Revista de audiências públicas do Senado Federal Ano 2 – Nº 8 – agosto de 2011

Dependência Química Crack assusta e revela um Brasil despreparado

Proliferação de cracolândias mobiliza Senado a buscar melhorias na assistência prestada pelo Estado e pela sociedade aos usuários de drogas

Crack assusta e revela um Brasil despreparado

Em discussão! traz nesta edição a cobertura do ciclo de debates sobre o enfrentamento ao crack e a outras drogas, promovido, no Senado, pela Subcomissão Temporária de Políticas Sociais sobre Dependentes Químicos de Álcool, Crack e Outros

Carta ao Leitor

epois de edições sobre infraestru- viços dessas entidades não obedecem Dtura (aviação e banda larga), Em a padrões e, por isso, ficam sem apoio discussão! enveredou pela área social. público. No número anterior, abordou o traba- A escolha da subcomissão de lançar lho escravo e, agora, a dependência sua atenção sobre as vítimas das dro- química e a ameaça do crack. gas coincide com a tendência mundial Este ano, os senadores da Comissão de repensar a política de combate a en- de Assuntos Sociais (CAS) criaram uma torpecentes. A repressão já provou não subcomissão que, em vez dos fóruns ser suficiente. Pior, custa caro aos con- que analisam a questão sob a ótica da tribuintes, discrimina os dependentes e repressão, tem foco na oferta de trata- ainda abastece a violência do tráfico. mento aos usuários. Essa análise também leva em con- A falta de dados atualizados sobre sideração que é impossível afastar por dependência química no Brasil, espe- completo as pessoas das drogas. “Por cialmente do crack (uma pesquisa pro- motivos de cura, religiosos, recreativos metida para abril teve sua divulgação ou até existenciais, as drogas acompa- adiada muitas vezes), não embaraçou a nham a história da Humanidade”, re- subcomissão, que ouviu representantes conhece o Escritório das Nações Unidas do governo e da sociedade. sobre Drogas e Crime (Unodc). “Todos As avaliações, feitas em sete reu- somos pré-dependentes químicos por niões (veja a lista na pág. 5), demons- natureza, seja do dinheiro, do poder, tram que a rede pública de atendimen- do sexo, da droga, da bebida”, resume to a dependentes químicos é mínima, o médico Aloísio Freitas. está desarticulada e, via de regra, não Para acabar com a sensação de que oferece possibilidade de internação. governo e sociedade estão “carregan- Assim, fica ainda mais difícil a recupe- do água na peneira” a cada vez que ração de quem está aprisionado pelas uma cracolândia esvaziada pela polícia drogas, entre elas o álcool, cujos ris- volta a funcionar, é que os senadores cos para os usuários e disseminação elaboram projetos para melhorar o sis- são superiores aos de qualquer outra tema de atendimento aos cidadãos pre- ­substância. sos na cilada das drogas. Na ausência do Estado, comunida- Em discussão!, além da radiografia des terapêuticas, geralmente ligadas que confirma a deficiência no trata- a religiosos, oferecem alternativas às mento, apresenta essas possíveis saídas famílias para o tratamento dos seus para minorar o problema. dependentes químicos. Porém, os ser- Boa leitura! M a r ce ll o C asa l/EBC SUMÁRIO

Nos cinco painéis promovidos pela subcomissão Mesa do Senado Federal Contexto Marcello Casal/EBC Atuação do Estado da CAS, entre abril e julho de 2011, participaram: Presidente: José Sarney 1ª vice-presidente: Marta Suplicy 7 de abril de 2011 | 1º painel – Ações 2º vice-presidente: Wilson Santiago Crack chama a Faltam verbas e coordenação sociais e prevenção 1º secretário: Cícero Lucena atenção para nas iniciativas do governo • Denise Colin, secretária nacional de Assistência Social do 2º secretário: João Ribeiro* Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome 3º secretário: João Vicente Claudino dependência química página • Juliana Maria Fernandes Pereira, coordenadora do 4º secretário: Ciro Nogueira 48 Departamento de Proteção Social e Especial do Ministério Suplentes de secretário: Gilvam Borges*, João página do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

Durval, e 7 Senad só aplicou dois • Marta Klumb Oliveira Rabelo, do Programa Saúde na Escola Vanessa Grazziotin Subcomissão prioriza vítimas terços do que estava • Maria de Fátima Simas Malheiros, do Programa Saúde na Escola • Manoel Soares, coordenador da Central Única da droga página previsto página Diretora-geral: Doris Peixoto 10 51 das Favelas do Secretária-geral da Mesa: Claudia Lyra • Célio Luiz Barbosa, coordenador-geral dos centros de Da guerra ao tratamento: Atendimento e Apoio às Famílias da Fazenda da Paz uma história de como *Licenciados Guerra contra as drogas fracassou, 14 de abril de 2011 | 2º painel – afirma comissão da ONU página o Brasil enfrenta as 18 drogas página Segurança pública e legislação Expediente 58 • Paulina Duarte, secretária nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça y Fil mes • Oslain Campos Santana, diretor de Combate ao Realidade brasileira S p r a Sociedade Crime Organizado da Polícia Federal • Doralice Nunes Alcântara, secretária de Assistência Social e do Trabalho de Ponta Porã, do Sul Droga já teria chegado a Comunidades oferecem 80% das • Zilmara David de Alencar, secretária de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho Diretor: Fernando Cesar Mesquita 1,2% da população Diretor de Jornalismo: Davi Emerich vagas e querem ajuda do Estado 20 de abril | 3º painel – Saúde pública e tratamento página 22 página • Carlos Vital Tavares Corrêa Lima, vice-presidente A revista Em discussão! é editada pela 60 do Conselho Federal de Medicina Secretaria Jornal do Senado Universitários têm consumo Fazendas dizem recuperar entre 40% e 80% dos viciados • José Luiz Gomes do Amaral, presidente da Associação Médica Brasileira • Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti, representante Diretor: Eduardo Leão (61) 3303-3333 mais intenso e frequente página 63 da Associação Brasileira de Psiquiatria Editores: João Carlos Teixeira e Thâmara Brasil página • Frei Hans Stapel, representante da Rede Fazenda da Esperança Reportagem: João Carlos Teixeira, Juliana Steck e 27 Anvisa ameniza regras para comunidades terapêuticas • Padre Haroldo Rahm, representante da Fazenda Thâmara Brasil página Associação Promocional Oração e Trabalho Diagramação: Bruno Bazílio e Priscilla Paz Álcool é problema muito 67 mais grave, dizem médicos • Carlos Alberto Salgado, presidente da Associação Arte: Cássio Costa, Diego Jimenez e Priscilla Paz Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas Revisão: André Falcão, Fernanda Vidigal, página 30 • Marcelo Machado, membro da Federação Pernambucana Juliana Rebelo, Pedro Pincer e Silvio Burle Propostas de Comunidades Terapêuticas e responsável técnico da Pesquisa de fotos: Braz Félix, Leonardo Sá e Natasha comunidade terapêutica Clínica Recanto Paz Machado • Deputado Givaldo Carimbão, relator da Comissão Especial de Produção: Mauro Vergne Combate ao Crack e Outras Drogas da Câmara dos Deputados Zanone Fraissat Apertar o cerco ou Tratamento de imagem: Edmilson Figueiredo e Tratamento Roberto Suguino descriminalizar? 26 de abril | Complementação do 3º painel Circulação e atendimento ao leitor: • Roberto Tykanori Kinoshita, coordenador de Saúde Mental, Shirley Velloso (61) 3303-3333 Reabilitação desafia página 70 Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde Capa: Priscilla Paz sobre foto de Marcello 17 de maio | 4º painel – Experiências Casal/EBC a sociedade Oposta à política atual, legalização é de organismos internacionais página • Bo Mathiasen, representante regional do Escritório da 1ª impressão: 2.500 exemplares 32 polêmica página Organização das Nações Unidas sobre Drogas e Crime 2ª impressão: 12 mil exemplares 74 Brasil adota redução de danos, • Bernardino Vitoy, técnico da Unidade de Saúde Familiar da Organização Pan-Americana da Saúde mas não há consenso Subcomissão busca M a r ce ll o C asa l/EBC referência em outros Site: www.senado.gov.br/emdiscussao Veja e ouça mais em: página 12 de julho | Complementação do 4º painel página E-mail: [email protected] 36 países • Annika Markovic, embaixadora da Suécia Tel.: 0800 61-2211 78 Fax: (61) 3303-3137 País oferece 0,34% dos leitos 26 de maio | 5º painel – Experiências de especialistas Praça dos Três Poderes, Ed. Anexo 1 do Para saber mais • Esdras Cabus Moreira, coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Senado Federal, 20º andar – que seriam necessários do Centro de Estudos e Terapias do Abuso de Drogas da página 70165-920 – Brasília (DF) página 81 • Aloísio Antônio Andrade de Freitas, presidente do Conselho 39 Estadual de Políticas sobre Drogas de Impresso pela Secretaria Especial de • Ricardo Albuquerque Paiva, coordenador-geral do I Fórum Editoração e Publicações – Seep Nacional sobre Aspectos Médicos e Sociais do Uso do Crack Contexto

