 ficativas do DGPS reside no facto de garan- nos rochedos de Bligh (estreito do Alaska). Atraso Troposférico 3 - 4 0 - 0,5 tir uma boa integridade (1) aos utilizadores. Em águas Portuguesas nunca aconteceu Efemérides dos Satélites 2 0 - 0,5 O sistema GPS não possui qualquer forma um acidente destas dimensões mas suce- Relógios dos Satélites 5 - 10 0 de avisar, em tempo real, os utilizadores de dem-se, ano após ano, acidentes e inci- Multi-trajecto 0 - 2 0 - 2 avarias nos satélites ou outras falhas no sis- dentes de gravidade variável. A Direcção Ruído do Receptor 1 - 2 1 - 2 Geral de Marinha possui registos, desde tema, as quais poderão consistir na 1971, dos acidentes e incidentes geradores degradação da performance do GPS, imple- de poluição ocorridos nos espaços maríti- Analisando esta tabela pode-se concluir mentada deliberada e inopinadamente mos sob jurisdição nacional. Os valores que o DGPS permite melhorar a exac- pelas autoridades Norte-americanas, em totais são de certa forma preocupantes, tidão do GPS de um valor teórico de pou- caso de escalada de tensão, conflito ou tendo-se atingido um máximo de 132 aci- cas dezenas de metros, garantido pelo outra situação em que tal seja julgado dentes/incidentes de poluição em 1990. Serviço de Posicionamento Padrão, para necessário (2). A utilização de Estações Alguns deles deveram-se, certamente, a valores inferiores a 3 metros. Na prática, DGPS - que monitorizam, 24 horas por dia, erros de navegação. têm-se obtido resultados muito bons: o a qualidade dos sinais GPS - permite noti- Com vista a melhorar a segurança da Federal Radionavigation Plan – 1996 re- ficar os utilizadores, na mesma área, de navegação nas águas Portuguesas, con- fere que "operações no terreno [com qualquer falha em menos de 5 segundos. tribuindo para a redução do número de aci- DGPS] estão a atingir exactidões na As Estações DGPS poderão, inclusive, corri- dentes marítimos, o Instituto Hidrográfico ordem de 1m" e o Proposed Baseline gir o erro de posicionamento decorrente (IH) tem-se empenhado em dois projectos European Radionavigation Plan afirma dessa avaria ou falha. Este aspecto é essen- bastante importantes: que "testes [com DGPS] mostraram exac- cial para qualquer navio que esteja a nave- - a instalação de estações DGPS (Dif- tidões de 1m". gar em águas críticas e que não pode estar ferential GPS) em Portugal, destinadas a sujeito a que a posição GPS dada pelo seu fornecer um serviço público de radio- receptor esteja incorrecta, sem o saber. navegação extremamente preciso nas nos- A integridade é, também, um requisito es- sas águas e; sencial em operações navais, em que além - a produção de Cartas Electrónicas de de uma elevada exactidão é necessário um Navegação Oficiais (CENO), que poderão grau de confiança muito elevado na posição substituir, com vantagens, as tradicionais obtida. Os benefícios do DGPS em guerra cartas de papel. anfíbia, rocega de minas ou navegação em canal rocegado, entre outras missões, são CONCEITO DO DGPS óbvios, tanto pela elevada exactidão do DGPS, como também pela sua boa inte- O conceito do DGPS é bastante simples gridade. e semelhante ao usado no LORAN-C dife- Reconhecendo os benefícios do DGPS rencial e no OMEGA diferencial. Coloca-se Fig. 1 - Estação DGPS experimental do Cabo Carvoeiro. em operações navais, o Sub-grupo de uma Estação de Referência num local de Em primeiro plano vê-se a antena transmissora e junto à Navegação da NATO tem vindo a identi- coordenadas perfeitamente conhecidas e cúpula do farol a antena GPS (grande plano à direita). ficar as potenciais utilizações militares do

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 5 DGPS, destacando-se a colocação / recu- mais susceptível a falhas é o transmissor, peração de objectos enterrados e/ou afun- instalar-se-ão dois transmissores em cada dados (minas e sensores), contra-medidas Estação DGPS. Em caso de haver uma falha de minas no mar, determinação e controlo que origine uma queda significativa na da trajectória de drones, calibração de sis- potência transmitida, ou mesmo a perda do temas inerciais de navegação, aproxi- sinal, o sistema comuta automática e ime- mações portuárias, etc. diatamente para o outro transmissor. Adicio- nalmente, existirão também duas Estações de FUNCIONAMENTO DAS ESTAÇÕES Referência em cada Estação DGPS, o que DGPS MARÍTIMAS permite ao PC de controlo local comutar para a Estação de Referência passiva, caso os As Estações DGPS estão, normalmente, li- parâmetros de funcionamento da activa gadas a uma (ou mais) Estações de Controlo, saiam fora dos limites pré-estabelecidos. por intermédio de linhas de comunicações Assim, o sistema poderá, também, aguentar telefónicas. A finalidade das Estações de uma falha numa Estação de Referência, Controlo é efectuar a monitorização e contro- comutando automaticamente para a outra. lo, em tempo real, dos vários componentes Relativamente aos Açores e à Madeira, das Estações DGPS, através da troca de infor- optou-se por instalar apenas uma Estação mação num protocolo adequado. DGPS em cada um dos Arquipélagos. Os Fig. 2 - Previsão de cobertura correspondente às duas As Estações DGPS são instaladas em locais valores de alcance obtidos com as estações Estações DGPS proposta pelo IH para Portugal estratégicos ao longo das costas dos países experimentais (superiores a 200 milhas) Continental fornecedores deste serviço, de maneira a levaram a concluir que a instalação de uma melhor poderem satisfazer as necessidades única estação permitirá cobrir toda a faixa DESENVOLVIMENTO DAS CARTAS de posicionamento rigoroso em determi- costeira em torno desses Arquipélagos. Essas ELECTRÓNICAS nadas áreas. Cada uma possui, geralmente: Estações DGPS deverão estar equipadas com - duas Estações de Referência; transmissores de LF/MF mais potentes do que Além do empenhamento neste projecto de - um, ou dois, Monitores de Integridade. os que equiparão as estações do Continente, instalação de Estações DGPS em Portugal, o - dois transmissores e; até porque aí será mais fácil obter auto- IH está também a acompanhar a revolução - um, ou dois, PC’s para controlo local. rização para transmitir sinais de maior potên- em curso com a introdução na navegação Cada uma das Estações de Referência, cia, pois não se coloca o problema de inter- marítima de cartas electrónicas. Antes de mais cujas coordenadas são determinadas com a ferir com Estações DGPS de outros países. importa referir que proliferam no mercado máxima exactidão, tem como função com- Além disso, essas estações deverão possuir diversos tipos de cartas electrónicas, mas que parar a sua posição com a posição obtida redundância em todos os equipamentos, de apenas as Cartas Electrónicas de Navegação pelo sistema GPS a fim de gerar correcções forma a que nenhuma avaria individual Oficiais (CENO), quando lidas num Electronic aos sinais dos satélites. possa comprometer o seu funcionamento. Chart Display and Information System (ECDIS) O Monitor de Integridade monitoriza o Assim, as estações dos Arquipélagos, além oficialmente aprovado, são reconhecidas pela sinal radiodifundido pelo transmissor, por da duplicação dos transmissores e das Organização Marítima Internacional (OMI) forma a verificar a exactidão das correcções Estações de Referência, possuirão também como sendo equivalentes às cartas náuticas geradas pela Estação de Referência. Os dois Monitores de Integridade e dois PC´s de oficiais de papel. Monitores de Integridade garantem os eleva- controlo local, o que não acontecerá nas Existem várias Resoluções e Normas que dos padrões de disponibilidade e integridade estações Continentais que apenas possuirão enquadram e regulamentam a equivalência dos sistemas DGPS, verificando a exactidão um Monitor de Integridade e um PC para das cartas electrónicas com as cartas de das correcções radiodifundidas e determinan- controlo. Obter-se-á, assim, a redundância papel, nomeadamente: do a comutação de uma Estação de total desejada para as ilhas. Referência para a outra, caso algum dos Relativamente à exactidão que uma cadeia - A Resolução A.817 (XIX) da OMI parâmetros monitorizados exceda os limites constituída nestes moldes pode garantir, pen- (Novembro de 1995) intitulada "Performance pré-estabelecidos. samos que os testes efectuados com as Standards for Electronic Chart Display and O projecto de instalação de Estações estações experimentais dão uma boa indi- Information Systems", que estabelece que o DGPS em Portugal, elaborado pelo IH, cação daquilo que se pode esperar. As "ECDIS, com os necessários back-ups, pode prevê: estações experimentais do Espichel e do ser aceite como sendo equivalente às cartas - a instalação da Estação de Controlo na Carvoeiro apresentaram um erro médio no náuticas actualizadas requeridas pela Regra Direcção de Faróis, que ficará, no futuro posicionamento horizontal de 3,2m (95%), V/20 da Convenção SOLAS de 1974"; encarregada da operação e manutenção de mesmo a grandes distâncias. É de esperar que - A Norma da Organização Hidrográfica todas as Estações DGPS Portuguesas; as Estações DGPS definitivas permitam a Internacional (1997) "Transfer Standards for - a instalação de duas Estações DGPS em obtenção de melhor exactidão, pois disporão Digital Hydrographic Data", conhecida por Portugal Continental, uma no Cabo de Sagres de um Monitor de Integridade, que verificará S-57 – 3ª edição, em que se inclui a especifi- (Estação Rádio Naval de Sagres) e outra no em permanência o correcto funcionamento cação da produção das CENO; Cabo Carvoeiro (Farol do Carvoeiro); das Estações de Referência, o que não acon- - A Resolução da Comissão Electrotécnica - a instalação de uma Estação DGPS no tecia nas estações experimentais. Internacional "ECDIS – Operational and per- Arquipélago dos Açores (Estação Rádio formance standards, methods of testing and Naval da Horta); A Figura 2 apresenta uma previsão de required test results", concluída em finais de - a instalação de uma Estação DGPS no cobertura, para o Continente, considerando 1998 e publicada como Resolução CEI Arquipélago da Madeira (Estação Rádio as duas Estações DGPS instaladas nos locais 61174, que é um documento técnico que Naval do Porto Santo). já mencionados. O modelo matemático serve de referência aos fabricantes e autori- As duas estações Continentais possuirão usado na elaboração dessa previsão entra em dades certificadoras de ECDIS. duplicação dos principais componentes, para consideração com a potência radiada, a dis- assegurar que a operação do sistema não seja persão esférica, a condutividade do solo e o Assim, para que o conjunto ECDIS/CENO afectada por nenhuma falha individual de ruído atmosférico que não é excedido em seja considerado equivalente às cartas náuti- hardware. Como o componente individual 97% do tempo. cas oficiais de papel, é necessário que:

6 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA - o equipamento de leitura e visualização ções homólogas para produzir cartas náuticas. didas entre Sines e Cabo da Roca e entre das cartas electrónicas (ECDIS) seja certifica- A intenção era a de melhorar a segurança da Aveiro e Peniche, uma carta geral do Arquipé- do de acordo com a Resolução CEI 61174 e navegação. Com o advento da era digital tal lago dos Açores e ainda a carta oceânica que - as cartas electrónicas apresentadas te- procedimento deixou de se aplicar. Cada país inclui Portugal Continental e os Arquipélagos nham sido produzidas no formato S-57 – 3ª passou a poder publicar CENO apenas das da Madeira e dos Açores. edição e suas águas. Isso dificultaria a tarefa dos nave- Espera-se concluir a cobertura de toda a - essas cartas tenham sido publicadas por, gantes que passariam a ter de adquirir CENO costa de Portugal Continental com cartas ou sob autorização de, uma organização a cada país individualmente. Surgiu assim o costeiras, que vão até cerca de 60 milhas da hidrográfica governamental. conceito dos Regional Electronic Navigational linha de costa, em meados deste ano. Chart Centres (RENC), agrupando vários insti- Só no caso de se verificarem essas três tutos hidrográficos duma mesma área geográ- CONCLUSÃO condições é que as cartas electrónicas são fica. Esses RENC deverão reunir os dados de consideradas equivalentes às cartas náuticas produção cartográfica dos vários países mem- Como conclusão pretendemos realçar que oficiais de papel requeridas pela Convenção bros e centralizar a sua distribuição de uma estes projectos, em novas tecnologias de SOLAS, na sua Regra V/20. forma uniforme e fácil. Cada RENC fornecerá navegação, poderão contribuir definitiva- Apenas os equipamentos certificados de as CENO da respectiva área geográfica, mente para reduzir a probabilidade de ocor- acordo com a Resolução CEI 61174 tomam a podendo, mediante acordos com os outros rência de acidentes marítimos em águas de designação de ECDIS. Cabe aqui referir que RENC, distribuir cartas de todo o Mundo. soberania Portuguesa. Esses acidentes maríti- no Outono de 1999 foi certificado, pela BSH, O primeiro RENC a ser formado foi o do mos são normalmente penalizadores, não só o primeiro equipamento ECDIS em todo o Norte da Europa, que integra actualmente 10 para o meio ambiente, como também para o Mundo: o Navi-Sailor 2400 ECDIS da firma países: Alemanha, Dinamarca, Finlândia, erário público. De acordo com informações TRANSAS. Entretanto, já foram certificados França, Holanda, Noruega, Polónia, Portugal, veiculadas pela comunicação social, o aci- outros equipamentos ECDIS, nomeadamente Reino Unido e Suécia. A sua sede localiza-se dente do navio mercante "Courage", ocorrido os das firmas Kelvin Hughes, ASPO/NAVIN- em Stavanger (Noruega). A partir de 1 de no final de 1999 em Aveiro, terá custado, no TRA, HDW, Atlas, Raytheon e Simrad. Da Julho de 1999 o RENC do Norte da Europa total, mais de 1 milhão de contos, sendo que mesma forma, também apenas as cartas que adoptou a designação PRIMAR, que passou a acidentes deste tipo ocorrem com alguma estejam conformes com a Norma S-57 – 3ª ser também a sua marca registada. frequência na nossa costa. edição e que tenham sido publicadas por, ou Além de facilitar o acesso dos navegantes As CENO, quando lidas e apresentadas sob autorização de, uma organização hidro- às CENO, o PRIMAR visa também regular, num ECDIS certificado, constituem uma gráfica governamental, tomam a designação numa fase inicial, os custos de mercado das mais valia extraordinária para os nave- de CENO. CENO, evitando que estes subam de forma gantes, contribuindo significativamente Em virtude da sua complexidade, a pro- especulativa. Para isso, o PRIMAR concor- para o aumento da segurança marítima. dução e distribuição de CENO, em todo o rerá, pelo menos inicialmente, com outros Com o previsível crescimento acelerado na mundo, está a decorrer a um ritmo relativa- revendedores de produtos náuticos, que tam- sua utilização, aumentam as exigências de mente lento. Por forma a responder às neces- bém poderão vender CENO. exactidão no posicionamento. A própria sidades dos navegantes, disponibilizando- OMI estabelece, na Resolução A.817 (XIX), -lhes cartas electrónicas oficiais que possam, que o ECDIS deve usar a posição do navio temporariamente, suprir a falta de CENO, derivada de um sistema de posicionamento alguns organismos hidrográficos governa- contínuo de elevada exactidão, capaz de mentais desenvolveram e lançaram no mer- assegurar uma navegação segura. O sis- cado cartas electrónicas oficiais alternativas, tema DGPS tem sido considerado o ade- em formato raster, já que a sua produção é quado para integrar com o ECDIS / CENO. muito mais rápida do que a das CENO. Estas Torna-se, assim, extremamente importante cartas raster oficiais, embora não permitam a dotar o nosso país de um conjunto de performance extremamente versátil e avança- Estações DGPS, à semelhança do que já da das CENO, possuem todas as vantagens acontece em todos os países Europeus com das cartas de papel, melhoradas pela costa Atlântica (ver Figura 3). natureza digital do seu formato. Reco- Se as Estações DGPS Portuguesas con- nhecendo o papel que elas podem desem- seguirem, durante o seu período de funciona- penhar, enquanto não existir uma cobertura mento, que se poderá estender para além do adequada de CENO, a OMI decidiu "permitir ano 2020, evitar um acidente marítimo que a utilização dos ECDIS com cartas raster ofi- Fig. 3 - Mapa mostrando a verde as nações que já pos- seja – e espera-se que contribuam para evitar ciais sempre que não houver CENO da área suem Estações DGPS. Portugal e Itália já efectuaram muitos mais – então já terá compensado o em causa". Desta forma o ECDIS já pode ser testes visando a sua instalação. esforço feito na sua instalação.  utilizado em todo o mundo, funcionando num modo conhecido na gíria por "dual O IH está empenhado desde há alguns 1TEN Sardinha Monteiro fuel", i.e. quando houver CENO da área em anos na produção de CENO, como o teste- Divisão de Navegação - Instituto Hidrográfico que o navio navegue, o ECDIS usá-la-á, prio- munha a sua adesão ao RENC Norte Notas: ritariamente, quando o mesmo não suceder, Europeu, em Setembro de 1997. Já foram 1) Integridade é a qualidade que indica a confi- o ECDIS utilizará cartas raster, uma vez que produzidas pelo IH, encontrando-se em fase ança que se pode ter na informação fornecida por estas já cobrem todo o globo. de comercialização, 3 CENO correspon- um sistema de radionavegação. A integridade inclui dentes ao porto de Lisboa, 1 relativa à costa a capacidade do sistema de providenciar avisos atempados aos utilizadores quando o sistema não PARTICIPAÇÃO DO IH NO RENC do Algarve, outra da área da costa oeste de dever ser usado para navegação. NORTE EUROPEU Portugal Continental, compreendida entre o 2) O Departamento de Defesa dos EUA, reserva- Cabo de Sines e Lagos e 2 CENO do Arqui- -se ao direito de, em caso de crise ou conflito, A produção e a distribuição de CENO não pélago dos Açores (uma do grupo central e degradar a exactidão do GPS, ou mesmo desligar o Serviço de Posicionamento Padrão, sem qualquer seguem as regras tradicionais, segundo as outra do grupo oriental). aviso prévio. Em tempo de paz qualquer interrupção quais cada organização hidrográfica governa- Em fase final de produção encontram-se 2 do Serviço será divulgada com uma antecedência mental poderia usar dados de outras organiza- CENO relativas ás áreas costeiras compreen- de apenas 48 horas.

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 7 CrónicaCrónica dede TimorTimor Fuzileiros participam em Campanha de Vacinação

os passados dias 9, 11 e 12 de Setembro os fuzileiros, integrados N no Contingente Militar Português (PKF), colaboraram na Campanha Nacio- nal de Vacinação Contra a Poliomielite no distrito de Manu-Fai. Esta operação, iniciativa da Divisão de Serviços de Saúde da UNTAET em coorde- nação com as actividades sanitárias das administrações dos distritos, teve a coopera- ção, para além do PKF, de organizações não governamentais (ONG’s) da área da saúde. No caso do distrito de Manu-Fai, cuja defesa está atribuída à Companhia de Fuzileiros nº 23, merece destaque o papel de ONG-OIKOS que dispõe de uma equipa sediada na localidade de Same.

Campanha de Vacinação.

Assim, para chegar à povoação de Para levar a cabo a vacinação de 5.357 Weleti o trajecto a pé obrigou-nos a crianças, acção essa feita também em parte atravessar três linhas de água, já que as pelos fuzileiros, foram empregues cinco pontes tinham sido destruídas , sob um viaturas que percorreram um total de 750 sol abrasador tendo o indicador de tem- Kms, tendo também sido empregues dois peratura do equipamento de navegação helicópteros das Nações Unidas para o por satélite (GPS) marcado 39ºC, com transporte de vacinas e apoio logístico. uma humidade superior a 70%. À chega- A campanha de vacinação contra a da, a população esperava-nos concentra- poliomielite foi muito trabalhosa mas alta- dos na escola primária e após conferidas mente dignificante, pois os fuzileiros senti- as listas de vacinação, cada criança rece- ram-se bastante gratificados ao terem con- Cartaz da Campanha de Vacinação contra a Poliomielite. bia, no dedo indicador direito, uma tribuído para que o espectro da terrível marca de tinta indelével após o que era doença fosse significativamente reduzido Os trabalhos iniciaram-se cerca das seis vacinada. nestas tão martirizadas terras timorenses. horas da manhã, com a concentração de todos os participantes junto ao edifício da administração distrital. Formadas as oito equipas de Fuzileiros cada uma partiu para os diferentes aldeamentos pré-determina- dos, após receber uma mala térmica na qual estavam armazenadas as vacinas e equipamentos de comunicações, a fim de reportarem para a rede de administração, onde estava instalado o posto de comando, os resultados da operação. Depois de tra- jectos difíceis e morosos, em alguns casos parte deles efectuados a pé, foram as loca- lidades atingidas ao fim da manhã e con- tactados os respectivos chefes de suco que entretanto tinham avisado as populações. O autor desta crónica teve o ensejo de integrar uma das equipas que procedeu à vacinação de mais de uma centena de crianças nas localidades de Caicasa e Weleti e constatou das dificuldades que os fuzileiros tiveram que vencer para cumprir a sua missão. Patrulha sanitária.

8 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA O NATAL DOS FUZILEIROS Assistência Religiosa da Marinha, CMG gentos e praças quer do Comando do Capelão Amorim, procedeu à oferta à Sector Central, quer do Batalhão Português, Seguindo a tradição, os fuzileiros comemo- paróquia de Same de uma imagem de Nossa estando a Marinha representada pelos Cabo raram o Natal tendo contado com a presença Senhora do Mar. CCT Reis Pereira e pelo autor destas linhas. do Comandante do Corpo de Fuzileiros (CCF), Ao final da manhã, no aquartelamento, O Ramelau é uma cordilheira que se CMG FZ Cunha Brazão e do Capelão da Base procedeu-se primeiramente à distribuição de desenvolve longitudinalmente, dominando a de Fuzileiros, 2TEN Capelão Licínio Silva. brinquedos por dezenas de crianças e depois zona ocidental do território. O cume mais foi a vez de cada um dos alto é o Tatamailau com 2963 m e a cerca de 157 fuzileiros receberem 45 Km a sul de Dili. Destacam-se ainda nesta das mãos do Comandante cordilheira os montes Caterai (2100m), Brazão uma prenda de Darulau (2320m), Cablac (2180m) e Cailaco Natal na qual estava grava- (1916m). O relevo deste território é algo que do - "Fuzileiros Timor 2000". impressiona pela sua grandiosidade e ma- Com o almoço de Natal gnificência e do qual decorre a rede hidro- oferecido às crianças, a gráfica, servindo as suas cristas de separação membros de administração, de águas e formando uma linha quase con- aos chefes de suco e seus tínua desde o ilhéu de Jaco no extremo Leste, parentes, terminaram estas linha esta que constitui a espinha dorsal da festas de Natal que para os "Ilha do Crocodilo". fuzileiros serão sempre recordadas dado que, ape- sar de longe das suas terras e dos seus familiares, se senti- Festa de Natal. ram acompanhados pelo seu Comandante e pela O programa das festividades teve início população que tão devotamente apoiam. com a visita do Comandante Brazão a todos os postos guarnecidos pelos fuzileiros, desde PASSAGEM DE ANO NOS o situado a maior altitude, o retransmissor do MONTES RAMELAU monte Ramelau, onde o pessoal fez questão de receber CCF com as devidas iguarias, mere- Um grupo de cerca de 40 pessoas decidiu cendo destaque as tradicionais rabanadas festejar a passagem do ano e celebrar a entra- confeccionadas por um açoriano – o 1GRT FZ da do novo século e milénio de uma forma Oliveira, até à posição mais longínqua – Alas. diferente, subindo ao ponto mais alto do ter- No aquartelamento de Same foi inaugurado ritório. Militares e professores portugueses. um bar e respectiva esplanada, antes da tradi- Tratava-se de um grupo heterogéneo – cional ceia de Natal para o qual foram convi- constituído por civis: professores portugue- Após um percurso em viatura até à locali- dadas duas professoras portuguesas: Edite ses e elementos da comunicação social, da dade de Hatobuilico sede de sub-distrito, no Castro e Cristina Meneses que leccionam RTP – com uma equipa chefiada pela distrito de Ainaro, o grupo efectuou a pé o naquela localidade e fizeram questão em repórter Lavínia Leal, e da TSF – jornalista percurso até ao cume, muito embora uma envergar trajes timorenses. Pedro Costa. Do grupo faziam parte tam- boa parte do equipamento e dos abasteci- À meia noite a igreja de Same foi demasia- bém 30 militares da PKF, destacando-se o mentos fosse transportado por pequenos ca- do pequena para acolher mais de um milhar 2º Comandante da Força – Major General, valos de carga – Kuda oan (tradução literal de fieis para assistirem à missa do galo, con- do exército australiano, Mike Smith, acom- em Tetum). Após cerca de duas horas e meia celebrada em português pelo capelão Licínio panhado pelo respectivo ajudante de de cansativa caminhada, pelas 17 horas do Silva e em tetum pelo pároco local, padre campo – 1º Tenente, da Marinha cana- dia 31, alcançamos um planalto onde foi Gelósio da Silva. diana, Trabinsky. O grupo de militares por- montado o acampamento. A passagem de Na manhã de 25 de Dezembro, após a tugueses era chefiado pelo Comandante do ano foi celebrada com o habitual espumante, realização da missa de Natal, o sacerdote Contingente – Coronel de Cavalaria Martins e no primeiro dia do novo milénio, às cinco português, em nome do Chefe de Serviço da Ferreira, para além de outros oficiais, sar- horas da manhã iniciámos a subida do últi- mo lance até ao topo, para assistirmos ao crepúsculo matutino. Quando surgiram os primeiros alvores ficamos extasiados pela paisagem, podíamos avistar não só as duas costas Norte e Sul, mas também o extremo Leste. A cerca de 200 Km de distância! Naquele momento as palavras inscritas numa placa, há muitos anos lá existente e bem preservada, não podiam ter mais signifi- cado para o grupo que alcançou o cume. Reza assim:  PORTUGAL ALTO IMPÉRIO QUE O SOL LOGO EM NASCENDO VÊ PRIMEIRO Pereira Lourenço Vista dos Montes Ramelau. CTEN FZ

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 9 COOPERAÇÃO TECNICO-MILITAR Visita à Base Naval de Metangula

eslocou-se a Metangula uma dele- de termos percorrido cerca gação da Direcção Geral de Política de 1.800 Km. Dde Defesa Nacional, na qual foram integrados o Adido de Defesa, Comandan- Dia 6, pelas 06.30 horas, te Santos Lourenço e eu, na minha qualida- partimos em direcção a de de Director Técnico do Projecto n.º 6: Metangula, onde chegamos "Apoio à Organização e Funcionamento da pelas 09.30. Foram cerca de Marinha", da Cooperação Técnico Militar três horas para percorrer 108 de Portugal com Moçambique. Esta deslo- Km em estrada, estando 80 cação teve como finalidade efectuar uma Km alcatroados e os res- primeira avaliação técnica, tendente à tantes 28 Km em terra batida, inventariação de necessidades para dar iní- com razoáveis condições de cio ao treino embarcado ao pessoal que ter- circulação, na época seca. Já mina os cursos ministrados nas Escolas de perto da povoação, pouco Formação da Marinha de Guerra de depois de iniciarmos a desci- Algumas das lanchas atracadas ao cais de reabastecimento. Moçambique situadas em Maputo, no da do monte Tchifuli, numa âmbito do Sub – Projecto n.º 6 B: "Apoio à volta da picada descortinamos a imponente junto ao cais das lanchas, estão em condições Formação Técnica". baía de Metangula, com a Base Naval aí regulares e mantêm-se a funcionar, embora implantada. Que majestosa paisagem, que com bastantes limitações por falta de sobres- sensação ver a Base do monte... quando pas- salentes, pese embora terem sido fornecidos sei 13 meses a espreitar o monte da Base, já pela nossa Marinha, em 1999, cerca de 10.000 lá vão 32 anos! contos, a preços de 1974, de sobressalentes para as Unidades Navais, para os motores Às 0930 começou a visita, tendo a dele- fora de borda e para os geradores da Base. A gação sido recebida com o cerimonial que é enfermaria, que apoia cerca de cento e oiten- devido ao Adido de Defesa, entidade mais ta militares e civis que trabalham na Base e representativa que integrava a delegação. suas famílias, está em pleno funcionamento O Comandante da Base, Capitão-de-Mar- e tem as condições mínimas de habitabili- -e-Guerra Nitrogénio preparou, ao por- dade, denotando as suas dependências um menor, esta visita. Tudo nos foi facultado asseio irrepreensível. O seu encarregado Uma LFP no plano observar e os oficiais acompanhantes, de desenvolve uma actividade notável, cortan- cada um dos dois grupos em que a dele- do e cosendo quando é necessário. No dia 5 de Junho, pelas 06.00 horas, par- gação foi dividida, prestaram os esclareci- timos de Maputo, em avião da LAM, com mentos solicitados. As instalações estão, de Sobre as lanchas, que são as mesmas que escala na Beira e destino Nampula. Nesta uma forma geral, bastante degradadas mas entregamos na altura da independência, 4 cidade mudamos para outro avião, também as paredes e os telhados estão em condições LFP's, 4 LDM's e 3 LDP's, cabe aos técnicos da LAM, e seguimos para Lichinga, antiga razoáveis, o que permite encarar a viabili- que integravam a delegação pronunciarem- Vila Cabral, onde aterramos pelas 12.00 horas. dade de recuperação de algumas delas. As -se sobre a viabilidade da sua recuperação. Estava cumprida a primeira etapa, depois oficinas do Serviço de Assistência Oficinal, Algumas ainda navegam, como se pode comprovar pelas fotografias juntas. Foi outro momento alto da nossa visita: navegar no Cerimónia de Imposição de Boinas na Escola de Fuzileiros Lago a bordo duma LDP, recordando nave- da Marinha de Guerra de Moçambique gações de outrora, levadas a cabo nesta massa líquida, por força das funções que me Decorreu no período de 28FEV00 a 23JUN00, na Escola de Fuzileiros da Marinha de Guerra de estavam confiadas. Moçambique, um Curso de Formação de Praças destinados à classe de Fuzileiros Navais. Este curso, foi assessorado tecnicamente pelos militares que prestam serviço no Sub-Projecto n.º 6 C, reforçados No dia 8 rumamos de Lichinga para por uma Unidade Móvel de Instrução composta por um oficial, um sar- Maputo, via LAM, com escala em Tete, ter- gento e uma praça, todos da classe de Fuzileiros. Iniciaram este curso 138 militares que tinham terminado a Instrução de Recruta, comum aos três minando assim a nossa missão. Ramos das Forças Armadas, com a duração de quatro meses, no Centro de Instrução da Manhiça, pertencente ao Exercito. Acabaram, com sucesso, o Uma palavra final de reconhecimento curso 104 novos Fuzileiros Navais. para o Governo da Província do Niassa A cerimónia de imposição de boinas teve lugar no último dia do curso, pelas facilidades logísticas disponibilizadas tendo sido presidida pelo Ministro da Defesa, General Tobias Daí. em alojamento e viaturas e, nomeadamente, Estiveram presentes, para além dos militares portugueses que prestam para o seu Director de Transportes, que nos serviço na Cooperação Técnico Militar, o CEMGFA, General Lagos acompanhou nas duas deslocações a Lidimu, o Comandante da Marinha de Guerra de Moçambique, CALM  Pascoal Nhalungo, vários oficiais generais e superiores dos três Ramos, Metangula. entidades civis da Catembe e muitos familiares dos alunos. Imposição duma boina (Colaboração da CTM de Moçambique – Projecto n.º 6) Pedro Correia do Amaral CMG RES

10 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Visita duma Delegação da DGPDN à CTM em Moçambique

eslocou-se à República de Moçambique, no período de 8 a D 18 de Outubro passado, uma Delegação da Direcção Geral de Política de Defesa Nacional, composta pela Dra. Maria Luís Figueiredo, Directora do Departamento de Cooperação Técnico- -Militar e pelo CFR FZ Luís Loureiro Nunes, oficial que presta serviço naquele Departamento, tendo a seu cargo a coor- denação de Moçambique. Dando cumpri- mento ao programa previsto para esta deslocação, em 16 de Outubro, foi visita- da a Escola de Fuzileiros sediada na Catembe. A Delegação, acompanhada pelos Adido de Defesa, Director do Projecto n.º 6, Director do Sub-Projecto n.º 6 C e respectivos Contrapartes moçam- A delegação portuguesa ladeada pelo Adido de Defesa MGEN PILAV Barrigas Queiroga e pelo Contraparte do bicanos, foi recebida pelo 2º Comandante Director-Técnico do Projecto n.º 6, CMG FADM Issumalgy Valgy, recebe as honras militares das Forças em Parada. que, apresentou as Forças em Parada, compostas pelas Guarnição da Escola e 2ª No final desta visita os elementos da ministradas e a necessidade de serem Companhia de Fuzileiros, seguindo-se o Delegação manifestaram o seu regozijo consolidados os conhecimentos adquiri- desfile, em continência. Numa das salas pela boa apresentação das instalações e dos, com a realização de estágios embar- de aula, o 2º Comandante proferiu umas pelas actividades desenvolvidas por este cados e de exercícios conjuntos. Seguiu-se breves palavras sobre a missão dos Sub-Projecto. a visita às Escolas de Formação, inte- Fuzileiros da Marinha de Guerra de Em 17 de Outubro a delegação, com gradas no Sub-Projecto n.º 6 B. O Director Moçambique e as actividades da Escola, idêntico acompanhamento, visitou as Escolar apresentou os oficiais e sargentos salientando a importância da realização instalações do Sub-Projecto n.º 6 B. De formadores e, seguidamente, na Sala de de exercícios combinados com os Fu- acordo com o programa, esta visita ini- Informática, fez o balanço da actividade zileiros portugueses. Seguidamente, foram ciou-se com a apresentação de cumpri- escolar desenvolvida, desde 28 de Fe- visitadas as instalações e observadas mentos ao Comandante da Marinha de vereiro do corrente ano, data em que se demonstrações de ginástica de aplicação Guerra de Moçambique. Durante este iniciaram os primeiros Cursos de For- militar, que incluíram a transposição dal- acto protocolar, o Vice-Almirante Pascoal mação de Grumetes, até ao presente e guns obstáculos da respectiva pista. Nhalungo proferiu palavras de muito perspectivou as actividades escolares Terminada esta visita a Delegação dirigiu- apreço pela colaboração prestada pela previstas até finais de 2001. Após a -se para as instalações da Assessoria Parte portuguesa nas acções que estão a exposição do Director Escolar foram visi- Permanente do Sub-Projecto n.º 6 C, situa- ser desenvolvidas, no âmbito do Projecto tadas as diversas dependências das das perto da Escola de Fuzileiros. A n.º 6, vincando bem a importância que Escolas, com especial destaque para a Sala residência da Catembe e seus anexos, tem, para a Marinha de Guerra de de Informática e para as Oficinas de foram, também, visitados pela Delegação. Moçambique, as acções de formação Electricidade e de Máquinas. No final desta visita os elementos da delegação manifestaram o seu agrado pelo que lhes foi dado observar. Transcreve-se, com a devida vénia, do "livro de honra" das Escolas de Formação, as palavras nele exaradas pela Directora do Departamento de Cooperação Técnico-Militar:

"É com imensa satisfação que acabo de visi- tar as instalações do Grupo de Escolas de Formação da Marinha de Guerra de Mo- çambique. Não posso deixar de registar que esta obra se deve a todos quantos Oficiais, Sargentos e Praças das Marinhas de Guerra de Moçambique e de Portugal deram corpo a este projecto. Longa vida a este Grupo de Escolas e que o futuro lhe reserve todos os êxi- tos possíveis.". 

Visita à Oficina de Máquinas. (Colaboração da CTM – Moçambique)

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 11 ESCOLA NAVAL UmaUma visitavisita aa SalamancaSalamanca

ESBOÇO HISTÓRICO e conquistaram Salamanca (Helmantiké, como a descreve Políbio e Livio), deixando o rio Tormes alimenta-se dos degelos e episódio guerreiro marcado por uma lenda de águas pluviais que correm da Serra de heroísmo de mulheres salmantinas. Cercada a OGredos e Serra de Ávila, conjunto cidade, prometeu Aníbal que a deixaria em montanhoso que atravessa a Península Ibérica paz, a troco de valores em prata e ouro, mas no sentido este-oeste e continua no território os salmantinos não aceitaram e viram entrar as português com o sistema Montejunto-Estrela. tropas de Cartago, com grande violência. Corre para norte, entrando no extenso planalto Assustados, pediram, então, que os deixassem e indo desaguar ao Douro E é a confluência sair apenas com as suas túnicas, deixando as das condições geográficas locais que determi- suas armas e riquezas. Assim aconteceu, mas nou o aparecimento da cidade de Salamanca. as mulheres – cuidando que não seriam revis- Seguindo o curso do Tormes, de sul para tadas as suas roupas – trouxeram as espadas norte, os viajantes ultrapassavam a cadeia de escondidas e deram-nas aos homens que Miguel de Unamuno. montanhas onde nasce o rio - de ermos cami- voltaram a atacar os cartagineses, recuperando nhos, próprios de cabras e ovelhas - e depara- uma parte dos seus bens e fugindo para as então, a cidade desenvolveu-se em torno da vam-se com o imenso planalto, próprio para a montanhas. catedral e – pouco tempo depois - da agricultura. Duas formas de vida encontraram Seguiu-se a ocupação romana, mas a sub- Universidade, oficializada por Carta Magna de naqueles pequenos terraços sobranceiros a missão dos povos locais não foi pacífica – Afonso X, o sábio, datada de Toledo em 24 de uma curva do Tormes o local protegido e como é sabido, pela lenda de Viriato –, contu- Maio de 1254, mas existente desde o reinado seguro para o seu comércio. É assim mesmo do a lei romana acabou por chegar a toda a de Afonso IX. É a Universidade mais antiga da que nascem as cidades: precisam condições parte, mantendo-se por muitos séculos, sub- Península Ibérica, e pouco mais recente é que naturais de segurança contra as razias de mon- sistindo (de certa maneira) às invasões bár- as de Bolonha e Paris. tanheiros e meliantes e situam-se na confluên- baras e, particularmente, à entrada dos visigo- cia de caminhos naturais, permitindo o acesso dos, no século V. Salamanca guarda ainda a mercadores vindos de toda a parte. No caso numerosos vestígios da sua fase mais antiga, e SALAMANCA: de Salamanca um dos caminhos sobre que se dois deles tornaram-se símbolos da própria A CIDADE UNIVERSITÁRIA colocou é a ancestral rota da prata, por onde cidade. O mais notável é a ponte romana, que circularam os mais antigos povos da atravessa o Tormes a sul da cidade, em Cidade Universitária desde remotos tempos, Península, transportando esse preciso metal direcção à chamada porta do rio: no segui- foi à volta desta instituição de saber que até ao Mediterrâneo. mento da tal rota da prata, que atravessava a cresceu e se desenvolveu, agregando colégios As populações pré-romanas são os Península, de Cádis até Astorga, passando por e atraindo estudantes de toda a parte da celtiberos, e Salamanca edificou-se no limite Mérida. E o outro é o varrasco celta, verda- Europa. De Salamanca saíram alguns dos entre as comunidades de agricultores vaceus deiro ex-libris da cidade, constituído por uma astrónomos que serviram na corte portuguesa, (norte) e de pastores vetãos1 (sul), sendo povoa- escultura em granito de um touro colocado nos reinados de D. João II e D. Manuel I, desta- da, essencialmente, por estes últimos. No num plinto, com formas toscas e (talvez) primi- cando-se pela sua importância e valor o Mestre século III a.C., Aníbal (Cartago) levou a cabo tivas, mas de um simbolismo muito rico e Abraão Zacuto, autor das tábuas solares uma campanha sobre a Península Ibérica, de específico, ligado à fertilidade da terra. (Almanaque Perpétuo) que acompanharam cujas riquezas pretendia apoderar-se, e onde Salamanca foi reconquistada aos mouros, Vasco da Gama à Índia e que serviram nas pretendia fazer uma base para voltar a atacar no ano de 1102, por Afonso VI de Leão e navegações portuguesas durante o século XV e Roma. Em 220 a.C. os seus exércitos cercaram Castela, avô de Afonso Henriques. A partir de XVI. A cidade tem por isso uma relação históri- ca estreita com Portugal que assumiu uma importância especial na época das grandes navegações. E isto, por si só, seria uma moti- vação suficiente para que a Escola Naval ali se deslocasse, procurando sentir naquelas pedras e bancos o mesmo cheiro, o mesmo ar e a mesma luz que sentiram Abraão Zacuto, Diogo Ortiz, Frei Luís de Leon, Miguel de Unamuno e muitas outras figuras de elevada craveira intelectual que ajudaram a construir a cultura que herdámos. Chegados pois à cidade pelo caminho de Vilar Formoso, depara-se-nos o magnificente espectáculo do casario medieval, onde sobres- saem as torres da catedral nova. Estávamos ao pé da ponte romana, de frente para o que terá sido a porta do rio, admirando o já falado var- rasco salmantino, hoje degradado pelas Ponte romana sobre o rio Tormes. cruezas do tempo e pela incompreensão dos

12 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Praça Maior. homens que , no século XIX, o mutilaram e ati- XVI, quando Salamanca já tinha uma apreciá- mas delas indecifráveis sem especulação. Para raram para o Tormes, condenando-o a desa- vel população, o velho templo revelou-se insu- trás já ficou a casa museu Unamuno, antiga parecer de todo. Felizmente que a loucura não ficiente e cabido decidiu fazer um novo, mais residência reitoral da Universidade ocupada é eterna e a rudeza do granito foi mais forte que espaçoso e adaptado aos novos tempos. Con- por Miguel de Unamuno quando exerceu o vandalismo dos homens, permitindo que tudo, pensaram os fundadores não destruir o essas funções. Esta figura de eminente intelec- ainda hoje possamos admirar aquele belo que estava feito, deixando que as novas naves tual, filósofo, escritor e pedagogo, que marcou exemplar, testemunho da cultura e religiosi- crescessem a par das já existentes, apoiando-se a história de Salamanca, de toda a Espanha e dade celta. No mesmo local, pode o viajante nas velhas paredes. Hoje podemos apreciar os da própria Europa, com a sua obra. Muito apreciar uma estátua que relembra a história do dois estilos arquitectónicos e comparar os poderíamos dizer sobre este ilustre perso- Lazarilho de Tormes: o personagem da popular géneros decorativos esculturais e pictóricos nagem, mas o tempo urge e temos de seguir o novela picaresca do século XIV. Lazaro, de seu enquadrados no ambiente em que foram cria- nosso caminho para norte até à Plaza Mayor, nome, era o jovem pobre e ingénuo, oferecido dos, formando dois conjuntos harmónicos que com um rápido olhar pela Universidade pela mãe a um velho cego para lhe servir de dão testemunho de duas épocas e de duas Pontifícia e pela popular casa das conchas. A guia, vê-se transformado em esperto vilão, sem maneiras de pensar e sentir. Aliás, se observar- Plaza Mayor de hoje é como que um centro da escrúpulos ou sentimentos, pelas vicissitudes mos cada uma delas com mais atenção, cidade, mas sentimo-la deslocada do núcleo da vida e pela vileza dos homens. encontraremos um nexo de continuidade artís- medieval. Na verdade, foi construída no século Entrámos na cidade pela porta do rio, como tica, que vem do longínquo século XII até ao XVIII, numa fase de alargamento dos limites qualquer peregrino que demandasse Santiago XVIII, quando toda a obra ficou pronta. O pórti- antigos. O local era – como é costume dizer-se de Compostela, vindo do sul, ou como o fize- co, as naves laterais e o cabeção do templo – "fora de portas", funcionando aí o mercado ram milhares de mercadores da rota da prata, românico espelham um estilo mais antigo e, de S. Martinho, onde se comerciava gado. A durante séculos e séculos. E subindo pelas seguramente, correspondem à primeira fase da cerca medieval salmantina confinava a cidade estreitas ruelas, sempre em direcção ao norte, construção, mas a abóbada do transepto apon- em limites muito mais curtos que os actuais, as duas catedrais surgem-nos de rompante ta para técnicas mais recentes, mais próximas passando próximo do extremo norte do edifício imersas no casario, sem que consigamos apre- do gótico de que do românico clássico. A de- da Universidade, perto da casa das conchas. ciar a grandeza da estrutura global. A parte que coração do altar-mor, é composta por um Salamanca é, de facto, um verdadeiro encontramos primeiro, pertence ao claustro da retábulo com 53 cenas da vida de Cristo, num museu que exigia uma visita prolongada e uma catedral românica - a mais antiga, construída estilo gótico típico, mas a abóbada é decorada descrição muito mais pormenorizada do que no século XII sobre as ruínas de uma igreja com uma visão do juízo final de claras influên- aquela que é possível fazer dentro dos limites visigótica - mas virando à esquerda e à direita, cias renascentistas, quer na técnica quer no deste artigo. Uma cidade onde é fácil teste- depois de passar pela Praça João XXIII, damos gosto figurativo. Ao centro, por cima do próprio munhar de forma directa mais um milénio de de caras com a entrada da catedral gótica, tem- altar, um nicho alberga uma imagem da História do Ocidente Europeu, com uma inten- plo imponente construído ao lado do antigo e Virgem da Vega, feita em madeira, revestida a sidade que arrepia o mais incauto viajante. quase o engolindo nas suas paredes. No século ouro e decorada com pedrarias. A catedral nova, Desde o varrasco ibérico colocado ao pé da retoma a linha evolutiva dos gos- ponte romana até aos mais recentes edifícios, tos ibéricos no princípio do sécu- encontramos bancos de escola onde estu- lo XVI, com a sua arquitectura daram gerações e gerações de estudantes, uma gótica, mas prossegue até ao bar- imensa biblioteca que guarda o saber de sécu- roco do século XVIII, presentes los, e por toda a parte sentimos a presença no coro e cadeiral, bem como na velada de homens que estudaram à luz da decoração de algumas capelas. vela, da candeia de azeite, do gaz, do petróleo Mas seguindo o nosso cami- e, agora, da electricidade. Um verdadeiro nho, viramos à esquerda até à paraíso de cultura que importa preservar, para rua de los libreros, passando exemplo dos presentes e vindouros.  pelo pátio das escolas e pela entrada da Universidade, de J. Semedo de Matos fachada plateresca, plena de re- CTEN FZ Abóbada da capela mor da catedral velha. presentações simbólicas, algu- 1Vaceus e vetãos foram duas comunidades de Celtiberos

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 13 EFEMÉRIDE N.R.P.N.R.P. “Augusto“Augusto dede Castilho”Castilho” celebroucelebrou 3030 anosanos dede serviçoserviço

Uma das mais salutares tradições da Marinha é a celebração dos aniversários dos seus navios. Foi com este espírito que o comando do N.R.P. “Augusto de Castilho” promoveu as celebrações do 30º aniversário, juntando a bordo para além da sua actual guarnição, diversas entidades civis e militares da ilha de S. Miguel – Açores.

N.R.P. “Augusto de Castilho” é Lisboa em 12 Agosto de 1974, teve um Operacional dos Açores, VALM Botelho uma corveta da classe “João papel ímpar, ao manter-se em Cabo Leal, e onde não faltou a cobertura dos O Coutinho”, que foi construída Verde em apoio às nossas autoridades, até orgãos de comunicação social locais (RTP pela Empresa Nacional Bazan de Cons- à véspera da proclamação de inde- Açores, RDP Antena 1 e alguns jornais trucciones Navales Militares, em Carta- pendência daquele estado, verificada em locais). gena, tendo sido lançada à água no dia 4 5 de Julho de 1975. O actual Comandante do navio, o CTEN de Julho de 1969 e aumentada Paulo Sousa Costa, perante a ao efectivo dos navios da guarnição formada na tolda, Armada no dia 14 de Novem- COMANDANTES DO N.R.P. “AUGUSTO DE CASTILHO” proferiu uma alocução em que bro de 1970. CTEN António José Malheiro Garcia...... 14Nov70 a 30Ago72 deu as boas-vindas aos convi- O navio entrou pela primei- CTEN António Vasco Pinto de Magalhães Martinha...... 30Ago72 a 30Mai74 ra vez em Lisboa em 22 de CTEN Elder Martins Viegas ...... 12Jun74 a 14Jan76 CTEN José Manuel Baptista Coelho Rita...... 14Jan76 a 14Jan77 Dezembro de 1970. Em Janei- CTEN João Manuel Velhinho Pereira Nobre de Carvalho...... 14Jan77 a 9Set 77 ro de 1971 visitou a Madeira e CTEN Joaquim Gonçalves Vintém ...... 9Set77 a 10Jan79 em 1 de Maio de 1971 saiu de CTEN Carlos Alberto Ferreira Gonçalves ...... 17Jan79 a 31Out79 Lisboa para Cabo Verde, ini- CTEN Carlos Alberto Mano Simões Lopes ...... 10Mar80 a 12Mar82 ciando a sua primeira comis- CTEN Carlos Manuel Hipólito Caroço ...... 12Mar82 a 18Ago82 são em África. Nesta comissão CTEN Fernando de Sousa Maciel ...... 18Ago82 a 20Dez82 CTEN José Manuel de Oliveira Alves Correia...... 20Dez82 a 24Jan85 assistiu os náufragos do navio CTEN Joaquim Francisco de Almada Paes de Villas-Boas...... 24Jan85 a 28Out85 grego "Lelaps" em 16 de CTEN Aniceto Garcia Esteves ...... 25Jan88 a 23Mar90 Agosto de 1971, o qual sofrera CTEN José Augusto Vilas Boas Tavares ...... 23Mar90 a 18Nov91 uma explosão e incêndio a CTEN António João Cota Fevereiro ...... 8Mai92 a 3Ago92 bordo. CTEN Júlio Alberto Xavier de Carvalho Araújo...... 3Ago92 a 28Out94 CTEN António Verde Franco...... 28Out94 a 4Abr97 A partir daí foi prosseguindo CTEN Mário João Maria Rodrigues Mendes Almeida Russo ....19Nov98 a 24Mar00 O actual Comandante a partir o bolo. com as suas comissões na CTEN Paulo Tomás de Sousa Costa ...... Desde 24Mar00 costa ocidental de África, dados, fez um breve historial tendo estado em Cabo Verde do N.R.P. "Augusto de Cas- por três vezes em 1971, 1972 e 1974, em Desde então, o navio passou a ter novas tilho", salientando a sua presença nos Angola por duas vezes em 1971 e 1972, e áreas de actuação e que são essencial- Açores através das constantes missões de na Guiné por duas vezes em 1973. mente missões de busca e salvamento, e interesse público, e prestou homenagem A partir de 1974, dá-se o processo de des- missões de vigilância das nossas águas aos comandantes e às guarnições que, colonização no qual, o navio que partira de territoriais e zona económica exclusiva, desde há 30 anos, têm conduzindo o na- quer no continente, quer nos arquipélagos vio no cumprimento das suas missões. da Madeira e, sobretudo, dos Açores, Seguiu-se uma conferência de imprensa tendo iniciado a sua primeira comissão na câmara de oficiais, e as comemorações neste arquipélago a 3 de Março de 1976. deste aniversário terminaram com um almoço de confraternização dominado Com tão rico historial, necessariamente pela boa disposição. que a passagem do seu 30º aniversário Tal como acontece desde há 30 anos, o justificou condigna celebração, a que pre- N.R.P. "Augusto de Castilho" estava pron- sidiu o Comandante da Zona Marítima to para missão, que aliás iniciou poucos dos Açores, CALM Rodrigues Gaspar, e a dias depois, em águas dos Açores.  que assistiram diversas entidades civis e militares residentes na Ilha de S. Miguel – A actual guarnição do N.R.P. “Augusto de Castilho”. Açores, designadamente o Comandante (Colaboração do N.R.P. “Augusto de Castilho”)

14 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA A MARINHA DE D. MANUEL (11) UmaUma embaixadaembaixada malogradamalograda

omo já se disse, a 10 de Agosto de cadoria, mas decidiu que 1498, Vasco da Gama comunicou ao os levaria para Portugal. O Samorim que queria regressar a autor do relato invoca a C Goa Portugal. Não sabemos se o fez porque já intenção de regressar com nada esperava daquele contacto ou se temia eles e mostrar àquelas alguma coisa em especial. Contudo, o Relato gentes que os portugueses I. Angediva da Viagem diz-nos que houve uma séria ten- não eram ladrões nem tativa de poderes locais, no sentido de retar- piratas, como queriam dar ou impedir essa partida. Uma possibili- mostrar os mercadores dade que me parece ser de considerar é a de mouros. Talvez que se que a breve abertura dos portos do Malabar, discutisse a bordo como ÍNDIA Ilhéus de Sta Maria com o fim da Monção do SW, traria navios seria melhor desistir e de todos os tipos a Calecut e, muito voltar noutra embaixada provavelmente, seria possível organizar uma pacífica, mas as circunstân- Mangalore expedição de guerra contra os portugueses. cias apresentadas pelo O que fez então, Vasco da Gama?... A julgar Relato apontam mais para pelo que nos é descrito, voltou a enviar pre- a ideia de que seria preciso sentes ao Samorim, propôs-se deixar um impressionar (?) aquela 0 km 200 feitor português em Calecut (com um gente com uma força mili- escrivão e mais alguns homens), pediu-lhe tar, porque em terra ti- Pandarane um barril de canela, outro de cravo e outros nham ficado com a noção Calecute de outras tantas especiarias que por ali hou- de um perigo económico, vesse, e requereu autorização para colocar mas não se amedrontaram um padrão em terra. À partida, tudo lhe foi muito com qualquer hipó- Costa do Malabar. concedido, mas quando as mercadorias e os tese de guerra. homens foram para terra, não só não lhe Contudo, apesar de todos estes aconteci- missão no espaço; e que vai tendo uma pro- deram o que pedia, como recusaram os pre- mentos, o autor do Relato não deixa de gressiva noção de qualquer erro grave pode sentes, prenderam os homens e reclamaram explicar – em traços gerais – como é que se significar a impossibilidade de regressar a seiscentos xerafins em ouro. É claro que a fazia este comércio rico. Deve dizer-se até Portugal. Insegurança, insegurança e mais situação era preocupante, mas não tão preo- que o Samorim, quando se apercebeu que insegurança, é o tom marcante do ambiente cupante como fora a retenção do próprio tinha que aceitar a exigência última de a bordo e, seguramente, em terra. Capitão, algumas semanas antes. Na ver- Vasco da Gama, escreveu uma breve carta a Optam por partir e largam pano a 29 de dade, a ida do feitor Diogo Dias para terra D. Manuel dizendo: "Vasco da Gama, fidal- Agosto, navegando para norte à custa de fora já um risco grande e é muito natural que go da vossa casa [a escrita é de Diogo Dias e brisas terrais e virações, chegando a 15 de o que estava a acontecer já fosse previsto. O alguns destes aspectos formais, devem sê-lo Setembro à vista dos ilhéus de Santa Maria Relato fala das desconfianças do Samorim também], veio a minha terra, com o qual eu (onde deixaram o padrão de Santa Maria). acerca dos portugueses e, sobretudo, do que folguei. Em minha terra há muita canela e Reabasteceram do que foi possível e conti- pensavam os mercadores muçulmanos desta muito cravo e gengibre e pimenta e muitas nuaram seu caminho até 19, altura em que inesperada presença na Índia. E dá a enten- pedras preciosas. E o que quero da tua é voltaram a procurar um local de reabasteci- der que só nessa altura o Capitão percebeu ouro e prata e coral e escarlata". Não seria mento, onde fosse possível querenar os que a embaixada que trazia se malograra. totalmente honesta esta carta, como revela- navios antes da grande travessia do Índico. Este assunto acabou por se resolver da riam atitudes futuras, mas que honestidade Foi nessa altura que se aperceberam de que seguinte forma: a pouco e pouco começaram será possível numa situação como a que toda a costa do Malabar sabia da sua pre- a aparecer junto dos navios, algumas embar- ocorreu em Calecut, entre Maio e Agosto de sença e que se preparava uma esquadra para cações miúdas com gente local com vontade 1498?... Temos um rei habituado a receber os atacar. Entre todos os locais onde estive- de negociar em pequenas coisas; diz o autor prendas e honorários do grande comércio ram acabaram por escolher Angediva, para do Relato que lhe "pareceu que vinham por que passa pela sua terra, que vê chegar algumas das indispensáveis reparações, mas mandado dos mouros mais que para vender alguém que não tem ofertas a esse nível e urgia sair dali, porque, de facto, eram muitos pedras, e isto por verem se lhes faziam algu- que é assediado pelos velhos comerciantes os sinais de agressividade e de preparativos ma coisa"; o que é certo é que foram bem contra essa gente. E temos as sucessivas de guerra, a que não tinham a certeza de recebidos e o número foi aumentando pro- ameaças onde o Samorim tinha feito valer a conseguir resistir. gressivamente, até que Vasco da Gama sua autoridade, tomando atitudes ostensiva- Os navios partiram para a travessia do resolveu prender uns quantos e exigir por mente agressivas contra os delegados por- Índico, de regresso a África, em 5 de Outu- eles o resgate dos homens e mercadorias que tugueses. Um Capitão que tem falta de bro de 1498. Era uma péssima época para o estavam em terra. Finalmente, a vinte e sete meios militares; que só vai compreendendo fazer, mas se calhar não havia outra hipótese. de Agosto, Diogo Dias veio para bordo, e o que se passa com muita dificuldade, de Continuar no Malabar era um risco muito Vasco da Gama libertou seis dos prisioneiros forma incompleta e a muito custo; que está grande.  que tinha. Manteve os restantes com pretex- mais longe de Lisboa e de D. Manuel do que J. Semedo de Matos to de que os soltaria quando tivesse a mer- o Path Finder estava da Terra, na sua última CTEN FZ

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 15 NaNa esteiraesteira dosdos desembarquesdesembarques dede CookCook nono ContinenteContinente AustralianoAustraliano

O leitor de assuntos marítimos tem uma ideia detalhada da James Cook e o seu “Endeavour” modernidade científica, rela- Cook nasce em Ingla- de desinteria e malária terra a 27 de Outubro de que grassavam nesta tivamente à época, das viagens 1728, filho de um cam- cidade. ponês do Yorkshire. Os O “Endeavour”, um portuguesas dos Séc. XV e XVI. seus primeiros contactos “East-coast collier” de três A anexação pela Espanha em com as fainas marítimas mastros e de 368 tons, desenvolvem-se a bordo 105´de comprimento fora 1580, e as dificuldades e mu- das barcas de transporte a fora, 29´e 3´´de boca de carvão na zona de máxima, 11´de pontal no danças daí decorrentes, gera- Whitby. Aos vinte e seis porão e cerca de 14´´de ram um certo alheamento no anos entra como volun- calado carregado, anteri- tário para a Marinha ormente denominado que concerne a viagens poste- Inglesa, tendo tomado “Earl of Pembroke”, que a parte nas campanhas do Marinha Britânica com- riores, nacionais e estrangeiras, Quebeque, de onde volta prou para a expedição especialmente na área do Pací- em Outubro de 1762. patrocinada pela Royal Concluída a Guerra dos Society of London, era fico, imensa zona geográfica Sete Anos é nomeado uma embarcação lenta e cartógrafo na Terra Nova. robusta, de pouco calado, em que os nossos interesses se Aí, em 5 de Agosto de utilizada no transporte de foram reduzindo, ficando prati- 1766, observa um eclipse carvão nas costas ingle- do Sol. Regressa definitivamente a Inglaterra neste sas. Cook, que entretanto seria escolhido para seu camente limitados a Macau e mesmo ano. Os conhecimentos adquiridos nesta ac- comandante, era favorável a este tipo de navio que tividade serão fundamentais na elaboração dos traba- lhe era familiar e que tinha muito melhores facili- Timor, até ao Séc. XX. lhos hidrográficos posteriormente efectuados durante dades de se safar de encalhes dada a forma da care- Estes apontamentos de viagens as suas viagens no Pacífico. Em 1768 é promovido a na. Depois de sofrer no Deptford Naval Yard as alte- oficial e nomeado comandante do “Endeavour”, rações necessárias para alojar os seus tripulantes e à Austrália e Nova Zelândia partindo para a sua primeira viagem nestas funções. cientistas, largou para esta primeira viagem à volta do Os seus cuidados com a alimentação e higiene da Mundo, a única sob o comando de Cook. No regres- têm o fim de despertar um inte- tripulação, por vezes impostos de maneira violenta, so a Inglaterra, após uma viagem de cerca de três resse um pouco mais profundo, permitiram evitar as enormes baixas devidas ao anos, fez três viagens às Malvinas, retornando às suas escorbuto, frequentes em longas viagens nesta época. origens i. e. ao transporte de carvão, O “Endeavour” para além do relacionado com o No entanto, quando foi obrigado arribar a Batávia em comprado por um armador de Massachusetts acabou Novembro de 1770, após ter passado por Timor, os seus dias desmantelado, após um encalhe em acompanhamento das múltiplas houve numerosas baixas causadas pelas epidemias Newport em 1793. regatas que aí se correm. como “Van Diemen´s Land”, nome do a Batávia (hoje Jakarta). Após ter concluído AS DESCOBERTAS DO SÉC. XVIII Governador-Geral das Índias Ocidentais de o seu diário desta longa viagem com “Que então, sem avistar as costas australianas, Deus seja louvado por esta feliz viagem. os meados do Séc. XVIII começava a navega na costa ocidental da Nova Amen”, foi criticado por não ter encontrado delinear-se uma revolução nas prin- Zelândia, onde tem contactos inamistosos uma passagem do Índico ao “Mar do Sul”, Ncipais facetas da actividade humana com os Maoris e efectua numerosos dese- que permitisse a ligação fácil ao Chile, nem a que não poderiam ficar indiferentes os nhos, e nas ilhas Fidji, regressando finalmente trazer notícias promissoras sobre trocas aspectos científicos e técnicos ligados ao mar. Depois das hegemonias portuguesa e espanhola dos séculos anteriores surgiram, entre outros, os navios holandeses, franceses e ingleses interessados no domínio e ex- ploração dos comércios marítimos do Pacífico. Estas viagens enquadravam-se basicamente nos esquemas precedentes, no que tocava a conhecimentos náuticos, financiamentos privados e protecção militar. A viagem de 1642 do navegador holan- dês Abel Janzsoon Tasman, ao serviço da Companhia das Índias Ocidentais, é bem um paradigma desta situação: Parte das Ilhas Maurícias, com dois navios e víveres para um ano; passa pela Tasmânia, que hoje tem o seu nome após ter sido conhecida Ópera de Sydney mostrando à direita o local "The Rocks" onde se estabeleceram os primeiros europeus.

16 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Entrada de Botany Bay. Cook desembarcou na costa interior que se vê à direita na foto. comerciais. Após uma segunda viagem sem Este distanciamento dos outros conti- Vaez de Torres, será o primeiro europeu a interesse mercantil em 1644, foi pratica- nentes e culturas e as suas fauna e flora passar entre a Austrália e a Nova Guiné, mente abandonada a exploração pelos ho- exóticas não excluem pontuais desembar- permanecendo este estreito ligado ao seu landeses para fins meramente científicos, ques de pescadores asiáticos, nave- nome. políticos ou geográficos. gadores portugueses, holandeses e árabes Com o declinar do século passa a ao longo de tão dilatado período, bem Outra origem provável é, por simplifi- haver um intervencionismo marcante da como reconhecimentos de fragmentos das cação, a partir de “Terra Australis Incognita”, parte dos estados, consubstanciado na costas por Torres, Abel Tasman, Willem designação vaga de possíveis territórios a Sul criação de academias de vocações diver- Janszoon e Bougainville, entre outros do Hemisfério Sul, hipoteticamente para sas que preparam oficiais de marinha e desconhecidos, que fazendo a rota do “equilibrar” as grandes massas continentais cientistas destinados a constituir grupos Cabo, ao guinarem para Nordeste, para do Hemisfério Norte. Como apontamento, articulados que irão metodicamente abrir atingirem as ilhas da actual Indonésia, na assinala-se que Cook na sua segunda viagem, as portas do desconhecido a espectadores Insulíndia, acabavam por aterrar, por erro no “Resolution” (1772-75), atravessou por cada vez mais cultos. Esta vaga de fundo de navegação ou mau tempo, na costa seis vezes o Círculo Polar Antárctico, dando para a divulgação dos conhecimentos ocidental deste continente. um contributo decisivo para o fim dos mitos ditou inexoravelmente o termo da política É geralmente mencionado o português, relativos a esta área. de segredo, compreensível nas eras ao serviço da corôa espanhola, Pedro Fer- precedentes. nandes (ou Fernandez) de Queirós (ou O nome contemporâneo da Austrália Quiros), que saiu de Callao, no Peru, em está ligado a Mattews Flinders, navegador É neste contexto que têm lugar as três 1606, como tendo dado o nome de inglês que efectuou diversos levantamen- viagens de Cook. A primeira, única que “Austrialia do Espírito Santo”, ao desco- tos ao longo das costas australianas, con- tocou na Austrália, decorre de Agosto de brir as Novas Hébridas (hoje Vanatu), jul- cluindo a primeira circum-navegação do 1768 a Julho de 1771, treze anos depois gando serem o grande continente do Sul. continente, devidamente documentada, do Terramoto de Lisboa e na altura das Embora errando a sua avaliação da situa- em Port Jackson, hoje Sydney, a 9 de lutas pela independência na América do ção, o nome ligando a descoberta à Casa Junho de 1803, intitulando o seu relato, Norte. Patrocinada pela Royal Society de de Áustria acabaria por originar a actual publicado pouco antes da sua morte, em Londres, fundada em 1645, tem como designação do Continente. Em 1607 o Julho de 1814, de “Voyage to Terra Aus- instruções a observação do “Trânsito de imediato de Fernandes de Queirós, Luís tralis”. Vénus” no Taiti, após o que deverá nave- gar para Sul para promover a descoberta da “Terra Australis Incognita”, que pare- cia antever-se das informações prestadas pelo Capt. Wallis, apenas chegado a Londres no “Dolphin”, que trazia também novas de um paraíso terrestre situado nesta ilha. Foi com estupefacção que se verificou que, por interesses astronómicos ou outros mais terrestres, houve cerca de oitenta membros da guarnição de Wallis que se inscreveram para embarcar de volta com Cook, confirmando indirecta- mente a existência de tal paraíso.

A AUSTRÁLIA, SEU ACHAMENTO E ORIGEM DO NOME

A ideia de que a Austrália, inicialmente com partes da costa do seu território co- nhecidas como Nova Holanda, teria vivido isolada num letargo, durante milhões de anos, parece substancialmente correcta. Monumento a Cook na Botany Bay em Kurnel.

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 17 Assim julga-se que uma descoberta, em povoação de Geraldton, de cerca de Cook erige nesta ilha um observatório em termos dos séculos XV e XVI, não existiu 25.000 habitantes, tem uma Catedral de terra para observação do “Trânsito de como tal - nomeadamente devido ao S. Francisco Xavier, com projecto do Vénus” onde ele e os cientistas embarca- aumento do tráfego marítimo na zona, Mons. John C. Wawes e um museu de dos verificam o contacto de Vénus com o decorrente de uma certa evolução dos naufrágios. disco solar às 9h 25 m 42s a.m., tocando métodos de navegação ao longo dos o lado de saída às 12h 39m 50s, do dia 3 duzentos anos anteriores, mas especial- Um toponímio cuja origem não foi pos- de Junho, pelo que a serem correctos mente do salto qualitativo da época que, sível deslindar foi o da “Lusitânia Bay” na estes valores não se tratou de uma pas- com a determinação rigorosa da longi- Ilha de Macquarie de 123 Km2 a 835 mi- sagem pelo centro do disco solar tude, irá permitir uma cartografia e nave- lhas a SW da Tasmânia, famosa por ser a (admitindo o tempo de 19 segundos para gação muito mais a imersão total) que fiáveis - havendo dura cerca de oito relatos mais ou LOCAL DE DESEMBARQUE DO CAPTAIN COOK horas. menos detalhados O relógio usado de desembarques e 28 DE ABRIL DE 1770 ainda não foi o cro- naufrágios, em pa- nómetro H-4 de Har- ralelo com marcas “Os seguintes pequenos extractos relativos ao renovaram as suas ameaças e oposição. Foi então rison, versão me- indeléveis na topo- desembarque do Captain Cook e o do seu grupo no disparado um mosquete carregado com um pequeno rochedo em face desta placa zagalote contra o mais velho lhorada do H-1 que nímia, antes da vi- foram transcritos do original dos dois que estava a cerca fez o seu baptismo de agem de Cook. do MS Journal de Sir Joseph de 40 jardas do bote. mar numa viagem de Destes possivel- Banks, da Mitchell Library of Acertou-lhe nas pernas mas provas a Lisboa, que mente o mais docu- Sydney. ele pouco se importou. se encontrava retido O diário conta que Assim foi imediatamente dis- mentado foi o nau- Os nativos enfrentaram parado outro contra ele: com até ser decidido o frágio do “Batavia”, resolutamente o desembar- este fugiu imediatamente vencedor do prémio que deixou o porto que “embora fossem só dois para a casa distante de cerca para determinação da de Amsterdão, sob e nós trinta ou quarenta pelo de 100 jardas e depressa longitude, criado pe- o comando de Fran- menos”. O colóquio com voltou com um escudo. estes dois continuou durante Entretanto nós desembar- lo parlamento britâ- cisco Pelsaert, com cerca de um quarto de hora. camos nos rochedos. Várias nico. 316 pessoas a bor- Como se mantivessem deci- lanças foram imediatamente A determinação ri- do em Outubro de didos, foi disparado um tiro atiradas e caíram entre o gorosa da efeméride, 1628, tendo enca- de mosquete sobre eles cujo grupo. Isto provocou duas efectuada por Halley, efeito foi o mais novo dos novas descargas de peque- lhado próximo do dois despejar um molho de nos zagalotes, tendo então os reflecte já os enormes porto de Geraldton, lanças no rochedo... Voltou nativos fugido, após terem progressos da astrono- a cerca de 220 mi- depois a agarrá-las e ambos Placa com o relato do 1º desembarque. atirado uma outra lança.” mia feitos na altura. lhas a Norte da Este astrónomo e actual Perth, nos matemático, além de escolhos de “Abrolhos Island” em 4 de única zona conhecida de criação dos ter calculado a órbita do cometa ao qual foi Junho de 1629, dando origem a uma “Royal Penguin” que chegam a atingir dado o seu nome, tinha já feito na Ilha de St. tragédia sem precedentes em que foram 70.000 casais. Foi considerada Reserva Helena o levantamento das estrelas do assassinados muitos dos passageiros e Natural em 1933. Hemisfério Sul e observado um trânsito de tripulantes, por um grupo deles, que pos- De qualquer modo perguntar hoje a um Mercúrio, mais frequente: com intervalos de 7 teriormente vieram a ser julgados e bar- australiano quem primeiro desembarcou ou 13 anos ou combinação destes valores, i.e. baramente justiciados em público em na sua terra seria equivalente a formular depois de 33 ou 46 anos, muito menor que de Batávia a 31 de Janeiro de 1630. idêntica pergunta relativamente ao porto mais de um século de Vénus. O comandante conseguira atingir de Lisboa. Seguindo as ordens recebidas, Cook na- Batávia a 7 de Julho com um outro tripu- No fundo, presentemente esta questão vega para Sul até cerca dos 40º S e, depois lante numa embarcação, tendo regressado não é uma angústia existencial. Com de nada ter encontrado além da pequena ilha ao local do encalhe, para recolher os efeito, no imaginário actual, os explo- de Tubuai, para Oeste, avistando a Nova Ze- náufragos, a 16 de Setembro no “Sardam”. radores terrestres, muito mais recentes, lândia a 7 de Outubro. Tentando esclarecer A réplica recente do “Batavia” entrou em com uma face e a proximidade temporal as dúvidas se seria o novo continente, che- Sydney em 1999. das suas aventuras, dramas, e tenacidade, gando à conclusão, por circum-navegação, A toponímia portuguesa destas ilhas, usada têm hoje um lugar proeminente. que eram duas ilhas e fazendo uma série de durante séculos, a propósito da qual Hugh levantamentos, ocupa o seu tempo até 31 de Edwards, que dirigiu a primeira expedição ar- DE PLYMOUTH À AUSTRÁLIA, Março de 1770, altura a que ruma a Oeste queológica ao local do naufrágio, escreve no aterrando, ao fim de uma travessia de 19 dias seu livro “Islands of The Angry Ghosts”: “O PASSANDO PELA MADEIRA, do Mar da Tasmânia, na denominada Point seu mapa das ilhas (elaborado pela E TAITI Hicks, em honra do primeiro oficial a avistar guarnição do “Beagle”, já sem Charles terra, hoje integrada no Croajingolong Na- Darwin embarcado) - que de uma maneira O “Endeavour” depois de pronto larga tional Park, no Estado de Victoria, numa bastante irritante insistem em chamar a 26 de Agosto de 1768 com 94 homens zona em que a costa tem cerca de 40 milhas “Houtman Rocks”, quando foram conheci- a bordo, dos quais só 56 regressariam a na direcção Leste-Oeste, até às proximidades das como Abrolhos desde há mais de 200 Inglaterra após uma viagem de cerca de do actual Cape Howe. anos (e ainda hoje são chamadas pelos três anos, para o Funchal onde chega a pescadores)...”. 12 de Setembro. A 19 de Setembro, Historicamente Cook nunca desembar- A situação toponímica do local alterou- abastecido, ruma ao Rio de Janeiro onde cou em Melbourne, capital deste Estado. -se desde então tendo passado estas aproa a 3 de Novembro. Depois de passar No entanto, possivelmente pela importân- pequenas ilhas a ser hoje designadas por pelo Cabo Horn a 25 de Janeiro avista o cia desta cidade antes de Canberra ter “Houtman Abrolhos Islands”, com a indi- Taiti a 11 de Abril. passado a ser a capital da Austrália, na cação deste nome datar do Sec. XVI. A Cumprindo as instruções recebidas, altura do primeiro centenário da fun-

18 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Dois mundos ao mesmo tempo tão “Trânsito de Vénus” próximos e tão distantes! Esta vizinhança é um pouco o arquétipo A passagem de Mercúrio e Vénus através do disco A oportunidade única oferecida nesta ocasião era a da sociedade australiana. solar é chamada trânsito. Acontece na conjunção infe- possibilidade de obter a distância ao Sol a partir das Como devido, a actual ponte sobre este rior, i.e. quando o planeta está entre o Sol e a Terra e horas de um fenómeno visível, contacto do disco do rio recorda o navio de Cook: “Endeavour próximo de um dos seus nodos, situação esta que se planeta com o Sol, em diversos pontos de extensas verifica em anos aos pares, separados por oito anos, zonas terrestres. Bridge” pares estes distantes uns dos outros de mais de um século. Os dias aproximados de passagem são 7 de Em 1761 houve uma grande mobilização de A 6 de Maio, depois de ser terminado o Junho para o nodo descendente e 8 de Dezembro para observadores nos mais diversos locais do mundo levantamento da baía e sua flora e ter o ascendente, datas em que a Terra passa pelos nodos desde a Sibéria ao Cabo da Boa Esperança, da Chi- da órbita de Vénus. Os anos mais próximos foram e na a St. Helena, mas os resultados, possivelmente sido avistado uma espécie de coelho do serão em (1761 e 1769), (1874 e 1882), (2004 e 2012) devido a problemas atmosféricos ou de falta de tamanho de um gamo que se deslocava e (2117 e 2125). Esta passagem, que pode ser vista sem planificação das observações, foram uma desilusão. aos saltos e que não se assemelhava a telescópio, com A observação de nenhum animal deles conhecido (um os olhos devida- 1769 era assim canguru), Cook deixou a baía para sem- mente protegidos, única para todos dura cerca de oito Plano orbital os vivos e, se- pre, rumou a Norte passando pelas então horas quando o de Vénus gundo Halley, desconhecidas praias de Coogee, Clovelly trânsito passa pelo a possibilitaria a e Bondi, a Sul da entrada da baía de centro do Sol. determinação de Sydney, onde não navegou mas baptizou N ␻ distâncias ao Sol O método pro- e posteriormente de Port Jackson, nome do segundo posto por Edmon entre planetas secretário do Almirantado ligado à sua ⍀ C Halley (1656- P do Sistema So- terra natal, e Manly a Norte. 1742) para calcu- N i lar. Este calen- A viagem de cabotagem até à actual lar a distância ao dário com mi- Plano da eclítica Lady Elliot Island decorre sem acidentes de Sol era o de pa- lhões de anos de maior, ao longo de uma costa de aparên- ralaxe, diferença P - Periélio existência impu- de direcção quan- N - Nodo ascendente nha, assim, a cia não muito fértil, onde são feitos alguns do se vê um objec- N - Nodo descendente Cook um pla- desembarques pontuais, para abastecimen- to de dois pontos neamento muito to de caça e marisco, e o clarão das quei- diferentes. Trânsito de Vénus. rigoroso. madas ilumina por vezes a noite e os sinais de fumo intrigam durante o dia. A partir dação do Estado de Victoria, foi oferecida entra numa grande baía (seguido na desta ilha, extremo Sul da Barreira de aos habitantes de Melbourne a casa que margem por alguns aborígenes, homens, Coral, que é constituída de mais de 2.500 teria pertencido à família de James Cook, mulheres e crianças de tez muito escura e bancos de coral (reefs) e ilhas de outras construída em 1755 em Great Ayton, completamente nus) que pouca impor- origens, e se estende por 1.570 milhas Inglaterra, e onde Cook teria passado tância ligaram ao navio e seus tripulantes, desde o Estreito de Torres até Bundaberg, alguns períodos entre as suas viagens. A a que será dado o nome inicial de Sting ao Norte de Brisbane, o cariz tranquilo da casa foi desmontada pedra por pedra e Ray Harbour e definitivo de Botany Bay, viagem tende a acabar. voltada a construir, nos belos Fitzroy presentemente integrada no Botany Bay Com efeito, a entrada de 10 Junho no Gardens no centro da cidade, em 1934. National Park. Diário de Cook refere: “A costa entre o Cabo Na área dos antigos estábulos foi instala- Kurnel, nesta baía abrigada situada a Sul Grafton e a mencionada ponta a Norte forma do um pequeno centro de documentação do porto de Sydney, hoje incluída neste par- uma grande baía, mas não muito profunda, a com um painel electrónico mostrando as que natural, é considerado o primeiro local que chamei de Trinity Bay, de acordo com o derrotas das suas três viagens, um modelo de desembarque na Austrália devidamente do “Endeavour” e alguns documentos documentado. Aí chegou Cook a 28 de relacionados com este navegador. Abril de 1770. Esta área tem uma profusão Encontram-se aí também indicadas as de monumentos e placas comemorativas seguintes datas para os diversos contactos relacionadas com este facto. Destacam-se o com zonas do continente e denomi- obelisco em memória de Cook e tripulação nações de terras australianas antes da do “Endeavour”, a placa no pequeno roche- chegada de Cook: do onde tomaram contacto com o solo deste continente, outra relatando uma Carpentaria...... 1628 escaramuça com dois indígenas, monumen- Dremen Land ...... 1618 tos a Solander (botânico sueco), Banks Witts Land ...... 1628 (botânico inglês) e Sutherlands, este último Edels Land ...... 1619 relativo a ter tido, segundo a inscrição, a Land of Lions ...... 1622 pouco invejável sorte de ter sido o primeiro Peter Nuwty´s Land...... 1627 inglês a morrer em solo australiano. Dieme´n Land...... 1642 Actualmente, encontrava-se no parque Voltando ao “Endeavour” que navega um acampamento de aborígenes, eventual- agora ao longo da costa Oeste, constata- mente descendentes da tribo Gwiyagal que -se que tenta entrar sem conseguir devido habitava esta área na ocasião do de- à rebentação, em Jervis Bay - uma das sembarque. A curta distância, no meio da actuais bases da Marinha Australiana - Botany Bay, junto ao Cooks River, partiam passando sucessivamente ao largo das aviões, a breves intervalos, da pista princi- costas ainda hoje relativamente pouco pal do Aeroporto de Sydney. O curso deste abrigadas das actuais Culburra, Nowra, rio, ao longo dos tempos, já foi desviado Kiama e Wollongong sem encontrar uma três vezes por imperativos do aeroporto e zona onde poder arribar. Finalmente seus acessos.

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 19 A avaliação meticulosa destes recursos permitirá posteriormente ser escolhida em Londres, nos antípodas, a Botany Bay para implantar uma colónia penal destinada a resolver os problemas de sobrepopulação das prisões inglesas mais tarde mudada para Port Jackson, de menor área mas com águas mais profundas. A partir da chegada dos primeiros presos em 1788, aos Rocks, nas proximida- des do edifício da Ópera, ex-libris de Sydney, começa o povoamento programado do lito- ral Leste e Sul deste continente que ainda hoje continua.

Em consonância com relatos de outros navegadores que anteriormente a si tiveram contacto com estas costas e seus habitantes, Cook, que abriu a Austrália para o Futuro, Cape Tribulation - zona de difícil navegação e alguns encalhes. não se apercebe totalmente das suas enormes potencialidades, nem mostra um interesse dia em que foi descoberta e a ponta Norte foi Por outro lado o recurso a um prático da especial pelas terras visitadas. Assim, ao con- designada como Cape Tribulation, porque costa local, para obviar aos sucessivos trário dos regressos à Nova Zelândia, quer na aqui começaram todas as nossas tormentas: encalhes, era inviável por impossibilidade segunda quer na terceira viagem pelo Latitude 16 graus 6 minutos Sul; Longitude de comunicação verbal e dificuldade de Pacífico, em que é assassinado a 14 de 214 graus 39 minutos Oeste”. relacionamento. Os habitantes da Austrália, Fevereiro de 1779 no Hawai, não voltará à ao contrário dos Maoris, ocupantes da Austrália, possivelmente por ele mesmo ter Percorrendo na actualidade alguns dos Nova Zelândia vindos das ilhas do Pacífico feito esvaecer o “Manto diáfano da Fantasia” pontos da costa Leste tocados pelo por volta do Sec. VIII, desconheciam as lín- sobre a “Terra Australis Incognita”, contrape- “Endeavour”, nomeadamente a baía guas destas ilhas que Tupia, o intérprete de so do Mundo!  acima referida, compreendem-se melhor bordo embarcado no Taiti com o seu filho, Baião do Nascimento as suas dificuldades. A Barreira de Coral, tão útil em ocasiões de outros contactos, CMG Eng.º Construtor Naval considerada hoje uma das maravilhas do dominava. Por outro lado o uso de embar- mundo, torna perigosa a navegação pró- cações muito mais rudimentares do que as (Fotos do autor) xima e impede um acesso fácil a terra contemporâneas da Polinésia, tornaria firme, como ele próprio verificou nos menos provável grandes navegações, e os Bibliografia encalhes entre os actuais Cape Tri- conhecimentos para elas necessários, pelos Captain Cook: A Biography bulation, cerca de 16º S, e Cooktown. aborígenes. Richard Hough Fevereiro 1997 Passeando pela borda de água desta baía W.W Norton & Company 1995 é-se confrontado com o limite da floresta Cook, sem avocar qualquer primado glo- Explore Australia 2001 tropical de Daintree, protegida como he- bal, passa em 1770 à História Australiana Astrid Browne 2000 rança mundial dos tópicos húmidos, que pelo levantamento sistemático, não des- Viking chega até ao mar representando, ainda cuidando as suas componentes de fauna, Islands of Angry Ghosts –The story actualmente, um acesso difícil ao interior. flora e recursos, de cerca de 2.000 milhas da of the BATAVIA Existem também na área animais sua costa, entre Point Hicks, e o Estreito de Hugh Edwards 2000 perigosos como grandes crocodilos de Torres, onde, após dois meses de reparações, Harper Collins Publishers Pty Limited água doce e salgada e outros animais neste mesmo ano reclama para a Inglaterra, The Journals of Captain Cook marinhos mortíferos, além de víboras de na hoje chamada “Possession Island”, a parte James Cook, Philip Edwards (Editor) Abril 2000 mordedura fatal, para as quais, na altura, da costa Leste por si levantada, denominan- Viking Penguin não havia certamente qualquer antídoto. do-a de “New South Wales”. The Life of Captain James Cook J.C.Beaglehole, John C.Beaglehole Fevereiro 1992 Stanford University Press Longitude Dava Sobel 1995 Walker Publishing Company Nei mari del sud da Magellano a Cook Étienne Taillemite 1995 Electra/gallimard Seven Seas Peter Freuchen Julian Messner 1957 Voyages of the Endeavour: Captain Cook and the Discovery of the Pacific Alan Frost Junho 1998 Allen & Unwin Pty Limited The Seaman’s Seaman by Alan Villiers Cook’s Voyages Round the World by A. Kippis Coral da Grande Barreira que se estende por grande parte da costa leste da Austrália, The Voyages of Captain Cook by Rex e é um perigo para a navegação. and Thea Rienits

20 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA CARTA DO CEMA

etomo hoje a série de cartas que tenho Espero também que, no curto prazo, seja vindo a dirigir regularmente à Corpora- dada semelhante autorização para o processo Rção desde 1997, com algumas re- aquisitivo do navio polivalente logístico. de saúde física e psicológica e de respeito flexões sobre o actual momento da Marinha Entretanto, o programa de aquisição dos pelos outros. Parece-me claro que a apresen- e um breve balanço do ano que está a terminar. novos submarinos prossegue a sua complexa tação militar não pode estar sujeita a excessos e longa tramitação. Neste mês, os dois concor- da moda ou a conceitos estéticos passageiros, Como é conhecido, decorreu recentemen- rentes apresentaram a chamada "best and final nem que deva ser encarada como uma mani- te um amplo programa de transferência dos offer", na sequência das negociações bilaterais festação de personalidade individual. cargos superiores da Marinha, determinado que visaram o aperfeiçoamento da confi- Assim, alerto todos os militares e militariza- pela saída de diversos oficiais generais que guração dos navios, os respectivos aspectos dos para a necessidade de prestarem mais atingiram o limite de idade, ou expressaram logísticos, as contrapartidas e os custos. atenção ao aprumo pessoal e ao cuidado dos vontade pessoal de deixar o serviço activo na De momento, os sub-grupos técnico-opera- uniformes, relembrando a comandantes, estrutura do Ramo. Todos eles serviram a cional e de contrapartidas estão a preparar os directores e chefes, a todos os níveis, as obri- Marinha durante cerca de quatro décadas correspondentes relatórios de avaliação. gações de exigência que têm para com os com dedicação e competência, prestando- seus subordinados. -lhe serviços valiosos. Acompanhei de perto Em 26 de Outubro p.p., um dos canais Ciente de que a melhoria dos uniformes tem as suas carreiras profissionais, partilhei as nacionais de televisão divulgou, num dos seus também implicações financeiras e logísticas, suas emoções em tempo de guerra e de paz e blocos de notícias, extractos de um relatório dei instruções para que se preste maior vivi com eles os mesmos ideais e sonhos da elaborado por um deputado português, no atenção à qualidade do fardamento e à juventude. É pois com sentimento de perda qual referia que o NATO Assistant Secretary manutenção de uma reserva de fornecimen- pessoal que vejo a sua partida. No entanto, General for Defence Planning and Operations to, bem como para que sejam adoptadas no plano institucional, encaro com tranquili- lhe tinha manifestado, durante uma visita que medidas que simplifiquem o respectivo sis- dade mais esta etapa de renovação da efectuou à organização, na Bélgica, a sua dis- tema de distribuição. Marinha, imposta pelo inexorável fluxo de cordância quanto à aquisição de submarinos gerações, por depositar inteira confiança nos para a Marinha Portuguesa. Julgo ainda oportuna uma referência à almirantes recém empossados e por ter a No dia 27 de Outubro p.p., um porta-voz questão dos concursos de admissão ao Curso noção de que a mudança traz consigo ener- oficial da NATO desmentiu categoricamente, de Formação de Sargentos (CFS). Ninguém gias acrescidas, ideias inovadoras e o estímulo em comunicado escrito e em esclarecimentos discordará da ideia de que a Marinha necessita que vive a par da esperança. Estando com- prestados a jornalistas acreditados junto da de dispor de uma classe de sargentos melhor pleta a nova equipa de almirantes e, também, organização, que o referido funcionário da preparada em termos militares, académicos e de capitães-de-mar-e-guerra, é altura de dar Aliança tivesse criticado o programa de técnicos, nem ninguém será insensível à legiti- continuidade aos objectivos estabelecidos na aquisição de submarinos para Portugal. midade das aspirações de promoção de várias Directiva de Política Naval. A decisão do autor do relatório de elaborar gerações de praças que serviram devotada- de forma incorrecta e pessoal alguns dos pontos mente a Marinha desde a sua incorporação e O desenvolvimento dos programas de de vista que lhe terão sido transmitidos pensaram o seu futuro profissional segundo aquisição de novos navios prossegue o seu durante a visita que efectuou a Bruxelas e a regras que assumiram como imutáveis. curso, ainda que nem sempre com a Mons, a convite de uma Embaixada estran- Ciente da delicadeza do problema, tenho celeridade que seria desejável, face às neces- geira, revelou, salvo melhor opinião, uma per- procurado criar condições que permitam sidades operacionais da Marinha e ao pro- turbante insensibilidade quanto à possibili- uma transição gradual para o novo sistema de gressivo envelhecimento da maior parte dade de o relatório vir a ser interpretado como ingresso no CFS, assente em habilitações das actuais unidades navais. No entanto, uma interferência nos ciclos formais de planea- académicas mais exigentes e em avaliações reconheço que se trata de um processo mento estratégico e de forças de Portugal. de carreira e provas técnico-navais a executar que recomenda especial prudência pela Nos dias que se seguiram, um significativo em condições rigorosamente iguais para complexidade técnica de que se reveste e número de órgãos de comunicação social todos. elevados montantes financeiros que exige. portuguesa abordou esta questão com consi- Nesta data posso já anunciar, com muita derável objectividade e clareza, em artigos O despacho que produzi em 10 de Julho satisfação, a promulgação de um Despacho que dispensam referência por serem bem p.p. sobre esta matéria e a decisão de con- Conjunto dos Ministérios da Defesa Nacional, conhecidos. Em minha opinião, o único resul- centrar em Lisboa as próximas provas de das Finanças, da Economia, do Ambiente e tado positivo de todo este episódio foi a admissão ao CFS - com os encargos e dificul- do Ordenamento do Território – assinado por demonstração de que existe em Portugal um dades para o serviço que daí resultam - evi- Sua Excelência o Primeiro-Ministro e pelos núcleo de jornalistas especializados em dencia a atenção que dispenso a este assunto. demais Ministros competentes - que determi- assuntos de defesa com elevada competência nou o ajuste directo com os Estaleiros de Viana técnica, inteligência e opinião independente Na minha Mensagem de Natal e Ano do Castelo, S.A., para a construção de um de "lobbies" económicos. Novo (ver R.A. nº 337/Dez 2000), abordei navio patrulha oceânico e de um navio para os aspectos mais relevantes da actividade da o combate à poluição marítima, previstos no Por nunca o ter feito antes, entendo oportu- Marinha em 2000. Julgo, por isso, que não Sistema de Forças Nacional 1997. O contrato na e necessária uma breve referência à apre- se justifica retomar essas questões nesta será assinado em breve e o seu desenvolvi- sentação militar do pessoal, quer no que se ocasião. No entanto, não quero deixar de mento implicará a participação de outros par- refere à atitude e postura individuais, quer no desejar novamente, a todos os que servem ceiros industriais portugueses, incluindo o que respeita ao fardamento. Portugal na Marinha, um bom ano de 2001 Arsenal do Alfeite. Estas duas unidades serão pleno de realizações pessoais e igualmente as primeiras de uma série de doze constituída Trata-se de uma questão a que atribuo con- preenchido por êxitos profissionais que, no por dez patrulhas oceânicos, por um navio siderável importância, porquanto o aprumo seu todo, se traduzem num funcionamento vocacionado para acções de balizagem e militar é geralmente visto como uma manifes- cada vez mais perfeito, eficiente e eficaz da  pelo do combate à poluição. tação de apego à ordem, de disciplina moral, nossa Corporação. REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 21 AQUÁRIO VASCO DA GAMA ActividadeActividade nono BiénioBiénio 1999/20001999/2000

MOVIMENTO DE VISITANTES

Durantes os anos de 1999 e 2000 o Aquário Vasco da Gama registou um movimento de visitantes assim distribuídos: 1999 2000 ENTRADAS PAGAS 30 558 26 993 ENTRADAS GRÁTIS 5 650 5 473 ESCOLAS 20 784 19 995 TOTAL 56 992 52 401

MUSEOLOGIA

No âmbito da preparação e montagem de espécimens para Preparação museológica. exposição, destaca-se a execução de uma reprodução, em fibra de vidro e resina de poliester, de 2 exemplares: AQUARIOLOGIA • um Peixe-cravo - Lampris guttatus, com 112 cm de compri- mento. Este peixe, raro nas nossas costas, foi capturado na Foi executado e montado um novo tanque de água salgada Fuzeta (Algarve) em 30 de Agosto de 1996. na galeria dos invertebrados, povoado com fauna e flora das • um exemplar recém nascido de Orca - Orcinus orca, com 220 praias arenosas do estuário do Sado. A exposição conta ainda cm de comprimento, que foi arrojado à praia de S.Jacinto- com o outro tanque deste tipo, simulando um habitat de praia Aveiro, no dia 27 de Janeiro deste ano. rochosa da nossa costa, mais concretamente da Linha do Estoril, durante a maré baixa. Os exemplares encontram-se acessíveis aos visitantes desde a idade pré-escolar, os quais são estimulados para lhes tocarem e mexerem. Explorando assim o tanque, os alunos são levados a descobrirem as curiosas adap- tações destes organismos ao meio ambiente.

Foram remodelados vários aquários da Sala das Tartarugas, de forma a simularem ecossistemas típicos de diferentes zonas do globo como a Amazónia, lagos africanos, rios asiáticos ou rios de Portugal.

Sala das otárias.

Tendo em vista a inclusão de animais preparados nas pare- des do corredor de passagem entre a “Sala das Tartarugas” e a “Sala das Otárias”, recentemente remodelado, efectuou-se a montagem com pele de um espécimen juvenil de tubarão da África do Sul-Triakis megalopterus, bem como a reprodução em materiais sintéticos de uma Patruça-Platichthys flesus. Sala das tartarugas.

22 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA ACTIVIDADES CULTURAIS

Os Departamentos de Museologia e Divulgação Cultural, com a colaboração do Departamento de Aquariologia, reorga- nizaram a exposição comemorativa dos 100 anos do A.V.G., adaptando-a à exibição nos seguintes locais: • Agualva Shopping, no Cacém, onde esteve patente ao públi- co de 6 de Janeiro a 9 de Fevereiro. • Casa da Guia, durante os meses de Julho e Agosto.

Tanque Sado.

Continuamos a registar as ocorrências de reproduções de espécies da fauna da costa portuguesa, pela sua relativa rari- dade em cativeiro: • posturas e nascimentos de patas-roxas (Scyliorhinus canicula), bem como a reprodução e nascimento de marinhas (Syngnathus acus) e a postura, nascimento e criação de chocos (Sepia officinalis), cujos progenitores foram os chocos nascidos e criados no ano anterior. • Regista-se ainda a reprodução, nascimento e criação até ao estado juvenil, de cabozes da espécie Gobius paganellus (espécie litoral cuja distribuição geográfica inclui Portugal), estando o Exposição “Estudar e Observar a Cadeia Alimentar”. desenvolvimento embrionário e larvar destes peixes a ser objec- to de observação e registo, como parte de um projecto do ISPA a Foi ainda preparada uma exposição de divulgação do ser realizado com a colaboração do AVG. Como parte da colabo- A.V.G., a qual foi integrada na exposição comemorativa do Dia ração entre estas duas entidades procedeu-se ainda à da Marinha, que esteve em exibição nas instalações do Instituto manutenção de ovos de Lepadogaster lepadogaster colhidos no Portuário do Sul, em Portimão, de 19 de Maio a 4 de Junho. mar, os quais eclodiram com sucesso, tendo-se criado as larvas Durante este semestre procedeu-se à remodelação do corre- que evoluíram até ao estado juvenil. A criação desde o ovo de dor de ligação entre a Sala das Tartarugas e a das Otárias. As exemplares desta espécie integra-se numa estratégia para deter- paredes foram revestidas a madeira, onde foram inseridos minar a existência de duas subespécies ou espécies com padrões posters informativos, intercalados com animais aquáticos de coloração distintos, que têm sido classificadas com o mesmo preparados museologicamente. Estes posters, profusamente nome. Observaram-se também sucessivas posturas dos cabozes- ilustrados com fotografias, pretendem desenvolver alguns -cabeçudos (Gobius cobitis, espécie da costa portuguesa). conceitos no âmbito da Ecologia, levando os visitantes a • Quanto aos peixes tropicais de água salgada verificou-se a tomarem conhecimento da enorme diversidade de ecossis- reprodução de exemplares de Amphiprion ocellaris e de temas aquáticos existentes, e a relacionarem os animais expos- Dascyllus trimaculatus. tos com o tipo de habitat onde vivem e as adaptações que desenvolveram às exigências do meio ambiente. A Sala das Otárias foi também remodelada, tendo-se revesti- do as suas paredes a madeira e forrado as janelas com fotografias alusivas ao ambiente aquático. Foi também realiza- do um novo poster para o tanque das tartarugas, em consonân- cia com os outros painéis novos. A exposição “Estudar e Observar a Cadeia Alimentar” foi colocada em exibição nesta Sala, oferecendo ao público visitante a possibilidade de obser- vação e estudo, com a ajuda de equipamento adequado, de material biológico produzido nesta instituição, como fito e zooplâncton, ovos e larvas de peixe. Este projecto inclui ainda a produção de material didáctico em diversos formatos sobre os temas propostos, abrangendo a criação de um “mini-site” na internet, sob o site do A.V.G.. As etiquetas informativas da Sala das Tartarugas foram inte- gralmente remodeladas, apresentando, para além de um novo desenho gráfico, iluminação por trás que facilita significativa- mente a sua leitura. Por outro lado, foram introduzidas em todos os aquários etiquetas temáticas, relacionando os animais expostos com a sua origem geográfica, os ecossistemas onde vivem no meio natural e as adaptações que desenvolvem. Tanque Linha do Estoril. Pretende-se assim continuar a desenvolver conceitos de ecolo- gia aquática, que permitam ao visitante compreender melhor a Na sequência do que se tem feito em anos anteriores, cria-  ram-se vários grupos de exemplares de peixes de água doce interligação entre os seres vivos e o meio ambiente. fria, carpas e pimpões, resultado do aproveitamento das pos- turas que ocorreram nos tanques do jardim. (Colaboração do Aquário Vasco da Gama)

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 23 TOMADAS DE POSSE VICE-CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA

● Decorreu no passado dia 14 de Novem- A sua incumbência de chefiar o principal bro na Casa da Balança (Instalações Cen- órgão de apoio para o estudo, concepção, trais de Marinha), a cerimónia de tomada planeamento e inspecção das actividades da de posse do cargo de Vice-Chefe do Marinha, requer que o Vice-CEMA assegure Estado-Maior da Armada pelo VALM Luís ao CEMA uma estreita colaboração, em todos Manuel Lucas Mota e Silva. os domínios. O Almirante CEMA aquando da tomada Sublinhou ainda a necessidade de com- de posse do Vice-CEMA proferiu uma pletar o estudo coordenado, sob a orien- alocução, onde salientou: tação e supervisão do Vice-CEMA, dos sis- "A importância do cargo de Vice-Chefe do temas integrados de informação e comuni- Estado-Maior da Armada foi sempre plena- cações e a concluir afirmou que o cargo de mente reconhecida ao longo dos tempos. No Vice-CEMA é, na verdade, um cargo de entanto, em face da evolução a que a Marinha crucial importância para a Marinha. tem vindo a ser sujeita nos últimos anos, con- Por sua vez, o VALM Mota e Silva refe- sidero que a relevância desse cargo se tornou riu no seu discurso que o Estado-Maior gradualmente maior, podendo actualmente continuará a cumprir as suas obrigações, caracterizar-se por alguns aspectos essenciais a quer na preparação das Directivas de que desejo dar relevo nesta ocasião. Política Naval que o Almirante CEMA entender promulgar, quer no controlo das O VALM Mota e Silva nasceu em Lisboa em 1942 e terminou a Escola Naval em 1964. Como oficial su- respectivas execuções. balterno desempenhou funções em várias unidades navais, designadamente o comando de um navio- Reconheceu que o envolvimento das vá- -patrulha em África. Após a promoção a oficial superior, em 1974, desempenhou funções de Oficial de Operações no Estado-Maior da STANAVFORLANT, tendo servido no Comando Naval e no Estado-Maior rias áreas funcionais da Marinha na busca da Armada sempre no campo das operações navais. Serviu ainda na Divisão de Planeamento do SACLANT. de soluções, sobretudo para os problemas Comandou a fragata “Com. Hermenegildo Capelo”, envolvida em exercícios nacionais e NATO. No posto novos que se nos deparam, será uma das de CMG desempenhou no CINCIBERLANT as funções de Sub-Chefe do Estado-Maior durante 3 anos. suas preocupações. Frequentou o Curso Superior Naval de Guerra (93/94) a que se seguiu o desempenho de Chefe do Estado- Concluiu afirmando que tenciona ter -Maior do Comando Naval. Promovido a Contra-Almirante em 1995, desempenhou as funções de Director do Serviço de Formação a "uma atitude pró-activa em relação aos que que se seguiu a promoção a Vice-Almirante (1997) e as funções de Superintendente dos Serviços de Material. estão no grupo dos colaboradores mais directos Em 30 de Novembro de 1999, assumiu as funções de Comandante em Chefe da Área SOUTHATLANTIC, sem esquecer, obviamente, as suas competên- (Ex. IBERLANT) e em 2 de Dezembro do mesmo ano as funções de Comandante Naval. Da sua folha de cias exclusivas e os seus graus de liberdade, que serviço destacam-se várias condecorações. também já tive, e de que nunca abdiquei".

SUPERINTENDENTE DOS SERVIÇOS DO PESSOAL ● Decorreu no pas- considerando que irá contribuir com a níveis, atenuando os seus efeitos nas sado dia 22 de No- sua acção, para uma modernização no áreas funcionais prioritárias definidas vembro a cerimó- campo dos Recursos Humanos, através superiormente. nia da tomada de da introdução de métodos de gestão ino- Salientou que na área da Formação a posse do cargo vadores e eficazes, proporcionando um Superintendência dos Serviços do de Superintenden- processo de mudança que tem trazido Pessoal continuará, no seu âmbito, a tra- te dos Serviços indubitáveis benefícios à Marinha e ao balhar no importante projecto de reorde- do Pessoal pelo seu funcionamento. Afirmou ser sua namento do parque escolar, e tem a firme VALM José Ma- intenção manter e dar um forte impulso intenção de apresentar, dentro dos pra- nuel Botelho Leal, na modernização na área da gestão do zos assumidos, os trabalhos do grupo de que foi presidida pelo Almirante Vieira pessoal, que constitui a única forma de projecto para a reestruturação do Sistema Matias. racionalizar os recursos humanos dispo- de Formação da Marinha. No seu discurso, o Almirante CEMA referiu que o preocupa a qualificação do O Vice-Almirante José Manuel Botelho Leal nasceu em 1941, tendo sido promovido a guarda-marinha pessoal, de uma forma geral e, em parti- em Janeiro de 1964. Especializou-se em Comunicações tendo efectuado comissões a bordo de diversas fra- cular, nas áreas técnicas essenciais ao gatas. Foi Director da Estação Radionaval de Metangula (1968/69) e Chefe do Centro de Comunicações da desenvolvimento de novos programas de Armada. Frequentou o "NATO Long Communications Course" (1970/71). Na Escola de Comunicações desenhou e iniciou os primeiros cursos de Guerra Electrónica que também leccionou na Escola Naval navios, entendido este como o conjunto entre 1978/84 (a cadeira de Comunicações e Guerra Electrónica). Entre 1973/78 exerceu os cargos de de tarefas que vão desde a definição de Comandante do NRP "Velas" e de Oficial Imediato dos NRP "S. Gabriel", "Sagres" e "Roberto Ivens". requisitos e especificações, passando pelo Foi Chefe de Repartição na Direcção do Serviço de Formação, a que seguiu o cargo de Adjunto do acompanhamento da construção e da Capitão do Porto de Leixões, até 1991, ano em que foi nomeado Chefe da Repartição de Sargentos e Praças na Direcção do Serviço do Pessoal. Frequentou o Curso Superior Naval de Guerra (1992/93) e o Estágio recepção e terminando na formação das Inter-Ramos no Instituto de Defesa Nacional. Foi 2º Comandante da Flotilha e Chefe do Estado-Maior do guarnições e das equipas de manutenção. Almirante Comandante da Força Portuguesa participante do Exercício NATO " 94". O Vice-Almirante Botelho Leal no seu Promovido a Contra-Almirante em 1995 exerceu o cargo de Chefe da Divisão de Recursos no Estado- discurso salientou ser uma grande honra -Maior do Comandante Supremo Aliado do Atlântico, SACLANT, em Norfolk. ocupar este cargo em que tantos seus Foi Subdirector do Instituto Superior Naval de Guerra (1997), cargo que exerceu até à sua promoção ao actual posto, tendo em Outubro de 1999 assumindo o cargo de Comandante Operacional dos Açores. Na antecessores ilustres se notabilizaram sua folha de serviços constam vários louvores e condecorações. servindo a Marinha de forma abnegada,

24 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA NOVO COMANDANTE NAVAL E COMANDANTE-CHEFE DO SUL DO ATLÂNTICO

● No passado dia 13 de Novembro tomou posse do cargo de Comandante Naval o VALM Américo da Silva Santos, substituindo o VALM Luís Manuel Lucas Mota e Silva, que exerceu o cargo desde 2 de Dezembro de 1999. A cerimónia de tomada de posse, que decorreu no Alfeite e à qual assistiram diversas individualidades civis e mili- tares, foi presidida pelo Almirante Vieira Matias, Chefe do Estado-Maior da Armada, que no seu discurso não deixou de elogiar a eficácia e brilho da acção de comando do VALM Mota e Silva, como também o seu espírito de missão. Seguiu-se a imposição da con- decoração da Medalha de Prata de Serviços Distintos ao VALM Mota e Silva.

O Almirante CEMA referiu no seu discurso o vasto curriculum opera- cional que decorreu durante o ano submarinos e do navio polivalente logísti- A terminar o Almirante CEMA ex- 2000, que levou as nossas unidades a co. Não podemos esperar mais dias pelo pressou a sua confiança na capaci- vários lugares distantes da terra. (...) despacho de autorização para contratar a dade do VALM Silva Santos e na "Tivemos navios e fuzileiros em Timor, construção do primeiro patrulha oceânico, competência e dedicação dos seus (...) navegámos nos Mares da Terra Nova, vocacionado para o combate à poluição. (...) subordinados a fim de continuar a (...) percorremos rios de Moçambique, (...) De qualquer forma, sublinho que a pron- impulsionar o Comando Naval para o pusemos o pé em terra na Bósnia durante tidão, na parte que ao Comando Naval com- sucesso. algum tempo, (...) Mostrámos a nossa pete, para o cumprimento das missões de Bandeira na Força de Reacção Rápida da paz no estrangeiro ou no território nacional, O VALM Américo da Silva Santos NATO no Atlântico, a SNFL, como a levá- com todo o conjunto de acções que lhe estão tinha já assumido no passado dia 10 mos a comemorar com as Cruzes de Cristo a montante, constituirá preocupação de Novembro as funções de Co- os 500 Anos da nossa chegada não confi- primeira. Destaco, até a nossa participação mandante Chefe Sul do Atlântico dencial ao Brasil. Levámo-la, ainda, às na SNFL com a assunção do Comando em (CINCSOUTHLANT). costas leste e oeste dos Estados Unidos da Abril de 2001 e a integração de navios e de A cerimónia foi presidida pelo América, à Austrália, à Índia, ao Norte de helicópteros, ao longo de 14 meses, como a Ministro da Defesa Nacional, Dr. África e ao Norte da Europa. Tivemo-la, mais exigente em todos os aspectos. Mas Castro Caldas e contou com a pre- por fim, permanentemente, nas vastas também não nos podemos esquecer do sença do General William Kernan, águas nas nossas três parcelas do ter- emprego das unidades de fuzileiros no exte- Comandante Aliado Supremo do ritório, ao serviço da soberania, da autori- rior, assim como teremos que continuar a Atlântico (SACLANT), o Comandante dade do estado e das suas responsabi- fazer juz aos nossos pergaminhos no desem- cessante VALM Mota e Silva, bem lidades, salvando pessoas e bens, protegen- penho das tarefas de interesse público nas como militares e civis daquele co- do recursos, em suma, defendendo os inte- águas portuguesas". mando. resses do Estado. Fizémo-lo com sentido de missão, com devoção à Marinha e mesmo com amor ao O VALM Américo da Silva Santos tem 56 anos de idade e foi admitido na Escola Naval em 1961. nosso País. (...) Especializado em comunicações possui, entre outros, o Curso Superior Naval de Guerra, Cursos Monográficos de Estratégia e Planeamento, o "Advanced Electronic Warfare Course", o Salientou ainda (...) " Sei que a "Maritime Tactical Course", o "Curso de Controlo Naval de Navegação" e o "Curso de Táctica Marinha, tal como eu, se inquieta com a Naval para Comandantes e Imediatos de Escoltadores". demora na concretização dos processos de O VALM Silva Santos embarcou em vários navios da Armada Nacional e de Marinhas da Aliança Atlântica. Desempenhou ainda várias funções em terra, nomeadamente Comandante da aquisição dos novos meios. Sabemos da Companhia nº 7 de Fuzileiros (Angola), Director do Centro de Instrução de Táctica Naval, sensibilidade e dos claros apoios formal e Director da Escola de Comunicações da Armada, Adjunto da Divisão de Comunicações e Chefe de público para os novos programas de navios Secção da Divisão de Operações do Estado-Maior da Armada, Assessor Militar do Ministro da por parte do Governo, com expressão prin- Defesa Nacional e de “Surface Operations Officer” do Comandante Supremo Aliado do Atlântico (SACLANT) da OTAN. cipal em Suas Excelências o Senhor O VALM Silva Santos serviu mais recentemente como Chefe do Estado-Maior do Comando Primeiro Ministro e o Senhor Ministro da Naval, como coordenador da Área de Ensino de Estratégia e Política Internacional e Professor do Defesa Nacional. Conhecemos isso, mas Instituto Superior Naval de Guerra e, após a sua promoção a CALM, como Comandante da chegou a altura de as decisões começarem a Flotilha e 2º Comandante Naval e como Comandante da Escola Naval. aparecer. Não deverão passar muito mais Foi promovido à sua patente actual em 10 de Agosto de 2000. Da sua folha de serviço constam vários louvores e condecorações. meses sem se contratar as aquisições dos

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 25 NOTÍCIAS CONDECORAÇÃO DO COMANDANTE DO N.R.P. “COM. HERMENEGILDO CAPELO”

● Em reunião da Assembleia Municipal do munícipe de Oeiras, “por actos e serviços prati- disponíveis para o apoio concelho de Oeiras, foi decidido atribuir no cados de particular relevo, no âmbito do País e da da população Timoren- dia 7 de Junho, dia do município de Oeiras, a Solidariedade Internacional.” se. Referiu ainda o au- medalha de Mérito Municipal – Grau Ouro, Devido à actividade operacional do navio, tarca que, as verbas entre outros homenageados, ao Comandante só foi possível concretizar esta atribuição no postas à disposição são Fernando Manuel de Macedo Pires da passado dia 25 de Outubro. mais eficazmente geri- Cunha, Comandante do N.R.P. “Comandan- No acto da entrega da medalha e do res- das por quem, no ter- te Hermenegildo Capelo”, que também é pectivo diploma, o Presidente do Município, reno, melhor sabe onde referiu que esta condecoração tinha por as empregar, os mili- objectivo acentuar e evidenciar a muito boa tares - neste caso a cooperação entre a Marinha e a autarquia de Marinha de Guerra Oeiras - no apoio à população martirizada de Portuguesa - ou a Igreja, face à grande Timor-Leste, designadamente nos apetre- implantação da igreja católica em Timor. chamentos da Escola “Vasco da Gama” em O Comandante Pires da Cunha, por seu Manatuto, reabilitada pela guarnição do lado, agradeceu a distinção conferida em N.R.P. “Vasco da Gama”, e no do Hospital nome pessoal, lembrando ser o repre- de Liquiçá, inteiramente recuperado pelo sentante duma guarnição de 186 homens e N.R.P. “Comandante Hermenegildo Ca- mulheres, que sob o seu comando, e com pelo” - e que parcerias destas são a melhor grande empenhamento e espírito de solida- forma de canalizar verbas que nas autar- riedade, recuperou o Hospital de Liquiçá quias e na Associação de Municípios existem em tempo record.

O NAUFRÁGIO DA NAU “NOSSA SENHORA DOS MÁRTIRES” AGORA DOCUMENTADO NO MUSEU DE MARINHA

● No passado dia 18 de Dezembro foi inau- porcelana, astrolábios e vestígios de arqui- ser atirada à costa em Cascais, como aconte- gurado um importante núcleo museológico tectura naval provenientes da referida nau cera à "Nossa Senhora da Salvação" que a contendo artefactos recolhidos dos destroços que, acabada de chegar de Coxim carregada precedera, tentou forçar a barra em plena daquela que se presume ser a nau de pimenta de pimenta, na noite de 14 de Setembro de vasante. Fatalmente, acabou por ser arrasta- "Nossa Senhora dos Mártires" que, em 1606, 1606, com um temporal de sudoeste des- da para o esporão rochoso de São Julião da naufragou junto a São Julião da Barra. feito e os ferros a garrarem, com receio de Barra, contra o qual se desfez. A cerimónia contou com a presença Após terem sido convenientemente do Presidente da Comissão Cultural da tratados e estudados, os artefactos reco- Marinha, do Presidente do Instituto lhidos e o resultado das investigações Português de Arqueologia, do Director efectuadas deram o mote ao Pavilhão do Centro Nacional de Arqueologia de Portugal durante a Expo 98, tendo Náutica e Subaquática (CNANS) e de sido expostos e publicados em catálogo diversos colaboradores deste Centro e próprio. do Museu de Marinha. Reunidos num expositor na Sala das Este novo núcleo é a concretização Descobertas, constituem um conjunto de um projecto conjunto do Museu de de elevado valor histórico e museológi- Marinha e do CNANS, e pretende co que muito enriquece a exposição reconstituir a empolgante história da permanente do Museu de Marinha.

A MARINHA NAS FESTAS DO MUNICÍPIO DE SINES

● Mais uma vez a Marinha prestou home- significado do relacionamento entre a A fragata "Cmdt. Sacadura Cabral" fez-se nagem às terras do mar e suas gentes. Local Marinha e Sines. novamente ao largo com a certeza de que de nascimento do ilustre Almirante Vasco Entre 23 e 25 de Novembro muitas foram Sines soube merecer a honra prestada, con- da Gama, Sines tem tido desde sempre uma as pessoas que visitaram a "Sacadura", acto vidando a um breve regresso. ligação muito forte e profícua com a Mari- demonstrativo do interesse e curiosidade nha, demonstrada pela simpatia e deferi- dos sineenses, tendo-se multiplicado os con- mento com que a fragata "Cmdt. Sacadura tactos com diversas entidades do municí- Cabral" foi recebida no âmbito da sua parti- pio, facilitadas pelo seu estreito relaciona- cipação nas festas do Concelho de Sines. mento com a Capitania do porto de Sines, e Desde logo a comunicação social local que culminou com uma recepção a bordo dedicou especial atenção ao evento, tendo com a presença dos principais represen- sido recebidos a bordo vários profissionais tantes dos sectores político, empresarial e do sector, interessados especialmente no social do Concelho.

26 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA NOTÍCIAS ACTUAÇÕES DA BANDA DA ARMADA PALMELA LAVRE (MONTEMOR-O-NOVO)

Por solicitação da Sociedade Filarmónica Palmelense A Banda da Armada deslocou-se no passado dia 11 de "Os Loureiros", a Banda da Armada deslocou-se a Palmela no Novembro a Lavre onde realizou um concerto na Casa do passado dia 27 de Outubro onde realizou um concerto integrado Povo daquela localidade integrado no evento "Lavre Mille- nas comemorações do 148º Aniversário daquela colectividade. nium Terra de Cultura Terra de Vida". Terra ligada à cultura dos sons, a comprová-lo a Dirigiu este concerto existência de duas das mais conceituadas Bandas o Maestro CTEN MUS Filarmónicas do País, (S.F.P. "Os Loureiros" e S.F. Carlos Ribeiro, Subchefe Humanitária de Palmela) as quais através das suas da Banda da Armada. Escolas de Música têm dado excelentes músicos, No programa esco- dos quais alguns fazem parte do quadro da Banda lhido constavam obras da Armada. Assim sendo, não foi surpresa a para todos os gostos; lotação da sala de espectáculos completamente desde a tradicional esgotada pelas cerca de oitocentas pessoas que ali marcha até ao Jazz, se deslocaram para ouvir a Banda. passando pela abertu- A primeira parte foi dirigida pelo Subchefe ra, poema sinfónico, CTEN MUS Carlos Ribeiro e a segunda parte música descritiva afri- esteve sob a direcção do Chefe da Banda CFR cana e portuguesa, en- MUS Araújo Pereira. tre outras. Repertório vasto e de Grande serão musical, os aplausos deveras qualidade que deliciou calorosos dispensados por todo aquele público jus- toda a assistência. Foi tificaram e de que maneira dois extra programas bonito ver as cerca de com que o Chefe da Banda, Comandante Araújo quinhentas pessoas que Pereira encerrou o concerto: enchiam por completo Funiculi Funiculá – Arranjo de Jorge Salgueiro e a sala de pé aplau- Marcha da Marinha de C. Calderon. dindo a Banda. Como atrás referimos os excelentes músicos ori- Motivo mais que undos de Palmela, não podemos deixar de salien- suficiente para que o tar o nosso camarada e amigo 1º Sargento Jorge Maestro CTEN MUS Salgueiro, homem de grande carácter e grande Carlos Ribeiro tocasse artista, quer como executante de trompete quer mais dois temas. como compositor, pois não podendo aqui enumer- Latin Gold de Paul ar todas as obras por ele compostas, destacam-se: Lavender e Marcha da Sinfonia "A Voz dos Deuses", Abertura para o Marinha de Carlos Gil, os arranjos Funiculi Funiculá, Fado da Amália, Calderon. Assim ter- Marcha Ingénua e Prelúdio (OP26) "Amanhecer", minou mais um gran- esta, executada hoje em primeira audição pela de serão musical pro- Banda da Armada. porcionado pela Ban- O carinho e simpatia que os conterrâneos do Jorge Salgueiro da da Armada, desta vez por terras do Alentejo. por ele demonstram, não passaram despercebidos aos elementos Salienta-se a presença dos órgãos autárquicos de Lavre assim da Banda da Armada, o que reforça o prazer que dá com ele tra- como do Presidente da Câmara Municipal de Montemor-o- balhar e conviver. -Novo. ESCOLA NAVAL

O colóquio que decorreu no auditório da Escola Naval subor- Concerto de grande qualidade, que mais uma vez pôs em dinado ao tema, "Dos Mares de Cabral aos Oceanos da Língua evidência o nível artístico de todos os elementos da Banda, Portuguesa", foi motivo para que a Banda da Armada se deslo- conforme foi dito pelo CFR FZ Ruivo a actuação da Banda da casse no passado dia 21 de Novembro àquele estabelecimento de Armada teria sido dos momentos mais altos de todas as ensino superior para aí realizar um concerto. prestações de índole musical ali efectuadas durante o colóquio, Na primeira parte, e sob a Direcção do Subchefe da Banda, ao que todo o público presente, composto pelo corpo docente, CTEN MUS Carlos Ribeiro, a Banda executou as obras: Cadetes e convidados da Escola Naval responderam com Seventy six Trombones, Guarany, The Magic of Andrew Lioyd estrondosa salva de palmas. Webber, e Glenn Meets Wolfgang, de: Naohiro Iwai (Arr.), Carlos O Chefe da Banda, CFR MUS Araújo Pereira, sensibilizado Gomes, W. Barker (Arr.), e Jef Penders, respectivamente. com as palavras e o carinho dispensado por toda a assistên- Hands Across Sea de J. Ph. Sousa, Canções de Marinheiro e cia, disse em certa altura que a melhor forma de retribuir era do Mar de R.W. Smith, West Side Story de L. Bernstein, e High com mais música, assim, foram executados como extra – pro- Society de, M. Schneider, foi o repertório escolhido pelo Chefe gramas, Uma Canção Marítima, arranjo do próprio da Banda da Armada CFR MUS Araújo Pereira, que dirigiu a Comandante Araújo Pereira e Marcha da Marinha de C. Banda na segunda parte. Calderon.

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 27 NOTÍCIAS

ANIVERSÁRIO DO HOSPITAL DA MARINHA solene na Biblioteca do Hospital, onde usou da palavra o Director do Hospital da Marinha, CMG MN José Luís Marques Barata Valério, que abordou temas relacionados com as infra-estruturas hospitalares, a gestão do seu pessoal e as perspectivas da sua situ- ação económica. Concluída a cerimónia de entrega de condecorações a Oficiais, Sargentos e Praças, o CTEN MN Joaquim Sousa Mendes, Chefe do Serviço de Anestesiologia e Reanimação do Hospital da Marinha, proferiu uma palestra subordinada ao tema "Anestesiologia no Hospital da Marinha – passado, presente e futuro", que foi ouvida com muito interesse pela assistência presente. ● Comemorou-se no dia 23 de Novembro o ducentésimo terceiro aniversário do Hospital da Marinha, celebrado no "Dia da Unidade", sob a presidência do VALM Superintendente dos Serviços do Pessoal, Almirante José Manuel Botelho Leal. Entre ou- tros convidados, estiveram presentes os Contra-Almirantes Vasco Leitão Rodrigues, Director da Direcção do Serviço de Formação, José Manuel Primo Gonçalves, Director da Direcção de Infra-estru- turas, José Albino da Costa Rebelo, Director da Direcção de Saúde e Jorge José Correia Jacinto, Superintendente dos Serviços Financeiros. Após a chegada dos convidados realizou-se uma Missa de sufrá- gio por alma dos militares, militarizados e civis que prestaram serviço no Hospital da Marinha. Em seguida, teve lugar uma sessão

FESTA DE NATAL DOS DOENTES DO HOSPITAL DA MARINHA ● No dia 7 de Dezembro efectuou-se mais No refeitório, devidamente decorado uma participação activa e gratuita neste uma Festa de Natal organizada pelo núcleo para o efeito, puderam-se ouvir vários evento. da Cruz Vermelha do Hospital da Marinha. artistas: Xana Carvalho, Luís Rocha, Isabel Para além dos doentes, estiveram pre- Vitorino, Tristão da Silva Júnior, Dulce sentes os seus familiares bem como a Guimarães, Maurício do Vale, José Manuel Direcção e o CALM MN Costa Rebelo, Barreto, José Teixeira, António Pinto Basto, Director do Serviço de Saúde Naval. Paula Ribas, Luís N’Ganbi e Maria José Valério. Foi uma tarde diferente para quem um pequeno gesto tem a dimensão do Mundo. A festa terminou pelas 18:00 horas, tendo sido entregues lembranças simbólicas em nome do H.M. No final, o Director agradeceu a colabo- ração sempre pronta do Sr. Fortuna e do TEN Mendes, como também do núcleo da Cruz Vermelha que há três décadas tem

JANTAR-CONVÍVIO

● Decorreu no passado dia 26 de Outubro, turalmente para relembrar experiências ALM Vieira Matias (Classe 1989), VALM nas instalações da Messe de Cascais, mais vividas em Newport, recontar muitas Celestino da Silva (Classe de 1992), VALM um jantar-convívio dos oficiais que fre- histórias e assim fortalecer os laços de Vidal Abreu (Classe de 1994) e CALM quentaram o curso "Naval Command amizade entre todos os presentes. Rodrigues Gaspar (Classe de 1999). Course" no "Naval War College" em Participaram os seguintes oficiais: Newport, R.I. – EUA. VALM Ferrer Caeiro (Classe de 1963), Este convívio, que surgiu na sequência VALM Elias da Costa (Classe de 1977), de outros que têm tido lugar com uma VALM Alves Sameiro (Classe de 1978), periodicidade anual, serviu igualmente ALM Fuzeta da Ponte (Classe de 1980), para comemorar o 90º aniversário do ALM Andrade e Silva (Classe de 1981), VALM Ferrer Caeiro. VALM Carmo Duro (Classe de 1983), O jantar contou com a grande maioria VALM Moreira Rato (Classe de 1984), das esposas, decorreu num ambiente de sã VALM Brito e Abreu (Classe de 1986), camaradagem e muita alegria e serviu na- CALM Espadinha Galo (Classe de 1987),

28 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA DESPORTO

XVI CAMPEONATO DE MARINHA DE BASQUETEBOL 2º CAMPEONATO DE CORTA-MATO DAS FORÇAS SEGURANÇA E JUSTIÇA

● No período de 9 de Outubro a 14 de Novembro decorreu nas instala- ● Em 18 e 19 de Novembro, realizou-se em Vila Real de Santo Antó- ções do CEFA a 16ª edição do Campeonato de Marinha de Basquetebol, nio o 2º Campeonato de Corta-Mato das Forças de Segurança e Justi- prova disputada em dois escalões, que contou com a participação de ça, onde esteve presente uma equipa de Marinha nos escalões de 15 equipas de unidades de Marinha. Referência para a boa prestação das veteranos e seniores masculinos. equipas da Escola Naval, que lograram chegar às finais nos dois escalões. Em provas de grande exigência destacaram-se os excelentes resultados Assim o I Escalão deu a vitória à Escola Naval pela marca de 80-76, frente dos seguintes atletas: 3200087 Guarda 2ª classe PEM Jesus (BNL) e à equipa do NRP "Sacadura Cabral". A equipa da UAICM sagrou-se 500882 1SAR MQ Soldado (NE "Sagres"), 1º e 2º lugares respectivamente. vencedora do II Escalão, ao bater a sua congénere da Escola Naval pelo Realça-se igualmente o resultado obtido pelo 2MAR FZ/RC Silva (BF1) resultado de 59-46. As classificações ficaram então ordenadas: vencedor do escalão seniores masculinos. No colectivo, a Marinha obteve a 1ª e 3ª posição nos seniores e vete- I ESCALÃO II ESCALÃO ranos respectivamente. 1º EN 1º UAICM 2º NRP "Sacadura Cabral" 2º EN CORTA-MATO 2000 3º G1EA 3º NRP "Corte Real" 4º G2EA 4º EF ● Em 6 e 7 de Dezembro, realizou-se o XXIII Campeonato Nacional 5º CEFA 5º G2EA Militar de Corta-Mato, nas modalidades de Curto e Longo. As provas realizaram-se na pista de corta-mato da Armada (Comando de Instrução do Exército) e nelas participaram todos os Ramos e Forças de Segurança. Considerando a presença de alguns atletas que se encontram no topo do ranking Nacional, foram brilhantes as classificações individuais da equipa da Marinha que permitiram o posicionamento no 2º lugar no Corta-Mato Curto e o 4º lugar no Corta-Mato Longo. A GNR foi a justa vencedora das duas provas.

CROSS DE NATAL

● Já com larga tradição realizou-se em 14 de Dezembro, no perímetro da Estação Rádio Naval "Comandante TORNEIO DE BASQUETEBOL DAS FORÇAS ARMADAS Nunes Ribeiro", o Cross de Natal, vul- garmente conhecido pelo Cross do ● Decorreu no CEFA, organizado pela Marinha em 21 e 22 de No- Perú numa exemplar organização da vembro, mais um Torneio de Basquetebol no âmbito das Forças Unidade de Apoio às Instalações Armadas, que teve como intervenientes as selecções da Marinha e da Centrais de Marinha (UAICM). À parti- Força Aérea. A prova disputou-se em dois escalões, vencendo a da 40 atletas oriundos de Unidades da Marinha o I Escalão e o Troféu em disputa e a Força Aérea o II Escalão. Margem Norte arrancaram na espe- rança de levar para a consoada o tão DESPORTO FEDERADO cobiçado perú, que haveria de caber ao 1SAR C Silva do EMA. Curiosa- "IRON MAN" mente existiu um prémio especial ● Em 8 de Outubro realizou-se em Ibiza o "V Triatlo de Ferro" onde para o "elemento menos novo" e que esteve presente o 405782 CAB CM Oliveira representando o CEFA na coube ao CMG Amorim, Capelão modalidade de Triatlo. Chefe da Marinha, que ainda alcançou o 2º lugar no seu escalão! Modalidade das mais exigentes a nível técnico e volitivo assume nesta Para a posteridade ficam os vencedores nos diversos escalões: especialidade (iron man) o seu expoente máximo – 3800 metros de natação, 180 Km de bicicleta e 42 Km de corrida. Nesta prova o CAB I ESCALÃO ...... 2GRT Silva Pereira / RN Algés Oliveira obteve um brilhante 60º lugar (7º a nível nacional) entre 116 II ESCALÃO ...... 1MAR L Rego / UAICM participantes, representando diversos países. III ESCALÃO...... CAB M Crisóstomo /IH IV ESCALÃO ...... 1SAR C Silva / EMA CAMPEONATOS NACIONAIS MILITARES V ESCALÃO ...... 1SAR CE Dias / UAICM "NATAÇÃO 2000" ● De 8 a 10 de Novembro, decorreram na piscina do Parque Municipal de Mafra as provas do XIV Campeonato Nacional de Natação, cuja organização per- tenceu ao Exército. A Equipa de nadadores da Marinha vencendo 21 das 29 provas em disputa, nos I e II Escalões Masculinos e Escalão Feminino, sagrou-se vencedora do Campeonato onde estiveram presentes as delegações da Marinha, Exército, Força Aérea e PSP.

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 29 HISTÓRIAS DA BOTICA (5) OO DoutorDoutor DD

screver é um acto de prazer. O povo rejubila ao ritmo desta música - Fui operado pelo Dr. D, já há uns Escreve-se o que nos vai na alma, de acusação fácil, numa tonalidade bem anos. Tenho 2 próteses, uma em cada E porque algo nos impressionou, bem orquestrada pelos média, cujo interesse anca, agora, infelizmente caí e não con- ou mal. Porque amamos, ou porque odia- cessa rapidamente, poucas vezes repro- sigo dobrar a perna esquerda. Procedeu- mos. Porque estamos contentes e, espe- duzindo a verdade dos factos, após apu- -se à radiografia e havia um problema cialmente, porque, muitas vezes, nos ramento legal. Não que não haja quem com a prótese desse lado. Informado que sentimos tristes e desencantados. Às proceda mal, não é isso, a verdade é se ia contactar o Ortopedista de Serviço, vezes até se escreve sem saber porquê... que, com frequência, quem acusa fá-lo o Cabo antigo contestou: No fundo, a escrita é mais fiel que a sem justificação, deixando, todavia, - Eu gostaria de ser visto pelo Dr. D, namorada que não nos quis, o amigo impunes, os milhares de casos que mere- ele tem sido sempre o meu médico! que nos traiu, ou o objectivo que, afinal, não atingimos...Comigo, parece ser a panaceia para a perplexidade crónica que bate à porta, em noites de insónia. Tento, sobretudo, escrever sobre o Bem que vou encontrando. O Bem e todos os valores a ele associados (a co- ragem, a humildade, o sofrimento), estão em desuso nesta sociedade, em que só o que passa na televisão é real e em que os fortes e imorais, dormem felizes, ape- nas, por não serem fracos... Contudo, estes valores, hoje esquecidos, libertam e exaltam, são duradouros e, apesar de muitas vezes não os sentirmos, estão ainda presentes em muitos dos incógni- tos do mundo. O Mal, ao contrário, acabrunha e entristece. O Mal é, perdoem-me os leitores, como o fruto azedo, que apetece cuspir logo após a primeira den- tada e, infelizmente, é sempre mais pu- blicitado. Parece-me, em dias tristes, que o nosso mundo gira à volta de más notí- cias e de homens pouco transparentes. Penso mesmo, que deveria haver um telejornal B, em que o "B" estaria para as boas notícias, para os bons homens. A notícia do homem que nos fez o pão quente, do homem que se sacrificou pelos outros, do carteiro que faz o seu trabalho de forma competente, a notícia simples, enfim, de quem cumpre com rigor o que lhe compete. Aos militares, em geral, este telejornal seria de particu- lar interesse, já que têm sido ignorados sob rótulos de "privilegiados", "inúteis" e/ou "desnecessários", assumidos, há já alguns anos, no ideário desta pequena ciam justiça. Da arte de bem tratar, o tra- Ora o Sr. Dr. D tinha ocupado, recen- nação, esquecida do seu passado. balho dos mais velhos é importante. temente, o cargo de Director do Hospital Destes, ficou-me o exemplo, discreto, de da Marinha. Sabendo eu que muitos Mas vamos ao assunto desta história, um antigo director do Hospital da médicos, após ocuparem cargos de que mereceu tão filosófico intróito. Têm Marinha. comando, se afastam da clínica, alguns sido frequentes (e não só no nosso país) por imperativos de Serviço, outros as notícias de má prática médica. Por Estava eu de Serviço, quando se dirigiu porque um vírus grave chamado poder outro lado, são poucas as referências de ao Banco, em cadeira de rodas, um infecciousus se apodera deles, afastando- boa prática – e estas são muito superiores, Cabo, da estirpe dos que combateram na -os das referências, que deveriam sempre acreditem, em número, às primeiras. Índia, dizendo: pautar a profissão, avisei o doente que

30 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA iria contactar o Dr. D, que agora exercia ciosa por parte do Dr. D. Perpassava nossa razão de ser está na existência de outras funções... sempre uma suave bondade para com os doentes, tão embrenhados que estão nos A medo, penetrei no gabinete da idosos e humildes, que nos punha de títulos, na ambição, ou nos carros de direcção e contei o sucedido. O Dr. D, bem com a vida e com a medicina. luxo. imerso na leitura de uma mensagem e Alguém terá dito: é sempre preferível com um rol opressivo de outras publi- Achei, que depois de vários directores, dizer bem de alguém do que mal de ou- cações diante de si, suspirou e disse: que por picardia, alguns subalternos trem. É que, acreditem, limpa a alma e - Tenho que ir ver, conheço esse tratavam por Sr. Comandante, pelas ati- afasta do espírito o mal estar dos "diz-se homem há muito tempo... tudes duras (muitas vezes contrastantes que", "do parece que", do "acho que", E foi. Ao vê-lo, o olhar de alegria do com as suas práxis anteriores), que as- imersos em nevoeiros de suspeição, a velho marinheiro disse mais que mil sumiam ao tomar o poder, tínhamos na toldar a vida de muitos... palavras. Eram velhos amigos que se direcção alguém diferente, que valoriza- encontravam. Com uma expressão de va, sobretudo, o médico que lhe ia no Já agora um aviso a todos, o tal vírus, total confiança, o doente sorriu e quase coração. Desde então, outros, na mesma o poder infecciosus, não ataca só médi- gritou - estou nas suas mãos outra vez... posição, se lhe seguiram neste mister, cos, ataca, para nosso pesar, em todas as Havia luxação de uma das próteses. conciliando humanidade e empatia, classes e profissões, com grande conta- Era preciso operar. O doente foi interna- como se um novo ciclo tivesse sido inau- giosidade. Para se precaver, o caro leitor do e operado pelo Dr. D. Este, ao outro gurado. deverá, regularmente, fazer infusões de dia, acenava com um sorriso feliz, quase Também, a propósito, para os subalter- Vitamina H (de humildade) e aceitar que infantil, uma radiografia com a prótese nos, o Dr. D, tinha sempre uma palavra todos, mesmo os mais capazes, depen- no seu devido lugar. de simpatia e amizade. Como todos os demos uns dos outros...Eu tento fazer Outros doentes se seguiram, enquanto que são diferentes, tinha inimizades isso, mas sou apenas humano e é, deve- o Dr. D esteve no hospital. E não pense entre os seus pares, mas dificilmente, ras, um trabalho de uma vida, cheio de o avisado leitor que estes eram mais mesmo esses, lhe imputariam críticas dificuldades e incompreensões...Penso, acima na hierarquia, que os anteriores. É quanto á prática clínica. no entanto, que ajudam os bons exem- verdade que alguns médicos têm defe- plos dos que nos precedem, contrariando rências especiais para com a hierarquia, E assim é, amigos leitores, que pelo as tendências deste tempo, em que o mas não era assim neste caso. A maioria menos um médico fez o que lhe com- cifrão e a ambição, ignóbil e desajusta- dos doentes eram muito humildes ou na pete. Pelo menos um foi atencioso para da, parecem comandar.  reforma desde há muitos anos. Alguns com os humildes. Assim foi, ainda, que eram familiares. Em todos, a atitude era a eu escrevi sobre o Bem em vez de deitar mesma: uma referência elogiosa por a minha irritação à falta de moral de ou- parte do paciente, a mesma atitude aten- tros, que, precisamente, esquecem que a Doc.

BIBLIOGRAFIA A LONGITUDE EM BEST SELLER Já muitas vezes foi dito, mas não é demais as forças francesas do Mediterrâneo, espeta-se repetir, que os Portugueses, quando na Época nas pequenas ilhas de Scilly, a sudoeste de dos Descobrimentos, navegaram pelas quatro Inglaterra, devido a deficiente navegação. partidas do Mundo, fizeram o ponto do navio Perdem-se quatro dos cinco navios que com- recorrendo à estrela Polar e ao Sol. Medindo põem a esquadra e, com eles, desapareceram a altura destes astros, sabia-se a latitude em 2000 homens. que o navio se encontrava, mas a longitude Este desastre consternou a Inglaterra, mas estimava-se. E isto acontecia porque não exis- despoletou o problema da determinação da tia um método capaz de determinar, no mar, longitude a bordo. Assim, em 1711, cria-se o aquela última coordenada. Board of Longitude e oferece-se 20 mil libras Esta dificuldade criava limitações na nave- a quem apresente a melhor solução. John gação e, pior ainda, punha, por vezes, os Harrison será o grande ganhador com o seu navios em situações de perigo. célebre cronómetro. Este cronómetro é, exac- Procuraram-se soluções, ofereceram-se tamente, o principal protagonista dessa mag- prémios. Apareceram ideias que não resul- nífica história contada por Dava Sobel, na sua taram. Umas fantasiosas, como aquela em obra Longitude, agora editada em Portugal. que o nosso João de Lisboa acreditava, afir- Aconselhamos a sua leitura porque a con- mando que a longitude era função linear da sideramos apaixonante para os entendidos e declinação magnética. Outras, com base uma verdadeira descoberta para todos os ou- científica, mas que não eram realizáveis a tros. E para convencer alguns leitores hesi- bordo por falta de instrumentos ou de tabelas, tantes, lembro que não é comum um livro de como o recurso às chamadas distâncias lunares ou aos eclipses cariz científico manter-se durante várias semanas na lista de de Júpiter. best sellers, em dois prestigiosos jornais: The New York Times e Quando as coisas estavam neste pé, acontece mais um trági- The Times de Londres.  co acidente marítimo. No dia 22 de Outubro de 1707, uma esquadra inglesa, comandada pelo almirante Clowdisley A. Estácio dos Reis Shoveel, que regressava à Pátria, depois de defrontar com êxito CMG

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 31 Signallntelligencc and Electl'Onic Wal'rme

MililOry Io 1aIMI_ ti .. arI. s..r.ivaI 'digiIaI t rl 'kY" pi... laIb by proWIing ~ !durions lo< in'" ' ' ... __. .. .. ii onIy poWbIe hcvgh ...... d ~ tO-dogy...... d-'9. ..g. .... fO''''-(I CIDn'I- Yo. litnpIy heMo 10 bllhe /osIesI ard "1II'D'IIIf 10 inIIf. """''''alio.. signah &tom I-f'.., stt= 01 ...... 01110 ..... " cepI ond ...... h ...... ri oignr;IIs ond iflkwmo. ~ Anel","" for otrf ~ 01 modoobtion ard 0"t>'It­ tioIIlo be wcceWuI" lhe age 01 inIotmoIion ~ . miuiorl meIhod ...... -oice, Iox ot daIo, onoIog or digi!ol signab. encrypIioI1 .. lPI rneIhoch ....do os Ir. 'SIGINf ps õog;tgj· is lhe Qnd, Ali j"~ ond q.w>C'f hoppi"" Of spt.oo 5pIIC1n/fI'IIKMique - _ sr-.lrotl1 Rohd.& 5d>wor:z.,.. OOII',! '1'1 iII~ ... t...... opIimum oaUicn Ior .,.,.. in _ . WcoAd .,.,.. .".;4, ..." Ir..d hoo.ogh lhe ...... oI ..... woIy los! ~ke 10 lnow motiIi c:bo anel loigtw:lI pnxao.scn lo. cligilalligrd P . ma JuslIum .,... ond convônc. )'OUneI ~IIDE&SCHWARZ

TELERUS -Sistemas de TeIKomunicaçõe5, S.A. R.... ~" ff1T@ira""""rtlns,n' 6 ·2 B - 1.f95· 137 AI~ ' T

♣ VERTICAIS: 1 – Teoria médica que atribui todas as doenças à lesão (a) marcação denominada cue-bid e que mostra uma boa mão com apoio em de algum órgão. 2 – Admite todas as dúvidas; letra grega; art. def. pl. W sai a ♥A e apesar de E chamar com o 8 joga pela segurança ♣5. 3 – Irmã do pai; no meio do tear; animais ruminantes. 4 – Podar Com este ataque o contrato não se pode perder; veja como deve S segunda vez. 5 – O que se respira; relativo a oásis. 6 – Pérola de jogar. Como poderia a defesa ter evitado essa possibilidade? grande valor. 7 – Relativo a Eleia ou à escola filosófica de Eleia; cento e um romanos. 8 – Meio queimado; abreviatura latina das palavras (Solução neste número) que se encontram muitas vezes nos monumentos cristãos. 9 – Deus do sol; rei dos Lombardos de 561 a 572. 10 – Planta apiácea; na poe- sia antiga, pé de verso composto de uma breve e uma longa. 11 – O SOLUÇÕES que fica de cereais joeirados (pl.). PROBLEMA Nº 29 S deverá eliminar as ♥ e destrunfar terminando na mão, sendo esta a situação a 7 cartas: S ♠73 ♦A53 ♣98; W ♠D1095 ♦R42; N ♠AR64 SOLUÇÕES ♦V106 e E ♠V8 ♥RD ♦D98. S joga ♣9 e W terá de baldar um ♦ bal- PALAVRAS CRUZADAS Nº 316 dando N uma ♠, e agora repare que fará sempre duas vazas em ♦, ♦ jogando um pequeno para o R de W e fazendo a passagem à D de HORIZONTAIS: ♠ ♠ E. Caso W tivesse baldado uma o carteador jogaria uma e deixa- 1 – Japinabeiro. 2 – Amarado. 3 – Ns; osmio; ll. 4 – Gai; AAA; lat. ♠ va fazer, encontrando a 11ª vaza na 4ª do morto. Para destruir esta 5 – Oras; deve. 6 – Ocar; piai. 7 – Arensar. 8 – Is; apios; dr. ♠ ♦ ♥ posição de squeeze - sobre W bastaria que E tivesse jogado R 9 – Nio; aga; lie. 10 – Gala; nova. 11 – Areopagitas. (preferencial para♠) sobre a saída do parceiro, mostrando que ele poderia atacar ♠ sem receio do V poder estar em S. Jogando W ♠ na VERTICAIS: 2ª vaza o contrato será incumprível. A sinalização no flanco é tam- 1 – Jingo; Jinga. 2 – Saro; siar. 3 – Pa; iaca; ole. 4 – Imo; sara; ao. bém muito importante neste jogo, para dar indicações ao nosso par- 5 – Nasa; repa. 6 – Armar; nigua. 7 – Baia; psoa. 8 – Edo; dias; ni. ceiro e permitir que em conjunto possamos tentar encontrar a melhor 9 – Io; Lear; lot. 10 – Ivai; diva. 11 – Ofite; areas. forma de derrotar os contratos. Nunes Marques Carmo Pinto CALM AN 1TEN REF

REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2001 33 NOTÍCIAS PESSOAIS COMANDOS E CARGOS

NOMEAÇÕES ● VALM José Manuel Botelho Leal, Superintendente dos Serviços do Pessoal, em substituição do CALM Vasco António Leitão Rodrigues ● VALM Carlos Monteiro da Silva, Comandante Operacional dos Açores, em substituição do VALM José Manuel Botelho Leal ● CMG EMQ Victor Maria Borges Brandão, Gestor de Frota para a Marinha, em substituição do CMG EMQ José Eduardo Martins dos Reis ● CMG Francisco Manuel Saldanha Junceiro, Chefe do Gabinete do Superintendente dos Serviços do Material ● CMG Duarte José Cruz de Castro Centeno, Chefe do Departa- mento Marítimo do Centro e em acumulação Capitão do Porto de Lisboa, em substituição do CMG José Luís Rodrigues Portero ● CMG João Carlos Pina Correia Marques, Adido de Defesa, junto da embaixada de Portugal em Jacarta, República Indonésia ● CMG José António Pargana Calado, Chefe do Gabinete do Superintendente dos Serviços Financeiros ● CFR João Correia Maia, Chefe do Gabinete do Superintendente dos Serviços do Pessoal ● CTEN João Afonso Marques Coelho Gil, Chefe da Brigada Hidrográfica Nº 1, em substituição do CTEN António Victor Simões da Costa Rei ● CTEN Mário Simões Marques, Comandante do NRP "António Enes" ● CTEN Francisco José Rodrigues Sá Pombo, Secretário do Conselho Superior de Disciplina da Armada ● CTEN João Luís Vieira Pereira, Chefe de Secções de Operações do Comando da Zona Marítima dos Açores ● 1TEN Carlos Alberto da Graça Lourenço, Delegado Marítimo da Fuzeta ● 1TEN António Fernando Gomes Abrantes, Delegado Marítimo do Barreiro ● 1TEN António Pratas da Silva, Delegado Marítimo de Vila Franca de Xira ● 1TEN João António Pimenta Valentim, Delegado Marítimo de Esposende ● 1TEN António Jorge dos Santos Simas da Silva, Chefe dos Serviços de Apoio Geral do Comando da Zona Marítima da Madeira ● 1TEN Artur António Guerra, Patrão Môr da Capitania do Porto de Sines ● 1TEN António Rodrigues Tairocas Mantas, Chefe dos Serviços de Apoio da Capitania do Porto de Sines ● 1TEN Celestino de Jesus Almeida, Patrão Môr da Capitania do Porto de Lisboa ● 1TEN Manuel Teixeira da Costa, Patrão Môr da Capitania do Porto de Aveiro ● 2TEN Manuel Alberto Lopes Patrão Môr da Capitania do Porto da Horta.

EXONERAÇÕES ● CTEN Mário José Simões Marques, exonerado do cargo de Comandante do NRP "João Coutinho" ● CFR Joaquim Peralta de Castro Centeno, exone- rado do cargo de Presidente do Conselho de Administração do Instituto Portuário do Sul.

RESERVA ● CMG Manuel José dos Anjos Branco ● CMG José André Fernandes ● CMG José Manuel Monteiro Fiadeiro ● CFR José Martins Lourenço ● 1TEN José da Mata Amador ● SMOR Raul Fernando Maia Alfaro ● SMOR Cipriano Manuel Vicente ● SMOR Abílio da Costa Alves Bastos ● SMOR Carlos Manuel Antunes Ferreira ● SCH António Gonçalves Margato ● SAJ António Manuel da Palma Amor ● SAJ Pedro Heliodoro Penas ● SAJ Diamantino Pereira Ferreira ● SAJ José Rosário Janeiro de Figueiredo Lontro ● 1SAR Luís Gonçalves Dias ● 1SAR Carlos Alberto Almeida Duarte ● CAB Ernesto Manuel Duarte Marques ● CAB João Diogo Correia ● CAB Eduardo Maria de Matos ● CAB João Manuel Ramalho Freire ● CAB Diamantino Filipe Rita ● CAB Faustino Marques Ferreira ● CAB José Horácio Conceição Plácido ● CAB Miguel Varunca Simões ● CAB Emílio da Conceição Sousa ● CAB César Bento Marques ● CAB Paulo Roberto Ribeiro Morais.

REFORMA ● VALM José Alberto Lopes Carvalheira ● CMG António Abrantes Martins Godinho ● 1TEN Fernando do Nascimento da Silva Marta ● SAJ José da Conceição Roldão ● 1SAR João Filipe ● CAB João Manuel Rodrigues da Silva Maia ● CAB Manuel dos Santos Barros.

FALECIMENTOS ● CALM REF Vasco dos Santos Viegas ● 1TEN SEH Evangelista da Silva Coelho ● 1TEN OT REF Manuel Martins Araújo ● 2TEN SG REF Jacinto Domingos Pratas da Silva Pereira ● SCH MQ REF Joaquim Marques Algarvio ● SAJ A REF João Lopes Capucho ● 1SAR E REF Adelino Batista Torrão ● CAB FZ REF José da Silva Dias Nunes ● CAB C Alexandre Isaías Barreto Bernardino ● CAB CM João Batista Henriques da Cruz ● CAB M REF Gabriel da Conceição Marques dos Santos.

34 FEVEREIRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

24. O Atlas de Ortélius e o Mais Antigo Mapa de Portugal

Dispõe a Biblioteca Central de Marinha de um exemplar, em muito bom estado, do primeiro Atlas Geográfico – o Theatrum Orbis Terrarum, editado pela primeira vez em 1570, em Antuérpia, por Abraham Ortélius. A edição de 1570, em latim, continha setenta cartas das quais cinquenta e seis representam a Europa e Portugal apresentava-se na posição número oito. Deste Atlas foram feitas quarenta e uma edições, vinte e uma em latim, duas em holandês, cinco em alemão, seis em francês, quatro em espanhol e uma em inglês, sendo a última de 1612. À medida que as edições iam avançando, mais mapas iam sendo acrescentados, verificando-se que na edição do exemplar que a Biblioteca de Marinha dispõe, de 1584, em latim, Portugal encontra-se na posição dezasseis. No anterrosto todos os mapas têm um texto descritivo do respectivo país, que no caso de Portugal tem o seguinte título – PORTUGALLIA REGNUN. O mapa de Portugal que figura em todas estas edições é o famoso mapa de Fernando Álvares Seco, de 1560, e que foi o primeiro mapa de Portugal a ser impresso em Portugal. Este mapa além de ser o mais antigo de Portugal, representa o primeiro levantamento em grande escala, apoiado em métodos matemáticos, talvez mesmo trigonométricos, que se conhece em todo o território de um estado. Pode- -se dizer que pelo menos com quatro anos de antecedência em relação a qualquer país, os cartógrafos portugueses fizeram um levantamento de grande escala do todo o seu território. Aquiles Estaço, professor na Universidade de Sapiência em Roma encomendou no início da segun- da metade do século XVI ao seu compatriota Álvares Seco uma carta de Portugal com a intenção de a dedicar ao Cardeal Guido Sforza, protector do Reino das Quinas. Satisfeita pelo cartógrafo a pretensão do humanista, a carta é apresentada e oferecida ao Cardeal italiano em 1566 em Roma acabando por entrar no domínio público em 20 de Maio de 1560. Uma das características que este mapa apresenta é a sua posição horizontal, foi desenhado na escala 1:1.500.000, numa projecção cilíndrica, tem as dimensões 57,5x34 cm., sendo de assinalar tam- bém a riqueza de nomes nas áreas da actual Estremadura e Trás-os-Montes e ainda a significativa repre- sentação hidrográfica. Ornamentam a carta dois escudetes com inscrições, em que o superior apresenta a seguinte inscrição – PORTUGALLIAE // que olim Lusitania, novissima // & exactissima descriptio, Auc= // Vernando Álvaro Secco. //, uma nau no Oceano Atlântico, uma barca a Sul junto à Andaluzia e ainda um grande peixe. A carta é limitada a leste por uma escala de latitudes com o desenvolvimento de 5° de 38° a 43°. A escala de latitudes arrasta dois erros. O primeiro ao indicar 40° para latitude Lisboa, quando naquela data já diversos autores (João de Lisboa, D. João de Castro, Padre Carvalho Costa entre outros) afir- 2 1 mavam que devia ser 38° /3. O segundo erro quando coloca o valor de 43° /2 entre os 42° e 43°. A natureza destes erros indicia que não devem ser assacados ao seu autor mas sim a gravação não revista. Por todos estes motivos o Atlas – Theatrum Orbis Terrarum merece uma visita à Biblioteca Central de Marinha para se apreciar não só o primeiro mapa de Portugal mas também as restantes magníficas car- tas impressas no fim do século XVI.

- The Story of Maps – Lloyd A. Brown Little, Brown and Company. Boston. 1949 - O Mais Antigo Mapa de Portugal. Alves Ferreira, Custódio de Morais, Joaquim da Silveira e Amorim Girão. Instituto de Alta Cultura. Coimbra. 1957 Biblioteca Central de Marinha (Texto do CALM EMQ Luís A. Roque Martins) Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

24. O Atlas de Ortélius e o Mais Antigo Mapa de Portugal PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 340 • ANO XXX MARÇO 2001 • MENSAL • 250$00

NRP Gil Eannes Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas

Liga Naval Portuguesa

A Liga Naval Portuguesa, cujos estatutos foram aprovados em 15 de Outubro de 1902, foi criada com o objectivo de promover em todo o país uma activa propaganda em favor da causa da nossa expansão marítima. A Liga desenvolveu uma perseverante acção, fazendo entrar o país no movimento marítimo internacional contemporâneo, realizando uma enérgica propaganda em favor do “Sea-power” nacional, estudando em congressos, conferências e livros todos os detalhes que pelos seus estatutos se lhe impusera. Para além da reorganização da marinha de guerra, a sua acção estendeu-se a todos os campos da nossa economia marítima, fomento, pescas, portos, construção naval, navegação, marinha de recreio e ensino.

O cartaz reproduzido de 1912 (do Arquivo Central de Marinha) é um exemplo da sua notável acção de propaganda. SUMÁRIO Publicação Oficial da Marinha Periodicidade mensal Nº 340• Ano XXX Março 2001 Director CALM EMQ RES A Esquadrilha Luís Augusto Roque Martins de Helicópteros e o Chefe de Redacção ressurgir da componente CFR REF Jorge Manuel Patrício Gorjão aérea na Armada. Redacção 2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito Secretário de Redacção 7 1SARG T Vitor Manuel Gaspar Lopes Colaboradores Permanentes CMG REF Raúl de Sousa Machado CTEN FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos CTEN Abel Ivo de Melo e Sousa 1TEN REF Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves O ensino na área Administração, Redacção e Publicidade das comunicações Edifício da Administração tem-se revelado Central de Marinha de grande importância Revista da Armada na operacionalidade Rua do Arsenal da NATO. 1149-001 Lisboa - Portugal Telef: 21 321 76 50 Fax: 21 347 36 24 12 Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt e-mail da Revista da Armada [email protected] Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito, montagem e produção Página Ímpar, Lda. A história do Estrada de Benfica, 317 - 1º F NRP “Gil Eannes” 1500-074 Lisboa e o seu papel Tiragem média mensal: na Guerra 6000 exemplares e na Paz (1ª Parte). Preço de venda avulso: 250$00 Registada na DGI em 6/4/73 com o nº 44/23 17 Depósito Legal nº 55737/92 FOTOGRAFIAS ANTIGAS, INÉDITAS OU CURIOSAS 2 ISSN 0870-9343 PONTO AO MEIO DIA 4 REPENSAR A GUERRA 5

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 340 • ANO XXX MARÇO 2001 • MENSAL • 250$00 CRÓNICA DE TIMOR 10 OS FALSOS RASGÕES DO RETRATO DE CAMÕES 15 A MARINHA DE D. MANUEL (12) 16 INSTITUTO HIDROGRÁFICO 21 ACTIVIDADES DO MUSEU DE MARINHA - ANO 2000 22 NOTÍCIAS 24 CONVÍVIOS 27 DESPORTO 28 NRP Gil Eannes HISTÓRIAS DA BOTICA (6) 30 Pintura a óleo de P. T. Pang. BIBLIOGRAFIA 31

ANUNCIANTES: QUARTO DE FOLGA 33 OGFE - Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento: TELERUS - Sistemas de Telecomunicações, S.A. NOTÍCIAS PESSOAIS / SAIBAM TODOS 34 PATRIMÓNIO CULTURAL DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 3 PONTO AO MEIO-DIA

O Nó Górdio das Forças Armadas

o início dos anos 90, quando a exigiam consideráveis meios huma- lar o valor profissional dos efectivos; e NATO adoptou uma nova nos e materiais. obter meios tecnologicamente adequa- Nestratégia militar, as forças dos ao cumprimento das missões. armadas portuguesas ficaram envolvi- Neste contexto e, como exemplo, refi- das num nó górdio que ainda não foi ra-se que a Marinha efectuou uma Não há hoje um “império da Ásia” desfeito: a incompatibilidade entre as revisão global do seu planeamento para oferecer a quem desate o nó gór- responsabilidades decorrentes de uma estratégico, definindo claramente um dio das forças armadas portuguesas. estratégia vocacionada para a interven- modelo do sistema de força naval ade- Porém, é necessário que os mais altos ção em conflitos regionais e os orça- quado e exequível face às necessidades responsáveis políticos e militares nacio- mentos de defesa nacional, condiciona- e às possibilidades do país. nais tenham a mesma coragem e de- dos por as prioridades políticas do país terminação que Alexandre demostrou estarem focalizadas na satisfação dos Desta forma fixaram-se objectivos na lenda do rei da Frígia, e ponham em anseios de progresso e bem-estar dos muito claros, para os quais a instituição prática as medidas antes referidas, con- cidadãos. foi direccionada, o que associado às jugando-as com duas linhas gerais de melhorias nos processos de gestão, acção. Em primeiro lugar, declinando Como tais responsabilidades são ina- permitiu “recapitalizar” o orçamento; as concepções clássicas de reestrutu- lienáveis e essenciais à credibilidade isto é, com o mesmo dinheiro passou a ração das forças armadas, que pre- internacional e a outros interesses im- fazer-se mais. Porém, como durante conizam apenas as reduções de meios portantes do país, as tentativas de liber- muitos anos não se adquiriram ou materiais e de efectivos, o que, por si só, tação do nó górdio das forças armadas, modernizaram os meios militares, veri- não beneficia a relação custo/eficácia privilegiaram inicialmente a redução fica-se agora que tal iniciativa não gera da defesa militar. dos sistemas de forças da Marinha, do recursos financeiros suficientes para Exército e da Força Aérea. Cortar, pare- que as verbas de investimento e fun- Complementarmente, como a opera- cia lógico e essencial para que se pudes- cionamento alcancem os montantes cionalização daquelas medidas requer sem aumentar as despesas de funciona- que as missões exigem. Daí a necessi- tempo, muito mais tempo que uma le- mento até aos níveis necessários ao dade de se conceber uma nova tentati- gislatura, importa estabelecer uma base emprego das forças armadas fora do va de libertação do nó górdio das política alargada de sustentação da território nacional. Por isso, alienaram- forças armadas, que adopte uma pers- reforma, bem como desenvolver um -se infra-estruturas e diminuíram-se pectiva ampla de reestruturação, apele esforço de captação do apoio da comandos, forças e unidades. Todavia, à inovação e seja dirigida para as áreas opinião pública, pelo esclarecimento verificou-se que estes cortes, por um mais prementes. dos objectivos a alcançar, tarefas em lado, só disponibilizavam recursos que as elites política e militar têm financeiros no muito longo prazo; por Como se mantém a razão que im- grande responsabilidade. Só nestas cir- outro lado, reduziam o dispositivo à pede aumentos significativos dos orça- cunstâncias se assegurará que os encar- dimensão mínima para o cumprimento mentos de defesa nacional, a tarefa gos com a defesa são sentidos com alta das missões. Em consequência, foi en- reveste-se de elevada complexidade, rentabilidade pública, aspecto essencial saiada uma segunda tentativa de liber- requer grande responsabilidade e para se inverter a conhecida “desorça- tação do nó górdio das forças armadas, serenidade e, como é incompatível com mentação militar”, que se caracteriza tirando partido dos benefícios que a visões sectoriais ou individualizadas, por a aumentos do PIB não correspon- tecnologia proporciona. obriga à integração dos múltiplos con- derem melhorias sensíveis no orçamen- tributos e perspectivas coadjuvantes da to das forças armadas, o que as remete Devido aos enormes progressos sociedade civil e das forças armadas. para uma permanente e desgastante dos sistemas de comando, controlo, Só desta forma se desenvolverá o luta pela sobrevivência, geradora de comunicações, vigilância e reco- amplo consenso nacional, indispen- considerável frustração institucional e nhecimento, dos sistemas de infor- sável à decisão dos órgãos de sobera- inibidora de um papel mais activo na mação, da mobilidade e da letalida- nia em assuntos de defesa. Neste con- afirmação de Portugal na NATO e no de das armas, tornou-se possível re- texto, identifico como medidas prior- mundo.  estruturar as capacidades militares, itárias: impulsionar a definição de um de forma a que unidades ligeiras sistema de forças nacional mais equili- António Silva Ribeiro desempenhem funções que antes brado, coerente e económico; estimu- CFR

4 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA RepensarRepensar aa GuerraGuerra

guerra é um fenómeno da maior sérvias. Como desafiou as orientações jécteis os efeitos são muito controversos importância porque está sempre políticas e militares determinadas por e, por isso, difíceis de avaliar no momen- A presente nas relações internacio- Washington e, dessa forma, ultrapassou to presente, relativamente às fábricas des- nais e tem complexos efeitos na Huma- claramente os limites da autonomia de truídas a situação é bem mais clara. As nidade. Por isso, deve ser objecto de per- decisão de um comandante de teatro petroquímicas, as refinarias, as centrais elé- manente reflexão, quer pelos cientistas estratégico, a sua substituição foi anuncia- ctricas e as unidades de produção de políticos e sociais, quer pelos seus princi- da poucas semanas depois de ter con- fertilizantes libertaram gases e fluídos pais intervenientes: os governantes e os duzido os aliados à vitória no Kosovo. que, ao contaminarem a atmosfera, os militares. Entre nós há um processo clás- solos e as águas superficiais, terão sido sico de repensar a guerra, com recurso à A terceira lição e, sem dúvida a mais parcialmente integrados nos ciclos bio- identificação das lições associadas a cada con- flito. A polémica decor- rente da utilização de projécteis de urânio empobrecido no Koso- vo reavivou-me a von- tade de identificar as três lições que consi- dero mais significati- vas para, a partir delas e em jeito de conclu- são, tentar perspecti- var alguns aspectos fundamentais da pró- xima guerra.

A primeira lição rela- ciona-se com o anún- cio prévio e público pela NATO da exclu- são da opção terrestre. Esta decisão, ao con- trariar um princípio estratégico básico - a liberdade de acção - condicionou o planea- mento operacional e obrigou a adoptar tácti- cas que não impediram a limpeza étnica reali- zada pelas forças sér- vias; para além disso, implicou a adopção de uma modalidade de emprego incrementa- lista da força militar, inadequada à célere capitulação de Milo- sevic, por insuficiência de meios aéreos.

Outra importante li- ção está associada às pressões que o general Wesley Clark, coman- dante supremo aliado na Europa e responsável pela conduta das importante e actual de todas, relaciona-se químicos. Os efeitos são previsíveis. operações, exerceu sobre os seus superi- com os problemas decorrentes da utiliza- Durante a próxima década surgirão novas ores americanos, para obter mais recur- ção de projécteis de urânio empobrecido doenças e aumentarão os casos de cancro sos, decisões mais rápidas e autorização e do bombardeamento do complexo e de deformações congénitas resultantes para acções directas contra as forças industrial sérvio. Se, quanto aos pro- do contacto, da inalação ou da ingestão

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 5 de quantidades anormais de produtos nem todos os meios justificam os fins, Desiludam-se pois aqueles que assumi- químicos altamente tóxicos como: diclore- por mais nobres que estes sejam, os ram como definitiva a possibilidade de to de etileno; ácido clorídrico; propileno; códigos de ética moral das democracias vencer guerras sem baixas, com reduzido monómeros de cloreto de vinilo; benzeno; ocidentais inibirão ou condicionarão apoio da opinião pública interna e tirando tolueno; xilenos; amónio; cádmio; cromo; fortemente a utilização de projécteis de partido preferencialmente das capacidades zinco; cobre; mercúrio; e PCB. urânio empobrecido e os bombardea- do poder aéreo. A forma como a guerra foi mentos aos complexos industriais dos travada no Kosovo não se verificou no A inaceitabilidade do emprego das seus futuros inimigos. Assim, a próxima passado e também não será o modelo do armas nucleares, bacteriológicas e quí- guerra será diferente. As sanções políti- futuro, porque os adversários, os objec- micas, levou a que as doutrinas opera- cas serão necessariamente mais céleres e tivos, os sistemas de armas, a geografia e cionais lhes atribuam um papel predomi- gravosas, e os bloqueios económicos os códigos éticos serão diferentes e condi- nantemente dissuasor. Todavia, o bom- mais rigorosos e prolongados; as acções cionarão a manobra militar. Em estratégia bardeamento de complexos industriais de propaganda destinadas a criar pertur- não há soluções únicas nem definitiva- de países moderadamente desenvolvidos bações no seio das opiniões públicas do mente melhores. Tudo depende do con- parece provocar problemas ecológicos e adversário tornar-se-ão intensas e extre- texto. Por isso, as tácticas, as dificuldades de saúde pública igualmente perversos, mamente sofisticadas; os ataques visarão de relacionamento político-militar e os duráveis e incontroláveis. Como estes preferencialmente as infra-estruturas de problemas ecológicos e de saúde pública fenómenos não têm sido suficientemente comando e controlo e o aparelho polí- associados ao próximo conflito serão estudados pelos aliados, porque os con- tico-militar, o que exigirá o emprego de completamente novos e absolutamente flitos onde se têm envolvido no pós guer- novos sistemas de armas, uns que per- surpreendentes face aos que actualmente ra fria ocorreram em regiões pouco turbem o campo electromagnético, ou- nos preocupam. Como sempre aconteceu, industrializadas e fora da Europa, urge tros dotados de grande capacidade só então será possível à ciência explicar, realizar um considerável esforço científi- destrutiva e precisão; a disponibilidade agir e transformar os fenómenos verifica- co. Esta tarefa poderá levar anos a ser de informações actuais e rigorosas será dos, nos termos que forem considerados concluída, como sucedeu aos estudos outro requisito decisivo; as operações aceitáveis para a Humanidade.  realizados pelos EUA para avaliar os especiais tornar-se-ão primaciais para efeitos do “agente laranja”, desfolhante desferir os golpes que farão capitular os utilizado entre 1965 e 1970 na guerra do inimigos, nomeadamente através da neu- Vietname. Entretanto, em presença das tralização dos principais responsáveis António Silva Ribeiro suspeitas antes identificadas e, como políticos e militares. CFR ObjectosObjectos dede MarinhaMarinha

Estes são alguns dos vários objectos que pode adquirir na secretaria da Revista da Armada.

Edifício da Administração Central de Marinha Revista da Armada Rua do Arsenal 1149-001 Lisboa Telef: 21 321 76 50 Fax: 213473624

6 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA UmUm diadia nana ...... EsquadrilhaEsquadrilha dede HelicópterosHelicópteros

A baixa altitude, vindos do Alfeite, já sob o controlo da Tower(1), o sopro do rotor alisando a mareta numa efé- mera esteira de azeite, surge na margem da vasta península do Montijo, por trás do mas- tro onde, no topo drapeja a bandeira nacional, o edifício que uma roda de leme deixa adivinhar o Comando da Esquadrilha de Helicópteros (EH).

esquerda, a cerca de 6 km da Empenhados É que, entre outras inovações, uma simples entrada da Base Aérea n.º 6, o cais afectiva e efectiva- inversão do sentido de rotação do rotor de À onde atracam as vedetas e já no mente numa guerra cauda, acabava de trazer tais melhorias à per- interior da cerca, o parque de estaciona- mais quente que a fria, foi integrados na formance do já consagrado «Lynx» que mento e, à direita, o vasto conjunto han- STANAVFORLANT que sentimos na carne a podemos dizer que a Esquadrilha foi dotada gar e placa a que se seguem outros edifí- ausência, já só entre nós, deste impres- dos mais experimentados e, simultaneamente, cios menores, onde funcionam diversas cindível sensor e arma. dos mais evoluídos helicópteros disponíveis no oficinas e depósitos. Convencido o governo desta premente competitivo mercado de tão sofisticadas armas. Ultrapassado o canal que os catamarans(2) necessidade graças a um mais incisivo Pensado para operações ASW é con- da Transtejo cruzam, faz-se ao heliporto briefing acompanhado de um vídeo mos- vertível para acções de Busca e Salvamen- onde, na vertical dum enorme H e aproado trando o reparo de ré da “João Belo”(4) to (Search And Rescue - SAR) que hoje, no ao vento, desce sem contactar o solo para, a hilariantemente mascarado, pela marujada, pós Guerra Fria, assumem contornos mais cerca de 3 m, e paralelamente à margem, ini- de helicóptero, o rumo das coisas mudou. dilatados no contexto de intervenções de ciar o Hover Taxi ao longo do Taxi Way de Iniciado o processo de ressurgimento da Manutenção ou mesmo de Imposição de acesso ao Apron, a placa da Marinha. Componente Aérea da Armada obteve-se da Paz que vêm ocupando as Forças Arma- Aí, entre o hangar e o talude onde ainda parte da FAP a compreensão, decorrente das, como ainda ocorre em Timor e já se vêem as rampas previstas para os hidroa- ainda de velhos laços, que permitiu que, tinha ocorrido no Adriático. viões da antiga Aviação Naval a Tower, por logo em 1990, se iniciasse, em Sintra, a for- Aliás, quando aí nos foi atribuído o fonia, e o Marshall, por sinais, posicionam- mação dos novos Pilotos Navais, ainda antes comando da Força Naval Internacional, a -no no Spot onde finalmente aterrou. de se saber quais os helicópteros a adquirir. coordenação de Operações de Helicópteros Extinta, no ano de 1952, em favor da Quase a par iniciaram-se as obras dos constituiu uma nova e enriquecedora expe- novel Força Aérea Portuguesa (FAP), só edifícios no local onde melhor se pudesse riência cujo sucesso contribuiu, na altura, em 1957 se rompe o vínculo humano que conciliar vantagens logísticas e operacio- para o prestígio do Comando português(6). veiculou a transferência duma cultura nais, naturalmente na Base Aérea do Montijo, Para que a prontidão seja uma realidade aeronaval que permitiu o entrosamento onde uma estreita convivência vem dando insofismável e susceptível de ser, a qualquer necessário às manobras conjuntas, lugar a uma mais frutuosa cooperação. momento, posta à prova, são diariamente, nacionais e internacionais, em que homens Quando no dia 24-09-93, graças ao rigo- em pleno, testados homens e máquinas. da Armada e da FAP, uns olhando o ar e roso acompanhamento e apertado controlo Foi no confortável Auditório, onde já se outros o mar, cooperavam em nome dum do Director da então Divisão de Infra- encontravam todos os intervenientes, passado compartilhado mas assumindo estruturas Navais(5), se inauguraram, na incluindo os pilotos, oficiais da classe de galhardamente as suas opções. data previamente estabelecida, as insta- marinha, envergando o seu quotidiano Curiosamente, ninguém poderia, então, lações da Esquadrilha, estava alcançada fato de voo, que, com uma rápida con- suspeitar que o embarque de helicópteros a com um perfeito sincronismo o objectivo tagem decrescente o Oficial de Serviço às bordo de fragatas iria revolucionar a luta A/S traçado de dotar a Armada com modernos Operações anunciou «09h20 - Início do (Anti-Submarine Warfare - ASW) a ponto de, meios aéreos e de lhes assegurar uma base briefing!» com que de imediato arrancaram em todo o mundo, muitos escoltadores oceâ- funcional onde, primeiro, se integrasse, os trabalhos e em que todos são de tudo nicos (contratorpedeiros, fragatas e, por vezes, depois, se consolidasse e permanentemente inteirados antes de se distribuírem tarefas. também corvetas(3) irem recebendo o convés se aperfeiçoasse o know-how técnico e aero- Uma jovem alferes da FAP projecta na de voo e o hangar de que careciam e onde já naval adquiridos no Reino Unido. tela as cartas meteorológicas do dia e os nos habituámos a vê-los com as longas pás Aí, em resultado da opção, particular- Metar’s (Meteorological Airfields Situation), articuladas, alinhadas com a sua fuselagem. mente feliz, pelo «Super Lynx». TAF’s (Terminal Area Forecast) e expõe as

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 7 condições actuais e as previsões da sua evolução e outra informação pertinente que pode, inclusive, condicionar a actividade dos helicópteros ou até de toda a aviação, civil e militar, e que não suscitando dúvidas permite avançar para outro tema. Caberá ainda ao Oficial de Operações fazer a sua apresentação iniciando-a com os avisos à navegação em vigor e terminan- do com a programação para o dia, que com- preende períodos de treino diurno e noc- turno, de modo a cobrir o leque de activi- dades possíveis, conciliadas com necessi- dades específicas de instrução, manutenção e verificação de qualificações do pessoal, Assistencia ao briefing. dos equipamentos e da própria aeronave embarcando, para além dos pilotos, e con- aquisição dos «Super Lynx», havia que for- bem como de cada aeronave, equipamento forme o caso, os instrutores, operadores, mar na própria fábrica, em Yeovil, o pessoal ou instrumento e daí tirar ilações úteis à verificadores ou técnicos envolvidos. que, na fase inicial, sob a orientação de instrução, à operação e à manutenção. É a vez da operacionalidade dos meios representantes da «Westland» (7) e da RN, Enquanto na placa um helicóptero é disponíveis ser apresentada por um assegurasse a manutenção dos helicópteros preparado para um voo de treino, no engenheiro (de armas ou de máquinas), e que, entretanto, viesse a passar a sua expe- hangar, a par de um completamente des- com a indicação dos trabalhos em curso, riência a mais jovens camaradas que em montado, outro está já na fase de mon- sendo indicados os helicópteros prontos a breve contarão com o primeiro elemento tagem final. operar e, respondidas algumas questões feminino. Para este, o pórtico iça o bloco do rotor, relativas a testes solicitados aos opera- Para tal a instrução apoia-se em sistemas recém chegado da fábrica, onde foi sujeito dores, pilotos e não só, será altura de pas- multimédia que permitem visualizar ao por- a uma minuciosa revisão, e movimenta-o sar aos Assuntos de Carácter Geral. menor as mais diversas componentes dos cuidadosamente de modo a poder ser Nesta rubrica aberta serão abordados, «Super Lynx», de forma estática e, sobretudo, montado. Quatro parafusos suportarão conforme as circunstâncias o determi- dinâmica, o que facilita a compreensão da mais de cinco toneladas que as quatro pás, narem e por quem o entender dever fazer, sua articulação e operação quer na perspecti- rodando até às trezentas e tal rotações por aspectos não previstos no briefing. va da manutenção quer dos próprios opera- minuto, poderão levantar a uma apreciável Depois, a propósito de Segurança, inter- dores que assim poderão assimilar melhor os velocidade ou fazer atingir os 165 nós. As vem o Chefe do Gabinete de Prevenção procedimentos e mais correcta e rapidamente pás de apurado design e complexa cons- de Acidentes (GPA) a que se segue, na sua interpretar, em voo, a leitura dos instrumen- trução, graças ao Titânio e ao Carbono área específica, o Director da Instrução. tos de controlo. incorporados, possuem um rendimento A fechar, breves e objectivos aponta- Para assegurar uma rigorosa aplicação da muito superior ao obtido pelas pás de mentos do Comando da Esquadrilha. doutrina operacional e melhor difundir e desenho convencional. O perfeito encadeamento, a economia disciplinar a actuação e a interacção dos O apreço dos engenheiros que avaliaram de palavras e o rigor da informação tradu- operadores recorre-se mesmo à filmagem de os nossos Artífices permitiu que a Esqua- zem um profissionalismo que traz a actividades onde tenham surgido dúvidas, por drilha fosse certificada, caso ainda único, marca da Royal Navy (RN) onde a for- menores que pareçam, de modo a definir para, numa pequena oficina, efectuar, mação dos primeiros pilotos se completou mais consistente e uniformemente os procedi- segundo as especificações do fabricante, a e que a EH tem sabido preservar. mentos com que se pretende sempre melhorar revisão destas pás. Mas a experiência adquirida abrangeu a eficiência das tripulações dos helicópteros. Aliás a recepção dos «Super-Lynx» uma equipa mais vasta e ultrapassou a rece- Assim, em torno de cada aeronave se con- mereceu da «Westland» o comentário de bida no âmbito operacional pois, decidida a grega uma equipa de chão e de ar que elege que foi a mais bem planeada e de longe a um patrono que tanto pode ser o «Hagar» melhor executada de entre todas as Forças como o «T-Rex» e um lema aglutinador que Armadas que até então fornecera(8). tanto pode sair da «Mensagem» como da A comprovar o rigor da remontagem Banda Desenhada e que permanece até ao destes aparelhos estão, entre outros cuida- fim da comissão de embarque, com uma dos, os alinhamentos opticamente aferidos duração de dois anos, nas fragatas da Classe dos veios e respectivas caixas de engrena- «Vasco da Gama». gens que transmitem o movimento recebido Afinal, mais um pretexto para uma das duas turbinas para o rotor de cauda. estimulante emulação que não quebra a Toda esta azáfama é apoiada pela con- capacidade de cooperação e muito menos o sulta, numa biblioteca adjacente ou no espírito de corpo herdado da velha Aviação local dos trabalhos, de espessos e por- Naval cujos elementos mantiveram vivo, ao menorizados manuais, quer na minuciosa longo dos quarenta anos em que a Armada pesquisa do exacto sobressalente, quer esteve privada das suas asas, e que no reen- nos exaustivos procedimentos de mon- contro das duas gerações tem sido jubilosa- tagem e respectivos testes. mente celebrado. Pois, além do elevado preço do material A par de um aturado trabalho buro- entre mãos, há que garantir aos tripulantes crático inerente à rotina administrativa de uma operação segura, tão ou mais dispen- qualquer unidade da Armada ocorre a diosa que a própria manutenção da profi- decorrente da actividade operacional e ciência de toda a equipa. técnica que permite em qualquer momen- Nas oficinas de electrónica reparam-se e Consultando os manuais. to conhecer o historial de cada elemento calibram-se diversos equipamentos. Dentre

8 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA os momentos resul- munido de uma lanterna de mão, da intei- tantes dos dois ra conformidade para um voo seguro, des- rotores rodando a de os básicos níveis de óleo e pressão de alta velocidade, com acumuladores a múltiplos outros aspectos dimensões e veloci- em torno do aparelho que vai pilotar. dades diferentes e Instalado no seu lugar, à direita, com todo o em planos ... ortogo- pessoal desnecessário devidamente afastado, é nais. o momento, assinalado pelas luzes de bordo, Assim o SHOL de, devidamente autorizado pelo Ground (-Helicopter Control/Tower, lançar os motores. Primeiro a Operating Limit) de turbina de BB, depois a de EB e a seguir o seu cada tipo de heli- acoplamento, segundo um procedimento há cóptero deve ser cal- muito escalpelizado na sala de multimédia. culado também em Executados os pertinentes testes, já com os Os helicópteros em operações de manutenção. função de cada con- rotores a rodar, está pronto para embarcar o vés onde esteja pre- instrutor, também equipado a preceito. eles, na de Sonares, o transdutor, um cilin- vista a sua aterragem, entre nós as fragatas da Na Sala de Operações seguimos pela rádio dro a lembrar o PoSat, que arriado a trezen- classe «Vasco da Gama» e o «Bérrio», e con- os contactos com o Ground Control, o pedi- tos metros de profundidade será, em função siderando que em certas situações opera- do, à Tower, de autorização para descolar e das variações do gradiente da temperatura cionais o navio poderá estar impossibilitado vêmo-lo, acesas as luzes de aterragem e ace- da água que instantaneamente mede, reco- de melhor se posicionar. lerados os motores, erguer-se no ar, inclinar- lhido até à profundidade mais adequada. Esta particularidade exigirá por si um treino -se um pouco para vante e iniciar o Hover Devidamente posicionado numa posição adequado embora a técnica mais corrente de Taxi em direcção ao heliporto. avançada, o helicóptero, antes de prosseguir aterragem seja a de colocar o héli por BB, Só o farol rotativo e as luzes de nave- para a seguinte Station, de acordo com a Pat- paralelo e à velocidade do navio, este ofere- gação, no negro da noite, iluminam, na tern adoptada, deverá, em seis breves impul- cendo a amura a barlavento, e o piloto, assim passagem, as pás e apenas podemos sos omnidireccionais, obter uma busca pano- que se sentir «sentado» sobre a linha trans- descortinar os contornos que nos recordam râmica Sonar, em exactos termos de direcção versal pintada no convés, «deslizará», de todos os desesperados que, num ou noutro e distância, de qualquer eco suspeito. lado, sobre ela até à vertical do cruzamento momento mais crítico, não puderam ser Para tal terá de permanecer estacionário com a meia-nau, descendo bruscamente até salvos pela arma de guerra mais temida na no ar, mantendo rigorosamente vertical o contactar o convés, sujeito ao balanço e ao luta de contra-guerrilha. transdutor mergulhado na água, aquele e arfar do navio, e de imediato proceder ao seu Verificado o correcto funcionamento dos este sujeitos a movimentos próprios que peamento. Claro que numa pista em terra instrumentos de navegação e já confundido interferem entre si através do cabo de sus- firme esta operação se torna elementar e em com as luzes da capital, em pano de fundo, tentação. Será o Sistema Automático de campo aberto ainda mais simples. recebida a necessária Clearance, rapida- Controlo de Voo (Automatic Fligt Control Uma característica específica dos heli- mente ganha altura. System - AFCS) que, além de possibilitar cópteros navais é pois o sistema de engate Apagados os faróis, perder-se-á num fundo uma momentânea pilotagem automática que permite, após a aterragem, fixá-lo nu- de estrelas, no cumprimento de uma missão sem mãos (Hands Off), resolve os diversos ma plataforma flutuante dotada de uma que assegurará a proficiência de muitas outras. problemas de cinemática decorrentes do adequada grade de fixação. Na noite fica a pairar a desejada aqui- vento, das correntes e dos seus efeitos no Antes do jantar que, como o almoço, é sição dos três helicópteros em falta para próprio cabo, de modo a assegurar a referi- servido nas Messes da Base Aérea de aco- completar a dotação prevista de modo a ga- da verticalidade, durante a emissão e a lhimento, acompanhámos o briefing do voo rantir um cabal desempenho operacional e sequente recepção dos ecos, permitindo da noite. O objectivo era o treino nocturno uma melhor rentabilização dos meios com determinar com rigor a posição e o movi- de dois pilotos, um de cada vez, acompa- que a Esquadrilha foi dotada.  mento do ... submarino. nhados pelo instrutor de voo que esta- Também este equipamento, essencial às belece o plano de actividades e manobras a Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves operações ASW, é aqui calibrado, na Oficina treinar e com aqueles revê procedimentos 1TEN REF de Avionicos. Noutro material, porém, re- de emergência e pormenores de operação Notas: corre-se ao sistema de substituição de «cartas» sobre os quais incidirá o treino. 1) No presente artigo manteve-se os termos em Inglês correntemente utilizados na EH. de circuitos impressos que obrigam ao envio No vestiário do hangar, recolhido o equi- 2) Recentemente o Governo suspendeu a transferência destas para os países de origem, constituindo pamento que completa a indumentária de duma encomenda de catamarans, de estaleiros isso uma crónica dependência tecnológica e, voo (9), de que se destaca o capacete bran- nacionais para a Austrália, o que representaria, pelo inerentemente, militar-naval do estrangeiro. co com auscultadores integrados, segue-se menos, a possibilidade de consolidar um «know-how». 3) Por ordem decrescente de tonelagem conforme clas- O helicóptero, sendo uma aeronave de asa para o Gabinete da Linha de Manutenção sificação mais corrente. Os futuros patrulhões, embora móvel, possui em relação aos clássicos onde, depois de consultado o Livro da maiores mas menos dotados de sensores e armas que aviões, os de asa fixa, ainda outras parti- Aeronave aprontada, nomeadamente infor- os patrulhas oceânicos dos anos cinquenta, ditos cularidades. Uma delas é dispor de rodas mações como o número de horas para a «franceses», poderão receber helicópteros. normalmente posicionadas de modo a, no próxima inspecção, limitações menores, 4) Do comando do então CMG Vieira Matias, por ocasião do desfile naval, ocorrido no alto mar, quando chão, girar sobre si e daí a necessidade do testes a efectuar, etc., é formalmente assina- o navio em 1983, terminada a sua comissão, destacou Hover Taxi. da a sua aceitação. daquela Força NATO. Se o avião necessita de pista para adqui- Daí se segue para a placa onde dois ou 5) O então CMG Nobre de Carvalho. rir/perder velocidade de sustentação, condi- três elementos da equipa de manutenção 6) O então CALM Reis Rodrigues. 7) Actualmente a “GKN Westland”. cionada a diversos parâmetros, dentre eles os ultimam trabalhos, iniciando o piloto, de 8) Comentário recolhido pelo CALM Isaías Gomes ventos (mormente os dos sectores de cauda), imediato, a verificação do helicóptero no Teixeira e transmitido, por carta, ao CEMA. Ver RA nº os hélis, prontos a descolar/aterrar em interior e no exterior segundo uma lista de 313 de SET/OUT 98. espaços exíguos, exigem um mais exacto items que, inclusive, o levam a trepar pela 9) Em que o azul escuro tomou o lugar do ... laranja. conhecimento do vento e dos efeitos das su- carlinga, por degraus que depois são Agradecimentos: Comandante Gomes de Sousa, perestruturas próximas, considerando ainda recolhidos na fuselagem, a certificar-se, Comandante Santos Madeira e Engº Rodrigues Correia

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 9 CrónicaCrónica dede TimorTimor A presença da Marinha no comando do sector central da força de manutenção de paz em Timor

Administração das Nações Unidas para Timor Leste (UNTAET) tem na A sua dependência a Força de Manu- tenção de Paz (PKF) a qual está distribuída por quatro sectores: Este – da responsabili- dade da Tailândia e integrando também forças das Filipinas e da Coreia do Sul; Central – sob o comando de Portugal que além das suas forças conta com as do Quénia, do Brasil e de um pequeno efectivo de Moçambique; Oeste – da competência da Austrália, incluindo Forças das Filipinas e da Coreia do Sul e por último o sector do Oecussi – sob o controlo da Jordânia. O Sector Central, que engloba seis dos treze distritos de Timor Leste – Aileu, Ainaro, Dili, Ermera, Liquiça e Manufahi e onde reside mais de 50% da população do território, tem o seu comando no bair- ro de Caicoli, em Dili e no seu Estado- -Maior prestam serviço dez militares da Marinha designadamente: a Chefia da Secção de Assuntos Civis e Militares (CMA – “Civil and Military Affairs”, desi- Áreas de responsabilidade no Sector Central, destacando-se o distrito de Manufahi atribuída aos gnação adaptada pela ONU e que equi- Fuzileiros. vale à área denominada CIMIC – “Civil and Military Cooperation” na terminolo- dade de pesquisa é feita em cooperação com No âmbito da Secção de Logística, para gia da NATO) é exercida pelo autor desta a Secção de Informações da PKF, com a além das tarefas inerentes à sustentação crónica que tem como adjunto o 2TEN FZ Polícia Civil das Nações Unidas (CIVPOL) e das forças na dependência do Comando Costa Frescata, o qual inicialmente com outras agências da UNTAET e do Sector Central, cabe ainda referir o prestou serviço na Secção de Operações. Organizações Internacionais (OI’s). muito trabalho desenvolvido para melhorar O cargo de adjunto da Secção de Infor- mação é desempenhado pelo 2TEN Pinto Conde. Dos sargentos, o 1SAR FZ Horta - é adjunto da Secção de Operações; o 1SAR FZ Carvalho – adjunto da Secção de Pessoal e na Secção de Logística prestam serviço o SMOR FZ Neto, 1SAR FZ Batista e 1SAR M Cardoso. Desempenham funções de condutores de veículos no Comando do Sector Central dois cabos V, ambos de apelido Cardoso e o CAB FZV Guerreiro. Julga-se de interesse fazer uma referên- cia às actividades mais salientes das várias secções, nomeadamente as relacionadas com o actual enquadramento social do território. Assim, na Secção de Informações, o Tenente Conde tem como responsabilidade a pesquisa, processamento, registo e reporte de informação relevante no contexto da missão PKF e em particular do Sector Central, com destaque para a actividade das milícias e Os militares da Marinha que prestam serviço no Comando do Sector Central. mais recentemente a actividade dos partidos Em 2º plano da esquerda para a direita: SMOR Neto, 1SAR Carvalho, 2TEN Pinto Conde, CTEN Pereira políticos e dos “gangs” de delinquentes juve- Lourenço, 2TEN Costa Frescata, CAB V Cardoso. nis que actuam na cidade de Díli. Esta activi- Em 1º plano da esquerda para a direita: 1SAR Batista, 1SAR Cardoso, 1SAR Horta, CAB FZV Guerreiro.

