LEGISLATIVO É ELEITO O PIOR DOS TRÊS PODERES

.- OS SEIS CASO S QUE AGITARAM INDÚSTRIA DO DAN O MORALpi

JOEL SILVEIRA JOSÉ HAMILTON SÉRGIO DAVILA CRISTIANA MESQUITA «Flavia uma idéia formada de que Roberto Marinho era o "demo"»

10 IMPRENSA - N° 202- JUNHO 2005 PEDRO VENCESLA U FOTOS SERGIO HUOLIVE R

edro Bial é um só. Seus panos de gada, embora ganhe muito bem, obrigado . fundo, muitos. Pode ser a qued a "Gastei tudo em uma aventura cinemato - do Muro de Berlim, um progra - gráfica. Não tenho patrimônio" lamenta. ma de literatura, o "Fantástico" ♦ Pai de cinco filhos - dois deles enteado s aos domingos, a biografia de Roberto Ma- - e atualmente casado com Isabel Diegues, rinho, um filme ou o " Brasil". filha do cineasta Cacá Diegues, Bial te m É como se, em todo o caminho, houvess e investido no ócio, algo raro durante os um Pedro. Não como um estorvo, como meses de "Big Brother". Ócio, aliás, é uma nos versos de Drummond, mas como uma palavra praticamente abolida do dicioná - ponte a ligar mundos e universos tão dis- rio do Grande Irmão desde que se formou tintos, como o jornalismo internacional, a em jornalismo, na PUC carioca, em 1980 . cultura e o mais puro Na seqüência, o foca entretenimento . Se Bial conseguiu uma a onipresença Pedro vaga na Globo como é hoje, por ele, um estagiário. Passou a fenômeno natural, Tem produtor, repórter, em 1997, quando substituiu Leda Na- foi entrevistado, pela um Pedro gle no "", primeira vez, po r e chegou até a apre - IMPRENSA, sua vida sentar programa de era uma aflição se m no meio do auditório. Até que, fim. Fumava e tra- aos 30 anos, em 1988, balhava compulsiva- caminho recebeu o grande con- mente, tomava remé- vite de sua vida: ser dio para dormir, cor- correspondente da ria de uma coisa a outra, saltava de um ca - Globo em Londres . Cheio de prestígio, foi minho a outro. Queria, enfim, provar qu e apresentar o "Fantástico" . E de lá não saiu era mais que um simples apresentador d o mais. ♦ Sua primeira participação no "Fantástico: O desembarque no horári o BBB desencadeou uma enxurrada de críti- nobre dos domingos aconteceu depois de cas. Como um jornalista com o currícul o uma temporada de oito anos em Londres , e o patrimônio profissional de onde morava e de onde partia para cobrir pode apresentar um programa como o "Big os eventos que marcaram o século na Eu- Brother"? Chegaram a dizer que iria "que - ropa, como a queda do Muro de Berlim e rer apagar essa mancha do passado". Para o fim do comunismo na Polônia . "Eu não ele, uma bobagem. À vontade no papel, Bial tinha entendido muito bem porque tinh a recorre a Chacrinha para vaticinar : "Disse- ido apresentar o `Fantástico ", confessa . E ram que o Velho Guerreiro era lixo . Hoje conclui: "Cheguei perto da autoflagelação" . ele é venerado". Nesta entrevista para IM - ♦ Oito anos, duas Copas do Mundo e cin- PRENSA, Pedro Bial faz um desabafo so - co "Big Brothers" depois, Bial deixou de bre a indústria da fofoca, avalia sua relaçã o fumar e decidiu puxar o freio de mão . Mas com a fama, defende o "Big Brother", de- ainda mora, como em 1997, em casa alu- sanca Lula e passa a mídia brasileira a limpo.