Crack chama a atenção para dependência química

Especialistas estimam que mais de consumo de substâncias psicoativas, líci- tas e ilícitas, é um dos mais preocupantes 2 milhões de brasileiros usem a droga, problemas de saúde pública no mundo. A cujo poder destrutivo é superior ao da Organização das Nações Unidas (ONU) maioria das substâncias ilícitas, devido ao Oestima em até 270 milhões os usuários de drogas ile- fácil acesso, alta letalidade e precocidade gais (6,1% da população mundial entre 15 e 64 anos de idade). Desse total, pouco menos de 10% podem do primeiro uso. Segundo cálculos da ser classificados como dependentes ou “usuários de ONU, o mercado do crack movimentou drogas problemáticos” e calcula-se que até 263 mil cerca de US$ 100 bilhões em 2009 deles, principalmente jovens, morram anualmente, a metade por overdose. As estimativas dão conta ainda de que a cocaína foi consumida no último ano por até 20,5 milhões de pessoas. Na América Latina, apesar de o número de mortes estar bem abaixo da média global, essa é a droga mais letal, em razão do grande número de consumidores, seja da própria cocaína ou de seus subprodutos, entre eles o crack. Dados escassos Recente publicação da Associação Médica do Rio Grande do Sul confirma que, no Brasil, “ainda são poucos os dados disponíveis, insuficientes tanto para o atendimento eficaz de usuários como para nortear vid Ri tter /s t ock.xchng políticas públicas de prevenção. Os estudos, pesquisas e dados estatísticos sobre o crack ainda são incipientes, razão pela qual muito do que se ouve falar carece da comprovação de fontes seguras”. Ainda assim, é possível afirmar que a droga se alas- tra rapidamente pelo país, chegando a praticamente todos os municípios em todas as regiões. As pesquisas em andamento estimam que pode haver até 2,3 mi- lhões de usuários de crack no país. Os dados também revelam que o poder destrutivo do crack é superior ao da maioria das drogas ilícitas (veja infográfico na pág. 73), devido ao fácil acesso, à z sob re fo t os d e M ar c llo Ca s a l/E BC Da P r iscill a pa ARTE:

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(OMS), um país deve das mortes e 4,6% das do- ter leitos para saúde enças são causadas pelo álco- mental suficientes ol, apontado como fonte de para internar 0,5% de mais de 60 ­enfermidades. sua população, o que, Mais que afetar a saúde de no Brasil, seriam 950 quem bebe, o álcool gera cus- mil leitos. Porém, o tos sociais incalculáveis por país tem cerca de 32,7 estar associado a episódios de mil. Parte da expli- violência, homicídios, com- cação é que o Brasil portamento sexual de risco, está migrando, desde aumento da incidência de 2002, de um modelo doenças ­infecto-​contagiosas e baseado na interna- acidentes com ­veículos. ção para outro volta- Por conta desses dados, os do para atendimento especialistas ouvidos pelos ambulatorial.­ senadores consideram que Por outro lado, a o problema da dependência falta de consenso e a química deve ser tratado de desarticulação impe- maneira global (leia mais nas dem a expansão dos págs. 20, 21, 30, 76 e 77). programas de redução de danos, assim como Saídas possíveis o apoio financeiro do Essa sugestão se soma a Estado a instituições diversas outras em análise na privadas de tratamen- subcomissão da Comissão to de dependentes de Assuntos Sociais (CAS) químicos, as cha- que analisa as políticas para madas comunidades dependentes químicos (leia ­terapêuticas. mais na pág. 10). Chamadas a parti- Enquanto, no mundo, cipar do debate no Se- cresce o debate acerca da des- nado, essas entidades, criminalização – e até da le- geralmente ligadas a galização – das drogas, como grupos religiosos, são aconteceu em Portugal e na responsáveis hoje por Suíça, outras alternativas cerca de 80% das in- surgem no Congresso, como ternações de viciados, o projeto que reinstitui pena mas não estão sub- de prisão para usuários com metidas a exigência o objetivo de estimular a co-

M ar co G o me s/ CC governamental de mutação da pena para trata- Morador de rua exibe pedra de crack padrões mínimos de mento obrigatório. Esse mo- e cachimbo em cracolândia no bairro escala. A base de consumo é atendimento aos internos. delo é inspirado na experi- do Bom Retiro, em São Paulo muito maior, e não concen- ência da Suécia, que ganhou trada em determinadas po- Álcool e tabaco atenção especial dos senado- alta letalidade (aumenta o risco da cocaína. O mercado desse dor de Saúde Mental, Álcool e pulações com maior poder A essa situação já precária, res da subcomissão. de morte em oito vezes em re- subproduto, lançado para po- Outras Drogas do Ministério aquisitivo que consomem soma-se o consumo de álco- Nas próximas páginas, lação à população em ­geral) e à pularizar o uso da cocaína, mo- da Saúde, afirma que, no iní- cocaína”, explica Roberto ol e tabaco, drogas legais, Em discussão! apresenta precocidade do primeiro uso. vimentou até US$ 100 bilhões cio, os traficantes de cocaína ­Kinoshita. amplamente distribuídas um diagnóstico da situa- A duração da intoxicação, de em 2009, segundo cálculos da não deixavam que o crack – as- e com grandes recursos de ção das drogas, as opções dez minutos, considerada baixa, ONU. sim como o óxi – entrasse no Atendimento precário ­propaganda. de tratamento da dependên- leva à busca imediata por mais O crack levou ao surgimento mercado porque ele desorgani- Frente a essa realidade, o O uso de tabaco afeta cia química e o que o Brasil crack. Apesar dessa curta dura- de pequenos produtores e trafi- zava a estrutura do tráfico. De- Brasil não se preparou para 25% da população mundial vem fazendo para enfrentar o ção, consta que o crack produza cantes, que se confundem com pois, no entanto, os traficantes tratar os seus dependentes de adulta. Estima-se que 200 problema, sempre com base efeitos até seis vezes mais poten- usuários nas cracolândias. Essa perceberam que o crack é mais crack. Não bastassem as difi- mil mortes por ano decorram nas audiências públicas reali- tes que os da cocaína (veja info- nova dinâmica do tráfico gera- rentável do que a cocaína pura, culdades inerentes ao atendi- do consumo de substâncias zadas entre abril e julho pela gráfico nas págs. 14 e 15). da pela disseminação do crack tanto pelo baixo custo da pro- mento médico e psicológico ilícitas, enquanto 5 milhões subcomissão da CAS. Devido ao seu poder alta- dificulta inclusive o trabalho dução (veja infográfico na pág. aos usuários, a rede de tra- são atribuídas ao uso de A revista inclui ainda as mente viciante, o crack tem das polícias. Em 2009, foram 12) quanto pela maior compul- tamento é pequena, precária ­tabaco. propostas em debate para um mercado cativo, em cresci- apreendidos 374 quilos de crack são do usuário. e com profissionais pouco Paralelamente, quase 2 bi- que o país possa oferecer mento, estimulado pelo custo no país, número pequeno, mas “Em termos de logística, [a qualificados.­ lhões de pessoas no mundo uma saída a quem se encon- menor, assim como os do óxi e crescente em todos os estados. produção do crack] dispensa De acordo com a Orga- consomem bebidas alcoó- tra preso no mundo paralelo da merla, em relação ao preço Roberto Kinoshita, coordena- laboratório e tem economia de nização Mundial da Saúde licas. Calcula-se que 3,8% das drogas.

