IV Congresso Latino Americano de Opinião Pública da WAPOR Belo Horizonte - Brasil Área Temática: Jornada dos Estudantes e Jovens Pesquisadores do IV Congresso Latino Americano de Opinião Pública da World Association for Public Opinion Research.

Título: Information, Political Support, and Voter’s Preference: Evidence from Brazil

Autor: Daniel Marcelino (UnB) [email protected]

Keywords: Political information; electoral campaign; president Lula.

How political information spreads among voters in a two-round competitive race? Political information plays an important role in electoral races; either by supporting a candidate, party or, at least, to convince supporters to go out and cast their vote on the Election Day. I address to these issues here by analyzing the timing of information acquisition by voters and its implications for both voters and candidates. I use data from a state governor race in Brazil during last electoral competition (2010). I tracked day- by-day voters’ preferences toward major candidates. As Lula supported candidates to each state during his best job approval rating I also tested the impact of the president Lula as a principal supporter to the trailer candidate in the both rounds campaign in Goiás’ state. Using a large sample of interviews conducted from August to October end, this paper contributes to understanding the information acquisition in subnational elections and the role of president endorse in a lame-duck race. Two questions are highlighted: how do presidents’ support can influence voter's mind in subnational level? What count most, the president’s high job approval or the campaigning itself?

1 Introdução Durante as últimas eleições falou-se muito da importância do apoio do Presidente Lula nas eleições subnacionais; entretanto, quão importante foi receber tal apoio? Este trabalho lança mão da análise de tracking – acompanhamento diário da intenção de votos - realizado no estado de Goiás para demonstrar como a imagem do presidente Lula serviu de informação relevante na campanha para governador de estado. Para medir e representar que impacto teve o presidente Lula na eleição, utilizo médias móveis a partir de dados de survey aplicados aos eleitores de Goiás durante os dois turnos da disputa local. Na próxima seção, apresento a discussão teórica sobre aquisição de informação política e como as pessoas utilizam a informação heurística para simplificar suas decisões políticas. Em seguida, apresento o desenho da pesquisa reproduzindo alguns detalhes da metodologia utilizada. Por fim, a seção dos resultados discute os dados e os principais achados passando para as considerações finais.

2 O que diz a teoria? Qualquer discussão acerca do comportamento eleitoral está submetida à suposição de que o eleitor possui certas habilidades: razoável nível de conhecimento do que está se acontecendo a sua volta, compreensão, e interesse por política. Não obstante, a literatura sobre informação e política retrata que os eleitores prestam muito pouco atenção ao cotidiano político. Eles raramente pensam sobre os grandes temas e por isso não conseguem posicionar seus representantes em relação aos temas da agenda política (Sniderman, Brody et al., 1991a). Essa realidade é perversa, pois em sociedades desiguais, como a brasileira, a informação é distribuída e também processada de maneira diferente entre grupos e níveis sociais, favorecendo homens brancos, com maior nível de renda, e de maior escolaridade (Rennó, 2007). Ainda assim, as pessoas podem fundamentar suas decisões de modo confiável desde que encontre uma maneira eficiente de simplificar as escolhas diante delas (Lupia, Mccubbins et al., 2000, 2000). Nas próximas seções aprofundarei esse tema.

2.1 Aquisição de informação De acordo com Pipa Norris (Norris, 2002) as campanhas podem ser entendidas como esforços organizados para informar, persuadir e mobilizar eleitores. Também Gelman e King (1993) acreditam que o maior efeito das campanhas é o de ativar preferências políticas nas pessoas, ou seja, “iluminar” as predisposições dos eleitores realizando uma espécie de [re]alinhamento com seus interesses, sejam eles sociais, econômicos ou ideológicos. Mas, como as campanhas podem ativar preferências políticas? A teoria no Brasil tem demonstrado que ter informação faz a diferença na escolha dos eleitores (Rennó, 2007). Além disso, ter mais ou menos informação também pode afetar o comportamento do brasileiro em relação a outros temas na agenda do governo, como prioridades e alocação de gastos públicos (Turgeon e Rennó, 2010). Rennó (2007) encontrou que o tipo de informação mais relevante para as escolhas políticas no Brasil é a informação factual sobre o cotidiano político. Em sua análise – embora desatualizada diante da evolução recente dos meios de comunicação – o autor encontrou que saber o nome dos candidatos e ter informação sobre deputados federais tem importante impacto sobre o voto, concluindo que a informação “específica” sobre as eleições é o principal determinante do comportamento político do eleitor. As campanhas portanto, “amplificam” a informação política reduzindo - ao menos no período de campanha - o custo de aquisição da informação, proporcionando maior equilíbrio entre os eleitores de todos os níveis sociais e econômicos. O equilíbrio informacional também se dá na outra ponta: entre os lideres políticos da situação e seus opositores. Ambos, situação e oposição recebem ainda no período pré-eleitoral uma dose de exposição maior do que em outros momentos; dessa forma, pelo menos para os principais candidatos não há como deixar de se tornarem fonte de informação. É exatamente a partir dessas fontes que os eleitores estabelecem os atalhos cognitivos que iluminam suas decisões; mais especificamente, os julgamentos heurísticos sobre os líderes políticos são transferidos ou associados ao temas de interesse, permitindo aos eleitores avaliar as mensagens usando as atitudes do emissor (Borges e Clarke, 2008). A próxima seção explora mais a fundo a utilização dos atalhos informacionais em eleições.