10 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA O SMOR Neto junto ao forno que construiu em Caicoli. Portugal é já ali… as condições de vida e de bem estar dos incluindo distribuição ou ajuda alimentar do movimento dos refugiados e o apoio a militares portugueses, brasileiros, quenia- às populações mais carenciadas, à reabili- operações de repatriamento dos timoren- nos e moçambicanos. Nesse campo o tação e construção de infraestruturas, ao ses, as quais são levadas a cabo em estrei- SMOR Neto teve ocasião de deixar “obra apoio à educação e ao desenvolvimento ta colaboração com o Alto Comissário das feita”, dirigindo uma equipa de timoren- da agricultura até à assistência a refugiados, Nações Unidas para os Refugiados ses que levou a cabo trabalhos de benefi- retornados e deslocados, sendo o trabalho (ACNUR) e com a Organização Inter- ciação e/ou construção de mobiliário, desenvolvido nesta área quer no âmbito de nacional das Migrações (OIM). equipamento e infraestruturas várias, de programas próprios, quer em colaboração No contexto do repatriamento, desde entre as quais merece destaque a con- com OI’s e Organizações Não Governa- Outubro de 1999, já regressaram a Timor cepção de algo com um cunho bem por- mentais (ONG’s). Os programas em curso Leste cerca de 176 000 pessoas, mais de tuguês – um forno de lenha, no qual este em colaboração com ONG’s abrangem 60% com destino ao Sector Central, no sargento com grande mestria confecciona, sobretudo as áreas de assistência médica e entanto, de acordo com estimativas do normalmente ao Domingo, um magnífico prestação de cuidados humanitários, ACNUR, ainda faltarão regressar entre pão que faz as delícias de mais de uma requerendo um enorme esforço de avalia- 80 000 a 100 000. centena de militares que prestam serviço ção, planeamento, gestão e coordenação Depois de garantidas as condições de no aquartelamento de Caicoli. face ao grande volume de apoio a prestar e segurança e de estabilização no território, As acções do CMA englobam áreas à escassez dos recursos disponíveis. efectivos cada vez mais significativos do muito diversificadas que vão desde a Uma das tarefas mais delicadas e PKF e do Sector Central têm tido um maior assistência médica e humanitária – considerada prioritária é da monitorização empenhamento, ao longo dos tempos, em acções do âmbito do CMA, o que originou o estabelecimento de um novo quadro orgânico que contemple um reforço muito significativo de pessoal nesta área, que passará a dispor, só a nível do Estado- -Maior do Comando do Sector Central, de três oficiais e três sargentos. Constata-se que, para obviar o incre- mento da multicidade das várias acções necessárias, tem sido estabelecida no ter- ritório uma organização operacional que englobando recursos humanos e materiais desenvolve um vasto leque de tarefas, visando criar um clima de confiança que facilite a reconciliação nacional e con- solide a crença na capacidade de en- frentar com êxito o futuro neste novo país do terceiro milénio. 

Pereira Lourenço Retornados regressavam a Timor Leste oriundos de Timor Ocidental. CTEN FZ

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 11 ContribuirContribuir parapara aa paz,paz, formando!formando!

O QUE É A NCISS?

De valor inquestionável como é a importância da formação no desempenho de qualquer actividade, não podia a NATO ignorar tal regra elementar e, assim, empenhou-se desde os seus primórdios na construção de um esta- belecimento de ensino na área das comu- nicações que se tem revelado de basilar importância na operacionalidade da Organização. A NCISS é, pois, uma estru- tura escolar de comunicações tutelada pela NATO, que opera sob a supervisão do SACEUR em coordenação com o SACLANT e controlada pela NACOSA. Administrativamente apoia-se no AFSOUTH situado em Nápoles e encon- tra-se localizada na cidade de Latina, ao sul de Roma, numa unidade militar da Força Aérea italiana ali existente.

COMO NASCEU E AS RAZÕES ainda a procurar sarar as feridas da guerra que a acabava de DA SUA LOCALIZAÇÃO dilacerar, e a NATO projectava já a instalação de um vasto sis- tema de comunicações, abrangendo toda a área desde o norte Não sendo a paz na Europa o resultado exclusivo da existên- da Noruega até ao sul da Turquia, interligando todos os países cia da NATO, é inegável que o esforço conjunto dos vários paí- membros da Organização na Europa. ses que a compõem tem sido fundamental para garantir aos De entre as cláusulas do projecto acordadas com as firmas povos europeus o seu direito à paz, democracia e liberdade. contratadas, estipulava-se que estas assegurariam o adestra- Neste contexto, decorria o início dos anos 50 com a Europa mento técnico e de operação aos militares a operarem com os

12 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA HISTÓRIA E EVOLUÇÃO O treino, conduzido ini- cialmente em instalações limitadas, viria gradual- mente a integrar instrutores militares dos vários países da Organização, dando as- sim uma coloração multi- nacional ao corpo docente. Em 1963, o SHAPE, após ter assumido em plenitude a condução daquele, decidiu- -se pelo recrutamento de instrutores civis que, substi- tuindo os instrutores das empresas, assegurariam a continuidade estrutural e curricular dos cursos. Desde 1959, ano em que a NATO deu início à insta- lação da sua primeira rede de comunicações – uma cadeia de comunicações troposféricas, designada por NATO’s ACE HIGH Communications System –, a escola viria com o decor- Consola de “Manutenção e Controle” de uma estação Satélite instalada na escola. rer dos anos a ter diferentes designações, consequência sistemas a implementar. O local onde esse treino iria efectuar- da entrada em funcionamento de novos sistemas e novos con- -se foi resultado do empenhamento do governo italiano e a ceitos de comunicações da NATO. escola veio a ser instalada em Itália, na cidade de Latina, Da sua vocação inicial em leccionar apenas cursos na área de integrada no complexo militar atrás referido. manutenção e operação de sistemas de comunicações, passou durante a década de 70 a abrir-se a outras áreas, integrando MISSÃO DESEMPENHADA PELA ESCOLA cursos para militares e civis cujas actividades envolvessem planeamento, implementação e manuseamento de Comu- Reconhecido que é, como vimos, o papel da NATO na nicações e Sistemas de Informação da NATO, bem como na manutenção da paz na Europa durante os últimos 50 anos, é área de Comunicações e Segurança. importante realçar que tal sucesso se deve sem dúvida à sua Uma evolução prosseguida até hoje. De tal modo que, prontidão e preparação para reagir a todas as situações dentro estando desde então na Organização a desenvolver-se o con- da sua vasta zona operacional que se estende, como se sabe, ceito de um Sistema Integrado de Comunicações NATO desde a costa Este dos Estados Unidos e Canadá até ao Sul da Turquia, cobrindo assim toda a Europa desde o Norte da Noruega até à Grécia. CURSOS FREQUENTADOS Elemento chave na estrutura desta Organização é sem dúvi- POR ALUNOS PORTUGUESES (ANO 2000) da a componente “comunicações”, sem a qual tal sucesso seria inatingível. Curso Mar Ex Fa Criada para servir a NATO, a NCISS teve desde sempre NATO freq. Management 1 1 como missão o treino qualificado e avançado em comunicações Comsec officer 1 2 e sistemas de informação, quer de pessoal adstrito à Crypto custodian 1 1 1 Organização quer de pessoal que, embora não em organismos Satcom 1 1 dela, a frequentam com carácter nacional, mas cujas missões, OM-55 1 de uma forma ou de outra, se cruzam entre si. Aliás, a natureza estática de alguns dos sistemas de comunicações outrora Scars 1 implantados reconhece-se como desadequada nos dias de NBSV(STUII) 2 hoje, se se atender à nova postura de intervenção da NATO, BID950 2 colocando-se agora maior ênfase na sua mobilidade e na IDNX 1 necessária interligação com as redes e sistemas de defesa CIS Orientation 2 1 nacionais. ADP-SSO(site security officer) 1 1 1 Além dos cursos essencialmente técnicos, a Escola ministra ADP-TASO(Termi.sec. officer) 1 2 3 ainda cursos de comando e coordenação destinados a oficiais generais (Flag Officers) e outros direccionados a oficiais e sar- AIFS(allied info data flow) 2 gentos em desempenho de funções “Staff” em comandos da Freq. Managm. Theater oper. 1 NATO. MCCIS 4 Mais recentemente, a escola instituiu “cursos de orientação” RMP 2 a países não membros da NATO – os chamados PfP (partners MCCIS(administrator) 1 for peace), como por exemplo aqueles que de uma forma inte- INFOSEC 2 ractiva colaboraram com a NATO na crise dos Balcãs.

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 13 (NCIS), se tornou premente a necessidade da construção de São exemplo de cursos aqui ministrados os da área do uma nova escola que pudesse assim albergar os novos equipa- NSV (narrowband secure voice), DOLCE(equipamentos mentos que integrariam este sistema de comunicações e simul- criptográficos de transmissão de data, como as conhecidas taneamente viesse a dar resposta às solicitações do futuro. 1976 Bid 950 e Bid 1000), COMSEC (segurança de comunicações) foi o ano do arranque das novas instalações e 1983 o ano do e CRYPTO Custodians (segurança cripto). seu término. Sistemas conhecidos como o IVSN, o TARE e o TCF passaram a partir de então a ser ministrados nesta escola. AS NOVAS TECNOLOGIAS NO ENSINO Com o decorrer da década de 80 e as novas ciências da infor- mática a apoderarem-se do controlo dos equipamentos e sis- A par dos cursos introduzidos, a escola evoluiu igual- temas, a escola abriu portas a uma nova área: a de Sistemas de mente nos métodos e técnicas didácticas. Dos documentos Informação, Comando e Controlo. No final desta década (1989) dactilografados e apresentações retroprojectadas que a escola reajustou o seu nome para a designação actual: NATO chegaram aos finais dos anos 90, passou-se gradualmente e COMMUNICATIONS AND INFORMATION SYSTEMS com grande empenho de todo o corpo docente a uma con- SCHOOL (NCISS), reflectindo assim os cursos ali ministrados. versão informatizada de toda a documentação, quer escrita quer visual, entrando-se assim no novo milénio numa nova ORGANIZAÇÃO ACTUAL –ÁREAS E CURSOS fase, procurando o aproveitamento máximo das novas tec- nologias educativas. Assim, a escola dispõe neste momento Apoiada por um corpo docente e administrativo de com- de salas de aula equipadas com computadores (CAT Labs- posição multinacional, superando barreiras linguísticas e “Computer Assisted Training”), o que permite a cada aluno, culturais, a escola vive assim uma atmosfera particular de de uma forma dinâmica e interactiva, acompanhar a pro- integração e funcionalidade com a sua componente de treino gressão da matéria em discussão na aula. estruturada em três áreas distintas:

a) A área de sistemas no âmbito de redes de ESTUDANTES 1990-1999 Comunicações (Network Domain Section), responsável por cursos na área de Sistemas de Transmissões e Sistemas de Comutação e Controlo de redes (network controle). São-nos familiares alguns desses sistemas, como os já referidos IVSN (a ser substituído pelo NATO Core System) e TARE, mas outros como o SATCOM, o TSGT (Transportable Satellite Ground Terminal – as novas Estações de Satélite da NATO, estando assim implícito o novo conceito estratégico da Orga- nização), DLOS (Digital Line of Sight), VTC (Video Teleconference), Multiplexers como o MAXIMA e o IDNX e também o P(A)BX e Frequency Management. Gráfico 1: Aos 50 alunos/ano formados no início da actividade da escola, contrastam os actuais b) A área no Domínio do Utilizador (User 2000/ano. Domain Section), responsável por cursos no âmbito de Sistemas de Informação, Comando e Controlo QUEM FREQUENTA A ESCOLA? (CCIS), Programação e Gestão Informática. São desta área cursos como o SCARS (já falado), MCCIS (maritime com- Acorrem à NCISS alunos de todos os países membros da mand and control information system), ADP(automatic data NATO bem como dos países chamados PfP (partners for peace). processing), RMP (recognized maritime picture), LAN (local Para a frequência dos cursos são requeridos requisitos técni- area network), etc. co-linguísticos adequados aos cursos que os alunos pretendem c) A área no domínio de Informação e Segurança (INFOSEC frequentar. A coordenação das nomeações compete às Domain Section), responsável por cursos no âmbito da segu- unidades NATO e aos organismos nacionais do ministério da rança informática, de informação e instrumentos de segu- defesa de cada país que, em coordenação como o NACOSA, rança ADP e equipamentos criptográficos NATO. fazem a respectiva inscrição. Colhendo a experiência de 40 anos de vida, a ESTUDANTES/PAÍSES DA NATO NCISS tem consciência da importância do seu papel educativo quer na formação de militares e civis -Anos Lectivos 1999 e 2000 como técnicos, quer na sua valorização como

482 Homens em defesa dos valores que norteiam a Organização, contribuindo deste modo para que a

339 paz no xadrez europeu continue a ser possível. 256 253

247 Uma perspectiva da afluência de alunos que têm fre- 226 quentado o estabelecimento nos últimos dez anos é-nos 175 143 109 108 dada pelo gráfico 1 e, duma forma mais detalhada, o 108 90 91 84 75 70 69 65 58 60 56 58 55 50 42 41

41 gráfico 2 mostra-nos o número de alunos que os países 34 28 24 12 8 3 3 2 0 nos últimos dois anos fizeram passar pela escola.  António Videira SAR AJ TRC (Instrutor na NCISS - Secção SATCOM)

Gráfico 2: Os números são elucidativos do empenhamento dos países na Organização e da impor- * Informações sobre a NCISS: tância dada à formação dos seus profissionais. Email: [email protected]

14 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA OsOs falsosfalsos rasgõesrasgões dodo retratoretrato dede CamõesCamões

á alguns anos atrás, participamos do natural e que constitui o único que O retrato de que nos estamos a ocu- na preparação da exposição se conhece executado em vida do par perdeu-se. Todavia foi, em boa HPortugal-Brasil, a Era dos Desco- poeta. Atendendo às dimensões da hora, reproduzido por Luís José Pereira brimentos Atlânticos, de Rezende, no segundo que veio a ter lugar na quartel do Século XIX. Biblioteca Pública de Todavia, o desenhador Nova Iorque(1). Logo excedeu-se ao executar que se estabeleceu o a cópia, pois incluíu guião, esta prestigiada toda as mazelas que o biblioteca foi recebendo retrato continha. É sem os elementos respeitan- dúvida um caso raro(2). tes a cada uma das peças que iriam ser expostas: Esta cópia foi posse do fotografia, dimensões, duque de Lafões até que características, etc. Uma um dia passou para as das peças era o retrato mãos do Dr. António de Luís de Camões, cuja Augusto Carvalho Mon- fotografia ilustra esta teiro, que a transmitiu ao página. filho, em cuja posse, Ao examinarem esta Afonso Dornelas a des- fotografia, os curadores cobriu em 1925. Em da Biblioteca de Nova 1951 foi adquirida por Iorque, consideraram António de Aguiar e em que não seria conve- 1960 pelo Dr. Fausto de niente apresentar um Figueiredo, tendo sido retrato rasgado, quando vendida depois, em existiam meios capazes 1988, pelos seus her- de restaurar o papel em deiros ao livreiro e anti- que ele estava dese- quário de Nova Iorque nhado. Propuseram-se Richard Ramer. Final- mesmo para proceder a mente, Vasco Graça este delicado trabalho, Moura adquiriu-o para a admitindo, provavel- Comissão Nacional para mente, que nós não o a Comemoração dos tínhamos feito por falta Descobrimentos Portu- de recursos técnicos ou gueses. Actualmente, en- financeiros. contra-se depositado no Agradecemos a genti- Arquivo Nacional da leza e informamos que Torre do Tombo(3).  o restauro era impossí- vel. Isto por que tanto os rasgões como as A. Estácio dos Reis pequenas tiras de papel CMG que serviram para juntar os pedaços em que o retrato se decom- mancha, 130mmx145mm, admite-se Notas: pôs eram, simplesmente, desenhados! que tenha sido feito para ser aberto em 1) A exposição, que teve lugar em 1990, resultou Facto que vem mais uma vez dar razão chapa de cobre e incluído numa duma proposta da Fundação Cultural Brasileira, com sede em Nova Iorque, e foi realizada em colaboração ao ditado popular que diz que nem edição de Os Lusíadas, da qual não entre esta e a Comissão Nacional para as Come- tudo que luz é oiro. nos chegou um único exemplar, como morações dos Descobrimentos Portugueses. aliás tem acontecido a tantas outras 2) Quando estivemos em Macau, nos anos 50, O original deste retrato foi dese- obras do passado. Isto acontecia por encontrava-se uma história que mostrava como os alfaiates locais eram rigorosos a fazer um fato que nhado por Fernão Gomes (1548-1612), que, na época, as edições eram apenas lhes deixássemos para copiar. Certa vez, quando um de origem espanhola, que depois de de poucas centenas de exemplares. cliente foi buscar a obra feita, que aliás era executada, regressar de Delft, onde foi aperfeiçoar Aliás, o desaparecimento total de uma por vezes, em menos de 24 horas, verificou que tinha a sua arte, veio para Portugal, no ano edição não impede que esta tenha um buraco nas calças. Exactamente, o mesmo buraco de 1573, onde permaneceu durante existido, pois basta lembrar-nos que que tinha originado a encomenda. (3) O leitor que se interessar por este assunto acon- três anos até voltar para Albuquerque chegaram até aos nossos dias inúmeras selhamos a obra “Fernão Gomes e o retrato de sua terra natal. Foi neste período que edições de que se conhecem, apenas, Camões”, por Victor Serrão e Vasco Graça Moura, fez o retrato de Luís de Camões tirado um ou dois exemplares. Lisboa, 1990.

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 15 A MARINHA DE D. MANUEL (12) AA travessiatravessia dodo ÍndicoÍndico

5 de Outubro de 1498, depois de o descreveu também, no estudo náutico já aí piloto nem homem que cartear soubesse, todos os incidentes relatados, que fez desta viagem e parece lógico, se para saber em que paragem éramos”. A 3 de AVasco da Gama faz-se à vela de seguirmos o que pensaria um piloto expe- Janeiro de 1499, estavam perto de Moga- regresso a Portugal. Estava em Angediva rimentado que conhecesse aquelas para- díscio, cidade que avistaram e identi- (15º 21’ N) e confiava nos seus pilotos para gens apenas de umas vagas informações ficaram, talvez com a ajuda de cativos tomar o caminho de África e depois de recolhidas na viagem de ida. africanos que tinham a bordo. Lisboa. O que saberia ele sobre esse cami- O que aconteceu de facto foi que estive- Tomaram o caminho do sul, com vento nho?... Sabia que tinha feito a viagem de ram demasiado tempo no mar, com carên- de popa, navegando de dia e pairando de Melinde para Calecut navegando ao cia de alimentos frescos e (provavelmente) noite, dadas as incertezas quanto ao cami- Nordeste até ao (hoje chamado) canal dos de água, aparecendo a bordo uma doença nho e, muito provavelmente, pela grande nove graus (entre Maldivas e Laquedivas), mortal que ficou conhecida por escorbuto. falta de pessoal que já os devia afrontar. de onde guinaram para norte até Calecut. Esta doença, que viria a ser conhecida de Alcançaram Melinde em 7 de Janeiro, Depois deslocaram-se ao longo da costa forma dramática por todos os que anda- onde, finalmente, tiveram refresco de até chegarem a Angediva. Sabiam pois a vam no mar em longas viagens, era devida víveres, frutas e carne fresca, graças à latitude em que se encontravam e sabiam a à carência de vitaminas (em especial a vita- amizade do rei local que já os recebera latitude de Melinde e de outros locais que mina C) que só existem nos alimentos bem à ida. Colocaram um padrão em terra tinham abordado em África, e largaram passados cinco na viagem de ida. Parece-me dias, continuando a viagem pois natural que, ao deixarem para sul até aos baixos onde, a costa indiana, fossem reto- à ida, tinha encalhado a S. mar latitudes mais baixas, Rafael. Nessa altura – quer navegando em rumos de pelos mortos na travessia, sudoeste ou es-sudoeste. quer por todos aqueles que Digamos que é a tendência não tinha sido possível sal- natural de um piloto que pela var, mesmo com o refresco primeira vez está a navegar em Melinde – a falta de pes- naquelas paragens: seguir soal para a manobra dos um caminho que vá ao en- navios era insustentável. O contro dos locais já conhe- Capitão decidiu transferir a cidos. Porém, este desvio tripulação da S. Rafael para para sul teve vários inconve- os outros navios e incendiou nientes que foram fatais para a nau, depois de lhe ter retira- muitos marinheiros e podiam do a imagem do santo pa- ter levado à perda da es- droeiro que ainda hoje está quadra. A monção de nor- no Museu de Marinha deste (Hemisfério Norte) só Algumas conjecturas têm se declara mais para o final sido tecidas acerca desta tra- do ano e, quanto mais para vessia e de uma eventual re- sul os navios estão, mais A África num planisfério português de 1502 (Cantino). As bandeiras junto à costa oriental belião vivida a bordo. O tarde ela chega. Ou seja, (com excepção da que está à entrada do Mar Vermelho) marcam os locais Relato nada nos diz sobre o perto do Equador, naquela por onde passou Vasco da Gama. assunto, mas os cronistas altura do ano e naquele local, posteriores a ela se referem os navios vão encontrar ventos predomi- frescos. Manifestava-se pelo aparecimento com maior ou menor dramatismo. Pode nantes de sudoeste e calmarias. Even- de uma coloração anormal na face e pelo dever-se esta lenda a duas razões: pode ter tualmente, podem aproveitar aragens inchaço progressivo da gengivas, que se uma base verdadeira que foi sendo mitifi- locais, de fraca intensidade e duração, que tornavam dolorosas, produzindo um háli- cada pelos tempos, ou pode ser apenas um possam ajudar à travessia, mas é coisa to desagradável. A pouco e pouco o mau mito nascido e desenvolvido no meio esporádica e insegura. cheiro da boca tornava-se insuportável, as naval do século XVI. A estrutura do mito O Relato de que temos vindo a falar, diz gengivas sangravam, os dentes caiam, o dá a ideia de que houve quem quisesse que partiram numa sexta-feira dia 5 de corpo inchava também e a morte surgia desistir de seguir o caminho, mas a von- Outubro e acrescenta: “Andámos tanto irremediavelmente, caso não se alcançasse tade de Vasco da Gama impôs-se, pondo a tempo em esta travessa que três meses menos um porto onde a avitaminose fosse com- ferros quem se revoltou. Parece-me ser três dias gastámos nela; isto com muitas cal- pensada. Ora nestes três meses de traves- uma história que se desenvolveu, sobretu- marias e ventos contrários que em ela achá- sia morreram trinta homens e alguns deles do, com o intuito de glorificar o navegador mos”. Esta descrição está de acordo com o foram certamente alguns pilotos porque – e servir de exemplo aos marinheiros que se regime de ventos descrito e corrobora a de acordo com o relato – quando che- lhe seguiram.  ideia de que a esquadra tomou um cami- garam perto da costa africana “fomos nho de sudoeste e sul, até latitudes perto demandar a terra para sabermos onde Nosso J. Semedo de Matos do Equador. Gago Coutinho assim mesmo Senhor nos tinha lançado, porquanto não havia CTEN FZ

16 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA OO “Gil“Gil Eannes”Eannes” EntreEntre aa GuerraGuerra ee aa PazPaz (1ª parte)

Quando o «Lahneck» largou para a sua segunda viagem, também de Hamburgo para Lisboa, já o espectro da guerra pairava sobre a Europa, pois havia dezasseis dias que, em Sarajevo, o Arquiduque herdeiro do Império Austro-Húngaro fora assassinado. O cruzador auxiliar “Gil Eannes”. ssim, nada de surpreendente quan- A sua silhueta é típica de um cargueiro de suprir o que suicidariamente, em tempo do recebeu ordem para, ao abrigo daquele tempo: dois castelos, proa cerce, de paz, pagávamos em ... divisas (2). A da neutralidade portuguesa nas popa de paquete, superestruturas no con- De facto, além dos navios já afundados guerras ainda bilaterais que, como um vés, donde emergia a ponte, dois mastros, (3) e dos requisitados para transportar rastilho, se foram ateando (1), permanecer sete paus de carga até 5 T. e um até 20 tropas nossas para as Colónias, entretanto em Lisboa, onde voltara. que, através de cinco escotilhas, movi- agredidas (4), não dispúnhamos de Com ele ficou o seu irmão «Rolandseck», mentavam até 2.000 T. ou cerca de 4.500 navios, nacionais ou estrangeiros, para ambos construídos em Geestemünde, mas m3 de carga a granel. Mas, entenda-se, já importar os alimentos e a energia (carvão) este dotado dum moderníssimo motor de dotado de moderníssimos aparelhos acús- de que éramos, como hoje, absoluta- combustão interna que nos viria a servir ticos de escuta de ... submarinos. mente carentes (5). de escola. Previdentemente, as tripulações alemãs O «Lahneck» com cerca de 85 m, uma MUDANÇA DE BANDEIRA tinham, naquele fatídico 16/02/1916, as boca de 12,5 m e um «pontal a meio (de) válvulas distribuidoras, peças de sofistica- 5,12m» deslocava, com calado máximo, Como eles, dezoito meses depois, 74 díssima concepção, prontas a lançar ao mar cerca de 4.500 T. a uma velocidade navios da Tríplice Aliança seriam, sem e assim, apesar de precavidos, na impossi- média de 11 nós que, à custa de acele- qualquer violência, apresados, «forçando», bilidade de as resgatar ao lodo, houve que radamente se «chegar» às duas caldeiras deste modo, a Alemanha a declarar-nos a enfrentar três terríveis dificuldades. o carvão das 391 T. das suas carvoeiras, a guerra que nos permitiria defender o nosso As primeiras, o recálculo e o redesenho sua máquina a vapor de tríplice expansão cobiçado «Império» e assegurar, entretan- das peças a substituir e a terceira, a sua elevava a 12,8, sob, imaginamos, negros to, todos os inconvenientes de não dis- rigorosa execução e instalação num país rolos saindo da sua esgalgada chaminé. pormos de uma Marinha Mercante capaz praticamente desprovido de indústria me- talúrgica, naval ou ou- tra, e cuja marinha de comércio acabava de crescer ... 300%. O Arsenal da Marinha e diversas outras empre- sas em Lisboa e no resto do país desincumbiram- -se desta missão e, acele- radamente formadas, novas tripulações puse- ram em poucos meses aqueles navios a nave- gar. À necessidade havia- -se juntado a vontade que tudo pode. Os «novos» navios da marinha de guerra rece- beram, como os ante- O “Gil Eannes” amarrado à boia no quadro dos navios de guerra em 27 de Fevereiro de 1916. riormente requisitados,

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 17 nomes, não de terras mas de grandes Transporte Militar vultos da nossa História. O «Lahneck» Ao segundo comando é receberá o de «Gil Eannes» (6). convertido, quase sem A integração, a 20/03, na Divisão fabricos, em transporte de Naval de Defesa e Instrução sob o co- tropas pois, estas, dada a mando do 1º Tenente Carvalho Crato, neutralidade espanhola, que o requisitara, implicou novas tinham que seguir para cobertas, uma botica, uma enfermaria, França, em navios ... britâ- paióis e sistemas de municiamento da nicos. artilharia a instalar com sacrifício de Por falta de porte ... mili- alguns paus de carga e dos mastros-ven- tar (9), só a 16/02/1917, tiladores. larga na cauda de três Reparada a, também danificada, ingleses, de 6 a 10 T., «telegrafia sem fios» (TSF), instalados acompanhados de quatro uma verga de sinais, um projector eléc- contratorpedeiros ingle- trico e, em doca seca onde, duas peças ses e com eles, além do de «tiro rápido» de 76/40 (7) e uma de «Guadiana», o «Pedro 65/46 e quatro «semi-automáticas», foi Nunes». lastrado. Ainda em Março, embarcou a guarnição, Ao enjoo dos soldados passou a armamento completo e, a seis de desta parcela do «Corpo Junho, largou para provas, averbando a sete Expedicionário Português» do mesmo mês a velocidade de 9,25 nós. (C.E.P.) seguiu-se uma sã confraternização numa MARINHA DE GUERRA – I viagem de quatro dias cujo único óbice foi, à Cruzador Auxiliar chegada, o nevoeiro cerra- Em três meses e meio, «Honra à enge- do, já anunciado pela TSF, nharia naval portuguesa!», tínhamos mais que obrigou um torpedeiro um cruzador auxiliar. francês a pilotar o com- A sua primeira missão, de 14/06 a bóio pelo Goulet de Brest, 5/07, foi, com o cruzador auxiliar «Pedro onde, os nossos marujos As caixas com os aviões no convés do “Gil Eannes”. Nunes», a patrulha alternada da costa espontaneamente oferece- entre Sines e Peniche e exercícios de tiro. ram à população bolachas e laranjas. ses os três menores, eram maiores (10 m e De 8 a 10 escoltou o cargueiro «Ama- A 28/02, o «Guadiana» escolta-o a 280 T.), melhor armados e atingiam os ... rante» até 150 mn a NW da Roca e Plymouth onde, descarregado o lastro, 31 nós. depois integra a coluna composta pelo embarcou 1.611 T. de bom e impres- O combóio que, de dia, navegava cruzador-couraçado «Vasco da Gama», cindível carvão. numa linha de cerca de 3,5 mn num cruzador «Almirante Reis», aviso «Cinco No regresso, com passageiros e a tripu- ziguezague com pernas de 10 a 20 minu- de Outubro» e os contratorpedeiros lação do encalhado «Setúbal», navega no tos, sacrificando 5% do caminho, para «Douro» e «Guadiana», ambos de 70 m. meridiano das 200 mn fora de Lisboa atrapalhar os submarinistas, de noite, pas- e 670 T., para manobras de adestramento (submarinos), na companhia do «Guadiana» sava a coluna, socorrendo-se duma luz de com simulação de um combate, evo- que, a um quarto da derrota, por falta de popa que acendia, a breves intervalos, por luções e tiro, após o que destacou a pa- raio de acção, retrocedeu. Em cinco dias, escassos segundos. trulhar a costa entre Aveiro e Caminha. a 21/3, entrou a Barra. Desembarcada a tropa e a carga para o Com 13 navios, incluindo auxiliares, Limpo o fundo, ei-lo de novo rumo a «C.E.P., segue para Plymouth onde a falta simula-se o combate com uma esquadra Brest sob a directa protecção do «HMS de qualidade e de quantidade de carvão «inimiga composta de se resolveu com ... seis caça-minas (8)» «chateâu» Paiol (10). fundeando diante de Na primeira noite Caxias onde, depois sem lua, largou sob a de cruzar no Algarve, escolta do «Guadia- voltará para, incorpo- na» que, na noite rado numa força de 22 seguinte, regressou navios, incluindo rebo- para escoltar o «Pedro cadores-patrulhas, Nunes». A 15 desem- desfilar perante o barcava 1.734 T. de PR, no cruzador «S. precioso combustível. Gabriel». Lastrado, reguladas Os cruzeiros, com as agulhas e metida a uma interrupção de carga para o C.E.P. e dois meses, ocuparam- feito tiro contra um -no a sul do Douro alvo na Trafaria, em- para, em Dezembro e O contra-tropedeiro “Guadiana”, fiel companheiro do “Gil Eannes”. barcou 3 oficiais, 9 sob forte borrasca, sargentos e 214 solda- escoltar até ao Funchal o paquete Cockatrice». O combóio, semelhante, e dos de Infantaria 18, e, pela noite de «África» e de novo o «Portugal», der- sem qualquer escoltador da «Briosa», 17/07, sob escolta do «Guadiana», saiu. radeiro serviço enquanto cruzador auxi- traduzia a nossa insignificância marítima e O paquete «Cazenjo» (11) juntou-se- liar. naval. Dos quatro contratorpedeiros ingle- -lhes e, ao largo de Ovar, o «Gil Eannes»

18 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA costa, somavam afunda- mentos. Desembarcada a tropa seguiram-se os 1157 barris e pipas, 2221 caixotes com fardamentos, além de 684 outros com diversos, 7 com automóveis e 150 com bandagens, mais 70 sacos e 156 volumes diversos (13). Entretanto a guarnição desfilou com contingentes aliados numa cerimónia para condecorar civis e militares. Havendo muitos militares a repatriar, alguns de li- cença, outros doentes, bas- tantes de doenças conta- giosas, foi necessário reor- ganizar o seu alojamento antes de embarcarem um Marinheiros portugueses desfilando em Brest, no Cours Dajot, em 14 de Fevereiro de 1918. alferes, dez sargentos e 242 cabos e soldados. passou-lhe, através de uma bóia que uma aderem, sem aparente entusiasmo, ao Com o «Pedro Nunes», saiu sob a pro- baleeira recolheu, instruções secretas que vitorioso movimento de Sidónio Pais que tecção do «Douro» e uma positiva emu- na segunda madrugada o fazem desapare- ainda foi sacudido pela insubordinação lação entre os dois transportes trouxe-os a cer, rumo a leste, na véspera de deman- do «Vasco da Gama». Lisboa em tempo recorde (11,5 nós). darem, pelo Raz de Sein, a soberba entra- A 8 embarca 210 expedicionários e ao O presidente Sidónio Pais veio a bordo da de Brest, depois de reconhecidos por lusco-fusco larga para a sua última saudar os militares que regressavam da um caça-minas francês. viagem como navio militar de transporte, frente e visitar o navio que deveria ser Rendido o comandante, atinge, na milha a partir do fundeadouro de Caxias onde transformado em navio hospital ou em medida, os 9.95 nós, e dois meses depois, aguardara o crepúsculo. mercante, ao serviço do Ministério da comboiado pelo «Douro», ao quarto dia, Uma avaria no leme fá-lo escalar Guerra. fundeou ao largo da Parede (12) por per- Leixões e, escoltado pelo fidelíssimo manecerem apagados os faróis. «Guadiana», enfrenta a fúria da Biscaia FRETADO AO MINISTÉRIO Apesar da guerra ocorrer em cenários que o engolfa nos baixos das Pedras DA GUERRA tão distantes como a França, Angola e Negras donde, numa rápida e arriscada Moçambique será no Mar da Palha que manobra do comandante, se safa. Dias Retiradas as quatro peças de menor cali- exercitará o seu fraco belicismo numa das depois notando-se a aguada ... salgada bre e repostos os paus de carga, em frequentes revoluções que agitavam a entraria em doca. 1/06/1918 arriou o jaque e passou, incipiente república. O perigo fora porém muito maior. dispondo de uma tripulação mista, ao Desta vez, a 5/12, mais um movimento Submarinos alemães ao largo de Brest, comando do capitão Bezerra sob a autori- que se supunha monárquico, eclodira. em especial um que pairando enfrentava dade dum capitão de bandeira (14). Trocados uns tiros com a Rotunda bravamente o temporal e a bateria de Assinado o convénio entre a Comissão de Transporte de Tropas e a Direcção dos Transportes Marítimos do Estado a sua actividade embora idêntica era, com o fim do «roulement» (15) das tropas, menos intensa. Assim, fez várias viagens. Na primeira, com 78 oficiais do exército (16), saiu a 15/06/1918 mas foi perturbada ao largo do Cabo Carvoeiro por grossa avaria na máquina do caça-minas «Celestino Soares» (17) que rebocou quase até Cascais, onde fundeou. A 18, com norte rijo e vaga grossa, segue então, navegando de dia e colados à costa, escoltado pelo caça-minas «República» e, a partir de Leixões, tam- bém por um vapor de pesca francês, o «Hortensia» rendido, em St Jean de Luz, pelo caça-minas «Sans-Souci». Daí, com bom tempo, navegam até La Pallice, Quiberon e Brest integrados num com- bóio defendido por duas canhoneiras, balões cativos e grupos de dois ou quatro O “Gil Eannes” manda uma mensagem ao “Cazenjo”, em pleno mar, 56 milhas a Oeste de Ovar. aeroplanos. REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 19 Os oficiais seguiram de quarentena Ocorrências? Quatro clandestinos (!) e Notas: para a ilha de Treberon e a carga desem- oito dias depois de arribarem, a 11/11, o (1) 1914-06-28 Sarajevo; Áustria declara guerra à barcou a 11/07 com o simultâneo embar- ... Armistício. Sérvia (07-28), à França (08-03) e à Rússia (08-06). que de 579 combatentes, dos quais 7 ofi- Com a almejada Paz houve que refazer Reino Unido (08-04) e Japão (08-23) à Alemanha. ciais e 55 sargentos. os mapas na Europa e no mundo. As coló- Turquia (10-29) aos Aliados. Etc. O regresso aconteceu à 3ª tentativa; nias alemãs desapareciam a favor de (2) Como hoje primeiro voltaram para trás por falta de ingleses e franceses mas as nossas, por (3) Primeiro o lugre «Douro» e depois o vapor «Cysne» o que era, em termos percentuais, muito. velocidade para acompanhar o combóio que, na Flandres e durante dois anos, (4) O Tanganica, a norte de Moçambique e o sob escolta portuguesa e depois por lutaram 100.000 homens e pereceram Sudoeste Africano, a sul de Angola, eram alemães. avaria da canhoneira francesa. 7.222 (19), salvaram-se. (5) Hoje temos menos 6 navios que então e mais Finalmente, a 19, com outra canho- O regresso, sem escolta, mas atentos a alguns milhões de habitantes com muito maiores neira e um caça-minas tricolores, contra minas e submarinos isolados, fez-se direc- necessidades alimentares e sobretudo energéticas a um tempo agastado, logo, pouco anda- to e com todas as luzes acesas. nível individual e colectivo. Verdadeiras barragens às rodovias (maior consumo de combustível por mento e, leve, a governar mal, alcan- Mais quatro viagens com carga diversa, tonelada , logo poluição, e dispendiosa assistência çaram o Finisterra onde a canhoneira foi na ida e na volta, foram feitas para vários aos pavimentos) têm-se erguido à revelia dos Estados rendida por um dos caça-minas de destinos em França e Reino Unido, privi- nossos Parceiros (França e Espanha). O Potencial em Leixões, que o «República» substituiu até legiando o regresso do pessoal e do mate- Energias Alternativas também tem sido desprezado. Cascais. rial do C.E.P. e das nossas bases de A Suécia, que cumpre um exigente programa, e a Áustria, com o maior desenvolvimento europeu, No dia seguinte, 23, o gáudio, na subi- Cherburgo e de Brest. seguem os passos da Grécia, a maior rede de da do Tejo, era tanto que o navio, das aproveitamento de Energia Solar da UE. Portugal dis- borlas aos castelos, ficou coberto de mili- TRANSPORTES MARÍTIMOS põe ainda de outras fontes. O gás natural com tares que, à vista dos escoltas que o ha- origem , duas fronteiras e três travessias em ter- DO ESTADO (TME) ritórios instáveis acrescenta a nossa dependência viam mandado regressar a Brest, não se política e ...técnica. coibiram de os vaiar ... vernaculamente. A 17/07 foi exonerado o seu capitão de (6) Numa barca dobrou, em 1434, o Cabo A segunda viagem, com 76 oficiais e bandeira e regressou à condição de mer- Bojador, considerado o limite sul da existência de 1.500 T. de material para o C.E.P. iniciou- cante puro, situação em que fez mais seis vida, trazendo ao Infante banais rosas de Santa -se a 8/08, seguindo de noite até ao mar de viagens comerciais para o norte da Maria. Leixões onde o «República» foi rendido Europa, levando sobretudo vinho e (7) Calibre em mm/nº de calibres de comprimento por um caça-minas francês aí baseado e, minério e trazendo tropas ou carvão. do cano ao largo do Finisterra, pela canhoneira Em 1920/21 faz três viagens à Guiné, (8) Numa Armada depauperada de meios navais, a existência de «draga-minas» demonstra a sua «Aisne», alcançando Brest, na noite de 11. vai à Europa e passa à carreira dos Açores importância. Durante a Guerra Fria era um dos com- No regresso, apinhado de militares (8, onde completa 8 viagens redondas tendo promissos NATO de Portugal e, quase exclusiva- 61 e 514) e com pouca carga, no Finis- tido oportunidade de salvar a tripulação mente, o da Bélgica. terra um patrulha francês rendeu o dum navio inglês. (9) Um 1º combóio devia se escoltado por uma «Ancre», com a informação de «submari- Dada a desastrosa administração dos Divisão Naval com o «Vasco da Gama» na chefia, porém um temporal fê-lo regressar e à Divisão. O no na costa», que o «República» rendeu TME, acaba por ser fretado pela casa Rau aspecto bélico continua a ser um factor a considerar, ao largo de Vigo. & Santos, vestindo, pela quarta vez, novas porém o equipamento/armamento é determinante Ao largo da Ericeira, dado o avistamen- cores, como carvoeiro depois como ou, pelo menos, a potencial capacidade da sua rápi- to de um submarino a WNW da Roca, o «casco nu» (20) efectua mais 16 viagens da instalação, o que implica uma sofisticada con- capitão de bandeira tomou a chefia do até à estrondosa falência dos TME, tendo- cepção. combóio, largou a escolta que andava -se perdido, graças à escassez mundial de (10) O vinho embarcado. ainda menos e, cingido à costa e transportes marítimos organizados, mais (11) Da Empresa Nacional de Navegação, viria a ser, um ano mais tarde, torpedeado nas costas de ziguezagueando a toda a velocidade uma e óptima oportunidade. França. entrou a barra a 7/09. Este submarino era Avaliado em «15.500 libras» (21), a (12) O Radar aguardará pela II Grande Guerra. ... nosso. 18/09/1924, volta, “in-extremis”, à Ma- (13) Numa viagem transporta aviões em caixotes Em meados de Setembro, escoltado rinha de Guerra (MG) (22).  e noutra repatria géneros impróprios para ... con- pelo «Augusto de Castilho» (18) volta a sumo. Brest, sem novidade. (14) Sem evidente redução de custos e introduzin- Com novo capitão de bandeira fará Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves do a latente conflitualidade de duas chefias! mais cinco viagens. Na penúltima o com- 1TEN REF (15) O fim da rotatividade dos combatentes, po- pulista iniciativa de Sidónio Pais, foi algo que muito bóio, com o «Gil Eannes» à testa e a terra, afectou o moral do C.E.P. pois apenas se colmata- vai engrossando até cerca de 70 navios à riam as baixas. chegada a Brest. (Continua no próximo número) (16) Só os oficiais podiam gozar as licenças em Portugal. (17) O nome do autor dos «Quadros Navais» fora dado a um vapor de pesca do alto, o «Serra da Agrela» que voltou a ser mobilizado entre 1939-45. (18) Que numa viagem que se esperava calma, sob o comando do 1º tenente Carvalho Araújo, cobrir-se-á de glória ao salvar o paquete «San Miguel» que pôde seguir, incólume, para os Açores. (19) Muitos militares permaneceram na frente durante os trinta meses do C.E.P. Poucos são os franceses que o sabem. Menos, talvez, os ingleses em cujo exército o C.E.P. esteve incorporado. No War Museum a participação portuguesa é ... omissa. (20) Sem tripulação. (21) A instabilidade da moeda nacional assim aconselhava. O primeiro vapor português para a pesca do bacalhau, o “Elite” da casa Bensaúde. Este vapor comboiou o (22) Com mais 3, um deles a barca «Flores», o “Gil Eannes” em Setembro de 1918, transformado no caça-minas “Augusto de Castilho”. «Rickmer Rickmers» que foi o NE «Sagres», dito I.

20 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA INSTITUTO HIDROGRÁFICO MONITORIZAÇÃO AMBIENTAL DA LAGOA DE ÓBIDOS PROJECTO MAMBO ● O Instituto Hidrográfico (IH), a pedido ondulação, fundeado a uma profundi- do Instituto da Água (INAG), está a realizar dade de cerca de 20 metros na zona exte- uma monitorização ambiental da Lagoa de rior da lagoa, junto à barra. Esta estação Óbidos. O projecto MAMBO, acrónico de vai permitir o registo em contínuo dos Monitorização Ambiental de Óbidos, pro- níveis médios da superfície livre (nível longa-se, numa primeira fase, até Maio de médio do mar), agitação marítima (altura 2001, estando previstos diversos trabalhos e direcção da ondulação) e o perfil verti- ao longo dos próximos meses. cal das correntes. O objectivo deste trabalho é o de esta- As três estações lagunares foram insta- belecer uma rede de monitorização hidro- ladas em locais pre-determinados pelo dinâmica na Lagoa de Óbidos através da INAG, tendo sido instalado em cada instalação de três estações lagunares, uma uma delas os novos marégrafos digitais estação litoral e recolha de dados meteo- adquiridos pelo IH, que permitem o re- Elementos da Divisão de Oceanografia na Lagoa de Óbidos. rológicos e de correntes na zona. gisto em contínuo do nível de superfície para o IH que está agora a usá-los, A estação litoral de observação é com- livre (maré), reduzindo significativa- encontrando-se a Divisão de Ocea- posta por um Acoustic Doppler Current mente o tempo de processamento de nografia a desenvolver o software Profiler (ADCP), com módulo de medição toda a informação recolhida. Estes maré- necessário para o processamento dos de níveis de superfície e características da grafos significam um avanço tecnológico seus dados.

VISITA DO PRESIDENTE DO IFREMER ● Decorreu no dia 5 de Dezembro a visita forma, foi prestada aos ilustres ao IH do Presidente / Director-Geral do visitantes uma apresentação “Institut Français de Recherche pour geral do IH, seguida de debate l’Explotation de la Mer-IFREMER”, Mr. sobre os principais aspectos da Jean François Minster, acompanhado de cooperação luso-francesa. uma delegação constituída pelo Dr. Francis Foram igualmente apresen- Marazanoff (representante da Defesa tados alguns projectos a desen- Nacional), Mr. François Madelain (Recher- volver no próximo ano, nomea- ches Océaniques), Mr. Elié Garmache, e damente a ideia de uma inter- pelo representante do Conselho Científico venção especial nos Açores, em Lisboa, Mr. Jacques Bordé. algumas das necessidades do IH É já antiga a cooperação e colaboração no que diz respeito à Plataforma entre o IFREMER e o IH, nomeadamente Continental e ainda o relaciona- no âmbito das relações bilaterais exis- mento entre a comunidade cien- tentes entre a França e Portugal. Desta tífica, nacional e internacional. Apresentação do I.H. pelo Vice-Almirante Torres Sobral.

PRODUÇÃO DA 10ª CARTA ELECTRÓNICA (CENO) ● Menos de 1 ano após o início da comercialização da 1ª célu- la produzida pelo Instituto Hidrográfico, foi colocada no mer- cado por via dos distribuidores autorizados pelo PRIMAR, a 10ª Carta Electrónica de Navegação Oficial (CENO) S-57/3. A CENO PT324202.000, “Aveiro a Peniche”, para uso da navegação costeira, com uma escala de compilação de 1:75 000 vem contribuir para a cobertura nacional da série costeira de CENO cuja importância é vital para os cerca de 400 navios que diariamente cruzam a costa de Portugal. A cobertura total, em breve, da costa de Portugal por infor- mação CENO costeira será um grande aliciante não só para a navegação nacional mas também para as companhias de navegação internacionais que operam os seus navios nas rotas de/para o Norte da Europa, bem como do Mediter- râneo. A utilização de CENO, num estudo efectuado pela socie- dade classificadora Norueguesa Det Norske Veritas para a navegação nas costas deste país, pode reduzir até 40% a ocor- rência de acidentes marítimos e contribuir assim para evitar os danos gravosos para o meio ambiente, bem como para a A CENO - S - 57/3 “Aveiro a Peniche” redução dos prémios de seguro dos armadores.

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 21 MUSEU DE MARINHA BalançoBalanço dede ActividadesActividades 20002000

GENERALIDADES MUSEU DE MARINHA - VISITANTES EM 2000 Durante o ano de 2000 foram efectuadas diversas inter- venções pontuais nos espaços que albergam a exposição per- manente com a finalidade de mantê-la em condições de apre- Meses sentação e qualidade. Com vista a melhorar os apoios aos visi- GRÁTIS JOVENS ADULTO T.MENSAL tantes foram realizadas obras de renovação das instalações COLECTIVO sanitárias que servem o espaço Loja - Cafetaria. JAN 2.297 760 222 2.679 5.958 O ano de 2000 foi muito preenchido com actividades desen- volvidas quer nas instalações do Museu quer no exterior: FEV 2.545 990 326 4.287 8.148 MAR 3.299 1.605 353 7.862 13.119 • A exposição itinerante do Museu, constituída por um con- ABR 6.123 2.853 483 7.557 17.016 junto de painéis informativos e por 8 a 10 modelos de embarcações, esteve patente ao público nos locais MAI 4.876 2.274 1.875 7.381 16.406 seguintes: JUN 3.469 2.053 267 8.328 14.117 JUL 6.667 3.108 540 4.923 15.238 • De 17FEV a 7MAR - Centro Comercial “Agualva Shopping”; AGO 10.882 5.036 2.965 1.900 20.783 SET 5.598 2.778 666 5.972 15.014 • De 16JUN a 03JUL - Centro Comercial “Vasco da Gama”; OUT 4.700 1.925 444 2.349 9.418 NOV 3.346 885 227 3.898 8.356 • De 03JUL a 24JUL - Centro Comercial “Cascais Shopping” DEZ 3.293 1.116 257 2.247 6.913 TOTAL 57.095 25.383 8.625 59.383 150.486

• De 11 a 27 de Agosto decorreu na instalação do Museu uma mostra de cem navios e embarcações, seleccionadas de entre aquelas que integram a exposição permanente, a qual constituiu a participação do Museu de Marinha no Festival dos Oceanos - Lisboa 2000. Na ocasião foi produzi- do um pequeno roteiro com o texto bilingue portu- guês/inglês com 142 páginas e 185 fotografias, à venda na loja do Museu.

22 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA • De 25 Outubro a 26 Novembro esteve patente no Pavilhão • Em 18 de Dezembro foi inaugurado na Sala das Descobertas das Galeotas, num espaço reservado para exposições tem- um expositor contendo artefactos recolhidos dos destroços porárias, uma mostra de artes plásticas subordinada ao daquela que se presume ser a Nau “Nossa Senhora dos tema “Vocação Marítima” que reuniu três autores, todos Mártires” naufragada junto a S. Julião da Barra. militares do Exército, que apresentaram obras de escul- tura, poesia e fotografia.

No âmbito do programa definido foram realizadas durante o ano diversas intervenções para recuperação de objectos metáli- cos e pinturas do acervo museológico, com recurso a empresas da especialidade.

Desde a inauguração das instalações em Belém, em 15 de • No período de 28SET a 12JAN2001 esteve patente ao públi- Agosto de 1962, o Museu foi visitado por cerca de seis milhões co em Leiria a exposição alusiva à 1ª Travessia Aérea do de pessoas, tendo-se verificado em 2000 um total de 150.486 visi- Atlântico Sul, realizada em 1922 por Gago Coutinho e tantes o que reflecte um aumento de 7 % relativamente ao ano Sacadura Cabral, integrada na iniciativa “Um Balanço do anterior. No gráfico junto é apresentada a evolução das entradas  Século” promovida pela Câmara Municipal daquela do número de visitantes nos últimos cinco anos. cidade. (Colaboração do Museu de Marinha)

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 23 NOTÍCIAS COMANDANTE SUPREMO ALIADO PARA O ATLÂNTICO VISITOU O QUARTEL-GENERAL DA NATO EM OEIRAS ● Realizou-se no passado dia 8 de Janeiro uma visita ao Comando Regional da Aliança Atlântica sediado em Oeiras (SOUTHLANT) pelo General William F. Kernan, Comandante Supremo da OTAN para o Atlântico (SACLANT). Esta visita ocorreu na sequência dos vários contactos que o novo SACLANT tem vindo a estabelecer com os Comandos da OTAN, após ter tomado posse do cargo no dia 5 de Setembro de 2000. O General Kernan, do Exército dos E.U.A., substituiu o Almirante Harold W. Gehman, da Marinha dos E.U.A., que passou à reserva.

COMANDO OPERACIONAL DOS AÇORES ● Decorreu no passado dia 17 de Novembro de 2000 em Ponta Delgada, a cerimónia militar da entrega de comando ao Vice- -Almirante Carlos Monteiro da Silva, presidida pelo Ministro da República para a Região Autónoma dos Açores, a convite do Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, entidade que conferiu posse ao actual Comandante Operacional dos Açores. Estiveram presentes várias entidades civis, eclesiásticas e mili- tares, de onde se destacaram o Presidente da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, o Presidente do Governo Regional dos Açores, Sua Excelência Reverendíssima o Bispo de Angra e Ilhas dos Açores, e os Comandantes das Zonas Marítima, Militar e Aérea dos Açores em representação dos três ramos das Forças Armadas.

O Vice-Almirante Carlos Monteiro da Silva ingressou na Escola Naval em 1961, sendo promovido a Guarda-Marinha em Janeiro de 1965. Como oficial subalterno esteve embarcado em várias unidades navais, com comissões nos Açores, Cabo Verde, Guiné e Angola, tendo em CTEN coman- dado o NRP “João Roby”. Especializado em Comunicações, possui o Curso de Defesa Nacional, o Curso Superior Naval de Guerra, o Maritime Tactical Course e ainda vários outros cursos de comunicações, guerra electrónica e informática, frequentados em estabelecimentos de ensino nacionais e estrangeiros (NATO). Foi Director das Estações Radionavais “Almirante Ramos Pereira” (Apúlia) e “Comandante Nunes Ribeiro” (Algés). Foi Secretário Escolar e instrutor na Escola de Comunicações (G2EA) e professor de Operações Navais no I. S. N. G. No Estado-Maior da Armada chefiou a 6ª Divisão (Comunicações) e na NATO, fez duas comissões, ambas de três anos. No CINCIBERLANT, desempe- nhou as funções de Oficial de Operações e no SACLANT, em Norfolk, USA, funções de Estado-Maior. Promovido a Oficial General em 1996, foi chefe de Gabinete do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas até 1998 e a partir de Novembro de 1999 foi Comandante da Zona Marítima dos Açores e Chefe do Departamento Marítimo.

COMANDANTE DA ESQUADRILHA DE NAVIOS PATRULHA início à cerimónia agradecendo o contributo de todos que com ele trabalharam para o funcionamento e desenvolvimento da Esquadrilha, realçando algumas acções com especial importância e manifestou os votos de felicidades ao Comandante indigitado. Seguiu-se a leitura da ordem da unidade e o louvor concedido ao CMG Castro Centeno, procedendo-se seguidamente à entre- ga/recepção de comando da DRIPAT. O Comandante empossado, CMG Garcia Esteves, fez uma pequena exortação agradecendo a confiança nele depositada para exercer a nova função, realçando que a mesma será desempenhada com lealdade, eficiência, empenho e dedicação. A cerimónia terminou com uma alocução do CALM Alexandre da Fonseca, que enalteceu o excelente contributo do CMG Castro Centeno, realçando algumas das suas acções realizadas com ● Decorreu no passado dia 18 de Janeiro no Salão Nobre do Palácio enorme sucesso. do Alfeite, a cerimónia de entrega de comando da Esquadrilha de Por último, o CALM Alexandre da Fonseca manifestou palavras Navios Patrulhas (DRIPAT) ao CMG Garcia Esteves. de apreço ao Comandante empossado, CMG Garcia Esteves, que A cerimónia, presidida pelo 2º Comandante Naval CALM considerou ter todas as qualificações que o cargo exige, solicitando Alexandre da Fonseca, contou com a presença do CALM EMQ empenho e dedicação, amplamente demonstrados em comissões David e Silva e o Subdirector de Navios CMG Pais Loureiro, entre anteriores. outros convidados. Seguiu-se um almoço de confraternização a bordo do N.R.P. O CMG Castro Centeno, Comandante cessante da DRIPAT, deu “Bacamarte”, onde estiveram presentes todos os convidados.

24 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA NOTÍCIAS

ACADEMIA DE MARINHA

● Com a presença do dades que entravam a vida normal desta própria natureza e missão, e assim ser melhor Almirante CEMA e instituição cultural e que, a manterem-se compreendida. Contudo, um critério doutri- de numerosos mem- tendem a prejudicar o planeamento cultu- nário emanado do Almirante CEMA sobre a bros da Academia de ral em curso, ensombrando a imagem da interpretação do estatuto da Academia de Marinha, teve lugar Academia dentro e fora da Marinha. Marinha, seria decisivo nessa compreensão e no passado dia 16 de Referiu ainda que os dois últimos anos consequentemente na resolução dos problemas Janeiro naquela Aca- foram de intenso labor académico em quotidianos que se apresentam aflitivamente à demia a tomada de condições precárias de recursos, tanto gestão deste peculiar organismo da Marinha. posse dos membros eleitos para os cargos financeiros como humanos; destacando Na certeza porém, Senhor Almirante, de que estatutários durante o triénio 2001 – 2003. os principais marcos miliários entre os o reconhecimento pela Marinha da utilidade da Depois da leitura do termo de posse, resultados da produção: a realização da sua acção e do seu trabalho é para a Academia assinaram os seguintes académicos: 1ª Sessão do Congresso Portugal-Brasil, de Marinha o mais forte incentivo para pros- CALM ECN Rogério d´ Oliveira (Presi- Ano 2000, a única significativa acção de seguir com devoção e entusiasmo no cumpri- dente), Professor Fernando Castelo Branco comemoração dos 500 anos do Desco- mento da sua missão”. (Vice-Presidente, classe de História Marí- brimento do Brasil; o lançamento do pro- Por fim, o Almirante CEMA encerrou a tima), Comte. José Cyrne de Castro (Se- jecto da História Oral da Marinha; a cerimónia com um breve improviso em que cretário-Geral), Comte. José Rodrigues edição dos primeiros quatro volumes da considerou a Academia “como um órgão Pereira (Vice-Secretário, classe de História História da Marinha; a celebração de importantíssimo para a divulgação do Marítima) e Comte. José Malhão Pereira contratos para outros 4 volumes; as espírito marítimo” e ainda “um órgão essen- (Vice-Secretário, Classe de Artes, Letras e comemorações do centenário do nasci- cial de reflexão sobre os poderes marítimos, Ciências), os quais transitaram da Direc- mento do Almirante Sarmento Rodrigues, sobre a nossa vocação, sobre os problemas ção anterior, visto voltarem a ter sido o 1º Fundador e 1º Presidente da Acade- que temos nessa área e portanto um órgão eleitos por unanimidade. mia de Marinha e a edição do respectivo que a Marinha muito considera”, reco- Seguidamente, o Presidente da Acade- Livro de Depoimentos. nhecendo igualmente as várias dificuldades mia usou da palavra tecendo considerações E a concluir afirmou: que preocupam a corporação que chefia. sobre a vida da Academia e das perspecti- “A Academia de Marinha procurará difun- vas futuras, alertando para certas dificul- dir, mais e mais, o conhecimento sobre a sua (Colaboração da Academia de Marinha)

A MARINHA EM LAGOS

● Decorreram nos passados dias 26 a 28 de oficiais do N.R.P. “General Pereira D’Eça” solene que decorreu no salão nobre do edifí- Outubro as comemorações do Dia do ao Presidente da Câmara de Lagos, que se cio dos Paços do Concelho. Município da Cidade de Lagos, nas quais a fez representar pela Vice-Presidente da A sessão solene constou de uma Armada esteve representada pelo N.R.P. autarquia em apreço, contando também, alocução proferida pelo Autarca da “General Pereira D’Eça”. para além dos oficiais do navio, com a dis- Câmara de Lagos seguida de uma con- Inserido nas festividades, foi propor- tinta presença da Directora Cultural do ferência subordinada ao tema “Os direitos cionado um passeio marítimo ao longo da município e Capitão do Porto de Lagos. humanos, génese, evolução, problemáticas e costa do barlavento algarvio para cerca de No Dia do Município, a Marinha repre- sua protecção jurídica”, proferida pelo Juíz quarenta alunos e professores provenientes sentada pelo Capitão do Porto de Lagos e Conselheiro do Supremo Tribunal de de duas escolas secundárias de Lagos. O Comandante do N.R.P. “General Pereira Justiça, Dr. Costa Ferreira, encerrando aludido passeio começou por um almoço a D’Eça”, foram convidados pelo Presidente com a distribuição de medalhas do bordo oferecido pelo Comandante do da Câmara para participar no almoço do município a entidades com actividades N.R.P. “General Pereira D’Eça”, seguido de Dia da Cidade realizado no Hotel Lagos, relevantes ao nível concelhio. uma visita guiada pelo navio acompanhada assim como a estarem presentes na sessão Relativamente à realização do passeio, de uma breve explanação foi salientado ao Coman- sobre a história desta uni- dante do N.R.P. “General dade naval, o carácter das Pereira D’Eça” na pessoa missões atribuídas, a vida a do Presidente da Câmara bordo e, sendo os visitantes de Lagos, a satisfação e alunos do ensino secundário, agrado revelada pelos alu- a divulgação da Marinha e da nos e professores pela opor- Escola Naval com a dis- tunidade proporcionada de tribuição de folhetos informa- visitar e navegar num tivos aos presentes e para navio da Marinha, bem futura distribuição nas esco- como pela forma agradável las envolvidas. e simpática como foram Neste ambiente festivo e recebidos a bordo desta fazendo juz à centenária Unidade Naval. tradição de bem receber e servir da Marinha, foi ofereci- (Colaboração do N.R.P. “General do um jantar na câmara de Pereira D’Éça”)

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 25 NOTÍCIAS COMPCOMAR 2000 As telecomunicações foram desde sempre determinantes na evolução cultural, socio-económica e estratégica da sociedade humana, tendo-se tornado, inques- tionavelmente, num dos assuntos de maior debate, concorrência e galopante evolução dos últimos tempos, a par do desenvolvimento informático, com o qual se encon- tram intimamente ligadas. Com o objectivo de promover as potencialidades das comunicações, bem como estimular o interesse e desempenho técnico-profissional nesta área, tem vindo o Grupo nº2 de Escolas da Armada, através da Escola de Comunicações a realizar anualmente, desde 1974, uma com- petição de comunicações, a COM- Entrega do Prémio pelo representante do Banco Totta & Entrega do Prémio pela representante da PCOMAR, onde são postas à Açores. ParaRede. prova a destreza e a perícia de operadores de comunicações da Marinha de Guerra A projecção e impa- Portuguesa nos mais diversos sistemas de comunicações mil- cto desta competição itares em uso, desde o tradicional morse acústico e luminoso tem-se estendido à aos sofisticados sistemas integrados de controlo de comuni- comunidade civil, tendo, cações, apoiados nos últimos desenvolvimentos da tecnologia inclusivamente, sido de comunicações quer ao nível civil, quer ao nível militar. apoiada pelo Banco Esta competição, realizada entre Março e Junho do corrente Totta & Açores, pela ano (Fases de Selecção e Finais), foi composta por seis provas, ParaRede e pela EID todas elas diferentes, abrangendo os sistemas principais das (Empresa de Investiga- comunicações militares navais (Morse Acústico, Morse ção e Desenvolvimento). Luminoso, Sistema Integrado de Comunicações – SSC e Para além das meda- MOST4, Questinário de Comunicações e Sinalização Visual, lhas/escudetes atribuí- esta última por equipas). das aos militares já Após o términus da COMPCOMAR 2000 os concorrentes enunciados houve ainda ficaram escalonados conforme apresentado no quadro abaixo: lugar à distribuição dos seguintes prémios: •Banco Totta & RECEPÇÃO E TRANSMISSÃO DE MORSE ACÚSTICO Açores: oferta da abertu- 1º CLASS 6311892 1MAR CRO BOURDAIN ERN ALGÉS 2º CLASS 349490 1MAR CRO RODRIGUES NRP H.BARRETO ra de uma conta no 3º CLASS 168288 1MAR CRO CHOUZENDE NRP A. CASTILHO valor de 100 mil escudos nesta instituição bancária Entrega do Prémio pelo representante da EID. RECEPÇÃO E TRANSMISSÃO DE MORSE LUMINOSO para o 1º classificado no 1º CLASS 208694 1MAR CCT BARATA CZMS “Questionário de Comunicações”; 2º CLASS 917590 1MAR CCT MORGADO NRP A. CASTILHO os 3º CLASS 6318591 1MAR CCT FERREIRA CZMS •EID: oferta de dois computadores portáteis para os 1 classifi- 4º CLASS 9339096 1MAR C RAMOS NRP J.CÂNDIDO cados das provas de “Sistema Integrado de Comunicações – SSC e MOST4”; SISTEMA INTEGRADO DE COMUNICAÇÕES - SSC •ParaRede: oferta de três telemóveis para os 1os classificados das 1º CLASS 242089 1MAR CRO PIRES NRP C. REAL provas de “Morse Acústico” e “Morse Luminoso” e para o 2º clas- 2º CLASS 159194 1MAR CRO FARIA NRP C. REAL sificado do “Questionário de Comunicações”. SISTEMA INTEGRADO DE COMUNICAÇÕES - MOST4 Com a realização de mais uma COMPCOMAR, a esfera das 1º CLASS 241692 1MAR CCT FERREIRA NRP V. GAMA comunicações voltou a sair mais rica e prestigiada, donde resultou 2º CLASS 327390 1MAR CCT MARQUES NRP C. REAL uma mais valia no treino e adestramento de vários operadores de comunicações, na divulgação e sensibilização da importância que QUESTIONÁRIO DE COMUNICAÇÕES 1º CLASS 208694 1MAR CCT BARATA CZMS esta área representa nos tempos modernos e acima de tudo na apos- ta ganha ao conseguir-se proporcionar mais um agradável momen- PROCEDIMENTO VISUAL to de convivio e camaradagem no seio de todos os que colaboraram EQUIPA 1ªCLASS 917590 1MAR CCT MORGADO NRP A. CASTILHO directa e indirectamente neste evento. 9339096 1MAR C RAMOS NRP J. CÂNDIDO Um bem haja a todos os militares concorrentes que, de uma 349490 1MAR CRO RODRIGUES NRP H. BARRETO EQUIPA 2ªCLASS 208694 1MAR CCT BARATA CZMS forma leal e dedicada, demonstraram sempre um inquestionável 327390 1MAR CCT MARQUES NRP C. REAL espírito de equipa, exemplo que por certo será seguido pelos 6311892 1MAR CRO BOURDAIN ERN ALGÉS jovens militares de comunicações, contribuindo para o perpetuar do sucesso deste evento.

26 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA CONVÍVIOS ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS E EX-MARINHEIROS DA ARMADA PORTUGUESA DO LITORAL OESTE ● Um grupo de ex-mari- A Direcção que agora entra em fun- Mesa da Assembleia Geral nheiros oriundos da zona ções pretende, no triénio 2001/2003 esta- Presidente: Paulo Jorge Silva Ribeiro(*) oeste de Portugal fundou belecer a sua sede social em Peniche bem Vice-Presidente: Joaquim André uma associação cujos como dinamizar, entre outras activi- Vice-Presidente: Joaquim G. Fontes Pinheiro objectivos principais pas- dades conducentes à angariação de só- Conselho Fiscal sam por criar condições cios, sendo de frisar que para além de Presidente: Inácio Baltazar dos Reis Secretário: Joaquim G. Fontes Pinheiro para a difusão dos ideais ex-marinheiros, os estatutos desta Relator: Jorge da C. Correia Lopo da marinhagem e da Marinha, relevando Associação também permitem o acesso a Direcção também a passagem de informação de e militares da Armada ainda no activo, tal Presidente: Vítor Pedro A. G. Pereira* sobre a Armada Portuguesa em actividades como a sua denominação social indica. Secretário: Luís Alberto Filipe Viola socio-culturais a organizar. Tesoureiro: António Manuel N. Mota No passado dia 28 de Dezembro toma- Vogal: José Carlos da C. Inácio ram posse em cerimónia realizada na Capi- Contactos: Vogal: Antonino Mastins Pinto tania do Porto de Peniche, os Órgãos Sociais Telefone (Provisório) 262781832 (*) – O Presidente da Direcção assume interinamente a Presidência da mesa da Assembleia Geral com dele- da Associação de Marinheiros e ex-Marinhei- E-Mail: [email protected] gação de poderes do seu Presidente eleito. ros da Armada Portuguesa do Litoral Oeste. Endereço internet: www.ammaplo.cjb.net

● Vai realizar-se no próximo dia 25 de Março um almoço de ● Vai realizar-se no próximo dia 26 de Maio no Restaurante Casa confraternização do Destacamento nº 7 de Fuzileiros Especiais – dos Leitões, na Guia – Pombal, um almoço-convívio do recruta- Bolama (1963/65). Para mais informações os interessados de- mento de Março de 1963 a fim de comemorar o seu 38º aniversário. verão contactar para: As inscrições deverão ser dirigidas a: • SMOR FZ António Ponte (Cuecas) • CFR SEB António do Rosário Rodrigues Telf: 21 202 07 58; TM: 96 5432870 Rua Cesário Verde, nº 1 – Vale de Milhaços • SMOR FZ António Lopes (Albernoa) 2855-423 Corroios Telf: 21 204 35 80; TM: 96 6894065 • CFR SEB Rodrigues TM: 965758536 ou Telef: 212541205 ● Vai comemorar-se no dia 7 de Abril o dia da Esquadrilha de • CFR SE Carvalho – Repartição de Oficiais Submarinos. Convidam-se todos os submarinistas e mergu- Telefs: 213945419 – Ext. 6319 ou pelo 212245048 lhadores (na situação activo, reserva e reforma) a estarem pre- • 1TEN OT Pegacho sentes, podendo fazer a sua inscrição, até ao dia 2 de Abril, por TM: 934254392 ou Telf: 212961153 escrito ou através dos telefones: 3404 (int.) (Oficial Dia ES) ou • SMOR SE António 212768233/14. Telef: 212250238 Para efeitos de transportes: ● Vai realizar-se no próximo dia 7 de Abril no G1EA o • SAJ U REF Santos almoço-convívio dos "Filhos da Escola" de Abril de 1964. TM: 962442474 ou Telef: 212593099 Para mais informações, os interessados deverão contactar com: Zé Carlos – Tel. 212723998, 212962877 (Res.), Palma – Tel. ● ta 212751564, Tm. 918183361; Gomes – Tel. 23504468; Luís Ricardo Realiza-se no próximo dia 26 de Maio, em Mozelos – S. Maria –Tm. 966010633; Cadete – Tm. 918836631 ou para [email protected] da Feira, um almoço de confraternização dos “Filhos da Escola” de 1952 a fim de comemorar o seu 49º aniversário. Para mais informações os interessados deverão contactar: ● Vai realizar-se no próximo dia 28 de Abril o segundo almoço • José Vieira Reis de confraternização dos elementos que prestaram comissão de Rua da Fonte, nº 90 serviço em Moçambique (Abril de 1969/Maio de 1971) a bordo 4535 Paços de Brandão do N.R.P. “Álvares Cabral”. Para mais informações os interessa- dos deverão contactar para: • EMQ REF Possidónio Roberto; Telf: 936019978 CLUBE ESCOLAMIZADE • SCH A João Mantas; Telf: 21 3217602 Ext. 4316 PLANO DE ACTIVIDADES 2001 • Ex MAR Q Victor Costa; Telf: 966196845 ● A Direcção do Clube Escolamizade aprovou o Plano de Actividades para o corrente ano que se apresenta seguidamente: ● Vai realizar-se no próximo dia 12 de Maio um almoço-con- 25 MAR...... Assembleia Geral; vívio do Destacamento de Fuzileiros nº 3 que esteve em comis- 28 ABR ...... 15º Almoço Convívio; são em Moçambique entre 1972/74. Para mais informações os 20 MAI ...... Comemorações “Dia da Marinha”; interessados poderão contactar para: 23 JUN...... Mastro/Baile S. João; • SAJ FZE Pacheco (Xangai) 16 SET ...... Passeio Fluvial (Douro/Guadiana); Tel. 21 225 08 14 (Casa); 21 276 10 71 Ext. 1717 (Serviço) 05 OUT ...... Noite de Fados; • Ex-MAR FZE Jorge Duro; Tel. 269594190 10 a 18 NOV ...... Comemorações 10º Aniversário. • Ex-MAR FZE António Frederico; Tel. 265783774

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 27 DESPORTO

Acabado de chegar à Revista da Armada o Anuário PESSOAL MILITAR QUE PARTICIPOU EM Estatístico da Defesa Nacional de 1999, achou-se de interesse CAMPEONATOS NACIONAIS DAS FORÇAS publicar os quadros referentes ao capítulo sobre o Desporto Militar. Numa rápida análise ressalta a realização pela Marinha ARMADAS de 29 Campeonatos e Torneios no âmbito interno em diversas modalidades, organizadas pelo CEFA e Comando do Corpo de Ramo das FA’s Marinha Exército Força Aérea TOTAL Fuzileiros, que envolveram 4.379 atletas, tendo em igual perío- do o Exército realizado 10 provas com 841 participantes e a Atletismo 20 17 17 54 Basquetebol 24 - 24 48 Força Aérea 12 provas que envolveram 769 elementos. A Corta-Mato 40 50 42 132 média de atletas por prova ao nível interno foi de 151 atletas Futebol 5 24 24 32 80 para a Marinha, 84 para a Força Aérea e 64 para o Exército. Natação 23 27 9 59 Ao nível dos Campeonatos das Forças Armadas, a Marinha Orientação 18 19 12 49 entrou com 210 atletas, o Exército com 205 e a Força Aérea com Tiro 10 18 5 33 184, o que correspondeu a uma percentagem de participação Triatlo/Duatlo 15 12 6 33 Voleibol 36 38 37 111 global de 35% para a Marinha, 34% para o Exército e 31% para a Força Aérea. TOTAL 210 205 184 599

COMPETIÇÕES MILITARES POR RAMO DAS FORÇAS ARMADAS

Ramo das FA’s Marinha Exército Força Aérea TOTAL

Modalidade Provas Atletas Provas Atletas Provas Atletas Provas Atletas

Andebol 2 298 ----2 298 Atletismo (de pista) 2 167 1 44 - - 3 211 Atletismo (provas de estrada) 2 144 ----2 144 Basquetebol 2 478 - - 1 30 3 508 Corta-Mato 2 172 1 196 1 97 4 465 Duatlo 1 23 ----123 Equitação ------Esgrima ------Futebol 11 2 404 ----2 404 Futebol 5 2 1.996 1 117 3 384 6 2.497 Judo 2 33 - - 1 12 345 Meia-Maratona ----161161 Natação 4 153 1 101 1 16 6 270 Orientação 2 67 1 124 - - 3 191 Paraquedismo Desportivo ------Pentatlo Militar - - 1 39 - - 139 Prova D. Nuno Álvares ------Ténis ----138138 Ténis de Mesa ----144144 Tiro de Espingarda - - 1 41 - - 141A cadete Sofia Miranda, vencedora Tiro de Pistola 2 65 1 40 - - 3 105 em diversos estilos no Campeonato de Tiro aos Pratos ----127127Natação das Forças Armadas em Triatlo 1 15 1 17 - - 2321999, tendo integrado no mesmo ano Vela 1 12 ----112a delegação ao CISM (Conselho Voleibol 1 382 1 122 1 60 4 564 Internacional do Desporto Militar), TOTAL 29 4.379 10 841 12 769 51 5.989 que se realizou em Zagreb, onde re- gistou excelente participação.

28 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA hoppi

Novo Sistema de Crédito

Acordos: ExéIoto. PSP. GNR B F: AéruIiI (M!Irrtla 6fT) 1ISt1.do) Porto

Reabre com novos espaços e novos horários 2" a sábado das lQl às 2211 Lisboa

2" a sábado das 101 às 191 HISTÓRIAS DA BOTICA (6) OO PoetaPoeta

odos tivemos porventura períodos deixam – percorri, noites a fio, certas ruas simples e livre, onde se encontra paz. Por difíceis, em que a vida parece um de Lisboa, habitadas por outras almas esse tempo, enfim, descobri que a poesia T mar revolto, tempestuoso... Para penadas, que, como eu, fugiam de fantas- fala de factos reais e objectivos, só que os alguns, o panorama fica demasiado mas ferozes que molestam a alma. Nessa poetas são homens tristes... negro, a solidão demasiado pesada e, altura, partilhei cervejas e conversas, com Conheci já muitos poetas, em muitos numa noite escura, decidem deixar de cidadãos que habitam em becos escuros e terrenos da vida, de todas as idades e viver... Aqueles que resistem, enrique- de má reputação, pobres e sem nome, profissões. Na Marinha também há muitos cem, ficam mais fortes e melhores pes- mas ricos em histórias. – penso mesmo que a palavra saudade soas. Nessa época, ainda, descobri que Avec deve ter sido inventada por um mari- Também eu sei o que é estar só. Num le temps de Leo Ferré é a canção mais nheiro. De todos, recordo aqui um artí- tempo que nunca está longe – porque o bela do mundo, que uma determinada fice, que em tempos conheci numa fragata tempo de cada um, saberá o leitor, não se árvore (na frente do Hospital de São José), moderna. Era um homem de meia idade, mede em anos ou meses, mas em tem alma profunda e que há um momento adaptado, mas solitário. Muito magro, emoções, e algumas emoções nunca nos do dia (uns segundos antes do sol nascer), usava um bigode fino e retorcido, sobre uma face exageradamente branca, contrastando com um cabelo baço e negro, quase sem vida. Lembrava um intelectual tísico, do princípio do século XX, daqueles que se passeavam em sanatórios, imacu- ladamente limpos, em montanhas secas e frias, sempre de uma beleza extraordinária. Com estes tristes homens do passado, parti- lhava – como mais tarde pude constatar – algum desencanto, por uma vida marcada por um padecer lento e insidioso. Coordenava um jornal de bordo, que me interessou pela novidade. Era muito participado pela guar- nição, sobretudo pelos mais jo- vens. Havia artigos, sérios, sobre muitos assuntos: cinema, música, automóveis, motos e, pasmo dos pasmos, havia uma página com poesia. Ainda que o jornal fosse alvo do ostracismo e da crítica de muitos, era uma publicação inte- ressante, muito mais rica que os habituais jornais de bordo e pela conjugação de vontades que reu- nia, uma grande manifestação de harmonia. Sob todos os aspectos, tal publicação constituía uma oposição forte à cultura pimba, que hoje controla o nosso meio – prin- cipalmente audiovisual. Provava, também, que um grupo de pessoas simples pode marcar a diferença. Era, se o leitor quiser acreditar, pelo conteúdo artístico, um desas- sombrado acto de coragem a bordo de um navio. O nosso poeta tinha sido o prin- cipal impulsionador e escritor da maioria das poesias. Encorajava, frequentemente, colaborações de

30 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA outros e fazia do jornal, apesar das limi- benéfica, que, além do mais, congregan- limpeza, que num qualquer escritório de tações logísticas de bordo, uma publi- do outros com ele, contribuía para o bem executivos. – Porque a verdadeira higiene cação consistente. estar de muitos. Com ele, muitos apren- é a das intenções... Mantinha-se, no entanto, um homem deram que criar eleva o espírito, princi- O nosso poeta artífice ousou ser dife- só. Quem o procurava, percorria os corre- palmente de quem cria. rente e, de alguma forma, libertou-se. A dores laterais, ao pôr do sol, e lá estaria Penso, hoje, depois de tanto sofrimento ele e a todos os artistas, dispersos, que ele, sozinho, olhando o horizonte dis- humano testemunhado, que através da por aí desafiam a vida, as minhas sau- tante, ou, em dias ventosos, de olhos arte (qualquer arte), se pode atingir um dações. fechados, silencioso, apreciando o frio estado de graça capaz de matar até a Da vida, aceite o caro leitor, ficará ape- gratuito, que lhe lavava a alma e o fazia morte, que vai no coração de cada um de nas aquilo em que verdadeiramente sorrir, suavemente... nós e com a qual todos temos encontro acreditamos e pelo qual nos sacrificamos Como todos os poetas, tinha uma marcado. com paixão, porque o Homem é frágil e o história pessoal cheia de escolhos. Tinha Ora, desengane-se o leitor, a arte não tempo é passageiro. Só as construções do sido órfão. Um tio, com demasiado gosto está nas mãos de alguns intelectuais, nem coração vão perdurar... para sempre. pelo vinho, foi a sua família. Veio cedo nas verdades plastificadas, embebidas em para a Marinha, porque gostava da distân- histórias cor de rosa, vendidas como Deixo-vos com uma das pequenas e cia proporcionada pela ilha, que é cada objectivos desejáveis, que hoje tantos nos simples poesias, do nosso marinheiro navio, no mar imenso... querem vender. A arte, a genuína arte, artista. Havia uma namorada, mas também está na alma anónima de cada um. Todos essa lhe causava dor, pois levava uma a têm, porque a dor é universal, logo a vida inconstante de emprego em criatividade também o deve ser... À coragem emprego, fumava em demasia e não dava Infelizmente, alguns preferem esconder as Não se prende o coração. a segurança e o amor devidos à filha de suas lágrimas nos néons que nos ofuscam Não se mata a vontade. ambos – a grande paixão do nosso poeta. a vida, abafando o seu Eu e o de outros. Não floresce o medo. E escrevia, porque escrever libertava, Tornam-se assim maus e pobres, muitas porque escrever era belo e aliviava a vezes prejudicando outros no processo, Só fica o temor do momento crueza da vida... porque a pior pobreza é a do espírito... em que, humilhado, aceito Foram muitas as horas que passámos a E é por tudo isto, meus caros amigos, tal sofrimento. falar dos escritos dele, que eu apreciava e que a pobreza de coração, não é pri- sobre temas esotéricos, pouco habituais a sioneira de dinheiro ou condição social, Que vivam os poetas!!  bordo de um navio, das quais guardo não é exclusiva dos famosos e dos distin- gratas recordações. tos, nem se associa a raça ou religião. É O nosso militar era, tenho a certeza, por isso, ainda, que num sem abrigo da um exemplo de coragem e de criatividade Almirante Reis, se pode encontrar maior Doc.

BIBLIOGRAFIA TROVAS do meu pensar e do meu sentir Só o nome de “Trovas” desvia para escala de desta similitude “Cada qual é como é / mas a valia menos presunçosa a poesia que se nos poesia é só uma”, para nós, Roberto Durão apresenta. Vêm-nos à ideia as linhas da vai sem dúvida mais longe, possui outros Literatura que falavam de trovadores aí pelos alicerces, avança em poesia mais rasgada, primeiros séculos da nossa História. Mas tal mais livre, mais solta, e, sem enjeitar a rima e ideia logo se desvanece perante um conteúdo a métrica, também manda passear a sonori- que já não pergunta “sabedes novas de meu dade dessa música e rasga em frente, descon- amor, ai Deus i u é” e vai antes para o entre- traído e importante por caminhos muito mais laçar de palavras e de ideias com desfecho soltos. É talvez, mesmo, a sua melhor poesia, inesperado e fundo realmente poético. E o cheia de lirismo, cheia de vigor, de valor interesse, longe de se quedar pelo roman- poético, enfim. tismo de antanho, cresce a par e passo que Uma nota de agrado igualmente para o pre- nos embrenhamos pelas páginas adiante. fácio de António Manuel Couto Viana, muito Com que suavidade e gosto se avança pelas bem elaborado e desenvolvido, da mesma páginas fora! É um livro leve e delicioso este forma que para a capa, originalidade e ade- do coronel Roberto Ferreira Durão – 140 quação, que completa bem o conteúdo, obra páginas que se passam com a avidez de ler de Pedro Dória. mais, tal é o gosto que desperta a sua leitura. Como camarada agradavelmente surpreendi- O nome de Roberto Durão não é propria- do com a aparição destas belas páginas – mente o de um qualquer desconhecido que como livro é uma estreia – deixamos aqui se abalança arrojadamente a apresentar um livro. Ele já vinha com o maior gosto a notícia do seu aparecimento, uns versos que escrevendo em revistas e jornais, militares e não só; já vinha vale a pena ter ao lado, e não dizemos que vale a pena ler, pois criando um nome. Livros, ainda não. não é pena, é prazer. (Até eu agora fiz esta rima). A Revista da Professor largos anos no Colégio Militar, cavaleiro, comando, Armada agradece o exemplar oferecido.  combatente, a sua mão direita deixada em África. E se, por vezes, nos faz lembrar o Aleixo, com suas quadras vivas e surpreenden- Sousa Machado temente perspicazes, e embora ele próprio responda a propósito CMG

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 31

QUARTO DE FOLGA JOGUEMOS O BRIDGE PALAVRAS CRUZADAS (Problema Nº 30) (Problema Nº 318) Tente primeiro resolver a 2 mãos tapando E-W 1234567891011 Norte (N): 1 ♠ ♥ ♦ ♣ 2 8 R A D 3 7 D 4 6 10 3 4 5 6 5 Oeste (W): 4 Este (E): ♠ ♥ ♦ ♣ ♠ ♥ ♦ ♣ 6 V V R R R 9 7 6 7 V V 10 8 6 5 8 10 10 9 7 5 4 9 9 9 3 8 8 10 7 Sul (S): 11 ♠ ♥ ♦ ♣ A A D A HORIZONTAIS: 1 – Medula (ant); língua de terra que liga D 5 2 3 duas partes de um continente e separa dois mares. 2 – Culto das serpentes. 3 – Dois romanos; que é do ar; duzentos 2 4 2 romanos. 4 – Rio de Portugal (inv); conjunção; discurso em 3 público. 5 – Escrava egípcia de Abraão e mãe de Ismael, 2 que foi expulsa com seu filho depois do nascimento de Isaac; montanha da Grécia (Macedónia). 6 – Espécie de Ninguém vulnerável segue-se o seguinte leilão: albufeiras; grande lago salgado da Ásia. 7 – Pronome inde- fenido; princípios (fig). 8 – Cuidado; solta mios; dignidade Sul Oeste Norte Este militar entre os turcos. 9 – Moeda chinesa; apelido de com- ♥ ♣ 1 2ST(a) 4 (b) - positor italiano; prefixo negativo. 10 – Planta euforbiácea ♠ ♦ 4 (c) - 5 (d) - medicinal (pl). 11 – Cidade de Itália; sacrifício do sangue e ♥ 6 todos passam corpo de Cristo celebrado no altar pelo sacerdote. (a) marcação convencional que mostra um bicolor ♦ - ♣ (b) bom apoio em ♥ e singleton a ♣ (splinter), senão marcava só 3 ♣ VERTICAIS: 1 – Chouriço de sangue; calmaria. 2 – O (c) talvez um pouco forçado mostra controle de 1ª (A ou chicana) a ♠ mesmo que ofiologia (pl). 3 – Metade de eiró; acto ou efeito (d) mostra o seu controle de 1ª a ♦ de sair; duas de valsa. 4 – Elogios (fig); rio da Suíça (inv); ♥ ♠ regra obrigatória ou necessária. 5 – Mais adiante; trituras. 6 Como deve S jogar para cumprir o contrato de 6 com saída a V? – Navegas (fig); estadista inglês (ap). 7 – Insípidos (Bras); liguem. 8 – Senhora em inglês; pequeno arco; três romanos. (Solução neste número) 9 – Planta liliácea da China; rio do Canadá; reis. 10 – Estudo difuso (pl). 11 – Encapotados; casta de uva branca, SOLUÇÕES produtiva e temporã. PROBLEMA Nº 30 O leilão ajuda e a saída pode indicar 2 ou 1 carta; apurar o naipe sem que a mão vá para E é indispensável, para evitar SOLUÇÕES o ataque a ♦ e poder baldar o ♦ perdente, pelo que a PALAVRAS CRUZADAS Nº 317 solução e linha de segurança está em deixar fazer a vaza. W ♣ ♥ ♦ jogará R ou V, pois não poderá arriscar , mas vamos HORIZONTAIS: ♥ admitir V e o carteio desenvolve-se como segue: morto faz 1 – Osteometria. 2 – Reis; alia. 3 – Apares; si. 4 – Ar; Organsim. ♥ ♣ ♣ ♥ ♠ R e joga A e que corta no morto; joga D e a seguir 5 – Noel; ata; op. 6 – Adorada. 7 – Ca; ira; olid. 8 – Basta; bau. ♣ para a D, faz o A e joga o último para cortar com o últi- 9 – Oria; iomr. 10 – Moi; chiba. 11 – Ossianismos. mo trunfo do morto; joga outra ♠ para cortar e agora tira o trunfo que ainda está de fora e no ♦A vai ao morto para bal- VERTICAIS: dar na ♠ apurada o ♦ perdente. Repare que, se cair na ten- 1 – Organicismo. 2 – Se; ro; os. 3 – Tia; ea; bois. 4 – Espoldrar. tação de fazer ♠D na primeira vaza, já não conseguiria evi- 5 – Ar; oasica. 6 – Margarita. 7 – Eleata; CI. 8 – Tisnado; IHS. tar o cabide, a menos que W tivesse 2 ♠, por isso jogue 9 – Ra; alboim. 10 – Sio; iambo. 11 – Alimpaduras. sempre pelo seguro. Nunes Marques Carmo Pinto CALM AN 1TEN REF

REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2001 33 NOTÍCIAS PESSOAIS

COMANDOS E CARGOS RESERVA NOMEAÇÕES ● CMG António Manuel Varela Marques de Sá ● CMG ●VALM José Manuel Castanho Paes, para o cargo de vogal mili- António Jorge Guerra ● CFR João Coelho Ramos tar do Supremo Tribunal Militar ● CMG Fernando José Ribeiro ● 1TEN Francisco José Russo Mantas ● 1TEN António de Melo Gomes, Comandante da Força Naval Permanente do Patrício Jorge. Atlântico (STANAVFORLANT) ●CMG Aniceto Garcia Esteves, Comandante da Esquadrilha de Navios Patrulhas, em subs- REFORMA tituição do CMG Duarte José Cruz de Castro Centeno ● CTEN ● CALM João Manuel Teles Pereira Germano ● SMOR José Filipe Alexandre Silvestre Matos Nogueira, Capitão do Porto da Manuel Correia Gomes de Azevedo Malva ● SCH Albertino Horta e de Santa Cruz das Flores, em substituição do CFR Costa Henriques ● SAJ Francisco Andrade Maneta ● SAJ Marcelo Leal Pamplona ● 1TEN Paulo Jorge da Silva Pinho, Júlio Augusto Baião ● SAJ Álvaro Beites Coelho ● CAB José Comandante do N.R.P. “Delfim”, em substituição do CTEN José Pereira Izidoro ● CAB José Cipriano Morgado. Paulo Duarte Cantiga ●1TEN Mário Francisco da Silva Gouveia, Comandante do N.R.P. “Barracuda”, em substituição do CTEN Fernando José Massa Madeira Proença Nunes ●1TEN Pedro Gil FALECIMENTOS Miranda de Castro, Comandante do N.R.P. “Zambeze”, em ● 1TEN OT REF Fernando do Nascimento da Silva substituição do 1TEN António Pedro Ferreira Moreira ● 1TEN Marta ●1TEN SG REF Luís Ernesto Nunes Rosa ● 1TEN Manuel João Ribeiro Parracha, Comandante do N.R.P. “Geba”, SG REF Belmiro Bandeira Batista ● SMOR CM REF em substituição do 1TEN Nuno Filipe Cortes Lopes ● 1TEN Joaquim António Leal ● SAJ E REF Augusto André Jorge Manuel Martins da Cruz, Comandante do N.R.P. “Cacine”, ● SAJ CE REF Acácio Martins da Costa ● SAJ A REF em substituição do 1TEN Fernando Manuel Carrondo Dias. Manuel Pereira Soares ● SAJ FZ REF Pompeu Cardoso ● 1SAR E REF Laurentino Ferreira dos Santos ● 1SAR A EXONERAÇÕES REF Manuel Duarte Mendes ● CAB A REF Leopoldo ● 1TEN Jorge Manuel Martins da Cruz exonerado do Justo ● CAB CM REF Jacinto Lopes de Carvalho ● CAB cargo de Comandante do N.R.P. “Cunene”. TFH REF Serafim Carvalho da Mota. SAIBAM TODOS ADMISSÃO DE VOLUNTÁRIOS PAINEL SOBRE DETECÇÃO REMOTA DO SEXO M/F NA CATEGORIA No dia 18 de Abril terá lugar na Escola Naval um Painel subor- DE OFICIAIS E PRAÇAS dinado ao tema “Detecção Remota”. O Painel, organizado pelo De- Encontra-se aberto o concurso para admissão de cidadãos dos partamento de Marinha da Escola Naval, tem como objectivo pri- sexos masculino e feminino voluntários para a prestação de serviço mário a formação extracurricular dos alunos e está aberto à assis- em Regime de Voluntariado na categoria de oficial, na classe de tência da Comunidade Naval, dado se afigurar de grande interesse Técnicos Superiores Navais (TSN) e Técnicos Navais (TN) e na pelos assuntos que serão expostos, de acordo com o seguinte pro- categoria de Praças. grama provisório. ADMISSÃO DE OFICIAIS HORÁRIO TEMA PALESTRANTE (ENTIDADE) O prazo limite de entrega de documentos é até 30 de Março Introdução à 1000-1030 Detecção Remota CTEN Dionísio Varela (EN) de 2001. Sistema de Radar Dr. Sérgio Barbosa 1030-1130 Os candidatos seleccionados serão incorporados em 5 de Meteorológico Nacional (Instituto de Meteorologia) Junho de 2001. 1130-1220 Professor Doutor Alves Moreira Radar para o VTS (Instituto Superior Técnico) ADMISSÃO DE PRAÇAS Radar ISAR para Reconhe- Professor Doutor José Bioucas 1400-1500 A entrega de documentos deverá ser feita até ao dia 2 de Abril cimento de Plataformas Dias (Instituto Superior Técnico) Detecção Remota por Drª. Dulce Lajas de 2001. 1500-1600 As inspecções médicas e os exames psicotécnicos terão lugar de Satélite em Meteorologia (Faculdade de Ciências) Aplicações Acústicas em 2 a 18 de Maio de 2001 e a incorporação em 18 de Junho de 2001. 1600-1700 1TEN Artilheiro Oceanografia e Hidrografia (Instituto Hidrografia) Para mais informações, os interessados poderão contactar para: Dado o número limitado de lugares disponíveis, as inscrições Centro de Recrutamento da Armada, Instalações Navais de Alcântara, Praça devem ser efectuadas até 11 de Abril através do telefone interno da Armada, 1350-027 Lisboa; Telf: 21 394 54 69 1509 da Escola Naval ou por mensagem. Número Verde 800 20 46 35 (chamada grátis) Gabinete de Divulgação e Informação da Marinha, Praça do Comércio, 1100- 148 Lisboa Codex; Telf: 21 342 94 39 / 21 342 94 08 RECTIFICAÇÃO Comandos de Zona Marítima; Capitanias e Delegações Marítimas; Câmaras Por lapso, no verso da contra-capa da edição nº 339 – Fevereiro de 2001 da Municipais; Revista da Armada, no Património Cultural da Marinha - 24 . O Atlas de Ortélius e o Mais Antigo Mapa de Portugal, no 7º parágrafo, último período, deverá ler-se: Nas Regiões Autónomas ... Satisfeita pelo cartógrafo a pretensão do humanista, a carta é apresentada Comandos de Zona Marítima; Capitanias e Delegações Marítimas; Câmaras e oferecida ao Cardeal italiano em 1560 em Roma acabando por entrar no Municipais [email protected] domínio público em 20 de Maio de 1561.

34 MARÇO 2001 • REVISTA DA ARMADA Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

25. UM LIVRO DE BOLSO DO REI D. CARLOS

O rei D. Carlos, sabemos bem, foi um distinto pintor, cuja vocação se definiu quando tinha tenra idade. Recebeu lições de Tomaz da Anunciação, que foi director das Galerias de Pintura do Palácio Real da Ajuda e, depois, de Miguel Ângelo Lupi. Para aperfeiçoar a técnica de aguarela, seu pai, D. Luís, convida Henrique Casanova. D. Carlos ascende ao trono em 1889 mas, apesar dos seus afazeres, encontra sempre um tempo livre para desenhar e pintar. Participa em exposições. É consagrado como grande artista. Sendo de profissão e hierarquia real, como nos diz Ramalho Ortigão, D. Carlos não é um pintor palaciano, intérprete de elegâncias privilegiadas, retratista de duquesas etéreas e de vaporosas prince- sas. Não é encantado pelos provocantes atractivos de moda, de elegância, de luxo cosmopolita de castelo ou de casino. O que elege são as paisagens do torrão alentejano e das campinas do Ribatejo, dos lugares dos casais, dos montes, das vastas searas, da charneca perfumada. Ramalho fala-nos ainda do mar da costa de Portugal. Neste mar, em frente do terraço da cidadela de Cascais, não navegou durante quinze anos embarcação de alto bordo, de pesca ou de cabotagem, cuja forma e cuja fisiono- mia, de uma ou outra vez, não fosse reproduzida graficamente e não ficasse inscrita nos registos do artista invisível, que do interior dessa habitação régia, durante algum tempo a envolveu, como a luz benigna dos faróis, na cariciosa estima da arte. Estas palavras que destacamos da homenagem prestada a D. Carlos, ainda no ano em que este soberano foi assassinado (1), valem por terem sido escritas por quem, durante anos, não poupou o soberano nas suas bem conhecidas Farpas. Pois bem, o livrinho de bolso que hoje apresentamos, no qual o rei tomou os seus apontamentos para futuras pinturas, contem mais de meia centena de aguarelas e esboços a lápis, em páginas com as dimensões de 158x93 mm. Alguns dos navios representados identificam-se pelos nomes escritos à margem, como acontece com o Bissau, o Afonso XIII, o Loanda, o Emma der Netherlanden, o Baltimore. Um outro, o Goaland, vapor francês, de rodas laterais, além do nome, tem a data de 5 de Fevereiro de 1890. A Vega, também está datada de Novembro de 1890. Assim, ficámos, a saber o período em que este livro foi utilizado. E neste é importante dizer-se, a qualidade das aguarelas é tal que mostra bem que Casanova não foi mais do que mestre de D. Carlos e não, como por vezes se pre- tende insinuar, quem ajudou e deu os últimos retoques aos seus trabalhos. De facto, o traço e o modo como usa o pincel mostram bem o artista que foi o penúltimo rei de Portugal. Existe um outro livrinho, de dimensões idênticas, no Museu Soares dos Reis, mas onde D. Carlos apenas deixou desenhos a lápis. Como é que esta preciosa peça veio parar ao acervo do Museu de Marinha? Sem dúvida que a serendipidade (2) tem muita força no trajecto das obras de arte. Veja-se este caso: No dia 12 de Junho de 1981, inaugurou-se no Museu de Marinha a exposição “O Rio Tejo-Fotografias”, onde se apresentava uma pequena parte desse magnífico espólio que é o arquivo fotográfico deixado por Henrique Seixas. Entre os convidados estava Ivo Cruz. António Cardoso apresentou-me este insigne maestro que, a meio da conversa, nos disse que tinha visto na Livraria Campos Trindade, um livro de aguarelas do rei D. Carlos. Corremos à rua do Alecrim 44 e Tarcísio Trindade, apesar de não ter a obra à venda, atendendo a que ela iria para o sítio certo, estabeleceu o preço simbólico de 45 contos e a aquisição faz-se de seguida. Foi assim que entrou no Museu de Marinha esta bela recordação dum rei que foi artista e marinheiro.

(1) S.M. El-Rei D. Carlos I e a Sua Obra Artística e Scientífica, Lisboa, 1908. I parte: “A Obra Artística”, por Ramalho Ortigão, II Parte “A Obra Scientífica”, por Albert Girard. (2) Revista da Armada nº 277 Jun 95. Museu de Marinha (Texto de A. Estácio dos Reis, CMG) Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

25. UM LIVRO DE BOLSO DO REI D. CARLOS Fotos de Rui Salta, Museu Marinha PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 341 • ANO XXX ABRIL 2001 • MENSAL • 250$00

AMARINHA NO DOURO Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas

Virar de Querena O processo de inspeccionar ou reparar as obras-vivas dos navios encontrou uma solução (antes da existência de docas e planos inclinados) que se designa por “virar de querena”. Essa operação consistia em encostar o navio a uma barcaça apropriada, dispondo de cabrestantes, o que permitia incliná-lo, puxando pelos mastros, até que as obras-vivas ficassem a descoberto. Dizia-se também “dar lados” e quando se punha a quilha a descoberto, então, era “dar lados reais”. (Texto do livro “O Dique” do CMG Estácio dos Reis) Na foto de cima, visto de proa, encontra-se o palhabote “Indiana” virado de querena, reparando as obras-vivas junto à quilha em Alcântara, em 1920. Na foto de baixo, a mesma embarcação, no mesmo local e data, vista de amura. SUMÁRIO Publicação Oficial da Marinha Periodicidade mensal Nº 341• Ano XXX Abril 2001 Director CALM EMQ RES Luís Augusto Roque Martins Um dia na Escola Naval - “Alma Mater” Chefe de Redacção da Marinha. CFR REF Jorge Manuel Patrício Gorjão Redacção 2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito Secretário de Redacção 5 1SARG T Vitor Manuel Gaspar Lopes Colaboradores Permanentes CMG REF Raúl de Sousa Machado CTEN FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos CTEN Abel Ivo de Melo e Sousa 1TEN REF Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves Administração, Redacção e Publicidade Fuzileiros em Timor. Edifício da Administração Central de Marinha Revista da Armada Rua do Arsenal 12 1149-001 Lisboa - Portugal Telef: 21 321 76 50 Fax: 21 347 36 24 Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt O património herdado pelo e-mail da Revista da Armada Grupo Nº 2 [email protected] de Escolas da Armada. Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito, montagem e produção Página Ímpar, Lda. 17 Estrada de Benfica, 317 - 1º F 1500-074 Lisboa Tiragem média mensal: 6000 exemplares Preço de venda avulso: 250$00 A intervenção da Marinha Registada na DGI em 6/4/73 nas operações no Rio Douro com o nº 44/23 e no mar territorial. Depósito Legal nº 55737/92 ISSN 0870-9343 21 PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 341 • ANO XXX ABRIL 2001 • MENSAL • 250$00 FOTOGRAFIAS ANTIGAS, INÉDITAS OU CURIOSAS 2 PONTO AO MEIO DIA 4 O “GIL EANNES” ENTRE A GUERRA E A PAZ 8 SAIBAM TODOS 15 A MARINHA DE D. MANUEL (13) 16 CITAN 24 NOTÍCIAS 26 AMARINHA NO DOURO Primeiro mergulho. HISTÓRIAS DA BOTICA (7) 30 Foto cedida gentilmente pela SIC. CONVÍVIOS 31

ANUNCIANTES: CONVÍVIOS 33 Clínica Santa Madalena; INCM - Imprensa Nacional Casa da Moeda, S.A; OGFE - Oficinas Gerais de Fardamento QUARTO DE FOLGA 34 e Equipamento; TELERUS - Sistemas de Telecomunicações, S.A. PATRIMÓNIO CULTURAL DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 3 PONTO AO MEIO-DIA

Cartografia Marítima Um Imperativo Público

cartografia marítima é decisiva desnecessário incrementar os esforços menor custo e risco, se obter a infor- no progresso de Portugal, por- de investigação para fins cartográficos; mação, disponibilizar os produtos e Aque precede qualquer outro por outro lado, porque as cartas maríti- dispor das capacidades que uma multi- tipo de utilização permanente e ren- mas (náuticas, sedimentológicas, bati- plicidade de utilizadores necessita para tável dos oceanos. Ontem, como na métricas, de apoio às pescas, para na- actuar nas áreas do desenvolvimento e actualidade, ao determinar os custos e vegação de recreio, etc.) são vendidas a da segurança nacional. Por isso, fre- os riscos da utilização do mar, interfere um preço marginal, quando compara- quentemente é uma tarefa confiada em em actividades essenciais ao desen- do com os custos da sua produção, grande parte aos serviços hidrográficos volvimento; ao condicionar o desem- consideram essa actividade ruinosa das Marinhas de Guerra, entidades penho dos navios da Armada, afecta a para o Estado, pelo que pode ser pro- com responsabilidades naquelas duas capacidade de realizar as operações gressivamente confiada a entidades áreas. Todavia, apenas com investimen- necessárias à manutenção da segu- privadas com interesses específicos no to adequado poderão cumprir as tare- rança. mar. fas que lhes competem no capítulo da Na perspectiva do desenvolvimento, Relativamente ao esforço de investi- cartografia marítima. a cartografia marítima, por ter relevân- gação, importa esclarecer que a tecnolo- O actual Director do Instituto Hidro- cia na exploração de recursos, nas obras gia evolui constantemente, novos peri- gráfico tem reiterado o cometimento a costeiras e portuárias, na gestão do li- gos são encontrados frequentemente e este Instituto do projecto de extensão toral e na segurança da navegação: con- os requisitos de utilização do mar são da Plataforma Continental, à luz do tribui para a rentabilidade das activida- cada vez maiores. Por isso, a cartografia Direito Internacional, como a mais des piscatórias e mineralíferas; influen- marítima obsolesce em poucos anos e importante tarefa cartográfica nesta cia a localização das indústrias que, deixa de servir as necessidades dos transição de século. A sua execução preocupadas com o competitividade seus utilizadores. Nenhum país, nem obriga à reconversão e ao reequipa- global, procuram acessos fáceis e rápi- mesmo os mais ricos e poderosos e mento urgente dos dois navios hidro- dos aos mercados de importação e com reduzidas costas marítimas, con- gráficos da classe “D. Carlos I”. O inves- exportação; facilita a expansão do turis- seguiu ainda concluir ou sequer abran- timento necessário, sendo desprezível mo associado à navegação de recreio e à dar o ritmo das investigações hidro- quando comparado com os custos de indústria dos cruzeiros; e reduz a pro- -oceanográficas com finalidades car- manutenção anual das estradas e das babilidade de ocorrência de acidentes tográficas, apesar do extraordinário ferrovias nacionais, proporcionará que coloquem em perigo os navios, as aumento de rendimento dos trabalhos benefícios do maior significado para tripulações, as cargas e, consequente- de mar e dos estudos de gabinete. um pequeno país, periférico em termos mente, os ecossistemas marinhos. Quanto aos custos importa referir de transportes terrestres, mas central, No campo da segurança, a Armada que o valor de uma carta náutica não por localizado na encruzilhada das necessita de estar apta para realizar ac- se pode reflectir no seu preço. Como principais rotas marítimas mundiais. ções militares de diversos tipos, para bem público deve ser acessível aos Por isso, por mais difícil ou com- além de tarefas de busca e salvamento, mais diferentes utilizadores. Este as- plexa que seja a situação de Portugal, de fiscalização das pescas, e de protec- pecto é significativo porque, quando as por prementes que sejam outras activi- ção ambiental. Em todas estas acções a actividades cartográficas são privadas, dades, não empregar, em tempo, os informação cartográfica é essencial pa- apenas permitem a satisfação de neces- recursos indispensáveis àquela tarefa, ra: a utilização de rotas mais curtas e sidades económicas específicas de equivale a hipotecar irremediavel- seguras; a movimentação dos navios a curto prazo, e nunca se alcança um mente o futuro. Conduz a deixar a ou- maiores velocidades; a patrulha de mínimo de coordenação entre os pro- tros a iniciativa e a primazia de esco- áreas com menos meios; as operações motores de diferentes estudos. Em lha. Infelizmente, no passado repeti- de limpeza de minas; as acções anti- consequência, a cobertura cartográfica mos este erro demasiadas vezes e -aéreas, anti-superfície e anti-submari- reduz-se drasticamente e os benefícios encontramo-nos na iminência da sua nas; e o apoio à movimentação estra- de acesso a essa informação são anula- reincidência, quando se perspectiva a tégica de meios para teatros de ope- dos. redefinição dos limites de jurisdição rações diversificados e distantes. A experiência verificada em diversos marítima dos Estados ribeirinhos.  Como o país atingiu um nível razoá- países comprova claramente que a vel de conhecimento do mar, há opi- realização da cartografia marítima com António Silva Ribeiro niões que, por um lado, consideram meios públicos é a única forma de, ao CFR

4 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA UmUm diadia nana ...... EscolaEscola NavalNaval

Ouvidas, em silêncio, as inter- venções de cada um dos cadetes a uma questão aberta e previa- mente conhecida e pousada a caneta que num pequeno bloco as ia anotando, fomos convida- dos a passar à sobremesa. Doce, como manda a tradição, porque quinta-feira é, na Armada, dia as rotas dos Descobrimentos, eixo navio, a identificação das con- de simetria do projecto que tem a hecenças de terra, “navegarem” de joanetes (1). indelével marca pessoal do Eng. de Dover rumo a Calais. Duarte Pacheco (8), desenvolvem- Mas a parte estritamente aca- e seguida, duma forma que, confir- se amplos corredores envidraça- démica desenrola-se ainda nou- mando a frontalidade solicitada, dos, sobre o mar da Palha. tros edifícios. D estimulava a lealdade, foram objecti- Para eles dão as espaçosas salas de aula Um deles dispõe de salas e laboratórios vamente abordados pelo Comandante da dedicadas a notáveis oficiais (9), justificados consagrados às cadeiras de mecânica, no rés- Escola Naval os diferentes problemas numa breve resenha biográfica e iconografi- -do-chão, e no primeiro andar, às de elec- levantados. Desde a excessiva carga horária a camente evocados, no seu interior. Sur- trónica. Por ali passam todos os cursos, mas aspectos funcionais, alguns já do conheci- preendente, pelo conforto, solidez e óptima mais demoradamente os das engenharias. mento do Comando, passando por outros as- conservação, o mobiliário especialmente Aí, numa aula teórica, um problema de suntos mais complexos. Nada foi escamotea- concebido há setenta anos redondos. duplo isolamento térmico de um tubo con- do, nem as dificuldades, nem, sobretudo, as Aí, distribuídos por cinco licenciaturas e duzindo um fluido a alta temperatura era discordâncias. Patente a vontade de partilhar oito bacharelatos, aguardam-nos professores resolvido por um futuro engenheiro da preocupações e de proporcionar aos alunos altamente qualificados, civis e militares, estes Marinha de Angola. O equipamento envol- as melhores condições para vencerem. com graus obtidos em reputadas instituições, vente permitia adivinhar o peso da sua com- Terminado o almoço, marcado por um navais e/ou universitárias, nacionais e/ou ponente prática. estilo caro a quem sabe receber e onde, feitas estrangeiras, a quem apresentações iniciais (2), o humor também compete a formação teve lugar, os quatro cadetes da Escola Naval científica de base, (3), os três da Escola Superior de Tecnologias humanística e técni- Navais (4), um de cada ano dos seus cursos ca, que lhes conferirá (5), e os dois convidados despediram-se dos as equiparações aca- seus anfitriões. démicas. No edifício do refeitório, apenas no bar Assim, enquanto, dos oficiais e no dos cadetes permaneceram numa sala, uma das os poucos que estavam circunstancialmente maiores turmas (vinte disponíveis, pois a confortável mas já deserta alunos) dum curso de sala dos cadetes do quarto ano, anunciava o licenciatura era intro- início das aulas da tarde e o retomar de toda duzida no rigor da lin- a actividade inerente a uma Escola que aco- guagem jurídica que, lhe 285 estudantes em regime de internato, nas várias vertentes suavizado, desde o primeiro ano, com uma, do complexo Direito Simulador de navegação. depois, duas e três saídas semanais tornando- do Mar os futuros ofi- -se livre nos últimos dois anos da licenciatura ciais enfrentarão, num dos anfiteatros dois Noutra sala um grupo de cadetes do e ao longo de todo o bacharelato. alunos escutavam um professor, tão envolvi- bacharelato, aproveitando um tempo livre, Na espaçosa parada (6) onde, antes do dos que não nos atrevemos a perturbá-los. avançava os seus trabalhos, recorrendo, na- almoço e a justificar o dia especial, o Corpo À iniciação à Navegação, numa aula onde, turalmente, ao material informático ali de Alunos, após a revista (7), havia desfilado em cartas náuticas, esquadros e compassos disponibilizado, como, aliás, noutros locais perante o Comando, começam a surgir, vin- eram já manejados a preceito, procedia-se da Escola Naval. dos do moderno internato, grupos de cadetes noutra, recorrendo-se à trigonometria esféri- Enquanto o Laboratório de Arquitectura que se encaminham para as aulas, no edifício ca, ao desvendar dos segredos da Astronomia Naval vai entrar em obras de integral remo- principal, passando pelo amplo Átrio onde Náutica. delação, o de Electrónica, acabara de receber imponentes pinturas evocam quatro momen- Mas foi na penumbra do novo Simulador um novo e versátil conjunto de bancadas tos altos do nosso passado marítimo. de Navegação, que vimos pares de cadetes individuais que permite o estudo de diversos No rés-do-chão e no primeiro andar a que do 4º ano em tempo real e cenário virtual, circuitos e mesmo o ensaio de projectos. Sem se acede por uma escadaria alinhada entre a num monitor a panorâmica radar e noutro a esgotar os recursos disponíveis, nomeada- ✎ entrada principal e o Mapa Mundi que ostenta visão que permite, da ponte alta de um mente no domínio da electrónica digital,

REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 5 chamou-nos à atenção o equipamento para onde a família real, até 1910, ia a lazer, um “gravar” cartões de circuitos impressos que grupo de cadetes e militares doutras unidades os alunos constróem e testam. envolvidos no campeonato da Armada, saía Próximo, na velha oficina ainda são feitas para um treino de orientação, na Arrábida. demonstrações de soldadura e de outros tra- De resto, a todos os alunos, além da varia- balhos de serralharia. da actividade física e desportiva curricular, é Noutro extremo da Escola observámos, do exigida a prática de dois outros desportos, à exterior, um professor civil preparando uma escolha. A esgrima deixou de ser praticada e aula. É um dos professores britânicos que o remo, de largas tradições e inequívoca ensinam Inglês, fundamental no seio da escola de autodisciplina e perseverança, está, NATO e afinal em todo o mundo. Com uma de momento, suspenso. dezena de cadetes escutámos um interes- Nas salas dos diversos Departamentos cur- sante texto e o início de um diálogo em que riculares, professores planeiam actividades, todos se esforçaram por participar. Ao lado, redigem textos, preparam fichas, revêem num pequeno Laboratório de Línguas, com o matérias e porque o exemplo é a melhor Aprontando as embarcações outro professor, quatro cadetes desbravavam escola, enquanto se discutiam sucessos e a língua de Shakespeare. insucessos, um botão era cosido. Momentos solenes marcam o dia. À Mas porque as funções de um oficial da Embora muitas das publicações utilizadas tarde, quando o comandante sai da Escola Armada têm mais exigências, há, natural- sejam produzidas na Escola e editadas no seu recebe, como de manhã ao entrar, as dis- mente, que amarrá-la a uma sólida pre- Serviço de Publicações Escolares, nem por isso cretas honras militares regulamentares e paração em termos de liderança, fundada deixam de ser compulsados, na Biblioteca, os quando ao desmaiar do dia, ao exacto mi- numa inquestionável formação ética, militar cerca de onze mil títulos e algumas dezenas nuto do pôr do sol e por breves mas sempre e cívica que são, já de longa data, apanágio de publicações periódicas, nacionais e tocantes segundos, os civis perfilados e em da cultura militar-naval. estrangeiras, sempre que a curiosidade aperte continência os militares, é, aos acordes do A testemunhar a formação militar dos ou trabalhos de mais fôlego, o exijam (10). clarim, arriada, até ser recebida numa alunos, fomos, na Escotaria, encontrar três Numa Escola onde se vivem em cada dia, salva, a bandeira nacional. Como às oito cadetes Fuzileiros, cujo currículo segue de muito diferentes dias, o intenso ritmo diário é horas, ao içar. próximo os da Classe de Marinha, envergan- quebrado a meio da tarde por um lanche que Já escuro, na parada, onde num mastro do ainda os seus camuflados e limpando, demarca o termo do horário escolar e o iní- são içadas todos os dias diferentes ban- com ar comprimido, as suas armas. Um deles cio do tempo que os estudantes podem livre- deiras de um país estrangeiro, do código de Cabo Verde. mente usufruir no interior ou, nos dias de internacional de sinais e um dos distintivos saída, no exterior. da marinha, começam a surgir os cadetes Naturalmente a preocupação central que não saíram. Envergam os seus uni- nestes fins de tarde e pela noite fora serão as formes de passeio para, na formatura que exigentes obrigações escolares. Por isso antecede o jantar, ouvirem um dos Cadetes fomos encontrar cadetes, nas salas de aula e de Serviço ler, através do E.T.O. (12), a na de Informática, ora disponibilizadas, ou Ordem de Dia à Escola. Informações e nos seus alojamentos preparando em com- instruções são assim divulgadas e, bom, putadores, se for o caso, trabalhos que têm também os castigos disciplinares, que a de apresentar mas, aí, também se vivem farda não faz o ... militar. momentos de lazer, lendo, ouvindo música À vontade, seguem então para o ou simplesmente confraternizando à volta de refeitório onde, depositados os seus bonés um qualquer petisco trazido, talvez, de casa. no bengaleiro e galgada a dupla escadaria, Claro que os campos de jogos, o ginásio, a se dirigem às suas mesas onde, de pé, piscina, a carreira de tiro e a baía do Alfeite aguardam que os Cadetes de Serviço ao são muitas vezes apelos difíceis de resistir. Oficial de Serviço e às sete Companhias em Ainda porque a carreira naval se exerce que se divide o Batalhão Escolar, um ou prioritariamente no mar e sempre em função outro oficial «asilante» (13), o Oficial dele, quando em terra, importa que desde Adjunto ao Oficial de Serviço e este próprio logo os candidatos se autoavaliem num tomem lugar na mesa que, sobre um estra- Limpando armas embarque e que, admitidos, rapidamente se do, lhes está reservada, para, obtida auto- iniciem no contacto com o mar. rização do Oficial mais antigo, se iniciar a Claro que também a preparação física não As tardes de Sexta-feira são, por isso, dedi- refeição. é descurada. Em missões no mar e em terra cadas às actividades náuticas que se desen- Nas mesas, ao jantar, juntam-se cadetes poderá salvar-lhes a vida. volvem a partir do centenário CNOCA (11) do mesmo Curso mas de diferentes anos. Por isso, enquanto no Ginásio dois cadetes onde uma frota de 37 barcos à vela de 8 Uma forma de integrar os mais jovens, de faziam musculação na antiga sala de tipos diferentes os aguarda. Nos fins de se- proporcionar relacionamentos para toda a Esgrima, ao lado, num ginásio que em breve mana e a partir do segundo ano, sucedem-se vida, de transmitir uma cultura militar-naval será instalado num edifício novo, alunos do os embarques nas vedetas e nos veleiros da que se foi adquirindo ao longo dos anos e bacharelato, menos jovens que os da licen- Escola Naval, o «Vega» e o «Polar» e em se vai passando com a naturalidade com ciatura, iniciam exercícios de aquecimento navios de guerra, progredindo com o cur- que se passa o testemunho numa estafeta mais suaves dos que os exigidos a rapazes e rículo a responsabilidade das funções que, em 1782, a Academia Real dos raparigas, num pavilhão anexo onde, horas atribuídas. Guarda-Marinhas começou a correr e que antes, se reparavam as redes da pista de Mas é na primeira grande viagem que as Escolas Navais de Portugal e do Brasil, destreza (?) por onde passa o treino militar. ocorre a bordo da «Sagres», no terceiro ano, briosamente continuam. A cama elástica e os espaços para o que os cadetes descobrem que mais do que Sopa, um prato e fruta, pão, água e karaté, o boxe e a luta ... falam por si. eles mesmos, são já a imagem da Escola, da sumos a acompanhar. Terminado o jantar Enquanto uma cadete, regressava de um Armada e, muito mais do que isso, do seu cada mesa, oito cadetes, levanta-se e, corta mato pelas fascinantes «Sete Quintas» próprio país. autorizados a retirar-se, dirigem-se ao seu

6 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA bar, onde, em torno dos temas mais Deixáramos o Comandante da escaldantes ou dos convivas mais Escola Naval em reunião do Con- inspirados, se toma café e talvez um selho Administrativo e, quando nos espirituoso. cruzámos com os cadetes que em Mas nada impede que na sala de efusivos magotes regressavam da vela jogos um cadete Angolano siga o (22), recordámo-nos que outrora lhes desenrolar de uma renhida partida de era requerido, à entrada, o falível xadrez que, num silêncio inviolável, estatuto de nobreza de sangue. Hoje, dois conterrâneos seus disputam, numa sociedade aberta, dinâmica e fazendo juz a magníficas classifi- exigente, é preciso que sejam, não cações alcançadas por alguns jovens lhes falte o talento e a vontade de dos PALOP (14), todos, à excepção ousar, à saída, em termos pessoais, de S. Tomé e Príncipe, presentes na profissionais e sociais e face aos Naval. desafios da ética, da deontologia e da Três cadetes do primeiro ano, cidadania, os novos aristocratas (23) aguardando o resultado de um exame do século XXI.  antes de partirem para umas breves férias que uns já gozam, enquanto Apartamento - Área de Estudo Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves 1TEN REF outros ainda fazem aturadas revisões, insistem, na sala de televisão, que o que as espadas e com elas exemplares dos Notas: mais os surpreendeu na Naval foi o clima «Lusíadas», já com o posto de aspirantes a 1) Quintas-feiras e domingos, em que se içavam as de entreajuda que encontraram. oficial, passam a regime externo, enquanto vergas dos joanetes para inspecção, sendo o rancho Com o quarto ano ausente a sua sala está estagiam em unidades e serviços em terra, dos oficiais melhorado com doce, antigamente arroz- doce, e vinho do Porto. às escuras. Do outro lado da parada, pelas conforme as Classes, no primeiro semestre 2) Os cadetes indicaram as suas interessantes moti- janelas iluminadas, adivinhamos os que e durante o segundo, no mar, excepto os vações e percursos. enfrentam testes. Numa sala estuda-se pelos Fuzileiros. 3) Dentre eles uma jovem oriunda de praça! livros, noutra, em computadores, revêem-se Regressarão para receberem os seus 4) A ESTNA, escola Politécnica, criada em 1998, as Regras Internacionais para Evitar Abal- diplomas na Cerimónia de Abertura do Ano na Escola Naval, destina-se a alunos recrutados no roamentos no Mar. Lectivo a que o Presidente da República e interior da Armada. Este Curso (três anos) de Mais adiante uma professora, face às Comandante Chefe das Forças Armadas Formação de Oficiais Técnicos – CFOST – dá acesso graves carências do Secundário e apesar da tem, como a alguns outros importantes ao bacharelato. rigorosa selecção, dinamizava uma turma actos, presidido. 5) O quinto ano da Escola Naval, feito no exterior, dá acesso à licenciatura. em vésperas de exame de matemática. É Entre o toque de silêncio e o de alvorada 6) O local onde decorrem os exercícios de que a Escola Naval a reprovar, fá-lo sempre só o estudo é consentido. O novo dia co- Ordem Unida ( Infantaria) e as cerimónias mi- com desgosto, mas sem hesitar, pois sabe meça às sete horas. Uma formatura e o litares. que os seus ex-alunos estarão, ao longo de pequeno almoço que, nesta manhã, só uns 7) Verificação do alinho dos uniformes e boa apre- toda a sua vida profissional, a ser continua ovos mexidos com fiambre (17) dão algum sentação geral dos militares. e não só academicamente avaliados, no colorido aos rostos ainda fechados. 8) Certamente o mais notável ministro das Obras contexto da Armada, por superiores, pares No seu gabinete, o Capelão, que assegu- Públicas, depois de Pombal, era, ao arrepio do seu e subordinados, e também fora dela, em ra a assistência religiosa aos cadetes (18), tempo, um discreto play-boy que nunca fez a saudação ... fascista. Portugal e no estrangeiro, por militares e fala-nos de diversas actividades extra esco- 9) Da Armada mas também do Exército. civis. E inexoravelmente no decurso do lares de carácter cultural, como a revista 10) Como os apresentados no recente Colóquio complexo e integral Sistema de Ensino pri- «Tridente (19)» onde os cadetes descobrem Universitário dedicado a «Álvares Cabral» e integrado vativo do Ramo. o prazer da escrita, e as visitas de estudo, nas «Jornadas do Mar Ver RA Nº 338. E nessa noite não tocou a «recolher»! abertas a voluntários (20), que os levam a 11) Clube Náutico de Oficiais e Cadetes da Um dos problemas levantados nos diversos pontos do país (21) e, recente- Armada. almoços com o Comando foi exactamente o mente, a Espanha. 12) Equipamento de Transmissão de Ordens. facto desta formatura, que o regime aberto Mas também outras actividades levam a 13) Todo o que por qualquer razão não oficial per- tornou inútil, ir quebrar o ritmo dos que se presença da Naval ao interior. As descidas noita na unidade. propunham a uma noite de aturado estudo. dos rios, a participação em actividades 14) Os cadetes oriundos dos PALOPS, 22 da Escola Mas tanto nas camaratas dos «mancebos estudantis e a imperativa divulgação da Naval e 7 da ESTNA, frequentaram um ano propedêu- (15)» como nos confortáveis apartamentos Escola que, até altas horas, ocupou dois ofi- tico na Academia Militar. de quatro estudantes, cada um governa o ciais, e que representa um esforço enorme, 15) Naturalmente os cadetes do primeiro ano. 16) Actualmente ocupada por 29 raparigas, uma seu tempo, mas respeitando o dos outros. intrigantemente necessária num país das quais de Cabo Verde. Um treino para os exíguos espaços em que, arquipelágico, com a maior ZEE da Europa 17) Entre outras possíveis ementas. no mar, coabitarão. e quando o mar foi, em 1998 e na esquina 18) Um dos cadetes portugueses é ... Muçulmano. Os apartamentos, confinados em alas da Europa, declarado a grande aposta para 19) Cujo primeiro número se deveu à terceira masculina e feminina (16), constam de o futuro da humanidade. Direcção de uma Secção Cultural autónoma, criada uma pequena área social de acesso à de Na véspera ensaiara-se no Átrio uma ce- por iniciativa de um grupo de cadetes, há quarenta estudo com, para cada um, um armário rimónia. Três oficiais contratados, concluí- anos. Cervaen Rodrigues, Paiva Boléo e Ortigão sobre a secretária e uma cadeira, e, uma do um breve Curso de Formação Básica, Neves, o seu segundo Director. placa, onde as fotos, as recordações e as jurarão Bandeira. Chegam as famílias e os 20) Com particular assiduidade dos cadetes dos notas pessoais que entre o passado vivido e amigos e, feita uma oportuna alocução, PALOP’s. o futuro sonhado os ancoram à realidade. procede-se ao acto na presença do 21) Formas de, em contexto, se preencherem as lacunas do ensino do Português e da nossa História. Do outro lado dos sanitários fica o dor- Comandante da Escola Naval que em Ver diversas RA. mitório, num desalinho só tolerado, claro, breves palavras recordou o valor dos sím- 22) «TGIF» Thanks God Is Friday! diriam os estu- ao fim do dia. bolos, dos rituais, da solenidade e do dantes ingleses. Concluído o quarto ano e recebidas, por compromisso e lhes desejou os maiores 23) Aristocracia, etimologicamente, o governo dos ocasião do solene Juramento de Bandeira, sucessos. melhores.

REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 7 OO “Gil“Gil Eannes”Eannes” EntreEntre aa GuerraGuerra ee aa PazPaz (2ª parte)

Reintegrado, aprontado e guarnecido, passa à Divisão Colonial que largará, em viagem de instrução de guardas-marinhas, para o périplo de África a 25/10/24, depois de ter estendido e salvado ao ministro da Marinha, Pereira da Silva. rês dias depois chegou ao Funchal seguido do «República», da «Beira» e No Funchal: O navio carvoeiro português «Bellas» abastecendo o «Gil Eannes». Vê-se uma canhoeira atracada T da «Bengo» e depois da «Ibo». Aí, a receber carvão. aguardava-os o carvoeiro «Bellas». do o «Gil Eannes» o sinal de comandante Demónios que ficou no outro ... hemisfério. Depois de uma festiva estadia, a 6/11, superior. Não a brisa carregada de húmus da soberba segue para S. Vicente de Cabo Verde onde A caminho de Cabinda, a 17, o coman- floresta de Maiombe mas, admitimos, a incó- reencontra o Navio-escola «Jeanne d’Arc» e dante, forçado a entregar o governo do navio, moda calema típica do enclave de Cabinda se cruza, à saída, com o paquete alemão é preso «ao camarote» e 3 tenentes, 12 guar- que terá determinado, nessa madrugada de «Cap Polonio» saudando-os com «A Portu- da-marinhas, 11 aspirantes, 2 sargentos e 3 20, a passagem a Santo António do Zaire, na guesa». cabos são sujeitos a implacável julgamento «embocadura do grande rio que atira as suas De novo juntos e sob vento fagueiro as em que à ira da acusação se somou, sob o ter- águas a mais de 60 milhas de distância da sua canhoneiras envergam pano rumo a Bissau, rível olhar do improvisado juiz, a da carrancu- foz sem as misturar com as do mar». onde fundeiam a 20. Um «concerto pela da defesa, acabando todos sentenciados a Aí, abraçados, a «Ibo» e o «Gil Eannes», telefonia sem fios e a matança do boi» que- humilhantes penas que ímpias gargalhadas em plena faina de carvão, quando deram por bram a rotina. Depois, em oito horas, deman- aprovavam de olhos postos no desastrado si iam já barra fora, à garra, regressando ao dam Bolama, então a capital da Guiné. corte do cabelo e na engraxadela que, recebi- fundeadouro passadas ... 12 horas. Depois de uma subida do portentoso rio, em que o «República» e as três canhoneiras se demoraram de 21 a 23 e de uma festa no «palácio» do Governador do distrito, seguiu o «Gil Eannes» para Luanda onde, no dia de Natal, entrou depois de ter, em rota, determi- nado o seu raio de giração. «Pela solenidade do dia, salvou-se ao meio dia e, em terra, houve uma parada, em que participaram os navios ... e inaugurado o [modestíssimo] monumento a Paulo Dias de Novaes, o conquistador de Angola»(3). Em S. Vicente de Cabo Verde: o «Gil Eannes» atestado e pronto a partir Recolhida a máquina da condenada canhoneira «Save», entrado, por entre festas Repete-se a hospitalidade da população da a extrema unção e beijado o anel do cape- e devido engalamento, o ano de 1925, visi- nativa e do Governo que oferece um baile lão, antecede o executório mergulho ... final. tam o Lobito, Benguela, antiga capital do sublinhado pelos exercícios dos potentes pro- É que depois da ingenuidade, castigada reino de Mombaka(4), Moçâmedes, eterna jectores dos navios (1), que receberam visitas com um balde de água, com que, numa «terra de raparigas bonitas», Porto e fizeram outras prestigiantes demonstrações. troca de binóculos, a Vigia, cheia de júbilo, Alexandre e Baía dos Tigres onde desembar- A 30, metida água e feito o transbordo de clama - «A linha está ali!» - são, depois da cam materiais para a construção do farol e carvão seguiram-se, até S. Tomé, nove visita dos ameaçadores Almirantes, mais que água doce para a população e receberam o enfadonhos dias, alegrados pelo «Mo- as revoltas barbas da alva cabeleira coroada, correio vindo no «vapor do Estado». çambique» e pelo «Adolph Woermann». as «airosas» ninfas (2) quem nos introduz no Carvão, consequente baldeação e pintura De Santo António do Príncipe, a 14/12, fantástico Reino de Neptuno, Senhor dos geral encerraram uma passagem por Angola rumam à Baía de Ana Chaves, donde o Mares na presença de quem, temendo, todos recheada de festas, visitas, caçadas, etc ... Governador e convidados, seguem no os novatos desejam emergir da improvisada Ao largo do cabo Tormentório com «República» até à roça «Rio do Ouro», içan- tina purificados de um mundo de rubros desconfortável balanço fotografou-se a

8 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA zas e muitos combates emergentes Japão (1895 - sob outra derrota) navais sem visível rasto. e Alemanha (1898). Muitas vezes destacado Assim, um justificado sentimento xenó- da Divisão, nela se integrou, fobo originara várias revoltas populares a 24, para prestar «as der- contra a corrupta administração imperial, radeiras honras ao mestre da nomeadamente a da associação secreta «Bengo», falecido em via- dos «lutadores pela legalidade e harmo- gem» entrando, com salvas nia»(12) (1899-1901), a par de outras ini- a terra, no porto de Aden. ciativas, como a de Sun Yat-Sen, que Metido carvão e frescos, implantará a República. cruzam, em coluna, airosos Neste contexto e enquanto agentes russos e seculares pangaios e, «insuflavam» greves por toda a China, estu- O NRP «Gil Eannes» em 1914. antecedendo a formação, dantes de «Shanghai» hostilizam os meteu pelo mar Vermelho, estrangeiros e desobedecendo à polícia Divisão Naval de Instrução e reparada, a passou «El-Kantara»(9) e foi amarrar a Port levam a que Portugal, apesar dos seus mo- reboque do «República», uma avaria na Said donde se organizaram duas excursões; destíssimos interesses, integrasse a «Pátria» na «Beira», lá se enxergou a imponente Mesa ao Cairo e a Jerusalém. E «uma sessão de força naval internacional que, a 26/06, que de «toalha»(5) posta «indica que o cinema em honra das guarnições» asilantes. defende a Concessão de «Shameen». Adamastor se vai zangar...». À sua sombra, a Daí, a 14/05, seguem para a Sicília e Cinco dias depois, o «República» vai jun- 4/02, amarraram. Bizerta onde a «Marine Nationale» proporcio- tar-se à lancha-canhoneira «Macau» e algu- Retribuída na Base de Simonstown(6) a nou, além de algumas festas, uma visita a Tunis. mas vedetas e a 10/07, segue o «Gil Eannes» visita do almirante inglês, largam, após seis A 26 zarpam rumo a Argel que atingem com material de guerra e 250 militares e em dias, para a baía de Hydra, onde se fez a em duas singraduras. Aí, o Cônsul de Por- 45 dias, com escalas em Port Said, Colombo transfega de carvão, seguindo para Durban tugal organiza as festas, retribuídas a bordo e Singapura e em plena monção, surge em onde, com 1596 T. de carvão e 68 água do «República». Macau sob forte ... tufão. doce, atestou. Argel acolhe-os bem mas já a angústia do Na primeira aberta - a alvorada tocou à meia A 25, passada a Inhaca, fundeava na foz do desejado regresso os ocupa ... noite - desembarcada a força do Exército, Maputo, diante de Lourenço Marques, onde, Após Gibraltar, em crescendo, o farol do fez-se a Hong-Kong para fabricos – máqui- cumprido o protocolo, se seguiram cerimó- Cabo de Santa Maria, depois, embandeirados nas, caldeiras e pintura geral – e embarque de nias, récitas, revistas, festas e bailes... até 9/03. nos topes, a 11/06, as salvas ao PR que a carvão, entregue a chinas. Vencida uma «monomocaia» que o fez dar balanços de 30º, entraram o Pungué, fun- deando, a 15, diante da Beira(7) que concor- reu, em hospitalidade, com a capital. «A visita dos navios foi, como sempre, salutar, tanto para a população europeia que regozijava em ver os navios da nossa Marinha, como para a população indígena que aprecia com justeza toda a manifes- tação de soberania digna e elegante (8)». Após as fatigantes fainas de carvão segue para a histórica ilha que, consagrada ao mártir S. Sebastião, emprestou as cinco setas à heráldica da então colónia e onde, a 29, aguarda a Divisão que se atrasara em manobras e numa breve visita à baía de O NRP «Gil Eannes» (ex. «Lahneck») no périplo de Àfrica. Mocambo. As festas e recepções sublinham um mo- bordo do «Cinco de Outubro» os vitoriava e Em Macau, no Cinco de Outubro, desfilam mento triste; as exéquias pelo recém desapare- finalmente, no «Quadro dos Navios de Guer- 250 homens da Armada (90 do «Gil Eannes») cido Sacadura Cabral, o companheiro de ra (10)» os dois rebocadores com as famílias e 946 do Exército sob o comando do CMG Gago Coutinho, na terra onde se alicerçara a e os amigos prontos a mitigar as saudades de Ivens Ferraz e a 12 zarpa com 31 passageiros, amizade que dera asas à travessia do Atlântico sete meses e meio duma viagem que então, 80 praças europeias e 180 landins (13) (a 46ª Sul. pela imprensa, fizera vibrar todo o país. Companhia Indígena) e 27 presos chineses Depois das baías de Condúcia e de Porto para Timor. Amélia, a do Rovuma para, a 7/04, homena- MACAU E TIMOR De Macassar soltam rumo a Dili onde a gear os marinheiros mortos na acção aí ocor- sua presença assegurou as comunicações rida em Maio de 1916. Mas a 2/07, em quatro dias, docado, benefi- com a ilha de Ataúro e o enclave do Oekussi Em Zanzibar, o Sultão proporcionou uma ciado e pintado, em Alcântara (11), dum car- e uma visita do Governador a Baucau. estadia agradável compreendendo as habituais voeiro se abastece para largar para a ... China. A 9/11 «carregou madeira oferecida pelo actividades desportivas, um torneio de ténis. Aí, o confucionista «Império do Centro» na Governador ao Ministério da Marinha, e mais Um grupo de guarda-marinhas, envolvidos ilusão da sua superioridade, vencido na 1ª alguma carga para Lisboa, entre a qual dois noutros torneios, ao regressar, pelas 05h00, foi Guerra do Ópio, vê-se a ceder, em 1842, o tambores de petróleo em bruto, das minas de «agraciado» com as consequentes ... sanções. acesso marítimo à moralista (!?) Albion, em Timor, para experiências no Arsenal da Após uma semana fazem-se ao mar e 1844, aos EUA e França e por terra à Rússia Marinha... embarcou a 48ª Companhia cruzam, sem sobressaltos, o Equador e (1851) para, novamente humilhada na 2ª Indígena que regressava a Moçambique» e o dobram o Cabo Guardafui num inesperado Guerra, consentir (1858) a penetração do Régulo D. Nuno, sua família e 118 timorenses mar estanhado que permitiu evocar a pre- Reino Unido que o inunda dos estupe- que, no dia seguinte, desembarcaram no sença portuguesa no triângulo Mombaça, facientes que cultivava na Birmânia e, por enclave seguindo para Tandjong Priok para ✎ Ormuz e Ceilão, assinalada por várias fortale- novos «Tratados Desiguais», vergava aos uma estadia de três dias. REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 9 Atravessado o estreito de Sunda rumam, navio militar, de- segundo a ortodrómia, a Port Louis (14), onde sembarcou. chegam a 3/12 com mais dois bebés afri- Como as pesadas canos e menos um infausto soldado landim condições da Socié- cujo corpo foi, com todo o cerimonial e hon- té des Oeuvres de ras militares, lançado ao mar. Mer limitasse a si- Com três dias de mar, dobra o cabo de nistrados dos nossos Santa Maria, extremo sul de Madagáscar, e 68 bacalhoeiros e ruma à baía do Espírito Santo, fundeando a 3000 tripulantes o 12 diante da capital Moçambicana, donde, apoio que o «Sainte dias depois, partiria para a «metrópole». Jehanne d’Arc» dava aos 260 navios fran- CAPITÃES DE PAZ E ... ceses, incluiu-se a POUCA-TERRA missão de assistên- O «Gil Eannes» como navio de apoio na Terra Nova. cia na de estudo da «Mas os factos foram outros.» Ocorrendo pesca que, desde 1922, o «Carvalho Araújo» visitaram na companhia do cônsul de uma greve de ferroviários, 5 sargentos conduto- desenvolvia na Terra Nova. Portugal. res de máquinas e oito fogueiros tripularam as A 13/07 iniciou o segundo cruzeiro em que, locomotivas dos comboios para Johannesburgo TERRA NOVA - I contornados os primeiros icebergs, assistiu 30 enquanto 1 sargento artífice torpedeiro e 3 bacalhoeiros, conduzindo ao «Trombetas» praças torpedeiras mantiveram activa a cen- Porém, para se dar, «ignorando elegan- nove dos seus dóris, perdidos no nevoeiro e, tral eléctrica e 4 marinheiros de manobra, temente a atitude» dos franceses, alargado dias depois, a mais sete navios. claro como água, manobraram os... guindastes, apoio médico-sanitário, social, jurídico, A 23 perdeu um ancorote e foi surpreendi- assegurando os restantes o serviço do impor- postal e religioso houve que reconverter o do, ao levantar a neblina, por numerosos tantíssimo porto. «Gil Eannes» ficando também contempla- veleiros “saídos” do pesado silêncio, visitan- Presos, 15 grevistas embarcaram com destino do o abastecimento de água, carvão, óleo do onze, revisitando outros e ainda mais dois à ilha de Moçambique donde, entre os ba- e isco, além de apoio oficinal. e um francês. lanços e a sensatez do Imediato, acabaram Em cinco meses, por 2.389 contos, um A 3/08 entra em Sydney, Nova Escócia, e por voltar ao trabalho quando o navio regres- estaleiro de Roterdão meteu novas caldeiras, apronta em dez dias, indo cruzar veleiros sou à capital. remodelou a ponte, instalou um posto médico canadianos, antes de iniciar as visitas aos Finalmente largou, a 24/04/1926, com 49 e uma enfermaria seguindo, a 31/03/1927, portugueses e a dois franceses. soldados e 63 colonos europeus e, açoitado, para Cardiff (carvão) e Lisboa onde recebeu Com o barómetro a baixar 3 mm/hora até alcançou, a 30, a cidade do Cabo. duas «Hotchkiss» de 47/10, de tiro rápido, e 753 mm e o vento a rondar e a enrijar (força Após docagem e faina do carvão (307 T.) a aprontou. 716) conheceu a sua primeira tempestade 7/05, com mar calmo, «grandes rebanhos» de Embarcado o ALM Oliver (?), encarregado naquela latitude, compensada durante uma focas anunciavam o Oceano Atlântico (15). dos estudos sobre as pescas, e o desejado hora, depois de visitados onze navios lusos, O cabo Frio fez juz ao seu nome mas a correio, rumou, a 16/05, à Horta e daí, com por uma belíssima aurora boreal. cálida baía de Luanda acolheu-os a 13 para uns rabos de galo a assegurarem ventos rijos Mais visitas e de novo em S. João a 22 uma repousante estadia de 6 dias. de ONO e NO (16), arribaram a Halifax, a onde, por fora, vem atracar o aviso gaulês Mais alguns passageiros e em dez dias 31, onde a Legião Canadiana lhes assegurou «Ville d’Ys» com que se estabelece um cor- põem-se no Mindelo, que deixam 3 dias uma calorosa recepção ao longo de duas dial convívio. depois, rumo ao Funchal onde permanecem semanas ocupadas em beneficiações. No fim de Agosto larga e depois de visitar de 6 a 9/06. Desembarcado o piloto junto do Baixo 34 navios fundeou no Grande Banco onde a Finalmente, com onze meses e um dia de Português embrenhou-se nos frequentes curiosidade e a necessidade fazem afluir viagem, ei-lo, a 11/06, amarrado à bóia no nevoeiros a 16/06 e três dias depois avistou navios nossos ou até simples doris e o «Sainte rescaldo da revolução de 28 de Maio que, Jeanne» (com correio), antes com mais prevenções do que tiroteios, os do tempo subitamente se perturbou até meados de Julho, tendo chega- alterar (Força 8) com muito do a destacar 12 praças para auxiliar a balanço, loiça partida e o descarga do paquete «Lourenço Marques», mais... até poder assistir mais imobilizado por uma derradeira greve. cinco navios antes de deman- Com Portugal de rastos e exaustos, os dar o porto de St. Pierre a Portugueses entregavam-se a um regime 10/09. ditatorial que, depois de uma irrefutável Novos cruzeiros de 14 a 26 ascensão, seguro da apatia geral, se arras- e de 6 a 19/10 até que a 26 tará penosamente sem que os portugueses demanda Halifax donde, a aprendam as lições da sua história. 14/11, solta, a exemplo da frota A 5/08 junta-se em Sesimbra à Força O «Gil Eannes« fornecendo água potável a um navio da pesca de bacalhoeira, rumo a Lisboa Naval em exercícios; o «Carvalho Araújo», bacalhau nos bancos da Terra Nova. onde passa o virador à bóia do os contra-torpedeiros «Douro», «Tâmega» Quadro ao meio dia de 26. e «Vouga», os Torpedeiros «Sado» e os primeiros lugres-patachos franceses evitan- «Mondego» e os submersíveis «Golfinho» do, numa pastada de nevoeiro, abalroar um MISSÃO INDESEJADA e «Hidra», a que serviu de navio-mãe, e vapor e a 20 começaram os contactos com que, depois de visitada pelo o novo os nossos bacalhoeiros até que, ouvidos dois Parecia ter encontrado a sua verdadeira vo- Presidente do Conselho e alguns Ministros, tiros, foi, no meio do nevoeiro, ao encontro cação mas é-lhe cometida a ingrata tarefa de recolheu, na noite de 10, a uma Lisboa dum veleiro francês que acabou por abalroar levar para África um grupo de 45 presos políti- ainda politicamente agitada. sem danos de maior. cos, um dos quais acompanhado da mulher. A 21/09, aos 12 anos, com novos projectos A 29 demandou o porto de S. João onde o Embarcados em Belém a 4/05, seguem com à vista, o seu último comandante, enquanto governador geral da Terra Nova e esposa o tempo inclemente até às Canárias donde

10 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA demandaram a Guiné avistando, a 12, a ponta Quitéria» que se ia afundando enquanto alber- Notas: Caió fundeando no dia seguinte diante de gavam o capitão, dois pilotos, o contramestre (1) O último navio a dispor de projector foi a fragata Bolama. e 45 homens até S. João, onde uma destacada «Pero Escobar». Em 1961, navegando ao mar de Angola, Desembarcados 20 dos «turbulentos» e família ofereceria um baile aos oficiais do ao encontro do Transporte de Tropas «Vera Cruz», ambos recebido o correio para S. Tomé e Luanda, navio. em total «black-out», quando acendemos o potentíssimo logo a 14 suspende e pelos canais, entre as projector ouvimos o mais inesquecível «Ah!» pronunciado em uníssono por um cacho de milhares de soldados que inúmeras ilhas, demanda um adormecido mar mantinham o então 15º (?) maior paquete do mundo alto de que desperta, a 22, na baía de Ana visivelmente adornado a BB. Chaves desembarcando, com o infeliz casal, o (2) Aceitarão elas, com a sua natural graça, substi- resto dos presos. tuir os desajeitados, por via das dúvidas, «voluntários Passados três dias prossegue com exercícios à força»? de «homem ao mar» até Luanda e Lobito e de (3) Chega, em 1560, acompanhado do embaixador do novo Luanda onde entrou a 27/06 para rece- reino de Angola, ao sul do reino do Congo, e dos solicita- ber material de guerra e embarcar 40 pas- dos missionários jesuítas, na qualidade de embaixador e sageiros, «militares e civis», e demandar S. comandando uma modesta frota sendo, desprovidos de armas e mantimentos, surpreendidos por um novo N’gola Vicente a 14/07 para, como sempre, meter que os prende e mata, poupando Novais e dois padres carvão e água. mantidos em servil e humilhante cativeiro na corte, em Angoleme (?), onde conseguem construir uma igreja. Subitamente liberto, em 1571, é enviado com presentes, NAVIO ESCOLA entre eles um escravo, para o rei de Portugal de quem consegue a donataria vitalícia de Angola onde regressa em Suportada «a conhecida «brisa»» entre 17 e 1574 com 700 homens, dois jesuítas e um conhecimento 23, em mais três dias está em Lisboa donde só profundo das gentes e da terra. Em 1576 funda S. Paulo da se afasta de 11 a 25/09, em viagem de Assunção de Luanda e depois Calumbo, Macunde e instrução de 12 aspirantes provisórios ao Massangano, onde é sepultado em 1589, já sob a estrangeira dinastia dos Habsburgos, e cujas notáveis ruí- Funchal e Leixões acompanhada de vários nas se situam nas proximidades das lendárias minas de exercícios como o de «tiro de carabina contra Cambambe onde foi construída uma importante barragem alvo flutuante». O «Gil Eannes» abastecendo de óleo combustivel hidroeléctrica. Trasladado para Luanda, desconhece-se No Tejo, do início de 1929 até Abril e um bacalhoeiro com motor. hoje o paradeiro dos restos mortais do 1º e notável durante a ausência do cruzador «Vasco da Governador de Angola. Gama» içou o distintivo de navio-chefe antes O toque a sentido, três descargas, a guar- (4) Donde deriva a palavra Benguela. de, a 29/06, largar para a 2ª viagem à Terra nição em continência e a bandeira a meia (5) Manto de nevoeiro. Nova, via Graciosa onde desembarcou um adriça assinalaram, logo no início do novo (6) Na baía de Simão. A Escola Naval da África do Sul destacamento do Exército de 131 homens, cruzeiro, o funeral no alto mar de um situa-se na baía de Saldanha. familiares dos 4 oficiais e bagagens. pescador em tratamento a bordo. A tristeza e (7) Em homenagem a D. Luís Filipe, Príncipe da a saudade foram aliviadas pelas visitas e inci- Beira, é um dos poucos nomes preservados após a TERRA NOVA - II dentes; abalroamento, reboque e reparação independência. do «Alcion» e mais carvão e pintura no (8) Um curioso solilóquio surpreendido a um Saído da Horta atinge, em 7 singraduras, escalavrado costado. africano, depois da visita de dois cruzadores britânicos: Halifax a 13 e devidamente abastecido con- Após o 6º cruzeiro içou o sinal «retiro para «Inglês é amigo, manda dois navios; português é patrão, tacta, a 21, os primeiros bacalhoeiros e numa Lisboa» e oferecendo uma última oportu- manda cinco: está certo!» ronda de 16 dias, entre mau tempo, calmas e nidade de assistência recolheu o de «boa (9) Ponte em Árabe. nevoeiro, faz mais de 100 visitas aos nossos viagem» dos poucos que ainda não tinham (10) Uma quadrícula de bóias esféricas fundeadas a lugres (20 duma assentada) e a alguns cana- terminado a campanha. montante do Cais das Colunas, ao Terreiro do Paço, onde dianos e franceses. Largado da Horta faz, no canal de S. Jorge, amarram os navios da Marinha de Guerra ou, depois da De novo em S. João o comandante vai com o trasbordo dumas praças da «Zaire» e chega construção da Base Naval no Alfeite, só alguns e que per- o cônsul apresentar cumprimentos ao gover- ao Tejo a 31/10. mitia um contacto visual permanente dos Lisboetas e nador do então domínio britânico a quem Antes de largar para a sua 3ª campanha do forasteiros com a Armada. oferece, na noite de 10/08, um baile a bordo a bacalhau, além da guarnição participar no (11) Reminiscência árabe duma ponte que nesse vale que concorrem 60 convidados e ainda os ofi- funeral do marechal Gomes da Costa, recebeu cruzava um ribeiro. ciais de dois avisos franceses aí surtos. o ministro da Marinha e convidados para as- (12) Que o Ocidente chama dos «Boxers». Novo cruzeiro (9 dias, 58 visitas e a recolha sistirem a uma regata e fez satisfatórias provas (13) Expressão portuguesa para designar os nativos de um pescador português acolhido no navio- de estabilidade. das circunvizinhanças de Lourenço Marques/Maputo. -hospital francês) antes de regressar a St. Pierre, A 12/03/1930, por entre sinais de «Boa via- «...são excelentes soldados, de um aprumo e porte onde o governador retribuiu os cumprimentos. gem» dos lugres larga, via Cardiff (carvão), ru- notáveis, que, ..., têm prestado altíssimos serviços sob o ponto de vista militar, cumprindo excelentemente mis- O 3º cruzeiro começou a 24 com um mo ao bancos onde perfaz oito cruzeiros de sões difíceis com coragem e decisão, além de mostrarem exercício de «homem ao mar», salvo em assistência reforçando os laços com o nossos completa fidelidade aos seus deveres patrióticos. ...» Cor seis minutos, e visitas a 24 navios, um homens e os Franceses, no mar, e com os Azambuja Martins, 1940. Falam Ronga. deles francês, tendo a 3/09 e durante dois Canadianos, população e autoridades, nos (14) Capital das Ilhas Maurícias ( Descoberta pelos dias, o leão (força 9) sacudido os navios, portos. A 16/11, depois de, em Ponta Delgada, Portugueses em 1513, foi ocupada por Holandeses, portando pelas amarras ou embarcando suportar um súbito ciclone, passa entre Torres. Franceses e Ingleses) mantendo depois da independên- mar. Dois novos comandantes (o 1º falecera) cia (1968) como língua oficial o Francês. Quando a Fragata «D. Francisco de Almeida» a visitou, em Depois 30 lugres portugueses e franceses envolvem a guarnição em solenes cerimónias Dezembro de 1965, havia mais de 30 anos que nen- foram visitados, vários pescadores socorridos, de júbilo e de pesar, nesta com o concurso hum navio português aí tocava.  oito doris recolhidos no «Noella» e tentou dos navios de guerra surtos no Tejo. (15) A temperatura das águas numa e noutra costa valer, sem sucesso, ao «Santa Quitéria», quan- do longo cabo da Boa Esperança determinam uma do foi alertado para o «Maria da Conceição», Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves fauna tão diversa que acreditamos ser o fundamento envolto em chamas, e cujo capitão, piloto e 1TEN REF para Bartolomeu Dias, no seu regresso, aí situar a se- 33 pescadores recebeu a bordo com 17 doris paração dos oceanos. e as bagagens salvas, regressando ao «Santa (Continua no próximo número) (16) Na Escala Beaufort ; ****

REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 11 Crónica de Timor

s três crónicas já publicadas relata- ram alguns tipos de operações de Aque foi incumbida a Companhia nº 23 de Fuzileiros, as celebrações natalícias e da passagem do milénio, sendo também destacada a presença da Marinha no Comando do sector atribuído a Portugal. Após ter terminado a comissão de serviço de seis meses em Timor, período que o sig- natário considera marcante na sua carreira de oficial de marinha fuzileiro, julga oportuno salientar aspectos ligados à história do ter- ritório, assinalando as marcas emblemáticas ainda existentes da presença portuguesa. Os testemunhos relativos à história inicial de Timor, são inexistentes e apenas se pode provar que antes de 1522 já os mercadores portugueses comerciavam na região, depreendendo-se que a data da sua chega- da tenha acontecido após a conquista de Malaca em 1511. Está documentado o desembarque, em 1556, do primeiro mis- Canhoneira “Pátria”. sionário, o padre dominicano António Taveira, em Solor, Flores e Timor mas ape- Várias vicissitudes sofreu o povo timo- Armada Filomeno da Câmara, prossegue o nas em 1701 D. João V criou o cargo de rense cuja personalidade foi primorosa- melhoramento iniciado pelo seu antecessor governador de Timor e Solor com a autori- mente caracterizada pelo poeta Ruy Cinatti e em 1912 e 1913 tem que fazer frente à dade suprema. Assim, é usual afirmar-se que, profundamente apaixonado por Timor revolta de Manufai. que o território de Timor foi conquistado e pelas suas gentes, tornou-se um dos seus Nesta sublevação, cuja origem está pouco pela cruz e não pela espada. melhores conhecedores*. clara, alguns historiadores atribuem-na à A primeira capital foi em Lifau no enclave Formado por vários reinos, Timor viveu influência de deportados europeus, par- do Oé-Cussi, local onde ainda se pode numa certa apatia até finais do século XIX, ticipou a canhoneira “Pátria”, sob o coman- encontrar um monumento inaugurado em salientando-se então o período de 1894 a do do então capitão-tenente Gago Coutinho, 1974, o último erigido sob soberania de 1908 durante o qual o governador, tenente- que teve acção decisiva não só por intermé- Portugal, na base do qual uma placa assi- coronel Celestino da Silva, apelidado “rei de dio da artilharia de bordo como também nala que foi ali que em 1561 chegaram os Timor”, promoveu um grande desenvolvi- através de sua força de desembarque coman- primeiros portugueses e afirma “Aqui tam- mento na área agrícola, conseguindo, em dada pelo 2º tenente Mesquita Guimarães. bém é Portugal”. 1897, que Timor se separasse administrati- Assim, os marinheiros da “Pátria” foram os Em 1769, devido a dificuldades logísticas vamente de Macau e se constituísse num antecessores em Timor das actuais unidades e também a aspectos relacionados com a distrito autónomo. de fuzileiros e também eles vitais para a segurança, a capital foi mudada para Díli. O governador seguinte, 1º tenente da manutenção da paz no território. Durante o período da Grande Guerra, 1914-1918, embora Timor vivesse momen- tos difíceis, devido à simpatia da Holanda pelos impérios centrais, conseguiu chegar ao fim do conflito sem ter sofrido qualquer ataque do exterior. Interessa agora analisar e comparar os momentos trágicos que viveram os timo- renses a partir do início da década de 60 do século XX até à actualidade. Em 17 de Dezembro de 1941 no desenro- lar da II Guerra Mundial, apesar da posição de neutralidade de Portugal, mas invocando a necessidade de defenderem o território contra um possível ataque japonês, desem- barcaram em Díli tropas holandesas e aus- tralianas após a apresentação de um ultima- to ao governador, capitão Ferreira de Carvalho. É a 1ª invasão! Timor encontrava-se na encruzilhada de conflitos de interesses e ambições terri- toriais das potências regionais: Austrália; Baía de Tibar. Holanda e Japão. Para além das preocu-

12 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA pações de defesa do seu espaço de influência, os interesses económicos da Austrália estavam materializados no financiamento concedido à Companhia Ultramarina de Petróleos que detinha o exclusivo de pesquisas na zona leste da ilha. A História parece repetir-se, serão os interesses petrolíferos que quatro décadas mais tarde levarão a Austrália a reconhecer a integração de Timor Leste na Indonésia, cite-se o acordo petrolífero relativo ao Timor-Gap. A Holanda estava preocupada em manter a sua presença nas Índias Orientais, futura Indonésia e os japone- ses, por seu turno, desenvolviam a sua expansão na Ásia/Pacífico e em Timor detinham 40% do capital da mais impor- tante empresa, a Sociedade Pátria e Trabalho, cujo objectivo era o incremen- to da produção do café com vista a tornar o território um importante expor- tador daquele produto. Com a ocupação Palácio do Governador - Lahane.

sibilitada de as substi- em Lahane, actualmente muito degradada tuir de imediato por um devido às destruições levadas a cabo contigente nacional pelas milícias pró-indonésias em como forma de garantir Setembro de 1999. Apesar de detido, o a neutralidade. capitão Ferreira de Carvalho não Entretanto apesar da regatearia esforços para obter compromis- nossa diplomacia de- sos dos invasores a respeitar a soberania senvolver hábeis nego- portuguesa. ciações junto dos alia- Alguns timorenses das gerações com dos e quando uma força mais de 50 anos ainda hoje, de viva voz naval portuguesa estava e em bom português, testemunham as prestes a chegar a Díli, provações sofridas durante a II Guerra já tinham sido estabele- Mundial, tendo tido o signatário desta cidas comunicações rá- crónica o ensejo de comprovar esse facto dio com a mesma, os quando ao fotografar a estátua do Pôr do Sol em Timor. japoneses desembar- Engenheiro Artur do Canto de Resende, caram na noite de 19 para na marginal de Díli, dele se acercou um aliada a soberania portuguesa foi se- 20 de Fevereiro de 1942, na baía de ancião timorense que narrou, ali mesmo, riamente abalada, incapaz de evitar o Tibar, a escassos 7 Km a Oeste de Díli. É alguns episódios de tenaz resistência le- envolvimento de forças estrangeiras na a 2ª invasão! vada a cabo por este engenheiro que defesa do território e igualmente impos- Após o desembarque japonês, aus- desempenhou o cargo de administrador tralianos e holandeses deslocam-se para de Díli num período muito crítico e mor- Timor Ocidental desenvolvendo acções de reu sob cativeiro japonês em Fevereiro de guerrilha nos distritos junto à fronteira e 1945. mais tarde, perante o forte poder nipónico, embarcam para a Austrália. Cerca de 50.000 timorenses foram mortos quando auxiliavam a guerrilha aliada ou apoiavam logisticamente Liquiçá, vila em que estavam confinados, por imposição dos invasores, os portugueses e onde ainda hoje se encontra um monumento alusivo ao facto. Para homenagear os heróis portugueses e timorenses que resistiram ou morreram no decurso da ocupação japonesa foram erguidos vários memoriais que generica- mente ainda hoje se encontram em razoável estado de conservação. De salientar a existência de uma placa à beira da estrada Díli-Aileu que demonstra o reconhecimento dos australianos pelo sa- crifício dos timorenses. Infelizmente anos mais tarde esqueceram-se desta dívida! Monumento aos mártires da ocupação estrangeira - O governador português ficou então ✎ Liquiçá. sob prisão domiciliária na sua residência Monumento ao Eng.° Artur Resende - Díli.

REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 13 ca que, apesar de haver uma identidade rácica, o timorense de Leste nada tem a ver culturalmente com o seu vizinho indonésio. Esta dicotomia irá perdurar e será relevante mais tarde. A soberania portuguesa foi restabelecida por força do estipulado no Acordo de Santa Maria, assinado nos Açores em 17 de Agosto de 1943 como contrapartida por Portugal a partir daquela data ter dado apoio no arquipélago às forças aliadas. Apesar de Portugal não ter entrado na II Guerra Mundial tinha conseguido a proeza de, no fim da mesma, manter completa soberania sobre a totalidade dos seus domínios ultramarinos. Entre 27 e 29 de Setembro de 1945 chega a Díli a força expedicionária por- tuguesa a bordo do transporte “Angola” escoltado pelos avisos “Bartolomeu Dias” e “Gonçalves Zarco” a que se juntou dias depois o “Afonso de Albuquerque” o qual, Monumento em memória dos mártires da ocupação - Aileu. como é sabido, mais tarde, em 1961, heroi- camente enfrentaria a poderosa esquadra Até 22 de Setembro de 1945, isto é Entretanto no território vizinho holandês indiana quando da invasão do então Estado durante três anos e meio, Timor não teve os nativos que tinham apoiado totalmente Português da Índia. Tinha, como diziam, qualquer contacto com o exterior, os os japoneses, já que estes lhes tinham acontecido em Timor a 3ª invasão! japoneses ocuparam todo o território e a prometido a autonomia caso ganhassem a A ocupação nipónica deixou Timor partir dele chegaram a efectuar, por meios guerra, iniciavam uma revolta contra a praticamente destruído, daí que actual- aéreos, o bombardeamento de Port potência colonial que só terminará em mente não são muito abundantes os edifí- Darwin no Norte da Austrália. Uma se- 1947 com o reconhecimento da sua inde- cios de traça tipicamente portuguesa. No vera repressão foi exercida junto dos ti- pendência por parte da Holanda. entanto, sobretudo nas capitais de distrito, morenses fiéis a Portugal, destacando-se Enquanto Portugal tinha feito uma colo- ainda é possível divisar algumas destas entre estes a heroicidade dos régulos nização em que respeitando os costumes infraestruturas as quais são geralmente D. Jeremias e D. Aleixo Corte Real, tendo e tradições locais e incutido nos naturais construções de finais da década de 40 ou este comandado uma guerrilha contra o a religião, a língua e uma série de valores princípios da seguinte, do século XX. invasor nipónico que posteriormente o civilizacionais europeus, no território vi- Estão neste caso sobretudo antigas casas assassinou. Na sede do distrito em Ainaro zinho a colonização não foi europeia mas de Administração de Distrito e as pou- foi levantado a este herói timorense um sim efectuada pela etnia local mais sadas situadas em pontos dominantes, monumento que ainda se encontra em importante, os javanezes e por isso os com enquadramentos paisagísticos ver- bom estado de conservação. Por forma a holandeses nada deixaram nem os seus dadeiramente impressionantes, das quais submeter as populações pelo terror os próprios mortos, já que os mesmos eram merecem destaque as de Tutuala, Baucau, japoneses criaram as chamadas colunas transladados para a Europa. Assim, o facto Hato-Bulico e Maubisse em estado de negras, integrando elementos timorenses da Indonésia ter sido colonizada por Java, conservação aceitável. e javaneses que levaram a cabo ver- além de ser um motivo de permanente Três décadas decorridas após o fim da II dadeiras chacinas contra militares por- instabilidade naquele país também justifi- Guerra Mundial o período de paz é inter- tugueses e nativos fiéis em todo o ter- ritório, nomeadamente em Aileu, onde um memorial assinala o local em que foram executados um elevado número de europeus e timorenses. A ocupação japonesa dividiu os portugueses, uns refu- giaram-se na Austrália apelidando os que tinham ficado no território junto ao gover- nador de colaboracionistas, enquanto os de Liquiçá consideravam os outros de desertores. Mais tarde quando dos trági- cos acontecimentos de 1975 também por- tugueses houve que defenderam a posi- ção do governador enquanto outros dis- cordaram totalmente. Em Timor parece que a História se repete! Só no início de Setembro de 1945 é que o governador português teve conheci- mento da capitulação do Japão e a ren- dição final do invasor ocorrerá em 22 de Setembro perante uma missão australiana, tendo na ocasião os chefes timorenses declarado fidelidade ao governador. Pousada de Tutuala.

14 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA rompido em 1974 após o 25 de Abril. marcas da presença portuguesa, certamente enquanto actualmente com a pesada e cara Alguns portugueses inventam então os porque tomou consciência do carinho e quase máquina burocrática da ONU e dispondo de partidos políticos locais numa terra que veneração que as mesmas suscitavam junto do avultados recursos, a estabilidade e o exercício desde sempre se tinha regido por um sis- povo timorense. eficaz da administração estão longe de ser tema de chefes tradicionais cujo poder Os japoneses tinham criado as colunas alcançado. Depois das colunas negras, dos era transmitido por hereditariedade. negras, os portugueses inventado os partidos partidos políticos e das milícias, surge um Em Agosto de 1975 o governo sai de Díli políticos, os indonésios irão formar as milícias. novo movimento, os “gangs”, que ameaçam e Timor Leste apenas “de jure” está sob Tudo serviu para dividir o tão sofrido povo semear o caos como recentemente aconteceu administração portuguesa. Depois do 25 de timorense. em Viqueque e Díli. Novembro a força política timorense domi- Depois de uma terrível ocupação de quase Ao longo dos anos os incidentes relatados nante, a Fretilin, constata que já não terá um quarto de século, em 1999, por referendo deram origem a profundas divisões e ressenti- apoio por parte de Portugal e declara uni- os timorenses destemidamente e enfrentando mentos entre os timorenses, façamos votos teralmente a independência. Numa época todas as pressões votam esmagadoramente que perante a independência que se avizinha em que a Guerra Fria atingia o seu apogeu e pela sua autonomia e independência. A ONU surja a reconciliação, a tolerância e a coesão o comunismo progredia na Ásia era ina- passa a administrar o território. É a 5ª invasão! neste sempre tão martirizado povo e por isso ceitável para o Ocidente Timor tornar-se a É difícil prever o que a actual acção irá origi- mesmo amplo merecedor de alcançar a paz “Cuba do Oriente”. nar, para já um facto é claro, após a II Guerra e a felicidade.  A 7 de Dezembro de 1975 a Indonésia Mundial e depois de três anos e meio de com- invade brutalmente Timor Leste cometendo as pleto isolamento e total subjugação pelo sóli- *Ver: Timor “A lenda, a terra e as suas maiores atrocidades sobre o povo que trinta do imperialismo nipónico, em cerca de um gentes” R.A. nº 326/Dez99 anos antes tinha sofrido duramente o imperia- mês toda a administração do território, apesar lismo japonês. Era a 4ª Invasão! Parado- dos parcos e depauperados recursos humanos Pereira Lourenço xalmente o invasor indonésio não apagou as e materiais, estava em pleno funcionamento, CTEN FZ

SAIBAM TODOS CELEBRAÇÃO DE ACORDOS EXTENSÃO DE ACORDO Informa-se que a ADMA celebrou acordos com as seguintes enti- Informa-se que a ADMA procedeu à extensão do acordo com a dades e abrangendo os serviços abaixo indicados: seguinte entidade e abrangendo o serviço abaixo indicado: Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde (Hospital) João Carlos Alves Costa – Diagnóstico por Imagem. Ldª. Rua Dr. Bernardo Brito Ferreira, nº 77 4730 – 716 Vila Verde Bairro S. João de Brito, Rua A, nº 15 Telf. 253310120 5300-262 Bragança Telf. 273332991 *Medicina Física e de Reabilitação/Fisioterapia, Cardiologia, *Tomografia Axial Computorizada (TAC). Pediatria, Otorrinolaringologia, Dermatologia, Urologia, Ginecolo- gia, Cirurgia Geral, Cirurgia Vascular, Oftalmologia, Neurocirurgia, SUSPENSÃO DE FILIAL Gastroenterologia, Psicologia, Ortopedia, Medicina Interna, Cirurgia Plástica, RX Convencional, Mamografia, Densitometria, Informa-se que a ADMA suspendeu temporariamente a pedido da Ecografia, Ecocardiograma, Endoscopia, Electrocardiograma, seguinte entidade os serviços abaixo indicados: Análises Clínicas e Anatomia Patológica. MEDI S. MARTA Santa Casa da Misericórdia de Castelo Branco Rua Mário Sampaio Ribeiro, nº 2 r/c Esqº. – Santa Marta do Pinhal Rua da Graça 6000 Castelo Branco Telf. 272321663 2855 Corroios Telf. 212546656 *Medicina Física e de Reabilitação/Fisioterapia *Pediatria Santa Casa da Misericórdia de Resende 4660-213 Resende Telf. 254877434 COMPCOMAR 2001 *Medicina Física e de Reabilitação/Fisioterapia, Pneumologia, Urolo- ● gia, Pediatria, Ginecologia, Obstetrícia, Alergologia e Oftalmologia. Com o intuito de incrementar o treino e a eficiência dos operadores, estimulan- Santa Casa da Misericórdia de Riba de Ave (Hospital) do também o seu interesse pelas comuni- Largo do Hospital cações, vai efectuar-se mais uma vez a 4765-208 Riba de Ave Telf. 252982187 Competição de Comunicações da *Alergologia, Cardiologia, Cirurgia Geral, Cirurgia Vascular, Cirur- Armada 2001 (COMPCOMAR 2001). gia Plástica, Dermatologia, Gastroenterologia, Ginecologia, Medicina Interna, Oftalmologia, Otorrinolaringologia, Ortopedia Reumatolo- CALENDÁRIO gia, Urologia, Medicina Física e de Reabilitação/Fisioterapia, RX Convencional, Ecografia, Mamografia, Tomografia Axial Compu- • A inscrição é aberta a todo o pessoal de comunicações habili- torizada (TAC), Densitometria, Electrocardiograma, Ecocardiogra- tado com o CFM até ao posto de 1º Marinheiro (à data da ma, Timpanograma, Audiograma, Endoscopia Digestiva. inscrição), de acordo com o seguinte calendário: Abertura das inscrições – 23Fev01 Santa Casa da Misericórdia de Ovar Fecho das inscrições – 16Mar01 Rua Cândido dos Reis, nº 56 a 58 Fase I – 21-23Mar01 3880-097 Ovar Telf. 256579800 Fase II – 7-10Mai01 *Medicina Física e de Reabilitação/Fisioterapia. Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Gaia REGULAMENTO Rua Salvador Brandão • O regulamento da Competição consta do PEESCOLDOIS 4400 Vila Nova de Gaia Telf. 227539300 344(B), o qual se encontra distribuído pelos organismos onde se *Medicina Física e de Reabilitação/Fisioterapia. realizam as provas.

REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 15 A MARINHA DE D. MANUEL (13) ChegadaChegada dede VascoVasco dada GamaGama aa LisboaLisboa

os últimos números temo-nos Gama, isso só seria possível se tivesse aí abruptamente e nada nos diz do percurso referido sistemáticamente a um desembarcado, não vindo até Lisboa. Esta até Lisboa, da doença de Paulo da Gama e NRelato da Viagem de Vasco da Gama, segunda hipótese é muito plausível e parece dos acontecimentos que se sucederam após cujo autor permanece desconhecido, embo- ser óbvio a partir do que diz Valentim a chegada de Vasco da Gama. ra se suponha ser um tal Álvaro Velho, do Fernandes, caso este não se tenha enganado D. Manuel ficou certamente satisfeito Barreiro. Trata-se de uma descrição com os resultados da viagem e isso preciosa, pois é feita por uma teste- é notório na descrição de festas munha directa dos acontecimentos e efectuadas em Lisboa, nos tempos escrita à medida que eles se foram que se seguiram à chegada dos desenrolando. Contudo, o Relato ter- navios, mas há outras medidas que mina abruptamente no dia 25 de nos mostram preocupações especí- Maio 1499, sem um desenlace coe- ficas do monarca português. Uma rente com o fim de uma história delas tem a ver com uma “intuição como esta. A última descrição do de si próprio” ou com um sentido autor refere que deveriam estar por messiânico da sua pessoa: alcançara perto dos “baixos do rio Grande” a coroa de Portugal, na sequência (Geba), apesar de não avistarem de múltiplas vicissitudes e acasos terra e nada mais diz. Mas nós sabe- que seriam impensáveis à data em mos como, antes de Cabo Verde, a que nascera; recebera do seu ante- S. Gabriel se afasta da Bérrio (coman- cessor um projecto pronto para a dada por Nicolau Coelho), vindo viagem à Índia; e agora colhia esse esta última sem escala até Lisboa, e doce fruto, que resultara também como Vasco da Gama entregou o da sua persistência, contra as comando do seu navio a João de Sá, objecções de alguns dos seus con- fretando uma caravela em Santiago, selheiros. Havia, pois, uma série de onde vem com seu irmão, muito coincidências que, seguramente, lhe doente. Talvez quisesse chegar a engrandeciam a alma e o faziam Lisboa da forma mais rápida, mas só sentir-se em estado de graça, pre- conseguiu alcançar a ilha Terceira, destinado para grandes feitos. Uma onde morreu Paulo da Gama. das suas primeiras acções foi alterar A Bérrio chega a Cascais em 10 de a sua própria titulação acrescentan- Julho de 1499, Vasco da Gama chega do-lhe senhor da conquista, navegação a 29 de Agosto e, alguns dias antes, e comércio, da Etiópia, Arábia, Pérsia e tinha chegado a S. Gabriel, comanda- Índia (fê-lo numa carta que escreveu da pelo tal João de Sá. ao Imperador Maximiliano, em Digamos pois que a história desta Agosto de 1499), o que não deixa de viagem, depois da tortuosa travessia ser significativo quanto às suas ime- do Índico, da passagem por Melinde diatas aspirações e, talvez, às aspi- e da destruição da S. Rafael, pouco mais nas datas. Aliás, o Relato da Viagem de Vasco rações de alguns dos senhores que lhe eram tem que contar, e o Relato é mesmo muito da Gama só é conhecido por um manuscrito mais chegados. De imediato quis glorificar escasso de informação. A forma abrupta que existia na biblioteca do Mosteiro de Deus (por Quem se considerava especial- como termina, tem chamado a atenção dos Santa Cruz de Coimbra, que Alexandre mente escolhido) com a construção dos historiadores, e levantou várias hipóteses Herculano descobriu em 1834 e que levou Jerónimos, e encetou algumas medidas quanto à sua autoria e às razões porque ter- para a Biblioteca Pública do Porto. Ora esse diplomáticas: escreveu aos reis católicos, mina assim. A primeira razão seria a even- manuscrito não é o original de quem fez a expondo-lhes com alguma cautela a missão tual morte do autor, que teria tido o cuida- viagem (fosse ou não fosse Álvaro Velho): e a descoberta de Vasco da Gama; e enviou do de encomendar o seu manuscrito para foi copiado pelos frades de uma fonte pri- uma carta ao Cardeal Alpedrinha – então a que viesse até Lisboa e fosse divulgado, mitiva e isso não nos garante o original tam- viver em Roma – para que fizesse chegar a mas as investigações sobre o provável autor bém acabasse daquela forma súbita. Alguns notícia junto do Papa. Há pois uma série de encaminham-se para que seja o tal Álvaro autores que estudaram estas mesmas medidas concretas que nos podem dar indi- Velho, e essa pessoa – de acordo com um fontes, querendo explicar o eventual cações sobre o estado de espírito do rei por- outro texto – ainda estava viva em 1507. desembarque na costa da Guiné de Álvaro tuguês, após a chegada da primeira es- Nesse ano, Valentim Fernandes escreve Velho, aventaram a hipótese de que fosse quadra da Índia, mas os meses que se uma descrição da Serra Leoa e do rio um homem condenado, que acompanhou seguiram a este acontecimento devem ter Gambia, e afirma que se baseia em infor- Vasco da Gama, mas que teria de cumprir o sido de intensos debates sobre a estratégia mações que lhe deu Álvaro Velho “que resto da sua pena, num degredo africano. É naval a adoptar no oriente, como veremos esteve oito anos nessa terra”. Se isto se claro que é possível, mas não encontro nada nos próximos números.  passa em 1507, então em 1499 Álvaro Velho que o fundamente, parecendo-me uma já estava na costa ocidental de África, e especulação como outra qualquer. O que é J. Semedo de Matos como tinha vindo na frota de Vasco da certo (e é pena) é que o manuscrito termina CTEN FZ

16 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA HerançaHerança ee PatrimónioPatrimónio dodo GrupoGrupo nºnº 22 dede EscolasEscolas dada ArmadaArmada

INTRODUÇÃO tituído por Brigadas Autónomas. Uma delas, Batalhão Naval, extinto na mesma data. É a Brigada de Marinheiros ocupou, então, as de referir que já em 1837 aquele Batalhão ão será, decerto, um erro afirmar instalações que haviam pertencido à substituíra o Regimento da Armada que, por que a esmagadora maioria dos mi- ECRA.Em 1934 o Corpo de Marinheiros sua vez, tinha “rendido” em 1832 a Brigada Nlitares que prestam serviço na ressurgiu, reintegrando as Brigadas e insta- Real de Marinha que agrupara num só Marinha de Guerra Portuguesa passou, pelo lando-se, pela primeira vez, no aquartela- organismo, em 1797, todos os regimentos menos uma vez nas suas carreiras, pelo mento do Alfeite, onde antes estivera insta- que guarneciam os navios da Armada Real: Grupo nº 2 de Escolas da Armada (G2EA). lada a Brigada de Marinheiros. os Regimentos da Armada e o Regimento de Quantos, porém, conhecerão a história Artilharia de Marinha. associada ao harmonioso conjunto arquitec- Ao longo da sua existência, o Corpo pas- tónico que, na altura, se lhes apresentou O CORPO DE MARINHEIROS sou por várias reorganizações e alterações, diante dos olhos? Para colmatar, em parte (e destinadas a dar resposta às novas exigên- dentro das modestas capacidades do autor), Criado em 22 de Outubro de 1851, por cias impostas pela evolução das tácticas e essa grande lacuna se escreve o pequeno decreto da Rainha D. Maria II, o Corpo de dos armamentos navais. As mais significati- texto que se segue. Marinheiros Militares destinava-se a agrupar vas ocorreram em 1855, 1868, 1875, 1884, 1898 e 1902. Na reforma de 1855 o Corpo adoptou a designação de “Corpo de Marinheiros da Armada Real”, tendo esta sido novamente alterada em 1868 para “Corpo de Marinheiros da Armada”, que se manteve até à sua extinção definitiva em 1961. A designação que perdurou sempre foi, no entanto, a de “Corpo de Mari- nheiros” ou, simplesmente “o Corpo”, como afectuosamente o designavam os militares que nele serviram. Nesse período, o Corpo foi extinto por duas vezes: a primeira entre 1918 e 1920, em que foi substituído pelo Corpo de Equipagens da Armada, e a segunda entre 1924 e 1934, em que se subdividiu em qua- tro Brigadas Autónomas – as Brigadas de Marinheiros (que dava a instrução geral e Edifício do Comando - fachada principal (Nascente). preparatória), Artilheiros, Mecânicos (que e a fornecer os sargentos e as praças que englobava as instruções de Electricidade, O LOCAL iriam guarnecer os navios da Armada. Este Radiotelegrafia, Máquinas, Torpedos e organismo, cujo primeiro Comandante foi o Minas) e Guarda Naval. Esta segunda reor- O Grupo nº 2 de Escolas da Armada Capitão-de-Mar-e-Guerra (mais tarde Vice- ganização, mais duradoura, deveu-se ao ocupa instalações cuja construção se ini- -Almirante) Francisco de Soares Franco facto de se considerar que o Corpo não ciou em 1914, destinadas então à Escola de Junior (1810-1885) (2), veio a substituir o tinha capacidade para administrar a Aplicação de Marinha. Esta escola, no entanto, nunca se chegou a instalar, pois as obras foram suspensas em 1915, depois de se ter dado início à construção do Corpo de Comando. Os terrenos atribuídos perten- ciam à antiga Quinta Real, junto à Ponta do Mato e ao Palacete do Antelmo, onde o Rei D. Carlos se alojava sempre que vinha caçar para o Alfeite (1). Nos edifícios em construção (as obras tinham sido retomadas em 1916) viria a instalar-se, em 1918, a Escola Central de Recrutas da Armada (ECRA), que aí permaneceu até 1924, altura em que foi extinta. Também extinto foi, então, o Corpo de Marinheiros (a que dare- mos, mais adiante, um maior destaque, Parada do Grupo nº 2 de Escolas da Armada: apesar de terem sido construídos novos edifícios, a parada conserva ✎ dada a sua importância no contexto) e subs- a traça do projecto de 1914.

REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 17 instrução das diversas especialidades e que que os marinheiros chamavam o “cruzador Corpo de Marinheiros ter já sido criado a sua estrutura era demasiado “pesada”, amarelo”) nos seus velhos tempos: “… um após os grandes combates navais das guer- absorvendo demasiado pessoal, de modo a, conjunto isolado no Alfeite com acesso ras napoleónicas e das Lutas Liberais. No por vezes, ter dificuldades em guarnecer os muito difícil: a norte, só para peões utilizan- período que se seguiria, Portugal empenhar- navios. Acabou-se, porém, por chegar à do uma azinhaga íngreme; a sul por peões e -se-ia quase exclusivamente na defesa do conclusão de que a solução das Brigadas viaturas por uma velha estrada de piso irre- seu império, sendo o conflito mundial de também não era a mais adequada, pois os gular e em muito mau estado. Muito mal 1914-18 (uma das poucas ocasiões em que seus comandos ficavam sobrecarregados de iluminado, era cercado por um muro de se registam combates navais, estando men- tarefas burocráticas e não conseguiam dar a tijolo junto ao qual as sentinelas supersti- cionado na lápide o célebre combate entre devida atenção à parte da instrução. Outro ciosas, à noite, sentiam calafrios quando o caça-minas “Augusto Castilho” e o problema era o de evitar as diferenças de ouviam regougar as raposas, piar os mochos submarino alemão U-139) o único em que critérios entre Brigadas na avaliação e clas- ou morcegos, no Verão, cruzavam os ares o País se veria externamente envolvido. sificação do pessoal. Com todas as suas li- por perto delas…” (6) Ora, tendo a Marinha tido um papel funda- mitações, a organização do corpo de Em Outubro de 1951 celebrou-se o mental na expansão nacional, é natural que Marinheiros acabava por ser “a mais sim- primeiro centenário do Corpo, cerimónia fosse chamada a assumir as suas respon- ples, mais económica em pessoal de que contou com as presenças do Ministro sabilidades em relação aos territórios que aquartelamento, mais prática e mais da Marinha e do Governador Civil de ajudara a conquistar e cujas costas e águas harmónica” (3). Setúbal. Nela se descerraram dois grupos de interiores tão activamente patrulhava, É de referir, a título de curiosidade que, lápides, que ainda hoje podem ser vistas (7): fornecendo, ainda, grande parte dos fun- na altura, os embarques eram efectuados as primeiras, no átrio do edifício de coman- cionários e das autoridades coloniais. Outra por companhias ou meias-companhias (os do (substituindo, por estarem mais comple- razão para que tivesse sido solicitado á destacamentos, tal como as nomeações, tas, as que anteriormente lá tinham sido Marinha o seu empenhamento terrestre foi o promoções e regis- facto dos seus mi- tos, estavam centra- litares terem, à parti- lizados no Corpo), da, maior vocação devidamente en- e capacidade de quadradas por ofi- adaptação para o ciais e sargentos do desempenho de ac- Corpo, cujo número ções em climas tro- era proporcional ao picais. das praças desta- Mas as comemo- cadas (4). Mas mes- rações mais não mo após o destaca- foram do que o mento, as guarni- “canto de cisne” do ções regressavam Corpo. Em 1961, a regularmente às ins- conveniência de talações do Corpo integrar todas as (uma vez por mês), actividades relativas para instrução de a pessoal numa Infantaria e treino única direcção de de desembarque, serviços, levou à numa harmoniosa Criação da Direc- articulação entre a ção do Serviço do instrução e a vida Pessoal, sendo na operacional. Quão mesma altura defini- mais fácil devia ser, tivamente extinto o então, a gestão do Corpo de Mari- pessoal! Talvez esta nheiros da Armada. solução não fosse a No mesmo ano mais adequada para era criado, pela por- satisfazer os padrões taria nº 18509 de 3 Edifício do Comando - fachada poente: ao centro são visíveis as lápides onde estão inscritas as acções em de adestramento que tomou parte o Corpo de Marinheiros. de Junho do Minis- exigidos num PTA tro da Marinha, o ou num OST (5), mas haveria, sem dúvida, mandadas colocar pelo Comandante Álvaro Grupo nº 2 de Escolas da Armada, em con- logo à partida, um maior espírito de corpo Gil Fortée Rebelo, então Segundo Coman- formidade com o Decreto nº 43711/61 de (ou, melhor dizendo, “espírito do Corpo”, dante do Corpo), com o nome dos sargentos 24 de Maio, que estabelecia a nova estrutu- se os leitores perdoarem o trocadilho) entre e das praças do Corpo que tombaram em ra orgânica dos estabelecimentos de ensino o pessoal embarcado, pois era proveniente combate (lembra-se que os oficiais dis- da Armada. À Escola de Limitação de da mesma origem e tinha tido a mesma for- põem, na Escola Naval, do seu próprio Avarias, que desde 1959 se situava, já, na mação de base e o mesmo enquadramento memorial); as segundas, na parada, com a sua actual localização, juntaram-se, naquele militar. inscrição das acções em que tomaram parte ano, a Escola de Comunicações e a Escola O Corpo de Marinheiros conheceu vários sargentos e praças do Corpo. É curioso de Artilharia Naval. A Escola de Armas aquartelamentos ao longo da sua existência, mencionar que a maior parte das efemé- Submarinas e a Escola de Marinharia viriam tendo estado instalado na fragata “D. rides mencionadas ocorreu em terra, quer a instalar-se em 1972, a Escola de Fernando II e Glória” de 1851 a 1853, na em acções de pacificação nas colónias quer Tecnologia de Educação e Treino em 1986 nau “Vasco da Gama” de 1853 a 1857, no na defesa de Angola e de Moçambique con- e a Escola de Informações de Combate em quartel de Alcântara, de 1857 a 1924 e no tra os Alemães e tribos sublevadas durante a 1993. Alfeite de 1934 a 1961. Muitos ainda se Grande Guerra. O facto talvez não cause Embora, em boa verdade, se possa afir- lembrarão deste último aquartelamento (a tanta estranheza se recordarmos o facto do mar que toda a Marinha é “herdeira” das

18 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA gloriosas tradições do praças do Corpo mortos Corpo de Marinheiros da em combate, embora, Armada, foi este Grupo como foi atrás referido, de Escolas o verdadeiro essas lápides tenham “beneficiário” do seu sido substituídas por “testamento”, pois her- outras mais completas, dou não apenas as suas após um levantamento instalações mas também mais exaustivo, por o seu estandarte, com ocasião das comemo- todas as condecorações rações centenárias. que os seus feitos ao Tinham sido, entretan- serviço da Marinha e da to, descobertos, em Nação lhe haviam mere- 1949, num edifício des- cido: duas comendas da tinado a demolição situ- Ordem Militar da Torre ado junto á antiga sede e Espada e duas Cruzes do Clube Militar Naval, de Guerra de 1ª Classe dois belíssimos painéis (uma das comendas foi de azulejos da autoria directamente atribuída de Jorge Colaço (1868- ao Corpo pelos valiosos -1942, o insigne pintor e serviços prestados du- azulejista cujos traba- rante a Grande Guerra e lhos decoram a estação contra a incursão mo- Átrio do Edifício de Comando - vista geral e escadaria. de S. Bento, no Porto, o nárquica no Norte do Palace-Hotel do Buçaco País em 1919, tendo as 3 restantes con- monial, assim como pela sua beleza e o palácio de Windsor, em Inglaterra, decorações sido “herdadas” do Batalhão artística e arquitectónica, o soberbo átrio entre muitos outros locais em Portugal e Expedicionário ao Sul de Angola em principal do edifício do comando. no Estrangeiro) representando as conquis- 1914-15, que não apenas levara consigo Coube ao Comandante Álvaro Gil tas de Lisboa aos Mouros, em 1417, e de a bandeira do Corpo como formara as Fortée Rebelo (já anteriormente men- Ceuta, em 1415(9). Tratou, então, o suas fileiras com os militares a ele perten- cionado), na qualidade de Segundo Primeiro Comandante do Corpo (por centes(8)). A estas condecorações viria, em Comandante do Corpo de Marinheiros acaso, o autor da descoberta) de adquirir 1995, a ser adicionada a Medalha de (desempenhou as funções entre 1937 e aquelas inestimáveis obras de arte, após Ouro de Serviços Distintos, pela valiosa 1939), a iniciativa de o mandar embe- infatigáveis diligências para conseguir a acção formativa desenvolvida pelo Grupo lezar, adornando-o, juntamente com a verba necessária. A sua transferência e ao longo de mais de três décadas. escadaria de acesso ao piso superior, recolocação foram integralmente efec- com apetrechos navais, armas e uten- tuadas por pessoal pertencente ao Corpo, sílios militares, com especial destaque sob a competente direcção do chefe da O ÁTRIO DO EDIFÍCIO para o armamento portátil utilizado pelos oficina de carpintaria, Sargento-Ajudante DO COMANDO batalhões expedicionários de Marinha Loureiro. Integrando-se harmoniosamente nas suas campanhas africanas. Foi tam- no conjunto decorativo concebido pelo Ao falar das instalações do actual bém deste distinto oficial a ideia de man- Comandante Fortée Rebelo, como se G2EA, seria impensável deixar de men- dar colocar no mesmo átrio as primeiras sempre lá tivessem estado, os dois cionar, pelo seu valor histórico e patri- lápides com os nomes dos sargentos e painéis foram solenemente inaugurados,

REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 19 Companhia do Sul de Angola em 1915 Notas: (1) O lugar do Alfeite foi cedido por D. Afonso TODAS AS UNIDADES CUMPRIRAM Henriques aos cruzados ingleses, após a conquista O SEU DEVER POR FORMA A JUSTI- de Lisboa (1147). Em 1834, depois de, por várias FICAR O GRANDE ORGULHO QUE vezes, ter mudado de mãos, a Quinta foi reunida aos bens da Coroa, tendo revertido para a posse do SINTO EM TÊ-LAS COMANDADO: Estado após a proclamação da República, em 1910. PORÉM, JULGO MERECEDOR DE ESPE- Note-se que já desde 1891 se pensava na transferên- CIAL MENÇÃO O BATALHÃO DE cia do Arsenal de Marinha para a margem Sul do MARINHA. Tejo, mas só em 1909 uma sub-comissão militar ESTA UNIDADE MOSTROU SEMPRE emitiu um parecer segundo o qual só a bacia da Cova da Piedade entre o Alfeite e o pontal de A MAIOR CORRECÇÃO, E NÍTIDA Cacilhas oferecia condições satisfatórias, do ponto COMPREENSÃO DOS SEUS DEVERES de vista estratégico (em relação a uma agressão por CÍVICOS E MILITARES, TANTO NO via marítima ou terrestre) para a instalação de uma PERÍODO QUE ANTECEDEU AS base naval. Os trabalhos de terraplanagem, contudo, apenas se iniciaram em 1929, consumando-se, por OPERAÇÕES COMO DURANTE AS fim, a transferência do Arsenal de Marinha para a OPERAÇÕES. Margem Sul em Janeiro de 1939. FOI, SEM O MENOR EXAGERO, UMA UNIDADE DE ÉLITE, CUJA TÊMPERA (2) Este herói das Lutas Liberais, que acabou por ser nomeado Comandante-Geral da Armada, foi ainda aju- FICA DEFINIDA DIZENDO QUE FOI A dante de campo do Rei D. Luís, Par do Reino e depu- MAIS RESISTENTE NAS MARCHAS, A tado em várias legislaturas. MAIS ESFORÇADA NOS COMBATES E QUE DURANTE OS QUATRO DIAS EM (3) Extraído do discurso do Primeiro Comandante do Corpo de Marinheiros da Armada, CMG Jacinto QUE NA MONGUA ESTIVEMOS RE- Flaeschen Pereira de Mendonça, nas comemorações DUZIDOS A UM QUARTO DE RAÇÃO, do 100º aniversário do Corpo. Painel representando a conquista de Lisboa. AS SUAS SENTINELAS CHEGARAM A CAIR DE FRAQUEZA NOS RESPEC- (4) Refere-se, a propósito, outra curiosidade: na remodelação de 1892, chegou a ser dada aos tendo pertencido ao antigo Segundo TIVOS POSTOS, SENDO IMEDIATA- Comandantes dos navios a prerrogativa de recrutar Comandante a honra de os descerrar. MENTE RENDIDAS SEM QUE DISSO O indígenas nas colónias (se as necessidades o justificas- A decoração do átrio completou-se, após COMANDO SUPERIOR TIVESSE CO- sem), devendo, porém, na primeira oportunidade, o Centenário, com a aquisição de placas de NHECIMENTO, POIS ESSA UNIDADE comunicar ao Corpo os elementos necessários ao seu mármore com três citações cuja integral SABIA QUE ESSE COMANDO NADA alistamento definitivo. transcrição se afigura de grande importân- PODIA FAZER QUE MODIFICASSE DE (5) Para os que não conhecem: respectivamente cia, pois poderiam lembrar a muitos PRONTO A SITUAÇÃO. “Plano de Treino Avançado” e “Operational sea decisores políticos e líderes de opinião, Training”. caso as lessem e tivessem a humildade de (Do relatório do GENERAL PEREIRA (6) 1TEN SG Joaquim José Ferreira, Revista da aprender com a História e com o eloquente DE EÇA) Armada nº 228, Janeiro de 1991, p. 5 (Cartas ao exemplo dos nossos Ilustres, o fundamental Director) papel desempenhado pela Marinha Deste modo se tornou este espaço um (7) Foi também por ocasião deste Centenário que Portuguesa na afirmação do País: pequeno, mas valioso, museu que justifica se iniciou a redacção do excelente trabalho colectivo uma visita de todos os que passarem pelo intitulado “O Corpo de Marinheiros da Armada no «…PARA CONSERVAÇÃO E AUMEN- G2EA, assim tenham hipótese de o fazer. seu 1º Centenário”, que é mencionado na bibliografia TO DA MINHA ARMADA REAL, QUE É e cuja leitura se recomenda a todos os interessados NÃO SÓ UMA DAS BASES FUNDA- em saber mais sobre o Corpo e sobre os edifícios do G2EA. MENTAIS DO MEU REAL E SUPREMO O FUTURO PODER, MAS A MAIS INDISPENSÁVEL- (8) Como, na altura do embarque, o Batalhão não MENTE NECESSÁRIA. ASSIM PARA O ano 2001 assistirá a um novo virar tinha porta-estandarte, foi nomeado, de improviso, o PRESERVAÇÃO DAS COLÓNIAS POR- de página para o G2EA. Com o reorde- então Segundo-Tenente Oliveira Pinto que, aquando das comemorações do 1º Centenário do Corpo era TUGUESAS, COMO PARA PROTEGER A namento do Parque Escolar veremos as Almirante Major General da Armada (o equivalente ao NAVEGAÇÃO MERCANTIL E O CO- escolas técnicas transformadas em actual Almirante CEMA). MÉRCIO DOS MEUS REAIS VASSALOS; departamentos de formação e concen- SENDO CONSTANTEMENTE CERTO, tradas nas antigas instalações do Corpo (9) E já perguntarão os leitores mais atentos o que fazem as representações de dois feitos da Magala num QUE SEM UMA FORÇA MARÍTIMA QUE de Marinheiros, consumando-se, deste espaço nobre de uma unidade de Marinha. É erradíssi- AS DEFENDA E O SUSTENTE, NEM AS modo, a fusão dos dois Grupos actual- mo seguir tal raciocínio pois ambos os feitos de armas COLÓNIAS SE PODERÃO CONSERVAR, mente existentes. se podem classificar como estando entre as primeiras NEM O COMÉRCIO SUBSISTIR.» A vida mais não é do que um contínuo grandes operações anfíbias da História. Além disso, a conquista de Lisboa aos Mouros assegurou a posse de devir e os novos desafios deverão ser o um dos principais (se não mesmo o principal) portos da (De um Alvará de D. MARIA I, de 3 de estímulo que nos leva a progredir, dia Península Ibérica, garantindo, desde logo, a vocação Junho de 1793) após dia, sem saudades daquilo que marítima de Portugal e a sua abertura ao Mundo. Mais * deixamos para trás. Seja, porém, o fácil se torna associar a conquista de Ceuta ao início da A ARMADA GLORIOSA DE PORTU- esforço dos que nos antecederam uma Gesta Marítima nacional, pois marcou, de facto, o primeiro acto da expansão portuguesa para lá dos li- GAL NÃO ADMITE RESTRIÇÕES PARA inspiração para o caminho que temos, mites continentais do País. AS ENERGIAS FULGURANTES DO SEU ainda, de trilhar. Tudo isso podemos PATRIOTISMO; NEM LIMITES PARA A encontrar no Grupo nº 2 de Escolas da Bibliografia SUA INDOMÁVEL ACÇÃO COMBATI- Armada: uma gloriosa herança que se FONSECA, CMG Henrique A., “O Corpo de DA; NEM DÚVIDAS PARA A SUA FÉ torna a mais segura garantia de um Marinheiros”, Revista da Armada, nº 44, Maio de INQUEBRANTÁVEL NOS DESTINOS DA futuro radioso.  1975, Lisboa, p.p. 4-9 NACIONALIDADE. O CORPO DE MARINHEIROS DA ARMADA NO Moreira Silva SEU 1º CENTENÁRIO, (vários autores), Comando do (a) ANTÓNIO JOSÉ D`ALMEIDA 1TEN Corpo de Marinheiros da Armada, Lisboa, 1956

20 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA AA MarinhaMarinha nono DouroDouro

No passado dia 4 de Março, ras de Aveiro e de Caminha, até uma distân- pronto para se iniciarem as buscas, mas os cia de sete milhas de costa. Durante o arco troncos de árvores transportados pelo rio um autocarro transportando diurno, na sequência de solicitação de apoio representavam um elevado risco para a 60 pessoas caiu ao Rio Douro à Força Aérea por parte do Comando Naval, embarcação numa operação nocturna, o que foram ainda empenhados diversos meios adiou o início dos trabalhos para o dia devido à queda de um pilar aéreos entre 7 e 19 de Março, designada- seguinte. de suporte, arrastando parte mente helicópteros Puma e Allouette III e A forte corrente que se fazia sentir, a do tabuleiro da ponte que aeronaves de asa fixa C-212 e P3P efectuan- grande quantidade de matéria em suspensão, do buscas entre a Figueira da Foz e o Cabo os detritos transportados, as zonas de mistura liga Castelo de Paiva a Entre- Peñas (Galiza). de águas e os remoinhos, tornaram practica- -os-Rios. mente impossível a obtenção de registos com O autocarro e os três ou qua- INTERVENÇÃO o sonar lateral. Não foi possível, com aquelas DO INSTITUTO HIDROGRÁFICO condições ambientais, a obtenção de um re- tro carros que seguiam atrás gisto com um mínimo de qualidade que per- deste, desapareceram em Desde as primeiras horas da manhã do dia mitisse uma análise dos contactos de sonar, poucos segundos. seguinte à queda da Ponte Hintze Ribeiro destacando-se um, obtido às 15:20 do dia 6, que no Instituto Hidrográfico (IHPT) se ini- com cerca de 12 m, de forma indefinida, a 150 ciaram os preparativos por forma a se garan- metros da ponte. violência do caudal do rio e as con- tir a colocação de uma equipa multidiscipli- Entretanto, nesse mesmo dia, seguia por dições atmosféricas que se fizeram nar, e respectivo equipamento, no local da terra outra equipa com um magnetómetro, Asentir por altura do acidente, dificul- tragédia no mais curto espaço de tempo. É um correntómetro acústico por efeito taram as operações de resgate dos corpos. fácil imaginar as dificuldades que foram Doppler e um veículo submarino de contro- Têm sido longos e penosos os dias lo remoto (ROV), este último na de espera para os familiares das víti- esperança que a melhoria das mas que aguardam com tristeza os condições permitisse a sua operação. corpos dos seus entes queridos. Foi equacionada a utilização do Em virtude deste acidente, foram sistema de sondagem por multifeixe, activados através do Serviço mas tornava-se inviável a colocação

Nacional de Protecção Civil diversos Fotos do CTE Cambraia Duarte do multifeixe do IHPT, de mon- serviços de apoio, bem como solicita- tagem fixa, na área de operação em da a intervenção dos meios da tempo útil, pelo que se procedeu ao Armada através dos respectivos aluguer de um sistema similar, mas canais hierárquicos. que pudesse ser montado em qual- quer embarcação. Deslocou-se de A PRESENÇA DA MARINHA imediato para o local uma equipa do IHPT especializada na operação A coordenação das operações de deste tipo de sistema. resgate esteve a cago do CMG Nos dias subsequentes realizaram- Centeno da Costa, Comandante do -se cerca de cinquenta fiadas de sonar Departamento Marítimo do Norte e lateral num troço de 2 km, onde nor- do Comando da Zona Marítima do malmente seriam necessárias apenas Norte, que activou, através da duas ou três, mas o rio teimava em Capitania do Porto do Douro todas as não permitir a obtenção de um regis- Capitanias da área da sua respon- to minimamente aceitável. sabilidade, entre Aveiro e a foz do O Director Técnico do I.H., CFR Augusto Ezequiel e o Chefe do Ao fim da tarde do dia 8 chegou Minho. Em colaboração com o Destacamento de Mergulhadores 1TEN Paulo Vicente. da Dinamarca o sistema de multi- Instituto de Socorros a Náufragos, feixe, o qual foi montado em tempo Polícia Marítima e Serviço Nacional de necessárias vencer para reunir elementos recorde e que se juntou às buscas logo no Bombeiros foram desenvolvidas buscas na envolvidos em outras missões, viaturas e dia seguinte. A operação do sistema esteve área costeira, quer por embarcações, quer cerca de duas toneladas de equipamento a cargo dos especialistas do IHPT, de um por postos de vigilância em terra, de modo a diverso. dinamarquês e de um outro, escocês, da localizarem destroços dos veículos e despo- Assim que foi dada a ordem por parte do Kongsberg-Simrad, com quem o IHPT tra- jos ou corpos das vítimas do acidente. ALM CEMA, deslocou-se de imediato num balha habitualmente. Foi ainda utilizado Para além dos meios em terra e na área do helicóptero da Força Aérea uma equipa de um sonar rotativo de alta frequência, seme- acidente, foram empenhados meios navais e sonar lateral para Entre-os-Rios. Enquanto lhante ao usado no ROV do IHPT, para aéreos de forma a cobrir, no mar, a zona de esta primeira equipa analisava as condições auxílio às buscas que se estavam a desen- maior probabilidade de detecção de no cenário de operação e procedia à mon- volver. cadáveres. Neste sentido, foram empe- tagem de equipamentos numa embarcação Realizou-se também um levantamento nhados os N.R.P. “Augusto de Castilho” (em local, seguia por terra uma segunda equipa com o magnetómetro até 5km a jusante da 9 de Março), “João Coutinho” (de 9 a 15 de encarregue do posicionamento e da son- ponte para obtenção de um registo de refe- Março), “Geba” (de 10 a 22 de Março) e dagem hidrográfica com sistema de feixe rência. Da análise dos dados concluiu-se que “Schultz Xavier” (de 14 a 22 de Março), na simples. Cerca das 18 horas do mesmo dia, a anomalia calculada para o autocarro, condução de buscas de corpos entre as bar- todo o equipamento estava operacional e função da massa de ferro e inversamente REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 21 Fotos do IH da ponte em 1985, e do qual não se co- MERGULHADORES DA ARMADA nhecia a sua localização. Na manhã do dia DESTACAMENTOS DE 19, foi efectuado um segundo mergulho, numa posição a cerca de 20 metros da MERGULHADORES SAPADORES posição do primeiro eco tendo-se identifi- Na sequência da tragédia ocorrida na cado uma estrutura metálica com tecidos, ponte de Entre Rios, no dia 4 de Março, foi que se veio a confirmar como o autocarro dada ordem de intervenção aos Mergu- acidentado. No dia seguinte foi iniciado o lhadores da Armada. resgate das águas do rio, operação que se No dia 5 de Março, pelas 4 horas, uma revelou morosa e com grandes dificul- secção de mergulhadores dos DMS’s, cons- Planeamento de operações. dades técnicas. tituída por 2 oficiais, 1 sargento e 8 praças, Actualmente prossegue o processo de encontrava-se pronta para partir em mis- proporcional ao cubo da distância, passaria validação dos diferentes alvos. são. despercebida no valor do campo magnético Desde o início dos trabalhos foi permiti- Ao longo desse mesmo dia, outra local, afectado pela geologia, por grandes do o acesso dos familiares dos sinistrados secção, constituída por 1 oficial, 2 sargen- massas de ferro existentes nos cais de atra- às embarcações em operação e posterior- tos e 10 praças era mantida em prontidão, cação, nos batelões e nos destroços da ponte. mente aos “media”, por forma a que aguardando a análise preliminar às No dia 7, foi decidido colocar uma pla- pudessem observar as operações em condições efectuada pelos mergulhadores taforma de apoio sobre o eco detectado, por curso, bem como os equipamentos utiliza- no terreno - pelas 20:30 foi dada ordem de forma a proceder à sua identificação. A dos. Todas as informações disponíveis saída a esta secção. medição de correntes no local indicava va- foram fornecidas em antecipação aos Ao chegar ao local, as equipas depa- lores superiores a oito nós, o que não possi- familiares. raram com um cenário de angústia e bilitaria à partida efectuar qualquer tentativa É de salientar a prontidão com que se expectativa, confrontando-se com con- de mergulho. Foi decidido realizar um mer- disponibilizaram para cooperar nas buscas dições de trabalho extremamente adversas, gulho assim que se reunissem condições diversas equipas estrangeiras especia- designadamente muita chuva, vento, um mínimas de segurança. Numa primeira ten- rio “castanho” e uma corrente que ron- tativa não foi possível ultrapassar os dois daria os 8 nós, inviabilizando qualquer metros de profundidade. No dia seguinte, tentativa de mergulho. realizou-se nova tentativa após concen- Durante todo o dia 6 e a manhã do dia 7, tração de esforços com as barragens a mon- foram efectuadas buscas junto às margens, tante do rio Douro e Tâmega, no sentido de rocegas por botes e posicionado um navio não se efectuarem descargas, contudo as areeiro sobre um eco detectado a cerca de condições meteorológicas não permitiram 100 mts da ponte acidentada e que tinha as alongar estes esforços. Apesar da dimi- medidas aproximadas do autocarro desa- nuição de caudal as correntes eram superi- parecido. ores a seis nós. A tentativa de mergulho não Durante a tarde do dia 7 questionou-se a permitiu ir além dos cinco metros numa Registador do Sonar Lateral. possibilidade de tentar um mergulho, ava- profundidade de 12 metros. Só no dia 11 liado preliminarmente como impossível, após concentração de esforços com todas as lizadas em mergulho e pesquisa, devido as condições físicas e meteorológicas. barragens de ambos os rios, incluindo as nomeadamente de Espanha e França. Foi decidido que se utilizaria um equipa- espanholas, foi possível efectuar cinco mer- Apesar de não terem constituído uma mento de montanhismo adaptado e uma gulhos tendo-se identificado uma embar- solução alternativa, uma vez que o método plataforma estável. O mergulhador desceria cação afundada. Após estes mergulhos, foi de operação e os equipamentos utilizados preso ao cabo de descida inclinado a favor retirada a plataforma de apoio a fim de são semelhantes aos nossos, o contacto foi da corrente através de um arnês de alpinis- prosseguirem as pesquisas no local. muito proveitoso, tendo permitido a troca mo, comunicando com a superfície por uma Desde o dia em que foi feita a primeira de experiências e a discussão de métodos linha guia que serviria também para o içar. identificação de um contacto de sonar, as alternativos para operação em condições Nesta situação, cientes dos perigos e condições meteorológicas melhoraram si- além do limite. gnificativamente, o caudal diminuiu e as Refira-se ainda que foi analisada minu- partículas e os detritos transportados pelo ciosamente a viabilidade de execução de rio diminuíram também, o que permitiu todas as ideias para a realização das buscas uma melhoria significativa na qualidade e identificação dos contactos, apresentadas dos registos obtidos. por empresas e particulares, nacionais e Prosseguiu o levantamento de sonar la- estrangeiros. teral ao longo do rio em troços de 2 km, até No período de 19 a 23 permaneceu no à Barragem de Crestuma e de multifeixe, local uma equipa holandesa com cães espe- até 10 Km a jusante do local do acidente. A cializados na detecção de cadáveres, que informação foi processada, cruzada e foram indicou áreas suspeitas. definidos diversos alvos. Sobre estes foram Por último, é de realçar o auxílio da po- feitas novas passagens, os registos foram pulação local que prontamente se dis- processados e analisados, comparados ponibilizou para qualquer ajuda que fosse novamente. Alguns alvos foram colocados necessária, dos donos dos areeiros que para segundo plano, por provavelmente cederam embarcações, gabinetes para corresponderem a afloramentos rochosos. montagem do centro de operações e guar- Iniciaram-se no dia 17, sábado, os da de material, do pessoal das embar- mergulhos para identificação dos alvos cações que foi inexcedível no seu apoio às seleccionados. O primeiro revelou ser um operações e de todas as entidades contentor de 12 metros utilizado como cais envolvidas, sem as quais não teria sido flutuante que se teria libertado a montante possível levar esta missão a bom porto. Imagem 3D.

22 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA Fotos cedidas gentilmente pela SIC expandir a área de busca até 20 mts, ACÇÃO E MEIOS DO CORPO DE possibilitando uma busca completa, FUZILEIROS apenas dificultada por afloramentos rochosos de grandes dimensões. A Marinha determinou o empenhamento Na ausência de qualquer contacto de uma Força de Fuzileiros, com o objectivo positivo, foi reposicionada a poita de de apoiar a operação humanitária a desen- forma a se efectuar uma nova busca, volver no local. Constituída por 2 Oficiais, 3 com o objectivo de tentar explorar até Sargentos e 24 Praças e sob comando do ao limite o período de redução da cor- 2TEN FZ Vaqueiro, partiu para a missão em rente. 5 de Março, pelas 10.30h, tendo sido reforça- Com a chegada do mergulhador à da no dia seguinte com mais 1 Oficial, (2Ten. Mergulhador e acção da corrente. superfície veio a notícia de que não se Capelão Licinio), 1 Sargento e 15 Praças. tratava do autocarro mas sim de um Na execução da missão, foram inicialmente imprevisibilidade do mergulho, toda a velho batelão afundado. empenhadas cinco viaturas tácticas e uma equipa se ofereceu como voluntária. No dia 12 foi recebida ordem para regres- administrativa, 16 botes com motor, equipa- Optou-se por utilizar um mergulhador sar à B.N.L. permanecendo os mergu- mentos de comunicações e material de cam- experimentado, organizando-se o resto da lhadores com prontidão de 12 horas. panha diverso. Como equipamento especial e equipa de forma a garantir a segurança desse As equipas do I.H. mantiveram-se no dada a natureza da missão, estão a ser utiliza- mergulho. local, trabalhando na detecção e avaliação de dos visores nocturnos, binóculos, lanternas e Constatou-se a impraticabilidade de qual- novos ecos. equipamentos de GPS. quer mergulho naquelas condições, tendo o A alteração das condições atmosféricas A Força ficou na dependência do mergulhador resistido apenas vinte segun- condicionou a ordem para preparar e sair de Comandante da Zona Marítima do Norte, dos dentro de água. novo com o objectivo de recomeçar os traba- tendo-lhe sido atribuída a missão de patru- Foi então indagada, por todas as autori- lhos, na madrugada do dia 17. lhar a área compreendida entre o local do aci- dades presentes no local, a possibilidade de Na tentativa de identificar um eco de dente e a Barragem de Crestuma, numa as barragens poderem diminuir as suas grandes dimensões efectuou-se, a partir das extensão de 27 Km. descargas, possibilitando uma nova tentativa. 18 horas desse mesmo dia, o primeiro de três Para cumprimento das tarefas, a Força Na manhã do dia 8 iniciaram-se os prepa- mergulhos, a cerca de 1200 metros da ponte organizou-se em sete binómios de botes, rativos para um novo mergulho previsto e num fundo de cerca de 15 mts. sendo que a seis deles foi atribuído um sector para o inicio dessa tarde, tendo-se decidido No dia seguinte realizaram-se mais sete de rio para patrulhar enquanto que o sétimo utilizar outro tipo de equipamento, substi- mergulhos no mesmo eco, concluindo-se permaneceu no local para apoios diversos. tuindo os tradicionais máscara e regulador que o mesmo correspondia a uma platafor- As tarefas têm-se revelado árduas e de difí- independentes por uma máscara facial que ma metálica com cerca de doze metros de cil coordenação, pela longa duração e por ser incorpora ambos numa mesma estrutura. comprimento semelhante a um contentor e necessário dispersar os meios para proceder com olhais de suspen- aos apoios e reabastecimentos que se suce- são com cabos de aço dem em condições atmosféricas adversas e passados. com más acessibilidades. No rio as dificul- Cerca das 10 horas e dades acentuam-se devido à chuva intensa, 30 minutos do dia 19 vento e correntes fortes, que arrastam consigo deu-se início a mais um troncos e outros objectos perigosos para a mergulho de validação navegação. de um eco situado a Diáriamente das sete horas da manhã até cerca de cem metros a ao anoitecer, os Fuzileiros colaboram inces- jusante da ponte do aci- santemente no esforço de buscas efectuado dente. Pelas 10 horas e no rio e nas suas margens. No arco nocturno, 50 minutos, o mergu- tarefas complementares são desenvolvidas, lhador veio à superfície porquanto é necessário apoiar entidades na com a informação de ter travessia do mesmo, garantir as necessidades encontrado um veículo logísticas da Força e planear e preparar as Equipas de segurança de mergulhadores. com muitas janelas, acções subsequentes. cortinas e sem vidros. Em 12 de Março os efectivos foram rendi- O mergulho permitiu alcançar o fundo, Efectuado uma nova intervenção no dos por um novo grupo de menor dimensão classificado como cascalho, constatando-se mesmo local, foi confirmada a identificação comandado pelo 2Ten. FZ Esquetim que a corrente junto ao leito do rio era bas- das características de um veículo semelhante Marques, constituído por 2 Oficiais, 2 Sar- tante mais forte, impedindo o mergulhador ao acidentado. gentos e 16 Praças, tendo os meios opera- de alargar a sua área de busca. Com o objectivo de recuperar a viatura, cionais sido reduzidos em cerca de 50%. Esta A 9 de Março chegou ao local uma equipa foram efectuados mais cinco mergulhos para Força permaneceu no local, tendo-se efectua- de mergulhadores franceses que após a a passagem de cabos na tentativa de o colo- do a sua rendição em 19 de Março por outra avaliação das condições ambientais consta- car em seco. de igual efectivo. tou não poder oferecer qualquer mais-valia Após trabalho longo e árduo o autocarro Uma palavra de apreço para a Associação às equipas no terreno, elogiando as inter- da Asadouro emergiu, permitindo a recu- do Centro Cultural e Recreativo de S. venções já efectuadas. peração de vários cadáveres. Martinho no apoio prestado no alojamento e No dia 11 de Março a comunicação social Com a subida do leito do rio, motivada bem estar do pessoal e para a população de criou grandes expectativas em relação às pela alteração desfavorável das condições Castelo de Paiva, sempre disponível para aju- intervenções programadas. atmosféricas, gorou-se até ao dia 23 de dar na melhoria das condições logísticas exis- A intervenção estava programada para o Março a possibilidade de terminar com êxito tentes.  princípio da tarde, aguardando-se uma si- esta operação, bem como partir para a (Colaboração do Comando Naval, Departamento Marítimo do gnificativa redução da corrente no rio Douro. detecção e recuperação das viaturas ligeiras Norte, Instituto Hidrográfico, Mergulhadores da Armada e No decorrer deste mergulho foi possível ainda desaparecidas. Corpo de Fuzileiros) REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 23 CITAN MaritimeMaritime AnalysisAnalysis ForumForum

ealizou-se no passado mês de De- audiência. Estas ferramentas, englobadas no • MCA – Módulo de Compilação e Análise zembro em Amsterdão, em insta- projecto SIRANO (Sistema Integrado de Este componente permite filtrar e pré- Rlações da Marinha Holandesa, o Recolha e Análise Operacional), destinam- -processar a informação proveniente do Maritime Analysis Forum, no qual participou -se a efectuar a aquisição, arquivo, recons- módulo GPS para utilização no módulo uma delegação do Centro de Instrução de trução e análise dos dados produzidos du- MRC, quando em ambiente de análise. Táctica Naval (CITAN) constituída pelo seu rante a realização dos exercícios ou operações Director, CMG Carvalho Abreu, pelo chefe navais, tendo sido já utilizadas com grandes • BATHY do Gabinete de Análise Desenvolvimento e vantagens nos últimos exercícios do tipo Programa para recolha de dados bati- Treino (GADT), CTEN Salvado Figueiredo e CONTEX e INSTREX, nomeadamente para a termográficos, meteorológicos e ambien- por um representante do Gabinete de En- análise de séries de lançamentos de torpedos. tais, e elaboração das mensagens respec- genharia de Sistemas (GES), o 1TEN EN-AEL tivas. Esta aplicação foi desenvolvida por Costa Cavaco. A realização deste evento foi forma a ser inter-operável com o sistema colocada como recomendação após uma reu- em uso no Instituto Hidrográfico (IH). nião conjunta entre as Marinhas do Canadá e da Holanda realizada em Junho de 2000, na Das conclusões do referido Fórum e da qual foi sugerido que o Permanent Maritime participação do CITAN pode-se retirar o Analysis Team (PAT) patrocinasse um fórum seguinte: de análise de exercícios e operações navais no âmbito da Organização do Tratado do Atlân- • Que as ferramentas de análise apresen- tico Norte (NATO) que envolvesse todas as tadas pela delegação nacional suprem de entidades que se dedicam a este tipo de acti- forma significativa algumas das deficiên- vidade. A adesão foi bastante significativa e cias e lacunas sentidas por várias dele- traduziu-se na prática na participação de 18 gações nomeadamente ao nível da reco- delegações num total de mais de 50 dele- O projecto SIRANO tem um conceito mo- lha automática de informação posicional, gados. Os seus objectivos foram os seguintes: dular que permite a utilização dos diversos registos sob a forma electrónica e parti- módulos em separado, permitindo assim lha de informação ambiental; • Apresentar as diversas entidades nacio- flexibilizar a sua utilização face a diferentes nais e NATO envolvidas na análise e requisitos ou capacidades instaladas. Os • Que foram reconhecidas ao CITAN com- avaliar formas de cooperação entre si; módulos actualmente disponíveis são: petências na área do desenvolvimento • Criar um padrão comum sobre o que é a de aplicações informáticas de apoio análise nomeadamente na definição do • FOCO (Formex Compiler) operacional, que se podem traduzir na seu âmbito (técnico/táctico/operacional); Módulo que efectua a recolha de infor- participação activa da realização de uma • Dar a conhecer os métodos e ferramentas mação operacional (Formex electróni- ferramenta de análise comum na NATO actualmente utilizadas e a sua evolução; co). A informação recolhida em todos através de módulos constituídos pelos • Partilhar conceitos e procedimentos sobre os exercícios ou operações efectuados produtos atrás referidos; os sistemas de aquisição, manutenção e pelos diversos navios é armazenada divulgação de lições aprendidas. em base de dados para posterior • Que, a fim de estabelecer formas de análise. cooperação mais detalhadas e efectuar Este fórum decorreu sob a forma de ses- uma apresentação pormenorizada do sões plenárias constituídas por apresen- projecto SIRANO, ficou agendada a rea- tações efectuadas pelas delegações e perío- lização, no final do 1º trimestre 2001, no dos de discussão subsequentes. O fórum foi CITAN, uma reunião com delegações do dividido em duas partes enquadradas pelos PAT (NATO), Independent Maritime seguintes temas: Analysis Team (NATO), Analysis and Tactics Centre (Holanda), Maritime • Parte 1 - Descrição genérica sobre a missão, Warfare Centre (Reino Unido) e ALFLOT tarefas, organização e âmbito dos trabalhos (Espanha) de análise das organizações presentes; • GPS • De uma forma geral concluiu-se da neces- • Parte 2 - Divulgação dos métodos, meios e Módulo de recolha de posição das sidade de padronizar os métodos e meios ferramentas informáticas por estas utilizadas plataformas. A informação geográfica de recolha de dados a fim de acelerar o nas diversas fases do processo de análise. e dinâmica (rumo e velocidade) é re- processo de análise de exercícios, ou ope- colhida e armazenada em base de rações reais, conjuntos e combinados. As apresentações efectuadas pela dele- dados para posterior utilização na Ficou deste modo estabelecida uma perio- gação do CITAN, designadamente a relati- reconstituição, visualização e vali- dicidade anual para este tipo de eventos, o va às ferramentas de análise de exercícios dação e no âmbito da análise. qual poderá ser constituído no futuro por actualmente em desenvolvimento em con- uma sessão plenária inicial e depois por junto pelo GES/GADT, suscitaram por par- • MRC (Mesa de Registo Computado- diversos grupos de trabalho dedicados a te de todos os presentes inúmeras pergun- rizada) um ou mais assuntos específicos.  tas e pedidos de esclarecimento demonstra- Módulo de visualização, compilação tivas do elevado interesse provocado na táctica e análise de exercícios. (Colaboração do CITAN)

24 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA

NOTÍCIAS VISITA DO MINISTRO DA DEFESA NACIONAL E MINISTRO DA AGRICULTURA DESENVOLVIMENTO RURAL E PESCAS À MARINHA

● No passado dia 8 de Fevereiro, o Ministro da Defesa Nacional e Seguiu-se uma visita ao o Ministro da Agricultura Desenvolvimento Rural e Pescas visi- N.R.P. “Cunene”, atracado taram a Base Naval de Lisboa, fazendo acompanhar-se pelo no Cais de Honra, onde foi Secretário de Estado das pescas e pelo Dr. Sérgio Barreira, ex- efectuada uma simulação de -Inspector Geral das Pescas. uma acção de vistoria, com As entidades acima referidas embarcaram na UAM “Alva”, na o lançamento da semi-rígi- Doca da Marinha, com destino à Base Naval de Lisboa, para visi- da, conduzida pelo 2TEN tarem algumas unidades navais e participarem na cerimónia de Zambujo Madeira. condecoração do Dr. Sérgio Barreira, sendo acompanhados pelo As entidades prossegui- Chefe de Estado-Maior da Armada, Almirante Vieira Matias. ram a sua visita ao N.R.P. “Álvares Cabral”, onde foi proferida uma pequena alocução pelo Comandante do navio, CFR Bonifácio Condecoração do Dr. Sérgio Barreira Lopes, acerca das missões e capacidades do referido navio. Seguiu-se uma rápida visita aos locais mais significativos de bordo, incluindo o convés de vôo onde se encontrava o helicóptero “Lynx”. Terminadas as visitas aos navios, a comitiva seguiu para o Palácio do Alfeite, onde teve lugar a cerimónia de imposição de condecoração – Medalha de Cruz Naval de 1ª Classe – ao Dr. Sérgio Barreira, que teve lugar no gabinete do VALM Comandante Naval. A visita terminou com um almoço oferecido pelo Almirante CEMA à comitiva ministerial e aos restantes convidados, no salão Visita ao NRP “Álvares Cabral” Nobre do Palácio do Alfeite.

ISNG - PAINEL “PORTUGAL E O MAR. ENTRE A CONTEMPLAÇÃO E A ACÇÃO”

● Realizou-se no passado dia 18 de Janeiro, no Instituto reafirmar e avaliar na prossecução do Conceito Estratégico da Superior Naval de Guerra, um Painel de Estratégia subordina- Defesa Nacional. do ao título “Portugal e o Mar. Entre a Contemplação e a O supracitado Painel, que foi moderado pelo Professor Acção”, cuja finalidade foi a de proporcionar uma reflexão Doutor Adriano Moreira, contou com a presença dos seguintes acerca das sensibilidades expressas por personalidades repre- ilustres intervenientes que desenvolveram os subtemas indica- sentativas da sociedade democrática portuguesa relativamente dos: Embaixador Costa Lobo – “As Relações Internacionais, ao contributo da Marinha para com o País, que se pretende incidentes e perspectivas”; Doutor Pereira Forte – “A reali- dade. O Mar na visão ampla dos interesses de Portugal” e o Doutor Nuno Rogeiro – “O papel da Marinha. Do discurso ao instrumento confiável”. Seguiu-se animada discussão alargada sob a condução do mode- rador, o qual no fim, fez uma síntese conclusiva das principais ideias debatidas, após o que o VALM Mendes Cabeçadas, Director daquele Instituto, proferiu algumas palavras de encerramento. A sessão, presidida pelo Chefe do Estado Maior da Armada, Almirante Vieira Matias, contou com numerosa presença de oficiais generais e superiores da Marinha para além de alguns convidados civis, designadamente alunos do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

CITAN - PALESTRA DO CENTRO DE SATÉLITES DA UEO

No passado dia 2 de Março teve lugar, no auditório do Centro de Instrução A apresentação revestiu-se de grande importância para os presentes uma de Táctica Naval, uma apresentação sobre o Centro de Satélites da União vez que abordou temas, como a inserção do Centro na UEO e futuramente Europeia Ocidental (UEO), proferida pelo Major da Força Aérea Portuguesa na União Europeia (UE), a sua relação com os Países Membros, o tipo de António Manuel Barros que presta serviço no mesmo Centro. trabalho produzido e os procedimentos a seguir com vista à sua obtenção. A abertura deste evento foi efectuada pelo CALM Silva da Fonseca, 2º Comte Salienta-se que tal trabalho poderá assumir contornos quer de interesse Naval, tendo assistido ao mesmo militares de várias Unidades e Organismos da estritamente militar ou no âmbito da gestão de crises, quer de interesse Marinha sediados na área do Alfeite, e representantes do Centro de Apoio à público, como o acompanhamento de determinado tipo de catástrofes ou Missão (CAM), da Força Aérea Portuguesa, localizado no Montijo. calamidades.

26 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA NOTÍCIAS LANÇAMENTO DO LIVRO “SEGURANÇA E DEFESA (1996-2000)” DO VICE-ALMIRANTE SACCHETTI

No passado dia 22 de Fevereiro, na Biblioteca Seguidamente, o autor do livro Central da Marinha, realizou-se a apresentação do procedeu à apresentação do mesmo, livro “Segurança e Defesa (1996-2000)” do Vice- salientando que os temas tratados se -Almirante António Sacchetti, publicado pelas relacionam com Segurança, Defesa e Edições Culturais da Marinha. Estratégia e correspondem aos traba- Perante professores universitários, elementos li- lhos pessoais de investigação que gados ao sector cultural da Marinha e convidados reflectem o seu pensamento e análise pessoais do autor da obra, o Contra-Almirante dos mais importantes “factos ocorri- Leiria Pinto, como Presidente da Comissão Cul- dos num período que vai desde a tural, referiu-se ao Almirante Sacchetti na sua qua- queda do Muro de Berlim ao fim do lidade de emérito milénio”. Depois de agradecer às especialista das áreas individualidades de Marinha que de Estratégia e Re- possibilitaram a publicação da sua lações Internacio- obra, o Almirante Sacchetti repor- nais, realçando o seu tou-se aos dois grandes factores que notável currículo caracterizam a actualidade: o proces- académico e afir- so de globalização, na sua generali- mando que a Comis- dade e os movimentos de pessoas e são a que preside de povos. ficaria muito honra- O evento terminou com um porto de honra durante o da em editar as suas qual o escritor autografou exemplares do seu livro agora futuras obras. apresentado.

CLUBE MILITAR NAVAL CORPOS SOCIAIS – BIÉNIO 2001/2003

Tomaram posse no passado dia 9 de Março os corpos sociais do Assembleia Geral cessante e pelo Presidente da Mesa da Clube Militar Naval (CMN), para o biénio 2001/2003. Assembleia Geral empossado, os quais agradeceram a presença dos A cerimónia teve lugar na sede do Clube com a presença de sócios e das várias representações das Associações e Clubes con- inúmeros sócios e representações da Associação dos Oficiais das géneres, apontando para a necessidade de reforçar os laços de Forças Armadas (AOFA), da Associação Nacional de Sargentos solidariedade de a nova direcção vir a dar prioridade à dinami- (ANS), da Associação dos Oficiais da Reserva Naval (AORN), da zação da vida associativa do Clube, como forma de garantir a Associação 25 de Abril e do Clube de Sargentos da Armada (CSA). continuidade de uma entidade com tão grande e relevante passado Foram feitas intervenções pelo Presidente da Mesa da histórico.

ELEIÇÕES NO CLUBE DO SARGENTO DA ARMADA (CSA)

Realizou-se, no passado dia 20 • Cativar, através de iniciativas de Janeiro, na Delegação do Feijó, próprias, os mais jovens a partici- a Assembleia Geral para dis- par na vida activa do clube; cussão do relatório e Contas do • Dar continuidade aos nos- ano 2000 e para as Eleições dos sos debates tradicionais e pro- Corpos Sociais – biénio mover novos de forma a poder- 2001/2002 – do CSA. mos reflectir e debater em con- O Relatório discutido e aprova- junto, os aspectos de maior do revela uma boa situação asso- interesse para o clube e massa ciativa – associaram-se 112 novos associativa; sócios, e uma boa situação finan- • Dar continuidade às obras de ceira – o resultado do ano foi de beneficiação, restauro e pintura 1 509 contos. exterior da Sede; Os Órgãos Sociais eleitos, Mesa da Assembleia Geral, Conselho • Continuar os esforços de melhoria do nosso boletim, impor- Fiscal e Direcção são encabeçados pelos associados, Carlos Capela, tante veículo de informação, formação e de relacionamento com a José Jorge e Manuel Pais, respectivamente. massa associativa. Do seu programa de intenções destaca-se: No dia 27 do mesmo mês, realizou-se na Sede Social a tomada de • Manter e reforçar o bom relacionamento com a hierarquia da posse, com a presença de muitos associados e convidados, dos Marinha, poder local e aprofundar os laços de amizade entre clubes quais destacamos, o vereador da Câmara Municipal de Lisboa, militares, colectividades de cultura, recreio e desporto, assim como Engº. António Abreu e o Presidente da Junta de Freguesia de São aquelas que colaboram com o clube; Vicente de Fora.

REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 27 NOTÍCIAS HOMENAGEM AO COMANDANTE LIMPO SERRA

● As mais novas gerações de oficiais de Ouro de Serviços Distintos, talvez desconheçam que o CMG REF salientando que o seu labor em Manuel Primo de Brito Limpo Serra é serviço da Marinha não se esgo- um distinto oficial da Armada, licencia- tara com o fim do serviço activo. do em Direito e especialista em Direito O Almirante CEMA realçou na Internacional Marítimo, conhecido de ocasião as excepcionais quali- muitas gerações de oficiais, dado ter dades de inteligência e saber do leccionado largos anos no Instituto homenageado, demonstradas Superior Naval de Guerra e na Escola pela sua inteira e exemplar Naval. devoção com que exerceu não só Desempenhou diversos cargos, donde os cargos já mencionados, mas se destacam a representação portuguesa igualmente outros, ao longo de na Convenção das Nações Unidas, sobre toda uma carreira naval de o Direito do Mar, e as funções, durante reconhecido mérito. cerca de 3 décadas, de vogal da Comis- Além de tudo o mais, o Coman- O quadro oferecido ao Comandante Limpo Serra (28/2/2001). são de Direito Marítimo Internacional. dante Limpo Serra cativou muitas gerações (28/2/1958), na célebre cerimónia “da de oficiais que praxe” na despedida da Escola, na for- foram seus alu- matura para a execução dos célebres “21 nos, com o exem- manguitos” da ordem, ter respondido à plo da sua sim- citada “salva”, com o mesmo cumpri- patia, humilda- mento de saudação. de, sentido de A partir dessa data, os alunos desse humor e boa curso sempre o tiveram consigo em to- disposição per- das as cerimónias alusivas a comemo- manente a que rações, tais como, o descerramento da 1ª se adiciona uma placa Comemorativa da visita dum cur- invulgar cultura so à Escola Naval (25 anos 1980) coloca- e nobreza de ca- da no átrio do edifício do Corpo de Alu- rácter. nos, bem como de todos os jantares rea- Há, no entan- lizados sem interrupção desde 1960, no to, uma particu- “célebre” dia 28 de Fevereiro. laridade na sua O curso “D. Duarte de Almeida” teve Almoço de homenagem de iniciativa do Almirante Ribeiro Pacheco, em 1995. carreira naval, ainda o privilégio de o ter tido como por muitos des- Director de Instrução da viagem de cadetes A Revista da Armada gostaria de evo- conhecida, que se traduz no facto do do 2º ano a bordo do aviso de 2ª classe car aqui algumas homenagens prestadas Comandante Limpo Serra, para além do “Gonçalo Velho” em 1957. Aí, mais uma ao Comandante Limpo Serra, começan- seu curso de origem na Escola Naval, ser vez, se destacaram as suas qualidades de do por recordar a que lhe foi prestada também “camarada honorário”, do curso homem, de marinheiro e de mestre que a em Setembro de 1995 ao completar 50 de “D. Duarte de Almeida” (Escola todos cativou. anos de serviço na Marinha. O então Naval 1955/1958). E isto pelo facto de, No decorrer do 28 de Fevereiro de 2001, Chefe do Estado-Maior da Armada, na qualidade de oficial de dia à Escola, o curso, no seu tradicional jantar, não quis Almirante Ribeiro Pacheco, tomou a ini- na data em que os cadetes desse curso deixar passar esta data sem lhe prestar ciativa de realizar um almoço uma singela homenagem, ofere- de homenagem, com a parti- cendo ao Comandante Limpo cularidade de juntar, além de Serra um quadro do navio, si, mais dois Almirantes, pintado pelo Comandante Melo todos do mesmo curso, o e Cunha, com uma frase alusi- Almirante Fuzeta da Ponte va da autoria do Engenheiro (CEMGFA) e o Almirante Marques da Silva, alunos do Sousa Cerejeiro (Presidente citado curso, a que pertence o do Supremo Tribunal Mili- autor destas linhas. tar). Também presentes os Vice-Almirantes Paulo Tei- xeira, Martins Cartaxo, Para Além da Escola Quesada de Andrade e Mo- Para Além do “Velho” reira Rato, seus ex-alunos. Conta a Vida, Sem Idade Em Abril de 1999, o Chefe do Estado-Maior da Armada, Não Há Data Na Amizade Almirante Vieira Matias, Nem Prazo de Validade numa singela cerimónia, agraciou o Comandante Alguns alunos do curso de “D. Duarte de Almeida” no dia da imposição da medalha de Patrício Gorjão Limpo Serra com a Medalha ouro de serviços distintos ao Comandante Limpo Serra. CFR REF

28 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA hoppi

Novo Sistema de Crédito

Acordos: ExéIoto. PSP. GNR B F: AéruIiI (M!Irrtla 6fT) 1ISt1.do) Porto

Reabre com novos espaços e novos horários 2" a sábado das lQl às 2211 Lisboa

2" a sábado das 101 às 191 HISTÓRIAS DA BOTICA (7) OO MonstroMonstro ee aa CriançaCriança

o capítulo da beleza, cada um trans- dizer os mesmos divertimentos que os cama- belo das “Quatro Estações” de Vivaldi. porta consigo o que herdou. Para a radas, sem grandes preocupações com o facto O tempo foi passando e encontrou-se um Nmaioria de nós, quer o confessemos de qualquer pretendente feminina, o olhar ritual, silencioso, em que eu me sentava no ou não, a carcaça com que fomos dotados com um misto de espanto e perplexidade parque do helicóptero ou na tolda, já após o vem sempre cheia de insuficiências, reais ou (senão medo), por tal combinação física. Ia, jantar, a navegar. O Monstro vinha e repetia a imaginárias, mas sempre importantes. Alguns mais tarde pude perceber, porque gostava de mesma senha: venho perturbar Doutor? têm, todavia, que transportar um fardo mais música, qualquer música... Sentava-se e, sempre em silêncio, fazia uma pesado que outros, porque o ser humano to- Tinha um sistema estereofónico em minia- selecção de músicas, com um eclectismo sur- lera mal a diferença e repetidamente, de forma tura, mas muito eficaz, que o seguia para todo preendente, ordenadas por uma sequência infeliz, castiga os menos dotados... o lado e era o seu orgulho. Num fim de tarde a que só ele conhecia, mas que combinavam Houve em tempos um Marinheiro Manobra navegar, estava eu sentado na tolda daquela bem... Com o tempo, outros se nos juntaram em que, de facto, as feições rudes assustavam corveta velha, a saborear o fresco e a liberdade neste ritual, tornando-se um momento impor- qualquer um. Apresentava uma testa proemi- da noite vizinha, chegou o Monstro e a sua tante do dia. Para muitos era uma fuga à rotina nente, encimando um nariz exageradamente largo, descentrado e mal relacionado com uns olhos pequenos. A boca, igualmente pequena, exibia dentes pontiagudos, mimetizando as presas de um qualquer carnívoro. Tudo isto complementado por um corpanzil imenso de 1,95 m e cerca 110 kg de peso, com grande exuberância capilar, logo abaixo da face bar- beada. A marcha era igualmente inquietante, lenta e ameaçadora, fazendo sobressair um tronco quadrado, maciço, que parecia despro- porcionado em relação aos membros compar- ativamente curtos, esmagados pelo peso do tórax. Digamos que, se o leitor fizer um esforço de imaginação, o nosso marinheiro parecia um figurante de um qualquer filme pré-histórico, só que, nele, a maquilhagem seria desnecessária. Por tudo isto, compreensivelmente, ficou cognominado a bordo como o Monstro – inspi- rando-se a marujada cruel, no personagem do filme da Walt Disney, a Bela e o Monstro. Havia contudo sempre paz no seu sem- blante, que transparecia numa voz segura, rouca, de cantor de jazz, não sujeita a gritinhos ou a irritações – imperturbável. Na verdade, o nosso Monstro naval não parecia muito angus- tiado com o cognome que lhe atribuíram. Vivia dedicado às suas tarefas de bordo, como se tudo fosse irrelevante. Penso, mesmo, que há já muitos anos tinha percebido que a mãe natureza estava a dormir a sesta, quando estereofonia. Delicado, perguntou - venho per- da navegação. Com o passar do tempo, um chegou a vez de lhe atribuir proporções. turbar Doutor? Respondi-lhe que não que respeito, sem palavras, cresceu à volta dos que Já no que diz respeito à força física e agili- podia ligar a música... ouviam a sua música. dade dava cartas. Tinha feito a escola do tra- E ouvimos um conjunto de melodias, por Um belo dia, num bar - esplanada de Sines, balho do campo. Um trabalho esforçado de ele escolhidas, que eram belas e acrescen- estava a corveta em serviço SAR, vagueava eu carregar sobre as costas tudo, desde grandes taram sabor ao momento. Nesse dia, pela quando fui convidado para tomar um copo, pedras, a cestos de vindima, pelos socalcos do primeira vez, percebi que tinha um dom. por um pequeno grupo de oficiais. Um con- Douro, de onde era oriundo. Tinha sentimentos profundos. Sabia retirar a vite irrecusável, visto o ambiente parecer fol- A bordo levava uma vida normal, ignoran- força que há em “Eu caçador de mim” de gazão, nessa tarde luminosa, do princípio de do os piropos com que regularmente era Milton Nascimento, perceber o desencanto Junho. Estávamos em suave cavaqueira, quan- brindado e aos quais nunca reagia violenta- em “I still haven´t found what I´m looking for” do se começou a ouvir uma criança que mente. Ao contrário, era prestável e estava dos U2 e acreditar na esperança de Ivan Lins chorava ansiosamente. A princípio ninguém sempre pronto a ajudar, mesmo a quem não em “Começar de novo”. Juro, mesmo, que pareceu reparar nas breves interrupções, ao lhe perdoava o semblante. Fora do navio, per- quase lhe vi lágrimas, um dia, em que o decorrer da conversa, impostas pelo choro afli- corria os mesmos antros de perdição, que encontrei a ouvir um excerto extremamente tivo. Foi a continuação e a intensidade do

30 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA pranto que acabou por nos silenciar. epitáfio - levas mais este pró caminho! padecimento da criança. Infelizmente, há Olhámos, todos à uma, e vimos um ho- Claro, eu e todos os presentes estaríamos a muito tempo que conheço a realidade dos mem, de meia idade, elegantemente vestido, mentir, se disséssemos que não gostámos de hospitais e sei que por vezes é preciso internar que batia de forma desmedida numa criança. ver tal besta provar do seu próprio xarope. crianças, só para as proteger dos familiares. Esta, um rapazito que não teria mais que 8 Nesse dia, sentimo-nos muito menos dotados Do episódio ficou, todavia, a actuação nobre anos, soluçava profusamente. Choviam mur- que o Monstro poderoso. Este, fazendo a guer- do Monstro e a verdade que ela encerra - o que ros e pontapés, o dito senhor não tinha des- ra dos justos, tinha abatido um vil inimigo... nos define, como belos ou feios, é o nosso canso neste afazer violento... A criança entretanto sucumbiu, ficou subita- coração. Por isso acho e acredito, que cada Há muito tempo que sei (por experiência mente quieta, estava pálida – de uma palidez pessoa, das muitas que todos vamos conhecen- própria), que as crianças podem enfurecer mortiça. Observei-a, estava quase incons- do, merece e precisa de tempo, para mostrar o qualquer um, mas há limites e o controle deve ciente, havia taquicardia e o pulso era filiforme que lhe vai no espírito - já que os julgamentos partir do adulto responsável. Incomodado, le- - parecia uma hemorragia interna. Um dos ofi- precoces, são, quase sempre, errados... vantei-me e dando voz ao que ia na alma de ciais ligou para a emergência. O rapaz foi Afinal, como o leitor amigo compreenderá, todos, pedi delicadamente ao homem que se transportado para o hospital. Mais tarde, vim a a marujada na sua ignorância tinha razão, o aclamasse, que assim iria magoar o rapazinho, saber que tinha feito um traumatismo grave do nosso Monstro era mesmo como o protago- o que por certo não seria o seu objectivo... baço, com consequente extracção cirúrgica nista do filme da Walt Disney. É que, tal Como resposta, fui brindado com um valen- emergente, para que não morresse... como ele, pela bondade, o nosso Manobra se te soco na face, do qual ainda guardo me- Com a ambulância, chegou a GNR, alerta- transformou num príncipe – porque o que mória física, que me prostrou no chão. Refeito da pelo dono do café, preocupado com o define a nossa humanidade e nobreza, são e da surpresa levantei-me para ser novamente alvoroço. O homem, que afinal era o pai do serão sempre os nossos actos. empurrado e agora insultado. Foi então que, rapaz, meio tonto e a gritar acusou o Monstro Muitas vezes, por essa vida fora, gostaria de vindo não sei de onde, o nosso Monstro se de agressão. Avancei e contei o sucedido ao ter, por perto, um Monstro amigo assim, para materializou. Trazia um semblante feroz, que Sr. Guarda, que tinha sido o primeiro agredido socar as bestas que se me atravessam no cami- eu não lhe conhecia, e sem dizer palavra e que o Monstro tinha agido em minha defesa. nho. A este amigo, de alma límpida, que se assentou, por sua vez, um valente murro no De seguida contei-lhe tudo o resto, que quem reconhecerá nestas linhas, desejo que continue abdómen do meu agressor. Este, refeito da sur- devia ir preso era aquele cobarde, capaz de a ter a calma para perdoar ao mundo, o dis- presa, ripostou, de punho em riste e olhar maltratar crianças aquele ponto. Outras vozes cernimento para continuar a amar as coisas ver- mortífero. Contudo, numa sucessão surpreen- se juntaram ao coro dos que acusaram tal dadeiramente belas e a coragem para agir em dentemente rápida de golpes, o Manobra não besta. Fomos todos prestar declarações ao conformidade. Ele é, certamente, uma das pes- deu descanso à face ou ao abdómen do mal- posto da GNR. Voltamos a pé para o navio, soas mais bonitas que alguma vez conheci...  vado. Finalmente, quando lhe agarrei no tristes e cheios de perplexidade por ter co- Doc. braço para acabar com o castigo, o atacante nhecido um pai assim...Nesse dia, pelo menos ainda vociferou um palavrão. Aí, o nosso nesse dia, ninguém se meteu com o nosso RECTIFICAÇÃO valente Monstro – à maneira de um qualquer poderoso Manobra. Na história da Botica (6), na pág. 31, 2ª coluna, Western – brindou o homem com um último Durante algum tempo se comentou a bordo último parágrafo, leia-se “nobreza de coração” soco que o deitou, de vez, por terra, com o sobre os acontecimentos daquele dia – sobre o em vez de “pobreza de coração”. CONVÍVIOS “BÓIA DE ESPERA” “FILHOS DA ESCOLA” DE 1951 E ● A Revista da Armada tem vindo a contribuir através da sua ALUNOS DA FRAGATA “D. FERNANDO” rubrica “Convívios” para manter e cimentar o associativismo e o espírito de amizade e camaradagem entre os militares e ex-militares ● Vai realizar-se no próximo dia 5 de Maio, num restaurante da da Armada. Costa da Caparica, um almoço-convívio do recrutamento de 1951 e Neste sentido, e a partir da próxima edição, será criada uma rubri- alunos da Fragata “D. Fernando”, a fim de comemorar o seu 50º ca intitulada “BÓIA DE ESPERA”, à guisa de “Ponto de Encontro” aniversário. que servirá para proporcionar contactos com vista a reuniões ou con- Contactos: vívios de elementos das guarnições de navios e unidades em terra. SAJ CE REF Fernando Pinheiro – Tel. 212762715, TM. 917106070 Eis um exemplo: SAJ L REF José Cavadinhas – Tel. 212535384 “Os elementos da guarnição da fragata “Pacheco Pereira” que serviram em comissão em Moçambique no período de 1964/1966 e que queiram vir a reunir-se deverão contactar”: - Guilherme Cabral (1GR E) GRUPO AMIZADE MARINHEIROS Telefones: 265 – 524086 (Residência) 265 – 233255 (Local de trabalho) DO CONCELHO DE ESPOSENDE Nota: Os interessados em publicar anúncios deste tipo deverão enviar os necessários ● Vai realizar-se no próximo dia 19 de Maio um almoço de confra- elementos à Redacção da Revista da Armada, por escrito ou através de e-mail da R.A.: ternização, para comemorar o 15º aniversário do G.A.M.C.E.. [email protected] O encontro terá o seguinte programa: 11.00h – Concentração frente à Igreja Matriz de Rio Tinto (Esposende). “FILHOS DA ESCOLA” DE JANEIRO DE 1971 11.30h – Missa na Igreja Matriz de Rio Tinto. ● No próximo dia 28 de Abril e comemorando o 30º aniver- 13.00h – Almoço convívio na Quinta do Marachão (Rio Tinto). sário de ingresso na Armada, vai realizar-se em Oliveira do As inscrições poderão ser feitas através dos delegados das Bairro o convívio dos “Filhos da Escola” de Janeiro de 1971. Os freguesias, ou directamente na Direcção: interessados podem contactar: Silvestre Silva (253961012), António Silva (253851453), Manuel TEN Mantas 212745671 (serviço) ou 212598060 (casa) Boucinha (253982488), Maló (253965878), Manuel Dourado SAJ Rocha 213429408 (serviço) ou TM. 964303823 (253982980).

REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 31 Signallntelligencc and Electl'Onic Wal'rme

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● O Motoclube ● O Motoclube Naval realizou no fim de semana de 27/28 de Naval realizou Janeiro o 19º passeio, uma vez mais no Algarve, onde foi come- no dia 29 de morado o 8º aniversário do Clube. Outubro o 18º Com o tempo a por à prova a coragem e perícia dos nossos asso- passeio, desta ciados, o evento juntou cerca de 40 pessoas entre sócios, familiares e vez para desco- amigos. Foi aproveitada a ocasião para realizar a Assembleia de brir a Serra dos Sócios Anual, onde foi aprovado o relatório e Contas referentes ao Candeeiros. ano de 2000 e apresentados novos projectos para o ano de 2001. Durante a O passeio decorreu sempre da melhor forma, ainda que no manhã foi efec- sábado à noite, as condições de navegabilidade se agravassem tuada uma vi- consideravelmente. sita guiada às O Motoclube Naval avisa todos os associados para estarem aten- grutas de Mira tos aos próximos eventos, que poderão consultar em http://plane- D’Aire, onde os associados puderam constatar porque são ta.clix.pt/motoclube.naval consideradas uma das mais belas grutas do país. O almoço decorreu na aldeia de Malhou no restaurante “O Malho”, onde a simpatia da casa e os sabores gas- tronómicos com que foram agraciados os presentes, foram bastante elogiados. De seguida, já quase ao fim da tarde e após algumas voltas pela região, pois até os melhores navegadores se perdem, foi possível realizar uma visita guiada ao Castelo de Ourém. O Motoclube Naval agradece a todos os que participaram e apoiaram este evento, em particular à Câmara Municipal de Ourém que permitiu a realização da visita ao Castelo de Ourém.

JANTAR DA AMI - MANATUTO

● No dia 17 de Fevereiro, reuniu-se para um jantar na do Figueiredo; 1TEN MN. Bronze Carvalho e Enfª. Teresa Messe de Cascais a convite do 1TEN MN Bronze de Car- Cabaceira. Não puderam estar presentes por motivo de valho, o grupo da AMI (Assistência Médica Internacional) força maior, a 1TEN MN Maria Halpern e o Dr. José que trabalhou no Hospital de Manatuto, Timor Lorosae, no Martins – que, em épocas distintas, trabalharam na referida período em que o NRP “Vasco da Gama”, integrado na estrutura hospitalar. Interfet, deu apoio a esta e a outras estruturas naquele ter- Na verdade, para cada um, o tempo passado em Timor está ritório. cheio de memórias próprias, Pretendeu-se rever ami- algumas de grande intimida- gos e reavivar memórias de de, mas sempre marcantes um tempo intenso e gratifi- pelo padecimento presen- cante, marcado por um ciado e, nalguns casos, pelo grande empenhamento em sofrimento pessoal, que tal ajudar os outros. Compa- entrega implicou. Desse receram neste jantar (vide período enfim, no limiar do foto da esquerda para a milénio, ficaram no coração direita): Sr. Artur Camacho dos que lá estiveram, a me- – encarregado da logística mória da perversidade dos do Hospital de Manatuto; homens, a alegria simples do 1SAR HE Luís Rodrigues; povo e a coragem bondosa de Enfª. Rosa Bual; Dr. Armin- todos os que queriam ajudar.

CLUBE ESCOLAMIZADE

● O Clube Escolamizade vai realizar o seu 15º almoço con- 11.30h – Visita à Marina de Vilamoura e regresso junto ao vívio, no dia 28 de Abril, no Solar do Presunto, sito no lugar Cerro da Vila. das Fontaínhas em Albufeira, com o seguinte programa: 12.45h – Caravana auto para local do almoço. 10.00h – Concentração no Museu e Estação Arqueológica 13.00h – Recepção aos convidados seguido de almoço convívio. (Cerro da Vila) Vilamoura, com visita guiada ao Nota: As inscrições serão da responsabilidade dos Responsáveis da Zona e Cerro da Vila. terminarão em 22ABR.

REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2001 33 QUARTO DE FOLGA JOGUEMOS O BRIDGE (Problema Nº 31)

Tente primeiro resolver a 2 mãos tapando E-W

Norte (N): ♠ ♥ ♦ ♣ 5 R V V 4 D 10 10 4 3 5 3 2 Oeste (W): Este (E): ♠ ♥ ♦ ♣ ♠ ♥ ♦ ♣ 7 5 D 8 9 A 9 D 6 8 7 V 9 3 7 6 10 4 6 9 3 5 8 4 7 6 Sul (S): ♠ ♥ ♦ ♣ A - A A R R R D 2 2 V 10 8 2

Ninguém vulnerável E abre em 3♥ e S marca directamente 6♠. Como deve jogar S para cumprir este contrato com saída a ♥5?

(Solução neste número)

SOLUÇÕES PROBLEMA Nº 31 S não tem qualquer hipótese de ter a mão no morto para fazer a passagem a ♦ ou ♣D, e mesmo que tivesse não saberia qual escolher. Mas a abertura de E indica que a saída é carta seca e essa informação permite-nos encontrar a solução, colocando W em mão com um trunfo para obrigá-lo a jogar ♣ ou ♦ e possibilitar que se cumpra o contrato. Para isso S joga ♥R do morto E o A e só terá o cuidado de cortar alto e ficar com o 2 que será a carta chave deste problema; dá 2 voltas de trunfo e W não consegue evitar que seja posto em mão com o 2 de ♠, sendo depois obrigado a jogar ♦ ou ♣ para S cumprir o con- trato.

Nunes Marques CALM AN

34 ABRIL 2001 • REVISTA DA ARMADA Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

26. OS ATLAS DO VISCONDE DE SANTARÉM

Manuel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa nasceu a 17 de Junho de 1791 e foi o 2º Visconde de Santarém. Figura notável de erudito que viveu com entusiasmo o fervilhar de ideias que marcaram a Europa do seu tempo dedicou a maior parte da sua vida à cultura, aos estudos históricos e à análise política e diplomática. É o exemplo do homem metódico e persistente, o espírito “positivo” que pre- coniza a observação atenta dos factos e documentos, a crítica, a classificação e catalogação, acreditando que nesse “grão a grão” construirá o edifício do conhecimento. Foram, seguramente, essas qualidades que lhe vale- ram a escolha para Guarda-mor da Torre do Tombo, e foi no exercício desse cargo que recebeu de Martin Fernandez de Navarrete (presidente da Real Academia de Madrid) um especial pedido de esclarecimento sobre dados e documentos que haveria em Portugal acerca das viagens de Américo Vespucio. O facto deve tê-lo obri- gado a alguma investigação documental, apercebendo-se de como eram falsificados os dados históricos rela- tivos às viagens marítimas europeias dos séculos XV e XVI, e foi nessa altura que lhe surgiu a ideia de elaborar um atlas histórico que compilasse os mais significativos monumentos da cartografia antiga. Dessa forma poderia esclarecer-se como evoluíra o conhecimento geográfico e qual o papel que nele tiveram os Descobrimentos Portugueses. Não conseguiu fazê-lo de imediato, porque as circunstâncias políticas do momento não lhe deram a calma e a disponibilidade que seria necessária, mas a oportunidade acabaria por vir mais tarde, numa outra circunstância em que os direitos portugueses em territórios da África Ocidental eram postos em causa por alguns deputados franceses (Estancelin e D’Avezac) que os reclamavam para a França. O Visconde de Santarém estava exilado em Paris, na sequência dos conflitos que opuseram liberais e absolutistas nos anos de 1833 e 34, mas não deixou de atender o pedido do então Ministro do Negócios Estrangeiros português (o Conde de Vila Real), elaborando em 1841 uma Memória sobre a prioridade dos descobrimentos portugueses na costa de África Ocidental, acompanhada de um atlas com reproduções de cartas europeias diversas, posteriores ao século XIV. Esta memória e o respectivo atlas serviriam para ilustrar e complementar a edição da Crónica da Conquista da Guiné, de Gomes Eanes de Zurara, que estava perdida, mas de que o Visconde encontrara uma cópia em Paris, nesse mesmo ano (nessa cópia de Paris estava a foto do “homem de chapelão” que se pensa ser um retrato do infante D. Henrique). A ideia entusiasmara-o e, no ano seguinte, viria a publicar, a expensas do governo português, uma obra com o título Recherches sur la découverte dês pays situes sur la cote occidentale de l’Afrique, au-dela du Cap Bojador, et sur lés progrès de la science géographique, après lés navegations dês portugais, au XVe siècle;... acompa- nhées d’un atlas composé de mappemondes et cartes pour la plupart inédites, dressés depuis le XIe, jusq’au XVIIe siècle. As cartas destinadas ao atlas que compunha esta obra, não foram todas editadas em 1842, vindo a surgir nos anos seguintes, até 1844. Na continuação da ideia que (provavelmente) lhe vinha desde o pedido de esclarecimento de Navarrete, a sua pesquisa continuou e em 1849 iniciaria a publicação de um Essai sur l’histoire de la cosmographie et de la car- tographie pendant le moyen-age, et sur lés progrès de la géographie aprés les grandes découvertes du XVe siècle, pour servir d’introdution et d’explication a l’Atlas composé de mappemondes et de portulans, et d’autres monu- ments géographiques, depuis le VIe siècle de notre ère, jusq’au XVIIe. Como podemos imaginar, na elaboração dos três atlas, o Visconde de Santarém não se deve ter poupado a esforços, percorrendo as mais importantes bi- bliotecas e arquivos da época, reunindo um imenso manancial de informação geográfica que acabaria por não ficar terminado à data da sua morte (pelo menos não estava perfeitamente organizado). O espólio veio quase todo para Portugal, mas houve uma parte que se perdeu com as mudanças e em dois naufrágios marítimos, de forma que acabou por ficar disperso durante alguns anos, com uma classificação precária. Deveu-se a Jordão de Freitas a ordenação e indexação da maioria dos exemplares cartográficos que compuseram os diferentes atlas, e ainda de múltiplas cartas dispersas, que se destinavam a completar a obra começada em 1849 e que não chegou a ser acabada. Uma especial consideração e confiança levou a que boa parte desse espólio cartográfico viesse a ser oferecido à Biblioteca e Museu da Marinha, em 1935, pelo 3º Visconde de Santarém. Contudo, a estas preciosíssimas cartas, vieram a acrescentar-se outras da mesma origem que integravam a bi- blioteca particular do Comandante Manuel Norton, que tinham sido por ele estudadas e classificadas e que o Museu adquiriu no ano de 1949. A obra magistral do Visconde de Santarém é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores documentos para a História da Cartografia e do conhecimento geográfico humano; e o exemplar do Museu de Marinha em 4 volumes, composto pelo legado do 3º Visconde de Santarém e pela colecção do Comandante Manuel Norton, constitui uma preciosidade que só pode ser comparada ao espólio que ficou na posse da família e que os seus descendentes têm pugnado em preservar. È uma das peças do património da Marinha de que nos devemos orgulhar, não só pelo valor cultural e científico que encerra, mas também pela confiança que em nós depositou quem nos entregou um legado com esta dimensão.

Museu de Marinha (Texto de J. Semedo de Matos, CTEN FZ) Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

26. OS ATLAS DO VISCONDE DE SANTARÉM Fotos de: Rui Salta - Museu de Marinha PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 342 • ANO XXX MAIO 2001 • MENSAL • 250$00

NOVAS LANCHAS DA MARINHA ComemoraçõesComemorações dodo DiaDia dada MarinhaMarinha Cascais, 20 de Maio de 2001

PROGRAMA

18 de Maio a 02 de Junho Museu de Marinha Exposição de Pintura • 20 de Maio a 02 de Junho das 10.00 às 20.00 horas Museu do Mar em Cascais Exposição das Actividades da Marinha • 20 de Maio às 09.30 horas Igreja Matriz de Cascais Missa em sufrágio pelos oficiais, sargentos, praças, militarizados e civis da Marinha, mortos ao serviço da pátria • 20 de Maio às 11.00 horas Cerimónia Militar na “Esplanada dos Pescadores” • 19, 20 e 21 de Maio das 09.30 às 16.30 horas Embarque e passeio de grupos de jovens a bordo de Unidades Navais • Provas Náuticas na Baía de Cascais 19 e 20 de Maio regatas de vela ligeira 20 de Maio regatas de vela de cruzeiro • Concertos pela Banda da Armada Praça Central da Malveira da Serra - 26 de Maio às 22.00 horas Praia do Tamariz - Estoril (com fogo de artifício) - 02 de Junho às 22.00 horas • Concurso de Artes Plásticas Entrega de trabalhos até 15 de Maio na Comissão Cultural da Marinha, Capitania do Porto de Cascais e Câmara Municipal de Cascais (Departamento de Educação) SUMÁRIO Publicação Oficial da Marinha Periodicidade mensal Nº 342• Ano XXX 5 Maio 2001 Um dia num navio SAR . Director CALM EMQ RES Luís Augusto Roque Martins Chefe de Redacção CFR REF Jorge Manuel Patrício Gorjão Redacção 2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito Secretário de Redacção 1SARG T Vitor Manuel Gaspar Lopes Colaboradores Permanentes CMG REF Raúl de Sousa Machado CTEN FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos CTEN Abel Ivo de Melo e Sousa 1TEN REF Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves Administração, Redacção e Publicidade “Gil Eannes”: Edifício da Administração Ao fim Central de Marinha de 38 anos, Revista da Armada a rendição Rua do Arsenal ao serviço 1149-001 Lisboa - Portugal da Frota Telef: 21 321 76 50 Bacalhoeira. Fax: 21 347 36 24 Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt 9 e-mail da Revista da Armada [email protected] Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito, montagem e produção Página Ímpar, Lda. Estrada de Benfica, 317 - 1º F 1500-074 Lisboa Tiragem média mensal: 6000 exemplares Preço de venda avulso: 250$00 Registada na DGI em 6/4/73 com o nº 44/23 Depósito Legal nº 55737/92 A Marinha homenageia Os códices de D. António o Vice-Almirante Ramos Pereira, de Ataíde, notável figura ISSN 0870-9343 14 por ocasião do 1º centenário 18 da Marinha portuguesa do seu nascimento. do século XVI.

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 342 • ANO XXX MAIO 2001 • MENSAL • 250$00 PROGRAMA DO DIA DA MARINHA 2 PONTO AO MEIO DIA 4 A ACÇÃO DA MARINHA NO DOURO À LUZ DA IMPRENSA 16 A HISTORIOGRAFIA DA EXPANSÃO – A OBRA DE VAN LINSCHOTEN 20 A MARINHA DE D. MANUEL (14) 22 AS NOVAS LANCHAS DE FISCALIZAÇÃO 23 NOTÍCIAS 24 NOVAS LANCHAS Novas Lanchas da Marinha. DA MARINHA Foto de CONVÍVIOS/SAIBAM TODOS 28 Augusto Caldeirinha - Arsenal do Alfeite - HISTÓRIAS DA BOTICA (8) 30

ANUNCIANTES: QUARTO DE FOLGA 33 OGFE - Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento; TELERUS - Sistemas de Telecomunicações, S.A. NOTÍCIAS PESSOAIS/SAIBAM TODOS 34 PATRIMÓNIO CULTURAL DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 3 PONTO AO MEIO-DIA

O Desempenho Colectivo da Marinha Um Paradigma de Eficácia

Marinha tem sido solicitada a inter- ficação e do emprego do poder naval, à conse- tra do limiar da ruptura. Com efeito, a man- vir em missões militares de natureza cução dos objectivos fixados pela política de ter-se esta situação e, tal como se verificou Adiversificada: acções de evacuação, defesa nacional. No quadro desta atitude cla- diversas vezes ao longo do século XX, tornar- apoio à diplomacia, operações de paz e rividente e determinada, especialmente -se-á inevitável a entrada num complexo e embargo. No campo das missões de interesse importante e visível nos períodos pós guerra desgastante ciclo de degradação irreversível público os empenhamentos estão direcciona- colonial e pós guerra fria, os componentes da do material, que inibirá o cumprimento das dos para a fiscalização das pescas, o combate estrutura orgânica da Marinha puderam, nos missões à altura das exigências do país. ao tráfico de droga e ao contrabando, o apoio seus diferentes âmbitos e níveis de decisão e Apesar da inegável importância do que em situações de calamidade pública, os estu- actuação, conceber e por em prática planos antes se afirma relativamente aos meios dos hidro-oceanográficos, a segurança da coerentes entre si e adequados às circunstân- materiais, o elemento decisivo do desempe- navegação, o controlo da poluição e a busca e cias presentes e futuras, tirando partido dos nho colectivo da Marinha é o seu pessoal: um salvamento. Em todas elas se verificou o atributos do poder naval para atender às dife- corpo coerente de homens e mulheres, mi- reconhecimento, nacional e internacional, do rentes necessidades do país. litares e civis, aos quais a cuidada formação e bom desempenho colectivo da Marinha. To- Por isso, os meios da Marinha perma- o exigente treino proporcionados pelo nosso davia, conhecidas que são as dificuldades necem hoje equipados e treinados para o sistema de ensino, desenvolveram os conhe- orçamentais, como explicar uma situação tão cumprimento das suas missões, pelo que cimentos, a proficiência, a coesão e o espírito paradigmática? podem responder rapidamente a diferentes de equipa. Só desta forma se adquire o Poder-se-iam apontar justificações pon- situações, bastando, para isso, ajustar o seu profissionalismo que é determinante do tuais para o sucesso obtido em cada missão. estado de prontidão. Como exemplos: os sucesso quando se pretendem resolver situa- Apesar da inegável correcção deste procedi- navios que efectuavam um exercício rotineiro ções difíceis, confusas e, por vezes, de grande mento, admito que possui um carácter anual foram imediatamente empenhados na tensão e risco, associadas ao emprego real reducionista, porque o desempenho colecti- evacuação humanitária realizada na Guiné- dos meios navais em missões militares e em vo da Marinha não resulta de circunstâncias -Bissau, desfrutando da sua autonomia e sus- missões de interesse público. fortuitas, mas da permanente conjugação tentação, que permitem actuações por exten- Contudo, o pessoal é, neste momento, um entre a dimensão marítima do ambiente sos períodos e a longas distâncias das bases; recurso muito escasso, cuja preparação internacional, a postura de planeamento de igual modo, os sistemas hidrográficos des- requer tempo, esforço e incentivos. Por isso, estratégico do EMA e o elevado profissiona- tinados à cartografia náutica e à guerra de caso não sejam adoptadas medidas políticas lismo do pessoal. minas foram prontamente empregados na urgentes, que tornem mais atractivos o alista- O ambiente internacional possui uma complexa localização de viaturas submersas mento e a permanência na vida militar, a dimensão marítima com um carácter cons- no rio Douro, só possível por incorporarem Marinha perderá capacidade para competir tante, em virtude de a maior parte da activi- os mais recentes avanços tecnológicos ao pelos cidadãos mais aptos, o que baixará o dade política, económica, social e militar da nível do posicionamento, e da aquisição e nível e reduzirá o seu valor e, até, a sua humanidade se desenrolar numa estreita processamento de informação dos sonares posição face à Nação, da qual deixará de ser faixa oceânica e terrestre que circunda todos lateral e multifeixe. uma verdadeira emanação. Para além disso, os continentes. Com efeito, 2/3 da população Os exemplos anteriores servem ainda para agravar-se-ão as preocupantes desvincu- mundial vive a menos de 100 milhas da costa ilustrar que os meios da Marinha se adaptam lações de militares do serviço efectivo, pelo e há cerca de 155 Estados, num total de 193, facilmente a um leque alargado de missões, que não será possível dispor de pessoal banhados por mares e exercendo jurisdição com objectivos, níveis de exigência e âmbitos habilitado e em número suficiente para sobre extensas zonas económicas exclusivas. de actuação completamente distintos. Este realizar operações prolongadas no tempo. Portugal é um exemplo típico de um país facto traduz uma excelente taxa de cus- No quadro das complexas, importantes e nestas circunstâncias, cujo interesse nacional to/eficácia, atributo particularmente útil em urgentes medidas políticas para ultrapassar se encontra muito disperso e apresenta carac- Portugal, não só porque contribui para uma os problemas de material e pessoal antes terísticas vincadamente marítimas, em conse- melhor gestão dos magros recursos nacionais enunciados, é necessário manter a clarividên- quência quer da sua geografia arquipelágica, mas, também, porque no quadro da incerteza cia suficiente para que a premência e a visi- quer dos processos históricos de formação, do mundo moderno é a única forma de um bilidade das missões de interesse público não expansão e relacionamento externo. Por isso, pequeno país dispor das capacidades ne- inviabilizem as capacidades combatentes. em todas as conjunturas internacionais a cessárias para fazer face, com sucesso, a São, como sempre foram, os aspectos Marinha foi, é e continuará a ser essencial múltiplas contingências. doutrinários e os requisitos em meios mate- para aceder às regiões costeiras, intervindo Porém, os baixos níveis de investimento e riais e humanos das missões militares, que no momento, no lugar e segundo as modali- os atrasos na aprovação dos principais pro- tornam possível o desempenho colectivo que dades determinadas pelas conveniências gramas de reequipamento, têm dificultado hoje todos reconhecem e que deixa a políticas. de tal forma os processos de aquisição e de Marinha orgulhosa pela certeza do dever A postura de planeamento estratégico man- modernização de meios na última década, cumprido.  tida pelo EMA ao longo do tempo, visou ade- especialmente dos que integram as capaci- António Silva Ribeiro quar as grandes linhas da organização, da edi- dades combatentes, que a Marinha se encon- CFR

4 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA UmUm diadia ...... aa bordobordo dumdum navionavio SARSAR (1)(1)

Começava a animar-se o navio. A autorização para o arranque pneumático dos dois motores já fora dada quando, pelas 14h00 A / LT (2), apitou à faina. Todos os olhares, todos os ouvi- dos iam dar à Ponte. Lançada à água a última espia de BB, a uma ordem do Oficial Ime- diato, foi arriado o Jaque (3). O navio, em 13 minutos, acabara de largar do cais militar do Ponto de Apoio Naval. Saindo a Barra de Setúbal. endo aberto de popa com máquina, truir o campo de tiro do reparo duplo (5) de priamente ditos podem ter de ocorrer muito sob a leve brisa que, do mar, varria 76 mm. ao largo e a, normalmente difícil, localiza- T a península de Tróia, o navio foi-se Na Condição Geral «8» e na condição de ção e, por vezes, a dramática concretização afastando paralelamente ao cais. As estanqueidade «Z» (6), começava-se a dar dum salvamento obrigam a uma pesquisa breves ordens do Comandante que, regis- cumprimento à ORDMOV 097/01 dimanada paciente mas em que os minutos não se tadas na «Folha de Registo de Ordens pelo COMNAV quando, cinco minutos podem desperdiçar, sobretudo em condi- para o Telégrafo e Leme», eram seca e depois, se dava volta à faina de largada, ções de tempo adversas. prontamente repetidas pelos respectivos definida, através do ETO (7), a Condição «3 Na ponte, rendidos os postos, per- marinheiros da faina, o tinir do telégrafo a A» (8) a que se passou a navegar. maneceram até à efectiva saída da barra o transmitir ordens e o pronto retinir com A funcionar toda a panóplia de equipa- Comandante, o Imediato, o Oficial Nave- que a casa de controlo das máquinas mentos necessários à navegação e à pesquisa gador e o oficial e o pessoal que acabara acusava o seu cumprimento, dominavam de barcos de pesca, nomeadamente de entrar de Quarto, além do pessoal que o espaço da Ponte onde cada homem, no arrastões, eventuais infractores a investigar, ocupa postos na situação de Navegação seu posto, se concentrava na sua função. sem esquecer a escuta permanente do canal em Águas Restritas.

Passada a casa de Mac-Mahon (10), ao largo do Sanatório do Outão, a cumprir a tradição apitou-se, mas nem um aceno se vislumbrou onde eram tantos e tão vee- mentes como sempre são os das crianças. E foram ficando pela alheta de EB o Portinho, o Forte do Cavalo, ... Ao dobrar-se o Espichel com tempo de SW, força 4 e ondulação de 2,5 m, com visibilidade moderada a reduzida e chu- visco sob um céu forrado e já rumo a Norte, agravou-se o balanço do navio que responde bem ao mar que se ia cavando.

Ao longo do navio, no Centro de Comu- nicações, na Cifra, na Casa de Controlo das Máquinas, na Casa das Máquinas, no Centro de Controlo e Distribuição de Adornando a estibordo. Energia, na Casa dos Geradores fomos Primeiro AV DEV, depois AV MF e já de socorro, o «Canal 16» (156.8 MHz), e fre- encontrando pessoal de Quarto pronto a com um rumo bem definido, AV TODA (4) quências associadas à missão SAR, a princi- intervir embora todos, mesmo os que se fez-se à barra, segundo o «Plano de pal cometida à Corveta «General Pereira podem entregar a lazeres como, em duas Entrada/Saída Visual do Porto de d’Eça» ao longo desta semana. das Cobertas desactivadas (11), a jogos Setúbal», enquanto no castelo, engolido De facto um navio em Missão SAR, fica electrónicos ou ao saborear de um vídeo o ferro, se procedia ao aboçar da amarra e sujeito a uma prontidão (9) muito apertada no refeitório ou nas câmaras (12), estejam ✎ se arriava o pau do jaque a fim de desobs- pois tanto a busca como o salvamento pro- igualmente envolvidos.

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 5 Como a ondulação era grande e o arrastão, entretanto identificado visual- mente e por fonia, como sendo o «Cruz de Malta», desaparecia na cava da onda o Comandante assumiu o controlo da Corveta quando, nas suas proximidades, à adversidade do tempo se somou um ino- portuno aguaceiro.

Por fonia, o Oficial Imediato obteve os elementos de preenchimento do «Fishrep (19)» previsto quando a vistoria física se torna desaconselhável por uma questão de segurança, como circunstancialmente acabou por acontecer, ou por outra tão ou mais pertinente. Este comunicado de que consta, entre outros elementos, o nome e número da Cé- No Centro de Comunicações. dula do mestre, nome e número de Registo da embarcação, o tipo de arte de pesca, o Num «Folheto de Integração» que cada maior velocidade são, face às condições tipo e a respectiva quantidade do pescado a novo membro da Guarnição recebe, deta- de mar em presença, mais solicitadas bordo, é então endereçado à Direcção lhadamente se descreve o que há a fazer no pelos marinheiros de leme. Geral de Marinha e às Capitanias dos Portos caso de ocorrerem incêndios, alagamentos Quando ocorreu um aguaceiro houve da zona onde o arrasto foi detectado e do ou outros problemas, todos controlados a mesmo necessidade de se recorrer à destino, a fim de aí ser confrontado pelos partir da Central de Limitação de Avarias sirene para alertar da nossa presença os responsáveis que, à chegada, o poderão (LA) também permanentemente guarnecida. navios ou embarcações nas imediações, aguardar.

No entanto é na Central de Comando de Máquinas que, como na Ponte, a atenção é mais constantemente requerida porquanto a cada Motor, pois de dois Diesels se trata, está atribuído por «Detalhe (13)» um homem (14) que controla a sua condução e funcio- namento.

Que no mar ninguém precisa de ser lem- brado que todos estão no mesmo bote ou que o «leão (15)» ronda por demasiado perto. Aproados de modo a passar entre as Berlengas e a «Lane (16)» ascendente foi pedida a redução das 300 para as 220 rpm para se poder desligar uma das duas electro-bombas dos dois lemes, pois a O «Cruz de Malta» na crista da onda.

embora, tratando-se de um Domingo, não Naturalmente uma visita a bordo permi- fosse de esperar grande afluxo de embar- tiria a verificação de muitos outros aspec- cações de pesca. Depois, pela amura de tos referentes aos aparelhos e redes de EB, raiou refulgente um duplo arco-iris. arrasto e às condições de segurança do Um recente Radar de Navegação que próprio navio, bem como os meios de sal- permite uma mais flexível utilização opera- vamento ao alcance das suas tripulações, cional do seu monitor, além de detectar os o seu estado de conservação e a docu- ecos de embarcações e de navios, determi- mentação de cada tripulante. na-lhes o rumo e velocidade e daí as ilações Hoje, porém, a atitude dos mestres, que podem determinar intervenções no muitas vezes mais novos que os experientes âmbito da fiscalização. pescadores, denota já uma outra consciên- Foi assim que a WSW (17) das Berlengas, cia face à regulamentação em vigor, pouco antes das 18h00, se detectou um eco nomeadamente à decorrente da temida que mantendo uma baixa velocidade (3 esgotabilidade do mar, em recursos vivos, nós) prefigurava um arrastão em faina de graças a um maior nível de escolaridade e a arrasto, estabelecendo-se então a Condição uma cuidada formação profissional recebida Especial «3F» para Vistoria. nas Escolas de Pesca. Aproado ao eco quase imóvel apercebe- O jantar que a navegar é servido pelas mo-nos de que aumentava a velocidade 18h10, fez-nos então descer à Câmara de rumo a SSE (18) antes de o avistarmos no Oficiais onde a mesa estava posta como ao horizonte. Ao ser alcançado, já estava almoço, mas agora com protecções metáli- Anotando parâmetros na Central de Comando de aprontada e guarnecida a embarcação a cas montadas em torno de pratos, copos e Máquinas. enviar ao arrastão. tudo o mais que se pudesse deslocar por

6 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA a Ponte apenas iluminada pelos mos- Alguns dos náufragos puderam ser reco- tradores dos instrumentos e, retirado o lhidos por um Puma da FAP (26) que os cone de observação, pelo monitor do depositou no convés de um navio mercante Radar que ia lambendo a costa num rasto israelita que se encontrava nas imediações. de luz e, a cada passagem, avivando ecos A corveta alcançou o local do naufrágio dos navios na área. Dentre os vultos, que em 18 horas depois de vencidas 160 milhas fomos adivinhando, fomos reconhecendo com vagas de 6 a 9 m que provocaram vozes, nomes e depois rostos com quem já deformações plásticas permanentes a nível nos cruzáramos, únicos incapazes de iden- estrutural e iniciou a sua pesquisa na espe- tificar as pessoas que nos rodeavam. Ao rança, sem êxito, de salvar outras vidas. oficial de quarto, tivemos mesmo de per- Outro arrastão que acorrera ao pedido guntar o nome. de socorro, também espanhol, ainda avis- Um mar mais vigoroso que rebentava tou uma bóia que, assinalada, içou e com quando o navio, adornado a EB, metia a ela, no chicote duma retenida (27), um proa na vaga que se erguia, disparando uma corpo que, autorizado, recolheu para ser gerbe de espuma, alva na negritude da entregue às autoridades do seu país. noite, que, galgando o castelo, ocultando a Um evento a que ninguém consegue torre e avançando pelo parque de RAS ficar indiferente. (Replenishment At Sea – Reabastecimento Doutra vez, no termo de uma missão de no mar) (24), em cachão vinha esmagar-se rotina, ao regressar ao Funchal para um contra as vigias, antepara e tecto da Ponte. E período de descanso, talvez um fim de o ciclo repetia-se, endireitando-se o navio, semana, ainda não tinham passado ne- subindo à crista enquanto ia adornando a nhuma espia ao cais, quando uma men- Recolhendo informações para o «Fishrep». BB, recuperava e de novo descia à cava sagem urgente do Comando da Zona para, horas a fio, de novo o espectáculo, Marítima da Madeira chegou informando efeito do balanço que no exterior assumia o nunca igualável, se repetir. que um navio graneleiro norueguês, a carácter de um espectáculo em que, sob o Sem folga, o marinheiro do leme lá se 260 milhas, pedia socorro devido a uma portentoso cenário da natureza, não há desembaraçava para manter o rumo enquan- intoxicação. senão espectadores actores. to alguém mais afoito gracejava aliviando o Recebidas do Hospital garrafas portáteis Porque no mar, fins de semana, folgas ambiente que se quer de eficiência e não de de oxigénio, imediatamente largaram ao ou descanso são meros eufemismos pois tradicional quartel ou repartição. encontro do navio cujo armador, capitão e inexoravelmente sujeitos aos caprichos do Nas cobertas, nos camarotes, nos beliches guarnição eram afinal polacos com quem tempo, o mar vai ensinando cada um a o sono a que cada um tem direito não era se entenderam em inglês. silenciar as suas penas, a superar-se e a certamente o que os justos, em terra, conhe- Numa inspecção aos porões, um ter- entreajudar-se como recorda no belíssimo cem. Mas não só estarão despertos todos os ceiro tripulante ao ver caírem redondos louvor o Ministro do Exército que trocou outros que nas entranhas do navio zelam dois marinheiros à sua frente alertou o o Terreiro do Paço pelo Deserto de pela nave. Na cozinha e nas copas a pala- capitão e apesar de os terem retirado do Moçâmedes e que na Môngua (20) se ren- menta do jantar tem de ser lavada, limpa, local, quando a corveta chegou já esta- deu à «têmpera» dos marinheiros que arrumada e peada e, adivinhamos, o cozi- vam mortos. Sob a frustração da espe- sabiam que o «Comando nada podia nheiro antecipando o pequeno almoço para rança perdida e do empenho desenvolvi- fazer que modificasse de pronto a situa- a manhã que despertará com 70 (25)estôma- do, comboiaram o navio para o Funchal a ção». Pereira d’Eça, o Africano (21). gos revolvidos e o padeiro a preparar o pão fim de se proceder a requisitos legais e Mas situações muito piores podem que saboreámos e todos esperam encontrar dar sepultura condigna, na sua Pátria, aos ocorrer e as refeições podem ficar reduzi- ao lado do café e do leite e do suplemento dois sinistrados. das a comidas frias, normalmente enlata- que serão ... ovos mexidos. “Pokój ich duszom, marynarzy ! ” (28) dos, porém, desta vez ainda tivemos o privilégio de comer uma saborosa sopa sem se ter de equilibrar o prato na mão e de compensar com o corpo os balanços, contrabalanços e o arfar do assento das cadeiras, fixas ao pavimento, e que, como terráqueos, temos, subconscientemente, por referência ... fiável. Desta feita um substancial arroz de frango e um doce a rematar, serviram de pano de fundo a um agradável convívio e permitiu- -nos compreender a oportunidade de no fim do almoço se terem os oficiais dirigido ao refeitório das praças e aí, com toda a guarnição, saudar com um vinho do Porto, o primeiro, o único, imagine-se, avô a bordo. Luzes reduzidas. Claro que às palavras de circunstância foi «voluntariamente» associado o «Capitão Numa circunstância semelhante, em mis- Mas muitos têm sido também os casos (22)» do navio, um jovem voluntário no seu são SAR ainda recente, um arrastão espa- com um final feliz, pois só quem não anda quarto mês de marinha, a que o feliz con- nhol surpreendido por uma vaga alterosa, no mar é que não imagina o que será ser templado não deixou de responder... meteu água e adormecendo foi-se virando, náufrago ou sentir-se desamparado. No meio permitindo apenas que um SOS, com a sua dum oceano, tantas vezes à vista de alguém Rendido o Quarto às 19h00 (23), fomos posição, fosse lançado e que a tripulação se que desesperadamente o procura ou mais encontrar, em nome de uma melhor visão, atirasse ao mar. aflitivo, à vista duma costa que ...

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 7 Notas: (1) Search and Rescue i.e. Busca e Salvamento ... de vidas humanas no mar (2) A – Alfa é o fuso da hora oficial de Verão, ou LT - Local Time (3) O Jaque, à proa, é uma bandeira quadrada que a navegar vai arriada. (4) AVante DEVagar, Meia Força e TODA a força (5) Plataforma móvel em direcção onde assentam duas peças de artilharia. (6) Todos as portas, escotilhas, etc., marcados X, (X), Y, (Y), Z e (Z) que, em Postos de Combate, têm de estar fechados. (7) ORDem de MOVimentos do COMando NAVal. (8) Navegação em Águas Restritas. (9) Entre duas horas e Imediata (Aviso de mau tempo ou outro de idêntica gravidade). (10) Oferecida ao Presidente da França que, em 1875, arbitrou a nosso favor o litígio com a Inglaterra àcerca Aspecto da ponte de comando. dos territórios de Lourenço Marques e a sul do rio Maputo que dá actualmente nome à capital de Acompanhando o Comandante reco- nas nossas memórias. Moçambique. lhemos ao nosso beliche, passava da meia Agora era Lisboa resplandecendo, as (11) Do navio foi, com substancial redução da sua guarnição, desembarcado equipamento obsoleto ou noite. Adormecidos pelo cansaço quando vidraças incendiadas de sol e uma bela fraga- desnecessário às suas presentes missões, mais de interes- despertados, tacteando, descobrimos a luz de ta de Castela (29) ostentando uma bandeira se público marítimo do que militar,. leitura que, corridas as cortinas para não per- maior que ela. (12) Nos navios de guerra as câmaras são as salas turbar o nosso parceiro de camarote, acen- Faina às 08h55, ao dobrar Cacilhas e já comuns dos oficiais ou dos sargentos. O comandante demos para ver as horas, estávamos seguros com os dois rebocadores a postos demandan- dispõe normalmente de uma camarinha privativa. (13) O «Detalhe» é o mapa geral das funções atribuí- de que os balanços, o arfar, e agora o caturrar do o canal do Alfeite e depois o cais 3 Sul da das a cada elemento da guarnição em cada uma das e a ocasional cavitação não dariam tréguas Base Naval de Lisboa, um deserto de navios várias «Condições Gerais (17)» ou «Especiais (13)» em ao nosso precioso sono. de guerra a que atracaríamos a tempo de os que o navio se encontra empenhado, sintetizadas num Na câmara de oficiais, jornais pelo chão e oficiais irem ao «Briefing» com que no Centro «Cartão de Detalhe» pessoal. cadeiras viradas, reconfortámo-nos com de Instrução de Táctica Naval (CITAN) se irá (14) Este tipo de navios não possui instalações para pessoal feminino. umas bolachas e um leite que fomos encon- preparar o exercício Contex/Phibex 01 pro- (15) Os marujos sabem que a fera é o mar. trar na copa onde uma sinfonia de chávenas, gramado para a semana seguinte, tendo como (16) Um Canal virtual a 9 milhas a Oeste das talheres ou o que fosse, parecia regida pela convidados unidades da Armada espanhola. Berlengas, por onde deve passar o tráfego que se colher do açúcar em busca do nosso copo. Felizmente a «Mala SAR (30)» não teve de dirige para Norte e que permite assegurar uma nave- gação mais safa e fazer um controle estatístico do Na Ponte os primeiros alvores despon- ser aberta. tráfego marítimo. Em Espanha feito diariamente ao tavam enquanto cruzávamos ao largo da Quando abandonámos o navio os arti- largo do cabo Finisterra, em Portugal foi apenas feito Barra de Lisboa. lheiros iniciavam as rotinas da Boffors de ao largo do cabo da Roca durante um breve período Quando a alvorada apitou no ETO, às 40mm como se o navio tivesse passado a e há mais de uma década. 06h30, já o Comandante estava na Ponte e semana no remanso duma ... marina. (17) Leia-se Oes-sudoeste (18) Leia-se Su-sueste (19) Mensagem de Declaração de Avistamen- to/Vistoria de embarcações de pesca.. (20) «...Agosto de 1915 ...(contra os)...aguerridos Cuamatos, Evales e Cuanhamas... 60.000 guerreiros, dos quais 20.000 ou 30.000 dispunham de armas modernas ...auxílio dado pelos alemães ... » (21) O brazão de armas da corveta recopia o de D. Afonso V, o Africano. A espada, legada pelo General Pereira d’Eça à Armada, encontra-se patente no Museu da Marinha. (22) «Capitão» é tradicionalmente a designação dada ao menos graduado e normalmente mais jovem elemento da guarnição. Talvez uma forma de o compensar pelos trabalhos mais pesados que lhe eram atribuíveis. Na Armada são admitidos Voluntários a partir dos 18 anos. (23) Os quartos não rendem às tradicionais horas porque são agora de três horas. (24) Recorda-se que aqui esteve montado um «Ouriço», uma arma anti-submarina. Tratava-se de uma plataforma dispondo de um elevado número de espigões alinhados e ligeiramente inclináveis, daí o nome, que Mestre apita a Alvorada. recebiam projécteis que num ataque bem orientado se afundavam em círculo, sobre o submarino. se demandava o enfiamento Gibalta-Esteiro- Quatro «Daphnée (31)» de braço dado, (25) A actual guarnição compõe-se de 7 oficiais, 13 -Mama (duas luzes vermelhas e uma bran- quatro, diante da Esquadrilha de Submarinos sargentos e 50 praças. ca) que tomámos, rumo 047, pelas 06h55, lembraram-nos que o ambicioso Plano Naval (26) Helicóptero ao serviço da Base Aérea do cumprindo o «Plano de Entrada/Saída Visual iniciado com Franco continua de vento em Montijo. (27) Na ponta de um cabo de pequena bitola. do Porto de Lisboa». popa que a tão vizinha Espanha terá inimigos (28) Leia-se «Pócui irr dújom, marenáje!». Paz à sua ou interesses que nós não vislumbramos. alma de marinheiros! Ao tempo farrusco sucedeu-se um dia Felizes, patetas ou irremediavelmente cegos? (29) A fragata «Baleares» da classe Americana bonançoso e o primeiro combóio eléctrico Nós!  «Knox». (30) Onde se guardam equipamentos e documentos transportou-nos à manhã da nossa primeira necessários a este tipo de missões, inclusivé uma má- entrada da Barra, há 55 anos, vindos duma Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves quina fotográfica e uma câmara de vídeo. pacífica e promissora África que já só existe 1TEN REF (31) Reduzida, a nossa esquadrilha, a dois submarinos.

8 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA OO “Gil“Gil Eannes”Eannes” EntreEntre aa GuerraGuerra ee aa PazPaz (Conclusão)

Mais longe, na Madeira e nos Açores estalam mo- vimentos revolucionários que serão controlados, sob o comando do Ministro da Marinha, por navios das Marinhas de Guerra e Mercante (1) entre 6/04/31 e 12/05/31. O cruzador “Adamastor”.

o rescaldo, será o «Gil Eannes» que a ... DE XANGAI, VIA BOMBAIM, O RESSURGIMENTO NAVAL 27/06, após revista ministerial, con- A LISBOA Nduzirá a par da nova guarnição do Como o Programa Naval de Magalhães «Adamastor», estacionado em Macau, 2 pas- Com o costado pintado por chins, passa de Corrêa começasse a tomar corpo havia que sageiros, 64 presos políticos com destino a novo pelo estaleiro, sendo enviado a Xangai, enviar as guarnições e material vário e para Timor a que se juntaram, no porto da onde depara com 30 vasos de guerra de essa missão aprontou-se o «Gil Eannes» que Preguiça (2), mais cinco, em Bissau, outros 14 diversas nacionalidades, um deles o efectuou duas viagens a Inglaterra. e em Luanda, dez e dois timorenses a repa- «Adamastor», a recolher refugiados que não Na primeira, que durou um mês e teve iní- triar, além de um clandestino (!?) descoberto já comparecendo o fazem descer os rios cio em 3/09/1933, visitou três portos trazen- depois das regulações das agulhas e do radio- Whangpoo, Woosung e Yang-tzé-kiang e do para Lisboa «minas, torpedos, munições goniómetro feitas ao largo de Cascais. regressar a Macau. de artilharia, aparelhagem especial, metra- Em todos estes portos e em S. Vicente, S. Mais 22 caixotes, para o Ministério das lhadoras, colheres dos tubos lança-torpedos, Tomé e no Lobito meteu água, frescos e/ou Colónias, 222 bagagens e alguns passageiros peças de artilharia de 12 cm (para o «Pedro carvão até demandar Lourenço Marques com e com três dias em Hong-Kong ei-lo, de 24 a Nunes») e muito outro material». oitenta dias de viagem, sendo então os pre- 30/03, em viagem para Singapura que deixou No ano seguinte demandou quatro portos sos, nos portos confinados à coberta, aloja- a 2/04. e regressou a Lisboa a 27/03 com seis peças dos na cadeia civil. As bagagens dos 90 que Na madrugada de 4, antes de entrar no de 120 mm para os contratorpedeiros reembarcaram foram, à semelhança de Índico, foi observado, durante horas, um «Douro» e «Dão» e outro material de guerra. Lisboa, revistadas sendo-lhes apreendidas estranhíssimo fenómeno de «...faixas do mar As mudanças de comando iam ocorrendo duas pistolas carregadas e várias garrafas de iluminadas ... movimento vibratório ... ondas e desta vez com intervalo de mês e meio. álcool (3). de nevoeiro luminoso...». A 1/06 com contratorpedeiros, submari- Em dez dias entrou, a 17/09, em Port Louis Depois de Colombo demanda Mormugão nos, avisos e a aviação naval participa num saindo a 23 para Batávia (4) sendo observado (6) onde mete dois caixotes do BNU (7) com exercício de desembarque de forças de um eclipse total da lua, a 26, e, atravessado o moedas de ouro, 102 troncos de teca, carros Marinha que nas suas baleeiras tomaram de estreito de Sonda, entrou no porto daquela de campanha e outro material militar e refaz assalto a praia da ... Cruz Quebrada. cidade a 10/10 e em mais seis dias, a 21, a pintura. No mês de Julho participou em impor- alcança Dili onde, como ocorrera em S. Em Bombaim recebe carvão e a urna do tantes manobras entre a Madeira e os Açores Tomé, encontra dois navios mercantes falecido cônsul de nacionais. Portugal antes de Desembarcados os 4 passageiros larga se afoitar aos gol- para o enclave do «Oekussi» onde presos e fos da Arábia e de suas bagagens são desembarcados, efectuan- Aden (carvão), e do algumas viagens nas costas da colónia prosseguir rumo a antes de, via Macassar, demandar a 12/11, o Suez, Port Said, porto artificial de Macau. Malta, Gibraltar e De 14/11 a 16/01/1932 sofre fabricos Lisboa onde che- vários em Hong-Kong e regressa a Macau ga a 4/06, com onde 31 praças destacam para o vapor 26.625 milhas per- «Chinde» que segue para Moçambique e corridas, e en- efectua a rendição da guarnição do trando, por um «Adamastor», o embarque de material mili- ano, em meio ar- O “Gil Eannes” nos exercícios da Cruz Quebrada: as forças de desembarque saltam ✎ tar, nomeadamente dois aviões Fairey (5). mamento. nas baleeiras.

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 9 para integração das novas esquadrilhas de ais», para os Açores em contratorpedeiros no conjunto das nossas cujas proximidades «foi forças aeronavais. visto um fenómeno Nova viagem a três portos ingleses curioso: às seis horas (docagem e carvão e carga) a tempo de nasceu o sol, cujo semi- embandeirar nos topes para celebrar a incor- disco superior apareceu poração do novo contratorpedeiro «Tejo», a francamente verde; pouco 12/10, depois de 40 dias de ausência. depois encobriu-se e ficou Após três breves comandos e duma longa a parte do céu que estava imobilização larga para o Funchal onde per- por baixo com a mesma manece de 10 a 30/08/1936 e no Tejo, pre- cor verde, durante cerca sencia a revolta dos navios, reflectindo as de um minuto.» tensões da sangrenta Guerra Civil espanhola. Água e carvão embarca- Nova, mas idêntica, missão ao Reino O “Gil Eannes” fundeado no porto de Godhavn. dos, na Horta, Lisboa à Unido entre 9/09 e 19/10 onde embarca vista a 6/11. Última faina, material de guerra nos habituais portos. mais de 70 anos, ambos da casa Bensaúde e o desembarque de 14 pescadores ao cuidado dois dias depois entra em S. João. do Grémio (10) a encerrar a 5ª campanha. TERRA NOVA - III Faz-se ao mar a 28 e é informado do desa- A 12/06/1939 amarrou à ponte do Grémio, parecimento de um pescador num mar de ao Ginjal, e embarcou 3271 caixas de isco e Inactivo até 16/12, data em que passa à gelos flutuantes mas, impotente, segue para a apetrechos para a frota que, via Horta, disponibilidade até que, a 31/06, foi manda- Groenlândia onde visita 40 bacalhoeiros e, alcançou a 9/07 tendo fundeado com mau do passar, sob o comando do CFR António no banco de Davis, a outros pesqueiros, rece- tempo junto dum lugre que só avistou (e visi- José Martins, a completo armamento com o bendo um pescador nosso que, na compa- tou) no dia ...seguinte. objectivo de regressar à Terra Nova, serviço nhia do médico e do capelão do «St Yves», é Visitados mais oito navios, estaciona em em que se manteve com grande regularidade transferido para o nosso navio hospital, dias S. João de 14 a 26 e a 31 iniciava as visitas confirmando o reconhecimento internacional antes de se terem, a 13/08, observado (7 e depois 24) após o que entrou em já granjeado. «...«intensos fenómenos de refracção, aproxi- Godhavn navegando entre icebergs. A sua 4ª campanha iniciou-se a 14/07, mando e invertendo navios»...». Uma semana depois fazia-se ao mar e visi- numa tirada directa de 9 dias, começando Vários incidentes vão assinalar a próxima tados 9 bacalhoeiros retorna a S. João para logo por visitar 8 bacalhoeiros antes de escala em Godhavn; No apertado canal de voltar a sair a 13. entrar em Halifax. O 1º cruzeiro, de 9 dias e entrada houve que contornar uma «monta- Uma fatalidade iria somar-se às dificul- seis visitas, levou-o, a 13/08, e por cinco nha de gelo flutuante (8)» e depois, ao fun- dades do nevoeiro ou do mau tempo. Um dias, a S. João. dear no estreito porto (9), o ferro não unhou e pescador recolhido do «Granja» foi dado Depois foram os mares da Groenlândia, acabou, depois de rebentarem várias espias, como desaparecido e invertendo-se o rumo por entre gelos flutuantes, avistando ao 6º dia por encalhar. Alijadas 213 toneladas de água até ao suposto ponto da tragédia, esta, ao fim os primeiros dos 27 lugres a que prestou doce e salgada (lastro) e deslocado para de duas porfiadas horas, foi dada por con- assistência antes de entrar em Godhavn, na vante algum carvão, na preamar e à força de sumada. ilha de Disko, até 11/09. máquina desencalhou e, safo, foi fundear. Em S. João, na noite de 17/10, desen- Nesses 5 dias apresentaram cumprimentos cadeou-se tal tempestade (711 mm Hg) que o ao governador dinamarquês, que, com a navio, amarrado com 24 cabos de cairo, família, retribuiu e a quem foi oferecido um arrancou um cabeço do cais, atrasando o passeio aos bancos. regresso a Lisboa para 21, sendo, a 28, A acção de assistência médica alargou-se, brindado, na Horta, com um eclipse da Lua. neste porto, a um esquimó e a um inglês Saído, forneceu o ponto a um hidroavião envolvido em estudos estratosféricos. americano que, de Lisboa, demandava aque- Novo cruzeiro nos bancos da Terra Nova, le porto. A uma semana do S. Martinho de- uma média de uma visita por dia, em 9 dias, sembarcou os pescadores, sãos ou doentes, até S. João onde uma força prestou honras que recolhera e a 28/12 o seu muito estima- fúnebres ao cônsul de Portugal. do comandante (11) passa à reserva entre- O 4º e derradeiro cruzeiro desta campanha gando o comando. iniciou-se a 4/10 com 21 navios visitados, 1940, 30/06; feita a calibragem do radio- O “Gil Eannes” na manhã de 19 de Setembro de 1941 entre eles o «Elite», o 2º arrastão de bacalhau salva a bandeira da União no porto de Nova York. goniómetro, na véspera, segue para Ponta da nossa frota, e uma intervenção numa Delgada e da Horta ruma directo à insubordinação a bordo do «Infante de Depois de uma retemperadora estadia sai Groenlândia que, celebrada missa a bordo, Sagres» para S. João onde se reabastece antes de a na segunda feira, 16/07, avistam pelo través Numa semana pintado e abastecido larga a 14/09 voltar aos bancos e às visitas (11 dias, de estibordo. 26/10 para Horta, visitando um lugre no 35 dos nossos navios e alguns franceses) pas- Pôr do sol às 21h50, baleotes, miragens, caminho e recolhendo, nesta cidade, um sando o correio a dois lugres que regressa- icebergues, uns à deriva outros encalhados pescador hospitalizado deixado pelo vam a Portugal. nos bancos, como então aconteceu no banco «Pescador» que ultrapassa ao largo da Em S. João há a oportunidade de se ofere- Fyllas onde o «São Ruy (12)» foi o primeiro Terceira para a 9/11 amarrar à bóia. cer uma recepção a bordo na enfermaria de de 32 bacalhoeiros a ser assistido, entrando Duas comissões, às Ilhas e de novo a Ingla- estibordo, decorada a preceito, com ceia Godhavn de 23 a 30. terra, ocupam-no no 1º semestre de 1938. servida na câmara de sargentos e que além Depois mais 27 navios, mau tempo, ne- Uma vez mais o D.L. de 1927 o levará aos de muito concorrida, decorreu animada- voeiros e ... icebergues. Um radioso nascer bancos. A 8/07 solta rumo à Horta com mente até «às duas horas da madrugada». do sol às 03h30 que deu lugar a uma cer- equipamento para o posto radionaval e, ates- A 16/10, depois de 4 dias de mar, regressa ração de dois dias a tempo de se observar as tado de carvão, a 18 inicia a sua faina assis- ao mesmo porto para reparação das caldeiras franjas luminosas de uma aurora boreal que tencial a oito lugres, entre os quais o «Argus», e, na sota, embarcar carvão e largar, a 27, sob evoluiu para feixes combinados com um bri- um dos mais modernos, e o «Gazela I» com o espectacular efeito de «muitas auroras bore- lhante arco e nova apoteose ao anoitecer.

10 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA S. João (uma semana) rima com carvão. Averbará 27 viagens, de assistência à frota Nova saída, 10 navios, S. Pedro por um dia, e bacalhoeira em zona de guerra declarada, a 2/09, franqueadas a barragens de defesa sob o comando do muito estimado e notável (4) (8) submarina entra em Halifax para descanço. CFRAG José Martins, agora na Reserva, e Após mais treze lugres dá-se volta à cam- algumas mistas, de comércio e assistência, panha. Via Horta e com a barra patrulhada em que leva vinho para os USA e vinho e sal (3) (7) por um navio de Sua Majestade ei-lo em para o Canadá, donde traz, respectivamente, Lisboa, a 17 para uma demorada estadia assi- carga geral e ... bacalhau seco. Outros desti- nalada pela mudança de comando e, de 15 a nos estão em Espanha, França, Reino Unido, 16/02, um violento ciclone a que por pouco Ilhas e o ... Brasil («assúcar (14)»). (2) (6) não sucumbiu. Mas também transporta pessoal da Armada A 12/06 larga depois de experimentada a para a recolha de redes e minas de barragem máquina, carregados isco e material de guer- e a guarnição do novo NH «Almirante (1) (5) ra e embarcados 7 sargentos e 36 praças para Lacerda». Os mais ilustres passageiros que o Centro da Aviação Naval de Ponta neste período transportou foram o Arcebispo Cores que o “Gil Eannes” usou na chaminé. Delgada. Aqui encontrou o «Douro» e o de Mitilene e o embaixador Teotónio Pereira 1 – Companhia alemã Hansa, de Bremen «Lima» e, na Horta, o «Dão». Das Lages, nas que acompanharam uma imagem de Nossa 2 – Marinha de guerra portuguesa (1916-1918) Flores, zarpa para os bancos onde chega a 28 Senhora da Boa Viagem para Gloucester. 3 – Transportes Marítimos do Estado iniciando logo as suas tarefas. Quando em 1951 recebeu um radar ainda 4 – Rau & Santos 5 – 2ª guerra mundial A rotina foi quebrada quando da escolta a não ia longe o dia em que, imerso num 6 – Marinha de guerra portuguesa (1924-1942) um combóio de 40 navios constituída por denso nevoeiro, abasteceu de água um 7 – Sociedade Nacional dos Armadores de contratorpedeiros e corvetas, destacou a «K bacalhoeiro com que chegara à fala sem Bacalhau (1ª) 150» a identificá-lo enquanto era sobrevoado nunca se terem chegado a ... ver. 8 - Sociedade Nacional dos Armadores de por um ... hidroavião. O correio, os jornais, as encomendas que Bacalhau (2ª) Aguardavam-no 35 ansiosas velas brancas traz e recolhe, a TSF para mensagens especi- que «receberam a carinhosa assistência do ais, os abastecimentos, as consultas, os veterano» navio antes de demandar medicamentos, o conforto duma enfermaria, Notas: Godhavn onde chegou a tempo de assegurar o socorro duma sala de operações ou o (1) Mais de 10 navios tendo o cargueiro «Cubango» um comovente funeral a um pescador do recolhimento da capela e, mais do que a elo- servido de transporte dos aviões da Armada. «Maria da Glória». quência das estatísticas, a memória dos (2) Ilha de S. Nicolau. (3) O que nos poderá dar uma ideia da amplitude da Mais dois cruzeiros já com alguns baca- pescadores são testemunho da humanitária sublevação contra a Ditadura saída do 28/05 de 1926. lhoeiros de regresso que em parte comboiou, missão cumprida com desvelo ao longo de (4) Actual Djacarta. como outras vezes acontecera, ruma a ... tantos anos. (5) Um deles o «Lusitânia». Nova Iorque. (6) Sri-Lanka e Estado Português da Índia, Gôa. (7) Banco Nacional Ultramarino, o Banco emissor em Salvado o forte Gay passa sob as pontes de todo o Ultramar excepto Angola, com sede na rua do Brooklyn e Manhattan e atraca ao cais 33 Ouro e que depois de várias fusões, após 1974, desapa- para embarcar ... bacalhau e ver 6 homens ... receu. desertarem antes de, a 10 de Outubro, largar (8) O autor que vimos seguindo, o Comandante para o Douro – Massarelos onde deixou a Amorim Loureiro procura evitar o uso da palavra «Iceberg», ela própria híbrida do inglês (ice, gelo) e do carga e uma semana depois, a 1/11, concluir alemão (berg, montanha). na capital a 8ª campanha. (9) «O navio não dispunha dos planos do porto, por A sua última viagem como navio da serem secretos, e não havia práticos.» Marinha de Guerra foi eminentemente militar; (10) Dos Armadores de Navios de Pesca do 22 peças de artilharia e munições para a base Bacalhau. Na organização corporativa do Estado Novo naval de Ponta Delgada, viaturas e aviões para o patronato estava organizado em Grémios e o traba- lho em Sindicatos Nacionais, havendo, como «almofa- o Exército e outra carga militar, além de mate- O “Gil Eannes” parte pela última vez para a assistên- da», as Casas dos Pescadores e, mais tarde, as Casas do riais de construção que deu, ali, lugar a outra cia aos pescadores do bacalhau. Povo. carga e, com as devidas honras, aos restos (11) O Cte José Maria Martins além de ser um mari- mortais de dois pilotos navais, um 2º tenente e Ao serviço de duas bandeiras e de cinco nheiro competentíssimo era um homem de inesquecível um 2º sargento, vítimas de acidente. diferentes armadores, oito vezes mudadas as afabilidade e um reputadíssimo ... fotógrafo! (12) Não existe santo deste nome. cores da chaminé, a cinco de Outubro de (13) E que daria azo, anos depois, ao que se tornará, NAVIO CIVIL 1954 termina a derradeira viagem. De tudo tememos, no saudoso Despacho 100. despojado, inclusive do nome, será vendido (14) Com o arroz e o café o lote de produtos mais de- A 20/12/1941 terminava o seu serviço mili- em almoeda. Os que nele serviram e os que sejados. (15) Em vésperas de desmantelamento numa emissão tar-naval arriando a flâmula e o jaque a 14, serviu não o esquecerão. do programa «Memória do tempo» o Prof. Dr. Hermano depois de retirada a artilharia e guarnição, subs- Melhor sorte terá, «in extremis», o navio Saraiva consegue a sua recuperação museológica. tituída por uma tripulação sob o comando do (15) que lhe sucederá na missão que, com o (16) Típico do Estado Novo o título de uma notícia do capitão da marinha mercante Cândido da Silva. nome e o sino, dele recebe. Este, patente no Diário de Notícias do início dos anos setenta acerca da Porque a guerra continuava e o país perce- Museu da Marinha, na sala que evoca a que benção dos bacalhoeiros que partiam para a campanha em que a frota, inequivocamente numerosa, já quase bia, mais uma vez, que só excedendo-se a si foi a «maior frota bacalhoeira de pesca à seria a única de pesca do bacalhau à ... linha. Se fosse própria, a sua, entretanto empobrecida, ma- linha do mundo» (16). por razões ecológicas ... rinha mercante conseguia, para matar a fome Importa que navios símbolo de uma (17) Como em Londres, Portmouth, Paris, Nova da população, suprir a aflitiva indisponibili- época, mercantes ou de guerra, sejam preser- Iorque, Toronto, Rio de Janeiro, ... dade de cargueiros estrangeiros (13) é que o vados como apelativas imagens das suas «Gil Eannes» foi engrossar por DL de Marinhas (17) ...  Bibliografia: 3/02/1942 a frota de comércio com o sinal 1 - AMORIM LOUREIRO, Carlos Gomes de, A História de Um Navio, O «Gil Eannes», Lisboa, de código CSAU e, na chaminé, as cores da Gabinete de Estudos Das Pescas, 1956, 223 páginas. Sociedade Nacional dos Armadores de Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves 2 - Diversos autores, Grande Enciclopédia Portuguesa Bacalhau (S.N.A.B.). 1TEN REF e Brasileira , ?ª Ed. Lx., Enciclopédia Lda, s/ data.

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 11 ENTREVISTA Um Médico a bordo do “Gil Eannes”

Aguardava-nos o Sr. CALM Gualter Marques na «Sala dos Almirantes» onde, antes de mais, nos surpreendeu pela sua vivacidade e desen- voltura. Não nos foi, por isso, difícil imaginar o irrequieto estudante de Coimbra a con- quistar, com elevadíssima primeira classificação, uma carreira de Médico Naval, em 1940. Entrevistando o Dr. Gualter Marques… um jovem de 87 anos !

, muito menos, a agarrar o desafio de amador que como comandante se afirmara, à tavam pela TSF e, pior, por interposta pessoa, o embarcar no «Gil Eannes», rumo à Terra imagem do CFRAG Matos Moreira, «um oficial capitão ou o imediato, o que muito dificultava E Nova e, para acompanhar a migração do completo, de grande resistência física e de créditos os diagnósticos que, como o exercício, tocava bacalhau, à Groenlândia, em missão deveras sólidamente estabelecidos» nele aliados a um fino todas as especialidades, excepto, bem entendi- espinhosa; numerosa a frota, penosa a faina, trato, humanismo e ponderação reafirmados por do, as do sexo feminino. O sumário equipamen- hostil o tempo e implacável a ... guerra. entre icebergues, buzinas de nevoeiro e violentos to laboratorial de análises e um aparelho de temporais. Mas sobretudo porque era amado Raios X, que fizera embarcar, eram então utilíssi- Revista da Armada – Sr. Doutor, como foi como ... olhe! Como «um Pai»! mos requintes. parar ao «Gil Eannes»? R.A.: Como foram os contactos com a frota? R.A.: Viveu o Sr. Doutor algum momento tão Dr. Gualter Marques – O Director do emocionante como, em 1950, o do marinheiro Hospital de Marinha, entendeu ser a pessoa Dr. G.M.: Largámos de Lisboa a 24 de Junho da «Sagres» que, com toda a solidariedade do indicada. Pelos meus interesses profissionais e rumo a Nova Iorque que, apesar das maravilhas «Dão», salvou ao largo dos Açores? pelo meu espírito aventureiro. de engenharia e de senso prático, foi cidade que não nos cativou. Os nossos únicos passageiros, o Dr. G.M.: Sim, com final feliz e ... também R.A.: Num momento muito especial ... novo cônsul em S. João da Terra Nova e a não. Como os bacalhoeiros tinham largado em família, recentemente evacuados de Murmansk, Abril e Maio os problemas acumularam-se. Um Dr. G.M.: No auge da Guerra no Mar. Os tor- de avião, ali nos precederam. veterano do «Delãis» apareceu em estado de pedeamentos alemães aos comboios de Murmansk Daí, depois de Norfolk e New Port, para coma hipotérmico no dóri em que o tivemos de atrasaram a nossa partida para esse duplo teatro de carvão, a 27 de Julho chegámos junto dos içar. Chocados com «os maus tratos» a que o pesca e de ... «caça». Em 1942, em vésperas de par- primeiros três lugres da Terra Nova. Na sujeitei, quando o viram balbuciar as primeiras tida, um comunicado alemão avisava; quem aí Groenlândia os pescadores, ao saberem que o palavras passaram a chamar-lhe «ressuscitado». navegar, «depois de 26 de Junho, ... expõe-se à Cte José Martins continuava presente naqueles O curioso é que o próprio quando acordou jul- destruição». Lá fomos, cantando e rindo... mares acolheram-nos aos vivas, atirando os gava que estava no ... Céu. bonés e as roupas ao ar, com um entusiasmo R.A.: Quem o acompanhou, Senhor Doutor? comovente. Está a ver? R.A.: Logo no Céu ...

Dr. G.M.: O navio, então, era civil. Da tripu- R.A.: Tiro as necessárias ilações ... Dr. G.M.: Mas em 43 lugres e 3 arrastões nem lação recordo o Capitão Silva, o Imediato todos os casos foram tão felizes. Não tendo con- Passos, três Pilotos, um deles Cabo Verdeano, o Dr. G.M.: A contrastar, os dóris que nos seguido, à vista de terra, vencer as hemóptises Veterinário, Dr. Botelho, e o Capelão, Padre chegavam com os doentes. Uns ficavam hospi- do contra-mestre Bilela, do «Aviz», nossa única Encarnação, além de um punhado de bravos talizados, outros regressavam devidamente me- perda, assegurei-lhe uma câmara ardente à proa homens do mar. Da Armada o 2TEN AN Carlos dicados e muitas vezes eram os capitães e pilo- e, em terra, uma sepultura. Em Egesdeminde a Souto, eu próprio, então 2TEN MN, e o CFRAG tos que faziam de ...enfermeiros. comunidade esquimó protestante, num inespe- na reserva António José Martins, nas funções de Os que baixavam tomavam um banho e cor- rado gesto de puro ecumenismo, associou-se ao Capitão do Porto da Frota Bacalhoeira, tados os cabelos e a barba recolhiam aos alvos funeral deste bravo. Flores que nunca em tal incumbido de zelar pela segurança dos navios e lençóis duma enfermaria que, parecendo-lhes terra vira, foram depositadas na sua sepultura pela disciplina dos tripulantes. um luxo asiático, trazia aos seus endurecidos pelas gentis mãos femininas que, com mil cuida- rostos uma alegria feliz. dos, as cultivaram, sublinhando as tocantes R.A.: Uma pessoa muito especial ... Os cuidados dos dois enfermeiros civis e os palavras, mesmo para estrangeiros, do Capelão e meus distribuíam-se por uma população dispersa do Cte José Martins. ✎ Dr. G.M.: Sim. Um reputadíssimo fotógrafo de 3000 homens que muitas vezes me consul- No dia seguinte, apesar do mau tempo, fomos

12 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA os dois, inconsoláveis, implantar uma cruz de capitão não quer mais peixe a que se segue, no Dr. G.M.: Os programas musicais via rádio - madeira feita pelo carpinteiro de bordo. Foi lugre, sob o tempo que fizer, tão desprotegidos um começava sempre com um fado de assim, em seis meses de viagem... como no dóri e sempre molhados, a escala que Coimbra que me era dedicado e que eu ret- consiste em cortar as cabeças, eviscerar, lavar, sal- ribuía com música portuguesa e contando ane- R.A.: Quando contactou pela primeira vez gar – o salgador é o principal especialista - e arru- dotas. Mas mais belo que ver a manobra de com aquele povo? mar no porão o pitéu que tão bem conhecemos. virar de bordo de um lugre veleiro, que con- Pelas 2 ou 3 da madrugada aquecia-os a tornar um perigosíssimo iceberg, que contem- Dr. G.M.: A 4 de Setembro, a quase 70º N, chora, o caldo de arroz, alho, tomate, cabeças e plar uma espectacular aurora boreal ou um pôr quando, pela experiente mão dum piloto línguas de bacalhau que provei sem que se do sol melhor dos que o de Rubens, é a profun- esquimó, penetrámos a rochosa entrada de tenha cumprido a profecia de que por isso, da solidariedade em que todos os homens do Egesdeminde cercados de barcos de mulheres tivesse de lá voltar no ano seguinte. mar se desfazem para ajudar os mais atingidos esquimós, vestidas de côres garridas que, para Chegavam a desejar uma brisa que impedisse pelo mau tempo. geral contentamento, nos saudaram entusiastica- o capitão de os mandar pescar. mente. R.A.: Sinceramente?! De menos de 400 habitantes esquimós e R.A.: Uma brisa?! cerca de uma dezena de dinamarqueses incluin- Dr. G.M.: Oh! A solidariedade, o humanismo do dois médicos, uma simpática médica e um Dr. G.M.: Nem mais! Quando vi dóris aca- e o sacrifício heróico dos pescadores que tive pintor, aí retirado, era uma cidade de pequenas bados de largar, regressarem a toda a pressa e me oportunidade de ver e sentir, excedeu a minha casas de madeira vermelho escuro ou amarelo disseram que era a brisa não imaginava que de melhor expectativa. torrado com um telhado de fibra pintada de um mar chão, como o Mondego no Choupal, se Mas não esqueça as esquadras brancas, verde, construídas sobre montes de pedra e pudessem elevar de repente verdadeiras serras de como eu lhes chamava, de icebergs verda- dominadas pela torre da igreja. água. deiros, de água doce e azulados, ou falsos, de Se não for uma breve brisa cavaleira, dura três água salgada e esverdeados, nem os densos R.A.: Ainda assim são. ou quatro dias. As Tareias de Sudoeste viram tudo nevoeiros, com apitos que de 2 em 2 minutos do avesso; apetrechos, mastreação, dóris e até nos apertavam o coração, independentemente Dr. G.M.: A terra é inóspita e o cão esquimó, homens, que outros terão de substituir ao leme, de sabermos que cruzávamos com comboios que não ladra, antes uiva, é de uma força e fero- vão, irrecuperavelmente, parar ao malagueiro. As aliados para Murmansk e que estes, por razões cidade inauditas. A população delicada e aco- de Noroeste levam-nos num ápice, a correr com o de segurança, iam às escuras e em absoluto ... lhedora. As mulheres cumprimentam-nos ao tempo em árvore sêca, aos Açores donde o regres- silêncio. gracioso modo tradicional e, note, não havia so aos bancos era muito moroso. analfabetos e o ensino obrigatório já era de seis R.A.: Da Guerra recorda algum evento? anos. E mais; não havia prisões. Só na capital, Dr. G.M.: Imensos. Aviões, navios, submari- Godtaab, vi polícias, mas sem qualquer ... arma. nos, minas à deriva, rebentamentos, torpedea- Atrevido como sou, acabei por organizar um mentos, bombardeamentos, explosões, incêndios muito divertido glossário básico que nos foi e consequentes afundamentos. Mesmo dos nos- muito útil. Confraternizámos e neste capítulo as sos. recordações são as melhores. Mas recordo um em particular. A 300 milhas a norte dos Açores fomos interceptados por navios R.A.: As fotografias que guarda consigo teste- de guerra ingleses que, de dedo no gatilho, pas- munham-no... saram a pente fino o nosso navio e nos levaram, repare, o único telegrafista. A coincidência de Dr. G.M.: Os contactos aprofundaram-se, afundamentos com a presença do «Gil Eannes» inclusive por ser médico, pois todos aprendemos na zona fazia dele o procurado informador dos as palavras essenciais que nos abririam as portas. alemães. A seguir as cantigas, as danças e os costumes. Neste contexto de «prisão» e tensão o disparo As danças deles são violentíssimas, com ace- acidental da arma dum marinheiro inglês que lhe lerados rodopios e paragens bruscas; mas tam- esfacelou a face, levou-me de imediato a assisti- bém por lá dancei o fox e o tango. E as mulheres -lo, mas a gravidade exigia meios de que não dis- esquimós tem uma pele inesquecivelmente ... punha, porém, como estavam a dois dias dum sedosa. navio inglês com médico, fiz, claro, o melhor que E, claro, também lhes ensinámos cantigas e sabia e podia antes de ser evacuado para ... danças nossas. O vira, as rodas ... Gibraltar!

R.A.: Tentamos imaginar. E da safra? R.A.: O quê!?

Dr. G.M.: Quando cheguei procurei integrar- Dr. G.M.: Contingências da guerra no mar. -me o melhor possível no viver daqueles bravos. Mas, por «obra tão correcta», recebi um louvor Deixei crescer a barba e pesquei 18 bacalhaus – A bordo do NRP “Tejo” o Dr. Gualter Marques como do Almirantado Britânico que exibo com para saber como aquilo era – e de tal modo aza- 2TEN, em grande uniforme. vaidade, como médico cirurgião e como jovem gaiava que fui graduado em «Pescador de 1ª ex-assistente de Bissaia Barreto e Ângelo da Linha». Mas o trabalho clínico acabou por me R.A.: À vela? Fonseca. A bala, essa guardo-a com inequívoco absorver completamente. orgulho. A vida de todos era duríssima. Às 5 ou 6 da Dr. G.M.: Sim. Não calcula o que há de manhã, com a mesma luminosidade da meia heróico e de científico no ir até 70º N, apenas R.A.: Essa comissão foi decisiva na sua luta noite, levantavam-se e engoliam umas chávenas com uns «paninhos» nos mastros. Mas mesmo contra a tuberculose? de café com um pedaço de pão, e logo ape- arrastões que dispunham de máquinas não eram trechavam o seu dóri que arriavam à força de poupados. Dr. G.M.: Um flagelo a que dediquei 24 anos braços para, à vela ou a remos, se afastarem de Enfim, de olho na menor descida acentuada como militar e na vida civil, como director clínico 4 a 6 milhas em busca de um bom pesqueiro. do barómetro ou escutando os boletins metereo- de uma casa de saúde. De pé, iniciavam a pescaria azagaiando o lógicos, pois muitos lugres já dispunham de TSF, bacalhau até que cheios vinham descarregá-lo que também reparávamos, vivia-se, sem falar R.A.: Que a Armada, na Assistência aos seus nos quetes, anotando o capitão ou o imediato os dos nevões, no pavor das ... tempestades. Tuberculosos (ATA) e depois das Forças Armadas quintais pescados, de 80 a 300 por dia, antes de (ATFA), tão bem conhece e publicamente reco- voltarem de novo à faina. R.A.: E que é que amenizava tanta a adversi- nheceu. Muito agradecidos, Senhor Almirante, Um momento desejado é o do sinal de que o dade. pela sua jovial disponibilidade. 

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 13 ACADEMIA DE MARINHA SessãoSessão SoleneSolene EvocativaEvocativa dodo Vice-AlmiranteVice-Almirante JorgeJorge MaiaMaia RamosRamos PereiraPereira porpor OcasiãoOcasião dodo 1º1º CentenárioCentenário dodo seuseu NascimentoNascimento

fim de comemorar o 1º centená- brilhante carreira naval, com variados rio do nascimento do Vice- embarques, em guarda-marinha, A-Almirante Jorge Maia Ramos segundo-tenente e primeiro-tenente, Pereira, realizou-se, no passado dia destacando-se uma longa comissão no 5 de Abril, na Academia de Marinha, Extremo Oriente, de 1930 a 1932, a uma sessão solene evocativa do ilus- bordo do cruzador “Adamastor”, com tre oficial-general da nossa Armada, um expressivo louvor do respectivo presidida pelo Vice-Almirante Mota comandante, pela sua extraordinária e e Silva, Vice-Chefe do Estado-Maior competentíssima acção, técnica e de da Armada, em representação do direcção, no âmbito da instalação eléc- Almirante Chefe do Estado-Maior da trica e dos aparelhos de T.S.F. do Armada. O Contra-Almirante Rogério navio. A sua primeira colocação na d’Oliveira, Presidente da Academia Direcção do Serviço de Electricidade e de Marinha, abriu a sessão proferin- Comunicações data de 13 de Outubro do algumas breves palavras sobre a de 1932, onde viria a ser secretário, figura do Vice-Almirante Ramos subdirector e director, cargo a que Pereira, a que se seguiu a apresen- ascendeu em 23 de Outubro de 1944 e tação dos três oradores da sessão. que deixou em 17 de Fevereiro de Perante uma vasta e interessada 1954, já com o posto de Capitão-de- audiência, que encheu completamente -Fragata. Durante essa longa per- o auditório da Academia, foram manência de mais de 21 anos naquela oradores o Vice-Almirante Vicente Direcção, com curtas intermitências, Almeida d’Eça, o Contra-Almirante ao princípio, para mais alguns embar- Médico Naval Joaquim Félix António e ques, ainda como primeiro-tenente, o Comandante Guilherme Conceição designadamente como imediato dos Silva, todos eles profissionalmente vin- contratorpedeiros “Lima” e “Douro”, culados ao homenageado, o primeiro respectivamente em 1935 e em 1936, no âmbito da Direcção do Serviço de Vice-Almirante Jorge Maia Ramos Pereira. foi notabilíssimo o seu labor no Electricidade e Comunicações, e os domínio da radioelectricidade e das dois últimos no aviso de 2ª classe “João de Lisboa”. radiocomunicações, nomeadamente em termos de construção e O primeiro orador da tarde foi o Dr. Félix António, com uma experimentação de equipamentos próprios, fazendo jus à sua comunicação intitulada “Vice-Almirante Ramos Pereira – Uma vida condição de distinto radioamador que foi, de planeamento e organi- devotada à Pátria e à Marinha”. Seguiu-se o Vice-Almirante Almeida zação de cursos para oficiais, sargentos artífices e praças, de selecção d’Eça, cuja comunicação teve por título “Vice-Almirante Ramos de instrutores, de elaboração de elementos de ensino e de recolha de Pereira – Um valor no campo da radioelectricidade”. A intervenção material de instrução, sendo de destacar várias publicações técnicas final, a cargo do Dr. Conceição Silva, versou o tema “Vice-Almirante de sua autoria, de elevado mérito, como um compêndio de Ramos Pereira – O Comandante”. Radioelectricidade editado em 1952, que serviu de estudo a muitos Do que foi dito pelos três oradores, que escalpelizaram a vida, pes- alunos. Além disso, fez parte de várias comissões consultivas e foi soal, familiar, social e profissional, do Almirante Ramos Pereira, sem- delegado a algumas conferências internacionais, com manifesto pre atentamente escutados por todos os circunstantes, e para que, rela- prestígio para a Marinha e o País. tivamente aos que o não conheceram, se possa ficar com uma ideia, Foi sob a sua direcção que a rede das estações radionavais sofreu ainda que incompleta, dessa figura tão marcante da nossa Marinha no uma notável modernização, quer em equipamento, quer em insta- século passado, segue-se uma súmula do que aí foi referido: lações, de que a Estação Radionaval de Lisboa, desdobrada em cen- Nascido a 6 de Abril de 1901 em Vila Praia de Âncora, concelho tral transmissora e central receptora, é um bom exemplo de avançada de Caminha, veio viver para Lisboa a seguir ao advento da República, concepção técnica, ao mesmo tempo que eram instaladas novas em 1910, em virtude de seu pai, que era médico, ter sido eleito depu- estações – algumas das quais sob a sua directa orientação – por forma tado às Cortes Constituintes pelo distrito de Viana do Castelo, tendo a melhor cobrir a área em que a nossa actividade naval se desen- sido sucessivamente eleito deputado e senador até ao golpe militar de volvia. Interessou-se particularmente pela radiogoniometria, de que é 28 de Maio de 1926. Tendo feito o curso liceal no Colégio Militar, exemplo emblemático o triângulo Apúlia - Montijo – Horta, com a ingressou, após mais de dois anos de serviço no Exército, na Escola sua capacidade de cobertura aeronaval do Atlântico Norte, utilizada Naval como aspirante de Marinha, cujo curso concluíu, classificado em âmbito quer nacional quer internacional, tendo sido dada a uma em primeiro lugar, passados cerca de três anos, com promoção a dessas estações, a da Apúlia, muito merecidamente, o nome do guarda-marinha em 29 de Fevereiro de 1924. Seguiu-se então uma Almirante Ramos Pereira.

14 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA Após a sua saída da Direcção do Serviço de Electricidade e do novo Ministro da Marinha, desde 26 de Agosto de 1968, Contra- Comunicações, onde deixou uma obra notabilíssima, com expressivo -Almirante Manuel Pereira Crespo, de espírito aberto e liberal, que era louvor final do então Ministro da Marinha, Almirante Américo Tomaz, um incondicional admirador das elevadas qualidades intelectuais, foi o então Capitão-de-Fragata Ramos Pereira empossado no cargo de morais, humanas, profissionais, militares e patrióticas do Almirante Comandante do aviso de 2ª classe “João de Lisboa”, que, na altura, Ramos Pereira. pouco mais era que um monte de sucata atracado a uma ponte do Passado à situação de reforma, por limite de idade, ao perfazer Arsenal do Alfeite, com a guarnição reduzida ao mínimo, aguardando a setenta anos, em 6 de Abril de 1971, o Almirante Ramos Pereira viria conclusão de reparações iniciadas há alguns anos e que haviam sido a falecer, em 16 de Março de 1974, no Hospital da Marinha, vitima- interrompidas por ainda não se saber ao certo se valia a pena acabá-las. do por um carcinoma do estômago, precoce e largamente disse- Mas agora, com a missão de soberania que lhe tinha sido destinada a minado, depois de algumas semanas de sofrimento atroz, todavia cumprir no chamado Estado Português da Índia, logo Ramos Pereira se suportado com a nobreza, a resignação, a serenidade e a coragem, lançou com a maior determinação de transformar o “João de Lisboa” que eram apanágio do seu carácter austero, estóico, tranquilo e viril. numa unidade naval tão eficaz quanto as suas limitações o permitiam, e Durante os últimos anos da sua vida desenvolveu uma intensa e em induzir na guarnição um estado de espírito coeso, disciplinado e profícua actividade intelectual, tanto de índole técnico-científica, pleno de orgulho pela missão que ia desempenhar. E quando o navio como, e principalmente, de índole cultural, quer em conferências, zarpou do Tejo, em frente ao Terreiro do Paço, nessa tarde de 15 de quer em artigos escritos, sendo de referir um interessante livrinho de Outubro de 1954, adivinhava-se o êxito dessa dura mas honrosa mis- 150 páginas sobre Gago Coutinho, geógrafo, editado menos de um são, como se confirmou, com prestígio para a Marinha e para o País, ano antes da sua morte, mais precisamente em Maio de 1973, para graças às qualidades intelectuais, profissionais, militares e patrióticas do a Colecção Educativa do Ministério da Educação Nacional, que nos ilustre Comandante, a qual durou até 4 de Fevereiro de 1956. dá a conhecer em pormenor a notável acção, naquele domínio, nos Regressado à metrópole nossos antigos territórios em paquete, já que o navio ultramarinos, do consagra- ficou em Macau com nova do marinheiro e herói da guarnição, com chegada a navegação aérea. Lisboa ao fim de um mês, Também após a sua pas- passou o Comandante Ra- sagem à reserva passou a mos Pereira ao então deno- interessar-se mais pela po- minado Estado-Maior Na- lítica, fazendo jus à intensa val, onde viria a desempe- actividade, nesse campo, de nhar funções de Chefe da seu pai, nos finais da Mo- Divisão de Informações e de narquia e durante a Primeira Subchefe do Estado-Maior República, como indefectível Naval, interino, já como republicano e democrata, Capitão-de-Mar-e-Guerra, chegando mesmo a candi- posto a que fora promovido, datar-se, aquando das elei- por escolha, em 11 de Julho ções para deputados de 26 de 1956. de Outubro de 1969, por Depois, em meados de Aspecto da assistência à sessão solene. ocasião da prometida mas 1957, partiu para os EUA, a nunca cumprida “prima- fim de frequentar o Naval Command Course, no United States Naval vera marcelista”, integrando a lista da oposição democrática por War College, em Newport, complexo e trabalhoso curso de dez Viana do Castelo. meses que concluíu brilhantemente, tendo regressado a Portugal em Em Novembro de 1982 as forças vivas da sua terra natal, Vila Praia Junho de 1958, para, ao fim de um mês, se apresentar, com guia do de Âncora, prestaram-lhe uma homenagem póstuma, com a inaugu- Estado-Maior da Armada, no Instituto Superior Naval de Guerra, onde ração, na Praça da República, de um monumento com um busto do assumiu as funções de subdirector. Almirante, cerimónia a que se associou a nossa Marinha, largamente Promovido a Comodoro, também por escolha, em 19 de Julho de representada por oficiais, sargentos e praças, com a presença do 1959, ascenderia a director daquele Instituto em 26 de Janeiro de então Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Sousa Leitão, que 1960, onde viria a introduzir profundas e importantes alterações, em também representou o Presidente da República, General Ramalho organização, docência, currículo e instalações, culminando com a sua Eanes, que conferira ao Almirante Ramos Pereira, a título póstumo, a transferência do Ministério da Marinha para o nobre edifício da rua da Comenda da Ordem da Liberdade, entregue na altura a sua irmã, Junqueira, onde se tem mantido até hoje. Promovido a 28 de Abril de D. Maria Margarida Ramos Pereira, hoje já falecida, uma vez que o 1960 a Contra-Almirante, posto equivalente, então, ao actual Vice- insigne ancorense não deixara descendentes directos, embora tivesse -Almirante, igualmente por escolha, veria a sua carreira militar naval sido casado. intempestivamente interrompida por um insólito evento aquando da O seu casamento teve lugar quando era primeiro-tenente, em 11 de sessão solene de abertura dos cursos navais de guerra do ano lectivo Maio de 1939, portanto já com 38 anos de idade, sendo sua mulher, de 1961/62, em que, perante um discurso do Ministro da Marinha, D. Maria da Graça Lopes de Mendonça, neta paterna do Comandante Contra-Almirante Quintanilha de Mendonça Dias, que considerou Henrique Lopes de Mendonça, o célebre autor da letra de “A atentatório do seu prestígio e da sua autoridade como director, apre- Portuguesa”, e sobrinha-neta paterna de Rafael e Columbano Bordalo sentou, naquele local e naquele momento, o seu pedido de demissão, Pinheiro, irmãos de sua avó paterna D. Amélia Bordalo Pinheiro. irrevogável, daquele cargo, que acabou por ser aceite pelo Ministro. Ramos Pereira não deixou descendentes directos, é certo. Mas Profundamente magoado até ao fim da sua vida com tal episódio, deixou uma obra, designadamente no campo da radioelectricidade e passaria à reserva da Armada em 6 de Abril de 1966, situação em que das radiocomunicações, e no âmbito do Instituto Superior Naval de ainda foi director do Museu de Marinha, de Novembro de 1968 a 4 Guerra, e uma vida, pessoal, familiar, social, profissional, militar e de Março de 1971, tendo sido também um dos dez fundadores do política, que o creditam como um Homem de eleição, a apontar Grupo de Estudos de História Marítima, em 5 de Maio de 1969, que como exemplo a seguir pelas gerações actuais e pelas gerações vin- foi o embrião do Centro de Estudos de Marinha, criado em 1970, por douras, e digno de figurar na Galeria de Honra dos Grandes sua vez antecessor da Academia de Marinha, fundada em 1978. Portugueses!  Refira-se que tanto a nomeação para director do Museu, como a Joaquim Félix António nomeação para membro fundador daquele Grupo foram da iniciativa CALM MN

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 15 AA AcçãoAcção dada MarinhaMarinha nono DouroDouro àà LuzLuz dada ImprensaImprensa

acidente ocorrido com o desmoronamento da ponte de Castelo de Paiva e o desa- parecimento dos corpos de cerca de 60 pessoas, implicou o accionamento da OMarinha através do Departamento Marítimo do Norte, Instituto Hidrográfico, Mergulhadores da Armada e Corpo de Fuzileiros. A acção da Marinha nesta operação durante um mês, foi seguida pela população do País através dos Media. Publicam-se nesta página alguns dos textos em que a acção da Marinha foi analisada e que se julga ser, de uma maneira geral, o sentimento da opinião pública.

16 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA Textos transcritos:

1º à esquerda: Público (08/04/2001);

2º à esquerda: Expresso (24/03/2001); em cima: D.N. (21/03/2001);

à direita: Visão (22 a 28/03/2001).

Com os agradecimentos da Revista da Armada.

… … …

As palavras de apreço não foram só da Comunicação Social. Foram muitas as mensagens recebidas no Gabinete do Almirante CEMA, e no Instituto Hidrográfico, por parte de diversas pessoas que não quiseram deixar de demonstrar o seu reconhecimento pelo desempenho e elevado profissionalismo da Marinha na tragédia de Entre-os-Rios. Para todos, deixamos aqui o agradecimento da Marinha. 

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 17 FontesFontes ParaPara aa HistóriaHistória dada ArqueologiaArqueologia NavalNaval PortuguesaPortuguesa 1. Os códices de D. António de Ataíde

No valioso conjunto de docu- D. António foi uma das mais impor- dade. Dois factos tornam esta armada tantes figuras da História Naval e muito particular: por um lado, o capitão- mentos relativos a assuntos Marítima portuguesa dos finais do século -mor desentendeu-se com o piloto-mor, marítimos reunidos por D. XVI e inícios do século XVII, além de ter Simão Castanho Pais (um dos mais con- António de Ataíde, uma das ocupado cargos políticos de grande rele- ceituados no ofício, ao tempo), e não só vo. Nascido em 1567, segundo filho do pilotou a capitânea no regresso como mais notáveis figuras da segundo conde da Castanheira, veio a escreveu ele próprio o diário da viagem; Marinha portuguesa nos herdar o título do seu sobrinho D. João de por outro, o monarca confiou-lhe a aprecia- finais do século XVI e inícios Ataíde, quarto titular da Casa, e era neto ção do regimento dado aos capitães-mor, do primeiro conde, o poderoso vedor da para o anotar em função da sua experiên- do século XVII, merecem Fazenda de D. João III. Iniciou a sua vida cia de navegação para a Índia com vista a especial destaque os códices pública muito jovem, embarcando em uma reformulação do texto padrão. Bem 1582 na armada enviada aos Açores para ao contrário do que era a norma, é bem pertencentes à Universidade combater os partidários do Prior do Crato. possível que D. António tenha sido esco- de Harvard, finalmente Nos anos seguintes andou em várias lhido para este comando por causa dos acessíveis aos investigadores armadas da costa, e nesses embarques, seus conhecimentos de náutica. tanto quanto se pode presumir, veio a Depois do regresso a Lisboa é provido portugueses por via da cópia ganhar a experiência e conhecimentos no posto de coronel de infantaria, e em existente na Biblioteca práticos de navegação de que deu boas 1618 no de general da armada de Central de Marinha. provas mais tarde. Portugal, comandando a armada da costa, que aguardava os navios que se aproxi- mavam do litoral para os proteger dos ara o meio século que cobre generi- ataques de piratas e corsários. É nesta camente o último quartel do século qualidade que procede à criação do P XVI e o primeiro do século XVII, dis- primeiro corpo de infantaria de marinha, pomos de uma colecção de documentos o Terço da Armada Real (1), precursor técnicos de arquitectura naval que con- dos corpos destinados ao embarque de trasta com a quase total ausência de infor- tropas de combate em navios de guerra. mações similares para o período anterior. Em 1622 teve lugar um episódio que A partir deste núcleo é possível conhecer ficou nos anais da Carreira da Índia como com maior rigor as características e mor- uma das suas mais infaustas perdas. Ao fologias dos diversos tipos de embar- chegar à Terceira, o capitão da nau cações que serviram nas navegações por- “Nossa Senhora da Conceição” recebeu tuguesas, tanto das de grande porte como instruções para navegar em direcção à das auxiliares. Nele pontificam natural- costa portuguesa pelos 39,5° de latitude, mente os tratados de Fernando Oliveira, o que de facto fez, mas, ao invés da João Baptista Lavanha e Manuel armada da costa que o deveria esperar, Fernandes, mas existe também um deparou com dezassete vasos argelinos número significativo de documentos de ao largo de Peniche. Seguiu-se uma rija outra índole. peleja que durou dois dias, e a nau Bibliotecas e arquivos nacionais e perdeu-se depois da explosão que se estrangeiros guardam um número apre- seguiu a um incêndio, eventualmente ciável de códices com documentos que posto pela própria tripulação, já sem dizem directamente respeito a esta hipóteses de continuar a defesa do navio. matéria, ou com ela estão relacionados. João Carvalho Mascarenhas, que seguia a Por via de norma é porém impossível bordo e foi levado para o cativeiro em averiguar de onde provêem, quem Argel, escreveu um relato pormenorizado escreveu o quê e em que data, ou com do que se passou (2), mais tarde incluído que finalidade. Noutros casos, poucos no pseudo terceiro volume da História embora, há respostas para pelo menos Trágico-Marítima (3). D. António foi ime- parte destas questões. Assim sucede com Filipe II de Espanha (I de Portugal), já idoso. diatamente considerado responsável pela a colecção de códices que foi outrora Quadro de Juan Pantoja de la Cruz. El Escorial. perda da nau, dado que a sua armada não pertença de D. António de Ataíde, parte a protegeu. Alegou em sua defesa que de uma importante biblioteca privada Em 1611 D. António capitaneou a não o pudera fazer por não ter sido avisa- onde os assuntos do mar tinham lugar de armada da Índia, tendo sido um dos do do que se passava e por estar com os relevo, segundo se pode deduzir pelo que poucos capitães-mor que não só sabia navios imobilizados por falta de vento remanesce. navegar com praticou a arte nessa quali- (explicação que contém em si uma con-

18 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA detalhe dos comentários à margem que Luís de Albuquerque considerou serem na realidade duas (7). A relação principal cobre o período 1496-1653, e é o único caso de um texto desta natureza anotado por um capitão-mor da Carreira. Outro códice conhecido é o Livro de Marinharia de Gaspar Moreira, publicado por Léon Bourdon e Luís de Albuquerque, onde as notas de D. António mostram que talvez sobrevalorizasse os seus conhe- cimentos de náutica, já que errou por três vezes: sendo um caso raro entre os capitães de navios, não poderia porventu- ra equiparar-se aos melhores profissio- nais. Haveria muito mais a dizer do resto do conjunto, sobretudo pela importância dos inéditos. Na evidente impossibilidade de sequer apresentar os respectivos conteú- dos, debruçarmo-nos-emos em particular sobre os três códices pertencentes à Universidade de Harvard (Houghton Library), os quais reúnem materiais da maior importância para a História da Marinha Portuguesa, no artigo que se seguirá a esta apresentação muito geral da figura de D. António de Ataíde e dos manuscritos da sua biblioteca privada.  Filipe III de Espanha (II de Portugal). Artista desconhecido. Madrid. tradição evidente, de resto); mas só foi Portugal, cargo que ocupa sozinho de Doutor Francisco Contente Domingues ilibado três anos depois. Março de 1632 a Abril de 1633 em vir- Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Em 1625 é feito primeiro conde de tude do falecimento do conde de Vale de Academia de Marinha Castro Daire, gentil-homem de boca e Reis, Nuno de Mendonça. A Restauração mordomo-mor da rainha, em jeito de encontrou-o profundamente ligado à Notas desagravo pela injustiça a que fora gestão dos Habsburgos, e talvez por isso sujeito. Outros cargos e missões de não se livrou da prisão em 1641, por sus- 1) V. a propósito Jorge Semedo de Matos, O importância atestam o alto merecimento peita (infundada) de participação numa Terço da Armada da Coroa de Portugal (1621). Novas informações sobre a sua criação e organiza- de que sempre beneficiou junto de Filipe conjura pró-espanhola. Depois de ver ção, Lisboa, Academia de Marinha, 1999. IV, vindo a ser nomeado governador de provada a sua inocência passou os últi- 2) Memoravel Relaçam da Perda da Nao mos anos de vida em quietude, Conceiçam. Por Joam Carvalho Mascarenhas…, Em morrendo a 14 de Dezembro de Lisboa, Na Officina de Antonio Alvares, Anno de 1627. 1647. 3) Consta a obra de dois volumes: Historia Tragico-Maritima Em que se escrevem chronologica- D. António de Ataíde recolheu mente os Naufragios que tiveraõ as Naos… Por um valioso conjunto de códices Bernardo Gomes de Brito, Lisboa Occidental, Na com documentos diversos relativos Officina da Congregaçaõ do Oratorio, 1735-1736. às questões navais pelas quais se Mais tarde foi publicado um volume que passou a ser conhecido por “pseudo terceiro volume”, de formato interessou directamente, a ponto de idêntico, onde o compilador anónimo juntou mais poder ser considerado um perito: alguns relatos de naufrágios. Este último inicia-se pre- foi por exemplo uma das vozes que cisamente com o relato de Carvalho Mascarenhas. opinou àcerca da questão das três 4) Henrique Quirino da Fonseca (ed.), Diários de ou quatro cobertas das naus da Navegação da Carreira da Índia, nos anos de 1595, 1596, 1597, 1600 e 1603, Lisboa, Academia das Ciências, Índia. Desses códices, os mais co- 1938. nhecidos são os que compilam 5) Humberto Leitão (Introdução e notas), Viagens diários da Carreira da Índia, publi- do Reino para a Índia e da Índia para o Reino (1608- cados por Henrique Quirino da 1612). Diários de navegação coligidos por D. António de Ataíde no século XVII, 3 vols., Lisboa, Agência Fonseca (4) e por Humberto Leitão Geral do Ultramar, 1957-1958. (5). De outros, mormente dos que 6) C. R. Boxer, “The naval and colonial papers of mais nos interessam, deu boa conta Dom António de Ataíde”, Harvard Library Bulletin, vol. Charles Boxer (6), a cujo conheci- V, n. 1, Cambridge (Mass.), 1951, pp. 24-50; e “Um mento enciclopédico não escapou roteirista desconhecido do século XVII. D. António de Ataíde, capitão geral da Armada de Portugal”, Arquivo a importância deste acervo. Histórico da Marinha, vol. I, nº 1, 1934, pp. 189-200. No conjunto pode por exemplo 7) V. a Introdução a Relação Das Náos e Armadas destacar-se a Relação das Náos e da India Com os successos dellas que se puderam Armadas da India (códice Add. saber, Para Noticia e instrucção dos curiozos, e amantes Da Historia da India (British Library, Códice 20902 da British Library), uma das Add. 20902), leitura e anotações de Maria Hermínia mais interessantes relações de Maldonado, Coimbra, Biblioteca da Universidade, Uma das páginas manuscritas pela mão de D. António de Ataíde. armadas da Índia, com tal riqueza e 1985.

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 19 AA historiografiahistoriografia dada expansãoexpansão ee aa influênciainfluência dada obraobra dede VanVan LinschotenLinschoten nono declíniodeclínio dodo ImpérioImpério PortuguêsPortuguês dodo OrienteOriente

endo a sua origem nos autores mas cedo foi para Enkhuizen, que na época economicamente e procurava explorar novas peninsulares, já que foram Portugal era uma das mais importantes cidades por- rotas marítimas para incrementar o seu comér- T e Espanha os primeiros países euro- tuárias holandesas e os seus marítimos consi- cio, daí que os conhecimentos de Linschoten peus a empreenderem as descobertas de derados os melhores do país. Assim, desde tinha do Oriente, de Angra, o porto de escala novos mundos, a historiografia da expan- sempre teve oportunidade de conviver com das especiarias da Índia e da prata da são emerge na segunda metade do século o mundo das navegações, situação que lhe América espanhola, e de Lisboa, a porta de XV e será relevante nos dois séculos se- despertou interesse em conhecer outras ter- entrada na Europa e a placa giratória dos pro- guintes. Este tipo de escrita histórica foi ras e outros povos. Em 1580 chegou a dutos ultramarinos, fossem avidamente solici- seguido por ingleses, holandeses e france- Lisboa aguardando oportunidade para tados pelos comerciantes locais. Entretanto, o ses, à medida que estes navegaram nas realizar o seu desejo de viajar por terras escritor ia estabelecendo contacto com vários águas dos povos ibéricos. longínquas, facto que se concretiza quando navegadores e com eles trocado informações Em Portugal na historiografia da expansão, ao serviço de D. Vicente da Câmara, entre- que mais tarde lhe foram muito úteis para a inicialmente produzida por cronistas, de citar tanto, nomeado arcebispo de Goa, segue redacção das suas obras. Fernão Lopes de Castanheda Em 1593, a Holanda ten- com a “História do Descobri- tava encontrar uma rota seten- mento e Conquista da Índia”; trional pelo Cabo Norte para João de Barros iniciador das atingir a Oriente, hipótese de- “Décadas da Ásia”, trabalho fendida por Linschoten, na continuado por Diogo Couto medida que este caminho era também autor do “Diálogo substancialmente mais curto do Soldado Prático” e Gaspar do que o usado pelos por- Correia que, escrivão de tugueses na sua “Carreira da Afonso de Albuquerque, pu- Índia”. Este projecto após blicou as “Lendas da Índia”. várias tentativas fracassadas, Também os missionários inclusive uma viagem de 1595 concorreram para a historio- em que participou o escritor, grafia em questão, especial- foi abandonado. mente os jesuítas através das A rota para alcançar o chamadas cartas anuas, rela- Oriente pelo Sul não tinha tórios anuais pelos quais in- sido esquecida e tornava-se formavam os respectivos pro- premente já que Filipe II, vinciais não só da actividade então soberano das duas evangelizadora realizada mas nações ibéricas, tinha fecha- igualmente dos povos e das do os portos portugueses na terras onde exerciam a sua Europa, no Brasil e nas missão. Além dos cronistas e Índias aos holandeses. As dos missionários igualmente informações de Linschoten de destacar os viajantes, foram vitais para a carreira através dos seus relatos com holandesa do Oriente, no- descrições mais completas meadamente uma recomen- que as crónicas e que as cartas dando que se devia navegar anuas, já que as mesmas directamente do Cabo da Boa incluíam dados náuticos e Esperança para a Insulíndia, topográficos que foram vitais para os que com o seu amo para a Índia em 1583. Passa onde estavam localizadas as ilhas das espe- posteriormente empreenderam idênticas ini- então a exercer o cargo de guarda-livros do ciarias, de modo a evitar as costas do Índico e ciativas. arcebispo de quem obtém grande confiança por consequência o poderio das armadas Nestes relatos, que constituem a litera- e simpatia a ponto de, quando da vinda portuguesas. tura de viagens, de salientar a obra de Van deste a Portugal em 1586, ficar encarregado Assim, em 1595 quatro navios holan- Linschoten pelo conjunto de informações da manutenção e administração dos seus deses seguindo as informações de Lins- relativas a roteiros, nomeadamente os do bens. Em 1588 ao ter conhecimento da choten conseguiram atingir a Insulíndia Oriente, os quais possibilitaram os navega- morte do clérigo o escritor decide regressar pelo Sul e regressaram à Holanda em 1597. dores holandeses alcançar a Insulíndia. à Holanda. Em fins do mesmo ano parte de Os holandeses podiam navegar e comerciar Para compreender a importância de Goa e depois de uma viagem atribulada, sem intermediários com o Oriente e na Van Linschoten interessa conhecer alguns que inclui uma estada de três anos em An- medida que velejavam directamente do dos seus dados biográficos e o contexto gra do Heroísmo e uma escala em Lisboa, Cabo da Boa Esperança para Java não da época em que viveu. regressa em fins de 1592 a Enkhuizen, após estavam, como acontecia com os por- Jean Huygen Van Linschoten nasceu no fi- doze anos e meio de ausência. tugueses, limitados pelas monções do nal de 1562, início de 1563, em Harlemo Entretanto, a cidade tinha-se desenvolvido Índico. Já o rei D. Manuel tinha por carta

20 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA de 1506 ordenado ao Vice-Rei D. Fran- monopólio comercial do Cabo da Boa de tesoureiro da cidade de Enkhuizen e cisco de Almeida para mandar edificar Esperança ao Estreito de Magalhães e du- em 1606 provedor do seu hospital, tendo uma fortaleza em Ceilão, de modo a que o rante cerca de três séculos e meio asse- falecido em 1611 com apenas 48 anos de poder do Império do Oriente se passasse a gurou a soberania da Holanda de parte da idade. exercer de uma posição central e não em Insulíndia. Nada confirma, como alguns autores Goa de localização excêntrica. No entan- O pragmatismo holandês aliado a uma admitem, que Linschoten tenha sido um to, esta determinação não foi concretizada unidade de esforços consubstanciados espião holandês, no entanto as informa- e posteriormente Afonso de Albuquerque pela eficácia comercial da sua Companhia ções contidas na sua obra, pelos porme- sempre optou por Goa, já que no seu opuseram-se com êxito aos múltiplos nores e exactidão, contribuíram de um mo- entender esta cidade era mais defensável e interesses portugueses que se degladiavam do notável para a expansão marítima estava situada perto das sedes dos poderes no Oriente, originando assim o declínio holandesa nomeadamente no Oriente e dos reis locais. do nosso poder naquela região, situação tiveram influência nas posteriores navega- Tal foi o desenvolvimento do comércio para a qual contribuiu entretanto a priori- ções inglesas e francesas.  da Holanda com o Oriente que neste país dade dada pela Coroa à sua próspera foi fundada em 1602 a toda poderosa colónia do Brasil. José Luís Leiria Pinto “Companhia das Índias Orientais”, tendo o Em 1597 Linschoten exerceu as funções CALM

NOTÍCIAS PRÉMIO PRÉMIO “ALMIRANTE TEIXEIRA DA MOTA” “ALMIRANTE SARMENTO RODRIGUES”

● Concede a Academia de Marinha, em anos alternados, os ● Está aberto o concurso na Academia de Marinha, até ao dia 30 de prémios “Almirante Sarmento Rodrigues” e “Almirante Teixeira Setembro de 2001, para atribuição do Prémio "Almirante Sarmento da Mota”. Rodrigues". Este último prémio destina-se a incentivar e dinamizar a pes- O Prémio "Almirante Sarmento Rodrigues" destina-se a impul- quisa e a investigação científica nas áreas das Artes, Letras e sionar e dinamizar a pesquisa, a investigação científica e o estudo Ciências ligadas ao Mar e às Marinhas e ainda da História da da história das actividades marítimas dos Portugueses. Expansão Marítima. O referido Prémio, é constituído por um diploma e por uma Em 2000 a ele concorreram dez candidatos militares e civis, quantia pecuniária no valor de 1.000.000$00 (Um milhão de escu- alguns deles membros da Academia de Marinha e o júri decidiu dos). atribuir o Prémio à Drª. Dulce de Souza Gonçalves, uma jovem Podem concorrer a este Prémio os cidadãos nacionais e investigadora, pelo seu estudo “Diálogo com a Africanidade na estrangeiros que apresentem trabalhos originais nos domínios História Trágico-Marítima”. referidos. Consideram-se originais os trabalhos inéditos ou cuja No passado dia 20 de Fevereiro, no decorrer duma sessão na publicação tenha sido concluída no ano a que se refere o concurso Academia de Marinha e após algumas considerações do Vice- ou, ainda, no ano anterior. -Presidente da Academia Professor Castelo Branco sobre o estu- Para mais pormenores pode ser contactada directamente a do premiado, o Vice-Almirante Mota e Silva, em representação Academia pelos telefones: 213428148 e 213428105, ou fax 213427783 do Almirante CEMA fez a entrega do prémio que consta da ou por escrito para: quantia de 1000 contos e um diploma alusivo a tal distinção, bem como um livro editado pela Academia sobre o Vice- Academia de Marinha -Almirante Teixeira da Mota. Edifício da Marinha Praça do Município (Colaboração da Academia de Marinha) 1100-038 Lisboa

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 21 A MARINHA DE D. MANUEL (14) GuerraGuerra ouou Diplomacia,Diplomacia, GamaGama ouou Cabral,Cabral, CristoCristo ouou SantiagoSantiago

arafraseando o que diz parativos devem ter come- Luís Adão da Fonseca, çado muito tempo antes. PVasco da Gama trazia Pedro Álvares Cabral saiu da Índia para o reino uma com 13 navios, que não se excelente notícia que se con- aprontam em meia dúzia de substanciava no cumpri- meses. Podemos, pois, con- mento da missão, mas trazia cluir que era uma intenção uma má notícia: o comércio anterior à chegada de Vasco de especiarias não podia ser da Gama. Porém, a decisão feito de forma pacífica e sos- de nomear Cabral para a segada, comprando, trocan- comandar foi tomada pouco do e vendendo produtos. No tempo antes da partida, e Oriente, os árabes tinham-se talvez seja esse o mais signi- apercebido do perigo que ficativo sinal da hesitação do representava aquela pre- rei, quanto às características sença portuguesa e não tar- da empresa. Não seria lógico daram a instigar o Samorim que o comando recaísse em de Calecut contra estes intru- quem tinha experiência dos sos que podiam dar-lhes tratos orientais? Treze navios cabo do negócio. Outros representam um poder naval insatisfeitos com a descober- apreciável para a época e ta do caminho marítimo Cavaleiro da Ordem de Santiago de Espada. Cavaleiro da Ordem de Cristo. para as circunstâncias. O que para a Índia eram certa- Insígnia dos finais do séc. XVII. Insígnia da segunda metade do sec. XVIII. teria feito Vasco da Gama, mente os italianos e, sobretu- - Museu Nacional de Arte Antiga - com essa força naval, em do, os venezianos que com- frente de Calecut?... Pensan- plementavam o comércio árabe, distribuin- tivemos ocasião de referir. Portanto a do nas humilhações que aí já tinha sofrido, do a partir do Mediterrâneo os produtos decisão de continuar era a mais provável, parece-me natural que se inclinaria mais orientais. Digamos pois que Portugal arran- mas os resultados da viagem de Vasco da para a guerra do que para a diplomacia. jara alguns inimigos com a abertura da via Gama traziam algumas reservas quanto à Mas a opção do rei foi outra: depois de se do Cabo da Boa Esperança e com a hipótese forma de entrar nos negócios da Índia. saber que a Rota do Cabo era possível e de de colocar na Europa as especiarias e outras Havia pois que tomar opções. terem sido analisadas as notícias do que riquezas asiáticas, a preços muito mais É de crer que duas posições se tenham ocorrera na Índia, D. Manuel decidiu enviar baixos dos que vinham a ser praticados. A configurado: uma de pendão mais militar, uma esquadra numerosa, que, talvez, estadia de Vasco da Gama na Índia, e a ani- que promovia uma entrada em força, para tivesse o objectivo de impressionar os mosidade que aí se levantou, mostrava isso dominar os poderes locais, obrigá-los a uma poderes locais e mostrar a força do rei por- mesmo, e os meses que se seguem a esta vassalagem ao rei de Portugal e controlar o tuguês, mas que ainda se destinava a nego- triunfal chegada são meses de debate inten- comércio; e outra mais diplomática, que ciar e comprar especiarias. Ainda não esta- so, para encontrar uma estratégia adequada privilegiava a vertente negocial, continuan- va tomada uma decisão clara pela via da que impusesse a presença portuguesa no do a acreditar que era possível ir à Índia guerra no Oriente - que, seguramente, era Oriente. comprar especiaria sem fazer a guerra. defendida por Vasco da Gama – e o ba- Muita gente continua a pensar que a em- Nesta fase, não me parece possível que ou- lanceamento pela nomeação de um ou outro presa no Oriente é uma loucura de ambição tras posições estivessem em jogo, porque as capitão é a expressão visível das alternativas desmedida: o Norte de África, o Medi- informações continuavam a ser muito em jogo. As principais ordens militares por- terrâneo e o Atlântico, são os espaços que escassas. Vasco da Gama saiu do Malabar tuguesas – sobretudo Santiago e Cristo – interessam a Portugal, para os quais lhe sob ameaça de navios locais e tinha obser- alinham-se neste debate estratégico, desde o escasseiam já as forças; e o Oriente é apenas vado a animosidade do Samorim, por isso, primeiro momento, e, muitas vezes, a esco- um dispersar inútil de esforços. Mas o rei é provável que se sentisse mais inclinado lha de postos de comando teve a ver com a estava decidido a levar a cabo essa empresa, para a guerra; mas essa guerra apresentava- influência de uma ou outra ordem junto do para a qual tinha poderosos aliados finan- -se em Lisboa com contornos difusos e poder real. Neste caso, parece ser claro que a ceiros e ideológicos: o negócio da especiaria incertos, parecendo um esforço desmesura- nomeação de Cabral corresponde a uma era tentador e a empresa tinha o mesmo do para as capacidades do país. Certamente vitória da Ordem de Santiago, contra a no- cunho de cruzada que animara os cavaleiros que aqueles que apontavam a via de África meação de Vasco da Gama que represen- medievais e que servira de motor na guerra usavam este argumento a seu favor e pres- taria a posição da Ordem de Cristo.  em Marrocos. Para além disso, D. Manuel sionavam o rei. sentia-se um predestinado para grandes Como sabemos, D. Manuel enviou nova J. Semedo de Matos feitos, um escolhido por Deus - como já esquadra à Índia em Março de 1500, e os pre- CTEN FZ

22 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA AsAs novasnovas lanchaslanchas dede fiscalizaçãofiscalização rápidasrápidas “Orion”,“Orion”, “Pégaso”“Pégaso” ee “Sagitário”“Sagitário”

ecorreu, no passado dia 27 de Março, no Arsenal do Alfeite, lanchas rápidas de fiscalização permitiu um reforço significativo das a cerimónia de baptismo do NRP “ORION” e do aumento receitas do Arsenal, tendo representado a utilização de cerca de 10% Ddos NRP “ORION”, “PÉGASO” e “SAGITÁRIO” ao efecti- da capacidade fabril disponível neste estaleiro. É do conhecimento vo dos navios da Armada. geral que a Marinha necessita de mais cerca de um milhão de con- Trata-se das três últimas lanchas rápidas de fiscalização de um con- tos/ano, para assegurar a necessária reparação da sua esquadra. Se trato de quatro celebrado entre o Arsenal do Alfeite e a Direcção-Geral tal verba tivesse existido num passado recente, o panorama da de Armamento e Equipamentos de Defesa, do Ministério da Defesa Marinha seria outro e o Arsenal estaria melhor equipado e traba- Nacional e destinam-se a operar na fiscalização e controlo das activi- lharia em moldes mais modernos e eficientes. dades da pesca (SIFICAP). Estas lanchas, de casco em alumínio, foram Reconheço que o processo foi lento e penoso, mesmo consi- projectadas pelo Arsenal e construídas pelo Arsenal (as duas derando o valioso contributo, o qual agradeço, dos Estaleiros Navais primeiras) e pelos Estaleiros Navais do Mondego (as duas últimas). do Mondego, parceiro principal do Arsenal neste empreendimento, A cerimónia foi presidida pelo Ministro da Defesa Nacional e con- tendo construído os NRP “PÉGASO” e “SAGITÁRIO”. As lições tou com a presença do Almirante Chefe do Estado Maior da Armada, aprendidas foram muitas, desde a aquisição da tecnologia de sol- de outras individualidades civis e militares e dos dirigentes, quadros e dadura do alumínio ao reforço da capacidade de projecto, de operários do Arsenal que intervieram na construção dos navios. planeamento e de direcção de obra de novas construções. Interrogado se valeu a pena, respondo que sim. Considero que, globalmente, valeu a pena ter embarcado nesta aventura de serviço público - contribuir de forma indirecta para a modernização do Arsenal”. Seguidamente procedeu-se à leitura da Ordem da Armada do aumento das lanchas ao efectivo dos navios da Armada e da nomeação dos respectivos comandantes, a benção das lanchas pelo Capelão-Chefe da Marinha Manuel da Costa Amorim, o baptismo do NRP “ORION” de que foi Madrinha, D. Maria Alexandra Magalhães de Castro Galhardo Leitão, a entrega da Bandeira Nacional aos comandantes dos navios, o embarque das guarnições e o içar das ban- deiras e toque do Hino Nacional pela Banda da Armada. Os navios foram depois visitados pelos convidados, tendo sido entregue, pelo O içar da Bandeira Nacional a bordo das 3 lanchas, com as guarnições em continência. Administrador do Arsenal, uma oferta à madrinha do NRP “ORION”, na ponte alta do navio. A cerimónia terminou com um Após terem sido prestadas honras militares ao Sr. Ministro da beberete realizado na sala de refeições do Administrador. Defesa Nacional, o Administrador do Arsenal, Contra-Almirante As lanchas rápidas de fiscalização, objecto de um artigo publicado ECN Jorge Beirão Reis proferiu uma alocução na qual referiu o na Revista da Armada de Maio de 2000, destinam-se à realização de número reduzido de novas construções levadas a cabo pelo Arsenal, missões de fiscalização de pesca, de busca e salvamento e de patru- tendo salientado: lhamento marítimo e possuem as características principais e o arranjo “O panorama é confrangedor, mesmo para um estaleiro em que a seguintes: construção naval militar é apenas a sua segunda vocação. Assim, tendo o Governo estabelecido que a construção destas quatro lan- Principais características das LFR Classe “Centauro” chas de fiscalização rápidas seria objecto de concurso público inter- nacional, o Arsenal entendeu que devia concorrer (tendo para tal Material do casco: Alumínio solicitado e obtido autorização superior) e, mais importante ainda, Comprimento total: 28,40 m entendeu que seria sua obrigação tudo fazer para tentar ganhar o Comprimento entre PP: 26,40 m concurso, até para poder cumprir o estipulado no seu Regulamento. Boca máxima: 5,95 m Deslocamento Carregado: 90 t. Gostaria de focar também que, para um estaleiro de reparação Motores propulsores: 2x Cummins KTA50-M2; 1343 kW a 1900 rpm naval militar, como o Arsenal, a sua intervenção em programas de Caixas redutoras/inversoras: 2x ZF BW460-S novas construções militares constitui uma forma privilegiada de Propulsores: 2 hélices de passo fixo; Diam=1175 mm garantir a introdução da tão necessária inovação tecnológica, essen- Velocidade máxima: 28 nós cial a uma constante melhoria dos métodos e processos fabris e a um Velocidade de cruzeiro: 20 nós aumento da qualidade e produtividade do núcleo principal da sua Diesel/Geradores: 2x Cummins 6BT5.9 DM/Leroy Somer actividade - a reparação naval militar. Constituiu, por isso uma LSAM-44-1 segunda razão para reforçar a vontade do Arsenal em realizar este Radar: Furuno FCR-1411 MkIII programa, com plena consciência de que, se perdas houvesse, elas Sonda: ELAC LAZ 5000 teriam que ser sempre vistas e assumidas como um investimento à Comunicações: VHF - Sailor RT-2048 / RM-2042 MF/HF Skanti TRP-7207 sua modernização. Girobússola: Litton-Sperry Mk37 VT Uma terceira razão não pode deixar de ser apontada. Não é segre- GPS: Leica MX412B DGPS do para ninguém que ao cliente quase que exclusivo do Arsenal, a ETO: Vingtor SP2/4 Direcção de Navios, não têm sido disponibilizadas verbas adequadas Combustível: 14 m3 para pagar os serviços que lhe são prestados, o que conduziu, no pas- Aguada: 4,9 m3 sado, a uma acumulação de resultados negativos e à impossibilidade Guarnição: 1 oficial + 1 sargento + 6 praças de realização de investimentos fundamentais nas suas infra-estru- turas fabris. Assim, a realização do contrato de construção das quatro Colaboração do Arsenal do Alfeite

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 23 NOTÍCIAS VISITA DO SECRETÁRIO DE ESTADO DA DEFESA NACIONAL AO COMANDO NAVAL E BNL

● No passado dia 1 de Março, o Secretário de Estado da Defesa Acompanhadas pelo VALM Comandante Naval as entidades Nacional, Dr. Júlio Miranda Calha visitou o Comando Naval e a seguiram para a BNL, no Alfeite, para assistirem a um briefing no Base Naval de Lisboa, fazendo acompanhar-se pelo seu chefe de Centro de Instrução de Táctica Naval (CITAN) e para efectuarem gabinete, Dr. Rui Pinheiro. uma visita às instalações, sendo a mesma conduzida pelo Director O programa da visita iniciou-se com uma visita ao Comando do CITAN, CMG Carvalho Abreu. Naval de Oeiras, onde as entidades convidadas assistiram a um Seguiu-se uma visita ao N.R.P. “Corte Real”, onde foi proferida briefing sobre a constituição da unidade e a sua missão. Seguiu-se a uma pequena alocução pelo Comandante do navio, CFR Monteiro assinatura do Livro de Honra do Comando Naval e entrega de Montenegro, acerca das missões e capacidades do navio. Seguiu-se uma pequena lembrança. uma rápida visita aos locais mais significativos de bordo. Terminada a visita ao navio, a comitiva seguiu para o Palácio do Alfeite, onde o Chefe do Estado-Maior da Armada, ALM Vieira Matias, ofereceu um almoço a todos os convidados presentes. Após o almoço, as entidades visitantes dirigiram-se para a Base de Fuzileiros, sendo acompanhadas pelo VALM Silva Santos. O Comandante do Corpo de Fuzileiros, CMG Cunha Brazão, condu- ziu a visita e proferiu uma pequena alocução representativa da missão dos fuzileiros. Seguidamente assistiu-se a uma demons- tração do equipamento e modo de funcionamento dos fuzileiros, que se encontravam formados em parada. O Comandante Naval, VALM Silva Santos, deu por terminado o programa da visita, agradecendo a presença e a disponibilidade do Secretário de Estado da Defesa Nacional, Dr. Miranda Calha, que por sua vez manifestou o seu contentamento pela oportunidade que teve em visitar algumas unidades da Marinha, realçando a amabilidade de todos.