IMPRENSA - N. 202 - JUNHO 2005 11 IMPRENSA - Em 1997, quando foi publicada su a ram até que você iria "se esforçar para apagar ess a primeira entrevista em IMPRENSA, pouco depoi s mancha do currículo" Depois de cinco edições, por de voltar de Londres cheio de prestígio e assumi r que você acha que desistiram de criticar? o "Fantástico", você morava em um apartamento BIAL - O Chacrinha foi chamado - ele e o pro - alugado no Leblon, embora ganhasse bem . E re- grama- de débil mental e de lixo, durante dé- clamava que não tinha tempo para o ócio . O que cadas. Desde o rádio até a televisão . Aí, um bel o mudou na sua vida? dia, um teórico da comunicação europeu diss e B IAL - Ainda moro em casa alugada e não tenho que ele era genial, que tinha umas sacadas bri- patrimônio. Fiz uma aventura cinematográfica , lhantes e tal . De repente, os acadêmicos e a crí- que foi dirigir e produzir um filme [Outras Histó- tica brasileira, com o perdão da má palavra, co- rias, lançado em 1999] . Perdi tudo que tinha eco- meçaram a concordar com ele . Por isso, eu digo : nomizado . Tive que começar do zero e não esto u não julguem o "Big Brother" tão rápido. Deixem muito longe disso ainda . passar um pouco . No BBB 5, proliferaram ma- térias em jornais, como a Folha, de gente que- IMPRENSA - E o ócio? rendo dar uma áurea de Andy Warhol, tipo pé- B IAL- Estou cada vez mais investindo em dias "inú- com-bunda. Não tem nada a ver. teis: Estamos montando um esquema de rodízio n o "Fantástico", em que só um fica de plantão no fi m IMPRENSA - A fama te incomoda ? de semana. Em 1997, na época da entrevista par a BIAL - Antes do " Big Brother", eu tinha a prote- IMPRENSA, minha vida era uma aflição só . Eu ção do título de jornalista. E, por mais que jorna - saía correndo de uma coisa para outra, tinha um a lista seja popular, as pessoas têm uma certa ceri- ânsia enorme de realizar. Hoje percebo que aqui - mônia na abordagem . No momento em que e u lo fez parte de um certo quadro de volta ao Brasil , virei apresentador de um programa que estimul a onde eu queria estar presente em tudo . Não tinha as pessoas a "darem uma espiadinha" , perderam entendido muito bem porque tinha ido apresenta r a cerimônia . Eu procuro agir com naturalidade , o "Fantástico". Queria mostrar que eu era mais qu e mas, às vezes, tenho de sair correndo . aquilo. Houve algum processo psicológico que m e fez quase chegar a autoflagelação. Aí, eu entrei em IMPRENSA -O "Big Brother" é um fator que alavan- psicanálise, tive problemas de depressão . Tive um ca e fortalece a indústria da fofoca . E você, com o estresse que chegou a tal ponto, que tive problema s âncora do programa, acaba sendo alvo preferen- no joelho. Fui ao hospital me consultar com meu cial desse nicho . Quando um jornalista lhe perse- amigo, Dr.Campos da Paz. Fiz uma batelada de exa- gue, você lembra que ele é um coleguinha no exer- mes. Ele me disse que eu estava com quadro de de- cício da profissão e deixa barato? pressão. Fiquei tomando anti-depressivo durante BIAL- No dia seguinte ao final do "Big Brother", fui anos. Percebi que mais importante do que tentar se pegar jacaré na praia e um paparazzi me fotogra- afirmar fazendo um monte de coisas é fazer bem o fou. Saiu na revista Quem. Nesse caso, eu até achei seu trabalho. Hoje sou um cara muito caseiro. simpático. Mas, geralmente, é infernal. Já tentaram me fotografar dentro de casa . Subiram no muro . IMPRENSA - Vamos falar de "Big Brother. Em al- Aí, já é invasão mesmo, é contra a lei. Não é nada gum momento, você se perguntou : "O que eu es- agradável essa situação de não poder colocar o p é tou fazendo aqui? " fora de casa. Tudo o que for feito pode ser usad o BIAL - Eu nunca me questionei se eu deveria o u contra você. É um "Big Brother" 24 horas por dia. não estar fazendo aquilo, por ser jornalista . Aliás, o programa começou a funcionar bem quando fui eu mesmo e parei de me preocupar com a con - dição de "o jornalista" e passei a ser o "Zé Mané" do Pedro Bial .

IMPRENSA - A saída da Marisa Orth ajudou? BIAL - Melhorou . Não tem espaço para duas pes- soas no BBB. O pessoal confinado tem que ter re - lação com um sujeito só.