2.2 Simplificação de escolhas Numa eleição, várias opções são postas aos eleitores que decidem em quem votar. Mas como realizam esse processo? O que faz um candidato ser escolhido e outros refutados pelos eleitores? Há muito tempo essa questão é perseguida por cientistas políticos que se dedicaram a compreender como votam os eleitores (Lazarsfeld, Berelson et al., 1944; Campbell, Converse et al., 1960; Figueiredo, 1991; Lau e Redlawsk, 2006; Almeida, 2008). Ao longo dos anos esse tema tomou espaço e, segundo Figueiredo (1991), talvez seja um dos temais cruciais para se entender o desenvolvimento da ciência política no mundo, pois dividiu claramente o campo teórico a partir dos anos 50. A literatura em psicologia política coloca que gostar ou não de uma personalidade ou grupo em particular pode ser um bom motivo para as pessoas decidirem sobre apoiar ou se opor a uma política ou a uma candidatura. Precisamente, segundo Sniderman et al (1991a, p. 8) “one way people can compensate for a lack of information about politics is to base their policy preferences on their likes and dislikes, and the less information they have about politics, the more likely they are to do so.” A literatura usualmente citada também sugere que se os eleitores reconhecem que o partido que governa está fazendo um bom trabalho – é bem avaliado – e transmite confiança de que vai cumprir o que está prometendo, este partido ou líder político merece ser recompensado (Domínguez, 1998; Przeworski, Stokes et al., 1999; Stokes, 2001). Em eleições subnacionais não é raro o eleitor estabelecer conexões entre o líder local e o nacional (Samuels, 2003; Ames, 2004). Em certa medida isso é formalizado através do apoio político das elites, do apadrinhamento político e das dobradinhas; ou seja, há um certo jogo em saber “quem está por trás?”. Seguramente, mesmo que as pessoas adquiram informação contextual ou factual (positiva/negativa) durante uma campanha, o uso de atalhos cognitivos pelos eleitores ajuda a compensar algum tipo atraso de informação sobre os grupos e candidatos rivais. Ainda que o processamento destes atalhos se dê de maneira distinta de pessoa para pessoa (Sniderman, Brody et al., 1991b). Além do mais, a emoção e o sentimento em relação aos candidatos e à quem os endossam é extremamente importante já que os sentimentos ajudam a filtrar e reinterpretar as informações factuais; “os sentimentos são portanto, um elemento integral do raciocínio político” (Sniderman, Brody et al., 1991b, p. 24). Por isso, não há dúvida que gostar ou não de um partido ou de uma personalidade política deve afetar as escolhas de eleitores em qualquer lugar do mundo. A próxima seção apresenta o desenho do estudo e em seguida os resultados empíricos.

3 Dados e desenho do estudo O tracking de intenção de votos realizado em Goiás foi contratado por um dos candidatos que concorreram ao governo do estado. A pesquisa envolveu o trabalho e treinamento de aproximadamente de 50 pessoas no primeiro turno e de 28 pessoas no segundo turno. Ao todo foram entrevistados 40.012 eleitores: 26.655 no primeiro turno e 13.357 no segundo turno. As entrevistas foram aplicadas sem reposição de eleitores durante 66 dias de trabalho de campo divididos assim: 1 dia para pré-testes; 44 dias de coleta no primeiro turno (12 de agosto a 2 de outubro); e 21 dias de coleta no segundo turno (5 a 30 de outubro). Todos os dias, com exceção de domingo e feriados, eram coletadas mais de 6501 entrevistas feitas ao telefone. Os números de telefones fixos eram selecionados de forma aleatória a partir de um cadastro com 870 mil números usando um sistema de entrevista telefónica assistida por computador (CATI). Os questionários eram estruturados diariamente com 18 a 30 perguntas e continha questões “permanente” e “temporárias”. Foi utilizado um ambiente web por meio de software livre (www.limesurvey.org) para disponibilizar os questionários aos entrevistadores e também salvar os dados coletados por eles. Após a coleta diária os dados eram tratados com a aplicação de peso para sexo e região geográfica do estado.2 A margem de erro da pesquisa era de 2% num intervalo de confiança de 95%.3 Finalmente, os resultados eram apresentados em médias móveis de 4 dias; ou seja, os resultados refletiam as oscilações dos últimos 4 levantamentos, como a fórmula a seguir.