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atuar de forma integrada com cial, mas também econômico", a sociedade, respeitando expe- denuncia a senadora Vanessa Propostas em riências que dão certo.” Grazziotin (PCdoB-​AM), ti- Má r ci a Ka lu me A sugestão do senador parte tular da subcomissão. discussão­ da constatação de que as ini- Já o senador Waldemir ciativas estão dispersas. Apesar Moka (PMDB-MS), médico e • Realizar conferência nacional, com de haver previsão legal de um integrante da subcomissão, su- todos setores envolvidos, para ela- sistema de atendimento e tra- gere que as comunidades tera- borar uma política completa. tamento, a avaliação é de que a pêuticas possam receber apoio • Financiar as comunidades tera- rede pública é insuficiente, está do Ministério do Desenvolvi- pêuticas com recursos da União. desintegrada e não reconhece mento Social, já que há difi- • Apoiar a elaboração de padrões as comunidades terapêuticas, culdades de o financiamento mínimos de organização às comuni- responsáveis por 80% dos tra- ser feito via Ministério da Saú- dades ­terapêuticas. tamentos a drogados. de, em razão das exigências • Dar à Senad status de ministério “As poucas clínicas de rea- sanitárias e de formação das para trabalhar com as demais pas- bilitação costumam ser priva- equipes de tratamento. A ideia tas, estados e municípios. das e ligadas a grupos religio- tem o apoio de senadores e • Controlar as drogas lícitas, com sos. Esse é um problema so- especialistas.­ maior restrição à venda, inclusive com maior taxação, e à propaganda de bebidas alcoólicas e de tabaco, O senador (C) é o dificultando o acesso dos jovens presidente da CAS, comissão à qual (leia mais na pág. 76). está vinculada a subcomissão sobre • Aumentar o orçamento da Polícia dependência química, comandada por Wellington Dias e Ana Amélia Federal para reforçar a atuação nas regiões de ­fronteira. M ar c e llo Ca s a l/E BC • Envolver centrais sindicais e Siste- ma S na reinserção de dependentes Subcomissão prioriza vítimas da droga

Vinculada à Comissão de tico e sugerir soluções ao gover- instituições nos procurarem Assuntos Sociais (CAS), a Sub- no federal, estados, municípios para compartilhar experiências. comissão de Políticas Sociais e à sociedade. Comunidades terapêuticas, so- sobre Dependentes Químicos Wellington Dias e Ana ciedade organizada precisam de Álcool, Crack e Outros foi Amélia entendem que o crack participar desse projeto de es- criada por iniciativa dos sena- deve ser visto como um desafio timular políticas públicas que dores Wellington Dias (PT-​ social e de saúde pública. Por compatibilizem suas diferen- PI) e Ana Amélia (PP-RS). Os isso, a subcomissão se concen- ças”, diz Ana Amélia, vice-pre- cinco senadores que integram a tra nas ações para prevenir o sidente do colegiado. subcomissão querem, até o fim consumo, no tratamento e rein- Wellington Dias quer mo- do ano, apresentar um diagnós- serção social de dependentes, bilizar Executivo, Legislativo, na capacitação de profissionais Judiciário e Ministério Público, e na qualificação da rede de União, estados e municípios, atendimento. “Os debates têm além das organizações sociais José Cr uz como foco principal as vítimas e do setor privado, para uma do crack, já que há outras co- grande conferência nacional so- missões na Casa que estão tra- bre drogas. tando da questão da repressão”, O senador acredita que o explica Wellington Dias, presi- fórum poderá pactuar uma Usuário de crack dente da subcomissão. política nacional que leve à im- caminha à noite na zona central Um ciclo de debates para plantação do sistema nacional de Brasília, numa discutir o assunto e visitas a de atendimento, tratamento e cena cada vez locais com experiências bem-​ reinserção. “Ou seja, um siste- mais comum nas sucedidas são algumas das ma integrado, com possibili- grandes cidades Grazziotin: falta de brasileiras clínicas é problema iniciativas.­ dade de apoio público às enti- social e econômico “A subcomissão quer dar vi- dades. Nenhuma área isolada- sibilidade ao tema, a ponto de mente vai dar conta. É preciso

10  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  11 Contexto

Produção do crack pode levar até querosene ou gasolina defender o ex-goleiro do Flamen- go Bruno Fernandes, acusado de A droga, que tem a cocaína como princípio ativo, usa produtos baratos no processo de extração da substância matar a amante Eliza Samudio. Durante a investigação do caso, Quaresma, de 46 anos, esteve envolvido em várias polêmicas geradas por discussões com poli- Molécula ion Fe d era l B u rea of I nv e s t ig at ciais. Em uma audiência judicial, do cloridrato Cloridrato de cocaína de cocaína foi advertido por dormir durante o As pedras de crack são um dos depoimento de seu cliente. subrprodutos da cocaína, conhecido Em novembro de 2010, o estimulante do sistema nervoso central. ­advogado foi gravado em vídeo O crack é mais barato que a cocaína em fumando crack em favela de Belo pó porque, além de ter quantidade menor da substância ativa, usa produtos Horizonte e foi suspenso por 90 alternativos na sua produção dias pela Ordem dos Advogados do Brasil. Pouco antes da exibi- ção da cena na TV, o advogado, que, em 2009, já havia sido preso com pedras de crack escondidas Então prefeito de Washington, Marion Barry (de pé) foi flagrado, em 1990, na boca, admitiu, em entrevistas, consumindo a droga em companhia de uma mulher, informante do FBI usar drogas desde os 15 anos. Ele afirmou que estava em tratamen- Ácido Gasolina, querosene, soda Decantação súlfurico to, mas teve recaídas. cáustica, amônia, acetona, Quaresma foi policial na dé- A mistura vai para a decantação, Bicarbonato, éter, álcool Personalidades usando onde o ácido sulfúrico reage e Extração cada de 1980 e candidato ao cimento Para obter o composto separa a cocaína governo de Minas Gerais em ativo, em pó, são crack deram maior de impurezas e misturadas substâncias 1994. Como advogado, trabalhou do combustível, como bicarbonato e visibilidade ao problema em dois outros casos de reper- formando um Cal virgem combustíveis. Esses cussão nacional, ambos no Pará: líquido chamado elementos tóxicos para o O crack começou a per- Advogado na cracolândia o assassinato da missionária sulfato de organismo humano ainda der o estigma de droga para Também no Brasil, uma per- ­norte-​americana Dorothy Stang cocaína voltam ao processo químico consumo exclusivo da população sonalidade no auge da evidência e o massacre de sem-terra em em uma fase posterior de rua quando o então prefeito de esteve presente nas manchetes ­Eldorado dos Carajás. (abaixo) Washington (capital dos EUA), pelo uso do crack. Conhecido Em fevereiro deste ano, ele foi Marion Barry, foi flagrado, em por cobrar caro para assumir a internado com crise de abstinência janeiro de 1990, consumindo a defesa de réus envolvidos em ca- e, hoje, afirma que está escreven- droga em um quarto de hotel em sos complexos, o advogado Ércio do um livro sobre a dependência, companhia de uma mulher, que Quaresma ganhou especial no- junto com seu psiquiatra, Ronaldo era informante do FBI – a Polícia toriedade no ano passado, ao Laranjeira. Pasta base Federal daquele país. O episódio Ao sulfato de cocaína é adicionada serviu de alerta ao país e levou a amônia para dar origem à pasta base, um endurecimento da legislação Amônia forma da droga que pode ser fumada e antidrogas e a um maior investi- da qual derivam tanto a cocaína em pó, quanto merla, óxi e crack mento em prevenção. Um dos primeiros negros a exercer a prefeitura de uma gran- de cidade dos EUA, Barry era Crack popular e estava em seu terceiro O crack vem da mistura da cocaína Óxido Cocaína de cálcio mandato. Porém, por conta da com bicarbonato de sódio e amoníaco, Para fabricar a repercussão do caso, teve de re- que, aquecida, se cocaína em pó, a pasta nunciar à prefeitura e ficou detido solidifica e fica com a base é moída e por seis meses. Após a prisão, ele aparência de pedra misturada a óxido de retornou à política em 1994 e se cálcio e acetona ou Merla elegeu prefeito pela quarta vez. No entanto, o Congresso dos álcool. Acetona A merla é feita a partir da Óxi Depois da filtragem se combinação da pasta base Estados Unidos retirou grande Para baratear o crack se usam extrai a forma mais com querosene, cal e ácido parte da autoridade da Prefeitu- ingredientes mais tóxicos, como conhecida da droga, a sulfúrico (água de bateria ra de Washington, uma medida querosene e cal virgem. cocaína ou “sal” automotiva). É pastosa que muitos pensavam ter sido di-