NOVO COMANDANTE DA STANAVFORLANT

● Realizou-se no passado dia 30 de Março na Base Naval Americana de Mayport (Florida) a cerimónia de entrega do Comando da Esquadra Naval Permanente da NATO para o Atlântico (STANAVFORLANT) pelo Comandante Supremo Aliado para o Atlântico (SACLANT), General William F. Kernan, ao Comodoro da Marinha portuguesa, Fernando José de Melo Gomes. O Comodoro e o seu Estado-Maior Internacional vão desem- penhar funções durante um ano (Março 2001 a Março 2002) a bordo das fragatas por- tuguesas da classe “Vasco da Gama”, sendo a “Álvares O Comodoro Melo Gomes no uso da palavra durante a cerimónia da tomada de posse. Cabral” a primeira a integrar a STANAVFORLANT. General Alvarenga Santos e do Chefe do Estado-Maior da O Comodoro Melo Go- Armada, Almirante Vieira Matias. mes sucede ao Contra- O Comodoro Melo Gomes é o 34º Comandante da STANAV- -Almirante da Marinha FORLANT, tratando-se da segunda vez que Portugal assume americana T. J. Wilson III, este comando desde a criação da Força em 1968. Este importante que comandou a referida cargo NATO só havia sido ocupado por Portugal uma única vez força no período de Março (1995/96) na pessoa do então CALM Alexandre Reis Rodrigues. de 2000 a Março de 2001. A cerimónia foi presidida Actualmente a Força é composta pelas seguintes unidades navais: pela Srª. D. Lisa Bronson, USS “Tortuga” Estados Unidos Navio Polivalente Logístico Deputy Assistant Secretary HMCS “Fredericton” Canadá Fragata of Defence European and EHDMS “Tordenskiold” Dinamarca Fragata NATO Affairs, da Admi- FGS “Rheinland Pfalz” Alemanha Fragata O General William F. Kernan (SACLANT) e nistração do Presidente HNLMS “Van Speyk” Holanda Fragata o Comodoro Melo Gomes à chegada ao local Bush, e contou com a pre- da cerimónia. NRP “Álvares Cabral” Portugal Fragata sença do Comandante Su- premo Aliado para o Atlântico (SACLANT) do Chefe do SPS “Victoria” Espanha Fragata Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), HMS “Westminster” Reino Unido Fragata

24 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA NOTÍCIAS PROVAS DE APTIDÃO PROFISSIONAL (97/2000)

Nos dias 29 e 30 de Novembro objectivos a que se propuseram de 2000 realizou-se no Grupo Nº 1 sendo os variados projectos realiza- de Escolas da Armada – Escola de dos demonstrativos do alto empe- Electrotecnia mais uma apresen- nho e motivação dos formandos tação e defesa das Provas de nas referidas Provas. Aptidão Profissional (PAP), do A PAP mais bem classificada Curso de Formação de Sargentos acabou por ser o Painel de visuali- Electrotécnicos (CFS ET 1997/2000), zação para piscina, elaborado pelos perante um júri presidido pelo formandos 2º Sargento Graduado Comandante do G1EA, CMG Carolino, 2º Sargento Graduado Joaquim Alves Gaspar. Santos e 2 Sargento Graduado Neto. Assistiram, como convidados, Algumas destas PAP’s irão ser um elemento do Instituto de utilizadas na Escola de Electrotecnia, Emprego e Formação Profissional – Departamento de Certificação, para fins didácticos, nos laboratórios de electrónica. O Painel de oficiais do Exército que prestam serviço na Escola de Sargentos e visualização irá ser, naturalmente aplicado na piscina do G1EA. na Escola de Electromecânicos de Paço d’Arcos, oficiais do Centro As PAP’s mais apelativas irão estar patentes em exposições de de Formação Militar e Técnica da Força Aérea e ainda oficiais da âmbito Nacional (Dia das Forças Armadas, Dia da Marinha) e em Direcção Escolar e das Escolas de Artilharia, Armas Submarinas e feiras de orientação profissional de âmbito regional ou local Comunicações do Grupo Nº 2 de Escolas da Armada. (Xira Jovem, Xira Infantil, Fóruns das Profissões – Alenquer, Este ano foram apreciadas as seguintes Provas de Aptidão Lourinhã). Profissional: A PAP realizada pelos alunos do 3º Ano do CFS-ET é um Sismógrafo, Detector multifunções, Intercomunicador (pela importante requisito para o reconhecimento da certificação rede eléctrica), Painel de visualização para piscina, Sistema de profissional de nível III (Técnico de Electrónica), permitindo vigilância TV e Central de alarmes. ainda o desenvolvimento de competências de âmbito técnico e Os 16 alunos do CFS – ET 1997/2000 atingiram com sucesso os comportamental.

3º FÓRUM PROFISSÕES “ESTÁ NA HORA”

A Câmara Municipal de Alenquer, tos painéis representativos das Escolas de através dos pelouros da Educação e da Máquinas, Abastecimento e Electrotecnia Juventude, promoveu o 3º Fórum e ainda algumas das últimas PAP’s reali- Profissões – “Está na Hora” – que se reali- zadas no âmbito dos CFS – ET e MQ; a zou entre os dias 19 e 23 de Fevereiro no Escola AB expôs duas preciosidades – “Fórum Romeira”. duas máquinas de escrever da 1ª metade Esta acção destinou-se a todos os do século passado; num computador cor- jovens que frequentam os 8º e 9º anos de ria uma aplicação informática, desenvolvi- escolaridade nas escolas da área do da pelo G1EA, referente aos cursos min- Município, e teve como objectivo a cria- istrados nas várias Escolas. ção de um espaço lúdico-pedagógico Através desta presença no certame de onde, através de pequenas actividades, fosse interiorizada a infor- Alenquer, o G1EA tentou dar resposta às preocupações dos jovens, mação no âmbito das carreiras profissionais. mostrando-lhes que a carreira militar é um caminho possível, há A par de outros ramos das Forças Armadas e das Forças de formação profissional na Marinha e há até um leque de cursos certi- Segurança, a Marinha foi representada pelo G1EA. Estiveram expos- ficados e outros em vias de o serem, pela União Europeia.

GABINETE DE INFORMAÇÃO E ATENDIMENTO PÚBLICO

Integrado na estrutura da Repartição de Recrutamento e Centros de Classificação e Selecção de Lisboa e Porto; Selecção, foi recentemente criado nas Instalações Navais de - Participar em acções de divulgação e informação em esta- Alcântara (INA) o Gabinete de Informação e Atendimento belecimentos de ensino e em actividades socio-culturais de Público (GIAP). promoção da Marinha. Incumbem ao GIAP, entre outras, as seguintes atribuições: O GIAP disponibiliza as seguintes formas de contacto: - Atender e esclarecer o público de forma personalizada; Telefones: RPTM 6123 / 6190 - Elaborar as respostas relativas aos pedidos de informação PT 21 394 54 69 formuladas por via postal; Internet ou fax; Linha Verde 800 204 635 - Assegurar a divulgação das diversas formas de prestação do serviço militar na Marinha; Internet: [email protected] - Actualizar a “Home Page” relativa ao Recrutamento; - Manter um ficheiro actualizado das candidaturas à Morada: Gabinete de Informação e Atendimento Público prestação de serviço na Marinha; Instalações Navais de Alcântara - Desenvolver acções de divulgação e informação nos Praça da Armada 1350-027 Lisboa

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 25 NOTÍCIAS EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA NAVIOS DA PESCA DO BACALHAU

● Na Sala dos Arcos da Sociedade Histórica da Independência de Expostas também trinta e quatro fotos de um novo tipo de Portugal, sediada no Palácio da Independência, em Lisboa, reali- veleiro, ainda aqui não referido que apareceu mais recentemente e zou-se no dia 8 de Março de 2001, pelas dezassete horas, com a pre- que foi chamado lugre de quatro mastros, que não é mais do que sença do general Manuel Freire Themudo Barata presidente da um lugre clássico ao qual foi adicionado um quarto mastro, enver- direcção da S.H.I.P., a inauguração de uma exposição de fotos de gando igualmente pano latino, como os outros três, aumentando a navios da pesca do bacalhau, promovida pelo associado José superfície vélica e consequentemente a velocidade. Ferreira dos Santos, a qual esteve patente ao público até ao dia 30 Além dos veleiros atrás referidos, que na sua grande maioria daquele mês. foram sendo dotados com um motor A exposição apresentava quase auxiliar de propulsão, a exposição duas centenas de fotos de navios contemplou ainda vários navios de bacalhoeiros da colecção do autor, propulsão exclusivamente mecânica que tem vindo a ser reunida ao a saber: dezassete navios-motor de longo dos anos, e pretendeu ser pesca à linha, nove navios de redes uma justa homenagem aos pes- de emalhar, com lanchas e vinte e cadores portugueses do bacalhau, oito arrastões, sendo quinze navios muito especialmente aos da pesca à de arrasto lateral e treze navios de linha, cuja saga Titânica já foi con- arrasto pela popa. siderada por alguns autores como Não foram esquecidos os navios A ÚLTIMA GRANDE EPOPEIA que apoiaram a frota bacalhoeira e DOS MARES. assim pode ser vista uma foto do Foram vários os tipos de navios aviso de 2ª classe “Carvalho de vela usados naquela pesca Lugre – Patacho “GAZELA PRIMEIRO”. Araújo”, (que de Março de 1920 a nomeadamente barcas, brigues, Junho de 1932 foi impropriamente escunas, iates, lugres-escuna, lugres-patacho e palhabotes todos eles classificado como cruzador), podendo ser vistas ainda duas fotos comportando algumas dezenas de dóris que seguiam no convés, de cada um dos dois famosos “GIL EANNES” que durante tantos aninhados uns dentro dos outros, formando várias pilhas, forte- anos foram as “fadas boas” dos nossos pescadores. mente peadas ao pavimento, para se aguentarem sem irem pela Para finalizar e subordinadas ao título “VELEIROS SOBRE- borda fora, devido ao violento balanço ou ao embarque de vagas, VIVENTES” apresentam-se cinco estampas do Navio de Treino de durante as travessias de Portugal para as zonas de pesca da Terra Mar “CREOULA”, UAM 201, hoje em dia operado pela Marinha Nova e da Groenlândia e volta. Portuguesa; também cinco imagens do lugre-patacho “GAZELA” A exposição contemplou apenas três daqueles tipos de veleiros (ex-GAZELA PRIMEIRO”) hoje nos Estados Unidos propriedade uma vez que os outros, há muito, haviam caído em desuso na pesca da “The Philadelphia Ship Preservation Guild”; e ainda três ima- do bacalhau. gens do “POLYNESIA”, que actualmente passeia turistas entre as Assim, são apresentados dois lugres-patacho, um deles o “Gazela ilhas do mar das Caraíbas, e o que, até 1975, foi lugre de quatro Primeiro”, talvez o mais emblemático navio da nossa frota baca- mastros “ARGUS”, muito semelhante ao “CREOULA”, e que de lhoeira, é o mais profusamente representado: catorze fotos de dife- 1939 a 1970 pescou bacalhau, como propriedade da Parceria Geral rentes ângulos. Lugre-escuna apenas um, mas já o número de fotos de Pescarias, Ldª. de lugres eleva-se a sessenta e duas contemplando quarenta e oito Esta exposição pretendeu constituir um preito de homenagem à navios. heroicidade e ao estoicismo dos homens da pesca do bacalhau.

AQUÁRIO VASCO DA GAMA EXPOSIÇÃO

● O Aquário Vasco da Gama organizou nas suas instalações, entre fotográfica de elevada qualidade, retratando anfíbios e répteis no 4 e 25 de Março, a exposição “Anfíbios de Portugal”. Esta iniciativa seu ambiente natural. A exposição intitulada “Olhares”, da auto- adquiriu grande importância, dado ria de Isabel Catalão, uma fotó- que apenas se realizou anterior- grafa especializada em fotografias mente uma única mostra deste gé- da Natureza, incluía 48 fotografias nero no nosso país. A exposição de 60cm x 40cm, dispostas em pretendeu divulgar as espécies de caixas de luz e ainda uma pro- anfíbios existentes em Portugal, a jecção de dispositivos sobre o biologia e ecologia destes animais, mesmo tema. no sentido de sensibilizar a opinião No dia da inauguração realizou- pública para o estatuto de conser- -se um concerto com Carlos vação dos anfíbios, e propor acções Guilherme – canto, Jorge Correia – de preservação e conservação das flauta e Amílcar Vasques – piano. espécies de anfíbios. A exposição de animais vivos (Colaboração A.V.G.) foi enriquecida por uma mostra Exposição "Anfíbios de Portugal". Fotos de CAB A Mendonça

26 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA NOTÍCIAS

INSTITUTO SUPERIOR NAVAL DE GUERRA “O PAPEL DE ECONOMIA COMO INSTRUMENTO DE DEFESA NACIONAL, NO QUADRO DA INTEGRAÇÃO NA U.E.”

● No passado dia 8 de Março realizou-se no Instituto Superior gues Lopes, e os subtemas foram apresentados por três confe- Naval de Guerra um painel subordinado ao tema: rencistas, que preencheram a primeira parte da sessão: “O PAPEL DA ECONOMIA COMO INSTRUMENTO DE DEFE- 1º Subtema: “Política económica, estruturas e interde- SA NACIONAL, NO QUADRO DA INTEGRAÇÃO NA U.E.” pendências em ambientes de integração regional e de globa- O painel foi moderado pelo professor doutor Ernâni Rodri- lização” – Professor Doutor Ferreira do Amaral; 2º Subtema: “O Interesse Nacional e os espaços económicos: impacte na Defesa Nacional” – Professor Doutor Abel Mateus; 3º Subtema: “A União Económica e Monetária como factor fundamental da Política Económica actual. Perspectivas e cons- trangimentos económicos condicionantes da Defesa Nacional” – Professor Doutor Augusto Mateus. A segunda parte foi preenchida por um animado debate, no qual participaram os auditores do Curso Superior Naval de Guerra 2000/2001, sob a condução do moderador, que na parte final efectuou uma brilhante síntese conclusiva dos trabalhos, explicitando as ideias-chave das apresentações e do debate. O painel foi encerrado pelo VALM Director do ISNG, que proferiu uma breve alocução sobre o evento e os objectivos visados. Salienta-se o inusitado interesse demonstrado por este painel, nele tendo participado diversas entidades militares e civis, encon- trando-se entre estas diversos alunos da Universidade Lusíada.

ENCERRAMENTO DO 1º CURSO GERAL NAVAL DE GUERRA 2000/2001

● Teve lugar no passado dia 16 de Fevereiro no auditório deste Garcia Mendes Cabeçadas, estabelecimento de ensino, a cerimónia de encerramento do 1º proferiu breves palavras Curso Geral Naval de Guerra 2000/2001. Esta cerimónia foi presi- sobre a natureza do curso, dida pelo VALM José Manuel Garcia Mendes Cabeçadas, Director tendo enaltecido o modo co- do Instituto, e contou com a presença de comandantes e directores mo os oficiais corresponde- de unidades da Marinha em que os alunos prestam serviço. ram, bem como a dedicação e Fizeram uso da palavra o Chefe do Curso, CTEN Caetano esforço do corpo docente. Fernandes Augusta Silveira, o Director do Curso, CMG EMQ José Seguidamente, foi servido Matias Cortes, seguindo-se a entrega de diplomas. um porto de honra na Messe de A terminar, o Director do Instituto, VALM José Manuel Oficiais. Encerramento do 1º CGNG 2000/2001.

PLANETÁRIO CALOUSTE GULBENKIAN

● Em 7 de Março de 2001 foi um espectáculo didáctico audiovisual com recurso a projectores estabelecido um protocolo Laser de última geração. entre o Planetário Calouste Durante 40 minutos, o espectador tem a possibilidade de reen- Gulbenkian e a firma Plane- contrar-se consigo próprio, longe da rotina do quotidiano, num tarium Laser Productions, cosmos onde a existência tem um significado diferente. com sede na Holanda, repre- Magicamente surgem música e imagens tridimensionais colori- sentado respectivamente pelo das, numa perfeita harmonia de arte e tecnologia que nos Director do primeiro, CFR propõe um outro modo de ver e escutar o universo. João Francisco Franco Facada A palavra LASER (“Light Amplification by Stimulated e o representante da segunda, Emission of Radiation”) significa Amplificação de Luz por Sr.Hendrikus Berkheij. Este Emissão Estimulada de Irradiação. Contrariamente à luz solar protocolo terá a duração de ou artificial, que se propagam em todas as direcções, o Laser um ano a partir da data supra- produz um feixe luminoso potente, intenso, altamente direc- -citada. cional e coerente. Os espectaculares efeitos de Laser são gerados O objectivo deste protocolo utilizando tubo de gás Crípton/Argon e dirigidos por sofistica- é a apresentação pública de dos projectores.

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 27 CONVÍVIOS “FILHOS DA ESCOLA” Os interessados deverão contactar: Lino Ferreira Rocha Largo Padre José Ferreira de Almeida, nº 29 DE JANEIRO DE 1953 4535-429 S. Paio de Oleiros - Tel.227454613 ● Realizou-se no passado dia 3 de Março num restaurante em José Vieira Reis - Rua da Fonte, nº 90 - 4535 Paços de Brandão Penafiel, mais um jantar-convívio dos “Filhos da Escola” da 1ª Tel. 227442628 incorporação de Fevereiro de 1976, a fim de comemorar o seu 25º aniversário. Este jantar foi organizado pelos marinheiros da 5ª e 6ª “FILHOS DA ESCOLA” DE 1956 Companhia da área do Porto e arredores, ficando a promessa que ● Vai realizar-se no próximo dia 26 de Maio o almoço-con- nos próximos anos o convívio irá alargar-se a outras zonas do país. vívio dos “Filhos da Escola” de 1956. O almoço terá lugar num restaurante em Salir do Porto, Caldas da Rainha. Para mais informações e inscrições os interessados podem contactar para: Serafim Ferreira –(Tel. Int. 4976) José Vieira Soares – Tel. 212753359 (para efeitos de transporte) Agostinho Patrício – Tel. 219411936/219411605 Adelino Afonso – Tel. 212241839

“FILHOS DA ESCOLA” DE JANEIRO DE 1953 ● Realiza-se no próximo dia 2 de Junho, em Portalegre, mais um almoço-convívio dos “Filhos da Escola” de Janeiro de 1953. Os interessados poderão fazer as suas inscrições até ao dia 15 52º ANIVERSÁRIO de Maio, através dos seguintes nºs de telefone: DOS “FILHOS DA ESCOLA” DE 1949 212534411 (Rita) - 212501966 (Chambel) - 245968160 (Dinis) ● Vai realizar-se no próximo dia 26 de Maio no Restaurante “Golfinho Branco”, em Alhandra, o almoço de confraterniza- ASSOCIAÇÃO DOS EX-MARINHEIROS ção do Recrutamento de 1949. Os interessados deverão contactar com: DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO SAJ SE Adelino – Tel. 21 363 8811/21 961 2014 ● Vai realizar-se no dia 3 de Junho (Domingo) o 4º almoço- SAJ A Vilela – 21 274 9272/21 296 0853 -convívio de confraternização, organizado pela Associação dos Ex-Marinheiros de Trás-os-Montes e Alto Douro. As inscrições deverão ser efectuadas através dos seguintes “FILHOS DA ESCOLA” DE 1952 contactos: ● Realiza-se no dia 26 de Maio pelas 12.30h na Quintinha de Serafim Fraga – Telef. 259324829 (serv.) Seitela – Mozelos – Santa Maria da Feira, um almoço de con- José Luís Silveira – Telef. 259371273 (casa) fraternização dos “Filhos da Escola” de 1952, a fim de come- Caseiro Marques – Telef. 259323137 (escrit.) morar o seu 49º aniversário. Jorge Gonçalves – Telef. 259323003 (serv.) SAIBAM TODOS EXTENSÃO DE ACORDOS ENCONTRO NACIONAL DE COMBATENTES ● Informa-se que a ADMA procedeu à extensão de acordo com as seguintes entidades e abrangendo os serviços abaixo indicados: 10 DE JUNHO DE 2001

Hospital Particular de Almada (HPA) ● A Comissão Executiva do Encontro Nacional de Combatentes Rua Manuel Febrero, nº 85 2001, dando continuidade ao espírito que nos anos anteriores pre- 2800 Cova da Piedade - Telef. 212751168 sidiu a estas homenagens, leva a efeito no próximo dia 10 de Junho *Tomografia Axial Computorizada (TAC) de 2001, junto ao Monumento dos Combatentes do Ultramar, em *Medicina Nuclear Belém, o seu 8º Encontro Nacional. A concentração junto ao Monumento dos Combatentes do Centro de Radiologia de Tomar, Ldª Ultramar em Belém está marcada para as 11horas, iniciando-se as Rua António Joaquim Araújo, nº 38A, 40 e 40A cerimónias pelas 11H45 com um discurso alusivo, ao que se seguirá 2300 Tomar - Telef. 249329020 uma Celebração Religiosa de homenagem aos mortos e deposição *Angiografia Fluoresceínica e Osteodensitometria de flores junto ao Monumento. A Comissão Executiva do Encontro Nacional de Combatentes ECOPEN – Ecografia de Peniche, Ldª. 2001 apela a todos os Combatentes e suas famílias, mas também a Rua António Conceição Bento, nº 11 R/C todos os Portugueses e Portuguesas que se identificam e que muito 2520 Peniche - Telef. 26 278 02 50 prezam a sua História, para estarem presentes e comemorar em *Eco Doppler Arterial, Eco Doppler Venoso, Eco Doppler espírito de fraternidade com todo o mundo lusófono, o Dia de Carótideo e Eco Doppler Cardíaco. Portugal.

28 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA hoppi

Novo Sistema de Crédito

Acordos: ExéIoto. PSP. GNR B F: AéruIiI (M!Irrtla 6fT) 1ISt1.do) Porto

Reabre com novos espaços e novos horários 2" a sábado das lQl às 2211 Lisboa

2" a sábado das 101 às 191 HISTÓRIAS DA BOTICA (8) AA umum amoramor

Nestes dias choro naves de guerra dos últimos conflitos Na navegação que se seguiu surgiu pela alegria que antes perdi mundiais, até galeões e naus de outros uma modificação importante na conduta tempos, em madeira, que encomendava do feliz Kamikaze, notada por todos – as Na alegria que sinto nas lojas da especialidade, ou no “secas” tinham-se tornado mais curtas, junto de ti... estrangeiro. Foi esta actividade que me raras mesmo. Pareceu a todos que uma interessou, já que as montagens eram de parte importante de si próprio, tinha sido In “poemas ao amor”, Diogo Silva primeiríssima qualidade e, ao contrário preenchida. De algum modo, o nosso do que nele era usual, falava da história camarada deixou de sentir a necessidade os rabiscos mal amanhados, a que, de cada navio com calma, discernimento de interessar todos os outros pelo que sem alternativa, chamo caligrafia, e sensibilidade – sem obsessão. sabia, ou sentia. Passou, escrevi eu nessa Dsaltou desta vez a memória de uma altura, “a sentir-se acompanhado, naquela malograda paixão. O paciente leitor, conhe- Nas celebrações do Dia da Marinha, parte íntima do Eu, que controla tudo o cedor das minhas histórias anteriores, estavam os navios abertos a visitas, que somos , queremos ou sabemos e, reconhecerá que é um tema recorrente. deparei-me num dos corredores laterais sobretudo, responsável por gostarmos de Tal é inteiramente verdade, são muitas as com uma antiga colega de faculdade. Em nós próprios”... histórias de amor na vida em geral e mais verdade, não tinha tido relação de grande ainda no universo dos marinheiros... amizade com ela, durante os 6 anos do A relação continuou, a doutora vinha O amor pode causar extrema alegria, curso. Após o curso, ela voltou para regularmente a Lisboa, telefonavam-se, ou uma tristeza desmedida. Pode obrigar- Aveiro a sua cidade natal. Por cortesia, escreviam cartas, que todos queríamos -nos a feitos grandiosos, ou impor uma decidi ser eu a conduzi-la no passeio a ler, mas que o Kamikaze, escondia com a gélida indiferença. Toma muitas formas, bordo. Não pense o atrevido leitor, a esta própria vida.. de inúmeros tons, sons e cheiros. Por ele altura, que os objectivos da minha visita Passaram os meses e um dia a colega já todos rimos ou chorámos. Por ele já guiada eram outros... Na verdade, esta pediu-me para ser portador de um cur- alguém foi morto e outros se mataram. O antiga colega dava vida ao adágio, rículo seu a um dos Hospitais de Lisboa – amor é a vida. O amor, sabe no seu ínti- comum entre os alunos da faculdade, que percebi que a relação estava séria. De mo o leitor, somos nós... punha na boca de cada pai a seguinte facto, com o passar do tempo o Kamikaze pergunta: “queres ser bonita, ou queres ir parecia outro. Calmo e sorridente, encon- Conheci em tempos um oficial triste, para medicina?” Ora esta filha tinha sido, trei-o a estudar as várias ofertas de crédito que vivia quase só para a Marinha, capaz sabia-o eu, muito boa aluna... imobiliário. Estava, agora, tal como todos, de trabalhar horas a fio nos projectos a desejoso que chegasse o fim de semana, que se dedicava. Era habitual passar no Lá lhe mostrei, pormenorizadamente, a para ir a Aveiro. Tudo parecia bem. Como seu gabinete dezoito e mais horas por dia. enfermaria, as cobertas, com os seus em todas as relações, tinha crescido. O trabalho era tudo para ele. Pela dedi- expressivos decors carnais, a casa das cação obsessiva era conhecido, como é máquinas, a cozinha, a ponte e as Infelizmente, na vida acontece-nos fre- habitual na Marinha, por um nome carac- câmaras. No trajecto, entreaberto, estava quentemente o imprevisível – capaz de terístico - o Kamikaze. o camarote do Kamikaze. A exposição mudar subitamente o rumo de uma vida – Muitos o consideravam maçador, uma dos muitos modelos de navios interessou- a esses acontecimentos, alguns chamam vez que só parecia conhecer e falar de -a muito. Quis saber que navio era um, destino, outros a vontade de Deus, eu, em trabalho. Era já um homem de meia outro e mais outro. Atrapalhado, decidi verdade, ainda não sei como chamar, mas idade, magro e precocemente grisalho, chamar o autor de tais obras. Quando bem conheço... sem nenhuma característica especial a chegou, apresentei-os e deixei que o Num fim de semana, em que era a vez não ser uns óculos de lentes espessas, que nosso oficial falasse. Este, com grande da doutora descer a Lisboa, houve um ter- lhe conferiam um ar de alucinação cróni- alegria, lá foi explicando, com todos os rível acidente. A doutora faleceu na estra- ca. Não se lhe conheciam amizades femi- pormenores cada embarcação a tão interes- da, vítima de um motorista de camião, ninas. Nem tinha verdadeiros amigos sada interlocutora. Foi de tal modo, que bêbado... entre os camaradas, que fugiam das passado algum tempo me senti a mais. Saí muitas e prolongadas “secas” por ele do camarote e só então reparei que a Foi então que realmente a minha infligidas, sobre temas como a génese minha antiga colega usava óculos seme- relação com o Kamikaze começou. Foi a geológica das Berlengas, a importância lhantes aos óculos do construtor de mode- mim que coube dar a notícia. Ouviu sem das correntes no assoreamento do Tejo e los navais.... dizer nada, não chorou e saiu rapida- muitos outros, que após a primeira hora mente. Tinha na face o horror daqueles de conversa, cansavam até os mais E foi, aconteceu, para grande espanto que vão perder a vida, rasgados de dentro pacientes. da Câmara, a doutora voltou ao navio nos para fora... Também com a família não tinha uma outros dias no porto. Levava o Kamikaze Durante uma semana ninguém o viu. relação muito estreita, visto que quase no seu automóvel e iam lanchar juntos, Decidimos ir ao apartamento onde mora- todos os seus moravam na Beira Interior. ele delicadamente convidou-a para jantar va. Lá estava, a barba por fazer, a casa a Como actividade recreativa montava algumas vezes a bordo. Parecia estar a cheirar mal dos restos de comida, havia embarcações de todos os tipos, em nascer uma relação, digamos, asséptica, um ar abafado e opressivo. O ambiente miniatura. Desde réplicas em plástico de mas satisfatória para os dois. frio da depressão tinha-se instalado.

30 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA Parecia mal, quisemos interna-lo, mas Alguns dias depois procurou-me. Pela chorou e gritou tudo quanto quis. Não lhe recusou insistentemente. O navio ia sair, primeira vez falámos. Falámos de senti- interessaram os outros, ou a vida. Só sen- quis ir connosco. O Imediato, informado mentos profundos, do amor que viveu, da tia dor... dos riscos, aceitou que fosse. dor que sentia. Estava profundamente deprimido e acredito mesmo que, nesses Depois desse dia voltou ás tarefas nor- Como me pareceu longa essa navega- dias, o meu amigo oficial chegou a achar mais. Mas mudou radicalmente, falava ção...O Kamikaze não dormia, encontrei-o quentes os braços negros da morte e com voz baixa, doce, como se cada algumas vezes num angulo morto, abaixo atraente o vazio do abismo... palavra tivesse um peso que antes da ponte, na chuva e no frio...Levava dias desconhecia. Interessou-se por todos os sem dizer palavras. Tentámos falar com Uma noite quase três semanas volvidas meus livros – penso que encontrava neles ele, ajudá-lo, sem resultado. Desesperado e ainda a navegar, fui acordado subita- companhia e compreensão, já que cada e sem palavras, ofereci-lhe um livro de mente, era o Imediato, o Kamikaze gritava livro tem emoções vivas, quase todas de poemas - daqueles que guardo na estante que nem um louco no castelo, parecia sofrimento e luta, de vida e morte. mais íntima e que encerram todas as ver- querer atirar-se ao mar. Aproximei-me Começou ele próprio a coleccionar livros, dades do Universo. Desse livro decorou e dele, lembro-me que estava uma noite embora retomasse a sua actividade mode- repetia o poema com que comecei esta fria, e gritei então: o que é? lista. Nunca mais o vi no seu poiso abaixo história, que se tornou para ele numa espé- Não disse nada, chorou, foi a primeira da ponte. cie de hino. vez que alguém o viu assim...chorou, Fiquei feliz, parecia que ia sobreviver. Parecia que como muitos outros que conheci, tinha guardado a dor num lugar sagrado, só seu, e, desde então, carregava às costas, num saco por ele duramente preenchi- do, os ganhos de cada dia... É que, tenho a certeza, todos os que arrastam na vida a sua dor e têm a coragem de viver, são pes- soas grandes. Escolho-os, como o leitor já percebeu, para estas histórias, porque me revejo no seu exemplo, na sua luta. Dão sentido a este quotidiano infestado por homens de coração torpe e mente mesquinha, vendidos à mentira (que medra nos seus próprios espíritos) e à corrupção barata, que grassa impune. E, deveras, gostaria um dia de compreender porquê a uns a vida parece correr bem, ape- sar da imoralidade a que chegaram, e a outros, que reconheço como valentes e bons, lhes acontecem desgraças. Tristemente, na vida é muitas vezes assim, quando pen- samos que estamos no caminho certo, seguros de nós próprios, algo acontece que nos deita por terra. Talvez um dia possamos, todos, compreender o incompreensível. Até lá, cada um terá, também, que aceitar a sua dor... Encontrei recentemente o nosso oficial. Sorriu e falou de um dos livros de Lobo Antunes, que agora lia. Tinha um ar profundo. Eu tam- bém sorri, por dentro, e acredito que a doutora, lá onde estiver, também deve ter sorrido pela memória do amor que por cá deixou. Afinal, essa memória, doce e segura, deve ter evitado que o Kamikaze fosse levado no vento da sua autodestruição. E nele, quero crer, no seu Eu profundo, ela viverá para sempre. É sempre assim quando o amor é ver- dadeiro... 

Doc.

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 31

QUARTO DE FOLGA JOGUEMOS O BRIDGE PROBLEMA

(Problema nº 32) Os problemas de matemática são, na minha opinião, tanto mais belos quanto mais curto é o texto e menor o número de dados. E Tente primeiro resolver a 2 mãos tapando E-W são ainda mais belos quando a solução é simples e inesperada. O problema de matemática elementar que para o autor Norte (N): preenche os citados requisitos é o seguinte: ♠ ♥ ♦ ♣ V D A A 6 9 R D 8 4 6 5 3 Oeste (W): Este (E): ♠ ♥ ♦ ♣ ♠ ♥ ♦ ♣ R 2 V 10 8 V 6 R D 9 7 7 7 V 10 8 5 5 9 9 5 4 4 3 3 2 Sul (S): ♠ ♥ ♦ ♣ A A D 8 R 10 2 10 7 6 2 4 3 Determinar a área da coroa circular, sabendo que o segmento de recta tangente em A, mede 4 quilómetros. ♥ ♠ Como deve S jogar para cumprir o contrato de 6 com saída a R ? (Solução no próximo número)

(Solução neste número) A. Estácio dos Reis

SOLUÇÕES PROBLEMA Nº 32 S faz o A, destrunfa e deverá jogar ♦A e de seguida R (funda- mental) para a hipótese de os ♦ estarem 4-1 tendo E os 4, mas é W que os tem. Face à má distribuição dos ♦ pode tentar a pas- sagem ao R de ♣, o que representa uma probabilidade de 50% para cumprir o contrato. Mas, como já salientei em problemas anteriores, uma passagem deverá ser sempre o último recurso, pelo que outras soluções deverão primeiramente ser exploradas. O "squeeze" é uma delas e neste caso é a solução mesmo que ♣R esteja bem colocado. Pela saída sabemos que W tem ♠D e agora mais os 2♦ que faltam, cartas que ele terá de guardar, portanto basta bater todos os trunfos e ficar no morto com ♠V, ♣AD e ♦4 e na mão com ♦D10 e ♣8 2; joga ♣ para o A e se W também tivesse ♣R teria mesmo sido “squeezado” nos 3 naipes; a 3 cartas do fim joga ♠V colocando W em mão e este terá de se virar para ♦D10. Repare como conseguiu resolver um problema em que as cartas chaves estavam mal colocadas, circunstância que torna este jogo um excelente exercício mental, "o xadrez das cartas" conforme referi inicialmente. Continuaremos a demonstrá-lo.

Nunes Marques CALM AN

REVISTA DA ARMADA • MAIO 2001 33 NOTÍCIAS PESSOAIS

COMANDOS E CARGOS FALECIMENTOS NOMEAÇÕES ● CALM MN REF Mário Santos ● CTEN EMN REF José ● CTEN AN Nelson Alves Domingos, Chefe de Serviço Maria Serra ● 1TEN OT REF Artur Creio ● SAJ HE REF Administrativo e Financeiro do Departamento Marítimo da Artur José de Almeida ● SAJ A REF Luís Rosa Bouça ● SAJ Madeira. M REF Emídio José Vidigal ● SAJ A REF Agostinho Rodrigues Lopes ● SAJ TF REF Artur Teixeira ● SAJ TF RESERVA REF Flávio Gonçalves Pereira ● 1SAR T REF António da ● VALM Alexandre Daniel Cunha Reis Rodrigues Silva Belfo ● 1SAR TES REF Mário Martins de Almeida ●CMG Fernando Carlos Fuzeta da Ponte ●CMG José Augusto ● 1SAR CE REF João Valente da Silva ● 1SAR A REF Fialho Góis ●CFR António do Rosário Rodrigues ●CTEN João João Marques Figueiredo ● 1SAR HE REF Cristiano Bernardino dos Mártires Gago ● SMOR José da Conceição Santos Eugénio ● 1SAR A REF Carlos da Silva ● 1SAR C Gomes Talhadas ● SMOR José Saraiva de Almeida Gomes REF José Valério da Silva ● 1SAR CM REF Joaquim Afonso ● SMOR Francisco Augusto Ramos da Silva ● SMOR Azinel Faustino ● 2SAR C Francisco Rocha Salvador ● CAB A Henriques Faustino ●SMOR José Rodrigues Marques ●SMOR REF António de Jesus Nunes ● CAB CE REF José José Luís dos Santos ● SMOR José Farinha Lourenço ● SCH Manuel Borralho ● CAB TFD REF António Refacinho Alberto Octávio de Sousa Meireles ● SCH Eduardo da Silva Pataco ● CAB L REF Alfredo Marques Salsinha ● CAB Fortunato Serrano ● SCH António Mendes Marques Pinheiro CE REF Ramiro do Rosário Madeira ● CAB TFD REF ● SAJ Fernando Nunes de Almeida ● SAJ João Joaquim Peças José Fernando Marques Ferreira ● CAB TFD REF João Cortes ● SAJ António Maria Gomes ● SAJ César Augusto de Almeida Correia ● CAB TF REF José Pedrosa Moita Lucas ● SAJ Albino Vilalva Casimiro ● SAJ José Augusto ● 1MAR CM REF Adérito Augusto Paulo ● 2MAR FZ Farinha Manaia ● SAJ Carlos Manuel da Costa Rosendo ● SAJ Nelson António da Cruz Campos. Alexandre Manuel Pereira Nunes Clara ●SAJ José Mário Vieira de Carvalho ● SAJ José Freire Vieira ● SAJ Luís Costa Leitão Lele ● SAJ Artur Augusto Baixinho dos Santos ● SAJ SAIBAM TODOS José António Madeira Roldão ● SAJ José de Almeida Costa ● 1SAR Eduardo Jorge da Silva Soares ● 1SAR Luís EXTENSÃO DE ACORDOS Filipe da Silva Sá ● 1SAR João Alves Pereira ● 1SAR João Manuel Sendas Vaz ●1SAR António José Barros Sousa ●1SAR ● Informa-se que a ADMA procedeu à extensão de acordo com as Manuel Marques Flamengo ● 1SAR António Manuel Coutinho seguintes entidades e abrangendo os serviços abaixo indicados: França ● 1SAR Vítor Paulo de Jesus Miguel Barata ● 1SAR Osvaldo Figueiredo da Rocha ● 1SAR Brás dos Santos Belo RÁDIOMEDICA, LDª ● 1SAR Afonso Barrento Ferreira ● 1SAR Luís Manuel Rua Rodrigo Sampaio, Nº 19-1º ABC e2B Rodrigues ● 1SAR José Francisco da Silva Damião ● 1SAR 1150 Lisboa – Telef. 213546458/213155337 *Tomografia Axial Computorizada (TAC) António Teixeira Pinto ● 1SAR Joaquim José das Neves Gonçalves ● 1SAR João de Almeida Nunes ● 2SAR José Carlos Clínica Nuno Álvares, Ldª Fernandes Tomás ● CAB Álvaro Augusto dos Santos Carvalho Av. D. Nuno Álvares Pereira, Nº 23 r/c Dtº. ● CAB Inácio José ● CAB José António Peralta Agapito ● CAB 2800 Almada – Telef. 212747409/212749551 Valentim Gonçalves Gomes ● CAB António Romeira *Endoscopia Digestiva, Urologia, Urofluxometria, Rodrigues ● CAB Manuel Joaquim Freixo Rodrigues ● CAB Cardiotocografia (CTG), Ecotomografia/Ecografia. António Filipe Modesto da Fonseca ● CAB José António Félix CEPAME – Centro Particular de Medicina Bocas ● CAB Rui Manuel de Sousa Luís Gomes ● CAB ● e Enfermagem, Ldª António Teixeira CAB Honorato José Martins. Av. Luís de Camões, nº 40 r/c Miratejo 2855-121 Corroios – Telef. 212539420/212536902 REFORMA *Psiquiatria ● CMG Eugénio Duarte Ramos ● CMG Rui Vasco de Clínica de Santa Mafalda, Ldª. Vasconcelos e Sá Vaz ● CMG Pedro Luís da Costa Gomes Rua Vitorino José da Silva, nº 18 Lopes ● CTEN João Pedro Rocha Pereira ● 1TEN Ibraim ● 2825 Monte da Caparica - Telef. 212901785/212906895 Alcobia Rodrigues SMOR Manuel Almeida de *Audiogramas e Timpanogramas. Oliveira ● SCH José Pereira Ramos ● SAJ Ederildo Pires Coelho ● SAJ João Balau Cardoso ● SAJ Diamantino Ramos Rodrigues ●SAJ José Manuel Bernardo ●SAJ Manuel Valente Afonso ● SAJ José Augusto Piegas Portela ● SAJ SUSPENSÃO DE VALÊNCIA Aníbal Cardoso Martins ● SAJ José da Silva Mendes ● SAJ Mário Henriques Romão ● 1SAR António José Latas ● 1SAR ● Informa-se que a ADMA suspendeu a pedido da seguinte enti- Hermínio Rosário da Piedade Caetano ● CAB Eugénio dade a valência que abrange o serviço abaixo indicado: ● Manuel Vieira Cabrita CAB Eduardo Manuel Carvalho CLIORTODONTICA – Clínica Dentária e Ortodôntica, Ldª. Trafaria ● CAB José Alberto Martins da Silva ● CAB Fernando Av. Combatentes da Grande Guerra, 130 – 1º Esqº. Alves Carvalhosa ● CAB Francisco Nunes Moreira ● CAB 1495 Algés - Telef. 21 412 37 60/68 João Coelho Rodrigues. *Oftalmologia.

34 MAIO 2001 • REVISTA DA ARMADA Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

27. A OBRA DE VAN LINSCHOTEN NA BIBLIOTECA CENTRAL DA MARINHA

A Biblioteca Central da Marinha possui várias obras dos séculos XVI e XVII referentes à histo- riografia da expansão incluindo relatos de viagens, nomeadamente de autores estrangeiros, com relevo para a obra de Van Linschoten que faz parte do legado do Almirante Gago Coutinho. O escrito que queremos destacar, provavelmente redigido em 1596, foi publicado em língua flamenga nesse mesmo ano e tal a sua importância igualmente editado em inglês e alemão em 1598, latim no ano seguinte e em francês em 1610. O exemplar que a Biblioteca é detentora pertence à 3ª edição, em francês – Amesterdão, Evert Choppenburgh, 1638 – e é composta de três partes: a “História da Navegação”; o “Grande Roteiro do Mar” e a “Descrição da América”. Passando a apresentar cada uma das componentes da obra em questão constata-se que a “História da Navegação”, também intitulada “Itinerário”, testemunha os conhecimentos do autor obtidos em parte no período de 1580 a 1593, durante o qual, conforme citado no artigo “A historiografia da expansão e a influência da obra de Van Linschoten no declínio do Império Português do Oriente” desta Revista, viveu em Lisboa, estabeleceu-se em Goa e no regresso à Holanda permaneceu em Angra do Heroísmo e escalou Lisboa. Esta parte compreende 100 capítulos contendo 36 gravuras (no exemplar da Biblioteca falta a página 40) e 5 mapas, 3 dos quais abrangem as costas banhadas pelo Oceano Índico, incluindo o Mar Vermelho e também pelo Oceano Pacífico, desde o Estreito de Malaca até às costas da China. Os outros 2 mapas são um planisfério da autoria de Petrus Plancio e uma representação de Van Langren da costa de África, da Serra Leoa ao Cabo da Boa Esperança, sendo assinalado também, neste mapa, o Cabo de Santo Agostinho na costa brasileira. O “Itinerário” tem uma edição em português datada de 1997 da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Junto a esta primeira parte surge a “Descrição da Guiné” que consta de uma narração da costa de África desde a Guiné até à Etiópia seguindo a rota do Cabo da Boa Esperança. Este relato é feito com a colaboração de Paludamos e refere-se a uma região não incluída no roteiro de Linschoten. A segunda parte da obra, “O Grande Roteiro”, desenvolve-se por 57 capítulos onde são apresentadas as rotas mais convenientes em direcção ao Oriente nomeadamente para Malaca, Java, Sunda, China e Japão, para Sul com destino a África e para Oriente rumo às Antilhas e ao Brasil. Todas as descrições, que incluem costas, portos, escolhos, ventos e correntes foram formulados a partir de memórias e observações de pilotos portugueses e espanhóis. É inserida nesta parte uma listagem das alturas angulares de estrelas de referência correspondentes aos principais portos, rios, cabos e acidentes geográficos das costas roteadas e um registo com instruções respeitantes às declinações magnéticas na navegação de Portugal para a Índia. O “Grande Roteiro” é concluído com o “Extract” que compreende uma relação, referida ao ano de 1578, das rendas, domínios, direitos alfandegários, taxas, impostos, tributos, décimos, terças e rendimentos do rei de Espanha sobre todos os seus domínios e um breve apontamento sobre as origens dos reis de Portugal, os respectivos poderes e governos relativos ao reinado de Filipe II. Por último a terceira componente da obra, a “Descrição da América”, que comporta 25 capítulos, incluindo um mapa da América Austral, reporta-se aos respectivos países na sua extensão, religião, costumes dos seus habitantes e outras características regionais. As Américas Central e do Sul, particularmente com algum detalhe o Brasil, são também referidas nestes escritos. Conclui-se assim que Van Linschoten, ao coligir informações obtidas a partir da sua vivência em terras portuguesas e dos pilotos mais famosos da época, produziu uma obra que contribuiu para um melhor conhecimento, no século XVI, do mundo exterior à Europa e possibilitou que outros povos, após Portugal, iniciassem a sua expansão principalmente para o Oriente.

Biblioteca Central da Marinha (Texto de José Luís Leiria Pinto, CALM) Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

27. A OBRA DE VAN LINSCHOTEN NA BIBLIOTECA CENTRAL DA MARINHA Biblioteca de Marinha PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 343 • ANO XXX JUNHO 2001 • MENSAL • 250$00 / € 1, 25

DIA DA MARINHA 2001 MUSEU DE MARINHA Um Mundo de Descobertas O Museu de Marinha é um lugar de descoberta, o ponto de encontro com séculos de História. História do mar e dos homens. Mais do que um espaço de referência para a História de Portugal, é um testemunho do universalismo dos oceanos, unindo continentes, países e povos. Visite o Museu de Marinha e venha descobrir, com o mesmo espírito de há quinhen- tos anos.

Astrolábio Náutico “Aveiro” Arcanjo S. Rafael

Hidro-avião “Santa Cruz” Fragata “D. Fernando II e Glória” Modelo da Corveta “Vasco da Gama” (Quadro de Roger Chapelet) (Colecção Seixas) SUMÁRIO

Publicação Oficial da Marinha A missão da Força de Fuzileiros Periodicidade mensal no Teatro de Operações na Nº 343• Ano XXX Bósnia – Herzegovina. 7 Junho 2001 Director CALM EMQ RES Luís Augusto Roque Martins Chefe de Redacção CFR REF Jorge Manuel Patrício Gorjão Redacção 2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito Secretário de Redacção 1SARG T Vitor Manuel Gaspar Lopes Colaboradores Permanentes CMG REF Raúl de Sousa Machado CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos CTEN Abel Ivo de Melo e Sousa 1TEN REF Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves Administração, Redacção e Publicidade Edifício da Administração Central de Marinha Revista da Armada Rua do Arsenal 1149-001 Lisboa - Portugal Ao longo da História Telef: 21 321 76 50 das Telecomunicações Fax: 21 347 36 24 12 o valioso contributo do Código Morse. Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt e-mail da Revista da Armada [email protected] As viagens dos portugueses nos Fotocomposição, mares gelados do Atlântico paginação electrónica, fotolito, Noroeste. montagem e produção 14 Página Ímpar, Lda. Estrada de Benfica, 317 - 1º F 1500-074 Lisboa Tiragem média mensal: 6000 exemplares Preço de venda avulso: 250$00 Registada na DGI em 6/4/73 com o nº 44/23 Depósito Legal nº 55737/92 18 ISSN 0870-9343 Celebrou-se no passado dia 20 de Maio, em Cascais, o Dia da Marinha.

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 343 • ANO XXX JUNHO 2001 • MENSAL • 250$00 / € 1, 25

DIA DIA DA MARINHA – MENSAGEM DO ALMIRANTE CEMA 4 DA MARINHA FONTES PARA A HISTÓRIA DA ARQUEOLOGIA NAVAL PORTUGUESA 10 2001 A MARINHA DE D. MANUEL (15) 21 EXERCÍCIO DISTEX 22 O EURO NA MARINHA 24 NOTÍCIAS 25 CONVÍVIOS 28 Fotos de: HISTÓRIAS DA BOTICA (9) 30 Gabinete de Audiovisuais. SAIBAM TODOS 31

ANUNCIANTES: QUARTO DE FOLGA 33 Clínica Santa Madalena; Museu de Marinha; OGFE - Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento; NOTÍCIAS PESSOAIS 34 TELERUS - Sistemas de Telecomunicações, S.A. PATRIMÓNIO CULTURAL DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 3 Dia da Marinha Mensagem do Almirante CEMA

memória da viagem que mudou o Mundo tem sido, desde A tão insigne embaixador-marinheiro junta-se o Senhor há muitos anos, inspiradora das comemorações do Dia da Embaixador do Brasil, ilustre e respeitado diplomata, quão apreciado AMarinha. Celebrou-se, durante muito tempo, na data cor- historiador, que cumprimento com muita consideração e estima pes- respondente à largada da esquadra de Vasco da Gama de Belém. soal. Contudo, há três anos, passámos a comemorar a conclusão da Mas a presença do Brasil neste Dia da Marinha é ainda mais rica viagem, a chegada do grande navegador a Calecute, em 20 de Maio pela participação activa que nele tem Sua Eminência Reverendíssima de 1498. A Marinha passava, pois, como normalmente faz, a privile- o Arcebispo Militar do Brasil, D. Geraldo do Espírito Santo Ávila, a giar a realização do feito, em vez de cele- quem reconhecidamente agradeço ter brar o momento das intenções, por mais aceite o meu convite para celebrar a esperançosas que sejam as que preen- Missa no Dia da Marinha e estar entre chem o ponto de partida dos grandes nós. Julgo ser a primeira vez que um projectos. É que, o simbolismo dos actos bispo brasileiro veio rezar a missa deste deve ser inspiração objectiva da capaci- dia, retribuindo a tradição iniciada por dade concretizadora, com prioridade frei Henrique (de Coimbra), em 26 de sobre as ideias que se subentendem. Abril de 1500, como relata Pero Vaz de Por isso, presto homenagem aos Caminha: “Ao Domingo de Pascoela, homens que, nos frágeis lenhos dos seus pela manhã, determinou o capitão d’ir navios, cruzaram mares desconhecidos, ouvir missa e pregação naquele ilhéu, e encontraram passagens entre oceanos e mandou a todos os capitães que se cor- juntaram continentes e os seus povos. regessem nos bateis e fossem com ele; e Vasco da Gama é, sem dúvida, a figura assim foi feito.” mais celebrada por ter levado a bom termo a navegação mais complexa e E assim foi feito digo eu, hoje, aqui, desafiante para o mundo de então, a li- neste encontro com a História que a ilus- gação por mar entre a Europa e a Índia. tre Embaixada Brasileira nos ajudou a Mas essa viagem só aparentemente teve carregar de simbolismo, nesta vila de Calecute como ponto de destino. Cascais. Na verdade, o ponto de destino do Cascais que é, para este acontecimen- Português foi o Mundo, com a sua to, a comemoração do Dia da Marinha, vocação universalista, e “Se mais Mundo um lugar apropriado pela sua ligação ao houvera lá chegara”. mar, com o qual tem convivido desde a Chegou ao Brasil, quem sabe pelos sua formação e por ele viu passar todas mares da primeira viagem de Vasco da as velas para as epopeias de além-mar. Gama ou, oficialmente, dois anos depois, Tem sido berço de marinheiros e porto pelos de Álvares Cabral. De qualquer e terra de abrigo para gentes da nossa forma, foram mares que, a juntar aos de Marinha. Por isso, também aqui viemos tantos outros navegadores, formaram o enorme oceano da língua hoje homenagear Cascais e a maritimidade que lhe é própria. À sua portuguesa. Câmara Municipal e, em particular, ao seu Presidente, testemunho o Oceano que foi salgado por lágrimas de povos tão distantes como reconhecido muito obrigado da Marinha por nos terem recebido e o de Timor, mas também oceano da língua exuberante e fecunda que apoiado como o fizeram. dá expressão concreta aos laços que unem os corações dos povos do Brasil e de Portugal. Senhor Ministro da Defesa Nacional, Por isso, as Marinhas dos dois países têm ligações muito fraternas e também por isso se conhecem bem. Conhecemos a Marinha do Aceitou V. Exª presidir a esta cerimónia, o que muito honra a Brasil, apreciamo-la e respeitamo-la. Marinha que interpreta na presença do ilustre responsável político É sempre com um grande prazer que os nossos marinheiros se pela Defesa Nacional o interesse e o apoio governativos pelas suas encontram e colaboram e que os nossos navios navegam juntos. missões e programas. Agradeço, pois, esse estímulo, como fico reco- Podem ser lindos veleiros como o “Cisne Branco” e a “Sagres” ou cir- nhecido pelos esforços que certamente continuará a fazer para dotar cunspectos navios cinzentos ou pretos como as fragatas e os sub- a Marinha dos meios necessários ao exercício das tarefas que lhe marinos, mas em todos há guarnições que são capazes de operar em estão cometidas. conjunto e de se respeitarem com admiração. Sem pretender transformar esta alocução num relatório da activi- É, pois, motivo de grande orgulho para a Marinha Portuguesa a dade da Marinha no último ano, considero adequado fazer referência presença nesta cerimónia do Comandante da Marinha do Brasil, a alguns aspectos da gestão passada e aludir a questões presentes e Almirante de Esquadra Sérgio Chagasteles que efusivamente saúdo futuras que, pela sua relevância, merecem especial atenção. e em quem homenageio a Marinha do Brasil. Louvo-o também, Ao longo do último ano, julgo não ser imodéstia dizer que, por Senhor Almirante, pelos esforços e acções que tem mantido para mais de uma vez, a Marinha surpreendeu o País pela forma como aproximar ainda mais as nossas Armadas. Muito obrigado pela sua executou algumas missões. Tal surpresa só pode radicar na cons- presença. ciência do desequilíbrio entre o reduzido investimento que nela tem

4 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA sido feito e a dimensão do que lhe é exigido. No entanto, e como já Por outro lado, na área da preservação dos recursos vivos do mar noutras ocasiões referi, tal desempenho resulta, em primeiro lugar, foram efectuadas cerca de 2000 vistorias a embarcações de pesca, em do espírito generoso de bem servir de que os seus homens e mu- faina oceânica, pelos navios do dispositivo e 6500 pelas autoridades lheres, militares, militarizados e civis são dotados, respondendo com marítimas. Em ambos os casos, o número de transgressões rondou os competência, determinação e enorme espírito de sacrifício àquilo que 10%. a Nação lhes pede. E, para isso, tem sido mais forte a força moral, o Na área técnico-científica da investigação do mar, deu-se um salto querer e a formação técnico-científica do que os estímulos materiais qualitativo importante na avaliação ambiental para o apoio rápido a sempre em atraso relativamente a sectores equivalentes. operações navais. De facto, reforçou-se a capacidade de inteligência Em segundo lugar, tal “Talent de bien faire” além de ser sua do Instituto Hidrográfico para cooperar na área operacional, para divisa, tem a ver com o ininterrupto exercício da actividade opera- além daquilo que era tradicional ser feito. No exercício nacional cional, técnica, científica, cultural, etc., que a Marinha desenvolve e “Sword-fish”, a que já me referi, o trabalho produzido foi de enorme com a aferição constante dos graus de prontidão e de treino dos seus utilidade, rigor e rapidez. Também o desenvolvimento de projectos, meios, em relação aos elevados padrões fixados. quer em apoio à sociedade civil quer, especificamente, à comunidade Ao longo do último ano, o envelhecimento da Esquadra tornou científica teve uma dinâmica muito significativa, assim como conti- ainda mais exigente o esforço humano para a manutenção do dispo- nuou em elevado ritmo a reformulação e actualização da cartografia sitivo naval e para o cumprimento das missões no exterior. Também das nossas costas, incluindo grande número de cartas electrónicas de em termos financeiros, a prioridade que damos à componente opera- navegação oficiais. cional e as baixas disponibilidades resultaram em prejuízo de áreas Também neste aspecto particular, fazemos parte de um grupo de importantes como a do bem estar do pessoal e, até, a da formação. países europeus que se encontram na linha da frente dessas novas A actividade estritamente tecnologias de navegação. militar teve como objectivos Olhando agora para o mo- principais o desempenho das mento presente, numa tentati- missões de fuzileiros em Timor va de perspectivar o futuro e na Bósnia, em conjunto com o onde continue a existir uma Exército, e da assumpção do Marinha minimamente capaz comando da Força Naval de proteger os interesses deste Permanente do Atlântico - País, dito de Marinheiros, STANAVFORLANT - no pas- aponto como importantes três sado mês de Março. Esta últi- questões: ma é, sem dúvida, a missão mais exigente em cada sexénio • O esforço de reorganização pelos requisitos dos meios interna; navais a empenhar, como • As dificuldades de pessoal; navio-almirante, ininterrupta- • A renovação e o funciona- mente, ao longo de um ano e mento da Esquadra. pela competência militar e té- cnica que o comandante e o seu Assim, não será excessivo estado-maior têm de dispor. É dizer, como noutras ocasiões um desafio que nos orgulha e honra particularmente, por permitir referi, que a Marinha tem desenvolvido, na prática, um processo de exercer, e pela segunda vez, o único comando de força NATO até reestruturação interna, visando, ambiciosamente, maior eficácia com hoje atribuído a oficiais generais portugueses. menores recursos humanos. Também se levou a cabo, recentemente, nas nossas águas, com Por isso, optámos, nos últimos anos, por juntar estruturas afins, pleno êxito, o exercício nacional, “Sword-Fish” com a participação racionalizar lotações e reduzir pessoal, recorrendo a novas capaci- convidada de países amigos e aliados que envolvem aeronaves de 5 dades tecnológicas. bases aéreas e 30 navios de superfície e submarinos. Agora, estamos a levar a cabo o difícil e complexo processo de Por um período de mês e meio contamos também com uma fraga- reorganização do parque escolar como parte de um projecto mais ta, a “Sacadura Cabral”, na EUROMARFOR, recentemente activada amplo que visa o reordenamento profundo do edifício da formação para o primeiro período deste ano. do pessoal. Com menor visibilidade, mas com utilidade operacional rele- Como é sabido, toda a mudança tem custos. Por isso, este processo vante, empenharam-se navios, fuzileiros e mergulhadores em outros apresenta uma factura elevada de esforços de planeamento, de exe- exercícios nacionais e internacionais. cução e de adaptação das pessoas às alterações. Para além destas acções com cariz essencialmente militar, desen- Necessita também, obviamente, de recursos financeiros que, por volveu-se, na linha de uma tradição que remonta à origem da serem tão escassos, chegam, contraditóriamente, a não permitir as própria Marinha, uma intensa actividade de missões de paz no nosso economias desejadas e possíveis. território e nas águas de responsabilidade nacional, ou seja, um ele- Todo este processo, permitiu já fortes diminuições de pessoal da vado número de acções de interesse público no âmbito das missões Marinha que se cifraram, nos últimos 4 anos, em 2.900 pessoas (cerca que nos estão cometidas e mesmo outras fora desse espectro. de 20%). Continuámos, assim, a salvar vidas no mar e na zona ribeirinha, Contudo, além das economias progressivas que planeámos com a com a utilização coordenada das estações radio-navais, dos nossos racionalidade de um projecto a longo prazo, ocorreram indesejáveis navios militares e dos meios do sistema de Autoridade Marítima. abaixamentos dos quantitativos de pessoal militar e civil, como con- A Força Aérea Portuguesa deu a esta actividade um importante e sequência de uma atrição muito superior à estimada nos cursos da insubstituível contributo que aqui reconheço e elogio. Foi, assim, pos- Escola Naval, da insuficiência de voluntários para praças e do incom- sível analisar no conjunto das áreas oceânicas dos Açores, da preensível congelamento das admissões de pessoal civil, que se Madeira e do Continente 545 pedidos de socorro, felizmente nem afigura ser apenas rígido para o sector militar da Defesa. todos correspondentes a sinistros, que conduziram ao salvamento no As medidas que se tem vindo a tomar sobre a formação de oficiais mar de 247 vidas. poderão ainda que lentamente, vir a melhorar, a prazo, a situação. Na zona ribeirinha, os meios das Capitanias, ou seja do Sistema de Também o voluntariado de praças, se o regime de incentivos se Autoridade Marítima, levaram a cabo 821 acções com o salvamento mostrar adequado e dinâmico, deverá, conforme indicadores de 358 pessoas. momentâneos, apresentar melhorias. Contudo, o sector do pessoal

REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 5 civil está preocupantemente asfixiado em toda a escala vertical de De facto, é antes a constatação da realidade objectiva feita por uma categorias onde faltam mais de 500 funcionários, desde as áreas técni- Marinha que, estoicamente, pretende continuar a servir o seu País, co-científicas às dos trabalhadores menos qualificados. De facto, tanto desempenhar as missões que dela se espera, apesar de a componente corremos o risco de continuar a exaurir a equipa de cientistas do mar do seu orçamento para funcionamento, ter decrescido, desde 1993, a como de continuar a parar salva-vidas por falta de tripulantes. É preços constantes desse ano, 28% e de o seu orçamento global ter uma situação que classifico de muito séria e para a qual espero as diminuído 16%. soluções, que tenho, repetidas vezes, solicitado. São valores dramáticamente altos e serão ainda mais incompreen- Não se situam, contudo, apenas em aspectos quantitativos as difi- síveis se se considerar que, no mesmo período de tempo, a despesa culdades na área dos recursos humanos. Há também que ter em pública do País subiu 44%, também a valores constantes de 1993! linha de conta a capacidade para atrair para a Marinha pessoas com Entendemos as dificuldades das finanças públicas e por isso nos qualidade intrínseca e para as reter depois de as formar. E isso está a compete uma quota parte de esforços de rentabilização do sector ser cada vez mais difícil com fortes culpas para a instituição Estado estatal, que não engeitamos. São disso prova os indicadores de gestão que esquece, frequentemente, a justiça e a equidade que deve aos disponíveis, assim como é inequívoca a vontade de colaborar na seus servidores e a atenção que tem de prestar, com oportunidade, rentabilização dos recursos nacionais, colocando ao dispor do País as aos que a ele, como os militares, se dedicam, até com o compromisso capacidades da Marinha na área do serviço público. de chegar à situação extrema do sacrifício da vida. Essa compreen- É nessa linha que temos vindo a propugnar pela clarificação do são, se existe, não tem sido traduzida, na prática, em recompensa Sistema de Autoridade Marítima, preenchido por um conjunto coe- material, pelo menos equilibrada em termos relativos, nem em medi- rente de competências, essencialmente na área da salvaguarda de das regulamentares de agilidade compatível com a dinâmica das vida humana no mar e da preservação dos recursos, vivos, inertes, questões de carreira quer se trate de militares, de militarizados ou de culturais e ambientais do mar e da faixa terrestre do domínio público civis. Esperemos que a situação se altere sem provocar mais danos marítimo. O sistema tem tradições ininterruptas na Marinha com morais nem introduzir indesejáveis fermentos na massa humana. origem distante de séculos, suporta-se na sua capacidade técnica e O problema mais importante da Marinha de hoje e do futuro é o logística e enriquece-se na vocação, competência e saber dos seus envelhecimento da sua Esquadra. E como não há marinha sem marinheiros. navios, onde não houver renovação, o zero naval aparecerá. Em Tem a racionalidade da aproximação sistémica às questões maríti- Portugal, nos últimos 26 anos, deu-se, para esse fim, um contributo mas, consideradas independentemente de se situarem no mar ou na negativo muito forte ao adquirir-se, apenas, de significativo, 3 navios faixa ribeirinha, usando navios oceânicos e costeiros ou meios das novos – as fragatas “Vasco da Gama”. Por isso, não é de estranhar capitanias. que a esmagadora maioria das unidades navais necessite substitui- É certamente por estas vantagens funcionais e, sobretudo finan- ção, por limite de idade ultrapassado. O interesse nacional exige a ceiras, que marinhas europeias sem essa tradição se têm estado a existência de forças armadas com uma Marinha constituída por envolver neste tipo de serviço público, para além daquelas que, tradi- núcleos de capacidades de dimensão adequada à do País. Conse- cionalmente, lhe dão continuidade. quentemente, não se pode perder mais tempo na sua renovação, que Por isso, tenho dificuldade em entender que haja quem procure considero já perigosamente adiada. soluções diferentes desta, com grandes acréscimos de custos finan- A capacidade submarina tem demorado anos demasiado ceiros e de pessoal, numa altura em que tanto se fala na redução da numerosos para ser possível garantir continuidade entre a actual despesa pública. esquadrilha e a futura. Esperemos pois que as nossas vozes sejam ouvidas. A capacidade de projecção de força que terá como sustentáculo principal o navio polivalente logístico com valências anfíbias, teve, no Senhor Ministro da Defesa Nacional, despacho conjunto de autorização para a negociação com estaleiros nacionais do seu contrato de construção, um factor de avanço signi- Renovo os agradecimentos da Marinha pela presença de V. Exª na ficativo. É preciso que os recursos financeiros não falhem no momen- sua cerimónia mais emblemática e reafirmo, publicamente, que pode to da concretização. o Governo contar com a inquestionável vontade da Marinha em con- A sua falta tem sido bem sentida em vários empenhamentos de tinuar a servir o País de forma determinada e persistente, embora forças nacionais no estrangeiro, assim como nos impede de ser apenas com a capacidade dos meios e recursos, que lhe forem aceites na “European Amphibious Initiative”, constituída por meios atribuídos. A cultura que nos é própria resulta do saber acumulado anfíbios do Reino Unido, França, Espanha, Holanda e Itália. ao longo de séculos, endurece-se na forja do mar e tem a espontanei- A componente naval para o exercício da autoridade do Estado nas dade que este nos ensinou. Por isso, nos entregamos de espírito aber- nossas águas jurisdicionais e para a busca e salvamento nas áreas de to e franco a todas a missões que procuramos cumprir com a com- responsabilidade nacional deverá, primordialmente, ser objecto de petência de que somos capazes. Esta é postura que tem caracterizado um contrato-programa, visando a construção dos 12 navios os homens e as mulheres militares, militarizados e civis que neste necessários – 10 patrulhas oceânicos, um navio de combate à Ramo das Forças Armadas servem a Nação donde emanam. E ainda poluição e um navio balizador. Com estes meios substituir-se-ão as bem que a sociedade civil assim nos entende, como transparece, por 10 velhas corvetas, os 10 patrulhas “Cacine” e o balizador “Schultz exemplo, num artigo recente de António Barreto que, parcialmente, Xavier”, garantir-se-á uma eficácia acrescida na execução das missões cito: de interesse público e reduzir-se-á, em cerca de 800 homens, os efec- “O acidente de Castelo de Paiva revelou-me algo que não estou perto de tivos necessários ao preenchimento das guarnições. esquecer: um corpo de marinheiros e mergulhadores que não cessou de provo- A autorização para negociar o contrato dos dois primeiros navios car a minha admiração. E a de muitos compatriotas, creio. Nem saberei dis- já foi dada e a Marinha espera ansiosamente que as fontes de finan- tinguir o que mais impressionou, se a coragem, o esforço, a reserva, a ciamento tenham expressão real e visem a totalidade do programa, já seriedade ou o aprumo. Aqueles marinheiros, mostraram, sem exibição, uma que se trata de meios não abrangidos pela Lei da Programação dedicação a toda a prova. E um profissionalismo de excepção, aliado a uma Militar, por opção governamental. humanidade sem mácula”. A Esquadra para operar e ser mantida precisa, obviamente, de apoios de terra e de recursos financeiros. Estes têm sido, sobretudo Finalizo, exortando todos os que no início deste milénium servem nos últimos anos, de uma escassez asfixiante. Acresce tratar-se de na Marinha a seguirem o exemplo dos nossos antepassados que a uma componente orçamental disponibilizada de forma irregular e meio do milénium passado deram novos mundos ao Mundo. agravada por retenções às vezes até contrárias às directivas supe- riores recebidas. E não se pense que esta referência traduz um qual- Se assim for, de novo conquistaremos a distância dos nossos quer pessimismo institucional. objectivos. 

6 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA OsOs FuzileirosFuzileiros nana OperaçãoOperação dada NATONATO dede ApoioApoio àà PazPaz nana Bósnia-HerzegovinaBósnia-Herzegovina O Sistema de Informações da Reserva Operacional da SFOR

“...Ver aquilo que hoje – e creio poder dizer com orgulho – estamos a fazer de forma exem- plar na Bósnia, para fazer ressaltar a importância de mis- sões desta natureza para as Forças Armadas e para o País...” António Guterres Primeiro-Ministro

Fig. 1 – A Força de Fuzileiros DELTA.

INTRODUÇÃO O objectivo deste artigo é contribuir Dispositivo Recentemente uma Força do Comando para o entendimento do sistema de infor- A missão da SFOR reflecte claramente a do Corpo de Fuzileiros participou numa mações num Teatro de Operações da necessidade de continuar o processo de missão de apoio à paz no Teatro de Ope- NATO. Para esse efeito são apresentados normalização na BiH assegurando a pre- rações da Bósnia e Herzegovina (BiH), inte- alguns aspectos do enquadramento, sença militar concentrada nas áreas críti- grada numa Força Nacional Conjunta organização e dispositivo e os factores cas. Apesar dos efectivos terem sido Marinha-Exército (1), que teve a desi- mais importantes na análise das infor- reduzidos de 30 000 mil para cerca de gnação de Agrupamento Conjunto ALFA mações, seguido da apresentação da 20 000 mil homens (4), manteve-se contu- (AgrConj ALFA) de escalão Batalhão e organização e funcionamento da secção do a distribuição actual por três sectores constituiu a Reserva Operacional Terrestre de informações, dos órgãos de pesquisa que estão atribuídos a três Divisões (OPRES) da Força de Estabilização da utilizados e sua importância, comple- Multinacionais, sendo cada uma delas NATO (Stabilization Force-SFOR). mentado pela estrutura do sistema de liderada pelos americanos (DMN–N), por A Força de Fuzileiros destacada teve a informações, concluindo com as expe- ingleses (DMN-SW) e por franceses designação de Força de Fuzileiros DELTA, riências e ensinamentos recolhidos. (DMN-SE). A nova força, sendo mais sendo constituída por elementos que inte- reduzida (as Brigadas foram substituídas graram o Comando, Estado-Maior, a ENQUADRAMENTO por unidades de escalão Batalhão reforça- Companhia de Comando e Serviços do - Battle Group), é mais flexível e robusta Conjunta e a Companhia de Fuzileiros Organização conferindo-lhe maior capacidade para n.º 21 (CF 21), num total de 120 militares. Em termos de comando e controlo o lidar com problemas de segurança. Terminada a missão foi organizado Comando da Stabilization Force (COMSFOR) um processo documental da área de depende directamente do Supreme Allied Área de Interesse e Área de Operações INFORMAÇÕES que consta do Relatório Commander Europe (SACEUR) e a Força A Área de Interesse da SFOR inclui o de Fim de Missão.(2) As experiências e Portuguesa dependia directamente do território da BiH e países vizinhos circun- ensinamentos foram transmitidos nas COMSFOR. A OPRES é constituída por dantes, assim como o Mar Adriático e palestras efectuadas após a missão no uma componente terrestre (Batalhão por- respectivo espaço aéreo. São também âmbito do seminário organizado pela tuguês) e pela componente aérea Áreas específicas de interesse a Croácia e a Marinha, sobre operações de apoio à paz (Batalhão de Aviação americano). restante ex-Jugoslávia (República Federal e no Corpo de Fuzileiros. No Teatro de Operações, as forças dos da Jugoslávia-FRY), devido aos interesses vários países representados e que inte- e ligações com as facções e o seu impacte gravam o dispositivo da SFOR tinham na estabilidade da BiH. Os Balcãs vivem, desde a agonia do império atribuídas Áreas de Responsabilidade (Area A Área de Responsabilidade da SFOR otomano um processo ainda em evolução de of Responsability-AOR) estando o Batalhão (Fig 2) engloba o território da BiH amadurecimento da realidade do estado nação. Português localizado em VISOKO, perto de A península balcânica tem sido desde séculos o (cerca de metade da superfície de local de choque e confronto de civilizações e cul- SARAJEVO (cerca de 30Km), tendo como Portugal), que compreende o da turas. área de intervenção todo o Território da Federação – FBiH (Bósnios-muçulmanos A Bósnia-Herzegovina, situada na linha divisória BiH e ainda o enclave de PREVLACA (3). A e Bósnios-Croatas) e República Srpska – das religiões católica e ortodoxa foi alvo de fre- OPRES teve de potenciar a sua flexibilidade RS (Bósnios-Sérvios). O Teatro de quentes conflitos de natureza religiosa entre os para cumprimento dos quesitos opera- Operações da BiH está dividido nos séc. X e XV. cionais da missão – com capacidade de três sectores já referidos e cada uma das Para o entendimento deste conflito é importante reacção rápida, mobilidade táctica e pro- conhecer as suas origens e a história das krajinas Divisões Multinacionais têm áreas (séc. XVI). tecção adequadas ao desempenho das mis- aproximadamente idênticas de território sões com estas características. da FBiH e da RS (5). REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 7 ANÁLISE DOS FACTORES MAIS decisão do Comandante. IMPORTANTES DAS NFORMAÇÕES Os aspectos considerados na utilização do IPB foram “Military Information” vs “Intelligence” os seguintes: Antes de mais, importa referir que •Área de Interesse (AI) neste tipo de operações as informações Foi tido em consideração são denominadas “Military Information”, a necessidade de expandir em vez de “Intelligence” como é habitual a AI, tendo para tal sido nas operações convencionais, uma vez efectuada a análise de que esta designação pode ser tomada todas as forças militares e como um acto hostil. paramilitares, que podiam O apoio das informações nestas opera- intervir na Área de Res- ções assenta essencialmente na continua ponsabilidade (AOR) e as obtenção e processamento da informação, Organizações Não-Gover- dando grande relevância à recolha de namentais (ONG), as Or- informação através do homem -HUMINT ganizações Internacionais Fig. 2 - Área de Operações. (Human Intelligence), complementada pela (OI) e as Organizações recolha de imagens através de satélites - Privadas de Voluntários (OPV) que podiam com Quadro Orgânico do AgrConj ALFA. IMINT (Imagery Intelligence). interferir com as nossas operações. Foram Para além disso, foi dado o apoio por uma Independentemente da missão, a uni- também alvo de análise os partidos políti- praça da Secção de Operações na cobertura dade deve estar preparada para fazer face a cos (na BiH existem cerca de 80 partidos), os vídeo-fotográfica (7) dos principais even- acções de ataque directo, quer pelas facções Órgãos de Comunicação Social (OCS) e ou- tos da unidade e dos reconhecimentos quer por elementos dissidentes. Para além tros países com interesses na região. efectuados. disso, o outro aspecto importante a referir e As tarefas da Secção de Informações inci- que pode causar problemas, quer na •Terreno e Infra-estruturas diram essencialmente na pesquisa e recolha pesquisa, quer na exploração, é que na Foram analisados os aglomerados po- de informação, assim como no estudo e SFOR existem contingentes de vários paí- pulacionais, limites geográficos, pontos interpretação das notícias tendo em vista ses, com equipamento e processos vários. de abastecimento de água e alimentos (6), determinar a influência do terreno, condi- campos de refugiados, ONG e OPV. ções meteorológicas, atitude das Entidades e Elementos Essenciais de Informação Para além disso foram também analisa- população na missão do AgrConj ALFA. Na Os Elementos Essenciais de Informação, dos os locais de acantonamento de forças, reunião diária do Estado-Maior do AgrConj designados por - Priority Intelligence quartéis, localização de infra-estruturas ALFA era apresentado um Briefing relativo Requirements (PIR), são definidos pela SFOR de comando e controlo, radares, rede de à situação em todo o Teatro de Operações e, e estavam direccionados fundamentalmente telefones, fornecimento de gás etc. sempre que a situação o justificava, era intro- para os seguintes aspectos: terrorismo, esta- O terreno sendo bastante montanhoso duzida informação relativa à zona de inte- bilidade política e social, a influência de determina as linhas de infiltração e resse no Relatório de Situação enviado diari- Milosevic, e a ameaça para a SFOR e exfiltração (corredores de mobilidade), amente para Portugal. Comunidade Internacional. tendo sido necessário efectuar a sua O empenhamento operacional na Divisões O estudo e análise das informações análise quanto às possibilidades e Multinacionais (DMN) foi acompanhado tornava-se assim mais abrangente e intenções das partes. As condições pelos respectivos Estudos de Situação de complexo sendo os aspectos não mi- meteorológicas tendo uma influência Informações (8), ao escalão Batalhão, e pela litares, como por exemplo os políticos, decisiva para o emprego de uma força promulgação da Situação de Informações económicos e demográficos, muitas em reserva, condicionaram o empe- das respectivas Ordens Parcelares, ao escalão vezes os mais relevantes. nhamento da unidade em determinadas pelotão. Nesse âmbito eram obtidas e operações, nomeadamente na utilização preparadas as cartas topográficas neces- Ameaça dos helicópteros reduzindo assim a sárias (CJ2) e as cartas de situação de minas Outro aspecto que importa analisar é o mobilidade. através do Centro de Informação de Minas da conceito de ameaça. Esta deixa de ser bem SFOR (Mine Information Colection Center–MICC), definida e caracterizada e passa a ser Situação Económica e Cultural sendo efectuado um “Briefing” em que era descrita por facções, grupos terroristas • Descrição dos efeitos apresentada a estimativa de situação do que podem actuar em qualquer ponto do Foram analisadas as causas do conflito respectivo município (OPSTINA). Teatro de Operações, desestabilizando a tentando perceber as razões de cada uma situação e o clima necessário ao estabe- das Entidades, assim como analisados os lecimento de um ambiente de confiança. factores que influenciavam as nossas ÓRGÃOS DE PESQUISA A mudança de objectivos da activi- modalidades de acção. UTILIZADOS E SUA IMPORTÂNCIA dade da SFOR para a implementação dos aspectos civis pode provocar uma nova • Ameaça Fundamentalmente os órgãos de pes- ameaça (multidimensional) sob a forma A avaliação da ameaça foi efectuada per- quisa utilizados eram divididos em de instabilidade civil e demonstrações de manentemente, de acordo com o conceito externos e internos ao Batalhão. multidões/manifestações contra a SFOR. já referido e os elementos disponíveis. No que concerne aos internos devem ser destacadas as Companhias (Atiradores Utilização do “Intelligence Preparation of ORGANIZAÇÃO E e Fuzileiros) e pelotões, que pelas suas the Batlefield (IPB)” FUNCIONAMENTO DA SECÇÃO missões nas DMN (N e SW) estabeleceram Apesar destas operações terem caracterís- uma boa ligação nas AOR daquelas ticas específicas, a preparação do “campo DE INFORMAÇÕES Divisões, que através de relatos verbais ou de batalha” (nestas operações não existe A Secção de Informações (S2) era cons- relatórios escritos transmitiram à Secção esta designação) deverá ser feita através do tituída por um Oficial Fuzileiro (chefe da de Informações as notícias disponíveis. IPB, que para o efeito deve ser encarada secção e autor do artigo) e um Sargento do No que respeita aos órgãos externos ao como uma ferramenta essencial na tomada de Exército (adjunto da secção), de acordo Batalhão destacaram-se: 8 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA Nations High Commissioner for Human JEVO ter alguns Oficiais portugueses Nome Bósnia resulta de um pequeno princi- Rights-UNHCR). (Marinha e Exército), foi desde logo esta- pado da região montanhosa dos rios urbas e Os contactos com as Divisões Multi- belecido um contacto estreito, que permi- bosna. O nome Herzegovina, foi atribuído no -nacionais também foram importantes tiu receber alguma informação com inte- séc. XV por um poderoso nobre bósnio (Stephen Vukcic) a quem foi dado o nome de para actualizar e trocar informação princi- resse, fundamentalmente para cruzar com herzog (duque em língua alemã). palmente nos casos em que o Batalhão outro tipo de informação, no sentido de teve sub-unidades empenhadas, sendo de avaliar correctamente a situação. destacar os contactos com as células de Assim, no seu conjunto os órgãos des- • CJ2 SFOR (“Branch” das Informações G2 da DMN-N e DMN-SW. critos contribuíam decisivamente para o – Combined Joint 2) Também houve alguns contactos com o funcionamento do ciclo de produção de • CJ9 SFOR (“Branch” dos assuntos G2 da DMN-SE na fase de planeamento e informações implementado. Com base políticos, refugiados/deslocados – no decorrer da Operação “JOINT RESOLVE nos PIR definidos pelo escalão superior e Combined Joint 9) XIX”. nas necessidades encontradas pelo •Divisões Multinacionais e Reserva Com a Reserva Operacional Aérea AgrConj ALFA, foi elaborado um Plano Operacional Aérea (Brigada de Avia- houve uma ligação muito estreita, propor- de Pesquisa (12), que orientava o esforço ção EUA) cionada pelas características da própria mis- de pesquisa dos órgãos utilizados.  • MSU (Multinational Specialized Unit) são o que possibilitou também o contacto • Organizações Internacionais (OSCE, com a célula de G2 e a recolha de muita José Manuel C. Neto Simões 1TEN SEF IPTF e ECMM) (9) informação útil e importante para o cumpri- A colocação de um Oficial Português mento da missão do AgrConj ALFA. (Continua no próximo número) (Exército) no CJ2 (10) per- mitiu o estabelecimento de Notas um contacto não oficial, (1) Primeira Força Conjunta pois conforme se pode veri- empenhada num Teatro de Operações ficar na Fig. 3 não existe da NATO-Operação “JOINT FORGE” nenhuma célula de infor- (despacho Conjunto do CEME e CEMA de 12JUL99). mações da OPRES no Quar- (2) O relatório da área de infor- tel-General (QG) da SFOR. mações é constituído por vários ane- No entanto, posteriormen- xos ampliativos, onde foi analisada a te, aquele contacto foi ofi- situação política, social e económica, de segurança, situação militar, indicia- cializado, em virtude de o dos de crimes de guerra, avaliação da Batalhão não ter disponível ameaça e riscos, Forças Armadas das o fluxo de informação ne- Entidades (Ordem de batalha de cessário, por não ter sido JUL009, serviços secretos, forças de instalado um terminal segurança, organização política- administrativa, caracterização das CRONOS em VISOKO (11), Operação com helicópteros (Blackhawk) - ZHARID. OI/ONG e finalmente a análise o que em muito contribuiu estratégica do Teatro de Operações. para o conhecimento e compreensão da A MSU sendo uma unidade que tem (3) Área de disputa entre a Croácia e a República situação política, militar, social e eco- permanentemente pessoal empenhado Federal da Jugoslávia, junto ao Mar Adriático. (4) Decisão tomada na Conferência para a nómica em cada momento através de nas áreas críticas (“HOT SPOTS”), tem por Geração de Forças nos Balcãs, realizada em Bruxelas reuniões quase diárias. Obviamente a isso um conhecimento muito por- (JUL99). informação proveniente desta fonte foi menorizado e actualizado dos municípios. (5) O espaço territorial ocupado por estas duas utilizada com a necessária parcimónia e Por isso, o contacto com o G2 da MSU, entidades é de 51/49% respectivamente. foi decisiva para a recolha de informação, permitiu recolher informação, mais espe- (6) Os alimentos eram fornecidos através do canal de reabastecimento de Portugal e do contingente que permitiu a construção e actualização cífica, relativamente à actividade criminal Italiano, existindo para o efeito um acordo entre os da base de dados da Secção de Infor- em alguns municípios mais críticos.. Para dois países (MOA-Memorandum Of Agreement) mações. além disso, foi facultada alguma infor- (7) Durante a missão foram efectuadas cerca de Foram estabelecidos contactos com mação importante de VISOKO, relaciona- 600 fotografias (negativos), 2000 fotografias digitais e 15 horas de filme 8mm. oficiais do CJ9 para recolha de infor- da com actividades ilícitas e criminosas. (8) Os principais estudos elaborados – DRVAR, mação relativa à situação política e par- Com a OSCE foi estabelecido contacto “Operação “JOINT RESOLVE XIX”, SREBRENICA e ticularmente à situação de regresso dos com (Chief Implementation Officer, fun- MONTENEGRO. refugiados/deslocados (Displaced Per- cionária portuguesa do MNE), durante a (9) OSCE- Organization for Security and Co- sons and Refugees - DPRE) o que permitiu fase das eleições municipais para obtenção Operation in Europe (Organização de Segurança e Cooperação Europeia), IPTF-International Police Task um posterior contacto com a delegação das listas dos candidatos e posteriormente Force (Força de Polícia internacional para a BiH), do Alto Representante das Nações na implementação dos resultados, princi- ECMM-European Community Monitoring Mission Unidas para os Refugiados (United palmente no que diz respeito ao município (Missão de Monitores da União Europeia). de VISOKO. (10) NIC – National Intelligence Cell, IOs – Internacional Organizations, PIO – Public Foram também manti- Information Officer, CJSOTF – Combined Joint dos contactos frequentes Special Operations Task Force, CJPOTF – Combined com agentes da IPTF, Joint Psychological Operations Task Force, CJCMTF nomeadamente portu- – Combined Joint Civil Military Task Force, AMIB – gueses que estavam co- Allied Military Intelligence Battalion , MND – Multinational Division, locados nas esquadras (11) Situação atenuada pelo Oficial de Ligação do dos municípios vizinhos AgrConj ALFA no QG da SFOR. Aquele sistema é de VISOKO (BREZA e fundamental, pois através dele é possível ter acesso KISELJAK). à base de dados da SFOR, que só ficou operacional a partir de AGO00, beneficiando dele os Batalhões Em relação à ECMM seguintes. e aproveitando o facto (12) Constava do ANEXO de Informações do Fig. 3 - Estrutura do Sistema de Informações - SFOR. de a missão em SARA- Plano de Operações da OPRES. REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 9 FontesFontes ParaPara aa HistóriaHistória dada ArqueologiaArqueologia NavalNaval PortuguesaPortuguesa 2. Os códices de D. António de Ataíde

omo ficou dito no artigo anterior, o conjunto dos três códices outrora Cpertença de D. António de Ataíde que hoje se encontra na Houghton Library, reúne o núcleo mais importante de documentos do que seria uma das melhores bibliotecas privadas ao tempo. Deles deu já notícia Charles Boxer, mas justifica-se que se chame de novo a atenção para este precioso acervo de informações relativo às navegações por- tuguesas. O primeiro deste conjunto de três códices diz respeito ao período de 1588 a 1633. É o que contém mais dados rela- tivos à construção e apresto de navios e armadas, incluindo custos detalhados de construção, soldos e quintaladas, arti- lharia, boticas e similares. Destacam-se as contas relativas a duas naus da Índia de três cobertas, feitas em 1624; um opúsculo impresso em 1588 sobre a Invencível Armada, de que existe uma versão com- pleta no segundo volume (neste faltam o primeiro e o último fólio); a descrição A conquista da cidade da Baía efectuada pela esquadra portuguesa e castelhana,em 1625. Pintura de Frei pormenorizada da armada de socorro da Juan Bautista Maino, Museu do Prado Baía, em 1624; e ainda a da que foi en- viada a Pernambuco em 1631. O conjunto dos materiais providencia por exemplo, na determinação empírica Mais invulgares são os documentos ao leitor uma excelente visão da vida a do traçado das superestruturas. A legis- sobre a mastreação dos navios e o apare- bordo de um navio português no primeiro lação tentou atalhar os inconvenientes lho: na documentação técnica conhecida quartel do século XVII, complementando- resultantes dessa situação, como se vê já só se lhes compara um documento similar -os com os relatos de Linschoten e Pyrard no reinado de D. Sebastião, procurando sobre o aparelho de um galeão, contido de Laval; o códice contém o regimento regular os processo de construção dos nas Coriosidades de Gonçalo de Sousa. dos escrivães da Carreira de 1611, além navios de modo a garantir a observância O que todavia merece uma chamada de legislação sobre o carregamento das de regras padronizadas. Duas “polémi- de atenção especial são os reportórios das especiarias e a ocupação dos espaços a cas” ilustram na perfeição esta busca de armadas enviadas para o Brasil, pois não bordo, entre outra, e ainda uma cópia do denominadores comuns: a que opunha os se ficam pela simples listagem de nomes regimento das liberdades de 1515. defensores de navios de maior porte pos- de navios e respectivos comandantes, Cumpre também citar o conjunto com- sível aos que defendiam os portes médios, como é usual. A relação da armada envia- posto pela cópia manuscrita das regu- e a referida disputa sobre se as naus da da para socorrer a Baía em 1624 é mesmo lações portuguesas de construção naval de Índia deviam ter três ou quatro cobertas. a mais completa e informada lista de 1578, das Ordenanzas de 1613, também A intenção não passou disso mesmo, navios conhecida até esta data de que em cópia manuscrita, e pelo raro opúsculo em parte. A sucessão das Ordenanzas (em temos conhecimento (1). impresso das Ordenanzas de 1618, pro- 1607, 1613 e 1618, por exemplo) revela O segundo códice é particularmente fusamente anotado por D. António de também a ineficácia da aplicação das notável pela inserção de documentos Ataíde – facto de excepcional importân- normas no plano prático. Curiosamente, impressos invulgares, a par dos manus- cia, que só por si merece um estudo porém, a intervenção legislativa foi dife- critos. Abre com um dos raros exemplares àparte. rente em Portugal, onde a Coroa mostrou conhecidos, em perfeito estado de conser- Os procedimentos da construção naval menos tendências reguladoras. vação, da relação da Armada de 1588 ibérica neste período estão assim perfeita- D. António de Ataíde seguiu a questão dada à estampa por Antonio Alvarez, em mente documentados pelos mais rele- e interessou-se por ela, como o mostram Lisboa; e contém ainda uma outra, tam- vantes dos documentos legislativos que as profusas anotações manuscritas ao bém pouco comum, com o título Rela- diziam respeito à matéria. Não havendo exemplar das Ordenanzas de 1618. É pos- cion Verdadera del Armada, que el Rey ainda normas passíveis de regular a cons- sível que este interesse não fosse mera- Don Felippe nuestro señor mando juntar trução naval em todos os seus passos, os mente particular, pois tem de se conside- en el puerto de la ciudad de Lisboa en el mestres contrutores ficavam com uma rar a hipótese da opinião de D. António Reyno de Portugal el año de 1588. grande margem de acção que se reflectia, ter sido expressamente requerida, o que

10 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA aconteceu pelo menos em duas circuns- obrigatória com a carta que o monarca tâncias específicas, como já se viu. dirige ao vice-rei da Índia com data de O terceiro volume é no essencial o 31 de Janeiro de 1614 (2), por outro acei- copiador de D. António. Nele ficaram ta-se que um navio possa sair antes da registados vários documentos que lhe armada se estivesse aprestado e as cir- diziam respeito, mormente os relativos ao cunstâncias o exigissem (3). seu comando da armada da costa e das A insistência dos ataques aos navios medidas que tomou, incluindo a criação que faziam a Rota do Cabo, sobretudo a do primeiro corpo de infantaria de mari- partir dos inícios do século XVII, justifi- nha e o documento de nomeação como cou que neste caso se tomassem pre- capitão-geral da armada da coroa de cauções especiais, patentes na severidade Portugal. das penas para quem não as cumpria. O regimento da armada da costa de Intenções claras mas não definitivas: 1618 é um dos poucos conhecidos do chamados em 1635 a opinar junto do género, mas o “Regimento que dei aos Conselho da Fazenda sobre a navegação cappitaes da Armada” é mais raro ainda: para a Índia, dois experimentados pilotos trata das instruções que D. António trans- da Carreira foram de parecer que as naus mitiu por escrito aos capitães dos navios deviam evitar escalar Angola, Santa da armada da costa que comandou em Helena, Brasil e Ilhas (4), o que quer 1618. Não deixa de ser curioso que sub- dizer que o regresso em rota batida não sistam tão poucos documentos deste tipo se impusera definitivamente. (há mais dois nas Curiosidades de Um dos responsáveis pelas medidas Gonçalo de Sousa), uma vez que tudo tomadas foi D. António de Ataíde, que leva a crer que a prática era vulgar, em 1611 levou a incumbência de anali- nomeadamente desde o momento em sar o regimento dado na Carreira e suge- que as armadas começaram a navegar em rir alterações. Resultou daí um par de conserva (hoje dir-se-ia em comboio) documentos preciosos chegados até nós: para prevenir com mais eficácia os um é a versão integral do regimento que ataques inimigos. lhe foi dado em 1611, o outro é uma Filipe IV de Espanha (III de Portugal). Velasquez, Museu As vantagens da navegação em conser- cópia parcial, densamente anotada pelo do Prado. va estão consignadas desde os primórdios seu punho. Um caso único, o de um regi- da carreira da Índia, cujos procedimentos mento da Carreira anotado pelo capitão- dades registadas em Harvard, dado os ele- de navegação se conhecem melhor; -mor aconselhando o rei quanto às mentos de identificação providenciados primeiro foi a segurança da navegação a mudanças que era necessário fazer (5). A por Boxer já estarem desactualizados. Ao justificar a directiva em causa, depois nosso ver, este foi um dos pareceres em fim de quase dois anos de porfiados passou a ser a segurança militar, moti- que o monarca se baseou para determi- esforços a cópia dos códices chegou final- vando aliás soluções muito díspares para nar que a viagem de regresso se passasse mente a Lisboa, e pudémos então con- resolver o mesmo problema: por um lado a fazer sem escalas. sultá-los, como têm feito depois outros a torna-viagem em rota batida torna-se Estes documentos não pertencem aos có- investigadores. A Biblioteca viu aumentar dices a que nos referimos, mas assim o importante núcleo de cópias de ajudam a perceber a extraor- documentos que tem obtido de diversos dinária importância de que se arquivos e bibliotecas estrangeiras, que reveste o arquivo de D. António, muito facilitam a pesquisa dos interessa- e não apenas para o estudo da dos na História da Marinha Portuguesa, já arqueologia naval portuguesa. que, como bem se sabe, muita infor- Esperamos tê-lo deixado pa- mação documental que lhe diz respeito tente por este breve apon- não se guarda já no nosso país.  tamento, embora fosse preciso muito mais para sequer fazer um resumo de todos os mate- Doutor Francisco Contente Domingues riais. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Academia de Marinha O facto de estarem há longos anos fora de Portugal justifica em boa parte o seu desconheci- Notas mento, e só há pouco tempo a Biblioteca Central da Marinha (1) Temos este documento em estudo para publi- adquiriu uma cópia integral dos cação a curto prazo. (2) Documentos Remettidos da India…, dir. R. A. três códices. Esta aquisição foi Bulhão Pato, Tomo III, Lisboa, Typographia da possível graças ao empenho do Academia Real das Sciencias, 1885, pp. 32-34. Senhor Almirante Vítor Crespo, (3) Maria Emília Madeira Santos, O problema da Director da Biblioteca na altura segurança das rotas e a concorrência luso-holandesa em que sugerimos que aquela antes de 1620, Lisboa, IICT, 1984, pp. 15-16. (4) V. Alberto Iria, Da Navegação Portuguesa no instituição procedesse à compra Índico no Século XVII, Lisboa, CEHU, 1963, p. 55. de uma fotocópia dos códices (5) Estes documentos foram publicados por dado o evidente interesse dos Francisco Contente Domingues e Inácio Guerreiro, materiais aí contidos. O Director “D. António de Ataíde, capitão-mor da armada da Índia de 1611”, in A Abertura do Mundo. Estudos de da Biblioteca não só acedeu de História dos Descobrimentos Europeus em Folha do códice de D. António de Ataíde, onde consta um orçamento imediato como não desistiu de a Homenagem a Luís de Albuquerque, vol. II, Lisboa, de despesas para a esquadra de 1621. concretizar, apesar das dificul- Presença, 1987, pp. 51-72.

REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 11 AscensãoAscensão ee quedaqueda dodo CódigoCódigo MorseMorse

história do Código Morse, inventado por Samuel Morse Em 1898, Mar- (1791-1872) em 1834, está intimamente associada a toda a coni obteve suces- Aevolução cientifica que se viveu desde o inicio do século so no envio de passado. sinais entre a In- Foram vários aqueles que deram o seu contributo à utilização glaterra e a Fran- do código Morse, sendo de destacar o italiano Volta, que em 1800 ça, através do Ca- inventou uma bateria capaz de gerar uma corrente continua. O nal da Mancha, primeiro telégrafo foi idealizado pelo francês André Marie conseguindo, em Ampère, no início da segunda década do século XIX, mas a sua 1901, que uma ideia não era tecnicamente viável. sua transmissão Em 1835, Samuel atravessasse o Morse desenvolveu Atlântico. No en- comercialmente o telé- Guglielmo Marconi (1874 -1937), o "pai" da TSF. tanto, havia uma grafo por fio com seu grande limitação famoso código em que na utilização de frequências (apenas se utilizavam frequências a cada letra era asso- muito baixas), o que só foi superado depois da aplicação da ciado um conjunto de válvula a vácuo (descoberta por Fleming em 1896), à Telegrafia traços e pontos e que Sem Fios. ficou internacional- Em Portugal, o primeiro navio a instalar um equipamento de mente conhecido com comunicações foi o cruzador “São Gabriel”, tendo transmitido as seu nome. Posterior- primeiras mensagens por TSF, em 11 de Dezembro de 1911, quan- mente, após patentear do iniciou uma viagem de circum-navegação. o seu invento, foi cons- A utilização do código Morse é bastante variada. Tanto a nível truída a primeira li- acústico como visual, para efeitos de socorro ou emergência, para nha telegráfica entre azimutagem ou para mera troca de informação. Samuel Morse é, Washington e Baltimore sem dúvida, uma referência para todos aqueles que abraçaram (as linhas eram consti- esta tão vasta área que é a das comunicações. O código por si tuídas por condutores inventado constituiu durante muitos anos o pilar das comuni- eléctricos suspensos em cações com e entre os navios no mar, incluindo os submarinos, postes de madeira). com a sua utilização estendida às aeronaves. Nas duas grandes Pouco tempo depois, a guerras foi largamente utilizado e é bastante utilizado a nível do Samuel Morse (1791-1872), junto ao seu invento. sua invenção implanta- radio-amadorismo, prevendo-se que continue a ser uma reserva va-se definitivamente importante nas comunicações, apesar da sua lentidão relativa- nos Estados Unidos e iniciava a sua disseminação pelo resto do mente aos sistemas actualmente implementados. mundo. Em 1851, o primeiro cabo submarino é estabelecido com Desde a invenção do Radio, nos finais do século XIX, os navios sucesso entre a Inglaterra e a França. Em 1858, é estendido um no mar têm recorrido ao código inventado por Samuel Morse cabo entre a Irlanda e Newfoudland, no Canadá, situação já para comunicações de Socorro e Segurança. A necessidade de anteriormente idealizada por Morse. Thomas Edison, inventor equipar os navios e estações costeiras com equipamentos da lâmpada eléctrica, também foi operador de telégrafo, tendo radiotelegráficos e de manter escuta numa frequência comum dado um bom contributo para a melhoria deste equipamento. para chamadas de socorro, recorrendo ao código morse, foi reco- A descoberta das nhecida depois do acidente do navio “TITANIC”, no Atlântico ondas electromagnéti- Norte, em Abril de 1912. Assim, realizou-se em Londres, em 1914, cas pelo Inglês Maxwell e os estudos efectua- dos pelo alemão Hertz, que comprovou as suas teorias, permi- tiram a Guglielmo Marconi considerar a utilização do espaço para a transmissão de sinais, conseguindo- -se assim maiores alcances e em zonas onde as ligações físi- cas eram impossíveis - no mar. Surgiu, assim, a Telegrafia Sem Fios Heinrich Hertz (1857-1894). (TSF). O cruzador “S. Gabriel”.

12 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA a primeira grande convenção para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar - SOLAS (Safety Of Life At Sea). A União Internacional das O CÓDIGO MORSE Telecomunicações (ITU- International Telecommunications Union), .- .--- … ..--- actualmente agência das Nações Unidas, considerou então, nas A J S 2 suas resoluções, a utilização do código morse para chamadas de -… -.- - …-- socorro e segurança, na frequência de 500kHz. Como sinal de B K T 3 socorro foi escolhido o grupo de letras “SOS” que, ao contrário -.-. .-.. ..- ....- do que é defendido por algumas interpretações mais românticas, C L U 4 não significa “Save Our Souls” (estamos aqui a falar de salvamen- -.. -- …- ..... to e não de salvação e, aliás, a preocupação em salvar almas deno- D M V 5 taria, já, a inutilidade de qualquer tipo de socorro), não tendo tido . -. .-- -.... outra razão para a sua adopção que não fosse a sua simplicidade E N W 6 de transmissão e de recepção (… --- …) para qualquer operador, ..-. --- -..- --... por menos habilitado que fosse. F O X 7 Até hoje efectuaram-se mais quatro convenções SOLAS: a segunda realizada em 1929 (entrando em vigor em 1933), a terceira em 1948 --. .--. -.-- ---.. G P Y 8 (tendo entrado em vigor em 1952), a quarta, já sob os auspícios da Organização Marítima Internacional (IMO - International Maritime .... --.- --.. ----. Organization) em 1960 (entran- H Q Z 9 do em vigor a partir de 1965) .. .-. .------e, por fim, a presente versão I R 1 0 que foi adoptada em 1974, vigorando a partir de 1980. Assim, os navios de acor- utilização do morse, na actual configuração para as comunicações do com a sua tonelagem com os navios, tem os dias contados. Assim, deixa de haver a passaram a ter como requi- necessidade de operadores especializados em morse acústico, pois sito a capacidade para escu- o sistema é automático, recorrendo à tecnologia digital, não tar um dos seguintes sis- exigindo quaisquer perícias (apenas o curso de operação dos temas (manuais): respectivos equipamentos), tem uma cobertura global e não ape- • Sistema Radiotele- nas limitada à onda terrestre e permite a desejável redundância. gráfico - morse, na frequên- Encontramo-nos, neste momento, ainda numa fase de transição (a cia de 500kHz e obrigatório nível mundial), sendo a data de 1 de Fevereiro de 2005 aquela para todos os navios com apontada para a efectiva implementação do sistema. No entanto, mais de 1600 TAB, e a utilização da frequência do Sistema Radiotelegráfico já foi desac- • Sistema Radiotele- tivada para efeito de comunicações de Socorro. fónico - na frequência de Até à completa instalação nos navios e nas unidades em terra de O primeiro aparelho de transmissão sem fio. 2182kHz e 156.8 MHz equipamentos que permitam a utilização de outras técnicas e pro- (CH16 - VHF IMM) e obri- tocolos que não o morse, nomeadamente na Marinha de Guerra gatório para todos os navios com mais de 300 TAB. com a implementação do projecto BRASS, ainda se recorre ao Apesar do elevado número de salvamentos efectuados, verifica- morse nas comunicações navio-terra e terra-navio, mas apenas va-se a necessidade de aperfeiçoar o que estava até então conven- para efeitos de chamada e resposta, não para passagem de serviço. cionado, isto porque o alcance das frequências era limitado (onda Só no campo das comunicações visuais o morse parece ter, terrestre). Os sistemas eram manuais e dependia-se da perícia e ainda, algum futuro, por proporcionar uma alternativa fiável e eficácia dos operadores. A sua concepção primária foi para as dirigida (com poucas probabilidades de intercepção) aos circuitos comunicações navio-navio, apesar das estações costeiras abertas à tácticos, nomeadamente nas situações tácticas que impliquem o correspondência pública terem de manter escuta contínua às fre- recurso ao silêncio rádio. No entanto, mesmo aqui a tendência quências acima referidas durante o seu horário de serviço. será para a sua gradual substituição por sistemas electro-ópticos Em 1979, a Organização Marítima Internacional, considerando a na banda dos infra-vermelhos, com equipamentos terminais de influência dos arranjos existentes, decidiu implementar um novo codificação e descodificação automática, o que aumenta conside- sistema para as comunicações marítimas de Socorro e Segurança, ravelmente a velocidade de passagem de informação, a confiança de âmbito Global, automático, desenhado primariamente para e a segurança (ainda menores probabilidades de intercepção por comunicações navio-terra e assente numa combinação de serviços elementos não-amigos), tornando mínima a intervenção humana radio terrestres e satélite onde os requisitos de equipamentos fos- no processo. sem em função das áreas onde Após um longo historial de múltiplos e valiosos serviços, os navios navegassem. parece ter chegado, finalmente, a altura do código morse sair de Assim, surge o Sistema cena e ocupar, definitivamente, o seu importante lugar na Mundial de Socorro e Segu- História das Telecomunicações.  rança Marítima (SMSSM), designação portuguesa atribuí- Félix Marques CTEN da ao Global Maritime Distress and Safety System (GMDSS). A data de implementação deste Bibliografia “Evolução das Técnicas de Telecomunicação”, sistema, que foi concebido para Julio Dal Poz, (www.del.ufrj.br) proporcionar um método cre- dível e global para as comuni- “As comunicações navais e a TSF na Armada”, cações de Socorro e Segurança VALM Moura da Fonseca, 1988, Edições Culturais da Marinha Marítimas, foi apontada para “GMDSS”, 1 de Fevereiro de 1999. As comunicações via satélite são uma CTEN Fonseca Ribeiro, 1TEN Fialho de Jesus, 1TEN Costa Cabral, Anais do Facilmente se conclui que a componente fundamental do GMDSS Clube Militar Naval, Jul-Set 1998

REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 13 AA DescobertaDescoberta dada TerraTerra NovaNova

gesta dos Descobrimentos Portu- disso, as lendas antigas que falam de terras hoje já não pode ser encarado da mesma gueses foi comemorada recente- magníficas e ilhas encantadas situadas para forma; e o outro é o de não partir de um A mente, passados que foram quinhen- essas bandas são suficientemente numerosas conceito claro do que é o “descobrimento tos anos sobre os principais eventos, e é para terem excitado a mente dos mari- geográfico”. No primeiro caso, acaba por se fácil reparar que têm uma vertente predomi- nheiros portugueses. seleccionar os documentos de forma nante no que foi a exploração da costa Mas então, porque razão não nos errónea e alinhar a argumentação com um africana, na busca de uma passagem para a chegaram tão notáveis relatos dessas via- critério viciado; ignora-se o contexto dos Índia dobrando a África e na descoberta do gens à procura do que está para lá do infini- acontecimentos e acaba por não se perce- Brasil. Tudo o que diga respeito a viagens to onde o Sol se põe?... Deve haver múlti- ber o que é que foi feito, como e porquê. E, para ocidente, fossem quais fossem os seus plas razões para isso, e a mais simples delas no segundo caso confunde-se o movimento objectivos, a sua imagem é apagada pelo será, talvez, a de que aquilo que se europeu dos século XV e XVI - e que levou feito de Colombo, celebrado a partir de procurou a ocidente não foi encontrado e a ao conhecimento do Mundo com as dimen- 1992 e tendo como principal cenário a vi- maioria das viagens resultaram numa frus- sões que tem de facto - com qualquer viagem esporádica que pode ter chegado a qualquer lado ou a parte nenhuma, porque foi efectuada à sorte, sem um processo de navegação consistente. Descobrir é levantar o véu que encobre o conhecimento, e pres- supõe uma possibilidade de revelar aos ou- tros, com uma explicação dentro das nor- mas da técnica conhecida, como repetir a experiência feita. Dizer que o navio que saiu de Lisboa, de Sevilha ou de Bristol, e alcançou terra num sítio que ninguém sabia dizer onde, pode ter descoberto a América, é apenas a formulação de uma hipótese e hipóteses podemos sempre formular muitas. Pode ter chegado à América, como pode ter chegado a muitos outros lados, mas não podemos dizer que descobriu fosse o que fosse, porque ninguém faz a mais pequena ideia de qual foi o caminho seguido, nem de que terra foi avistada. Está descoberto aquilo para onde se navegou com uma A Terra Nova no planisfério portugês anónimo (Cantino) - 1502. regra própria (nalguns casos pode apenas ter sido um rumo controlado), podendo zinha Espanha e a América. De facto, as tração que não precisava de ser registada. explicar-se a outros como lá voltar. comemorações históricas são o espelho de Todavia, o silêncio não é absoluto. De todo Sabe-se hoje com segurança que nos uma maneira de sentir e têm a ver com um o século XV chegaram registos esparsos de séculos X e XI os vikings chegaram à posicionamento político próprio que, neste viagens em busca das lendárias ilhas de S. Groenlândia e à Terra Nova, onde, aliás, caso, dá relevo a determinados feitos em Brandão, das Sete Cidades, da Antília e de existem numerosos vestígios arqueológi- detrimento de outros. No jogo da política muitas outras imaginárias, acerca das quais cos da sua presença. O que não é muito internacional é preciso escolher os corre- chegou a haver doações escritas, medidas claro é como desapareceram as imensas dores em que se navega, e a História administrativas da Coroa, concessão de colónias de descendentes destes aven- fornece algumas indicações para essa esco- honras e outros benefícios, e tudo isto sem tureiros e como se perdeu este caminho lha, permitindo pensar o que é relevante, que as mesmas alguma vez aparecessem. marítimo ocidental. O que parece evi- tem impacte e deve ser exaltado, em detri- No entanto estes registos esparsos mostram dente é que quando chegamos ao século mento daquilo que é menos exuberante e bem como a ideia não foi, de todo, vazia. XV apenas restam lendas de viagens para pode ser até apagado por feitos mais espec- Pela certa se procuraram terras na direcção ocidente, cujas ilhas e terras são, por taculares levados a cabo por outros. E penso do ocidente e é muito provável que alguém vezes, assimiladas ao paraíso terrestre. que é este o caso das viagens para ocidente, as tenha encontrado antes dos chamados uma empresa que seria imediatamente “descobrimentos oficiais”, mas esta hipótese “Esta terra he descober per man- abafada pelas viagens de Colombo efectua- tem suscitado uma abordagem que não me dado do muy alto exçelentissimo das ao serviço dos reis de Espanha. Contudo parece a mais correcta no sentido estrito da príncipe Rey don manuell Rey de não é possível imaginar que este povo vira- investigação histórica ou na elaboração do portuguall a qual descobrio Gaspar do para o Atlântico Ocidental, pode ter le- discurso coerente sobre o passado, que corte Real cavalleiro da casa do dito vado a cabo uma gesta que começou na deve ser o objectivo do historiador. rey, o quall quãdo descobrio man- segunda década do século XV, e que Normalmente cometem-se aqui dois dou hÙ naujo com çertos omes e chegou à Índia sem nunca ter reparado que erros: um deles é o de se perderem energias molheres que achou na dita terra e havia um caminho para oeste a explorar. O inúteis com o simples propósito de chegar a elle ficou com outro naujo e nunca pescador, que olha o vermelho do hori- uma prioridade de descobrimento, objectivo mais veo e crese que he perdido e zonte, não terá sentido a tentação de ir atrás que foi muito importante no século XIX, aqui ha muitos mastos”. desse Sol?... Sentiu, sem dúvida. E, além para as reivindicações coloniais, mas que

14 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA de outras, com o mesmo senti- para ocidente (“deixando a estrela polar à do, que se diz terem sido efectua- sua direita”), procurando alcançar “as das nos anos oitenta e noventa partes de leste”, ou seja, as partes da Ásia. do mesmo século. É claro que O último documento diz ainda que “se essas não podem ser conside- apanhou tanto peixe que este reino radas, mas vale a pena falar nas (Inglaterra) nunca mais vai precisar da de Cabotto. Trata-se de um co- Islândia, onde se faz um comércio de merciante nascido em Génova que peixe a que chamam stoc-fish (bacalhau)” adquiriu cidadania de Veneza e – e mais à frente – “Mas Messer Zoane que pediu ao rei Henrique VII de (Giovanni Cabotto) tem em mente algo Inglaterra para ir à procura de mais importante, porque pretende ir ao uma passagem a ocidente, que o longo da costa, a partir do lugar em que levasse até à Ásia das especiarias chegou, cada vez mais para leste (partes e do comércio rico das sedas, de leste ou Ásia), até alcançar uma ilha a porcelanas e jóias, produtos que, que chama Cipango, situada na região nessa altura, chegavam à Europa equinocial, de onde ele acredita que pelo Médio Oriente e Medi- provêm todas as especiarias do mundo, terrâneo. E é importante que se tal como as jóias (...)”. E é aqui que bate o observe esta situação, para que ponto: Cabotto andava à procura de uma se entenda o que ele pretendia e passagem para o “Oriente” e não a o que aliciou os mercadores de encontrou, portanto a sua expedição de Bristol (porto donde partiu) ou o 1497 apenas foi uma esperança do que rei de Inglaterra. Os ingleses, poderia vir a ser feito no futuro, na busca naquela altura faziam viagens do comércio rico. Quando chegou a anuais para a Islândia, onde se Inglaterra, o seu objectivo foi encorajar o dedicavam à pesca do bacalhau, rei a continuar a apoiá-lo, deixando-o que secavam a bordo, por isso residir em Bristol, dando-lhe uma pensão tinham um conhecimento para a família viver e financiando o arma- razoável daqueles mares gela- mento de navios. No final deste ano de A Terra Nova no planisfério de Pedro Reinel - 1504. dos. Saberiam como ir e como 1497 ou princípios de 1498, um tal John voltar, tinham a noção dos prin- Day escreve a um “Grande Almirante” de Mas é nesta amálgama de imagens fantás- cipais perigos, da época das tormentas e Castela (será Colombo?) relatando-lhe ticas que nasce o sonho de alcançar dos abrigos possíveis. Só não “algo” para além do Atlântico e que se sabiam nada de mercadorias forja a ideia de poder chegar às partes da orientais, mas isso era o conhe- Ásia, navegando para ocidente. Era esse o cimento dos venezianos que as projecto de Colombo, como sabemos, compravam em Alexandria e as apesar de que cedo se teve a noção de distribuíam pela Europa. Jun- que as ilhas descobertas não eram taram-se, pois, dois saberes Cipango (Japão) ou o Cataio (China). Os complementares que tornaram portugueses não se mostraram muito possíveis as viagens de Cabotto. atraídos por esta solução de busca do Deve ter apresentado o seu “Oriente” e D. João II jogou definitiva- projecto em Inglaterra em finais mente os seus trunfos na rota do Cabo de 1495 ou princípios de 96, Bojador que viria a permitir chegar à porque em Janeiro deste último Índia. Mas não quer dizer que não tenha ano, o embaixador espanhol em havido navegadores nacionais a explorar Londres escrevia aos Reis o Atlântico, para lá dos Açores. Acontece, Católicos, dando-lhes conta de no entanto, que não ficaram registos con- que havia um italiano que pre- cretos de por onde andaram exactamente. tendia convencer o rei Henrique João Vogado requereu a D. Afonso V, em VII a apoiar uma viagem com o 1462, os direitos sobre umas ilhas que mesmo objectivo das que ti- tinha avistado numa viagem anterior (a nham sido efectuadas por que chamou Lobo e Caprária) e que pre- Colombo às “Índias”. Em Março tendia procurar de novo e povoar. Mas é concedido alvará pelo sobera- essas ilhas nunca apareceram. E muitos no inglês e, datados do ano mais casos há como este, em que o Rei seguinte, surgem três documen- concedeu direitos de ilhas ou terra firme, tos que falam da expedição de sobre a qual ninguém tomou posse Cabotto. São elas a carta de porque não estavam “descobertas”. Lorenzo Pasqualigo para seus E não foram só os portugueses ou es- irmãos em Veneza, um pequeno panhóis a perseguir estes objectivos. despacho, não identificado, para Sabemos com segurança que, em 1497, o Duque de Milão e uma carta Lopo Homem - Reinéis - 1519. É de notar a toponimia um comerciante italiano, de nome com este mesmo destinatário, portuguesa que veio até à actualidade. Giovanni Cabotto, conseguiu armar um enviada por Raimondo Soncino, pequeno navio com 18 homens e viajar seu embaixador em Inglaterra. Do con- alguns pormenores da viagem efectuada e na direcção do sol-posto até encontrar junto das três é possível deduzir que a fornecendo-lhe um esboço das terras terra. Esta viagem é comprovada por docu- viagem demorou três meses, passou pelo descobertas a ocidente (a que chama de mentos coevos, mas segue-se a uma série sul da Irlanda e seguiu para norte e depois Ilha das Sete Cidades, à semelhança da

REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 15 lianos que estavam em Lisboa como embaixadores, respectivamente, do Duque de Ferrara e da República de Veneza, escrevem cartas aos seus senhores com informações acerca das viagens de Gaspar Corte Real. Eram eles Alberto Cantino – aquele que viria a comprar o célebre pla- nisfério português de 1502, existente em Modena – e Pietro Pasqualiguo. Talvez nenhum deles tivesse uma informação per- feita sobre as viagens que descrevem, mas fornecem algumas informações que impor- ta aproveitar. São, pelos menos, unânimes em que os navios tinham encontrado um mar pejado de icebergues e que, no caminho do norte a superfície estava gelada e não permitiu continuar. Navegando depois a noroeste, e dando a volta para leste, encontrou terra com muitas árvores altas, próprias para construir mastros de navios. Pasqualigo diz mesmo que se devia tratar Planisfério Português anónimo - 1560. de terra firme e que essa era a segunda de duas viagens, uma efectuada em 1500 e velha lenda). Infelizmente esse esboço 1508. Não temos nenhuma descrição outra em 1501, facto que vem em consonân- nunca foi encontrado e não existem concreta das suas viagens (que podem ter cia com a data da patente de D. Manuel. dados suficientemente credíveis que per- sido três), mas o seu nome aparece ligado Entretanto, nessa segunda viagem, Gaspar mitam localizar com exactidão o local de à tal costa do actual Canadá desde o Corte Real mandou regressar dois dos desembarque. Por isso se tem especulado princípio do século XVI. navios que foram com ele e ficou por lá tanto sobre esse assunto, reivindicando-se Contudo, as mais notáveis viagens feitas para continuar os seus reconhecimentos, para esta viagem a primazia da descober- até aos mares gelados do Atlântico mas nunca mais ninguém soube, fosse o ta da Terra Nova, do Labrador, da Nova Noroeste, no final do século Escócia, do Maine e, talvez, de mais XV e princípio do XVI, foram sítios, conforme o sentido que se pre- as dos irmãos Corte Real. Esta tendeu dar a certos festejos políticos. família esteve ligada à capita- Contudo, diz-nos o rigor da investigação nia de Angra do Heroísmo, na histórica que Cabotto alcançou terra num Ilha Terceira, com interesses no local até hoje desconhecido, sendo absur- Algarve (alcaidaria de Tavira) e do considerá-lo o descobridor de qual- no Norte de África, manifes- quer uma destas terras. tando uma particular activi- No ano seguinte, saiu com cinco navios dade ligada ao mar e ao e, os que regressaram a Bristol informaram comércio ultramarino. Alguns que tinha decidido continuar naqueles historiadores modernos che- mares à procura do tal “Oriente” que se garam a aventar a hipótese de propusera encontrar. Não mais houve notí- que um dos primeiros explo- cias dele, e não é difícil supor que deve ter radores da Terra Nova, tenha sido traído pelas condições meteorológicas sido João Vaz Corte Real - pai daquela parte do Atlântico, como viria a dos que, de facto, o fizeram acontecer a tantos outros, no futuro. em 1500, 1501 e 1502 – mas De entre todos os registos de viagens trata-se de uma hipótese sem efectuadas por portugueses ao noroeste do qualquer fundamento, resul- Atlântico, deve realçar-se o de João tante de um equívoco de Fernandes Lavrador. Jaime Cortesão Gaspar Frutuoso, escritor defendeu que era a ele que se devia a açoriano de meados do século descoberta da costa do Canadá com o XVI. Mas, em 12 de Maio de nome de Labrador e coloca as suas viagens 1500, D. Manuel passava uma no tempo de D. João II – o que tem sido carta de doação a Gaspar seguido por outros historiadores – mas a Corte Real (filho mais novo de busca da verdade impõe que se diga que a João Vaz), com direitos de juro autorização para “descobrir ilhas e terra e herdade sobre ilhas e terra firme” (nos termos que foram vulgares firme que viesse a descobrir. naquela época), data de 28 de Outubro de Essa carta refere que no pas- A Terra Nova segundo Luís Teixeira - 1600. 1499 e é concedida por D Manuel. Aliás, sado, já o mesmo navegador em 1501, obtém do rei de Inglaterra um tinha andado “à sua custa, com navios e que fosse, dele. No ano seguinte (1502), alvará com direitos de exploração de terras homens”, na procura de terras, com grande seu irmão Miguel pediu ao rei que lhe con- descobertas, sabendo-se por um outro “trabalho e despesa de sua fazenda e peri- cedesse os direitos concedidos a Gaspar, e documento de 1506 (escrito por Pêro de go de sua pessoa”. Mas isto era o texto nor- partiu à sua procura. Também não regres- Barcelos) que andou por três anos à mal das doações de terras ocidentais que sou, mas regressaram os seus compa- descoberta de terras (a norte), facto que é nada queriam dizer da sua existência real. nheiros, informando de como tinham per- confirmado numa carta de privilégios de Entretanto, em Outubro de 1501, dois ita- corrido a costa e como tudo se processara.

16 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA Aquele mar engolira mais dois navios, meira vez – a Terra Nova, curiosamente Miguel Corte Real, o seu irmão mais velho, como viria a engolir muitos mais, até ao puxada para leste para que possa ficar Vasqueanes pediu, também, ao rei para ir século XX. Pelas descrições que são feitas dentro do hemisfério português pós procurar os irmãos. Desta vez, D. Manuel pelos italianos (e são coerentes) após a Tordesilhas. Por sobre esta representação não autorizou e chamou a si essa tarefa saída de Lisboa, foram até ao Labrador ou está um listel com os seguintes dizeres: que não teve resultados. Mas em 1504 já estreito de Davis, encontrando primeiro os “Esta terra he descober per mandado do tinha lá navios à pesca e em 1506 reivindi- icebergues e depois o mar gelado. Só muy alto exçelentissimo príncipe Rey don cou para si, o dízimo do pescado da Terra regressando para o sul e depois para leste, manuell Rey de portuguall a qual desco- Nova. No reinado de D. Sebastião foi esta- podem alcançar terra e percorrê-la na brio Gaspar corte Real cavalleiro da casa belecida aí uma capitania própria e em direcção da Terra Nova que deve ter avis- do dito rey, o quall quãdo descobrio man- 1574 o cargo de capitão viria a ser tado logo em 1500, para ser reconhecida dou hÙ naujo com çertos omes e mo- entregue ao herdeiro dos Corte Reais. O com mais pormenor em 1501 (sobre que lheres que achou na dita terra e elle ficou bacalhau que os ingleses pescavam na se cumprem agora quinhentos anos). Mas com outro naujo e nunca mais veo e Islândia era seco ao vento gelado daquelas há um pormenor que importa salientar: crese que he perdido e aqui ha muitos paragens e trazido para terra onde era em nenhuma circunstância se fala na mastos”. Não podem restar dúvidas de que comercializado. De facto, era um produto busca de qualquer passagem para a Ásia estava, de facto, descoberta a Terra Nova. com enorme importância porque as regras ou para o Oriente. do cristianismo impu- Aliás, deve reparar-se nham a abstinência du- que em 1500, quando rante quase 150 dias da partida (fosse a por ano e quem não vivia primeira ou não) de perto da costa tinha Gaspar, já Vasco da sérios problemas para Gama tinha regressado se abastecer de pesca- da Índia e Cabral já do. Restava-lhe o recur- tinha partido para a se- so do peixe salgado ou gunda viagem à Índia, seco e o bacalhau tinha sendo completamente grande vantagem por- clara a estratégia por- que se conservava me- tuguesa de alcançar as lhor que o arenque ou o especiarias. Além disso, atum e era muito mais o Tratado de Torde- saboroso. Mas a melhor silhas impedia comple- forma de o conservar tamente que se pen- era salgando-o primeiro sasse em caminhar em e aí os portugueses direcção ao ocidente, levavam grande van- porque essa tinha sido tagem por causa da a opção espanhola. Por qualidade e abundância isso não faz qualquer do seu sal. De forma sentido que se imagine que as bases da indús- Corte Real a perseguir o tria estavam lançadas, mesmo objectivo de desde o momento em Colombo ou de Cabotto. que a região estava Gaspar Corte Real queria localizada e que se jurisdição sobre terras a conheciam as con- descobrir, para as explo- dições daquele mar. rar de qualquer forma e Um roteiro português há sinais posteriores que escrito no final do sécu- nos levam a supor o que lo XVII (publicado em queria ele explorar. 1709) por Manuel Mas o mais notável complemento Poderão dizer que já alguém lá tinha Pimentel, fala como em tempos saíam dos destas viagens é o planisfério português chegado?... Pois poderão. Muita gente lá portos de Aveiro, de Viana e outros, “mais de 1502, que já aqui referimos a propósito pode ter chegado antes. Portugueses, ingle- de 100 caravelas” para pescar bacalhau. do embaixador Alberto Cantino. Efecti- ses, espanhóis, dinamarqueses ou, até ou- Esta actividade quase desapareceu com o vamente foi ele que o comprou em tros. Mas o mais antigo documento que o reordenamento do poder naval no Lisboa, em circunstâncias que não é pos- prova sem dúvidas é este mapa. Atlântico ocorrido no final do século, mas sível saber, mas conhecemos um bilhete Procurando tirar uma conclusão acerca parece ter sido a principal motivação das endereçado ao seu senhor, datado de de todas as viagens efectuadas àquela viagens do princípio desse século. Não é Novembro de 1502, onde lhe dá conta região acho que o mais importante é perce- de admirar que assim seja, porque sabemos que o mapa vai a caminho e que é magní- ber o contexto global em que se inserem: como a disputa por este peixe, foi razão de fico. Deve ter sido copiado de um padrão Cabotto pela certa que encontrou terra, guerras entre franceses e ingleses e como português onde se registavam todas as mas andava à procura de uma passagem; esteve ligado à própria revolta dos colonos informações geográficas que vinham Os Corte Reais queriam achar terra e queri- que culminou na independência dos chegando a Lisboa. E, deve salientar-se am tomar conta dele, para aí explorar uma Estados Unidos da América.  que, algumas deles devem ter sido bem riqueza que já tinha sido vista por outros, recentes, pois são posteriores à chegada mas que não despertara grandes interesses. de João da Nova, em Setembro de 1502 Refiro-me à pesca do bacalhau que se (como é o caso da ilha de Santa Helena, transformou numa indústria e que teve uma no Atlântico Sul). Neste planisfério, lá está importância fulcral durante o século XVI J. Semedo de Matos colocada – aí, efectivamente, pela pri- português. Depois do desaparecimento de CFR FZ

REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 17 DiaDia dada MarinhaMarinha 20012001 -- CASCAISCASCAIS

para aquele mar onde passaram as velas que foram à Índia, ao Brasil, a Africa, a todo o lado onde houve um bocadinho de Portugal ou onde os portugueses quiseram chegar com o seu sonho marítimo.

A CERIMÓNIA MILITAR

A cerimónia militar foi, naturalmente, o momento mais alto de todas as comemo- rações, pela particular solenidade e significa- do que assume. Teve lugar na “Esplanada dos Pescadores” e foi presidida pelo Navios fundeados na Baía de Cascais. Ministro da Defesa Nacional, Doutor Júlio de Lemos de Castro Caldas. Contou com a a praia do Restelo os marinheiros que rondem pela costa, como serão eles que presença de altas individualidades civis e correm ao guincho para içar o ferro primeiro têm de se defender, caso sejam a militares de que é importante destacar o Ne zarpar para a Índia. Outros sobem presa escolhida por tão ruim gente. Em Presidente da Câmara de Cascais, o General às vergas e preparam o pano que há-de ser Cascais se fez uma fortaleza e para ali Chefe do Estado Maior General das Forças caçado quando o navio virar e Armadas, o Chefe da Marinha tomar o caminho da barra. do Brasil, Almirante de Esqua- Enquanto o ferro está unhado, dra Sérgio Gitirana Florêncio a corrente de vazante faz com Chagastelles e o embaixador que se mantenham aproados a Synésio Sampaio Góis Filho, Lisboa, mas logo que se solte, é representante do Brasil. preciso ter governo para As forças em parada eram guinar e seguir o seu caminho, constituídas por um batalhão levado pela maré, empurrado comandado pelo Capitão-de- pela brisa de noroeste que -Fragata FZ Manuel Ferreira sopra na manhã clara de Abril. de Campos, e constituído por Vão para a Índia aqueles uma companhia da Escola homens! Dentro em breve será Naval, uma do Grupo 2 de só mar e vento à sua volta, mas Escolas da Armada e outra do antes de entrarem nessa imen- Corpo de Fuzileiros. Integra- sa solidão, cresce-lhes a ram ainda a formatura o ansiedade com que olham os bloco de 16 estandartes nacio- últimos pedaços de terra por- Autoridades que presidiram à cerimónia militar. nais e a Banda da Armada, tuguesa. Se rumaram à barra dirigida pelo Capitão-de- sul, têm uma saída mais franca, com pano lançavam o olhar mais angustiante aqueles -Fragata Músico Araújo Pereira. Ao folgado, mas desaparecem-lhes as casas de que gritavam de cima do cesto da gávea, ou mesmo tempo que decorreu a cerimónia Lisboa e dentro em breve os últimos vestí- que largavam pano dependurados nas ver- militar, estavam fundeados na baía de gios da Pátria são uns areais distantes sem gas, quando saíam em longa viagem. Cascais os N.E. “Sagres”, NRP “Corte vivalma. Se foram pela barra norte (o que Último reduto do olhar do marinheiro, per- Real”, NRP “Comandante Hermenegildo seria muito mais raro, porque obrigava a dido depois na imensidão, ali se deposi- Capelo”, NRP “Augusto de Castilho” e o uma bolina apertada, se calhar com bordos tavam as esperanças da vinda, com uma NRP “General Pereira d’Eça” que efectuou difíceis) podem olhar de perto os carreiros última lágrima já apressada pelo ritmo da as salvas da ordenança, em honra do por onde os almocreves se aproximam de faina. A saudade é só para depois; para Ministro da Defesa Nacional. Algés e de Belém, ficam com uma recor- quando puder chegar à dação última de casa, mais impressionante borda, com calma e que os outros. Mas, uns ou outros lá vão, a nostalgia, e já só enxer- caminho do mar desconhecido, para lá do gar o infinito azul do qual está o espaço do sonho português, oceano. Em Cascais envolto na bruma e castigado pela surriada fica o último soluço do de longas noites de vendaval. Uns e outros marinheiro da Índia, e lançaram o seu último olhar a terra e viram é com inteira justiça o monte sobranceiro àquela pequena praia que a Marinha Portu- de pescadores, onde se arrumam casas for- guesa decide ali come- mando círculos à volta da praia. É ali morar o seu dia de Cascais. Gente de mar que ensaia uma pesca festa, recordando com local com pequenas embarcações, e que aquelas gentes da deixa os seus barcos amarrados à muralha borda d’água tudo o da cidadela. São eles os primeiros a avistar o que é para recordar perigo e a dar sinal de piratas e flibusteiros nestas alturas, virado A Banda da Armada inicia o desfile.

18 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA ram à Índia começaram a construir-se vários anos antes, e qualquer esquadra que saía da praia do Restelo obrigava a que os prepara- tivos fossem efectuados com minúcia e atenção, com uma enorme antecedência. Uma marinha não se improvisa porque “quem vai para o mar, avia-se em terra”; um navio demora anos a construir-se e precisa de pessoal preparado para o manobrar; além disso, degrada-se, deixa de ser operacional e a sua manutenção passa a ser caríssima. Por isso – como disse o Almirante Matias – “não Condecoração do Comandante da Marinha do Brasil. Condecoração da AORN. se pode perder mais tempo na sua reno- vação” que já foi “perigosamente adiada”. Após a chegada do Ministro da Defesa (STANAVFORLAND) e participação na A cerimónia prosseguiu com a home- Nacional, foi passada revista às forças em recentemente activada EUROMARFOR nagem aos militares, militarizados e civis da parada e seguiu-se uma alocução proferida com a fragata “Sacadura Cabral”. Mas, para Marinha, mortos ao serviço da Pátria, a que pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da além disso, “desenvolveu-se, na linha de se seguiu a condecoração de diversas enti- Armada. Na ocasião o Almirante Vieira uma tradição que remonta à origem da dades. Acentua-se a atribuição da Medalha Matias salientou a forma como a Marinha própria Marinha, uma intensa actividade de Naval de 1ª classe ao Comandante da esteve presente em numerosas missões de missões de paz no nosso território e nas Marinha do Brasil, Almirante de Esquadra, vulto, em cujo desempenho, sem qualquer águas de respon- imodéstia, é possível dizer que o país ficou sabilidade nacio- surpreendido de forma positiva. Sob o nal “(...) conti- ponto de vista estritamente militar, foram nuamos, assim, a efectuados vários exercícios nacionais e salvar vidas no internacionais, cumpridas as missões de mar e na zona ri- fuzileiros na Bósnia e em Timor, assumido beirinha, com a por um Comodoro português o comando utilização coorde- da Força Naval Permanente do Atlântico nada das estações radio-navais, dos nossos navios mi- litares e dos meios do sistema de au- toridade maríti- ma”. Porém, o as- pecto mais impor- tante do discurso do Almirante CEMA foi virado para o futuro onde deu relevo ao esforço de reorganização interna, às dificul- dades de pessoal e à renovação e funciona- mento da esquadra. É, sem sombra de dúvi- da um conjunto de problemas que afectam o funcionamento da Marinha e que importa entender com toda a clareza, sob pena de chegar a situações de “zero naval” que, noutras alturas, foram dramáticos para o país. É costume dizer-se que uma marinha não se improvisa, mas raramente se percebe O Almirante CEMA entrega a Comenda de Santiago a real dimensão desta expressão no contexto da Espada ao Comandante Sousa Machado. do século XXI. Aliás, nesta época em que se comemoraram quinhentos anos sobre os mais des- Exibição da Banda da Armada. tacados Descobri- mentos Portugue- Sérgio Gitirana Florêncio Chagasteles, e a ses, várias vezes se Medalha Naval Vasco da Gama ao embai- salienta como os xador brasileiro, Synesio Sampaio Goês marinheiros de Filho. A Associação dos Oficiais da Reserva outros tempos ti- Naval (AORN) foi, também, condecorada nham necessidade com a Medalha Naval Vasco da Gama, de planear as suas dando relevo à acção que tem levado a cabo viagens, abastecen- em prol da promoção da Marinha, concor- do-se para perío- rendo para a eficiência no cumprimento das dos longos de esta- suas missões. Por fim, as Forças em parada dia no mar. Os na- desfilaram em continência perante o vios que, pela pri- Ministro da Defesa Nacional, encerrando a Exposição de Pintura. meira vez, chega- cerimónia militar.

REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 19 Inauguração da Exposição de Actividades da Marinha.

premiar feitos rele- Como vem sendo habitual, a actuação da vantes de natureza nossa banda, dirigida pelo Capitão-de- cultural, literária e -Fragata Músico Araújo Pereira, foi do artística que – como agrado de todos os assistentes que a o Almirante CEMA aplaudiram demoradamente. Do pro- teve o ensejo de grama faziam parte obras notáveis de salientar – foram Korsakov, Leonard Berntein, Sibelius, J. para o Comandante Herman, R. Smith e dos Queen. Uma espe- Sousa Machado a cial referência merecem as Canções do sua segunda activi- Marinheiro e do Mar, obra de R. Smith, dade, mais perene e encomendada por John Pastin e dedicada intensa após a sua à Marinha dos Estados Unidos. passagem à reserva O dia 20 começou com uma missa em e reforma, e assu- sufrágio pelos oficiais, sargentos, praças, mindo um nível e militarizados e civis da Marinha, mortos valor que muito ao serviço da Pátria, celebrada às 09h30 orgulha a Marinha. pelo Arcebispo Militar do Brasil, Dom Na mesma altura foi Geraldo do Espírito Santo Ávila, na Igreja lançado o livro de Paroquial de Nossa Senhora da Assunção Missa na Matriz de Cascais. poesia e fotografia, e Ressurreição de Cristo (Igreja Matriz de intitulado “Vocação Cascais). Depois, teve lugar a Cerimónia OS OUTROS EVENTOS Marítima”, da autoria dos Coroneis Conde Militar. No farol da Guia, um conjunto de Falcão e José Geraldo. associações de antigos marinheiros, se- Tradicionalmente as comemorações do No dia 19, inaugurou-se a Exposição de guindo as iniciativas levadas a cabo pelo Dia da Marinha são feitas em comunhão Actividades da Marinha, que foi apresen- Clube Escola Amizade, noutros anos, orga- com a população do local nizou um almoço de con- escolhido, transformando-se vívio que, mais tarde, rece- numa festa popular que beu a visita do almirante engloba eventos diversos, de CEMA. natureza religiosa, cultural e As festividades estendem- recreativa. São uma forma de -se para além do Dia da Portugal conhecer um pouco Marinha, ocorrendo embar- da sua Marinha, saber o que ques e passeios com grupos ela faz e contactar com os de jovens, a bordo de Uni- seus marinheiros. Este ano a dades Navais, com provas abertura dos festejos foi feita náuticas de vela ligeira e de com a inauguração, pelo cruzeiro (cento e cinquenta Almirante Chefe do Estado- embarcações) e com outros -Maior da Armada, de uma concertos da Banda da Exposição de Pintura, no Mu- Armada que terão lugar na seu de Marinha. Na ocasião o Malveira da Serra (Praça Almirante Matias, em repre- Central), no dia 26 de Maio, sentação do Presidente da e na Praia do Tamariz, no dia 2 de Junho (com fogo de República, condecorou com o Espaço da Revista da Armada na Exposição. grau de comendador da artifício).  Ordem de Santiago da Espada, o Capitão- tada no Museu do Mar em Cascais. À noite, -de-Mar-e-Guerra reformado Raul de Sousa teve lugar na Sala Teatro do Casino do Es- J. Semedo de Matos Machado. Esta condecoração destina-se a toril um concerto pela Banda da Armada. CFR FZ

20 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA A MARINHA DE D. MANUEL (15) PedroPedro ÁlvaresÁlvares CabralCabral

edro Álvares Cabral nasceu Vasco da Gama que diz a Cabral por alturas de 1467 ou 68, que deve sair de Cabo Verde e Pprovavelmente, em Belmonte tomar o rumo do sul até que o ou nas suas imediações, uma vez vento lhe sirva; e quando for escas- que a família por aí residia. Seu pai, so (quando começar a soprar do Fernão Cabral, era alcaide dessa lado da proa) devem “hyr na volta vila, com residência no castelo e o do mar até meterem o cabo de cargo vinha dos seus mais remotos Bõoa Esperança em leste franco”; antepassados. Mas era um filho ou seja, devem seguir numa volta segundo que, certamente, teve de larga, até alcançar a latitude do procurar fortuna fora dos domínios Cabo da Boa Esperança. Ou seja, da família, talvez pelas guerras do Vasco da Gama já sabia que o me- Norte de África (onde passavam lhor caminho para o Cabo era com todos os fidalgos mancebos) e uma “volta do mar” e se o sabia no depois no comando de uma expe- princípio de 1500, era porque o dição à Índia. Como dissemos, a tinha feito na sua viagem à Índia. sua missão devia ter uma compo- Não restam dúvidas. Mais até: ele nente diplomática e comercial – sabia que naquela altura do ano – procurando ainda obter a atenção na altura em que Cabral ia passar o dos potentados do Malabar (no- Equador – era preciso seguir para meadamente Calecut) – que, simul- sul depois de Cabo Verde, coisa taneamente, deveria impressionar que não poderá ter feito quando pela força e capacidade militar. É fez a viagem em 1497, porque lá por isso que, a 8 de Março de 1500, passou entre fins de Julho e princí- larga de Lisboa com 13 navios – pios de Agosto. Digamos que uma esquadra impressionante para Vasco da Gama, para fazer a a época – que deveriam navegar recomendação que fez a Cabral durante meses até alcançarem o seu conhecia bem o regime de ventos destino. Não era, propriamente, ir entre Santiago e o Cabo da Boa até Ceuta, ou ao Norte da Europa. Esperança; e, se tinha chegado da Com ele iam 1200 a 1300 homens Índia em Setembro de 1499, só que necessitavam de água e abas- pode ter aprendido algo sobre esse tecimentos. Qualquer coisa como Armada de Cabral. assunto antes de 1497. Ou seja, à uma ração mensal de 31 toneladas data da partida da primeira via- de biscoito, 14 toneladas de carne, 65 mil seguir e três por tirar moneta (acrescento da gem para a Índia, já era conhecido o regime litros de vinho, etc., levando a que alguns vela usada quando o tempo o permite) e de ventos do Atlântico Sul que terá sido destes produtos tenham que ser multiplica- quatro por amaynar e nenhÙu nam virara estudado depois da viagem de Bartolomeu dos várias vezes, uma vez que não podem nem amaynara nem tirara moneta sem que Dias, em 1487/88. ser adquiridos em nenhum ponto do per- primeiro o capitam mor faça os ditos fogos Partiu, pois, Pedro Álvares Cabral a 8 de curso. Acrescentando-se ainda todos os e todos tenham respondido”. Na verdade, Março de 1500 (Domingo), com o cerimo- sobressalentes do aparelho e outro equipa- os “sinais tácticos” não foram inventados nial normal para a circunstância: missa em mento para reparações de diversa ordem. no século XX. Mais à frente, diz: “(...) depois Santa Maria de Belém, procissão até à praia, Temos hoje conhecimento de 14 docu- que em bõoa ora daqui partirem faram seu o Tejo pejado de embarcações, a esquadra mentos coevos e directamente relacionados caminho direito a ylha de Santiago (Cabo fundeada ao largo e o povo de Lisboa a des- com a viagem de Cabral, e é interessante Verde) e se ao tenpo que hy chegarem pedir-se da sua gente. A julgar pela infor- que um deles é uma página das instruções teverem agoa em abastança pêra quatro mação de Gaspar Correia, escrita algumas dadas por Vasco da Gama, para essa meses nam devem passar na dita ylha nem décadas depois, foi a primeira vez que as viagem. O seu conteúdo permite-nos saber fazer nehÙua demora”. Quer isto dizer que, velas dos navios levaram a Cruz de Cristo muita coisa do conhecimento que os se depois de navegar até Cabo Verde ainda estampada. Seguiram na direcção das navegadores portugueses foram acumulan- houver água para quatro meses de viagem, Canárias e Cabo Verde, sofrendo o primeiro do sobre a navegação, sobre o Oceano não devem parar nesse local, para não revés, com o desaparecimento de um navio Atlântico e todos os meandros das longas perder tempo. No resto da folha, que até na noite do dia 23. Como lhe foi recomen- viagens marítimas. Observemos algumas nós chegou, estão instruções concretas para dado, Cabral não parou no arquipélago, coisas do que diz: “(...) cada vez que um aproveitamento dos ventos dominantes prosseguindo para sul e iniciando a volta ouverem de vyrar fará o capitam mõor na passagem do Equador e na volta a fazer do mar que outras novidades traria ao dous foguos e todos lhe responderam com para alcançar o Cabo da Boa Esperança. E conhecimento português.  outros dous cada hÙu. E depois de asy estas instruções constituem uma prova responderem todos viraram e asy lhe terá incontestável do que se sabia na altura acer- J. Semedo de Matos dado de synal que a hÙu fogo será por ca do regime de ventos do Atlântico Sul. É CFR FZ

REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 21 ExercícioExercício DistexDistex Assistência humanitária a “Elavillage”

ão 0255 do dia 01 de Fevereiro. O reportado pelo navio ao seu comando Pena o helicóptero não estar embarca- NRP “Corte-Real”, navega a 150 mi- operacional, o Comando Naval ordenou do; permitiria recolher imagens da aldeia Slhas ao largo da província de ao NRP “Corte-Real” para proceder de ainda antes da chegada do navio para DOISGRUPOS; o céu está limpo e o mar imediato para ELAVILLAGE a fim de com elas se estabelecer um plano de de patas, pelo través de bombordo a prestar apoio humanitário à população acção. reflexão do luar enobrece o cinzento do da aldeia. O navio fundeia em frente ao cais que costado dando-lhe um tom estanhado; o - Ponte - MCR: as turbinas estão em PO. serve a aldeia às 0645. Os primeiros navio é o único elemento perturbador da - Ponte: recebido. alvores já foram há meia hora atrás, mas quietude da natureza. De repente o silên- - Marinheiro dos Telégrafos - Oficial não se vê vivalma. Os preparativos para cio da ponte é quebrado pela voz do de Quarto: 90 por cento de potência deslocar para a aldeia a os homens da Chefe de Quarto ao Centro de Comuni- para o aparelho propulsor. unidade de desembarque, devidamente cações na conferência 1: - Comandante - Navegador: hora esti- equipados e apetrechados para enfrentar - Ponte - Centro: acabou de ser inter- mada de chegada ao fundeadouro de as circunstâncias esperadas, estão quase ceptada uma comunicação de um rádio ELAVILLAGE 0645. prontos; o Navegador entretanto desem- amador relatando a ocorrência, há dois A actividade de bordo transforma-se. barca na semi-rígida para efectuar um dias, de um forte tremor de terra na Há que preparar todo o material que é levantamento hidrográfico expedito na região, o qual terá provocado a des- necessário levar para terra e distribuí-lo zona do cais e suas aproximações, não truição quase completa da aldeia pis- pelo hangar de acordo com o plano de vá o tremor de terra ter originado alte- catória ELAVILLAGE, registando-se algu- desembarque. A azáfama estende-se a rações ao perfil do fundo marinho que mas vítimas mortais e feridos, não quan- todo o navio, cada um agindo de acordo possam por em risco o navio. tificados, e o aparecimento de inúmeros com as atribuições que lhe cabem por Felizmente as águas são safas. As focos de incêndio ameaçando os sobre- detalhe na condição geral para assistên- condições meteorológicas são boas e a previsão é de vento fraco e de tempo seco. O Comandante decide atracar ao cais, pois o desembarque de pessoal e material é mais rápido e seguro. 0805, hora local. O Plantão à prancha avista duas pessoas cambaleando em direcção ao navio. São por certo vítimas sobrevivas de ELAVILLAGE. O pessoal do grupo de serviço e o da secção de saúde preparam-se para as receber, identificar e avaliar do seu estado de saúde. São o Sr. Horácio Costa, Presidente da Junta de Freguesia, e o Sr. Joaquim Nora, dois sobreviventes do grave acidente natural que assolou aquela aldeia. Embora visivelmente cansados e famintos pela extenuante caminhada de dois dias por montes e vales sem comida e água, e emocionalmente muito fragilizados pelos acontecimentos, o enfermeiro não diag- nostica qualquer problema de saúde para além da natural debilidade física e estado Equipa do navio envolvida no apoio humanitário. de profunda ansiedade. Revigorados pela ingestão parcimo- viventes, que se encontram em estado de cia a sinistros em terra. O empenho e o niosa de alimentos, como o recomendam choque, sem alimentação e água potável. sentido de entreajuda do pessoal é bem as circunstâncias, mais calmos, embora - Ponte: recebido. visível, todos irmanados por um forte ainda bastante confusos, relatam ao - Cabo de Quarto vai informar ime- sentimento de solidariedade humana. Comandante e à formação de comando diatamente o Senhor Comandante. A unidade de desembarque é constituí- da unidade de desembarque, que no pas- Desde então, todas as tentativas efec- da por 122 militares, compreendendo a sado dia 30, pelas 0350, a sua aldeia foi tuadas para estabelecer contacto com formação de comando, 12 brigadas, 6 de vítima de um violento abalo sísmico que aquela aldeia têm-se revelado infrutíferas, busca e salvamento, 1 de intervenção provocou inumeras vítimas e o desaba- originando a presunção de destruição rápida, 2 de reparação (uma de elec- mento da maioria das construções. A completa das linhas de comunicação trotecnia e a outra de mecânica), 1 de aldeia ficou de imediato sem luz e água com ELAVILLAGE, restando a via maríti- apoio logístico e 1 de alimentação, e 1 canalizada, levando à convicção de que ma como a única forma de contacto e pelotão de reconhecimento e segurança. a central eléctrica e o depósito de água acesso. Todos os campos de possível actuação tenham sido igualmente atingidos. Em face deste cenário, imediatamente estão cobertos. Impotentes para prestar ajuda imediata

22 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA lavrar de violentos incêndios, e um significativo número de construções ruídas cujos es- combros estão espalhados pelas apertadas ruas. A obser- vação permite ao Imediato ajustar as prioridades e refinar o plano de acção. As ordens são claras: Combater os incêndios com risco de alastramento, loca- lizar e estabilizar a situação clínica dos feridos, identificar e preparar um local para onde devam ser evacuados todos os que necessitem de assistência clínica, reestabelecer a ener- gia eléctrica e a circulação de água, instalar o posto de co- Construção de uma pequena ponte de acesso. mando e montar uma cozinha para confecção de uma refei- aos sobreviventes, dadas a escuridão e a por critérios de necessidade, propor- ção quente para 350 pessoas. falta de meios, e não tendo qualquer cionalidade e adequação aos fins visa- À medida que as acções vão sendo forma de comunicação com o exterior, dos. executadas o operador de comunicações resolveram dirigir-se ao porto na espe- Às 0858, comandada pelo Imediato, sai vai transmitindo para o navio frequentes rança de encontrarem auxílio. de bordo a unidade de desembarque com relatos de situação O registo de bordo O pungente relato impressiona profun- destino a ELAVILLAGE chegando à entra- reflecte quase na perfeição o panorama damente; não são necessárias palavras da da aldeia às 0910. Uma cratera com do local: para o manifestar, basta o testemunho cerca de 4 metros de extensão impede a - Navio - aqui Posto de Comando em silencioso da expressão dos rostos. progressão da unidade pelo único acesso terra: localizada no quadrado 12 grávida Munido de um plano em quadrícula da possível. Tem de se construir uma peque- prestes a dar à luz. aldeia, o Imediato faz várias perguntas na ponte; foi nessa previsão que foram - Navio - aqui Posto de Comando em para apurar os detalhes relevantes à levados os barrotes de madeira para terra: completada instalação no quadra- definição das prioridades e ao estabeleci- escoramentos a bordo. Mãos à obra sob do 14, no antigo hospital, do centro de mento de um plano de acção. orientação do contra-mestre, o Cabo atendimento clínico. Recuperados o ge- Com contagiante coragem e grande Pinheiro. rador e bomba de distribuição de água. dignidade, o Sr. Horácio Costa, máxima São entretanto encontrados dois feridos Reestabelecidas a distribuição de energia autoridade oficial da pequena aldeia de politraumatizados, um homem e uma e água às 1048. 200 habitante, vai esclarecendo o que mulher. Já lá chegam o enfermeiro e os - Navio - aqui Posto de Comando em pode, e, dada a situação de calamidade, socorristas avançados. terra: extintos todos os incêndios. delega no comandante do navio a autori- A formação de comando sobe a um Previsto celebrar a cerimónia fúnebre das dade para tomar medidas de excepção, pequeno morro para melhor observar a 7 vítimas mortais às 1145, assegurada destinadas a repor a normalidade das aldeia. A visão é dantesca; vêem-se presença de familiares e autoridade civil condições de vida, ainda que no respeito grandes colunas de fumo, indiciando o local. - Navio - aqui Posto de Comando em terra: às 1158 nasceu uma criança do sexo masculino. Os pais deram-lhe o nome Corte-Real. - Navio - aqui Posto de Comando em terra: o chefe da equipa de avaliação deu por findo o exercício. O material está a ser arrumado e preparado para reembar- que. Hora prevista para chegada ao navio da unidade de desembarque 1500.

Foi assim o exercício Distex (Disaster Relieve Exercise) efectuado pelo N.R.P. “Corte-Real” no âmbito do seu Plano de Treino Operacional, coordenado e ava- liado pela FLOTILHA e com a coopera- ção do G2EA e da ELA. Hoje foi um exer- cício para treino, amanhã poderá ser uma situação real. “A batalha de Waterloo foi ganha no campo de exercícios de Eton”. Wellington

 Operação de auxílio a um dos feridos. (Colaboração do N.R.P. “Corte Real”)

REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 23 OO EuroEuro nana MarinhaMarinha

EURO é a moeda nacional desde Porquê prepararmo-nos? Por que: Estes exemplos suscitam tarefas que há 1 de Janeiro de 1999. É a nossa • Os nossos vencimentos serão processados a cumprir em tempo oportuno, por forma O moeda. É também a moeda e pagos em Euros; a podermos usar o Euro sem problemas nacional de mais dez países da União • A contabilidade – orçamental, patrimo- ou dúvidas a partir de 1 de Janeiro de Europeia – França, Espanha, Alemanha, nial, das cantinas, etc. – será escriturada 2002: não só como profissional, mas tam- Luxemburgo, Irlanda, Bélgica, Itália, em Euros; bém como cidadão. Holanda, Finlândia e Áustria. • A facturação será processada e escritura- A adopção de uma moeda única por da em Euros; • Alterações de aplicações informáticas estes onze países significa uma aposta • Os vários tipos de impressos e outros docu- • Alteração da escrituração contabilística forte no futuro da União Europeia, con- mentos que mencionem valores serão (orçamento para 2002, cantina, conta substanciada na construção sólida de uma expressos em Euros; de caixa, conta de material) União Económica e Monetária (UEM), • As aplicações informáticas que reflictam • Alterações de impressos com perspectivas de vantagens significati- valores financeiros e/ou patrimoniais • Alterações de equipamentos vas imediatas ou a curto prazo, para os usarão o Euro; consumidores: • As multas e contra-ordenações serão Coordenar a execução destas tarefas, processadas e pagas em Euros; seguindo um plano de Transição para o • Crescimento económico mais susten- • As máquinas automáticas de fornecimen- Euro, é a missão do Grupo de Trabalho – tável, que aumentará a segurança do to de bens (bebidas, tabaco, etc...) fun- Euro, nomeado pelo Almirante Chefe do emprego; cionarão em Euros; Estado-Maior da Armada através do despa- • Poder de compra protegido graças à • As caixas “multibanco” fornecerão Euros. cho nº 01/01 de 9 de Janeiro, em consonân- diminuição da infla- cia com a Resolução do ção; Conselho de Ministros nº • Maior transparência 170/2000, de 7 de Dezem- dos custos e concor- bro (OA1 51/13-12-00). rência acrescida, de Uma das primeiras ta- que resultarão preços refas cumpridas por este mais baixos; GT –EURO foi levar a • Baixas taxas de juro cabo, em 8 de Fevereiro, que reduzem o custo na Academia de Marinha, dos empréstimos; uma acção de Formação • Eliminação dos riscos de Formadores, com a cambiais entre os paí- colaboração essencial da ses participantes; Comissão Nacional do • Transferência de fun- Euro, representada pelo dos, para outros paí- Dr. Bruno Lagos. ses, mais fácil e menos Ao elevado número de onerosa; participantes (mais de • Menores custos nas via- cem, entre militares e gens a outros países. civis), representando to- das as áreas funcionais da No entanto, a cons- Marinha, cabe agora “pas- trução da UEM, ou a sar a mensagem”, através obtenção destas vanta- de acções de forma- gens, não se alcançará ção/informação destinada apenas sabendo que a a todo o pessoal das suas moeda que ainda hoje Unidades e Organismos, usamos – o ESCUDO – cabendo-lhes ainda o irá ser substituído pelo – papel de dinamizadores EURO – segundo uma na procura das melhores taxa de conversão defi- soluções e da execução nida e inalterável das tarefas necessárias ao cumprimento do Plano de Transição para o Euro 1 EURO = 200.482 adequado ao seu local de ESCUDOS trabalho.

De facto, necessita- A R.A. passará a mos de aprender a usar publicar, a partir desta a nova moeda, e de nos edição, o preço em prepararmos para a sua EUROS. chegada definitiva- mente a 1 de Janeiro de (Colaboração do Grupo de 2002. Trabalho - Euro)

24 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA NOTÍCIAS DIA NACIONAL DO COMBATENTE

As cerimónias de homenagem ao Dia do Combatente foram iniciadas no dia 8 de Abril em Lisboa junto ao Monumento e ao Memorial aos mortos da guerra do Ultramar no Forte do Bom Sucesso, sendo presididas pelo Ministro da Defesa Nacional, Dr. Júlio Castro Caldas, acompanhado pelo Secretário de Estado da Defesa, Dr. Miranda Calha. Depois da grandiosa missa campal presi- dida pelo Capelão Nacional dos Comba- tentes, o Bispo D. Januário Torgal Ferreira, seguiu-se uma alocução alusiva à cerimónia pelo General Júlio Oliveira, Presidente da Liga dos Combatentes e membro principal da Comissão Executiva destas comemo- O Ministro da Defesa Nacional passa revista à guarda de honra. rações. As cerimónias do Dia do Combatente Força Aérea, Adidos Militares acreditados putações dos 64 Núcleos espalhados pelo incluíram este ano a 65ª Romagem ao em Portugal, Comandante da Região Militar País. Túmulo do Soldado Desconhecido organiza- do Norte, Comandantes da Escola Naval e A cerimónia contou com uma oração da pela Liga dos Combatentes na Batalha. das Academias Militares, Directores dos pelos combatentes falecidos, seguindo-se Estiveram presentes para além do Secretário Estabelecimentos Militares de Ensino, uma deposição de flores no Túmulo do de Estado da Defesa Nacional, Dr. Miranda Autoridades Civis, Associações dos Antigos Soldado Desconhecido e à prestação de hon- Calha, os representantes dos Chefes do Combatentes Estrangeiros representados em ras militares. O programa das comemo- Estado-Maior General das Forças Armadas, Portugal, assim como Membros dos Orgãos rações terminou com uma visita ao Museu Estados-Maiores da Armada, Exército e estatutários da Liga dos Combatentes e de- das Oferendas.

O DIA DO CORPO DE FUZILEIROS No passado dia 20 de Abril, teve lugar nha (III de Portugal) criou o Terço da mento específicos para a projecção da na Escola de Fuzileiros em Vale de Zebro Armada da Coroa de Portugal. Às 09h00 força, credibilizando essa capacidade da a comemoração de mais um dia do Corpo da manhã teve lugar uma missa, na Marinha em termos nacionais e junto das de Fuzileiros, recordando a remota data capela da Escola de Fuzileiros, em sufrá- organizações e iniciativas anfíbias conjun- de 1621, em que o rei Filipe IV de Espa- gio pelos fuzileiros mortos ao serviço da tas de países aliados”. Pátria, a que se seguiu uma Cerimónia Após o desfile das Forças em Parada, Militar presidida pelo Vice-Almirante junto ao cais de Vale de Zebro, foi inau- Comandante Naval. gurada uma torre de treino para exercí- O Vice-Almirante Silva Santos chegou à cios anfíbios, com valências múltiplas Escola cerca das 10h00 e, acompanhado (rappel, slide, fast rope, embarque com pelo Comandante do Corpo de Fuzileiros, rede de abordagem, etc..) a que acresce o Capitão de Mar-e-Guerra Vasco Brazão, e facto de se encontrar junto ao rio, per- pelo Comandante da Escola de Fuzileiros, mitindo o acesso directo através dos Capitão de Mar-e-Guerra Lhano Preto, meios de desembarque reais, que muito prestou uma homenagem aos fuzileiros favorece o treino específico dos fuzileiros. mortos em campanha, depositando uma Seguiu-se um almoço de confraterniza- coroa de flores na base do monumento ção para que foram convidados nume- existente à entrada da Escola. Seguiu-se rosos antigos fuzileiros, que tiveram uma cerimónia militar, durante a qual o oportunidade de conversar e trocar Comandante Brazão teve ocasião de pro- impressões sobre os antigos e novos tem- ferir algumas palavras que recordaram pos. É um convívio confortante e moti- algumas das actividades levadas a cabo vador para os jovens, contribuindo para no último ano, perspectivando o futuro de perpetuar a chama que ainda hoje anima uma forma confiante. Às condições de as unidades em cumprimento de missões profissionalismo e prontidão demons- complexas e difíceis. São missões bem tradas pelo pessoal fuzileiro, acresce agora diferentes das de outros tempos, mas não a “assumpção definitiva da obtenção de poderiam ser cumpridas com brilho se capacidade anfíbia, através de programa- não fossem animadas pelo mesmo espíri- Torre de treino para exercícios anfíbios. da aquisição de meios navais e equipa- to de sacrifício e competência profissional.

REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 25 NOTÍCIAS FiscalizaçãoFiscalização dada actividadeactividade dada pescapesca nono anoano dede 20002000

o âmbito das atribuições e competências dos sumíveis infractores e 5753 situações legais. Órgãos Locais do Sistema da Autoridade Marítima, Na sequência dessas acções, foram instaurados 591 N as 28 Capitanias dos Portos do Continente e das processos de contra-ordenação, correspondentes a 733 Regiões Autónomas efectuaram 6344 acções de fiscalização infracções, sendo 335 de natureza técnica (infracções de a embarcações e indivíduos em actividades de pesca nas pesca), 255 documentais, 114 de segurança e 29 de outra suas águas de jurisdição, tendo sido verificadas 591 pre- natureza, conforme se representa nos diagramas seguintes:

TÉCNICAS 335 INFRACÇÕES 733 DOCUMENTAIS 255 ZONA PROIBIDA 185 TÉCNICAS 335 ACT. SEM LICENÇA 166 ARTES PROIBIDAS 102 DOCUMENTAIS 255 CERTIFICADOS 37 MARCAÇÃO IND. ARTES E EMB. 48 SEGURANÇA 114 FALTA INSC. MARÍTIMA 52 OUTRAS 29

O quadro seguinte mostra o resultado das acções de fiscalização da pesca pelas Autoridades Marítimas de 1993 a 2000:

TOTAL 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 FISHREPS 3052 5368 3759 5654 6220 6348 6175 6344 SITUAÇÕES LEGAIS 2623 4690 3292 5033 5847 5869 5764 5753 PRESUMÍVEIS INFRACTORES 429 678 467 621 413 479 411 591

(Colaboração da Direcção-Geral de Marinha)

ENCALHE DE UM NAVIO JUNTO AO CABO CARVOEIRO (PENICHE) Pelas 22.00 horas do dia 8 de Abril, a Polícia Marítima de Peniche detectou um navio a navegar muito próximo de terra, tendo envidado todos os esforços no sentido de o alertar para os perigos existentes sem resultados práti- cos. Cerca das 22.35 horas, o navio de bandeira dos Barbados de nome “Cheryl C” proveniente de Itália com destino ao Reino Unido, encalhou na lage da Nau dos Corvos junto ao Cabo Carvoeiro. De imediato foi ordenado a saída do salva-vidas “Nossa Senhora da Boa Viagem” o qual através da sagacidade da sua tripulação, em condições de risco acrescido, conseguiu salvar todos os tripulantes do navio sinistrado sem que se registasse qualquer acidente pessoal. O navio transportava aço e ferro (cerca de 2245 toneladas) e possuía a bordo 45.000 litros de gasóleo e 1.000 litros de óleo lubrificante. Logo após o encalhe ve- rificou-se o derrame do combustível, não se prevendo, no entanto, consequências graves para o meio marinho e ambiental. Posteriormente ao encalhe, o navio partiu-se em dois, encontrando-se totalmente submerso. (Colaboração da Capitania do Porto de Peniche)

26 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA NOTÍCIAS 1º ANIVERSÁRIO DAS ESCOLAS DE FORMAÇÃO DA MARINHA DE GUERRA DE MOÇAMBIQUE

No dia 13 de Março come- Para comemorar esta efeméride o morou-se o 1º aniversário das Director das Escolas de Formação, ESCOLAS DE FORMAÇÃO CTEN José Bernardo Sefasse, organizou DA MARINHA DE GUERRA uma cerimónia, que foi presidida pelo DE MOÇAMBIQUE. CMG Issumalgy Valgy, 2º Comandante Este conjunto de escolas foi solene- Operacional da Marinha de Guerra de mente inaugurado há um ano pelos Moçambique, em representação do Ministros da Defesa de Portugal e de Contra-Almirante Comandante. Moçambique, Dr. Júlio Castro Caldas e Entre muitos convidados estiveram General Tobias Dai. presentes o Director Técnico do Projecto nº 6, CMG Correia do Amaral, o Asses- sor do Subprojecto nº 6 A, CMG Demonstração da montagem dum bote. Arménio Cunha, os Assessores do Subprojecto nº 6 B, 1TEN OT Fernando convidados, uma visita guiada às insta- dos Santos, o 1SAR MQ Almeida e o lações escolares. Durante o percurso COR Regadas Teixeira, Director do desta visita assistiu-se a demonstrações Projecto nº 3. de diversas actividades escolares e A cerimónia iniciou-se com uma observaram-se as exposições de equipa- palestra alusiva à efeméride, proferida mentos e de fotografias. A cerimónia ter- pelo Director das Escolas de Formação. minou com um aperitivo de honra, Seguidamente, foram distribuídos os servido na sala de convívio dos for- certificados aos finalistas do Curso madores. Básico de Electricidade. Após a entrega Corpo docente e convidados. dos certificados, foi proporcionada aos (Colaboração da CTM – Projecto nº 6)

OS 25 ANOS DO N.R.P. “CISNE” No passado dia 31 de Março come- morou-se no Ponto de Apoio Naval de Portimão os 25 anos do aumento ao efectivo da Armada do N.R.P. “Cisne”. A cerimónia, presidida pelo Coman- dante da Zona Marítima do Sul, CMG Dores de Sousa, contou com a presença do Comandante da Esquadrilha de Navios Patrulhas, CMG Garcia Esteves, entre outros convidados, nomeada- mente alguns dos antigos comandantes do navio da Reserva Naval e represen- tantes da Câmara Municipal de Por- timão e do Instituto Portuário do Sul, A actual guarnição do N.R.P. “Cisne”. que abrilhantaram estas comemo- rações. O Comandante do N.R.P. Comandantes do N.R.P. “Cisne” breves palavras de agradeci- mento a todos os convidados “Cisne”, 2TEN Bernardino ASP RN Alexandre Maria Lindim Vassalo ...... 18-12-75 a 25-08-76 Santos, numa breve alocução, STEN RN Joaquim Pereira de Oliveira ...... 25-08-76 a 09-02-77 civis e militares presentes e ofere- salientou as várias missões e 2TEN Joaquim António Saloio Ganhão ...... 09-02-77 a 31-08-78 ceu uma cresta do Comando da GMAR José Domingues Pereira da Cunha ...... 31-08-78 a 02-07-80 serviços prestados ao País du- Zona Marítima do Sul alusiva ao ASP RN Eduardo Miguel Cardoso Botelho ...... 02-07-80 a 25-03-81 evento das comemorações das rante os últimos 25 anos, como ASP RN José Pedro de Sá Campos Gil ...... 25-03-81 a 24-03-82 também o facto desta lancha ter ASP RN Mário Manuel Soares Alves ...... 24-03-82 a 13-04-83 Bodas de Prata do N.R.P. sido recentemente equipada com ASP RN Paulo Sam-Bento de Sousa Almeida . . . .13-04-83 a 14-08-85 “Cisne”. Seguiu-se o partir do ASP RN João Carlos Gonçalves Lanzinha ...... 14-08-85 a 25-03-86 bolo e um brinde a todos os que um alador de redes que possi- ASP RN Hélio Manuel de Jesus Cartaxo ...... 25-03-86 a 16-04-87 bilita, não só fiscalizar as artes a tiveram a honra de servir neste ASP RN Angelo Alberto Gouveia de Sousa ...... 16-04-87 a 25-05-88 navio e de votos à Lisne de muitos bordo das embarcações de pesca, ASP RN Armando Luís Ferreira dos Santos . . . . .25-05-88 a 31-05-89 como também as artes de pesca ASP RN José João Pelicas Correia Gravato ...... 31-05-89 a 30-11-89 êxitos futuros. caladas no mar, que até há bem ASP RN Paulo Jorge Corte Real Pereira Mira . . . .30-11-89 a 11-10-90 ASP RN Luís Manuel Cláudio da Fonseca ...... 11-10-90 a 09-11-91 Notas pouco tempo eram muito difíceis GMAR Paulo Miguel da Silva Brandão Correia .31-10-91 a 03-09-93 de fiscalizar (1). 2TEN. Carlos Alberto Pereira Simões ...... 03-09-93 a 13-07-95 (1) Presentemente, a Marinha já possui 2TEN. Nuno M.G. Sousa Rodrigues ...... 14-07-95 a 25-08-97 duas lanchas adaptadas para a fiscalização, Seguidamente, o Comandante identificação, sinalização e malhagem das da Zona Marítima do Sul, CMG 2TEN. António Jacinto Coelho Gomes ...... 25-08-97 a 20-08-99 2TEN. Alcino Bernardino Santos ...... 20-08-99 a artes de pesca caladas no mar - o N.R.P. Dores de Sousa, proferiu umas “Andorinha” e o N.R.P. “Cisne”.

REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 27 CONVÍVIOS DIA DA ESQUADRILHA DE SUBMARINOS Teve lugar no passado dia 7 de Abril, a comemoração do Dia da Esquadrilha de Submarinos, tradição que se tem revela- do de amplo significado para todos os membros da família de submarinistas e de mergulhadores. As actividades decorreram na área da Base Naval de Lisboa e tiveram os seus expoentes na celebração de uma missa em memória dos camaradas falecidos, numa exposição de fotografia, de audiovisuais e, a finalizar, num almoço de convívio. A estas actividades aderiram cerca de três centenas de pes- soas entre militares nas situações de reforma, reserva e activo e respectivos familiares, que tiveram assim a oportunidade de confraternizar e reviver episódios do passado.

CLUBE ESCOLAMIZADE Realizou-se no passado dia 28 de Abril o 15º Câmara Municipal de Albufeira e do Chefe de Redacção da Revista convívio anual do Clube Escolamizade. da Armada. Os sócios e convidados concentraram-se pela O Comandante Dores de Sousa, em representação do Almirante manhã em Vilamoura para efectuarem uma visita CEMA, leu uma mensagem do Almirante Vieira Matias desejando guiada ao Museu e Estação Arqueológica do as maiores felici- Cerro da Vila, testemunho da presença romana dades ao Clube no século I d.C.. O valor arqueológico das ruínas na senda do e o considerável espólio de peças expostas, infelizmente pouco co- associativismo e nhecidas do grande público e dos roteiros turísticos, constituem um camaradagem património importante e são um contributo inestimável para a dos marinheiros compreensão da história local. da Armada. Depois de uma breve passagem pela marina, seguiu-se o tradi- Após troca de cional almoço-convívio com cerca de 200 associados e convidados, lembranças, o destacando-se a presença do Comandante da Zona Marítima do convívio termi- Sul, CMG Dores de Sousa, do Comandante da Escola de Fuzileiros, nou com o habi- CMG Lhano Preto, do Capitão do Porto de Portimão, do Delegado tual bolo de Marítimo de Albufeira, do Vereador do pelouro da Cultura da aniversário.

MARINHEIROS DO CONCELHO FAÍSCAS DA ARMADA DO SABUGAL 54º ALMOÇO

No próximo dia 4 de Agosto, realiza--se em Aldeia Velha o já Vai realizar-se no próximo dia 10 de Junho no restaurante tradicional convívio dos Marinheiros do Concelho do Sabugal, “Estrela do Mar” em Ribamar (Ericeira), mais um almoço-con- com o seguinte programa: vívio dos Faíscas da Armada. • 10.30 - Concentração no Largo da Escola do Sabugal Programa: • 11.00 - Trânsito para Aldeia Velha • 09.00 – Concentração junto ao Café Oásis no Laranjeiro • 12.00 - Missa por alma dos marinheiros já falecidos (igreja • 09.30 – Partida para Mafra matriz de Aldeia Velha) • 10.30 – Concentração junto ao Convento de Mafra • 13.00 - Almoço de convívio junto à ermida de Nossa Senhora • 10.30/11.30 – Visita guiada ao Convento de Mafra (grátis) dos Prazeres (Sabugal Velho) • 12.00/13.00 – Concentração, Convívio e boas vindas no • 15.00 - Passeio pela aldeia e café no café-restaurante “O Quim”. restaurante “Estrela do Mar” • 18.30 - Regresso à Senhora dos Prazeres para merendar e • 13.00 – Início do almoço escolher a nova Comissão Organizadora. Para mais informações os interessados deverão contactar Para mais informações, os interessados poderão contactar com: com: • Manuel Pires da Silva R. Castilho, 17- Vale de Milhaços 2855-422 Corroios • Cte. Figueiredo Carvalho - 212761001 Telef. 212535401 • Cte. Barbeitos Paulino - 212535858 • José Casanova • SCH Manuel Varanda - G1EA (Vila Franca de Xira) R. Cipriano Dourado,8 2840 Cruz de Pau • SAR Carlos Palma - 219576290 Telef. 212246686 • Diamantino Nascimento - 212586210 • José Ferreira Jorge • Leonel Pedro - 213223190 Telef. 218372625 • Manuel Pedro - 219263523 / TM-966389715 Nota: as inscrições devem ser feitas até 20 de Julho. • Silva Dias (CCA) - 212159055

28 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA hoppi

Novo Sistema de Crédito

Acordos: ExéIoto. PSP. GNR B F: AéruIiI (M!Irrtla 6fT) 1ISt1.do) Porto

Reabre com novos espaços e novos horários 2" a sábado das lQl às 2211 Lisboa

2" a sábado das 101 às 191 HISTÓRIAS DA BOTICA (9) OO MatemáticoMatemático

em-me faltado a inspiração! Baixo e atarracado, com uma lentidão camente: foi segunda – feira! Por sorteio do destino e pela vontade exagerada nos movimentos, fruto dos Não ficava ofendido com tanta pergunta Tda Marinha, vejo-me, novamente, nos muitos anos sob medicamentos psicoac- idiota. Não havia porquê, nem este interesse bancos da escola a lutar com equações tivos, apresentava-se precocemente gasto, contínuo dos outros era fonte de sofrimento. matemáticas e teorias geopolíticas que mar- para a idade de homem jovem. Achavam- O que o impressionava eram as vozes que caram tempos idos, de permeio com estraté- -no estranho e faziam dele uma espécie de só ele parecia ouvir, trazendo-lhe men- gias para influenciar tempos modernos. Ora, tanta e tão nova informação, torna difí- cil a escrita sobre os simples temas a que, sem grande mérito, dedico os meus rabis- cos...

Na verdade, regredi. Sinto-me novamente nos bancos da escola. Lembrei-me dos longos anos de estudo, que já carrego. Nunca me achei particularmente inteligente. Também nunca achei que o nosso sistema de ensino fosse especialmente adequado. Fiz, aliás, uma carreira académica com altos e baixos, em que a paixão por certos assuntos me levava ao 18, entrecortada por outros, em que em notas medianas foram o resultado de muitos dias de trabalho. Fui algumas vezes ultrapas- sado por outros, que sabia, terem trabalhado menos. Essa frustração, acredito hoje, faz parte do crescimento. De forma incompreensível, parece ser a mente que determina, sem nos perguntar, quais vão ser as nossas capacidades e inca- pacidades, os nossos dons, as nossas artes. Em muitos casos, determina de tal forma a nossa existência, que cria um mundo pró- prio, só dela. Assim, nesta noite de inacessíveis fórmulas matemáticas de rectas e curvas, em que se tenta modelar realidades, projectar futuros, organizar a vida, recordei um marinheiro que conheci numa unidade em terra, onde estive bastante tempo. Este marinheiro tinha uma capacidade especial, que a mim, já incapaz de controlar os trocos do café no dia a dia, impressionava muito. Era capaz de somar, rapidamente e com precisão, contas com múltiplos algarismos. Conseguia ainda dizer, em breves segundos, o dia da semana a que pertencia determinado dia, de um dado mês, de um qualquer ano, no passado. Parecia há primeira vista, como hoje é moda dizer, um sobredotado.

Contudo, eu como médico da unidade, sabia a verdade. O Matemático frequentava a consulta de Psiquiatria e fazia, no Serviço de Saúde, uma injecção mensal, para con- atracção de circo, propondo-lhe desafios sagens de um outro mundo, que mais trolar as vozes, que ocasionalmente surgiam aritméticos próprios de um computador, a ninguém podia ver ou sentir. E mesmo dentro de si – era esquizofrénico – rezava o que ele respondia com solicitude e destreza. essas, só lhe traziam sofrimento quando se rótulo da velha e encarquilhada nota de alta -Ó Matemático, que dia da semana foi 28 apercebia que ninguém, à sua volta, ouvia hospitalar, do único internamento a que de Dezembro de 1992? as mesmas vozes... tinha sido submetido. Pensava um pouco e respondia mecani- Era, apesar de tudo, estimado pela maioria.

30 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA Fazia trabalhos administrativos, rotineiros e diminuir noutra. Talvez nalgumas mentes, compreender as suas vozes e os seus sinais, fastidiosos, com uma precisão científica, com determinadas combinações, com extra- mas agrada-me pensar que algumas inca- que outros não conseguiam igualar, man- ordinárias potencialidades de um tipo pacidades que sinto, sejam compensadas tendo-se no serviço activo. específico, ficasse menos capacidade para por capacidades diferentes, a que muitos compreender um mundo como o nosso – nunca terão acesso. Provavelmente de tanto lutar com os fan- cheio de entidades malévolas como o são a Agrada-me, acima de tudo, poder criar tasmas que o perseguiam, fazia uma vida inveja, a ganância, a insensatez, o conflito e um mundo, em que nem sempre o mais solitária de asilante. Não se lhe conheciam a maior inaceitabilidade de todas – a morte. forte vença, em que a felicidade seja um grandes amizades, excepto um par de peri- Talvez, só talvez, essas pessoas, por um atributo dos simples e em que cada um quitos grandes, que são conhecidos, entre caminho que não escolheram, sejam valha pelo que não se vê. Nesse mundo, os anglosaxónicos, por Love Birds, pois forçadas a encontrar uma realidade em que acredite o leitor, o fracasso pode ser um traçam uma união para a vida – de aparên- as referências sejam outras, em que o medo princípio, o medo é a escada do sucesso e cia harmoniosa, mesmo em cativeiro. não exista, em que a pena não seja raínha e este mede-se pela paixão... Transportava os seus amigos alados para em que o ser, e o sentir sejam diferentes... Quem sabe, talvez eu também necessite todo o lado e parecia falar-lhes, sempre que de uma injecção mensal, para me libertar os outros se afastavam. Imaginei, na época, Sei, isso sim, em favor da minha teoria, do incompreensível que me atormenta, de que talvez as aves tenham capacidades que muitas vezes procurei vozes de um forma recorrente, o espírito? especiais, que lhes permitam atravessar o outro mundo, sem dor. Sei também, que limiar da compreensão de outros mundos, procurei dizer a outros, nos piores momen- Todos somos diferentes e cada um em outras dimensões, outras realidades, como tos das suas vidas, que há paz, para além do maior ou menor grau, procura arranjar o seu aquela do brilhante Matemático. sofrimento. Mas raramente consegui. próprio mundo. A mim parece-me muitas Acontece, que eu também tenho grande Raramente fui suficientemente eloquente, vezes que é a realidade que nos oferecem interesse por aves e admirava a dedicação para romper as grilhetas que nos prendem a que está errada e não os mundos que cria- com que ele as presenteava. Fazia-lhe per- este mundo tantas vezes mesquinho, mau, mos. Era bom, tenho a certeza, que cada um guntas sobre os seus pássaros, a que ele incompreensível... pudesse mudar o mundo, pelo menos um respondia com sorrisos vagos. Nem assim Talvez o Matemático saiba, melhor que pouco, no bom sentido. Por isso escrevo, era fácil chegar perto dele, isolado numa eu, encontrar a passagem para além do que mesmo com muito pouca inspiração, porque existência diferente. está errado. Talvez num outro referencial nestes castelos imaginários, sem matemáticas sejamos nós os doentes e ele o ajuizado. e de equações banais, proscritas, compreen- Ocorreu-me então, que a mente deve Numa existência em que o desenvolvimen- do alguma coisa. Perdoe-me o caro leitor!  estar em equilíbrio perfeito. Se fornece muito to da mente aritmética, seja uma marca de uma categoria, forçosamente terá que comum...Nunca o saberei, porque não sei Doc. SAIBAM TODOS ESCOLA NAVAL CONCURSO DE ADMISSÃO DE CADETES DA ARMADA - 2001 ● Nos termos da Estatuto da Escola Naval, de 4 de Junho a 6 de Julho de 2001, está aberto o concurso para admissão de cadetes para os cursos de licenciatura de ingresso nas seguintes classes de oficiais dos Quadros Permanentes da Armada: Marinha ...... 40 vagas Administração Naval ...... 6 vagas Fuzileiros (1) ...... 2 vagas Engenheiros Navais -Ramo Mecânica ...... 10 vagas -Ramo Armas e Electrónica . . .12 vagas Médicos Navais (2) ...... 6 vagas (1) Só para candidatos do sexo masculino. (2) Inclui a licenciatura em Medicina, na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

Informações Esclarecimentos e informações complementares podem ser obtidos nos seguintes locais: • Secretaria Escolar da Escola Naval – Alfeite-2810-001 Almada • Endereço E-mail – [email protected] Telef. 212748941, 212747125, 212741682 - FAX. 212754499 • Gabinete de Divulgação e Informações da Marinha • Página na Internet – www.escolanaval.pt Praça do Comércio- Lisboa – Telef. 213429408, 213429439

No Centro de Medicina Naval, situado nas anteriores instalações do Serviço de Saúde da BNL, passaram a funcionar consultas de Clínica Geral para militares na situação de Reserva e Reforma. Estas consultas são diárias, com início pelas 14.00 horas e com marcação prévia, que pode ser feita, quer directamente no Centro de Medicina Naval, quer através dos telefones 212594548 da P.T. ou pelo 3388 da R.T.P.M.

REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 31 Signallntelligencc and Electl'Onic Wal'rme

MililOry Io 1aIMI_ ti .. arI. s..r.ivaI 'digiIaI t rl 'kY" pi... laIb by proWIing ~ !durions lo< in'" ' ' ... __. .. .. ii onIy poWbIe hcvgh ...... d ~ tO-dogy...... d-'9. ..g. .... fO''''-(I CIDn'I- Yo. litnpIy heMo 10 bllhe /osIesI ard "1II'D'IIIf 10 inIIf. """''''alio.. signah &tom I-f'.., stt= 01 ...... 01110 ..... " cepI ond ...... h ...... ri oignr;IIs ond iflkwmo. ~ Anel","" for otrf ~ 01 modoobtion ard 0"t>'It­ tioIIlo be wcceWuI" lhe age 01 inIotmoIion ~ . miuiorl meIhod ...... -oice, Iox ot daIo, onoIog or digi!ol signab. encrypIioI1 .. lPI rneIhoch ....do os Ir. 'SIGINf ps õog;tgj· is lhe Qnd, Ali j"~ ond q.w>C'f hoppi"" Of spt.oo 5pIIC1n/fI'IIKMique - _ sr-.lrotl1 Rohd.& 5d>wor:z.,.. OOII',! '1'1 iII~ ... t...... opIimum oaUicn Ior .,.,.. in _ . WcoAd .,.,.. .".;4, ..." Ir..d hoo.ogh lhe ...... oI ..... woIy los! ~ke 10 lnow motiIi c:bo anel loigtw:lI pnxao.scn lo. cligilalligrd P . ma JuslIum .,... ond convônc. )'OUneI ~IIDE&SCHWARZ

TELERUS -Sistemas de TeIKomunicaçõe5, S.A. R.... ~" ff1T@ira""""rtlns,n' 6 ·2 B - 1.f95· 137 AI~ ' T

Tente primeiro resolver a 2 mãos tapando E-W

4km Norte (N): ♠ ♥ ♦ ♣ r R V 9 3 D 10 8 10 8 7 7 6 5 5 Oeste (W): Este (E): ♠ ♥ ♦ ♣ ♠ ♥ ♦ ♣ R 10 V V 6 A R A A área da coroa circular é: 2 4 10 2 D 5 8 A = π R2 - π r2 = π (R2 – r2) 3 9 V 4 3 Recorrendo ao velho teorema de Pitágoras: 8 7 R2 = r2 + 42 ou seja R2 – r2 = 42, 7 6 Que substituído na expressão que nos dá a área da coroa circular 6 5 conduz a: Sul (S): 2 2 ♠ ♥ ♦ ♣ A = π 4 = 50.27 km O que quer dizer que a área é sempre a mesma quaisquer que sejam A R A R os valores dos raios escolhidos para as circunferências. D 2 D 9 9 2 4 A. Estácio dos Reis 4 3

Todos vulneráveis S joga 4♠ após abertura de 1♥ por E. Como deve S jogar para cumprir o seu contrato, com saída de W a ♥3 ? (Solução neste número)

SOLUÇÕES PROBLEMA Nº 33 A questão deste jogo é apenas a linha de segurança que deve ser seguida pelo carteador, para que não jogue ao sabor da sorte e depois de cabidar dizer que estava tudo mal e por isso teve azar. Estando à mesa e depois de ver o morto pode cair na tentação de fazer a passagem a ♠R, face à abertura de E, e acertando até pode dar dois ♣. Se ♠R estiver mal, como até está, lá terá que acertar o ♣V. Enfim, será o tal carteio do acerta ou não e da sorte e do azar. Para ultrapassar essa "angústia" faça um plano de jogo que só não será a 100% se os trunfos estiverem 3-0, mas aí pode dizer sempre que jogou tecnicamente correcto. Vejamos: E faz ♥A e joga outra ♥ que S ganha de R; joga ♦A e ♦ que corta, vem à mão com ♠A e corta o último ♦, eliminando este naipe; joga ♠ para o R que será feito por W ou E, mas que ficarão sem defesa para evitar que só dê um ♣, jogando o naipe ou corta e balda. Com os trunfos 3-0 terá então de tentar, como último recurso, acertar ♣V, mas mesmo que falhe jogou bem.

Nunes Marques CALM AN

REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2001 33 NOTÍCIAS PESSOAIS

COMANDOS E CARGOS

NOMEAÇÕES ● CMG MN José Filipe Araújo Moreira Braga, Presidente da Junta e Recrutamento e Selecção, em substituição do CMG Fernando Sotto-Mayor Coelho de Sousa ● CMG Roberto Figueiredo Robles, Chefe da Repartição de Recrutamento e Selec- ção, em substituição do CFR José Pereira de Moura ● CFR MN Jorge Manuel Pinto do Nascimento, Presidente substituto da Junta de Recrutamento e Selecção, em substituição do CMG MN José Filipe Araújo Moreira Braga ● CFR FZ João Alberto Pires Carmona, Chefe do Estado-Maior do Comando do Corpo de Fuzileiros, em substituição do CFR FZ Armando Júlio Lopes Serra ● 1TEN José Manuel Moreira Pinto, Comandante do N.R.P. “Auriga”, em substituição do 1TEN Diogo Falcão Trigoso Vieira Branco ● 1TEN Pedro Manuel Mendonça das Neves, Comandante do N.R.P. “Pégaso” ● 1TEN António Mateus Anjinho Mourinha, Comandante do N.R.P. “Oríon” ● 1TEN Victor Jorge da Conceição Dias , Comandante do N.R.P. “Sagitário”.

EXONERAÇÕES ● 2TEN Rui Manuel Pinto de Almeida exonerado do cargo de Comandante do N.R.P. “Albatroz” ● 2TEN Francisco Moisés Soares de Almeida exonerado do cargo de Comandante do N.R.P. “Açor”.

REFORMA ● CMG António Luciano de Sá Homem de Gouveia ● CMG António Alexandre Welti Duque Martinho ● CTEN António Manoel de Oliveira Bento ● 1TEN Manuel Agostinho Valadas Branco ● SMOR José Agostinho de Sousa Jorge ● SMOR Américo Inocêncio Bernardes ● SCH José Joaquim do Amaral ● SCH Manuel Joaquim Flores Ratão ● SCH Eliseu Manuel Ramos Rosa ● SAJ Joaquim Salvado Velez ● SAJ José Gomes Pinto ● 1SAR Manuel Joaquim dos Santos Fernandes ● CAB Joaquim António Mendes Gonçalves.

FALECIMENTO ● VALM REF Abílio Freire da Cruz Júnior ● CMG REF Afonso Manuel Machado de Sousa ● CMG REF José Luís Ferreira Lamas ● CTEN Fernando Silva Barroso ● SMOR FZ REF José Manuel Caetano Gomes ● SAJ O REF Mário Alfredo Frade Anselmo ● SAJ V REF Valentim Alves Amêndoa ● SAJ TR REF Aníbal Lourenço da Silva ● 1SAR M REF Joaquim Martins ● CAB CM REF António Gonçalves da Encarnação ● CAB CM REF António Luís Gomes ● CAB CM REF Manuel Martins Vilaça ● CAB E REF José Ferreira da Rocha ● CAB FZ Domingos Manuel Mendes Marujo ● 2GR FZ RC Ricardo Jorge Sarmento Pereira ● CAB da Ponte – António Vaz ● Faroleiro de 3ª CL João Luís Pereira Machado.