D + D + D + D MM = 1 2 3 4 Ndias

3.1 Médias móveis

1 Esse número foi maior no primeiro turno, em média 700 entrevistas, e menor no segundo turno: 600 entrevistas. 2 Apliquei várias combinações de peso e estratos às amostras, após o fim do primeiro turno pude aferir os dados de intenção de voto com o resultado das urnas. Cheguei a conclusão de que a combinação aqui apresentada é a mais simples e com melhores resultados. 3 O intervalo de confiança se refere portanto ao universo do cadastro de telefones. Por ser uma média móvel é difícil calcular uma margem de erro precisa, mas, considerando que a maioria dos institutos levam em média de 3 a 4 para coletar os dados face-a-face, o intervalo de 4 dias nas médias móveis aqui apresentadas deve ser bastante coerente. Importada do universo financeiro onde é utilizada como a principal técnica para medir a tendência de valorização ou desvalorização de ações na bolsa de valores, ela é usada há anos também para detectar tendências eleitorais principalmente nos Estados Unidos e Europa. Quando aplicada às eleições, mais importantes do que os valores é a trajetória das curvas de intenção de voto. Em eleições recentes nos Estados Unidos, entretanto, a média móvel foi muito utilizada para minimizar as discrepâncias das pesquisas de opinião, supostamente fornecendo “um quadro mais claro das eleições”. O principal argumento para esse tipo de técnica é que quando se compara diferentes resultados, o crossover das médias móveis se torna mais coerente, pois esse método filtra o desbalanceamento dos dados, eliminando bolhas e flutuações de curto prazo ou até mesmo de amostras viesadas. Na prática, o que se fez lá nos Estados Unidos foi consolidar as várias pesquisas de intenção de voto dos principais pollters em uma média única. Aqui, o que fiz foi consolidar o resultado de 4 pesquisas diárias em uma única média. Portanto, cada ponto nos gráficos representa a média aritmética ponderada pelo número de entrevistas de cada dia para os últimos 4 resultados. Vale ainda destacar que a utilização desse método em eleições não é consensual para todos. Alguns alegam que se está juntando números produzidos sob métodos e amostras distintas – incomparáveis por natureza (Erikson e Wlezien, 2008; Lock e Gelman, 2010). Mas há também os que defendem que a diluição de diferentes metodologias usadas pelos institutos é justamente a maior virtude das médias móveis. Marcus Figueiredo, por exemplo, argumenta que “a média dilui eventuais erros. Se há um erro no instituto A, e faço uma média com o instituto B, o resultado vai estar menos distante da realidade”.4 Nas médias móveis apresentadas neste trabalho, a diluição não se dá pelo aninhamento de resultados de institutos e metodologias diferentes, mas em dias de coleta e amostras distintas do eleitorado – metodologicamente superior, portanto. Ainda assim, as médias móveis apresentam um grave problema: o atraso. Sua construção matemática faz com que os resultados gerados estejam sempre atrás do ponto analisado (CorrêA, Lachtermacher et al., 2006). Desde já aviso o leitor que não vou enfrentar esse problema aqui, antes, vou apenas

4 Apresentação realizada em 2010 na ABEP. apresentar alguns dos resultados obtidos com essa metodologia na eleição para governador em Goiás.

4 Resultados Durante as últimas eleições falou-se muito da importância do apoio do presidente Lula para eleger sua sucessora – Dilma Rousseff – e, também, do seu apoio nos estados para a eleição de governadores e senadores. Todavia, quão importante foi receber esse apoio? Sendo mais direto, os candidatos que receberam o apoio de Lula – então, um dos presidentes mais bem avaliados do mundo5 – foram melhores nas urnas do que seus adversários? Os dados brutos indicam que sim; 15 dos 27 candidatos a governador

Governadores Eleitos por Turno Quadro de Reeleição

2º 2º

1º 2º 1º 1º 1º R R 2º 2º 1º 1º 2º R 1º 1º 2º R 1º 1º R R 2º 2º 1º 1º R 1º R 1º 1º R 1º

Distribuição 1º

Oposição 1º Lulistas Indefinido

Nota: Elaborado a partir dos dados do TSE apoiados por Lula foram eleitos ou reeleitos.6 Contudo, embora Lula tenha se dedicado a eleger o maior número de governadores e senadores no país, seu apoio não se traduziu em vitória em 12 estados - incluindo o estado de Goiás, foco deste estudo. Além do mais, em termos de “qualidade” destes estados – PIB, número de eleitores etc. – a oposição foi que ficou com a vantagem. PSDB e DEM

5 Segundo a pesquisa do DataFolha, o índice de brasileiros que avaliaram o trabalho do presidente Lula como “ótimo” ou “bom” variou entre 79% a 83% durante os meses de campanha – foi o melhor desempenho do governo Lula e também o maior da série histórica. 6 Se desconsiderados os 7 candidatos apoiados por Lula que concorreram à reeleição, já que para cargos executivos a chance de reeleição é alta, o apoio de Lula deve foi determinante apenas para 8 governadores. Além disso, lançando mão de um teste de Qui-quadrado para o apoio de Lula, os resultados demonstram que não há evidência estatisticamente significativa para o sucesso do apoio de Lula: X-squared = 0.6667, df = 1, p-value = 0.4142. conquistaram mais de 50% do eleitorado brasileiro, incluindo estados como , Paraná, São Paulo e , como mostra a figura abaixo.