Essa mistura dá rigida contra Barry, que, com a R epr odução SB T origem ao óxi mudança, resolveu não mais se Em 2010, vídeo exibido pelo SBT mostrou o advogado Ércio Quaresma fumando candidatar em 1998. crack em Belo Horizonte. Na época, ele defendia o ex-goleiro Bruno, do Flamengo

12  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  13 Contexto São 10 segundos até a euforia e 10 minutos até a depressão. Depois, a dependência

Crack tem efeito rápido, tanto para dar euforia quanto para levar à decadência do organismo. Exposição à violência é outro fator que pode levar à morte

A ação da cocaína no cérebro da maioria das pessoas deixa-as A cocaína age principalmente nas áreas de Como o efeito dura muito pouco, o usuário alertas, cheias de energia, sociáveis e confiantes. Ela produz recompensa e coordenação motora do cerébro, Passado o efeito, a passa a buscar o crack com muita frequência, ainda sensações de euforia, bem-estar, desinibição, excitação e o que justifica a intensa sensação de prazer e euforia que dura entre o que o leva mais rapidamente à dependência hiperatividade. Essas sensações são descritas como intensas e a inquietação dos usuários cinco a dez minutos 1 do que os usuários de cocaína aspirada e injetada. prazerosas pelos usuários. vai2 sendo substituída pela 3 O doente, muitas vezes, sequer consegue sair do Sua ação estimulante faz com que o cérebro e o corpo trabalhem com depressão física e mental, local onde compra e consome a droga (as muita intensidade. Pesquisadores afirmam que o efeito do crack no Do pulmão, órgão muito vascularizado e com que causa grande mal-estar. chamadas cracolândias). Por isso, apesar de cérebro é de cinco a seis vezes mais intenso que o da cocaína grande superfície, o cloridrato de cocaína chega Para aliviar a exaustão e a imediatamente à corrente sanguínea, e daí depressão, as pessoas são parecer ser uma droga barata, o crack acaba se diretamente ao cérebro, em apenas dez segundos. tentadas a fumar de novo, o tornando caro para os dependentes Os efeitos da cocaína são sentidos entre dez e 15 que as leva a um ciclo minutos depois da inalação e, se injetada, entre vicioso de alto risco três e cinco minutos

Enquanto a cocaína é aspirada ou misturada a A dopamina é um água e injetada na corrente sanguínea, a pedra neurotransmissor de crack é aquecida a 95ºC, em geral em produzido nos neurônios pequenos cachimbos improvisados, produzindo transmissores. Após ser a fumaça, que, inalada, leva o cloridrato de liberada e estimular o cocaína diretamente aos pulmões neurônio receptor, é recolhida de volta O crack pode causar ainda problemas respiratórios como congestão nasal, tosse com muco preto e até pneumonia, fibrose e hemorragia O poder estimulante do cloridrato pulmonar. Os dependentes também de cocaína, perseguido pelos ficam com lábios, língua e garganta usuários, faz com que eles queimados pelo cachimbo e pela fumaça descansem5 e se alimentem cada vez menos. Ele provoca ainda o aumento da temperatura do corpo, desmaios, calafrios, vômitos, tremores, dores musculares, impotência e diarreia

O uso prolongado pode levar o dependente à depressão, psicose maníaco-depressiva, pânico e comportamentos antissociais. Com O coração dispara, a pressão arterial a perda gradativa do autocontrole, do poder de decidir e da força sobe, o uso continuado agrava esses 6de vontade, o doente perde o interesse pelo trabalho, pelo vestuário e a sintomas, especialmente no sistema higiene pessoal, tem fortes alterações de humor e grande agitação cardiovascular. Contrações no peito, convulsões, ataque cardíaco e derrame cerebral, com morte súbita, são consequências possíveis. Outro perigo é a , embora ela seja mais comum em dependentes de cocaína injetada, em que a pessoa tem convulsões e pode morrer por falência cardíaca ou depressão respiratória Mais adiante, desenvolve irritabilidade, comportamento violento e paranoias. Acha que está Um dos efeitos da droga, as irritações imaginárias sendo7 perseguido, tem pensamentos na pele (chamadas de alucinações tácteis) podem obsessivos e medo, e grande desconfiança levar alguns doentes a se coçarem até se ferir. das outras pessoas – inclusive de outros Perturbações visuais e auditivas podem fazer do dependentes –, o que aumenta ainda mais usuário um sério perigo no trânsito o risco de violência e acidentes. Na chamada psicose cocaínica, o doente pode ter alucinações e delírios. Também há registro de processos de distorção de

 personalidade, acompanhados de  14 agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao 15 comportamento suicida ou homicida Contexto

Óxi, merla e brita: as variações do crack Outros derivados da cocaína, mais baratos, mais tóxicos e mais fáceis de produzir, já são um problema de saúde pública no Brasil

O apelido de “oxidado” vem trópicas (Cebrid) acredita que ele crack, o óxi pode ter surgido pri- do fato de a droga liberar uma fu- pode ser mais letal que o crack, já meiro na Bolívia e no Peru, de maça escura ao ser consumida e que as substâncias usadas no pre- onde entrou no Brasil, pelo , deixar um resíduo marrom, seme- paro são mais nocivas. Seguindo a na década de 1990. São poucos lhante à ferrugem. lógica do crack, pode viciar mais os dados sobre a disseminação no O óxi, abreviação de oxidado, rápido em razão do seu efeito ter país, mas este ano foi apreendido é uma variação do crack, de qua- menor duração, pouco mais que em mais da metade dos estados lidade ainda pior. Também se trata cinco minutos, o que leva o usuá- brasileiros, em todas as regiões. de uma mistura de pasta base de rio a querer outra dose em ainda cocaína com uma substância alca- menos tempo. Merla lina e um solvente. Só que a pasta, “Quanto mais baratos os in- Assim como no óxi, para fazer em vez de receber alcalinos como sumos que compõem a droga e a merla (mela, mel ou melado), bicarbonato de sódio ou amoníaco quanto mais alto o poder viciante, alcalinos e solventes baratos e fá- e solventes como acetona e éter, maior será o número de viciados, ceis de ser obtidos são adicionados recebe cal virgem e combustíveis, de maneira que a perspectiva é à pasta de cocaína. Mas, em vez como querosene, gasolina, diesel e muito nebulosa”, afirma o senador de pedras, a merla assume consis- água de bateria. Wellington Dias. tência pastosa, com odor forte e As receitas variam e é possível O economista Alvaro Mendes, coloração entre amarela e marrom. encontrar cimento, ácido sulfúrico da Associação Brasileira de Re- Diferentemente do óxi, espa- Uso da droga no Brasil e soda cáustica na pedra do óxi. dutores de Danos, acompanhou, lhado pelo território nacional, a começou por grupos que viviam Dependendo dos ingredientes, o em parceria com o Ministério da merla se concentrou nas regiões nas ruas, mas hoje há viciados óxi pode ganhar o nome de brita. Saúde, cem usuários de óxi e ob- central e norte do país, sobretudo em todas as classes

Robson Ve n t u ra / F olh apre ss A variedade de produtos tóxicos servou que, em um ano, a droga em Brasília, onde já foi mais con- nessas drogas amplia os riscos à matou um terço deles. sumida que o crack, segundo o saúde e dificulta o tratamento. No organismo, quando não leva Cebrid. Como o crack, a pedra do óxi à morte súbita (por parada respi- A pasta de merla pode ser mis- é fumada num cachimbo impro- ratória, coma ou parada cardíaca), turada ao cigarro comum ou ao de Surgido nos EUA, o crack visado. Ainda não há estudos o óxi provoca vômito e diarreia, maconha, ou fumada em cachim- suficientes, mas já se sabe que o convulsão e, em poucas semanas, bos de fabricação caseira, como o óxi é mais barato e mais fácil de lesões no sistema nervoso cen- crack. Os efeitos são semelhantes, chegou ao Brasil nos anos 80 produzir – custa cerca de meta- tral, degeneração das funções do assim como os seus riscos. de do preço do crack porque os fígado, doenças cardíacas, res- O usuário da merla transpira produtos usados, obtidos sem fis- piratórias e do sistema renal, muito e exala cheiro de querosene, De acordo com o pesquisador pos marginalizados, muitos deles versidade Federal de São Paulo calização, têm preços ainda mais emagrecimento, lesões no esôfago éter e outras substâncias usadas americano Ney Jansen, o crack ­vivendo nas ruas. (Unifesp), o crack está ampla- baixos. e nas papilas gustativas da língua na preparação da droga. O tra- surgiu na década de 1970, mas Àquela época, segundo pesqui- mente disponível em lugares As pesquisas sobre a ação do e perda de dentes, corroídos pelos tamento para os dependentes é se tornou popular na década se- sa do Centro Brasileiro de Infor- públicos. Há viciados em todas óxi no organismo são incipien- combustíveis usados na droga, que difícil, pois, ao se afastarem da guinte entre moradores de bair- mações sobre Drogas Psicotrópi- as faixas socioeconômicas e cul- tes, mas o Centro Brasileiro de também são cancerígenos. droga, eles caem em depressão, o ros pobres de grandes cidades dos cas (Cebrid), os principais con- turais e a droga vem ganhando Informações sobre Drogas Psico- Assim como aconteceu com o que leva cerca de 20% ao suicídio. Estados Unidos, como Nova sumidores de crack eram homens adeptos na classe média. York, Los Angeles e Miami, de 17 a 38 anos, de baixa renda e Casos notórios foram o do pre- principalmente entre jovens sem vínculos sociais ou familiares. feito de Washington, capital ame- Óxi e maconha apreendidos em negros e de origem hispano-­ Porém, com o passar do tempo, ricana, e o do primeiro advogado Itaquaquecetuba: tida como