RECTIFICAÇÃO • Por lapso, no número 342 da Revista (Maio 2001), não foi referido que a notícia publicada na página 26, sobre a exposição fotográfica “NAVIOS DA PESCA DO BACA- LHAU”, é da autoria de José Ferreira dos Santos, Capitão da Marinha Mercante, promotor da exposição. • No artigo intitulado “Novas Lanchas de Fiscalização Rápidas” “Orion”, “Pégaso” e “Sagitário”, publicado na edição de Maio nº 342, foi mencionado a lancha “Orion”, cuja grafia está incorrecta devendo ler-se “Oríon”.

34 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

28. ATAPEÇARIA DE PORTALEGRE DA ESCOLA NAVAL

O CONCÍLIO DOS DEUSES A tapeçaria existente no gabinete do Comandante da Escola Naval, obra da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, segundo cartão do pintor portalegrense João Tavares (1908/1984), foi inspirada no episódio do Concílio dos Deuses Marinhos narrado no Canto VI de “Os Lusíadas”. Baco, despeitado por no Concílio dos Deuses (Canto I) ter sido vencida a sua oposição à viagem dos Portugueses, desce ao fundo dos mares, ao próprio palácio de Neptuno, onde instiga os Deuses Marinhos a oporem-se violentamente ao prosseguimento da frota gâmica. Sob um fundo azul escuro, a tapeçaria de 2,58x3,40 m é dominada pelas figuras de Neptuno e Baco, perfeitamente identificáveis pelos seus atributos. As três figuras femininas poderão corresponder a Thétis, filha do Céu e da Terra, esposa de Oceano. Anfitrite, cavalgan- do o Delfim que a aconselhou a entregar-se a Neptuno. E no canto inferior direito, Ino e seu filho, fugidos à loucura de Atamante e convertidos em deuses por Neptuno. A figura com tronco de homem e corpo de peixe será porventura Glauco, ou Tritão, ambos igualmente referidos por Camões no mesmo episódio. Estilizados, completam o desenho vários animais marinhos: peixes, anémonas, corais, estrelas do mar, conchas e os cavalos marinhos do “carro” de Neptuno. No canto superior esquerdo as três naus da Armada prosseguem, enquadradas por ondas. Em listel serpentino, partindo da nau do canto superior esquerdo e terminando no braço direito de Baco, os primeiros versos da estância 38 do Canto VI: “Enquanto este conselho se fazia / No fundo aquoso, a leda, lassa frota / Com o vento sossegado prosseguia, / Pelo tran- quilo mar, a longa rota”. Baco sustenta na mão direita umas folhas onde se lê: “E vós, Deoses do Mar...”, princípio da Est. 28 do mesmo canto. A assinatura do pintor e a data figuram no canto inferior direito: “João Tavares – 1953”. O monograma da Manufactura – M.T.P. – aparece no centro de uma anémona no canto inferior esquerdo. A Manufactura de Tapeçarias de Portalegre deve-se por um lado à criatividade de Manuel do Carmo Peixeiro (1893 – 1964), engenheiro têxtil, inventor do ponto de nó da tapeçaria de Portalegre (inspirado em nó de pescador e único no mundo), e por outro à iniciativa e persistência de Guy Roseta Fino, industrial de lanifícios, que acreditou ser possível, contra o cepticismo geral, o aparecimento de raiz duma Arte com pouca tradição em Portugal. Nos primeiros passos da Manufactura três pintores tiveram um papel fundamental: Guilherme Camarinha, já com algu- ma experiência de cartonista adquirida em França, João Tavares e Renato Torres, ambos na altura radicados em Portalegre, o primeiro professor do Liceu local, aguarelista de mérito, o segundo igualmente professor de desenho na Escola Industrial. Cabem a João Tavares os cartões das cinco primeiras tapeçarias executadas, ainda de modestas dimensões, a primeira das quais “Diana” datando de 1947. Guy Fino prossegue incansável a sua obra de divulgação da Tapeçaria de Portalegre, conseguindo a colaboração de alguns nomes de relevo no panorama artístico nacional e em 1949, na Exposição Geral de Artes Plásticas, na S.N.B.A., em Lisboa estiveram patentes três tapeçarias da Manufactura: “Pescador” de Maria Keil, “Bela Aurora” de Júlio Pomar e “Vaca” de Lima de Freitas, como que constituindo a apresentação pública da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre. Em 1952 são encomendadas pela Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, duas tapeçarias de grandes dimensões a partir de cartões de Guilherme Camarinha: “ A Descoberta da Madeira” e “Funchal Porto Atlântico”. Ambas foram expostas no Museu de Arte Antiga, aproveitando a coexistência duma mostra de tapeçaria francesa. A comparação da multissecular e prestigiada tapeçaria francesa com a jovem e incipiente congénere portalegrense sal- dou-se por um êxito rotundo e reconhecimento geral de qualidade. É a partir de então que o mercado institucional aparece e as encomendas sucedem-se. Uma destas encomendas é a da Escola Naval. Actualmente a Manufactura de Tapeçarias de Portalegre tem renome internacional e as suas obras distribuem-se por todos os continentes, associando a cidade do Alto Alentejo à assinatura de Artistas de craveira mundial. O “Concílio dos Deuses” é uma obra de arte única, assinada pelo mesmo artista que a história regista como autor da primeira tapeçaria saída dos teares portalegrenses. Vem referida e fotografada nos “50 Anos da Tapeçaria em Portugal”, edição da Fundação Calouste Gulbenkian de 1996, curiosamente com a legenda trocada... O seu valor acrescido à particulariedade de ser das primeiras Tapeçarias de Portalegre e única existente na Marinha torna-a uma peça importante do Património Cultural da Marinha.

Escola Naval (Texto de Rui Abreu, CMG MN) Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

28. ATAPEÇARIA DE PORTALEGRE DA ESCOLA NAVAL Fotos de Rui Salta, Museu Marinha PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 344 • ANO XXXI JULHO 2001 • MENSAL • 250$00 / € 1, 25

Comandante Sousa Machado Comendador de Santiago da Espada Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas

As viagens de instrução a bordo dos navios da Armada, para além da sua finalidade de formação técnico-naval dos futuros oficiais, têm também como objectivo missões de re- presentação nacional e de embaixada junto das comunidades portuguesas além-mar. A “Sagres”, a antiga e a actual, são bem o paradigma dessas honrosas missões, registando- -se na foto superior o primeiro N.E. “Sagres”, barca de três mastros de convés corrido, a nave- gar a todo o pano, e na foto inferior uma recepção no Hotel Waldorf-Astoria de Nova Iorque em 1948, em honra da sua guarnição e dos alunos cadetes da Escola Naval então embarcados. SUMÁRIO

Publicação Oficial da Marinha O Comandante Sousa Periodicidade mensal Machado foi agraciado Nº 344• Ano XXXI 5 com a Comenda da Ordem Julho 2001 de Santiago da Espada. Director CALM EMQ RES Luís Augusto Roque Martins Chefe de Redacção CFR REF Jorge Manuel Patrício Gorjão Redacção 2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito Secretário de Redacção 1SARG T Vitor Manuel Gaspar Lopes Colaboradores Permanentes CMG REF Raúl de Sousa Machado CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos CTEN Abel Ivo de Melo e Sousa 1TEN REF Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves Administração, Redacção e Publicidade Edifício da Administração O treino das unidades Central de Marinha navais: exercícios Revista da Armada CONTEX / PHIBEX 01 12 Rua do Arsenal e SWORDFISH 2001. 1149-001 Lisboa - Portugal Telef: 21 321 76 50 Fax: 21 347 36 24 Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt e-mail da Revista da Armada [email protected] Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito, montagem e produção Página Ímpar, Lda. Estrada de Benfica, 317 - 1º F 1500-074 Lisboa Tiragem média mensal: 6000 exemplares Preço de venda avulso: 250$00 Registada na DGI em 6/4/73 14 com o nº 44/23 A importância dos esquemas Luís Guimarães Lobato Depósito Legal nº 55737/92 de separação de tráfego na – Uma vida consagrada costa portuguesa. à vela. 17 ISSN 0870-9343 FOTOGRAFIAS ANTIGAS INÉDITAS OU CURIOSAS 2

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 344 • ANO XXXI JULHO 2001 • MENSAL • 250$00 / € 1, 25 EDITORIAL 4 OS FUZILEIROS NA OPERAÇÃO DA NATO DE APOIO À PAZ NA BÓSNIA – HERZEGOVINA 9 A MARINHA DE D. MANUEL (16) 16 CRÓNICA DE TIMOR 20 ECOS DO DIA DA MARINHA 24 RECORDAÇÕES 26 ESCOLA NAVAL 27 Comandante Sousa Machado Comendador de Santiago da Espada NOTÍCIAS 28 Foto de: Júlio Tito HISTÓRIAS DA BOTICA (10) 30

ANUNCIANTES: CONVÍVIOS / QUARTO DE FOLGA 33 OGFE - Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento; TELERUS - Sistemas de Telecomunicações, S.A. NOTÍCIAS PESSOAIS / SAIBAM TODOS 34 PATRIMÓNIO CULTURAL DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 3 EDITORIAL Trinta anos da Revista da Armada ão se pode abordar o 30º aniversário da Revista da A Revista foi acompanhando esta evolução, foi-se adaptando, Armada sem evocar o despacho ministerial nº 55 de 30 de modernizou-se, absorveu as novas tecnologias e tentou tornar-se NAbril de 1971 onde esse homem notável que foi o cada vez mais apelativa, mas os novos tempos não são fáceis e as Almirante Manuel Pereira Crespo definia o que pretendia. sucessivas e rápidas transformações da sociedade vão dando à • Iniciar em meados desse ano a publicação de um jornal – “Re- informação uma importância cada vez maior. vista da Armada” “que possa ser lido com agrado pelos nossos A Revista ciente desta realidade tem feito um esforço no sentido oficiais, sargentos e praças”. de veicular essa informação em tempo oportuno, para aproveita- • “Esse jornal poderá contribuir para fortalecer o espírito de corpo mento interno e externo e para que a opinião pública compreenda que sempre caracterizou a nossa Marinha e ao qual estão ligadas as melhor a realidade militar naval. virtudes e as tradições na- Também em artigos teó- vais”. ricos e com carácter peda- • E designa para Director o gógico tem-se abordado Comodoro Malheiro do matéria, algo especializada, Vale e para o Corpo Redac- que se torna necessário torial os Comandantes difundir e sempre que pos- Sousa Machado, Soares sível aumentado a vertente Cabeçadas (Capelão), Oli- cultural, componente fun- veira Lemos, Chúquere damental de uma Marinha Gonçalves da Cunha, que tem acompanhado o Smith Elpídio e Caeiro País desde a fundação. Junça . Ao mesmo tempo não Foi assim que arrancou a podemos deixar de manter Revista da Armada que de informados aqueles que acordo com o referido des- pela idade ou qualquer pacho fazia sair em Julho outro motivo foram dei- de 1971 o seu primeiro nú- xando as fileiras e desejam mero, no qual o Almirante manter a sua ligação à Ma- Malheiro do Vale começa a rinha que tanto amam. definir melhor a ideia da Pode-se assim afirmar, Revista, a qual “se destina espe- com alguma ponta de cialmente aos marinheiros, se vaidade, que a Revista da bem que interesse também a Armada com as suas cróni- todos os que servem na Ar- cas, ensaios, reportagens, mada – oficiais, sargentos e entrevistas, notícias, con- funcionários civis”. E con- tos, efemérides, fotografias, cretizando melhor, afirma, passatempos, caricaturas e que “deveria cimentar os tudo o mais, constitui hoje laços de amizade e camarada- com os seus 344 números gem entre todos os escalões da nossa hierarquia, conversar aberta- uma referência incontornável na História recente da Marinha. mente sobre todos os nossos problemas, incentivar o amor pela A concluir uma palavra de agradecimento a todos aqueles que profissão, glorificando os nossos heróis e feitos passados e pre- graciosamente têm colaborado para o êxito da “Nossa Revista” e sentes e ainda que, os que actualmente servem a Armada, se votos para que, como preconizou há 30 anos o Almirante Manuel orgulhem do seu passado e com os olhos no futuro trabalhem Pereira Crespo, continue a contribuir para o fortalecimento do para a engrandecer”, insiste ainda que “a Revista serviria para “Espírito de Corpo” que sempre tem caracterizado a nossa instruir, esclarecer, informar e finalmente proporcionar um pouco Marinha. de distracção aos que tiverem a paciência de a ler”.  Passadas estas três décadas, julgo que a Revista da Armada tem cumprido exemplarmente esta linha de orientação. É bem verdade, que neste período de tempo mudou muita coisa, processou-se uma renovação nas mentalidades, fruto não só dos novos tempos, mas também de uma nova formação, desi- Luís Augusto Roque Martins gnadamente a nível das praças. CALM EMQ

4 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA ComandanteComandante SousaSousa MachadoMachado ComendadorComendador dede SantiagoSantiago dada EspadaEspada

Comandante Raul de Sousa no NRP “S. Brás” e exerceu o comando Machado foi agraciado no passa- do contra-torpedeiro “Dão” e do patrulha O do dia 18 de Maio, pelo Almi- “S. Nicolau”. Em terra exerceu vários car- rante Chefe do Estado-Maior da Armada gos, nomeadamente o de Capitão dos em nome do Presidente da República, Portos de Cabo Verde, de Comandante com a Comenda da Ordem de Santiago da Defesa Marítima da Guiné e de da Espada. Governador do Distrito do Cuando- A cerimónia realizou-se momentos antes -Cubango, em Angola. da inauguração no Museu de Marinha – Em 1986 passou à situação de reserva, Pavilhão das Galeotas da exposição tendo sido convocado para prestar “Artes Plásticas”, integrada nas Comemo- serviço efectivo em Novembro de 1988, rações do Dia da Marinha, da qual o desempenhando funções na Comissão Comandante Sousa Machado foi o princi- Cultural da Marinha e de Secretário Geral pal organizador. da Academia de Marinha. Passou à situa- A Revista da Armada (R.A.), não pode, ção de reforma em Outubro de 1990. Da de modo algum, deixar de relatar este sua folha de serviços constam vários lou- acontecimento com o qual muito se con- vores e condecorações nacionais e gratula, aproveitando o momento para estrangeiras. dedicar algumas linhas a este seu ilustre colaborador de sempre, que decidiu R.A. – Não se pode falar da Revista da entrevistar. Armada sem nos lembrarmos do O Comandante Sousa Machado (S.M.) Comandante Sousa Machado, assim é actualmente Capitão-de-Mar-e-Guerra como ao falarmos de si nos lembramos reformado da Marinha Portuguesa, na logo da nossa Revista. Como é que a qual ingressou em Setembro de 1939, Revista da Armada soube aproveitar a tendo conseguido conciliar sempre a sua O Com. Sousa Machado com a Comenda da Ordem sua “veia artística” como colaborador? vida profissional com uma actividade de Santiago da Espada. S.M. – Como sabe, eu fui um dos co- artística para que se sentia naturalmente fundadores da Revista, creio que exacta- vocacionado. O Comandante Sousa Machado possui mente por essa minha “veia”, mas isso foi Nascido em Vila Nova de Paiva, em o curso de especialização em Artilharia, já amplamente divulgado na edição de 1921, vive em Lisboa desde a entrada bem como o de Controle Naval de Julho de 96 quando se comemorou o 25º para a Escola Naval, e naturalmente via- Navegação (NCSO), o Curso Geral Naval aniversário da nossa publicação. jou por cerca de metade do mundo, de- de Guerra (CGNG) e o Curso Superior Quiseram as circunstâncias que seja signadamente, Brasil, Estados Unidos da Naval de Guerra (CSNG). Esteve embar- agora o único, ainda vivo, que mantem América, Austrália e toda a África, Índia, cado em longa comissão no NRP colaboração desde o primeiro número, Macau, Timor e América Central. “Gonçalves Zarco”, no Extremo-Oriente, há cerca de 30 anos. Escrevi nas secções

O ALM. Roque Martins oferece ao Com. Sousa Machado uma lembrança em nome da Revista da O Com. Sousa Machado a ser entrevistado para a Revista da Armada. Armada REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 5 pintores, como Martins Barata, com quem privei, já na Marinha, e sob cujo convite e orientação pintei, 2 anos seguidos, postais de Boas Festas para os CTT, esses contac- tos e outros, como Frederico Ayres, por exemplo, em Lourenço Marques, fui sem- pre autodidacta, devorando muitos livros e praticando ou experimentando continua- mente em modalidades como a aguarela, o guacho e acrílico, o óleo, gravura de água-forte, pastel, linóleo, a lápis e à pena, modalidades pelas quais me reparti como ilustrador de revistas, e jornais, quase sem- pre no campo de assuntos navais. Fui membro da Sociedade Nacional de Belas Artes, onde expus, bem como noutros locais, particularmente no Clube Militar Naval, e nas exposições regulares mais recentes, designadas “Os Militares e a Arte”, que ocorreram por vários anos, patrocinadas pelo EMGFA e levadas a

os diversas cidades do território nacional. Capas das Revistas da Armada n 1 e 2. Pintei alguns painéis de azulejos, de- signadamente um para a POLNATO dos de “Bibliografia”, “Numismática”, R.A. – Uma das suas características é Açores, dois para os edifícios das dele- “Filatelia”, assuntos do Ultramar – quan- a segurança do traço que, designada- gações Marítimas de Mira e Póvoa do do havia – e escrevi histórias e episódios mente nas diversas ilustrações que Varzim, dois para o refeitório da Escola navais, tendo ilustrado também muitos executou, o individua- outros contos de outros autores. Co- lizam entre os artistas e laborei na secção “Quarto de Folga” o tornam muito conhe- com algumas anedotas navais. Além cido, principalmente no disso também escrevi e ilustrei alguns meio naval. manuais escolares, quando professor na Como foi conseguida Escola de Artilharia Naval, e na Escola essa segurança que o Naval, usando aliás da minha facilidade identifica tão bem? de desenhar para desenho didáctico durante as aulas, inclusivamente nos S.M. – Duma maneira liceus onde também ensinei ocasional- muito simples. Sabe que mente, sobretudo no Ultramar (Cabo quando a maçã caiu da Verde e Guiné / 5 anos). árvore e o Newton des- Escrevi também para a Editorial Verbo cobriu a gravidade tam- (para a qual fiz várias traduções) dois bém lhe fizeram uma livros sobre pilotagem de aviões igual- pergunta semelhante. mente ilustrados, claro, fruto do curso de Pensando muito nisso, P.P.A. que tirei. respondeu ele. E eu, ao desenhar, com o tempo, aos cinco anos já dese- nhava, comecei a fazer tantos e tantos desenhos que fui aperfeiçoando o traço e então a pessoa habitua-se a ver os por- menores dos desenhos que consegue executar e com o decorrer do tem- po vai ganhando per- feição.

R.A. – Como nasceu Painel de azulejos na POLNATO – Açores. em si o gosto pela pintu- ra e que trabalhos importantes exe- Naval (perdidos em incêndio há poucos cutou? anos). Pintei ainda alguns retratos de nave- S.M. – Como nasceu, não sei. Sempre gadores para o antigo Corpo de Mari- me senti atraído pela representação gráfi- nheiros, o retrato do Marquês de Niza ca, por exemplo, de temas escolares. Sem para o Comando da Escola Naval, o retra- outro curso que não fosse o liceal. to de Pêro Escobar para a fragata do Em termos de pintura mais avançada, e mesmo nome, bem como outros retratos Cartaz comemorativo. abstraindo de conversas ocasionais com para entidades exteriores à Marinha como,

6 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA Busto de Henrique Maufroy Seixas - Casa Seixas - Cascais. Painel em relevo – Hall de entrada do Museu Marítimo de Macau. por exemplo, o do general Humberto para o Edifício dos Socorros a Náufragos, figura no Museu Histórico de Macau. Delgado, filmado para a televisão alemã. escultura de um medalhão retratando o Mais recentemente executei diversas Tenente-General Bartholomeu da Costa, peças integradas na obra de recuperação R.A. – Pintou mais para a Marinha ou construtor do Dique do Arsenal, para o da fragata “D. Fernando II e Glória”; o para fora da Marinha? pequeno monumento na parada do busto do Almirante Pereira Crespo inau- Edifício da Marinha. No Ultramar exe- gurado em 24 de Fevereiro de 2000 numa S.M. – Essencialmente para a Marinha, e cutei o busto e concebi o monumento a rua de Cascais, e também o monumento temas da Marinha. Aprofundei estudos Honório Barreto para a Praça da sua terra constituído por uma estátua em bronze sobre a evolução do navio no geral, tendo natal (Cacheu) na Guiné; executei um dos Condes de Barcelona inaugurado em produzido para a Comissão dos Des- grande painel em relevo (6X3 metros) 12 de Setembro de 2000, aquando da cobrimentos quinze painéis que percor- para o hall de entrada do Museu Marítimo visita oficial dos Reis de Espanha a reram as escolas do país numa exposição de Macau e ainda outro grande painel Portugal. didáctica e itinerante. Também aprofundei para representar as navegações que estudos sobre a construção dos navios que entravam e saíam do Porto de Macau R.A. – Também no campo da meda- fizeram as grandes viagens dos com destino para todo o Mundo, o qual lhística realizou muitos trabalhos. Que- Descobrimentos, e se encontram já repro- rerá realçar de modo particular alguns duzidos em diversos materiais – aguarela, deles? desenho, óleo, acrílico – e mesmo em reproduções litográficas. Quando da oferta S.M. – A Medalhística foi também uma da Escola Naval Portuguesa de um painel das modalidades para que fui solicitado, e de azulejos, que deveria ter como motivo hoje conto com medalhas em inúmeras o quadro “Adoração dos Magos”, à Escola colecções particulares e oficiais, talvez Naval do Brasil, dei a minha assessoria mais de duas centenas de originais, e na artística à Cerâmica Constância, que pro- maior parte, naturalmente com motivos duziu o painel, sendo também eu o autor marítimos. A Marinha Grega e a Marinha do cartão, isto é da interpretação do cita- Turca encomendaram-me medalhas das do quadro e moldura cerâmica ilustrada. fragatas “Meko”, depois de ter feito as primeiras três para as nossas fragatas da R.A. – O Comandante diz de si próprio mesma classe. Colaborei regularmente, ser um “escultor nas horas vagas”. Apesar durante mais de dez anos (e ainda hoje) dessa sua definição relate-nos alguns dos com a Casa da Moeda, tendo esculpido seus principais trabalhos nesse campo. diversas moedas especialmente rela- cionadas com os Descobrimentos S.M. – Esse dito das horas vagas é Marítimos, e dando assessoria na vertente porque tenho feito todos os meus traba- náutica. lhos de pintura ou de escultura sem pre- É de minha autoria a moeda comemo- juízo do serviço a que a profissão obriga. rativa da reconstrução da Fragata “D. Neste campo artístico, bem mais dife- Fernando II e Glória”, que foi boa fonte de rente, da escultura, fiz diversos trabalhos rendimento para as despesas da recupe- quase sempre por encomenda, destacan- ração do navio. do-se a imagem de Santa Bárbara ofereci- Obtive alguns prémios dos quais desta- da à Escola de Artilharia Naval, o busto co uma medalha em concurso para a TAP de Henrique Maufroy de Seixas, que se (Transportadora Aérea Portuguesa), que encontra na sala de estar da Casa Seixas, Moeda comemorativa da reconstrução da Fragata consistiu de uma viagem à minha esco- em Cascais, o busto da Rainha D. Amélia “D. Fernando II e Glória”. lha.

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 7 Tenho-me dedicado nos últimos dez ou quinze anos a estudos de arqueologia Naval, particularmente sobre os navios dos Descobrimentos, juntando aqui os conhecimentos da vida do mar, que sem- pre vivi, com os objectivos dos descobri- dores, que pude imaginar.

R.A. – Se quiséssemos publicar toda a sua obra o Sr Comandante conseguiria lembrar-se de tudo?

S.M. – Lembrar-me de tudo talvez não, mas de grande parte sim. Também a minha pessoa é de “arte pequena”, porque a condecoração agora recebida é mais pela arte numérica do que qualitativa. Tenho consciência de que não sou um artista com A grande, mas um desenhador. Talvez tenha sido merecida só por isso, e não por ser um grande artista. De tudo o Ilustrações da Capa e do Canto IX dos Lusíadas da edição do Ministério da Marinha de 1972. que fiz tenho uma ideia completa e talvez conseguisse reunir parte das minhas obras R.A. – Diga-nos onde tem expostas de Marinha em Cascais, Direcção do e gostava sim que isso fosse publicado obras suas e se também se dedicou a ou- Serviço de Socorros a Náufragos, em Paço como recordação para a minha família. tros estudos ligados ao mar. de Arcos. Descobri um dia, uma medalha minha na colecção do falecido Presidente R.A. – O Sr. Comandante tem cons- S.M. – Existem obras minhas em alguns Kubitchek, em Brasília. ciência da dificuldade que vai haver na museus, designadamente no Museu de passagem do testemunho? Marinha de Lisboa, Museu Marítimo de Ilustrei também, a pedido do então minis- Macau, Museu José Malhoa, nas Caldas da tro da Marinha, almirante Pereira Crespo, S.M. – Ora bem, eu tenho feito uma Rainha, Museu Histórico de Macau, messe uma edição especial de “Os Lusíadas”. data de inquirições, quando vejo alguém novo a desenhar, chamo-o sempre, incen- tivando-o a fazer coisas para a R.A., mas depois todos dizem querer, mas ninguém aparece. R.A. – O Sr Comandante traz-nos algum desenho que queira deixar na Revista?

S.M.- Sim, trouxe um desenho do Cabo Pézinhos, dedicado à Revista, fazendo publicidade à R.A..

- Reparaste na maneira insistente como aquele marinheiro olhou para nós?

Anedota publicada no nº 298 da R.A. 

8 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA OsOs FuzileirosFuzileiros nana OperaçãoOperação dada NATONATO dede ApoioApoio àà PazPaz nana Bósnia-HerzegovinaBósnia-Herzegovina O Sistema de Informações da Reserva Operacional da SFOR (Conclusão)

"Actualmente o conceito de segurança tem de ser encarado de uma forma mais global do que nos tempos em que havia uma ameaça claramente defini- da. Hoje a ameaça exprime-se em termos de riscos múltiplos e mais difíceis de identificar"

Manfred Worner

EXPERIÊNCIAS E ENSINAMENTOS Recolha e obtenção de informação no aprontamento A recolha e obtenção de informação foi Fig. 1 – Características da área de operações. garantida junto de várias entidades da estrutura do Exército, através de conheci- Análise da informação obtida de operações sobre o cumprimento da mis- mentos pessoais e revelaram-se importantes Relativamente às características da área de são (Fig 1); para o desempenho da MISSÃO, nomeada- operações as informações existentes eram • Quanto à capacidade militar das mente – estudos tácticos, “briefings”, guia suficientes, o mesmo não aconteceu quanto Entidades (verificou-se que embora tenham prático da BiH e chave de interpretação ao conhecimento das entidades, da situação meios e capacidade para desencadear regional, cartas do Teatro de Operações em política e social. acções ofensivas, não existia qualquer papel e formato digital. intenção de o fazerem; os riscos advinham Não tendo sido realizado, considerava-se Programa “Arcview” e PC portáteis de acções armadas de indivíduos ou fundamental, nesta fase da missão, efectuar Adquiridos, ainda antes do aprontamen- pequenos grupos descontrolados ou de um reconhecimento ao Teatro de Operações to, verificou-se na prática que quer o equipa- acções de protesto da população civil con- (na área de Informações), pois não estavam mento quer o programa foram, sem dúvida, duzidas sob orientação de autoridades disponíveis os elementos necessários à avali- uma mais valia nesta fase de empenhamen- locais); ação da situação, pelo facto de a OPRES ter to operacional dos Fuzileiros. como área de intervenção todo o Teatro de Aquele programa é fundamental para a Operações; aliás reconhecendo a sua impor- leitura e tratamento de carta digitais. No tância a Força que substituiu o AgrConj entanto é importante dar alguma formação ALFA, efectuou esse reconhecimento. Para nesta área. No nosso caso foi possível algu- além disso, a unidade teve alguma dificul- ma aprendizagem na utilização do progra- dade em receber os Relatórios Periódicos de ma, através de contactos informais com o Informação que permitissem o acompanha- Instituto Geográfico do Exército (IGEO). mento e avaliação da situação. Avaliação da ameaça e riscos Centro de Dados Operacionais – CENDOP A ameaça geral à SFOR é avaliada como É um órgão na dependência do Comando BAIXA, tendo-se assistido nos últimos dois Naval (CN) e integrado no Centro de anos a um progresso significativo na imple- Guerra Electrónica (CENGE), cujas com- mentação dos aspectos militares dos Acordos Fig. 2 – Situação de minas. petências estão definidas superiormente (1) de DAYTON (General Framework Peace e que entre outras deve “... Assegurar o apoio Agreament-GFAP). • O risco provocado pelas minas (manti- e base de dados de imagem para navios, Confirmaram-se entretanto os riscos iden- nha-se como risco real à Força e à criação de helicópteros e unidades de Fuzileiros ...” tificados na análise da Situação de Informações um ambiente favorável à estabilidade social, Assim, ao ser atribuída uma missão e (2), que foi elaborada com base na avaliação dificultando o regresso dos refugiados/des- sendo constituída uma Força de Fuzileiros, o da ameaça e riscos, efectuada pelo escalão locados às suas regiões de origem (Fig 2); CN terá condições para disponibilizar tem- superior, designadamente: • A espionagem (continuava a ser uma ✎ pestivamente a informação adequada. • A influência das características da área das principais preocupações da SFOR, REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 9 sendo esta situação considerada como uma aspectos como o Banco Central, a das suas principais ameaças). moeda única, a uniformização das licenças de matricula das viaturas, Efectivo da secção de informações os símbolos de estado e as refor- Os efectivos, apenas um Oficial (Fuzileiro) mas fiscais foram impostos pela e um Sargento (Exército), revelaram-se ma- Comunidade Internacional. Na nifestamente insuficientes para o trabalho realidade o único verdadeiro continuo das informações tendo em vista o sucesso alcançado foi a ausência conhecimento permanente e actualizado da de conflito armado durante 4 anos. situação em todo o Teatro de Operações. É Na BiH existem de facto três de referir que as células de informações das entidades étnicas, três exércitos Divisões Multinacionais (G2), são constituí- separados, três forças de polícia e das entre 8 e 11 elementos. um governo nacional, que existe no papel, mas que, na prática, é Factor multinacionalidade manobrado pelas Entidades. Fig. 3 - Áreas críticas - (Hot Spots). Do factor multinacionalidade, resultou por Alterando ligeiramente as céle- um lado alguma dificuldade de coordenação bres palavras de TITO, podemos dizer que a políticos e militares, através de informação e entendimento na difusão oportuna das BiH é um país com 3 grupos étnicos, 2 processada pelos sistemas C2 (Command and informações devido à falta de procedimentos Entidades (FBiH e RS) 10 cantões (4), 148 Control) e CIS (Communication and Informa- comuns, e por outro lado uma tendência na- municípios (Opstinas), 5 religiões, duas tion Sistem) explorando e protegendo a tural para privilegiar o país de origem das Forças Armadas, 3 exércitos, 3 presidentes, 2 própria informação e aqueles sistemas. O forças e só depois os canais da SFOR. Assembleias Legislativas e 3 Assembleias âmbito das INFO OPS é muito amplo e a Nacionais. sua aplicação nas operações de apoio à paz, Situação Regional Neste país a situação regional é muito pode evitar a intervenção militar. Por isso, A organização do poder político complexa, pois o verdadeiro poder político são consideradas, pela NATO, ao nível decorre da implementação dos Acordos está nos municípios e cantões. estratégico e operacional mas devem ser de DAYTON e tem um estrutura que é exercidas em todos os níveis. tutelada pela Comunidade Internacional, Áreas Críticas - (Hot Spots) As INFO OPS continuam a ser um dos através do Alto Representante (Office of São áreas (geralmente um município), meios mais importantes e eficazes da the High Representative-OHR) (3). onde devido às condições de segurança o influência da SFOR na BiH em que existe Os objectivos políticos das facções não regresso de minorias DPRE é difícil ou um grande envolvimento da Informação foram alterados significativamente desde a impossível e pode gerar violência. Esta si- Pública e das Operações Psicológicas assinatura daqueles acordos. Ainda não tuação geralmente é provocada pelo grupo (PSYOP) no apoio ao conceito do Coman- existe unidade política, pois o poder político étnico maioritário por motivos históricos, dante da SFOR (COMSFOR) À medida que real não está no governo central, mas sim ao políticos e económicos (Fig 3). Na área das vai sendo conseguida a estabilidade política nível das facções. Os líderes dos Bósnios- informações, relativamente aos DPRE, e económica naquele país, a importância das -servios e Bósnios-croatas continuam a impedir importa analisar as condições de segurança operações essencialmente militares vai dimi- a cooperação política e o funcionamento das e factores desfavoráveis que possam afectar nuindo, vindo a aumentar a importância instituições. Alguns indiciados de crimes de o seu regresso e efectuar avaliação da dos “media” locais e regionais na promoção guerra continuam em liberdade e o poder ameaça nas diferentes áreas. pública, generalizada, do entendimento e político está concentrado em grande parte Mereceu especial atenção a actividade que apoio das Operações da SFOR. nos radicais nacionalistas que estão determi- foi desenvolvida no âmbito do acto eleitoral As INFO OPS têm tido uma importância nados em impedir ou dificultar o esforço de Abril de 2000 e das eleições no Mon- especial nas operações desenvolvidas pela internacional que tem estado a ser desen- tenegro (Junho de 2000). A situação era SFOR tendo em vista a redução das influên- volvido para o avanço do processo de paz. extremamente difusa e poderia vir a tornar- cias hostis; são exemplo desta situação o Enquanto não mudarem os seus objectivos se crítica pelos seguintes factores sucesso das operações realizadas em políticos não haverá unidade política. • Importância das eleições para o desen- DRVAR (Federação muçulmana-croata) e SRE- O sucesso da implementação dos Acordos volvimento político do conflito; BRENICA (República Srpska), que tiveram de DAYTON tem sido limitado e, alguns • As áreas identificados pela SFOR, asso- um grande envolvimento das INFO OPS. ciados ao regresso de refugiados e desloca- Na sua execução existiu uma estreita dos têm vindo aumentar a instabilidade em coordenação entre as células de Operações, A intensidade dos conflitos em 1991 e o nível de des- algumas áreas e em toda a comunidade Informações, CIMIC, PIO, os assuntos legais truição atingido obrigou à intervenção da comunidade internacional a partir de 1992 – ONU (FORPORNU) e étnica associada. da SFOR e a Comunidade Internacional e posteriormente em 1995 a NATO (IFOR e SFOR). especialmente OHR e OSCE. Portugal participa neste teatro de operações desde Fluxo de informação 1996, primeiro na IFOR (BIAT-900 h) e posterior- O facto de não existirem terminais Difusão de informação mente, em 1997 na sfor com unidades de escalão CRONOS em VISOKO, durante a missão, Decorridos cinco anos de empenhamento batalhão (BIMEC e BLI – 320 h) - até à data estiveram não permitiu um adequado fluxo de infor- de militares portugueses neste Teatro de empenhados 9 batalhões num total de 3 600 h. mação entre o Batalhão, o QG da SFOR e Di- Operações existe um conjunto disperso de Actualmente e desde a entrada da força conjunta Marinha-Exército no teatro de operações (jan00) que visões o que constituiu um factor limitador documentos e de doutrina. A sua compi- foi atribuída outra missão às unidades portuguesas da actividade da Secção de Informações, lação e distribuição oficial às unidades logo - reserva operacional do comando da SFOR, poden- que só foi atenuado pelos contactos esta- no início da sua preparação é fundamental do ser empenhadas como força de intervenção em belecidos como já foi referido anteriormente. para o cumprimento da missão da Força qualquer área da Bósnia-Herzegovina. Nacional Destacada. Destaca-se o empenhamento em diversas operações Information Operations (INFO OPS) na divisão multinacional N (americanos), na divisão A definição de INFO OPS, de acordo com National Intelligence Cell – NIC multinacional SW (ingleses) e na operação “Joint Resolve XIX” (divisão multinacional SE –franceses documentos da NATO (5) refere que são as A missão da Reserva Operacional do e alemães). acções desenvolvidas para influenciar a COMSFOR atribuída à Força Nacional tomada de decisão no apoio a objectivos Destacada tem como área de actuação todo o

10 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA Teatro de Operações como já referido ante- nente da situação de informações nas áreas parativamente com as operações conven- riormente, tendo o sistema de informações críticas, tendo para tal de recorrer, algumas cionais, verificou-se, pelos diversos contac- uma grande dependência do escalão supe- vezes, a contactos não oficiais. Esta situação tos a nível multinacional, que as infor- rior, pelas características da própria missão. tornou-se desgastante tendo em conta o mações constituem um dos aspectos impor- Julga-se que seria desejável a existência de reduzido efectivo da secção de informações; tantes para o cumprimento da missão o que uma célula de recolha e tratamento de infor- • Finalmente, o facto desta Força Con- veio a confirmar-se empenhamento opera- mação - National Intelligence Cell – NIC (Fig 3) junta ter sido a primeira unidade a quem foi cional, por vezes com algum risco, como foi R.A. nº 343 para compensar o défice de atribuída uma missão desta responsabili- o caso da acção desenvolvida pela compa- informação descendente e simultaneamente dade (reajustamento do dispositivo efectua- nhia de Fuzileiros em SREBRENICA. Neste disponibilizar (oficialmente) informação do pela NATO em Janeiro de 2000) e por contexto importa referir que a experiência e mais sensível para Portugal à semelhança todas as condicionantes já referidas impli- o profissionalismo dos Fuzileiros foi decisiva do que acontece com a maioria dos países cando o consequente processo de apren- para o sucesso da missão como pode ser com Forças integradas na SFOR. dizagem e adaptação estrutural. constatado na carta enviada ao Ministro da Ainda neste âmbito importa referir o Defesa Nacional pelo embaixador ameri- Cooperação em ambiente multinacional grande profissionalismo e experiência cano (ver caixa). O nível de cooperação conseguido em ambiente CONCLUSÃO multinacional com o QG da Estamos conscientes de SFOR (CJ2, CJ9), DMN (G2), que os conflitos regionais vão MSU, OSCE, IPTF através de continuar a eclodir. Embora contactos regulares, permiti- muitos dos actuais conflitos ram a troca de informação de tenham características de que resultou um trabalho guerra civil, a verdade é que, integrado e constituíu uma com frequência, eles têm experiência única, muito exi- importantes implicações na gente e gratificante por ter estabilidade regional. sido adquiria num Teatro de Os conflitos étnicos e políti- Operações da NATO. cos podem transformar rapi- damente numa confrontação Sistema de Informações regional ou internacional Os elementos apresenta- aquilo que começou com um dos anteriormente permitem Contacto com a população. simples conflito interno. Os concluir em síntese, que o conflitos internos podem sistema de informações da OPRES do demonstrado pelos militares da SFOR que também originar ou intensificar problemas COMSFOR envolvia alguma complexidade trabalhavam na área das informações e as globais, como o terrorismo, o narcotráfico, o (6), no que diz respeito ao ciclo de produção técnicas de planeamento e estado-maior evi- contrabando de armas, os movimentos de de informações (pesquisa e exploração), denciadas, assim como o conhecimento dos refugiados e a degradação ambiental. tendo em conta não só o facto do ambiente conceitos e doutrina da NATO, aliados a um As operações da apoio à paz quer no operacional não ser constante, mas também constante pragmatismo na abordagem dos âmbito da NATO quer das Nações Unidas devido aos diversos factores típicos de uma assuntos. Tudo isto foi permanentemente têm-se afirmado como um instrumento operação de apoio à paz e da própria missão constatado em contraste com a grande insubstituível para a implementação da paz. da unidade, dos quais se destacam os disponibilidade e empenhamento dos mili- A colaboração no esforço mundial para a seguintes; tares da Secção de Informações, mas que paz é motivo de orgulho para Portugal e de • A unidade não tendo uma Área de sentiram todavia algumas dificuldades por prestígio para a Marinha. Participar digna- Responsabilidade, o que decorre das carac- falta de formação específica neta área. Con- mente nesse esforço deve ser assumido pelo terísticas da própria missão, podia intervir trariamente a algumas sensibilidades que poder político e pelos militares.  em qualquer área do Teatro de Operações, consideram este sistema de menor mantendo para tal um elevado nível de importância neste tipo de operações, com- José Manuel C. Neto Simões prontidão; 1TEN SEF • A recolha de informação dependia de uma grande diversidade de órgãos de “...Portuguese Marine platoons have been operating Notas pesquisa, que não pertenciam à unidade, under the tactical control of Multinational Division assim como de uma ligação constante e (North) which has incorporated them into individual (1) As atribuições do CENDOP estão definidas no troop/company AOR. ... they are with the perfor- despacho do ALM CEMA nº01/98 de 8 de JAN. estreita coma as DMN e a Reserva Aérea; mance and professionalism of the PO OPRES...” (2) A situação de informações constava do ANEXO • O fluxo de informação nem sempre foi o Extracto da referência elogiosa ao empenhamento e de Informações da Ordem de Operações do AgrConj adequado e o desejável, em virtude de não profissionalismo dos Fuzileiros portugueses envia- ALFA, que foi elaborada quando a Força entrou no ter estado disponível o sistema de infor- da ao Chefe do Estado Maior do Exército dos EUA Teatro de Operações. pelo Comandante do Exército dos EUA na Europa. (3) O OHR era um diplomata de nacionalidade aus- mação NATO (CRONOS), conforme referi- tríaca (Wolfgang Petritsch) e tem uma estrutura com do, existindo uma excessiva dependência do Este elogio foi enviado pelo embaixador dos EUA cerca de 250 funcionários (várias nacionalidades) e 450 em Portugal (Gerald S. McGowan) a SEXA o elementos locais. escalão superior para recolha autorizada de Ministro da Defesa Nacional (Dr. Júlio Castro informação, acrescido ao facto de não estar Caldas), com as seguintes palavras: (4) Cantão é uma divisão administrativa na activada uma célula nacional de informações Federação croata-muçulmana, que resultou dos Acordos de DAYTON e que engloba vários municípios. (NIC) que limitou o acesso a determinado “...Your Soldiers and Marines are doing an excellent job representing Portugal in a difficult demanding Cada cantão tem um governo próprio. tipo de informação mais crítica; mission. Their efforts are being noticed and deserve (5) Outro documento de referência importante é o • Neste tipo de operações há necessidade recognition. I would very much like to participate, if FM 100-6 (AGO96) de efectuar o acompanhamento constante at all possible, in the ceremony honoring this contin- (6) A missão anterior da Força Nacional Destacada, gent when they return from Bosnia to publicly tinha características de quadrícula em que ao batalhão do ambiente operacional e da situação acnowledge their efforts and to pass on appreciation português estava atribuída uma AOR (sector) e depen- política, social e económica e militar, de of the United States for their efforts”. dia directamente da Brigada Italiana, estando essencial- forma a tornar possível a avaliação perma- mente dependente dos seus órgãos de pesquisa. REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 11 EXERCÍCIOS NAVAIS CONTEX/PHIBEXCONTEX/PHIBEX 0101

ealizou-se entre os dias 27 de Março e 4 de Abril o exercício CON- RTEX/PHIBEX 01. Com um novo fi- gurino, resultante da fusão dos tradicionais exercícios CONTEX e PHIBEX, o CON- TEX/PHIBEX foi desenhado para satisfazer os requisitos de treino das unidades navais, nacionais e aliadas, numa vasta gama de disciplinas da guerra naval, e proporcionar treino avançado ao Batalhão Ligeiro de Desembarque. Para este efeito foi activado o Grupo Tarefa 443.05, comandado pelo CMG Rodrigues Cancela, que incluíu as fragatas “Comandante Hermenegildo Capelo” e “Comandante Sacadura Cabral”, as corvetas “General Pereira d’Eça” e “Augusto Castilho”, o navio balizador “Schultz Xavier”, com equipa de mergu- lhadores embarcada, e a fragata espanhola “Baleares”. A componente anfíbia do exer- O CALM Fonseca, o Com. Rodrigues Cancela, Estado-Maior e Comandantes dos navios e forças envolvidas. cício consistiu no Destacamento de Acções Especiais e no Batalhão Ligeiro de De- guerra de superfície, tiro de superfície con- Com a chegada à Area das Operações sembarque, que incluíu, entre outros, duas tra alvo rebocado e lançamento de torpe- Anfíbias, localizada na zona do Pinheiro Companhias de Fuzileiros, um Pelotão dos contra submarino, as segundas exerci- da Cruz, em 1 de Abril, deu-se início à ter- taram as suas perí- ceira e última fase do exercício. Esta fase cias nas Instalações constou do desembarque e subsequente Navais de Tróia e progressão e operação em terra das na área do Pinheiro Companhias de Fuzileiros, enquanto as da Cruz. Unidades Navais conduziram, nas respec- A força naval tivas aproximações uma operação de atracou nas Insta- interdição marítima sob um cenário de lações Navais de embargo decretado pelo Conselho de Tróia na manhã de Segurança das Nações Unidas. A compo- 31 de Março, tendo nente terrestre viria a reembarcar em 4 de o Estado-Maior do Abril, após atingidos os objectivos propos- Grupo Tarefa apre- tos, tendo a Força Naval rumado à BNL, sentado uma pri- onde atracou no final desse mesmo dia. meira apreciação A reunião final do exercício decorreu do exercício ao no CITAN em 6 de Abril, tendo sido CALM Alexandre opinião unânime que os objectivos do Anti-Carro, um Pelotão de Morteiros, um da Fonseca, 2º Comandante Naval, que exercício tinham sido consistentemente Pelotão de Transportes Tácticos, um Grupo aí se deslocou para o efeito. alcançados. de Botes de Assalto e um Grupo de Lanchas Já com o Batalhão Anfíbias. Participaram ainda no exercício Ligeiro de Desem- dois submarinos curiosamente do mesmo barque a bordo dos nome, o português “Delfim” e espanhol diversos navios, o “Delfin”, e aviões F-16, A-Jet, P-3P, C- Grupo Tarefa largou 212EW e SA-330 da Força Aérea Portu- para o mar iniciando guesa. a 2ª fase do exercício, Na sua estrutura o exercício compreen- a qual constou de um deu três fases: uma primeira fase de ades- trânsito sob ameaça tramento individual e aperfeiçoamento múltipla de aviões, para combate, uma segunda fase de inte- navios e submarinos, gração de forças e, finalmente, uma fase para a área do de- final de treino táctico. A primeira fase sembarque anfíbio. decorreu entre os dias 27 e 31 de Março, Simultaneamente, os separadamente para as forças navais e dois submarinos exer- anfíbias, enquanto as primeiras conduzi- citaram a recolha e ram um programa de treino de complexi- insersão de forças es- dade crescente, envolvendo exercícios de peciais em costas po- guerra anti-aérea, guerra anti-submarina, tencialmente hostis. Regresso dos botes, após desembarque anfíbio.

12 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA SWORDFISHSWORDFISH 20012001

a continuação do Programa de Exercícios do Comando Naval re- Nlativo ao ano de 2001, decorreu de 19 a 27 de Abril o exercício SWORDFISH 2001. O SWORDFISH, exercício de periodi- cidade bi-anual, contou este ano com a par- ticipação da STANAVFORLANT, como Grupo Tarefa 443.01, comandada pelo CMDR Melo Gomes, embarcado a bordo da fragata “Álvares Cabral”, navio-chefe da força, a qual incluíria ainda as fragatas Fredericton (Canadá), Rheinland-Pfalz (Alemanha), John L Hall (Estados Unidos), Van Speijk (Holanda), Victoria (Espanha), Westminster (Reino Unido) e o navio rebastecedor Oakleaf (Reino Unido). Do lado nacional participaram no exercício as fragatas “Corte Real”, “Comandante Hermenegildo Capelo” e “Comandante Sacadura Cabral” e o navio reabastecedor “Bérrio”. Estas navios formaram, conjunta- mente com a fragata espanhola “Numan- A Força Naval em operações. cia”, o Grupo Tarefa 443.02, comandado pelo CMG Rodrigues Cancela. A compo- genéricos, num estudo detalhado das mação recebida do mar, procedeu ao trata- nente submarina do exercício ficou a cargo condições ambientais na área de exercícios, mento de dados e à actualização diária de do submarino nuclear francês Amethyst, do levado a cabo pelo navio oceanográfico “D. uma página da Intenet, especialmente cria- espanhol “Tonina” e dos portugueses Carlos” e envolvendo a colaboração de um da para o efeito. Esta página esteve, durante “Delfim” e “Barracuda”. De realçar ainda o avião de patrulha marítima (MPA) da FAP, todo o exercício, à disposição das unidades significativo envolvimento da Força Aérea, sob coordenação do Instituto Hidrográfico. participantes, tendo por todas sido consi- tendo-se registado a presença de aviões F- Esta recolha de dados oceanográficos na derada de extraordinária utilidade. 16, A-Jet, P-3P, C-212EW e SA-330 da Força área de exercícios, que se iniciou em 2 de Em termos operacionais, o exercício pro- Aérea Portuguesa, um avião de aviso ante- Abril e se prolongou até 24 do mesmo mês, porcionou uma vasta gama de oportu- cipado E-3D do Reino Unido e de dois permitiu, conjuntamente com informação nidades de treino, de onde se destaca a uti- aviões de patrulha marítima, respectiva- obtida junto de outras fontes, a produção de lização de submarinos, incluíndo nuclear, mente da Espanha e da França. elementos de informação considerados em operações de apoio a forças de superfí- Novidade em exercícios nacionais foi a importantes para um emprego mais eficaz cie, a realização de exercícios avançados de introdução do “Operational Environmental das armas e sensores no mar. Simultanea- guerra electrónica com recurso a um simu- Assessment” (OEA), um dos campos de mente com a actividade científica no mar, lador móvel NATO de actividade electróni- acção da oceanografia operacional actual- foi activado nas instalações do Comando ca embarcado a bordo do NRP “Bérrio”, mente em grande desenvolvimento ao nível Naval, em Oeiras, um Centro de Fusão de exercícios avançados de defesa aérea com NATO. O OEA consistiu, em termos muito Dados “OEA” o qual, a partir da infor- envolvimento de avião de aviso aéreo ante- cipado (AEW) e tiro anti-aéro contra manga rebocada, entre outras. De realçar o exce- lente desempenho dos navios no exercícios de tiro anti-aéreo, tendo o alvo acabado por ser destruído por um tiro mais certeiro do NRP “Álvares Cabral”. No dia 23 de Abril o VALM Comandante Naval Silva Santos e o Tenente General Fernando Nico, Comandante Operacional da Força Aérea, deslocaram-se de he- licóptero à área de exercícios tendo assisti- do às operações em curso e visitado os Grupos Tarefa. A reunião final do exercício decorreu no CITAN, em 4 de Maio, tendo sido recebido comentários extremamente favoráveis por parte de todos os participantes, chegando inclusivé a ser reconhecido como um dos melhores exercícios de participação NATO realizado nos últimos anos. 

O Comandante Naval,VALM Silva Santos e o Comodoro Melo Gomes a bordo da “Álvares Cabral”. (Colaboração do Comando Naval)

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 13 Esquemas de Separação de Tráfego na Costa Portuguesa

INTRODUÇÃO que em 1989 provocou um derrame de dificuldades materiais, estas duas estações 30.000 Ton. do mesmo produto na Ilha de nunca foram instaladas e a estação do As águas portuguesas, são sulcadas Porto Santo. Cabo da Roca viria, mais tarde a ser de- diariamente, por largas dezenas de sactivada. navios, sendo muitos deles navios EVOLUÇÃO DO CONTROLO A situação portuguesa é pois algo con- petroleiros. Muito do tráfego de crude DO TRÁFEGO MARÍTIMO troversa. Existem EST implementados nos desde os centros de produção até aos pontos mais críticos, mas não existe qual- grandes centros de consumo, como é o EM PORTUGAL quer controlo sobre o cumprimento ou caso do Norte da Europa, passa ao largo A partir dos finais da década de incumprimento das rotas a seguir naque- da costa portuguesa. Esta realidade é cinquenta, sentiu-se a necessidade de las áreas. indissociável do facto de genericamente implementar, com o auxilio da IMO Na vizinha Espanha existem já VTS o crude ao ser extraído não ser transfor- (International Maritime Organization) costeiros nos pontos mais críticos mado no local de extracção ou nas suas Esquemas de Separação de Tráfego (GIBRALTAR e FINISTERRA), integrados imediações, mas sim trans- no Plan Nacional de Salva- portado por mar em longas mento Marítimo y Lucha con- distancias até zonas do Globo tra la Contaminacion, o que fortemente industrializadas, contrasta com o vazio da onde se situam as grandes costa portuguesa. refinarias, como é o caso do Norte da Europa. FLUXOS E ESQUEMAS Admite-se sem margem para DE SEPARAÇÃO DE dúvidas que a densidade de TRÁFEGO (EST) NA tráfego marítimo na nossa COSTA PORTUGUESA costa, está em 3º lugar nas águas europeias, logo a seguir A Figura 1 ilustra os fluxos ao Canal da Mancha e ao de tráfego na nossa costa. Estreito de Gibraltar. Com efeito, constatamos que Dados recolhidos em 1986 todo o tráfego proveniente do por uma Estação Radar experi- Atlântico Sul, Mediterrâneo e mental instalada no Cabo da Continente Americano com Roca, permitiram concluir que destino ao Norte da Europa e no mês de Maio daquele ano, Figura 1: Transporte do Crude por via Marítima (in IMO NEWS, n3, 1999, 21p.) vice-versa passa nas nossas passaram no Esquema de águas. Separação de Tráfego nas ime- Também é notória a proxi- diações daquele Cabo 2132 navios, o que Marítimo (EST) em alguns locais da Costa midade dos EST da costa, onde por exem- nos dá uma média diária de 69 navios. Portuguesa. Assim temos o seguinte: plo em S. Vicente o corredor ascendente Por outro lado, dados recolhidos no está colocado a cerca de 5 milhas. No VTS (Vessel Traffic System) de Tarifa, 1968 - Estabelecimento, pela IMO, dos resto da Europa, de uma forma geral os mostram que no ano de 1994, entraram e EST do Cabo da Roca e Cabo S. EST estão mais afastados. Em Finisterra o saíram do estreito de Gibraltar, uma Vicente. EST, foi afastado há alguns anos, de tal média de 111 navios/dia. 1976 - Portugal adere à IMO. forma que o corredor mais próximo da Admitindo um aumento para os dias de 1978 - Propostos e aprovados pela IMO costa, está colocado a mais de 20 milhas. hoje, se considerarmos uma média de novos EST para a Costa do Casos há, em que por razões geográficas 100 navios/dia pensamos que não Continente: não é possível o afastamento, como por andamos longe da realidade. Desco- • Afastamento dos EST do Cabo da exemplo Gibraltar, o que não é o caso da nhecemos se existem dados mais actua- Roca e Cabo de S. Vicente nossa costa, onde não existe qualquer aci- lizados, relativamente à Costa Portuguesa • Implementação de um novo EST dente geográfico que impeça o afasta- contudo são irreais valores já apresenta- ao largo das Berlengas. mento. dos na comunicação social que apontam 1979 - Entrada em vigor da proposta para largas centenas de navios/dia, não Portuguesa. NECESSIDADE DE AFASTAR OS EST deixando no entanto a média de 100 na- DA COSTA PORTUGUESA - EST DO vios/dia de ser preocupante, em termos de Em meados da década de 80 foi instala- CABO DE S. VICENTE - RISCOS concentração de tráfego marítimo. da no CABO DA ROCA a já referida Não é por acaso, que as águas Portu- estação radar, com a finalidade de contro- ACRESCIDOS guesas, foram palco nas últimas décadas lar a navegação no EST do referido Cabo. Como já vimos, toda a navegação de vários acidentes marítimos com con- Esta estação constituiu como que um proveniente do Mediterrâneo e Norte de sequências negativas para o meio ambi- embrião de um VTS. Havia intenção de África, com destino ao Norte da Europa e ente, dos quais destacamos o JACOB instalar mais duas estações, uma em S. vice-versa, passa ao largo do Cabo de S. MAERSK que provocou em 1975 um der- VICENTE e outra nas BERLENGAS para Vicente (ver Figura 2). Neste sentido, e rame de 50.000 Ton. de crude junto ao controlo dos respectivos EST. conforme já foi referido, foi proposto e Porto de Leixões, assim como o ARAGON Infelizmente, ao que tudo indica por aprovado pela IMO o respectivo EST.

14 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA Figura 3 - Simulação da rota seguida por um petroleiro, com 80.000 Tons de crude, antes e depois da avaria (in Galvão, V. 1993, Revista da Armada, nº256, 21-22pp.)

Figura 4 - EST de Finisterra, após o afastamento (azul) em oposição à anterior posição (rosa) (in Mariña Civil, nº29, 1993, 23p.)

da Costa, com guinada franca na rota a seguir; • Inexistência de Estação de Controlo da Navegação (VTS) instalada em S. Figura 2 - Corredores de tráfego marítimo ao longo da costa portuguesa. Vicente.

Neste EST, contrariamente aos restantes rombos e danos consideráveis e a conse- Associado a estes factores de risco, não da Costa Portuguesa, os navios são obri- quente MARÉ NEGRA. Ainda que tivésse- podemos ignorar a existência no Porto de gados a alterar francamente o seu rumo, mos rebocadores de Alto-Mar estaciona- Sines, dos terminais e refinaria petrolífera, num espaço relativamente curto, o que dos em Sines, 4 horas não são suficientes que só por si constituem um motivo de aumenta o risco de colisão. Se por para prestar a devida assistência (ver forte preocupação. Convém também não hipótese, um navio que entre no corredor Revista da Armada Jul.93). esquecer que a COSTA VICENTINA e o ascendente, por erro de navegação, ini- É pois necessário afastar mais o EST de SUDOESTE ALENTEJANO constituem o ciar a sua guinada para estibordo dema- S. Vicente, a exemplo do que os Parque Natural do Sudoeste Alentejano e siado tarde ou se tiver uma avaria no Espanhóis já fizeram em FINISTERRA Costa Vicentina que para além da área leme, arrisca-se a passar a Zona de (Figura 4). terrestre possui 2 km de área marítima Separação e a entrar no corredor descen- Para procedermos deste modo é paralela à costa, pelo que todas estas dente, podendo colidir com outro navio a necessário a instalação de uma Estação de questões devem ser encaradas com espe- navegar correctamente em sentido con- Controlo de Navegação naquele Cabo cial reflexão. trário neste corredor. (VTS), a exemplo do que já foi feito em Por outro lado, ambos os corredores, Finisterra, sem o que a IMO não aceita o CONCLUSÃO ascendente e descendente, estão demasia- afastamento dos EST. damente perto da Costa. Vamos imaginar Assim, podemos considerar que a Costa É NECESSÁRIO E URGENTE INSTALAR que um petroleiro, com 80.000 Tons de Vicentina é uma zona de grande risco em UMA ESTAÇÃO VTS NO CABO DE S. crude, tem uma avaria e fica imobilizado termos de poluição marítima acidental, VICENTE, POR FORMA A PERMITIR O na posição indicada na Figura 3 a cerca pelos seguintes motivos: AFASTAMENTO DO SEU EST PARA de 8 milhas da terra. DISTÂNCIAS NUNCA INFERIORES A 20 Suponhamos ainda que se faz sentir • Intenso tráfego marítimo ao largo do MILHAS NÁUTICAS.  forte temporal, com vento SSW força 8. O Cabo de S. Vicente; navio inicia então um abatimento para • Toda a navegação é obrigada a alte- Vasco Galvão NNW, com uma velocidade de 2 nós e rar francamente a sua de rota; CTEN em cerca de 4 horas encalha provocando • EST em S. Vicente demasiado perto (Consultor do CILPAN)

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 15 A MARINHA DE D. MANUEL (16) OO AcasoAcaso ouou aa IntencionalidadeIntencionalidade

edro Álvares Cabral passou por com essa direcção, se o seu caminho era navios guinaram intencionalmente para Cabo Verde como se tivesse água a volta do mar para demandar o Cabo da oeste à procura de terra, a terra que vie- P para navegar quatro meses, como Boa Esperança? No mínimo estariam a ram a descobrir em 22 de Abril de 1500. lhe recomendara Vasco da Gama, e perder tempo e barlavento. E esta Os sucessos deste encontro com o seguiu o seu caminho para sul com os questão levantou – mais uma vez – a Brasil são conhecidos e não iremos par- alísios de nordeste que, naquela altura dúvida sobre se a descoberta daquelas ticularizá-los aqui. É sabida a alegria das do ano lhe permitem chegar até ao terras foi um acaso, numa viagem para a gentes, a forma como contactaram com Equador. Quando encontrou os de Índia, ou se teria sido algo de intencional os índios, a impressão que causaram, a sueste, virou para estibordo, tomando o e planeado. Bom!... Um acaso total não missa em Porto Seguro, a recolha de caminho do oeste e sudoeste, conforme o pode ter sido. Não é provável que os lenha e água e a partida a 2 de Maio, não vento e o mar lhe servisse sem enviarem um navio (instruções de Vasco da (Gaspar de Lemos) ao Gama). E, a partir de certa reino, para anunciar a altura, é interessante se- descoberta que tinham guir o que Pêro Vaz de feito. Caminha escreveu, na Continuaram, pois, o seu carta que foi enviada a D. caminho navegando até Manuel: “E asy seguimos cerca do dia 20 de Maio, nosso caminho per este data em que caíram de- mar de lomgo ataa terça baixo de um temporal que feira d’oitavas de Páscoa fez perder os navios uns que foram 21 dias d’Abril dos outros só se reagru- que topamos algÙus sy- pando seis deles. Barto- naaes de terra” – e segue lomeu Dias, o heróico e mais à frente – “E aa quar- sabedor marinheiro que, ta feira seguimte pola pela primeira vez, dobrara manhãa topamos aves a o Cabo da Boa Esperança, que chamam fura buchos e em 1488, era agora engoli- neeste dia a oras de bes- do pelas vagas com o seu pera ouvemos vista de terá Situação meteorológica típica no Inverno Austral: a depressão cavada a sul do Cabo navio. Como é que isto scilicet [a saber] primeira- e a frente fria que circula de Oeste para Leste. aconteceu?... É difícil sa- mente de hÙu gramde ber. O imaginário da época monte muy alto e redomdo e doutras navios fossem a navegar naquela di- atribuía ao Cabo da Boa Esperança os serras mais baixas ao sul dele e de terra recção se o seu caminho fosse o Cabo. poderes do guardião do Índico a negar a chãa com grandes arvoredos, ao qual Contudo, não há nada que nos diga que sua entrada aos portugueses e esta ideia monte alto o capitam pós nome o Monte era uma manobra planeada em Lisboa. alimentou todos os textos épicos que Pascoal e aa terá a Terá da Vera Cruz”. É Aliás, parece-me a mim bastante coe- chegaram até ao século XX. A verdade interessante esta descrição, pelo por- rente que se tenha decidido guinar para concreta é capaz de ser um pouco mais menor que dá, e pela ingenuidade do estibordo, e procurar de onde vinham prosaica, podendo adivinhar-se nos escrivão que resulta numa maior ver- aqueles sinais de terra, precisamente cuidados recomendados nos roteiros do dade na forma da sua escrita. Quer dizer, quando eles foram avistados. Há até princípio do século XVI e na análise que Pêro Vaz de Caminha faz uma descrição uma outra suposição que me parece hoje podemos fazer das condições me- real e exacta do que viu acontecer naque- fazer sentido: a esquadra não parou em teorológicas da zona: quando os navios les dias de terça e quarta-feira antes da Cabo Verde e não reabasteceu de água e, por ali passavam – numa viagem saída Páscoa de 1500, e essa descrição permitiu embora isso fosse uma instrução específi- de Lisboa a Março ou Abril – vão encon- compreender como se fez a aproximação ca de Vasco da Gama, a imagem de tanta trar o Inverno do Hemisfério Sul e o à costa brasileira. O Contra-Almirante gente embarcada a fazer uma longa volta avanço da Frente Polar até latitudes de Max Justo Guedes pegou nesta visão do de mar, não deixaria de causar alguma 40ºS. Ora, o que é que acontece se os Monte Pascoal a aparecer antes das ser- preocupação aos marinheiros e mesmo navios se deixam descair demasiado ras mais baixas e da terra chã com aos pilotos. Como sabemos, a falta de para sul? (como aconteceu algumas arvoredos e foi ao local para entender água doce é um espectro de grande peso, vezes)... Vão encontrar gelo, neve e a qual teria sido o caminho dos navios. Fez com efeitos psicológicos tremendos nas passagem constante de frentes frias que diversas aproximações num helicóptero guarnições. Hoje já se sente pouco, dados trazem associados temporais grossos da Marinha Brasileira, voando à altura os meios de a fabricar a bordo, mas extra-tropicais. Foi, provavelmente, o das gáveas dos navios do século XV, e podemos entender como seria noutros que aconteceu à esquadra de Cabral.  concluiu que este avistamento só é pos- tempos, em navios de vela e, neste caso, sível para quem vem de sueste ou es- numa viagem quase para o desconheci- -sueste e isso levantou um outro proble- do. Mas, fosse por esta ou por outra J. Semedo de Matos ma: por que razão navegariam os navios qualquer razão, a verdade é que os CFR FZ

16 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA LuísLuís GuimarãesGuimarães LobatoLobato UmaUma VidaVida ConsagradaConsagrada àà VelaVela 1. O APELO DO MAR

uís Guimarães Lobato (LGL) nasceu em regatas oceânicas. Foi promotora da Apesar do estado de conservação ser Macau, onde seu pai era comandante primeira FASTNET. Nesta regata, os aceitável, o Jolie Brise precisa de ser posto L militar das ilhas da Taipa e de Coloane. veleiros largam de Cowes dão volta ao nas condições náuticas que já tinha perdi- Os frequentes trajectos de barco que fazia rochedo Fastnet, no SW da Irlanda, con- do. LGL vai a Londres e, nas casas da espe- entre as ilhas e Macau, despertou nele o tornam outro rochedo, o Bishop, passam cialidade, procura recuperar peças que per- gosto pelo mar. Além disso, as conversas que o cabo Lisard e terminam no porto de tenceram a tão emblemático veleiro. tem com os pescadores locais criam nele o Plymouth. O vencedor desta regata foi Descobre o pau de spinnaker que tem 10 desejo de se afastar da costa, de viajar. Martin no seu Jolie Brise, que ainda irá metros de comprimento e pesa 300 kilos. E Terminada a comissão, a família regressa ganhar mais duas destas competições e até atina com o paradeiro do spi, com 180 ao continente para logo voltar a Macau, ainda mais uma regata às Bermudas. metros quadrados, em algodão do Egipto. onde seu pai é novamente nomeado Aliás, a sua fama seria consagrada quan- Visita o RORC onde encontra Bobby comandante militar das ilhas. Estas viagens do, numa das regatas oceânicas, salvou Sommerset – E. G. Martin já tinha falecido despertam ainda mais, no jovem que era, o uma tripulação de morte certa, quando o – que, como este, conhecia o Jolie Brise gosto pela aventura. Aliás, os seus autores yacht se incendiou. como as suas próprias mãos. Quando preferidos são Júlio Verne e Alain Gerbault, LGL, entusiasmado, vai visitar o veleiro Bobby se apercebe que LGL pretende repôr grandes ídolos da época. que é, realmente, o Jolie Brise. A embar- o veleiro no estado em que se celebrisou, Regressa definitivamente a Lisboa, onde cação está mal tratada e o seu proprietá- interessa-se pelo assunto e ensina-lhe a se forma em engenharia. rio, oficial do Exército da India, tinha-a complicada manobra das velas, onde uma O gosto pelo mar e pela vela não o larga. adquirido para fazer viagem até aquela enorme vela de gaff-top constituía uma per- Com os seus primeiros dinhei- manente dor de cabeça. ros compra uma pequena em- A partir de 1947 o Jolie barcação de 6 metros. É a Brise participa em regatas às canoa Argus na qual, sempre Berlengas, ao Algarve, a que pode, percorre as águas Cádis, em competição com do Tejo. Em 1942 tem o seu outros veleiros tais como o primeiro barco de cruzeiro, Belatrix de Pedro Teotónio que adquire a um amigo, Pereira, o Giralda do conde secretário da embaixada de de Barcelona, o Santa Maria Inglaterra. Com o Rosinante de Luís Lara. Mas as mais torna-se cavaleiro andante. renhidas competições dispu- Nas viagens, que são agora tavam-se com o Senhora da até Cascais, vai ganhando Piedade, do comandante experiência do mar e da arte Matoso, onde a tripulação de navegar. era constituída por oficiais de Corre o ano de 1946 quan- marinha, enquanto que no do alguém o informa que se Jolie Brise eram todos enge- encontra na doca do Bom nheiros. Sucesso um veleiro de casco Em meados dos anos 40, negro que parece ser o Jolie LGL é eleito presidente da Brise, esse nome que, para os secção de vela da Associação amantes e entendidos da Naval de Lisboa. Com a vela, soava como uma pa- colaboração do coronel lavra mágica. A sua história Calado e o engenheiro era famosa. Adriano Vaz Pinto, começa a Construído em 1913, fez O Rosinante, o primeiro veleiro de Luís Guimarães Lobato. fazer-se a regata às Berlengas parte da frota dos pilotos do para disputa do troféu Havre. Tinha de comprimento de 17 me- colónia distante. Todavia, vindo de Salazar. É nessa altura que LGL é contacta- tros e 3.6 metros de tirante de água, o que Inglaterra, tinha enfrentado fortes tempo- do por F. Morgan, um grande financeiro, lhe dava uma grande estabilidade. No iní- rais. Cansado e sem grande vocação para amigo de Pedro Teotónio Pereira, tendo em cio da 1ª Grande Guerra Mundial, foi o mar resolveu desfazer-se do veleiro. O vista a organização de uma regata de tall abandonado no porto do Havre e o inglês casco estava em bom estado, o mastro era a realizar em 1956. Com a colabo- E. G. Martin adquire-o e transforma-o dum belo pitch pine. LGL apaixona-se ração de Eduardo van Zeller, conceituado num barco de regatas oceânicas pelo Jolie Brise. Quem não se apaixona- desportista náutico, prepara-se a primeira Em 1925, Martin e Bobby Sommerset ria? Só falta o dinheiro para o adquirir. regata deste tipo de navios. Respondem ao criam o Royal Ocean Racing Club Consegue convencer cinco amigos convite 12 veleiros. Modesta participação. (RORC), que, ainda hoje, a nível mundial, desportistas náuticos e o barco muda de Todavia, o mais importante foi, sem dúvida, é a mais conceituada organização de bandeira. o facto de ter sido lançada a semente de

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 17 O Jolie Brise, em 1988. Largada para a regata /Vasco da Gama Memorial. uma das mais importantes manifestações do agora, os percursos são mais alargados, para que a embarcação possa sair do país. mundo da vela. O percurso não é ambi- estendendo-se ao outro lado do Atlântico. LGL recorre a Pinheiro de Azevedo, então cioso. A regata faz-se de Torbay a Lisboa e o Na de 1964, os navios largam de Lisboa, Chefe do Estado Maior da Armada, o vencedor é o Moyana, do Reino Unido. escalam as Bermudas e vão até Nova qual, na sua presença, chama um dos aju- Dois anos depois, de Brest a Las Palmas, é a Iorque. Vence o navio norueguês Christian dantes e, na linguagem que foi um dos Sagres I, com o comandante Dentinho, já Radish. seus grandes atributos, manda passar a participante na primeira regata, que irá rece- Voltemos ao Jolie Brise. Os parceiros indispensável credencial. ber a taça. No ano de 1960, quando se proprietários vão-se desinteressando da O Jolie Brise segue então para Inglaterra comemora o V Centenário da morte do vela e LGL acaba por ficar como único e faz base em Cowes, na ilha de Wight. Infante D. Henrique, os tall ships tomam dono deste famoso veleiro. Assume as Após a chegada, passa-se um episódio parte no grandioso desfile que se realizou funções de presidente da Associação curioso. Como a embarcação tem um em Sagres. Naval de Lisboa, por um largo período de grande fogão que serve não só para cozi- Todavia, estas regatas tinham, e conti- dez anos e passa a utilizar o seu próprio nhar, como para aquecimento, comodi- nuam a ter, outras ambições. Nasceram veleiro para instrução de vela. Sesimbra é dade indispensável no Inverno britânico, pouco depois de terminada a última agora o seu destino habitual, dado que o encomenda-se uma grande porção de Guerra Mundial e por isso o seu objectivo aparelho do navio, muito pesado, exige antracite. O fornecedor, ao entregar o era, também, contribuir, com uma boa uma tripulação que não é fácil de reunir carvão, comenta: “Não sabia que ainda dose de idealismo, para que se evitassem para viagens mais longas. havia iates a vapor”. conflitos futuros. Como ponto de honra, a Entretanto, dá-se o 25 de Abril e LGL No Verão de 1975 LGL é convidado comissão organizadora, esforça-se para experimenta algumas dificuldades. É dis- para levar o seu veleiro para a nova mari- que exista um grande intercâmbio entre pensado do cargo de administrador que na de Santa Catarina, junto à Torre de as tripulações, não só nos portos visita- desempenha na Fundação Calouste Londres, onde irá servir de alojamento dos, mas também, e especialmente, Gulbenkian e, pior, o Jolie Brise é, por aos seus filhos, enquanto cursam universi- durante os percursos no mar. Assim, duas vezes, sujeito a tentativas de sabo- dades inglesas, e daí o seu gosto pela durante as etapas, parte de cada uma das tagem que, só por sorte, foram impedi- prática da vela. De tal modo que um tripulações muda de navio. A partir de das. deles, o António, seguindo as pisadas do 1974, o grande troféu desta regata será No mesmo ano de 1975, comemoram- pai é, actualmente, o presidente da uma réplica em prata do célebre -se os 50 anos da regata FASTNET e LGL Associação Naval de Lisboa. Cutty Sark, que se entrega ao navio que é, naturalmente, convidado para estar pre- LGL passa a ter um pé lá e outro cá. De mais tenha contribuído para criar um bom sente em Inglaterra. Mas como a situação facto, sempre que pode e nas férias vai ambiente entre tripulações. política em Portugal está complicada é até Inglaterra e navega no seu veleiro. As regatas de tall ships continuam mas, necessário obter autorização especial Neste país não é difícil arranjar eficientes

18 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA e voluntários marinheiros amadores, para continua a ser estimado.” como principal objectivo desenvolver o manobrar o difícil aparelho do navio. Voltemos ao tall ships. Em 1970, LGL é gosto pela vela que considera uma activi- Percorre as águas da Mancha, visita os convidado para participar no comité cen- dade importante para a formação dos portos da região. tral da Sailing Training Association (STA), jovens. Tal formação, tendo como base o Em Portugal a sua situação melhora que acaba de ser criada. As regatas pas- treino de mar, dá-lhes o sentido de para LGL. Enquanto a Fundação Gul- sam a ter um porto português como responsabilidade, de entreajuda e consti- benkian o hostiliza (só em 1979 irá escala obrigatória. Em 1987 LGL tem a tui uma bela válvula de escape para ocupar o seu lugar de administrador), sua consagração: o governo espanhol enfrentar os problemas do dia a dia. Além retoma a sua antiga função de inspector convida-o para presidir à organização da disso o mar e a vela são ingredientes geral das Obras Públicas e o Ministério grande regata internacional Colombo que indispensáveis para quem sonha com a dos Negócios Estrangeiros, por sua vez, irá realizar-se, em 1992, com a colabo- aventura. Mas a APORVELA pretende nomeia-o Presidente da Delegação para a ração da STA. ainda mais: quer levar a mocidade a interes- Recepção de Apoios Técnicos dos Países Em 1994, efectua-se a regata em que sar-se pela história das nossas navegações Europeus. LGL apostou fazer entrar os participantes e dos nossos antepassados, aqueles que Em 1980 LGL pretende trazer o Jolie no Douro, o que consegue, contribuindo chegaram ousadamente às quatro partidas Brise para Portugal. Todavia, os custos de para a mais espectacular concentração de do Mundo. manutenção dum barco, de tais dimen- tall ships e de pequenas embarcações, Para alcançar estes objectivos consti- sões e características, subiram exponen- jamais vista no nosso país. Foi um espan- tuiu-se na APORVELA um grupo de tra- cialmente e acaba por vendê-lo ao Museu to para quem teve a oportunidade de as- balho que se preocupou também em Náutico de Exeter, no SW de Inglaterra, sistir. Nós somos testemunha. Depois, encontrar soluções para participar condi- um museu extraordinariamente dinâmico vem a viagem comemorativa do V cen- gnamente nas comemorações dos Desco- que, por curiosidade, possui a maior frota tenário da descoberta do caminho maríti- brimentos Portugueses. Daí nasceu a ideia de embarcações tradicionais portuguesas, mo para a Índia, mas este país, lamen- da construção de uma caravela. Não incluindo a última jangada de canas de tavelmente, não participa. houve a intenção de fazer um navio Porto Côvo. No contrato incluíu-se uma Em 1985, LGL é convidado para co- arqueologicamente igual aos do passado porque, sabemos bem, é escassa a do- cumentação respeitante a este assunto. Todavia, pretendeu-se construir uma réplica que fosse o mais possível seme- lhante às caravelas oceânicas para que constituísse um símbolo e chamasse a atenção dos Portugueses e do Mundo para o mais famoso navio dos Descobri- mentos. Para o efeito, fazem-se aturados pes- quisas recorrendo a representações icono- gráficas mas, em especial, aos painéis de Santa Auta. Foi elaborado um estudo sobre os pontos de vista do pintor, em relação à representação das caravelas naqueles quadros, para avaliação das dimensões das suas obras mortas. Este tra- balho foi elaborado pelo engenheiro Rodrigues Branco, cabendo ao Dr.Manuel Leitão e ao comandante António Cardoso, os estudos respeitantes ao aparelho. O As instalações da APORVELA, na Doca do Terreiro do Trigo. Contra-Almirante Rogério d’ Oliveira orientou e concatenou estes trabalhos, cláusula sugerida pelo comprador que dá operar na organização de regatas de mul- destinados à concepção final da traça a LGL a possibilidade de usar o navio um ticascos ao longo da costa europeia, sob a dessa réplica de uma caravela oceânica mês em cada ano, o que nunca aconte- égide da Fédération International.des da segunda metade do século XV, de que ceu, mas que, sem dúvida, constituiu o Courses Océaniques e o patrocínio do foi autor. LGL coordenou a realização de reconhecimento pela recuperação daque- Conselho da Europa. Realizaram-se qua- todo o projecto e contribuiu com a sua la embarcação histórica. Aliás, esta tro regatas, todas elas escalando o nosso experiência de vela adquirida, ao longo vocação irá novamente manifestar-se país.. de anos, no seu Jolie Brise. quando, passados anos, o Creoula é posto Deixámos, para agora, a Associação Dos estudos efectuados, considerou-se a navegar. Portuguesa de Treino de Vela, conhecida que a caravela dos Descobrimentos boli- Sem Jolie Brise, LGL procura uma nova por APORVELA. Criada, em 1980, por nava entre 55˚ e 60˚. Curiosamente, embarcação. Em 1981, adquire um ketch LGL, que tem sido o seu presidente, foi, Daniel Boorstin, na sua famosa obra Os de 12 metros. É o Wilma, cujo desenho é juntamente com a American Sailing Descobridores, entretanto publicada, de Amel, famoso construtor naval francês. Association, o primeiro parceiro estran- chegava à mesma conclusão. A APOR- Com ele faz as suas férias. Vai até ao geiro da STA. Só mais tarde, durante a últi- VELA decide, pois, construir uma cara- Mediterrâneo. Será, no entanto, o seu últi- ma década do século, se constituíram vela.  mo barco. Em 1998, com 84 anos, con- organizações idênticas noutros países. sidera que já não tem condições para A APORVELA, que dispõe de insta- andar no mar. Com mágoa, vende o lações próprias, constituída por uma sede A. Estácio dos Reis barco a um grupo de velejadores de Paço e marina, na doca do Terreiro do Trigo, CMG de Arcos. Como consolação desabafa: graças a facilidades concedidas pela “Estou satisfeito por saber que o Wilma Administração do Porto de Lisboa, tem (Continua no próximo número)

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 19 CrónicaCrónica dede TimorTimor Novos fuzileiros “desembarcam” em Same

om o “desembarque” no passado território de Timor) e as 3 horas de dia 1 de Março dos últimos mi- viagem até Dili (em viaturas de carga Clitares da “3ª Força FZ – Timor” misturados com mochilas e material na vila de Same, ficou concluído o esta- diverso), apetecia desembarcar indo ao cionamento no teatro de operações desta encontro de terra firme, antes que a força, constituída basicamente por uma “ondulação rodoviária” pregasse algu- Companhia de Fuzileiros (CF) e por um ma partida a marinheiro menos habitua- Grupo de Comando, agora integrado no do a estes balanços. Estado-Maior do 2º Batalhão de Infan- Era já noite em Dili: o calor e a humi- taria da Brigada Ligeira de Intervenção dade, a diferença horária (8 horas em (2ºBI/BLI). relação a Lisboa), o cansaço e o frenesim da procura da baga- gem e do lugar para ficar deixaram estes homens bastante fati- Subidas ladeadas por profundas escarpas. gados e com pouca vontade de dormir. sofrer muito para a conseguir vencer. No dia seguinte, Chegar a Same, foi chegar ao Céu... foi nova aventura teria chegar a casa! lugar, desta feita a É exactamente esta estrada, que para viagem entre Dili e cumprimento da missão teremos de percor- Same, um percurso rer várias vezes, o tema escolhido para curto de 115 Kms que abordar nestas linhas. Assim, há dias, tendo nos ensinou, desde de me deslocar a Dili numa missão de liga- logo, a usar outra me- ção, muni-me do equipamento necessário e dida para o definir: o fui captando, aqui e ali, as imagens que pre- tempo. Foram 7 horas tendo retractem, não só as dificuldades de estrada esburacada encontradas, mas também a paisagem que, Habitação Timorense. (há pouco alcatrão por diga-se em abono da verdade, quase elimi- estes lados!), estreita, na por completo qualquer comentário O signatário desta crónica, como fu- atravessando o monte Ramelau muito menos optimista: zileiro mais graduado, desempenha tam- sinuosa, com grandes subidas e iguais Deslumbrante, sempre luxuriante... dife- bém a função de Oficial de Ligação de descidas ladeadas de profundas rente! Marinha e, com uma equipa constituída escarpas. Diz o Padre Gelásio, autori- Saímos de Same, eram 8 horas da manhã. por um sargento e duas praças, exerce dade religiosa em Same, que esta é a À nossa frente, o Cabelaq, uma serra ainda a tarefa de “Civil and Military “estrada dos Cristãos”, porque se tem de altaneira à Vila, quase sempre com o cume Affairs Officer (CMA Officer)” encoberto pelas nuvens. É a no Distrito de Manufahi. primeira dificuldade a vencer: Propositadamente, optei - As nossas velhas viaturas já por esta apresentação pessoal não ajudam muito. porque, é nesta qualidade e Cerca de duas horas depois à no exercício destas funções frente (em linguagem quilo- que tenciono, nos próximos métrica, aproximadamente 35 seis meses dar continuidade à Kms), encontramos a primeira “Crónica de Timor”. bifurcação. Nela, duas placas A missão atribuída a esta onde se lê: CF foi a continuação da que - Same 32 Kms, Ainaro 26 estava a ser desempenhada Kms. pela sua antecessora, a CF nº 23, Porquê, só duas horas depois, isto é, ficando colocada em alcançámos esta posição? A Same, manter as posições resposta não está, garantida- destacadas de Alas (Sub- mente, no fluxo de trânsito: Distrito) e do R2 (Repetidor - Apenas encontrámos uma de comunicações situado no viatura da UNTAET e não mais Russulau). que meia dúzia de veículos de Ignorando, para já, as 23 transporte público a que nós, horas a bordo do mesmo por gracejo, designámos de avião, as 4 horas de espera no “TPMUITOS”. aeroporto de Baucau (já em Em frente a montanha. Assim, só descubro uma

20 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA Lotação quanto baste. resposta para esta relação “muito tempo / “POR PORTUGAL CONTRA O INVA- poucos quilómetros” apenas comparável SOR”. Recordação, como muitas que per- com Lisboa em hora de ponta: duram em Timor, da invasão japonesa - O estado geral da estrada e o seu traçado: durante a II Guerra Mundial. Já não me lembro quanto tempo depois, Saímos de Maubisse em direcção à chegámos a Maubisse, vila do sub- distrito “Grande Cidade”. A partir daqui aumen- de Ainaro. Aqui está posicionada a 1ª CAT tou-se, um pouco, a velocidade. Apesar do (Companhia de Atiradores) do 2º BI/BLI. trânsito ter ficado mais intenso, da chuva Chega a sentir-se frio à noite e mesmo ter aparecido, dos aluimentos de estrada e durante o dia, o calor nunca “aperta” da quantidade de curvas fechadas ter estando a humidade ausente. Quem não aumentado, certo é que o alcatrão é mais gosta destas condições climatéricas, são os abundante, e enfim, apareceram as decidas. mosquitos (os que provocam a malária e o A hora do almoço, em Becora, sede do dengue) – foram todos de férias para Dili! Comando e Estado-Maior do Batalhão, À saída desta bonita vila, o registo para onde me dirigia, aproximava-se! fotográfico de uma inscrição interessante Finalmente, após quase 6 horas de via- (que me abstenho de comentar), num gem, chegamos a Díli: monumento fúnebre: -”Cidade Grande”, quente, húmida... Lugar memória.

confusa! Há quem goste! Há gostos para tudo! Para trás ficaram, na película, algumas imagens que, também eu, registei: - Beleza natural ímpar, estrada a precisar de reparação urgente, aqui e ali uma árvore caída, aqui e ali, em zonas onde parece ter havido intervenção no piso da estrada, pla- cas do “Bangladesh Engineering” e do “1ºBIPara – Portugal”. A época das chuvas está a chegar! É por aqui que vamos andar durante os próximos meses e é por aqui que, com um orgulho muito próprio dos Mari- nheiros, vamos servir Timor naquela que é a nobre missão de “PORTUGAL AO SERVIÇO DA PAZ”. 

Leão de Seabra Aquartelamento de Maubisse. CTEN FZ

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 21 AA FragataFragata “Sacadura“Sacadura Cabral”Cabral” nana EUROMARFOREUROMARFOR 20012001 1ª Parte

Largou em 2 de Maio da BNL a Fragata N.R.P. “Comandante SPS “Reina Sofia” (classe Santa Maria) e o italiano ITS “Libeccio” (classe Maestrale). Sacadura Cabral” com o objectivo de integrar a EUROPEAN O navio francês FS “Aconit” (classe MARITIME FORCE (EMF). Com escalas previstas nos portos Lafayette), veio a juntar-se à força poucas de Palma de Maiorca (Espanha), Split (Croácia), Cagliari (Sar- horas mais tarde. Em 7 de Maio procedeu-se à cerimónia denha, Itália), Tunis (Tunísia) e Cádiz (Espanha), a integração de activação formal da EMF, a bordo do irá decorrer durante quase dois meses nos mares Me- navio-chefe SPS “Reina Sofia”, com a pre- sença do Comandante da EMF (COMEU- diterrâneo, Adriático, Tirreno e Jónio e contará com dois ROMARFOR), Almirante de la Flota grandes exercícios navais multinacionais, o Trident d’Or e o Francisco Rapallo e de delegações de cada Tapon. um dos navios. Nela foram realçados os princípios básicos que estão na origem da Esta será a primeira parte da crónica dedicada ao EMF TOUR EMF, bem como a importância estratégica 2001, onde se abordará a fase de integração e activação da para cada um dos países seus signatários. EMF, bem como o desenvolvimento da operação até Cagliari. Palma de Maiorca, sendo uma cidade já conhecida pela maioria da guarnição Na segunda parte, iremos reportar-nos ao período dos exer- desde que o ano passado lá aportou cícios navais até à desintegração da força. durante a viagem de instrução com os cadetes do 4ºano da Escola Naval, permi- ACTIVAÇÃO DA EMF E PRESENÇA em conjunto com forças NATO. tiu o reencontro de conhecidos e amigos, NAVAL Foi no contexto da activação desta força voltando a sentir-se um ambiente de que a “Sacadura Cabral” rumou para as grande hospitalidade e simpatia. Foi tam- A EMF é uma força naval aberta a todos Ilhas Baleares, onde atracou em 04 de bém o primeiro contacto com os elemen- os países da União dos Estados Ocidentais, Maio no porto de Palma de Maiorca. tos das outras guarnições que nos iriam não permanente, pré-estruturada com Neste já se encontrava o navio espanhol acompanhar durante todo o Tour, aspecto capacidades aéreas e anfíbias e composta por meios dos quatro países que em Maio de 1995, em Lisboa, assi- naram o documento oficial da sua constitu- ição: Portugal, Espa- nha, França e Itália. Com o comando ope- racional a ser desem- penhado rotativamente cada 2 anos pelos respectivos Comandos Navais, (actualmente o ALFLOT, de Espanha), pode ser activada em apenas cinco dias. Como missões prin- cipais desempenha, entre outras, as huma- nitárias ou de eva- cuação, de manuten- ção de paz e de atri- buição de forças em situações de crise, tendo como principal área de actuação a orla do Mediterrâneo, sem todavia excluir qual- quer outra, nomeada- mente quando a operar Cerimónia de activação da EMF a bordo do SPS “Reina Sofia”.

22 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA A "Sacadura Cabral" em fase de aproximação para uma operação de RAS sólidos com o ITS “Libeccio”. de grande relevância enquanto veículo plas reuniões sectoriais efectuadas, quer pelo exercício que viria a seguir. Ainda assim facilitador da integração entre os navios, convívio que proporcionou a todos. muitos foram os que aproveitaram para se bem como originador de novas e profícuas Foi com saudades e com vontade de um iniciar na típica cozinha sarda, algo distin- amizades. breve regresso que a EMF largou de Split em ta da usual italiana, bem como usufruir das Foi pois com o espírito de novas aven- 14 de Maio, tendo logo após a saída efectua- maravilhosas praias pelas quais a Sardenha turas que a TG sob o comando do Capitan do um exercício com a Marinha Croata, é afamada. de Navio Fernando Gea Guerrero (COM- através da participação da corveta Petar Em 20 de Maio, num acto de singular GRUEUROMARFOR) largou de Palma Kresimir IV (RTOP 11). No decorrer deste significado, os navios surtos no porto asso- rumo ao Mar Adriático. Durante o trânsito exercício de guerra de superfície e anti-aérea, ciaram-se à celebração do Dia da Marinha foram realizados vários exercícios entre os embarcou na Sacadura Cabral um oficial de através do seu reconhecimento público, navios da EMF e com outros meios aero- ligação da marinha croata, o mesmo aconte- tendo içado a Bandeira Portuguesa no tope navais, entre os quais se destaca um exer- cendo na Petar Kresimir, com o embarque dos mastros. Ao mesmo tempo o cício efectuado com a STANAVFORMED. de um oficial do nosso navio. Comandante do Agrupamento de Navios Foi também possível iniciar-se o primeiro Durante o trânsito para a Sardenha, no Italianos, Contraammiraglio Luigi Mantelli, de vários “Crosspol” entre oficiais, sargen- qual a passagem nocturna do Estreito de emitiu uma simpática mensagem que rele- tos e praças dos quatro navios, os quais Messina entre a Sicília e o sul de Itália va a deferência atribuída à ocasião: “In registaram sempre um grande sucesso continental merece referência pela sua occasione della festa della marina porto- entre as guarnições. espectacularidade, o FS “Aconit” desinte- ghese, nel ricordo delle sue gloriose Em 11 de Maio a EMF atracou no porto de grou da TG EMF, tendo sido substituído tradizione che dalle gesta dell Ammiraglio Split, na República da Croácia. Tratava-se de pelo também francês FS “Duquesne” Vasco da Gama portano ai nostri giorni, mi uma escala que gerou grandes expectativas (classe Suffren). Até à chegada a Cagliari, é gradito esprimire il piu affettuoso augurio face à reputada beleza da Dalmácia. Desde a EMF ainda participou em exercícios com a nome di tutti i marinai del gruppo navale já se diga que em nada essas expectativas os navios italianos ITS “Etna” (reabaste- italiano.” foram goradas, antes confirmadas logo após cedor) e ITS “San Marco” (polivalente Em 21 de Maio de madrugada largáva- pouco tempo de permanência em terra. Split, logístico). mos para o grande exercício multinacional cidade de uma grande riqueza cultural e Em 17 de Maio a EMF atracou em “Trident D`or”, a decorrer no Mar Mediter- arquitectónica, fundada no séc. IV da nossa Cagliari, onde já se encontravam diversos râneo até 01 de Junho.  era pelo imperador romano Diocleciano, foi navios que iriam participar no “Trident o local ideal para reforçar o aprofundamento D`or”. Foi uma estadia de 4 dias que serviu da integração da EMF, quer através das múlti- para retemperar forças e preparar o grande (Colaboração do NRP “Sacadura Cabral”)

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 23 ECOS DO DIA DA MARINHA CLUBES E ASSOCIAÇÕES DE MARINHEIROS Diversos Clubes e Associações de anti- gos marinheiros e fuzileiros, designada- mente a Associação de Fuzileiros, o Clube Escolamizade e o Clube “O Alcache”, par- ticiparam nas comemorações do Dia da Marinha, assistindo com as suas represen- tações e respectivos estandartes à cerimó- nia militar e na visita à Exposição das Actividades da Marinha. A convite do Almirante CEMA foram Alm. CEMA no corte do bolo comemorativo. Clubes e Ass. de Marinheiros e respectivos estandartes. obsequiados com um almoço nas insta- lações da messe, no Farol da Guia, onde presentar pelas respectivas Direcções. anteriores, com a sua presença, compare- estiveram presentes cerca de 400 convivas, O Almirante Vieira Matias quis honrar cendo após o referido almoço e partici- tendo os Clubes e Associações se feito re- esta iniciativa, no seguimento dos anos pando no corte do bolo comemorativo.

EXPOSIÇÃO BIBLIOGRÁFICA “A NÁUTICA PORTUGUESA NO SÉCULO XVI” Integrada nas comemorações do Dia da Cosmografia e Geografia, as quais permiti- exposta a 1ª edição, de 1555 da famosa e Marinha 2001, esteve exposta no Museu de ram a evolução positiva e sistemática da arte importante obra “A Arte da Guerra no Mar” Marinha, de 18 de Maio a 3 de Junho passa- de navegar desses nossos ilustres antepassa- da autoria do Padre Fernando Oliveira, a dos, um conjunto de escritos, que fazem dos. Um segundo conjunto, designado qual constitui o mais antigo tratado impresso parte do património da Biblioteca Central da genericamente por “Guias Marítimos”, sobre o que hoje se denomina de “Táctica Marinha, relacionados com a náutica do “Livros de Marinharia” e “Roteiros”, possi- Naval”. período inicial de Expansão Marítima bilitou avaliar a variedade de dados e infor- A concluir esta exposição bibliográfica Portuguesa. Composta de três partes esta mações necessárias para o marear crescente foram apresentadas obras relativas à mostra bibliográfica foi iniciada por obras longe da vista de terra que conduziu com denominada “Carreira da Índia” que, tendo que muito contribuiriam para o conhecimen- segurança as embarcações portuguesas a início no século XVI, mediante um esforço to científico dos pilotos e mareantes por- desbravar oceanos e a alcançar terras até nacional de primeira grandeza, se manteve tugueses em matérias tais como Astronomia, então desconhecidas. Neste conjunto esteve no século seguinte como rota das especiarias.

REGATAS DO CNOCA

Em mais uma organização do CNOCA, e ANC. De realçar o 3º lugar da classificação integrada nas comemorações do Dia da em IRC obtido pela embarcação “CATAU Marinha – 2001, realizou-se em colaboração de ESPIA” da Escola Naval. A Marina de com o Clube Naval de Cascais e a Marina Cascais disponibilizou o seu espaço para as de Cascais, um conjunto de regatas, ao embarcações de cruzeiro participantes. largo de Cascais e no estuário do Tejo, junto Em Vela Ligeira, as regatas do CNOCA, à Base Naval de Lisboa. nos dias 19 e 20 de Maio, contaram com a A regata para embarcações de Cruzeiro, participação de mais de 100 velejadores. teve lugar no dia 20 de Maio, tendo estado envolvidas 52 embarcações nas classes IRC (Colaboração de CFR EMQ Barroso de Moura)

BANDA DA ARMADA

A finalizar a sua participação nas Barker; John Williams in Concert de Arr. A primeira e a segunda parte foram Comemorações do Dia da Marinha de 2001, Paul Lavender e Spanish Fever de Jay dirigidas pelo CTEN MUS Carlos Ribeiro, a Banda da Armada realizou no passado Chattaway, na segunda parte. Sub-Chefe da Banda da Armada e Maestro dia 2 de Junho um concerto na Praia CFR MUS Araújo Pereira, respectiva- do Tamariz no Estoril, onde foram mente. executadas as obras: The Great Com toda a certeza que as cerca de Escape de Elmer Bernstein; Pacific mil pessoas que se deslocaram aque- Dreams de Jacob de Haan; Cantigas la praia não deram o tempo como à Moda Antiga de Arr. Ferrer perdido, com uma brisa vinda do Trindade; Latin Golg de Arr. Paul mar e com o N.E. “Sagres” ao largo Lavender e Big Band Stomp de Kees fundeado, estavam reunidas todas as Vlak, na primeira parte. High Society condições para mais uma grande de Manfred Scheneider; The Lion noite musical oferecida pela Banda King de Arr. C. Custer; The Magic of da Armada, encerrando assim a sua Lloyd Webber de L. Webber/W. participação nesta efeméride.

24 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA DIA DA MARINHA NOS AÇORES No período de 20 de Abril a 26 de Maio decorreram, em mónia militar, presidida pelo VALM Monteiro da Silva, Ponta Delgada, as comemorações do dia da Marinha na Região Comandante Operacional dos Açores. Nesta cerimónia foram Autónoma dos Açores. impostas condecorações a militares, militarizados e civis em O início, em 20 de Abril, deu-se com a abertura de diversos serviço nos Açores e contou com a presença dos militares, mili- torneios desportivos, tendo participado equipas do Exército e de tarizados e civis da Marinha e seus familiares e ainda de uma algumas forças de segurança, torneios estes que encerraram a 18 delegação de oficiais, sargentos e praças da Marinha Alemã, per- de Maio. No dia 20 de Maio pelas 0930 celebrou-se uma missa na Igreja da Fajã de Baixo.

Individualidades presentes na cerimónia militar. Deposição de uma coroa de flores no Monumento aos marinheiros mortos na I Grande Guerra. tencentes a uma TG composta por dois submarinos e um navio No monumento aos marinheiros mortos na I Grande Guerra, de apoio que se encontravam, na altura, no porto de Ponta junto à placa alusiva a Carvalho Araújo, foi deposta uma coroa Delgada para uma visita de rotina. de flores pelo CALM CZMA, tendo esta cerimónia contado com Dias 19 e 20 o N.R.P. “Honório Barreto” esteve aberto a visi- a presença de um representante do Presidente da Câmara tas, com iluminação de gala e embandeiramento em arco. Municipal de Ponta Delgada, bem como de membros da As comemorações do Dia da Marinha 2001 nos Açores termi- Associação de Oficiais da Reserva Naval. naram a 26 de Maio, tendo-se realizado, em colaboração com o Seguidamente, no gabinete do CALM CZMA, realizou-se uma Clube Naval de Ponta Delgada, algumas regatas de diversas pequena cerimónia de imposição da Medalha Vasco da Gama ao classes de vela ligeira. A cerimónia de entrega de prémios destas Clube Naval de Ponta Delgada. regatas decorreu a bordo da corveta “Honório Barreto” no dia As comemorações culminaram com a realização de uma ceri- 26 pelas 1630.

DIA DA MARINHA NA MADEIRA Entre os dias 16 e 27 de Maio decorreram na Madeira as nos baptismos de mar, quer nesta cerimónia, participou igual- comemorações do Dia da Marinha. mente o navio-patrulha “Zambeze”, atribuído ao dispositivo O programa iniciou-se com uma recepção oficial a bordo do do Comando da Zona Marítima da Madeira. NRP “Schultz Xavier”, que para se associar à efeméride esteve Inaugurada no dia 17 com a presença de várias entidades, na Região do dia 15 ao dia 22 de Maio. A participação do navio entre as quais o Secretário Regional da Educação, o General incluiu baptismos de mar de alunos do ensino secundário, a Comandante Operacional e o Presidente da Câmara do alguns dos quais foi proporcionada uma visita às Ilhas Funchal, esteve patente ao público no Salão Nobre do teatro Desertas, e a cerimónia de homenagem aos marinheiros mor- Municipal Baltazar Dias até ao dia 27 uma exposição fotográfi- tos, a qual foi presidida pelo Ministro da República para a ca subordinada ao tema “A Aviação Naval – Passado e Madeira e contou com a presença do Secretário Regional do Presente”, com documentação disponibilizada pelo Museu de Turismo e Cultura, em representação do Presidente do Marinha, Museu Vicentes, Escola Naval e Esquadrilha de Governo Regional, além de outras individualidades, realçan- Helicópteros e o apoio de diversas entidades locais, além do do-se a presença de dois ex-oficiais da Reserva Naval. Quer Gabinete do Chefe do Estado-Maior da Armada. Ao final da tarde do dia 20, realizou-se na Fortaleza do Pico a entrega de prémios das regatas de vela ligeira, vela de cruzeiro e canoagem e das provas de pesca desportiva integradas no Dia da Marinha, que decorreram durante o fim- -de-semana. Seguiu-se um lanche oferecido a todos os partici- pantes. No dia 21 realizou-se no gabinete do Capitão do Porto uma cerimónia de imposição da medalha de Filantropia e Abne- gação a três nadadores-salvadores madeirenses, Carlos Fernandes e Carlos Augusto Gomes (da Câmara Municipal do Funchal) e Armando Teixeira (do Clube Naval do Funchal). À cerimónia, que teve ampla cobertura por parte da comunicação social de Região, assistiram o Presidente da Câmara do Funchal e dirigentes da Associação Regional de Vela e do Cerimónia a bordo do NRP “Schultz Xavier” em homenagem aos marinheiros mortos. Clube Naval do Funchal.

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 25 RECORDAÇÕES O SEXTANTE QUE PERTENCEU AO AVISO “AFONSO DE ALBUQUERQUE” FOI DOADO À MARINHA

O sextante que pertenceu ao Aviso “Afonso de Albuquerque”, voltou a Portugal e ao património da Marinha, cerca de 40 anos depois do combate de 18 de Dezembro de 1961 e da perda do navio, ocorridos na barra do rio Zuari em Goa. Nesse dia, em que as Forças Armadas Indianas decidiram ocupar os territórios de Goa, Damão e Diu que então constituíam o Estado Português da Índia, o Aviso “Afonso de Albuquerque” enfrentou 3 poderosas fra- gatas indianas num desigual combate naval, que marcou o fim de uma presença por- tuguesa em Goa com cerca de 451 anos. As circunstâncias políticas de internamen- to da guarnição não permitiram a recolha de bens pessoais ou patrimoniais, mesmo que simbólicos, daí resultando que uma parte da memória desse combate e desse navio tam- bém tivesse ficado em Goa. Esses bens foram recolhidos pelas forças militares indianas e alguns deles vieram a ser depositados à guarda da Polícia de Goa. Foi aí que Eric Menezes, um cidadão goês residente em Panjim, O peso da História e a memória daquele navio e dos seus encontrou e conseguiu recuperar o sextante do navio. homens recomendava um só destino a tão importante e sim- Durante quase 40 anos, Eric Menezes conservou consigo bólica peça museológica. Por isso, o Comandante Adelino aquele instrumento tão simbólico, até que decidiu oferecê-lo ao Rodrigues da Costa decidiu doá-lo à Marinha Portuguesa, Comandante Adelino Rodrigues da Costa, que tem uma peque- tendo procedido à sua entrega ao Almirante Chefe do Estado- na colecção de instrumentos náuticos e que ocasionalmente se -Maior da Armada, que decidiu depositá-lo no Museu de encontrava em Goa. Marinha.

O ESTANDARTE DA FRAGATA “D. FERNANDO II E GLÓRIA” REGRESSA À MARINHA

Foi entregue à Marinha, na pessoa João Borracha guardava consigo do Chefe de Gabinete do Almirante tornou-se angustiante, por não poder CEMA, o antigo estandarte da Fra- partilhar com ninguém esse episódio, gata “D. Fernando II e Glória” à data parte das suas memórias, e ainda com do incêndio do navio. o receio de por o ter ocultado dema- Foi seu portador o CTEN MN siado tempo poder vir a sofrer qual- Nobre Moreira que o recebeu das quer represália ou castigo. mãos dum seu familiar, conterrâneo Decidiu então entregar o estandarte de um sobrinho do Cabo clarim a este seu sobrinho, manifestando a Manuel João Borracha que prestava vontade de , após o seu falecimento, então serviço no navio. ele vir a ser entregue à Marinha. O estandarte fora entregue pelo Este seu familiar, sabendo da recu- Cabo Borracha ao seu sobrinho peração e restauro da fragata, cum- alguns anos antes do seu falecimento priu agora a sua vontade para que o em 1991, e de acordo com o seu teste- estandarte regressasse ao lugar donde munho, no dia do incêndio que saiu há mais de 38 anos. destruiu quase totalmente o navio, Assim, o referido estandarte depois fora o Cabo Borracha, monitor e de restaurado será entregue ao clarim do navio que, encontrando-se Museu de Marinha, tendo como des- a bordo, decidiu salvar o estandarte, retirando-o das chamas e tino a sua anterior unidade. trazendo-o consigo quando se lançou à água. Curiosamente, a revista da Armada publicou na sua edição Verificando que o navio se encontrava irremediavelmente per- nº 337, Dezembro de 2000, no verso da capa, uma fotografia dido, pensou em mantê-lo à sua guarda, preservando assim uma inédita, onde o Cabo clarim João Borracha, de pé no autocarro, recordação de mais de doze anos cumpridos a bordo. acompanhava como monitor os alunos da Obra Social da À medida que os anos foram passando, o segredo que o Cabo Fragata no regresso de uma deslocação.

26 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA ESCOLA NAVAL CERIMÓNIA DE JURAMENTO DE BANDEIRA E ENTREGA DE ESPADAS AOS ASPIRANTES DO CURSO “CONTRA-ALMIRANTE PEREIRA DA SILVA” No passado dia 27 de Abril o Almirante e uma exortação Chefe do Estado Maior da Armada presi- aos mesmos, diu na Escola Naval à cerimónia de proferida pelo Juramento de Bandeira e Entrega de Comandante do Espadas aos Aspirantes do curso “Contra- Corpo de alu- -Almirante Pereira da Silva”. nos, Capitão-de- O Juramento de Bandeira dos Aspirantes -Fragata Luís da Escola Naval assume um significado Miguel Cortes muito particular, especialmente importante Picciochi. Nela, na vida e carreira dos jovens futuros ofici- teve ocasião de ais da nossa Armada. Quatro anos antes, salientar as difi- enquanto cadetes recém incorporados na culdades ineren- Marinha, assumiram para com a Pátria um tes às missões de compromisso de honra que os obrigou a chefia para que uma especial conduta e dedicação ao longo foram prepara- da formação; mas agora trata-se de assumir dos e, com significativas palavras, fez-lhes dade permanente, lealdade, ética, rigor, em definitivo as condições da palavra dada notar a responsabilidade do que os espera- verdade na acção, coragem moral e física, nessa altura, transformando um compro- va: “Quando do outro lado do Mundo, se camaradagem e saber”. Sobretudo com misso de honra de cadetes, num juramento ouviu chorar em português, atravessámos uma vontade constante de aprender cada público e solene de dedicação a uma três oceanos e de dois montes de pedras vez mais, para cumprir o lema do infante maneira especial de viver e de servir reconstruímos um hospital e uma escola. D. Henrique que inspira a Escola “Talent Portugal. Quando foi necessário, nas correntes do de Bien Faire”. A cerimónia militar teve lugar na parada Douro, provámos que temos capacidade Seguiu-se o compromisso solene dos da Escola e começou com a entrega de con- científica e os melhores mergulhadores do Aspirantes alunos e o desfile das Forças em decorações a diversos militares da Armada. mundo. É nessa Marinha que ireis servir parada. Seguiu-se a entrega da espada e de um Portugal”. Um futuro que só pode cum- exemplar dos Lusíadas, aos futuros oficiais prir-se com “Amor à Pátria, disponibili- (Colaboração da Escola Naval)

PAINEL SOBRE DETECÇÃO REMOTA

No passado dia 18 de Abril, realizou-se, PALESTRA AUTOR INSTITUIÇÃO no auditório principal da Escola Naval, um Introdução à Detecção Remota Capitão-Tenente Dionísio Varela Escola Naval Painel sobre Detecção Remota, cujo objecti- O Sistema de Radar Dr. Sérgio Barbosa Instituto de Meteorologia vo foi complementar a formação científica Meteorológico Nacional dos alunos da Escola Naval e divulgar um Radar para VTS Prof. Dr. Alves Moreira Instituto Superior Técnico assunto da maior actualidade, de vanguar- Radar de Abertura Sintética Prof. Dr. Bioucas Dias Instituto Superior Técnico da tecnológica e do maior interesse para a Detecção Remota em Prof. Dr. Carlos Camara Faculdade de Ciências da comunidade naval. Meteorologia Universidade de Lisboa Aplicações Acústicas em Primeiro-Tenente Freitas Instituto Hidrográfico Oceanografia e Hidrografia Artilheiro

O Painel foi também divulgado no meio melhos, cujas aplicações no mar, quer para universitário civil e militar tendo assistido ao fins científicos, quer para fins militares, têm evento alunos e professores da Escola Naval cada vez maior desenvolvimento. e de várias Faculdades e Institutos Superio- O Painel consistiu num conjunto de apre- res, nomeadamente da Faculdade de Ciên- sentações, abaixo discriminadas, efectuadas cias da Universidade de Lisboa, da Acade- por professores universitários ou técnicos mia da Força Aérea, da Escola Náutica Infan- superiores com reconhecida competência te D. Henrique, entre outros. nesta matéria, cobrindo várias disciplinas da A Detecção Remota tem aplicação em Detecção Remota que empregam as tecnolo- várias disciplinas ministradas actualmente gias, actualmente, mais avançadas. na Escola Naval, como sejam, a Navegação, a O Painel de Detecção Remota organizado Oceanografia, a Táctica Naval, as Armas pelo Departamento de Marinha da Escola Imagem, duma área urbana, obtida com Radar Lateral Aerotransportado (sistema semelhante, no seu fun- Submarinas e, ainda, nas novas disciplinas Naval, constituiu uma oportunidade de cionamento, ao sonar lateral), na banda X e com uma que serão introduzidas no futuro currículo divulgação no âmbito da ciência e tecnolo- resolução de 1x1 m. As aplicações militares deste tipo do curso de Marinha, como sejam os gia, com aplicação directa no meio marítimo de radar incluem reconhecimento e direccionamento Sistemas de Informação Geográfica e que é, sem dúvida, a rota a seguir para a de armas. As aplicações civis incluem topografia, seguimento de icebergues, aplicações agrícolas, etc. Complementos de Sistemas de Combate. descoberta dos oceanos do futuro. Este é um exemplo em que a tecnologia militar pode Este assunto abrange, por exemplo, técnicas ser usada para fins civis. de radar, sonar, sensores ópticos, de infraver- (Colaboração do CTEN Dionísio Varela)

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 27 NOTÍCIAS SEGUNDAS JORNADAS DE FARMÁCIA HOSPITALAR DO HOSPITAL DA MARINHA Após o sucesso das 1as Jornadas de Cínica”, segundo palavras do Dr. Serrano. O Dr. António Feio focou a importância Farmácia em 1999, o Departamento Far- Foi também salientado pelo Dr. Miranda, da intervenção do farmacêutico hospitalar macêutico realizou as 2as Jornadas, que que apesar da classe de Farmacêuticos nos ensaios clínicos, referindo que este tiveram como principal objectivo a troca Navais estar em extinção, contrariamente desempenha o papel no circuito do me- de experiências entre militares e civis. ao que se passa na sociedade civil, estes dicamento de ensaio, sendo a sua parti- A sessão solene de abertura foi presidida têm um papel importantíssimo na raciona- cipação obrigatória em muitos países. pelo Vice-CEMA que frisou a importância lização da terapêutica e integração na Transmitiu ainda a experiência a nível do do intercâmbio entre os serviços militares e equipa multidisciplinar hospitalar. Serviço Farmacêutico dos Hospitais da seus congéneres civis. “A interpenetração Seguiu-se a comunicação da Dra. Sara Universidade de Coimbra. entre a sociedade civil e a componente mi- Rodrigues e Dra. Manuela Vicente, do Seguiu-se a alocução do Dr. Jorge Veiga, litar, inevitável, desejável e com mútuas Hospital de Sta Marta, que demonstraram a colega farmacêutico dos Hospitais da vantagens, há muito acontece nas suas importância da qualidade dos serviços far- Universidade de Coimbra, responsável pelo diferentes vertentes técnico-científicas”. macêuticos. serviço de Radiofarmácia. Falou sobre Pas- Na sua alocução, o Director do Hospital O Professor Dr. Mauricio Barbosa falou sado, Presente e Futuro da Radiofarmácia. da Marinha, Dr. Barata Valério, frisou a sobre as preparações farmacêuticas na A última comunicação desse dia referiu importância da Farmácia Hospitalar em Farmácia Hospitalar. a importância da gestão integrada na área qualquer hospital. É fundamental da saúde como meio de optimiza- como agente farmaco-económico ção dos cuidados sanitários. Os através do controlo dos sistemas de Informáticos da empresa Getronics distribuição dos medicamentos e apresentaram uma aplicação infor- intervenção na preparação de tera- mática de Gestão Hospitalar de pêutica citostática e nutrição paren- Medicamentos. térica, no controlo de qualidade, no Os trabalhos encerraram com apoio nutricional e na monito- um magnífico concerto pelo quin- rização terapêutica. Neste hospital o teto de sopro da Banda da Armada farmacêutico é um elemento ne- a que se seguiu um jantar no cessário e totalmente integrado na Museu da Marinha. equipa multidisciplinar de saúde. O O dia de sábado, foi ocupado Dr. Valério terminou a sua alocução com a comunicação do Professor com o visionamento de um filme sobre o O Dr. Melo Gouveia, Director da Divisão Dr. Rogério Gaspar, Vice-Presidente do trabalho da Armada, principalmente no de Medicamentos do INFARMED, focou INFARMED, que falou sobre a reorgani- campo da ajuda humanitária. um tema bastante polémico para os farma- zação da Farmácia Hospitalar a nível As comunicações cientificas foram ini- cêuticos hospitalares, os pedidos de autori- nacional e um polémico painel debate ciadas da melhor forma, com os chefes da zação especial. Esta comunicação teve uma sobre as carreiras hospitalares. Farmácia Hospitalar do Hospital Militar calorosa intervenção da audiência, mas o Após o encerramento seguiu-se um Principal, TEN COR Farmacêutico do Dr. Melo Gouveia frisou que o INFARMED magnífico repasto tendo como pano de Exército Serrano e o chefe do Departamen- apenas tem como objectivo a defesa da fundo as belas águas do Tejo. to Farmacêutico do Hospital da Marinha, saúde pública e não complicar o serviço dos Face à enorme receptividade da comu- CTEN Miranda, que deram a conhecer a farmacêuticos hospitalares (!?) nidade civil o projecto das Jornadas de Farmácia Hospitalar nas Forças Armadas. Seguiu-se a intervenção da Dra. Regina Farmácia Hospitalar terão continuidade Apesar de lutarem com grandes dificul- Carmona, do Centro de Farmacovigilân- dentro de dois anos, segundo a Comissão dades de estrutura e de pessoal, ambos os cia, que falou sobre a resposta e motivação Organizadora. hospitais conseguem atingir o seu princi- hospitalar para a notificação das reacções pal objectivo “Fazer Farmácia Clínica e não adversas. (Colaboração do Hospital de Marinha)

CLUBE NÁUTICO DOS OFICIAIS E CADETES DA ARMADA (CNOCA) CRUZEIRO DA PÁSCOA Realizou-se no passado mês de Abril, o em terra com o envolvimento de todos os “Cruzeiro da Páscoa” – uma iniciativa participantes. anual do CNOCA – que contou com a par- No dia 11 iniciou-se a descida do rio, atra- ticipação de 28 alunos da Escola de Vela cando à tarde novamente no cais do Jardim Ligeira. de Vila Franca de Xira. Estiveram envolvidas as embarcações O Grupo nº 1 de Escolas da Armada “Altair”, “Sabik”, Stratus” e “Xeriff” do ofereceu um jantar aos participantes e pais Clube e ainda as embarcações “Marear” e dos alunos, o que permitiu um excelente Nimbus” de sócios. convívio. No dia 7 de Abril as embarcações Jardim de Vila Franca. No dia 9 conti- A descida completou-se no dia 12, largaram da Base Naval, tendo pernoitado nuaram a subida do rio fundeando em chegando a frota às instalações do CNOCA na Marina da Expo. No dia seguinte Valada do Ribatejo às 15.00 horas. cerca das 15.00 horas. largaram com destino a Vila Franca de Xira No dia 9 e 10 realizaram-se diversas onde atracaram às 16.00 horas, no cais do actividades náuticas e de entretenimento (Colaboração do CNOCA)

28 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA hoppi

Novo Sistema de Crédito

Acordos: ExéIoto. PSP. GNR B F: AéruIiI (M!Irrtla 6fT) 1ISt1.do) Porto

Reabre com novos espaços e novos horários 2" a sábado das lQl às 2211 Lisboa

2" a sábado das 101 às 191 HISTÓRIAS DA BOTICA (10) AA tempestadetempestade ee oo sorrisosorriso

ncontrei hoje um rabisco rude, num nas suas viagens. Eu próprio tinha uma normal, o sofrimento torna-se um padrão papel sujo, já com algum tempo. Esse visão romântica do mar até ser afligido aceitável... Pense nisto o caro marinheiro: E rabisco lembrava uma tempestade, pelo enjoo, até sentir o peso das vagas em que outra profissão se trabalharia com que aconteceu há já alguns anos, em sobre o costado do navio, até viver, enfim, um balde por perto, para despejar aquilo Dezembro, nos Açores...Falava, também, o desconforto da distância e o silêncio que o estômago, a tempos regulares, se de saudade, pois era Natal, que cada um profundo da saudade – que aflige todos os recusa a aceitar? Em que outra situação, vivia de modo próprio e íntimo... marinheiros, mesmo os que não o confes- em profundo sofrimento físico, que em sam. muitos casos, nem os modernos fármacos A maior parte das pessoas tem do mar conseguem mitigar, se retomaria sem hesi- uma ideia poética e dos marinheiros Nas tempestades, ocorrem estados físi- tação um posto de trabalho? Que outras alguns terão, mesmo, a noção de que cos e estados de alma, inimagináveis em pessoas gracejariam com a sua própria levam uma vida regalada e de passeio, terra. O inacreditável assume-se como náusea, a quem chamam carinhosamente gregório? Dito de outra forma, em que outro ambiente se desenhariam planos de bata- lha e se planeariam ataques à mistura com o aroma de um almoço provado duas vezes e se manteria a capacidade de sorrir a esse propósito? Estou seguro que em nenhuma outra profissão se toleraria tanto, de forma tão leve... Além do mais, a Marinha é democrática na distribuição do sofrimento, já que o enjoo aflige, de forma imparcial, comandante ou grumete.

Ao contrário, deste tipo de atitude só- bria, deste sentido do dever, que pre- senciei vezes sem conta, são frequentes, noutras profissões, os atestados por gripe e os impedimentos súbitos muitas vezes por doenças que não existem...Contudo, dessas outras profissões falarão, porventu- ra, outros médicos com perspectivas dife- rentes da minha, com outro sentido da realidade e, possivelmente, com muito mais arte... Mas, voltemos à tempestade em causa, que foi das mais medonhas que presen- ciei. A corveta, em que estava embarcado, largou às pressas do porto da cidade da Horta. O vento era violento, de tal ma- neira que havia contentores avançando sobre o navio. Tinha havido um pedido de socorro – um iate supostamente em perigo de naufrágio. Durante 4 dias fomos fusti- gados por uma ventania infernal e ondas que faziam crer que estávamos num sub- marino, mesmo quando observadas da ponte. Ninguém se tinha em pé mais que o ne- cessário. As cadeiras da Câmara de Ofi- ciais balançavam vertiginosamente e a superestrutura, da já gasta embarcação, rangia a um ritmo caótico, numa sinfonia intrigante e ameaçadora. Quis ir à ponte filmar o fenómeno (coisas de médico...), quando, na asa da ponte, fui presenteado pelas emanações gástricas de um grumete na sua primeira viagem, que não respeitou

30 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA a direcção do vento. Terminei, logo ali, a do a tempestade e o enjoo. Fiquei pro- Pareceu-me então e mais ainda hoje, que reportagem... gressivamente mais tonto, até que avan- o Ti`Alegre personifica, de uma forma cei, corajosamente, para a sandes de extraordinariamente bela, a capacidade Ninguém comia de verdade, umas atum. Soube-me bem o atum e ainda me- de resistir à adversidade – sob todas as sandes aqui e ali, um sumo, nada mais. Só lhor o cheiro do pão. Bebi mais um copo formas. Esta qualidade, acredito eu, não um homem se manteve firme e bem e outro. Sentia-me leve...Às tantas, já não se aprende facilmente. Não parece ensi- humorado. Era o Cabo cozinheiro, co- percebia se era enjoo ou tontura, só sei nar-se na Universidade, nem se adquire só nhecido a bordo como o Ti`Alegre. Um que me apeteceu repousar, desci à pelo fervor religioso. É antes e muito mais, homem calvo, obeso, de abdómen proe- Enfermaria, que era logo ali. Deitei-me no o resultado de uma vida cheia de trabalho minente, uma face rosada e divertida de beliche e por lá fiquei. Nesse dia já não e de tempestades, como é a vida de Zé Povinho. Já Cabo antigo, sempre – sofri mais, nem as saudades nem o enjoo muitos Cabos antigos de Marinha, que fui fazendo fé na alcunha – muito bem dis- me apoquentaram... conhecendo. Vem, acredito do coração, posto e com um particular gosto pela de uma força interior que obriga a resistir, pinga. Era um excelente cozinheiro, brin- Nos dias seguintes, eu e outros, volta- a lutar até ao fim, com alegria... dando todos a bordo, de forma regular, mos às sandes e, sobretudo, procurámos a com os frutos do seu trabalho, sendo um força que emanava de tal ser, que sorria Esta qualidade, intrínseca, reconhecerá magnífico técnico no seu mister... do enjoo e troçava do desconforto. A tem- o leitor, está presente em muitos dos que Apesar do balanço, O Ti`Alegre man- pestade ficou menos ameaçadora e o conhecemos – principalmente entre os tinha-se imperturbável na sua cozinha, tempo passou mais depressa...O iate, mais simples. Tal riqueza, assim fui co- assobiando sempre a mesma cantiga (“as fomos informados, tinha chegado pelos nhecendo, está bem distribuída pelas pombinhas da cat`rina”), cozinhando seus próprios meios a bom porto. guarnições dos navios da Armada. Se repastos que poucos iriam consumir. Regressámos à cidade da Horta. assim não fora, como se tolerariam a Ora, na manhã do segundo dia em que Desde então, percebi que tão reputado saudade, a distância e as palavras de navegávamos, naquele inferno, estava eu cozinheiro tinha dotes especiais, muito alguns críticos, que nunca sentiram o ba- já com uma cor entre o verde e o azul, para além da mestria culinária. Tal como lanço e para quem o horizonte é pouco quando alguém me chamou: fizera comigo, tinha sempre uma palavra maior do que a própria sala de estar... - Doutor, Doutor, tenho aqui um petis- amiga, para quem com ele se cruzava. Esses homens, anónimos, são, cada um co para si! – era o Ti`Alegre com um sor- Misturavam-se à uma as chalaças bem à sua maneira, heróis e maestros activos, riso malandro. humoradas, com as perguntas sobre a nesta sinfonia, muitas vezes pouco harmo- - Ó Sr. Cabo, olhe que eu já não tenho filha de um, ou a mãe de outro... Tudo lhe niosa, a que chamamos viver... estômago, quando mais pensar em petisco saía assim, de uma forma simples e genuí- – respondi eu, meio a sério, meio a brin- na. Como se a menor conversa tivesse Nos dias em que, no mais íntimo do ser, car. importância e a alegria fosse toda pode- a vida me parece pesada e triste, neste - É que o Doutor não provou deste rosa. enxame de abelhas a que chamamos medicamento que eu aqui tenho! Evidenciava uma leveza no ser, que lhe grande cidade, recordo o Ti`Alegre e a sua - curioso, reparei que o Ti`Alegre tinha permitia, quase no mesmo tom, saudar o alegria. Com ele se aprende o verdadeiro umas sandes de atum com bom aspecto e comandante e picar o grumete rancheiro, valor de um sorriso...Se por ele passarem apontava, trocista, para uma garrafa, com pouca vontade para tratar da louça... estas linhas dirá certamente: poeirenta, de vinho tinto. Nesse Natal, organizou uma festarola - Olhó malandro, foi escarrapachar isto -Ó Doutor prove lá do xarope! - insistiu no refeitório. Fez de Pai Natal e até dis- na Revista! o Ti` Alegre a sorrir – ia declinar definiti- tribuiu prendas...minguando a saudade E o tinto?- perguntarão alguns a esta vamente a oferta, quando tão inovador que nos ia no coração. Também tive pren- altura. clínico me fez cheirar o aroma do tinto – da: Desse também me vou lembrando. o cheiro faz parte do tratamento – conti- - Tome lá Doutor, não vá faltar-lhe o Parece, afinal, que o Ti`Alegre também nuava ele, com sincera alegria. remédio pró enjoo! – Era mais uma gar- aqui estava certo, é que o tinto faz O aroma era verdadeiramente divinal. rafinha daquele tinto poeirento... bem...aos doentes do coração...  O sabor amaciou o esófago e passado algum tempo senti um calor e uma tontu- Durante muito tempo meditei sobre o ra, que me fizeram sentir bem, esquecen- Ti`Alegre e sobre o que ele representa. Doc. CONVÍVIOS NÚCLEO DE FUZILEIROS DOS TEMPLÁRIOS

No passado dia 29 de Abril realizou-se na Quinta da Direcção, CMG Almeida Viegas, Gracinda Mateus, o 5º almoço “Convívio do Núcleo de fornecido informações sobre esta Fuzileiros dos Templários”. Habitual reunião anual, que con- Associação que se encontra em fran- grega antigos fuzileiros que fizeram parte das unidades que co desenvolvimento. participaram na Guerra do Ultramar e os actuais que têm Prova da vitalidade do Núcleo foi cumprido missões humanitárias na Europa, na África e na a significativa presença de jovens Oceania, juntou este ano cerca de três centenas de militares fuzileiros, a exemplo do que sucede tendo contado com a presença do Comandante do Corpo de em outros grupos de marinheiros Fuzileiros, CMG Cunha Brazão e de oficiais do seu Estado- disseminados por todo o País, facto -Maior. que assegurará a continuidade De salientar que foram anunciados os corpos gerentes do destes movimentos que têm consti- Núcleo o qual passará a fazer parte da Associação de tuído um excelente meio de difusão Fuzileiros, tendo, na ocasião, o respectivo Presidente da da Marinha.

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 31

CONVÍVIOS QUARTO DE FOLGA MOTOCLUBE NAVAL JOGUEMOS O BRIDGE 20º PASSEIO - ALCOBAÇA (Problema nº 34) O Motoclube Naval realizou no passado dia 25 de Março o 20º passeio, passando pela Batalha e Alcobaça. Durante a manhã foi realizada uma prova de Kart, no Tente primeiro resolver a 2 mãos tapando E-W Kartodromo da Batalha – Euroindy, onde os condutores puderam sentir experiência de conduzir em piso escorregadio, apresentando Norte (N): algumas manobras inéditas, sendo os três primeiros classificados o ♠ ♥ ♦ ♣ (1º) - 2TEN SEP Teixeira Fernandez; (2º) - 1TEN Duarte da Conceição; (3º) 1TEN Rodrigues Soares. - D D A O almoço decorreu num empreendimento de turismo rural – 2 V R Quinta do Pinheiro, em Alcobaça, onde o ambiente da casa e os 10 V sabores gastronómicos com que foram agraciados os presentes, 9 9 foram bastante elogiados. Face ao adiantar da hora, a visita guiada ao Mosteiro de Alcobaça 8 não pode ser realizada por este se encontrar encerrado, tendo os 7 motards aproveitado para tentar um regresso a seco, o que veio a ser 6 frustrado. O Motoclube Naval agradece a todos os que participaram e Oeste (W): Este (E): apoiaram este evento, em particular à Petrogal, Lisfil e a A. da Costa. ♠ ♥ ♦ ♣ ♠ ♥ ♦ ♣ D V 3 5 4 6 A D 8 10 4 3 5 R 3 JANTAR NO CLUBE MILITAR NAVAL 7 9 2 4 2 2 No âmbito de uma iniciativa levada a cabo pelo Clube Militar 6 8 3 Naval, destinada a promover as tradições e costumes populares e 5 7 regionais, realizou-se no passado dia 12 de Maio, o primeiro de Sul (S): uma série de jantares temáticos, desta feita dedicado à gastronomia ♠ ♥ ♦ ♣ minhota. Os convidados, reunidos na Biblioteca, deram início a esta cele- A A 8 10 bração provando as ricas iguarias regionais do Minho e diversos R R 7 vinhos da Adega Cooperativa de Ponte da Barca, que prontamente acedeu a participar nesta iniciativa. V 6 10 5 9 4

Todos vulneráveis, segue-se o seguinte leilão: NE SW 1♣ - 1♠ - 2♣(a) - 2♦ - 3♦ - 3ST(b) todos passam (a) – ñ pode dar 2♦ pois isso corresponderia a uma inversa e a mão é fraca (b) – apesar de ter só um ♣ pensa que será melhor contrato do que 5♦ No final da prova de vinhos, o Clube Militar Naval e a Casa do Correio-Mor, casa de turismo-habitação situada em Ponte da Barca, Na verdade 5♦ é um contrato sem qualquer problema, mas agora há celebraram um protocolo que permitirá que todos os sócios do que tentar cumprir os 3ST que marcou. Como deve S jogar, com Clube passem a usufruir de um desconto de vinte e cinco porcento saída a ♥V. em todos serviços prestados. O jantar constou de arroz de lampreia acompanhado por vinho verde, seguido de diversos doces regionais. No final, com o café, SOLUÇÕES foi servida uma muito apreciada Aguardente Velha da Adega PROBLEMA Nº 34 Cooperativa de Ponte da Barca. A presença de dois artistas, Armando Marinho e João Real, completou a excelente disposição A saída veio criar o problema de não poder tentar fazer as 9 vazas que se fazia sentir, com a tradicional “desgarrada”, fados e outras com 2♠+2♥+3♦+2♣. A passagem a ♣D, ou apanhá-la à 2ª, parece músicas populares. ser uma solução, mas se estiver mal jogam-lhe outra ♥ e não con- O sucesso desta iniciativa ficou comprovado pelo entusiasmo segue pôr a mão no morto para fazer os ♣ apurados, levando 2/3 dos participantes, e fica devedor do forte empenho da Direcção do cabides. Mas será assim? Repare que não, se no ♣R baldar ♥R fican- Clube Militar Naval, da Câmara Municipal de Ponte da Barca, dos do com ♥D para entrar no morto, para além da via do ♦. Nunca dará artistas convidados e dos proprietários da Casa do Correio-Mor, mais do que 1♠+2♦+1♣. resultando numa noite de sábado muito agradável. Resta aguardar pelo próximo... Nunes Marques (Colaboração do STEN Reis Marinho) CALM AN

REVISTA DA ARMADA • JULHO 2001 33 NOTÍCIAS PESSOAIS

● SAJ Artur da Silva Monteiro ● SAJ Joaquim António Pires COMANDOS E CARGOS Plácido ● SAJ João Batista Simões ● SAJ Rui dos Santos Pinheiro NOMEAÇÕES ● SAJ António João Gonçalves Mendes ● SAJ António Manuel ● CFR Carlos Fernando Bandarra Branco - Adido de Defesa junto da Sabino ● SAJ Manuel Ramalho dos Santos Silva ● SAJ Ribeiro Embaixada de Portugal em Rabat – Marrocos, acumulando com Augusto Martins ● SAJ Manuel Maria Cêpa Carpinteiro ● SAJ João idênticas funções em Tunes – República da Tunísia ● CFR António José Parreira Carrapeto ● SAJ Armando Elias Ribeiro ● SAJ Samuel Henriques Maló Rocha de Freitas - Comandante do NRP “Sacadura Pereira Batista ● 1SAR José Valério Cansado Corvo ● 1SAR José Cabral”, em substituição do CFR José Luís dos Santos Alcobia Manuel Nogueira Alves ● 1SAR Júlio Celestino Pereira Miguéis ● CTEN José António Croca Favinha -Comandante do NRP “João ● 1SAR António Pereira Gonçalves ● 1SAR Manuel António Roby, em substituição do CTEN António Manuel de Carvalho Martins das Neves ● 1SAR Carlos Manuel Magalhães de Oliveira Coelho Cândido ● CTEN Pedro Sassetti Carmona - Comandante do Mota ● 1SAR José Manuel Simões Lopes ● 1SAR Emídio Gonçalves NRP “Vega”, em substituição do CFR Nuno Murray Bustorff Silva Martins ● 1SAR Luís Alfredo Lopes dos Santos ● 1SAR Carlos José ●1TEN João Paulo Delgado Codinha - Comandante do NRP “Baca- Máximo Ramos ● 1SAR José Alberto de Jesus Nora ● 1SAR Jacinto marte”, em substituição do 1TEN Paulo Jorge Gomes Lopes Pereira. Marques Severino ● 1SAR Ilídio Bermudes Botelho ● 1SAR Vasco Furtado da Silva Batista ● 1SAR Abel Luís Amorim Leite ● 1SAR RESERVA António Guerreiro Baltazar ● 1SAR Ricardo da Silva Dias ● 1SAR ● CMG Henrique Luís Monteiro Marques ● CMG Helder Correia Vasco Furtado da Silva Batista ● 2SAR Paulo Jorge da Conceição Loureiro ● CMG Manuel Amandio Francisco Pina ● CMG José Luís Canhola ● CAB Manuel Pedro dos Santos Fernandes ● CAB Rodrigues Portero ● CMG MN Fernando Sotto-Mayor Coelho de Joaquim António Cerqueira Bragança ● CAB Domingos Ribeiro Sousa ● CMG AN Luís Augusto de Figueiredo Vasco dos Santos Alves ● CAB Fernando Nunes Mendes ● CAB Manuel Nunes da ● CFR AN Victor Manuel Loureiro Grácio ● CFR EMQ Alberto Silva Ferreira ● CAB Amandio Manuel Correia ● CAB Leonel Teixeira Bigote de Almeida ● CFR José Maria Marques Paiva ● CFR Marques Romão ● CAB Valdemar de Oliveira Pereira ● CAB Luís Manuel da Cunha Sousa Machado ● CFR Albino dos Santos António Fernando Costa Eugénio ● CAB José de Amaral Fidalgo ● 1TEN Modesto António de Matos Rosado ● 1TEN João Nogueira ● CAB António José Marques Gomes da Cunha ● CAB Pires Ramiro ● 1TEN José João Pereira da Silva ● 1TEN Joaquim Fernando da Anunciação Gonzaga Ribeiro ● CAB Silvino Luís da dos Reis Dimas Algarvio ● 1TEN João Maria Estevão do Rio ● 1TEN Mata Lapa ● CAB João Manuel David Carraça ● CAB José Artur Hermínio Luís de Castro Veiga ● SMOR Eusébio do Rosário Rosa de Castro Gonçalves ● CAB Mário Jorge Campos Silva ● CAB Esteves ● SMOR Manuel José dos Santos António ● SMOR João Amadeu Oliveira Caramelo ● CAB José Maria Porfírio Teixeira José de Oliveira Nunes ● SMOR Joaquim Januário Coelho de ● CAB Amilcar Mendes Pires ● CAB António Nogueira Pisa Almeida Matos ● SMOR José Manuel Palrão Ribeiro ● SCH ● CAB José Alberto Bandeira Baetas ● CAB António Manuel Joaquim do Rosário Sintra ● SCH José Carlos Ferreira ● SCH José Cerdeira ● CAB António José Pinto ● CAB João Francisco Manuel Martins ● SAJ Armando de Jesus Cordeiro ● SAJ José Roque ● CAB Ulisses José Cardoso ● CAB João Emílio Patacas António Filipe Raimundo ● SAJ Luís do Nascimento Andrade Mourato Elvas CAB Manuel da Silva Vilão ● CAB António ● SAJ Augusto da Costa Bernardino ● SAJ Adelino Pacheco Gomes Carlos de Melo Custódio. SAIBAM TODOS CLUBE MILITAR NAVAL PRÉMIO “MARINHEIRO ARTILHEIRO ANTÓNIO FERREIRA”

● Os prémios correspondentes ao ano lectivo de 2000/2001 em – 1000-117 Lisboa, expedida até 15 de Novembro de 2001, na número de dois, no valor unitário de Esc.: 50.000$00, são reser- qual conste o estabelecimento oficial em que o aluno tiver con- vados a filhos de praças da Armada e destinam-se a premiar os cluído os anos escolares e onde igualmente conste: alunos que obtenham classificações elevadas nos cursos do 9º Nome do aluno, data de nascimento, filiação do pai e da Ano ou equivalente e 12º Ano ou equivalente. mãe, endereço dos pais ou encarregados de educação, escola • A habilitação aos prémios “Marinheiro António Ferreira”, ou liceu que frequentou no ano lectivo 2000/2001, número da em cada ano, será feita pelos pais ou encarregados de educação turma n.º do aluno e n.º do ano que frequentou no ano lectivo ou pelo aluno, em carta registada dirigida ao presidente da de 1998/99, média final que obteve no ano lectivo de Direcção do Clube Militar Naval, Av. Defensores de Chaves, 26 2000/2001.

CONCURSO DE ADMISSÃO DE VOLUNTÁRIOS DO SEXO F/M PARA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO EM RC NA CATEGORIA DE PRAÇA ● Os documentos para admissão ao concurso deverão dar entrada As inspecções médicas e os exames psicotécnicos terão lugar de: no Comando da Zona Marítima dos Açores e no Comando da Zona Marítima da Madeira até às 16.30 horas do dia 31 de Julho de 3 a 14 de Setembro de 2001. 2001. Os candidatos poderão optar pela entrega dos documentos Incorporação: nas Capitanias e Delegações Marítimas sediadas nos Açores e na 12 de Novembro de 2001. Madeira até às 16.30 horas do dia 6 de Julho de 2001.

34 JULHO 2001 • REVISTA DA ARMADA Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

29. O QUADRO DA BATALHA NAVA L D O CABO DE S. VICENTE

Um dos melhores quadros do nosso Museu de Marinha deve-se a Antoine Léon Morel-Fatio e representa a batalha do Cabo de S. Vicente, travada entre as forças liberais e absolutistas, no ano de 1833. O autor não está na galeria dos “grandes pintores franceses” (que, aliás, é riquíssima), mas destacou-se na representação de quadros navais, tendo sido um dos primeiros pintores oficiais da Marinha Francesa, contratado pelo ministério pelas suas capacidades artísticas e pela sua dedi- cação aos temas marítimos de todos os tipos. O Cercle de la Voile de Paris, fundado em 1858, ainda hoje exibe a sua ban- deira, cujo desenho se deve a Morel-Fatio. Foram por ele registados alguns dos mais significativos eventos de guerra naval, ocorridos entre o final do século XVIII e princípio do XIX que, em muitos casos, resultaram da observação directa do autor, como acontece na representação do ataque a Argel pelo Almirante Duperré (1830) e os quadros sobre a guerra da Crimeia (1854-55). A pintura em óleo sobre tela (317 x 200 cm) que se exibe no Museu de Marinha pertenceu ao infante D. Afonso Henriques – irmão do rei D. Carlos –, passando para o espólio da viúva, a Sra. D. Nevada Stoody Hayes (ou Nevada de Bragança), a quem a Fundação da Casa de Bragança a pretendeu adquirir. Entretanto, o Museu de Marinha manifestou a vontade de ficar com ela – dada o seu valor artístico e a importância histórica – e o seu pedido foi compreendido pelo Dr. António Luís Gomes, que presidia à Fundação. Mas só passou para o património da Marinha após a morte da proprie- tária, em 1941, e por compra directa efectuada durante o processo de habilitação de herdeiros. A batalha do Cabo de S. Vicente teve uma importância decisiva no desfecho da guerra civil que, em 1832-34, opôs as forças liberais, fiéis à entrega da coroa de Portugal a D. Maria, filha de D. Pedro e as absolutistas que preconizavam a entronização de D. Miguel. Este último tinha aproveitado as circunstâncias em que lhe foi entregue a regência, ao ponto de pretender assumir-se como rei e o facto provocou a vinda de D. Pedro do Brasil para dirigir pessoalmente uma revolta contra o usurpador. Inicialmente conseguiu reunir uma força militar e um governo nos Açores, assumiu ele o cargo de regente e, em 1832, seguiu para o continente com intenções de repor a sua filha no trono. As forças liberais desembarcaram na praia de Pampelido (Mindelo), e contavam com um apoio maciço da população e das guarnições militares que julgavam fiéis defensores da Carta Constitucional, mas tal não aconteceu. A guerra prolongou-se, as tropas de D. Pedro ficaram cercadas no Porto e a situação apresentava-se como desesperada, quando foi decidido abrir uma nova frente de combate a sul. Uma decisão acertada que, inicialmente, viria a funcionar como diversão, mas que, depois, se veio revelar muito útil para uma rápida aproximação a Lisboa, com o isolamento de D. Miguel que se viu forçado a capitular. E um momento que marca a viragem da situação militar para o lado dos liberais é, sem sobra de dúvida, quando a esquadra de D. Miguel é derrotada perto do Cabo de S. Vicente, pelas forças fiéis a D. Maria, comandadas no mar pelo Almirante Carlos Napier. Depois do desembarque em Cacela (praia da Alagoa), os liberais, num ápice, tomaram conta de quase todo o Algarve. A sua situação apenas apresentava uma fragilidade, mas essa fragilidade poderia ser decisiva para o desenrolar dos combates: tratava-se do domínio sobre o espaço marítimo português onde se teria de fazer a ligação das forças colocadas. Se a esquadra de D. Miguel dominasse a faixa atlântica, tudo estava perdido. E Napier tinha a noção disso, quando se decidiu pelo combate, naquele dia 5 de Julho de 1833. Saiu de Lagos, no dia 2 de Julho, com intenção de demandar Lisboa, e avis- tou os navios inimigos no dia seguinte. À partida a sua posição era favorável, mas ele queria chegar à abordagem e ao apri- sionamento dos navios, para que o poder naval absolutista ficasse destruído. E para isso precisava de mar chão, vento não muito forte e – claro – possibilidade de uma aproximação por barlavento com vantagem táctica. No quadro podemos ver, ao centro e em primeiro plano, a fragata “Rainha de Portugal” (46 peças), comandada pelo próprio Napier, depois da abordagem à nau “Rainha de Portugal” (com o pendão branco de D. Miguel) – um navio muito maior e com duas baterias (76 peças). Depois, passando-lhes pela popa (com o pendão azul e branco de D. Maria), está a fragata D. Pedro (48 peças), manobrando para a abordagem por sotavento. À proa, e um pouco mais arribado, está a nau “D. João VI”, navio chefe dos absolutistas, e à popa a fragata “Martim de Freitas”, desarvorada do mastaréu do velacho. Foi o momento crucial da batalha quando Napier conseguiu abordar a “Rainha de Portugal”, sem que a “D. João VI” lhe pudesse valer com artilharia ou pessoal, e mantendo, igualmente, fora de acção todos os navios que estavam a sotavento (que se vêem ao fundo). Só a “Martim de Freitas” poderia combater, mas, acossada pelos “Portuense”, “Vila Flor” e “Faro” – que se vislumbram à esquerda do quadro – preferiu orçar e fugir (o que não conseguiu). Esta obra de Morel-Fatio está presente no Museu de Marinha, e merece a nossa atenção, não só pelo rigor histórico, como pela qualidade artística e pela forma como nos sugere a movimentação e manobra dos navios durante a Batalha Naval do Cabo de S. Vicente.

Nota: Os quadros de Antoine Léon Morel-Fatio estão assinados com ou sendo a pri- meira a que consta no “Quadro da Batalha Naval do Cabo de S. Vicente”.

Museu de Marinha (Texto de J. Semedo Matos, CFR FZ) Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

29. O QUADRO DA BATALHA NAVA L D O CABO DE S. VICENTE PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 345 • ANO XXXI AGOSTO 2001 • MENSAL • 250$00 / € 1, 25

A LANCHA “ANDORINHA” NO DOURO A Marinha no 10 de Junho

Foto: Agência Lusa O Capitão-de-Fragata Augusto Mourão Ezequiel ao ser condecorado pelo Presidente da República com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, pelo seu desempenho na coordenação e direcção técnica das operações exe- cutadas pela Marinha em Entre-os-Rios.

A Unidade de Mergulha- dores da Armada, repre- sentada pelo 1º Tenente Paulo Vicente, recebe o tí- tulo de Membro Hono- rário da Ordem do Infante Foto: Presidência da República / Jorge Brilhante D. Henrique, pela forma pronta, abnegada e de alto risco que caracterizou a acção desenvolvida pelos Mergulhadores da Armada em Entre-os-Rios.

Em formação impecável, a Banda da Armada executa o Hino Nacional na final da Taça de Portugal, em futebol, no Estádio Nacional. Foto: Jornal Record / Pedro Sá da Bandeira, cedida pela Federação Portuguesa de Futebol. SUMÁRIO

Publicação Oficial da Marinha Recordando Periodicidade mensal Amália Rodrigues Nº 345• Ano XXXI 6 a bordo do “Afonso de Agosto 2001 Albuquerque” em Dakar. Director CALM EMQ RES Luís Augusto Roque Martins Chefe de Redacção CFR REF Jorge Manuel Patrício Gorjão Redacção 2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito Secretário de Redacção 1SARG T Vitor Manuel Gaspar Lopes Colaboradores Permanentes CMG REF Raúl de Sousa Machado CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos CTEN Abel Ivo de Melo e Sousa 1TEN REF Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves Administração, Redacção e Publicidade Edifício da Administração 16 Central de Marinha O notável desempenho Revista da Armada do Instituto Hidrográfico nas Rua do Arsenal operações em Entre-os-Rios. 1149-001 Lisboa - Portugal Telef: 21 321 76 50 Fax: 21 347 36 24 Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt e-mail da Revista da Armada [email protected] Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito, 22 montagem e produção Página Ímpar, Lda. A Secção de Catalogação Estrada de Benfica, 317 - 1º F do Material (SECAMAR) 1500-074 Lisboa comemorou o 25º aniversário da sua criação. Tiragem média mensal: 6000 exemplares A MARINHA NO 10 DE JUNHO 2 Preço de venda avulso: 250$00 PONTO AO MEIO DIA 4 Registada na DGI em 6/4/73 com o nº 44/23 PELO DOURO ACIMA 5 LANÇAMENTO DO LIVRO “UM NOVO DIREITO DO MAR” Depósito Legal nº 55737/92 DO COMANDANTE SERRA BRANDÃO 8 ISSN 0870-9343 LUÍS GUIMARÃES LOBATO, UMA VIDA CONSAGRADA À VELA 10 A MARINHA DE D. MANUEL (17) 13

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 345 • ANO XXXI AGOSTO 2001 • MENSAL • 250$00 / € 1, 25 UMA REPARAÇÃO MUITO PARTICULAR 14 A NOTÍCIA DA DESCOBERTA DO CAMINHO MARÍTIMO PARA A ÍNDIA, UMA QUESTÃO HISTORIOGRÁFICA 20 ACADEMIA DE MARINHA 24 PLANETÁRIO CALOUSTE GULBENKIAN 25 DIRECÇÃO DE FARÓIS 26 NOTÍCIAS 27 CONVÍVIOS 28 A LANCHA “ANDORINHA” HISTÓRIAS DA BOTICA (11) 30 NO DOURO A Lancha “Andorinha” no Douro NOTÍCIAS PESSOAIS 31

ANUNCIANTES: QUARTO DE FOLGA 33 Clínica Santa Madalena; Museu de Marinha; OGFE - Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento; NOTÍCIAS PESSOAIS / SAIBAM TODOS 34 TELERUS - Sistemas de Telecomunicações, S.A. PATRIMÓNIO CULTURAL DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 3 PONTO AO MEIO-DIA

O Orçamento de Defesa para 2001 A cruel realidade dos números

A DISTRIBUIÇÃO zar as Forças Armadas e investir em novos Nestas circunstâncias, retomando os va- O Orçamento da Defesa Nacional (ODN) meios e em modernas tecnologias. Caso lores de 1999 para a relação entre as despe- para 2001 ascende a 301,4 milhões de con- estas medidas não sejam tomadas, face aos sas de defesa e o PIB, a mais plausível é de tos (mc). Neste montante incluem-se as objectivos fixados no Programa do Governo 1,5%. Para 2001, com um PIB estimado de despesas de funcionamento normal (260,1 de valorização da componente humana dos 21601 mc, esta relação, na melhor das mc) e de investimento (41,3 mc). De forma Quadros Permanentes, acompanhada da circunstâncias, poderá ser de 1,4%, bem muito simplificada poderá dizer-se que as redefinição e actualização dos vencimentos abaixo do valor de 2,11% recomendado despesas de funcionamento normal englo- e da reestruturação de carreiras, será de pela NATO. Como se acaba de verificar, a bam as verbas relativas a pessoal (191,5 esperar um novo incremento das despesas coexistência de distintas lógicas de classi- mc), a operação e manutenção (67,6 mc) e a com pessoal. A ser suportado pelo ODN ficação e agregação de despesas, conduz a despesas de capital (1 mc). As despesas de provocará o colapso do sistema de forças uma inconveniente distorção das análises investimento atingem 37,3 mc referentes à por incapacidade de o operar e manter, comparativas sobre os orçamentos de lei de programação militar (LPM) e 4 mc mesmo em níveis mínimos. defesa, e permite o desenvolvimento de relativos ao programa de investimentos e Os encargos imputados à defesa, bem imagens que não retratam fielmente o despesas de desenvolvimento da adminis- como os valores do PIB adoptados como esforço financeiro neste domínio. tração central (PIDDAC). O ODN é dis- referência, apresentam algumas distorções tribuído pelo MDN (18,4 mc), EMGFA na documentação oficial publicada, o que AS REDUÇÕES (10,4 mc), Marinha (84,4 mc), Exército origina confusões e facilita manipulações. O ODN cresceu entre 1990 (193,5 mc) e (122,5 mc) e Força Aérea (65,7 mc). Se, relativamente ao PIB é possível encon- 2001 (301,4 mc) cerca de 55,8% a preços Os encargos relativos às missões huma- trar um valor aproximado em toda a docu- correntes. Deduzindo a inflação verifica-se nitárias e de paz não constam do ODN. São mentação, o mesmo não acontece quanto às uma descida real de cerca de 26,8%. Com satisfeitos por fundos da dotação provi- despesas de defesa e à relação destas com o efeito, o orçamento de 2001, a preços cons- sional do Ministério das Finanças ou da PIB. Tomando como exemplo o ano de tantes, traduz-se em apenas 141,7 mc de Agência Portuguesa de Apoio ao Desen- 1999, o último sobre o qual está disponível 1990. Utilizando outros indicadores cons- volvimento (APAD). Esta modalidade de a documentação oficial necessária, verifi- tatamos que a relação entre as despesas de financiamento é justificada pela natureza e camos que para um PIB de 21000 mc, o defesa e as despesas públicas era de 6,1 % pelo carácter imprevisível e excepcional de valor apresentado no Anuário de Esta- em 1990, contra 2,4% em 2001, o mais baixo tais missões. Para o ano em curso estão tística de Defesa Nacional para despesas de dos últimos 12 anos. A relação entre as inscritos cerca de 15,0 mc. defesa é de 261,6 mc, que correspondem a despesas de defesa e o PIB era de 2,0 % em Relativamente à utilização do ODN, a Lei 1,25% do PIB e englobam apenas as verbas 1990, contra 1,4% em 2001. Se considerar- n.º 30/C/2000, de 29 de Dezembro, estabe- atribuídas aos três ramos das Forças Arma- mos as despesas de defesa por habitante lece as seguintes cativações:15% do total das das. O montante divulgado no Orçamento verificamos, a preços constantes, que em verbas orçamentadas para abonos variáveis de Estado para as despesas de defesa 1990 se gastavam 19,1 contos e hoje apenas e eventuais, aquisição de bens e serviços, atinge os 320,1 mc, que correspondem a 14,2 contos. Relativamente às despesas outras despesas correntes e aquisição de 1,5% do PIB porque incluem também os públicas por habitante, igualmente a bens de capital;8% das despesas previstas gastos com o MDN, o EMGFA, o investi- preços constantes, em 1990 gastavam-se na LPM;10% do total das verbas orçamen- mento do plano e as contas de ordem. Por 313,3 contos por habitante, enquanto hoje tadas para transferências correntes desti- fim, o valor das despesas de defesa comu- se consomem 602,1 contos. Torna-se assim nadas aos serviços e fundos autónomos. As nicado à NATO foi de 452,8 mc, que corres- claro que, embora a generalidade das verbas cativas do ODN sempre puderam pondem a 2,2% do PIB, em resultado da funções do Estado obtenha hoje mais ser utilizadas pelas Forças Armadas, me- adição das despesas com a GNR (95,4 mc) e recursos, na defesa houve uma clara diante despacho ministerial, após proposta com as pensões de reforma não suportadas diminuição. Por isso, podemos afirmar que fundamentada dos Chefes de Estado-Maior. pelo ODN. o esforço de defesa português acompanhou Todavia, uma das medidas de reforma da A GNR, embora opere sob autoridade a tendência de contenção verificada no pós despesa pública recentemente aprovada do CEMGFA em caso de guerra, tal como guerra fria. Como se situa francamente aponta no sentido de cortar essas verbas, o está estruturada, armada e treinada, não abaixo do recomendado pela NATO, retira que agravará as dificuldades de funciona- pode ser considerada uma força militar credibilidade às iniciativas políticas e mili- mento no corrente ano económico. apta a combater num conflito moderno. É tares do país no seio da Aliança e da comu- uma competente força policial, capaz de nidade internacional. Para além disso, AS ASSIMETRIAS garantir a ordem pública em cenários de torna evidente que as críticas e os pedidos O ODN revela uma preocupante assime- moderada instabilidade. Por isso, os seus de aumento das despesas de defesa por tria das despesas com pessoal (60%) relati- encargos não deveriam ser considerados parte da NATO se justificam. Na realidade, vamente ao investimento (21%) e à ope- despesas de defesa nem comunicados à se os aliados são os nossos juizes, também ração e manutenção (19%). A distribuição NATO. Igual procedimento deveria ser é certo que garantem uma parte substan- típica nos países da NATO é, no pessoal, de adoptado para as pensões de reforma não cial e indispensável da nossa segurança.  40%, no investimento de 30% e na operação suportadas pelo ODN, porque reflectem e manutenção de 30%. Urge caminhar nesta contribuições para a Caixa Geral de António Silva Ribeiro direcção. Porém, é fundamental reorgani- Aposentações e para fundos de pensões. CFR

4 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA PeloPelo DouroDouro AcimaAcima

proveitando a missão de fiscaliza- e solares de so- ção do navio nas águas da Zona nho a “Andori- A Marítima do Norte, foi solicitada a nha” foi “voan- devida autorização para efectuar uma do” pelas pacatas navegação que há mais de 12 anos não se águas do Douro realizava por um navio da Marinha de não passando Guerra e pela segunda vez na história. despercebida às Navegar no Rio Douro até à cidade do pessoas que da Peso da Régua. margem acena- Assim, após o aval do Comando Naval o vam. Passada a navio iniciou os preparativos de uma malograda ponte viagem que jamais o tempo fará esquecer. Hintze Ribeiro, o Como não existem cartas naúticas oficiais Rio começou a do Rio Douro, a Capitania do Douro estreitar e a sua disponibilizou pranchetas de sondagens, sinalização acen- bem como um Patrão do Troço do Mar tuou-se pois exis- bastante conhecedor do sinuouso trajecto tem aqui inu- do Rio. meras pedras Navio atracado no Cais da Ribeira. Tratadas as formalidades das passagens nas submersas. É no eclusas de Crestuma e Carrapatelo, o navio entanto nesta zona que a navegação e a pai- da ponte, assinaturas feitas por mastros soltou as amarras do Cais da Ribeira e fez-se sagem se revelam espetaculares, com o navio que assinalavam alguns incautos que por ao Rio numa fria manhã do dia de 30 de a sulcar as águas por entre escarpas acentua- ali passaram. (de referir que as embar- das e estreitas, e pedras que cações maritimo-turisticas rebatem os surgem no meio do Rio. Após mastros e em algumas a ponte baixa). uma acentuada guinada para Continuando viagem por entre solares e bombordo surge a imponente vinhas, o navio chegou às 14:00 à cidade barragem do Carrapatelo com do Peso da Régua. a sua magestral eclusa com Para comemorar a viagem, o navio mais de 35 metros de altura embandeirou em arco e ofereceu um Pôr- (uma das maiores do mundo). -do-Sol às entidades locais tendo contado Assim que entramos na com a presença do Comandante da Zona eclusa, a colossal porta de 70 Marítima do Norte, CMG Centeno da ton fechou-se e a caldeira Costa. Durante a estadia, o navio foi visi- começou a inundar-se. À tado por varias pessoas que pelo cais pas- medida que subiamos, o ar seavam, muitas vislumbravam pela fresco e húmido transformava- primeira vez um Navio da Marinha. No -se em quente e abafado. dia 1 de Julho, pelas 15:00 o navio largou Eclusa da Barragem de Crestuma-Lever. Após 20 minutos estávamos da cidade do Peso da Régua e iniciou o cerca de 50 metros acima do regresso ao Porto e à sua actividade de Junho. O nevoeiro matinal que se fazia sentir, nível médio da água do mar, a comporta fiscalização de artes de pesca. transformava as belas encostas das cidades abriu-se e a “Andorinha” do Porto e Gaia numas misteriosas paisagens saiu. cinzentas e sombrias que se precipitavam so- bre o rio. A aproximação à foz do rio Sousa POR UM PALMO anunciava cuidados redobrados na navegação, uma vez que esta área se encontra bastante Mais adiante surge a assoreada, mas não o suficiente para o pe- dúvida que me percorria queno calado do NRP “Andorinha” (1,80 m). desde o início da nave- Após dobrar a curva da foz do rio Sousa, co- gação – A Ponte da Pala mo num passe de magia, o nevoeiro desa- com os seus escassos parece e surge espantosamente a barragem 7,50 metros de altura. de Crestuma-Lever. Entrada a eclusa em con- Tendo a “Andorinha” junto com a embarcação maritimo-turística 7,45 m desde a linha de Douro Azul, que iria acompanhar a “Ando- água ao topo do mastro rinha” nesta odisseia e fechada a comporta foi com alguma especta- de jusante, o navio iniciou uma subida de tiva que passamos por Navio a navegar nos estreitos. cerca de treze metros (a maior ficaria re- debaixo desta ponte. servada para mais tarde). Aberta a comporta Para certificar que o navio passava sem A subida do Rio Douro revela que por de montante a “Andorinha” passou pela problemas, subiu então um marinheiro ao vezes pequenos navios fazem grandes primeira vez a navegar em água doce. O rio mastro para verificar a distância à ponte. viagens.  encontrava-se de tal forma espelhado que Uma vez que a barragem não se encon- chegava por vezes a dificultar a distinção das trava à cota máxima o navio passou sem João Lourenço margens. Por entre paisagens deslumbrantes problemas. Estavam no entanto debaixo 2TEN

REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 5 Amália a bordo do “Afonso de Albuquerque”em Dakar

Por ocasião da transladação dos restos mortais de Amália Rodrigues para o

Panteão Nacional no passado dia 8 de Foto: Silva Nogueira Julho, a Revista da Armada decidiu relembrar um episódio que se passou com Amália há quase 50 anos. Em 1952, na Catedral de Dakar, decor- reu a cerimónia da entronização da imagem da Nossa Senhora de Fátima, e a pedido da forte Colónia Portuguesa daquela cidade, a Marinha ordenou que o aviso “Afonso de Albuquerque” rumasse a Dakar a fim de representar Portugal naquelas cerimónias. Passados quase 50 anos, recordemos como tudo se passou e como é que a grande Senhora do fado, Amália Rodri- gues, convidada para actuar no Lido, “acordou” o saudosismo daqueles ho- mens que estavam apenas a uns dias de abraçar os seus familiares há tanto tempo distantes. Retrato de Amália na altura em que esteve em Dakar.

om a passagem por Cabo Verde, o casa, foi ordenado ao navio para estar tiros, o navio foi atracar ao cais do “Afonso de Albuquerque” tinha presente em Dakar a fim de representar Arsenal da Marinha Francesa. Após a C terminado a sua longa visita a Portugal na cerimónia da entronização da apresentação de cumprimentos às enti- todas as províncias ultramarinas iniciada imagem da Nossa Senhora de Fátima. dades oficiais e uma vez recebida a em Dezembro de 1951. Já de regresso a Depois de ter salvado a terra com 21 habitual retribuição, nesse mesmo dia, à noite, realizou-se na Catedral de Dakar uma procissão das velas, estando pre- sentes o Comandante, Oficiais e guarnição do “Afonso de Albuquerque”, com a qual se deu início às cerimónias entronização da imagem de Nossa Senhora de Fátima. O andor era ladeado por duas alas de marinheiros portugue- ses, que se prolongavam ao longo de toda a procissão. Na manhã do dia 13 realizou-se na mesma Catedral, a missa solene pontifical celebrada pelo Bispo de Bissau, D. José de Magalhães que agradeceu ao Cônsul de Portugal ter tornado possível tão eleva- da manifestação de Fé, e ao Comandante Galeão Roma a presença da Marinha de Guerra portuguesa nestas celebrações. Fazia parte do programa das cerimó- nias, um grandioso baile de gala no Lido, com a actuação da nossa grande Amália Rodrigues, sempre agradável de ouvir, vinda expressamente de Lisboa. A alegria e a animação irradiavam dos Amália no Lido de Dakar a ser cumprimentada pelo Almirante francês. rostos de todos os presentes. No entanto,

6 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA havia algo que era assunto de todas as conversas a que horas chegava a Amália? Ela viria mesmo? Reinava no ambiente um misto de impaciência e de dúvida. Mas por volta das 2 horas, eis que a Amália, acompanhada pelos seus guitarristas privativos, entra deslumbrante no enorme salão. De pé batendo palmas, todos sau- davam Amália. De uma simplici- dade e simpatia notáveis, Amália conquistou a assistência e começou então a cantar desde logo de forma inconfundível como só ela sabia, debaixo de enormes ovações não só dos por- tugueses, mas de todo o público presente. Após ter terminado a sua actua- ção, Amália reuniu-se à oficia- lidade compatriota, a todos aten- dia, com todos falava e o tempo ia passando em tão agradável A RA enrevista os oficiais que ouviram Amália cantar em Dakar. companhia, pois Amália tinha o condão de transportar consigo um pouco Marinha, mas gostava sobretudo das pes- tiam eram o melhor aplauso à actuação de da Pátria querida, que os portugueses soas, fossem elas quais fossem, estando Amália, mudo e silencioso, embora muito tanto sentem quanto mais dela estão afas- disposta a sacrificar-se para lhes dar prazer mais significativo. tados. e o direito de a ouvirem cantar. Foi uma Era quase dia quando Amália terminou Mas para sabermos o que efectivamente nobreza notável por parte da Amália. de cantar. O toque à faina nesse momen- se passou a partir daqui, conversámos com Perante isto, o Comandante que era uma to a todos veio trazer à realidade. O navio os Comandantes, na altura Segundo-Tenente pessoa de uma educação extraordinária, ia sair para Lisboa. Jorge Wagner (JW) e Guardas-Marinhas respondeu-lhe “Eu não me atreveria a fazer- Perneco Bicho (PB) e Vasconcelos Castelo -lhe um pedido desses, mas já que faz esse JW: Por ser muito cedo, caía humidade, (VC), que nos contaram como é que a oferecimento, aceito-o com todo o pelo que, o Comandante foi buscar a sua Amália foi a bordo do “Afonso de Albu- coração”, agradeceu e seguiram para bordo. gabardine para gentilmente cedê-la a querque” cantar em privado para a guar- Amália e com a pressa, o Comandante nição do navio. A Amália chegou ao navio perto das 5 nem se lembrou de tirar os galões. A horas da manhã, acompanhada pelos seus Amália sai e fica no cais a despedir-se de RA: Depois da actuação no Lido, guitarristas. nós numa imagem inesquecível. como é que a Amália Rodrigues foi con- Quando o pessoal do navio começou a vidada para ir a bordo do “Afonso de passar palavra de que a Amália Rodrigues VC: Lembro-me perfeitamente do Albuquerque”? estava a bordo e ia cantar para eles, era ver branco do seu vestido até aos pés e a como os seus rostos se modificaram e ilumi- gabardine do Comandante com os galões JW: Bem, ela não foi propriamente con- naram de alegria. A alvorada foi antecipada dourados, o que fazia um contraste extraor- vidada. A questão é esta, tenho muita de 2 horas. Todos corriam para a Câmara de dinário. pena de Amália ter morrido, mas nunca Oficiais. cheguei a dizer publicamente o que efec- E quando a Amália apareceu diante de Os Oficiais e Guardas-Marinhas ocu- tivamente me tinha sensibilizado na tantos olhos, alguns deles esbugalhados param os seus postos com os seus uni- Amália. perante aquela aparição que conside- formes de gala, o pessoal tal qual como se Não era só a fadista, mas a verdadeira ravam um sonho, todos se acomodavam o havia reunido na câmara. Senhora que ela era. Hoje, quando se fala melhor que podiam para não perder o Largaram-se as espias, o navio come- do povo e falar com o povo, ela sabia-o mais pequeno pormenor do que iria çou a afastar-se e Amália, em terra, a to- fazer como ninguém e de facto a Amália suceder. Amália cantou então, e a todos dos sorria e acenava. teve um gesto extraordinário para com a os presentes sensibilizava e comovia. O navio começou a afastar-se cada vez Marinha, mostrando que compreendia mais e lá ao longe ainda se avistava o aqueles que não tinham podido assistir ao PB: Amália cantou incansavelmente, aceno de Amália, a quem de bordo re- espectáculo dela no Lido oferecendo-se num convívio extraordinário, onde estava tribuiam muitos panamás e bonés brancos assim para ir cantar a bordo do navio. também presente pessoal do N.E. brasileiro de uma guarnição eternamente grata. De facto, e realçando este aspecto, a “Almirante Saldanha”, que se encontrava Amália depois de ter chegado ao Lido às 2 em viagem de instrução de Guarda- Obrigado Amália!  horas da manhã e ter cantado até às 5 horas -Marinhas e estava atracado junto ao com imenso sucesso, ofereceu-se espon- nosso navio. Alexandra de Brito taneamente para ir cantar ao navio e per- Ninguém sentia a mínima vontade que 2TEN TSN guntou ao Comandante Galeão Roma “O aquilo terminasse. Sr. Comandante gostaria que eu fosse can- Referência: “Memórias de um Guarda-Marinha”, tar para a sua guarnição?” isto por outras Não havia espaço para bater palmas, Cte. Ferreira Setas, Anais do Clube Militar Naval (nº 10 palavras, queria dizer que ela gostava da mas as lágrimas que aqueles corações ver- a 12/1963).

REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 7 LançamentoLançamento dodo LivroLivro “Um“Um NovoNovo DireitoDireito dodo Mar”Mar” dodo ComandanteComandante SerraSerra BrandãoBrandão

o passado dia 26 de Abril, na Por fim o autor do "Novo Direito do Mar" Biblioteca Central de Marinha, reportou-se à sua obra informando que a Nfoi feita a apresentação da obra mesma, constituída por um conjunto de seis "Um Novo Direito do Mar" da autoria trabalhos, tinha como denominador co- do Comandante Serra Brandão e edita- mum o Direito do Mar e referindo-se deta- do pela Comissão Cultural da Marinha. lhadamente a cada um deles concluiu a sua Após palavras de boas vindas dirigidas apresentação recomendando as tarefas que aos convidados pelo CALM Leiria na área do Direito do Mar deveriam ser rea- Pinto, Presidente da Comissão Cultural, lizadas no século XXI. o CALM Rogério d’ Oliveira, Presi- dente da Academia de Marinha e prefa- ciador da obra em questão, referiu-se aos méritos do autor da mesma, relem- brando que os profundos conhecimen- tos do Comandante Serra Brandão o tornaram numa referência, ao mais alto nível, no âmbito do Direito Marítimo. Na ocasião foram lidas passagens do livro "História alegre de uma vida de trabalho" ao longo do qual o Coman- dante Serra Brandão descreve, de um modo muito peculiar, as suas me- mórias. (Colaboração da Comissão Cultural) UmUm NovoNovo DireitoDireito dodo MarMar

Este segundo volume, tal como com vista à apropriação de territórios, de dizia que, "na falta de acordo e a menos o primeiro, é um conjunto de mercadorias e de escravos, e só muito que circunstâncias especiais justifiquem seis trabalhos cujo denominador lentamente e em fase muito recente com outra delimitação, esta será constituída o desenvolvimento das trocas comer- pela linha mediana", a Convenção de comum é o Direito do Mar. ciais, especialmente após a revolução 1982 prescreve que a delimitação da industrial, se começaram a estabelecer plataforma continental (e da zona O primeiro trabalho trata das relações relações de carácter regular e perma- económica exclusiva) entre estados com internacionais antes de Grotius. nente; assim se formou uma comunidade costas adjacentes ou situados frente a O homem pela sua própria natureza, é de interesses que conduziu à necessidade frente deve ser feita por acordo, de con- essencialmente sociável e nunca foi do estabelecimento de normas regu- formidade com o direito internacional a encontrado, ao longo da História, que ladoras dessas mesmas relações. que se faz referência no artigo 38.º do não fosse em estado de associação. Mas estatuto do Tribunal Internacional de essa associação revestiu-se de diferentes O segundo trabalho analisa os Justiça, a fim de se chegar a uma solução aspectos, tanto em dimensão, desde a critérios de delimitação dos espaços equitativa. família ao estado, como em organização, marítimos. A alteração da "regra da equidistância" desde as sociedades incultas, grosseiras e Embora seja reconhecida a utilidade de 1958 pela "regra da equidade" de 1982 bárbaras, onde não existem normas regu- da linha mediana como método de resultou do reconhecimento de que a ladoras das suas relações, até às delimitação que pode apropriadamente primeira conduzia, como se disse, a pro- sociedades organizadas, cultas e civi- ser utilizado com vantagem e com sim- fundas e inaceitáveis injustiças em deter- lizadas, regidas por normas tornadas plicidade, o seu carácter obrigatório não minados, mas numerosos, casos concre- obrigatórias no interesse do bem comum. é hoje aceite, devendo ser preterido por tos. Todavia o motor da evolução foi sem O que diz da natureza do homem em uma "divisão justa e equitativa" que dúvida a histórica sentença de 1969 do matéria de espírito associativo não pode tenha em conta as características geográ- Tribunal Internacional de Justiça, no caso contudo, por dificuldades de comuni- ficas, geomorfológicas e geológicas da que opôs a República Federal da cação, dizer-se a respeito das tribos ou região, os direitos históricos adquiridos e Alemanha à Holanda e à Dinamarca na das nações. As relações entre estas outras circunstâncias especiais. delimitação das respectivas plataformas começaram por ser esporádicas, apenas Assim, enquanto a Convenção de 1958 continentais no Mar do Norte. 8 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA O trabalho seguinte analisa o fenó- longo dos anos, a numerosas controvér- Os Portugueses fizeram a descoberta meno da apropriação dos Oceanos que sias, muitas delas resolvidas por meios dos Oceanos como via de comunicação. se verificou na segunda metade do diplomáticos, como as negociações direc- Aprenderam a navegá-lo, foram definindo século XX. tas e a mediação, ou por meios jurídicos, os seus contornos, obtiveram o conheci- O interesse crescente pelos Oceanos como o recurso aos tribunais ou à arbi- mento geográfico da sua superfície. Cinco que levou já à apropriação de grande tragem. séculos depois, o Homem começou a parte dos seus recursos, corresponde Na realidade, impunha-se um orgão aventurar-se nas suas profundezas e foi cronologicamente ao despontar de uma judicial especializado, pois foram muitos conhecendo e explorando a variedade e a nova civilização ou de uma nova idade os casos de direito do mar até à data sub- riqueza de recursos que ele contém. histórica. Teve início na segunda metade metidos ao Tribunal Internacional de O Homem fez a descoberta de que nos do nosso século e insere-se num conjunto Justiça. Assim se criou o Tribunal oceanos existe petróleo e carvão; fez a de mudanças e conquistas que está a Internacional do Direito do Mar. descoberta de que no fundo dos oceanos transformar os hábitos e os modos de vida existem nódulos polimetálicos em quanti- que a minha geração encontrou quando O quinto trabalho é sobre o Direito dade e em riqueza incalculáveis; fez a nasceu e que está a dar lugar à tal terceira Internacional dos Rios e o autor analisa, descoberta da possibilidade de utilizar a vaga em que os nossos netos viverão. a propósito, os acordos com a Espanha e energia das ondas e das marés; fez a A ideia fundamental que preside às con- as suas pretensões . descoberta de que os oceanos são uma cepções do novo direito é a de que o ter- Na verdade, os direitos sobre a água reserva essencial de produtos químicos e ritório de um estado não desaparece de constituíram sempre preocupação dos farmacêuticos; fez, também, a descoberta imediato com o mar, mas prolonga-se, Estados, desde a sua formação, e não será de que é viável a produção industrial de primeiro, com soberania plena, pelas arriscado dizer que a organização e os limi- água doce para suprir a escassez que se águas, solo, subsolo e atmosfera superja- tes dos Estados tiveram em grande parte a anuncia; fez, finalmente, a descoberta de cente do mar territorial, e depois, com sua origem nos direitos sobre a água. que os oceanos são jazigo de riquezas direitos soberanos limitados, pela zona "A Humanidade pode morrer de sede arqueológicas ao alcance do Homem. Isto económica exclusiva e pela plataforma antes de morrer de fome", advertem os sem falar no papel dos oceanos na regu- continental sem solução de continuidade especialistas presentes na vigésima lação do clima e da atmosfera; na recic- geológica e morfológica. primeira Conferência Internacional de lagem de nutrientes e tratamento de resí- A Segunda Guerra Mundial constitui, Abastecimento de Água, realizada em duos; no controlo biológico e reserva de sem dúvida, um dos mais importantes Portugal. recursos genéticos. marcos na vida da Humanidade. Foi a Portugal não é um país especialmente Mas descobriu também profundas preo- partir de 1945 que se verificaram ino- dotado e diversificado em recursos natu- cupações no futuro dos oceanos. vações assinaláveis ou consideráveis pro- rais, mas possui grandes recursos hídricos, gressos na informação e nas comuni- sendo o terceiro país mais rico da União Há muito trabalho a realizar. Pelo nosso cações, sobretudo, mas também nas armas Europeia em termos de águas interiores. lado recomendaríamos as seguintes tare- de destruição, na tecnologia industrial, na Mas atenção, metade do contorno das nos- fas para o século XXI: medicina e na genética, na metalurgia, na sas fronteiras são rios internacionais ou ecologia, na luta pelos direitos humanos, seus afluentes e cerca de dois terços da • Articular as investigações oceanográ- na emancipação da mulher e na desagre- área continental estão situados em bacias ficas dos diversos países; gação da família, na liberdade sexual, na hidrográficas de rios que nascem em • Proibir o lançamento ao mar, via autodeterminação dos povos e nas práti- Espanha. A área da parte portuguesa das directa ou fluvial, de substâncias cas terroristas, na difusão das drogas e na bacias hidrográficas é cerca de um quarto químicas que comprometam a criminalidade organizada, na circulação da área total das bacias hidrográficas luso- existência da humanidade; de pessoas, mercadorias, capitais e ideias, -espanholas. • Activar os organismos previstos na nas organizações internacionais e regio- Daqui surgiu a ideia de uma sucinta, e Convenção das Nações Unidas sobre no uso e na nais, nos hábitos de vida, quanto possível esclarecedora, comuni- Direito do Mar; apropriação dos recursos dos Oceanos. cação a esta Academia sobre o regime dos Mais de 35% da superfície dos Oceanos rios internacionais, em que se incluem os • Instalar os orgãos propostos pela está hoje sobre a jurisdição nacional dos nossos Minho, Lima, Douro, Tejo e Comissão Mundial Independente Estados costeiros. Guadiana. para os Oceanos; • Sustar o aquecimento do Planeta pela Segue-se uma comunicação sobre o Por último a oração de sapiência pro- redução das emissões poluentes para Tribunal Internacional de Direito do nunciada na abertura do congresso a atmosfera; Mar e a frustração por ele não ter ficado "Vasco da Gama, os Oceanos e o Futuro, sediado em Lisboa, mas sim em Ham- intitulada "A Redescoberta dos Ocea- • Restringir fortemente o derrame de burgo . nos". petróleo pelos navios-tanques e pelas plataformas; O direito marítimo progrediu, diversifi- Em menos de cem anos, os Descobri- cou-se e internacionalizou-se. A partir do mentos Portugueses trouxeram ao co- • Redobrar a atenção para com as século XVII deu lugar a uma especiali- nhecimento da Europa dois terços do actividades pesqueiras; dade que consiste no Direito Internacional mundo até então desconhecido. Com eles • Interditar a caça aos mamíferos mari- Público Marítimo, hoje mundialmente conheceu-se uma enorme diversidade de nhos; designado, a partir da III Conferência das terras, de línguas, de economias, de Nações Unidas sobre Direito do Mar, de religiões, de civilizações e de mentali- • Elaborar as normas imprescindíveis às uma forma mais simples embora menos dades. Tendo projectado a Europa no marinhas do novo milénio; explícita, por Direito do Mar. Mundo e o Mundo na Europa, obrigado à • Iniciar uma gestão global e transfron- A imprecisão, a pouca idade e a com- revisão do conhecimento geográfico e teiriça dos Oceanos. plexidade de alguns preceitos do Direito aproximado civilizações até então desco- do Mar, a magnitude dos interesses nhecidas, os Descobrimentos Marítimos Tudo coisas simples!  económicos envolvidos e o melindre dos deram, pois, início a uma nova fase da conflitos de soberania têm dado lugar, ao vida da Humanidade. E.H. Serra Brandão REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 9 LuísLuís GuimarãesGuimarães LobatoLobato UmaUma VidaVida ConsagradaConsagrada àà VelaVela 2. O REFAZER DO PASSADO

eixamos o leitor, no último número desta Revista, com a APORVELA Dempenhada na construção de uma réplica de uma caravela do século XV. Depois dos estudos realizados, os projectos e os planos de construção são concebidos e desenvolvidos pelo Contra-Almirante Ro- gério d’ Oliveira. Procuram-se fundos. Con- segue-se a contribuição da comunidade portuguesa na Africa do Sul. O governador da Província do Cabo apoia o projecto e participa no financiamento. Em 1985, ini- cia-se a construção da Bartolomeu Dias no estaleiro Samuel e Filhos, de Vila do Conde, ficando concluída ao fim de dois anos. Fazem-se treinos no mar. Entretanto, cria-se a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (CNCDP), cuja abertura oficial teve lugar no dia 10 de Junho de 1987, nu- ma cerimónia realizada com grande pompa O Creoula, antigo lugre bacalhoeiro, transformado em navio escola. junto à Torre de Belém. Foi seu primeiro presidente o Comandante membro do governo estiveram presentes -comemorações da viagem de Colombo. Serra Brandão. Todavia, a Comissão não te- nas cerimónias, tanto à largada da caravela Em 1992, participou na regata Colombo, ve um começo fácil pois, na tomada de pos- de Belém, como à chegada à África do Sul, comemorativa do 5º centenário do desco- se, o ministro das Finanças, ao dirigir-se ao depois de dobrar o Cabo da Boa Esperança. brimento da América. Esta foi, efectiva- presidente da CNCDP foi-lhe dizendo que À última da hora, decidiu-se enviar uma mente, uma viagem memorável que se ini- “precisava de ter muita imaginação porque delegação de parlamentares às comemo- ciou em Lisboa, escalou Cádis, Génova, dinheiro não havia”. rações naquele porto. Porto Rico, Boston e teve o seu término em A actividade da CNCDP iniciou-se com Perante o sucesso do acontecimento, na Liverpool. Um dos mais belos navios parti- as celebrações da viagem de Bartolomeu República da África do Sul construiu-se, cipantes foi a Sagres, mas o grande sucesso Dias, que tiveram um programa alargado, naquele lugar histórico, um museu que tem foi, sem dúvida a presença da Boa incluindo um grande congresso na cidade por tema Os Descobrimentos Portugueses e Esperança, dadas as suas dimensões e ca- do Porto e várias exposições. Para o efeito, como principal atracção a caravela Barto- racterísticas e, especialmente, pelo facto das Serra Brandão constituiu uma comissão, lomeu Dias. Por ali passam, anualmente, 50 réplicas dos navios de Colombo não terem dirigida pelo comandante Soeiro de Brito, mil visitantes. participado nesta grande regata. na qual LGL foi integrado, levando a cara- Nas proximidades do museu existe um A caravela não pára de navegar. Vai ao vela, como participação da APORVELA. monumento que assinala a célebre bota do norte da Europa participar no centenário do O ponto alto destas celebrações foi, sem navegador João da Nova que, pendurada Museu e Escola Naval de Bremerhaven e dúvida, a repetição da viagem em que se numa árvore, serviu de caixa de correio. participa no centenário da abertura do porto dobrou o Cabo da Boa Esperança. Para o Nela se deixavam as cartas que o navio de Bruges. Em todas esta viagens é coman- efeito, a caravela Bartolomeu Dias, largou seguinte, que passasse em sentido contrário, dada pelos irmãos, João Lúcio e José Inácio de Lisboa em Novembro de 1987, sob o levava para o destinatário em Lisboa ou Costa Lopes, que se revezam voluntaria- comando do capitão Emílio de Sousa. Foi num porto do Oriente. Vai comemorar-se mente. um acontecimento notável, apesar de não no ano 2001 o 5º centenário desta famosa LGL está sempre presente nos locais em ter sido possível seguir o percurso inicial, bota. que a caravela aporta mas, por vezes, par- devido às condições meteorológicas e à Dado o êxito desta primeira caravela, a ticipa nas viagens. E, também sua esposa, necessidade de aportar a Mossel Bay, no APORVELA decidiu construir uma outra. Maria Tereza, com a sua veia de marinheiro dia 3 de Fevereiro de 1988, cinco séculos Servindo-se do financiamento de empresas se torna num tripulante indispensável a precisos após a chegada do navegador privadas , a Boa Esperança, construída no bordo. aquele local. mesmo estaleiro de Vila de Conde, ficou Recentemente, a Boa Esperança efectuou, O acontecimento teve um enorme im- concluída em 1990, a tempo de participar, sem dúvida, o mais importante proeza da pacte na África do Sul, ao qual assistiu o seu em Bruges, nas comemorações do esta- sua carreira. Queremos a referir a famosa Presidente. O Bispo do Funchal, convidado belecimento da primeira feitoria portuguesa viagem/regata integrada nas Comemorações por LGL, celebrou missa na praia de Mossel na Flandres. no Mar—BRASIL-500. Para a sua realização Bay. Por razões políticas, do nosso lado, No ano seguinte, a caravela navegou para constituiu-se, na CNCDP, uma comissão nem Presidente da República, nem qualquer Génova, onde se desenrolaram as pré- organizadora, presidida pelo comandante

10 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA Soeiro de Brito, cabendo à APORVELA as funções de coordenação a par das partici- pações da Federação Portuguesa de Vela, Associação Nacional de Cruzeiros, Associa- ção Naval de Lisboa e o Yacht Club do Porto. LGL não quer deixar de assinalar o precioso apoio que lhe foi dado pelo comandante Canelas Cardoso. O percurso escolhido para esta via- gem/regata foi o seguinte: largada de Lisboa, no dia 8 de Março, com escalas no Funchal, Mindelo, Salvador, Cabrália, para aqui se realizarem as cerimónias comemorativas da chegada de Pedro Álvares Cabral e, por fim, Rio de Janeiro, onde se realizou o desfile naval de encerramento. A regata, devido talvez à pouca divul- gação, teve a participação de, apenas, 6 veleiros (2 portugueses e 4 brasileiros) e o vencedor foi Gabriel Basílio, no Marujo, espírito da Madeira. Quanto à viagem O Engenheiro Guimarães Lobato e esposa a bordo do Jolie Brise. comemorativa, tivemos a Sagres, o Cisne Branco, navio escola da Marinha do Brasil No regresso, a caravela Boa Esperança, Para participar nesta viagem comemorati- e, naturalmente, a caravela Boa Esperança, efectuou uma longa viagem, escalando va, a APORVELA ainda se empenhou na já citada. Acompanharam estes navios cerca Salvador, Recife e Fortaleza, no Brasil, e, construção de uma outra caravela que, infe- de 30 embarcações de recreio que. por seguidamente, Barbados, Bermudas, Faial, lizmente, não foi possível terminar a tempo razões técnicas escalaram Tenerife em vez chegando a Lisboa depois de 12 000 milhas Não queremos deixar as caravelas da do Funchal. navegadas em cinco meses. APORVELA sem referir que, quando a Boa Esperança não está a navegar, é visitada por quem quer conhecer o navio que há meio milénio contribuiu para descobrir o Mundo. Além disso, cumprindo um programa orien- tado pelo Dr. Amaral Xavier e apoiado pela CNCDP, são recebidos por ano, na Boa Esperança, 50 000 alunos do ensino básico e secundário. A APORVELA teve ainda um curso por correspondência, que abrangia não só a iniciação náutica como, também, a história da navegação. Este curso, de que é autor o Comandante Saturnino Monteiro, foi operado pelo Contra-Almirante Gama Higgs e chegou a ter 800 alunos, espalhados por todo o país. Deixámos para o fim um aspecto que merece um destaque especial e que se prende com o antigo lugre bacalhoeiro Creoula. De facto, um longo processo teve início quando a APORVELA, criada, como vimos, em 1980, considerou a indispensa- bilidade de possuir um navio para treino de mar e de vela, que fosse adequado para fazer viagens com alguma duração. Quando se procurava uma solução que, naturalmente, não era fácil, o arquitecto Lixa Filgueiras, conceituado estudioso de embarcações tradicionais, deu a notícia que o Creoula ia ser vendido para o Canadá pelo preço simbólico de 5 000 contos. Em resultado de diligências efectuadas por aquele arquitecto, infelizmente já desapare- cido, foi possível alterar o rumo das coisas. De facto, o Engenheiro Ferreira de Lima, então secretário de estado da Administração Interna e sintonizado com as ideias da APORVELA, concretizou a aquisição do navio evitando a sua saída para o es- trangeiro, como já tinha sucedido com o Gazela II, sem que ninguém lhe deitasse a O Wilma, o último veleiro do Engenheiro Guimarães Lobato. mão. O Creoula tinha uma característica

REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 11 entre outras, a APORVELA, a Federação Portuguesa de Vela, o Instituto para a Juventude. Este aspecto, porém, não chegou a ser considerado. Actualmente, o Creoula funciona na dependência do Ministério da Defesa, dis- põe de uma tripulação fornecida pela Marinha e, para fazer face aos encargos, é fixada uma capitação diária para cada ins- truendo que seja embarcado em viagens de treino. Na opinião de LGL, o balanço da actividade do Creoula é positivo. Todavia, considera que a missão de navio-escola seria melhor cumprida se os jovens que embarcam fossem seleccionados entre aqueles que frequentam os cursos de ini- ciação náutica ou cursos mais avançados da Marinha de Recreio. Assim, havia a garantia de serem aproveitadas as verdadeiras vocações. Há algum tempo atrás, LGL teve conheci- mento que o Santa Maria Manuela, também ex-lugre como o Creoula, e, aliás, seu sister- -ship, se encontrava arrumado ao cais, depois de ter operado como navio de cabo- tagem a motor. Nesta cruzada de defender a memória das coisas do mar, LGL, colaborou com a Liga dos Amigos do Museu de Ílhavo, para transformar o Santa Maria Manuela em navio-escola, servindo assim aquela zona do país com tão antiga tradição marítima. O casco e os motores foram adquiridos e, actualmente, o Museu de Ílhavo e o próprio Município estão empenhados em conseguir as verbas que permitam pôr a navegar, no nosso país, um segundo navio de treino de mar.