Estes resultados ajudam a levantar dúvidas sobre o impacto do apoio de Lula aos candidatos a governador. Será que os eleitores distinguiam o papel de Lula como presidente e sua atividade política na eleição dos cargos subnacionais? Como os eleitores reagiram ao apoio de Lula no estado de Goiás? Os dados que tenho permitem especular um pouco mais sobre esse assunto, algumas entrevistas renderam mais do que dados sobre a intenção de voto dos goianos; usualmente os entrevistados diziam mais do que “sim” e “não” e algumas destas respostas foram gravadas. Quando perguntados, então, “se Lula pedir o seu voto para um candidato ao governo de Goiás, isso vai influenciar a sua decisão na hora de votar?” Alguns eleitores disseram que: “Influencia porque o Lula tem uma visão ampla do país e acho que saberia escolher melhor do que eu o governador de Goiás.” Uma eleitora que declarou voto à Íris Rezende (PMDB), candidato apoiado por Lula, também acha que “O Lula é um político de capacidade, se está indicando é porque será bom.” Um eleitor “mais pragmático” disse ainda que: “Fica difícil dizer sim ou não, vai depender do que o Lula prometer. Eu quero votar no Marconi. Não gosto do Íris.” A proximidade de Brasília com as principais regiões de Goiás favoreceu a conciliação de atividades de campanha do presidente Lula naquele estado, sua imagem e sua voz foram exploradas várias vezes no decorrer dos dois turnos. Em seu apelo, Lula dizia aos eleitores: “aqueles que acreditam em mim, aqueles que vão votar na companheira Dilma, que esses companheiros, no dia 3 de outubro, votem no companheiro Íris Rezende”. As teorias psicológicas sugerem que gostar ou não de uma personalidade ou grupo político pode ser um bom motivo para o eleitor decidir sobre contribuir ou se opor à uma candidatura. Se os eleitores em todo o Brasil reconhecem que o presidente fez um ótimo governo e que a sua candidata – Dilma Rousseff - precisará de mais apoio “para o Brasil seguir mudando”, por que desconsiderar o apelo presidencial? O gráfico a seguir apresenta uma sondagem 7 realizada durante os dias 21 e 22 de outubro, já no segundo turno, portanto, em que se perguntava ao eleitor de Goiás “se ele aprovava ou desaprovava a participação do presidente Lula na campanha para governador”. A amostra para a média das respostas apresentadas é de 1.219 entrevistados distribuídos aleatoriamente.

Aprova a parcipação do presidente Lula na campanha para o Governo de Goiás?

Desaprova 37%

NS/NR 17%

Aprova 46%

Os resultados acima surpreendem porque a parte dos eleitores que aprovava a participação de Lula na eleição para governador no estado não é tão grande quanto se poderia crer. De fato, os dados podem sugerir uma visão crítica do apoio do presidente em eleições subnacionais. O descontentamento com o apoio de Lula ao candidato do PMDB pode ser sentido nas palavras de um dos eleitores entrevistados: “O Lula entende de Brasília, quem entende daqui somos nós”. Embora para a maioria dos eleitores Marconi Perillo e Íris Rezende já fossem bastante “conhecidos” – ambos já haviam ocupado o palácio do estado por 2 vezes cada.8 Marconi levava vantagem sobre Íris na preferência de votos no começo da campanha, indicando uma vitória ainda no primeiro turno; todavia, como se sabe, a vitória só viria no segundo turno e com uma margem bem

7 Questão: O/A Sr./Sra aprova ou desaprova a participação do presidente Lula na campanha para o governo de Goiás? 8 Íris Rezende: de 1983 a 1986 e de 1991 a 1994. Íris também foi 3 vezes prefeito de Goiânia, senador entre 1994 e 2002, ministro da agricultura e ministro da justiça; Marconi Perillo foi governador de 1999 a 2002 e de 2003 a 2006, foi também senador (2007 a 2010), deputado estadual e federal. apertada. No próximo gráfico são considerados apenas os votos válidos (exclui- se brancos e nulos) traduzindo o contexto da disputa no primeiro turno.

Marconi versus todos os outros candidatos (votos válidos) 60%

50% 49%

40% 38%

30%

20%

13% 10%

0% 01/set 02/set 03/set 04/set 06/set 08/set 09/set 10/set 11/set 13/set 14/set 15/set 16/set 17/set 18/set 20/set 21/set 22/set 23/set 24/set 25/set 27/set 28/set 29/set 30/set 01/out 02/out 17/ago 18/ago 19/ago 20/ago 21/ago 23/ago 24/ago 25/ago 26/ago 27/ago 28/ago 30/ago 31/ago