americana. as mulheres também passaram a do ex-goleiro Bruno, do Flamen- inofensiva, maconha tem sido Polici a C ivil/ S P No Brasil, em 1989, foi feito o consumir a droga, a se prostituir e go, flagrados em vídeo usando a misturada ao crack e vendida primeiro relato de uso de crack­ , a traficar para obtê-la. droga (leia mais na pág. 13). na cidade de São Paulo. Dois O mercado do crack já nasceu Segundo o médico Carlos Vi- anos depois, foi feita a primei- cercado pela violência do tráfico, tal Corrêa Lima, vice-presidente ra apreensão. Acredita-se que a agravada pelos efeitos causados do Conselho Federal de Medici- droga tenha entrado no país pelo pela droga nos consumidores, na, o consumo do crack vem cres- Acre, vinda da Bolívia e do Peru, que se tornam, ao mesmo tempo, cendo por conta de o Brasil ser na década de 1980. O uso da co- agressivos e vulneráveis. rota para o tráfico internacional caína apresentava uma escalada Atualmente, segundo os pes- de cocaína e da vulnerabilidade em todo o mundo. O crack era a quisadores Solange Nappo e Lú- social de grande parcela da popu- versão da droga usada por gru- cio Garcia de Oliveira, da Uni- lação, sobretudo dos mais jovens.

16  agosto de 2011 17 Contexto

Guerra contra as drogas fracassou, ministra do Superior Tribunal de antes de serem vistos como crimi- Justiça Eliana Calmon, corregedo- nosos. A visão coincide com a ado- ra nacional de Justiça. tada pela subcomissão do Senado. afirma comissão da ONU Já nos EUA, desde 1971, o per- “Líderes políticos e figuras pú- centual da população nas cadeias blicas devem ter a coragem de de- O surgimento do crack foi ape- comércio de drogas ilícitas excede saiu de menos de 0,2% (nível em clarar o que muitos deles reconhe- nas mais uma demonstração de em muito o tamanho da economia que se mantinha desde o início cem em esferas privadas: que as que o mercado das drogas é di- formal. do século passado) para 0,8% em evidências esmagadoramente de- nâmico e capaz de se recriar para “Em anos recentes, observa- 2008. Em 1980, havia 500 mil monstram que estratégias repres- fugir da repressão dos governos. mos casos em que ministros ou americanos na prisão; em 2009, sivas não irão resolver o problema Indicadores demonstram que o chefes nacionais de polícia foram 2,3 milhões. Essa tendência se das drogas e que a guerra contra as negócio da droga subsiste e se re- relacionados à corrupção ligada às refletiu também nos gastos pú- drogas não foi – e não poderá ser força, mesmo com os investimen- drogas. Também estamos teste- blicos. A Califórnia gastava, em – vencida”, afirma o documento. tos feitos para extingui-lo. munhando mais atos de violência, 1980, 10% do seu orçamento com As evidências demonstram que Internas no Espírito Santo: Passados 50 anos do lançamen- conflitos e atividades terroristas a educação superior e 3% com o os países que ofereceram trata- maioria das presas nos últimos to da Convenção da ONU sobre abastecidas pelo tráfico de drogas sistema prisional. Essa relação se mento em vez de punição a depen- cinco anos foi acusada de tráfico

Entorpecentes, de 1961, e 40 anos e pelo crime organizado”, afirma o inverteu em 2010, quando 11% dentes tiveram resultados positivos Ro mer o M e ndonç a / Se co m E S do início da chamada Guerra às relatório do Unodc . Então presidente dos EUA, foram para as prisões e 7,5%, para na redução do crime, na melho- Drogas, deflagrada em junho de Nixon lançou política de a educação superior. ria das condições de saúde e na controle às drogas”, afirma o re- 1971 pelo então presidente dos Nova abordagem combate em junho de 1971 redução da dependência. latório, levou a Bolívia a abando-

EUA, Richard Nixon, o próprio Para trazer uma nova aborda- P olitic 365 Mudança de prioridades No entanto, a Comissão Glo- nar a convenção de 1961, já que relatório anual do Escritório das gem do problema, a ONU insti- A Comissão Global da ONU bal afirma que qualquer visão di- não houve qualquer flexibilização Nações Unidas sobre Drogas e tuiu a Comissão Global de Polí- sar dos bilhões de dólares gastos, advoga que se privilegiem investi- ferente da adotada pela convenção para que a tradição da população Crime (Unodc) reconhece que o tica sobre Drogas, chefiada pelo não houve redução do consumo. mentos em saúde com relação aos da ONU e pela política repressiva boliviana de mascar folhas de mercado de drogas não vem dimi- ex-presidente Fernando Henrique Um exemplo disso são os crescen- gastos com repressão. Isso significa dos EUA recebe pressões inter- coca não fosse excluída da lista de nuindo nos últimos anos. Cardoso e com a participação dos tes gastos dos Estados Unidos na tratar dependentes como pacientes nacionais. Esse “imperialismo do proibições. Entre 1998 e 2009, a produ- ex-presidentes do México Ernesto guerra contra as drogas, que sa- ção mundial de ópio subiu quase Zedillo e da Colômbia César Ga- íram de US$ 1,5 bilhão em 1985 80%. Já o mercado de cocaína viria, além do ex-secretário-geral para US$ 17,7 bilhões em 2000. não diminuiu, mesmo consideran- da ONU Kofi Annan, entre ou- Em vez de tamanho investi- Crack foi inovação do tráfico frente à repressão do a redução do consumo nos Es- tras autoridades. Em junho, o gru- mento ajudar na diminuição do tados Unidos, já que foi compen- po divulgou documento em que consumo, hoje se consome mais A demanda e a oferta de psico- sado pelo aumento da demanda aponta o fracasso das políticas de cocaína, opiáceos (heroína) e ma- trópicos vêm se alterando conforme na Europa. O número de usuários repressão à produção e oferta de conha do que há dez anos (veja in- aumenta a repressão às substâncias. de drogas ilícitas vem aumentando drogas. Fernando Henrique já foi fográfico abaixo) . Nesse mercado em constante adap- desde os anos 90, ainda que, per- convidado a falar sobre o assunto à tação, a falta de uma droga abre centualmente, tenha se alcançado subcomissão do Senado, a pedido Encarceramento em alta espaço para outras, distribuídas e uma certa estabilidade. da senadora Ana Amélia. Ao mesmo tempo, a crimina- consumidas de formas diferentes. Ao mesmo tempo, o Unodc ob- “A guerra global contra as dro- lização das drogas e as políticas A própria disseminação da co- serva que o tráfico de drogas é um gas falhou, com consequências de tolerância zero levaram a um caína é associada à falta de outras combustível para organizações cri- devastadoras para indivíduos e aumento acentuado da popula- drogas, como anfetamina e ma- minosas internacionais, que mo- sociedades em todo mundo”, diz ção carcerária. No Brasil, desde conha, alvos de ações repressivas vimentam centenas de bilhões de a primeira frase do documento, a entrada em vigor da nova legis- na década de 1960. Nas décadas Neste laboratório clandestino dólares, representando um desa- apontando para a necessidade de lação sobre as drogas, em 2006, a seguintes, a repressão à produção na zona norte de São Paulo, fio crescente para a estabilidade e reformas urgentes nas políticas população carcerária subiu 37%. da cocaína elevou o preço. Uma crack era produzido na cozinha