Aqui terminamos esta bela história que quisemos partilhar com os leitores da Revista da Armada, porque constitui um bom exemplo de como se pode consagrar A caravela Boa Esperança. uma vida ao mar e à vela, decerto como prazer pessoal, mas, especialmente, con- que muito o valorizava, em relação aos ou- Para a transformação do Creoula, LGL e o tribuindo para a divulgação desta activi- tros lugres portugueses da pesca do baca- Contra-Almirante Rogério d’ Oliveira elabo- dade, tão pouco praticada pelos Portugue- lhau: o casco não era de madeira mas de ram um plano de remodelação. Utilizando ses. Se a iniciativa de recuperar o Creoula, um aço de alta qualidade que. aliás, fora verbas do Fundo das Pescas, abriu-se um transformando-o em navio de treino de mar, adquirido para a construção de um destroyer concurso público, sendo a obra adjudicada já merece o nosso aplauso, a construção das para a Marinha de Guerra Portuguesa, que à firma Parry & Son, que ultrapassou a verba caravelas foi, sem qualquer dúvida, uma nunca chegou a fazer-se. prevista e não terminou os trabalhos por ter medida do mais alto significado nacional. O Creoula manteve-se alguns anos naque- sido declarada falência. Entregue a obra à Na realidade, exceptuando a comemoração le Ministério. Entretanto o Ministério da Argibay, a situação repete-se. O Creoula só do Tratado de Tordesilhas – uma proposta Cultura sugeriu a utilização do navio como terminou os fabricos, em pequenas emprei- nossa, concretizada pelo Contra-Almirante museu itinerante, mas esta solução não agra- tadas executadas em administração directa. Victor Crespo, no âmbito da Marinha de dava à APORVELA porque restringia o seu O Creoula acabou por atingir a opera- Guerra e com a participação da CNCDP – uso como navio de treino de mar. cionalidade mas constatou-se que a sua que envolveu navios da Marinhas de vários Passado algum tempo, quando o enge- manutenção era extremamente onerosa países, o Mar teria sido completamente nheiro Gonçalves Viana assumiu as fun- para a APORVELA. Com a colaboração do esquecido, ao festejarmos os 500 anos da ções de Secretário de Estado das Pescas, Contra-Almirante Gama Higgs, LGL elabora maravilhosa saga dos navegadores interessou-se pelo assunto promovendo a um projecto de legislação, tendo em vista a Lusitanos, se não fossem as duas caravelas transferência do Creoula para a sua Secre- transferência do Creoula para o Ministério que devemos ao entusiasmo e à persistência taria de Estado, indemnizando o anterior da Defesa Nacional, com o estatuto de na- do Engenheiro Luís Guimarães Lobato. A comprador com 7 000 contos, importância vio auxiliar à semelhança do que acontece Boa Esperança e a Bartolomeu Dias foram, que englobou a despesa com a aquisição noutros países, passando a ser tripulado por assim, os verdadeiros ex-libris dessas do navio e outros encargos. Deste modo pessoal da reserva ou do activo. É sugerido Comemorações.  contribuiu para que a APORVELA viesse a ainda que o estatuto do navio seja tal que ter um navio escola. Mas as coisas não se torne possível a colaboração permanente A. Estácio dos Reis afiguraram fáceis. com as entidades civis, que deviam incluir, CMG

12 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA A MARINHA DE D. MANUEL (17) DeDe novonovo nana ÍndiaÍndia

assim passámos mês. O caminho foi dife- esta tempestade rente do que tomara o Ga- “ vinte dias conse- ma: não foi à procura de cutivose sempre em árvore Calecut cruzando o canal seca; até que aos dezasseis dos 9º, mas seguiu um pou- do mês de Junho houvemos co mais a norte até à ilha de vista da terra da Arábia Angediva (14° 45’ N), onde onde surgimos; e chegados está duas semanas a reparar à costa pudemos fazer uma os navios e a reabastecer de boa pescaria” – isto nos diz água e lenha. Esta paragem um piloto da esquadra de parece não ser ocasional, na Cabral, de quem não sabe- medida em que por ali já mos o nome (Relato do Piloto passara Vasco da Gama, Anónimo). Trata-se da tal sabendo-se que era local de tempestade que assolou os escala das chamadas naus navios, à passagem do de Meca (as naus de mou- Cabo da Boa Esperança, fa- ros que comerciavam espe- zendo dispersar a frota e ciaria em Calecut e seguiam levando à perda de quatro para o Mar Vermelho). O deles. Logo a seguir nos re- Relato do Piloto Anónimo vela que chegaram a Sofala, Indígenas da região de Moçambique, segundo Jan Huygen van Linschoten. diz-nos que “tanto que alli local onde os portugueses Gravura do final do séc. XVI. chegámos, descemos em viriam a erigir uma for- terra, e estivemos bons taleza para controlar o tráfico do ouro que conduziria no caminho para norte, até quinze dias a tomar as ditas provisões; vinha do interior de África, pelo vale do Quíloa e Melinde. Tanto quanto nos diz aguardando entre tanto se vinhão as nãos rio Zambeze. Este ouro era um dos ele- João de Barros (Década Primeira) D. Manuel de Meca, que queríamos aprezar, se nos mentos importantes do circuito comercial tinha dado instruções para que se estabele- fosse possível”, o que é bem significativo do Oceano Índico, e a razão porque a in- cesse contacto com o rei de Quíloa, de das suas intenções. fluência muçulmana tinha chegado até ai. forma pacífica e procurando estabelecer Com base na presença e na língua árabes, acordos comerciais. Porém, Cabral não Finalmente decide-se avançar até ao longo de toda a costa oriental africana, devia desembarcar para não se sujeitar a Calecut, onde chegam a 13 de Setembro. desenvolveu-se uma civilização crioula qualquer traição, de forma que propôs um Após a prolongada estadia em Angediva que vivia essencialmente do comércio dos encontro no mar, em embarcações que se era natural que já corressem notícias da produtos africanos que assim entravam na aproximariam até poderem comunicar de presença portuguesa por todo o Malabar, rede do Índico. Esse mundo swahili (como viva voz. Tal aconteceu, mas os resultados de forma que, a cerca de uma légua da ficou conhecido) era formado por peque- foram muito precários, dadas as reservas cidade, esperava-os uma comitiva de nos potentados sedeados em pontos chave do rei, sempre esquivo a qualquer trato. Os embarcações, com representantes locais e da afluência comercial, como era o caso de seis navios que restavam acabaram por um rico mercador guzerate que disse a Mombaça, Quíloa, Melinde e Sofala. Ora - zarpar para Melinde. Cabral ter o Samorim grande prazer com a como estaremos lembrados - à passagem sua presença, convidando-o a entrar no de Vasco da Gama em 1498, alguns desses Deve notar-se que a postura de Pedro porto e a fundear. O Capitão assim decidiu pequenos poderes locais manifestaram a Álvares Cabral na costa africana (e mesmo e, quando estavam perto da cidade re- sua hostilidade aos portugueses, mas o rei na Índia, como veremos) é bem diferente solveu mandar disparar a artilharia em de Melinde recebeu muito bem os navios, da que tivera Vasco da Gama. À partida salva, cumprindo um costume europeu de fornecendo até um piloto para os conduzir sente-se muito mais seguro, dadas as infor- saudação aos habitantes locais. Era um à Índia. Este facto não foi mais do que o re- mações que já possui acerca daqueles locais hábito desconhecido daquela gente que flexo da própria política local, onde um e do que neles se faz; mas, sobretudo, o provocou grande susto e algum impacte soberano viu a presença portuguesa, e o poder da sua esquadra é muito maior po- negativo, levando a que as gentes fugissem poder naval a ela associado, como um fac- dendo mostrar-se como o representante de da praia e se recolhessem a casa em tor que o poderia apoiar nos conflitos con- um reino distante e poderoso, em vez de alvoroço. No dia seguinte, Cabral mandou tra os seus rivais. um capitão tímido à procura de ajuda para desembarcar os homens que Vasco da chegar à Índia. Cabral sabe onde está, sabe Gama tinha capturado, procurando trans- Cabral levava, pela certa, informações que o rei de Melinde quer a sua amizade e mitir uma imagem de boa vontade e ami- mais concretas que o seu antecessor, de sabe que tem poder suficiente para impor zade, mas os interesses que se jogavam em forma que seguiu de imediato para as condições do rei de Portugal. Calecut eram muito fortes e nem tudo iria Moçambique onde esteve seis dias a correr da melhor forma.  reparar os navios e a reabastecer-se, sem Com dois pilotos guzerates (Barros) sai que ocorressem quaisquer problemas. de Melinde a 7 de Agosto dirigindo-se à J. Semedo de Matos Conseguiu até a ajuda de um piloto que o costa indiana onde chega a 22 do mesmo CFR FZ

REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 13 UmaUma reparaçãoreparação muitomuito particularparticular

oder-se-á perguntar se se podem execu- tar reparações sem que tenha ocorrido Puma avaria. A resposta não é díficil, mesmo para quem não tenha formação técnica, pois é matéria que aprendemos por experiência própria. Pelo menos quando levamos automóvel à revisão!… À saída, julgamos ter feito uma grande reparação, mas quando lá deixámos o carro, este não tinha nenhuma avaria!… Esta reparação no motor principal de EB (1) do NRP “Álvares Cabral”, efectuada fora do período atribuído para a manutenção planea- da, só aconteceu porque realmente houve uma avaria. Uma avaria grave! Falar de avarias, das suas causas e conse- quências, não é uma tarefa agradável, nem este é o local adequado, por isso, proponho- -me apenas falar da sua reparação, agora que o navio voltou ao Mar com todas as suas capacidades materiais - as humanas nunca O embarque do bloco armado devidamente protegido. estiveram em causa. O NRP “Álvares Cabral” integrou a lidades não ficaram diminuídas, pois a do Alfeite; numa 2ª fase, durante a permanên- STANAVFORLANT (2) a 12 de Março em turbina de gás do mesmo veio propulsor cia de 5 dias do navio em Lisboa, seriam Port Canaveral, porto da costa Atlântica do assegura todas as capacidades do motor, preparados os acessos para que a 3ª fase, a estado americano da Florida e sede da con- excepto a redundância. montagem do motor a bordo, se efectuasse na quista do espaço, cidade dos foguetões e dos À distância, em Lisboa, graças aos sistemas Base Naval de Wilhelmshaven – Alemanha, “space shutles”. de comunicação que permitem um acom- durante uma estadia prevista para esta base, Já a navegar, em trânsito para o primeiro panhamento em “directo”, já se pensava na com duração de 10 dias. A tarefa não se avizi- exercício com a Força, ocorreu uma situação melhor maneira de ajudar o navio a ultrapas- nhava fácil, nada fácil mesmo, mas toda a de alarme nas máquinas, que horas mais tarde sar a situação, pensando sempre na impor- envolvente assim o obrigava. se confirmava ter resultado de uma avaria tantíssima missão que então se avizinhava – O tempo era escasso e portanto não havia grave no motor principal de EB. Caso se con- o comando nacional da STANAVFORLANT. um minuto a perder. O delegado da Direcção firmassem as primeiras suspeitas, o pessoal do Passando à frente de algumas decisões de Navios tirava notas e elaborava o planea- navio pouco poderia fazer, a não ser iniciar importantes tomadas pela direcção técnica – a mento, em função da evolução da situação. O todos os procedimentos administrativos que Direcção de Navios, vamos então começar a pessoal do departamento de propulsão e ener- uma situação desta natureza requer. reparação, agora sem fato-de-macaco e sobre- gia, sem nunca deixar de pensar na hipótese Quem conhece o sistema propulsor desta tudo sem a incerteza que caracteriza sempre de encontrar a causa da avaria, “atacou” o classe de navios sabe que as suas potencia- uma análise de avaria: motor de tal forma, que 3 dias mais tarde o A avaliação da situação motor tinha ganho outra forma – um organiza- não deixava dúvidas. O do amontoado de peças no hangar do motor tinha que sofrer uma helicóptero. A equipa do Arsenal que foi intervenção ao nível da deslocada para o local, recebeu então o revisão geral, mas o navio “serviço” ainda com muito trabalho pela estava a alguns milhares de frente. Nos dez dias que se seguiram o motor milhas da BNL, a iniciar foi retirado do módulo, desmontado, limpo, uma importante missão excaixotado e enviado para o Arsenal. Toda para a qual tinha sido tão esta operação só foi possível, pois de Lisboa bem preparado. Por forma foram enviadas as ferramentas especiais a minimizar as consequên- necessárias e porque a palavra confiança cias e por conseguinte os esteve sempre presente em todas as decisões, custos, a linha de acção nesta hora crítica para a Marinha. traçada foi a seguinte: A 31 de Março, já com o Comodoro (4) numa 1ª fase, na Base embarcado o navio fez-se ao mar, agora Naval de Mayport, Florida, como navio-chefe e consequentemente com o motor seria desmontado e responsabilidades acrescidas. transportado via aérea para O motor foi chegando ao Arsenal em con- iniciar a reparação em ofici- juntos de componentes, reparado, montado e Movimentação do bloco do motor no interior do hangar. na, neste caso no Arsenal preparado para a montagem em compo-

14 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA nentes armados, uma forma de reparação nunca efectuada nesta classe de navios. Nesta fase, a recuperação do bloco foi a tare- fa de maior complexidade, mas a requisição de todos os sobressalentes necessários tam- bém merece referência, pois estamos a falar de centenas de peças: a requisição, o forneci- mento e o respectivo controlo, entenda-se. A 12 de Abril, com o distintivo do COMSTANAVFORLANT (5) içado no mas- tro, o navio atraca em Lisboa para uma visi- ta de rotina de 5 dias. A abertura logística (6) necessária ao embarque do motor é efec- tuada, por forma a que na 3ª fase os traba- lhos possam ser executados sem o recurso a entidades externas e o tempo de preparação seja mínimo. Esta intervenção, também preparada antes da chegada do navio, foi um êxito. Atrevo-me a dizer que era pratica- mente impossível fazer melhor. Mais uma vez o navio volta ao mar, agora em águas bem conhecidas. Na oficina o trabalho continua. A ope- Fase crítica da movimentação do bloco. A extremidade de ré do veio de manivelas ainda não passou pela abertura. ração de montagem do motor a bordo tam- bém já está em preparação. logística. O primeiro dia de trabalho estava Como corolário permitam-me, esta repara- Com alguns dias de avanço em relação ao terminado. ção só foi possível devido a algumas decisões previsto, terminou a reparação em oficina. O Logo pela manhã do dia seguinte foi tam- que envolveram algum risco, mas que foram motor estava preparado para o transporte, bém movimentado para o módulo dos sempre ponderadas, analisando-se as vanta- agora por via terrestre, em direcção ao norte motores um outro conjunto de grandes gens e os inconvenientes das possíveis linhas da Alemanha. Entretanto, o navio terminava dimensões, a caixa de gases com todos os de acção, e também devido ao esforço do mais uma visita do seu calendário e rumava à sobrealimentadores montados. Para quem pessoal que ficou na rectaguarda, desde a Base Naval de Wilhelmshaven, onde chegou não está familiarizado com estes motores, direcção técnica e o organismo abastecedor, a 18 de Maio. No cais estava o delegado da este conjunto, em si mesmo parece um outro ao pessoal do estaleiro não directamente Direcção de Navios, uma equipa de nove téc- motor. Seguiram-se todos os outros compo- envolvido, ao fabricante através da disponibi- nicos do Arsenal, o motor e muita vontade de nentes e acessórios, que com maior ou lização de sobressalentes, mas sobretudo cumprir esta missão. A 3ª fase da reparação do menor dificuldade lá foram sendo instalados. pelas decisões tomadas a tempo, ao dinamis- motor estava em curso. Os dias continuavam compridos e frios, mas mo do pessoal do navio e ao grande empe- Depois de alguma espera por uma grua na casa da máquina eram só compridos. nho e rigor que a equipa do Arsenal demons- com capacidade para embarcar as diversas O espírito de equipa foi uma constante. trou na preparação em oficina e no trabalho caixas com componentes do motor (o camião Quando assim é, o trabalho parece que de montagem a bordo. TIR seguiu de Lisboa com carga completa), o ainda corre melhor. Ainda que tenha passado por algumas si- material foi embarcado e arrumado no Ao 1º arranque, seguem-se as provas de tuações pouco confortáveis, não tenho dú- hangar, que à semelhança do que aconteceu estaleiro, algumas correcções, pois aparecem vida em afirmar que foi muito motivante em Mayport ficou completamente cheio. sempre algumas fugas – é bom sinal - as acompanhar esta reparação de muito perto Antes da meia-noite o bloco do motor (cerca provas a cais e finalmente as provas de mar, ao longo de todas as suas fases. Só lamento de 8 toneladas) estava montado no fixe (7), que por imperativo da missão são efectuadas que a reparação tenha tido origem numa tendo passado “facilmente” pela escotilha em trânsito para a Noruega. avaria. Uma avaria que o navio, o coman- dante e a sua guarnição não mereciam. Os caros leitores podem achar exagerado eu ter apenas escrito elogios e referências positivas, mas acreditem que não podia dizer outra coisa, factos são factos, esta foi uma operação exemplar. 

J. Garcia Belo CFR EMQ

Notas (1) EB – Estibordo. (2) Standing Naval Force Atlantic – A força perma- nente da NATO no Atlântico. (3) Um contentor onde os motores estão montados e isolados, por forma a reduzir o ruído e ser mais efi- ciente o combate a incêndios. (4) Posto do Oficial-general comandante da STANAVFORLANT. (5) O comandante da STANAVFORLANT. (6) Abertura efectuada no pavimento que dá aces- so à casa da máquina, a fim de facilitar o embarque de componentes de maiores dimensões. Trabalhos finais de montagem. (7) “Ligação” do motor à estrutura do navio.

REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 15 A actuação do Instituto Hidrográfico nas operações de salvamento em Entre-os-Rios

ealizou-se no passado dia 26 de duas toneladas de equipamento diverso. Junho no auditório da Academia Assim que foi dada a ordem por parte Rde Marinha uma sessão cultural do Almirante Chefe do Estado-Maior da em que o Comandante Augusto Ezequiel, Armada, uma equipa de sonar lateral Director Técnico do Instituto Hidro- deslocou-se de imediato para Entre-os- gráfico e membro da Academia, apresen- -Rios, num helicóptero da Força Aérea. tou uma comunicação sobre o tema em Enquanto esta primeira equipa analisava título. as condições no cenário de operação e A sessão foi presidida e aberta pelo procedia à montagem de equipamentos Contra-Almirante Rogério de Oliveira, numa embarcação local, seguia por terra Presidente da Academia, que apresentou uma segunda equipa encarregue do posi- o orador a uma vasta assistência e na qual cionamento e da sondagem hidrográfica se encontravam além de muitos oficiais com sistema de feixe simples. Cerca das da Armada, membros da Academia e 18 horas do mesmo dia, todo o equipa- numerosos convidados. mento estava operacional e pronto para O tema foi exposto durante pouco mais se iniciarem as buscas, mas os troncos de de uma hora, utilizando as imagens colhi- árvores transportados pelo rio represen- das pelos equipamentos utilizados pelo tavam um elevado risco para a embar- pessoal técnico do Instituto Hidrográfico cação numa operação nocturna, o que destacado nas operações em Entre-os- adiou o inicio dos trabalhos para o dia -Rios. seguinte. O Comandante Augusto Ezequiel co- A forte corrente que se fazia sentir, a Pormenor do transdutor da sonda multifeixe. meçou por descrever o desenrolar das grande quantidade de matéria em sus- operações por ordem cronológica. pensão, os detritos transportados, as tipo de sistema, para dar formação e zonas de mistura de águas e os remoi- apoiar a operação no seu início. nhos, tornaram praticamente impossível Nos dias subsequentes realizaram-se a obtenção de registos com o sonar late- cerca de cinquenta fiadas de sonar lateral ral. Não foi possível, com aquelas con- num troço de 2 Km, onde normalmente dições ambientais, a obtenção de um re- seriam necessárias apenas duas ou três, gisto com um mínimo de qualidade que mas o rio teimava em não permitir a permitisse uma análise dos contactos de obtenção de um registo minimamente sonar. No entanto, e após várias tentati- aceitável. vas, foi possível começar a obter registos Ao fim da tarde do dia 8 chegou de válidos, destacando-se um eco obtido às Aberdeen, Escócia, o sistema de multi- 15.20 horas do dia 6, com cerca de 12 m, de forma indefinida, a 150 metros da ponte. Entretanto, nesse mesmo dia, seguia por terra outra equipa com um magnetó- metro e um veículo sub- marino de controlo remoto (ROV), este último na espe- Pormenor da montagem do transdutor da sonda na rança que a melhoria das embarcação “Fuinha”. condições permitisse a sua operação. Desde as primeiras horas da manhã do Foi equacionada a utiliza- dia seguinte à queda da Ponte Hintze ção do sistema de sondagem Ribeiro, que se iniciaram no Instituto por multifeixe, mas tornava- Estação de trabalhos do multifeixe. Hidrográfico (IHPT) os preparativos por se inviável a colocação do forma a garantir-se a colocação de uma multifeixe do IHPT, de montagem fixa, na feixe, o qual foi montado em tempo equipa multidisciplinar, e respectivo área de operação em tempo útil, pelo que recorde e que se juntou às buscas logo no equipamento, no local da tragédia no se procedeu ao aluguer de um sistema dia seguinte. A operação do sistema mais curto espaço de tempo. É fácil imagi- similar, mas que pudesse ser montado em esteve a cargo dos especialistas do IHPT, nar as dificuldades que foi necessário qualquer embarcação. Foi pedida a deslo- de um norueguês e de um outro, escocês, vencer para reunir elementos envolvidos cação para o local de uma equipa do fabri- da Kongs-berg-Simrad, com quem o IHPT em outras missões, viaturas e cerca de cante, especializada na operação deste trabalha habitualmente. Foi ainda utiliza-

16 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA cas, diversas equipas estrangeiras espe- cializadas em mergulho e pesquisa, nomeadamente de Espanha e França. Apesar de não terem constituido uma solução alternativa, uma vez que o méto- do de operação e os equipamentos uti- lizados são semelhantes aos nossos, o contacto foi muito proveitoso, tendo per- mitido a troca de experiências e a dis- cussão de métodos alternativos para operação em condições além do limite. Refira-se ainda que foi analisada minu- ciosamente a viabilidade de execução de todas as ideias para a realização das bus- cas e identificação dos contactos, apresen- tadas por empresas e particulares, na- cionais e estrangeiros. Depois de localizado o autocarro, ainda muitos corpos e três automóveis estavam Sonar lateral. por encontrar, por isso prosseguiram os mergulhos no sentido de se validarem os do um sonar rotativo de alta frequência, condições meteorológicas melhoraram vários contactos obtidos. Infelizmente, os semelhante ao usado no ROV do IHPT, significativamente, o caudal diminuiu e as contactos investigados correspondiam a para auxílio às buscas que se estavam a partículas e os detritos transportados pelo uma grua e a estruturas metálicas diversas. desenvolver. rio diminuíram também, o que permitiu Finalmente, no dia 1 de Abril foi loca- Realizou-se também um levantamento uma melhoria significativa na qualidade lizado um dos três veículos afundados no com o magnetómetro até 5 Km a jusante dos registos obtidos. rio Douro. Tratava-se de um Volkswagen da ponte para obtenção de um registo de Entretanto, na segunda semana de Passat, localizado a mais de 20 metros a referência. Da análise dos dados concluiu- Março, seguiu para o local um correntó- jusante da ponte. No seu interior encon- -se que a anomalia calculada para o auto- metro acústico por efeito Doppler com o travam-se os corpos de 2 jovens. Por volta carro, função da massa de ferro e inversa- objectivo de melhorar a capacidade de das 15.30 horas do mesmo dia teve início o mente proporcional ao cubo da distância, observar as correntes. resgate da viatura que, depois de içada foi passaria despercebida no valor do campo Prosseguiu o levantamento de sonar levada para o porto fluvial de Sardoura. magnético local, afectado pela geologia, lateral ao longo do rio em troços de 2 Km, A melhoria das condições meteorológi- por grandes massas de ferro existentes até à Barragem de Crestuma e de multi- cas entretanto registada permitiu que as nos cais de atracação, nos batelões e nos feixe, até 10 Km a jusante do local do aci- equipas de mergulhadores desenvolves- destroços da ponte. dente. A informação foi processada, sem mais facilmente o seu trabalho. No No dia 7, foi decidido colocar uma cruzada e foram definidos diversos alvos. entanto, a exemplo de mergulhos ante- plataforma de apoio sobre o eco detecta- Sobre estes foram feitas novas passagens, riores, voltou a encontrar-se muito “lixo do, por forma a proceder à sua identifi- os registos foram processados e analisa- metálico” no leito do rio. No dia 3 de cação. A medição de correntes no local dos e comparados novamente. Alguns Abril descobriu-se que um desses ecos era indicava valores superiores a oito nós, o alvos foram colocados para segundo uma motorizada, que foi posteriormente que não possibilitaria à partida efectuar plano, por provavelmente correspon- recolhida. qualquer tentativa de mergulho. Foi deci- derem a afloramentos ro- dido realizar um mergulho assim que se chosos. reunissem condições mínimas de segu- Iniciaram-se no dia 17, rança. Numa primeira tentativa não foi sábado, os mergulhos para possível ultrapassar os dois metros de identificação dos alvos selec- profundidade. No dia seguinte, realizou- cionados. O primeiro reve- -se nova tentativa após concentração de lou ser um contentor de 12 esforços com as barragens a montante do metros utilizado como cais rio Douro e Tâmega, no sentido de não se flutuante que se teria even- efectuarem descargas, contudo as con- tualmente libertado a mon- dições meteorológicas não permitiram tante da ponte em 1985, e do alongar estes esforços. Apesar da di- qual não se conhecia a sua minuição de caudal, as correntes eram localização. Na manhã do superiores a seis nós. A tentativa de mer- dia 19, foi efectuado um gulho não permitiu validar o eco a uma segundo mergulho, numa profundidade de 12 metros. Só no dia 11 posição a cerca de 20 metros após concentração de esforços com todas da posição do primeiro eco Processamento dos registo do sonar lateral. as barragens de ambos os rios, incluindo tendo-se identificado uma as espanholas, foi possível efectuar cinco estrutura metálica com tecidos, que se Prosseguiu o trabalho fastidioso de mergulhos tendo-se identificado uma veio a confirmar como o autocarro aci- medição regular de correntes sobre os embarcação afundada. Após estes mer- dentado. No dia seguinte foi iniciado o vários pontos de mergulho, análise de gulhos, foi retirada a plataforma de apoio resgate das águas do rio, operação que se condições e decisão sobre a ordem de a fim de prosseguirem as pesquisas no revelou morosa e com grandes dificul- contactos a investigar, naturalmente local. dades técnicas. dependente não só da natureza do conta- Desde o dia em que foi feita a primeira É de salientar a prontidão com que se cto mas também de exequabilidade do identificação de um contacto de sonar, as disponibilizaram, para cooperar nas bus- mergulho, posicionamento rigoroso das

REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 17 poitas com DGPS e finalmente validação por mergulhadores. Realizaram-se também novas pas- sagens com o sonar lateral e o multifeixe por forma a definir melhor alguns contac- tos, e processou-se a informação obtida, por forma a melhorar a qualidade dos dados e determinar a evolução de cada um dos contactos em termos de cobertura por sedimentos e deslocamento. O relato de testemunhas que viram um carro a flutuar e a afundar-se na proximi- dade da sua quinta foi fundamental para a descoberta do segundo Volkswagen Passat. Esta informação permitiu concluir que o carro teria ultrapassado a primeira zona de afloramento rochoso e que não teria, possivelmente, atingido as Pedras de Linhares. A análise dos dados revelou a existência de um contacto isolado, o que conduziu à descoberta do segundo carro, mesmo parcialmente enterrado. Após a validação de todos os contactos isolados e daqueles, que pela sua forma e Registo obtido através de multifeixe dimensões, pareciam mais suspeitos nas zonas de afloramento rochoso, deram-se Ezequiel que, só com uma disponibili- validação dos ecos. Devido à elevada cor- por suspensas as operações. Existem dade total na divulgação da informação rente existente, apenas era indicada uma áreas de afloramento rochoso na proximi- para os Órgãos da Comunicação Social área onde possivelmente poderiam existir dade da ponte, relativamente extensas, (OCS), foi possível mostrar a dificuldade corpos submersos. No caso concreto do com centenas ou milhares de contactos de encontrada para se atingir os objectivos e eco que correspondeu ao autocarro, a sua sonar semelhantes aos dos dois carros as acções desenvolvidas pelas equipas, localização foi determinada pelo son- que foram encontrados. tendo desta forma prestigiado a Marinha. dador multifeixe e confirmada pelo sonar Desde o início dos trabalhos foi permi- Uma divulgação mais reduzida teria per- lateral. tido o acesso dos familiares dos sinis- mitido mais especulações, levando os Esclareceu ainda que foram só os mer- trados às embarcações em operação e OCS a divulgarem informações menos gulhadores da Marinha que realizaram posteriormente aos “media”, por forma a correctas sobre o trabalho desenvolvido mergulhos para validação dos ecos. que pudessem observar as operações em pelas equipas. Seguidamente o orador respondeu a curso, bem como os equipamentos uti- Em relação à presença da equipa de diversas questões colocadas pela assistên- lizados. Todas as informações disponíveis voluntários holandeses, que se deslo- cia, esclarecendo e tornando mais claras foram fornecidas em antecipação aos caram ao local com cães treinados em as suas próprias conclusões num trabalho familiares. localizar corpos submersos, informou que técnico de pesquisa e validação que tanto Por último, é de realçar o auxílio da a sua participação foi mais um comple- prestigiou a Marinha.  população local que prontamente se mento para a informação colhida pelo disponibilizou para qualquer ajuda que Instituto Hidrográfico e que seria sempre (Colaboração da Academia de Marinha fosse necessária, nomeadamente os donos necessário a realização de mergulhos para e do Instituto Hidrográfico) dos areeiros que cederam embarcações, gabinetes para montagem do centro de operações e guarda de material, o pessoal das embarcações que foi inexcedível no MENSAGEM DO CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA seu apoio às operações e todas as enti- dades envolvidas, sem as quais não teria No momento em que a Marinha reduz as operações na zona de Entre-os-Rios, sido possível levar esta missão a bom não quero deixar de expressar o meu apreço pelo desempenho de todo o pes- porto. soal que participou nas buscas até agora realizadas no rio Douro e na costa Já em período de perguntas, o Coman- Atlântica portuguesa, sem prejuízo do reconhecimento que a sua acção mere- dante Ezequiel esclareceu que os oficiais cerá num plano mais institucional. de Marinha que se encontravam nos estú- Destaco o facto de a Marinha ter respondido de forma pronta, abnegada e dios das televisões, durante os primeiros coordenada nas áreas de competência do Instituto Hidrográfico, da Autoridade dias após o acidente, tinham sido coloca- Marítima e do Comando Naval. Neste esforço participaram equipas técnicas, dos, por convite das respectivas direcções fuzileiros, mergulhadores e unidades navais, conjugando uma ampla gama de de informação ao Gabinete do Almirante valências que constituíram uma mais valia nas operações desenvolvidas. Chefe do Estado-Maior da Armada. A Tivemos a satisfação de constatar que a acção da Marinha foi geralmente bem sua acção era coordenada diariamente compreendida e enaltecida pela opinião pública e não deixaremos de guardar pelo gabinete. Pretendia-se colaborar na na nossa memória colectiva as manifestações de apreço que muitos cidadãos transmissão correcta do que se estava a espontaneamente nos dirigiram. passar em Castelo de Paiva, esclarecendo, É, assim, com sentido orgulho que felicito todos os intervenientes na operação sempre que necessário, o desenrolar das pelo facto de terem elevado perante o país e a corporação o profissionalismo, o operações. espírito de missão e a descrição que sempre caracterizaram a postura da Em relação à forma como a informação Marinha. foi divulgada, é opinião do Comandante

18 AGORA 2001 • REVISTA DA ARMADA EQUIPAMENTOS UTILIZADOS MAGNETÓMETRO Para a determinação de anomalias magnéticas utilizou-se um magnetómetro de protões por efeito Overhauser, com uma resolução de 0.01nT. Neste tipo de magnetómetro a medição do campo magnético é feita através da polarização de um fluido rico em protões e em radicais livres existente no sensor, esta ma- gnetização é deflectida, e o sinal assim obtido é medido e convertido em unidades de campo magnético. A comparação dos vários valores obtidos em intervalos de tempo constantes permite detectar objectos ferro- magnéticos desde que se destaquem dos valores circundantes.

CORRENTÓMETRO ACÚSTICO POR EFEITO DOPPLER Para a medição de correntes foi utilizado um correntómetro ADCP RDI (Acoustic Doppler Current Profiler) a 600kHz. É um equipamento dotado de 4 transdutores numa configuração convexa, capaz de emitir 4 feixes acústicos, cada qual fazendo um angulo de 20° com a vertical, e ainda sensores de temperatura, pressão, direcção e balanço. O seu funcionamento baseia-se na emissão de impulsos acústicos e recepção dos respectivos ecos reflectidos por pequenas partículas ou plancton em suspensão na água. A energia reflectida para o ADCP sofre por efeito de Doppler um desvio em frequência proporcional à velocidade relativa entre as partículas e o equipamento, desvio esse que será calculado e processado de forma a obter os componentes dos ve- ctores intensidade e direcção da corrente. Os valores obtidos são resultantes da média dos resultados do processamento de vários impulsos acústicos de forma a reduzir a incerteza estatística. Estes equipamentos têm ainda a faculdade de fazerem as suas leituras não apenas num ponto da coluna de água mas sim em vários, por divisão desta em células de profundidade, obtendo-se assim um perfil de correntes.

SONAR LATERAL Para a obtenção de uma sonografia do fundo do rio foi usado um peixe de sonar lateral analógico KLEIN a 100kHz e um peixe de sonar lateral analógico KLEIN, de dupla frequência, a 100/500kHz. Este sistema permite a obtenção de uma imagem acústica através da emissão de impulsos de sonar, de curta duração, 0.1ms a 100kHz e 0.02ms a 500kHz, e muito estreitos no plano horizontal, 1° a 100kHz e 0.2° a 500kHz. Um impulso é emitido perpendicularmente à direcção de reboque do peixe, é reflectido pelo fundo do rio e retorna aos transdutores, provocando uma pequena mudança na forma dos cristais que é convertida em sinais eléctricos. Obtêm-se assim uma imagem de uma fatia muito fina do fundo, um novo disparo dá origem à obtenção de uma nova fatia e assim sucessivamente. O sinal é amplificado e digitalizado por um sistema de aquisição e processamento digital de sinal ISIS SONAR. Este sistema permite a uti- lização de diferentes ferramentas para corrigir a atenuação do sinal devida à propagação na coluna de água, e para a visualização da imagem. Pode-se ainda fazer a análise de alvos em tempo real, com processamento de imagem e medição das dimensões do objecto. Finalmente, são implantados os vários registos georeferenciados, removendo-se o registo da coluna de água e corrigindo-se a geometria, obtendo-se um mosaico das diferentes fiadas.

SONDADOR MULTIFEIXE Tradicionalmente, os métodos utilizados em sondagens em zonas críticas para a navegação como portos e barras, baseavam-se em son- dadores de feixe simples. Nos últimos anos os sondadores multifeixe de alta frequência tornaram-se num método alternativo de elevada eficácia. A evolução destes sistemas tornou-os suficientemente compactos e portáveis permitindo a sua utilização em pequenas embar- cações de uma forma expedita mantendo níveis de exactidão requeridos para levantamentos hidrográficos. As imagens acústicas obtidas por estes sistemas permitem a detecção de estruturas submersas. Este tipo de sondadores efectua a medição de profundidades ao longo de faixas. A largura da faixa sondada coberta por este equipamen- to é também função da abertura angular do feixe transmitido no sentido transversal à proa da embarcação. Podendo em alguns casos atin- gir 12 vezes a profundidade média. Apesar da elevada cobertura alcançada pelo sistema, a faixa útil utilizada em levantamentos hidrográ- ficos, é inferior não devendo ultrapassar os 120°, na perpendicular do transdutor 60° para cada bordo, o que permite uma faixa de insonifi- cação de aproximadamente 3,5 a profundidade média. O sistema sondador multifeixe inclui obrigatoriamente um sensor de movimentos de elevada exactidão com determinação da ondu- lação, dos balanços transversais e longitudinais, é também obrigatória a existência de um sensor para determinação da proa. Actualmente os sensores de medição da proa baseia-se em duas antenas GPS orientadas longitudinalmente ou transversalmente na embarcação de son- dagem. O registo da profundidade destes sondadores é unicamente digital. Concomitantemente à informação de batimétria é possível a aquisição de dados de reflectividade que após adequado processamento permitem gerar uma imagem acústica do fundo. A informação mais relevante desta imagem é a possibilidade de identificação de dife- rentes tipos de sedimentos e de estruturas.

ROV SUPER PHANTOM 2 Este veículo enquadra-se na categoria dos ROVs de observação. É uma plataforma versátil, de grande manobrabilidade, onde podem ser instalados diversos sensores. Possui 2 motores verticais (45°) e 2 horizontais, com rotação reversível, uma garra para manipulação e recolha de pequenos objectos, 2 holofotes para iluminação, um “responder” para posi- cionamento com USBL, uma bússola digital, um sensor de pressão para indicação da pro- fundidade, controlo de “auto-depth” e “auto-heading”. Tem ainda instaladas uma câmara fotográfica, uma câmara de vídeo a cores e uma câmara a preto e branco de alta definição para operação em condições de luminosidade reduzidas, bem como um sonar de alta re- solução que permite a obtenção de uma imagem acústica do fundo num raio de 100 metros para detecção e identificação de alvos e para auxílio à navegação.

REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 19 AA notícianotícia dada descobertadescoberta dodo caminhocaminho marítimomarítimo parapara aa ÍndiaÍndia UmaUma questãoquestão historiográficahistoriográfica

onsiderando a investigação uma das mais cativantes actividades Crelacionadas com a História, a afirmação proferida pelo Presidente da Câmara Municipal de Cascais, aquando das comemorações do Dia da Marinha 2001, de que aquela localidade estava intimamente ligada à descoberta do ca- minho marítimo para a Índia, visto ter sido a primeira terra do Continente a ter conhecimento do facto, fez-me procurar saber o estado da questão, isto é o que existe sobre o assunto. Consultando as fontes, primeiro passo para iniciar uma investigação histórica, constatei o seguinte:

- Da obra “Lendas da Índia” de Gaspar Cascais no Século XVI. Gravura de Georgius Braun. Correia, editada pela tipografia da Academia Real das Ciências, em Lisboa - Da “História dos Descobrimentos e A Enciclopédia Luso-Brasileira afirma que no ano de 1858: Conquista da Índia pelos Portugueses” da Nicolau Coelho chegou a Lisboa em 29 de autoria de Fernando Lopes de Castanhe- Julho de 1449 o que contraria Castanheda da, editada na oficina de Simão Tadeu que, como já citado, declara que foi a 10 de Capítulo XXII. Ferreira de Lisboa em 1797: Julho, data também referida pelo cronista DO RECEBIMENTO, HONRAS E MERCES, QUE ELREY FEZ A VASCO DA GAMA, João de Barros, que o navegador aportou a E AOS QUE COM ELLE FORÃO Cascais. A mesma enciclopédia, no que se Capitolo XXVIII NA DITA VIAGEM. DE COMO NICULAO COELHO refere a Artur Rodrigues, transcreve exacta- mente o já afirmado por Gaspar Correia , ELREY estaua em Syntra quando achegou DEU NOUA A ELREY DOM MANUEL hum Artur Rodrigues, casado na ilha Terceira, o QUE A INDIA ERA DISCUBERTA. acrescentando que Artur Rodrigues chegou qual tinha de seu hum carauellão prestes pera hir Nauegando Vasco da gama e Niculao coelho a Sintra “por volta da 1 hora da noite de 18 – ao Algarue, e vendo entrar as naos se fez á vela, pera esta ilha de Santiago, apartouse Niculao IX – 1499”. Desconheço qual a fonte em que nom sabendo donde vinhão, e assi á vela passou coelho hua noyte e foyse caminho de Portugal a Enciclopédia se fundamentou para deter- per ellas antes que sorgissem, e perguntou donde pera ir diante dizer a elrey dom Manuel como a vinhão e lhe responderão: vem da India. Ao que minar esta data, a qual coincide com a da India era discuberta, e ganhar as aluisaras de tão chegada de Vasco da Gama, já que Gaspar logo se fez na volta de Lisboa onde chegou em boa noua como sabia que aquela auia de ser quatro dias, e entrou em Cascaes, e se metteo em pera elRey. E aos dez dias de Julho do anno de Correia escreve nas “Lendas da Índia”, que huma barquinha que hia pera terra, e mandou a mil e quatrocentos e noventa e noue chegou á aquele navegador vindo da Terceira regres- hum filho seu que hia com elle que ninguem dei- vila de Cascays. E sabendo hi como elRey dom sou a Lisboa em 18 de Setembro de 1499, Da xasse chegar a falar, nem dixesse nada das naos Manuel estaua na vila de Sintra desembarcou e ilha forão muytos navios em companhia das naos da India. O qual Artur Rodrigues chegando a se foy logo lá e contou a elRey quanto acontecera terra, logo ápressa se foi a Syntra, porque os da a Vasco da gama despois que partira de que todos chegárão juntos a Lisboa, que foi em 18 barquinha lhe dixerão que lá estava ElRey, e Portugal e chegar a Calicut e se tornar, do que dias de Setembro do ano de 1499. Não estará à andou, e chegou huma hora da noite, e foy a elRey ficou tão contente como a quem se daua semelhança do já reportado no caso de ElRey que vinha assentarse á mesa pera cear. E hua noua de tamanho prazer como aquela era, e Artur Rodrigues tomou a mão a ElRey, e lha bei- Nicolau Coelho, a Enciclopédia incorrecta fezlhe por isso muyta merce dacrecentamento nesta data? jou dizendo: “Senhor beijei a mão a V. A. por a de honra e detença. grande mercê que me fará por tão grande boa Voltando às fontes primárias registe-se noua que lhe trago. Ha quatro dias que parti da que Nicolau Coelho, o capitão da nau Terceira, onde deixo duas naos da India, que Para já verifica-se que nas duas fontes “Bérrio” da frota de Vasco da Gama, tinha vindo á vela em hum meu caravellão passey per ellas, e perguntey: disserãome que vinhão da consultadas existe um ponto coincidente – deste recebido ordens, na ilha caboverdiana India. E per ser tão boa noua nom quiz que ou- foi em Sintra que o Rei D. Manuel teve co- de São Tiago, para velejar directamente para trem viesse diante que me ganhasse a mercê que nhecimento da chegada de Vasco da Gama Lisboa a fim de informar o Rei do sucesso espero me V. A. me fará.» O que ElRey nom pôde à Índia, mas o anunciador da boa nova e a alcançado pela missão. Nicolau Coelho era, acabar de ouvir, e se foy logo á capella que está dentro nos paços, onde fez oração e deu muitos data em que a mesma foi transmitida são no meu entender, uma testemunha válida. louvores a Nosso Senhor por tão grande mercê diferentes, assim como a primeira terra que Quanto a Artur Rodrigues, um desco- que lhe fizera. Ao que houve grande aluoroço, e recebeu a notícia, para Gaspar Correia foi nhecido, em apenas 4 dias fez o percurso todolos fidalgos acodirão ao paço dar mais prazer Sintra, já que Artur Rodrigues mandou a Angra/Cascais. Navegou assim 870 milhas a ElRey de seu muito prazer. Ao Artur Rodrigues hum filho seu que hia com elle que ninguem a uma velocidade média de 9 nós, o que tomou por caualeiro de sua casa, e a seu filho moço da camara, e lhe fez mercê de cem cruzados, deixasse chegar a falar, nem deixasse nada das considero pouco provável para as embar- que logo lhe deu o comprador d’ElRey. naos da India, para Castanheda depreende-se cações de então (1). Por outro lado, se o Rei que foi Cascais. em 10 de Julho já tinha tido conhecimento,

20 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA através de Nicolau Coelho, da chegada à construindo ao longo do tempo, visto que é porcionar a expansão portuguesa no longín- Índia é estranho que posteriormente (2), utópico alcançar totalmente a verdade dos quo Oriente.  manifeste o seu grande regozijo já que foy factos passados. logo á capela que está dentro nos paços, onde O historiador deve continuamente pôr José Luís Leiria Pinto fez oração e deu muitos louvores a Nosso dúvidas, formular questões, por isso escrevi CALM Senhor por tão grande mercê que lhe fazia, este apontamento e aproveito a oportu- conforme referido por Gaspar Correia. nidade para convidar os investigadores Notas Mesmo que não se tivesse verificado históricos a tentar responder a estas pergun- (1) De acordo com a tabela indicada no “Roteiro da Ín- antes a chegada de Nicolau Coelho, iria tas – Em que data e quem foi que informou dia” de Gaspar Manuel, uma nau da Carreira da Índia po- D. Manuel acreditar no testemunho de um primeiramente o rei D. Manuel I da desco- derá andar por sangradura, nas melhores condições de vento e de mareação isto é, com vento ventante quando a nau possa esperar desconhecido que não apresentava qual- berta do caminho marítimo para a Índia? em pôpa, 43 - 45 léguas. Considerando que a légua por- quer prova, a tal ponto de o acumular de Qual foi a primeira terra portuguesa do con- tuguesa equivale a 3,2 milhas seria com muita dificuldade recompensas? tinente europeu a conhecer a boa nova, que as naus da época pudessem ultrapassar os 6 nós. No passado a teoria da certeza regia a his- Sintra ou Cascais? (2) Mesmo pondo reservas à hipótese da notícia ter sido transmitida por Artur Rodrigues, personagem uni- toriografia, nos últimos anos surgiu a teoria Da questão apenas uma quase certeza – camente referida por Gaspar Correia, aquele logicamente da incerteza que defende que em História foi em Sintra que D. Manuel I tomou co- chegaria ao continente português após Nicolau Coelho, não há certezas, a História é dinâmica, vai-se nhecimento do glorioso feito que iria pro- visto que este tinha vindo directamente de Cabo Verde. EFEMÉRIDE Os 25 anos do “VEGA” na Operation Sail 76

o passado dia 10 de Maio comple- taram-se 25 anos do dia em que o N“VEGA” iniciou aquela que foi a sua grande viagem como navio-escola. Ao largar da BNL o “VEGA” seguiu nas águas da “SAGRES”, e com o balão bem cheio, rumou à bonita cidade de Santa Cruz de Tenerife, o 1º porto de escala. Seguiram-se as regatas Sta Cruz de Tenerife - Bermudas e Bermudas - Newport (EUA), em que a classificação obtida foi o 3º e o 14º lugares, respectivamente, entre dezenas de veleiros e em tiradas de 19 e 5 dias de mar. De Newport o “VEGA” rumou a Nova  York, onde a 4 de Julho se juntou à esquadra de veleiros e integrou as comemorações do bicentenário dos Estados Unidos, regressan- do a Lisboa a 19 de Agosto, depois de ter A guarnição do “VEGA” em 76, durante o jantar que marcou os 25 anos da dupla travessia do Atlântico.

passado pela ilha do Faial, que talvez aguentem mais 25 anos… Ainda nos Açores. ninguém as conseguiu saborear!… Para relembrar as horas passadas ao leme, as A guarnição, 3 oficiais e 9 alunos da muitas manobras de velas, Escola Naval, era a seguinte - posto as parcas refeições de à data (posto actual) comprimidos e de ovo em pó e também os bons CTEN Celestino da Silva (VALM) momentos passados em CTEN SE Sales Grade (CMG) terra, o comandante, o 2TEN Silva Carreira (CMG) agora vice-almirante Ce- ASP Leal de Faria (CFR) lestino da Silva e a sua ASP Dias Pinheiro (CFR) guarnição de 76 reuniram- ASP Lorena Birne (CFR) se para jantar no restau- rante da Associação Naval ASP EMQ Silva Trabuco (CFR) de Lisboa. ASP EMQ Oliveira Brás (CFR) Para surpresa de todos, ASP Costa Andrade (CFR) o “dispenseiro”, trouxe ASP Costa Bento (CFR) umas embalagens de mag- ASP Rocha Carrilho (CFR) níficos comprimidos de CAD EMQ Garcia Belo (CFR) germen de trigo e de óleo de fígado de bacalhau,  além de outras especiarias, J. Garcia Belo O “VEGA” na OP Sail76. A largada nas Bermudas no dia 20 de Junho. bem fora da validade, mas CFR EMQ

REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 21 EFEMÉRIDE ComemoraçãoComemoração dosdos 2525 AnosAnos dada SECAMARSECAMAR

No dia 23 de Abril completaram-se 25 anos sobre a criação da Secção de Cataloga- ção do Material – SECAMAR. A efeméride foi assi- nalada com uma ceri- mónia que decorreu nas suas instalações, no Alfeite, presidida pelo CMG Saldanha Junceiro, Chefe do Gabinete do Superin- tendente dos Serviços do Material, que tutela este orgão, para que foram convidados, os anteriores Chefes e alguns Oficiais, Sargentos e Civis que aqui prestaram serviço. As comemorações começaram com uma alocução proferida pelo actual chefe da SECAMAR, na qual foi resumida a evolução verificada, apresentada a situação actual e tecidos alguns comentários sobre as perspectivas futuras. Seguidamente, foi descerrado um quadro para inscrição dos nomes, classes, postos e datas (iniciais e finais) dos chefes deste tão importante quão desconhecido orgão de prestação de serviços, a que se seguiu um almoço.

SECAMAR foi oficialmente criada A necessidade de identificar, classificar e sendo substituída pela novel Base de Dados pelo D/CEMA nº 35/76, de 23 de catalogar o material, naturalmente, já se de Catalogação (BDC) no sistema gráfico, A Abril, pondo assim em execução tinha feito sentir e, mesmo antes da criação em 23-04-2001, precisamente no dia em as medidas previstas no DL 43 816, de da SECAMAR, foi levado a cabo laborioso que se comemoraram os 25 anos de existên- 24-07-61, nomeadamente o Artº 14º. trabalho, nomeadamente na pesquisa de cia da SECAMAR. Organicamente, ficou integrada na SSM NNA para o material dos submarinos, logo A evolução nos meios e métodos de tra- e com a estrutura e funções previstas nos em 1972. balhos fez com que os velhos leitores de Artº 15º a 17º do referido DL, funções Com a criação da SECAMAR, iniciou-se microfichas, primeiro, e os terminais de essas que, de uma forma simplista, um processo de contínua busca da optimiza- computador do sistema central, depois, fos- podemos dizer serem o estudo das ção da catalogação, que internamente tem sem cedendo o lugar de destaque aos micro- questões da catalogação, identificação e sido mais visível na renovação e melhoria computadores, que ocupam as secretárias da classificação dos artigos à luz dos pre- dos meios de trabalho, que ainda perdura e SECAMAR desde 1991. Este domínio foi ceitos regulamentares estabelecidos, continua a ser necessário não menosprezar, consolidado com a instalação da rede local, visando a divulgação dos resultados desse para bem da catalogação, logo, da Marinha. em 1996, cuja expansão, em 1997, permitiu trabalho, para aplicação no abastecimento Da evolução verificada neste quarto de generalizar o uso do computador. e na uniformização do material. século realça-se o apoio informático, que Com os meios disponíveis foram sendo Hoje, a SECAMAR rege-se pelo Decreto- teve início em 1982, sofrendo importante efectuados inúmeros trabalhos de inegável -Regulamentar nº 23/94, de 01 de Setembro, incremento em 1985, ano em que, já na utilidade, não só no material em geral, mas mas os princípios de actuação e objectivos IMA-34 Base de dados em SQL, foi inicia- particularmente na identificação do material perseguidos continuam a ser semelhantes, da a atribuição de números de gestão aos dos submarinos (que recentemente pois a sua razão de ser continua a estar inti- artigos não catalogados – os NAP, ainda recomeçou em força) navios de superfície de mamente ligada à incessante procura da utilizados. todas as classes e helicópteros. melhoria da gestão técnico-económica do A IMA-34 deu lugar à BDM-4 que foi Mas este trabalho nunca está concluído. material, por forma a permitir aumentar a sendo remodelada ao longo dos anos, em No horizonte pairam já novos desafios, eficácia operacional. função das crescentes necessidades sentidas, de entre os quais se agigantam as

22 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA aquisições de novos meios navais e a apli- cação do Sistema Integrado de Informação Financeira, com grandes implicações na área da catalogação Nos 25 anos já passados, a chefia da SECAMAR foi da responsabilidade de ofi- ciais das classe de Marinha, Engenheiros Maquinistas Navais, Administração Naval e Serviço Especial, naturalmente com diferente formação e estilos de chefia diversos. Desde a sua criação, fazem parte da lotação civis e militares de vários postos e classes, também com variada formação. Mas foi precisamente com a riqueza pro- porcionada pela diversidade, que foi pos- sível criar o manancial de informação logística que é hoje a BDC. A variedade de conhecimentos potencia- da na conjugação de esforços de todo este pessoal, que em comum tem a dedicação e profissionalismo, permitiu engrandecer a BD, que no passado dia 18 de Abril conti- nha 240.849 artigos, mais 2.370 desde o iní- cio do ano e 779.733 referências, aumen- tadas 13.640 já no ano corrente. No ano que corre já foram alterados 11.797 artigos e digitalizados 2.818 docu- EQUIPAMENTO PRINCIPAL mentos, sendo 2.231 documentos técnicos, Rede local 1 Servidor windows NT 1 Servidor OPTIDOC - Gestão documental só para citar alguns números. Sistema Português Catalogação Todos nós sabemos que continua a haver 1 Servidor NOVELL 37 Microcomputadores muita gente que ignora o que é feito nesta 7 Terminais do Sist. Central área. 2 Scanner Desconhecem não só a localização, 13 Impressoras dimensão e enquadramento orgânico da 2 Impressoras do Sist. Central SECAMAR, (muita gente continua a pensar 2 Torres de 7 CD 1 Controladora do S. Central que a SECAMAR é uma Secção da D.A.) o 2 Modem que é o menos, mas também a razão de ser deste órgão, logo, o trabalho realizado e a CHEFES DA SECAMAR sua importância para a Marinha. INÍCIO FIM No entanto, os destinatários do produto NII Cl. APELIDOS POSTO DATA POSTO DATA deste trabalho, os que precisam e usam a 26958 M DIAS FIGUEIREDO CTEN 23-04-1976 CTEN 06-05-1976 informação laboriosamente recolhida, trata- 73961 EMQ NEVES DE CARVALHO CTEN 06-05-1976 CTEN 30-06-1980 da, compilada e posta à disposição de toda a 73360 EMQ CAETANO DIAS CTEN 09-09-1980 CTEN 23-04-1981 87666 AN NEVES ESTEVENS 1TEN 23-04-1981 CFR 07-10-1992 Marinha, não pensam assim. Esses, estão ávi- 293771 AN FERNANDES SOARES 1TEN 07-10-1992 CFR 03-07-2000 dos de informação, valorizam a que 79972 SEL ALMEIDA MACHADO 1TEN 03-07-2000 recebem e reconhecem a importância desta actividade, como evidenciam as solicitações recebidas para fornecer informação e até LOTAÇÃO (D/CEMA 68/96, 09 DE Outubro) para esclarecer problemas vários relativos ao POSTO CLASSE QUANTIDADE CTEN AN 1 material, por vezes intrincados e bastante SALT OT 4 importantes do ponto de vista técnico- SCH MQ 1 -económico. CM 1 A catalogação continuará a ser uma activi- SAJ ETA 1 dade discreta e complexa, mas que os novos ETS 1 MQ 1 meios, cada vez mais sofisticados, tornam CM 1 imprescindível.  T1 L1 SSUB ETA 2 CARACTERIZAÇÃO ETI 1 MQ 3 SECÇÃO DE CATALOGAÇÃO DO MATERIAL CM 8 (SECAMAR) CRO 1 E2 ALFEITE L1 (Frente ao antigo depósito de material elec- PIN 1 trónico da D. A.) CABOS QQ 4 2800-001 ALMADA 2M/GR L 2 Telef.: 351-21 276 11 41 Ext. 3913 (chefe) CIVIS 4 TOTAL 42 Telefax: 351-21 274 48 18 E-mail: [email protected] (Colaboração da SECAMAR)

REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 23 ACADEMIA DE MARINHA Angola - Anatomia de uma Tragédia

ealizou-se no passado dia 22 de A sua carreira na Força Aérea foi fulgurante satez que os anos trazem, viessem dizer a ver- Maio, no auditório da Academia de de sucesso, obnubilando a origem da sua carreira dade nua e crua ao País e assumissem as respon- RMarinha uma sessão em que o con- militar na Marinha. Aqui reside talvez a única sabilidades que lhes cabem na tragédia sem vidado General (FAP) António da Silva mácula que se pode detectar no seu brilhante cur- tamanho em que Angola passou a viver. Cardoso dissertou sobre o tema “Discussão rículo: o de ter passado de “marujo” a “araújo”. Ora isso não aconteceu. e análise do livro – Angola-anatomia de A Academia de Marinha sente-se orgulhosa Naquilo que me diz respeito, afirmo que a uma tragédia”. de acolher o General Silva Cardoso, antigo ofi- descolonização, tal como se cumpriu, será con- A sessão foi aberta pelo Presidente da cial de Marinha e ouvi-lo dissertar sobre o siderada como o episódio mais catastrófico, Academia, CALM ECN Rogério de tema mais angustiante da sua vida de militar; mais desprezível e mais estúpido de toda a Oliveira que se referiu ao orador em termos e felicita-o pela excelente obra que produziu, História de Portugal; na parte que mais de elogiosos, quer pela sua brilhante folha de que constituirá um valioso contributo para a perto me toca, eu julgo que é também meu serviço na Força Aérea quer pela autoria do história de Angola e agradece-lhe a sua pronta dever contribuir para a formulação do juízo da livro que iria ser comentado, recordando a disponibilidade, assim realizando uma sessão História. formação do General Silva Cardoso na que, tenho a certeza, ficará assinalada nos E esta precisa de distanciamento em tempo Escola Naval e nas fileiras da Marinha, uma anais desta Academia. para poder ser escrita. vez que, durante anos, pertenceu ao quadro Este livro pretende ser o meu modesto con- dos oficiais aeronavais. tributo. O Presidente da Academia ao longo da O orador terminou a sua intervenção sua alocução afirmou, que o tema em afirmando que “às gentes de Angola, mortos questão não é portanto de natureza política. e vivos, que receberam a independência mas O que está em causa é essencialmente a não a paz, a felicidade e a alegria de viver em história de Angola, ainda como província liberdade, dediquei comovidamente o livro portuguesa. O debate será pois um exercí- onde me empenhei e onde eles foram os princi- cio de ciência histórica. Não de ciência pais figurantes”. política, acrescentando que a discussão iria Após isto, o Presidente da Academia ser conduzida por um painel presidido abandonou a mesa da presidência que foi pelo General Altino de Magalhães e com- seguidamente ocupada pelos membros posto pelos Prof. Doutor Adriano Moreira, do painel. General Silvino Silvério Marques, Embai- Iniciou-se a intervenção do General xador Neto Valério e General Gonçalves Altino de Magalhães que fez um breve Ribeiro, individualidades estas que de um resumo de alguns pontos que lhe pare- ou doutro modo tinham estado ligadas ao ciam importantes e relacionados com o processo que conduziu à independência de assunto em discussão, tendo também ou- Angola e à saída trágica dos portugueses tros membros do painel expresso os seus daquele território. comentários sobre aspectos mencionados A dado passo da sua intervenção afir- pelo General Silva Cardoso e em resposta mou: a diversas intervenções que se verifica- A Academia de Marinha, ao convidar o ram por parte de membros da assistência, General Silva Cardoso a proferir neste auditório a fim de melhor se esclarecerem pontos uma palestra sobre a sua obra, visa essencial- duvidosos e outros, ainda hoje, muito mente homenagear o seu autor e oferecer a opor- O General Silva Cardoso usou então da controversos. tunidade de ele se dirigir à nossa comunidade palavra, durante cerca de 25 minutos, rela- O Prof. Doutor Adriano Moreira numa cultural, glosando um assunto do maior interes- tando as razões principais que o tinham das suas intervenções frisou bem a sua se e de reflexão histórica: a tragédia de Angola. levado a abalançar-se a escrever o livro e opinião acerca da necessidade de se faze- Das antigas possessões de além-mar, Angola porque, só agora, ao fim de tantos anos rem esforços de conciliação entre as gera- foi, talvez a seguir ao Brasil, a mais portuguesa, duma Angola tão martirizada. ções que viveram o conflito, condição esta isto é, onde mais fundo se implantou a cultura Respondendo à questão: PARA QUÊ E que julgava indispensável para um portuguesa. SÓ AGORA? Afirmou: esclarecimento, se possível, definitivo da E a concluir: Não foi, logicamente, só para me libertar do verdade sobre o que se passou, de facto, A personalidade do General Silva Cardoso é fardo decorrente dos sucessos ou insucessos que em Angola naquela época, opinião esta bem conhecida e altamente conceituada. Dotado foi averbado ao longo de muitos anos, cum- que teve a concordância de outros inter- das mais altas qualidades morais e profissionais, prindo as missões que me foram confiadas. ventores. possui adicionais méritos que o qualificam como A resposta pode encontrar-se nos dois últimos Ao fim de duas horas e meia terminou homem de grande estatura intelectual. Além de parágrafos do livro e que resumidamente aqui a sessão, tendo o auditório da Academia oficial insigne e aviador hábil, é artista pintor e deixo: Os anos passaram. Muitos outros hão-de estado repleto de interessados no assunto escultor, e como está hoje bem patente, é ainda passar e a história, como se diz, fará o seu ainda hoje tema de polémica e contro- escritor, com estilo de pureza filológica que alia- juízo. vérsia.  dos à simplicidade e graciosidade fazem jus à Durante muito tempo aguardei que os men- vetusta língua que Vénus “quando imagina tores da descolonização de Angola, libertos do com pouca corrupção crê que é latina”. fervor revolucionário e amadurecidos pela sen- (Colaboração da Academia de Marinha)

24 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA PLANETÁRIO CALOUSTE GULBENKIAN ASTRONOMIA DE VERÃO – 2001 O Planetário Calouste Gulbenkian (PCG) vai colaborar com a que se focará o seu historial, o movimentos diário e a variação ao agência Ciência Viva na iniciativa “Astronomia de Verão”, que tem longo do ano e para diferentes locais da Terra. o objectivo de divulgar esta ciência. Assim, durante o presente mês Nas noites de sexta-feira e sábado apresentar-se-á uma sessão de serão apresentadas nas noites de Quinta, Sexta e Sábado pelas introdução à Astronomia, focando-se a história desta ciência, os 21:00, sessões de Astronomia, seguidas de observações com telescó- movimentos da Terra, as constelações, a localização da estrela Polar pio e binóculos entre as 22:00 e as 24:00. e os pontos cardeais, e se ensinará a utilizar uma carta de estrelas. Nas noites de quinta-feira em que há Lua, apresentar-se-á uma Todas as sessões serão seguidas de observações astronómicas na sessão dedicada ao satélite da Terra, em que se focará a história da Praça do Império, frente ao PCG. sua exploração, as fases, eclipses etc.. Nas quinta-feiras em que não Esta programação é grátis para todos e será oferecida uma carta há Lua, apresentar-se-á uma sessão dedicada às constelações, em para identificação de astros. Programa da Iniciativa “Astronomia de Verão” no PCG Dia Sala do PCG (21:00) Frente ao PCG (22:00 às 24:00) Qui 2, 23 Sessão temática sobre a Lua Observações da Lua e Marte Qui 9, 16 Sessão temática sobre as Constelações Observação de Constelações e Marte Sex 3, 10, 17, 24 Sessão de introdução à Astronomia Observação de astros (geral) Sáb 4, 11, 18, 25 Sessão de introdução à Astronomia Observação de astros (geral) O CÉU DE AGOSTO Esta carta representa o céu em Lisboa, às Para utilizar, imagine-se que a figura re- 22:00 de 15 de Agosto. Sendo válida presenta o interior de um guarda- também para as 23:00 e 21:00 -chuva. Alinhando o zénite com a respectivamente de 01 e 30 nossa vertical e orientando de Agosto. Com excep- os pontos cardeais da ção do planeta Marte, figura com os verda- é válida todos os deiros, as conste- anos. lações vão estar na mesma po- sição relativa.

EmEm Na locais carta, pouco estão escuros repre- o obser- sentadas vador de- as estrelas verá evitar mais brilhan- olhar para lu- tes do céu, as fi- zes claras e es- guras mitológicas perar cerca de 10 das principais cons- minutos para se ada- telações visíveis e os ptar à escuridão. Pode traços que as representam. utilizar-se uma lanterna A mancha que vai da cauda fraca para observar a carta. do Escorpião até Cassiopeia, pas- Evite-se encandear os outros. sando pelo Cisne, representa a Via L. Proença Mendes Láctea. CTEN

REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 25 DIRECÇÃO DE FARÓIS DIA DA UNIDADE

Comemorou-se no passado dia 23 de A data de 23 de Maio de 1924 corre- Maio o dia da Direcção de Faróis. sponde ao estabelecimento da DF, embora As comemorações iniciaram-se com esteja atribuída à Marinha a responsabili- uma alocução à guarnição pelo CMG dade pelos Faróis desde 1892. Mas o Amaral Pereira, Director de Faróis, serviço de faróis, organicamente estrutu- seguida da entrega de diplomas aos rado, começou por estar cometido às elementos que completaram 15 e 25 Corporações Marítimas locais, passando anos de serviço na unidade e dos por alvará pombalino de 1 de Fevereiro de prémios dos torneios de sueca e fute- 1758, para a Junta do Comércio. Em 1833, bol realizados. passou para o serviço das Alfândegas do Na presença do Director Geral de Ministério da Fazenda e, em 1852 para o Marinha, VALM Neves de Betencourt, Ministério das Obras Públicas onde pas- dos antigos directores e de alguns anti- sou, em 1868 a integrar a Direcção Geral gos faroleiros e funcionários civis, foi de Telégrafos e Faróis do Reino. descerrada uma bonita peça com a lista A DF começou por funcionar nas dos directores. instalações de Caxias, onde hoje se Seguiu-se um concerto pela a Banda encontra o ISN, tendo transitado para da Armada e o almoço de grelhados ao as actuais instalações, em Paço de ar livre. Placa alusiva aos Directores da Direcção de Faróis. Arcos, no ano de 1959.

FAROL DO CABO DE S. VICENTE REMODELAÇÃO DO SISTEMA DE ROTAÇÃO

O actual farol de D. Fernando, no Cabo de S. Vicente, e por isso vulgarmente conhecido por farol do Cabo de S. Vicente, data de 1846, conforme reza uma lápide existente no edifício: “Este farol foi mandado construir por ordem da Snra D. Maria II sendo Dir. dos faróis do Reino o Brigadeiro Gen. A. C. C .P. Furtado em Out. de 1846”. Em 25 de Março de 1908, após a elevação da torre em mais 5,7 metros, foi instalado um aparelho lenticular de Fresnel hiper-radiante, que é actualmente o maior existente nos faróis portugueses, quiçá da Europa. O sistema iluminante era, naquela altura, constituído por um candeeiro de cinco torcidas, e só a partir de 1926 o farol começou a funcionar a energia eléc- trica, por meio de grupos electrogéneos. Face à enorme dimensão da óptica do farol, com uma distância focal de 1330 mm e uma altura de 3580 mm, e em virtude do ponto de apoio de aplicação da Sistema de rotação do Farol. força de rotação Os Serviços de Mecânica e Balizagem e de Electrotecnia da Dire- estar localizado cção de Faróis, idealizaram e desenvolveram um sistema que, de no centro da forma completamente automática, permite o arranque, a paragem óptica, não era e o controlo da gigantesca óptica do farol do Cabo de S. Vicente. possível utilizar Este sistema é composto, essencialmente, por um autómato um sistema de programável, dois variadores de velocidade dos respectivos arranque directo motores eléctricos e um “interface” homem/máquina (sinaliza- da mesma, sis- ção e comandos) e o sensor de rotação. Baseando-se na análise tema usualmente permanente da velocidade de rotação do motor eléctrico e da utilizado nos res- óptica, permite que o acoplamento e desacoplamento mecânico tantes faróis na- do motor eléctrico e da óptica se realize tanto no seu arranque cionais. Assim, como na sua paragem. Tal sistema permite, ainda, ajustar a tornou-se sempre velocidade de rotação da óptica ao décimo de segundo. necessária a pre- Montado no passado mês de Março, ficou, passado um sença humana período experimental, a funcionar sem qualquer limitação. para, através de Uma vez mais se regista a elevada capacidade técnica do um impulso ini- pessoal dos serviços acima referidos, a qual levou à concretiza- cial, vencer a ção de um desejo há muito esperado. inércia e dar continuidade à O Farol do Cabo S. Vicente em remodelação. rotação da óptica. (Colaboração da Direcção de Faróis)

26 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA NOTÍCIAS UMA MARINHA PARA TIMOR

Em 9 de Dezembro de 1974 foram au- do Sul, onde por largos anos estiveram Leste, constituindo as primeiras unidades mentadas ao efectivo dos navios da Armada, regionalizados, assegurando cumulativa- da Componente Naval do futuro país. na situação de armamento normal, as lan- Através da Esquadrilha de Navios Patru- chas de fiscalização pequenas: “Albatroz”, a lhas a Marinha irá assegurar a entrega e a primeira de seis e que deu nome à classe , e a formação teórica e “on job” dos futuros uti- “Açor”. lizadores em Timor, com início previsto a Foram a 84ª e 85ª construção do Arsenal partir de Setembro de 2001. do Alfeite e destinavam-se a “...operar em rios Os dois navios vão assim iniciar um novo e águas costeiras...”, numa clara referência ao ciclo de vida, sob outra bandeira, noutro lado seu emprego nos rios de África, situação que do mundo, com os nomes de “Ataúro” e nunca se viria a concretizar devido à inde- “Oecussi”, respectivamente. pendência das ex-provincias ultramarinas. Com as suas amuras, as lanchas “Latroz” Com um comprimento de cerca de 22 e “Laçor”, dentro de pouco tempo ”Paúro” e metros, 52 toneladas e um calado máximo “Pécussi”, irão cortar outras águas, e outros de 1,6 metros, atingiam 20 nós e estavam Os primeiros marinheiros timorenses que irão constituir as ventos mas ficarão para sempre no ima- inicialmente armados com uma peça guarnições das duas lanchas na recruta em Aileu. ginário colectivo da nossa Marinha como Oerlinkon de 20 m/m a vante e uma uma boa escola de jovens oficiais coman- metralhadora Browning de 12,7 m/m a ré, mente o serviço de busca e salvamento marí- dantes, que iniciaram a sua vida na Armada além de outro armamento portátil. timo na orla costeira e várias outras tarefas da melhor forma possível: no Comando de Dispunham de uma guarnição de 8 ele- de índole militar e de serviço público. uma Unidade Naval. mentos: 1 oficial, 1 sargento e 6 praças. Agora, por decisão política, os NRP’s Bravo Zulo “Latroz” e “Laçor”. Ao longo de 27 anos o seu empenhamento “Albatroz” e “Açor” vão ser desarmados, Bons ventos e águas safas “Paúro” e operacional centrou-se na fiscalização das abatidos, reparados e reequipados no Arse- “Pécussi”. águas costeiras de jurisdição nacional do nal do Alfeite, para serem cedidos por continente, especialmente na Zona Marítima Portugal ás Forças de Defesa de Timor (Colaboração da Esquadrilha de Navios Patrulhas)

SIMPÓSIO “A PROTECÇÃO DA MARINHA MERCANTE”

Numa altura em que a NATO está a marinha mercante, nacional e alterar os conceitos emergentes da 2º estrangeira, passando pelos no- Guerra Mundial de protecção da marinha vos rumos da mesma, diálogo mercante, passando de um conceito de con- civil-militar, concluindo com uma trolo para cooperação, decorreu no CITAN, apresentação sobre o futuro “Shipping Center”, a instalar em Northwood (UK), e de quais as actividades que irão ser desen- volvidas pelo mencionado centro. Após a apresentação das palestras, cujo especialização dos navios mercantes e, em interesse e qualidade importa enaltecer, simultâneo, estes estão a ser desenvolvidos seguiram-se períodos de animada troca de utilizando novos conceitos – novos tipos de opiniões e ideias, que permitiram a todos projectos, portos, etc...; obter uma visão mais alargada e profunda •Existe, a nível NATO, uma nova abor- dos problemas e novos desafios que se dagem ao tema, em que o diálogo civil-mili- deparam nesta matéria. Sucintamente, foi tar e vice-versa deve existir permanente- em 28 de Junho, um simpósio sobre o tema possível obterem-se as seguintes conclusões: mente, ou seja, mesmo em situações de paz, “A Protecção da Marinha Mercante”. •A marinha mercante nacional encontra-se em que a cooperação é a base; O simpósio que juntou diversos elemen- numa fase muito má, quando comparada a •Também a nível nacional, torna-se tos civis e militares ligados ao assunto, alguns anos atrás, tendo, para tal, contribuído necessário estabelecer as bases para um incluindo o Planeamento Civil de Emer- uma excessiva burocracia e carga fiscal; diálogo efectivo. gência, abordou temas desde a realidade da •Tem estado a ocorrer uma progressiva (Colaboração do CITAN) CONVÍVIO “FILHOS DA ESCOLA” DE OUTUBRO DE 1966 No próximo dia 7 de Outubro realiza-se 10.00h – Missa na Capela da Base Julião Cruz- R: Alves Redol, 72-B 2800 Cova um convívio das praças da Armada do 11.00h – Visita ao G2EA da Piedade – Almada; Telf. 212591765, Fax. recrutamento de Outubro de 1966, na mar- 13.00h Almoço no Salão de Banquetes, 212591671; Euclides Pio – Telf. 212598421; gem sul do Tejo, com o seguinte programa: "Manjar das Laranjeiras", em Fernão Ferro. Amadeu Santos – Telf. 214423606; Júlio 9.00h– Concentração no Portão Verde da Para mais informações os interessados de- Sousa – Telf. 212594993. B.N.L. verão contactar: Nota: As inscrições devem ser feitas até 28 de Setembro de 2001.

REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 27 CONVÍVIOS ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO (AMTAD)

Realizou-se no passado mês de Junho o 4º almoço da Associação de Marinheiros de Trás-os-Mon- tes e Alto Douro, num restau- rante de Vila Real. Com a pre- sença de cerca de 100 marinhei- ros, o almoço-convívio decorreu em ambiente de sã camarada- gem, onde não se deixou de re- cordar os tempos antigos.

ASSOCIAÇÃO DE MARINHEIROS DA ARMADA PORTUGUESA (A.M.A.P.)

No passado dia 3 de Junho, realizou-se na cidade de Kearny - Nova Jersey, as comemorações do Dia de Portugal com um desfile a que assistiram entidades oficiais e civis daquela cidade. O desfile, organizado pela Associação Cultural Portuguesa daquela cidade, foi aberto por elementos da Associação de Marinheiros, com porta-bandeiras e estandarte. Terminado o desfile, foi hasteada a bandeira portuguesa no pau central do edifício municipal (City Hall) e tocados os hinos Alguns dos elementos da Associação de Marinheiros da Armada Portuguesa que nacionais de ambos os países. participaram no desfile.

ALUNOS CONDUTORES DE MÁQUINAS “FILHOS DA ESCOLA” DO CURSO 1951/1953 DE OUTUBRO DE 1972

Vai realizar-se no próximo dia 29 de Setembro num restau- Vai realizar-se no próximo dia 7 de Outubro no restaurante rante na Costa da Caparica, um almoço de confraternização, a “Profeta II”, na Figueira da Foz, o almoço-convívio dos “Filhos fim de comemorar o 50º aniversário em que se alistaram na da Escola” de Outubro de 1972. Os interessados deverão con- Escola de Mecânicos da Armada em Vila Franca de Xira. tactar: Para mais informações, os interessados deverão contactar com: • Fernando Costa - Telef. 22 7841579 / 914866509 • CTEN Simões - Telef. 212767469 • Alfredo Silva - Telef. 212970122 / 967086581 • 1TEN Guerreiro - Telef. 212745629 • Rui Azevedo - Telef. 255341480 • 1SAR Leão - Telef. 212765617 • Nilton Fonte - 2143630171 / 962788527

DFE 4 “FILHOS DA ESCOLA” GUINÉ 1965-67 DE OUTUBRO DE 1968

Vai realizar-se no próximo dia 13 de Outubro um almoço- Vai realizar-se no próximo dia 13 de Outubro um almoço de -convívio do DFE 4 – Guiné 1965/67. confraternização, para comemorar o 33º aniversário do ingresso Para mais informações, os interessados deverão contactar na Armada dos “Filhos da Escola” de Outubro de 1968 (4ª com: Incorporação). O encontro terá lugar no Restaurante “Convívio” • CFR Carvalho Rosado em Tomar. TM: 932992334 Os interessados em participar neste almoço-convívio podem • CFR António Caeiro contactar para: TM: 964371423 • António Brás - Telef. 219470499 • CFR Lopes Henriques • António Figueiredo - Telef. 212538319 TM: 933748890 • António Simões - Telef. 212189610

28 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA hoppi

Novo Sistema de Crédito

Acordos: ExéIoto. PSP. GNR B F: AéruIiI (M!Irrtla 6fT) 1ISt1.do) Porto

Reabre com novos espaços e novos horários 2" a sábado das lQl às 2211 Lisboa

2" a sábado das 101 às 191 HISTÓRIAS DA BOTICA (11) ÀÀ dignidadedignidade

ejo cada vez menos televisão. Por -Hoje não piorou - respondia-lhe eu, que precisou de ser ventilado mecanica- um lado falta-me o tempo, por contando as palavras.. mente. V outro, também eu, como muitos, Algum tempo depois o seu coração em acho que os programas actuais, sem con- Saía silenciosa. Sabia, intimamente, a falência, deixou de bombear sangue sufi- teúdo e sem profundidade, são desprovi- verdade, apesar da resposta automática ciente para manter uma pressão arterial dos de qualquer interesse...Não pense o que eu fornecera... estável. Num período de maior instabili- leitor que se trata de falsa moralidade. Com o tempo, uma ligação de amizade dade hemodinâmica, acabou por fazer Embarquei e pude constatar que a arte cresceu entre nós, de tal modo que, lesões cerebrais importantes. Sobrevivia, cinematográfica apresenta muitos estilos, mesmo quando eu não estava de serviço, agora, graças ao ventilador e a drogas alguns em que a acção é mais importante ia cumprimentá-los e saber como ia o vasopressoras, que lhe mantinham, artifi- do que os diálogos...Sempre achei, que paciente. Este via o seu estado agravar até cialmente, a pressão arterial. como tudo na vida, esses filmes fazem parte da cultura. Nunca censurei quem os vê, nem lhes atribuo qualquer marca moral aviltante...

Ora, há bem pouco tempo, ouvi casualmente um dos actores de um destes reality shows, tão na moda, comen- tar, a pedido de uma solicita locutora, a eutanásia. E lá falou a estrela em ascensão sobre a eutanásia, com o mesmo à vontade, com que se fala da refeição de amanhã, ou da falta que o Jardel faz ao Futebol Clube do Porto...

E por ter ouvido falar sobre o assunto e em especial por estar triste – hoje, dia em que mais uma vez vi partir alguém – lembrei-me do Sr. Almirante, que conheci, há muito, numa unidade de cuidados inten- sivos. Estava internado por uma doença intratável do foro cardíaco, com grande degra- dação do estado geral. En- quanto pôde falar, contou-me dos seus embarques, dos navios em que andou – “navios para homens rijos de outro tempo” – das comissões em África, em Macau e até tinha estado em Timor ... Conheci também a esposa, uma senhora digna de olhos límpidos, com um leve sota- que estrangeiro, que nunca identifiquei. Perguntava por mim aos outros médicos. Sen- tia-se perdida desde que o marido tinha sido transferido para aquele hospital civil. – Como está ele hoje, doutor? – perguntava em cada dia.

30 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA A esposa continuou a vir, repetindo a Desde então, eu próprio deixei partir um sentido para a vida, para a morte, para pergunta, obtendo respostas cada vez alguns doentes, em situações semelhantes. tudo...Não o encontrei sempre, mas a menos optimistas por parte dos médicos. Não me pesa, apesar disso, a consciência, procura faz parte da minha vida e destas Numa das noites, estava eu de serviço, também não me parece que mereça casti- palavras, que o leitor paciente tem vindo a chamou-me à parte e perguntou directa- go na terra, nem castigo vindo dos conhecer... mente: céus...Quase sempre, como neste caso, a – Doutor acha que o meu marido vai família já aceitou a dor da partida e quer Da eutanásia, conforme é discutida alguma vez recuperar o conhecimento de si abreviar o sofrimento...porque não há habitualmente, conheço pouco. próprio? – era uma pergunta pertinente. esperança de recuperação e a pessoa Provavelmente responderia pior ao tema Respondi-lhe que, com grande certeza, doente já perdeu tudo o que a identifica que o homem de sucesso, dos concursos não iria recuperar, pois as lesões cerebrais como ser pensante... da TV. Sei, isso sim, alguma coisa sobre a deste tipo, deixam graves sequelas. E, no No fundo, na vida, como na morte há vida e a morte. Sei, sobretudo, que a vida caso do Sr. Almirante, tinham sido impor- que manter a dignidade. E esta não deve merece uma dignidade que nem sempre tantes, conforme demonstravam os exames... ser cerceada por um qualquer fervor tera- lhe é atribuída. Olhou para o chão e disse, com grande pêutico, na tentativa de manter o que já serenidade: não pode ser... Estes assuntos, concluirá o leitor, interes- – Então é melhor acabar com isto rapi- sam pouco ao povo e muito menos dari- damente. O meu marido não gostaria que E é deste conjunto de sentimentos pro- am grandes audiências na TV. Para isso o deixássemos neste estado muito tempo fundos, deste ir e partir, desta vertigem de interessarão muito mais os relatos de um – sem capacidades, sem tino... Peça para emoções, que eu encontro coragem para médico que mata os seus doentes com que desliguem tudo, não consigo vê-lo as noites longas de trabalho, para a uma injecção letal e é conhecido sofrer mais... ansiedade da decisão e para contrariar o mundialmente. desencanto, que muitas vezes encontro Não são estes os factos importantes na Ao outro dia falei com o médico chefe, na vida...Por isso, ainda, eu e outros, equação do problema. A decisão difícil contei-lhe o teor da conversa. Pediram-se gostamos deste tipo de medicina intensi- está, acreditem, na determinação da testes neurológicos, que confirmaram a va, acreditando que levamos, pelo menos, intensidade terapêutica que estamos dis- existência de um estado vegetativo cere- uma parte igual à que damos... postos a permitir que aqueles que bral, sem capacidades cognitivas. Após amamos suportem, quando o inadiável cerca de três meses de internamento, Muitas vezes, após uma noite de traba- chegar...É este, decerto, o desafio mais decidiu-se suspender as drogas, mantendo lho intenso, subia ao castelo de São Jorge importante da medicina actual, tecnica- o ventilador. e deitava-me num muro antigo que lá mente desenvolvida. O meu continuará a Ao fim de 3 horas, após a suspensão dos está. Acredito que velhas pedras, como ser a procura de um sentido, de um ca- fármacos, o Sr. Almirante tinha, definiti- aquelas, têm um sentir muito próprio, minho para lá do incompreensível... vamente, partido... adquirido através de séculos de comunhão com outros seres, que conhe- Finalmente, servirão estas palavras, Sempre que ouço falar em eutanásia, ceram. Acho mesmo que nos tocam na também, para dar testemunho de um recordo esta história que foi a primeira de alma...e nos protegem. velho marinheiro, que morreu da mesma muitas. Nunca encontrei nenhum médico Ali deitado, algumas vezes chorei. Nem forma digna, com que viveu...  que gostasse de deixar morrer alguém. sei bem se foi por mim, ou pela angústia Também nunca encontrei nenhum que de outros que partilhei. Só sei, e disso gostasse de ver sofrimento fútil ... estou certo, que me sentia livre. Procurava Doc. NOTÍCIAS PESSOAIS

RESERVA REFORMA ● CMG António João dos Santos Leitão ● CMG Arlindo ● CMG Rogério António Vieira Fontes ● CMG EMQ Manuel Pacheco Ferreira da Silva ● CFR Rodrigo Maria Armando Maria Araújo Batista ● CFR EMQ Abel Joaquim de Marinho ● 1TEN Herculano dos Ramos Deusado ● 1TEN Almeida Tavares ● SMOR António da Nazaré Piedade ● SCH Aníbal Sales Dinis Tôco ● 1TEN José Lourenço da Assunção António da Silva ● SAJ Rogério Joaquim do Carmo ● SAJ ● SMOR Antero Melranha Coelho ● SMOR Celso Luís Pereira Manuel Aguiar Beleza ● SAJ Armando Manuel Jorge Ferreira da Silva ● SMOR Carlos Maria Figueiredo Alves ● SCH ● 1SAR Arménio José Miranda ● 1SAR António Sérgio Alberto Augusto Gonçalves ● SCH António Francisco Penedo Martins ● CAB João Sabino Ribeiro Marques. Correia ● SAJ José Rodrigues Miguel ● SAJ Joaquim de Campos Eiras ● SAJ Manuel Duarte ● SAJ Manuel Francisco FALECIMENTOS Tubal Campaniço ● SAJ José Joaquim Machado de Almeida ● SAJ António de Jesus Costa ● SAJ António da Cruz ● SAJ ● CMG MN REF Fernando Benedito Andrés ● CMG REF João Jesuíno da Conceição Garcia ● SAJ Manuel Henriques Grilo D’Oliveira Batista Correia ● SAJ CE REF Lindolfo Ventura Mestre ● SAJ Manuel Simões Rodrigues ● 1SAR Francisco Simões Portugal Dinis ● SAJ E REF José Roseira Soares ● 1SAR dos Santos Ferrão ● 1SAR Manuel Domingos Ramos ● 1SAR B REF Edmundo Rodrigues dos Santos. Rui Manuel dos Santos Carvalho ● 1SAR Joaquim Luís Serras ● 1SAR Custódio António Pinto Botas ● 1SAR Virgílio ● Manuel Nunes de Oliveira Correia CAB Bernardino RECTIFICAÇÃO Cardoso Ribeiro ● CAB Firmino Leal Aguiar ● CAB Norberto Arsénio Marques ● CAB Emanuel Peixoto Rodrigues ● CAB • No nº 343 da RA foi publicado nas Notícias José Manuel Neves Vaz ● CAB José João de Jesus Batista Pessoais - Reforma SCH Eliseu Manuel Ramos Rosa ● CAB José Carlos da Silva ● CAB Alfredo Joaquim e deve-se ler SCH Eliseu Manuel Ramos Rocha. Gonçalves Pereira ● CAB Fernando Marques.

REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 31 Signal Intelligence and Electronic Warfare

lNiUy f!lt~ lhe pob mi "",",.,1 DtId S910I pIO(moo for divitoI !igtd ogerKiM wilh securil'ff!lmnt tcID coo PfO(mi1Il 0111 lhe 1M 01 ille!1ige!1t onIy til! $U((!$s!uI W Ihei" tW1nir:oI ~ ho;wdwore onl sdfworl ~ ii ~ til lhe k1test sIote ti lhe IJI. Swm iii lhe "dijIoI bol1lefJe~· ii oriy We ossisl )'OU ii sot.q )'III.f c. rosks pi!ÜIIt ~ lhe use 0/ l\e~ilIe by promng oIinIlusite sokIIions far Iei:hooIogr. Yoo ~ hm lo be lhe _diing, delrilg. ono/ylilg ond fllltHl ood 'S/IIIIItit" to " !el

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TELERUS -Sistemas de TelecomunicaçOes. SA Fluo Gooroor.O f __ .... e· 20 • ' 091;.131 AI\IM • TOI: 21. 123 580 • F..: 2" \23 eoo . E·_ ~ t'F pi QUARTO DE FOLGA

– FOI DETECTADO UM SUBMARINO NA COSTA. VOU VER SE O CAÇO!

REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001 33 NOTÍCIAS PESSOAIS COMANDOS E CARGOS

NOMEAÇÕES ● CMG EMA Luís Fernando Pereira da Silva Nunes nomeado para o cargo de Presidente da Comissão Eventual da Direcção de Tecnologias de Informação e Comunicação (CE-DITIC) ● CMG EMM Mário do Carmo Durão nomeado para o cargo de Presidente da Comissão Eventual da Direcção de Análise e Gestão de Informação (DAGI-CE) ● CFR António Joaquim Ribeiro Izequiel Capitão do Porto da Horta e Santa Cruz das Flores, em substituição do CTEN Filipe Alexandre Silvestre Matos Sequeira ● CTEN Luís Pedro Correia Policarpo nomeado para o cargo de (SJ-21) Intelligence Planes Officer no Quartel-General Regional Sul do Atlântico, em substituição do CTEN João António da Cruz Rodrigues Gonçalves. RESERVA ● CMG EMQ José Matias Cortes ● CTEN António Augusto Inácio Ramalho Marrafa ●1TEN João António Jerónimo Cunha ●1TEN João Manuel Bastos Madureira ● 1TEN José Domingos Raminhos Marreiros ● 1TEN Raul Celestino das Dores Mendonça ● SMOR António Augusto Afonso ● SMOR José Rodrigues Lareiro ● SAJ Albino dos Reis Correia Pinto ● SAJ Ilustrino Alexandre Junior ● SAJ José Joaquim Soares Moiteiro ● SAJ Adelino Domingues Afonso de Miranda ● SAJ Manuel Joaquim Bernardo Águas ● SAJ Celestino ● SAJ Jaime Narciso Fernandes Cristo ● SAJ Alexandre Carneiro de Carvalho ●SAJ José João da Glória Guerreiro ●SAJ Carlos Jorge Severino Ribeiro ● 1SAR Jacinto Luís Domingos dos Santos Costa ● 1SAR Armindo Lopes de Oliveira Ferreira ● 1SAR Luís Mário Lagarelhos ● 1SAR António Manuel Estevinha Valério Patinha ● CAB Armando Luís ● CAB António Manuel Leitão José ● CAB Albino Manuel Afonso Domingues ● Renato de Jesus Barreto ● CAB José da Conceição Marques ● CAB João de Jesus Carrilho de Matos ● CAB Francisco José de Carvalho Loureiro ● CAB Manuel da Silva Mendes ●CAB João Paulo Velez Venâncio.

REFORMA ● VALM José Augusto de Morais Sarmento Gouveia ● CMG António Carlos Samões ● CMG Manuel de Campos Dias Figueiredo ● CMG Raúl Eugénio Dias da Cunha e Silva ● 1TEN António Carreira dos Reis ● 1TEN Armando Henriques Custódio ● 1TEN António da Conceição Almeida ● 1TEN Joaquim José Ernesto Viveiros ● SMOR Venâncio Jacinto Isabel Colaço ● SAJ José Júlio Lopo Pacífico ● CAB José Alexandre de Sousa Cantanhede.

FALECIMENTOS ● SAJ CM REF João Carlos da Silva ● SAJ CE REF Mário da Costa Jorge ● SAJ T REF José da Cruz Rodrigues Soares Caldeira ● SAJ M RES António João Espada Burrica ● SAJ CM REF Manuel Dias ● 1SAR R REF Domingos Lopes Correia Tavares ● 1SAR B REF Joaquim Bargado Pinto ● CAB CE REF Francisco Fernandes ● CAB CM REF Francisco Pedro Melo ● CAB A REF José Augusto Silva ● CAB A REF Manuel de Sá ● CAB A António Carlos Ramos Pereira Pêgas ● 2MAR Nelson António da Cruz Campos ● Patrão de Costa REF António Vaz ●G 1 CLAS PEM REF Joaquim Amaro. SAIBAM TODOS ADMISSÃO DE VOLUNTÁRIOS EM RC OFICIAIS E PRAÇAS (F/M) ● Estão abertos os concursos em epígrafe, devendo a documen- tação necessária ser entregue ou remetida à Repartição de Recrutamento e Selecção – Centro de Recrutamento da Armada, Praça da Armada-Alcântara, 1350-027 Lisboa, até às datas limites de 24 de Agosto para Praças e 10 de Setembro para Oficiais. Quaisquer esclarecimentos podem ser obtidos no local ou pelos telefones: 800204635 (número verde – gratuito) e 213945469.

ADMISSÕES AO INSTITUTO MILITAR DOS PUPILOS DO EXÉRCITO ANO LECTIVO 2001/2002 ● Relativamente ao assunto em epígrafe, não haverá admissões aos ensinos Básico e Secundário.

34 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

30. A PLACA DA PORTA DE ENTRADA DO BUGIO

Data de 1571 a primeira recomendação de Francisco de Holanda em “Da Fábrica que falece à cidade de Lisboa”, para a edificação de um ponto fortificado no meio da barra do Tejo, se possível, na Cabeça Seca. Sete anos mais tarde, D. Sebastião encarrega D. Manuel de Almada de ali erguer uma edificação, para enfrentar uma provável investida das forças de Filipe II de Espanha. A urgência levou a que se optasse por uma simples e reduzida construção de madeira e num local mais próximo da Trafaria. Porém, passado pouco tempo, viria a ser destruída pelo mar. Embora exista certa polémica sobre a data de início de construção da fortaleza de S. Lourenço da Cabeça Seca, S. Lourenço da Barra ou Bugio, é aceite, como mais provável, o ano de 1590. Para a realização desta obra, Filipe II mandou vir de Nápoles João Vicenzo Cazale, frade-servita, e fez saber que tal obra tinha priori- dade absoluta sobre as demais a realizar. O Rei manifestou sempre um grande empenho em todo o processo, obrigando Cazale a apresentar-lhe os estudos efectuados, os planos para a fortificação e as propostas para a sua realização. Apesar de muitas interrogações terem sido levantadas por Filipe II e seus conselheiros, para todas Cazale foi encontrando argumentos que acabaram por prevalecer, nomeadamente a escolha da forma arredondada para a construção da fortaleza, por considerar que seria a que melhor responderia às intempéries e agressividade do mar, contrariando a forma angular que se impunha na época. Cazale previu um período de dois anos para conclusão da obra. Apesar de tudo ter feito para acelerar o ritmo dos trabalhos, certo é que, quando três anos mais tarde frei Cazale faleceu, somente estavam parcialmente concluídas as fundações e a base da muralha. Após a sua morte, são nomeados para a direcção da obra dois discípulos seus, Tibúrcio Spannochi e Anton Coll, com a justificação de eles serem conhecedores do “modo de fabricar y manejar los instrumentos” e para que a “traça començada” não fosse alterada. Porém, foi curta a sua participação nos trabalhos, vindo a ser substituídos por Leonardo Torreano, nomeado em 1598 Engenheiro-Mór do Reino, e como engenheiro encar- regue da obra, Gaspar Rodrigues. Terá sido, provavelmente, com esta direcção, que foi construído um forte em madeira que, a par de S. Julião, guardava a entrada da barra de Lisboa. Até 1629, ano em que Torreano se desliga da obra, forte polémica foi crescendo entre os dois engenheiros, com Torreano a apresentar várias alterações, nomeadamente, da forma arredondada para forma oval, assim como o aumento das dimensões ini- ciais propostas por Cazale. Estes e outros desencontros levaram a que os dois anos previstos pelo frade napoli- tano para a conclusão da obra, se viessem a arrastar por quase seis décadas. Em 1640, embora ainda não concluída, já a fortaleza albergava armamento e guarnição. Após a restau- ração da soberania nacional, o seu governador, o espanhol João Carrilho Rótulo, rendeu-se aos portugueses. Apesar da conclusão do forte ter sido considerada uma das prioridades, pelo importante reforço do complexo defensivo de Lisboa, só com D. João IV, em 1643, se reiniciam as obras da fortaleza de S. Lourenço da Cabeça Seca, seguindo, ainda, os planos de frei João Cazale, e que viriam a terminar no ano de 1657. Para superinten- der as obras foi designado D. António Luís de Meneses, Conde de Cantanhede, tendo como engenheiro João Torreano - filho de Leonardo Torreano. O reinício da construção está assinalado numa placa de bronze (1x0,70 m) que se encontrava colocada por sobre a porta de entrada da fortaleza, salva in extremis de uma tentativa de furto depois do farol ter deixado de ser vigiado. Nela se podem ler os seguintes dizeres:

“O MVITO ALTO E MVITO PODEROSO REI DE PORTUGAL D. IOAO 4 DE GLORIOZA MEMORIA MAN- DOV FAZER ESTA FORTALEZA A ORDEM DO CONDE DE CANTANHEDE D. ANTONIO LUIS DE MENEZES DOS SEUS CONSELHOS DE ESTADO E GVERRA VEADOR DA FAZENDA E GOVERNADOR DAS ARMAS DE CASCAIS QUE COMESSOV NO ANNO DE 1643.”

Esta placa encontra-se hoje exposta no pólo museológico da Direcção de Faróis, em Paço de Arcos.

Direcção de Faróis (Texto de M.L.Amaral Pereira, CMG) Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

30. A PLACA DA PORTA DE ENTRADA DO BUGIO PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 346 • ANO XXXI SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • MENSAL • 250$00 / € 1, 25

A VOLTA DE MAGALHÃES Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas

Lançamento à água do submersível “GOLFINHO”, da 2ª Esquadrilha, em 30 de Maio de 1934 em Barrow-in Furness (Inglaterra).

Foi o 2º submersível com este nome, tendo o primeiro “Golfinho” pertencido à 1ª Esquadrilha (1915). Distinguem-se na fotografia superior a madrinha, esposa do Embaixador de Portugal em Londres, D. Genoveva de Lima Mayer Ulrich, tendo à sua direita o brigadeiro-aviador António Maya e à esquerda o CMG Joaquim de Almeida Henriques (ex-Comandante do “Espadarte” e ex-Comandante da 1ª Esquadrilha), o Comandante Augusto Botelho de Sousa e os Engenheiros Navais Acúrcio de Araújo e Flávio Costa. SUMÁRIO

Publicação Oficial da Marinha A fragata “Comandante Periodicidade mensal Sacadura Cabral” Nº 346• Ano XXXI 5 participou nos exercícios Setembro/Outubro 2001 multinacionais Director Trident D’Or e Tapon CALM EMQ RES integrada na Luís Augusto Roque Martins EUROMARFOR. Chefe de Redacção CFR REF Jorge Manuel Patrício Gorjão Redacção 2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito Secretário de Redacção 1SARG T Vitor Manuel Gaspar Lopes Colaboradores Permanentes CMG REF Raúl de Sousa Machado CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos 10 CTEN Abel Ivo de Melo e Sousa A 3ª Força-FZ em Timor 1TEN REF Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves executa operações de Administração, Redacção e Publicidade segurança e conduz Edifício da Administração acções humanitárias no Central de Marinha distrito de Manufahi. Revista da Armada Rua do Arsenal O submarino “Delfim” participou 1149-001 Lisboa - Portugal nas comemorações do centenário Telef: 21 321 76 50 12 dos submarinos ingleses. Fax: 21 347 36 24 Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt e-mail da Revista da Armada [email protected] Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito, montagem e produção Página Ímpar, Lda. Estrada de Benfica, 317 - 1º F A viagem de 1500-074 Lisboa F. Magalhães anuncia o ocaso de 1400 anos de Tiragem média mensal: 17 cartografia ptolomaica. 6000 exemplares Preço de venda avulso: 250$00 FOTOGRAFIAS ANTIGAS, INÉDITAS OU CURIOSAS 2 Registada na DGI em 6/4/73 com o nº 44/23 PONTO AO MEIO DIA 4 O MINISTRO DA DEFESA NACIONAL VISITOU A MARINHA 6 Depósito Legal nº 55737/92 A PARTICIPAÇÃO AÇOREANA NA GUERRA CIVIL AMERICANA: ISSN 0870-9343 “O ALABAMA” 8 ARMAS SUBMARINAS BASEADAS NA SUPER-CAVITAÇÃO 14

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 346 • ANO XXXI SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • MENSAL • 250$00 / € 1, 25 A MARINHA DE D. MANUEL (18) 16 O BEY DE TUNIS, DRAMA EM TRÊS ACTOS E FINAL FELIZ 22 OFERTA À MARINHA DA DISSERTAÇÃO DE DOUTORAMENTO DO PROFESSOR CONTENTE DOMINGUES 23 REORGANIZAÇÃO DAS ÁREAS DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA MARINHA 24

A VOLTA DE MAGALHÃES EXERCÍCIO DE COMBATE À POLUIÇÃO MARÍTIMA, PLANO MAR LIMPO 26 Monumento a Fernão de NOTÍCIAS 27 Magalhães em Punta Arenas – Estreito de Magalhães – Chile. HISTÓRIAS DA BOTICA (12) 30 Foto do autor BIBLIOGRAFIA 31

ANUNCIANTES: QUARTO DE FOLGA 33 Clínica Santa Madalena; Museu de Marinha; OGFE - Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento; NOTÍCIAS PESSOAIS 34 TELERUS - Sistemas de Telecomunicações, S.A. PATRIMÓNIO CULTURAL DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 3 PONTO AO MEIO-DIA O Mar e o Poder Naval na Estratégia de Defesa Nacional

género de vida português é e as responsabilidades nacionais, liza as reformas de fundo que urgem essencialmente marítimo. O dotada de meios modernos, com tec- há mais de uma década. Opaís liga-se por mar com os nologias de última geração e com Os resultados estão à vista. As seus principais parceiros; as activi- guarnições adequadamente formadas Forças Armadas portuguesas agoni- dades económicas de natureza maríti- e treinadas. Cumprindo estes requisi- zam por um processo semelhante ao ma são um factor relevante do pro- tos, a Marinha será capaz de dissuadir verificado várias vezes no século XX, gresso e bem-estar nacionais; as eventuais agressões, de contribuir e que se caracteriza pela desmoti- comunicações marítimas têm uma para a solução pacífica de conflitos e vação do pessoal, pelo redirecciona- considerável influência na economia de colaborar em missões de utilidade mento das capacidades individuais nacional; e os compromissos políticos pública a cargo do Estado. para actividades privadas e pelo externos de Portugal possuem um Porém, na última década, a mediati- envolvimento dos militares em assun- fundamento marítimo secular. Com zação das operações de paz terrestres tos políticos e académicos. esta afirmação não se pretende limitar fascinou alguns publicistas, que se Manter por mais tempo a actual o interesse nacional resultante dos apressaram a elaborar concepções situação é uma aventura de risco, desejos, das necessidades, das possi- estratégicas de defesa nacional, que porque o país perderá capacidade bilidades e da cultura do povo por- cingem as tarefas da Marinha ao para se defender e para participar tuguês, a aspectos de natureza exclu- apoio logístico. Porque revelam equitativamente nos esforços colec- sivamente marítima. Deseja-se apenas grande incompreensão relativamente tivos de defesa. Consequentemente, realçar que os interesses marítimos ao papel das forças navais na defesa deixará de ter voz nas organizações devem ser considerados como fac- dos interesses nacionais, tais con- internacionais. Quando surgir um tores relevantes na condução de cepções estratégicas são estéreis e conflito súbito, ao qual Portugal não assuntos de natureza política, indiciadoras do pouco entendimento possa permanecer neutral ou partici- económica, social e militar, de forma a dos seus autores e defensores, quer par com forças simbólicas, terá de que o mar surja com o valor que sem- sobre a natureza dos conflitos e a hipotecar a soberania e independência pre teve na vida nacional. importância da coerência e equilíbrio nacionais, como aconteceu por todo o A colisão de interesses entre Estados entre as forças terrestres, aéreas e século XIX e parte do século XX. Esta está na origem dos conflitos interna- navais, quer relativamente à impres- situação reduzirá Portugal à condição cionais. Embora Portugal seja um cindibilidade da acção conjunta. Para de colónia do país que tutelar a nossa pequeno país, a diversidade dos seus além disso, revelam miopia estratégi- defesa. interesses mais importantes, coloca no ca, fenómeno muito característico das Tudo isto poderá ser evitado caso campo da utopia as opiniões que con- posições extremadas e corporativas haja inteligência e coragem para refor- sideram possível ultrapassar as con- que, ao orientarem e condicionarem a mar as Forças Armadas, tornando-as trovérsias externas sem empenhar as organização, a edificação e o emprego eficazes e merecedoras da credibili- Forças Armadas. Bósnia, Kosovo, das Forças Armadas para situações dade nacional, através de medidas Guiné e Timor confirmam que a muito específicas, reduzem a flexibili- que se enquadrem na cultura e reali- diplomacia sem força não passa de dade para lidar com futuros de difícil dade portuguesas, sem serem influen- um exercício de retórica, abstracto e previsão e probabilização. ciadas por desconfianças político-mi- inconsequente. Por isso, em qualquer A sociedade civil e os governantes litares. Nesta tarefa importa ter pre- destas crises a versatilidade do poder percebem que a relação custo/eficácia sente que Portugal não pode perder a naval, ao permitir o seu emprego de umas Forças Armadas constituídas capacidade de se defender no mar e segundo linhas de acção apropriadas, com base em tais concepções estraté- de atacar pelo mar, o que implica contribuiu para os sucessos da políti- gicas, será irracional e exigirá sacrifí- cuidar da Marinha, instrumento ca externa portuguesa. cios à Nação, para os quais não pro- essencial para manter o poder na- O país não necessita de uma grande porcionará a devida compensação de cional ajustado aos requisitos da Marinha, capaz de derrotar os adver- segurança. Por isso, a ausência de um estratégia de defesa nacional.  sários mais prováveis. Como membro ponto de partida lógico para a escolha da NATO, basta-nos dispor de uma e a orientação das grandes linhas da António Silva Ribeiro Marinha compatível com os recursos estratégia de defesa nacional, inviabi- CFR

4 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA AA FragataFragata “Sacadura“Sacadura Cabral”Cabral” nana EUROMARFOREUROMARFOR 20012001 2ª Parte

Vamos agora reportar-nos à exigir amiúde um esforço adicional das Espanha, bem como da Vice-cônsul de guarnições, atestaram o nível de integração Portugal em Sevilha. As amáveis palavras de fase final, que englobou dois e desempenho da força na área da sua sus- todos foram a melhor indicação de como grandes exercícios multina- tentação logística. mais uma vez um navio da nossa Marinha cionais, o Trident D´Or e o Foi pois com a certeza do dever cumpri- soube honrar as suas nobres tradições na do e de ter contribuído para sucesso do arte de bem receber. Tapon, com estadia nos por- exercício Trident D´Or que a Sacadura e os Após largar na madrugada de 12 de tos de Tunis na Tunísia e de restantes navios da EMF aportaram em 02 Junho, deu-se início ao Tapon. Este exercí- de Junho na cidade de Tunis, Tunísia, para cio, de cenário muito semelhante ao do Cadiz em Espanha, até à um merecido retemperar de forças. Trident D´Or, teve como objectivo preparar desintegração da força naval Tunis possuí um interesse estratégico para as unidades participantes para actuar sob em 21 de Junho. a EMF em virtude da Tunísia ser um país mandato das Nações Unidas num contexto com o qual os membros da EMF mantêm de crise regional, no desenvolvimento de uma relação privilegiada e que desempenha operações de embargo, interdição de área e TRIDENT D´OR, TAPON um papel relevante na orla sul do Me- resgate de civis entre outras. E DESINTEGRAÇÃO Em 21 de Maio largámos de Cagliari para o sul da ilha da Sardenha a fim de ini- ciar o grande exercício multinacional Trident D´Or, que decorreu até 01 de Junho envolvendo oitenta unidades navais de dez países. Este exercício foi organizado e conduzido em conjunto pela França e Itália, tendo servido para testar a capacidade de coman- do e controlo, na intervenção em larga escala de uma força naval num cenário de crise regional em suporte das Nações Unidas. Em traços gerais, o cenário desenrolou-se no Mediterrâneo ocidental, desde o Estreito Os navios da EUROMARFOR em exercícios. de Messina e sul de Itália até às Ilhas Baleares, considerando três países fictícios, diterrâneo. Refira-se a título de curiosidade Envolvendo trinta e três unidades navais e um dos quais sob a ameaça dos outros dois. que Portugal é actualmente o principal sob chefia do comando espanhol ALFLOT, Neste exercício a TG da EMF constituída investidor estrangeiro na Tunísia. o Tapon foi mais uma oportunidade para a pelos quatro navios já nossos conhecidos, Em 5 de Junho, largávamos para nova eta- Sacadura por à prova as suas capacidades e foi aumentada pelo navio italiano ITS pa do EMF Tour, de regresso ao Atlântico e treinar as perícias nas várias áreas da guerra Minerva (classe Minerva), o grego Aegean a Espanha, desta vez à cidade de Cadiz. naval. Neste exercício a TG da EMF foi (classe Elly) e o turco Yavuz (classe Yavuz). Atracados ao cais Rainha Vitória desde reforçada com três navios espanhóis, SPS Esta TG multinacional actuou em operações 8 de Junho, com o SPS Rainha Sofia, navio Asturias, SPS Extremadura e SPS Marquês de de embargo e protecção aos porta-aviões e chefe da EMF, de braço dado, foi com sa- Ensenada, um navio turco, TCG Kocatepe e finalmente em combates com as forças tisfação que vimos chegar o N.R.P. “Bar- um navio grego, o HS Adrias. opositoras, com o objectivo de suportar as racuda”, que entretanto se preparava tam- No final do exercício Tapon 01, em 21 de resoluções das Nações Unidas e os seus bém para participar no exercício Tapon e Junho, após uma vitória justa e merecida esforços de imposição de paz. desta forma contribuía para dar mais visibili- sob as forças “laranja”, a Sacadura des- Foram 11 dias de intensa actividade dade à nossa Marinha, em Cadiz e no pediu-se dos companheiros dos últimos dois operacional, em duas fases principais: a fase decorrer do exercício. meses e rumou a Lisboa onde entrou em 22 de treino e integração da força e a fase de No Dia de Portugal e das Comunidades, de Junho, após 1008 horas de navegação e “free play”, sendo nesta última jogada toda em 10 de Junho, todos os navios da força se 13 231 milhas percorridas. Considerando os a acção do cenário pré-planeado. Este associaram à comemoração da efeméride, meios envolvidos, a envergadura dos exercí- cenário, conduzido de forma extremamente procedendo ao embandeiramento, ilumi- cios e o empenho da guarnição, o EMF realista, obrigou ao empenhamento de nação de gala e colocando a Bandeira TOUR foi um profícuo período de treino no navios e guarnições a cem por cento, tendo Nacional nos topes. Nessa ocasião solene, mar, que consolidou a operacionalidade do inclusivamente sido efectuado tiro contra foi oferecida a bordo uma recepção alusiva navio com vista às próximas missões, entre- terra durante o dia e a noite. De salientar à data. Foi com grato reconhecimento que tanto já planeadas.  ainda as várias operações de reabastecimen- se constatou a presença de inúmeros convi- to, diurnas e nocturnas, que para além de dados da sociedade civil e da Marinha de (Colaboração do NRP “Sacadura Cabral”)

REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 5 OO MinistroMinistro dada DefesaDefesa NacionalNacional visitouvisitou aa MarinhaMarinha

o âmbito de uma série de primeiros contactos com as N Forças Armadas, o novo Minis- tro da Defesa Nacional, Dr. Rui Pena, deslocou-se no passado dia 20 de Julho à Base Naval de Lisboa para uma visita à Marinha.

A visita iniciou-se com o embarque do Ministro da Defesa Nacional na lan- cha da Armada “Alva”, sendo depois recebido na Base Naval de Lisboa pelo CEMA, Almirante Vieira Matias. Após receber as honras militares, prestadas por uma companhia do Batalhão de Fuzileiros nº 1 frente ao Palácio do Alfeite, o Ministro e as enti- dades assistiram ao desfile das forças em parada.

Seguidamente, o Dr. Rui Pena assistiu a bordo do NRP “Corte Real” a uma exposição sobre a Marinha proferida pelo Almirante Vieira Matias.

O Almirante CEMA abordou as actividades operacionais do Ramo, o planeamento de capacidades a longo prazo e os orçamentos para operação e manutenção de pessoal. Realçou os objectivos estratégicos que passam pela necessidade da modernização da esquadra, substituição das corvetas e patrulhas pelos novos patrulhas oceâni- cos, a construção do novo navio de apoio polivalente e o programa de aquisição dos novos submarinos. Concluída a exposição, seguiu-se uma apresentação das capacidades do navio O programa prosseguiu com uma assistiu à apresentação de uma com uma visita às principais áreas de visita à Base de Fuzileiros, onde exposição por parte do Comando do bordo, conduzida pelo seu Coman- depois de receber continência da Corpo de Fuzileiros, CMG FZ Cunha dante. guarda de honra, o Dr. Rui Pena Brazão.

6 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Biografia do Ministro da Defesa Nacional

O Dr. Rui Eduardo Ferreira Rodrigues Pena nasceu em Torres Novas, tem 62 anos e é licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Prestou serviço militar na Marinha entre 1963/66, tendo frequentado o Curso de Oficiais da Reserva Naval (1963/64). Foi-lhe atribuído o Prémio Reserva Naval, concedido Visita ao NRP “Corte Real”. anualmente ao aluno mais classifi- cado dos Cursos Especiais de A apresentação versou sobre a organização, as missões Oficiais da Reserva Naval. Prestou atribuídas, as missões actualmente em curso em Timor e na serviço na Direcção do Serviço de Pessoal. Cooperação Militar com os PALOP’s, bem como o reequipa- Do seu curriculum destacam-se as funções nos Serviços de mento e apetrechamento em curso. Contencioso e do Gabinete de Estudos da SACOR entre 1963/75. Foi membro de vários Grupos de Trabalho do Ministério do Ultramar (1964/72), Administrador do Instituto de Crédito Agrícola (1969) e da Companhia de Seguros União no período de 1972/75. Desde 1985 foi membro do Corpo de Árbitros e conciliadores do ICSIC. Desempenhou cargos de Administrador de diversas empresas industriais e comerciais do Grupo SGC no período de 1987/2001. Da sua actividade docente salienta-se: em 1962/63 foi Professor da cadeira de História das Ideias Políticas do Curso Superior de Administração do ISLA; Assistente da Faculdade de Direito da Faculdade de Lisboa, Regente da cadeira de Direito das Obrigações na Faculdade de Direito de Lisboa (1977/78), Regente e Professor da cadeira de Direito Administrativo na Faculdade de Direito de Lisboa (1978/80) e na Universidade Livre de Lisboa (1978/81), respectivamente. Foi ainda Professor de Direito Administrativo I e II na UAL (1987/91). Da sua actividade política, destaca-se: a de membro da Comissão Nacional de Eleições (1975), membro do Grupo de Trabalho do Ministério da Justiça para a preparação do anteprojecto das Bases Gerais da Organização Judiciária Visita à Base de Fuzileiros. (1976), Deputado e Presidente do Grupo Parlamentar do CDS (1976-1983). Entre 1980/82 foi Presidente do Grupo Seguiu-se a observação de um dispositivo em exposição Português União Interparlamentar e Ministro da Reforma estática na parada com o pessoal e meios operacionais do Administrativa do IIº Governo Constitucional (1978), membro Corpo de Fuzileiros. da Assembleia Municipal de Lisboa (1986) e Presidente da associação cívica Movimento Humanismo e Democracia (NHD) desde 1999.

Exposição estática.

O programa da visita terminou com um almoço no Salão Nobre no Palácio do Alfeite, a que se seguiu a assinatura do Livro de Honra e uma troca de lembranças.  REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 7 A Participação Açoreana na Guerra Civil Americana: o “Alabama”

O C.S.S: “ALABAMA”

No início da Guerra de Secessão Norte- -Americana (1861-1865), uma das primeiras medidas tomadas pelas autoridades da União foi o bloqueio aos portos confedera- dos (medida integrada no plano “Ana- conda”, que visava garantir o cerco e a gradual asfixia do Sul). Sendo essencial- mente uma nação de agricultores, pouco industrializada e carente de matérias-pri- mas (ao contrário dos estados nortistas), a Confederação estava totalmente depen- dente dos abastecimentos a partir do exteri- or, contudo não dispunha de uma marinha forte que lhe permitisse enfrentar as forças de bloqueio. As soluções que se lhe depararam foram o recurso a audazes con- trabandistas que, com grande risco pessoal, furavam o bloqueio para abastecer o Sul das matérias e produtos de que tanto ne- O C.S.S. “Alabama”. cessitava (os célebres blockade runners), o emprego da arma submarina (o ataque do Construído em Liverpool, sob a super- quando teve de se deslocar aos estaleiros de submersível “Hunley” à fragata nortista visão do representante da Confederação em Cherbourg para reparações. Tendo a sua “Housatonic” foi o primeiro deste tipo a ter Inglaterra, o “Alabama” foi lançado à água presença no porto francês sido detectada sucesso, embora à custa das vidas dos seus a 15 de Maio de 1862, sob o falso nome de pelo diplomata nortista Charles Adams, oito tripulantes) e, por fim, o contra-ataque, “Enrica” e com uma tripulação civil, de teria em breve a aguardá-lo à saída do porto através de navios corsários que flagelavam modo a dar a aparência de um navio mer- o U.S.S. “Kearsarge”. Não lhe restando a navegação mercante federal, dando a cante (apesar de simpatizar com a causa outra alternativa, pois permanecer no porto provar aos yankees uma dose do seu próprio confederada, a Inglaterra assumia oficial- poderia significar a vinda de mais navios da remédio e garantindo o empenhamento de mente uma postura neutral). Ao longo da União, o Comandante Semmes respondeu algumas das suas mais valiosas unidades sua curta carreira jamais tocaria solo norte- ao desafio. No dia 19 de Junho de 1864, combatentes. O C.S.S. “Alabama” foi o mais -americano. enfrentando um inimigo com costado célebre desses corsários. O navio dirigiu-se, então para os Açores, reforçado e uma capacidade artilheira onde recebeu o armamento e embarcou muito superior, o C.S.S. “Alabama” foi carvão e provisões. Também aí recebeu a afundado à vista da costa francesa. Alguns sua nova guarnição (parte da qual já tinha dos sobreviventes foram recolhidos pelas servido sob as ordens do seu Comandante, embarcações do “Kearsarge” e aprisiona- Raphael Semmes, a bordo de outro navio dos, enquanto outros, cerca de 40, entre os confederado, o C.S.S. “Sumter”). Quando quais se encontrava o Comandante deixou águas portuguesas foi lido o acto de Semmes, encontraram a protecção da ban- armamento e arvorada a bandeira da deira britânica do iate “Deerhound”, que Confederação, passando, então, a ser oficial- navegava nas redondezas. mente considerado um navio de guerra dos Estados Confederados. O ENVOLVIMENTO AÇORIANO Nos 22 meses seguintes, este cruzador com armação de bergantim cruzou as rotas Embora nenhuma nação europeia se baleeiras em torno dos Açores e as linhas de tenha envolvido directamente no conflito (a navegação da costa Leste dos Estados Inglaterra, porém, esteve prestes a intervir Unidos, Caraíbas, costa do Brasil, África do nele por ocasião do caso Trenton(1), são co- Sul, Índico, Mar da China e Baía de nhecidas as simpatias da Inglaterra e da Bengala, tendo abordado 447 navios, cap- França pela causa sulista(2). Quanto a turado 65 navios mercantes da União e Portugal, embora tivesse já abolido total- afundando um navio de guerra federal, o mente a escravatura (o que só se efectivaria, U.S.S. “Hatteras”. Fez cerca de 2000 pri- definitivamente em 1869) e simpatizasse, sioneiros, sem que houvesse perda de vidas provavelmente, com a causa abolicionista, e nunca perdeu um só membro da sua não deixou de se solidarizar com a posição Passageiros de um navio mercante assistem, aterrados, à guarnição por acidente ou doença. das restantes potências europeias, entre as aproximação do “Alabama”. A carreira do “Alabama” viria a terminar quais a Espanha e a Holanda, que, tendo

8 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA estes sido uma das empenhados no lado confederado, solici- presas do corsário tassem o auxílio dos seus parentes nos sulista, é natural Açores. Este ramo da família, porém, esta- que mais açorianos va, pelo casamento, ligado a importantes tenham sido envol- famílias do Norte e era convictamente vidos nas rapinas unionista, pelo que recusou prestar qual- praticadas por aque- quer auxílio aos navios sulistas ou a colabo- le cruzador. Mas rar no fornecimento de mercadorias ao Sul. mesmo os poucos Refere-se, por fim, mais uma curiosi- baleeiros açoreanos dade: na lista de membros da guarnição do de alto-mar exis- “Kearsarge” (o navio responsável pelo tentes não estavam afundamento do “Alabama”, recorde-se) a salvo, pois em figura um tal Sabine De Santo (Sabino dos 1862 o “Cidade da Santos?), copeiro de oficiais, nascido em Horta”, um brigue Portugal e emigrado para os Estados O combate com o U.S.S. “Kearsarge”. francês reconver- Unidos (a Nova Inglaterra, que era o cen- tido, foi perseguido tro da actividade baleeira daquele país, proclamado oficialmente a sua neutralidade pelo “Alabama”, que o confundira com um atraiu vários marinheiros açorianos, pelo , reconheceram, pelo menos, aos estados do baleeiro norte-americano, ao largo das que é possível que outros mais tenham Sul o estatuto de beligerante. Contudo, ape- Flores. embarcado em navios de guerra da União) sar da sua posição neutral, acabou por ver No mesmo ano várias embarcações e que morreu de pneumonia em Março de alguns pontos do seu território e cidadãos salva-vidas com sobreviventes prove- 1862, ao largo de Gibraltar, apenas dois seus activamente envolvidos. Este envolvi- nientes de baleeiros federais incendiados meses depois de ter dado entrada a bordo. mento resume-se quase totalmente em duas pelo “Alabama” deram à costa na ilha das Foi, assim, por pouco que dois portugue- palavras: Açores e “Alabama”. Flores. Estes sobreviventes venderam, pro- ses não se enfrentaram em combate no Desde a sua primeira escala no arquipéla- vavelmente, aquelas embarcações à popu- célebre duelo entre os dois navios. Houve, go (faria várias ao longo da sua curta car- lação local antes de serem repatriados para em todo o caso, pelo menos dois marinhei- reira), o “Alabama” ficou conhecido da os estados do Norte, ajudando, deste modo ros nascidos em Portugal que serviram em população açoreana como um lendário a incrementar a ainda incipiente actividade lados opostos numa guerra que não era a navio “pirata”, tendo as suas acções entrado baleeira na ilha. sua.  para a tradição oral das Flores e do Corvo. Um papel mais importante para o desen- Tendo naquela escala recebido a bordo a rolar da guerra foi o de uma família ameri- Moreira Silva sua guarnição, cujo núcleo era de origem cana estabelecida no Faial, os Dabney, 1TEN norte-americana, não é, contudo, de estra- oriundos da Virgínia, onde tinham pa- nhar que tivesse mantido alguma da sua rentes. Os Dabney faialenses tinham Bibliografia primeira tripulação civil e recrutado um ou angariado uma considerável fortuna, assim BRADLEY, Paul F., “Rebel Raider of the High outro natural das ilhas. Sabe-se que a bordo Seas”, America`s Civil War, Março de 1999, p.p. 35-40 houve, pelo menos, um marinheiro do e 82 Corvo, Manuel Machado, cujos descen- JORDAN, Robert Paul, The Civil War, 5ª edição, dentes vivem, ainda, na ilha das Flores. Washington D.C., National Geographic Society, Pouco mais se sabe sobre ele, sendo, no 1982 ROGERS, Francis Millet, “St. Michael`s entanto, pouco provável que tenha partici- Hicklings, Fayal Dabneys and their British pado no combate com o “Kearsarge”, pois Connections”, Arquipélago, Universidade dos não ficaram a bordo registos da sua pas- Açores, 1988, p.p. 123-141 sagem (a sua permanência no navio deve Agradecimentos ter sido muito curta). A verdade é que pas- Pelas valiosas informações prestadas: sou a ser conhecido por Tio Manuel do - Ao Museu da Horta, na pessoa do Sr. Dr. Rui “Alabama”, ou apenas Alabama. Mencione- Machado D`Oliveira -se, ainda, que algumas fontes identificam - Ao Sr. Dr. João Vieira, Director do Museu das como português o copeiro italiano do Flores Comandante, Antonio Bartelli. - Ao Sr. Jim Gindlesperger, entusiástico colec- cionador de material relacionado com a compo- Outros testemunhos chegaram, indirecta- nente naval da Guerra de Secessão mente, até nós, como o do Sr. Francis Inácio de Freitas, nascido em 1875, cujo pai esteve Notas embarcado num baleeiro americano e que (1) Este caso teve origem na abordagem, em alto- indagou, numa das suas escalas na Praia da mar, do vapor inglês “Trenton”, que transportava Vitória, sobre a presença de um navio sem dois diplomatas sulistas, pela canhoneira federal “San Jacinto”. A Inglaterra exigiu à União um for- nome nem bandeira fundeado ao largo, mal pedido de desculpas e a libertação dos dois tendo sido informado de que o referido diplomatas aprisionados, ao que o presidente navio se encontrava ali havia vários dias Recuperação de uma das peças do “Alabama”. Lincoln cedeu, por não desejar, por motivos óbvios, sem nunca ter contactado terra. Tendo ver a Inglaterra intervir em favor do Sul. relatado o caso ao seu capitão, mandou este como uma grande influência, tendo sido (2) A Inglaterra tinha ligações afectivas aos grandes senhores do Sul, descendentes dos colonos suspender e içar velas, de luzes apagadas e grandes impulsionadores da actividade ingleses da Virgìnia, e estava esperançada que a a coberto da escuridão da noite, pois tinha, baleeira açoreana. Proprietários de uma Confederação fizesse desmoronar o sonho da união então, percebido que se tratava do fami- razoável frota de navios mercantes, podi- dos revoltosos americanos; a França, por seu lado, gerado “Alabama”. am, na sua situação geográfica, controlar tinha comerciantes seus e uma longa tradição histórica no estado sulista da Luisiana e, além disso, Sendo, aliás, vulgar, naquela altura, o boa parte do tráfego marítimo entre a o seu protectorado do México sob o governo do recrutamento de marinheiros dos Açores Europa e a América. É, assim, natural que imperador Maximiliano ansiava por estabelecer por navios baleeiros americanos e tendo os Dabney da Virgínia, profundamente boas relações com a nova nação independente.

REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 9 CrónicaCrónica dede TimorTimor No Distrito de Manufahi, Fuzileiros apoiam e conduzem acções humanitárias

Em Timor, o 2º BI/BLI executa operações de segurança a fim A distribuição de livros e material esco- lar, a atribuição de roupas aos mais carenci- de garantir um ambiente de tranquilidade na sua área de ados, a reparação de estradas e a reabili- responsabilidade e apoia e conduz acções humanitárias. tação de antigas instalações de tratamento Homens e mulheres deste Batalhão dirigem os seus esforços, do café, permitindo que este produto, essencial para a sobrevivência do povo nesse sentido, ajudando o povo timorense a construir a sua deste distrito, volte a ser cultivado, trans- própria Nação. Os Fuzileiros, da 3ª Força-FZ, encontram-se portado e preparado para a venda local e integrados neste Batalhão e a partir de Same, localidade onde para a exportação, a construção de viveiros de café, a recuperação de áreas públicas está aquartelada a respectiva Companhia, cumprem estas destinadas à futura administração, a ajuda missões em todo o distrito de Manufahi. em materiais diversos destinados à recons- trução de um depósito de captação de água averá oportunidade, certamente, continuar dependente do exterior, dos paí- colectivo, de um campo desportivo, de uma para a merecida abordagem sobre ses doadores ou, pior ainda, dos interesses passagem aérea sobre um ribeiro facili- Has operações de segurança que os e das influências das potências mundiais. tando o transito de crianças para a escola, o nossos ‘Homens do Mar, do lodo e do capim’, Neste enquadramento analítico o poder, apoio à Radiodifusão Portuguesa-Antena 1 têm executado por estas bandas. no território, será necessariamente frágil de na preparação do processo e distribuição Hoje, por acharmos oportuno, decidimos inicio podendo, em poucos anos, florescer de 5.000 rádios... são só algumas das acções abordar e desenvolver a segunda das mis- para a prosperidade, caso a cobiça dos que servem para ilustrar o que, por aqui, sões referidas ilustrando, com dois exem- homens não venha a perturbar a correcta tem sido realizado. plos, aquilo que se tem feito ao nível do gestão dos recursos naturais e humanos. apoio e condução de acções humanitárias. Certo é que, ao longo de todos estes anos Vivendo, durante décadas, na encruzi- trespassados por inúmeros incidentes, este lhada de conflitos de interesses e ambições povo martirizado ‘sofreu na pele’ os resulta- territoriais das potências regionais, Timor é dos sempre desastrosos dos conflitos, fican- presentemente um país em construção, do com marcas difíceis de apagar, pelo onde os antagonismos parecem circuns- menos ‘até onde se estender a memória crever-se à luta interna pelo poder. Se con- humana’. siderar-mos que existe vontade nos políti- Ás cicatrizes deixadas como herança, mor- cos timorenses, visível não só na forma mente as relacionadas com a habitação e com como conduzem as campanhas nos princi- a saúde, chamamos – destruição - porquanto pais centros urbanos como também no as casas foram incendiadas, as mulheres e esforço despendido na tentativa de fazerem jovens violadas, outras e outros mutilados! Escola de Same após as destruições de Setembro de 1999. chegar a sua mensagem ao interior mais Está a ser difícil, vai ser muito difícil profundo, ficará a faltar, apenas, a capaci- esquecer o passado, pelo menos o mais É na área da saúde, que essas acções dade para levarem por diante os seus recente. humanitárias têm surpreendido os próprios desígnios. Aí, parece-me, Timor terá de executantes, quer pela dedicação extrema que As acções huma- se empenham nessas tarefas, quer nos resul- nitárias são acções tados obtidos. São Fuzileiros, ‘homens de coordenadas e le- armas’ sujeitos a treinos operacionais inten- vadas a efeito pelas sivos, quase sempre dirigidos para o com- Equipas dos Assun- bate, que agora se vêm empenhados no tos Civis e Militares socorro a doentes em fase terminal, a feridos dos distritos onde em estado muito grave, a crianças vitimas de ocorrem e as Com- acidentes ou das recentes atrocidades cometi- panhias que, tam- das pelo ódio indonésio, numa demonstração bém nesses distri- clara do desprezo pela vida humana. tos, têm a respon- Enfim, é o coração a ditar as suas leis, a sabilidade primária falar mais alto... pela segurança. No distrito de Manu- Os casos que a seguir se apresentam, fahi são os Fuzilei- ilustram, com fidelidade, o parecer que ros que têm essas temos vindo a apresentar e mostram tam- obrigações, daí que bém o empenho, esforço e espírito de mis- o título que encima são destes militares, no sentido de levarem Apoio humanitário. a presente crónica. por diante os seus propósitos.

10 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA pelos menos nesta idade, àquela pele algumas pessoas com queimaduras de 2º rugosa e seca (necrose dos tecidos) e àquele e 3º grau, em várias partes do corpo. A tendão atrofiado. única enfermeira existente em Aituha, apenas com alguns conhecimentos bási- Há poucos dias quando, por mero acaso, cos de medicina e com falta de medica- observei umas fotos captadas na enfer- mentos apropriados, nomeadamente maria da Companhia de Fuzileiros, relati- antibióticos, nada podia fazer para aju- vas ao registo de algumas intervenções dar aquela gente. feitas naquele local, reconheci a Juliana Mais que um desafio, a resolução da deitada numa marquesa, a ser interven- situação passou a ser um compromisso cionada na perna queimada. À sua frente, para os Fuzileiros. Sem locais para ater- um homem fardado mas bem diferente ragem de helicópteros, os feridos foram daquele que, um dia, a atirou para o conduzidos, uns amparados outros trans- ‘Inferno’, tratava das suas feridas. portados às costas, até Fahinean. Solicitada Entretanto, a criança crescera um pouco a presença de um médico no local, os si- e o tecido quelóide (sem elasticidade), não nistrados foram observados, tratados e aguentou: Rasgou! Encetadas diligências encaminhados para as suas casas. junto das chefias militares, procedeu-se ao No dia seguinte, o problema agravou- transporte da menina para a enfermaria, -se com alguns deles a correrem perigo Juliana em tratamentos na Enfermaria dos Fuzileiros. inicio aos tratamentos, a continuação dos de vida: mesmos no dia e dias seguintes... Houve necessidade de pedir e efec- O primeiro acontecimento envolve a A Juliana visita-nos, agora, de dois em tuar uma evacuação aérea para o Hos- Juliana, uma criança de 7 anos, protagonista dois dias. pital de Same. involuntária de uma história de Foram horas de luta contra terror. o tempo para localizar os Conta-se assim: feridos, transportá-los para a Em Fevereiro, quando cá zona de aterragem dos heli- chegámos, fizémos uma visita cópteros e trazê-los para o de apresentação à população, hospital. Seria injusto, aqui, fomos dar-nos a conhecer... desenvolver a questão do Alguém, no suco de Holarua, esforço despendido por os sub-distrito de Same, apresen- Fuzileiros quando, em jogo, tou-nos a Juliana contando-nos, estavam vidas humanas. Mas resumidamente, que os indoné- que foi grande, lá isso foi! sios em 1999, na loucura da Os acidentados, uma crian- fuga, incendiaram todas as ça de 1 ano de idade, uma casas daquele suco e natural- rapariga de 13 anos doente mente, também a casa dos pais mental e epilépti- da Juliana. Esta, na altura, ca, uma mulher pouco mais que um bebé, Chegada dos feridos a Same. com queimadu- encontrava-se no seu interior. ras de 2º grau Por medo, pânico ou simplesmente por “Estás em boas espalhadas pelo instinto, saiu para a rua sendo vista por um mãos, Juliana... corpo e um ho- soldado que, sem hesitar, a atirou de novo Se resultarem po- mem com uma para o interior da habitação. sitivas as medidas infecção na perna No rescaldo popular, efectuado no dia entretanto inicia- esquerda, chega- seguinte, encontraram esta criança entre os das por alguns ram a Same onde escombros, em estado de choque, com ‘amigos’ desta cau- se submeteram graves queimaduras na perna esquerda, sa, brevemente es- aos cuidados mé- mas viva! Deus é grande! tarás na Austrália dicos. Aparentemente pouco havia a fazer, onde serás sub- Evacuação dos feridos para o hospital. Infelizmente, metida após dois dias de a uma cirurgia plástica. internamento, a criança de 13 anos foi Tudo voltará a ser como transportada para o Hospital de Dili dantes, excepto o cenário onde lhe foram amputados quatro dantesco que a memória não dedos. O mais velho corre o risco de ver, te deixará esquecer”. também, a sua perna amputada. A segunda ocorrência, Apesar da dor, todos estão fora de surge na sequência de uma perigo. actividade operacional ini- Não restam dúvidas: ciada no dia 11 de Junho de Esta operação humanitária, salvou 2001, pela Companhia de vidas e isso é razão mais que suficiente Fuzileiros: para orgulhar estes Fuzileiros e todos Uma patrulha de reconhe- os militares do 2º Batalhão de In- cimento, deslocava-se nas fantaria.  montanhas de Aituha, a cer- ca de hora e meia de Fahi- nean, quando populares in- Manuel Seabra Mãe e filha - agradecimento. formaram da existência de CTEN FZ

REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 11 OO NRPNRP “DELFIM”“DELFIM” NASNAS COMEMORAÇÕESCOMEMORAÇÕES DODO CENTENÁRIOCENTENÁRIO DOSDOS SUBMARINOSSUBMARINOS INGLESESINGLESES

28 de Maio de 2001, o NRP “DEL- morações do centenário: comandados pelo 2TEN EN-AEL Bergano FIM” chegou à Base de Clyde, em (1) no início do ano em Barrow-Inferness Pica. AFaslane na Escócia, a fim de partici- (o primeiro estaleiro naval inglês de constru- Após o desfile das forças em parada, SAR par na segunda fase das comemorações dos ção de submarinos); a Princesa Ana passou no cais onde se cem anos de existência dos submarinos (2) na semana de 28 de Maio a 6 de Junho encontravam os submarinos, acompanhada ingleses. em Faselane na Base Naval de Clyde (Base pelo Almirante do FOSM (Flag Officer Submarine) Stevens. No cais, junto aos sub- marinos, aguardavam a passagem de SAR a Princesa Ana, uma representação de cada submarino. Ao passar junto à representação do “DELFIM”, SAR parou para dialogar com o Imediato Coutinho de Lucena, após este, cordialmente, a ter convidado a entrar a bordo. SAR agradeceu o convite, dizendo que embora fizesse muito gosto não estava vestida para o efeito. SAR manifestou inte- resse em saber como decorria a estada do “DELFIM”, ao que o Imediato respondeu elogiando o evento, expressando a honra dos submarinistas portugueses em estarem pre- sentes nesta solene ocasião. Após a cerimónia em honra da Princesa Ana, a representação do “DELFIM” regres- Desfile junto à tribuna com prestação de Honras a SAR a Princesa Ana, que presidiu à Parada Militar das sou a bordo, centralizando esforços na con- Comemorações dos 100 Anos dos Submarinos do Reino Unido. dução dos últimos preparativos da missão seguinte – O acoplamento com o veículo de Um total de 16 submarinos, pertencentes da primeira Esquadrilha de Submarinos salvamento LR5 – previsto para dia 11 de às Marinhas de 12 diferentes Nações, partici- Inglesa); Junho de 2001, em Raasay na Escócia. param neste evento – 1 submarino russo (3) a partir de 7 de Julho em Devonport A 4 de Junho de 2001, o “DELFIM” largou (“Vologda”), 1 submarino norueguês (“Sve- (Base da segunda esquadrilha de sub- de Faselane e iniciou uma missão de 11 dias nner”), 1 submarino espanhol (“Tramon- marinos). de Mar, que incluiu: cooperação com os tana”), 1 submarino polaco (“Orzel”), 2 sub- O mais relevante evento dos três, foi sem aviões de patrulha marítima ingleses; plano marinos alemães (U24, U28 ), 1 submarino duvida o que teve francês (“Saphir”), 1 submarino holandês lugar em Faselane (“Bruinvis”), 1 submarino sueco (“Gotland”), na Base de Clyde e 1 submarino americano (“Tenesse”), 4 sub- no qual o nosso marinos ingleses (“Vanguard”, “Superb”, “DELFIM” partici- “Splendid” e “Sovereign”) e o “DELFIM”, o pou, tendo sido submarino português. convidadas 18 na- O N.R.P. “DELFIM” permaneceu atraca- ções. Esta semana do de braço dado com o russo “Vologda”, de comemorações recebendo por bombordo o norueguês foi caracterizada “Svenner” – situação que facilitou o rela- por um vasto pro- cionamento com os reservados marinheiros gama, onde foram russos. Houve uma troca de cordialidades, exercidas várias entre o “DELFIM” e o “Vologda”, em que o acções de repre- Almirante Russo Chefe do Staff da sentação que in- “Northern Fleet” Oleg Tregubov, foi rece- cluiram encontros SAR a Princesa Ana em conversa com o 1º Tenente Coutinho de Lucena, Imediato do bido a bordo do “DELFIM” pelo Coman- desportivos, even- “Delfim”. dante Silva de Pinho, que o conduziu numa tos sociais e visitas visita guiada. Esta visita foi prontamente guiadas (fábrica de periscópios da empresa de treino próprio e avaliação, conduzido correspondida com um convite para uma Thales, carreira acústica em Range Loch pelo Chefe do Serviço de Treino e Avaliação comitiva do “DELFIM”, visitar o “Vo- Goil, e monumentos locais). CTEN Gouveia e Melo; e o exercício de sal- logda”. Assim tiveram honras de visita par- O ponto alto destas comemorações, foi vamento com o veículo submersível LR5. ticular 3 Oficiais, 2 Sargentos e 1 Praça do sem dúvida, a Parada em honra de SAR a Após ter cumprido este grande passo na “DELFIM”, usufruindo de uma oportu- Princesa Ana, onde desfilaram represen- nossa história submarina (o acoplamento nidade unica que dificilmente se repetirá. tações dos submarinos convidados, acom- com um veículo de salvamento submersí- Este evento em Faslane, ocorrido entre 28 panhados de guarda e banda. O vel), o “DELFIM” seguiu para Plymouth a de Maio e 06 de Junho, foi o segundo de “DELFIM” contribuiu com uma secção for- fim de cumprir com o treino das fragatas do uma série de 3 que constituem as come- mada por 9 elementos da guarnição, “Operational Sea Training”). 

12 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA ACOPLAMENTOACOPLAMENTO COMCOM OO VEÍCULOVEÍCULO DEDE SALVAMENTOSALVAMENTO LR5LR5

o fim de 33 anos de serviço, o Working Group” e que submarino “Delfim” realizou um culminou com o exercício Aacoplamento com o veiculo sub- realizado a 11 de Junho. mersível de salvamento LR5, na área de Às 12 horas e 25 min, operações de Raasay na Escócia. do dia 11 de Junho de 2001, ocorre um momento histó- rico na nossa longa história de Submersíveis e Submarinos - a abertura da esco- tilha de salva- mento em imer- são, a uma pro- fundidade de 146 metros, ten- do o “Delfim” ficado em con- tacto directo com Submersível de Salvamento LR5 a bordo do navio de apoio sueco o interior do “Belos”. LR5. Após este momento transi- Em 1983, o Arsenal do Alfeite montou taram elementos entre os e ajustou uma nova passagem de casco dois submarinos. na zona da escotilha de embarque a ré Da superfície, a partir dos submarinos da classe “ALBACORA”, do navio de apoio sueco a fim de permitir realizar uma alteração “Belos”, chegava aquele a importante que possibilitasse um hipo- quem chamámos – “A tético salvamento - a montagem de uma nossa esperança” – veicu- escotilha e base de assentamento viabi- lo submersível de salva- lizando o acoplamento de um veículo de mento com 9.5 mts de comprimento que mais uma viagem no LR5 com elementos salvamento submersível. Assim, passa- poderia resgatar até 15 indivíduos. do “Delfim”, mais um acoplamento e por dos 18 anos surgiu finalmente a possibili- A bordo do “Delfim”, a manobra de fim uma viagem de regresso à superfície, dade de tornar este acopla- no LR5 com outros volun- mento uma realidade. tários de bordo. Esta operação surge na A abertura da escotilha de sequência de um relacionamen- salvamento à profundidade to privilegiado entre as duas de 146 metros, a passagem de Marinhas (Inglesa e Portu- 17 elementos da guarnição por guesa), face a uma cooperação essa escotilha, 3 viagens no naval que já decorre desde 1991 LR5 e 2 acoplamentos, foram com as participações em exercí- os resultados de um grande cios de treino de navios de passo para a confiança daque- guerra anti-submarina (OST les que têm nesta plataforma a –Operational Sea Training). sua segunda casa.  Sendo a busca, localização e salvamento de submarinos sinis- (Colaboração do N.R.P. “Delfim”) trados, uma preocupação cons- Notas tante da nossa Marinha houve o a) O NRP “Delfim” encontra-se sob o entendimento de desenvolver as Primeira equipa a bordo do veículo de salvamento LR5 pronta para o transbordo para Comando do CTEN Silva de Pinho, que diligências necessárias a efectuar o NRP Delfim. Da esquerda para a direita: 1MAR CM Gonçalves, 1MAR E Gago, assumiu funções em 11 de Janeiro de um exercício de acoplamento 1SAR E Calisto e CTEN Gouveia e Melo. 2001, depois de ter terminado o Curso com um submersível de salva- de Comandantes para Submarinos. mento e desta forma certificar as escotilhas assentamento do LR5 foi atentamente b) Passaram a escotilha a 146 mts e navegaram no LR5 os seguintes elementos: dos submarinos classe “ALBACORA”. seguida, sendo o silêncio e a expectativa 1ª equipa - Cten Gouveia e Melo (teve a honra da 1ª O planeamento desta operação teve iní- de tal forma que permitiram escutar, sem passagem), 1 Ten M Ribeiro, 1 Sar E Calisto, 1 Mar CM cio há cerca de dois anos na Esquadrilha a ajuda de equipamento, os ruídos provo- Gonçalves, 1 Mar E Gago. de Submarinos, tendo sido estabelecidos cados pelos jactos de água enviados pelo 2ª equipa - 1 Ten EN-AEL Sousa, 1 Ten M Teles, 1 Sar HE Azevedo, 1 Sar T Santos, 1 Mar CM Rolo. contactos com responsáveis do “UK LR5 na manobra de acoplamento. 3ª equipa - 1 Ten Lucena, 2 Ten EN-AEL Pica, 1 Sar Rescue Service” durante as reuniões anu- Após a passagem do primeiro grupo MQ Gomes, 1 Sar MQ Cerqueira, 2 Sar MQ Ferreira, ais do “Submarine Escape and Rescue para o interior do “Delfim”, seguiram-se: Cab R Fernandes, 1 Mar CM Santos REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 13 ArmasArmas SubmarinasSubmarinas baseadasbaseadas nana super-cavitaçãosuper-cavitação

UMA NOVA GERAÇÃO objecto imerso. De facto, a resistência de Esta utilização artificiosa do fenómeno físi- DE ARMAS SUBMARINAS? atrito produzida pela água é cerca de 1000 co da cavitação só é possível através de um vezes superior à produzida pelo ar e aumenta processo de análise extremamente complexo, afundamento do “Kursk” em Agosto com a velocidade. Quando um objecto se dado que se trata de um problema de escoa- de 2000 foi envolvido numa trama desloca sob a água, a componente da veloci- mento bifásico (o escoamento envolve simul- Ode mistério e desinformação por dade tangencial à superfície do corpo taneamente duas fases, líquida e gasosa). O parte da Marinha e autoridades Russas. diminui na parte frontal e aumenta na parte desenho do “nariz” do torpedo ou projéctil, Apesar da insistência dos Russos na teoria de posterior, enquanto que a pressão exercida bem como o dispositivo de controlo da cavi- que o afundamento se deveu a uma colisão pelo fluido sobre a superfície do corpo tem dade (ventilação) é crítico para se obter o com outro submarino, rapidamente circulou uma variação contrária. Se o aumento da rendimento e comportamento adequados do a informação de que o “Kursk” estaria a testar velocidade causar uma queda de pressão dispositivo. Igualmente vitais são os sistemas um novo tipo de torpedo, cuja explosão aci- suficientemente intensa, o líquido muda de de propulsão e guiamento, aspectos que dental causou o seu afundamento. O novo estado, formando cavidades de vapor de serão considerados mais adiante. torpedo poderia ser o SS-N-16A Stallion, um água adjacentes ao objecto em certos pontos conjunto torpedo/míssil com um alcance de localizados. O fenómeno da cavitação é cerca de 200 milhas, ou uma nova versão do normalmente evitado pelos engenheiros e O ESTADO-DE-ARTE DAS ARMAS torpedo ultra-rápido Shkval (Squall), capaz de construtores navais, por causar perda de efi- SUBMARINAS ULTRA-RÁPIDAS atingir uma velocidade de 200 nós! Esta ciência na propulsão e mesmo erosão e des- segunda possibilidade é mais interessante, gaste das superfícies metálicas. A Rússia é actualmente líder na tecnologia porque levanta o véu sobre o desenvolvi- A super-cavitação é um caso extremo de de armas submarinas baseadas na super-cavi- mento de uma nova geração de armas sub- cavitação, no qual o objecto em movimento tação. A tecnologia Russa encontra-se funda- marinas ultra-rápidas baseadas numa tecno- é totalmente envolvido por uma cavidade de mentada em décadas de investigação, e teve logia surpreendente, inovadora e pouco gás a baixa pressão, o que reduz drastica- como consequência prática a introdução do explorada, que permite a armas e veículos mente a resistência de atrito. Se a forma do torpedo Shkval. Os peritos ocidentais pensam submarinos atingir velocidades de centenas “nariz” do objecto for adequada, pode obter- que os cientistas russos foram os primeiros a de nós. Esta tecnologia é baseada no fenó- -se super-cavitação com velocidades a partir atingir velocidades supersónicas com objectos meno físico da super-cavitação. O princípio de 50m/s. Uma vez formada, a cavidade totalmente imersos. É de supor que a Rússia consiste em envolver o objecto em movi- pode ser mantida e aumentada (“ventilada”) tenha em curso um extenso programa de mento por uma cavidade de gás de modo a injectando gás produzido pelo sistema de investigação sobre armas baseadas na super- reduzir ao mínimo a superfície do corpo em propulsão, de modo a evitar o contacto da -cavitação, mas os resultados práticos desse contacto com a água, diminuindo drastica- fase líquida com a superfície do objecto. A programa são desconhecidos. mente a resistência de atrito. potência necessária para atingir o regime de Grande parte da tecnologia fundamental As aplicações potenciais da super-cavita- super-cavitação é elevada. Mas uma vez usada no torpedo Shkval foi desenvolvida no ção incluem torpedos ultra-rápidos, projécteis atingido o regime de super-cavitação o coefi- Instituto Ucraniano de Hidromecânica de submarinos para destruição de minas ou tor- ciente de atrito baixa drasticamente, o que Kiev, na Ucrânia; ainda nos tempos da antiga pedos em aproximação ao alvo (uma espécie permite atingir grandes velocidades. União Soviética. Este Instituto dispõe de um de Phalanx anti-submarino), armas tácticas ou estratégicas de longo alcance com uma combinação torpedo-míssil, ou mesmo sub- marinos de alta velocidade. O desenvolvi- mento de uma nova geração de armas sub- marinas baseadas na super-cavitação pode alterar por completo a estratégia e táctica navais. Por outro lado, sistemas torpedo-míssil com ogivas nucleares podem aumentar dras- ticamente a vulnerabilidade das grandes forças navais e anular os sistemas tipo “Guerra das Estrelas” para protecção das grandes cidades. Uma outra aplicação pos- sível, é a utilização de projécteis estáveis no ar e na água para neutralizar minas ou atingir submarinos á cota periscópica.

O FENÓMENO DA SUPER-CAVITAÇÃO Figura 1: Ilustração do princípio da super-cavitação. O aumento brusco da velocidade do fluido entre o “nariz” e a superfície cilíndrica tem como consequência uma forte diminuição da pressão, e consequente for- Como é sabido, é necessário dispôr de mação de uma “bolha” de vapor de água. A cavidade gasosa pode ser aumentada e estabilizada através da uma potência elevada para fazer deslocar um injecção de gás a baixa pressão (“ventilação”), envolvendo por completo o objecto. 14 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA de artilharia ou torpedos). Com as armas submarinas ultra-rápidas, esta situação é potencialmente invertida. Se foi possível desenvolver torpedos, mísseis ou projécteis supersónicos, a detecção da aproximação destes com o sonar é impossível, porque a arma atinge o alvo antes de o eco chegar aos hidrofones da plataforma! Consequente- mente, não há contramedidas conhecidas para este tipo de armas, embora seja de supôr que tais contramedidas venham a ser Figura 2: Esquema do torpedo Shkval (“Squall”), segundo Ashley [1]. rapidamente concebidas e implementadas, eventualmente com base em outras armas tanque sofisticado para teste de modelos de injecção de gás (“cavity ventilation”), visto ser de super-cavitação (por exemplo, projécteis objectos propulsionados a alta velocidade o factor crítico para criar e manter a bolha de anti-torpedo ou projécteis com trajectória sob a água. gás que envolve o objecto ao longo da trajec- estável no ar e na água disparados por Durante a década de 90 a França iniciou tória. aviões ou helicópteros). também um programa de investigação em Um outro problema é o guiamento da Uma consequência do desenvolvimento super-cavitação, tendo provavelmente em arma. É necessário que durante eventuais deste tipo de armas poderá ser o aumento da vista as aplicações militares. Circulam alterações de trajectória (por exemplo, numa vulnerabilidade das grandes forças navais rumores de que a França adquiriu à Rússia fase de busca terminal) o contacto com a fase incluindo porta-aviões e navios de apoio a torpedos Shkval. líquida se mantenha minimizado, pois de grandes operações anfíbias, tradicionalmente A Alemanha iniciou um programa de outra forma o objecto pode perder a estabili- usadas para desencadear operações militares cooperação com a U.S.Navy para o desen- dade ou mesmo desintegrar-se. O guiamento de grande escala em cenários distantes. Por volvimento de armas de super-cavitação. pode ser efectuado alterando a geometria do exemplo, uma arma tipo torpedo/míssil com Durante décadas, a U.S.Navy centrou os “cavitador” e usando aletas móveis, mas ogiva nuclear, propulsão a jacto e velocidade desenvolvimentos tecnológicos da guerra garantir a estabilidade do objecto no interior supersónica pode ser disparada a grande submarina na detecção e na redução do da bolha gasosa envolvente é um problema distância de uma força naval, aproximar-se nível de ruído dos submarinos, e leva anos de delicado, que por sua vez influencia a sem ser detectada, e detonar no centro da atraso em relação à Marinha Russa no campo selecção da configuração geométrica. Existe força sem que haja tempo de reacção das armas ultra-rápidas, atraso que agora terá além disso o problema de dotar os futuros suficiente. Cidades situadas junto ao mar são de recuperar, recorrendo às capacidades e torpedos ultra-rápidos com sistemas de sonar igualmente vulneráveis a ataques deste tipo, recursos do país no campo da mecânica de activo para aquisição de informação sobre o o que poderá tornar inúteis iniciativas como fluidos computacional (CFD – Computational alvo. Os hidrofones terão que ser colocados a célebre “Guerra das estrelas”. Por outro Fluid Dynamics) para simular os escoamen- nas zonas em contacto com a fase líquida, lado, a guerra submarina e anti-submarina tos bifásicos em torno de objectos. para obter rendimento adequado. Uma poderá sofrer enormes alterações a nível Contudo, a única arma submarina ultra- solução será colocar os transdutores no “cavi- táctico, o que pode vir a pôr em causa rápida operacional de que há conhecimento tador”, mas o problema do rendimento man- alguns dos actuais desenvolvimentos tecnológi- é o torpedo Shkval. Trata-se na realidade de tém-se de difícil solução. cos nessas áreas. Concretamente, o jogo de um projéctil propulsionado por um motor a Finalmente, existe o problema da propul- “gato-e-rato” num combate silencioso entre jacto, com um comprimento de cerca de 9 são. Para atingir velocidades de super-cavi- dois submarinos, pode vir a dar lugar a com- metros, um peso de cerca de 2700 kg, capaz tação, é necessário dispor de sistemas de bates rápidos e ruidosos entre submarinos de atingir uma velocidade de cerca de 200 propulsão de grande potência. Os sistemas ultra-rápidos, disparando projécteis ou torpe- nós. O Shkval é um torpedo de certa forma aparentemente mais promissores recorrem a dos ultra-rápidos, de forma algo semelhante “primitivo”, dado que executa uma carreira turbinas de gás ou propulsão a jacto queimando aos combates aéreos actuais! rectilínea. No entanto, está certamente em combustíveis metálicos e utilizando a água Em todo o caso, parece evidente que o curso investigação tendente a produzir armas como oxidante e fluido de arrefecimento. Tais desenvolvimento deste tipo de armas aumen- capazes de manobrar durante a trajectória, sistemas utilizam combustíveis mais energéti- ta enormemente o valor estratégico do sub- com sistemas de “homing” na fase terminal cos e instáveis do que os combustíveis dos marino como elemento decisivo de dis- da carreira (semelhantes aos dos torpedos torpedos convencionais, o que poderá estar suasão, na proporção em que os demais convencionais). Os problemas técnicos a na origem do acidente do Kursk. É possível meios navais (incluindo os grandes porta- resolver são enormes, face à necessidade de também atingir velocidades de super-cavitação -aviões) se tornam potencialmente mais vul- impedir o contacto do torpedo com a água utilizando sistemas com hélices especiais neráveis a ataques súbitos, inesperados e durante as curvas, e de colocar os transdu- movidas por turbinas a gás com combustíveis devastadores.  tores do sonar de busca em contacto com a sólidos de alto rendimento. fase líquida sem prejudicar o rendimento das Carlos M. Lemos superfícies que produzem a cavitação. CTEN IMPACTES NA ESTRATÉGIA E TÁCTICA NAVAIS ASPECTOS EM DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento de armas submarinas ultra-rápidas, com grande alcance, guiamento REFERÊNCIAS O desenvolvimento de novas armas por fio e capacidade de busca autónoma, submarinas baseadas na super-cavitação le- (“homing”) poderá ter um impacte enorme [1] Ashley, Steven: Warp Drive Underwater, vanta uma série de problemas técnicos de em futuras operações navais. Presentemente Scientific American, Maio de 2001. difícil solução os sistemas de aquisição (radares, equipa- [2] Batchelor, G. K.: An Introduction do Fluid Dynamics, Cambridge University Press, 1967. Uma das questões mais importantes é a mentos ESM/ECM e sonares) adquirem infor- [3] Nicholas, Rufford e Grey, Stephen: Secret torpe- geometria dos torpedos ou projéctil, em espe- mação a uma velocidade muito superior à do test “blew sub apart”, SUBSIM Review, Agosto de cial o “nariz” (“cavitador”) e a zona de das armas de ataque e defesa (mísseis, peças 2000 (www.deepdomain.olm.net/ssr/).

REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 15 A MARINHA DE D. MANUEL (18) OsOs ReisReis dodo MalabarMalabar

data em que Cabral entrava em Pêro de Ataíde que o perseguiu e combateu regimento – pediu imensa desculpa ao Calecut, o Samorim era o sucessor em frente à praia de Cananor (um pequeno mappila de Cochin cobrindo-o de todas as À do que recebera o Gama, dois anos reino fronteiriço e rival a norte de Calecut). promessas que já fizera a outros, falando--lhe antes. Mas tudo leva a crer que os proble- Na verdade, no navio apresado havia vários d’el-rei de Portugal que com eles queria ter mas são semelhantes, embora o poder mili- elefantes que não interessavam muito aos comércio honesto e amizade, apenas fazendo tar naquela altura fosse muito superior ao portugueses, e o episódio acabou por criar a guerra aos mouros de Meca (árabes). que ali tinha estado em 1498. Muito ainda mais pro- provavelmente houve muitas conversas blemas em Cale- antes da partida de Lisboa, muitos conse- cute, sobretudo lhos, muitas indicações e sugestões, mas a por pressão dos verdade é que os portugueses estavam a mapillas dessa ci- contactar uma comunidade que desconhe- dade que, a par- ciam quase em absoluto. Passe o facto de tir de então, se terem disparado a artilharia à entrada do temeram. Parece porto nos mesmos moldes em que salvavam óbvio que, se os na Europa, e espalhado o pânico pela ci- nossos desconhe- dade, causando, eventualmente, algum ciam muitas das desagrado (mas, se calhar, também temor), questões pró- os dias que se seguiram foram uma prias do Mala- sucessão de contrariedades que resultavam bar, quer nos num arrastar penoso das negociações, crian- seus usos e cos- do uma enorme impaciência ao portugue- tumes, quer até ses. A missão de Cabral – recordamo-lo – em aspectos da era conseguir estabelecer boas relações com organização o Samorim de Calecut, colocar ali uma feito- social e da ma- ria comercial portuguesa e encetar um neira de viver processo de comércio de especiarias que dos locais, o que Figuras da sociedade indiana, segundo Jan Huygen van Linschoten. chegaria à Europa pela rota do cabo. Mas é facto é que de- Gravura do final do séc. XVI. para romper todas as desconfianças, era pre- les a desconfian- ciso explicar convincentemente estes inten- ça e a apreensão não deve ter sido menor. O que é certo é que os reis de Cochim e de tos ao Samorim e, para isso, necessitavam de Quando foi tomada a nau dos elefantes (que Cananor, no meio destes episódios mais traduzir as mensagens de português para o Samorim tinha dito estar carregada de ou menos violentos, tinham-se apercebido árabe, sendo depois traduzidas para hindu. pimenta) já estava estabelecida em terra a do poder militar dos portugueses e Uma dupla tradução que empregava gente dita feitoria, mas com uma posição muito imediatamente compreenderam as vanta- em quem não havia absoluta confiança de fragilizada. Debaixo de promessas mal gens de fazer com eles alianças que lhes parte a parte e que sempre provocou dúvi- compreendidas ou de enganos fosse de permitiriam diminui a supremacia do das. O que é certo é que os portugueses que- quem fosse, correu o boato de que os navios Samorim. E dentro deste contexto, com os riam carregar especiaria, e essa era também de Meca estavam a ser carregados de noite, navios por carregar e depois de ter bom- a intenção dos chamados navios de Meca deixando os portugueses sem carga, com bardeado Calecut, Cabral resolve deslo- (árabes) e do Guzerate, nalguns casos com respostas dilatórias trocadas no meio de car-se a Cochim, onde é bem acolhido, influências poderosas sobre o soberano, ao tradutores múltiplos que agravavam ainda onde carrega pimenta e canela e onde ponto de o manobrarem contra os portu- mais a desconfiança e impaciência. Deci- recebe embaixadores dos reinos de gueses. Por isso não foi só o mau impacte diram então, os portugueses atacar uma das Cananor e Coulão pedindo-lhe amizade e dos disparos de salva que criaram má naus que supunham carregadas, mas o vantagens numa próxima visita. Os impressão. Outras razões existiam e se resultado foi desastroso. A bordo não havia navios ainda passaram pelo primeiro desenvolviam para que a feitoria não se especiaria como eles imaginaram e levan- destes dois portos, partindo para Lisboa fizesse e se atrasasse o carregamento da tou-se uma imensa revolta no porto, contra com dois emissários do rei. A viagem não especiaria. os nossos marinheiros e os homens da feito- fora propriamente um sucesso – em 12 Assim ia passando o tempo, quando o ria. Aires Correia, o feitor nomeado, foi navios saídos de Lisboa, apenas regres- Samorim propõe aos portugueses que lhe abatido, e com ele umas dezenas de com- savam seis, dos quais um ainda se perde- prestem um serviço: saíra de Cochim (a sul) panheiros. Para Pedro Álvares Cabral, isto ria no Índico e outro viria a aparecer em um navio propriedade de um mercador era a gota que transbordava de um copo de Cabo Verde, depois de ter andado a nave- mappila (muçulmano não árabe, pertencente impaciência. De seguida bombardeou a gar sozinho durante meses - mas a ver- à comunidade de comerciantes do Guzerate) praia e toda a cidade de Calecut, durante dade é que o valor da especiaria desem- dessa cidade, que transportava um elefante um dia inteiro, causando mais de quinhen- barcada pagava bem o prejuízo e o negó- que recusara vender ao Samorim; o sobera- tos mortos. cio entusiasmava.  no, mostrando o seu despeito por não ter Mas, entretanto, quando da tomada da conseguido a alimária, pediu a Cabral que nau dos elefantes, Cabral verificou que o J. Semedo de Matos tomasse esse navio. Foi encarregado disso navio não era árabe e – como lhe dizia o CFR FZ

16 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA AA VoltaVolta dede MagalhãesMagalhães 1ª Parte

Uma estranha e indefinível sin- desafio aos mais destemidos, com tonia gera em relação a alguns grande mobilida- feitos humanos um sentimento de, em defesa de de dívida de gratidão colectiva pequenas feitorias comerciais e algu- por nos ter tornado possível mas fortalezas, pa- plasmar com o seu executor, ra o domínio naval de estreitos, ilhas, ímpar, recreando em nós, por teatros de guerra e momentos, a sensação do ilimi- comércios vários, tado. Num mundo céptico, não distantes entre si dias e dias de na- são muitas as memórias que per- vegação. durem desse punhado de heróis. Em certas oca- A de Fernão de Magalhães, ao siões tornar-se-ia necessário acorrer fim de meio milénio, é sem dúvi- “in extremis”, pe- da uma delas! rante o desfazer de alianças locais ou por razões de ín- ernão de Magalhães nasceu no seio dole militar ligadas de uma família com alguns haveres normalmente a mo- Fno último quartel do Séc. XV no nopólios estabeleci- Norte de Portugal, em localidade sobre a dos, arrostando por qual não parece haver acordo. Pertencente vezes com o mau provavelmente a uma modesta nobreza tempo das monções Fernão de Magalhães. rural teria, relativamente novo, vindo para em costas bastante Viena Kunsthistorisches Museum Lisboa onde ocupou lugares de pouco rele- desabrigadas. vo na Corte de D. João II, estando ao ser- O gosto pela aventura pairava no ar o feitor Rui de Araújo. Teriam ficado igual- viço de Dona Leonor e posteriormente de olisiponense e quando razões de coração mente retidos dois dos navios. D. Manuel I. ou de fortuna complementavam as outras, Compulsando fontes de Malaca segun- Na capital do Reino contactou certa- constatamos que, tal como Camões, nobres do uma perspectiva asiática os primeiros mente, na sua vida de palácio, com gentes e plebeus, aliciados por sonhos de glória e portugueses chegados a estas paragens, e conhecedoras dos mares recentemente de dinheiro, embarcavam nas naus da vistos com curiosidade pelos habitantes descobertos no Hemisfério Austral, do seu Carreira da Índia em viagem para o desta cidade, foram os marinheiros, entre regime de ventos e correntes e das ciências Oriente. os quais se encontrava Magalhães, dos náuticas necessárias às suas singraduras. Magalhães, com cerca de 25 anos, pos- cinco navios desta armada de Diogo Terá deambulado pelas ruas e cais da sivelmente enfadado com o ócio pala- Lopes de Sequeira, chegados a 1 de zona ribeirinha da Lisboa de Quinhentos, ciano, não enjeitou este chamamento. Setembro de 1509. Viriam a ser chamados invadida por marinheiros, cartógrafos, mi- Seguiu na armada de D. Francisco de “Bengali Putih” (Bengaleses Brancos). litares e estrangeiros na procura de fortu- Almeida de 1505, que partiu a 25 de A expedição fora ordenada por D. Manuel I na que, nesta cidade então cosmopolita, Março, iniciando a carreira das armas. para sondar a situação em Malaca e, se trocavam experiências, tentavam comprar Assim e embora escassos, surgem os considerada favorável, estabelecer rela- segredos, aliciar capitães de mar experi- primeiros ecos dos seus feitos, inicial- ções comerciais nesta cidade, plataforma mentados ou obter, entre dois copos – um mente débeis de longínquos, depois mais giratória dos intercâmbios de produtos dos principais desinibidores de línguas – e concisos, sobre as suas qualidades mili- asiáticos, europeus e árabes. Inicialmente através de relatos dos embarcadiços, mais tares, começando a ser citado na docu- bem recebidos, os portugueses foram ou menos exagerados, informações úteis. mentação coeva, como sucedeu pela autorizados a instalar uma feitoria. Estas vivências e narrativas irão alimentar ocasião das operações de desembarque Todavia o antagonismo por interesses co- um espírito ávido de desafios que carac- em Malaca de 1509. merciais e religiosos (ou motivado pelas terizaria a vida deste navegador. Nesta ocasião, alertado por um infor- notícias das eventuais crueldades prati- mador chinês, o jovem militar fez abortar cadas contra as comunidades muçul- A OPÇÃO PORTUGUESA: um ataque de surpresa que visava capturar manas na Índia, segundo outras fontes) RUMO A LEVANTE todos os estrangeiros e seus navios. rapidamente veio à superfície, tendo o Avisado, o comandante da expedição - sultão sofrido pressões para os atacar. O jovem Magalhães sonha com uma Diogo Lopes de Sequeira - conseguiu pôr-se Parece ter sido nesta desastrosa expedição carreira das armas numa mítica Índia, ao largo com a maioria dos seus homens, que Magalhães conheceu Francisco Serrão, onde viria a tomar parte em várias expe- não evitando contudo que ficassem apri- a quem salvou de ficar cativo e que viria a dições: ali a vida seria um permanente sionados em terra cerca de vinte, incluindo tornar-se num seu grande amigo. REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 17 Outras referências dispersas a respeito de Magalhães surgem: é mencionado como tomando parte, em 1506, na expe- dição de Nuno Vaz Pereira, a caminho de Sofala, porto de apoio da Carreira da Índia, onde foi erigida uma fortaleza; em 1509 participa na Batalha dos Rumes e, segundo relato de Gaspar Correia, teria sido ferido em combate em Cananor na costa do Malabar, na Índia. Em 1510 Magalhães, após ter comba- tido na primeira, esteve com Albu- querque na segunda conquista de Goa, em cujo planeamento tomou parte. Sob as ordens deste chefe combateu nas ope- rações de tomada de Malaca em 1511, vindo esta cidade a capitular, após seis semanas de combates, no dia 10 de Agosto. As actuações de Magalhães pelo Índico e mares da China foram um tirocínio fun- damental para a sua formação militar e naval, dando-lhe concomitantemente uma visão mais concertada das grandes opções em jogo para a expansão dos países marí- timos no Séc. XVI. Os seus desempenhos, embora a nível subalterno, não podiam certamente escapar ao clima cíclico de interesses, calúnias, intri- gas e lutas pelo poder que, com períodos de maior ou menor virulência, envenenaram Francisco de Almeida. Afonso de Albuquerque. Museu Nacional de Arte Antiga. algumas das acções de governação e mi- FRANCISCO SERRÃO, HOMEM DAS SETE PARTIDAS Novembro de 1521, os sobreviventes dos aconteci- litares no Oriente nessa época, criando DO MUNDO, AMIGO DE MAGALHÃES mentos da Ilha de Mactan, quando entraram em Tadore, foram informados, segundo narra Pigafetta, relações tensas, quer entre os chefes militares Este explorador e militar, cujos caminhos se que: “ainda não havia oito meses tinha morrido em e administradores locais, quer com o Paço. cruzaram com os de Magalhães nas andanças pelo Ternate um Francisco Serrão, capitão general do rei Admite-se assim que, não bafejado por Oriente Português do Séc. XVI, é uma das pedras de Ternate contra o rei de Tadore…depois, feita a boas informações, decorrentes da falta de essenciais no enquadramento das questões rela- paz entre eles, tendo ido um dia Francisco Serrão a cionadas com o posicionamento geográfico e opor- Tadore contratar cravo, este rei mandou envenená- reconhecimento do valor das suas acções ou tunidades de negócios das Molucas, no contexto da -lo e não viveu mais que quatro dias,…o qual deixou da má vontade de um qualquer elo da divisão dos mares do mundo. um filho e uma filha pequenos de uma mulher que cadeia de comando, que para alguns seria De facto, malgrado Francisco Serrão se tenha trouxe de Java Maior”. A sua herança foi uma D. Francisco de Almeida ou o próprio mantido fora da ribalta do grupo dos notáveis mais diminuta quantidade de cravo avaliada em 200 Afonso de Albuquerque, começasse a sur- conhecidos ligados às vicissitudes do comércio na bahares. Pigafetta neste ponto da narrativa aproveita Insulíndia, foi uma pedra angular da expedição de a oportunidade para indicar que Magalhães teria gir no âmago de Magalhães a ideia dum Magalhães, seja pelas informações decorrentes da empreendido a viagem de circum-navegação basea- porvir cada vez mais divergente das empre- perfeita integração nas comunidades da Ásia, seja do nas informações de Serrão e que este estaria a par sas de D. Manuel. pela facilidade de contactos que tinha com o grande das vicissitudes do seu amigo na Península. Convém porém não esquecer que, entreposto comercial de Malaca. Demonstração Após a consolidação de uma posição dominante deste facto é a menção na carta enviada a 22 de em Malaca, iniciou-se em 1511 a expansão para enquanto o Pacífico Central era ignoto, o Setembro de 1515 por Afonso de Albuquerque a D. Leste, com instruções aos comandantes muito pre- mar da China assemelhava-se a um “Me- Manuel I em que, relativamente a Serrão, narra cisas e “pacíficas” como nos conta Castanheda: “ não diterrâneo Oriental”, configuração esta já “que era vivo e estava em poder das ilhas do cravo, fizesse presas nem tomadas, nem arribasse sobre esboçada na cartografia coeva, com longas e governava o rei e a terra toda”. nenhuma nau, nem lhe desse caça, nem saísse em derrotas à vista de terra, dada a disposição O seu curriculum, segundo João de Barros, nenhum porto, salvo uma pessoa ou duas, em todos mesmo com alguns laivos de fantasia narrativa, é os portos em que chegasse desse presentes aos reis geográfica das suas ilhas, e sulcado por fro- impressionante. Nos primeiros anos de 1500 já se & senhores das terras…”, na qual foram empe- tas de comércio entre zonas bem afastadas encontrava, como militar e marinheiro, no Oriente, nhadas duas naus, uma comandada por António de mas presumivelmente com economias de tendo sido enviado na força expedicionária que evi- Abreu – chefe da expedição - e a segunda por certo modo integradas, como testemunham tou a queda da Fortaleza de Cananor. Em 1509 Serrão, e uma caravela do comando de Fernão Dias embarcou com Fernão de Magalhães em Cochim Bisagudo. Serrão conseguiu estabelecer contactos os relatos de contactos de europeus com os tomando parte nas acções em Malaca acima com as ilhas Molucas (ant. do Maluco), especial- habitantes ribeirinhos. descritas. Em Janeiro de 1510 naufragou e foi reco- mente vocacionadas para a produção de cravo, dado Com efeito, um dos temas imprescin- lhido por uma embarcação enviada propositada- o seu solo vulcânico. díveis da informação avidamente solicitada mente por Albuquerque de Cananor, ao receber as A “ Sabaia”, nau de Serrão, veio acabar os seus aos locais, era o das zonas de proveniência notícias comunicadas por parte dos náufragos dias na ilha de Bali. Não houve perda de vidas entre chegados numa pequena embarcação que con- os seus tripulantes que continuaram a viagem, agora das diversas especiarias e outros produtos seguira atingir a costa da Índia. Salvo, voltou a Goa num junco, carregando-o com cravo, noz e maça transaccionados, informação essa indispen- e foi enviado seguidamente a Cochim com vitualhas (polpa interior da noz-moscada seca ao sol). Este sável para aproar às origens das fabulosas indispensáveis à sobrevivência desta fortaleza. Tal junco acabou por se perder num segundo encalhe. riquezas mencionadas nas narrativas em cir- propósito não se chegou a concretizar por perda do Serrão conseguiu com os sobreviventes apoderar-se navio. duma embarcação malaia, navegando com esta até culação na época, nomeadamente as das Este homem notável veio a falecer em data próxi- Ternate (0,48 N, 127,34 E); aí se radicou e obteve do praias em que os areais seriam de ouro, ma do seu amigo Magalhães. Com efeito, a 8 de rei local obediência ao Rei de Portugal. metal este que existiria em abundância em certas zonas.

18 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA OPERAÇÕES EM AZAMOR E diferença de dimen- DESAVENÇAS COM D. MANUEL I são, quer geográfica quer de oportuni- Regressado a Lisboa em 1513, integrado dades comerciais, na armada de Fernão Peres de Andrada, o existente entre a seu espírito irrequieto e talvez a escassez de expansão para o dinheiros levaram-no, em Setembro deste Oriente, com ga- ano, a tomar parte, depois do insucesso da nhos fabulosos nas tentativa de 1508, na conquista de Azamor, especiarias, e as da no Norte de África, sob o comando do pequena região do Duque de Bragança. Na refrega virá a ser Norte de África. Es- gravemente ferido numa perna, o que o ta zona de guerras fará coxear para o resto dos seus dias. endémicas, de onde Poder-se-á admitir que na escolha desta tinha retornado nova área de actuação possam ter tido com aleijão, era um alguma influência os contactos com Diogo mercado relativa- Lopes de Sequeira, seu antigo comandante mente pobre onde regressado da Índia, que com uma armada se procurava suprir de trinta navios iria entrar em operações a falta de trigo para contra o rei de Fez. Lisboa, Porto e al- Magalhães voltou desta expedição, da gumas outras áreas qual não há relatos detalhados de feitos mi- em que a popula- litares a seu respeito, com algumas acu- ção urbana começa- sações ligadas a problemas administrativos va a fazer sentir o e financeiros relacionados com a função de seu peso. quadrilheiro-mor, funcionário a quem com- Não seria tam- petia a repartição dos despojos. Tal facto re- bém estranha à sua Malaca. Da fortaleza de Afonso de Albuquerque, A Famosa, só resta o pórtico principal. forçou uma certa má vontade latente na decisão o bom aco- Corte, a que não seria indiferente a opinião lhimento prestado em Espanha aos nhóis, como estrangeiro, do cargo de princi- do Duque de Bragança, seu último chefe estrangeiros vindos para colmatar a pal protagonista e uma certa escassez de militar. notória falta local de especialistas nas artes peritos em construção naval e navegação, Expressas as duas recusas de D. Manuel I, do mar, de que são exemplos os casos de que justificam, de facto, o recurso frequente em 1513 e 1516, em anuir no “aumento de Colombo, Vespucci, Estêvam Gomes e a estrangeiros. moradia”, que passaria de 1.850 reis por Caboto. A seu favor tinha Magalhães uma situ- mês, de acordo com o valor mencionado Neste sentido, Juan de Aranda, futuro ação de atrito entre D. Manuel e alguns dos num recibo datado de 14 de Julho de 1512, administrador da “Casa da Contratación”, banqueiros mais poderosos e a viagem de para 1.950 reis - o que não parece uma escreveu a alguns amigos em Portugal para Bartolomeu Dias, que dava peso às teorias exorbitância - , Magalhães constatou que o se porem em contacto com pessoas muito antigas de que as terras enxutas do mundo ambiente criado no Palácio a seu respeito versadas em assuntos de navegação, para existiam divididas em grandes ilhas, não era favorável aos sonhos de um lugar descobrirem terras e ilhas pertencentes ao rodeadas pelos oceanos. Uma curiosidade a de destaque na expansão portuguesa. Ao rei de Espanha, promovendo a sua ida a notar é a autodefesa de Magalhães, encar- Rei não era nova esta personagem de gran- Sevilha, com todas as despesas pagas. cerado em Sevilha duas vezes, relativa- de determinação. Em 29 de Março de 1514 Inquirido Magalhães sobre este assunto em mente a acusações com certos laivos de já tinha feito um pedido de indemnização Barcelona a 19 de Abril de 1519, respondeu xenofobismo, em como dava preferência ao por lhe terem morto um cavalo seu em “que tinha ouvido falar nele”. engajamento de marinheiros portugueses e combate. Rezava assim: “Senhor – Fernão de outros da área do Mediterrâneo e da de Magalhães faço saber a Vossa Alteza A OPÇÃO ESPANHOLA: Bretanha. A estas respondeu que, tendo tor- que no dia em que o Duque (de Bragança) RUMO A POENTE nado público o engajamento em Málaga, carregou sobre Zamor numa escaramuça Cádis e zona de Sevilha, não se tinha apre- que lá houve, me mataram um cavalo às Obtida a necessária dispensa dos seus sentado nenhum nativo do Reino de lançadas do qual não me deram em Zamor serviços, equivalente à perda de nacionali- Espanha. mais do que três mil e setecentos reais de dade, Magalhães ainda se manteve alguns Após diversas vicissitudes e viagens treze (mil) que me custou e os juradores meses em Lisboa recolhendo informações entre esta cidade andaluza e Valladolid, me disseram que Vossa Alteza já tem man- úteis à empresa que se propunha levar a conseguiu uma frota de 5 navios, relativa- dado pagar alguns deles (rogo de)….me cabo, dirigindo-se posteriormente a Sevilha mente pequenos, com tripulações bastante mandar pagar o meu pois me o mataram com o astrónomo, astrólogo para alguns, heterogéneas cujas percentagens foram ace- por uso no serviço e em lugar honrado e Rui Faleiro, onde acederam aos ambientes samente discutidas. com grande perigo para a minha pessoa espanhóis ligados às viagens de descoberta onde a pé me salvei” (anexa certidão da e seus financiamentos. Em Outubro de VIAGEM PARA O HEMISFÉRIO morte do cavalo assinada por Francisco de 1517, quando chegaram a Sevilha e contac- AUSTRAL Pedrosa, fidalgo encarregado de conhecer taram a “Casa da Contratación”, o acolhi- a morte e perda de cavalos, para requerer mento, em certos sectores, não terá sido dos Magalhães e Faleiro prepararam a sua a demasia). mais calorosos. A empresa que se apresenta exposição a Carlos I, posteriormente Entre os factores que se admite devam a Magalhães era deveras ciclópica: as três Imperador Carlos V, pondo ênfase na con- ter pesado na decisão de Magalhães em se frentes principais a ultrapassar eram repre- vicção, sem muito fundamento, como se mudar para Espanha, e não homiziar como sentadas pelos financiamentos, fortemente viria a demonstrar mais tarde, que o frequentemente é escrito, para além da condicionantes para as escolhas da quali- arquipélago das Molucas estaria na parte intransigência do soberano, que o dispen- dade dos meios navais, humanos e logísti- espanhola prevista no Tratado de Tor- sou do seu serviço, destacar-se-ia a gritante cos; a oposição à sua aceitação pelos espa- desilhas. A movimentação de Magalhães

REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 19 em Espanha é muito facilitada pelo seu Assim, a expedição de Magalhães foi verificam e servem de motivos de chaco- casamento com a filha de Diogo Barbosa, financiada em cerca de um quinto por ta e boa disposição nas folclóricas pas- Castelão de Sevilha e por uma outra per- Cristobál de Haro que, em desacordo com sagens da “Linha” para os jovens mari- sonagem importante da Casa das Indias, D. Manuel I, se transferiu para Castela em nheiros. Juan de Aranda. Como conselheiro de 1518, sendo o resto financiado pela Coroa grande influência do Rei actuava Juan espanhola. Rodriguez de Fonseca, Bispo de Burgos. Feitos os preparativos da praxe, Maga- O acordo a que chegaram e que foi san- lhães larga de S. Lucar de Barrameda a cionado pelo Rei a 22 de Março de 1518, 20 de Setembro de 1519, rumando às previa que as despesas relativas ao apresta- Canárias onde aporta a 26 do mesmo mento da frota ficariam em parte a cargo do mês e de onde larga a 6 de Outubro. Rei, sendo-lhe atribuída uma percentagem Após esta escala de abastecimento, onde de 20% dos lucros. A Magalhães, entretanto teria recebido uma comunicação do nomeado Comandante em chefe caberia o sogro que se prepararia uma conspiração soldo de 50.000 maravedis. Magalhães pres- a bordo contra ele, passa entre o Cabo tou juramento de fidelidade na Igreja de Verde e o Arquipélago do mesmo nome, Santa Maria da Vitória de Triana em Sevi- rumando ao Cabo de Santo Agostinho, lha e recebeu o estandarte real. Nesta oca- na costa brasileira. Saindo deste arqui- sião o navegador fez uma vultuosa oferta pélago aproveita o regime dos ventos do aos monges para que rezassem pelo sucesso Atlântico Sul, bem conhecido nessa da expedição. altura. Esta parte da viagem traz pouca A viagem proposta por Magalhães ia na novidade aos veteranos embarcados, direcção de duas outras efectuadas por sendo contudo uma experiência comple- Amerigo Vespucci, ao serviço do Rei de tamente nova para o resto das tripu- Portugal, de 1501 e 1502, e de João Dias Solis, lações. Assim notamos uma série de per- português, que chegou ao Rio da Prata ao plexidades nas narrativas a propósito dos serviço do Rei de Espanha, sendo este rio ini- peixes voadores, tubarões, pássaros sem cialmente conhecido como rio de Solis. anus e outras criaturas, que ainda hoje se Carlos V. Pintura de Ticiano. Havia, entre os banqueiros do início do Pinacoteca de Munique. Séc. XVI, um número notável de espanhóis ESQUADRA DE MAGALHÃES entre os quais se salientavam os de Burgos Navio Comandante inicial Arqueação Historial do navio nas pessoas de Juan de Castro, Diego López (ton.) Gallo, Francisco de Covarrubias e Gonzalo “Trinidad” Fernão de Magalhães 110 Navio do Comandante em Chefe: Fernão de de Almazán, que já tinham investido di- Magalhães, morto a 27 /4/1521 pelos indígenas em Mactan. 2os Comandantes: Duarte Barbosa e João Serrão, ambos mortos a 1/5/1521 pelos indígenas em Mactan (João Serrão embarcou após a perda da “Santiago”). 3º Comandante: João Lopes de Carvalho. 4º Comandante: Gonçalo Gomez de Espinosa Navio perdido por tempestade no porto de Ternate; os sobreviventes seguiram para Malaca-Goa-Lisboa. “San Antonio” Juan de Cartagena 140 1º Comandante substituído no meio do Atlântico, por insubordinação. Libertado pelo comandante do “Concepción”, onde estava preso, tomou parte na revolta. Condenado, foi abandonado com víveres numa praia deserta com o Padre Pedro Sanchez de Reina. 2º Comandante: Álvaro Mesquita. Foi encarcerado por amotinados, voltando para Espanha preso na embarcação. 3º Comandante: Piloto Estêvão Gomes, transferido do Trinidad, promotor da revolta. Chegou a Sevilha a 6/5/1521. “Concepción” Gaspar de Quesada 90 1º Comandante foi degolado e esquartejado a 7/4/1520. 2º Comandante Duarte Barbosa que substitui Magalhães na Chefia da Armada. Sevilha - Torre del Oro. Queimado junto à Ilha de Peñol. Os 115 homens foram distribuídos pelo “Trinidad” e “Victória”. nheiro nos navios enviados por Portugal a “Victória” Luís de Mendoza 85 1º Comandante apunhalado a bordo e Calicut de 1509 a 1514, com ganhos que atin- esquartejado no dia 4/4/1520. 2º Comandante: Gonçalo Gomez de Espinosa, giram 100%. É natural que Juan de Aranda, depois de queimada a “Concepción” a também ele natural de Burgos, indigitado 4/5/1521. Em Julho de 1521 substituiu João futuro Administrador da “Casa de la Lopes de Carvalho no comando supremo da Contratación”, promovesse o contacto entre frota. Regressa de Timor a 13/2/1522. Magalhães e estes banqueiros, em parte Reabastece em Cabo Verde a 9/7/1522 Com. Sebastião Delcano substitui Espinosa desagradados com o último tratamento que Única a regressar a 7/9/1522. lhes tinha sido dado em Portugal, criando a expectativa que sob a bandeira espanhola os “Santiago” João Serrão 75 Encalhado e perdido na Costa Atlântica a 22/5/1520. seus lucros seriam ainda mais significativos. Tripulação total de 234 a 265 almas embarcadas, conforme diversas fontes, sendo mais provável o primeiro valor.