Marconi Perillo Outros NS/NR

Os resultados apresentados até aqui, por mais simples que sejam, remetem a dois aspectos importante: a capacidade de transmitir informação heurística que Lula exerceu sobe os eleitores em todo o país, como confessou uma eleitora de Goiás: “Voto no Marconi, mas gostaria de votar alinhado com o Lula”. Mas, sobretudo a importância dos desdobramentos e das informações “quentes” durante as campanhas, como foi o caso do crescimento nas pesquisas de candidatos até então inexpressivos despontando como uma alternativa à disputa entre os dois principais candidatos. Portanto, é preciso compreender, como os eleitores atualizam suas escolhas com a chegada de novas informações. Antes de apresentar os principais resultados, é importante saber quem eram os eleitores que apoiavam os dois principais candidatos na disputa? A estratificação dos dados da pesquisa no primeiro turno mostra algumas diferenças importantes entre os eleitores que optavam por Marconi ou Íris.9 Marconi tinha a preferência das mulheres e dos eleitores do interior: 38% das

9 Lembrando que mais 3 candidatos concorreram ao cargo no estado: Vanderlan Cardoso (PR), Marta Jane (PCB) e Washington Fraga (PSOL). mulheres do estado declaravam voto no candidato que também segurava 43% dos eleitores do interior do estado. Na região do entorno do Distrito Federal e mais ao sul do estado, Marconi gozava de 47% da preferência contra 19% de Íris Rezende.10 Já o eleitor de Íris era tipicamente homem e morador da capital e região metropolitana: 33% dos homens e 34% do eleitores de Goiânia e região metropolitana – a região mais populosa do estado (concentrando 34% dos eleitores) preferiam Íris. Todos os demais candidatos também dividiam votos na região metropolitana e Marconi ficava com menos de 30% da preferência nessa região.11 Em termos de educação formal, 36% dos eleitores com até o primeiro grau completo apoiava Íris. Marconi tinha a preferência de 37% dos que tinha o ensino médio (a moda para educação estava nessa categoria), e 40% entre os eleitores com diploma universitário. Em relação a renda familiar mensal, 32% dos que declararam renda familiar superior a R$ 2 mil por mês preferia Marconi contra 27% dos que preferia Íris. Finalmente, Marconi também levava vantagem entre os mais jovens (16 a 25 anos) e entre os mais velhos (55 anos ou mais). 42% da faixa mais jovem do eleitorado declarava apoio à Marconi enquanto que apenas 29% fazia o mesmo para Íris. Entre os eleitores com mais de 55 anos a disputa era mais equilibrada: 38% a 34%, com a margem para Marconi. Além da preferência dos eleitores, Marconi tinha ainda a preferência dos doadores de campanha: sua declaração de receitas foi de R$ 29,7 milhões, enquanto a de Íris foi de apenas R$ 11 milhões. Se as campanhas servem para ativar preferências políticas nas pessoas, como sugerido por Gelman e King , o que faz com que as campanhas funcione como tal? Candidatos e partidos gastam dinheiro para serem reconhecidos entre os eleitores. Então, candidatos e partidos, acreditam que dinheiro afeta a reputação e a probabilidade de vitória, mas, diante de um cenário tão favorável ao candidato tucano, como Íris equilibrou a disputa no estado? Que participação teve Lula nessa disputa?

10 O Entorno do DF foi um reduto importante para Marconi Perillo no primeiro turno, mesmo após Lula realizar comícios em algumas cidades do Entorno, a preferência em Marconi continuou alta e praticamente não oscilou para negativamente. 11 Até o início da campanha Íris Rezende ocupava o cargo de prefeito de Goiânia – a capital do estado. O próximo gráfico apresenta em termos quantitativos o resultado encontrado pela pesquisa para o apreço à Lula no Estado. Como o gráfico de médias móveis demonstra, o “efeito lula” nas eleições do estado foi bem modesto. Lula influenciava 19% do eleitorado goiano em meados de agosto, mas caiu para 13% na última semana, 5% não sabia se posicionar acerca o impacto de Lula sobre suas escolhas para o governo do estado.12

Lula pode inluenciar seu voto? 90%

80% 82%

70% 75% 60%

50%

40%

30% 19% 20% 13% 10% 6% 5% 0% 01/set 02/set 03/set 04/set 06/set 08/set 09/set 10/set 11/set 13/set 14/set 15/set 16/set 17/set 18/set 20/set 21/set 22/set 23/set 24/set 25/set 27/set 28/set 29/set 30/set 01/out 02/out 17/ago 18/ago 19/ago 20/ago 21/ago 23/ago 24/ago 25/ago 26/ago 27/ago 28/ago 30/ago 31/ago

Sim Não NS/NR

O gráfico acima traduz como os eleitores goianos respondiam ao apoio de Lula ao candidato Íris Rezende. A média móvel de 4 dias mostra não apenas o retrato do “efeito lula” na eleição em Goiás, mas o desenvolvimento suave e “atrasado” de como as pessoas se comportaram à esse estímulo. Se compararmos esses resultados com outros estados (coluna em cinza), o impacto de Lula em Goiás se aproxima do resultado encontrado no , Paraná e São Paulo.13

Tabela 1 – Influência de Lula nos estados (%)