a segurança mundiais. Em alguns mundiais de controle das drogas. Isso pode ser explicado pelo fato das estratégias foi dificultar o Políci a C ivil/ S P países, analisa o Unodc, o valor do O relatório aponta que, ape- de grande parte das pessoas presas acesso aos chamados precursores desde então acusadas de tráfico de – substâncias como éter, acetona querosene, cal virgem ou até água a cocaína e o crack, sem dúvida, o drogas serem rés primárias, como e bicarbonato de sódio, usadas no de bateria. A “indústria da droga” menos mal é a cocaína. Mas como Drogas continuam seduzindo usuários mediu pesquisa da Universidade refino. passou a oferecer derivados baratos dificultamos o acesso aos precur- Federal do (UFRJ). Diante das dificuldades, usuários e altamente rentáveis da cocaína, sores, a gente acabou trazendo Dado é apontado como fracasso da política atual Em 29 de junho passado, o e traficantes buscam inovações para como o crack, a merla e o óxi (leia essa substância mais espúria [óxi]. Encontro Nacional sobre o En- contornar as limitações impostas. mais na pág. 17). Sem contar que a Usa-se a cal virgem no lugar do bi- Opiáceos* Cocaína Maconha carceramento Feminino revelou Assim, são descobertas outras dro- maior intensidade e a menor dura- carbonato e, no lugar da acetona e 1998 12,9 milhões 13,4 milhões 147,4 milhões realidade semelhante. Das 15.263 gas, geralmente com efeitos mais ção dos efeitos dos derivados, que do éter, usa-se a gasolina, querosene 2008 17,35 milhões 17 milhões 160 milhões mulheres presas no Brasil nos úl- intensos e danos maiores. são fumados ou inalados, aumen- ou substância que o valha. É o pior timos cinco anos, 9.989 (65%) fo- Sem éter e acetona, os produtores tam a demanda por doses, gerando do pior”, afirmou à subcomissão do Aumento % 34,5% 27% 8,5% ram acusadas de tráfico de drogas. de cocaína substituíram as substân- maiores lucros. Senado o psiquiatra Aloísio Antônio * Heroína, mor na, ópio “Basicamente são mulheres não cias por outras, mais baratas, mais “São os paradoxos: às vezes a Andrade de Freitas, presidente do Fonte: Organização das Nações Unidas; brancas, têm entre 18 e 30 anos disponíveis e, geralmente, muito gente aperta pensando que vai me- Conselho de Políticas sobre Drogas War on Drugs – Report of the Global Commission on Drug Policy, 2011 e baixa escolaridade”, afirmou a impuras, por exemplo, gasolina, lhorar e a coisa pula para pior. Entre do estado de Minas Gerais.

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que o país é “negligente e condes- estão expostos os jovens e crian- cendente” com as substâncias líci- ças”, disse. tas. “Temos uma atitude ingenua- O médico Carlos Salgado suge- mente licenciosa, graças à pressão re que, pedagogicamente, a socie- da cultura, em que o álcool é tido dade tenha uma atitude diante do como relevante, do ponto de vista álcool semelhante à que destina às cultural, para integração social”. drogas ilícitas. E já existem medi- Não só os médicos têm essa das que limitam a disponibilidade opinião. Os dirigentes de co- do álcool e do tabaco em estudo munidades terapêuticas ouvidos tanto na subcomissão quanto no pelo Senado apontaram para Senado (leia mais na pág. 76). a emergência que representa o “Precisamos de posicionamen- alcoolismo. tos firmes, não alarmistas, com Representante da Associação todas as substâncias. A sociedade Promocional Oração e Trabalho se perturba com a disponibili- (Apot), o padre Haroldo Rahm dade brutal do crack, que é sur- afirmou que, por sua experiência, preendente. Entretanto, temos “80% dos brasileiros têm proble- 1 milhão de pontos de venda de ma com álcool. Esse é o problema, álcool, mais de 30% deles não não o crack”. Já Célio Luiz Barbo- submetidos a mínimas regras sa- sa, coordenador-geral dos centros nitárias e de tributação. Mas a de Atendimento e Apoio às Fa- sociedade não se perturba com a mílias da Fazenda da Paz, apelou chacina que ocorre nas estradas a aos senadores para que não se es- cada feriado e segue passiva”, la- quecessem do alcoolismo. “Esta- menta Salgado. mos numa pandemia na questão Ainda assim, Waldemir Moka e do crack, mas o pior que vivemos Ana Amélia acreditam que o foco é o álcool. Devemos mudar a no crack tem a função de fazer nomenclatura: álcool, crack e com que a sociedade se mobilize outras drogas”, sugeriu, a exemplo para atacar o problema da depen- do que já acontece no nome da dência química como um todo. Impacto do álcool sobre subcomissão. “O crack, infelizmente, serviu o sistema de saúde e a para que a sociedade acordasse. Previdência Social é maior que Um só problema Com 35 anos de formado, ouço o das substâncias proibidas Por conta dessas informações, colegas apelarem para que faça-

Fe li pe Barra os senadores Waldemir Moka mos alguma coisa. A exacerbação (PMDB-MS) e Lídice da Mata do crack serviu para que o Con- (PSB-BA) consideram que as po- gresso e a sociedade se mobilizas- álcool não estivesse na vida deles. líticas públicas a serem sugeridas sem para enfrentar a dependência Drogas lícitas são porta E quem usa as drogas ilícitas não pela subcomissão devem abranger química”, afirma o senador. abandona as lícitas. Pelo contrá- todas as drogas e não apenas as rio, expande o consumo. A lícita ilícitas, como o crack. Aliás, esse é de entrada para as ilícitas traz a outra de volta no processo o modelo de organização de todas de recaída. O retorno ao uso de as áreas do Executivo envolvidas Nos painéis de discussão pro- pulação havia usado crack nos 12 dado é confirmado por pesquisas qualquer substância capaz de pro- com o problema, seja no Ministé- movidos pela subcomissão do Se- meses anteriores à pesquisa; 2,6% acadêmicas realizadas no Brasil e duzir adição facilita o retorno a rio da Saúde ou da Justiça. nado, especialistas e parlamentares usaram maconha; 0,7%, coca- em outros países. todas as outras”, afirma o médico. Da mesma forma, o senador deixaram claro que não é possível ína; e 49,8%, álcool. O álcool, “Notoriamente, o álcool re- Esses dados são confirmados Wellington Dias considera que discutir a questão do tratamento e portanto, tem um impacto muito presenta a maior preocupação em pelo coordenador de Saúde Men- não é possível desprezar o fato da prevenção do uso do crack, em maior sobre a força de trabalho, relação à drogadição, por uma tal, Álcool e Outras Drogas do de que a grande maioria dos de- particular, e das drogas ilícitas, em a Previdência Social e a saúde questão estatística irrefutável”, Ministério da Saúde, Roberto pendentes químicos começou geral, sem abordar a forma como pública, pelos danos físicos e psi- afirma o vice-presidente do Con- Kinoshita: “O número de pessoas no cigarro ou no álcool. “A gen- a sociedade trata as drogas lícitas, cossociais que causa (leia mais na selho Federal de Medicina, Car- envolvidas e o custo econômico te fechar os olhos para isso é não especialmente o álcool. pág. 73). los Vital Corrêa Lima, que esti- do álcool são infinitamente supe- ir ao problema da forma correta. Isso porque as drogas lícitas, Álcool e tabaco também são as ma que o impacto do álcool e do riores aos do crack. O álcool é a A gente acha natural ter em casa a lho

segundo levantamento de 2005 primeiras drogas experimentadas tabaco sobre o sistema público de porta para outras drogas. Enfren- lugares para guardar bebida e de- v do Centro Brasileiro de Informa- pelos jovens, em geral muito pre- saúde é muito superior aos recur- tar um sem enfrentar o outro não pois se surpreende com as con- ções sobre Drogas Psicotrópicas cocemente e sem limite de doses. sos arrecadados pela tributação leva a lugar algum”. sequências. Considerando que a ulo H . Car (Cebrid), são as mais consumidas Ocorre que, geralmente, o usu- desses produtos. O psiquiatra Carlos Alberto esse consumo é estimulado pela P e com o maior número de depen- ário que se torna dependente do “Trinta por cento dos leitos dos Salgado, presidente da Associação mídia, que o associa a sucesso, ju- Para o senador Waldemir Moka, dentes (veja infográficos nas págs. álcool passa a buscar efeitos mais hospitais são ocupados por indiví- Brasileira de Estudos do Álcool e ventude, beleza, saúde e diversão, ações sugeridas por subcomissão 25 e 28). Se apenas 0,1% da po- intensos nas drogas ilícitas. Esse duos que não estariam ali caso o Outras Drogas (Abead), acredita vislumbra-se o grave risco a que devem abranger todas as drogas