IMPRENSA - Na primeira edição do BBB, a "crítica especializada" acabou com o "Big Brother": Disse-

12 IMPRENSA - N°202 - JUNHO 2005 «Me senti ultrajado com o boato de que eu tinha um caso com Susana Werner»

IMPRENSA - o "Big Brother" aquecendo o merca- boato da Susana Werner. Foi escroto, malicioso , do da fofoca . descabido. B IAL - É impressionante o ciclo econômico que a fofoca movimenta a partir do programa . O que IMPRENSA - Como surgiu essa história ? rola de notícia falsa em revistas, sites -alguns BIAL - Tenho desconfiança de alguns nomes, in- até relativamente sérios- e nesses programa s clusive de coleguinhas bem próximos. Mas seria da tarde que passam na TV é impressionante . leviano dizer. Também parei de querer saber. Me No começo, eu ficava bravo. Chegaram a acusar senti ultrajado como pessoa, como brasileiro. o Domini, que participou do terceiro BBB, de ter Todo mundo no Brasil começou a repercutir isso, assassinado uma pessoa. Vivem criando teorias principalmente as rádios. Eu não tinha como, conspiratórias . Um absurdo . nem a quem processar . Só se eu processasse tod o mundo, mas seria covardia . IMPRENSA - Até que ponto você concorda queno- tícia é entretenimento? IMPRENSA - Você chegou a conversar com o Ronal- B IAL - Notícia é uma coisa, entretenimento é dinho sobre isso? outra. Acredito que esses programas sensacio- BIAL - Soube disso pelo Ademário Touguinho, nalistas, como o "Aqui e Agora " e cia, estão n a que me chamou durante um treino da seleçã o categoria dos programas que têm vida curta . O e falou da história . No mesmo treino, pedi u m sensacionalismo tem vida curta e isso vem send o tempo com o Ronaldo para conversar . Ele já esta- provado a cada nova tentativa. va sabendo de tudo . Eu conhecia o Ronaldo des - de 1994, na outra Copa . Já esclareci de cara com IMPRENSA - Durante a Copa do Mundo de 1998, a quem interessava e, depois, com a própria Susa- imprensa de celebridades espalhou que você es- na. Ela trabalhava junto comigo, cobrindo pel a taria tendo um caso com a Susana Werner, entã o Globo. Em vários jogos, fiquei do lado dela e iss o esposa do Ronaldo . Chegaram a dizer que ele jo- fortaleceu a teoria do boato. Eu ia com aquela tra- gou mal na partida contra a França por sua causa . quitana toda -retorno de áudio, fone de ouvi- Você pensou em processar alguém? Como enca- do, microfone sem fio- para que ela entrasse ao rou esse episódio ? vivo, já que ela não sabia como coordenar e ne m B IAL - O boato é um negócio terrível. Você não tinha como carregar aquilo tudo . Como a TV tem como lutar contra ele. Não há como planta r francesa, além da Globo, dava takes da namorad a um contra-boato. Se você vai a público negar, só do Ronaldinho vendo o jogo, eu aparecia muito fortalece a lógica do boato. É uma impotência e do lado dela . uma raiva enorme . Já passei por várias situações na minha vida mais ou menos trágicas, mas, de IMPRENSA - E por falar em fofoca : é verdade qu e praticamente todas elas, hoje eu consigo rir. você e a Glória Maria brigaram e não se falam ? Contudo, se tem uma coisa que eu, até hoje, BIAL - Eu tive que me ausentar do "Fantástico" não consigo achar graça é a história desse para escrever o livro do Roberto Marinho e co- meçaram com essa história . Não tem nada a ver.

IMPRENSA - Certa vez você estava no estúdio, es- perando para apresentar uma matéria sobre o balé Kirov, quando fez um comentário politica- mente incorreto : "Isso é coisa de viado: A fras e teve uma repercussão enorme . Como aquilo fo i vazar ? BIAL - Aquilo foi sacanagem, mas não consegu i identificar de quem . Meus amigos na Globo di- zem que foi a lei de Murph -passou por cinco edições e ninguém viu . Mas deixa para lá. Hoje eu dou risada disso.

IMPRENSA - N° 202 - JUNHO 2005 13 não me pediu para mudar nada. O único conse- lho que o João me deu foi: "Pode tratar de qual - que aposta no fracasso» quer assunto, desde que seja com naturalidade ."