12 Se levarmos em conta os eleitores que já declararam preferência por Íris, o impacto produzido pelo apoio de Lula sobre os votos do tucano fica ainda menor: chega a 2% no reta final do primeiro turno. 13 Embora estes resultados sejam gerados a partir de questões diferentes, indicam a heterogeneidade do efeito do apoio de Lula em alguns estados. Os resultados das pesquisas apresentados na tabela são de responsabilidade do Datafolha e foram encomendadas pela TV Globo e Jornal Folha de S.Paulo em julho de 2010. Votasse nesse Não votasse Não sabe quem Estado/Opção candidato nesse candidato Lula apoia

São Paulo 24 39 60

Minas Gerais 27 27 74 Rio de Janeiro 31 31 56 19 34 54 Paraná 23 30 79 Distrito Federal 28 31 55 46 23 46 52 15 45 Fonte dos dados: Datafolha

De acordo com Delli Carpini e Keeter (1997) seguido por Rennó (Rennó, 2007) para medir o impacto da informação política sobre os eleitores é preciso saber quanta informação sobre a eleição os eleitores detêm. A literatura em geral apresenta índices sobre a capacidade dos eleitores de responderem acertadamente questões de conhecimento geral sobre política, sobre seus representantes etc. A última coluna da tabela acima traz os resultados encontrados em porcentagem (%) de eleitores que souberam indicar corretamente o candidato apoiado por Lula em seu estado. Em Goiás, também perguntamos se os eleitores sabiam quem o presidente Lula estava apoiando no Estado. 14 No dia 18 de agosto, primeiro dia da propaganda dos candidatos ao governo estadual, 24% dos eleitores sabiam corretamente quem Lula apoiava, enquanto que 72% dos goianos não souberam afirmar ou não responderam corretamente. Outros 2% acreditavam que Marconi Perillo era o candidato apoiado por Lula, como mostra o próximo gráfico.

14 O/A Sr./Sra. sabe QUEM o LULA vai apoiar para o GOVERNO de Goiás nestas eleições? Quem Lula apoia?

80% 68% 70% 72% 60%

50% Diff =48% Diff = - 37% 40%

30% 24% 31% 20%

10% 2% 2% 0% 01/set 02/set 03/set 04/set 06/set 08/set 09/set 10/set 11/set 13/set 14/set 15/set 16/set 17/set 18/set 20/set 21/set 22/set 23/set 24/set 25/set 27/set 28/set 29/set 30/set 01/out 02/out 17/ago 18/ago 19/ago 20/ago 21/ago 23/ago 24/ago 25/ago 26/ago 27/ago 28/ago 30/ago 31/ago

Iris Rezende Marconi Perillo NS/NR

Como é fácil identificar no gráfico o quadro vai se alterando rapidamente até que a partir da terceira semana de propaganda eleitoral, faltando exatamente trinta dias para a eleição, as linhas se cruzam até se estabilizarem à dez dias da eleição. A propaganda eleitoral veiculada diariamente no rádio e na TV teve um impacto significativo na quantidade de informação sobre os candidatos, esse recurso foi bastante explorado pelo candidato lulista no estado. Lula pediu votos em várias ocasiões – na propaganda eleitoral, durante os comícios etc.: “meus amigos e minhas amigas, o Brasil mudou muito nos últimos anos, o mercado de trabalho cresceu como nunca e o poder aquisitivo do povo cresceu junto. Milhões e milhões de brasileiros melhoraram de vida. E agora podem ter a sua casa trabalho e comida. Por isso, vote em Íris Rezende governador. Essa é a garantia de muito mais desenvolvimento para Goiás”. Ter o nome vinculado à Dilma também ajudou o candidato do PMDB tornando-o mais popular no estado sem precisar desembolsar uma quantia equivalente ao declarado pelo candidato Tucano. Marconi, que nunca se posicionou no campo adversário à Lula, até utilizou em sua propaganda política na TV e na internet imagens de outros momentos com Lula para sustentar um aspecto de colaboração com o presidente. Na verdade, Marconi utilizava exatamente as imagens em que Lula o elogiava e reconhecia seu trabalho na área social. De certa forma, essa estratégia teve algum impacto, pois manteve uma pequena faixa de eleitores que acreditava que Lula estava apoiando Marconi. A próxima questão é, portanto, que importância tem os meios de comunicação nas eleições? Mais especificamente, qual foi a importância da TV na transmissão de informação política aos eleitores de Goiás? Certamente a propaganda política desempenha um papel crucial nas campanhas(Figueiredo, 2007). No Brasil, isso talvez aconteça como em nenhum outro lugar, pois aqui as campanhas são diretas: são realizadas pelos próprios políticos e apoiadores onde haja eleitores. Além disso, o acesso gratuito à mídia garante um importante espaço onde os eleitores podem adquirir informação sobre como os candidatos e partidos estão indo na disputa. A justiça eleitoral garante acesso à TV e ao rádio para todos os candidatos; leis específicas também regulam e equidade de exposição de imagem em jornais, revistas e internet, ao passo que praticamente não interfere no conteúdo veiculado pelos partidos e candidatos. 15 Esse conjunto, em síntese, garante maior equilíbrio entre os candidatos – mesmo para os que não dispõem de muito dinheiro. Olhando para os números de Goiás, a parcela da população que acompanhou a propaganda eleitoral na TV foi bem reduzida, os que acompanharam pelo rádio e internet foram ainda mais reduzido. Em média, 11% dos eleitores assistiam à algum dos três programas da propaganda eleitoral transmitidos na TV.16 Ainda assim, apenas metade prestava “muita atenção” à propaganda eleitoral diariamente (conf. gráfico anexo A). Entre os que assistiam aos programas de Íris e Marconi, na maioria das vezes achavam que a propaganda do candidato tucano havia sido melhor; esse reconhecimento foi encontrado inclusive entre os eleitores de Íris. Em resumo, o gráfico abaixo demonstra em porcentagens (%) os eleitores que ao longo de trinta dias antes do primeiro turno assistiram a algum programa eleitoral na TV dos dois candidatos. A quase horizontalidade das linhas sugere que apenas pouco mais da metade dos