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Cracolândias [na cracolândia], defeca, faz anos (leia mais na pág. 25). Quando a destruição dos la- tudo ali, mas não vai embora”, Esses dados, apesar de ços da pessoa com familiares e resume Célio Luiz Barbosa, ­demonstrarem tendências, de-

amigos se completa, o proble- coordenador-geral dos centros vem estar longe de retratar com Zanone Fraissat ma fica ainda mais visível. Isso de Atendimento e Apoio às Fa- fidelidade o quadro atual, es- Droga já teria chegado porque o dependente de crack mílias da Fazenda da Paz, co- pecialmente com a disponibili- tende a ir para as ruas, onde munidades terapêuticas que se dade cada vez maior, nos últi- se une a outros nas chamadas dedicam à recuperação de de- mos anos, do crack, uma droga cracolândias. Nesses locais, os pendentes. ­relativamente nova. a 1,2% da população usuários compram e consomem “Precisamos de uma foto- imediatamente a droga e sequer Dados desatualizados grafia real, para não corrermos voltam para casa, já que o efei- Apesar desse quadro alar- o risco de continuarmos discu- to é rápido, assim como a com- mante, a subcomissão do Sena- tindo no emocional. É preciso pulsão de ir atrás de outra dose, do, até o início de agosto, ainda ter a dimensão exata para saber Pelo levantamento mais recente, seriam 2,3 milhões chamada "fissura" (leia mais não dispunha de dados preci- onde investir e fortalecer ações de brasileiros. Porém, falta de estatísticas atualizadas nas págs. 14 e 15). sos sobre o consumo da dro- do governo”, declarou Paulina e confiáveis sobre o real universo de pessoas “Quando está usando o cra- ga. Apenas dois levantamentos Duarte, responsável pela di- envolvidas com o crack dificulta a implementação de Apesar de estar presente ck, se a pessoa tiver 100 g, usa abrangendo toda a população vulgação das informações no em todos os extratos os 100 g, se tiver 1 kg, fica brasileira foram feitos até hoje; Observatório Brasileiro de In- políticas efetivas de combate ao consumo sociais, o usuário de o último deles há mais de seis formações sobre Drogas (Obid) crack se caracteriza da Secretaria Nacional de Polí- por ser homem, jovem, expansão do consu- comissão do Senado que “o mo- consumidor de outras mo de crack no Bra- mento exige ação em relação ao drogas, com baixos sil pode ser observa- crack, que nos últimos dois anos níveis socioeconômicos e educacionais, da pela frequência teve um aumento de consumo desempregado ou Acom que se encontram pessoas acentuado”. sem trabalho formal, consumindo a droga nas ruas. Agressões entre pais e filhos, com índices de saúde Além disso, a imprensa a cada roubos e prostituição para fi- piores que a média da dia apresenta histórias de famí- nanciar o vício, entre outros população e com maior lias que vivem o drama de ter episódios de violência, são rela- envolvimento com a alguém viciado na droga. tos comuns onde há dependen- criminalidade. Apesar de faltarem estimati- tes de crack. Ao mesmo tempo, A maior parte inicia vas oficiais recentes, dados pre- a impotência dos usuários e da o consumo de drogas com o álcool e tabaco, liminares apontam que 1,2% família diante da droga – sem precocemente e com da população usa ou já pode ter contar a falta de uma rede de uso pesado, passando usado crack. Ou seja: 2,3 mi- tratamento – também impres- à maconha como lhões de brasileiros, segundo o siona quem se debruça sobre o primeira droga ilícita. Censo de 2010. assunto. Essas características do "Hoje, o crack chega à qua- Ana Amélia cita casos em usuário brasileiro não se totalidade dos municípios que mães desesperadas, sem ter diferem das encontradas e à zona rural", alerta o sena- a quem recorrer e precisando em outros países. dor Wellington Dias (PT-PI). sair para o trabalho, acorrentam A declaração é confirmada seus filhos dentro de casa para não apenas pela experiência do que eles não voltem a consumir ex-​governador do Piauí, mas crack. também por levantamento da “Com o crack, quem usa vai Confederação Nacional dos ser dependente a ponto de co- Municípios (CNM), citado pela meter coisas absurdas contra o senadora Ana Amélia (PP-RS), pai, contra a mãe, contra o ir- que mostra que o crack já é uma mão. É uma loucura mesmo!”, realidade em pelo menos 70% alertou o senador Waldemir dos municípios (leia mais na ­­ Moka (PMDB-MS), que é mé- pág. 25). dico e diz receber cobranças de A secretária nacional de Po- seus colegas de profissão para líticas sobre Drogas, Paulina que seja feito algo urgentemen- Nas cracolândias, viciados Duarte, reconhece que o uso te com o objetivo de barrar a em geral compram e da droga está se alastrando ra- expansão do crack e tratar os consomem imediatamente pidamente. Ela declarou à sub- ­dependentes. a droga. Eles quase nunca deixam o local