IMPRENSA -Você não acha que essa comemoraçã o IMPRENSA - Mudando de assunto : você ainda con - dos 40 anos da Globo foi meio cansativa? Dize m segue ler o Jornal do Brasil? que elogio em boca própria é vitupério . BIAL -Ano passado, quando eles deixaram de co- BIAL - Em um país como o Brasil, qualquer coi- brir um assunto - não vou nem citar qual foi o sa que consegue chegar aos 40 anos com saúde , fato -, decidi cancelar minha assinatura . Teve equivale a uma tradição milenar. Só que, por também umas demissões de pessoas que eu ad - mais que a data mereça, é muito dificil fazer uma miro muito . Os jornais morrem . Diz o provérbio , comemoração dessa sem cair no cabotinismo . que eles começam a morrer 10 anos antes . Mas No caso dos 40 anos da Globo, não acho que cai u não precisa perder a dignidade antes de morrer . no cabotinismo, mas transmitiu uma sensaçã o Em alguns momentos, o JB perdeu a dignidade. de excesso. Televisão é um veículo hiperbólico. A festa ao vivo eu achei boa, mas muito longa. IMPRENSA - O governo FHC era mais afável com a imprensa do que é o governo Lula ? IMPRENSA - Seu livro sobre o Roberto Marinho re- BIAL - O governo do PT tem mais desconfianç a cebeu duras críticas . Disseram que faltou isenção, da imprensa do que o do PSDB. Eles [o PT] têm carregou nas tintas e louvou demais a figura d o medo de jornalista . FHC tinha mais jogo de cin- chefe. E que você poderia se aprofundar em certo s tura, era mais democrático. episódios polêmicos, como a cobertura das Dire - tas e o debate entre Collor e Lula. A encomenda foi IMPRENSA -Você é sindicalizado ? essa mesmo: fazer um livro de memórias para a fa- BIAL - Não me sinto representado pelo Sindicato , mília, sem levantar polêmicas ? mas também não fico nessa de rebeldia inconse- BIAL- Teve uma crítica da Folha de S.Paulo -que qüente. faz uma campanha declarada contra a TV Glob o - dizendo que faltava isenção ao autor. No Esta- IMPRENSA - Com que veículos você costuma se in - dão, uma resenha disse a mesma coisa . Dizer qu e formar ? falta isenção ao autor é desacreditar a obra sem BIAL - Aos poucos, estou criando o hábito de ler nem precisar ler o livro . Eu acho que está tud o a Época, mas ainda prefiro a Veja. Eu também tratado ali, com honestidade e franqueza . O que gosto da IstoÉ Dinheiro, mas não da Istoé Gente. existe é uma maneira dialética de tratar a persona - A Carta Capital é pouco confiável . Depois que gem. Não pesei um vetor em detrimento de outro. publicou umas bobagens atrozes, eu parei de ler e Roberto Marinho foi um homem paradoxal, u m das revistas internacionais, como The Economist. homem típico do século 20 . Mas uma coisa de fato Elas são brilhantes . Na TV paga, gosto muito d o houve: a intenção de que as pessoas terminasse m Sem Fronteiras, da Globo News. Assino O Globo de ler o livro com uma impressão diferente do Ro- e Estadão. O Globo tem a melhor primeira págin a berto Marinho. Havia uma idéia formada, uma do Brasil. E o Estadão tem um texto muito be m sentença, de que Roberto Marinho era o "demo" escrito. Além disso, me afino com as posições d o e daí para baixo . Mas faltava informação sobre jornal. Já para a Folha falta equilíbrio. Eles têm quem foi aquele cara, de onde ele surgiu. Eu quis uma pegada muito boa, mas um jornal não vive que houvesse uma revisão dos autos do processo só de destruir . O Evandro Carlos de Andrade usa- do Roberto Marinho através do meu livro. va uma expressão que define bem a Folha: "Um jornal que aposta no fracasso". IMPRENSA - A família deu liberdade tota l para escrever o livro ? IMPRENSA - De onde vem essa história que a Folha BIAL - Tive total liberdade. Meu inter- faz campanha contra o ? locutor principal, o João Roberto BIAL - Isso é declarado. Já li entrevistas dos proprie- tários da Folha, dizendo que fazem uma campanha contra a Globo. Isso é até justificável, já que a Glob o detém uma fatia muito grande do orçamento publi - citário que existe no Brasil e eles estão brigando nes - se mercado. Só que isso tira legitimidade e isençã o da Folha na hora de criticar a Globo.