15 A liberdade de conteúdo promove saídas criativas para os candidatos com pouco recursos ou com pequeno espaço na mídia. 16 1a) O/a Sr./Sra. assistiu ao programa eleitoral de Marconi Perillo ontem na TV? 2a) O/a Sr./Sra. assistiu ao programa eleitoral de Íris Rezende ontem na TV? 3a) Na sua opinão, qual foi o melhor programa? 1b) Desde o começo da propaganda eleitoral na TV, o/a Sr./Sra. já viu algum programa de Marconi Perillo? 2b) E de ? 3b) Em geral, qual deles foi melhor? 4) A propaganda política fez com que o/a Sr./Sra. decidisse seu voto para governador? eleitores foram expostos a propaganda eleitoral. A oscilação positiva da linha nos últimos dez dias, sugere um acréscimo de 4 a 5% de eleitores que assistiram a propaganda eleitoral.

Já assistiram ao programa eleitoral na TV

70%

60% 56% 50%

40% 40%

30%

20%

10% 4% 0%

Sim Não assistiu Não passa na TV

A estratégia adotada por Lula e a “frente lulista” no estado se não convenceu a maior parte dos eleitores a votar em Íris Rezende, ao menos, provocou uma situação de votação divida (split-ticket voting) entre os partidos rivais disputando o executivo federal (PT de Dilma e o PSDB de José Serra) e estadual (PMDB de Íris e o PSDB de Marconi). Os próximos dois gráficos mostram como a intenção de votos dos goianos para governador e presidente estava dividida. O resultados aqui plotados vão de 16 dias antes do primeiro turno ao último dia do segundo turno. A seta “verde” indica o primeiro turno da eleição. Os efeitos da “decepção” entre os que esperavam uma vitória de Dilma ainda no primeiro turno são visíveis nos gráficos para ambos os candidatos: há uma queda no apoio à Dilma Rousseff entre os eleitores de Íris já na primeira semana do segundo turno e um aumento dos que preferiam José Serra, dobrando com Marconi ou mesmo com Íris para governador. Evidentemente que ambos os candidatos ao governo do estado agregavam preferências distintas de intenção de voto para presidente. Dilma conseguia obter vantagens dos eleitores de Marconi e, em especial dos eleitores de Íris no primeiro turno, todavia, no segundo turno, Dilma – e por assim dizer Lula -, perdeu apoio entre os eleitores só recuperando parte desse apoio entre os eleitores de Íris na última semana do segundo turno.17

Como votam para Presidente os eleitores de Marconi

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0% 16/set 17/set 18/set 20/set 21/set 22/set 23/set 24/set 25/set 27/set 28/set 29/set 30/set 01/out 02/out 05/out 06/out 07/out 08/out 09/out 11/out 13/out 14/out 15/out 16/out 18/out 19/out 20/out 21/out 22/out 23/out 25/out 26/out 27/out 28/out 29/out 30/out Dilma Roussef José Serra Branco/Nulo NS/NR

Como votam para Presidente os eleitores de Iris

100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 16/set 17/set 18/set 20/set 21/set 22/set 23/set 24/set 25/set 27/set 28/set 29/set 30/set 01/out 02/out 05/out 06/out 07/out 08/out 09/out 11/out 13/out 14/out 15/out 16/out 18/out 19/out 20/out 21/out 22/out 23/out 25/out 26/out 27/out 28/out 29/out 30/out Dilma Roussef José Serra Branco/Nulo NS/NR