20 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA A frota aterra no cabo de Santo Agos- necessárias ao aquecimento das tripula- uma revolta na Esquadra que surge no tinho, que é avistado a 23 de Novembro de ções e os abastecimentos de víveres não primeiro de Abril, domingo de Ramos. 1519. Bordejando a costa brasileira, men- estariam garantidos. Como dificuldade Juan de Cartagena, “Capitão do San cionada na documentação como “Costa do suplementar existia na esquadra uma António” suspenso do comando e preso à Verzim”, entra na magnífica baía de hierarquia formal complicada, dadas as ordem de Magalhães durante a viagem no Guanabara a 13 de Dezembro de 1519. ligações e origens geográficas dos diver- Atlântico, é libertado por Gaspar de Estará no porto do Rio de Janeiro até 26 de sos comandantes, pilotos e marinheiros. Quesada, seu carcereiro e Capitão do Dezembro. Zarpa para Sul para explorar o Havia também uma sensação generaliza- Conçepción. Com alguns amotinados abor- estuário do Rio da Prata onde chega a 10 de da de que as condições económicas acor- da a “San António” e prende o seu Capitão Janeiro de 1520. Certamente foi aí relembra- dadas não eram muito favoráveis. De Álvaro de Mesquita, próximo de Ma- da a desdita de Solis, navegador português facto assim o indicavam as condições galhães, que o tinha substituído no coman- ao serviço de Espanha, que fez o primeiro obtidas do Rei de Espanha, que aliadas ao do. Logo Luiz de Mendoza, Capitão do levantamento da margem esquerda deste pequeno porte das embarcações envolvi- “Victória”, adere à revolta. Na manhã rio. Durante um desembarque que efectuou das, se comparadas com as naus da seguinte Quesada comunica ao Capitão em Janeiro de 1516, com alguns marinhei- Carreira das Índias ou das Américas, pro- general que os amotinados aceitam render- ros, foram atacados e todos mortos pelos porcionaria ganhos certamente inferiores -se a troco de se iniciar o regresso a Espa- indígenas. Para darem algum sentido útil à aos de outras expedições espanholas nha. Simulando aceitar o ultimato, Ma- expedição, as duas caravelas que voltaram, muito menos arriscadas. galhães envia à “Victória” uma embarcação chegaram a Sevilha carregadas de pau- com homens da sua confiança, armados, -brasil, cortado na origem. O rei português, com o pretexto de entregarem ao co- ao ter conhecimento da notícia, protestou mandante uma carta do Capitão general. junto do seu homólogo espanhol. Mendoza autoriza o desembarque, mas Magalhães manda executar uma deta- quando abre a carta que lhe é dirigida cai, lhada prospecção deste estuário que o ferido de morte, apunhalado por Gonçalo reterá nesta zona cerca de três semanas. Espinhosa. Pouco depois os três restantes Estes levantamentos que, dada a extensão navios rebeldes cercam a “Trinidad” para das águas, eram indispensáveis para não impedir o acesso à baía. Magalhães, ser ultrapassado inadvertidamente o alme- aproveitando a escuridão, manda alguns jado canal, revelam-se infrutíferos e urgia dos seus homens fiéis cortar as amarras da continuar o mais possível para Sul antes “San António”, enquanto a guarnição de ganhar resguardo para hibernação aus- dormia. Logo que este navio, desgoverna- tral. Nota-se que outros capitães queriam do e ao sabor da corrente de maré, embate ainda permanecer mais tempo, possivel- no “Trinidad”, é tomado de assalto pela mente para ficarem a aguardar o regresso guarnição deste, fiel ao Capitão general, do Verão numa zona de temperaturas que sufoca a revolta. Magalhães, com os mais amenas. poderes que lhe foram outorgados, conde- A costa para Sul apresentava-se e apre- na Quesada à decapitação e abandonará na senta-se com um aspecto desértico e com praia, à largada, Juan de Cartagena e o uma série de elevações geralmente afas- Padre Sanchez de Reina, da sorte dos quais tadas da borda de água, de altitudes ron- não se conhece notícia. dando os mil metros. Vistas à distância, os Entretanto Pigafetta, que não se debruça acessos das diversas baías projectavam-se especialmente sobre a revolta, procura sobre estas elevações tornando difícil a Costa da América do Sul (a Sul do Rio da Prata). fazer um levantamento sobre usos e cos- verificação de possíveis entradas quer de tumes dos indígenas da região, elaborando rios quer da passagem pretendida. Exis- Com a aproximação do Inverno Austral, um pequeno dicionário das palavras mais tiam contudo algumas baias extensas Magalhães resolve hibernar até ao fim usuais. (Bahía da Anegada, Golfo San Matías, desta Estação o mais a Sul possível, esco- A maneira determinada mas dura como Golfo S. José, Golfo Nuevo, Golfo San lhendo uma enseada de fundos baixos Magalhães resolveu a crise tem tido os Jorge e Bahía Grande) e rios navegáveis mas bem abrigada dos ventos domi- comentários mais díspares. É no entanto (Rio Colorado, Rio Negro, Rio Chubut, Rio nantes, que baptizará com o nome de dever reconhecer que sem um “pulso de Chico e Rio Gallegos) normalmente com Puerto de San Julian (49° 19’ S, 67° 43’ W), ferro” a empresa não se teria ultimado. barras baixas que dificultavam os acessos. onde entra a 31 de Março de 1520. Resultaram no entanto sequelas que iriam Relativamente à configuração destes Avizinhava-se para as guarnições um aumentar o sofrimento e as privações das baixos é hoje difícil, em certos casos, a período de subsistência difícil numa área tripulações, decorrentes da deserção pos- extrapolação para a situação vigente no tão inóspita, com temperaturas baixas, terior do “San António” (navio com os Séc. XVI decorrente das grandes movi- embora com recursos ícticos e de marisco abastecimentos) e de uma certa desorgani- mentações de areias que desde então se que ainda hoje subsistem. zação criada pelas buscas que lhe sucede- verificaram. As más condições constatadas, aliadas à ram já dentro do canal, que indirecta- Começa agora para o Comandante em previsão de degradação meteorológica nos mente levaram à entrada no Pacífico não Chefe a parte mais prometedora e difícil. meses seguintes, com temperaturas que preparados para uma viagem de duração Primeiro de tudo tem que rumar ao Sul ao sabemos hoje poderem atingir os dezassete certamente desconhecida, mas muito longo das costas ainda não visitadas e com graus negativos; a falta de protecção ade- superior aos três dias previstos, com um tempo que, tendo em conta o que suce- quada; o inevitável racionamento que tor- abastecimentos a um nível muito inferior dia no Cabo da Boa Esperança, iria sempre nava o rancho ainda mais parco do que ao planeado.  piorando para Sul. habitualmente, para além de um cepticismo Outra prova crucial a ser ultrapassada crescente - possivelmente alimentado por J. Baião do Nascimento era representada pela provável hiber- parte dos oficiais que nunca aceitaram de CMG ECN nação no Atlântico o mais a Sul possível, bom grado a chefia de Magalhães - eram os onde o frio se faria sentir e as lenhas ingredientes favoráveis para a eclosão de (Conclusão no próximo número)

REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 21 OO BeyBey dede TunisTunis DramaDrama emem trêstrês actosactos ee finalfinal felizfeliz

1º ACTO

uma tarde de sol, numa varanda em Sesimbra sobre o mar, lia Nvelhos números da revista O Occidente. Um deles, precisamente do dia 30 de Junho de 1909, trazia a notí- cia do falecimento de José Sabino Alves que, tendo sido capitão da galera Viajante, chegara a Port Said “no pró- prio dia em que se inaugurou a abertura do antigo istmo, transformado em au- têntico canal”. E mais, o articulista salientava que não se tinha perdido a honra do convento, dado que a corveta Estephania, designada para participar nas cerimónias de abertura não con- seguiu estar presente, dado um violento temporal que a obrigou a voltar ao porto de armamento. Achei estranho que Eça de Queiroz, O erro propagou-se. Neste postal que reproduz uma tela com o retrato da galera Viajante, volta a dizer-se que este navio na carta que nos deixou sobre a inaugu- representou Portugal na inauguração do Canal de Suez. ração do Canal de Suez, não tivesse dado conta da presença duma bandeira Virgem Maria; os ateus invocam a de contentamento. Aqui está o meu Bey portuguesa nesse notável acontecimen- morte, a doce aniquilação da matéria; os de Tunis! Vou arrasá-lo! to. Alguma coisa estava errada. mais violentos pensam em atrair o moço E, de facto, não me poupou. Num dos Ao tentar esclarecer esta contradição, da tipografia com palavras doces, cortá- principais jornais da capital, escreveu um soube da existência em França da -lo aos pedaços com uma navalha de longo texto em que se admira “que um Association du Souvenir de Ferdinand barba, esconder os fragmentos na sarjeta ilustre académico recorra a documentos de Lesseps et du Canal de Suez, que foi doméstica...E as botas, lá no fundo, de arquivos franceses para justificar a criada com a finalidade de enaltecer a ironicamente, rangem! presença portuguesa na inauguração do figura deste cidadão ilustre e da obra Ah, caro Chagas, é daí que vêm as cãs Canal de Suez quando sabia da sua priori- que realizou. Por amabilidade da pre- precoces. Sabe você o que eu fiz numa dade ( o sublinhado é meu ) e cumpria sidente desta instituição, Madame destas agonias, sentindo o moço da averiguar até à exaustão os factos aponta- Boisson, recebi a relação dos navios tipografia a tossir na escada, e não dos que devem constar nos nossos arqui- que estiveram nas cerimónia da inaugu- podendo arrancar uma só ideia útil do vos”. E como não tem paciência para, ele ração e na qual não consta a presença crânio, do peito, ou do ventre? Agarrei próprio, se meter em tais arquivos, recorre da Viajante. ferozmente da pena e dei, meio louco, a Armando de Aguiar e à sua obra O Peguei neste assunto, juntei-lhe um uma tunda desesperada no Bey de Mundo que os Portugueses Criaram, para pouco da história da construção do Tunis... me desancar e demonstrar, definitiva- Canal de Suez, talvez o maior No Bey de Tunis? Sim, meu caro mente, que a Viajante esteve na inaugu- empreendimento do século XIX, e apre- Chagas, nesse venerável chefe de esta- ração do Canal: sentei uma comunicação na Academia do, que eu nunca vira, que nunca me “O canal ia ser finalmente inaugurado de Marinha em Março de 1991. fizera mal algum, e que creio mesmo a nesse dia 17 de Novembro de 1869. esse tempo tinha morrido. Não me Porém, naquele momento histórico surgiu 2º ACTO importei. Em Tunis há sempre um Bey; um óbice. Como nenhuma barca ainda arrasei-o.” havia atravessado o canal, não existia Numa tarde chuvosa e fria, um jorna- piloto prático que pudesse conduzir qual- lista esfrega as mãos para aquecer 3º ACTO quer embarcação. Para o comandante enquanto procura um tema para o artigo José Sabino Gonçalves não constituiu isso que tem de escrever para o jornal do dia A chuva continua e agora empurrada contrariedade de maior. Mandou conser- seguinte. Está sem inspiração. Toca o pelo vento, bate violentamente nos vidros tar a gávea, desfraldar as velas. E assumiu, telefone. É da redacção perguntando se da janela. O jornalista procura desespe- ele próprio, a direcção do leme. já tem o artigo pronto. Desespera. radamente entre os papeis que tem em Imponente, com a bandeira azul e branca Lembra-se que o Eça, o grande Eça já cima da secretária. Nem sabe o que batida pela brisa de dois continentes – passou pelo mesmo. Vai buscar as Notas procura. Até que lhe salta à vista um África e Ásia – e saudada pelas marinhas Contemporâneas, e relê este texto sub- recorte com a notícia da minha comuni- dos dois países, a Viajante, aproou ao lime: cação na Academia de Marinha. canal e entrou no Mar Vermelho. Depois “Inferno! E então os crentes rezam à É isto mesmo! E esfrega as mãos, agora, alcançou o Índico. Cumpria-se mais uma

22 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA vez o destino histórico: quilhas portugue- S. Martinho do Porto. O capitão da guinte continuei a navegar e às 24 horas sas eram as primeiras ao oriente por um Viajante, José Sabino Gonçalves foi ali dei fundo em Ismaília, aonde estive fun- novo rumo...” que nasceu. E como há benesses que vêm deado 2 dias, por causa de não se poder E continua dizendo que o país delirou do céu, Tarcísio Trindade possui o Diário passar o Canal, por estar uma draga no com tão ousada façanha. Delirou o país, Náutico da Viajante, precisamente o vo- dito. No dia 1 de Dezembro pelas 2 horas delirou ele, Armando de Aguiar, delirou o lume que tem o registo da passagem por da tarde larguei de Ismaília a donde jornalista que o copiou e deliraram todos Port Said. cheguei a Suez no dia seguinte pelas 4 aqueles que cegamente seguiram o texto Tarcísio não quer desfazer-se desta horas da tarde dando fundo em 5 braças, de O Occidente atrás mencionado, sem o peça da sua colecção, mas ao fim de lodo (...) esperando pela carga que mais pequeno respeito pela verdade. alguns anos de conversa, admite que o descarreguei em Port Saïd para passar o melhor local para conservar a memória Canal, tendo no dito porto navios [de] FINAL do primeiro navio português que atraves- bastante diferentes nações. Sem mais sou o canal de Suez, é a Biblioteca novidade, Sabino Gonçalves”. De novo, um dia de Sol radiante vem Central da Marinha. E cede-o. animar as pessoas e as coisas. As pessoas Agora, podemos ler o que o capitão da ficam mais felizes, as coisas mais bri- Viajante escreveu pela sua própria mão: NR: Ver do autor “O Canal de Suez”, lhantes. Ouve-se ao longe a Celeste Aida, “No dia 27 de Novembro de 1869 (dez publicado nesta revista nos números 292 dessa bela ópera de Verdi que também dias depois da inauguração, dizemos nós) e 293, respectivamente, Nov. e Dez. de não chegou a tempo da inauguração do às 20 horas, larguei de Port Said a reboque 1996.  canal. do vapor, às 5 horas dei fundo no canal. Um bem conhecido livreiro da rua do Com ferro pela pôpa e um virador pela A. Estácio dos Reis Alecrim colecciona obras ligadas a proa para terra, às 21 horas do dia se- CMG OfertaOferta àà MarinhaMarinha dada DissertaçãoDissertação dede DoutoramentoDoutoramento dodo ProfessorProfessor ContenteContente DominguesDomingues

o passado dia 24 de Julho o ao longo dos tempos sobre esta Professor Francisco Contente matéria, com destaque para os Domingues deslocou-se à realizados por Fernando Oliveira, N João Baptista Lavanha e Manuel Biblioteca Central para oferecer à Marinha a obra “Os Navios da Fernandes. A par dos Tratados e Expansão”, a qual constituíu a dis- Regimentos Gerais ou Especiais, sertação do seu recente doutora- que constitui a base da documen- mento. tação técnica portuguesa de Arqui- Docente da Faculdade de Letras tectura Naval, são igualmente da Universidade de Lisboa, onde salientadas as Instruções dos lecciona, entre outras, as disci- Mestres do Ofício. As questões do plinas de História da Marinha método na caracterização tipológi- Portuguesa e da História da Náu- ca dos navios portugueses e a tica e da Arte de Navegar, temas descrição dos vários tipos de estes que não constam no plano de navios e embarcações auxiliares estudos de mais nenhuma univer- são detalhadamente estudadas, sidade portuguesa, o Professor Con- assim como o poder naval por- tente Domingues é autor de inú- tuguês nos séculos da Expansão. meros trabalhos relacionados com Este volume é completado por um a Expansão Portuguesa dos séculos vocabulário técnico de Arqui- XVI e XVII, membro de várias insti- tectura Naval e finaliza com uma tuições de carácter cultural, no- extensa relação das fontes e bibli- meadamente da Academia de ografia consultadas. O segundo Marinha, e também colaborador da volume é constituído por apêndices Revista da Armada (1). O trabalho documentais relativos ao “Livro da em questão, agora ofertado, com- Fábrica das Naos” de Fernando põe-se de dois volumes, sendo o Oliveira, a Regimentos Gerais de primeiro constituído por um estudo Arquitectura Naval e a Orçamentos pormenorizado sobre a Arqui- e Regimes Especiais. tectura Naval Portuguesa dos sécu- los XVI e XVII, onde é feita referên- Nota: cia às obras que foram efectuadas (1) R.A. nos 342 e 343.

REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 23 ReorganizaçãoReorganização dasdas áreasáreas dasdas TecnologiasTecnologias dede InformaçãoInformação ee ComunicaçãoComunicação nana MarinhaMarinha

pós um processo que se desenrolou Comando Naval, da Direcção-Geral de foi analisado e apreciado pelo Conselho do ao longo de 14 meses, concluiu-se Marinha, do EMA, do Instituto Hidro- Almirantado em 1 de Fevereiro de 2001, Ano passado dia 2 de Julho, a primei- gráfico, das Superintendências dos Serviços tendo sido decidida a criação de dois órgãos, ra fase da reorganização das áreas das tecno- Financeiros, do Material e do Pessoal e da um para a Gestão da Informação (GI) e logias de informação e comunicação na DAMAG. outro para as Tecnologias da Informação e Marinha. Os trabalhos desenvolvidos pelo GT- Comunicação (TIC), para além de ter sido Naquela data, foi dada posse pelo Vice- RATICMAR, foram analisados pelo Con- aprovada a nova designação e competên- -Almirante Vice-Chefe do Estado-Maior da selho do Almirantado e na sequência dessa cias da Divisão de Comunicações do Armada e pelo Vice-Almirante Superin- análise, o Despacho do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada. tendente dos Serviços do Material, respecti- Estado–Maior da Armada nº 37/00, de 1 de Na sequência desta apreciação, o relatório vamente, ao Presidente da Comissão Even- Agosto, considerou que importa agora apro- foi aprovado pelo Almirante Chefe do tual da Direcção de Análise e Gestão de In- fundar e detalhar, designadamente no que con- Estado-Maior da Armada que, através do formação (DAGI-CE) e ao Presidente da Co- cerne às áreas que, por manifesta falta de tempo, seu Despacho nº 11/01, de 12 de Fevereiro, missão Eventual da Direcção de Tecnologias não foi possível tratar e que o respectivo relatório considerando que alguns aspectos do relatório de Informação e Comunicação (DITIC-CE). bem identifica. carecem de uma melhor definição, designada- O processo teve início com a publicação Para o efeito, no sentido de tornar mais opera- mente no que respeita às competências e ao fun- do Despacho do Almirante Chefe do Esta- cional e expedita a concretização de tal desiderato, cionamento da nova estrutura, determinou do-Maior da Armada nº 27/00, de 3 de e atenta a natureza agora mais técnica das ver- que no âmbito do GT-GITICMAR, se proce- Maio, no qual, após uma análise da situação tentes a pormenorizar, há que através de um desse: actual dos sistemas de informação e de pequeno núcleo prosseguir os estudos ampliativos comunicações na perspectiva da sua cres- de dois tipos de solução para posterior apreciação: - Ao ajustamento das competências dos dois cente integração, e a constatação da impor- órgãos a criar, um para a área da GI e outro para tância da informação como recurso essen- - Criação de dois organismos (para a Gestão da a área das TIC, por forma a evitar sobreposições cial para qualquer organização, é determina- Informação – GI e para as Tecnologias da ou hiatos, nomeadamente no que se refere à elimi- da a necessidade de estudar a situação na Informação e Comunicações – TIC) nação de competências do órgão GI na área tec- Marinha, tendo em vista a identificação das nológica. grandes linhas a que deverá obedecer uma - Criação de um só organismo com duas solução,de acordo com as seguintes orientações - dependências (GI e TIC) - À clarificação do modelo de funcionamento dos pólos a criar junto dos utilizadores, nomeada- - Dar prioridade à capacidade de definição de Desta forma, o referido Despacho, deter- mente o pólo a criar na margem sul. política, doutrina e estabelecimento de orientação minou a criação do Grupo de Trabalho para estratégica, tendo em vista a obtenção de uma a Reorganização das Áreas da Gestão da - À análise e harmonização das competências visão sistémica dos sistemas de informação inde- Informação e das Tecnologias da Informação dos OCAD, do Comando Naval e da Direcção- pendentemente da sua natureza. e Comunicações na Marinha (GT-GITIC- -Geral de Marinha nas áreas da Gestão da MAR) com a finalidade de definir, para os dois Informação e das Tecnologias da Informação e - Juntar as atribuições respeitantes a sistemas tipos de solução supramencionados, os respectivos Comunicação, face à nova organização. de comunicação e de informação num mesmo modelos organizacionais detalhados, uma comple- organismo. ta clarificação de competências sobre a GI e as Em 2 de Março, através do Despacho do TIC, as necessidades em recursos humanos e Almirante Chefe do Estado-Maior da - Garantir a interoperabilidade entre os materiais, a identificação do local ou locais de fun- Armada nº 16/01, foi criada a Comissão vários sistemas de informação através da cionamento, o calendário adequado para a efecti- Instaladora das Direcções de Análise e capacidade de integração da informação por vação da mudança, os custos perspectivados e as Gestão de Informação e das Tecnologias de todos disponibilizada. alterações legislativas necessárias. Informação e Comunicação (CIGITIC), O GT-GITICMAR, funcionando na com a finalidade de estudar e propor as Neste sentido, foi criado o Grupo de dependência do Vice-Chefe do Estado- medidas que garantissem a activação dos Trabalho para a Reorganização da Área -Maior da Armada, foi igualmente presidi- novos órgãos, desenvolvendo as seguintes das Tecnologias da Informação e Co- do pelo CMG Morais Soares, incluindo acções: municação na Marinha (GT-RATICMAR) ainda os CFR’s Pereira Gonçalves, Mendes com a finalidade de definir, de acordo com Calado, Cunha Manilha, Oliveira Josué e - Proceder, no quadro da nova estrutura aquelas orientações, um novo modelo organi- Bigotte de Almeida e os CTEN’s Gameiro orgânica, à identificação dos recursos humanos zacional para a área em apreço, a fim de garantir Marques, Mónica de Oliveira e Jorge Pires. existentes bem como dos espaços disponíveis com a mais completa clarificação de competências, Em Outubro de 2000, por imposição de vista à sua afectação aos novos órgãos. optimização do empenho dos recursos humanos serviço, o CMG Morais Soares, foi substituí- e financeiros, e flexibilização da organização no do na presidência do GT-GITICMAR, pelo - Proceder à identificação, para efeitos de planea- contexto da evolução tecnológica. CMG EMA Silva Nunes. mento a médio prazo, dos recursos humanos O GT-RATICMAR, presidido pelo CMG O relatório final contendo os estudos necessários e perfis de formação correspondentes, Morais Soares, incluiu representantes do ampliativos realizados pelo GT-GITICMAR, bem como das infra-estruturas a adaptar.

24 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA - Estabelecer o normativo de funcionamento Chefe do Estado-Maior da Armada que em Material, seja presidida por um oficial da interno, definindo o modelo organizacional deta- 26 de Junho, através do Despacho nº 37/01, Superintendência dos Serviços do Material, lhado. determinou a criação da Comissão Eventual e tenha por missão exercer, em regime tran- - Estabelecer o quadro de responsabilidades da da Direcção de Análise e Gestão de sitório, a direcção técnica da Marinha para a gestão do património dos novos órgãos. Informação (DAGI-CE) e da Comissão área das tecnologias de informação e comu- Eventual da Direcção de Tecnologias de nicação. A CIGITIC, funcionando na dependên- Informação e Comunicação (DITIC-CE). Na mesma data, mas através do Despacho cia directa do Vice-Chefe do Estado- No mesmo Despacho, determina-se que a nº 38/01, o Almirante Chefe do Estado- -Maior da Armada, foi presidida pelo DAGI-CE funcione na dependência do Vice- -Maior da Armada nomeou o CMG EMM CMG EMA Silva Nunes, integrando -Chefe do Estado-Maior da Armada, seja Mário do Carmo Durão para presidir à ainda os CMG’s Sabino Guerreiro e presidida pelo director da Direcção de DAGI-CE e o CMG EMA Luís Fernando Carmo Durão, os CFR´s Teixeira Alves, Análise e Métodos de Apoio à Gestão Pereira da Silva Nunes para presidir à Silva Dias e Prata de Almeida, o CTEN (DAMAG) e tenha por missão exercer, em DITIC-CE. Jorge Pires, o 1TEN Marques da Silva e regime transitório, a administração e As Comissões Eventuais da DAGI-CE e como observadores o CFR Ferreira de direcção da Marinha para a área da análise e da DITIC-CE instaladas em espaços da Oliveira, o CTEN Véstias Letras e a 2TEN gestão da informação. DAMAG, da DI e do CITAN, cessam as RC Marques Pinto. Ainda no Despacho nº 37/01, é determi- suas funções com a entrada em vigor dos O relatório final e as conclusões da nado que a DITIC-CE funcione na depen- diplomas regulamentares das novas CIGITIC, foram aprovados pelo Almirante dência do Superintendente dos Serviços do Direcções. 

No passado dia 2 de Julho ocorreram as cerimónias de O CMG EMM Carmo Durão no seu tomadas de posse do Presidente da DAGI-CE pelo CMG discurso referiu que “... Ao criar uma EMM Carmo Durão e do Presidente da DITIC-CE pelo direcção especificamente vocacionada para a CALM Silva Nunes. gestão da informação, na directa dependên- Estas cerimónias foram presididas pelo Vice-CEMA, cia de Vossa Excelência e organicamente VALM Mota e Silva e pelo SSM, VALM Vidal de Abreu, considerada como um OCAD, a Marinha respectivamente. reconhece, não só a importância da infor- Na sua alocução, o CALM Silva mação como suporte da actividade das orga- Nunes salientou “... Considero, neste nizações e elemento essencial e indispensá- momento, ser importante realçar dois dos vel ao seu desenvolvimento, como assume, a vários pressupostos assumidos e sobre os necessidade de gerir este importante recurso, por forma a que se quais assente a lógica da solução adopta- estabeleçam um conjunto de políticas coerentes, que possibilitem o da. O primeiro está ligado à necessidade, fornecimento de informação relevante, rigorosa, de qualidade, premente e inadiável, de estabelecer um transmitida para o local certo, no tempo correcto, com custo apro- planeamento estratégico que discipline e priado e facilidade de acesso por todos os utilizadores autorizados. oriente o desenvolvimento de Sistemas de Com efeito, a sociedade actual é caracterizada, entre outras Informação. Este planeamento deve ser coisas, por ser a sociedade de informação e da comunicação, onde a desenvolvido ao nível do EMA e ter a colaboração activa de todos posse da informação organizada e coerente, é essencial para a toma- os OCAD, do CN e da DGM. O segundo pressuposto relaciona- da de decisão. se com a obrigatória formação de Grupos de Projectos Integrados Neste sentido, a gestão da informação, entendida como a gestão e de Grupos de Controlo da Configuração para levar a cabo a edi- eficaz de todos os recursos de informação relevantes para a organi- ficação e o acompanhamento do ciclo de vida dos Sistemas de zação, tanto os gerados internamente, como os produzidos no exte- Informação e Comunicação Automatizados. (...) rior, torna-se um instrumento indispensável na articulação dos Ponderadas que foram as consequências de uma fase de tran- diferentes sistemas de informação integrantes dessa mesma organi- sição prolongada, que permitisse uma adequada adaptação das zação, ao mesmo tempo que disponibiliza informação útil para a infra-estruturas necessárias a uma instalação definitiva da tomada de decisão, para a obtenção de superioridade de informação DITIC, foi superiormente decidido optar por uma mudança rápi- e para a criação de vantagens competitivas. (...) da e expedita, face aos inconvenientes ligados à manutenção da situação organizacional vigente até agora. A urgência do Conheço bem a área das tecnologias de informação e comunicação arranque da nova estrutura obrigou a uma série de soluções pro- na Marinha e sei, as dificuldades que irei encontrar para afirmar visórias que se espera poder ultrapassar com a possível brevi- esta nova Direcção, sobretudo no que diz respeito, ao défice quanti- dade. (...) tativo dos recursos humanos, disponíveis para o seu arranque. Mas a questão mais séria e preocupante está ligada, sem qual- Mau grado as limitações, acredito que com a actual reorganiza- quer dúvida, aos recursos humanos. A situação, nesta área, é por ção, abre-se uma importante janela de oportunidade, que teremos de demais conhecida e afecta, em maior ou menor grau, toda a saber aproveitar, para podermos pensar, conceber, definir, estabele- Marinha, pelo que se me afigura dispensável considerações cer e normalizar, a arquitectura lógica do sistema integrado de alargadas sobre esta matéria. Considero no entanto adequado emi- informação da Marinha e os sistemas de apoio à gestão, no âmbito tir um alerta, aplicável, sobretudo, na área das Tecnologias de do planeamento estratégico dos sistemas de informação. Informação e Comunicação. A manter-se a actual conjuntura, que tem ditado o afastamento de pessoas altamente qualificadas neste Neste enquadramento, a DAGI terá de ser uma Direcção criativa campo, e a continuar a verificar-se a ausência de medidas correc- e inovadora, permanentemente atenta à evolução dos sistemas de tivas, corremos o risco de atingir uma situação de total ingover- informação e às necessidades de gestão da informação na Marinha, nabilidade, na qual a Marinha perderá a capacidade de definir e mas igualmente atenta, ao desenvolvimento da sociedade da infor- especificar o que pretende, de analisar e avaliar o que lhe é mais mação e do conhecimento e às importantes iniciativas governamen- favorável e de acompanhar, devidamente, as aquisições que faz no tais, para a criação do Estado Aberto, para a promoção da economia exterior. (...) digital e para o combate à info-exclusão. (...).

REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 25 ExercícioExercício dede CombateCombate àà PoluiçãoPoluição MarítimaMarítima PlanoPlano MarMar LimpoLimpo

os dias 8, 9 e 10 de Maio, desenro- lou-se na zona de SINES mais um Nexercício de combate à poluição marítima, no âmbito do Plano Mar Limpo (PML) sob a responsabilidade do Serviço de Combate à Poluição Marítima (SCPM) da Direcção Geral de Marinha, organismo de cúpula daquele plano. O cenário do exercício foi inspirado num acidente real ocorrido em 1989 à entrada do porto de Sines com o petroleiro Marão. Recorde-se a propósito que este acidente O “Barra de Leixões” recolhe produto no Mar. ocorreu em plena época balnear provocan- do um derrame de crude, que para além de recolha de produto e limpeza de praias consequências nefastas para o meio am- nas zonas costeiras supostamente afec- biente provocou sérios danos na economia tadas. Para esta acção o SCPM contou com da região. a colaboração de meios materiais e Assim, o cenário era o seguinte: humanos afectos aos Serviços Municipais Em 9 de Maio o navio tanque “Baleia Bran- de Protecção Civil dos municípios afecta- ca” procedente do Médio Oriente carregado com dos. 130 000 tons de “Iran heavy crude” ao efectuar a Em todo o exercício foi notória a franca aproximação do Terminal Petrolífero do Porto de colaboração entre os diversos organismos Em Vila Nova de Milfontes, pessoal da DGM proce- Sines, debaixo de cerrado nevoeiro, embateu na envolvidos, tal como prevê o Plano Mar de à limpeza da praia com a colaboração de meios cabeça do molhe Oeste tendo sofrido dois rombos Limpo (Autoridade Marítima, Exército, materiais e humanos pertencentes à Câmara Muni- abaixo da linha de água na zona do encolamento, Força Aérea, Forças de Segurança, Auto- cipal e Bombeiros Voluntários de Odemira. os quais afectaram os tanques de BB nºs 1 e 4. ridade Portuária e Serviços Municipais de Supostamente, foram derramadas 4 875 Protecção Civil). Colaboraram ainda presença de peritos na matéria (nacionais e tons de produto, pelo que foi considerado diversas corporações de Bombeiros estrangeiros), que debateram os seguintes que o acidente atingiu o Grau 2 previsto no Voluntários e Empresas Privadas. temas: PML, passando pois a coordenação das - Recuperação de organismos (fauna e operações a ser da responsabilidade directa Como inovação relativamente aos exercí- flora) contaminados pela mancha; do Chefe do Departamento Marítimo do cios anteriores, foram constituídos Grupos - Gestão dos resíduos/Utilização de dis- Centro, conforme prevê aquele Plano. de Trabalho (Tipo Mesa Redonda) com a persantes; O produto derramado viria a afectar as - Armadores/Carregadores: questões seguintes áreas costeiras: legais, técnicas e operacionais. Zona 1 – Lagoa de St. André Zona 2 – Praia da Lagoa de Melides A Direcção Geral de Marinha, em colabo- Zona 3 – Praia de S. Torpes ração com o CILPAN (Centro Internacional Zona 4 – Praia das Furnas de Luta Contra a Poluição do Atlântico Zona 5 – Porto de Sines Nordeste – Acordo de Lisboa) convidou De imediato, após dado o alarme, foi observadores pertencentes a diversos constituído um Centro de Operações que organismos públicos e privados ligados de coordenou as seguintes acções: forma directa ou indirecta às questões rela- - Operação de evacuação de feridos. cionadas com a poluição marítima que - Reconhecimento da mancha. embarcaram no dia 9 no NRP “João Roby” - Operação de recolha dinâmica no mar. onde acompanharam de perto as operações - Operação de recolha dinâmica no inte- no mar. No dia seguinte os observadores rior do Porto de Sines. acompanharam em terra as operações de - Operação de recolha e limpeza do limpeza. Estiveram ainda presentes litoral (Praias). observadores da União Europeia, Reino Unido, Espanha e Marrocos. A operação de recolha dinâmica no mar No final os comentários eram unânimes ficou a cargo do rebocador “Barra de em considerar que o exercício atingiu ple- Leixões”, fretado pela Sacor Marítima e namente os objectivos, não ficando nada a disponibilizado à DGM para este exercício, dever aos exercícios semelhantes que se vão que para o efeito lançou uma barreira realizando nos outros países membros do oceânica e operou um skimmer, devida- Acordo de Lisboa (França, Espanha e Mar- mente auxiliado por um rebocador da rocos).  Administração do Porto de Sines (APS). Vasco Galvão Foram ainda simuladas operações de CTEN protecção de zonas sensíveis, contenção e Localização do incidente e áreas afectadas. (Colaborador do CILPAN)

26 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA NOTÍCIAS VISITA DE ESTUDO DO CENTRO SOCIAL PAROQUIAL DE SOBRADO

Os alunos do Centro Social Paroquial da mesma. Neste sentido, efectuou-se de Sobrado (Castelo de Paiva), visitaram um breve resumo histórico da escola, da no passado dia 2 de Julho a Escola de sua missão e estrutura, sendo referidos Mergulho, um submarino e um navio de os cursos nela ministrados e as suas superfície. actividades complementares. A visita à Escola de Mergulho teve iní- Os alunos tiveram oportunidade de ver cio pelas 14 horas, com uma exposição um vídeo alusivo aos exercícios desenvolvi- aos alunos no âmbito do funcionamento dos no quotidiano da escola de Mergulho.

Na câmara de descompressão.

Seguidamente, visitaram o N.R.P. “Barracuda”, tendo sido dadas as expli- cações alusivas ao seu funcionamento. Após esta visita os visitantes foram encaminhados para o cais de honra, onde se encontrava atracado o NRP “Comandante Sacadura Cabral”. O referido navio, colocou à disposição dois elementos da guarnição para acompa- nharem os alunos e esclarecerem as dúvidas por eles colocadas. Foi ainda efectuada uma apresentação e resenha histórica do navio, englobando uma breve explicação acerca do seu modo de A bordo do submarino “Barracuda”. funcionamento.

ACTUAÇÕES DA BANDA DA ARMADA

A Banda da Armada deslocou-se no foram executadas as obras de E. Franko este evento a confraria de S. Bento, tam- passado dia 22 de Junho à localidade da Goldman, Jacob de Haan, Ferrer Trindade, bém daquela localidade. Vestiaria, concelho de Alcobaça, onde Jacob de Haan e Kees Vlack. A Banda da Armada executou obras de: realizou um Concerto integrado nas O Maestro CFR MUS Araújo Pereira, Goichi Konagaya; Weinz Weitzendorf; Comemorações do 95º aniversário da Chefe da Banda da Armada, escolheu Jacob de Haan; Jay Chattaway e Kees Vlak Sociedade Filarmónica Vestiarense para a segunda parte do concerto obras (1ª Parte), Arr. Paul Lavender; Robert W. “Mons. José Cancella”. de Manfred Scheneider; Luís Alonso; G. Smith; James Horner; Queen J. Salgueiro e Foram executadas obras de G. Rossini; Jiménez; Fortunato de Sousa; R.W. Smith Mozart/Jef. Penders (2ª Parte). Arr. Johan de Meij; Jacob de Haan e Kees e Jay Chattaway. A primeira parte do Concerto foi dirigi- Vlak (1ª Parte), J.Fucik; J. Sibelius; R.W. Local aprazível e de bom requinte, este da pelo Sub-Chefe da Banda da Armada Smith e Queen/J. Salgueiro (2ª Parte). foi pequeno para levar as cerca de mil e Maestro CTEN MUS Carlos Ribeiro e a A primeira parte do Concerto teve a quinhentas pessoas que ali se deslocaram segunda parte esteve sob a direcção do direcção do Maestro CTEN MUS Carlos para ouvir e aplaudir entusiasticamente a Maestro CFR MUS Araújo Pereira Chefe Ribeiro, Sub-Chefe da Banda da Armada. Banda da Armada. da Banda da Armada. O Maestro CFR MUS Araújo Pereira, A grande empatia criada entre o públi- Em primeira audição pela Banda da Chefe da Banda da Armada, teve a seu co e a Banda da Armada foi notável, o Armada, esta executou o Fandango de cargo a direcção da segunda parte do que levou o Maestro CFR MUS Araújo Seixas com arranjo de Jorge Salgueiro, e concerto, assim como os extras-progra- Pereira a executar mais dois temas como para gáudio de todos os presentes, ainda ma. extras-programa. foram executadas as obras: Aniversário, arranjo de Araújo Pereira e Marcha da A Banda da Armada deslocou-se no A Banda da Armada deslocou-se no Marinha de Carlos Calderon, esta aplaudi- dia 30 de Junho à Póvoa de Varzim onde passado dia 8 de Julho a Seixas, Concelho da de pé pelo público. realizou um concerto integrado nas de Caminha, onde realizou um concerto De salientar a presença do Concerto do Festas de S. Pedro. no Largo de S. Bento, integrado nas Presidente da Câmara Municipal de A primeira parte do concerto, dirigida comemorações do 50º Aniversário do Caminha e toda a vereação, assim como pelo Sub-Chefe da Banda da Armada Centro de Bem Estar Social de Seixas, o do Presidente da Junta de Freguesia de Maestro CTEN MUS Carlos Ribeiro, qual teve a colaboração para organizar Seixas.

REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 27 NOTÍCIAS PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO ENTRE A MARINHA E O INSTITUTO DE TELECOMUNICAÇÕES

Realizou-se no passado dia 25 de meios existentes nas duas organiza- Maio, em Aveiro, a cerimónia de assi- ções envolvidas. natura de um protocolo de coope- Depois da cerimónia, decorreu uma ração entre a Marinha Portuguesa e o visita às instalações do Pólo de Aveiro Instituto de Telecomunicações (IT). daquele Instituto e aos Instituto de Enge- O protocolo, que foi assinado pelo nharia Electrónica e Telemática e Vice-Almirante Superintendente dos Departamento de Física da Universidade Serviços do Material em represen- de Aveiro, onde foi dada especial tação da Marinha e pelo Presidente atenção aos projectos em desenvolvi- do Pólo de Aveiro em representação mento com potencial interesse para a do IT, visa propiciar o desen- Marinha. Refira-se, a este propósito, que, volvimento de projectos conjuntos no âmbito deste protocolo, o IT já se nas áreas das Telecomunicações, encontra a desenvolver duas tarefas de Electrónica, Redes de Comunicação investigação e desenvolvimento para a de Dados e serviços associados, Marinha com aplicabilidade no projecto mediante o aproveitamento da com- de Modernização e Automatização das plementaridade de acções e dos Estações Radionavais.

PROTOCOLO ENTRE A MARINHA E A ESCOLA PROFISSIONAL DE MÚSICA E ARTES DE ALMADA

A formação profissional assume cada vez mais uma elevada sionais, detentoras de reconhecido prestígio, valor, experiência e prioridade, senão a primeira das prioridades, da sociedade por- capacidade pedagógica do ensino musical de jovens. tuguesa actual. Neste contexto, foi recentemente celebrado entre a Marinha e A Marinha Portuguesa investiu, desde sempre, na formação a Escola Profissional de Música e Artes de Almada, propriedade militar, naval e profissional, por forma a que os seus militares do Centro Cultural de Almada, um protocolo que estabelece respondam às exigências dos elevados padrões estabelecidos relações de cooperação e de partilha, envolvendo a formação para o desempenho dos cargos que lhe são atribuídos. profissional e artística de instrumentistas e a frequência de está- As condições de ingresso das praças da classe dos Músicos na gios pelos alunos daquele estabelecimento de ensino na Banda categoria de sargento – 12º ano de escolaridade ou nível 3 de cer- da Armada. tificação profissional, complementada com adequada formação A cerimónia pública da assinatura do protocolo realizou-se militar – conjugadas com o facto da formação ser uma responsa- em 12 de Julho. A Marinha foi representada pelo CALM Director bilidade conjunta da instituição militar, que a patrocina e do mili- do Serviço de Pessoal, por designação do Almirante Chefe do tar a quem se exige empenhamento, levarem os orgãos próprios Estado-Maior da Armada, e a Escola Profissional de Música e da Marinha a encontrar soluções para proporcionar aqueles mili- Artes de Almada pelos seus directores, Prof. José Jerónimo de tares a frequência de cursos de instrumentistas em escolas profis- Sousa e Dr. Isabel da Conceição de Oliveira Tavares.

EUROPEU DE MASTER’S MEGACAMPEONATO SAGRA CAMPEÃO UM MARINHEIRO

Leonel de Sousa Gomes – SMOR REF, aos 71 anos de idade é o novo campeão europeu na especialidade dos 100 metros bruços com a marca de 1.42.32. Foi em Palma de Maiorca, de 3 a 8 de Julho do cor- rente ano, que se realizaram os “VIII Campeonatos Europeus de Natação Master’s” e onde estiveram pre- sentes 928 Clubes representando 31 Países e envolven- do 4.500 nadadores dos 25 aos 93 anos. Parabéns ao SAR Leonel Gomes, sobretudo pela sua persistência, o que levou a subir ao pódio nesta com- petição por mais duas vezes, 2º nos 200 metros bruços com 3.48.94 e 3º nos 50 metros bruços com 0.44.03. Assíduo frequentador da piscina do CEFA, deve cons- tituir referência para os mais jovens praticantes que encontram na natação uma preferencial modalidade desportiva e uma forma de manutenção da saúde e bem-estar. Sargento Mor MQ Leonel de Sousa Gomes, Campeão Europeu de Natação Master’s.

28 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA casãomilitar Companhia das Cores

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migos, temos poucos na nossa vida. me impressiona. Um sinal disto mesmo é a ninguém disponível para o ajudar...Triste, Temos os conhecidos do trabalho, os pressão dos familiares, nas épocas festivas ou internei o doente... Avizinhos, aqueles com quem nos de férias, para o internamento dos seus Nos dias seguintes melhorou fisicamente, cruzamos, mas amigos, amigos verdadeiros, idosos, por situações tratáveis em casa. Um mas mantinha o mesmo ar ausente – que temos muito poucos...Amigos, passe o lugar exemplo, foi o de um velho oficial, chegado apresentam muitos os que da sua idade, se comum, são quem nos acompanha no bem e à Urgência do Hospital, pela mão de dois sentem pouco mais que um fardo, dispensá- no mal, na saúde e na doença. Amigos, sabe dos seus três filhos. vel...Parecia, como em muitos outros casos, certamente o leitor, são aqueles que estão Hipertenso desde longa data este oficial que o Sr. Comandante ia entrar na espiral connosco para lá da distância, da solidão e era, há muito, meu conhecido. Tinha sofrido descendente em que depressão arrasta do medo que muita vezes agravamento da doença nos assombra o coração... física e esta agrava a Uma das mais tristes depressão, até um final realidades do nosso mun- triste e solitário. do e, particularmente, da Foi então que, vindo nossa civilização ociden- não sei de onde, surgiu o tal é a solidão a que Amigo – tratava-se de um muitos dos nossos conci- outro oficial da mesma dadãos são votados, no idade que o meu doente. entardecer da vida. Pou- Eram do mesmo curso da cos são os que conse- Escola Naval. Partilharam guem manter até ao final muitos embarques. Fize- uma presença satisfatória ram comissões em África junto da família, contan- e, certamente, haviam do histórias do “seu partilhado emoções pro- tempo”, já esquecido de fundas, que eu, mero todos, mesmo dos seus espectador, não podia próprios filhos e parentes perceber... mais próximos. A maioria O recém chegado trata- é despejada em antecâ- va o meu paciente com maras da morte a que, um grande carinho. eufemisticamente, Chamava-lhe Lourinho, a chamamos “asilos”, se alcunha que lhe ficara da temos pouco dinheiro, ou Escola Naval, nome que “casas de repouso”, se provocava sorrisos mais somos endinheirados, ou ou menos condescen- se pura e simplesmente dentes, nos que os ouvi- pretendemos fazer um am, dada o tom con- tratamento cosmético à trastante entre a jovial nossa consciência... alcunha e a idade actual De vez em quando do Lourinho. Nada disto ouvem-se histórias, mais importava ao Amigo, que, ou menos tétricas, de daí em diante passou maus tratos a idosos. horas infinitas naquele Durante alguns dias vão quarto, falando de aven- rever-se leis, vão castigar- turas passadas e, com- -se culpados, vão criar-se preendendo a profunda centros de apoio. Con- tristeza a que o Lourinho tudo, como é comum neste nosso país, de um acidente vascular cerebral, que lhe havia chegado, ia organizando aventuras tantas e tão vazias leis e regulamentações, granjeou alguma limitação da marcha. Desde futuras - como se tudo fosse possível e o tudo volta ao que era...Além do mais, julgam o falecimento da esposa, vivia saltitando mundo não tivesse tempo... muitos, a velhice, como tudo o que é mau na entre as casas dos filhos. Estes, profissionais Sendo eu um muito mau católico, aqui nossa vida, não é assunto para valorizar liberais de grande sucesso, dividiam o tempo confesso que, nessa época, quase acreditei na muito, para discutir...é uma época triste e de acolhimento do velho oficial de uma existência de anjos. Que esses anjos habitam feia. Parece adequado, para muitos, deixar forma matemática, fria... a Terra e que tomam muitas formas. Não inte- “os velhinhos” nos corredores tristes dessas O doente estava desidratado. Tinha um ar ressa contudo o que pensei, o que era impor- lucrativas casas. Afinal nada se pode fazer...é apático e desinteressado, distinto do seu tante era a força da amizade entre aqueles a vida, dirão outros... modo alegre habitual. Aconselhei o reforço dois amigos e a bondade evidenciada pelo Mais do que a doença, é o abandono e a hídrico, em casa. Os filhos imediatamente Amigo. A harmonia de tal relação obrigava- solidão a que os idosos estão sujeitos, que retorquiram que ia ser difícil, que não estaria -nos, a todos, a estar de bem com a vida...

30 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Penso (e estou quase certo), que a vida de alternância na casa dos filhos. Mas já se que, com estes dois amigos percebi, não há Marinha muito ajuda no forjar de tais não preocupa com isso...Pelo menos uma nada que a amizade não vença... amizades. Internatos, embarques prolonga- vez por semana, o Amigo visita-o. Saem Ora se nos nossos dias se inauguram está- dos, perigos e sofrimentos partilhados são juntos. Vão almoçar à messe. tuas a este ou aquele, que por mérito próprio situações que ajudam a cimentar amizades. O Lourinho nunca mais foi internado, nem se destacou, em praças, ruas e até em viadu- Até eu, em circunstâncias semelhantes, já fiz se apresenta triste nas consultas...Já se não tos, não podia eu deixar aqui de falar no amigos assim, capazes de ajudar nos piores acha “velho”, indesejado... monumento que ergueram a si próprios e a momentos, desinteressadamente... E eu muitas vezes recordo as imagens das todos os que o observaram, aqueles dois Esta história acabou bem. O tardes de Verão, em que dois velhos riam homens. São estes monumentos, quase sem- Comandante Lourinho sobreviveu graças felizes de si próprios num quarto, abafado, pre incógnitos, mas consistentes e ao Comandante Amigo. Nenhum dos dois do Hospital da Marinha. Nesses dias não duradouros, que melhor definem a palavra voltará a comandar qualquer navio, mas compreendia nada, nem a força de tal “Humanidade”. provaram de modo singelo que todas as amizade, nem a alegria que eu próprio sentia Que vivam os dois muitos anos mais.... tempestades podem ser domadas por uma ao observá-los...Essas memórias apagam,  forte amizade...Continuo a ver o Lourinho também em mim, a tristeza, o medo e o de tempos a tempos. Ainda mora em descrédito, que muitas vezes me afligem...É Doc.

BIBLIOGRAFIA “Os Homens dos Descobrimentos e da Expansão Marítima” do Comandante Gomes Pedrosa

O Comandante Fernando artilharia, tudo se encontra com bastante detalhe pelas quase cento e Gomes Pedrosa acaba de dar o quarenta páginas de letra um tanto pequena. nome a um livro cuja edição é da Parece ter sido um “Prémio do Mar Rei D. Carlos” bem aplicado. A Câmara Municipal de Cascais, e Revista da Armada cuida, pelo menos, que fica com a sua biblioteca foi o trabalho que ganhou o assaz enriquecida.  Prémio do Mar Rei D. Carlos - 1997, instituído por aquela S. Machado mesma Câmara. O título: “Os CMG REF Homens dos Descobrimentos e da Expansão Marítima”; com subtítulo: “Pescadores, Mari- nheiros e Corsários”. É um traba- lho que abrange praticamente 0 Paladar do Sonho quanto se sabe sobre estes artí- fices, e outros, da grande tarefa de Jaime Lopes que foram os descobrimentos marítimos dos Portugueses. Porque foram eles também que De poemas tão belos como os fizeram. Foram a gente de boa ralé, gente importante, como é “Mar e Maré”, aos “Poemas com importante a notícia que por este livro nos vem deles. Mote”, e às “Quadras Soltas” o A descrição começa por localizar o lugar onde a história começou, 1TEN OT Jaime Lopes dá-nos (e não é por lapso que este termo “história” está sem maiúscula). uma centena de páginas de poe- Aborda em seguida as actividades piscatórias, entrando nos por- sia que se lêem com muito agra- menores de artes e espécies capturadas, o que se entende como ir ao do. fundo da questão, se é que foi assim pensado; bem como a conser- Será que a terra pesou mais na vação e a comercialização, para entrar de seguida no “declínio”, inspiração que o mar? E quem resultante este, veja-se lá, do novo “emprego” que a gente do mar comanda a inspiração? Seria lógi- começou a ver nas tarefas do que se podia considerar já um pouco a co esperar mais do mar, vindo de actividade de ir a descobrir. Passa depois pela Marinha de Comércio, um marinheiro? Não se coman- e respectiva gente que a compõe: mestres, capitães, patrões, arrais, dam os sentimentos assim tão pilotos, marinheiros, grumetes e pagens, contramestres, escrivães, e logicamente... despenseiros, tudo como forma de contributo para que os descobri- A verdade é que se trata de um mentos pudessem ir por diante. livrinho com cento e poucas A Marinha de Guerra, as formas de alistamento, da construção dos páginas de poesia, de inspiração navios, da gente que nela milita, são temas igualmente chamados pronta e variada, por entre as para o mesmo fim. quais não será de deixar passar sem referir os poéticos apontamentos É abordado ainda o “corso”, como actividade da época, separação das pinturas de Fernando Damião, e o belo prefácio de Ana Feitosa. marcada entre pirataria pura e corso organizado e “oficial”. A Revista da Armada agradece o exemplar oferecido.  Os navios, como não podia deixar de ser, são aqui tratados no por- menor do tipo e da intervenção. A barca, o barinel, a caravela e a S. Machado nau, distinção entre navios de remos e navios de vela, e por fim, a CMG REF

REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 31

QUARTO DE FOLGA JOGUEMOS O BRIDGE PALAVRAS CRUZADAS (Problema nº 35) (Problema Nº 319) 1234567891011 Tente primeiro resolver a 2 mãos tapando E-W 1 2 Norte (N): ♠ ♥ ♦ ♣ 3 D R A A 4 8 6 R 10 2 3 7 5 5 4 6 7 Oeste (W): Este (E): 8 ♠ ♥ ♦ ♣ ♠ ♥ ♦ ♣ 9 V V 6 Q 6 10 Q R 7 8 5 V 3 9 V 9 10 4 5 4 3 2 10 7 11 2 3 6 HORIZONTAIS: 1 – Ovas de peixe; partícula que, no dialecto românico se falava ao sul do Loire, e significava "sim". 2 – Grande navio antigo de carga; duas de Carla; espaço de doze meses. 3 – Sul (S): Modo (fig); observa. 4 – Máxima consignada em poucas palavras; ♠ ♥ ♦ ♣ consoante dobrada. 5 – Saio de malha com lâminas de metal, dos A A 9 8 guerreiros antigos; tritura. 6 – No meio de soba; espécie de betume, sobre que se assenta o ferro e o cobre das embarcações. 7 – Juízos; R D 8 mal que se faz a alguém. 8 – Rio da Suiça; associo por coligação. 9 – 10 7 2 Tecido de seda, fino, macio e lustroso, cuja urdidura se não vê do 9 4 direito. 10 – Nome antigo da coróide (pl.); que dura um ano. 11 – Engradamento que se faz num carro ou num barco, para segurar a 5 palha que se transporta; parte dura e sólida que forma o arcaboiço do corpo humano.

VERTICAIS: 1 – Paus com ferros de três bicos, para vários serviços a Todos vulneráveis, N-S marcam 7♠. Como deve S jogar para bordo; unidade de iluminação. 2 – Mania, caracterizada por certa cumprir este contrato, com saída de W a ♦5 ? aversão aos próprios filhos; ande. 3 – Receio; peixe clupeida que só se reproduz na água doce. 4 – Autores; severidade; antes do meio dia. (Solução neste número) 5 – Coiro de boi com que se resguardam da chuva as cargas dos ani- mais (pl e Bras); apêndice membranoso de alguns animais. 6 – Abreviatura de grau; chiste. 7 – Mais adiante; torna doce. 8 – Isolado; SOLUÇÕES qualquer médico. 9 - Utensílio doméstico (inv); uma das divindades PROBLEMA Nº 35 dos indígenas da América do Norte (pl). 10 – Estudo dos sonhos (pl). 11 – Filtraria; mesmo ou melhor que ulmo (inv). Parabéns se a 2 mãos descobriu a linha de jogo ganhante. Efectivamente, há uma maneira de fazer 13 vazas, e, para isso, S precisa dos ♣3-5 ou 4-4, das ♥3-3 e dos trunfos 3-2 com o V SOLUÇÕES em W. Assim estão na realidade, portanto pode desenvolver o PALAVRAS CRUZADAS Nº 318 seu carteio utilizando a técnica do morto invertido, de que já HORIZONTAIS: 1 – Moela; istmo. 2 – Ofiolatrias. 3 – II; aerea; aqui falámos mais de uma vez. Vejamos então: faz ♦A e joga CC. 4 – Ros; mas; oro. 5 – Agar; atos. 6 – Rias; aral. 7 – Cada; ♣A, ♣ cortado de 10 (fundamental); ♦ para o R e outro ♣ corta- ovos. 8 – Afa; mia; aga. 9 – Li; Lotti; il. 10 – Maleiteiras. 11 – do de 9 (fundamental); ♥ para o R e o último ♣ cortado de A; ♠R Assis; missa. e ♠5 para o 8; ♠D para tirar o V de trunfo baldando a perdente a ♦ da mão; finalmente faz as ♥ que estão 3-3 como se torna indis- VERTICAIS: 1 – Moira; calma. 2 – Ofiografias. 3 – Ei; saída; ls. 4 – pensável. Loa; raa; lei. 5 – Alem; mois. 6 – Aras; Pitt. 7 – Ites; atem. 8 – Sra; aro; III. 9 – Ti; Otava; rs. 10- Macrologias. 11 – Oscos; salsa. Nunes Marques Carmo Pinto CALM AN 1TEN REF

REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2001 33 NOTÍCIAS PESSOAIS COMANDOS E CARGOS

NOMEAÇÕES ● CALM AN Alfredo Rodrigues Batista, Vogal do Conselho da Direcção do Instituto de Acção Social das Forças Armadas ● CMG Américo Artur Pinto Bastos para o cargo 130-Chefe da Secção de Tecnologia da Informação e Segurança do Estado Maior da União Europeia em Bruxelas Bélgica ● CMG António Manuel Mateus Comandante do Corpo de Fuzileiros em substituição do CMG Hernâni Vidal de Resende ● CFR Paulo Domingos das Neves Coelho, Conselheiro Militar MAR na Delegação Portuguesa junto da Organização do Tratado do Atlântico Norte DELMATO em Bruxelas – Bélgica, em substituição do CMG Amaro Coelho da Fonseca ● 1TEN Rui Alexandre Soares Ribeiro Leite da Cunha, Comandante do NRP “Limpopo”, em substituição do CTEN António Manuel Loureiro de Sousa.

RESERVA ● CFR João Manuel Vinagre Lopes ● CFR Luís Antunes Alves ● CFR José Armando Mendonça do Carmo ● 1TEN Floriano das Dores Cruz ● 1TEN José Joaquim Barros Arenga.

REFORMA ● CMG Filipe Horácio Pereira Macedo ● CFR José António Pargana Calado ● SMOR António Damas Malveiro ● SCH Pedro Martins dos Reis ● SCH Carlos Gomes Fernandes ● SAJ Manuel da Silva Regatia ● 1SAR César José Ribeiro Patronilo ● 1SAR Joaquim da Silva Ferreira ● 1SAR Carlos Afonso Nunes Almeida ● 2SAR Francisco Serras Lopes Louro ● 2SAR Luís Filipe Jacob Caldeira ● CAB João da Conceição Freitas ● CAB António André da Silva.

FALECIMENTOS ● CALM REF João Eduardo Marques Ribeiro ● CALM REF Fernando Gabriel Ribeiro da Silva ● CMG REF Pedro Pinto Basto Sá Azevedo Coutinho ● CMG RES Armando Pelágio Garcês Queiroz Lima ● 1TEN REF Manuel Melo Fernandes ● SAJ CM REF Joaquim António P. Lopes Sabino ● SAJ CM REF Francisco António Silva ● SAJ M REF Manuel Teixeira ● SAJ L REF Joaquim Martins Carmo ● 2SAR REF Delfim de Sousa Roriz ● CAB António Luís do Carmo ● CAB REF António de Jesus Pereira ● CAB REF José Maria de Oliveira Ferreira ●CAB REF José dos Santos Fernandes.

“OS MARINHEIROS DE VILA DO CONDE” • Trata-se de uma publicação trimestral elaborada pela Associação de Ex. marinheiros de Vila do Conde, tendo sido já publicados os dois primeiros números. A publicação, com expectativas muito promissoras, visa um maior intercâmbio entre os mais de centena e meia de ma- rinheiros vilacondenses associados, bem como de todos os Núcleos e Associações marinheiras espalhadas pelo país e até no estrangeiro. Apresentando bom aspecto gráfico e com assun- tos bem interessantes cuja divulgação será com certeza bem acolhida pelos leitores. A Revista da Armada agradece os exemplares recebidos, dese- jando as maiores felicidades a esta nova publicação.

RECTIFICAÇÕES • No artigo intitulado “Luís Guimarães Lobato” (1ª parte) pu- blicado na edição de Julho (nº 344) na pág. 18 – 1ª coluna deverá ler-se: ...”Sagres I, com o comandante Tengarrinha”... • Na edição de Agosto nº 345 (pág. 34) no artigo “Notícias Pessoais” – Reserva, saiu CTEN António Augusto Inácio Ramalho Marrafa, deverá ser corrigido o nome para: CTEN António Inácio Ramalho Marrafa. Nos Falecimentos, onde se lê CAB A António Carlos Ramos Pereira Pêgas, deverá ler-se: CFZ António Carlos Pereira Pêgas.

34 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

31. A MARINHARIA DOS DESCOBRIMENTOS

Para aqueles que se interessam pela História da Ciência, nesse ramo apaixonante que se dedica à Náutica, existe uma obra fundamental. Escrita há cerca de 60 anos, A Marinharia dos Descobrimentos continua a ser um compêndio fundamental. O seu autor, Abel Fontoura da Costa, ilustre oficial de Marinha, publicou esta obra nos Anais do Clube Militar Naval, durante os anos 1933 e 1934 e, com a mesma paginação, saiu neste último ano a considerada 1ª edição de 250 exemplares pela Imprensa da Armada. Em 1939, a Agência Geral das Colónias publica a 2ª edição, correcta e ligeiramente aumentada, que reedita em 1960. Prevê-se uma nova edição com um extenso aditamento com a súmula dos progressos registados, a cargo de Luís de Albuquerque (conforme nos diz Teixeira da Mota) mas que nunca veio à luz. A 4ª edição, que se deve ás Edições Culturais da Marinha, por proposta nossa, coincidiu com a XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura – OS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES E A EUROPA DO RENASCIMENTO, realizada em Lisboa no ano de 1983. Abel Fontoura da Costa, nasce em 1869, ingressa na Escola Naval, em 1887 e, ainda jovem aspirante de 1ª classe, publica nos Anais um trabalho de grande interesse para a época “Aplicação das tábuas de Estrada e logaritmos de sub- tracção ao método de Saint Hilaire”, método que se deve ao oficial da Marinha Francesa e que veio dar um impulso importante à determinação do ponto do navio no mar. Em 1901 interessa-se pelas “Pinhas de anel de um só cordão”, um curioso trabalho que indiciava uma propensão para as matemáticas. Depois, foi uma continuada produção de estudos, não só ligados à Navegação, como a outros temas. Distinguimos “A reforma do Calendário” que escreve quando é nomeado para a comissão nacional encarregada de estudar o problema da Reforma do Calendário, “Às Portas da Índia em 1484”, onde aprofunda as viagens de Diogo Cão e Bartolomeu Dias, “A Evolução da Pilotagem em Portugal”. Estes e outros e preciosos trabalhos, foram publicados, especialmente, nos Anais do Clube Militar Naval e nos boletins da Sociedade de Geografia e da Academia das Ciências Dotado de uma invulgar inteligência e de grande cultura, o Comandante Fontoura da Costa, além duma vastíssima obra escrita, participou em várias importantes reuniões, de que destacamos: o III Congresso Internacional de História das Ciências (Portugal, 1934), o I Congresso da História da Expansão Portuguesa no Mundo (Lisboa, 1938), o Congresso Inter- nacional de Geografia (Amsterdão, 1938) e o Congresso do Mundo Português (Lisboa, 1940). Mas, para além dos predicados mencionados, Fontoura da Costa foi um espírito multiforme que se interessou pelos mais variados assuntos, distinguindo-se sempre de modo notável e a dúvida que nos fica é saber como é que desencanta- va tempo para tudo isso. Foi professor da cadeira de Agulhas, Cronómetros e Navegação na Escola Naval, comandante superior das Escolas de Marinha, director da Escola Naval, da Escola de Educação Física da Armada, da Escola Náutica, fez parte da delimitação de fronteiras entre Angola e o Congo, foi governador da província de Cabo Verde. E para além do desempenho destas funções, de certo modo ligadas à profissão de oficial de Marinha, Fontoura da Costa foi reitor do Liceu Central de Lisboa, esteve ligado à educação física participando nas reuniões internacionais de Bruxelas, em 1910. No dia 23 de Setembro deste mesmo ano foi criada a Associação de Futebol de Lisboa e o nosso ilustre comandante foi o seu primeiro presidente. Por pouco tempo, talvez consequência da República ter sido implantada alguns dias depois. Todavia, a faceta mais curiosa de Fontoura da Costa é a sua paixão pela criação de canários, em que foi mestre insigne, procurando teimosamente o cruzamento que permitisse obter canário com novas plumagens. Numa conferência que fez no salão do jornal O Século e, depois, publicada com o título O Canário Encarnado, publicado em 1935, descreve-nos pormenorizadamente os seus múltiplos ensaios, terminando assim: “Para isto agi com ciência, pois que, embora o preto ainda venha longe, o vermelho já se vislumbra no próximo horizonte primaveril: e todos vós possuís essa paciência e per- severança que tudo alcança”. Fontoura da Costa não pode ser esquecido. Todavia, o seu nome está, acima de tudo, ligado à investigação, especialmente, no domínio da História da Navegação da qual, devido à limitação do espaço, deixamos ao leitor uma ténue imagem. Consciente dos seus conhecimentos nesta matéria e acreditando numa rápida evolução da determinação da posição do navio graças da radiogonometria, este mestre ilustre, previu, em 1930, o que seria o “ponto herteziano ideal, expoente máximo da simplicidade: – Uma rede de possantes estações terrestres, modelarmente apetrechadas e devidamente equipadas com calcu- ladores mecânicos, fornecerão a posição do navio a quem radiotelefonicamente lho peça: Allô... o meu ponto? - Que de cinco minutos decorridos ser-lhe-ão transmitidas as coordenadas desejadas; uma segunda, uma terceira chamada para outras estações bem colocadas azimutalmente, permitirão a necessária verificação”. Mesmo para os génios, não é fácil fazer futurologia! E por fim, referindo-se ao Comandante Fontoura da Costa disse um dia o Comandante Quelhas Lima (pai) “do Português insigne, castiço, orgulhoso da sua Pátria, do professor eminente, do investigador infatigável, estudioso e genial da História Náutica dos Portugueses, mestre excepcional, ouvido e acatado nos mais exigentes centros de cultura do Mundo, do cidadão incorruptí- vel, tolerante e humano, do marinheiro ilustre, altivo e apaixonado da sua profissão, do camarada exemplar, sem mácula...”

Biblioteca Central da Marinha (Texto de A. Estácio dos Reis, CMG) Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

31. A MARINHARIA DOS DESCOBRIMENTOS PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 347 • ANO XXXI NOVEMBRO 2001 • MENSAL • 250$00 / € 1, 25

A MARINHA RACIONALIZA OS TRANSPORTES Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas

Nos finais do século XIX, dentro do plano de reordenamento do porto de Lisboa, foram construidas diversas docas, entre as quais, surgiram na margem norte as duas mais a juzante: Belém e Bom Sucesso. Em 1913 a Marinha Portuguesa criou a designada “Estação em Terra de Submersíveis” situada na Doca de Belém. Tratava-se das instalações de apoio à 1ª Esquadrilha. Na foto superior vêem-se atracados a um pontão na referida Doca os submersíveis “Golfinho”, “Foca” e “Hidra” daquela esquadrilha. Em Setembro de 1917 foi criado o Serviço de Aviação da Armada, tendo sido localizado o primeiro Centro de Aviação na Doca do Bom Sucesso. Aí chegaram em Dezembro de 1917 os dois primeiros hidroaviões FBA e o Centro entrou em operação sob o comando do então CTEN Sacadura Cabral. Na foto inferior reconhece-se o hidroavião “Lusitânia” na Doca do Bom Sucesso em 30 de Março de 1922 momentos antes da partida para a travessia aérea do Atlântico Sul. SUMÁRIO

Publicação Oficial da Marinha A cooperação luso-francesa Periodicidade mensal na génese da Aviação Naval Nº 347• Ano XXXI 8 Portuguesa. Novembro 2001 Director CALM EMQ RES Luís Augusto Roque Martins Chefe de Redacção CFR REF Jorge Manuel Patrício Gorjão Redacção 2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito Secretário de Redacção 1SARG T Vitor Manuel Gaspar Lopes Colaboradores Permanentes 12 CMG REF Raúl de Sousa Machado A definição da nova doutrina CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos de transportes da Marinha CFR Abel Ivo de Melo e Sousa e as suas principais linhas 1TEN REF Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves de orientação. Administração, Redacção e Publicidade Edifício da Administração Central de Marinha Revista da Armada O D.A.E. do Corpo de Fuzileiros Rua do Arsenal em exercícios combinados com 1149-001 Lisboa - Portugal 26 forças especiais dos E.U.A. Telef: 21 321 76 50 Fax: 21 347 36 24 Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt e-mail da Revista da Armada [email protected] Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito, montagem e produção Página Ímpar, Lda. Estrada de Benfica, 317 - 1º F 1500-074 Lisboa Tiragem média mensal: 6000 exemplares 27 Preço de venda avulso: 250$00 Entrega dos prémios Registada na DGI em 6/4/73 da R.A. referentes com o nº 44/23 ao ano 2000. Depósito Legal nº 55737/92 FOTOGRAFIAS ANTIGAS, INÉDITAS OU CURIOSAS 2 ISSN 0870-9343 PONTO AO MEIO DIA 4 11 DE SETEMBRO DE 2001, TERRORISMO OU GUERRA (I) 5

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 347 • ANO XXXI NOVEMBRO 2001 • MENSAL • 250$00 / € 1, 25 LANÇAMENTO DO LIVRO DO CONTRA-ALMIRANTE LEAL VILARINHO 7 TIMOR A CAMINHO DA INDEPENDÊNCIA 10 O NOVO PATRONO DO CURSO DA ESCOLA NAVAL 11 A MARINHA DE D. MANUEL (19) 16 A VOLTA DE MAGALHÃES (CONCLUSÃO) 17 VIAGEM DE INSTRUÇÃO DO CURSO “VALM MAGALHÃES CORRÊA” 22 Autocarro TP 85 LABORATÓRIO DE ANÁLISES FARMACO-TOXICOLÓGICAS em frente do Palácio do Alfeite. DA MARINHA – ACTIVIDADES DO ANO 2000 24 Foto de: A MARINHA HISTÓRIAS DA BOTICA (13) 30 RACIONALIZA Francisco Calhau OS TRANSPORTES Maquinista 2ª Classe. BIBLIOGRAFIA 31

ANUNCIANTES: QUARTO DE FOLGA 33 OGFE - Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento; TELERUS - Sistemas de Telecomunicações, S.A. NOTÍCIAS PESSOAIS/CONVÍVIOS/BÓIA DE ESPERA 34 PATRIMÓNIO CULTURAL DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 3 PONTO AO MEIO-DIA Reflexão sobre o futuro

clima de ansiedade que as For- verifica-se que, contrariamente ao que forças de operações especiais em arma- ças Armadas estão a viver foi, se possa julgar quando falamos de ope- mento, equipamentos de comunicações Orecentemente, ainda mais agita- rações de paz e conflitos de baixa inten- e línguas faladas, pelo desenvolvimento do pelas consequências do ataque ter- sidade, é necessário pôr em prática as de novas tecnologias aplicadas à infan- rorista às torres do World Trade Centre perícias próprias de praticamente todas taria, às informações e às operações e ao Pentágono. Com efeito, imediata- as disciplinas das operações militares. aéreas, pela capacidade de detectar a mente apareceram opiniões de que Creio que o público em geral já se ameaça química e biológica, pela pro- todos os conceitos e planos teriam que apercebeu de que hoje em dia as forças tecção de redes de computadores, etc. ser repensados face a uma situação e armadas não se preparam somente para Ou seja, são medidas que completam as ameaça inteiramente nova, já que esta um combate de alta intensidade. A sua capacidades militares e de protecção teria que ser combatida com outros preparação e missões estendem-se por civil, não competindo com aquelas, pelo meios e de outro modo. É evidente que uma gama alargada de formas de actua- que há que aguardar serenamente pelo esta nova manifestação do terrorismo ção de mais baixa intensidade, mas que evoluir da situação sem alarmismos internacional requer da parte da comu- contribuem para melhorarem a segu- quanto ao futuro dos programas da nidade internacional uma atitude dife- rança e a estabilidade do mundo. É para Marinha. rente, novos conceitos e meios para as cumprir este leque de missões que o A vigilância das águas internacionais combater; só que esta ameaça não elimi- planeamento de forças da Marinha é e a segurança dos portos volta a ser na as outras, nem os meios para a com- concebido, de modo a garantir as capa- uma prioridade, de onde emerge a bater serão os mesmos, ainda que em cidades operacionais essenciais hoje necessidade de repensar o controlo parte possam servir. reconhecidas pela NATO, preparando- naval da navegação, alguma forma de Subjacente às opiniões que citei está a -se assim para as operações do futuro controlo da autoridade marítima sobre a alegada necessidade de desviar recursos (não para as do passado ...) onde se navegação mercante e de pesca e, ainda, para acudir a esta nova situação, o que, pode também incluir o combate ao refrescar o conceito de defesa marítima no caso nacional, deixaria a nossa terrorismo naquilo que possa ser apro- dos portos e competências dos respec- capacidade militar remanescente ainda priado. tivos comandantes. mais ameaçada. Parece evidente que o O problema do terrorismo trouxe de Tão mau como não ter à disposição terrorismo se combate mais com “soft- novo às primeiras páginas a questão das forças e capacidades operacionais é não ware” do que com “hardware”. Com- informações. As informações condi- saber como as utilizar. O decisor políti- bate-se com a política, a economia, a cionam praticamente tudo nas ope- co, o decisor do nível estratégico-mili- educação, as informações, a vigilância, rações, desde o seu planeamento até à tar, o comandante conjunto, todos de- tudo encapsulado num bom conceito de protecção do pessoal. A sua recolha vem ter a noção perfeita de como uti- operações de informação. Neste sentido deve ser feita com antecedência e nas lizar e tirar vantagem da dimensão não parece adequado pensar que à par- áreas problemáticas. A contribuição na- naval e das mais valias que lhe são ine- tida, todos os planos e programas este- val para um panorama correcto da situ- rentes. Até agora, nas crises da última jam em causa à espera de um novíssimo ação deriva de acções de reconhecimen- década, as forças navais foram as pri- conceito estratégico. O mundo é o que é to e vigilância, da análise das comuni- meiras a comparecer, porque a pron- e tem evoluído por vezes da maneira cações, das emissões electrónicas e acús- tidão e mobilidade lhes é inerente. Para mais inesperada, mas curiosamente, na ticas, dos informadores, etc. Como é tal é preciso saber mandar largar os continuidade da evolução as tarefas sabido um submarino colocado anteci- submarinos na altura própria, ter a navais não sofrem grande alteração, padamente na área de operações para força posicionada na área de operações ainda que o seu contexto possa mudar. colheita de “indicators and warnings” é em tempo e mandar intervir no melhor Hoje as operações são sobretudo no um multiplicador de força excelente, momento. litoral, num campo de batalha tridimen- capaz de nos dar indicações quanto ao Tudo isto tem que fazer parte de uma sional e em espaço mais confinado, desenvolvimento de uma crise ou de cultura política e de Defesa Nacional onde as agora chamadas ameaças uma acção, e de ajudar o responsável a indispensável a uma apreciação correcta assimétricas e não convencionais pode- decidir o desencadear de uma operação. das opções e planos militares, porque rão estar presentes. A concepção das Trata-se de facto de apoio naval à reco- erros nesta matéria são irreversíveis e forças é expedicionária e conjunta, o lha de informações que poderá ser ao de consequências gravíssimas que per- que requer combinar as capacidades de nível estratégico, operacional ou táctico. duram por muito tempo. cada ramo mais adequadas à missão. Este é um exemplo, como tantos outros, Que a tragédia que se abateu sobre os Hoje em dia as forças navais têm um que ilustra a necessidade de coerência Estados Unidos da América tenha, pelo papel mais alargado do que o simples num sistema de forças. menos, o mérito de nos fazer reflectir so- cumprimento dos objectivos da cam- No tempo decorrido desde o 11 de bre estes assuntos é o que se deseja.  panha naval. A sua utilidade está no Setembro produziu-se abundante lite- contributo para uma campanha mais ratura sobre esta questão e parece poder vasta cujo objectivo se encontra, inva- concluir-se que o combate à ameaça ter- J. Ferreira Barbosa riavelmente em terra. Mesmo assim, rorista passa por um melhoramento das CALM

4 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA 1111 de de SetembroSetembro dede 2001,2001, TerrorismoTerrorismo ouou GuerraGuerra (I)(I)

Julga-se que a ameaça islâmica nunca damente se desenvolveram e alastraram grama de modernização, o Xá Nadir Khan, poderá ser uma verdadeira ameaça, como fortes movimentos nacionalistas por todo o (pai do actual rei do Afeganistão no exílio) a define a estratégia, e não será militar con- cinturão islâmico: Norte de África, Próximo e assassinado em 1933 pela mesma razão e, vencional. Ela será política, fragmentada e Médio Oriente, Sul e Sueste da Ásia. Alguns no Irão, o caso mais recente do Xá Mohamed não coordenada na sua origem, dispersa dos acontecimentos mais importantes terão Reza Pahlevi, que lançou a “Revolução Ver- quanto aos alvos escolhidos, desinteressada sido a nacionalização da indústria petrolífera de” para a irrigação, sedentarização e desen- pelo diálogo, até porque não será fácil iraniana (2 de Maio de 1951), a revolução volvimento agrícola, deposto em 1979 pela encontrar interlocutores, e sempre violen- republicana egípcia (1952-4) e a nacionaliza- revolução fundamentalista liderada pelo xiita ta. Continuará a recorrer frequentemente ção do Canal do Suez (26 de Julho de 1956) Aytolla Sayed Ruholla Mussavi Khomeini. Já ao terrorismo, ao terrorismo suicida, e (1), a revolução republicana e o regicídio no Mustafá Kemal, conhecido por Kemal Ataturk pode até realizar acções militares de êxito Iraque (14 de Julho de 1958). e considerado o pai da Turquia moderna, impossível, que para os ocidentais pare- A Conferência afro-asiática de Bandung conseguiu organizar e ocidentalizar a repú- cerão actos de loucura ou de desespero. (18 de Abril de 1955), onde foram reconheci- blica Turca, como Estado laico. António Emílio Sacchetti, dos como líderes do Terceiro Mundo dois Aquele movimento revivalista raramente se - Nação e Defesa, IDN, Abr-Jun 1995, p. 22 Chefes de Estado muçulmanos, Sukarno e desenvolveu sob a forma de “revolução tran- - Segurança Europeia, ISCSP, 1995, p. 131 Nasser, e um terceiro indiano, Neru, foi um quila”. Os Governos reagiram, e se já eram grito contra a presença ou o domínio políti- autoritários, mais autoritários se tornaram. O HORROR co, económico e militar do Ocidente. Mais Pelo seu lado, os revivalistas, vendo dificulta- tarde, desenvolvendo as ideias anti-colonia- da a sua acção, organizaram-se em grupos, Terça-feira, 11 de Novembro de 2001. As listas e anti-imperialistas aceites em Bandung, cada vez mais violentos. Começou a instabi- torres gémeas do World Trade Center de e rejeitando a hegemonia dos dois blocos lidade interna, crescente, do mundo islâmico. Nova Iorque foram destruídas e o edifício do Leste e Oeste, formou-se o Movimento dos Nessa época, anos 60/70, o apoio do Oci- Pentágono em Washington parcialmente Não-Alinhados com uma liderança tripartida dente a alguns Governos em dificuldade demolido pelo choque e explosão de três informal: Tito, Neru e Nasser (reunião em mais agravou a violência dos grupos radicais aviões das linhas aéreas comerciais dos Brioni, Jugoslávia, Julho de 1956). e orientou parte dessa agressividade acumu- Estados Unidos pilotados por terroristas suici- Na generalidade, os governos nascidos lada contra o Ocidente que responsabi- das. Um quarto avião, impedido de acertar destes movimentos nacionalistas dos anos 50 lizavam por muitos dos males que os atingia. no alvo pela luta corajosa de alguns pas- e 60, ou os programas nacionalistas que pre- Por outro lado, as acusações ocidentais aos sageiros, despenhou-se no solo. tenderam executar, falharam redondamente. grupos extremistas tiveram tendência a gene- Muitas são as perplexidades suscitadas por E assim se pode compreender que os erros ralizar-se a partir da década de 80. estes actos bárbaros. A contenção das dos movimentos nacionalistas tenham dado O que começou por ser uma revolução reacções foi, em parte, uma consequência da lugar ao aparecimento, também generalizado, fundamentalista que dizia respeito apenas às petrificação perante a enormidade. O deses- de movimentos revivalistas, importantes a par- correcções internas de parcelas do mundo pero alimentou a energia para a remoção dos tir da década de 70, por vezes chefiados por islâmico, passou a ter também momentos de destroços. A esperança fez prolongar as bus- políticos nacionalistas que não tinham partici- manifestação xenófobas, nomeadamente cas. Pediu-se à nação americana que abafasse pado nas anteriores estruturas do poder ou que contra o Ocidente (2). As elites que lidera- a raiva e o desejo de vingança. Evocou-se a delas tinham discordado e se haviam demarca- vam as minorias revolucionárias tinham coragem e o patriotismo para retomar a nor- do. Mais tarde aderiram a esse movimento oposição interna e frequentemente careciam malidade, que não mais será o que foi. Reco- revivalista as elites universitárias e profissionais. de apoio popular. Mas esse apoio popular mendou-se cabeça fria e nervos calmos para E se os movimentos nacionalistas procu- aparece, quase exclusivamente quando a pensar e cumprir o castigo do terrorismo, para raram a independência política e económica agressividade é orientada contra o Ocidente. reduzir a possibilidade de repetição. face ao Ocidente, embora aceitando alguns Se compararmos os movimentos nacionalis- O horror, a inteligência e a criatividade tão “princípios ocidentais úteis” ou alguma cola- tas que deram origem à multiplicação das mal orientadas, a capacidade de evocar para boração, os revivalistas desenvolveram ideias independências no século XX, verificamos que a destruição o Livro mais lido do mundo que fundamentalistas de recuperação dos valores muito fracas elites surgiram no mundo árabe, foi ditado para a salvação, tudo isto provoca culturais tradicionais islâmicos, com total mesmo em relação à África de Houphouet- uma série de pensamentos que não cabem erradicação dos valores culturais ocidentais. -Boigny, Kenneth Kaunda, Jomo Kenyatta, num simples artigo. Como se verá no capítulo sobre o Afega- Amílcar Cabral, Francis Nkrumah, Agostinho nistão, já assim havia sido antes, várias vezes, Neto, Léopold Senghor, Nelson Mandela, etc.. NACIONALISMOS E REVIVALISMOS simplesmente o movimento fundamentalista Apesar de terem alcançado a indepen- não tinha ainda sido baptizado nem pôde dência muito mais cedo do que os Estados Após a Primeira Grande Guerra, a quase beneficiar da força contaminadora da infor- africanos, e de serem dos mais ricos do totalidade dos países do Mundo Árabe e do mação global. Mais ainda, é importante notar mundo, os países árabes e alguns islâmicos, Mundo Islâmico do centro da Ásia alcançaram que a ideia de adopção dos valores ociden- com excepção dos pequenos sultanatos e a independência, embora alguns na condição tais não foi uma imposição colonial, mas emirados, não têm tido governos ou elites de Protectorados. Outros, poucos, tiveram que uma iniciativa interessada de modernização que resolvam os problemas sociais nacionais esperar pelo fim da Segunda Grande Guerra assumida por líderes nacionais que queriam e que reduzam o fosso entre os muito poucos para se libertarem de ocupações militares tem- o desenvolvimento do seu povo, tal como o muito ricos e os muitos muito pobres. porárias e da influência ocidental. Xá Amanullah do Afeganistão exilado em Conseguiram, com sucesso, desafiar a Envolvidos nos ventos da mudança, rapi- 1929, dois anos após ter lançado o seu pro- economia do mundo mais industrializado em

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 5 1973/1974. Têm poder económico suficiente assume o controlo de uma área geográfica, inglesa. Em 1919, quando o Emir Habi Habi- para corrigir algumas das distorções que quase invariavelmente acaba por dominar bullah foi assassinado e seu filho Amanullah atribuem à globalização, mas o seu imobilis- nações, povos ou parcelas de povos, com cul- voltou a desafiar a influência britânica, deu- mo e conservadorismo por um lado, egoísmo turas e tradições diferentes. Muitas vezes, essas se mais uma pequena batalha entre ingleses e por outro, é impressionante. minorias incluídas na organização política afegãos, após o que foi confirmada a inde- Foi neste ambiente que nasceu o movi- dominante não são assimiladas, depois sen- pendência do Afeganistão (4). mento talibã (deveria dizer-se talibão), dos tem-se alienadas, marginalizadas pelo poder Depois da revolução Bolchevista, em estudantes de teologia, a elite universitária central, e acabam por se manifestar contra ele. 1921, foi assinado o acordo russo-afegão contestatária. Outras vezes, querem afirmar a sua identidade para confirmação das fronteiras, acordo que e pura e simplesmente reivindicam a inde- em 1926 passou a Pacto de Não-Agressão. OS TALIBÃS pendência ou a autodeterminação. Amanullah tomou o título de Xá (rei) em Os impérios, todos os impérios desde o 1927 e quis desenvolver um programa de Foi em Queta (1.2 milhões de habitantes), antigo egípcio, o macedónio ou o chinês, aos ocidentalização. Ainda não havia fundamen- localidade paquistanesa no meio das mon- impérios coloniais pluricontinentais dos sécu- talismos, mas a forte oposição dos Imãs tanhas, próxima da fronteira com o Afega- los XIX e XX, criaram muitas situações desta obrigou-o ao exílio logo em 1929. nistão, a uns 150 quilómetros da importante natureza. Depois de um período de perturbação os cidade afegã Kandafar, que se formaram os Na Ásia sempre perturbada e hoje de novo ingleses apoiaram a subida ao poder do Gene- talibãs. Começaram a evidenciar-se em em guerra, temos vários exemplos: ral Nadir Khan, como Xá. Também este Setembro de 1994. 1. A nação curda, geograficamente agru- procurou a ocidentalização e foi assassinado Era inicialmente um movimento naciona- pada no Curdistão mas politicamente sepa- em 1933. Foi o seu filho Moahmmed Zaher lista, nascido de uma das facções que desde rada pelas fronteiras de quatro Estados: Xá que lhe sucedeu, que governou até 1973, e 1979 combatia o invasor soviético e o gover- Turquia, Síria, Iraque, Irão, e ainda com que hoje está envolvido, apesar da avançada no afegão que este instalara violentamente (3). minorias na Arménia e Azerbaijão. idade, na definição do futuro do Afeganistão. Com a retirada da União Soviética do Afega- 2. Os baluchis, com o Baluchistão divi- A Inglaterra sempre considerou o Afega- nistão, em 8 de Fevereiro de 1988, a guerrilha dido entre o Irão e o Paquistão, numa larga nistão como um Estado tampão entre a afegã envolveu-se numa sangrenta guerra faixa junto ao litoral que apanha uma pe- Rússia/União Soviética e o seu Império da civil, durante a qual se organizou o movimen- quena área do Sul do Afeganistão. Índia. O Paquistão só começou a existir to talibã, fortemente revivalista, com o apoio 3. O Turquestão, dividido entre o Tur- como Estado independente em 1947, com a militar paquistanês e o apoio financeiro saudi- questão Russo ou Ocidental (hoje cruzan- independência da Índia. ta e norte-americano. Os russos, temendo a do o Turcomenistão, o Sul do Casaquistão, No Afeganistão, os diversos grupos étnicos instabilidade que os talibãs podiam provocar o Uzbequistão e o Quirguizistão) e o (já referidos os mais numerosos, os pashtuns, na Ásia Central, mantinham consideráveis Turquestão Chinês ou Oriental. os tajiques e os baluchis), que nem contra a forças militares nas três repúblicas da CEI que 4. Outros povos menos numerosos invasão soviética se conseguiram unir, têm tinham fronteira com o Afeganistão: Turco- como os tajiques, divididos pelo Tajiquis- maior fidelidade à “família”, mesmo à que menistão, Tajiquistão e Uzbequistão. tão do Sul e Afeganistão do Norte, ou os está do lado de lá da fronteira, do que ao A situação de impasse político no Afega- pashtuns divididos pelo Paquistão Centro- poder central que se senta em Cabul, quando nistão e outras acções militares na região do -Ocidental e o Sueste do Afeganistão. é exercido por outra etnia. Golfo levaram os Estados Unidos a reorientar Estas situações têm provocado conflitos e A passagem de um poder de estrutura as suas preocupações. crises muito diversas. Nesta análise interessa próxima da medieval, dividido, ligado aos Os talibãs alcançaram algumas vitórias, apenas relacioná-las com a organização chefes étnicos tradicionais, para um Estado instalaram-se na capital Cabul e estabeleceram política futura do Afeganistão, e ainda com as multi-étnico, não democrático porque a um regime fundamentalista extremamente ra- posições políticas que vêm sendo assumidas democracia ainda não é aceite, tem sido e dical. É surpreendente a demolição dos Budas pela China e pela Federação Russa. ainda é um processo de evolução para o de Bamian (3 de Março de 2001), monumen- qual o Afeganistão não está preparado. A tos históricos que consideram representativos O AFEGANISTÃO sucessão na chefia do Estado, com cerca de de infame aculturação, a prisão de vários uma dúzia de assassinatos e exílios no últi- estrangeiros acusados de “prégar” ideais do O Afeganistão será um dos países interiores mo século e sem nenhuma transmissão de cristianismo (Setembro de 2001) e a atitude do mundo que mais sentiu a importância da poder pacífica, dá bem a ideia de como será ultrajante e retrógrada em relação às mulheres, Geografia, ou o peso do factor geográfico na difícil definir o futuro político do país. O sem que os muitos movimentos feministas condução política dos povos da área. É impor- actual Rei Moahmmed Zaher Xá, tendo go- espalhados pelo mundo se manifestem. tante conhecer a geopolítica do Afeganistão. vernado 40 anos mas também exilado, é E nessa procura do “fundamental”, e nesse Está na encruzilhada de todas as expansões uma notável excepção de estabilidade.  ódio ao “exterior”, dão guarida e apoiam os humanas, no caminho da formação de gran- extremistas que se manifestam contra o des impérios, na rota da seda, das especiarias António Emílio Sacchetti Ocidente. e de muitos interesses económicos. VALM Como se referiu, os talibãs nasceram no Foi invadido pelos gregos e persas do oci- Notas: Paquistão que, com a Arábia Saudita e os dente, pelos mongóis e turcos nas suas inva- (1) Coincidindo com o 4.º aniversário da abdicação Emirados Árabes Unidos, foram os únicos sões de Leste para a Europa. do Rei Farouk e início da revolução republicana egípcia. Estados que reconheceram o regime. Hoje (1 Foi unificado, com fronteiras indefinidas, (2) Veja-se o que já há uns anos se passa na Argélia. de Outubro de 2001) só o Paquistão não cor- em 1747, por Ahmad Xá. (3) Em 1978 um golpe militar colocou no poder Nur tou relações diplomáticas com Cabul. E há Desde 1838 até 1880, o emir Dost Moha- Mohamed Tarik, que assinou um Tratado de cooperação com Moscovo. Em 13 de Fevereiro de 1979 forças rebel- quem pense que se os talibãs forem afastados med e depois o seu filho Shere Ali tentaram des sequestraram o Embaixador americano Adolph do poder, o Governo que os substituir tam- fortalecer e alargar o seu poderio, explorando Dubs, que morreu na operação de resgate realizada pelo bém terá que ter a aceitação do Paquistão. a rivalidade entre a Rússia, a Norte, e a Ingla- Exército. Em 15 de Setembro o primeiro-ministro terra, a Sul, o que deu origem às três guerras Hafizulah Amin derrotou o presidente Tariki, que foi entre o Afeganistão e a Inglaterra (1838-42, executado. Em 27 de Dezembro tropas soviéticas invadi- AS NAÇÕES E OS ESTADOS. ram o Afeganistão e Amin foi executado. Começou a NA ÁSIA 1878-9, 1879-80). guerrilha contra os soviéticos. Em 1907 um acordo anglo-russo, aceitou a (4) Cf. Teed, Peter, Dictionary of Twentieth-Century Desde tempos muito recuados, o poder que independência do Afeganistão sob influência History, Oxford, Oxford University Press, 1992, p. 5.

6 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA LançamentoLançamento dodo LivroLivro DoDo Contra-AlmiranteContra-Almirante LealLeal VilarinhoVilarinho

o passado dia 11 de Julho, na Biblio- local com objectivos culturais. A última das teca Central da Marinha, efectuou- quais em Macau onde acumulou as funções N-se a apresentação da obra “Colec- de Director do Museu Marítimo e Presiden- tânea de provérbios portugueses, franceses, te da Comissão Territorial para as Come- ingleses, alemães e espanhóis” do CALM morações dos Descobrimentos Portugueses. Manuel Eduardo Leal Vilarinho. O Presi- O CALM Leiria Pinto terminou a sua dente da Comissão Cultural, CALM Leiria alocução destacando as reconhecidas quali- Pinto, iniciou a cerimónia tendo, após for- dades do Almirante Vilarinho como poli- mulado as boas vindas aos convidados, glota na medida em que é diplomado em exposto um resumo biográfico do escritor. francês, inglês, alemão e russo tendo lec- Referidos os dados cronológicos da diversi- cionado e produzido vários trabalhos nas ficada carreira do Almirante Vilarinho de duas primeiras línguas. que se destacam os longos períodos de serviço em África e no Oriente, os vários comandos de mar, a chefia de uma divisão do Estado-Maior da Armada e as funções desempenhadas no âmbito do ensino, nomeadamente como professor do Instituto Superior Naval de Guerra, foram salien- tadas as suas actividades na área cultural como Presidente da Comissão Cultural, Director do Museu de Marinha e partici- pante, na qualidade de presidente ou vogal, em várias comissões de nível regional e (Colaboração da Comissão Cultural) “Colectânea de Provérbios”

O autor da “Colectânea de Provérbios” noutra língua. Há colectâneas francesas que índice capaz de palavras-chave. Considerámos referiu-se à sua obra, constituída por três têm listas de provérbios estrangeiros. São no que é indispensável numa obra de consulta. volumes que transcrevem um número entanto traduções para francês e não são apre- Por isso o incluímos, embora tenha grande superior a 15.000 provérbios nas cinco lín- sentados os provérbios originais. extensão. guas referidas e a 2.000 equivalên- Temos que mencionar outras novi- cias. Da sua intervenção passamos dades. a citar: Não há outra colecção de provérbios publicada em Portugal que inclua “Desde muito novo que nos inte- provérbios brasileiros. Julgámos indis- ressámos pelo estudo dos provérbios. pensável fazê-lo. Uma vida profissional muito activa Uma passagem por Macau, permi- impediu-nos de coligir e escolher as tiu-nos incluir também provérbios em fontes e de escrever definitivamente as papiá macaense. O que havia estava notas que fomos transformando em disperso e era de difícil consulta. fichas durante mais de cinquenta anos. Não o fizemos para outros dialectos Nos fins da década de 1940, o plano ou variantes do português por falta de estava definitivamente traçado. O com- fontes. putador não era então de uso corrente o Em 1992 o livro estava pronto no que tornava a tarefa mais árdua. essencial. Atingidos os setenta e cinco anos, Até 1996 foi-se corrigindo e aguar- sentimos que não tínhamos a vida nas dou-se publicação. mãos. Alguns amigos insistiram para Foi uma obra difícil de fazer, difícil que déssemos forma definitiva à obra, de corrigir e emendar em cinco línguas para que o trabalho se não perdesse. diferentes. Sabíamos que seria difícil Há no entanto neste livro alguns aspectos Sempre nos recusámos a fazê-lo e quando o de imprimir. que convirá salientar para a sua melhor com- fizemos assinalámos devidamente o facto. Só Mentiríamos se não disséssemos que nos deu preensão. houve recurso a uma tradução quando era indis- muito prazer a sua elaboração. O trabalho rea- Em língua portuguesa, que saibamos não há pensável para o bom entendimento do texto. lizado foi só por si uma fonte de satisfação que obra semelhante. Não é também do nosso co- Uma lacuna que encontrámos na maioria nos compensou do esforço despendido”. nhecimento que exista um trabalho parecido das obras que consultámos foi a falta dum 

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 7 ReminiscênciasReminiscências FrancesasFrancesas nana HistóriaHistória dada AviaçãoAviação NavalNaval PortuguesaPortuguesa 1ª Parte

A génese da Aviação Naval Portuguesa, que ficou a dever- -se à concepção do Comte. Sacadura Cabral, ocorreu num quadro de cooperação luso- -francesa, no período da 1ª Grande Guerra. Essa coope- ração desenvolveu-se em três fases e em três âmbitos: em 1º lugar, a formação técnica de Pilotos e Mecânicos em esco- Schreck FBA - Tipo B. las francesas; em 2º lugar, a (França, Inglaterra e EUA). Da Marinha, os operacionais e a Escola de Aviação da aquisição de diversos e suces- voluntários foram o 1TEN Artur de Sacadura Armada. Como principal impulsionador sivos tipos de hidroaviões de Cabral e o GMAR AN António Caseiro, que deste plano, Sacadura Cabral desenvolveu os fabrico francês, que equiparam frequentaram o curso de pilotagem na escola estudos para o estabelecimento, organização de Chartres, tal como outros oficiais do e localização do 1º Centro de Aviação as nossas unidades até 1935; e, Exército. Terminado este curso básico, Marítima. Não tendo sido possível a insta- paralelamente a estes factos, o Sacadura Cabral especializou-se em hidroa- lação no Alfeite (1ª escolha), foi decidido estabelecimento de um Centro viões no Centro de St. Raphael (na costa sul), recorrer, com caracter provisório, à Doca do enquanto que A. Caseiro se especializou em Bom Sucesso. Em 14/Dezembro/1917 da Aviação Naval Francesa em aviões rápidos Voisin, em Ambérieu. Outros chegaram ali os dois primeiros hidroaviões S. Jacinto em 1918 (2), desti- 9 oficiais de Marinha foram sucessivamente FBA, e o Centro entra em operação, sob o nado à vigilância anti-sub- brevetados em França, até 1920. comando do então CTEN Sacadura Cabral. Aproveitando esta permanência em marina da costa e portos a França, e tendo obtido delegação de com- OS AVIÕES FRANCESES NA norte de S. Martinho do Porto petências do Ministro da Marinha, Sacadura AVIAÇÃO NAVAL PORTUGUESA Cabral estabeleceu contactos com os meios (ficando a vigilância daí para técnicos e da indústria aeronáutica, o que lhe Os primeiros hidroaviões recebidos de sul a cargo do nosso Centro do permitiu avaliar os vários modelos de França em Janeiro de 1917 foram dois FBA Bom Sucesso). hidroaviões em produção, como base para os (Franco-British Aviation) que, depois de mon- seus planos de criação da futura Aviação tados em Vila Nova da Rainha, por pessoal Marítima (1ª designação oficial). português já especializado, iniciaram a activi- A INICIAÇÃO Regressado a Portugal em Setembro de dade de voo em Março desse ano. A mon- 1916, Sacadura ingressou pouco depois tagem dos aparelhos foi supervisionada pelo Mesmo antes da declaração de guerra da como instrutor e Director da Instrução na Mecânico francês Roger Soubiran, que Alemanha a Portugal (9/Março/1916), já em recém-criada Escola Militar de Aeronáutica, depois viria a ser contratado como Chefe das 1915 o Governo Português abrira concurso em Vila Nova da Rainha. Oficinas do Bom Sucesso, e seria o grande entre os oficiais do Exército e da Marinha, Por Decreto nº 3395 de 28/Setem- colaborador de Sacadura Cabral na pre- voluntários para se especializarem como bro/1917, é criado o Serviço de Aviação da paração e assistência aos aviões nas viagens pilotos-aviadores em escolas estrangeiras Armada, que viria a enquadrar as unidades atlânticas. Ao longo dos anos, foram adquiridos os seguintes hidroaviões de fabrico francês: Por encomenda de Abril/1917, receberam- -se, já em 1918, dois Tellier-T3 e quatro Donnet-Denhaut DD8. Ainda em 1918, entraram em serviço mais seis DD8 vindos de fábrica, e outros oito recebidos da Aéronavale Francesa, quando da sua retirada de S. Jacinto, após o Armistício. Em 1920 receberam-se mais três Tellier-T3. Em 1924 o Comte. Sacadura Cabral encomendou de França um motor Napier Tellier - Tipo T3. Lion de 450 CV, com o qual pretendia

8 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA equipar um dos hidroaviões Fokker para a dade do Centro do sua projectada volta aérea ao mundo. Não Bom Sucesso. chegou, porém, a realizar esse sonho, por ter Foi numa missão de perdido a vida no voo em que conduzia um patrulha aérea a partir desses Fokker da Holanda para Portugal, em do Bom Sucesso, voan- 15 de Novembro de 1924, algures no Canal do no Tellier nº 5, que da Mancha. se perderam no mar o Em 1927 vieram seis Hanriot H 41 para 2TEN Azeredo de instrução e treino. Vasconcelos e o seu Ainda em 1927 receberam-se oito CAMS mecânico, em 23 de 37-A, tendo estes operado até 1935. A sigla Agosto de 1918. CAMS representa a firma construtora O comando do “Chantiers Aero-Maritime de la Seine”. Centro de S. Jacinto foi No total, a Aviação Naval portuguesa teve atribuído ao 1TEN Donnet-Denhaut - Tipo DD8. ao seu serviço 39 hidroaviões de 5 diferentes Larrouy, tendo sido tipos de fabrico francês, representando 32% nomeado oficial de ligação da Marinha por- Na transmissão do comando, o 1TEN do total dos aviões utilizados durante os 35 tuguesa o 1TEN Tavares da Silva (não avi- Larrouy endereçou um ofício ao Director da anos da sua existência. ador). A nossa Marinha forneceu pessoal não Aviação Marítima Portuguesa, enaltecendo especializado para serviços auxiliares e mari- as excelentes relações estabelecidas, que, A AÉRONAVALE FRANCESA nharia. segundo a sua expressão, “...nous ont pér- EM S. JACINTO Os trabalhos de instalação do Centro ini- suadés que nous travaillons au Portugal dans ciaram-se em Janeiro. De França, além do la même atmosphere que si nous avions été Em fins de 1916, os governos português e material de voo, vieram dois hangares de en France” francês acordaram em analisar a situação das campanha tipo Bessoneau, em madeira com nossas costas, face à ameaça dos submarinos cobertura de lona, assim como maquinaria, No curto período de operação efectiva da alemães. O 1TEN Maurice Larrouy, da Ma- equipamento oficial e armamento. O pessoal esquadrilha francesa (Abril a Novem- rinha francesa, Comandante do Centro de técnico, incluindo Pilotos, chegou em Abril. bro/1918) ocorreram dois factos dignos de Aeróstatos de Marquise, foi encarregado de As instalações operacionais e os alojamentos referência: efectuar esse estudo. Do seu relatório resul- das praças localizaram-se em S. Jacinto, O primeiro foi a perda do Piloto Didier, tou a proposta de instalação em Lisboa de enquanto que os serviços administrativos desaparecido com o seu avião durante uma uma base de dirigíveis e hidroaviões, e duas ficaram na margem oposta, na zona chama- missão de patrulha ao largo da costa. outras bases de hidroaviões, uma no Norte e da do Forte. Os oficiais e sargentos alojaram- O segundo, que ficou na História da nossa outra no Sul de Portugal. A do Norte seria em -se em casas particulares e em pequenas participação na Grande Guerra, foi o encalhe Leixões ou Aveiro, e a do Sul em Faro ou pensões, na Barra e mesmo em Aveiro. Esta do vapor “Desertas” na costa, próximo da Lagos. Assim se garantiriam a cobertura de circunstância facilitou um bom relaciona- Vagueira, e seu bombardeamento por um patrulhamento das águas costeiras e dos por- mento entre franceses e portugueses. O con- submarino alemão, sem a desejável reacção tos. O Comte. Sacadura Cabral, porém, exa- vívio e as confraternizações desenvolveram- da aviação francesa. rou um parecer desfavorável à instalação de -se ao bom estilo latino. Um carpinteiro Estes dois factos, que ao longo dos anos uma base de dirigíveis, devido aos inerentes francês casou com uma lavadeira de S. permaneceram na memória das populações custos de natureza logística. Jacinto. E o 14 de Julho desse ano foi come- segundo uma versão gerada na voz do povo, A Convenção entre os dois governos foi morado com a participação de centenas de viriam, inesperadamente, a ser objecto de estabelecida formalmente em 21 de Junho de portugueses das povoações ribeirinhas, que contestação, com base em documentação 1917, tendo o Governo português aberto um acorreram nas suas embarcações aos festejos fidedigna, que me foi proporcionada na crédito de 500.000 francos para aquisição de bem providos de “comes e bebes”, no Centro sequência da visita da delegação da material aeronáutico francês. Francês. Nesse dia à noite, a Marinha Academia de Marinha Francesa. Tal circuns- Deste programa apenas se concretizou o Portuguesa obsequiou os franceses com um tância justifica uma nova abordagem deste apetrechamento do Centro do Bom Sucesso jantar em Aveiro, presidido pelo Almirante assunto numa próxima edição da R. A., no em 1918 com quatro hidros DD 8 e dois Almeida d’Eça. intuito de restabelecer a verdade histórica. Tellier-T3, tendo a Aéronavale Francesa insta- Em 8/Dezembro/1918, cerca de um mês  lado em S. Jacinto uma base equipada com depois de firmado o Armistício, procedeu-se uma esquadrilha de oito DD 8 e dois GL. à transferência da Base Francesa para a Competia a esta base a vigilância da costa Aviação Marítima Portuguesa, tendo assumi- A. J. Silva Soares a partir de S. Martinho do Porto para norte, do o respectivo comando o 1TEN Aviador CTEN Av. REF. ficando toda a restante costa à responsabili- Alexandre Moreira de Carvalho. (Conclusão no número de Janeiro)

Notas (1) Este texto é um breve resumo da comunicação apresentada pelo autor na Academia de Marinha em 13/Maio/1999, por ocasião da visita de uma importante delegação da Academia de Marinha Francesa. (2) Pode parecer estranho, a qualquer piloto de hidroaviões, que tenha sido decidido instalar este centro de Aviação Naval em S. Jacinto, na margem de um canal que corre N-S, e não na Torreira, onde se encontra a maior área disponível em toda a Ria de Aveiro. Só vejo uma razão plausível: é que naquela época, a frota total de barcos moliceiros atingia cerca de 1.200 unidades, e grande parte deles andava diariamente na faina de arras- to nessa zona. Não restava espaço suficiente para os CAMS 37 - A. hidros manobrarem em segurança.

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 9 TimorTimor AA caminhocaminho dada independênciaindependência

pesar das impressionantes atroci- mente face à sua sustentabilidade, a que Marinha. Xanana Gusmão pediu em carta dades cometidas em Timor pelas considerava uma força de 3000 elementos, enviada ao secretário geral da ONU tam- Amilícias, grupos armados pró- metade regulares, das ex-FALINTIL e 1500 bém a componente aérea, num total de cerca indonésios, após o referendo de 30 de reservistas. Por solicitação de altas entidades de 3000 mil homens, sendo 1500 regulares, Agosto de 1999 em que quase 80% da popu- timorenses, Portugal apresentou também número a ser atingido até 2003, devendo 850 lação optou pela independência, num acto nessa altura um estudo conduzido pelo estar preparados antes das eleições para a de surpreendente disciplina as forças Instituto de Altos Estudos Militares que, Assembleia Constituinte realizadas em armadas da Frente Revolucionária de Timor pese embora a geografia do território, se Agosto do presente ano. Leste Independente (FALINTIL) respei- admite que não terá dado ênfase especial à Perante o compromisso internacional taram o apelo de não agressão determinado Marinha. assumido na Conferência de Doadores atrás por Xanana de Gusmão, mantendo-se acan- Perante novo cenário, a Austrália decidiu, citada, em Janeiro de 2001 avançaram tonados nas quatro áreas pré-determinadas, logo em Setembro de 2000, inverter a sua alguns instrutores do Exército português como uniteralmente haviam decidido, posição e tomar a liderança no processo, dis- que, de acordo com a elevada prioridade visando um referendo sem conflitos, mas ponibilizando um programa de cooperação atribuída, montaram o Centro Instrução nas recusando depor as armas até que o conti- na defesa a 5 anos, com um orçamento a montanhas de Aileu, onde 850 ex-FALIN- gente indonésio fosse reduzido e os seus rondar os 3,5 milhões de contos e a cedência TIL cumpriram no período previsto a for- efectivos aquartelados. de assessores à UNTAET, a qual marcou mação básica, incluindo neste número 50 Porém, ao aprovar a Resolução 1272 de 25 para 21 de Novembro de 2000 uma Confe- elementos destinados à componente naval. de Outubro de 1999, que encarrega- A Cerimónia da Graduação ocor- va a Administração das Nações reu em 21 de Junho em Aileu com a Unidas para Timor Leste (UNTAET) presença das mais elevadas enti- de ...estabelecer a segurança e manter a dades no território, tendo na ocasião paz e a ordem..., o Conselho de sido colocados galões e devisas da Segurança da ONU não previu a nossa Marinha aos futuros mari- existência de forças armadas ou de nheiros. (1) defesa de Timor, não permitindo Em Setembro de 2001 e após o assim o administrador, Sérgio Vieira reforço da aprendizagem do por- de Mello, desenvolver o projecto da tuguês, a Assessoria Naval por- criação dessas forças e requerer ver- tuguesa vai iniciar a formação teórica bas para a concretização das mes- durante cerca de dez semanas, visan- mas. Patrulhas da classe “Oé-cusse”. do a recepção das duas lanchas. A A 23 de Janeiro de 2000 a Força partir de Novembro está previsto o Internacional de Timor Leste (INTERFRT) rência de Doadores em Díli, convidando os treino “on job”, admitindo-se o embarque de transferiu formalmente para a UNTAET/For- países interessados para participar na for- guarnições mistas, portugueses/timorenses, ça de Manutenção de Paz (PKF) o comando, mação das Forças de Defesa de Timor-Leste durante cinco meses. Aguarda-se assim, e o brigadeiro-general Matan Ruak, o (FDTL). atento o planeamento, que os navios comandante operacional das FALINTIL, A Austrália prometeu instalações e treino cheguem a Díli durante o mês de Dezembro perguntou: Quem substitui as PKF? específico. Portugal comprometeu-se a dar o de 2001. A semente está lançada! Neste enquadramento as FALINTIL treino básico a começar em Janeiro de 2001 e a Timor-Leste será muito provavelmente a foram ostracizadas nos acantonamentos edificar a Marinha, incluindo a cedência de primeira nação do século XXI e deste novo com progressivo agravamento das con- duas lanchas de fiscalização e a formação milénio. Neste âmbito, Portugal envolveu-se dições de vida até Abril de 2000, data em das respectivas guarnições. No seu âmbito, a numa das ofensivas diplomáticas mais que o presidente do Conselho Nacional de Marinha de Guerra Portuguesa mais uma intensa, dura e eficiente da sua História. Resistência Timorense (CNRT) e coman- vez disse: Pronto!, diligenciando de acordo Agora, salvaguardando o direito de iden- dante-chefe, Xanana Gusmão, aproveitando com a decisão política a cedência a Timor de tidade de um povo, objectivo traçado pelos na altura a estadia do Primeiro Ministro de duas lanchas da classe “Albatroz”. A “Alba- timorenses, importa que a diáspora e a Portugal em Timor, pediu auxílio bilateral, troz“ e a “Açor”, dentro de pouco tempo comunidade internacional estejam atentas e que foi concedido, iniciando-se pouco “Oé-cusse” e “Ataúro” irão, após vários mostrem o seu apoio para a soberania e o depois a oferta de fardamento e formação. anos no mar português, defender e patru- progresso, promovam e cimentem os va- A necessidade da criação de uma Força de lhar outras águas, contribuindo para a lores fundamentais, num país que se pre- Defesa em Timor-Leste surgiu assim numa afirmação de um novo país de língua portu- tende livre e democrático. fase já avançada do processo de transição guesa: Timor Lorosae. Portugal e no caso em análise a sua Mari- para a independência. O autor do presente artigo, CMG Garcia nha, apesar da distância, do contexto e a difí- Em Maio de 2000, a UNTAET entenden- Esteves, comandante da Esquadrilha de cil conjuntura, têm claramente demonstrado do que a futura força de defesa não deveria Navios Patrulhas, foi entretanto designado o seu empenho e a sua solidariedade.  ser apenas policial, conceito inicialmente coordenador da Assessoria Naval, tendo ini- defendido pela Austrália, encomendou um ciado a sua missão em Timor no início de Aniceto Garcia Esteves CMG estudo ao King’s College de Londres, que Junho passado. apresentou no final de Agosto três hipóte- Atendendo às evidências, as FDTL serão Notas ses. A escolhida foi então, fundamental- pois compostas por dois ramos: Exército e (1) Ver R.A. nº 345 – Agosto 2001 (pág. 27)

10 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL GasparGaspar CorteCorte RealReal

aspar Corte Real nasceu em Tavira, cerca de 1450, no seio cuja existência já tinha sido intuída?... A concessão que lhe faz de uma família empreendedora e ambiciosa, ligada ao D. Manuel no ano de 1500 diz claramente que são concedidos G mar e às conquistas ultramarinas desde os tempos do direitos sobre “ilhas ou terra firme que venha a descobrir”, e esse infante D. Henrique. Seu pai fora fidalgo da casa de D. Fernando, parece ser o propósito mais óbvio de uma iniciativa efectuada a duque de Viseu e irmão de Afonso V. Homem de grande energia custas próprias, depois do oceano ocidental já ter sido dividido - João Vaz Corte Real, de seu nome - concentrou a sua actividade entre portugueses e espanhóis, com o Tratado de Tordesilhas. De entre Ceuta, Tavira e os Açores, onde foi capitão donatário de que lhe valia descobrir uma passagem se ela conduzia ao espaço Angra e da ilha de S. Jorge. Para os negócios ultramarinos arras- de jurisdição espanhola? Estaria a empenhar os seus bens numa tou naturalmente os filhos, mas foi a Gaspar que coube partir para empresa de que não poderia colher frutos. Gaspar Corte Real as ilhas atlânticas ainda com tenra idade, recebendo as suas procurava terras e encontrou-as, de facto. Só não conseguiu próprias terras e administrando a capitania em nome do pai, sem- alcançá-las em 1500 porque os mares gelados não lho permitiram. pre que ele se ausentava. A Contudo, no ano seguinte foi até condição de filho mais novo não ao cabo que já avistara, con- lhe dava grandes vantagens tornou-o por sul e voltou a en- numa eventual herança, e isso contrar terra que foi explorando, estimulou-lhe o engenho e a numa extensão de varias cente- argúcia para intuir novas empre- nas de milhas, consubstanciando sas, levando-o buscar a seu o aspecto mais importante do espaço, num Portugal onde que era o “descobrimento” do fervilhavam os sonhos de ilhas século XV e XVI: saber exacta- distantes, com navios a partir e a mente como tinha sido encontra- chegar a todo o instante. À corte, da a nova terra, para que lá se a Lisboa, de toda a parte vinham pudesse voltar sempre. homens pedir ao rei que lhes A 9 de Outubro de 1501, chega desse meios e autorização para a Lisboa uma das naus que o descobrir terras além oceano, e acompanhara. Trás a bordo naturalmente que as ilhas dos grande quantidade de produtos Açores deviam ser um local locais e sete nativos capturados. privilegiado para que a imagi- Outro navio chega a 11 do mes- nação se soltasse, entusiasman- mo mês, trazendo cerca de cin- do os aventureiros que olhavam quenta cativos e também produ- para o mar, do alto das escarpas, tos locais. Dizem-nos os que vendo o sol desaparecer para lá voltaram que aquelas terras ti- do horizonte. nham pinheiros muito altos, ade- Gaspar esteve, portanto, no quados para fazer mastros, fru- centro desta vertigem de desco- tos diversos e deliciosos, animais brir coisa novas e de obter assim e gente que se dedicava à pesca os meios de criar a sua própria num mar excepcionalmente rico. fortuna. E sabe-se que, antes do Era o bacalhau da Terra Nova, final do século, fez uma ou mais que viria a ser conhecido dos expedições organizadas com portugueses até à actualidade. custos, pessoal e navios pró- Monumento a Gaspar Corte Real em S. John na Terra Nova. Uma carta náutica portuguesa, prios. O que não conhecemos é datada de 1502, mostra-nos, de qual o destino que levaram, nem temos qualquer notícia de facto, a Terra Nova, com as árvores muito direitas, tal como cons- descobertas feitas nessa altura. Contudo, no princípio do Verão tam no relato. E está enganadoramente puxada para Leste, para do ano de 1500, saiu de Lisboa com uma nau possante, passou em que possa ser chamada de Terra de el-Rei de Portugal. Por cima, Angra, onde se lhe juntou outro navio, e seguiu para noroeste até num listel, diz-nos que foi descoberta por Gaspar Corte Real, por avistar uma terra a que chamou de Terra Verde (talvez a mandado do referido rei. É a derradeira informação sobre o Groenlândia, que daí herdou o nome). Não conseguiu aproximar- insigne marinheiro que mandou seguir os navios para Portugal e -se devido aos gelos e apenas lhe ficaram as imagens de altas que resolveu ficar no noroeste atlântico, continuando a explorar a montanhas com densos arvoredos, olhados de um mar pejado do costa que descobrira. Nova Escócia? Nova Inglaterra?... Até onde bacalhau que já era conhecido da Europa, apanhado e seco pelos terá chegado?... Não sabemos. Desapareceu como?... Talvez ingleses e irlandeses ao largo das ilhas Feroé e da Islândia. engolido por um ciclone extra-tropical, como viria a acontecer Regressou a Lisboa ainda nesse ano, mas pelos meados da pri- com muitos outros navios ao longo dos séculos seguintes. Pagou mavera de 1501, partiria de novo. Desta vez levava três navios e com a vida a perseverança com que quis continuar a sua missão, estava decidido a não voltar sem trazer notícias mais concretas mas não deixou de mandar a Portugal a notícia daquela nova sobre o que avistara. terra que veio a ser a Terra Nova do Bacalhau.  Especula-se hoje sobre o que procurava efectivamente Gaspar Corte Real: seriam, de facto, terras ou ilhas? ou seria uma outra J. Semedo de Matos passagem para o Oriente, contornando o continente americano, CFR FZ

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 11 AA MarinhaMarinha RacionalizaRacionaliza osos TransportesTransportes

INTRODUÇÃO a sequência do despacho do ALM- CEMA n.º 26/01 de 24 de Abril, Narrancou em 20 de Junho o Sistema Integrado de Transportes da Marinha (SIN- TRA), tendo ainda nesse despacho sido aprovadas as novas Carreiras Internas na área do Alfeite (dias úteis) e as novas dotações de viaturas administrativas, constituindo a altera- ção n.º1 ao Anexo F das Normas Relativas a Viaturas da Marinha (NRVM). A Directiva de Política Naval em vigôr define para a área dos transportes privativos da Marinha a elaboração de um plano inte- grado de transportes, tendo em conside- ração o quadro orçamental existente, a sa- tisfação das necessidades reais da Marinha nesta área e a melhoria do transporte terrestre e fluvial. A definição da doutrina de transportes da Painel informativo das Redes de Transporte. Marinha e as principais linhas de orientação com vista à gestão integrada dos meios ter- a transferência de meios da BNL para a DT e de Novas Dotações de Viaturas Admi- restres e fluviais foram originados nos estudos (de 1992 a 1994) e aprovadas as Normas nistrativas, resultando numa abordagem e recomendações produzidas pelo Grupo de Relativas a Viaturas da Marinha (Despacho integrada (transporte terrestre/transporte Trabalho para os Transportes (GTTRA) em ALM CEMA n.º18/94/16FEV.), culminando fluvial) aplicada a toda a Marinha e enfor- 1991, tendo em consequência sido efectuada com a reestruturação da Superintendência mando de princípios de redução e raciona- dos Serviços do Material lização, pretendendo servir melhor com (Decreto-Regulamentar menos meios. n.23/94 de 01 de Setem- Na elaboração dos projectos foram bro), compreendendo a definidos os seguintes objectivos e prin- Direcção de Transportes cípios, que se resumem: com a actual estrutura or- gânica e competências. OBJECTIVOS • Redução racionalizada das carreiras DESENVOLVIMENTO terrestres, através da integração dos DOS PROJECTOS diversos dispositivos existentes na Grande Lisboa; Desde Agosto de 1998 • Redução dos quantitativos da frota a Direcção de Trans- automóvel; portes desenvolveu estu- • Redução das actuais necessidades de dos e procedeu à análise recompletamento da frota; e ao levantamento exau- • Redução da verba necessária para re- stivo das existências e novação anual da frota; necessidades em trans- • Redução da verba necessária para portes de todas as Uni- manutenção anual do 3.º escalão de dades e Organismos da viaturas; Marinha, incluindo os • Redução das necessidades em condu- pequenos Organismos tores e também em pessoal que exerce com dotações aprovadas, funções relativas à utilização e ma- tendo sido realizadas nutenção de viaturas; algumas acções inspec- • Redução de carreiras fluviais; tivas e visitas de trabalho • Redução das necessidades em UAM que permitiram a análise colectivas de passageiros; conjunta com os Co- • Melhor aproveitamento de transportes; mandos e Serviços das • Maior equidade na utilização das car- Unidades envolvidas, reiras; estudos esses que le- • Maior uniformização dos horários das varam à produção dos carreiras e seu melhor ajustamento ao projectos do Sistema horário genéricamente estabelecido Rede de Transportes Terrestres e Fluviais (AM). Integrado de Transportes para a Marinha.

12 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Rede de Transportes Terrestres e Fluviais (PM). Carreiras Internas na área do Alfeite PRINCÍPIOS • Carreiras fluviais ou terrestres baseadas Decorrida a fase de análise e recolha em horários das Unidades genérica- de comentários (de Outubro de 2000 a • Centralização alargada dos grandes mente compreendidas entre as 0900 e as Fevereiro de 2001) envolvendo a to- meios na DT, que funcionará segundo 1700 horas. talidade de Organismos e Unidades da um conceito de 3.º escalão de trans- portes, designadamente a nível de autocarros e pesados de mercadorias; • Centralização de alguns meios, nomea- damente ligeiros, em Unidades que possam ser integradas num conceito de 2.º escalão de transportes; • Eliminação da actual pulverização de dotações, integrando-as nos Comandos Hierárquicos, sempre que seja assim justificado por razões gestionárias ou de flexibilidade operacional; • Redução ou eliminação de dotações, sempre que possam ser suportadas a nível do conceito de 2.º escalão de transportes em que, dada a especifi- cidade da situação, resulte mais racional serem apoiadas por Unida- des próximas, com mais peso especí- fico em necessidades de transportes; • Eliminação das actuais carreiras fluviais BNL-BA6 (diárias) e BA6-Doca da Marinha (bissemanal) cuja utilização Autocarro TP 85 (Carreira BNL –EF ) era reduzida e sua substituição por transportes terrestres; Marinha com a realização de reuniões • Validação anual da frota automóvel, sectoriais e visitas de trabalho, concluiu- baseada em inspecções anuais, a fim -se ser viável a execução dos projectos de actualizar tempestivamente o even- nas condições preconizadas e com os tual aumento ou redução de necessi- ajustamentos considerados adequados a dades que alterações de circunstância desenvolver nas componentes a seguir possam gerar; Paragem de Autocarros na BNL. indicadas:

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 13 ao nível da DT, BNL e UAICM; • Estabelecimento e integração das dotações do Depósito de Munições Nato de Lisboa (DMNL) na DN e dos Depósitos POL NATO de Lisboa e Pon- ta Delgada (DPNL e DPNPD) na DA; • Actualização das dotações do AA e IH; • Estabelecimento de dotações próprias para o CNED, CSAR, CCF, DAS, DGM (CGPM e EAM), SSP e DSS (CMN, CAS e UTITA). • Relativamente aos Organismos e Unidades com dotação de viaturas foi possível reduzir o número de 142 para 92, em virtude de: • Extinção de alguns Organismos (CIMCM, COLOREDO, CDM, CAACM, ERNARP, ERNPD, ERNSAGRES e GGM/SSM); • Integração da dotação da DSP, Re- Embarcação Zêzere partições de Pessoal e TMM na UAINA, que garantirá o apoio a esses CARREIRAS TERRESTRES CARREIRAS INTERNAS Organismos; NA ÁREA DO ALFEITE • Integração das dotações das Delega- • Redução racionalizada das carreiras ções Marítimas nas Capitanias; terrestres através da criação de um dis- • Foi estabelecido, em estreita ligação • Integração da dotação da BCM, CCM, positivo que interligará as principais com a rede de transportes do SINTRA, PCG e Fragata D.Fernando II e Glória Unidades periféricas da Marinha com um conjunto de carreiras internas na no Museu de Marinha, que garantirá o ligação entre a Base Naval de Lisboa área do Alfeite com ligação a Cacilhas apoio a esses Organismos. (polo da Margem Sul), a Escola de e a funcionar nos dias úteis. Fuzileiros e a Esquadrilha de Heli- As novas dotações traduziram-se numa cópteros da Marinha e entre a Doca da NOVAS DOTAÇÕES diminuição de 247 viaturas relativamente Marinha, (Polo da Margem Norte) o às que estavam em vigôr, a que corres- Grupo N.º1 de Escolas da Armada e a DE VIATURAS ADMINISTRATIVAS ponde uma diminuição patrimonial da Estação Radionaval Comandante Procedeu-se à redução, racionalização e ordem de 1 milhão de contos (20%). Nunes Ribeiro, não tendo sido consi- integração das viaturas da frota automóvel, derada uma carreira para o Comando tendo-se considerado: REDISTRIBUIÇÃO DE Naval - Oeiras por existir alternativa • Níveis de centralização e descentra- CONDUTORES PRAÇAS “V” mais adequada de transporte fer- lização adequados aos recursos huma- roviário. nos, materiais e financeiros dispo- Foi necessário redefinir a lotação de con- • Em simultâneo com programas de níveis, garantindo a flexibilização na dutores para as Unidades e Organismos da aquisição de novos autocarros decorre utilização, dos meios, nomeadamente Marinha em colaboração com a DSP/RSP, um programa de inspecção e manu- tenção de 3º escalão das viaturas de transporte colectivo provenientes de outras Unidades e que posteriormente integrarão o “SINTRA”.

CARREIRAS FLUVIAIS • Dispositivo fluvial operando com 4 UAM de transporte de pessoal (uma redundante) e que efectuará carreiras entre a BNL– Doca da Marinha e BNL – Barreiro tendo sido eliminadas as car- reiras BNL - BA6 e BA6 - Doca da Marinha e alterado o protocolo com a Força Aérea, tendo-se considerado igualmente o aumento da população escolar e a guarnição da Escola de Fuzileiros assim como o transporte de pessoal do Arsenal do Alfeite, dispen- sando o contrato em vigôr com empre- sa exterior. • Com vista à sustentação do dispositivo fluvial, foi desenvolvido um programa de manutenção planeada para as em- barcações. Esquisso do Trajecto BNL / EF (Via M. Grilo).

14 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA O pessoal em serviço na DT com um exemplar de cada tipo de transporte. tendo em consideração a respectiva qualifi- pio, atingir uma situação equilibrada que TRA) e estabelecimento das Novas Do- cação (tipo de carta) e sua correspondência responda às reais necessidades da Marinha. tações de Viaturas Administrativas da com as necessidades definidas pelas novas Nesse sentido foi desenvolvido um plano Marinha, considera-se estarem reunidas dotações e existências reais, optimizando de investimento a 5 anos (2000 a 2004) as condições para um melhor aproveita- desse modo a utilização dos meios e para- para recompletamento e renovação da frota mento dos meios de transporte, maior lelamente a adopção pelas Unidades dos automóvel e que viabilizará a implemen- equidade na utilização das carreiras, inte- procedimentos para autorização da creden- tação faseada das diversas carreiras do SIN- gração dos vários dispositivos rodoviários ciação para condução de viaturas ligeiras TRA com a aquisição de novos autocarros das Unidades, economia de despesas, da Marinha. (dois por ano) e de construção de novas redução das necessidades de investimento embarcações de transporte de pessoal e de manutenção da frota automóvel e PLANO DE INVESTIMENTO PARA (2000 a 2008) já em fase de projecto para a melhor aproveitamento do pessoal condu- RECOMPLETAMENTO primeira UAM de 150 passageiros, a con- tor. Essas vantagens associadas ao aumen- E RENOVAÇÃO DA FROTA struir no Arsenal do Alfeite. to do espírito de cooperação do ODT TERRESTRE E FLUVIAL com outros Organismos e Unidades da PERSPECTIVAS FUTURAS Marinha e à tomada de consciência a Tem sido significativo o investimento na todos os níveis das relações de interde- área dos transportes nos últimos anos, política Com o funcionamento do Sistema Inte- pendência e da necessidade de colabora- essa que, se continuada, permitirá em princí- grado de Transportes da Marinha (SIN- ção dos outros para cumprimento da pró- pria missão, contribuirão decisivamente para o sucesso daqueles projectos. Paralelamente encontram-se em curso obras de reconversão do edifício do ex- -Depósito de Material em Trânsito, onde serão instalados os Serviços e Oficinas da Direcção de Transportes e a construção de um parque para viaturas pesadas localizado em área próxima, o qual inte- grará Estações de Lavagem e Lubrificação para pesados e ligeiros. A mudança da Direcção de Transportes das actuais instalações espalhadas por diversos locais, permitirá libertar a Esta- ção Naval da BNL, do estacionamento de viaturas ligeiras, pesadas de mercadorias e de passageiros, melhorando desse modo as condições de segurança, funcionamen- to e manutenção dos meios atribuídos à BNL e DT, em conformidade com o Plano Director da Estação Naval. 

V. Borges Brandão Esquisso do Trajecto DM / G1EA. CMG EMQ

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 15 A MARINHA DE D. MANUEL (19) JoãoJoão dada NovaNova ee aa viagemviagem dede 1501-15021501-1502

inda Cabral não tinha chegado a colocando uma ilha recém descoberta no dimensões apreciáveis, com um monte de Lisboa, nem havia dele quaisquer meio do Atlântico. Sucede, no entanto, que 856 m – porque é que iriam colocar no A notícias, e já partia uma terceira o que está no mapa não é uma ilha, é um mapa mais cinco ilhas que lá não existem?... esquadra a caminho da Índia. Em Março de pequeno arquipélago de seis ilhas cujo Não me parece que faça sentido. Concluo 1501, João da Nova, saía com quatro desenho me parece anterior ao traçado da assim que o que está no mapa português de navios, um deles armado por um comer- teia de linhas de rumo. Olhando com 1502 resulta de outra informação qualquer ciante florentino, de nome Bartolomeu que não a de João da Nova. Uma Marchioni, outro de D. Álvaro (irmão informação difusa – é certo –, como se do Duque de Bragança) e dois da deduz dos erros existentes no mapa, coroa. Esta particularidade é, deveras, mas, de qualquer forma, é anterior à interessante porque dá ideia de duas viagem de João da Nova. Este navega- coisas: a primeira é a de que já se pen- dor poderá ser o responsável pelo seu sava num programa de viagens anuais reconhecimento e marcação exacta no – que aproveitaria a “grande monção” “padrão português”, mas não lhe na travessia para a Índia; e outra era o atribuiu o nome de Ascensão e não há espírito essencialmente comercial que, nada que nos diga que ali chegou no nessa altura, dominava em Lisboa. É dia dessa festividade. provável que acreditassem no sucesso A esquadra demandou Moçambi- da missão de Pedro Álvares Cabral e, que, a princípio de Agosto, e seguiu seguramente, contavam que não hou- para Quíloa onde encontrou António vesse grandes problemas em chegar Fernandes, com cartas de Pedro ao Malabar, carregar as quatro naus Álvares Cabral para quem ali apare- de especiaria, e regressar a Lisboa no cesse depois dele. Naturalmente ano seguinte. soube assim do que sucedera com o Os navios seguiram o seu caminho Samorim de Calecut, da amizade con- e, na volta do mar do Atlântico Sul, de solidada com o rei de Cochim e de acordo com os testemunhos de João de outras dificuldades encontradas por Barros e Castanheda, avistaram uma aquelas paragens. Depois passou por ilha a que puseram o nome de Ascen- Melinde (como vinha sendo costume) são (incorrectamente nomeada como e seguiu para a Índia que avistou por Conceição). A historiografia tem-se perto dos ilhéus de Santa Maria (13º debruçado sobre a provável data desta 20’N). Aí carregou de especiarias em descoberta para que possa ser acertada Cochim e Cananor, deu caça a alguns com o dia da Ascensão desse ano de navios de Meca que com ele se 1501, mas isso talvez não seja a melhor A Armada de João da Nova. cruzaram, e combateu com uma forma de resolver o problema. Se esquadra armada pelo Samorim, cau- assim fosse a ilha teria sido encontrada a 20 atenção, será possível verificar uma descon- sando-lhe grande estrago. Não foi, todavia, de Maio, o que é um pouco tarde para tinuidade dos traçados, na junção de dois uma expedição com a agitação das ante- quem saiu de Lisboa em 5 Março. Mas pergaminhos, sugerindo que houve uma riores, porque os objectivos de carga e vejamos outra forma de abordar a questão colagem inicial, sobre a qual foram dese- comércio pareciam estar mais claros e da descoberta da ilha de Ascensão: num nhadas as ilhas e colocadas as legendas, e foram assumidos de forma pragmática. planisfério português anónimo de 1502 uma posterior descolagem para um ajuste. De regresso a Lisboa, dobrado o Cabo da (Cantino), mais ou menos na zona da ilha Em resultado desta operação, uma das le- Boa Esperança, “lhe deparou deos hÙa jlha de Ascensão (poderá haver um erro de gendas desbotou e noutra desapareceu muy pequena aque elle pós nome Sancta menos de 1º) aparece-nos um grupo de seis parte de algumas letras que, eventualmente, Helena em que fez sua aguada”. Esta ilha ilhas com a indicação do topónimo “As- estará tapada pelo que parece ser o produto estava situada, de facto, num local privile- censão”. Várias vezes isto tem sido invoca- usado para unir os pergaminhos. Ou seja – giado para reabastecer os navios que vi- do para argumentar uma descoberta da e isso é que é o essencial deste raciocínio – nham da Índia, passando a ser paragem ilha, anterior à viagem de João da Nova, as ilhas não foram ali colocadas quando o frequente. Também a notícia desta des- mas contrapôs-se-lhe a hipótese de que mapa já estava quase pronto. Foram dese- coberta chegou a Lisboa a 11 de Setembro entre a data da chegada do navegador a nhadas numa fase bastante prematura da de 1502, contudo a ilha não consta do mapa Lisboa e a saída do mapa para Itália (onde sua elaboração que antecedeu até o traçado de 1502.  estava em 19 de Novembro) decorriam das linhas de rumo. ainda uns dias que permitiriam uns últimos Por outro lado, se João da Nova desco- J. Semedo de Matos retoques do cartógrafo, nomeadamente, briu a ilha de Ascensão – uma ilha de CFR FZ

16 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA AA VoltaVolta dede MagalhãesMagalhães Conclusão

RUMO AO ESTREITO urante a estadia em Puerto de San Julian, Fernão de Magalhães Dprocurou efectuar o levantamento da costa mais para Sul, sendo designado o “Santiago”, o menor dos navios, para tal missão. Esta, sob o comando de João Serrão - homem da sua confiança - não foi bem sucedida. A embarcação naufragou na barra dum rio, que viria a ser então denominado de Santa Cruz, a cerca de 100 milhas a Sul, com a sua perda total. Para pedir auxílio, dois dos tripulantes percor- reram a pé esta distância, em terreno de matagal com uma progressão difícil, obtendo a água para beber a partir do pouco gelo encontrado no caminho que conseguiam derreter. Informado, o Capitão general providenciou para que a tripulação fosse abastecida de géneros por terra a partir de Puerto de San Julian durante os trabalhos de recuperação dos despojos que iam sendo devolvidos pelo mar e que duraram cerca de dois meses. No fim de Agosto saiu finalmente a esqua- dra, agora de quatro navios, não total- mente abastecida, continuando a explo- pações, com reflexos para a manutenção gando a todo o pano e disparando vários ração para Sul interrompida nos meses dos navios da esquadra nas posições tiros de bombardas. Contaram os tripu- mais frios. determinadas. lantes que, arrastados pelo mau tempo Para o rigor da determinação da lati- para o fundo da baía, aí encontraram um tude não era agora indiferente a aproxi- FINALMENTE O PACÍFICO pequeno canal que dava para uma outra mação do horizonte dos corpos celestes baía que exploraram e que, por sua vez, conhecidos no Hemisfério Norte que, A 21 de Outubro Magalhães deparou terminava num estreito que conduzia a embora substituídos por outros já obser- com uma extensa baía cujo cabo do uma baía maior do que as anteriores. vados nas derrotas ao longo das costas extremo Norte denominaram Cabo das Estava descoberta a entrada do tão ansia- africanas, eram muito menos familiares. Onze Mil Virgens, nome da festa reli- do canal que julgavam lhes abriria o ca- Entre as estrelas mais conspícuas desta- giosa comemorada na data, hoje reduzi- minho para o manancial das especiarias cavam-se as da constelação do Cruzeiro do para Cabo Vírgenes. Parecendo-lhe das Molucas. do Sul, pertencente a Via Láctea Meri- promissora a zona destacou o “San A entrada do canal a leste apresenta dional, que na época de Magalhães era Antonio” e o “Concepción” para a explo- duas grandes baías (Posesión e San desconhecida como constelação, estando rarem. Durante um temporal ambas as Felipe) separadas por um estreito, com as suas estrelas, algumas de primeira embarcações desapareceram de vista as margens baixas, ligando a um trato na grandeza, integradas na vizinha conste- dentro da baía. Dois dias depois, quando direcção N-S. Continuando a navegar lação do Centauro. A perda de momento uma certa apreensão já reinava entre as para Sul no Paso Ancho, avista-se no magnético da agulha de marear repre- outras tripulações sujeitas ao mesmo horizonte o que parece ser uma barreira sentava uma adicional fonte de preocu- temporal, foram vistas regressar, nave- natural sem saída. Contudo, observando de uma posição mais aproximada, surgem quatro saídas: uma para ESW, CÉU AUSTRAL correspondente à Bahia Inutil, sem saída; Como é sabido, não existe nenhuma estrela conspícua da Constelação do Octans (o Octante, instru- uma de cada lado da Ilha de Dawson mento náutico precursor do sextante) próxima da posição do Polo Sul Celestial, como sucede no (por vezes utilizada como prisão de alta Hemisfério Norte. Nas proximidades do Polo Sul há as constelações do Cruzeiro do Sul, do Centauro e duas Galáxias hoje baptizadas com o nome de Magalhães: a Grande Nuvem Magelânica e a Pequena segurança) sensivelmente para Sul, Nuvem Magelânica. Estas duas zonas claras do céu e a posição do Polo Sul formam um triângulo dando ambas acesso ao Pacífico a Oeste praticamente equilátero. Para determinar a posição do Polo Sul, fundamental para o cálculo da lati- do Cabo Hornos através de canais e tude, parte-se do Cruzeiro do Sul, prolongando o seu eixo maior na direcção das Nuvens (ou da finalmente a quarta, a de Sudoeste, aces- Achernar) duma distância cerca de quatro vezes e meia a distância entre as estrelas extremas do seu so a um canal para Noroeste que conduz eixo (Gama e Alfa Acrux). Durante a viagem os pilotos observaram que esta zona celeste se deslocava pouco com o avançar da noite, o que indicaria, por analogia com o Hemisfério Boreal, estar na vizin- ao Pacífico, numa zona de costas alcanti- hança do Polo Sul Celeste. ladas com montes que atingem cerca de 1.000 metros de altura.

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 17 cerne às áreas específicas da navegação e marinharia. Assim se justifica a falta de ele- mentos relativos a boa parte da navegação no Estreito. Outra hipótese relaciona-se com um número restrito de pontos con- spícuos, de toponímia inexistente, que seria muito mais difícil recordar ao escrever o diário muitos meses depois. Assim os relatos dos acontecimentos dramáticos da Baía de S. Julian e as questões relacionadas com as relações interpessoais, e outras de “leadership”, parecem atrair a atenção hodierna para um estudo “a posteriori” das principais personagens envolvidas, remetendo para segundo plano o grande feito estritamente náutico da passagem. Como termo de Vista aérea da entrada Leste do Estreito (Segunda Angostura e Bahía de San Felipe). comparação com outra menos feliz, em data próxima, inclui-se um resumo da Foi nesta zona, ao largo da pequena e condições atmosféricas e de visibilidade, viagem da esquadra saída da Corunha acolhedora povoação chilena de Porvenir, em curtos intervalos, que verificámos. sob o comando de Jofre de Loaysa.

A primeira travessia pelo Estreito O ESTREITO durou de 21 de Outubro a 28 de Novem- Actualmente o Estreito de Magalhães encontra-se totalmente em águas territoriais chilenas, excepto bro de 1520. A entrada no novo Oceano na extremidade da entrada Leste que pertence à Argentina. Tem cerca de 350 milhas (560 km) de com- rumando às temperaturas mais amenas a primento e uma largura que varia entre 2 e 20 milhas (3–32 km). Norte punha fim a um pesadelo. A der- Depois da entrada entre o Cabo Vírgenes e a Punta Catalina, o Estreito dirige-se com uma orien- rota correspondente à travessia do tação SW, através da Primera e Segunda Angostura (Estreitos), ao Paso Ancho, que se orienta sensivel- mente na direcção Norte-Sul. Nos cabos San Isidro e Froward, no extremo Sul deste Paso Ancho, Pacífico foi caracterizada por bom curva para WNW, direcção que aproximadamente mantém até a saída no Pacífico junto ao Cabo Pilar, tempo, levando a ser baptizada de não longe do Cabo Deseado, ambos na Isla Desolación. O único porto importante nesta área é o de “Oceano Pacífico” a recente descoberta, Punta Arenas, situado no Paso Ancho na Península de Brunswick. embora nem sempre favorável à pro- O Estreito, que foi inicialmente chamado de “Todos os Santos” (os topónimos “Estreito da Vitória”, gressão dos três navios. Todavia a “Madre de Deus” ou dos “Patagões”, tiveram escassa difusão), tem enseadas em que desaguam pequenos cursos de água, ficando outras perto de diversos glaciares, que permitem abrigos razoáveis escassez de abastecimentos levados à durante o atravessamento e algumas possibilidades de arranjar víveres. partida, a impossibilidade de dispor de alimentos frescos e todos os condicio- nalismos de conservação na época, causaram a perda de muitas vidas, moti- tendo como fundo a Cordilheira de Darwin, Magalhães, depois de aguardar quatro dias vada essencialmente pelo escorbuto. Na com vários picos acima dos 2.000 metros no Paso de Los Boquerones, deixou em ter- fase final foram comidos os coiros frequentemente encobertos, que se deu a ra um marco com deserção da “San Antonio”(destacado com uma carta dirigida à a “Concepción” para verificarem se a “Boca “San Antonio”, com do SW tinha saída para o mar largo”) que a indicação da rota regressou a Sevilha. Esta fuga, instigada que previa seguir. pelo piloto Estêvão Gomes que desde o iní- Os relatos de cio se considerou lesado nos seus negócios Pigafetta, de pri- com o Imperador Carlos V com o advento mordial importân- de Magalhães, redundou num rude golpe cia e versando um nas reservas de mantimentos para a traves- largo leque de áreas sia do Pacífico. O abandono inobservado do do conhecimento, navio foi relativamente fácil se tivermos em são menos “profis- conta as repentinas mudanças extremas nas sionais” no que con- Cruzador “S. Gabriel” junto ao Cabo Froward.

demolhados, ratos e serradura de madeira. Durante a viagem a tripulação apenas avistou algumas pequenas ilhas desabitadas e “atols”, sem possibilidade de se reabastecer o que, dada a profusão de ilhas de certas zonas do Pacífico por onde passaram, parece quase inacre- ditável. Na proximidade da Insulíndia é aceite que o primeiro contacto tenha sido feito na ilha inicialmente chamada “das Velas“ e seguidamente “dos Ladrões”, devido a alguns acontecimentos menos agradáveis, e agora designada por Zona dos Cabos San Isidro e Froward. Guam. Os habitantes actuais repudiam

18 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA O que sucedeu foi que vinham carrega- dos de pedras com as quais apedrejaram a frota. Retomando a navegação para Leste, Magalhães aproou a 16 de Março a uma pequena ilha no extremo Sul da Ilha de Leyte, hoje chamada de Limasawa, onde foram bem recebidos e abastecidos e fi- zeram algumas trocas comerciais. Pela primeira vez constataram a utilização de adornos de ouro pelos habitantes. Outro facto importante narrado por Pigafetta foi o da possibilidade de diálogo entre um escravo a bordo de nome Henrique, natu- Glaciar na costa Leste do Estreito. ral de Samatra, e habitantes da ilha, embo- ra através de uma dupla tradução, men- aquele nome, como é compreensível, meia centena de homens armados, que cionada também por Transilvano. Uma sendo da opinião que quem mais roubou destruíram dois quarteirões de ha- possível explicação passaria pelo percurso foi quem lá chegou. bitações, muitas embarcações, e mataram inicial deste escravo que o levaria a ter Com efeito, a 6 de Março de 1521, avis- sete homens. Foi recuperada a lancha, aprendido o malaio falado nesta zona. taram algumas ilhas do Arquipélago das mas a situação degradou-se de tal modo Admite-se que também obtivessem algu- Marianas, assim chamado posterior- mas informações geográficas úteis. mente em honra de Dona Mariana de Depois da passagem por esta primeira Áustria, viúva de Filipe IV, tendo desem- ilha do Arquipélago de São Lázaro, as barcado na actual Ilha de Guam, onde Filipinas de hoje, navegando ao largo de fundearam na Baía de Umatac, no Su- uma costa com diversas aldeias, chegaram doeste da ilha. A travessia do Pacífico, a um grande reino na actual ilha de Cebu. que Balboa previra que levasse 3 dias, Aí foram recebidos de braços abertos e o durou na realidade três meses, mesmo Fr. Pedro Valderama baptizou o Rei Rajah com ventos normalmente favoráveis. Humabon e a Rainha Juana, que teria rece- O Capitão general ordenou que de- bido uma imagem ainda hoje venerada sembarcassem na manhã seguinte para como o “Santo Niño de Cebu”, e muitos fazer aguada e arranjar abastecimentos, dos nativos, com grande pompa. dado os marinheiros se encontrarem Magalhães e os seus homens fizeram muito doentes ou moribundos por não se demonstrações do poderio dos seus arma- terem quase alimentado havia muitos mentos, que muito surpreenderam os seus dias. As articulações e as gengivas anfitriões. inchadas, devidas ao escorbuto, exigiam Estas externações, que posteriormente urgentemente produtos frescos. Contudo seriam igualmente do agrado de coman- não foi possível abastecer completamente dantes famosos, como James Cook, tinham os navios dado os indígenas se intro- Dificuldade em arcar com o peso dos livros, que esta criança um lado negativo ao fazerem esquecer duzirem neles, apoderando-se de todos fuegina de Porvenir resolveu. uma certa capacidade militar dos locais os utensílios e acessórios que podiam que incluía algumas armas, como as setas levar. O facto que maiores consequências que impossibilitou posteriores contactos. envenenadas, por vezes de efeito mais teria foi o roubo do batel amarrado à Quando os navios se fizeram ao largo, os rápido do que as armas de pequeno calibre popa dum dos navios. Foi então realiza- indígenas aproximaram-se nas canoas dos navios. Outros pontos a ressaltar eram da uma operação punitiva a terra com com peixe, simulando querer negociá-lo. a compleição física dos indígenas, habitua-

QUEM ERA ANTÓNIO PIGAFETTA Filho de família nobre de Vicenza, na actual região italiana do Véneto, segundo escreveu, não sofreu de escorbuto enquanto embarcado, possivel- admite-se que tenha nascido no último quartel do Sec. XV, sendo portanto mente pela sua providencial dieta de aipo. aproximadamente coetâneo de Magalhães. Para além dos períodos imediata- Uma vez em terra firme, circulou pelas cortes dos potentes da Europa da mente anteriores e posteriores a esta célebre viagem, da qual foi um cronista altura fazendo um relato personalizado da viagem. Iniciou a digressão pela atento e culto, em sintonia com o espírito do Renascimento, pouco ou nada corte de Carlos V, como devido, onde se deslocou com Juan Sebastian De se sabe da sua vida, nem a data e local da morte. Entende-se que foi Elcano e o Piloto Albo. Seguidamente veio a Lisboa à de D. João III. Depois à Cavaleiro da Ordem de Rodes, título a que parece ter acedido antes de 1519. de França, demonstrando o êxito da expedição à Regente Maria Luísa de Deve ter realizado as deslocações e combates inerentes ao seu estatuto, que Saboia, mãe de Francisco I. Perto da cidade italiana de Viterbo, para onde foi lhe estimularam o gosto pela longas viagens de descobertas, em consonância convidado pelo Papa Clemente VII, elaborou a versão definitiva da com o seu modo de vida. Estando em 1519 em Barcelona, cidade para onde “Relazione del primo viaggio attorno al mondo”, que lhe fora insistente- se tinha transferido a Corte espanhola, integrado no séquito de Francesco mente pedida por Francesco II Gonzaga, Duque de Mantua, e outras per- Chiericati, protonotário apostólico seu conterrâneo, tomou conhecimento sonalidades. Esta edição, que é a fonte mais autorizada desta célebre viagem, dos preparativos da expedição às Molucas. Partiu para Sevilha onde con- foi terminada em 1525 e teve rápida difusão pela Europa. Nota-se, contudo, seguiu autorização para embarcar no navio chefe como criado pessoal de que o original redigido durante a viagem é considerado como perdido, Magalhães. Durante a viagem houve um bom relacionamento entre ambos, tendo-se Pigafetta valido em parte da sua memória para a elaboração desta tendo Pigafetta executado diversas tarefas, para além de cronista: combate, crónica. tratar com os autóctones, elaboração de dicionários das línguas dos povos Considera-se interessante realçar que outra personagem desta família - contactados, passando a gozar de um certo estatuto a bordo quando Filippo Pigafetta - foi um viajante incansável, havendo relatos escritos das começou a acompanhar o seu amo nas cerimónias em terra. Encontrava-se sua viagens desde o Mar Vermelho e Síria até a Suécia. Relativamente a ferido junto a Magalhães, de cujas ideias era um defensor incondicional, Portugal foi publicada em 1591 uma “Relazione del Reame di Congo” a par- quando este foi morto. Foi um dos 18 desembarcados a quando do regresso tir de documentos obtidos através do missionário português Padre Duarte da “ Victoria” a Sevilha, depois de três anos de viagem. Salienta-se que, Lopez.

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 19 dos a remar diariamente para procurar derrotou, no local onde Magalhães foi sustento e uma certa experiência militar morto. Ambos os monumentos se encon- adquirida em guerras frequentes, como tram numa baía junto ao topo da pista do sucedia entre Tidore e Ternate. Magalhães Aeroporto Internacional de Mactan-Cebu, indicou ao Rei local, após uma demon- no topo NE da ilha coralina de Mactan. stração de um militar com armadura, que A apreciação de Magalhães por Camões, muito o espantou, que uma destas valia sem ainda uma perspectiva histórica ade- cem dos seus homens, acrescentando que quada, não parece a mais correcta: cada navio levava duzentos homens arma- dos assim! “O Magalhães no feito com verdade As armaduras, se de efeito espectacular Português, porem não na lealdade” nas demonstrações, eram equipamentos na prática desadaptados à realidade dos (Canto X-Est. 140) trópicos em que nos combates apeados atingiam temperaturas tais que diminuíam Quanto a D. Manuel I não se julga a substancialmente o rendimento do com- recusa do Rei um capricho ou uma falta de Arquipélago das Filipinas batente. De equilíbrio pouco estável, ao visão incompreensível ou, eventualmente, tombarem, ficavam à mercê das lanças dos até mesmo um ódio relativamente a inimigos que penetravam nas articulações Magalhães, como simplificadamente e viseira, como sucedeu a Magalhães na escreveram muitos autores nacionais e Ilha de Mactan. estrangeiros. Ponderando hoje, cerca de Encorajado por estes sucessos, parte dos cinco séculos depois, perante a pergunta quais acreditava serem providenciais, crucial de quais os interesses que teria D. Magalhães, contra as directivas recebidas Manuel I em financiar Magalhães para, pelo de Carlos V, decidiu envolver-se nas lutas Ocidente, descobrir um novo caminho para locais a pretexto de subjugar o Rei de Mac- a Índia, Malaca ou Ternate através de áreas tan, pequena ilha junto a Cebu. Seguiu oceânicas atribuídas em princípio a para esta ilha com 60 homens, dos quais 11 Espanha, podem-se hipotisar algumas ficaram de guarda às embarcações, que respostas como renegociar a partilha dos não puderam abicar à praia devido a mares ou encurtar as viagens de ida e de alguns rochedos, para dar combate a uma volta. Julga-se, todavia, quase obrigatório força rondando os 1.500 homens. O arma- reconhecer que eram muito poucos, para mento usado não era o adequado e as setas além da glória do feito histórico. No auge envenenadas usadas pelo inimigo eram do domínio na Ásia, o controlo dos mares letais ao atingirem as pernas. Após algum

Ilha de Cebu tempo de duro combate Magalhães foi atingido por uma destas setas, caindo. Deu ordem aos seus para irem retirando, mas perante o ataque dos locais apenas ficaram + alguns, incapazes de o protegerem eficaz- mente. Caído, ficou à mercê dos indígenas, enraivecidos por lhes terem deitado fogo às casas. Este local foi assinalado por uma cruz em 1866. Encontra-se igualmente relembrado com uma estátua o Chefe Lapu-Lapu, que o

Estátua do Chefe Lapu-Lapu em Mactan.

pelos portugueses era de facto efectivo, como comprovado por inúmeros relatos de navegadores estrangeiros e os seus fortes receios, partilhados pelo próprio Maga- lhães, de encontros com navios lusitanos, que defendiam a todo o transe as rotas comerciais. Do lado espanhol havia muito a esperar e a decisão do Imperador, perante a proposta inteligente do navegador por- Praia na zona onde se deu o confronto na ilha de Mactan, Filipinas. tuguês, é perfeitamente coerente.

20 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA A VIAGEM MENOS FELIZ DE GARCIA JOFRE DE LOAYSA A exploração das riquezas do Oriente continuava marcante na política das conterrâneo, Hernando de Bustamante, um dos tesoureiros da armada, e nações europeias. A tentativa papal de Gregório VII, pelo tratado das outros dois estrangeiros que embarcaram como artilheiros. No total cinco Tordesilhas, punha uma certa ordem na definição das zonas atribuídas a dos dezoito chegados a Sevilha! Portugal e Espanha, na altura as potências mais directamente interessadas. A esquadra larga da Corunha a 24 de Julho de 1525. A 18 de Agosto par- Embora de articulação que parecia geograficamente bem definida, carecia de te-se o mastro maior do navio almirante e a 19, durante um forte aguaceiro, uma ferramenta que, sendo fundamental, na época era desconhecida: o cálculo uma das naus abalroa outra causando estragos importantes. Só é atraves- para a determinação rigorosa da longitude. Assim, ao ser definido o meridiano sado o Equador a 12 de Outubro chegando ao Cabo de S. Agostinho a 18 de da delimitação, posteriormente ligeiramente alterado, apenas por “estima” se Novembro e à Baía a 26 do mesmo mês. Posteriormente costeia a costa sul podiam definir com suficiênte aproximação todas as zonas de fronteira a qual- do Brasil passando ao largo do Rio de Janeiro e avistando o Rio da Prata. quer latitude. Deste modo as teorias que surgem nesta área das ciências náuti- A 29 de Novembro fortes ventos e aguaceiros fazem dispersar vários cas estão coerentemente desfasadas de cerca de 200 anos da solução “mágica” navios sendo necessários alguns dias para os reagrupar. Um galeão entra no do problema, materializada na criação dum cronómetro fiável a bordo. Rio de S. Cruz a 14 de Janeiro de 1526 e os outros quatro navios navegam até Nas duas ou três exposições feitas por Magalhães e Rui Faleiro, existe ao Cabo das Mil Virgens fundeando no Rio de Gallegos, onde encalham uma substancial quantidade de ideias fantasiosas que tiveram no entanto o todos possivelmente devido a confusão da entrada do Rio com a do Estreito grande mérito de fazer decidir o jovem soberano a autorizar a expedição, de Magalhães. Um forte temporal faz destroçar um deles, sofrendo os outros embora sem lhe atribuir os meios normalmente à disposição de outras expe- várias perdas de tripulantes e grandes avarias. Em emergência é lançada ao dições já efectuadas. Parafraseando o aforismo que os fins justificam os mar parte da artilharia. Sebastiano De Elcano é obrigado a transferir-se para meios, podemos afirmar que quem compra a pérola não está interessado no outro navio que entra pelo Estreito. grão de areia que lhe deu origem. Magalhães passa a dedicar-se a prepa- Novos vendavais atingem os navios na Primera Angustura e um deles ração meticulosa da frota e contratação de pessoal, desaparecendo de cena o tem que sair para o mar largo juntando-se aos outros logo que o tempo me- seu ex-amigo Faleiro . lhora. Novo mau tempo se abate sobre os três navios refugiados na baía de A viagem de circum-navegação teve um impacte científico sem par desde S. Tiago, causando-lhes ulteriores avarias. Consideradas as várias alternati- os tempos de Ptolomeu, cujas teorias e cartografias foram substancialmente vas, optam por sair para o largo. Reúnem-se finalmente no Rio de S. Cruz a abandonadas. Contudo um dos aspectos primordiais, a definição do meridi- 13 de Fevereiro para reparar as avarias entrando de novo no Estreito a 5 de ano de partilha na zona das Molucas, continuou irresoluto. Abril. A travessia durará até 26 de Maio de 1526. Ao entrar no Pacífico outra Para confirmar duma maneira mais eficiente os seus direitos nas zonas tempestade os atinge. O Comendador Loaysa morre a 30 de Julho passando das riquezas inesgotáveis do imaginário dos seus súbditos, e já na posse Sebastião Elcano a substituí-lo, mas este vem a falecer a 4 de Agosto de 1526. duma mole de informação muito importante recolhida na primeira viagem, O Pacífico continuava a cobrar pesado tributo aos comandantes aos quais, o monarca espanhol decidiu organizar uma expedição com sete navios e 450 no seu posto, lhes eram negados os últimos graus para os trezentos e sessen- homens sob o comando de Loaysa, Comendador da Ordem de Rodes. ta! Aos marinheiros a sobrevivência bastava, mas era trágico o número dos Sebastião De Elcano foi encarregado pelo Imperador de preparar os navios que ficavam pelo caminho! E tão longe de tudo… A frota chega finalmente da frota na qual ia como “Piloto Mayor”. Apesar de todos os sofrimentos da no dia 4 de Setembro à ilha de Guam. Ao aportar às Molucas em Outubro de primeira viagem, ainda se alistaram na segunda: Andrés de Urdaneta, seu 1526, restam apenas 120 homens dos 450 inicialmente embarcados.

EPÍLOGO O nome de Magalhães foi catapul- tado de uma obscura povoação nortenha literalmente para o Universo, surgindo ligado a corpos celestes e às mais diversas activi- dades humanas, mormente às cientí- ficas. Homem do seu tempo, de per- sonalidade complexa e de religiosi- dade por vezes fanática, em termos actuais, na qual ressalta contudo o seu inabalável espírito de missão, alicerçado num querer férreo. A sua vida invulgar propôs-lhe algumas opções difíceis e portanto controversas: abandono das activi- dades no Oriente Português, leal- dade ao Rei, leia-se à Nação, exílio, julgamento dos revoltosos, opera- ções militares em terras longínquas. Cinco séculos decorridos, parece que, de facto, apenas falhou na últi- ma em que a sua avaliação da si- tuação foi completamente desajusta- da e lhe custou a vida, em 10,18°N, 123,58°E, no longínquo dia de vinte e sete de Abril, Sábado do Calendário Juliano, reinando em Portugal El-Rei D.Manuel I, o Venturoso. 

J. Baião do Nascimento Medalha de Fernão de Magalhães da autoria do escultor Vasco da Conceição. CMG ECN

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 21 ViagemViagem dede InstruçãoInstrução dodo Curso“VALMCurso“VALM MagalhãesMagalhães Corrêa”Corrêa”

ia 25 de Junho, Base Naval de Lisboa, pelas dez horas da manhã, Douve-se o apito distinto da faina de largada... Parte para o mar a fragata “Comandante Hermenegildo Capelo” para mais uma missão, a Viagem de Instrução dos cadetes do 4º ano da Escola Naval, onde à sua guarnição de cento e oitenta militares acrescem vinte e quatro cadetes do Curso “VAlm Magalhães Corrêa”. A largada é lenta e, enquanto a última espia é largada, caiem lágrimas e desenham-se sorrisos com sabor a partida na expectativa de só voltar a vislum- brar a Base Naval de Lisboa no dia 3 de Agosto. Levam-se os olhares e os acenos de quem ficou no cais, canal do Alfeite afora... Porém é com o entusiasmo e o nervosismo próprios de quem parte, uns para a sua primeira missão, outros para mais uma, que no peito nasce aos poucos, o chamamento inconfundível do Mar... Seguiam-se cinco dias de navegação até La Coruña , na costa norte da Galiza, na Cadete efectua navegação em aproximação RAS. companhia de quatro navios espanhóis, que seriam nossos “irmãos de mar” durante instruções sobre as diversas áreas de bordo, da na Escola. Nesta articulação tão deli- aproximadamente duas semanas o SPS instruções essas que constituiram a matéria cada, a viagem de instrução do 4º ano “Hernán Cortez” e três corvetas da classe para um teste realizado no final da viagem. envolveu esforços de coordenação e “Descubierta”, que, tal como a “Capelo”, se No que concerne à instrução, a viagem do planeamento que estão muitas vezes para encontravam numa missão de instrução de 4º ano mostra-se como o importante culmi- além daquilo que é humanamente possível cadetes. A instrução, foi desde o início, o nar de um ano caracterizado por um grau de num navio que acusa o peso da idade, e no grande motor de toda a viagem, que encon- especificidade muito grande entre as diversas qual ainda se sente “um cheirinho” ao trou precisamente na vertente operacional a classes: Marinha, Engenheiros, Administração outro lado do Mundo, a essa ilha chamada grande mais valia, para os cadetes embarca- Naval e Fuzileiros. A essa especificidade “do Sol Nascente”. dos, relativamente a viagens precedentes. aparece ligada, necessariamente, uma orien- Dia 29 de Junho entrámos em la Coruña, Juntaram-se assim sinergias para que objec- tação da instrução que tem de responder à envoltos num nevoeiro que não é de todo tivos comuns fossem atingidos, quer em ter- multiplicidade de exigências de cada classe surpresa por aquelas paragens. A euforia mos de operações em conjunto, quer em em termos técnicos e académicos. Foi uma própria da chegada a um porto novo encheu exercícios internos do navio, em que se simu- oportunidade flagrante para os alunos a de os peitos que haviam sentido ainda apenas o laram as mais variadas situações de emergên- viver e sentir a bordo aquilo que se lê e estu- nervosismo e a ansiedade da acção em ope- cia, limitação de avarias e de- rações e demais exercícios! mais condições especiais. Os Atracados, sempre na com- exercícios na vertente opera- panhia de “nuestros herma- cional iniciaram-se ainda em nos”, no cais de “la Batteria”, mar português, com um a localização era privilegiada, CASEX, exercício de defesa bem dentro da cidade. A anti-submarina com a partici- praia, a noite, a vida, carac- pação do N.R.P. “Barracuda”, terizam o porto de la Coruña prosseguindo, já em mar que de uma forma natural espanhol, com diversos exer- contagiou cada um com o cícios de defesa aérea (com a ritmo, o sol e os costumes de participação de aeronaves um povo que está tão perto C101 e F18), e exercícios de de nós mas que, por vezes, SEAMANSHIP e de AIO, de- parece tão longe... dicados essencialmente aos Seguiu-se mais uma se- cadetes embarcados. mana de exercícios e acções Após a fase inicial que con- operacionais com a força sistiu na integração dos espanhola, ao longo da costa alunos na vida e organização norte da Península Ibérica, no de bordo, foram ministradas Reabastecimento no mar (RAS) com o SPS “Patino”. Mar Cantábrico. À saída de

22 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA La Coruña houve a oportunidade de efectuar um enriquecedor intercâmbio com cadetes espanhóis. Serviu, para além da troca de experiências, para constatar que o Mar é ver- dadeiramente o grande “denominador comum” do Homem... As preocupações, os medos, as alegrias, a alma de tudo o que é feito a bordo reflecte que, mesmo sob ban- deiras diferentes, somos iguais na forma como vivemos o mar... Após tão enriquecedora experiência prosseguiram os exercícios operacionais, estando os cadetes embarcados cada vez mais destros na condução dos exercícios, em contraste com o arrancar lento de quem tenta pela primeira vez aplicar os conhecimentos adquiridos ao longo de quatro anos. Entre os demais exercícios existiu a oportunidade de efectuar tiro de 40mm e reabastecimento de líquidos com o SPS “Patino”. Foi depois a vez de Santander, capital da Tiro com peça de 100 mm. Cantábria, onde permanecemos durante todo o fim-de-semana, de 6 a 9 de Junho, data em N.R.P.”Augusto Castilho” e N.R.P. “Bérrio” lização de um campeonato de futebol entre que partimos para a separação da força e com o qual se efectuaram diversos reabasteci- várias equipas da guarnição e cadetes. Por para uma nova fase da viagem... mentos de líquidos e sólidos numa perspecti- mais frustrações ou desânimos que tenha Em Santander encontrámos uma cidade va clara de instrução e adestramento da trazido o novo planeamento, ele merece o bem diferente de La Coruña, uma cidade guarnição aos quais se juntou o ITS “Vittorio reconhecimento de um esforço em tentar, de onde tanto a arquitectura dominante como o Veneto” em passagem pelas nossas águas. toda a forma, transcender as dificuldades próprio enquadramento geográfico a tornam Aos reabastecimentos somam-se ainda os orçamentais dando a continuidade à uma obrigatória referência na costa norte de reboques e o VERTREP efectuado com um instrução e motivação à guarnição. Espanha. Durante toda a estadia em helicóptero Lynx. Mais uma vez houve a Dia 14 de Julho, pela manhã, atracámos Santander o navio esteve aberto a visitas, oportunidade de os cadetes tomarem contac- em Portimão, primeiro porto nacional da tendo a sua afluência sido grande durante to com outras realidades: três cadetes da viagem. É como se de um primeiro regresso a todo o fim-de-semana, motivado pela pre- classe de Engenheiros Navais – Ramo casa se tratasse, e no fundo era-o de facto... sença do navio-escola “Juan Sebastian Mecânica embarcaram a bordo do Bérrio por Entre Portimão e Viana do Castelo, onde d’Elcano” e do navio de apoio logístico um dia, e quatro cadetes de Marinha a bordo atracámos no dia 20, foi possível navegar em “Galicia”.. da Sacadura Cabral por dois dias, onde viriam companhia com a corveta “Afonso Cerqueira” Segunda-feira, dia 9, largámos pelas oito a ter um envolvimento operacional activo nos que se encontrava envolvida na viagem de horas da manhã e no dia 10 deu-se, ao fim exercícios que entretanto decorriam. instrução do 2º ano, tendo sido também com da tarde, o split da força espanhola... No dia 13, já sem a presença do “Bérrio” ela efectuados diversos exercícios realçando Navegando numa formatura em coluna, a como culminar dos exercícios com a força a realização de tiro de 100mm, conduzido “Capelo”, ocupando a última posição, au- nacional, realizou-se um exercício ASW, pelos cadetes da classe de marinha embarca- mentou velocidade, e, num gesto de cortesia, com o envolvimento dos N.R.P. “Delfim”, dos e um exercício SAREX com um heli- e sobretudo de festa, ultrapassou todos os N.R.P. “D. Carlos”, NRP “Sacadura Cabral” e cóptero PUMA da FAP. De Viana o navio navios da força efectuando o tão conhecido de um P3P, consistindo no disparo de torpe- rumou a Tróia onde atracou dia 25 de Julho e SAIL PASS. dos pela “Capelo”, “Sacadura” e P3P. se realizou o torneio de futebol . Aguardava-nos já Dia 26 de manhã rumámos novamente a o porto de Portimão, Portimão, após termos efectuado um exercí- cumprindo o pla- cio de reboque com a corveta “Afonso neamento, quando é Cerqueira”, onde atracámos dia 27 de Julho. anunciada a sua Após a largada no dia 30, do último porto da alteração: A viagem viagem, o sabor que fica é o do dever iria ser encurtada, cumprido, do dever cumprido para com a por forma a termi- missão de instrução do navio e do dever nar no dia 31 de cumprido para com o Mar. O Mar que sem- Julho, sendo cance- pre nos toma a alma por sua e que nos per- lados os portos de mite rever a nossa própria alma na hora Toulon, em França, poente, no vento, nas ondas em que o navio e de Barcelona, em dança, incessante como se fosse uma su- Espanha. Restrições blime extensão de nós próprios... - “É preciso orçamentais e con- navegar...”, disse o poeta. E no final desta tenção de despesas viagem sabe bem poder continuar as suas justificaram esta palavras com outras só nossas: - “...é preciso Helicóptero “Lynx” efectuando “VERTREP” com o navio. alteração. Um novo aprendermos a ser Mar!”  planeamento foi O período seguinte, e novamente em águas elaborado, contemplando, desta feita, os por- S. Robalo portuguesas, envolveu a participação de tos de Viana do Castelo, de Tróia e de 1TEN navios nacionais, os N.R.P. “Comandante Portimão, sendo o porto de Tróia, ou melhor, Batista Sacadura Cabral”, N.R.P. “Afonso Cerqueira”, o P.A.N. Tróia, o local escolhido para a rea- CAD EN-MEC

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 23 Laboratório de Análises Farmaco-Toxicológicas da Marinha Actividades do Ano 2000

INTRODUÇÃO Em 1 de Junho de 1976 é o próprio A Marinha Portuguesa tem vindo a Estado Maior da desenvolver desde 1976 um programa Armada que analisa motivador de estilos de vida saudáveis – esta problemática e PROJECTO VENCER – baseado no estabelece um con- respeito pela dignidade humana e dos dire- junto de procedi- itos individuais e colectivos. Tem, este pro- mentos que culmi- jecto, como finalidade criar um ambiente naram com a inau- de solidariedade e de apoio que permita o guração em 8 de Ju- desenvolvimento de opções individuais lho de 1980 do correctas e geradoras de uma carreira Laboratório de Aná- profissional assente em valores éticos e lises Fármaco-Toxi- sociais que colectivamente procurem criar cológicas da Mari- locais de trabalho livres de drogas indu- nha (LAFTM). Este toras de comportamentos que possam afec- Laboratório, ora na tar a segurança das pessoas e bens e a depêndencia do saúde dos consumidores. Na realidade o Director do Serviço consumo abusivo de álcool e drogas induz de Pessoal, inicia a nos utilizadores estados psicofisiológicos sua actividade numa área até então inédita objectivo final obter a moderação do con- incompatíveis com o elevado nível de em Portugal, o controlo analítico-laborato- sumo de álcool e a abstinência total do con- operacionalidade que é exigido aos mi- rial do uso/abuso de drogas psicoactivas sumo de drogas ilícitas, mobilizando diver- litares no cumprimento da sua missão de em meio laboral militar. A reflexão sobre a sificados recursos materiais, humanos e Defesa Nacional. Este assunto começou a atitude a tomar face ao elevado número e organizacionais. Ele compreende um vasto merecer acrescida atenção da Marinha logo natureza dos resultados obtidos durante os conjunto de acções, incluindo essencial- no início dos anos setenta, período em que primeiros anos de actividade (cerca de mente a Prevenção Primária; Secundária houve um substancial aumento do número 22,0% de consumidores), constitui o núcleo (tratamento); Terciária (prevenção da recaí- de utilizadores de drogas em Portugal. A dinamizador de um programa organiza- da e reinserção social) e a referencia- maior incidência deste incremento, mercê cional de prevenção ao consumo abusivo ção/identificação de consumidores. A referenciação de consumidores é feita essencialmente com base nas análises toxicológicas realizadas no LAFTM. Estas análises têm carácter prospectivo e são exe- cutadas sobre amostragens semanais provenientes de militares seleccionados de uma forma randómica computorizada, estatisticamente representativa da com- posição qualitativa e quantitativa das várias Unidades/Organismos/Serviços da Mari- nha, tendo por universo a totalidade dos militares (oficiais, sargentos e praças). A aleatoriedade da escolha dos indivíduos a testar, potencia o pretendido efeito dis- suasor do consumo já que transforma e faz sentir cada um dos militares como poten- cial dador em permanência. Este forte efeito dissuasor desenvolvido pela intervenção laboratorial do LAFTM, constitui uma importante forma de Prevenção Primária. O laboratório intervém ainda a nível da Prevenção Secundária, apoiando a fase de tratamento través de testes analíticos dis- suasores do consumo. Após a alta hospitalar é ainda o LAFTM que proporciona a monitorização analítica da tipicidade do fenómeno, verificou-se na de substâncias psicoactivas que tem vindo a necessária à comprovação do estado de população jovem, justamente o escalão ser desde então desenvolvido pela Marinha. abstinência total de tóxicos exigida à pre- etário que constitui a maior parte dos Na actualidade o LAFTM continua parte venção da recaída e reinserção social do toxi- recursos humanos das Forças Armadas. fulcral deste programa que tem como codependente.

24 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA COOPERAÇÃO COM ENTIDADES ACÇÕES DE FORMAÇÃO CIVIS E MILITARES Participação dos oficiais farmacêuticos do Face à sua experiência e “know how” ad- LAFTM em duas reuniões internacionais: quirido pelos oficiais farmacêuticos e técni- “Seventh Nordic Seminar on Drugs-of- cos do LAFTM ao longo dos anos na area -Abuse – Copenhaga” e “The Value of analítico laboratorial para a detecção de dro- Innovation in Drug of Abuse Testing – gas ilícitas e álcool em amostras biológicas Sardinia”, nas quais foram debatidas a em meio laboral militar, tem o meio civil problemática dos riscos do uso e abuso do acompanhado com interesse esta experiência. consumo das novas drogas sintéticas do Realçam-se as seguintes colaborações tipo anfetamínico (Ecstasy) e apresentação durante o ano 2000: de estratégias analíticas para a sua detecção em amostras biológicas (urina).

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE TÉCNICA Os Laboratórios que efectuam a pesquisa de drogas de abuso em meio laboral devem participar em programas Externos de Percentagem de indivíduos positivos (opiáceos). Avaliação da Qualidade que melhor sir- vam o âmbito das análises que efectuam. permite uma identificação correcta das Este tipo de participação permite aos labo- drogas e seus metabolitos e a análise de ratórios o estabelecimento de critérios ope- um número elevado de amostras. rativos homogéneos, avaliar a qualidade e No ano 2000 para além das amostras da as performances técnicas de todo o pessoal Marinha, incluídas no programa do envolvido nas análise e são fundamentais Projecto Vencer, foram analisadas amostras para os laboratórios que pretendem vir a dos Programas Externos de Avaliação da ser acreditados, pela norma europeia Qualidade e as enviadas por entidades 17025. Civis e Militares (Força Aérea e Guarda O LAFTM participou nos seguintes Nacional Republicana), que recorrem ao Programas Externos da Avaliação da LAFTM para confirmação de resultados. Percentagem de indivíduos positivos (canabinoides). Qualidade Internacionais: O resumo das amostras analisadas Programa Internacional de Controlo de durante o ano 2000 e a sua distribuição são Colaboração com a Associação Industrial Qualidade na Detecção de Drogas Ilícitas as expressas no quadro indicativo. Portuguesa (AIP), na base do protocolo coordenado pelo Institut Municipal realizado em 1999, nas áreas analíticas e de d’Investigació Mèdica, IMIM Barcelona. 2) DISTRIBUIÇÃO DE INDIVÍDUOS formação de pessoal. Programa Internacional de Controlo de POSITIVOS Colaboração com centros civis de Qualidade na Determinação Quantitativa Reabilitação de Toxicodependentes – da Taxa de Álcool Etílico no Sangue, coor- A selecção dos indivíduos a analisar é “Associação de Reabilitação de Toxico- denado Instituto Nacional de Toxicologia aleatória, sendo contudo atribuído maior dependentes –Nova Fronteira” na área de Barcelona. peso aos indivíduos em idade de risco analítica, funcionando o LAFTM como que se situa entre os 18 e os 39 anos. Nos dois gráficos apresentados indica- laboratório de recurso para confirmação RESULTADOS e contra-prova de resultados analítcos -se a percentagem de indivíduos positivos em relação ao total de indivíduos ana- positivos. 1) AMOSTRAS Estágios de formação em metodologias lisadas, distribuídos por Postos e Qua- analíticas de cromatografia gasosa e A pesquisa de drogas de abuso inclui, dros, respectivamente. espectrometria de massa para dois far- geralmente um processo com dois pas- 3) DISTRIBUIÇÃO DE INDIVÍDUOS POSITIVOS PELO PAÍS RESUMO DAS AMOSTRAS ANALISADAS NO ANO 2000 Nos dois gráficos acima apresentados Nº TOTAL Nº TOTAL indica-se a percentagem de indivíduos Nº TOTAL Nº TOTAL DE Nº TOTAL DE TESTES DE DROGAS DE AMOSTRAS CONFIRMAÇÕES positivos em relação ao total de indiví- DE AMOSTRAS DE DROGA PESQUISADAS EXTRA-MARINHA DE ALCOOLÉMIAS duos analisados durante os últimos 10 REALIZADOS POR AMOSTRA anos, distribuídos pelos vários distritos 6.181 242 11 25.815 4 do País, para Canabinoides e Opiáceos respectivamente.  macêuticos do Instituto Nacional da sos: O procedimento de Triagem analíti- Farmácia e do Medicamento (INFAR- ca para grupos de substâncias e o pro- MED) e estágio profissionalizante em cedimento de Confirmação para a identi- Rodrigues Tavares química analítica para duas alunas da ficação de substâncias (droga e/ou seus CFR FN Escola Profissional de Setúbal realizados metabolitos). Para a execução destes pro- cedimentos, o LAFTM encontra-se ape- Moreira de Azevedo no LAFTM. CTEN FN Colaboração com a Escola de Serviço trechado com equipamentos sofisticados de Saúde Militar nos cursos COPATD (autoanalisadores, cromatógrafos gaso- Jesus Dinis para oficiais. sos e espectrometros de massa), que lhe 1TEN SEP

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 25 DestacamentoDestacamento dede AcçõesAcções EspeciaisEspeciais Exercício Combinado Portugal/Estados Unidos

FTX - OPERAÇÃO SUNRISE ESTRUTURA DO EXERCÍCIO TREINO CRUZADO missão foi recebida pelo Estado-Maior O Ponto de Apoio Naval em Tróia foi o Neste JCET e durante a fase de treino cruza- da FOB(1) a bordo do navio Polivalente palco escolhido para juntar mais de 70 mi- do, realizaram-se várias séries onde se poderá A “Tróia” (fictício) em D-4, mediante uma litares que participaram neste exercício com- destacar o mergulho com oxigénio, o tiro de Mitask(2) que ordenava a destruição de um binado, com o propósito das Waterborne combate, treino com helicópteros, navegação centro de comunicações localizado na “Da Special Operations. Delegado no Comando para além da linha do horizonte e salto em pá- Cruz” Island. Estas instalações eram proprieda- do Corpo de Fuzileiros e sob direcção do ra-quedas. No caso particular do pára-que- de de um cartel de droga que controlava o tráfi- CFR FZ Ferreira Campos, este exercício teve dismo, há a salientar a realização (pela primei- co de haxixe proveniente do Norte de África a participação do Destacamento de Acções ra vez no DAE) de um salto em pára-quedas com destino à Europa; neste centro, toda a Especiais, do Destacamento de Mergulha- para a água - no Estuário do Rio Sado, precedi- informação era processada e transmitida às dores Sapadores nº2 e do Det1/2ndBtl/19th do de um lançamento de cargas. Para além várias embarcações controladas pela organi- SOF (ABN – US). deste “passo” realizado (e há muito ambicio- zação e que efectuavam ilegalmente o trans- nado), foi também rele- porte dessa mercadoria. vante e pioneiro a cons- Em D-3, uma Equipa de Reconhecimento trução e preparação de (SR Team) constituída por elementos do dois botes próprios (LIB) DAE(3) e do Det 1 - 19th SFG (ABN)(4) foram para posterior lançamen- inseridos na Área do Objectivo por um Heli- to em pára-quedas, série cóptero Puma SA330 da Força Aérea Portu- esta que ocorreu no dia guesa; a cerca de 20 NM da Ilha, a equipa anterior ao salto, na Base realizou um Helocast(5) com lançamento de Aérea nº6 do Montijo. todo o material e equipamento necessários à missão. Após a execução do salto e do bote ENCERRAMENTO pneumático LIB(6), a equipa infiltrou-se até à O exercício terminou Ilha; aproximou-se sigilosamente do objecti- a 30 de Julho de 2001 vo e durante dois dias manteve o local sob com a realização de um vigilância, obteve informações essenciais Contact Drills (Exercícios de Contacto). almoço de encerra- sobre o dispositivo de segurança, rotina e mento, presidido pelo movimentos de pessoal, fazendo chegar à Em apoio às várias séries realizadas, há Comandante do Corpo de Fuzileiros CMG FZ FOB através de rádios militares, um vasto ainda a registar a colaboração prestimosa dos Cunha Brazão. conjunto de imagens e comunicados des- NRP “Afonso Cerqueira”, NRP “Orion”, Estiveram ainda presentes, para além de critivos da situação. Esquadra 751 da FAP e de uma aeronave todos os militares participantes no exercício, o Em D-1, o restante Grupo Operativo (que C130 da National Guard (US). Director do Estabelecimento Prisional de se encontrava em planeamento e ensaios a O exercício integrou-se no programa de Pinheiro da Cruz e os Adidos (Naval e Exército) bordo), foi também inserido de helicóptero intercâmbio militar entre os EUA/Portugal e o dos Estados Unidos em Lisboa. para a Ilha; após contacto com a equipa de seu propósito visou a execução de missões reconhecimento em terra, o Grupo ultimou combinadas no âmbito das Operações Espe- PERSPECTIVAS FUTURAS alguns pormenores de execução e ao amanhe- ciais, utilizando o mar como vector natural A realização de exercícios conjuntos e cer do dia D, efectuou a destruição do objec- de lançamento. combinados com forças congéneres são, por tivo com sucesso. Imediatamente após os Para além dos benefícios conhecidos e re- norma, extremamente proveitosos, quer na rebentamentos, o grupo retirou para a LZ sultantes deste tipo de treinos com forças avaliação e sistematização das técnicas e tác- “Dragão” para onde foi reembarcado. congéneres, o intercâmbio (este em particu- ticas utilizadas pelas diversas unidades quer lar) procurou a uniformização ainda no estudo e desenvolvimento de de algumas técnicas e procedi- questões operacionais de âmbito logístico. mentos tácticos, normalmente Anualmente e em média, o DAE participa aplicados em Operações Espe- em 2 ou 3 exercícios com forças estrangeiras ciais Navais. no âmbito das acções especiais e quase todas O exercício foi conduzido no em território nacional. A continuidade deste período de 17 a 30 de Julho e tipo de intercâmbios, quer a nível nacional constou basicamente de duas quer internacional, permitirá seguramente fases distintas: Treino Cruzado um crescimento operacional do DAE de uma (18 a 24JUL) e FTX (25 a 29JUL). forma consistente e organizada.  Enquanto que na primeira fase o (Colaboração do Comando do D.A.E.) interesse reverteu na aproxi- Notas Lançamento de botes em pára-quedas. mação dos elementos operativos e no conhecimento mútuo dos (1) Forward Operational Base – Base Operacional Este texto de ficção, permite transmitir ao meios e técnicas utilizadas pelas diversas Avançada leitor o cenário criado para o FTX deste exer- unidades, a segunda procurou aplicar a tácti- (2) Mission Task – Ordem de Missão cício combinado de Forças Especiais que ca das OE incluindo o planeamento e a con- (3) Destacamento de Acções Especiais (4) Unidade de Operações Especiais Pára-quedistas US decorreu na Península de Tróia no passado dução de várias missões, incluídas na Ope- (5) Salto para a água a partir de helicóptero mês de Julho. ração SUNRISE. (6) Light Inflatable Boat

26 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA PRÉMIOS DA

Decorreu no passado dia 16 de Outubro a cerimónia da entre- ga dos prémios da Revista da Armada referentes ao ano 2000, realizada nas instalações da Revista.

DIRECTORES DA R.A. CALM António Júlio Malheiro do Vale 30/04/71 a 09/01/83 CALM António Rocha Calhorda 10/01/83 a 28/03/89 CALM EMQ Joaquim de Carvalho Afonso 29/03/89 a 02/10/91 CALM MN Joaquim dos Santos Félix António 03/10/91 a 29/05/94 CALM José Manuel Pereira Germano 30/05/94 a 26/10/97 O Almirante Vieira Matias entrega o prémio “Comandante Joaquim Costa” ao CALM João Manuel Velhinho Nobre de Carvalho 27/10/97 a 20/10/98 Dr. Freire da Cruz, filho do Almirante Cruz Júnior. CALM EMQ Luís Augusto Roque Martins 21/10/98 a …

O Almirante Vieira Matias, acompanhado dos elementos do seu ano 2000, com que foi contemplado o 1TEN Jorge Manuel Moreira Gabinete, do Director e Corpo Redactorial da R.A. e dos antigos Silva, autor dos artigos “Prestes João: A verdade e a lenda”, Directores da Revista, visitou as instalações e presidiu à cerimónia “Regresso a Goa”, “Crónicas de Timor” (1ª e 2ª parte) e colabo- de descerramento dos retratos dos Directores da R.A. ração na elaboração das mesmas crónicas (3ª, 4ª, 5ª e 6ª parte), Seguidamente o Almirante CEMA procedeu à entrega do prémio publicados, respectivamente, nos nºs 329, 330, 331, 333, 334, 335 “Comandante Joaquim Costa”, destinado ao melhor trabalho publi- e 336. cado na Revista da Armada, atribuído a título póstumo, ao VALM Abílio Freire da Cruz Júnior, autor do artigo intitulado “Sacadura Cabral – O homem que deu asas à Marinha”, publicado nos números 330 e 331. O prémio foi recebido pelo filho do autor, Dr. António José Freire da Cruz. Seguidamente, o Almirante CEMA fez a entrega do prémio “Almirante Pereira Crespo”, destinado à melhor colaboração no

Aspecto do almoço oferecido pelo Almirante CEMA.

O Almirante CEMA enalteceu os laureados, reconhecendo o valor dos trabalhos premiados que contribuíram para a difusão cul- tural da Marinha e valorização da Revista da Armada. Por ocasião da passagem este ano do 30º aniversário da fundação da Revista da Armada, o Almirante Vieira Matias ofereceu um Entrega do prémio “Almirante Pereira Crespo” ao 1TEN Moreira Silva. almoço aos premiados e aos antigos e actual Directores da R.A.

HOMENAGEM ANUAL AO ALMIRANTE ARMANDO DE ROBOREDO

No passado dia 17 de Setembro, o dantes das Unidades de Fuzileiros e de- Corpo de Fuzileiros prestou homenagem legações de oficiais, sargentos e praças à memória do Almirante Armando de em representação das mesmas. Roboredo, passados que são catorze Quis desta forma o Corpo de Fu- anos após o seu falecimento. zileiros homenagear e enaltecer a figu- A cerimónia presidida pelo Co- ra de relevo que foi o Almirante mandante do Corpo de Fuzileiros teve Armando de Roboredo, e da sua pro- lugar na capela da Base de Fuzileiros, e funda ligação à história recente dos contou com a presença dos Coman- Fuzileiros. REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 27 NOTÍCIAS COMPCOMAR 2001

O Grupo Nº2 de Escolas da Armada através da Escola de A realização da COMPCOMAR 2001 contou com o apoio da Comunicações, dentro da tradição que remonta a 1974, realizou mais EID – Empresa de Investigação e Desenvolvimento, Banco Totta & uma edição da Competição de Comunicações da Armada, edição de Açores, TMN, PT Prime e SETRONIX, através do patrocínio das 2001 – COMPCOMAR 2001, várias provas realizadas, enti- mantendo-se inalterada a linha dades estas que se fizeram re- mestra pela qual se regem os presentar na cerimónia de objectivos desta iniciativa: Incre- entrega de prémios que decor- mentar o treino e a eficiência dos reu durante a cerimónia oficial operadores, estimulando o seu de comemoração do dia do interesse pelas comunicações. Grupo Nº2 de Escolas da A COMPCOMAR 2001 desen- Armada realizada em 22 de rolou-se em duas fases distintas: Junho, presidida pelo Su- Provas de Selecção (que decor- perintendente dos Serviços do reu entre 21 e 23 de Março) onde Material, VALM Vidal Abreu, foram seleccionados os melhores que contou ainda com a pre- concorrentes em cada uma das sença de diversas entidades provas regulamentares, e as militares e civis convidadas, Provas Finais (entre 07 e 10 de Director da Escola de Comunicações, representantes das entidades patrocinado- pela guarnição do G2EA e Maio) onde os candidatos apura- ras e alunos premiados. alguns familiares. dos na fase anterior puderam pôr à prova as suas mais completas capacidades nas várias vertentes das PRIMEIROS CLASSIFICADOS DO COMPCOMAR 2001 comunicações militares abrangidas nesta competição. A COMPCOMAR 2001, pela primeira vez, não incluiu a já RECEPÇÃO E TRANSMISSÃO DE MORSE LUMINOSO saudosa prova de Morse Acústico, decisão tomada na sequência da 208694 1MAR CCT BARATA CZMS extinção desta quase bicentenária forma de comunicação, ficando desde já a homenagem a todos os que, com grande mestria, domi- MMHS – TERMINAL DE OPERADOR naram esta arte de comunicar ao longo de tantos anos. Assim, esta 245392 1MAR CCT TEIXEIRA CZMS competição pôde contar com as seguintes seis provas: Morse Luminoso, SIC-SSC(Sistema Integrado de Comunicações – Sub-sis- SISTEMA INTEGRADO DE COMUNICAÇÕES – SSC tema de Supervisão e Controlo), SIC-MOST4 Ships (Sistema Integrado 242089 1MAR CRO PIRES NRP C. REAL de Comunicações – Message Oriented Service Technology for Ships), SISTEMA INTEGRADO DE COMUNICAÇÕES – MOST4 MMHS(Maritime Message Handling System) - Terminal de Operador, 561394 1MAR CRO SILVA NRP C. REAL Questionário de Comunicações e Sinalização Visual, esta última constituída por equipas de três elementos. QUESTIONÁRIO DE COMUNICAÇÕES Na vanguarda da evolução tecnológica de que têm sido alvo os 208694 1MAR CCT BARATA CZMS Sistemas de Comunicação e Informação utilizados na Marinha, o Grupo Nº2 de Escolas da Armada - Escola de Comunicações tem tido PROCEDIMENTO VISUAL (EQUIPAS) a permanente preocupação em deter e melhorar as ferramentas de 121790 1MAR CCT SERRAS CZMS formação com eles relacionadas, sendo esta competição reflexo do 6318491 1MAR CCT LIBERAL CINCSOUTHLANT empenho desta unidade na permanente convicção da importância da 208694 1MAR CCT BARATA CZMS qualidade da formação dos nossos militares.

REUNIÃO DE OPERADORES DOS HELICÓPTEROS LYNX

Organizada pela Direcção de Navios, além de representantes das empresas decorreu entre 18 e 20 de Setembro, nas mencionadas. suas instalações, a 41ª Reunião do No primeiro dia, a sessão foi aberta pelo “Multilateral Lynx Support Committee” Director de Navios, que na ocasião (MLSC), grupo de discussão e análise de salientou o quanto importante é para a problemas técnicos dos Helicópteros Marinha a organização de reuniões inter- Lynx, e que reúne semestralmente todas nacionais neste âmbito, referindo ainda as Marinhas europeias operadoras destas os benefícios mútuos decorrentes das tro- aeronaves, bem como a Marinha cas de informação técnica e experiências Brasileira, além do seu construtor, Agusta entre os diversos operadores. Westland, e a Rolls-Royce, fabricante A reunião incluiu no último dia uma dos motores que as equipam. visita à empresa EDISOFT, que patroci- A Marinha faz parte deste grupo desde 1991, sendo representada em nou o habitual jantar oficial, e decorreu de forma bastante proveitosa, todas as reuniões por oficiais da Direcção de Navios (Divisão de tendo mais uma vez constituído, um fórum de grande interesse para Helicópteros) e Esquadrilha de Helicópteros. debate e discussão de assuntos de carácter técnico associados aos Estiveram presentes em Lisboa 31 delegados estrangeiros, provenientes Helicópteros Lynx, visando garantir a operação destas aeronaves com da Alemanha, Brasil, Dinamarca, França, Holanda, Inglaterra e Noruega, padrões de máxima segurança.

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mente de cada um é uma entidade sões e mal estar familiar...Num paroxismo de mágoa provinha da ausência de perdão. de reputada complexidade. É consti- desafio, o filho decide alistar-se na Marinha, Parecia-lhe agora incompreensível a sua A tuída por intrincados caminhos labi- onde aliás já granjeara uma carreira que ultra- incapacidade para perdoar ao pai, no que rínticos, com janelas mais ou menos colo- passava a simples regularidade. viriam a ser os seus dias finais. Parecia-lhe, ridas a que chamamos recordações, memó- Na sua vida pessoal, o Atleta (assim o vou ainda, na bruma do tempo e com a sensatez rias...Não há duas mentes iguais, como não chamar por razões que mais tarde se com- própria do amadurecimento, que um consen- existem duas vidas iguais...Cada Homem vai preenderão), também tinha acalmado. Há já so poderia ter sido atingido, no passado. construindo, assim me parece, uma aldeia dois anos tinha casado e havia agora um bebé De repente, o Atleta compreendeu que de emoções de experiências próprias, que de 11 meses, do qual falava com emoção. parte da cisma se deveu a si próprio, pelo constituem o seu Eu. Nunca mais voltara à casa paterna. As notí- menos tanto como à incompreensão do pai – Por isto, podemos ser muitos milhões de cias familiares eram raras desde a morte pre- até então, a seus olhos, o único culpado pela homens sobre a terra, podemos partilhar coce da mãe, por doença grave e, dizia-se, situação. cidades, vivências, esperanças, mas seremos dilacerada pelo abis- sempre diferentes... mo que afastara o Em honesta humildade, todos o sabemos, seu único filho do muito do que afecta a nossa vida não foi (nem convívio de casa... será nunca) dependendente dos nossos dese- Haviam já dez anos. jos...São diversas as circunstâncias que nos Recentemente, condicionam e condicionam as nossas um primo afastado, decisões. Algumas decisões são difíceis, dei- telefonara-lhe afir- xam marcas, modificam vidas... mando que o pai A bordo, onde o tempo é longo e as ver- estava, ele também, dades e os medos tomam proporções gigan- muito doente... Pen- tescas, encontrei muito sofrimento psíquico. sou, pensou e deci- Certos acontecimentos passados deixam mar- diu que não ia saltar, cas, que nos fazem sofrer desmesuradamente ainda dessa vez, a - quais Adamastores num mar turbulento de vala funda que os insónia, tristeza e, em particular, muita pena dividira ao longo de nós próprios. dos anos. Tinha ci- Precisamente porque não falta tempo a catrizes profundas, bordo, um bem cada vez mais raro nas nossas memórias de pala- vidas, muitas vezes conversei, longamente, vras duras e a ima- com viajantes tristes desse mar revolto. Nesse gem de um homem Sul, ao mesmo tempo perto e longe, escondi- de pedra, frio, quase do dentro nós, a empatia e a racionalização feroz, na sua intran- são quase sempre indispensáveis para dobrar sigência... Não foi o Cabo da Boa Esperança...para lá, muito visitar o pai. para lá, da comiseração e do sofrimento auto O pai, por seu – infligido... lado, nada fez para A história que vos trago hoje é a de um activamente procurar desses homens dilacerados pelo que consi- fechar a ferida. Nem deram terem sido passos errados, de um pas- a proximidade da sado que não podem mudar... morte, nem a soli- Conheci em tempos, numa das Vasco da dão, profunda, o de- Gama, um filho amargurado pela morte do moveram. - “Tam- pai, que procurava, repetidamente, o Serviço bém tinha as suas razões...” - disseram alguns Não dormia bem. Pesava-lhe a consciên- de Saúde por queixas físicas inconsequentes. depois da sua morte, apontando o dedo acu- cia. Quanto mais meditava sobre o assunto, A verdade é que esse oficial, tinha tido, ao sador ao filho. mais sofria, pois o ponto de não retorno longo de toda a sua vida, uma péssima relação Assim, este homem de rijos princípios, constituído pela falecimento do pai, impedia, com o pai. Na adolescência o pai, um homem definhou solitariamente, até um fim triste e agora, qualquer tentativa de reconciliação... de formação antiga, muito religioso, não via um funeral obscuro, como se de um indi- Na verdade, saberá o leitor, odiar quem com bons olhos o quotidiano do filho – na gente se tratasse. realmente se ama é uma situação das mais altura um estudante sofrível, muito mais inter- A vida continuou, porque continua sem- dolorosas. Cria um turbilhão, por dentro, essado, em jogar futebol, sair à noite com os pre... como quando dois afluentes de um mesmo amigos nas omnipresentes discotecas e, acima Com o tempo, contudo, a memória do pai rio se encontram, até negociarem a calmaria de tudo, descurava completamente a tradição passou a atormentar o nosso militar. de um leito comum. Configura uma situação familiar nortenha de tradição católica. Inicialmente, não passava de uma amarga em que não há vencedores, nem vencidos, As discussões sucediam-se numa de- recordação, até que progressivamente se só tristeza...Acompanha-se sempre de sofri- sagradável sucessão de insultos, incompreen- insinuou até ao estatuto de pesadelo. A mento pois se persistimos no ódio, falta-nos

30 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA o calor desse ente querido. Se valorizamos o próprio ser. É, se o leitor quiser, uma droga só mestre, seja este o dinheiro, a ambição, ou amor, sofremos também, muitas vezes, pela com capacidade para libertar do desencanto a vaidade. Destacam-se pela incapacidade incapacidade de mudar o ente amado. mesmo o mais sofredor, sem pedir nada em que têm de rir de si próprios e pelo sorriso Qualquer decisão neste caso é válida, troca, excepto vontade e disciplina... amarelo com que falam dos outros... porque não há decisões perfeitas, nem Convidei o meu amigo a correr diaria- Já corri em muitos lugares do Mundo por ninguém está aqui totalmente certo, ou erra- mente, tal como eu próprio o fazia. E ele onde a sorte e a Marinha me levaram, desde do...Fica-nos só, muitas vezes, o vazio do aceitou. Corríamos, nós e outros, diaria- o frio europeu, até ao calor húmido dos trópi- incompreensível e o desejo, profundo, de mente, sempre que as operações de voo o cos. Em cada lugar pude perceber a vida de que tudo fosse diferente...Contudo, fre- permitiam. Com o tempo o Atleta adaptou-se uma forma distinta, mas sempre livre... quentemente, não o é.... a correr com balanço, a sorrir ao vento ou à Muitas vezes, mesmo fisicamente confina- Ora, felizmente, naquele navio, havia chuva. Aceitou o corpo cansado e a disci- do, recordo postais coloridos, gravados na espaço para correr. Ainda que no frio metal, plina do esforço. alma, como o pôr do sol, no molhe, em ainda que em círculos, mas era corrida. Há Pouco a pouco o Atleta foi conseguindo o Ponta Delgada, ou a chuva, quente e doce, na corrida, quando o esforço é honesto e silêncio em si próprio e a aceitação do por entre a folhagem de uma ilha tropical. duro, um momento sublime, por muitos inevitável. Com o tempo, ainda, atingiu um Cada uma dessas memórias, físicas, reais, relatado, em que a mente se cala e um silên- novo patamar de equilíbrio no seu íntimo, a leva-me dali para fora e para fora dos meus cio livre nos invade. Nesses instantes, úni- que alguns chamarão crescer... receios. E no tal labirinto escuro da mente, cos, não há Bem nem Mal, nem Certo ou É que, tenho a certeza, só fica perplexo, só cada janela destas é refugio seguro. É liber- Errado. Só há um movimento mecânico que sofre, quem genuinamente tem sentimentos. tação. impele um pé na frente do outro num bater A culpa que atormentava o nosso Atleta e o Talvez o nosso Atleta devesse ter perdoado ritmado, quase como se de um bailado se inferno, que daí advinha, não são merecidos, o pai, ainda em vida deste. Mas, certamente, tratasse. ainda que ele – como muitos de nós, num ou cada um de nós tem um talvez daninho, que É um silêncio bendito, que muitas vezes noutro momento das nossas vidas – não con- lhe atormenta a existência. Cada um terá, procurei na vida, sempre que dores ferozes seguisse libertar-se. E eu, tal como muitos, também, a sua forma própria de se libertar. me atormentaram, ou medos, maiores que a cansei-me de ver pessoas boas e sensíveis, Por mim, vou concluir esta história, afir- morte, me assustaram... sofrerem pela sua sensibilidade, pela sua mando, inequivocamente, que no oceano de No final desse clímax de esforço, come- honestidade. perplexidade, em que cada vez mais nave- çamos lentamente a sentir. Sentimos, ao de Encontrei, infelizmente, outros homens gamos, o esforço parece ser farol seguro, para leve, primeiro o vento na face, depois o sol cheios de certezas, muito seguros de si atingir a paz. na distância, ou o azul do mar, que afinal próprios, para os quais estes problemas são - Ora este vai continuar a acreditar em fan- tem um tom que desconhecíamos... triviais, próprios de velhas, padres e crianci- tasias! – gritarão alguns. Nesses momentos, acredito eu, estamos nhas...Para este tipo de pessoas tudo corre Vou, vou continuar a acreditar com todas perto de um paraíso verdadeiro, em que bem, porque, acreditam serem donos da ver- as forças. Quem sabe, não sou velha, nem todas as dores se calam, em face de um pra- dade última, em quase tudo...Importam-se padre, mas talvez seja criancinha?  zer belo dos sentidos, que nos põe de bem pouco ou nada com o que outros sentem, ou com as vibrações do mundo e com o nosso sofrem. Habitualmente são escravos de um Doc.

BIBLIOGRAFIA Almirante Eugénio Ferreira de Almeida (Curriculum Vitae)

Noventa anos é uma bela idade em Almirante Ferreira de Almeida teve a que já vale a pena olhar para trás, e, gentileza de deixar na Revista da querendo e sabendo, fazer uma Armada, é um exemplar de 50 páginas redacção para coleccionar em letra de numeradas em algarismos árabes, mais forma o quanto se fez, se possível quan- 26 (XXVI) numeradas em romano, estas do, como, porquê e, com presunção ou últimas apresentadas como “Adenda ao sem ela, para quê, O Almirante Ferreira Curriculum Vitae / Pró Marinha / de Almeida quis ele próprio deixar-nos Algumas Das Atenções Despertadas a sua visão pessoal deste apanhado da Com Reflexos Prestigiantes / Desde sua vida, e oxalá possa continuar a 1937”. brindar-nos com outros e novos feitos; Toda a vida deste distinto oficial é de afinal noventa anos, não constituem facto bem cheia, de tal modo que fica meta a considerar, conquanto muitos útil divulgá-la. não tenham a dita de os conseguir no A R.A. agradece ter sido contemplada rol dos vivos. com o volume que o próprio nos fez Contando com as facilidades enormes chegar por um amigo comum.  com que hoje se faz um livro, com apresentação até que anos atrás seria um luxo, (só lhe está faltando a ficha técnica – que facilmente se pode imagi- nar – é quase só um nome para as S. Machado várias alíneas) o livro que o Senhor CMG REF

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 31 Signal Intelligence and Electronic Warfare

lNiUy f!lt~ lhe pob mi "",",.,1 DtId S910I pIO(moo for divitoI !igtd ogerKiM wilh securil'ff!lmnt tcID coo PfO(mi1Il 0111 lhe 1M 01 ille!1ige!1t onIy til! $U((!$s!uI W Ihei" tW1nir:oI ~ ho;wdwore onl sdfworl ~ ii ~ til lhe k1test sIote ti lhe IJI. Swm iii lhe "dijIoI bol1lefJe~· ii oriy We ossisl )'OU ii sot.q )'III.f c. rosks pi!ÜIIt ~ lhe use 0/ l\e~ilIe by promng oIinIlusite sokIIions far Iei:hooIogr. Yoo ~ hm lo be lhe _diing, delrilg. ono/ylilg ond fllltHl ood 'S/IIIIItit" to " !el

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TELERUS -Sistemas de TelecomunicaçOes. SA Fluo Gooroor.O f __ .... e· 20 • ' 091;.131 AI\IM • TOI: 21. 123 580 • F..: 2" \23 eoo . E·_ ~ t'F pi QUARTO DE FOLGA JOGUEMOS O BRIDGE PALAVRAS CRUZADAS (Problema nº 36) (Problema Nº 320) 1234567891011 Norte (N): ♠ ♥ ♦ ♣ 1 D A 5 A 2 8 3 V 6 9 3 5 6 4 4 2 5 Oeste (W): Este (E): ♠ ♥ ♦ ♣ ♠ ♥ ♦ ♣ 6 V 7 R 8 10 V 10 R 7 6 D 3 9 10 D 5 V 3 4 10 8 9 2 7 8 5 9 4 10 2 Sul (S): ♠ ♥ ♦ ♣ 11 A R A - HORIZONTAIS: 1 – Privara da posse. 2 – Amainara. 3 – Nota R D 7 musical; porto da Beócia onde se reuniu a armada dos Gregos 7 9 6 antes de partir para Tróia, e onde Ifigénia foi sacrificada; no 4 8 princípio de pera. 4 – Nome próprio feminino; imensidão; pos- 3 suir. 5 – Insecto díptero que vive sobre o corpo do homem e de 2 muitos animais; lançar fogo a. 6 – Leão na confusão; ilha grega do Arquipélago das Cíclades, onde foi achada, em 1820, a Vénus de Milo. 7 – Cargo, funções ou dignidade de deão; adi- cionar. 8 – No meio e no fim de aleas; tritura; nome próprio Com E-W vuln, S cumpre 6♠ ou 6♥ contra qualquer saída, face às masculino. 9 – Réis; mau humor (fig); gume. 10 – Grupo de ♥ 3-3. 6♠ será o contrato mais natural, cujo cumprimento não tem peças de artilharia. 11 – Patentear. qualquer dificuldade, mesmo com os 4 trunfos encostados, dando apenas uma ♠. Mas como deve S jogar para cumprir o contrato de VERTICAIS: 1 – Privar do poder. 2 – Tribo de asteráceas que tem 6♥, com saída de W a ♦R ? por tipo a ímula ou émula. 3 – Apelido; fileiras; símb. quím. do (Solução neste número) chumbo (inv). 4 – Altar; filho de Jacob; botequim. 5 – Lança o prumo para sondagens; olvida. 6 – Ligo (inv); sinete (inv). 7 – Pássaro dentirrostro, também chamado cotinga-azul; aparelho SOLUÇÕES de cipó, de forma semicircular e encimado de uma cruz, que as PROBLEMA Nº 36 mulheres cristãs da Índia levam, ao som da música, em certas festas religiosas (Bras). 8 – Três consoantes de isocronismo; três Escolhemos esta saída mas a solução é igual para qualquer outra, com de tempo; nome de letra grega (inv) (pl). 9 – Rio costeiro de naturais adaptações para chegar à mesma posição final. Teremos ape- França; acto ou efeito de teimar; símb. quím. do átomo. 10 – nas que encontrar uma forma de squeezar E entre ♠-♣, porquanto Iludira (fig). 11 – o mesmo que aterrar. está obrigado a ter de segurar as ♠ e as figuras de ♣ para defesa desse naipe, face ao AV de N. Se descobriu, parabéns. Vejamos então: Faz ♦A, vai ao morto no A de trunfo e joga ♣A baldando um ♦; vem à mão no corte de um ♣ e joga 3 voltas de trunfo, ♠A e ♦ para W; a 4 cartas SOLUÇÕES do fim a posição será: W só tem ♦, N tem ♠D86 ♣V, E tem ♠1093 PALAVRAS CRUZADAS Nº 319 ♣ ♠ ♥ R e S R74 8; o squeeze será feito pelo próprio W, que só tendo HORIZONTAIS: 1 – Butargas; oc. 2 – Olea; rl; ano. 3 – Tom; ♦ ♠ coloca o parceiro sem defesa e S pode baldar uma do morto. espia. 4 – Aforismo; rr. 5 – Loriga; moi. 6 – Ob; Galagala. 7 – ♠ ♦ ♥ Para 6 e a mesma saída, uma linha de jogo a seguir: A, para o Sisos; dano. 8 – Aar; coligo. 9 – Cetim. 10 – Uveas; anual. 11 – ♠ ♥ ♦ ♦ A, para o A, R para baldar o do morto, para corte e recorte Xalmas; osso. ou não de E; se recortar basta baldar um ♦ no ♣A, destrunfar e as ♥ estão boas; se não recortar balda na mesma o ♦, dá 2 voltas de VERTICAIS: 1 – Botalos; lux. 2 – Ulofobia; va. 3 – temor; savel. 4 trunfo ficando ainda com um, tal como E, e vai jogando as ♥ – Aa; rigor; am. 5 – Ligas; asa. 6 – Gr; sal. 7 – Alem; adoca. 8 – So; dando apenas o trunfo que ficou de fora. Com outra saída adapte. galeno. 9 – Ap; manitus. 10 – Onirologias. 11 – Coaria; omlo. Nunes Marques Carmo Pinto CALM AN 1TEN REF

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2001 33 NOTÍCIAS PESSOAIS CONVÍVIOS COMANDOS E CARGOS CLUBE ESCOLAMIZADE NOMEAÇÕES ● CMG Agostinho Ramos da Silva, Chefe da Repartição de Oficiais da Direcção As comemorações do 10º aniversário da fundação do Clube do Serviço de Pessoal, em substituição do CMG Jorge Alberto Araújo Cunha Serra ● CMG AN Reinaldo Silva Castro, Director da Chefia do Serviço de Apoio Escolamizade vão ter lugar em Albufeira, iniciando-se no dia 11 de Administrativo, em substituição do CMG AN António Joaquim Almeida Moura Novembro com um concurso de pesca desportiva e outro de petanca ● CMG AN Luís Carlos Calceteiro Serafim, Director da Direcção de seguido de um magusto de S. Martinho. No dia 17 de Novembro, terá Administração Financeira, em substituição do CMG AN Adolfo Aboim Roçadas lugar uma exposição de pintura e uma revista à portuguesa no Ramalho ● CMG MN Luís Augusto Rodrigues Fernandes Junior, Presidente da Junta de Saúde Naval, em substituição do CMG MN José António Pinto Sousa auditório da Câmara Municipal de Albufeira. À noite realizar-se-á o Borges ● CMG Arménio Cunha, Chefe da Repartição de Sargentos e Praças da tradicional jantar de aniversário no restaurante “Solar da Planície” Direcção do Serviço de Pessoal, em substituição do CMG José Augusto Vilas Boas (Açoteias – junto ao Hotel Alfamar), seguindo-se a entrega de diplo- Tavares ● CMG João da Cruz de Carvalho Abreu para o cargo HC-77 Chief mas aos sócios fundadores. As festividades encerrarão no dia 18 de Above Water no Comando Supremo Aliado do Atlântico SACLANT em Norfolk, Novembro com um Porto de Honra para os associados e convidados E.U.A., em substituição do CMG José Augusto de Brito ● CMG Fernando Manuel de Oliveira Vargas de Matos, Chefe da Divisão de Informações do na Sede Social do Clube. Estado-Maior da Armada, em substituição do CMG Fausto José Tomás Coelho ● CFR FN Carlos Alberto Carrondo Tomé dos Reis, Presidente do Grupo Coordenador de Combate à Droga e ao Alcoolismo, em substituição do CMG FN João Pedro do Amaral Alegria ● CFR António Tomé Robalo Cabral para o cargo 7º CONVÍVIO DOS MARINHEIROS DO C 35-656 Procedutal Interoperability Standards no IM5 em Bruxelas - Bélgica, em substituição do CFR José Ribeiro da Silva Campos ● CFR MN Artur Augusto CONCELHO DO SABUGAL Teixeira Pereira de Castro, Presidente da Junta de Recrutamento e Selecção, em substituição do CMG MN José Filipe Araújo Moreira Braga ● CFR Henrique Manuel de Sousa Estrela Martins para o cargo HC 3308–Staff-Officer, Exercise Presidido pelo CMG Ferreira Pires, teve lugar no passado dia 4 de Developement no Comando Supremo Aliado do Atlântico SACLANT em Agosto, em Aldeia Velha, o 7º convívio anual dos marinheiros do Norfolk – E.U.A., em substituição do CMG António Alberto Rodrigues Cabral Concelho do Sabugal. ● CFR Francisco José Nunes Brás da Silva para o cargo OPS–416 Staff-Officer O evento, que teve como convidados o Presidente da Câmara do Crisis Management Operations Division no IMS em Bruxelas, em substituição do Sabugal e o Presidente da Junta de Freguesia de Aldeia Velha, reuniu CFR Luís Manuel Fourneaux Macieira Fragoso ● CFR Fernando Nuno Claro Fidalgo de Oliveira, Director do Depósito de Munições NATO de Lisboa, em subs- cerca de 120 participantes. tituição do CFR Jorge Manuel Lopes da Fonseca ● CFR Luís Manuel Fourneaux Macieira Fragoso, Director de Instrução da Escola Naval ● CTEN José Manuel Ministro Ribeiro da Costa para o cargo AFAI PP-066 – Requirentes Officer no RHQ – AFSOUTH Nápoles – Itália.

RESERVA ● CMG Manuel Luís Amaral Pereira ● CMG EMQ Carlos Manuel de Sousa Costa Ramos ● CFR MN Veríssimo Manuel Martins de Jesus ● CFR João Manuel Borba Caldeira ● CFR José Pedro Rodrigues de Almeida Pico ● CFR Manuel Alexandre Ferreira Pinto de Abreu ● CFR EM Fernando Manuel da Cunha Manilha ● CFR SEF Manuel António Frederico Piteira ● CFR Jaime da Piedade Neves Simões ● CFR Rui de Azevedo de Almeida ● CFR José Teixeira Ferreira Gil ● CTEN José António de Moura Veloso ● 1TEN Francisco Carreira de Oliveira ● SMOR Domingos Rosa Caeiro ● SMOR António Caldas Alves ● SMOR António Manuel da Cruz Chaveiro ● SCH Celso de Araújo Batista Ruão ● SAJ Manuel Luís Fernandes ● SAJ Joaquim Manuel Maneiras Alferes ● SAJ João Dionísio Correia ● SAJ José O programa contou com uma celebração eucarística em memória António Soares Pereira de Castro ● SAJ António Domingos Amaro Martins ● SAJ dos marinheiros do concelho já falecidos. Seguiu-se o almoço no alto ● ● Manuel Tomaz Baião SAJ Carlos José Vieira 1SAR António José Narciso da serra, num aprazível recanto junto à ermida de Nª Sra. dos Correia ● 1SAR Horácio Guerreiro Nobre ● 1SAR Joaquim Augusto da Fonte ● 1SAR José Guilherme de Magalhães Vieira ● 1SAR Mário da Conceição Lopes Prazeres. Terminada a refeição, os participantes visitaram as ruínas do ● 1SAR Laureano Rodrigues Costa ● 1SAR Armando da Silva ● CAB João Sabugal Velho, antiga capital do concelho. António Mascarenhas Pires ● CAB José António Valente Simão ● CAB Humberto As “hostilidades” foram retomadas ao fim da tarde, com uma Veleda Pires ● CAB Leonel Beça Macho ● CAB José Joaquim Serrano Fialho merenda. Na ocasião foi proferida uma breve alocução pelo CMG ● CAB Mário Peixoto Casimiro ● CAB José Avelino Trindade Corucho ● CAB António Reinaldo Moreira dos Santos Silva ● CAB João António Lourenço. Ferreira Pires, à qual se associou o Presidente da Câmara do Sabugal. Seguiu-se o partir do bolo comemorativo, tendo ainda sido entregue REFORMA como recordação a cada uma das entidades convidadas um belíssimo astrolábio náutico oferecido pela comissão organizadora. ● CMG Humberto de Vasconcelos Gonçalves ● CFR António da Silva Fernandes ● CFR Victor Manuel Dias Coelho da Silva ● CTEN João Augusto Para finalizar, foi escolhida a comissão organizadora do próximo Rebelo ● CTEN José Domingos Vieira Faria ● CTEN Ramires Palma Bonito convívio, que decorrerá na histórica e pitoresca aldeia de Sortelha. ● 1TEN António Joaquim Batista Modesto ● 1TEN Simão Bispo da Costa ● 1TEN Manuel Gaspar ● SMOR Francisco Inácio Rosa ● SMOR Armando Mota da Silva ● SCH Armando Nunes do Nascimento ● SCH Carlos Joaquim dos Santos ● 1SAR António de Oliveira Bernardes ● SAJ Joaquim Afonso Bernardo ● SAJ André BÓIA DE ESPERA Bastos Henriques ● SAJ Rodrigo de Jesus Palma Dias ● SAJ Arnaldo Fraga Ferreira ● SAJ Manuel Catarino Dourado ● CAB António Lopes Ribeiro Pinto ● CAB Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 3 Guiné 1967/1969 Joaquim José Gonçalves ● CAB António do Espírito Santo Rodrigues da Silva. Durante o corrente ano foram efectuados 3 almoços-convívio: FALECIMENTOS 19 de Maio, 4 e 25 de Agosto. A fim de localizar alguns elemen- tos do Destacamento, pede-se a todos os interessados que para ● VALM REF Alberto Amaral Marques de Abrantes ● CMG REF Francisco José de Oliveira Seixas ● 1TEN SG REF César Maria da Luz ● 1TEN SG REF Manuel participar no próximo almoço-convívio que se irá realizar em Clemente Figueiredo Gomes ● 1TEN OT REF Jorge dos Santos Nunes ● 1TEN OT 2002 na cidade de Aveiro, entrem em contacto para: REF António Miguel Gomes ● 1TEN OT RES Manuel Margato Curioso ● SCH TF Veiga RES Mário Barata ● SCH CE RES Luís Manuel Rianços ● 1SAR TFD REF José Rosa Rua Trás-os-Montes, 9 – 2º Esqº, Cruz de Pau, 2845-091 Amora Vicente ● 1SAR M REF Bernardo Feliz Pinto ● CAB A Arlindo Leonardo Vaz dos Telf. 212249694, Tm. 919225563 Santos.

34 NOVEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

32. MUSEU MARÍTIMO ALMIRANTE RAMALHO ORTIGÃO

O actual Museu Marítimo, foi organizado sobre as cinzas do antigo Museu Industrial Marítimo, que pertenceu à extinta Escola Industrial Pedro Nunes, em Faro. Foi criado por despacho de 4 de Janeiro de 1889, sendo Ministro das Obras Públicas, Comércio e Industria o Conselheiro Emídio Navarro. O núcleo em torno do qual se formou o antigo Museu Industrial Marítimo foi a interessante colecção de modelos, de redes, armações, aparelhos e barcos de pesca, estudados, mandados construir e montados pelo distinto oficial de Marinha e engenheiro hidrógrafo António Artur Baldaque da Silva, colecção que o Governo por proposta do Inspector Fonseca Benevides, comprou àquele oficial, acrescida de modelos de construção naval, aparelhos e instrumentos de navegação, modelos de navios, trabalhos de marinheiro, modelos de máquinas, quadros a óleo representando os peixes, moluscos e crustáceos mais importantes da fauna marí- tima de Portugal, etc., construídos e adquiridos por iniciativa e sob a direcção do mesmo Inspector Fonseca Benevides. As diferentes colecções, estiveram em exposição pública em Lisboa na Escola Industrial Marquês de Pombal, em Espanha, e na Exposição Universal de Paris em 1900. Em Faro, foi o Museu primitivamente instalado na própria Escola Pedro Nunes, rua do Município, a seguir numa casa da rua da Carreira, hoje Infante D. Henrique, e depois no solar Pantoja, rua de Santo António, onde se conservou até à sua entrega, em 1916, à extinta Escola de Alunos Marinheiros do Sul, instalada no antigo Paço Episcopal, que foi sede do Departamento Marítimo do Sul e onde foi inaugurado em 1931 sob a orientação do Capitão do Porto, Capitão de Fragata António Ramalho Ortigão. Em 1964, foi instalado no actual edifício da Capitania do Porto de Faro onde actualmente se encontra, junto à Doca de Recreio, sendo a decoração e a pintura do “copejo do atum” da autoria do pintor algarvio Carlos Porfírio. O Museu compreende três salas. A sala “Lyster Franco” em homenagem ao pintor, que tanto interesse e trabalho despendeu na instalação no Largo da Sé com a restauração dos 64 quadros do Museu, em manifesto risco de se perderem, e pela oferta de 3 telas da sua autoria; a sala “Manuel Bivar” em homenagem ao distinto engenheiro agrónomo farense, cuja curiosidade e amor às coisas de Marinha se manifestou na construção, por ele próprio realizada, dos interessantes modelos depositados no Museu pelos seus fi- lhos; e a sala “Baldaque da Silva” em homenagem ao distinto oficial de Marinha e engenheiro hidrógrafo, autor do belo livro “Estado actual das pescas em Portugal” e organizador das colecções dos modelos de redes e barcos. Encontram-se expostos no museu Almirante Ramalho Ortigão, variados tipos de redes, artes, aparelhos e diversos utensílios de Pesca. Destes podemos salientar os utilizados — Na Pesca do Alto, aqui representada pelo Arrasto a vapor que é uma arte de pesca envolvente de arrastar, que os pescadores portugueses passaram a chamar arrastão e labora lançada pela popa de uma embarcação navegando a vapor; a Rasca que é uma rede de emalhar permanente ou de fundo, de um só pano, usada no norte, desde Caminha à Ericeira para a pesca das lagostas, raias e cações, a Petisqueira rede de emalhar permanente ou de fundo, de três panos sobrepostos, usada pelos pescadores de Buarcos, desde Caminha à Ericeira para a pesca de linguados, ruivos, cações, tremelgas e a Sardinheira rede de emalhar flutuante ou de superfície, de um só pano, usada para a pesca da sardinha no Norte do País. Na Pesca Costeira encontram-se representadas a Armação de atum arte de pesca envolvente fixa, usada na Costa Meridional do Algarve. O Bicheiro de mão gancho de ferro para copejar/arpoar o atum colhido pela armação e embarcá-lo. O Bicheiro de alcan- ce gancho para arpoar o atum mais distante que não pode ser copejado com o bicheiro de mão. A Armação de sardinha à valen- ciana simples arte de pesca envolvente fixa, usada na Costa Meridional do Algarve e nas enseadas de Sines, Setúbal, entre os Cabos da Roca e Espichel e na de Peniche. O Cerco Americano arte de pesca envolvente de cerco volante, usada em toda a Costa de Portugal para a captura da sardinha. A Chavega arte de pesca envolvente de arrastar usada na Costa do Algarve para a captura da sardinha e outros peixes. A Redinha ou Lavada pequena arte de pesca envolvente de arrastar usada no Algarve para a captura de peixe miúdo. A Sacada arte de pesca envolvente de suspensão, muito usada, principalmente na Costa do Algarve, na captura do chicharro, cavala, boga, etc. O Enchelevar rede envolvente de suspensão para tirar ou envolver a pescaria apanhada por outras artes. A Barqueira de arame aparelho de muitos anzóis, empregado vulgarmente na pesca da faneca em quase toda a Costa de Portugal. A Teia de alcatruzes aparelho de pesca muito usado na Costa do Algarve na captura do polvo, cada teia pode ter até 72 alcatruzes. Por último, na Pesca Fluvial encontram-se representadas para além de muitos outros o Tresmalho rede de emalhar volante, de três panos sobrepostos, muito usada nas águas interiores dos rios e rias de todo o Continente. O Redenho pequena rede envolvente volante, de malha muito miúda, empregada na pesca do camarão nas proximidades das barras. O Tapa esteiros aparelho de rede de estacada tendo junto uma outra rede em forma de saco com armadilha como os botirões, muito usado nas rias de Faro, Olhão, Tavira e Portimão. A Fisga das lampreias aparelho de fisga com sete a doze dentes apenas. A Colher pequena rede triangular enta- lhada em duas varas cruzadas e amarradas, formando bolso; empregam-na, mas pouco, devido ao pequeno lucro que dá. O Xilreu pequena rede triangular entalhada em duas canas amarradas em cruz com uma terceira fechando o triângulo e possuindo a meio um copo de rede mais miúda. É usada na ria de Tavira, Fuseta e Olhão, quase sempre na baixa-mar. A Adiça instrumento usado pelos marítimos do Algarve para apanhar lingueirão. O Museu com a sua magnífica colecção de artes de pesca, utensílios, modelos de navios e muitas outras peças relacionadas com o Mar é muito visitado por turistas nacionais e estrangeiros e também por estudantes do ensino básico, secundário e da Universidade do Algarve e constitui por si só um conjunto raro e de grande interesse.

Capitania do Porto de Faro (Texto de Mário Dores de Sousa, CMG) Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

32. MUSEU MARÍTIMO ALMIRANTE RAMALHO ORTIGÃO PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 348 • ANO XXXI DEZEMBRO 2001 • MENSAL • 250$00 / € 1, 25

NNAA ÍÍNDIANDIA,, HHÁÁ QQUARENTAUARENTA AANOSNOS CerimóniasCerimónias evocativasevocativas dodo 40º40º aniversárioaniversário dosdos combatescombates navaisnavais dada ÍndiaÍndia

PROGRAMA

Dia 18 de Dezembro

10h15 – Mosteiro dos Jerónimos - Missa por alma dos militares falecidos na Índia. 11h30 – Museu de Marinha - Inauguração da exposição permanente sobre os Combates Navais. - Entrega à Marinha das condecorações do Comandante Oliveira e Carmo pela Família. - Lançamento da medalha alusiva.

15h30 – Alenquer Parque Vaz Monteiro. - Homenagem ao Comandante Oliveira e Carmo • Dia 19 de Dezembro

17h00 – Academia de Marinha Sessão evocativa - Prof. Doutor Adriano Moreira - A Invasão do Estado da Índia - Vice-Almirante Mendes Rebelo - A última missão do NRP “Afonso de Albuquerque” O combate naval em Goa em Dezembro de 1961 - Comandante Seixas Serra – O fim da presença portuguesa em Diu e a heróica acção da Lancha de Fiscalização “Vega”. SUMÁRIO Publicação Oficial da Marinha Periodicidade mensal Nº 348• Ano XXXI Dezembro 2001 Director O Amanhecer CALM EMQ RES de um Império. Luís Augusto Roque Martins Chefe de Redacção CMG Joaquim Manuel de Sousa Vaz Ferreira 6 Redacção 2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito Secretário de Redacção 1SARG T Vitor Manuel Gaspar Lopes Colaboradores Permanentes CMG REF Raúl de Sousa Machado CFR REF Jorge Manuel Patrício Gorjão 12 CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de Matos Nehru, Tito e Nasser CFR SEG RES Abel Ivo de Melo e Sousa em Brioni, 1956, decidem 1TEN REF Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves sobre a política internacional Administração, Redacção e Publicidade agressiva que vão prosseguir. Edifício da Administração Central de Marinha Revista da Armada Rua do Arsenal 1149-001 Lisboa - Portugal Telef: 21 321 76 50 Fax: 21 347 36 24 Endereço da Marinha na Internet A Queda da Índia http://www.marinha.pt como Inversão e-mail da Revista da Armada das Alianças. [email protected] Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito, 14 montagem e produção Página Ímpar, Lda. Estrada de Benfica, 317 - 1º F 1500-074 Lisboa Tiragem média mensal: 6000 exemplares Preço de venda avulso: 250$00 Registada na DGI em 6/4/73 20 com o nº 44/23 Acção da Marinha Depósito Legal nº 55737/92 durante a Invasão do ISSN 0870-9343 Estado da Índia.

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 348 • ANO XXXI DEZEMBRO 2001 • MENSAL • 250$00 / € 1, 25 PROGRAMA DAS CERIMÓNIAS EVOCATIVAS DO 40º ANIVERSÁRIO DOS COMBATES NAVAIS DA ÍNDIA 2 NATAL 2001! UM MUNDO MELHOR! 4 NA ÍNDIA, HÁ QUARENTA ANOS 5 ÍNDIA A MANOBRA ESTRATÉGICA, DIPLOMÁTICA E NAVAL 16 ENTREVISTA – O COMBATE DA “VEGA” VISTO DA FORTALEZA DE DIU 24 FOTOS DA ÍNDIA PORTUGUESA 26 Estátua de Afonso de A MARINHA DE D. MANUEL (20) 28 Albuquerque - Lisboa NA ÍNDIA, HÁ QUARENTA ANOS HISTÓRIAS DA BOTICA (14) 30 “Lisboa de Pedra e Bronze” - Difel BIBLIOGRAFIA 31

ANUNCIANTES: NOTÍCIAS 33 Clínica de Santa Madalena; OGFE - Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento; NOTÍCIAS PESSOAIS 34 TELERUS - Sistemas de Telecomunicações, S.A. PATRIMÓNIO CULTURAL DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 3 NatalNatal 2001!2001! UmUm mundomundo Melhor!Melhor!

atal é festa de Deus, festa do Homem, da família, da violência e opressão, não a tudo o que faz o homem menos mãe, da criança, dos pobres, dos tristes e abandona- homem, a tudo o que o degrada, a tudo o que o diminui e não faz N dos. Será Natal se virmos em cada homem a imagem crescer em dignidade e liberdade; não à mentira, à injustiça, à de Deus que se fez Homem. opulência que degrada a vida dos outros. As ruas iluminam-se; os olhos ávidos das crianças devoram as O mundo contemporâneo é, em larga escala, um mundo de montras; as pessoas acotovelam-se, prontas a sacar do cartão de desamor: os conflitos armados; o sub-desenvolvimento crónico de crédito, e circulam por toda a cidade sem mãos para tantos sacos países e regiões; a exclusão social massiva; o risco ameaçador de de prendas, e já sem paciência. sérias rupturas em equilíbrios ecológicos; o enfraquecimento ou Todos os anos, pelo Natal, nos insurgimos contra a orgia con- perda de laços afectivos na vida familiar. No entanto, o Natal ou sumista. Todos os anos, pelo Natal, a alimentamos de tal forma nascimento de Cristo é o acontecimento do amor de Deus, da que ela aumenta exponen- fraternidade, da igualdade cialmente. radical, da dignidade huma- Natal é festa da intimi- na sem exclusão, da paz sere- dade, do silêncio, do renasci- na sem lugar para opressões, mento espiritual, da novi- da esperança fundamentada, dade de vida, da alegria, da da responsabilidade séria paz, da justiça e do amor. para todos. Que a paz reine finalmente Afinal, podemos e deve- no coração dos homens e mos dar uma prenda ao entre os povos, que a justiça Menino. Amar a vida como seja para todos e que o amor um dom, saber desenvolver finalmente tenha a primeira e uma cultura de vida e não de a última palavra. morte, velar para que a vida “A globalização excita as de todos os homens e mu- tendências actuais da super- lheres seja mais digna, mais produção, da acumulação e humana, mais feliz. Que este do crescimento do consumo”. Natal traga a todos este senti- Famílias desempregadas, pais mento e que todos sintam sem possibilidade de colocar como é forte a presença de os filhos a estudar, doentes Jesus em nós, Aquele mesmo acamados, telhados velhos que se coloca - ainda Menino por onde entra a água, gente a - no presépio que tantas viver em barracas, tanta mi- casas não esquecem de repre- séria e pobreza encober- sentar! ta....Cultivemos a ecologia, a É tarefa fundamental dos defesa do ambiente, a frater- cristãos de hoje afirmar a nidade cósmica, a sobriedade caridade como património quanto a luxos e despesas. da Humanidade. Talvez o Lancemos ombros com tantos homens e mulheres de boa vontade à possamos fazer em nossa casa, dando mais tempo à família, mais obra da “globalização da solidariedade” - João Paulo II, do respeito atenção, mais carinho, mesmo que não gastemos muito dinheiro pelos direitos humanos, da prática do altruísmo. Uma pessoa idosa, em prendas de qualidade. um toxicodependente, um filho, um aluno mais perdido, um vizi- Há sempre alguém que nos diz: «Anuncio-vos uma grande nho mais original podem ser a «ovelha tresmalhada» que Jesus nos alegria». pede para amar. Um Santo Natal para todos e que todos acreditem que está nas A mensagem de Jesus falou-nos de paz, de justiça, de verdade, nossas mãos - nas mãos de cada um - a construção de um mundo de liberdade. Revelou-nos que a alegria de viver se descobre na melhor. alegria de servir. Denunciou os egoístas, os avarentos, os prepo- Desejamos um bom ano para o mundo que luta pela Paz, tentes, os violentos e proclamou bem-aventurados os construtores solidariedade, pela tolerância e pela compreensão entre todos os da paz. homens, a partir da família e da sociedade e para todos os que De qualquer modo, não podemos esquecer que o Natal é ainda procuram a verdade, a fraternidade, a amizade e a transparência. o tempo por excelência do encontro com a família, da celebração Bom Ano. da festa genuína, do viver a alegria, de estar rodeado por amigos, Pedimos à Senhora do Mar que nos ajude a cumprir tudo aqui- do recordar as coisas boas da infância. Compete-nos mostrar um lo que o seu Filho nos encomendou: um apostolado eficaz no Natal que seja efectivamente a festa do amor, da alegria, da soli- ambiente em que nos encontramos... ser feliz servindo. dariedade, da família, da Paz . A todos os Marinheiros, Oficiais, Sargentos, Praças, Mili- Celebrar o Natal não é apenas celebrar o Nascimento de Cristo tarizados, Civis e Famílias, aos Reformados e Famílias, o é celebrar o homem novo. Há tanta gente a precisar das nossas Serviço de Assistência Religiosa deseja UM SANTO NATAL prendas, tanta gente a precisar do nosso tempo, do nosso sorriso, vivido na Justiça, na Solidariedade, no Amor e no Perdão do do nosso pão, do nosso amor. Presépio da PAZ. O mundo de hoje, tantas vezes preocupado com a moda, o con- sumismo, o erotismo, perdeu muitas vezes, o sentido da vida, do FELIZ NATAL E ESPERANÇOSO ANO NOVO 2002.  valor inviolável de cada homem e de cada mulher. Daí a necessi- dade de dizer: -não à guerra, ao crime, à violação dos direitos Pe Manuel da Costa Amorim humanos; não aos atentados à liberdade, não a toda a espécie de CMG Grad/Capelão

4 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA NaNa Índia,Índia, HáHá QuarentaQuarenta AnosAnos

perda da Índia Portuguesa em Dezembro de 1961 teve um im- A pacte muito significativo na sociedade portuguesa. Não se tratava do desaparecimento de uma parcela do Império, mas sim daquele Território que tinha uma ligação mais forte e mais sen- tida com a Metrópole desde os séculos XV e XVI, e nada tendo com aspectos económicos, se enraizava, em interesses históricos e culturais que tornaram os Portugueses pioneiros no desbravamen- to de novas terras e novas gentes até ao longínquo Oriente, em feitos tão elo- quentemente realçados pelo grande Luís de Camões. Terra ligada à Europa desde o ines- quecível feito de Vasco da Gama, nunca mais a Marinha deixou de estar presente em toda a sua História. Por sua vez os seus monumentos evo- cavam e evocam, acontecimentos que são marcos inesquecíveis da con- tribuição que os Portugueses deram para um melhor relacionamento com outros Povos e outras Religiões, onde a arte indo-portuguesa que se manifesta por toda a parte constitui um dos aspec- tos mais significativos da interpene- tração de culturas. Quarenta anos depois dos últimos Combates Navais na Índia, a Revista da Armada, convida os seus leitores a uma pequena reflexão. 

Medalha alusiva aos Combates Navais na Índia Da autoria do Comandante Sousa Machado Luís Augusto Roque Martins CALM EMQ

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 5 OO ÍndicoÍndico Português:Português: oo amanheceramanhecer dede umum ImpérioImpério

MOUROS, CRISTÃOS E ESPECIARIAS A 24 de Janeiro de 1498, Vasco da Gama navegava em pleno Oceano Índico e chegava à vista do que chamou de Rio dos Bons Sinais (Quelimane), onde se deteve trinta e dois dias, con- forme nos diz o Relato Anónimo da viagem, atribuído a Álvaro Velho. Que bons sinais seriam estes?... Eram os primeiros vestígios de algo já conhecido dos portugueses, traduzidos na maneira de vestir de alguns dos nativos e no facto de um deles dizer que já tinha visto navios daquele porte. Ao cabo de mais de seis meses de viagem, quando o escorbuto já atacava alguns dos marinheiros, apareciam sinais do que se procurava. A par- tir daí, o Relato é a viva expressão da ansiedade na procura de um piloto local, a que se junta a crescente desconfiança dos que vêem chegar os navios portugueses e percebem o perigo que isso pode significar para a actividade comercial que, desde há muito, mantêm por aquelas paragens. Depois de alguns inci- dentes, conseguiram-no em Moçambique, mas daí até Pemba, Mombaça e Melinde, a viagem foi suficientemente atribulada (a S. Rafael chegou a encalhar) para perceberem que a costa era bastante perigosa para quem a desconhecia em absoluto. Foi o primeiro encontro directo, nos mares do Índico, entre a civi- lização europeia ocidental cristã, e o certo mundo oriental, neste caso muçulmano, com influência desde a África Oriental (desde Sofala), até à Arábia, à Índia e, mesmo, mais para ori- ente, até à Península Malaia e à Indonésia. Era nesse mundo que os portugueses iam entrar, e é curiosa a forma como se ale- gram ao encontrar vestígios dele nos “bons sinais” de Quelimane, parecendo-me que já tinham algum conhecimento de quem dominava (ou de quem tinha grande influência) esse espaço que era o Oceano Índico – por um lado pluricultural e, por outro, equilibrado e harmonioso na forma como os seus povos se interligam. O Rei D. Manuel com a Rainha D. Leonor (Igreja da Misericórdia - Lisboa). Diz-nos Orlando Ribeiro, num pequeno estudo intitulado Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, que “Em nenhum outro cas do oceano. Navegar no Índico exige um conhecimento das espaço do Globo as relações da geografia e da história formam, circunstâncias meteorológicas e de técnicas de navegação, como no Mediterrâneo, uma trama espessa e indissolúvel”. muito mais apuradas do que aquelas que os portugueses her- Sem dúvida que é verdade e prova-o o magnífico estudo das daram do Mediterrâneo, e a verdade é que essas técnicas se condições geográficas que geraram as forças vivas criadoras de desenvolveram a partir dos século X ou XI, muito antes de civilizações notáveis. Mas não é menos verdade que no espaço qualquer aventura coerente no Atlântico. Diz-nos Ahmad ibn do Índico, também, se caldearam formas de vida e de reco- Magid – notável piloto árabe do século XV autor de numerosos nhecida importância. Se nos cingirmos aos séculos precedentes estudos náuticos e roteiros – que tudo começou com o advento à chegada de Vasco da Gama dos Abássidas (dinastia de à Índia, poderemos dizer que califas que assumiu o poder o Mundo Índico pré-gâmico, Calecut era o porto mais importante de todo em 750 d.C.), fundadores da em nada ficava atrás do seu o Malabar, mas o Samorim não estava dispos- cidade de Bagdad, colocada correspondente ocidental to a negociar com portugueses, de forma que entre os rios Tigre e Eufrates, cristão. A prova disso encon- foi necessário desviar as atenções para outros com um acesso privilegiado tramo-la nos próprios relatos lugares, como Cochim e Cananor. ao Golfo Pérsico. Na verdade, dos portugueses de quinhen- o poder califal, já antes atra- tos, revelando as riquezas, os vessara a Pérsia, uma parte modos de vida e até a estrutura política dos poderes instituídos do Afeganistão e penetrara no Sind (uma província paquis- à volta daquele oceano. E atendendo às fontes locais anteriores tanesa), mas a islamização das populações até ao Extremo- à chegada dos portugueses, verificamos que durante séculos se Oriente, só se daria com o desenvolvimento do comércio marí- foi estruturando um fervilhar de actividade comercial, assente timo, onde, efectivamente, os árabes desempenharam um no tráfico marítimo, a que não foi estranha a expansão árabe papel fundamental. (violenta ou pacífica, conforme as circunstâncias) que estendeu O Oceano Índico não pode ser sulcado por navios à vela em a sua influência até à Indonésia, aproveitando as condições físi- qualquer altura do ano, sendo necessário jogar com o fenó-

6 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA meno meteorológico das monções. A abordagem dos portos do Malabar (por exemplo) só podia fazer-se num período curto (monção pequena), por meados de Maio, ou numa altura mais alargada (monção grande), em Agosto e Setembro. Fora destas épocas ou os ventos eram contrários e difíceis de vencer (como acontece de- pois de Outubro) ou vinham temporais terríveis que colo- cavam em perigo todos os navios que estivessem na Índia. Isto foi verificado pelos árabes muito antes da chegada de Vasco da Gama, da mesma forma que foram acumulando um manancial de conhecimentos que lhes permitia navegar com o auxílio das estrelas, com base em dados registados em roteiros próprios, alguns dos quais chegaram aos nossos A Índia - representação do atlas de M. Teixeira Albernaz (1643). dias. Da costa oriental afri- cana até ao Japão, tudo estava marcado em rotas precisas tante de todo o Malabar, mas o rei local (o Samorim) não esta- definidas por alturas estelares, com avisos de perigos, conhe- va disposto a negociar com portugueses, de forma que foi cenças, períodos favoráveis (as tais monções, na designação necessário desviar as atenções para outros portos, como árabe), formas de carregar os navios, normas de conduta a Cochim e Cananor, jogando com as rivalidades locais para con- bordo, tempo aproximado das travessias, etc.. Foi, pois, com seguir carregar os navios. Era apenas o primeiro passo para o base neste saber - árabe na sua origem - que se desenvolveu o estabelecimento do poder português no Oriente. rodopio comercial que troca panos de Cambaia por ouro, marfim e escravos em Sofala; cavalos da Arábia e Pérsia por O IMPÉRIO MARÍTIMO pimenta do Malabar, canela de Ceilão ou cravo da longínqua Insulíndia. Seguramente que os portugueses não contaram que o comér- Quando Vasco da Gama chegou a Calecut, em 1498, desem- cio do Índico estivesse tão dominado pelos mercadores muçul- barcou um degredado que se encontrou com “dois mouros de manos, mas a antinomia que opôs as duas religiões pode não Tunes que sabiam falar castelhano”. A surpresa deve ter sido ser tão real quanto aparenta o discurso coevo. É sabido como grande e a pergunta surgiu imediatamente: que vêm aqui os mouros influenciaram o Samorim de Calecut, como estive- fazer? Ao que o português ram na base da conspiração respondeu: “Vimos buscar D. Manuel achou que seria necessário nomear de Moçambique e Mombaça cristãos e especiarias”. Esta um representante seu para ficar na Índia, e contra os marinheiros do expressão tem suscitado os Gama, mas havia muitos mais mais vivos debates sobre o gerir, em seu nome, todos os negócios. O mouros no Índico que aca- verdadeiro carácter das gen- primeiro indigitado seria Tristão da Cunha, baram por se ligar ao comér- tes portuguesas que de- que adoeceu antes de partir e foi substituído cio português e tornar-se alia- mandaram a Índia pela rota por D. Francisco de Almeida. dos do poder lusíada contra do Cabo da Boa Esperança. outros rivais. O que é, eviden- Naturalmente que procura- temente, real é que a presença riam cristãos, numa altura em que a identificação religiosa dos nossos compatriotas e a sucessão de esquadras enviadas de facilitava os tratos pacíficos, correspondendo aos mais amplos Lisboa afectou o tráfico de especiarias que pela Arábia sonhos imperiais de D. Manuel. Mas não é claro que o tenham chegavam ao Mediterrâneo. E de tal forma isso foi significativo feito com a mesma persistência com que quiseram saber das que em Abril de 1504 o sultão mameluco (Egipto) lançou uma especiarias. Não sabemos sequer até que ponto os hindus do ameaça de que destruiria o Santo Sepulcro, caso a presença Malabar não foram vistos como cristãos do oriente, tal é a portuguesa não cessasse imediatamente. O aviso chegou à forma vaga e equívoca como surgem representados nos docu- Europa através de Veneza (como não podia deixar de ser) e foi mentos. É absurdo que esta ânsia de encontrar cristãos não comunicada ao Papa por um frade franciscano, prior da Casa tenha uma expressão dominante nas relações com as gentes de Santa Catarina do Monte Sinai. D. Manuel recebeu um breve que descobrem. Que tenha deixado a dúvida sobre se seriam os de Júlio II, mas não lhe deu importância nenhuma, certamente naturais de Calecut descendentes dos cristãos que veneravam porque pressentiu que aí havia mais a mão de Veneza do que o túmulo de S. Tomé. Mas quanto às especiarias sabemos que propriamente a do Sultão. Chegou a dizer que nunca o sobera- carregaram os navios com elas e que, apesar de todos os aci- no mameluco destruiria o que tantos rendimentos lhe trazia, dentes ocorridos com as primeiras esquadras (a de Pedro através das taxas que cobrava aos peregrinos cristãos. E ale- Álvares Cabral perdeu cerca de metade dos navios), o negócio grou-se até com o facto de que os seus navios causassem tanto foi altamente lucrativo, superando largamente o valor dos prejuízo ao mundo muçulmano, ao ponto de lhe enviarem investimentos. Calecut era, efectivamente o porto mais impor- ameaças desse tipo.

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 7 O comércio português de especiarias tinha como base a entendamos as características do projecto que estava em curso. cidade de Cochim, com cujo rei tinha sido feita uma aliança Concedeu o rei a carta de poder “pela muita confiança que que radicalizou a inimizade do Samorim de Calecut, ao ponto temos de Dom Francisco de Almeida, de nosso conselho, e de ser necessário deixar uma esquadra permanente na costa bem servir e nos dará de si mui boa conta e recado”, por três do Malabar, defendendo os interesses portugueses e dos seus anos, com absoluta jurisdição sobre todos os navios, fortalezas aliados. A partir de 1502, todo o movimento marítimo do e pessoas que na Índia servirem, com meios financeiros e Índico, deveria ter um salvo-conduto português ou seria ataca- materiais para administrar a justiça, fazer a paz e estabelecer do. Estabelecera-se o que foi chamada de política do “cartaz”: amizade ou para declarar guerra e combater todos os que um documento passado pelas autoridades portuguesas aos achar que assim deve ser. Para além disso, levava ainda um seus aliados, e a todos os que pagavam o respectivo tributo Regimento com instruções para a viagem e para a montagem de exibido no navio de forma visível, para que não fosse atacado um dispositivo militar-naval no Índico. Pêro de Anaya levava (o nome resulta do étimo árabe qirtas e, aparentemente, tinha como missão o estabelecimento em Sofala e a construção de uma utilização anterior à uma fortaleza, para o que chegada dos portugueses, levava navios e artilharia […] ao presente toda a vossa força está cá no mar, sendo adoptado por estes). suficiente (já sabemos o que e se nele não formos poderosos, levemente se Era uma medida que signifi- se pretendia dessa feitoria). perderão as vossas fortalezas, […] cava a imposição de um Ali deveria ficar como ca- monopólio nacional, com o pitão, acompanhado de seu direito de fazer o corso, que constituía um rendimento acresci- filho e dos homens necessários à manutenção da posição, se- do da coroa e dos soldados deslocados. E, a pouco e pouco, guindo os navios para Quíloa, onde “trabalhareis por tomar o foi-se entendendo como funcionava aquele mundo Índico: dito lugar”, onde, se as coisas assim se proporcionarem (se não percebeu-se como o ouro vinha de Sofala e a importância que houver resistência) “havemos por bem que os deixeis sair e ir, Quíloa tinha na sua aquisição e distribuição; viu-se como os sem outro dano em suas pessoas lhe fazerdes; somente traba- navios “subiam” a costa do Malabar passando perto de lhares por tomardes toda a riqueza do lugar, a saber, ouro e Angediva e de Goa; como a Canela era importada de Ceilão e mercadorias, porque somos certificado que assim o rei como o cravo da Insulíndia; como os cavalos com que era feita a os mercadores que aqui estão, têm mui grandes riquezas” (os guerra tinham de ser importados da Arábia ou do Golfo navios destinados a Sofala tiveram um contratempo antes da Pérsico porque não se reproduziam nas condições climatéricas partida de Lisboa e receberam regimento próprio, seguindo, os da Índia; enfim, foi-se entendendo a dinâmica local, com as restantes, directamente para Quíloa). Passariam por Melinde, rivalidades, os pequenos poderes, os jogos de influência, os como já era hábito, e navegariam direito a Angediva, onde diversos interesses, etc.. deveriam construir outra fortaleza que deveria ficar guarneci- Em 1505, D. Manuel achou que seria necessário nomear um da de artilharia e pessoal. Finalmente iriam para Cochim onde representante seu para ficar na Índia e gerir, em seu nome, já havia uma fortificação, construída em 1503, sob a iniciativa todos os negócios. Uma missão essencialmente política que de Afonso de Albuquerque, mas que deveria ser reforçada exigia alta linhagem, confiança, lucidez e conhecimento. O com artilharia e pessoal (essa fortaleza, sob o comando de primeiro indigitado para o cargo seria Tristão da Cunha que Duarte Pacheco Pereira, fora a base da resistência ao ataque adoeceu antes de partir e foi substituído por D. Francisco de efectuado pelo Samorim de Calecut em 1503, quando este pre- Almeida. Será interessante observar o texto da Carta de Poder e tendeu obrigar o rei de Cochim a expulsar os portugueses). o Regimento dados a este primeiro Vice-Rei da Índia, para que Ainda antes de despedir as naus de carga com a especiaria

Mar Vermelho Ormuz Ásia Mascate Macau Diu Damão Índia Goa

Adem Cananor Calecut Cochim Ceilão

Samatra Malaca

África Melinde

OCEANO ÍNDICO Quíloa

Moçambique

Sofala Austrália Página Ímpar

8 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA erigir a fortaleza de Sofala; segundo, tomar e submeter Quíloa; terceiro, montar uma fortaleza em Angediva; quarto, carregar as naus em Cochim; quinto, completar a carga em Coulão e montar aí outra fortaleza; sexto, tentar ganhar uma posição fortificada à entrada do Mar Vermelho; sétimo, fazer a guerra aos navios mouros que andarem pelo Guzerate, tentando acer- tar pactos de amizade com os reis locais. Citando Joaquim Candeias Silva parece-me claro que “se a Carta de Poder [que fez de D. Francisco de Almeida um verdadeiro vice-rei] pode ser considerada a institucionalização do Estado da Índia, o Regimento foi como que a sua primeira constituição”. No seu sentido global, o projecto contido nos documentos régios foi cumprido pelo Vice-Rei, que apenas fez as adap- tações determinadas pelas circunstâncias imprevisíveis ou por uma reavaliação mais cuidada (como aconteceu com a desistência da construção da fortaleza de Angediva). De forma que o Estado Português da Índia lançou os seus alicerces dando andamento ao que era o objectivo principal de D. Manuel: recolher as especiarias e outras mercadorias ricas produzidas ou comerciadas no oriente (v.g. ouro, âmbar, pedras preciosas, etc.) e trazê-las para Lisboa, pela rota do Cabo. Não tinha este estado qualquer parcela de território onde se instalasse ou onde produzisse fosse o que fosse. Apoiava-se num Poder Naval que exercia soberania em todo o Oceano Índico, con- trolando alguns dos seus pontos mais importantes para o tráfi- co marítimo e jogando com apoios locais, numa criteriosa política de alianças. Efectivamente, o soberano português era “Senhor da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia”, título que passara a usar desde 1499 (pela primeira vez numa carta endereçada ao imperador Maximiliano), mas que só D. Francisco de Almeida tornara efectivo. No final do ano de 1508, D. Francisco de Almeida escreveu uma longa carta a D. Manuel (já se percebia o ressentimento do Vice-Rei, com as observações do soberano), onde lhe diz: “[...] quantas mais fortalezas tiverdes, mais fraco será vosso D. Francisco de Almeida - 1º vice-rei da Índia (Livro de Lisuarte de Abreu). poder: ao presente toda vossa força está cá no mar, e se nele não formos poderosos, levemente se perderão as vossas for- para o reino, “vos passares a Coullam (um pouco mais a sul, talezas, [...]”. Esta carta e esta expressão tem sido aproveitada perto do Cabo Comorim), onde Afonso de Albuquerque para considerações diversas sobre a “visão estratégica” de tomou a sua carga e onde nos é certificado que se achará muita D. Francisco de Almeida. Aparentemente, o Vice-Rei chama especiaria”. E outras instruções se seguem para o governo da a atenção de D. Manuel para o erro que é a construção de forta- esquadra, para pagamentos do pessoal, normas para feitores e lezas, contrapondo-lhe o fortalecimento da esquadra da Índia, capitães, importando salientar as instruções relativas ao Mar mas estas palavras não podem ser lidas de forma literal e Vermelho (ou Mar Roxo, como era chamado) e ao Golfo de desligadas do contexto em que estão inseridas. Naturalmente Cambaia: no primeiro caso, recomenda D. Manuel, “E porque que as fortalezas são indispensáveis e D. Francisco não o nega, nos parece que nenhuma coisa poderia mais importar a nosso mas a base do poder estava na capacidade de controlar a nave- serviço que termos uma fortaleza na boca do Mar Roxo [...] gação e isso não se podia fazer a partir de terra. Aliás, na porquanto por aqui se cerra- altura em que era expedida va, não podendo mais passar A batalha naval de Diu deve ser considerada a essa carta, um perigo emi- nenhuma especiaria à terra Batalha Decisiva para o estabelecimento do poder nente ameaçava o Estado Por- do Sultão, e todos os da Índia naval português no Índico. tuguês da Índia: por influência perderem a fantasia de mais dos numerosos mercadores poderem tratar senão con- muçulmanos que viram os nosco”; e quanto a Cambaia (Guzerate), “porem, para a banda seus negócios afectados pela presença portuguesa, o sultão do de Chaul e Dabul e contra Cambaya e Agramuz nos parece Egipto organizara uma esquadra de guerra (a esquadra dos que deveis de mandar alguns navios d’armada, os quais, Rumes), cujo objectivo era expulsar os portugueses do segundo a informação que temos, poderão naquela banda Malabar. Em 1507, essa esquadra, fez base no porto de Diu, de aproveitar em cousas de mouros, e estes que lá enviardes cujo governador obteve apoio, e alargou a sua acção a toda a tomem todos os navios de mouros que poderem. E se os reis e região do Guzerate, avançando cada vez mais para sul. À par- senhores das ditas cidades quiserem tomar nossa amizade e tida, o seu poder não era suficiente para dar combate aos nos servirem, com obrigação de nos tributarem e reco- navios portugueses de alto bordo, mas afrontava aqueles que nhecerem, cada ano com pareas, haveremos por bem assen- eram seus aliados, fazendo com que o movimento marítimo na tardes com eles no melhor modo que virdes”. Por fim, num zona norte do Malabar já não se fizesse com segurança. Foi último artigo, recomenda o rei a D. Francisco de Almeida que D. Lourenço (filho do Vice-Rei) quem, pela primeira vez, deu “muito vos encomendamos que aos navios da armada não combate a esses Rumes, e perdeu a vida na batalha travada na deixeis nunca gastar tempo em porto onde nossas fortalezas barra de Chaul, em 1508. Mas, nesse mesmo ano, D. Francisco estiverem, salvo quando por nosso serviço for necessário”. de Almeida organizou uma armada que, em Fevereiro de Resumindo, então, as medidas mais significativas: primeiro, 1509, desbaratou os Rumes, numa batalha que deve ser consi-

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 9 derada a Batalha Decisiva para o estabelecimento do poder naval português no Índico. Até à chegada de outros europeus (ingleses e holandeses), não mais houve quem afrontasse a supremacia nacional naqueles mares. O final do vice-reinado de D. Francisco de Almeida viria a ser marcado pela intriga e pela querela que o opôs a Afonso de Albuquerque, motivando um retardamento na transição do cargo para o seu sucessor. Este assunto é mais um dos temas que tem sido alvo de algumas especulações, exagerando-se no confronto e dando relevo a uma eventual dicotomia política ou (melhor dito) de pontos de vista sobre o governo do Estado da Índia. Na verdade, D. Francisco de Almeida tinha um mandato de três anos, conferido por D. Manuel, e acabaria, portanto, esse mandato em 1508, de forma normal e sem ne- nhum conflito. É verdade que só soube da sua substituição através de uma carta dada a Afonso de Albuquerque em 1507 e mantida secreta até ao final de 1508 – facto que não terá sido muito simpático para ele - mas há outros factores que devem ser ponderados na análise do que aconteceu e que transfor- mam o incidente em algo mais do que um processo de desobe- diência ou usurpação. O primeiro deles é a expedição a Diu, ocorrida entre o final de 1508 e os primeiros meses de 1509, devendo acrescentar-se que quando Albuquerque aparece em Cananor e lhe dá conhecimento das instruções que tem, a esquadra do Vice-Rei já vinha de Cochim e estava de caminho para o norte para combater os Rumes. Não seria, portanto, o momento indicado para uma transferência de poderes, com todas as implicações que isso traria. Para além disso, D. Francisco tinha uma razão pessoal para levar a cabo esse com- bate. Mas o que me parece mais importante e que pesou mais na protelação da mudança foi a animosidade que na Índia se gerara contra Albuquerque: de Ormuz lhe tinham desertado quatro capitães, que se apresentaram em Cochim com protestos violentos e acusações graves, para além de que, por Afonso de Albuquerque - Governador da Índia (Livro de Lisuarte de Abreu). toda a parte, se levantavam vozes contra o seu procedimento, alegando crueldade com amigos e inimigos. Se D. Francisco de Estado da Índia. Digamos que o episódio protagoniza algo que Almeida tem passado o seu cargo, antes da batalha de Diu, e viria a repetir-se com muitos outros que se seguiram, com uma nas condições que se seguiram aos incidentes de Ormuz, o ou outra razão, ou, por vezes, sem razão nenhuma: trata-se da Poder Naval português es- inveja, a intriga e a cobiça taria seriamente debilitado multiplicadas pelo que a dis- pela indisciplina e incapaz de A conquista de Goa só faz sentido se for integrada tância ao reino pode gerar em dar combate ao seu inimigo num projecto que ultrapassa o objectivo escasso termos de desconfiança. A mais perigoso. De qualquer da compra de especiarias para vender na Europa. riqueza era muita e muitos forma, o problema que se eram os que se deslum- levantou entre Afonso de Albuquerque e Francisco de braram com ela, perdendo o sentido da justiça e da hu- Almeida está longe de poder ser interpretado como a manidade. Em Novembro de 1509, Afonso de Albuquerque expressão de duas visões antagónicas sobre o governo do governa a Índia de forma plena, depois da transmissão de poderes efectuada em cerimónia solene, reali- zada em Cochim, e D. Francisco de Almeida par- tia para Lisboa, onde, malogradamente, não viria a chegar. Uma das primeiras acções do novo senhor da Índia tem a ver com a conquista de Goa, e a even- tual criação de uma capital do Estado Português da Índia, num local criteriosamente escolhido, de forma a dominar todo o Império. Goa poderia vir a ter esse papel, dada a sua localização e carac- terísticas do porto, mas talvez houvesse outros interesses na sua conquista. Em primeiro lugar deve salientar-se que seria a primeira conquista territorial no Oriente - até aí o Império era apenas marítimo, como já referimos – e suscitava muitas dúvidas o empenho para a sua conquista de que se duvidavam os efeitos práticos no que pretendia o poder de Lisboa. Mas Albuquerque manifestava um especial empenho na empresa, ao ponto de a colocar em alternativa com uma expedição ao Mar Vermelho, tentando chegar a Suez, onde se Ilha e cidade de Goa (Gravura de Huygen Van Linshoten). supunha estarem em construção novas galés do

10 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA amor dos homens e mal com os homens por amor de el-rei”. Saiu de Goa em Abril de 1511, aparen- temente para seguir para o Mar Vermelho e cumprir o que lhe fora determinado por D. Manuel - estrangular o acesso dos mouros ao Mediterrâneo e desmantelar qualquer esquadra do sultão do Egipto - mas “preferiu” aproveitar a monção favorável e ir conquistar Malaca (alegou que os ventos lhe foram desfavoráveis, o que pode ter sido pontualmente verdade, mas não pode constituir um argu- mento decisivo para tamanha mudança de planos). Depois, em Malaca, apesar de ter sido aconse- lhado a permanecer pouco tempo e fazer um acordo com o soberano local, preferiu a conquista total da cidade, construindo aí uma for- Malaca - Livro das Plantas de Todas as Fortalezas, Cidades e Povoações do Estado da Índia Oriental (António Bocarro). taleza e deixando uma guarnição de 480 homens. Só em 1513 foi ao Sultão. Já falámos no que significava o negócio dos cavalos Mar Vermelho, numa viagem que pouco ou nada acrescentou árabes e persas com a Índia; ora esses cavalos tinham como à situação portuguesa: não conseguiu conquistar Adem e viu-se especial destinatário o reino de Vijayanagar (Bisnaga nas cróni- perdido no labirinto de ilhas e baixos que não o deixaram che- cas portuguesas), potência continental, desinteressada do gar a nenhum dos objectivos definidos. Finalmente, em 1515 comércio marítimo, mas com desejos imperiais no continente conseguiu uma solução definitiva em Ormuz, com a cons- indiano. Goa ficava situada perto de uma das poucas passagens trução de mais uma fortaleza e a vassalagem do rei que, em que os Gates Ocidentais deixam aberta ao interior e isso con- 1508, se aproveitara das desavenças na esquadra para se furtar feriu-lhe uma importância fundamental por ser a porta de aos compromissos com a coroa portuguesa. Tudo isto parece entrada para os tais cavalos. Além disso era uma cidade rica, uma correria desarticulada, com pouco sentido e pecando por onde paravam os navios que corriam o Malabar: tem um porto falta de uma estratégia efectiva. Contudo, foi Albuquerque amplo e, no seu interior, podem abrigar-se navios de grande que deu consistência ao recém fundado Estado Português da porte, durante a monção de SW. Contudo, desde logo que os Índia: o projecto de instituir uma capital em Goa e daí go- mercadores portugueses sedeados em Cochim (ficaram conheci- vernar toda a Índia foi contestado pelo Grupo de Cochim, mas dos como o Grupo de Cochim) viram naquela conquista a foi essa a solução que veio a ser adoptada alguns anos mais hipótese do estabelecimento de um novo centro do Estado e tarde. Da mesma forma, o controlo de Malaca foi fundamental desenvolveram uma sistemática oposição às posições do ao domínio do Índico oriental e ao seu comércio, assim como Governador, chegando até à intriga junto da coroa (como sem- Ormuz o era para o Golfo Pérsico. Albuquerque entendeu bem pre acontecia quando grandes que a riqueza do Estado interesses estavam em jogo). Português da Índia não residia Apesar de tudo, a cidade foi Foi Albuquerque que estabeleceu uma ver- na possibilidade de comprar tomada, embora não tenha dadeira política de relacionamento dos por- especiarias em Cochim ou ganho de imediato a im- tugueses com os locais, ultrapassando a mera Calecut e exportá-las para portância que Albuquerque permanência nas fortalezas e feitorias, con- Lisboa. No espaço oriental imaginou. Até 1530 Cochim correndo de forma decisiva para a imagem controlado pelos portugueses permaneceu como capital e só de prestígio que manteve os portugueses na circulavam muito mais mer- nessa data, o governador Índia até ao século XX. cadorias do que aquelas que Nuno da Cunha para lá trans- alguma vez poderiam ser feriu o poder político e admi- enviadas para Portugal. Por nistrativo. isso, o mais importante era criar um estado forte e com meios A conquista de Goa só faz sentido dentro de um projecto de controlo naval, capazes de tomar posse desse rodopio mer- que ultrapassa o objectivo escasso de compra de especiarias cantil que era o Mundo Índico. Para além disso, foi para vender na Europa. Aliás, esse propósito não poderia ter Albuquerque que estabeleceu uma verdadeira política de rela- grande futuro porque a vantagem económica com que os por- cionamento dos portugueses com os locais, ultrapassando a tugueses contavam era circunstancial e acabaria por ter de se mera permanência nas fortalezas e feitorias, concorrendo de confrontar com as rotas alternativas, logo que estas se ajus- forma decisiva para a imagem de prestígio que manteve os tassem à nova situação. A importância de Goa vinha da possi- portugueses na Índia até ao século XX. Em 1515, Lopo Soares bilidade de negociar cavalos e isso não era comércio que inte- de Albergaria chegou à Índia para mudar a política do seu ressasse a quem tinha capacidade de influenciar as decisões do antecessor, porque assim o exigiam os financiadores apoiantes rei de Portugal. Refiro-me a alguns dos financiadores da do projecto (de que o Barão do Alvito era um notável repre- empresa da Índia, nacionais ou estrangeiros, que queriam sentante), mas as bases do poder português e as linhas mestras especiarias compradas em Cochim, Calecut ou, se possível, do Estado Português da Índia estavam lançadas: um estado noutros mercados orientais mais vantajosos. Essa foi uma das construido e mantido com base no Poder Marítimo.  razões porque Albuquerque viveu o seu período de gover- nador no meio de tensões e discordâncias que acabariam por J. Semedo de Matos determinar a sua substituição no cargo “mal com el-rei por CFR FZ

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 11 AA ÍndiaÍndia ee aa EstratégiaEstratégia GlobalGlobal

perda da Índia Portuguesa perante os Estados Unidos puderam contar com a pendência às colónias. Churchill, embora a invasão da União Indiana, vem cooperação de muitos países amigos e com tivesse sido um dos signatários da Carta A sendo atribuída, em grande parte, à a participação de todas as colónias, nos do Atlântico, dizia que não permitiria que incapacidade da Metrópole em reforçar o quatro continentes. Portugal conseguiu uma só parcela do império fosse beliscada. sistema de defesa do território e à indi- não se envolver directamente no conflito e Contudo, foi afastado do poder logo no gnidade do aliado britânico em dois aspec- cabo-verdianos, guineenses, angolanos, fim da guerra (1945), para voltar quando, tos importantes: não nos ter defendido são-tomenses, moçambicanos e indianos para esta questão, já era tarde demais diplomaticamente junto da sua antiga não sentiram os horrores da guerra porque (1951-1955). colónia e não nos ter concedido as facili- a política seguida na capital do império o Nesse mesmo ano de 1955 em que dades necessárias à projecção de poder, conseguiu evitar. Timor foi a excepção, Churchill se retirou definitivamente da através da utilização das bases aéreas que pois sofreu as consequências do expan- política, a 17 de Abril e talvez porque o ainda possuía no Mediterrâneo, no cionismo de uma potência de um outro processo de descolonização estivesse a ser Próximo e Médio Oriente e até no Índico, teatro de guerra longínquo, o Japão. demasiado lento, reuniu-se a Conferência esquecendo o apoio que Portugal lhes Logo no princípio da guerra, mesmo Afro-Asiática de Bandung. Declarou a tinha concedido nos Açores, a eles, britâni- antes de os Estados Unidos nela estarem “raça branca” como intrusa e foi um grito cos, e através deles aos Estados Unidos, envolvidos, a “Carta do Atlântico” (assina- de revolta contra o colonialismo, o imperi- durante difíceis anos da Segunda Guerra da pelo Presidente Franklin Roosevelt dos alismo e o capitalismo. Face a esta agenda, Mundial. EUA e pelo Primeiro-Ministro britânico ficou conhecida como “a conferência dos Não se pretendem analisar aqui as Winston Churchill em 12 de Agosto de povos de cor”. decisões tomadas pelo Governo por- 1941) prometeu às colónias o fim dos As personalidades que lideraram o tuguês, naquele mesmo ano em que teve Impérios. No terceiro princípio da Carta, movimento foram Nasser do Egipto, início o conflito de Angola, nem a atitude os signatários propunham respeitar “o Nehru da Índia e Sukarno da Indonésia. do Reino Unido. Pretende-se apenas direito de todos os povos à escolha da Note-se, para já, que foram estes os três indicar resumidamente alguns factos do forma de governo sob a qual terão de Estados que procederam a anexações terri- ambiente internacional de então, que viver”. toriais violentas. foram determinantes para a perda da Índia O General De Gaulle, que assumiu a O Movimento dos Não-Alinhados só Portuguesa. chefia da resistência e que começou no surgiu no ano seguinte, em Julho de 1956, A Segunda Grande Guerra foi Mundial Ultramar a organizar a libertação da quando Tito convidou Nasser e Nehru porque as potências coloniais europeias e França, reforçou esta promessa de inde- para uma reunião na ilha de Brioni, na Imagem: Helder Brites e Jaime Figueiredo, cedida pelo Semanário Expresso

12 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Jugoslávia, onde desenvolveram as ideias por Timor que as suas anexações come- O Professor Adriano Moreira tem de Bandung, dando maior ênfase ao çaram. referido o “cinturão islâmico” que, cor- princípio da neutralidade política perante Irian Jaya, com a extensão de 412.784 rendo de Gibraltar à Indonésia, separa o os dois blocos responsáveis pelo sistema quilómetros quadrados e ocupando Norte industrializado do Sul menos bipolar mundial. metade da segunda maior ilha do mundo, desenvolvido. Encorajado pelos apoios conseguidos e foi a colónia Nova-Guiné Holandesa até O ambiente perturbado e perturbador pelos incentivos que lhe foram manifesta- 1962, separada das Índias Holandesas que desta extensa região do mundo começou a dos, passados poucos dias, em 26 de Julho, já eram independentes desde 1949, com a evidenciar-se, com algum sentido de Nasser nacionalizou a Companhia do designação de Indonésia. A administração unidade, na já referida Conferência de Canal do Suez. As potências ofendidas, o da Nova-Guiné passou a ser responsabili- Bandung. Reino Unido e a França, desembarcaram dade da ONU, de 1 de Outubro de 1962 até Pela geografia e pela cultura a Índia não forças militares na zona do Canal, numa 1 de Maio de 1963, passando a chamar-se pertenceria a esta faixa. Mas não po- tentativa coordenada com tropas de Israel Irian Ocidental. Com a promessa de auto- demos ignorar que a definição das suas para recuperar a soberania perdida. As determinação, a ONU transferiu a adminis- fronteiras data de 1947, que a partilha ameaças da União Soviética e a inter- tração do território para a Indonésia, que (designação usada no The Indian Inde- posição seguida do afastamento ostensivo foi adiando o cumprimento da promessa. pendence Act) do subcontinente foi conce- da esquadra norte-americana para o Entretanto, Sukarno sofreu um golpe de bida para criar um Paquistão muçulmano Mediterrâneo Ocidental, obrigaram o Estado comunista em Setembro de 1965, a Norte, que a criação dos dois Estados Reino Unido e a França a uma retirada reprimido de forma sangrenta pelo major- levou à deslocação de mais de 8 milhões desprestigiante. -general Suharto (admite-se que tenha de pessoas e à morte de cerca de 200 mil e Cinco anos depois, foi a vez de Nehru, o havido 300.000 mortos e suspeita-se que que o conflito sobre Cashemira, ainda não pacifista, afastar violentamente Portugal Sukarno estaria envolvido no golpe). A solucionado, já deu origem a uma guerra do subcontinente indo-chinesa e a indiano, ocupando três guerras indo- militarmente os três -paquistanesas. distritos da Índia Mais ainda, o actu- Portuguesa. al Presidente do O poder aliado Paquistão, General da França, potência Pervez Musharraf, mediterrânica, de nasceu na Índia, e Israel, com impor- na Índia há uma tante capacidade “minoria” de cerca militar a nível local, The Nuclear Age AD 1950-1980 - Time Life de 100 milhões de e da Inglaterra, que muçulmanos. ainda contava com A linguagem do o apoio de Malta terrorista Ben La- (só independente den no vídeo divul- em 1964) e com as gado em 3 de No- bases em Chipre, vembro de 2001, não foi suficiente quando se referiu para contrariar a ao “crime” da ONU acção sobre o Suez. contra o maior Esta- E a condenação, do islâmico, ao am- explícita e implícita putá-lo da sua Ilha das duas super- Navios afundados no Canal do Suez em 1956, durante a agressão egípcia que o poder Anglo-Francês não pôde evitar. de Timor, não dife- potências, foi deter- riu muito da lin- minante. Não era Portugal que poderia transferência de poderes de Sukarno para guagem dos mais extremistas pós- enfrentar sozinho a agressão no distante Suharto deu-se em 1967 e a transferência -Bandung. Para além da linguagem, reco- Índico, cometida com a mesma finalidade da presidência da Indonésia em 1968. nhece-se, tudo era diferente em 1955, até a política pelo segundo país mais populoso Sem nunca deixar que o povo de Irian simpatia com que os povos que consti- do mundo, nem tão pouco poderia esperar Ocidental se manifestasse quanto ao seu tuíam o Terceiro Mundo e eram maioria na o apoio de um aliado que não teve capaci- futuro político, logo no ano seguinte, em ONU viam as agressões rotuladas de “anti- dade para defender os seus próprios inte- 1969, Suharto ocupou militarmente o ter- -imperialistas”. resses nacionais perante uma agressão ritório e declarou que Irian Ocidental pas- Uma curiosidade: o actual Ministro da externa de natureza semelhante. sava a ser uma província da Indonésia, Defesa indiano George Fernandes e um Além disso, a ONU, as superpotências e com o nome de Irian Jaya. anterior Chefe de Estado Maior General os mais importantes movimentos interna- das Forças Armadas indianas, General cionais em desenvolvimento, eram unâni- Assim, a anexação forçada de Irian Jaya Roddy Rodrigues, são de origem indo- mes na condenação da antiga ordem, em- deu-se antes da invasão de Timor Leste e -portuguesa.  bora manifestassem então uma enorme sem que o problema do comunismo incapacidade de orientar os povos para tivesse qualquer significado. António Emílio Ferraz Sacchetti uma nova ordem mais justa, mais pacífica Aliás, embora Suharto tivesse desenvolvi- Vice-Almirante e mais humanizada. do uma política externa activa, independente e Na Indonésia, certamente que as dificul- não-alinhada, anti-colonialista e anti-imperia- dades internas que o regimen por essa lista, anti-comunista e anti-chinesa (1), o receio altura começou a enfrentar atrasaram qual- de ver em Timor uma nova “Cuba”, mesmo Notas (1) Extracto de um relatório sobre a política externa quer intenção de anexação territorial. no interior do “seu” arquipélago, poderá da Indonésia, elaborado pelo signatário em 1978, três Mas a Indonésia, o terceiro país líder de não ter sido a primeira razão da invasão anos após a invasão de Timor, quando da visita Bandung, não invadiu só Timor, nem foi mas antes o pretexto. àquele país.

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 13 AA QuedaQueda dada ÍndiaÍndia ComoComo InversãoInversão dede AliançasAlianças

s acontecimentos de 1961, tanto na ONU, o bloco de apoio à União dos EUA, reconhece que é irrealista pedir em Angola como na Índia, são Indiana era muito forte e crescia de mês a Portugal que mude a sua política para O traumáticos para o regime por- para mês com as recentes independências África, pelo que modera as posições. A tuguês e isto em múltiplos sentidos. Em africanas. Restavam a Inglaterra e os EUA, atitude é devidamente apreciado pelo primeiro lugar, embora o começo da luta muito em particular a primeira, secular Governo de Lisboa e, segundo o embai- armada em Angola já fosse esperado há aliada de Portugal, que por várias vezes xador Ross, leva mesmo a uma melhoria anos, a verdade é que o momento e a assumira compromissos formais de defesa das relações no verão de 1961. Surge, no forma como estala é uma surpresa, numa activa do Império e que tinha relações entanto, de imediato um estrangulamento altura em que o dispositivo importante: os EUA e a militar planeado ainda esta- Inglaterra não continuam a va longe de estar completo. fornecer equipamento mili- Na Índia o Governo Portu- tar que possa ser usado nas guês alimenta até ao final a guerras de África. Mais uma ilusão de que a União vez são os EUA que vão Indiana não irá recorrer a mais longe neste campo, uma invasão em força, o pois chegam a exigir que o que se nota nos mais pe- armamento fornecido ao quenos pormenores. Um abrigo do acordo de ajuda excelente exemplo é o facto Morper Ship Pictures, San Diego - California militar seja retirado de de se ter enviado para a África. A Inglaterra não Índia o aviso Afonso de apresenta essa exigência, Albuquerque levando a mas, sem nunca afirmar bordo um curso de cadetes claramente que recusa o da Escola Naval em viagem fornecimento de mais arma- de instrução, a última coisa mento para África, passa a a fazer caso se esperasse responder negativamente uma acção militar contra aos pedidos concretos por- uma marinha muito supe- O “Afonso de Albuquerque” com cadetes da Escola Naval, em 1960, à entrada da Base tugueses. Um caso típico, Naval de San Diego (EUA), na viagem que o deixou na Índia. rior em número. são as negociações em O dispositivo militar exis- curso para comprar lanchas tente na Índia Portuguesa visava essencial- muito especiais com a União Indiana. de desembarque e outro equipamento mente dois objectivos. O primeiro era Qualquer das assunções falhou e de forma anfíbio para os recém-formados fuzileiros: impedir qualquer ocupação do território estrondosa. a partir de certa altura, Londres interrompe feita a partir de uma “infiltração de civis” A embaixada britânica no seu relatório as negociações, com a desculpa pouco ou de pequenos grupos armados, tal como anual para 1961 (PRO FO 391 160725) convincente que não tem equipamento se tinha feito anos antes com os chamados referia que esse ano tinha sido um disponível. Alguns sectores militares “enclaves”. Havia a esperança de que um “infeliz” corte com o passado e que o mal britânicos não deixam de mostrar o seu Governo conhecido como pacifista nunca feito às relações entre os dois países pos- desagrado a respeito desta decisão políti- iria recorrer a uma invasão em grande sivelmente nunca poderia ser recuperado, ca, enviando ao Foreign Office aprecia- escala. Como objectivo secundário, que se muito em particular porque foi acompa- ções onde afirmam que o único resultado esperava que nunca fosse necessário con- nhado por uma degradação paralela das prático será que Portugal vai adquirir esse cretizar, pretendia-se que a força existente relações com os EUA. O ano tinha equipamento noutras fontes, nomea- pudesse resistir a um ataque durante uns começado com as censuras à Inglaterra a damente em França, com prejuízo para dias (falava-se em quinze), de modo a per- respeito da sua posição quando do desvio indústria inglesa. Algo de semelhante mitir que fossem desencadeados interna- do paquete Santa Maria, por não ter auxi- acontece em relação às negociações em cionalmente os mecanismos políticos que liado na busca para encontrar o navio. curso para adquirir mais fragatas na levassem a União Indiana a recuar. Recriminações ainda maiores eram dirigi- Inglaterra, o que abre o caminho para os A principal frente de combate era assim das aos EUA, por ter permitido que um programas com a França. política e os grandes trunfos com que se seu almirante subisse a bordo do paquete A crise do Congo, e a intervenção exter- contava para a contenção e dissuasão das e parlamentasse com Henrique Galvão, na nesse estado no âmbito da ONU, levou ambições indianas eram dois: a Inglaterra como se fosse um seu igual. a uma nova aproximação modesta com a e os EUA. É claro que, em caso de in- Novo golpe nas relações com os po- Inglaterra, pois Portugal sublinhou insis- vasão, seriam tentados todos os fóruns deres anglo-americanos é assestado com tentemente junto de Londres o perigo possíveis para obter trunfos políticos, tais as insurreições e os massacres de Angola a representado pelos novos países indepen- como a ONU e a NATO. Sabia-se, porém, partir de Março, pois os EUA tomam uma dentes na África Austral. A tese era sim- que a NATO responderia que se tratava de posição abertamente crítica e votam con- ples: se os portugueses retirassem de um problema “fora de área”, pelo que tra Portugal na ONU. A Inglaterra, apesar Angola como os belgas fizeram no Congo, nada lhe competia ou podia fazer e que, de ter uma posição política semelhante à não só seria necessária uma nova inter-

14 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA venção da ONU a curto prazo, como os cimentos é sempre dito que a Inglaterra estaleiros nacionais. A renovação da efeitos seriam desastrosos na Rodésia e na recusou um pedido de ajuda feito em Armada no começo dos anos sessenta, no África do Sul. nome da Aliança, o que não corresponde entanto, contou sobretudo com o apoio Em fins de 1961 temos assim uma situa- por completo à verdade. francês, através de dois programas centrais ção especial nas relações com a Inglaterra: No já citado relatório diplomático inglês de grande dimensão à escala nacional: o estas são tensas, mas melhores do que as para 1961, é afirmado: “As demonstrações das fragatas João Belo e o dos submarinos existentes com os EUA. O embaixador em frente desta embaixada (a britânica) e Daphné, ainda hoje existentes. Esses pro- britânico Ross é mesmo de opinião que da americana, e o coro de insultos e gramas obrigaram a uma ampla conversão esta tendência para a melhoria das ameaças para a denúncia da Aliança da maior parte das instalações da Armada, relações nos últimos meses de 1961 pode- anglo-portuguesa e de todos os compro- pois todas elas estavam viradas para o ria ter dado importantes frutos se entretan- missos internacionais, excepto os mantidos equipamento e material anglo-saxônico.

As fragatas da classe “Comandante João Belo” e os submarinos da classe “Albacora” foram construídos em França de acordo com o contrato de 1964. to não tem surgido a crise de Goa. Na com a Espanha e com o Brasil (que igual- O caso de Goa foi um incidente decisi- realidade, quando se torna claro que a mente se afastou das posições portuguesas) vo no processo de inversão de alianças, União Indiana encara efectivamente o uso têm como objectivo calar as críticas dos com um forte impacte nas mentalidades da força armada, Portugal vira-se para a que defendem que o verdadeiro mau da nacionais. Na década de 1960, a França e Inglaterra como a sua grande esperança. É fita no filme de Goa e a causa de todos os a RFA passaram a ser a grande referência feita uma sondagem em Londres no senti- problemas de Portugal é o próprio Dr. externa portuguesa, tanto em termos políti- do de saber qual a reacção britânica se a Salazar, bem como daqueles que, embora cos, como comerciais, financeiros, de Aliança fosse invocada para defesa de Goa. apoiando o Primeiro Ministro, pensam que fluxos humanos e militares. Era uma O Foreign Office, algo surpreendido, ele falhou ao não dar ao Exército os meios evolução curiosa, pois Portugal recusava- responde que, na sua opinião não vinculati- com que defender a honra da Nação, -se a participar no movimento de inte- va, as obrigações da Aliança, mesmo que se mesmo por poucos dias”. A conclusão do gração europeia tal como entendido pela aplicassem ao caso de Goa, entravam em relatório do experiente Embaixador Ross CEE e tinha recentemente aderido à EFTA, conflito com as obrigações de solidariedade era que as relações anglo-lusas nunca animada pela Inglaterra. A partir de 1961, da Commonwealth, de que a União Indiana voltariam a ser as mesmas e que algo de porém, as suas duas grandes referências fazia parte. O caso ficou por aqui. irrevogável se tinha quebrado para sempre. externas a todos os níveis passaram a ser Em Lisboa a posição inglesa foi muito A imagem que existia da Inglaterra e a os países que formavam a eixo à volta do sentida. Portugal nunca tinha recusado crença em amplos sectores da opinião qual a CEE se estruturava. O efeito prático qualquer pedido feito em nome da Aliança pública que ela, apesar de toda a evidência era que, apesar da posição política, as em séculos de História, pelo que se espera- em contrário, ainda era um grande poder principais ligações económicas e finan- va uma atitude diferente da Inglaterra e se com que Portugal podia contar para a ceiras de Portugal se estabeleciam com a apostava nela como principal trunfo da defesa do Império, tinha sido irremediavel- CEE, e não com a EFTA ou com África. A campanha política. A versão apresentada mente destruída. perda do Estado da Índia apressou esta oficialmente, no próprio discurso do Esta conclusão era perfeitamente justifi- evolução e foi, em certo sentido, como Presidente do Conselho, Oliveira Salazar, cada. Nos anos seguintes procedeu-se a um movimento premonitório da viragem foi que a Inglaterra se recusou a cumprir as uma verdadeira inversão de alianças, com de longo prazo que se esboçava, inclusive obrigações da Aliança. Quando este dis- uma efectiva aproximação à França e à pelo carácter traumático que revestiu, curso foi pronunciado, os diplomatas ingle- RFA, como substitutos do anterior apoio nomeadamente nas relações entre o poder ses hesitaram sobre se deviam fazer um que vinha dos EUA e da Inglaterra. Este político e os militares. O abalo irreparável desmentido oficial. Na sua visão, a Aliança movimento foi especialmente claro no provocado nas relações com a Inglaterra nunca foi formalmente invocada, tendo-se campo militar. Até 1963 foram assinados em 1961 pode, pois, ser encarado como Portugal limitado a fazer uma sondagem mais de 23 acordos de fundo com a RFA um acto simbólico de uma transição de sobre qual a posição britânica caso tal que a transformaram na principal fonte de longo prazo entre uma visão estratégica fosse feito e a resposta recebida não vin- tecnologia militar para as guerras de ultramarina e outra de participação na culava o Governo de Sua Majestade. A África. No caso da Armada, por exemplo, integração europeia.  conclusão foi que qualquer desmentido só vieram da RFA a mais numerosa classe de serviria para piorar ainda mais as relações lanchas de fiscalização modernas (a com Portugal, pelo que mais valia ficar ca- Belatrix), o armamento dos fuzileiros e lado. A diferença de visão permanece até parte do seu equipamento, bem como o Prof. Doutor António José Telo hoje e nos relatos portugueses dos aconte- apoio para a reconversão e expansão dos Academia Militar

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 15 ÍNDIAÍNDIA AA ManobraManobra Estratégica,Estratégica, DiplomáticaDiplomática ee NavalNaval

INTRODUÇÃO que estava. Estas declarações levam sibilidade de consideráveis concessões à Salazar a ordenar a Marcello Caetano que União Indiana, que se tornaria indepen- chamado Estado Português da Índia nomeie uma comissão destinada a dente em Agosto de 1947. era formado por três pequenos ter- preparar elementos “de toda a ordem – Em 12 de Agosto de 1948 os governos de ritórios. Goa, o maior deles, não históricos, jurídicos, estatísticos, etc. – para Lisboa e Nova Deli anunciam o estabeleci- O 2 teria, porém, mais de 3500 Km , havia sido nos defendermos numa instância interna- mento de relações diplomáticas ao nível de tomado em 1510 por Afonso de Albu- cional qualquer ou mesmo perante o legação. Como primeira concessão, o gover- querque. Damão, que fora conquistado em Mundo.” no português aceitou reduzir os privilégios 1559 e compreendia dois outros territórios do Padroado no território sob sua juris- encravados no país vizinho – Dadrá e a dição, evitando assim a sua intromissão na Praganã de Nagar-Aveli -, teria uns 550 escolha dos prelados católicos da União Km2, dos quais 488 na Praganã. Diu, que Indiana. Para além disso, foram iniciadas havia sido cedido aos portugueses como discussões sobre as questões económicas e recompensa do auxílio prestado a Guzerate culturais de Goa com interesse para a União em 1535 e depois conservado à custa de Indiana. heróica resistência durante dois me- Em 24 de Fevereiro de 1950 o governo moráveis cercos, englobava uma ilha e dois indiano envia ao governo português um pequenos territórios continentais – Gogolá e memorandum onde pede o “início imedia- Simbor -, num total de 37 Km2. to de negociações a respeito do futuro das A população destes territórios ultrapas- colónias portuguesas na Índia”. A resposta sava os 600 000 habitantes, um terço cons- do governo português foi apresentada em tituído por católicos e a parte restante pela 15 de Junho de 1950, de forma ponderada e maioria hindu e minorias maometana e jar- serena, mas rejeitando firmemente as pre- se, entre outras. Todos eram cidadãos por- tensões indianas. tugueses, no respeito pela aplicação do Di- A liça diplomática só é retomada em 14 reito e dos respectivos usos e costumes. de Janeiro de 1953, quando o Encarregado O governo e a administração do Estado de Negócios da União Indiana em Lisboa eram garantidos pelos goeses, muitos deles apresenta uma nota verbal insistindo para formados nas universidades de Lisboa, Dr. Salazar. “a abertura imediata de negociações para Porto e Coimbra. Vários ascenderam na transferência directa dos territórios por- vida pública portuguesa, nos mais altos car- O objectivo era preparar uma “mono- tugueses para a União”. Em nota de 15 de gos e destacaram-se em vários ramos da grafia sucinta e séria, sem desenvolvimen- Maio, o governo português responde que cultura. tos escusados nem luxos de erudição”. Em não admite a transferência dos territórios. sua opinião, e no curto prazo, não era pre- A 21 de Maio a legação da União Indiana A LIÇA DIPLOMÁTICA visível uma acção militar indiana. em Lisboa é encerrada por ordem de Nesta época acreditava-se que a defesa Nova Deli. Quando, em 1945, se tornou evidente que no campo do Direito poderia ser eficaz, Imediatamente após o encerramento da a Índia britânica obteria a independência desde que complementada por um espírito representação diplomática em Lisboa, a sob a égide do Partido do Congresso de convivência pacífica, renovado pela pos- União Indiana reforça a sua manobra Nacional Indiano, surgiram opiniões que diplomática com medidas de coacção preconizavam a integração, no novo país, baseadas em campanhas nos órgãos de de todos os territórios localizados na comunicação social, na restrição dos movi- Península Indostânica. mentos das autoridades de Damão nas suas Em 1946 formava-se em Bombaim um deslocações a Dadrá e Nagar-Aveli, no blo- núcleo do Partido do Congresso, designado queio fronteiriço para dificultar o abasteci- por Goa Congress Committee, que lança mento de víveres, no incentivo à desobe- por toda a Índia uma campanha mediática diência civil e na invasão dos territórios contra a presença portuguesa. portugueses por voluntários que procla- Marcello Caetano era, então, Ministro das mavam o seu pacifismo. Colónias. A sua primeira atitude foi, por Dadrá e Nagar-Aveli são ocupados em sugestão do Prof. Floriano de Melo, goês, Julho de 1954, tendo o governo português catedrático da Escola Médico-Cirúrgica de protestado energicamente junto do gover- Goa e deputado pela Índia à Assembleia no indiano, solicitando autorização para a Nacional, estudar um estatuto especial, dis- passagem de tropas portuguesas em tinto do padrão comum da legislação colo- direcção aos enclaves a fim de expulsar os nial portuguesa. invasores. A 30 de Julho reuniu-se o Em Setembro de 1946, quando Nehru Conselho de Estado, com o objectivo de se assume a pasta dos Negócios Estrangeiros, pronunciar sobre a situação. Nessa reunião afirma que a Índia Portuguesa não poderia e, relativamente à União Indiana, foi assu- continuar por muito tempo na situação em Pândita Nehru. mido que:

16 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA - Não desistiria da anexação dos ter- pelos voluntários QUADRO 2 - ALTERAÇÕES NA ESQUADRA DA UNIÃO INDIANA ritórios portugueses, objectivo político da União Indiana. Tipo Nome 1950 1955 1960 Dehli que constava do programa do Partido No campo militar Cruzador do Congresso. implicava a necessi- Mysore - A conquista militar não seria uma dade de, em caso de Rana modalidade de acção provável no acção militar direc- C. Torp. Rajput quadro da postura pacifista de Nehru. ta, as nossas forças Ranjit Cauvery - Era altamente provável a continuação poderem opôr uma Kistna das operações irregulares, sob a aparên- resistência honrosa Jumna cia de acções isoladas de grupos irres- a forças que se sabia Sutlej ponsáveis de populares. poderem ser esma- Ganga Até esta altura, a política do governo por- gadoramente supe- Godvari tuguês assentou em quatro linhas de acção riores, dispondo de Gomati fundamentais: iniciativa, capaci- Fragatas Khukri 1º: Não agravar nenhum problema dade de sustentação Kirpan 2º: Rejeitar firmemente as propostas de prolongada e de ba- Kuthar Brahmaputra transferência de soberania ses mais próximas. Beas 3º: Reforçar a guarnição militar de forma Nestas circunstân- Betwa a garantir a segurança interna e repelir cias, era claramente Talwar agressões vindas do exterior inviável uma resis- Trishul 4º: Guarnecer os territórios mais impor- tência vitoriosa a P. aviões Vikrant tantes, evitando a dispersão de forças acções militares da Com esta atitude firme de defender o ter- União Indiana. Por isso, as discussões cen- nenhum título para reclamar a posse de ritório por todos os meios, esperaria o travam-se em torno do volume de forças qualquer território que não lhe tivesse sido Conselho ganhar o tempo necessário para necessário para salvar a honra, obrigando a atribuído pelo Parlamento Britânico, e o se encontrar uma solução negociada, com União Indiana a fazer a guerra de forma a Estado Português da Índia, fundado nos base no princípio de separação da União que a conquista não fosse legítima. princípios do século XVI, era muito anterior Indiana e do Paquistão, fundada em Esta decisão era altamente delicada, pois à Índia Britânica, constituindo uma unidade afinidades religiosas (hindus e muçul- se o País soubesse que a guarnição da Índia juridico-política bem caracterizada. manos), poderia Portugal formar o núcleo era modesta e tinha por objectivo apenas Portanto, a União Indiana não poderia cristão, materializado na Índia Portuguesa. garantir a segurança interna e proteger o aduzir título legítimo que fundamentasse as Esta política admitia a possibilidade de os território contra ataques irregulares mas suas pretensões à anexação de Goa. Restava pequenos enclaves, onde apenas existiam que, ainda assim, opusera resistência por saber quanto tempo mais perduraria a força forças policiais, poderem ser libertados uns dias à invasão, esta atitude poderia ser do Direito sobre o direito da Força! considerada um A admissão de Portugal na ONU colo- QUADRO 1 – PRINCIPAIS NAVIOS COMBATENTES DA UNIÃO INDIANA acto heróico. Se, po- cou o país perante as dificuldades decor- Tipo Nome Ano constr. Deslocamento Armamento Velocidade rém, as forças arma- rentes da onda de anticolonialismo. Com 4 – 6” das portuguesas efeito, a admissão de novas nações asiáti- 8 – 4” dispusessem de cas e africanas foi, pouco a pouco, modifi- Dehli 1932 7030 T 32 nós 14 – 40 mm muitos meios hu- cando o ambiente da Assembleia Geral, Cruzador 4 – 3 PDR manos e materiais pelo que Portugal começou a acumular 9 – 6 ” para fazer a guerra, desaires e a posição dos seus aliados foi Mysore 1940 8700 T 8 – 4 ” 31 nós estes nunca deixa- tomando o aspecto de cansaço e indife- 12 – 40 mm riam de ser exíguos rença. Só a muito custo se obtinham alguns Rana 1942 1750 T 4 – 4.7 » face aos da União apoios, cada vez mais escassos. Rela- Rajput 1942 1750 T 4x2 PDR Indiana e, nestas cir- tivamente ao Reino Unido, a aliança com C. Torp. Ponpon 31 nós cunstâncias, a derro- Portugal não funcionou porque os inte- 4/6 – 20 mm Ranjit 1942 1750 T 8T – 21” ta teria um efeito resses políticos, económicos e estratégicos 4 DCT moral deprimente dos dois países divergiam. Cauvery 1943 1470 T 6 – 4" nas Forças Armadas O Brasil concedeu grande apoio diplo- 1470 T 2 – 40 mm 19 nós e na Nação. mático a Portugal, tendo o seu embaixador Kistna 1943 1300 T 2 – 20 mm No campo da em Nova Deli, Melo Franco, afirmado a Jumna 1940 1300 T 6 – 4” fundamentação se- Nehru que as ameaças a Goa incomodavam 6 – 20 mm 18 nós Sutlej 1940 1050 T guida, Portugal ar- o Brasil e que “...qualquer medida violenta Fragatas 4 DCT gumentava que a contra Goa provocaria um movimento Ganga 1941 1050 T 6 – 4” Índia propriamente geral de indignação no Brasil e que este Godvari 1942 1050 T 4 PDR 25 nós dita era a designa- tinha uma posição suficientemente forte no 1020 T Ponpon Gomati 1941 ção geográfica de continente americano para levantar a seu 1020 T 2/4 – 20 mm um subcontinente lado o protesto das repúblicas americanas Khukri 1958 1020 T 3 – 40 mm onde sempre coexis- contra a Índia em condições internacionais Kirpan 1959 2200 T 4T – 21” 24 nós Kuthar 1959 2200 T 2 morteiros tiram várias sobera- tão sérias que a Índia andaria avisada se Brahmaputra 1958 2200 T 4 – 4.5” nias e só numa par- considerasse que a questão de Goa não é Beas 1960 2200 T 2 – 40 mm 25 nós te destas se formara apenas um pequeno problema territorial Betwa 1960 2200 T 1 morteiro a Índia Britânica, euro-hindu”. Talwar 1960 16000 T 2 – 4.5” dividida em 1947 Depois da crise aguda de 1954, com a 4 – 40 mm entre a União In- ocupação dos territórios de Dadrá e 30 nós Trishul 1960 12 T – 21” diana e o Paquistão. Nagar-Aveli, entrou-se novamente numa 2 morteiros Assim, a União In- situação de inquietação, vigilância e pesa- Porta-aviões Vikrant 1945 34 aviões 25 nós diana não possuía dos encargos. REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 17 A GENÉTICA NAVAL aviões de combate, QUADRO 4 - ALTERAÇÕES NA ESQUADRA PORTUGUESA acabasse por ser Tipo Nome 1950 1955 1960 No início dos anos 50, não parecia substituída por ou- Dão provável que a União Indiana tentasse tra menos ambicio- Douro pela força a anexação dos territórios por- sa para um período C. Torp. Lima tugueses. Apesar de dispor de um bem de 6 anos, a mari- Tejo equipado exército de 480 000 homens e de nha indiana (cujos Vouga uma força aérea com 11 esquadrões, a sua Narval quadros superiores Nautilo marinha era apenas constituída por um foram, de início, Neptuno Submarinos punhado de pequenos navios deixados guarnecidos por Delfim pelos ingleses. E sem uma marinha oficiais britânicos) Espadarte poderosa, a Índia não se sentia em ia, pacientemente, Golfinho condições de arriscar um confronto direc- reforçando o seu A.Albuquerque to com Portugal. poder, aguardando B. Dias G. Velho No entanto, tratou logo de lançar um o momento certo Avisos ambicioso programa de edificação da sua de atacar (ver Qua- G. Zarco força naval, pois com os seus 6000 J. Lisboa dros 1 e 2). Portu- P. Nunes quilómetros de costa e na sua qualidade gal, pelo contrário, Nuno Tristão de candidata a potência regional no estagnava em ter- Diogo Gomes Índico, necessitava de capacidade para mos de investi- Pero Escobar projectar o seu poder por aquele extenso mento naval, um Fragatas Corte Real oceano. Numa primeira fase, negociou, erro que já, em oca- Diogo Cão então, com a Grã-Bretanha, a cedência de siões anteriores, Álvares Cabral um cruzador (“Dehli” – ex-HMS pagara muito caro. Pacheco Pereira “Achiles”) e três contra-torpedeiros a que Mas se a União se viriam a juntar, em 1953, três fragatas Indiana ensaiava já a sua superioridade no uma carreira marítima regular com emprestadas por um período de três anos. mar, Portugal detinha, ainda, um poder Moçambique e criando o Posto Radiona- Porém, embora a perspectiva inicial de naval suficientemente dissuasor, pois a val de Goa (mais tarde Estação Radio- aquisição, no intervalo de 15 anos, de 2 mera possibilidade de colocar na área um naval). porta-aviões, 4 cruzadores, 16 contra- ou mais submarinos ou a eventualidade de No entanto, em Agosto de 1961, Nehru, torpedeiros, 16 submarinos e cerca de 260 bombardeamentos de retaliação na costa que já seis anos antes afirmara que a Índia do Malabar, leva- não estava preparada para tolerar a pre- QUADRO 3 - PRINCIPAIS NAVIOS COMBATENTES PORTUGUESES vam Nehru a re- sença dos portugueses em Goa, ainda que Tipo Nome Ano constr. Deslocamento Armamento Velocidade cuar perante as per- os goeses o quisessem, declarou que Dão 1934 1238 T 2 – 4.7” das que poderia so- talvez tivesse chegado a altura de enviar o Douro 1935 1238 T 5 – 40 mm frer numa hipo- seu exército para lá. Estava em boa C. Torp. Lima 1933 1238 T 2 – 20 mm 36 nós tética aventura mi- posição para fazer tais afirmações, pois Tejo 1935 1238 T 4T – 21” litar. dedicara os sete anos anteriores a reforçar Vouga 1933 1238 T 1 morteiro Durante a crise a marinha indiana (que o exército sempre Narval 1944 715 T 1 – 4” Nautilo 1945 715 T 1 – 20 mm de 1954, o governo estivera preparado) com 6 draga-minas, 1 – ext 14/9 nós português decidiu um novo cruzador (o “Mysore” – ex-HMS Neptuno 1944 715 T Submarinos 6T – 21” tornar permanente “Nigeria”), 5 modernas fragatas anti- Delfim 1934 800 T a nossa presença -sumarinas (das classes “Whitby” e 1 – 4” Espadarte 1934 800 T 16/9 nós 6T – 21” naval (que até en- “Blackwood”) e 3 anti-aéreas (da classe Golfinho 1934 800 T tão se resumira à “Leopard”) e, finalmente, em Novembro A.Albuquerque 1934 1783 T 4 – 4.7 ” escala ocasional de de 1961, um porta-aviões, o “Vikrant” (ex- 2 – 3 ” 21 nós um ou outro navio HMS “Hercules”), cuja chegada (já devi- B. Dias 1934 1788 T 8 – 20 mm 4 DCT de guerra em trân- damente modernizado, pois fora construí- G. Velho 1932 950 T 3 – 4.7” sito) no Estado da do em 1945 e adquirido em 1957) veio Avisos 5 – 20 mm 16 nós Índia. Aos avisos exacerbar ainda mais o já exaltado orgu- G. Zarco 1932 950 T 4DCT “Pedro Nunes” e lho nacional indiano (Fig. 1). J. Lisboa 1937 1090 T 2 – 4.7” “Bartolomeu Dias” No sentido oposto, o governo por- 4 – 20 mm 16.5 nós P. Nunes 1935 1090 T vieram, então, jun- tuguês decidira já a redução dos efectivos 4 DCT tar-se o “Gonçalo militares para metade (para poupar Nuno Tristão 1943 1460 T 2 – 4“ Velho” e o “João de despesas e fazer face aos levantamentos 6 – 40 mm 20 nós verificados na província de Angola, uma Diogo Gomes 1943 1460 T 4 DCT Lisboa”, passando 1 morteiro também a existir vez que Goa já tinha sido declarada “mili- 2 – 3” duas lanchas de fis- tarmente indefensável” e bastava garantir 2 – 40 mm calização (ver Qua- a presença de um dispositivo com capaci- Pero Escobar 1957 1500 T 4 – 20 mm 32 nós dros 3 e 4). Procu- dade policial e anti-terrorista). Também a 3T – 21” rou-se, igualmente, força naval ficara reduzida com a saída 2 morteiros Fragatas diminuir o isola- do aviso “João de Lisboa”, apenas per- Corte Real 1944 1550 T 2 – 5” mento do território, manecendo nas águas de Goa o “Afonso 10 – 40 mm 24 nós através do melho- de Albuquerque” e a lancha “Sirius”. Diogo Cão 1944 1350 T 1 ouriço 8 DCT ramento do aero- Duas outras lanchas, a “Antares” e a Álvares Cabral 1945 1600 T 4 – 4” porto de Dabolim, “Vega” permaneciam, respectivamente, 6 – 40 mm desenvolvendo o em Damão e Diu. 19 nós Pacheco Pereira 1945 1600 T 1 ouriço porto de Mormu- É de assinalar que, não obstante o facto 4 DCT gão, estabelecendo de a União Indiana dispor, desde a sua

18 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA quentes, ultima- mente, as vio- lações das águas territoriais e es- paço aéreo por- tugueses por na- vios e aviões mi- litares da União Indiana). Face à ine- vitabilidade de uma acção arma- da, o governo português tomou medidas diplo- máticas deses- peradas, tais co- mo a oferta de facilidades mili- tares em Goa ao exército chinês e pedidos de apoio ao governo pa- quistanês, com o Fig. 1 - Principais unidades combatentes envolvidas. total pagamento das despesas de independência, de uma esmagadora van- no caso de um sargento da Repartição de mobilização de tropas para a fronteira tagem (em efectivos e equipamento) ao Informações do Quartel-General que, com a Índia. nível de forças terrestres, só se decidiu a após a invasão, se revelou ser um oficial A 14 de Dezembro Salazar enviou uma usar a força após garantir a superioridade indiano - e a situação de normalidade que mensagem ao Governador-Geral do naval. E é interessante verificar que o o governo português desejava fazer trans- Estado da Índia, General Vassalo e Silva, momento do ataque foi aquele em que parecer permitia que oficiais da União apelando à resistência e, se necessário, ao não só estavam garantidos os meios Indiana se deslocassem livremente pelo sacrifício total. navais adequados, mas também assegura- território em visita a familiares). É, assim, Na noite de 17 para 18 de Dezembro, a da a colocação, nos lugares-chave de natural que, nas vésperas da invasão, o União Indiana invadia, com meios ter- comando, de oficiais com larga experiên- comando das forças indianas tivesse um restres, navais e aéreos os territórios de cia operacional (ver Quadro 5). Basta perfeito conhecimento do terreno, do dis- Goa, Damão e Diu. Utilizou, para o observar que o Chefe do Estado-Maior da positivo militar e do moral das nossas efeito, 50 000 homens – com 25 000 de Armada era proveniente do Comando tropas. Já o Comando-Geral das Forças reserva -, 2 cruzadores, 1 porta-aviões, 4 Naval Indiano e que o Vice-CEMA e o Armadas do Estado da Índia, no sentido fragatas, 3 contra-torpedeiros, blindados Comandante Naval eram oriundos, de não contrariar a postura oficial de e aviões de combate contra 5400 solda- respectivamente, dos comandos opera- descrédito a uma eventual acção armada dos, 1 aviso, 3 lanchas de fiscalização e cionais de Bombaim e de Cochim (o Vice- contra os territórios (já as acções subversi- duas obsoletas peças anti-aéreas do lado -CEMA passara, além disso, pelo cargo de vas foram, por outro lado, devidamente português! Adido Naval em Londres, que lhe permi- antecipadas), ignorou ou, pelo menos, Não era difícil prever o desfecho...  tira colher, numa fase embrionária da descurou os indícios de invasão iminente. Marinha Indiana, preciosos ensinamentos Só faltava mesmo um pretexto para que A. Silva Ribeiro sobre a organização da poderosa e presti- a invasão se concretizasse. Este surgiu em CFR giada Royal Navy). meados de Novembro de 1961, quando da Também na área das informações ilha de Angediva foi disparado um tiro de J. Moreira Silva estratégicas a União Indiana não deixava aviso sobre o navio de passageiros indiano 1TEN os seus créditos por mãos alheias: durante “Sabarmati”, que violara as nossas águas o ano de 1961 foram assinaladas diversas territoriais e, uma semana depois, na mes- Bibliografia actividades de reconhecimento do terreno ma ilha, foram alvejados vários pesqueiros BLUEPRINT TO BLUE WATER, “A Peep Into por parte de oficiais indianos (havia que se tinham aproximado furtivamente Our Maritime Past – A Resumé of India’s Maritime vários agentes indianos infiltrados – como de terra (tinham-se tornado, aliás, fre- History From Her Hoary Past to 1950”, Lancer International, p.p. 1-22 BLUEPRINT TO BLUE WATER, “The Sun Sets QUADRO 5 – EVOLUÇÃO DOS QUADROS SUPERIORES DA MARINHA INDIANA on Portugal’s Asian Empire-Liberation of Goa, Ano Adido Comando Comando Comando Hidrografia Aviação Administração Material Pessoal CN VICEMA CEMA Daman and Diu”, Lancer International, p.p. 335- Londres Viza- gapatam Cochim Bombaim Naval 413 1951 Chattergi – – – – UK Kapoor UK Katari UK UK UK CAETANO, Marcello, Minhas Memórias de 1952 Chattergi – – – – UK Kapoor UK Samson UK UK UK Salazar, Lisboa, Editorial Verbo, 1977 1953 Kapoor – – – – UK Heble Newnhan Samson UK UK UK CARDOSO, Pedro, “As Informações em Por- 1954 Kapoor Sawhny Soman Chakraverti UK UK Heble Newnhan Samson UK Katari UK tugal”, Nação e Defesa, 76/80, p.p. 108-111 1955 Kapoor David Soman Chattergi UK UK Heble Shankar Nanda UK Katari UK CURSO SUPERIOR NAVAL DE GUERRA 1956 Kohli David Soman Chattergi Cursetjee UK – Shankar Nanda Katari Chattergi UK 1999/2000, O Papel do Poder Naval na Crise Entre 1957 Kohli David Karmarkar Soman Cursetjee UK – Shankar Kapoor Katari Chakraverti UK Portugal e a União Indiana (trabalho de grupo), 1958 David Heble Karmarkar Soman Puri UK – Lele Kapoor Chakraverti Chattergi Katari Instituto Superior Naval de Guerra, 2000 1959 David Heble Karmarkar Soman UK – Mukherjee Kapoor Chakraverti Chattergi Katari JANE’S FIGHTING SHIPS, 1951-1961 1960 Mody UK – Mukherjee Nair Soman Chattergi Katari MATHIAS, Marcello, Correspondência Marcello Mathias-Salazar 1947-68, Difel, Lisboa, s.d.

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 19 Acção da Marinha Durante a Invasão do Estado da Índia (1961)

INTRODUÇÃO a noite de 17 para 18 de Dezem- bro, a União Indiana invadia os Nterritórios de Goa, Damão e Diu. Apesar da dimensão avassaladora do ataque, as tropas portuguesas portaram- se com grande dignidade, tendo estado muito longe da imagem de debandada que se generalizou na opinião pública portuguesa. Embora se tenham registado alguns casos de pânico e de rendição prematura, também se verificaram situ- ações de tenaz resistência, como sucedeu na ilha de Angediva e, de um modo geral, nos territórios de Damão e Diu. Talvez a falta de meios de comunicações e de uma eficiente rede de comando e Foto cedida pelo Valm Sarmento Gouveia controlo tenham reduzido a eficácia da NRP “Afonso de Albuquerque”. resistência portuguesa (sem falar da esmagadora desproporção de efectivos), • E, por fim, a incorporação da guar- gão, mandou, então, picar a amarra, mas quando o prolongamento da luta nição no núcleo de defesa concentra- abrir fogo e sair o porto para enfrentar os apenas pode conduzir ao inútil sacrifício do em Mormugão após o abandono navios inimigos. de vidas (muitas das quais civis) e a uma do navio. Destes foram transmitidos vários gratuita destruição de um património Às 0640 foi recebida a bordo uma men- sinais de morse acústico que, devido ao histórico milenar, a rendição torna-se a sagem do Comando Naval informando ruído do combate, não foram imediata- única opção inteligente. que a invasão tinha sido desencadeada (a mente descodificados.O Comandante Não foi, porém, esse facto que impediu notícia já era, no entanto, conhecida mandou suspender o fogo, tendo, a nossa Marinha de se bater com grande desde as 0400, pois tinha sido transmiti- porém, ordenado a sua continuação brio e honrar, de forma heróica, a glo- da pela Emissora de Goa), tendo o pes- antes de terem sido recebidas as duas riosa tradição naval dos nossos antepas- soal ocupado postos de combate às 0655. últimas letras que constituíam a única sados. Cerca de cinco minutos depois, a avia- palavra da mensagem: “surrender”. ção inimiga bombardeava o aeroporto de Nessa altura uma das fragatas foi atingi- ACÇÃO DO AVISO “AFONSO Dabolim e a Estação Radionaval, que foi da e foi rendida por um destroyer. DE ALBUQUERQUE” DURANTE imediatamente reduzida ao silêncio. Às O “Afonso de Albuquerque” estava, 0730, porém, o navio estabeleceu comu- porém, numa situação altamente desvan- A INVASÃO DE GOA nicações com Lisboa. Até às 1030 trans- tajosa, pois manobrava numa área confi- No madrugada do dia 18 de Dezem- mitiu (e recebeu) várias mensagens para nada, enquanto os navios inimigos, aos bro, o aviso de 1ª classe “Afonso de o Estado-Maior da Armada, dando conta rumos norte e sul, fora do porto, podiam Albuquerque” encontrava-se fundeado da sua posição e dos bombardeamentos utilizar toda a sua artilharia. Também se em Mormugão. A sua guarnição entrara observados. Uma das mensagens trans- verificavam grandes disparidades ao no regime de prevenção rigorosa no dia mitidas foi do Comandante-Chefe para a nível do poder de fogo: cada fragata 8 desse mês. Na eventualidade de uma Defesa Nacional em que, mais uma vez, indiana dispunha de 4 peças de 101 mm, invasão a sua missão era defender o comunicava a falta de meios para fazer com uma cadência de 60 tiros por minu- porto e impedir o desembarque de forças face ao ataque. to (e melhor capacidade de pontaria de- da União Indiana nas praias próximas. O Por volta das 0900 foram avistadas ao vido à existência de direcções de tiro), Plano de Operações do Comando Naval largo de Mormugão três fragatas india- enquanto o aviso português só possuía 4 de Goa previa, além da acção naval con- nas, tendo a guarnição ocupado os pos- peças de 120 mm, com um ritmo de 2 ti- tra as forças navais indianas: tos de combate de superfície (não existia ros por minuto. Não tardou, assim, que o • O encalhe em local previamente esco- a bordo pessoal suficiente para garantir “Afonso de Albuquerque” sofresse os lhido quando, na sequência do com- simultaneamente as componentes anti- primeiros impactes, um dos quais atin- bate, corresse o risco de se afundar; -superfície e anti-aérea, pelo que teve de giu em cheio a torre directora, causando • Acção artilheira como bateria acorrer ora a uma ora a outra, conforme a morte do 1º grumete telegrafista Ro- costeira, defendendo o acesso ao a ameaça do momento). Às 1200 as fra- sário da Piedade e ferindo o Coman- porto; gatas aproavam ao porto a grande velo- dante com gravidade. Este chamou o • A sua destruição quando se esgo- cidade e abriam fogo com toda a sua Chefe do Serviço de Navegação, 2º Te- tassem as munições, a sua artilharia artilharia, tendo um dos cinco navios nente Sarmento Gouveia, e pediu-lhe ficasse incapacitada ou as forças mercantes fundeados na baía sido atingi- que transmitisse ao Oficial Imediato a invasoras ameaçassem directamente do. O Comandante do aviso, Capitão-de- ordem de assumir o comando e de não Pangim; -Mar-e-Guerra António da Cunha Ara- se render.

20 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Capitão-de-Mar-e-Guerra António da Cunha Aragão.

Nessa altura, outra fragata inimiga era atingida e substituída por uma nova unidade. Ao assumir o comando, o Imediato, Capitão-de-Fragata Pinto da Cruz viu-se confrontado com a destruição prematura da instalação propulsora, pois o Chefe do Serviço de Máquinas (que perdera as comunicações com a ponte) entendera a ordem de abertura das válvulas de fundo para alagar os paióis a ré como o início do plano de destruição do navio. Não lhe restou, então, outra alternativa senão ordenar o encalhe do navio fora do local previamente estabelecido (frente à praia de Bambolim e não à de Dona Paula), o que aconteceu por volta das 1235. Verificou, entretanto, o 2º Tenente Sarmento Gouveia que alguém içara Mas com a torre directora inoperativa, condições de incorporar a defesa em uma bandeira branca numa das adriças. os circuitos eléctricos avariados, os terra), tendo o Comandante sido trans- Como estava enrolada na verga de sinais monta-cargas das peças de vante fora de portado numa viatura ao Hospital (o que tornava praticamente impossível acção e as duas peças de ré encravadas, Escolar de Pangim. o seu avistamento pelos navios indianos, o “Afonso de Albuquerque” tinha esgo- Cerca das 1300 do dia 19, a guarnição que prosseguiram o fogo) a adriça par- tado a sua capacidade combatente (efec- foi, por fim, aprisionada. O Comandante tiu-se quando se tentou arriá-la, acaban- tuara cerca de 400 tiros, tendo infligido das forças indianas deslocou-se pessoal- do por ser retirada e destruída pelo 1º 18 baixas – 5 mortos e 13 feridos – ao mente ao Hospital Escolar de Pangim Tenente Martins Gonçalves. inimigo), pelo que, cerca das 1250, foi para visitar o Comandante Aragão e dada ordem de iniciar o abandono do inteirar-se do estado dos restantes feri- navio. A bandeira nacional permaneceu dos. içada. No início de 1962, o “Afonso de O fogo inimigo prosseguia com grande Albuquerque” seria rebocado para intensidade, não só em torno do navio Bombaim e, posteriormente, vendido como também sobre a praia. Mesmo para sucata, após dele terem sido reti- assim, um grupo de oficiais, sargentos e radas algumas peças, que se encontram praças regressou ao navio, sempre em exposição num museu naval daquela debaixo de fogo, numa vã tentativa de cidade. encontrar uma embarcação que pudesse transportar o Comandante por mar até ACÇÃO DA LANCHA DE Mormugão. FISCALIZAÇÃO “VEGA” DURANTE Em terra, o Capitão dos Portos de Mormugão(1), Capitão-Tenente Abel de A INVASÃO DE DIU Oliveira, indicou como local de reunião à Tendo saído de Diu em 17 de De- guarnição do “Afonso de Albuquerque” zembro, a lancha de fiscalização “Vega” o Clube Militar Naval, em Caranzalem fundeou frente a Nagoá às 2200 do (ao abandonar o navio, - a maioria a mesmo dia. nado - o pessoal não pôde transportar Na madrugada do dia 18, por volta consigo mais do que algumas armas das 0140, foram ouvidos tiros em terra 1º grumete telegrafista Rosário da Piedade. individuais, pelo que não estava em pela praça de serviço. Alertado por esta,

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 21 lento incêndio, que rapidamen- te se propagou à casa da má- quina e à pon- te. A peça foi abandonada, em virtude do seu reduto se ter tornado in- transitável de- vido aos bu- racos causados pelos projécteis inimigos e pelo incêndio, que atingia, já, o convés. A guarnição tentou, então, arriar o bote para evacuar o Comandante, mas um novo ataque aéreo feriu mortal- Lancha de fiscalização “Vega”. mente Oliveira e Carmo, tendo mandou o Comandante, 2º Tenente Jorge douro e Oliveira e Carmo fardou-se de também sido atingidos três marinheiros Manuel Catalão de Oliveira e Carmo, branco para “morrer com mais honra”. (um deles, marinheiro artilheiro Aníbal ocupar postos de combate e suspender. Às 0700 foram avistados aviões a jacto Jardim, com a perna esquerda cortada Dirigiu-se, então, a lancha para junto efectuando bombardeamento sobre terra. pela canela, viria a falecer no trânsito pa- de um contacto radar não identificado O Comandante reuniu a guarnição e leu- ra terra). que navegava a cerca de 12 milhas da -lhes as ordens do Estado-Maior da Ar- Com o bote inutilizado e a lancha com- costa. Por volta das 0400, o navio, visual- mada, segundo as quais a lancha deveria pletamente tomada pelas chamas, viram- mente identificado como um cruzador, combater até ao último cartucho. -se os sobreviventes obrigados a nadar lançou granadas iluminantes e abriu Cerca das 0730 aproximaram-se dois em direcção a terra, agarrando-se os feri- fogo de metralhadora pesada sobre a aviões para bombardear a Fortaleza e o dos a uma balsa. Após sete longas e “Vega”, que retirou para Diu e fundeou. Comandante mandou abrir fogo sobre dramáticas horas, conseguiram, por fim, Ás 0615 suspendeu e aproximou-se eles com a peça de 20 mm (um dos apa- chegar à praia (dois homens ficaram novamente do cruzador, onde foi vista, relhos acabaria por ser atingido e obriga- separados do grupo e atingiram terra em içada no mastro, a bandeira da União do a aterrar). Estes ripostaram, matando, locais diferentes dos restantes), tendo Indiana. A lancha regressou ao fundea- no ataque, o marinheiro artilheiro Antó- posteriormente sido feitos prisioneiros. nio Ferreira, e cortando pelas coxas as Sacudida pelas explosões das suas pernas de Oliveira e Carmo que, ainda próprias munições, a “Vega” acabaria, com vida, retirou do bolso e beijou as entretanto, por se afundar, arrastando fotografias da mulher e do filho pe- consigo os corpos do heróico Coman- queno. Deflagrara, entretanto, um vio- dante e do seu artilheiro.

2º Tenente Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo. Marinheiro artilheiro António Ferreira. Marinheiro artilheiro Aníbal Jardim.

22 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA ACÇÃO DE OUTRAS UNIDADES autonomia, entrado em Carachi às 2000 CONCLUSÃO NAVAIS – AS LANCHAS DE do dia 20 de Dezembro. Dois dias antes, em Goa, uma outra lan- Ainda não podemos afirmar que a FISCALIZAÇÃO “ANTARES” cha, a “Sirius”, tivera uma actuação bem História reabilitou os militares portugue- E “SIRIUS” mais modesta: sem nunca ter sido atacada ses “apanhados” na torrente dos graves Assegurando a presença naval por- e sem ter disparado um único tiro, fora acontecimentos de Dezembro de 1961. Na tuguesa em Damão, a lancha de fiscaliza- encalhada ao mesmo tempo que o verdade, o assunto continua a gerar bas- ção “Antares”, sob o comando do 2º “Afonso de Albuquerque”, tendo a sua tante controvérsia e talvez nem daqui a Tenente Fausto Morais de Brito e Abreu, guarnição procurado refúgio a bordo de dez anos (limite do prazo mínimo geral- tinha ordens semelhantes às da “Vega” um navio mercante. mente aceite para uma análise histórica “a para agir em caso de invasão do território. frio”) esteja devidamente esclarecido, pois Escusado será dizer que tal invasão era, CATIVEIRO E REGRESSO estarão ainda vivos bastantes elementos já, dada como altamente provável quan- directamente envolvidos no chamado do, a 17 de Dezembro, o navio saiu do Vinte e seis militares portugueses (dos “Processo da Índia”. E, embora esse porto de Damão pela última vez (tivera quais cinco eram de Marinha, o que, em processo tenha sido reavaliado logo após mesmo de o fazer, sob pena de ficar retido termos de percentagens, se traduz em a queda da ditadura, com a consequente no porto por condicionalismos de maré). baixas oito vezes superior às do Exército) anulação das penas disciplinares Às 0400 do dia 18 foi avistada uma luz tombaram na defesa do Estado da Índia. impostas, os antigos prisioneiros da forte em terra apontada na direcção do Todos os outros (exceptuando as guar- União Indiana ainda hoje reclamam o mar, seguida do lançamento de vários nições das lanchas “Sirius” e “Antares”) pagamento das pensões que lhes são de- very-lights. A lancha aproximou-se de ter- foram feitos prisioneiros após a rendição. vidas pelo Estado. ra a velocidade reduzida e, nessa altura, Aguardavam-nos seis longos meses de É certo, porém, que estamos agora em o gradual apagamento das luzes da cativeiro em campos de detenção em Goa. melhor posição para compreender a terrí- cidade até à obscuridade total, junta- Se as condições de internamento nesses vel situação daquele punhado de homens mente com a escuta entrecortada de algu- campos foram bastante duras, pode-se cujas únicas opções eram a morte ou a mas comunicações do Exército deram a dizer que, salvo alguns casos pontuais de desonra. Mas se não temos moral para jul- indicação de que a invasão se tinha inici- maus tratos, os militares indianos se com- gar aqueles que depuseram as armas, pois ado. Com o radar avariado e sem qual- portaram com exemplar dignidade e com- limitaram-se a ser humanos, saibamos quer informação quanto à presença de postura, evidenciando, em quase todos os honrar a memória dos que com a sua co- unidades navais inimigas nas imediações momentos, uma sólida disciplina herdada ragem, abnegação e sacrifício se soube- (o nascer do dia viria a confirmar a sua do Exército Britânico. ram guindar às alturas do sublime!  ausência), a “Antares” afastou-se de Ficaram, contudo, extremamente terra, tendo a guarnição ocupado postos espantados ao verificar que a população de combate às 0430. goesa, longe de demonstrar grande alívio Notas Cerca das 0700 foram avistados os por ter sido “libertada da opressão colo- (1) O Comando Naval, que se estabelecera em primeiros aviões indianos a atacar objec- nizadora”, se desfez em manifestações de Dona Paula após o bombardeamento do Palácio do tivos em terra. Embora estes se tivessem carinho pelos militares portugueses, Hidalcão, em Pangim, já dali se retirara. Quando, no decurso dos combates, a praia fora atingida, encon- aproximado diversas vezes do navio, fazendo-lhes chegar alimentos, roupas e trara a morte o 1º Sargento escriturário Santa Rita. mantiveram-se fora do alcance da sua medicamentos através do arame farpado (2)Na verdade, Portugal apresentava um peça. Até perto das 1800, foram efectua- e lamentando de viva voz a adversa situ- pequeno “trunfo”: logo após a invasão, o Ministério dos mais três raids aéreos, sem que a lan- ação em que estes se encontravam. do Ultramar emitira uma ordem de prisão para os cidadãos indianos residentes em Moçambique, tor- cha tivesse sido atacada. Afastou-se, Não era intenção da União Indiana nando-os, deste modo, moeda de troca. Tinha, entre- entretanto para as 20 milhas e, mais uma reter os prisioneiros por muito mais tanto, sido emitida a exoneração do General Vassalo vez, não foram detectadas unidades de tempo. As negociações arrastaram-se, e Silva, de modo a diminuir a sua importância superfície inimigas. entretanto, devido ao facto do estado por- enquanto prisioneiro. Às 1920, perdidas que estavam todas as tuguês pretender, antes do mais, uma comunicações com terra, o farol de garantia da salvaguarda de vidas e bens Bibliografia Damão apagado e vários incêndios a nacionais, assim como da protecção da ANTÓNIO, CALM J. S. Félix, “Últimos Combates lavrar em vários pontos da costa, numa minoria goesa. Só depois da ida a Goa do Navais na Índia Portuguesa”, Revista da Armada, nº 240, Fevereiro de 1992, Lisboa, p.p. 21-25 clara indicação de que o território estaria, Engenheiro Jorge Jardim, enviado COSTA, CTEN REF R., “A Marinha na Índia já, ocupado, ou muito perto disso, o propositadamente para obter a satisfação (1947-1961)- I Parte”, Revista da Armada, nº 303, Comandante mandou dar volta aos pos- de certas exigências(2), Lisboa se Novembro de 1997, Lisboa, p.p. 17-20 tos de combate e, reunindo a guarnição, preparou para receber os prisioneiros. COSTA, CTEN REF R., “A Marinha na Índia informou-a da sua decisão de seguir para Não teve honra nem glória o seu (1947-1961) – II Parte”, Revista da Armada, nº 304, Dezembro de 1997, Lisboa, p.p. 17-20 Carachi, no Paquistão, de modo a evitar regresso, tendo muitos sido, então, COSTA, CTEN R., “O Último Navio Português de que a lancha caísse nas mãos do inimigo. chamados a depor em longos e traumati- Damão”, Revista da Armada, nº 254, Maio de 1993, Pretendia, deste modo, poupar o navio e zantes interrogatórios cujo principal Lisboa, p.p. 17-20 os seus homens a um inútil sacrifício (só objectivo era o de encontrar culpados pela CRESPO, CMG Manuel Pereira, “A Invasão do Estado da Índia pela União Indiana”, Anais do Clube já podiam defender-se a si próprios), pois situação a que se chegara Militar Naval, nºs 1 a 3, Janeiro/Março de 1962, todas as informações apontavam para Seria publicada, dali a uns tempos, uma Lisboa, p.p. 207-216 uma total ocupação dos três territórios longa lista de castigos disciplinares, que MORAIS, Carlos Alexandre de, A Queda da Índia portugueses na Índia. passavam por demissões, reformas com- Portuguesa, 2ª edição, Lisboa, Editorial Estampa, 1995 Com grandes precauções, de modo a pulsivas e inactividade por períodos de Relatório do Comandante Militar, Brigadeiro António José Martins Leitão, 1962 evitar a detecção pelas forças indianas, e seis meses. Também foram publicados Relatório do Comandante Naval, Comodoro Raul enfrentando condições de mar bastante louvores e recompensas, muitos deles jus- Viegas Ventura, 1962 desfavoráveis, a “Antares” navegou 530 tos, a premiar actos de grande heroísmo, milhas para Noroeste (passando cerca de outros enaltecendo acções triviais Agradecimentos 15 milhas a Sul de Diu) em pouco menos enquanto outras de grande valor foram, Ao Sr. Professor Adriano Moreira, pelos prestáveis de 48 horas, tendo, no limite da sua pura e simplesmente, ignoradas. esclarecimentos e precioso testemunho.

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 23 ENTREVISTA O Combate da “Vega” Visto da Fortaleza de Diu.

DIU Livro “A Queda da Índia Portuguesa”-Editorial Intervenção

Coronel Dias Antunes era em 1961, diziam: “WEST POINT – 1954 – REJECTED”.! unir. Mas de facto o ambiente era excep- Alferes do Exército, e tinha sido Material antiquado, velho e com efectivos cional. Basta acrescentar que, ainda este O destacado para uma Companhia de em pessoal cada vez menores! ano, na noite de 17 para 18 de Dezembro Infantaria, para o longínquo distrito de Diu, nos continuaremos a reunir, como vimos no então Estado da Índia Portuguesa. É nesta R. A. – Qual era de uma maneira geral, fazendo nos últimos vinte anos! Com o situação que se encontra na altura do ataque o relacionamento dos militares com a pessoal da Marinha, desde o então da União Indiana e foi testemunha do com- sociedade civil? Primeiro-Tenente Geraldes Freire, mais bate da lancha “VEGA”. tarde Seixas Serra e a finalizar Oliveira e D. A. –A relação entre nós e a popu- Carmo, com todos eles a amizade e con- R. A. – Em que ano chegou a Diu e em lação civil era a melhor possível, de uma fraternização eram uma constante. que situação? sincera fraternidade e amizade. Confir- mámos isso depois da rendição. R. A. – Quando é que notaram altera- D. A. - Cheguei a Diu em 15 de Junho ções por parte da União Indiana? de 1960, integrado na Companhia de R. A. – Qual era o efectivo militar Caçadores nº 3, tendo ficado colocado nessa altura? D. A. –Três meses antes começam a como Comandante do Pelotão de notar-se os primeiros sintomas de que algo Acompanhamento (Armas Pesadas), o D. A. – Para além da minha se estava a preparar, com contínuos qual ficou instalado na Fortaleza. Companhia, havia também o pessoal da sobrevoos de Diu por parte de aviões mi- Bataria de Artilharia, da PSP, Guarda litares, os quais imaginávamos que estariam R. A. – Naquela altura, qual era a situação Fiscal, algum pessoal do Comando e, fotografando em pormenor todo aquele em Diu e na Índia Portuguesa em geral? claro, o Pessoal da Marinha constituído pequeno território. Numa linha de caminho pela guarnição da lancha “VEGA”, e 3 de ferro que corria cerca da fronteira, tam- D. A. – De uma grande tranquilidade. O homens da lancha “Folque” dos serviços bém detectámos o transporte inusitado de Governador, Sr. General Vassalo e Silva hidrográficos, num total aproximado de tropas, canhões etc., num aparato militar estava a fazer um excelente trabalho e, eco- 350 homens. Pessoal civil, natural da tremendo. O Comando recebeu infor- nomicamente, a Índia Portuguesa era das Metrópole, não havia ninguém. mações que lhe confirmavam a deslocação poucas províncias ultramarinas que não para os arredores de Diu de tropas e mate- constituía encargo para o governo português. rial de guerra (efectivos calculados em Já sob o ponto de vista militar a situação era R. A. – Havia grande confraternização cerca de 4.500 homens). difícil. Sem entrar em mais pormenores basta entre os ramos? que lhe diga que os cunhetes das munições R. A. – Em Diu havia um plano para de Morteiro de que dispúnhamos, tinham na D. A. –A natural defesa para um grupo enfrentar as Forças Indianas em caso de tampa uns carimbos, de cor vermelha, que pequeno, numa terra tão pequena é a de se invasão?

24 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA D. A. – O plano da defesa de Diu que, devido à pequenez do território e aos reduzidos meios de que dispunha, era forçosamente simples, foi cumprido. Assentava ele fundamentalmente nos seguintes pontos: a) Resistência dos Postos exteriores da Guarda Fiscal e Polícia, enquanto pos- sível; b) Ocupação da zona do Aeroporto e arredores; c) Defesa da muralha exterior da cidade, a cargo da Companhia de Caçadores, menos o seu pelotão destacado para a zona do Aeroporto, e o Pelotão de Armas Pesadas que estava na Fortaleza, onde constituía uma base de fogos; d) Defesa final, efectuada na Fortaleza, à custa dos meios recolhidos, incluindo a Bataria de Artilharia, actuando como Infantaria; Não foi possível a sua execução comple- esquadrilhas de aviões a jacto iam destruin- R. A. – Conseguiu ouvir as palavras que ta, porque depois do primeiro embate em do com uma rapidez incrível todos os pos- o Comandante dirigiu à guarnição antes que se combateu toda a noite, até ao esgo- tos fronteiriços e – pensámos nós – sepultan- do combate? tamento de munições no caso dos Mortei- do no seu interior os seus bravos defensores. ros, de manhã a U. I. entrou com os seus Também na mesma altura se identificou D. A. – Não. Mas durante o cativeiro e aviões a jacto e a partir desse momento era ao largo de Diu, mas muito perto para os como me continuei a dar muito bem completamente impossível sair sequer dos seus canhões, o cruzador “Nova Delhi” que com o pessoal da Marinha (tendo sido buracos onde nos tínhamos enfiado... entretanto começara a bombardear a até escolhido pelo Governador para A Fortaleza, nosso teórico último reduto, Fortaleza. recolher oficialmente o relatório deste estava completamente devassada e destruída. Corri para perto do meu pessoal, pelo pessoal), falámos várias vezes deste caminho fui atacado pelos aviões, e do assunto tendo todos de uma forma geral R. A. – Quando começou a desenrolar- buraco onde todos nos enfiámos, de vez referido que as suas palavras tinham sido -se o combate? em quando vinha até ao cimo das mura- de exaltação e estímulo, mais ou menos: lhas de onde... “Rapazes! Sei que vão cumprir assim D. A. – Na madrugada de 18 de como eu! E que mais vós quereis se não Dezembro, cerca das 1.30, a U.I. iniciou a R. A. – Assistiu à acção da “VEGA”? acabarmos numa batalha! Fazemos parte invasão tentando entrar por dois pontos: a da defesa da Pátria e vamos cumprir até península de Gogolá, defronte de Diu, e um D. A. – Assisti à acção da “VEGA”! ao último homem e última bala! Eu até posto fronteiriço (Porto Covo). Vejo-a sair a toda a velocidade a caminho me vou vestir de gala porque assim mor- Em ambos os postos, sobretudo em do cruzador, tendo sido atacada no cami- rerei com mais honra!!” Gogolá onde havia mais concentração de nho pelos aviões a jacto! O Comandante E depois de isso, fizeram-se as despedi- tropas, e devido à forma maravilhosa como manejando com perícia o leme, furtava-se das, as fotografias dos entes queridos se comportaram os (poucos) homens da repetidamente aos vários ataques que lhe foram beijadas e guardadas nos calções e Guarda Fiscal e Polícia que neles se encon- eram dirigidos (eram visíveis no mar os partiram com aquele Comandante com travam, os ataques foram repelidos com rastos das várias rajadas), e assim con- quem iam até ao fim do mundo!!! bastantes baixas por parte da U. I. e apenas seguiu atirar abaixo três aviões inimigos! alguns feridos da nossa parte. Para Gogolá Fantástico! E continuava a gritar com o R. A. – Hoje, 40 anos depois, o que se foi onde se concentrou todo o nosso fogo de seu pessoal: Força neles! Dá-lhes agora, lhe oferece dizer? apoio, quer por parte dos Morteiros, quer Ramos! Boa Aníbal!” Extraordinário! por parte das peças de Artilharia. Mas após um breve intervalo de rea- D. A. – Analisando a atitude do Esta acção durou até cerca das 5.30 da bastecimento, quando os aviões vieram Comandante Oliveira e Carmo, de ter manhã, e como entretanto se tinham esgota- outra vez, ao primeiro ataque desta vez visto a forma como ele encarou a si- do as munições dos Morteiros que estava cruzado, ao fugir de uma das rajadas, caiu tuação, tem que se enaltecer o grande comandando, apresentei-me no posto de em cheio no meio da outra, e foi o fim! As patriotismo, honestidade profissional, Comando ao Sr. Major Lucena de Vas- balas entravam por cima e saíam pelo hombridade e enorme coragem. Ele teve concelos, Governador e Comandante-chefe, fundo da lancha construída em fibra, e logo tempo suficiente para se preparar e o qual me ordenou “que ficasse por ali”. O nessa primeira rajada a embarcação ficou preparar o pessoal para o combate, pre- posto de Comando tinha uma posição ele- em chamas, a meter água, mas ainda com parou-se para cumprir uma ordem e nesse vada e dispunha de uma janela sobre o o atirador da peça de Artilharia a fazer cumprimento, morreu. A guarnição estava canal de onde eu vi a lancha “VEGA”, com fogo! O convés era um mar de sangue, pois perfeitamente moralizada e o exemplo o seu Comandante Oliveira e Carmo de foram cortadas ambas as pernas ao Oliveira dele foi de tal forma empolgante que to- farda branca (adiante explicarei porquê) e e Carmo e ferido de morte o marinheiro- dos o seguiam. com o qual eu troquei uns acenos de -artilheiro Ferreira. Ao Comandante ainda Ainda há heróis em Portugal! saudação. Neste momento um marinheiro com vida, tentaram passá-lo para uma balsa Só lamento que o seu nome seja tão aproximou-se dele e disse-lhe qualquer lançada entretanto na água, mas nova raja- pouco conhecido e honrado, sobretudo coisa que fez com que ele se precipitasse da acabou de vez com a sua vida!! junto da nossa juventude! para o alarme de postos de combate, tendo- Essa é uma imagem que jamais esque- -me acenado para a ponta da ilha. Ali duas cerei!!! 

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 25 Goa - Sé Patriarcal

Goa - Igreja do Bom Jesus Goa - Igreja de S. Francisco

Goa -Sé Patriarcal Goa - Igreja do Bom Jesus Altar môr Altar e Túmulo A presença dos de S. Francisco Xavier portugueses na Costa do Malabar deu origem a uma miscigenação nas artes, fruto do encontro de culturas muito intenso, que após vários séculos ainda perdura com marcos indestrutíveis e altamente significativos.

Goa - Retábulo da Sé Patriarcal Damão - Forte de S. Jerónimo Diu - Entrada da Fortaleza

26 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Goa - Pondá - Templo de Queulá Goa - Pondá - Templo de Manguexa Damão - Templo

Diu - Gogolá - Mesquita

Damão - Varacunda - Casa típica Goa - Convento de Santa Mónica

Diu - Baluarte de S. Nicolau

Goa - Arco dos Vice-Reis Goa - Fortaleza da Aguada

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 27 A MARINHA DE D. MANUEL (20) AA GuerraGuerra comcom osos turcosturcos nono MediterrâneoMediterrâneo

Índia e as viagens transoceânicas tentáculos para ocidente, ao longo do ocupantes foram surpreendidos pela notí- tiveram um enorme impacte no Mediterrâneo. A 23 de Maio de 1480 con- cia da morte súbita do Sultão, vítima de Aideário português do século XVI e quistaram Otranto, na Península Itálica, peste, mas a ameaça permanecia latente. constituem, hoje em dia, aquilo que des- perigosamente perto de Roma, dominando Naturalmente que o poder naval oto- perta maior atenção dos historiadores, mas o Mediterrâneo central. Veneza era espe- mano era crescente, correspondendo à deve dizer-se que o Norte de África e o cialmente afectada, porque o local permite ascensão de um império que dominou os Mediterrâneo nunca estiveram ausentes da o controlo da entrada do Adriático, mas Balcãs e chegou às portas de Viena, de mente dos homens desse tempo. À partida todo o movimento marítimo mediterrânico forma que a hipótese de confronto não tar- o espaço marroquino apresentava-se como era ameaçado por esta conquista, que não daria a repetir-se. Em 1501 a Senhoria de o palco de uma “guerra justa” e “ne- deixava insensíveis as autoridades por- Veneza enviava ao Papa um pedido deses- cessária”: a guerra onde qualquer cavaleiro tuguesas (estava-se no final do reinado de perado de ajuda para que os soberanos sonhava alcançar honra e glória, comba- Afonso V) por variadíssimas razões que cristãos a ajudassem na guerra naval con- tendo inimigos da fé católica. Mas, para importa referir: a primeira delas prende-se tra os turcos. Nessa altura, D. Manuel além deste sentido de cruzada – que, certa- com a importância que o comércio entre o preparava-se para ir pessoalmente ao mente, nunca deixou de Norte de África à frente de estar presente e de pesar nas uma expedição militar, de análises políticas e nas de- forma que resolveu reen- cisões régias –, deve ver-se caminhar essas tropas para este interesse pelo Magreb, dar ajuda aos italianos nu- como um olhar para uma ma guerra que, mais uma zona fundamental para o vez, assumia os foros de controlo de um espaço ma- cruzada. “mandou el Rei rítimo, à volta do qual cres- que tomassem da armada cera a civilização europeia, e que tinha prestes para sua onde continuava a circular passagem [para a sua ida ao uma boa parte da seiva de Norte de África], trinta que se alimentava o velho naus, navios e caravelas, continente. À conquista de dos melhor equipados e Ceuta, seguiram-se as de artilhados”, diz-nos Damião Alcácer Ceguer, e Arzila, Castelo de Aguz. de Góis, na sua Crónica de levando à entrega de Tân- D. Manuel. O comando foi ger sem luta e ao estabelecimento de uma Mediterrâneo e o Norte da Europa conti- dado a D. João de Menezes – figura notá- trégua assinada em 1471. Nos anos que se nuava a ter para Portugal; outra tem a ver vel da guerra no Norte de África, neto do seguiram, a zona de influência dos por- com o efeito que o avanço para ocidente de primeiro governador de Ceuta – e, para tugueses cresceu para sul, criando-se uma uma potência militar islâmica vai provocar além dos trinta navios e cerca de 3500 espécie de protectorado sobre as vilas de no equilíbrio de forças entre o Norte de homens, a esquadra foi-lhe acrescentada Safim e Azamor e levando até que D. João II África, o reino de Granada, a Espanha dos com um Regimento secreto (só revelável tentasse erguer uma fortaleza sobre o rio reis católicos e Portugal; e outra ainda tem quando toda a gente estivesse embarcada) de Larache, cerca de15 quilómetros para o a ver com a questão religiosa em si, não e meios adicionais para conquistar Mers el interior entre Alcácer Quibir e o mar. É apenas porque que a antinomia entre Islão Kibir, um local fortificado sobre a baía de claro que o Sultão de Fez bloqueou o aces- e Cristianismo era especialmente aguda, Orão, cidade que D. Manuel queria que so dos portugueses e obrigou à sua retira- mas ainda porque a proclamação da cruza- fosse ocupada. Os ventos contrários obri- da, que foi aceite pelo Príncipe Perfeito da criava um vínculo especial entre os reis garam os navios a bordejar durante três sem grande oposição. Dominava-se o mar e o Papa: se por um lado tiravam vanta- dias à vista do porto, permitindo o reforço e conseguia-se um comércio pacífico com gens económicas dos bens da igreja, por da praça e uma resistência inesperada, mas alguns dos portos da costa ocidental do outro, viam-se obrigados a dar combate é importante notar que este tipo de ope- Norte de África (cujas populações pediam aos “infiéis”. ração (uma operação anfíbia em que o a protecção portuguesa contra a violência Em 8 de Abril de 1481, a bula Cogimur poder ofensivo assenta na força dos da guerra civil que assolava o reino de iubente altíssimo proclamava a cruzada con- navios, com tropas que desembarcam) foi Fez), mas o rei achava inoportuno sujeitar tra os turcos, e Portugal preparou uma paradigmática e repetiu-se com sucesso o país a um esforço de guerra de con- esquadra de 20 velas, que partiu para o em múltiplas outras situações de que quista, quando tinha outros objectivos Mediterrâneo comandada pelo bispo de falaremos mais tarde.  ultramarinos. Todavia, na Ásia Menor Évora, D. Garcia de Meneses. Otranto foi crescia o império turco que em 1453 já con- abandonada (sem que os portugueses J. Semedo de Matos quistara Constantinopla e estendia os seus chegassem a combater) quando os seus CFR FZ

28 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA casãomilitar Companhia das Cores

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á não muito tempo, numa Urgên- de biscates e morava numa caravana, qual “era preciso ter o serviço militar cia de um grande hospital da capi- velha, num parque de campismo dos cumprido”, outro, um revolucionário exi- H tal alguém gritava: subúrbios. lado em Paris na época colonial, tinha - Olhe que eu já matei por Portugal!! – Mas agora não dorme exactamente ocupado o lugar... era um homem de meia idade, desgre- porquê? – perguntei eu, tentando ser Casou, mas divorciou-se, pouco tempo nhado e de barba por fazer. Aproximei- objectivo. depois. Não conseguia explicar à mulher a -me dos gritos. No caminho um enfer- Não dormia porque era como se tudo ansiedade da espera, os gritos da refrega, meiro saía irritado afirmando: mais um fosse real. Ainda sentia os cheiros de África, nem o sangue do amigo morto, que lhe doido. É o terceiro hoje! a humidade no tarrafo, o capim na face, o salpicara a cara. Se tinha pesadelos? Não, De perto o homem, apesar da tinha poucos pesadelos, porque agitação, tinha um ar digno. Era dormia pouco...Eram mesmo os alto, com um ar sólido de quem dias que o enervavam... é capaz de mover montanhas, a Tudo isto, achava ele, não barba, já grisalha, assentava sob interessava a ninguém no país uma tez morena, de homem do actual, E não compreendia campo. Olhava directamente nada...não compreendia um nos olhos da sua interlocutora: país em que as ruas se uma médica, por quem eu não enchem de dejectos de cães e tinha muito apreço – no geral, senhoras com nome de cão, conflituosa e pouco estimada por como Lalá e Bibi, artificiais e todos os outros naquela equipa secas, preenchem os serões de de urgência. Era até conhecida, televisão. Não percebia, ain- entre os mais novos, pela peço- da, porquê pouco se falava do nhenta, uma vez que da sua pele António, nem de todos os que emanava um brilho pouco natu- partiram por servirem, a custo ral, certamente graças aos muitos da própria vida, uma causa cremes de beleza, com que be- que lhes havia sido impos- suntava a face. ta...Não compreendia, final- Tratava-se de uma discussão mente, porquê, no nosso país por papéis, em que a peço- se obliterava como se de um nhenta argumentava de ma- segundo se tratasse, uma guer- neira agressiva, afirmando que ra que marcou gerações...Pelo a “ficha” do paciente não exis- menos no Vietname há filmes, tia. Este defendia-se dizendo as pessoas revêm o seu so- que não sabia nada de “fi- frimento, parece haver reco- chas”, esperava haviam já 3 nhecimento – dizia com dor horas e queria ser atendido. no olhar. Então, com a humildade pró- Lembrei-me, recentemente, pria de um simples interno, deste Combatente. Nestas avancei e disse, a tão ilustre férias de Verão vi que na para- clínica, que ia atender o se- da de um antigo quartel, onde nhor. Que se acalmasse, que existe uma placa com os outros doentes com “fichas” no devido camuflado colado ao corpo, o peso, frio, da nomes dos mortos em acção, nos vários lugar esperavam por ela... metralhadora nas mãos... Mas o pior, o conflitos em que o regimento participara, Fui movido pela curiosidade, anteven- pior, era a sensação de medo... tinham construído um lago de aspecto do a história que tal homem produziria. A emboscada e o sangue do António, nada condizente com o lugar, nem com o Queria saber afinal quem ele matou e que ainda sentia nas mãos, o amigo que respeito merecido por aqueles que já par- porquê? Conversámos, então, num corre- segurara nas mãos, até ao último estertor. tiram e cuja memória dignifica o lugar. dor movimentado, onde todos passavam Era véspera de Natal, tinham ido tomar Pareceu-me um sacrilégio. Seria como demasiado apressados para nos ouvir. banho a um riacho próximo, quando construir um lago de patos sobre os mon- Queixava-se de insónias, há já uma foram atacados...O António era o ges sepultados, num qualquer átrio de semana que não conciliava o sono... primeiro da fila – percebe doutor – os tur- igreja...Pareceu-me ainda pior, porque Tinha combatido nas tropas especiais ras apontaram a quem vinha à frente... esse quartel, agora transformado em par- da guerra de África, na Guiné. Já fora Tudo lhe voltava, num ciclo infindável que turístico, é gerido por militares... casado mas a mulher deixara-o. Os seus de medo, agressividade e sofrimento... Na verdade, acredito, que poucos países dois filhos viviam com a mulher, que Achava que não tinha tido do país, por revelaram, pelo menos na época actual, lhes dizia que o pai não prestava. Desde quem arriscou a vida, qualquer reco- tanto desrespeito pelos seus veteranos de o final da guerra, tinha tido vários nhecimento. Afinal, quando voltou não guerra. E estou certo, que o Combatente empregos, mas não os conservara. Vivia lhe tinham reservado o trabalho, para o tem razão. No nosso país, nem mesmo aos

30 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA políticos – a grande maioria apresentado, mente incorrecta – que os continua a fazer dia. Tem que perdoar. Só assim poderá de forma implícita ou explícita, pouca sofrer com tanta intensidade. Tenho pena, fechar, acredito sinceramente, o abismo simpatia pelos militares - interessam os também, de pertencer a um país que não profundo que lhe dilacera a vida. sofrimentos de um grupo de homens distingue entre o poder e os homens sim- Fala-se agora mais nestes assuntos, do tristes, marcados pelo dor e pela desgraça. ples, quase sempre joguetes inocentes... que na época em que ouvi o Combatente, Eu nunca combati. Nunca estive na E talvez eu seja indigno sequer de falar no silêncio daquele corredor barulhento... Guiné. Não posso compreender, na sua deste assunto, já que para mim “os turras” Também houve um filme ou outro, sobre totalidade o sofrimento deste homem, e a guerra de África, são apenas vozes e esta forma tão dolorosa de sofrer...Talvez as nem de outros como ele...Impressionou- notícias, dispersas, de infância. Fica aqui, coisas melhorem finalmente. -me a história de um homem destroçado, pelo menos aqui, este pequeno contributo Eu desejo, do fundo da alma - para ele ainda a combater pela vida, tantos anos para que tal injustiça seja reconhecida. e para todos como ele - que atinjam a após o fim da guerra. Pareceu-me um O Combatente, sei de fonte segura, fre- benção do esquecimento e tenham a preço patriótico demasiado elevado, num quenta há pouco tempo uma consulta de força para criar um novo princípio...Do país em que cada vez mais os valores da psicopterapia, com outros da sua geração pouco que tenho, ofereço aquilo que nação se vergam ao dinheiro, ao voto que também perderam a juventude na mais me custou a conquistar e mais prezo fácil, à falsidade e à negociata barata. guerra. Nunca recuperará a família, o na vida: ofereço-lhes o meu respeito... Sei, que quando penso no Combatente, emprego, mas talvez recupere o respeito Bem hajam pelo sacrifício!!  e na história da sua vida, tenho pena, dos filhos – um objectivo meritório. muita pena de toda uma geração apanhada Tem que deixar morrer os sons da numa guerra – agora considerada politica- batalha dentro de si e aceitar que há outro Doc. BIBLIOGRAFIA Os Últimos Navios do Império Agenda 2002

Telmo Gomes e as Edições O Comandante Está- INAPA têm-nos habituado a cio dos Reis, que em umas edições bastante interes- boa hora descobriu um santes sobre navios, de tal modo editor à altura das que a Revista da Armada seleccio- obras de qualidade nou, nos números 318 a 330, para gráfica que produz, e publicação nos versos das suas os CTT Correios, que capas, uma boa dúzia de exem- em boa hora descobri- plares que relembram sem qual- ram um autor capaz de quer critério de sucessão histórica responder bem às soli- ou outra escolha especial, o livro citações de requinte agora referido. Em boa verdade, gráfico que, acima de pode realmente dizer-se que uma tudo, pretendem im- escolha, neste caso, não apresen- primir nas suas pro- taria um objectivo específico. duções, mais uma vez Foram publicadas as que foram, juntaram vontades e esforços na impressão de uma Agenda para como podiam ter sido outras. Sobre o livro em si diz Vasco de Melo nas o ano de 2002, que acabou por aparecer à luz do dia verdadeira- palavras de prefácio que a edição é “ilustrada com 46 preciosas mente a extravasar funções de calendário, e de botar apontamen- gravuras acompanhadas de resenhas literárias, onde estão narrados tos “pró memória”, que é para o que serve uma agenda a qual- episódios das memórias desses navios que serviram uma pátria”. quer ser mortal que se preze. Deve dizer-se que Telmo Gomes não é (não quer ser) um historia- É que, se o tal livrinho (ou livrão) tiver conteúdo de interesse dor. Desenha os navios que copia (não tem a preocupação do rigor histórico , ou científico, ou os dois, ainda por cima com beleza no pormenor da construção naval, da mareação, mas tão só na estéti- de arranjo gráfico cativante para quem o abra e folheie, já dá o ca e beleza da cópia). Com o deslumbramento de ter visto o mar pela salto muito para além das funções que seriam de se lhe exigir, primeira vez, em Lisboa, aos seis anos, vindo das margens do Pavia, o resultantes do nome, para se tornar coisa de luxo, de que o dono rio de Viseu, onde começou por fazer barcos de corcódea, deixou-se se envaidece. De cuja posse, pelo menos, sente orgulho. encantar, e não mais parou: foi uma vida a seu modo dedicada ao Tal o caso desta Agenda 2002, que os CTT acabam de editar, mar, mais rigorosamente, aos navios. Para além de pintura, ou do e o autor, com a gentileza que se lhe conhece, como timbre pes- desenho aguarelado, dedicou-se também ao modelismo naval, de soal, fez chegar à Revista da Armada na pessoa do seu Director. que fez já inúmeros modelos. Consoante afirmação sua na nota Claro que a Revista agradece reconhecida. É realmente obra di- biográfica do livro a que nos reportamos, de que respigamos alguns gna de se usar e de se oferecer: boa encadernação, boas fotogra- destes apontamentos: “É considerado um dos melhores modelistas fias, um intróito feliz sobre as andanças e desandanças do sis- navais contemporâneo, e o melhor artista português de temas rela- tema métrico, de que o autor faz longa e exaustiva história, cionados com o mar e os navios”. Acompanhando cada gravura do nesta data em que se comemoram os 150 anos de introdução livro é apresentado um texto que parece ter sido recolhido de um dos em Portugal: medirmos tudo com as mesmas unidades, não autores que Telmo Gomes apresenta em nota final como “principais esquecendo que, sendo “agenda” não falha aquela secção final fontes de consulta” talvez com uma certa mistura do entusiasmo do do: dono, nome, telefone, etc., etc., Está obra completa, bela e autor. Mas, sem um pouco de fantasia, não seria mais triste e mais útil. monótona a vida?  A R. A. agradece reconhecida a oferta deste bonito livro que passa S. Machado a guarnecer a sua biblioteca.  CMG REF

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 31

NOTÍCIAS APRESENTAÇÃO DO XI VOLUME DOS “75 ANOS NO MAR”

No passado dia 17 de Outubro, na sejam os 4 navios oceânicos da classe “S. Comandantes Vasconcelos Castelo e Ferreira Biblioteca Central de Marinha, foi apresenta- Jorge” e os 8 costeiros da classe “Ponta Pinto coadjuvados pelo Sargento Carmo da mais uma publicação editada pela Delgada”. Foi feita uma referencia à segun- Pinto e que “foi o possível dentro de vários Comissão Cultural da Marinha, o XI volume da década dos anos 50 e ao início dos anos condicionalismos mas tem o mérito, como da obra “75 Anos no Mar”. 60, período que constituiu “a época de tem sido paradigma dos anteriores volumes Este projecto, que pretende ser a conti- ouro” da Flotilha de Draga-Minas, durante a da obra 75 Anos no Mar, de coligir elementos nuação da notável obra do Comandante qual a Marinha alcançou grande prestígio que poderão servir de ponto de partida para António Marques Esparteiro “Três Séculos no âmbito das manobras internacionais com futuras investigações históricas”. no Mar” (1640-1910) constante da antiga este tipo de navios, lastimando-se que, devi- Igualmente foi evidenciado que para colecção Estudos de Marinha, foi da inicia- do a outras prioridades e conjunturas diver- conclusão da obra está previsto, no início tiva do Comandante José do próximo ano, a publi- Agostinho de Sousa Mendes cação do XII volume que se assim como a elaboração dos referirá aos draga-minas dez primeiros volumes. Sen- costeiros de origem inglesa, do o agora apresentado o classe “S. Roque”, aos caça- primeiro volume publicado -minas “Faial” e aos que após o falecimento do Co- foram adaptados a este tipo mandante Sousa Mendes, o de navios e intervieram na Presidente da Comissão Cul- I Guerra Mundial ao serviço tural, Contra-Almirante Leiria da Marinha Portuguesa. O Pinto iniciou a sua exposição XIII volume será dedicado homenageando aquele insi- aos navios auxiliares e final- gne oficial, perante a sua mente o XIV, às lanchas de viúva D. Eduarda Melo de fiscalização e de desembar- Sousa Mendes e demais fa- que as quais foram meios miliares presentes na sessão, navais que tiveram grande tendo realçado as elevadas notoriedade na Guerra do qualidades do dito oficial as Ultramar. quais possibilitaram a realização da obra e sas, a óptima escola de O Contra-Almirante Leiria considerado que “a melhor forma de devi- marinharia, de manobra e Pinto terminou a sua alocução damente honrar a saudosa memória do navegação que consti- reiterando a certeza que, hon- Comandante Sousa Mendes é continuar a tuíam os draga-minas se rando a iniciativa do Co- concretização deste tão notório e valioso tenha, nos meados dos mandante Sousa Mendes, a projecto, mantendo quanto possível a linha anos 70, extinguido. Comissão Cultural irá com- de orientação seguida pelo autor”. Foi salientado na oca- pletar a grande obra “75 Anos O XI volume reporta-se aos draga-minas sião que o estudo agora no Mar”.  de origem americana, cedidos à Marinha ao apresentado se deve ao abrigo do Mutual Assistence Program, ou meritório trabalho dos (Comissão Cultural da Marinha)

CHEFE DE REDACÇÃO DA REVISTA DA ARMADA

O Capitão-de-Fragata REF Jorge Manuel Comandante Hermenegildo Capelo. Espe- Patrício Gorjão deixou de exercer, a seu cializou-se em Armas Submarinas e possui pedido, desde 1 de Novembro p.p. as o Curso Geral Naval de Guerra. Ao longo funções de Chefe de Redacção da Revista da da sua carreira esteve embarcado em Armada, cargo que vinha desempenhando diversos e diferentes tipos de navios, desde 1 de Novembro de 1995. incluindo comissões em Cabo Verde e A sua actividade ao longo de seis anos ini- Angola e como imediato do NRP “Schultz ciou-se com a continuada remodelação gráfi- Xavier” participou no processo de descolo- ca da Revista que passou a ser totalmente nização. Comandou o NRP “Comandante impressa a cores, numa nova apresentação Sacadura Cabral”. Foi instrutor na Escola CFR REF Patrício Gorjão CMG Vaz Ferreira visual e inclusão de conteúdos renovados, de Armas Submarinas e prestou serviço no tornando a Revista muito mais agradável O Comandante Gorjão foi assim com a Estado-Maior da Armada, Repartição de visualmente e aumentando a sua já apreciá- sua experiência um excelente colaborador Oficiais e foi Chefe do Gabinete do Vice- vel qualidade. Para além de coordenar todo da Revista da Armada e no futuro conti- -Almirante Superintendente do Serviço de o Corpo Redactorial e organizar cada edição nuará a ela ligado, mas agora nas funções Pessoal. da Revista, o Comandante Patrício Gorjão de colaborador permanente. Efectuou uma comissão em Macau como teve uma contribuição editorial muito vasta, O novo Chefe de Redacção da Revista da 2º Comandante da Polícia Marítima e Fiscal o que se comprova pelas notícias, reporta- Armada é o Capitão-de-Mar-e-Guerra e no último ano foi cooperante em Cabo gens e diversa informação publicada que Joaquim Manuel de Sousa Vaz Ferreira.O Verde como assessor do Ministro da Defesa perfaz um total de cerca de duzentas páginas Comandante Vaz Ferreira ingressou na car- daquele país e assessorando também a sua ao longo destes seis últimos anos. reira naval em 1964 como cadete do Curso Guarda Costeira. 

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001 33 NOTÍCIAS PESSOAIS COMANDOS E CARGOS

NOMEAÇÕES ● CMG António Pedro Moraes Soares, Chefe do Gabinete do VALM Superintendente dos Serviços do Material, em substituição do CMG Francisco Manuel Saldanha Junceiro ● CMG Manuel de Campos Pereira Bento, Juíz Militar do Tribunal Militar da Marinha (Presidente), em substituição do CMG António Luís Santarém da Cruz ● CMG Jorge Araújo Cunha Serra Subdirector do Serviço do Pessoal, em substituição do CMG Álvaro Sabino Guerreiro ● CFR Fernando Manuel Antunes Marques da Silva, Chefe da Divisão de Electrónica do Arsenal do Alfeite, em substituição do CFR Joaquim Carmo Matias ● CFR Joaquim Maria Louro Alves, Capitão do Porto de Viana do Castelo, em substituição do CFR António Fernando de Carvalho ● CFR António Fernandes de Carvalho, Comandante do NRP “Hermenegildo Capelo”, em substituição do CFR Fernando Manuel de Macedo Pires da Cunha ● CTEN Luís Manuel Costa Crispim de Sousa, Comandante do NRP “António Enes”, em substi- tuição do CTEN Mário José Simões Marques ● CTEN Daniel de Jesus Véstias Letras, Director da Estação Radioaval da Horta, em substitu- ição do CTEN Filipe Alexandre Silvestre Matos Nogueira ● 1TEN Paulo Jorge Palma Alcobia Portugal, Comandante do NRP “Andrómeda”, em substituição do 1TEN José António Velho Gouveia.

RESERVA ● CMG Luís Filipe Ferreira de Sousa ● CMG João Carlos Pereira da Silva ● CFR Luís Manuel Fernandes Soares ● CFR António Rodrigues da Silva Vilhena ● CTEN Manuel Meira Malaquias ● 1TEN António Inácio Jaleca Morgado ● 1TEN Carlos da Costa Ribeiro ● SMOR Acácio da Cunha Almeida ● SMOR Florivalo António Ricardo Lúcio ● SMOR Manuel Vicente Oliveira ● SMOR Ramiro Teixeira Guedes ● SMOR Lourenço Pereira Cabeças ● SMOR Fernando dos Santos Martins ● SMOR Rogério Mestre Domingos ● SCH Ludjero Henriques de Oliveira ● SAJ José Manuel Sanarra Martins ● SAJ Manuel Victor Pereira Le ● SAJ José Vilão Boas ● SAJ Luís Virgílio de Jesus Peralta ● SAJ Arrideu dos Reis Garvoa ● SAJ Firmino José Caeiro Leitão ● SAJ José Fernando Ferreira Queiróz ● SAJ Agostinho Fernandes Silvestre ● SAJ Avelino de Jesus Simões de Matos ● SAJ Manuel da Silva ● SAJ Jerónimo Joaquim Fortes Carriço ● SAJ Nelson Armindo Morais ● 1SAR Aureleano dos Santos Correia de Sousa ● 1SAR João José Pereira ● 1SAR José da Fonseca Duarte ● 1SAR José Francisco Marques da Conceição ● 1SAR António Fernando Costa da Silva Branco ● 1SAR Carlos José Santos ● 1SAR António Ferreira da Silva ● 1SAR João Manuel da Silva Gomes ● 1SAR Helder Pires Aranha ● 1SAR António Fernando Sousa ● 1SAR Francisco Fialho Valadas Cerdeira Querido ● 1SAR Rui Duarte Alves ● 1SAR Manuel Rosa Silvério ● 1SAR António Manuel de Almeida Cruz ● 2SAR Júlio Paulo Bastos Pinheiro ● CAB Armando Luís Mendes Ferreira ● CAB Luís Ventura Mendonça ● CAB Luís Filipe da Silva Martins ● CAB Pedro Manuel Fidalgo Granja ● CAB Adelino António Carvalho Pereira ● CAB José Manuel Ribeiro ● CAB José Luís Monteiro Nunes ● CAB Jaime da Silva Campos ● CAB António Manuel Ferreira Pitacho ● CAB José Ferreira dos Santos ● CAB Mário João Estevens dos Santos ● CAB Francisco Acúrcio Fernandes Marcos ● CAB Diamantino Rosário de Matos ● CAB Luís Miguel Madeira Jeremias ● CAB Helder José Mira Ripado ● CAB Rui Manuel Gouveia Pinto da Lapa ● CAB José Ferreira da Silva ● CAB Joaquim Manuel Caeiro Franco.

REFORMA ● CMG Luís Filipe Vidigal Aragão ● SMOR Manuel António de Almeida ● SCH Hercílio Tavares ● SCH Duarte Francisco da Paixão ● SCH Joaquim de Jesus Faria ● SAJ António Fragoso Coelho ● 1SAR Alberto Luís Barata da Costa ● 1SAR Henriques Marques Saramago ● CAB João António Farias Santo Mestre ● CAB Silverio Vieira Nunes.

FALECIMENTOS ● CMG SEF REF José Mendes Teodoro ● CFR AN João Manuel de Sousa Abreu Freire ● 1TEN SG REF José Dario Correia de Matos ● SAJ FZ Didier Gonçalves dos Santos Pereira ● 1SAR FZ REF Francisco das Neves Hermínio ● 1SAR A REF Egídio Frederico Santana ● CAB E REF Alfredo de Azevedo Castro ● CAB A REF Humberto de Melo Borges ● CAB TFD REF Joaquim Barros Tomé ● CAB CE REF Horácio Ferreira Batalha ● CAB CM REF Joaquim da Silva Torres.

34 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

33. DOIS SANTOS DA COMPANHIA DE JESUS

As imagens de Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier contam-se dentro as mais preciosas peças do nosso Museu de Marinha, representativas de um estilo artístico muito peculiar e de um notável momento histórico do país. Foram esculpidas na Índia, no século XVII, e pertenceram a um dos conventos de Diu (S. Domingos, Santa Mónica ou S. João de Deus), extintos em 1834. Nessa altura ficaram à guarda da confraria de Nossa Senhora do Rosário, deposi- tadas no armazém da Igreja Matriz de Diu, de onde vieram para Lisboa e entregues ao Museu de Marinha, em 1956. São duas figuras em madeira exótica, de grande expressividade e requinte, características de um estilo derivado do maneirismo italiano surgido em Portugal na segunda metade do século XVI, e levado ao Oriente e Brasil pelos padres da Companhia de Jesus. Santo Inácio de Loyola é a figura mais alta (ci. 1,73m) e está representado com o ar grave de um mestre pedagogo, severo no gesto mas suave no olhar. A sua imagem inspira o respeito que suscita o homem experiente e sábio, seguro da sua mensagem e com uma bondade paternalmente compreensiva. Como é sabido, foi ele o fundador da Companhia de Jesus, no século XVI, e a sua vida passou por uma variedade de experiências que vão do soldado valente, ansioso na precariedade que sente na vida, até ao sentido apostólico de uma igreja desmoralizada e em crise, com grande dificuldade em enfrentar os movimentos da reforma protestante, que são – para além de tudo – a emergência de uma rotura cultural. E esta representação deixa fluir esta mesma vivência, na sua parte madura, quando a decadência do corpo ferido em combate reclama a imortalidade do espírito, e projecta o homem para a acção mis- sionária. É como se na pregação da mensagem de Cristo realizasse o sonho da ressurreição. O homem vai-se fazendo santo na acção apostólica, libertando-se da agonia da morte em cada leitura, em cada pregação, em cada palavra dada. Por isso Santo Inácio se apresenta como o professor perfeito, no gesto e na expressão. Tem na mão esquerda o livro da regra da ordem (representação tradicional do santo), e está vestido com a sotaina de burel, com um pregueado minucioso (muito à maneira desta fase artística, em que desponta já o barroco), cingida na cintura por um fio gros- seiro, e apertada no peito com uma abotoadura até ao colarinho. S. Francisco Xavier um pouco mais baixo que Santo Inácio e, por isso, a sua estátua apenas tem 1,68m, o que deno- ta a intenção do artista num certo realismo da representação e sugere uma orientação comum na elaboração das duas esculturas. Contrariamente ao que é costume na imagética indo-portuguesa – que o representa com uma certa idade e barba severa – esta figura é a de um jovem glabro que olha lacrimoso para o céu, à espera de uma ventura. Dizia-se na Índia que falava pouco, mas as suas poucas palavras eram sempre comoventes ao ponto de suscitarem lágrimas. E ele próprio se comovia no enleio da pregação, facto que popularizou a sua representação a olhar para o céu e com o rosto em lágrimas. Também está vestido com sotaina da ordem, com um roquete de franja bordada e uma estola própria para os actos litúrgicos, que o santo segura com ambas as mãos. S. Francisco Xavier é o Apóstolo da Índia, adoptado pelos portugueses e popularizado por todas as missões religiosas do Oriente, visto como o paradigma da abnegação em benefício da mensagem religiosa. Nasceu no castelo de Xavier (Navarra) e era filho de uma família com algumas posses, mas viveu uma infância devassada pela guerra que lhe cau- sou grande angústia e desassossego. Com menos de vinte anos estudava em Paris onde conheceu Santo Inácio cujas palavras o fascinaram. Em 1540 veio para Lisboa e, no ano seguinte, partiu para a Índia onde foi Superior da Companhia de Jesus. Passou por Goa, Cochim, Ceilão, Malaca, Japão (onde foi recebido pelo imperador) e China. Morreu a 3 de Dezembro na ilha de Sanchoão (China), onde foi desembarcado muito doente, na companhia de um dos seus discípulos orientais, e o corpo foi transferido para Goa, onde a veneração do seu túmulo ultrapassou os limi- tes do mundo cristão. Foi com a ida de S. Francisco para a Índia que ali entraram os jesuítas, alargando-se a sua acção em poucos anos e devendo-se-lhes a criação de variadíssimas escolas e colégios, hospitais, núcleos de pregação e apoio social, criação da primeira oficina de imprensa e publicação de livros. De forma que a pregação jesuíta sempre tomou a imagem do santo como modelo da sua acção levando a que se tornasse uma das figuras mais imprtantes do culto cristão no Oriente. Santo Inácio surge nos conventos e igrejas da Índia porque é o fundador da Companhia de Jesus, mas a Companhia de Jesus só ganha a notoriedade que teve, graças à figura de S. Francisco Xavier. Juntamente com o culto mariano, a paixão e morte de Cristo (que encerra em si a imagem da imortalidade, pela ressurreição), o tradicional Santo António (companheiro de todas as viagens portuguesas), S. Francisco de Assis, os dois santos da Companhia de Jesus foram dos mais populares do hagiológico indo-português, de que existem várias ima- gens de maior ou menor valia. Estas que agora pertencem ao Museu de Marinha são das mais notáveis, pela riqueza da própria escultura e pela qualidade artística, fazendo com que já tenham sido apresentadas em diversas exposições nacionais e internacionais.

Museu de Marinha (Texto de J. Semedo Matos, CFR FZ) Património Cultural da Marinha Peças para Recordar

33. DOIS SANTOS DA COMPANHIA DE JESUS