17 Uma das estratégias adotada para a recuperação do apoio foi a consolidação da aliança com o governador do estado Alcides Rodrigues e com o 3º colocado na eleição: Vanderlan Cardoso. Este ultimo contava com expressivo apoio dos evangélicos no estado, além demonstrar um bom desempenho no decorrer do primeiro turno. Assim como na eleição presidencial em que a candidata Marina Silva “provocou” o segundo turno, em Goiás, o mesmo feito foi atribuído à Vanderlan Cardoso. Os gráficos também demonstram o aumento discreto dos eleitores que preferiam votar em branco no segundo turno por não serem contemplados pelas candidaturas restantes. Estes são os eleitores de Marta Jane (PCB) e Washington Fraga (PSOL), e muitos dos eleitores de Vanderlan Cardoso (PR), terceiro colocado nas eleições e que foi considerado a “revelação” – a alternativa da disputa entre Marconi e Íris em Goiás. Vanderlan Cardoso, que cresceu a taxa de 1,5% por semana na intenção de votos no primeiro turno foi logo aglutinado à frente lulista no estado, principalmente por ser bastante popular entre os evangélico.18 Todavia, nem todo o grupo que estava com Vanderlan seguiu a aliança com o PMDB, os eleitores se dividiram entre Íris e Marconi e a medida que a nova aliança ganhava força na campanha, apenas uma parte de seus eleitores foi capturada pela candidatura de Íris Rezende como demonstra o próximo gráfico.

Destino dos votos de Vanderlan Cardoso

50% 47% 45% 40% 35% 30% 28% 25% 20% 15% 15% 10% 11% 5% 0%

Marconi Perillo Iris Rezende Branco/Nulo NS/NR

Como entender a vitória de Marconi sobre Íris, Lula, Dilma, Vanderlan e Alcides Rodrigues juntos? Marconi Perillo bateu Íris Rezende no segundo turno com 52,99% (1.551.132 votos) contra 47,1% (1.376.188 votos) – dados do TSE.

18 Em 8 de outubro Vanderlan Cardoso e o então governador do estado, Alcides Rodrigues se encontram com Lula no Planalto para fecharem a aliança Dilma-Íris-Vanderlan. Na ocasião o estado de Goiás saiu com um empréstimo de 3,7 bilhões de reais para quitar as dívidas da CELG – a companhia de energia elétrica do estado. O gráfico abaixo apresenta os resultados de intenção de votos medidos a dez dias do primeiro turno ao último dia antes do segundo turno. Como pode observado, a campanha não foi tão fácil, sobretudo na última semana.

Intenção de voto para Governador (Votos válidos)

70%

60% 51% 50% 49%

40%

30%

20%

10%

0% 21/set 22/set 23/set 24/set 25/set 27/set 28/set 29/set 30/set 01/out 02/out 05/out 06/out 07/out 08/out 09/out 11/out 13/out 14/out 15/out 16/out 18/out 19/out 20/out 21/out 22/out 23/out 25/out 26/out 27/out 28/out 29/out 30/out Marconi Perillo Iris Rezende

5 Considerações finais Apresentei neste trabalho o acompanhamento diário da campanha para o governo de Goiás em que dois candidatos experientes e importante da política local e nacional se enfrentaram diariamente. Um dos candidatos explorou estrategicamente o apreço dos goianos à personalidade do presidente Luís Inácio Lula da Silva, o outro, contou com forte apoio de doadores de campanha competindo com uma campanha mais volumosa e melhor estruturada desde o início da disputa. As principais impressões que ficaram na cabeça dos eleitores é de que Íris defendia um governo para “os pobres”, defendia a redução dos impostos (ICMS) e a certeza de ter o apoio do governo federal para garantir os investimentos necessário no estado: “Acredito que ele vai dar apoio e verba para esse governador.” Eleitor de Iris se referindo ao Lula. Já Marconi, defendia um governo voltado para o futuro de Goiás – investiria em educação e traria muitas empresas para o estado. Nas palavras de uma eleitora de Vanderlan Cardoso a “reclamação”: “Íris só fala em obras e Marconi e Educação”. Marconi Perillo, o candidato vitorioso, conseguiu imprimir desde o começo de sua campanha a imagem de que a eleição estava definida à seu favor. Com isso, o candidato segurou a maior parte dos eleitores mesmo tendo Lula como seu crítico e aliado com seus rivais no estado. Embora os dados demonstrem a existência de momentos críticos, empatados tecnicamente, para o eleitor goiano havia a certeza de que Marconi tinha a preferência da maioria. Sensação transmitida principalmente pelo volume da campanha tucana no estado. Esse cenário faz sentido com que discute Noelle-Neumann (Noelle- Neumann). Quando a maioria da população apoia uma candidatura, as pessoas com opinião diferente tendem a omitir as suas preferências, reforçando, assim, a impressão de fraqueza. Entretanto, quando novas informações são assimiladas, como o movimento de alta/baixa em pesquisas de opinião e resultados eleitorais intermediários a “espiral do silêncio” pode ser facilmente quebrada. Será por isso que nos últimos dias das campanhas as equipes de marketing exploram “exageradamente” dados de intenção de voto?

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Anexo

A) Atenção diária a propaganda eleitoral

Atenção a propaganda eleitoral gratuita

60%

50% 50%

40%

30% 27% 20% 17% 10% 5% 0% 21/out 22/out 23/out 25/out Muita atenção 51% 50% 53% 50% Atenção média 17% 15% 15% 17% Pouca atenção 28% 31% 28% 27% NS/NR 4% 4% 4% 5%