22  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao Realidade brasileira ticas sobre Drogas (Senad) do em duas semanas, estaria sen- selho Federal de Medicina Observatório da CNM supre ausência de dados ­Ministério da Justiça. do finalizada a maior pesquisa (CFM), Carlos Vital Corrêa No mesmo tom, o psiquiatra mundial sobre o crack. Promo- Lima, no entanto, já adiantou A falta de dados oficiais sobre com o governo federal no âmbito os municípios tenham que enfren- Esdras Cabus Moreira, tam- vida pela Fundação Oswaldo que o estudo em elaboração no o número de vítimas, o perfil dos do Plano Integrado de Enfrenta- tar, de maneira emergencial, os bém ouvido pela subcomissão Cruz, em parceria com a Uni- Centro Brasileiro de Informa- dependentes, o consumo e a circu- mento ao Crack e Outras Drogas. efeitos do crack, sofrendo com a do Senado, disse que é preci- versidade de Princeton (EUA), ções sobre Drogas Psicotrópicas lação de drogas, além da respon- Em 948 cidades, as prefeituras aju- falta de políticas de prevenção. “É so ter dados para evitar entrar abrangeria 25 mil pessoas, nas (Cebrid), ligado à Universidade sabilização das prefeituras pela im- dam entidades que tratam depen- ali, na porta do prefeito ou da câ- “por um caminho que corres- cidades e na zona rural. Federal de São Paulo (Unifesp), plantação da rede de atendimento, dentes químicos. mara de vereadores que as vítimas ponda mais a uma percepção A pesquisa contou com in- mostra que 1,2% da população levou a Confederação Nacional de O presidente da CNM, Paulo da droga batem em busca de so- desvirtuada e sem bases esta- vestimentos de R$ 7 milhões já teve contato com o crack. Municípios (CNM) a reunir, jun- Ziulkoski, lamenta que, na prática, corro”, diz a senadora Ana Amélia. tísticas, criando uma situação do Plano Integrado de Enfren- Corrêa Lima apresentou ou- to às prefeituras, dados para que, ao invés de melhorar, cau- tamento ao Crack e Outras tra projeção, da Universidade implantar, em abril passado, o se mais distorções e mais sofri- Drogas [leia mais na pág. 53]. Federal do Rio de Janeiro, mais ­Observatório do Crack (www. mento às pessoas que utilizam Porém, quatro meses depois, conservadora, pela qual haveria cnm.org.br/crack). essas substâncias”. os dados ainda não haviam sido 1,2 milhão de usuários de crack Nele, estão disponíveis dados Paulina chegou a anunciar trazidos a público. e que a idade média para início da pesquisa Mapeamento do no Senado, em 14 de abril, que, O vice-presidente do Con- do uso seria de 13 anos. Crack nos Municípios Brasilei- ros, realizada em novembro de 2010, quando 98% das 3.950 prefeituras que forneceram da- dos registraram problemas com Destino de muitos, morte drogas em seus municípios. d o Cra c k R e p ro du ção est ud o Ob servatório Em 1.902 municípios violenta não é inevitável (48,2%) são realizadas cam- panhas contra o crack e outras Enquanto nos países desen- O médico informa que o es- função e quebra social intensas, drogas. Porém, somente 134 volvidos as mortes de usuários tudo afasta a conclusão de que o consumo do crack, às vezes, (3,39%) já tinham convênio de crack ocorrem por overdose o usuário está fadado à morte. pode ser menos compulsivo, de- ou complicações cardiovascu- “[Esse trabalho] retira a crença sastroso. Há uma normalização lares causadas pela cocaína, no de que usou, morreu”, conclui. na vida de pessoas que usam a Brasil a principal causa de morte Observação semelhante vem droga há mais de dez anos. É um é o homicídio. do psiquiatra Esdras Cabus Mo- dado contrário à ideia de que se Um estudo que acompanhou reira, que entrevistou pacientes utiliza o crack até a morte, ou até Tendência é de aumento 131 usuários revelou que 23 de- com 8 a 11 anos de uso. “Apesar a completa negação das capaci- les (18,5%) morreram ao final de ser uma droga que gera dis- dades cognitivas”, afirmou. de cinco anos – 13 foram do consumo, diz estudo assassinados, seis morreram de Aids e dois de overdose. Enquanto novas informações Levantamento Domiciliar sobre No período entre as duas Os demais, de hepatite e não são divulgadas, a subco- o Uso de Drogas Psicotrópicas no pesquisas, o percentual dos que afogamento. missão do Senado tem à dispo- Brasil, realizadas pelo Cebrid já haviam experimentado cra- Segundo o médico Ricar- sição os dados de 2001 e 2005 com cerca de 8 mil pessoas de ck passou de 0,4% para 0,7% do Paiva, coordenador-​geral das duas primeiras edições do 12 a 65 anos de idade. (veja infográfico abaixo). do 1º Fórum Nacional sobre Aspectos Médicos e Sociais Relacionados ao Uso do Crack e diretor do Conse- Número de usuários de crack quase dobra em quatro anos. Merla estacionou lho Regional de Medicina de Aumentou número dos que admitem ter usado drogas pelo menos uma vez. Três quartos dos brasileiros já consumiram álcool , 85% das mor- Álcool Tabaco 1 2 3 4 tes violentas acontecem por 100% Maconha Solventes Medicamentos Cocaína Estimulantes Opiáceos Alucinógenos Crack Merla 10% conta de dívidas do usuário, 90% 9% 8,8 especialmente com os for- 74,6 80% 8% necedores da droga ou com 68,7 70% outros usuários. 7% 6,9 6,8 60% 6,1 A essa informação, disse 6% 5,8 50% 44,0 Paiva, segundo trabalho do 41,1 5% 4,9 40% Ministério da Saúde, da Fun- 4% dação Oswaldo Cruz e da 30% 3,2 3% 2,9 Unifesp, junta-se prognósti- 20% 2,3 2% 1,5 1,5 Mar c ello Casal Jr 10% co sombrio para os usuários: 1,4 1,1 1% 0,7 um terço deles morre, outro 0% 0,6 0,4 Ação policial em favela do Rio de 2001 2005 2001 2005 0,2 0,2 0% terço convive com a droga e Janeiro: violência é causa da morte de 2001 2005 2001 2005 2001 2005 2001 2005 2001 2005 2001 2005 2001 2005 2001 2005 2001 2005 o terço restante se cura. usuários endividados com traficantes 1. Loló, cola de sapateiro, lança-perfume; 2. Ansiolítico, sonífero; 3. Ecstasy; 4. Morfina, heroína Fonte: Relatório Brasileiro sobre Drogas, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2009

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pesquisas, a região Norte se Aumento de consumo é maior entre os homens destaca (0,8%), seguida pelo Sul, Sudeste e Nordeste têm forte aumento de usuários entre 2001 e 2005 Centro-Oeste (veja infográfico na abaixo). Uso pelo menos uma vez na vida, por sexo: No que diz respeito a gê- Crack Merla nero, os homens são os que 1,5% mais consomem crack (leia mais na pág. 29). Se a média Mulher nacional no levantamento de 0,7% 0,6% 2001 foi de 0,4%, os homens Homem 0,3% tinham 0,7% de prevalência, 0,2% 0,2% 0,1% 0,0% enquanto as mulheres, 0,2%. 2001 2005 2001 2005 2001 2005 2001 2005 Em 2005, enquanto o percen- tual de usuárias de crack per- Percentual de uso por faixa etária: maneceu estável, o de homens foi a 1,5%, elevando a média 17% nacional para 0,7% (veja info- 12-17 anos 56% gráfico ao lado). 33% 11% 11% Finalmente, os estudos Crack 18-24 anos Merla mostram que 72% dos que já 25-34 anos usaram o crack se concentram 39% 33% na faixa etária entre 18 e 34 35 anos ou mais anos de idade. Entre 25 e 35 anos de idade, 1,6% dos entre- Fonte: 1º e IIº levantamentos domiciliares sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil. Senad e Cebrid, 2001 e 2005 vistados registraram já ter tido

pelo menos uma experiência Ad e m ir R i b eiro com a droga (veja infográfico A tendência de aumento do quantidade relativa de usuários: ao lado), contabilizando 39% Estudantes são grande parte dos participantes das “Marchas da Maconha”, como a realizada em Vitória, em maio passado consumo, aliás, foi registrada 1,1% das pessoas entrevistadas dos que já haviam usado crack para praticamente todos os ti- na região relatam já ter tido ex- pelo menos uma vez na vida. pos de drogas, especialmente as periência com o crack. O mais preocupante, porém, de maior consumo, grupo em As pesquisas também apon- são registros de usuários a partir Universitários têm consumo que estão álcool, tabaco, maco- tam o percentual de usuários de 12 anos de idade. Na faixa até nha e cocaína. de merla. Enquanto a média os 17 anos estão 17% dos que já mais intenso e frequente A região Sul tem a maior nacional foi de 0,2% nas duas tinham experimentado a droga. O comportamento dos gas entre Universitários das dia nacional foi de 0,7% em jovens, faixa etária em que 27 Capitais Brasileiras – que 2005 (apesar de dados pre- o consumo de drogas é mais confirma que “os estudantes liminares do novo estudo já Em 4 anos, uso de crack teve forte aumento no Sul, Sudeste e Nordeste comum, recebe atenção es- universitários apresentam extrapolarem esse número). Em 2001 e 2005, merla era mais comum no Norte e no Centro-Oeste, mas com tendência de queda no número de usuários pecial das autoridades pú- consumo de drogas mais in- Entre os universitários do blicas no Brasil e no mundo. tenso e frequente do que ou- sexo masculino, 2,1% infor- Estudos demonstram ain- tras parcelas da população”. maram já terem usado crack­ Nordeste da que, quanto mais cedo a O percentual de jovens alguma vez na vida. O uso Norte Crack Merla pessoa começa a usar dro- universitários que conso- entre os estudantes de nível Crack 2001 0,4% 2001 0,1% gas, maior a tendência para mem drogas tende a ser até superior também é acima 2001 0,2% 2005 0,7% 2005 0,2% desenvolver dependência e duas vezes maior que o da- da média nacional nas re- 2005 0,0% piores as consequências para queles que não estão no en- giões Sul (1,4%) e Sudeste Merla sua saúde física e mental. sino superior. A pesquisa (1,5%). 2001 1,0% “A ideia é impedir a ini- aponta que 48,7% dos es- Sudeste ciação precoce, seja qual for tudantes de ensino superior Rede pública 2005 0,8% Crack Merla a droga”, afirmou à subco- usaram alguma droga ilícita Em 2004, a Senad pa- 2001 0,4% 2001 0,1% missão do Senado o psiquia- na vida (52,8% entre os ho- trocinou o 5º Levantamento 2005 2005 Centro-Oeste 0,9% 0,1% tra Esdras Cabus Moreira, mens), enquanto, na popu- Nacional sobre o Consumo do Centro de Estudos e Te- lação brasileira, o índice é de Drogas Psicotrópicas entre Crack Merla rapias do Abuso de Drogas de 22,8%, segundo levan- Estudantes do Ensino Funda- 2001 0,4% 2001 0,8% Sul (Cetad) da Universidade Fe- tamento geral realizado em mental e Médio da Rede Pú- 2005 2005 0,3% 0,3% Crack Merla deral da Bahia. 2005. blica de Ensino nas 27 Capi- 2001 0,5% 2001 0,1% A Senad divulgou em de- No que diz respeito ao tais Brasileiras, que entrevis- 2005 1,1% 2005 0,2% zembro de 2010 uma pes- crack, o percentual entre tou quase 50 mil alunos, a quisa – 1º Levantamento universitários que já teve maioria (71,6%) cursando o Nacional sobre o Uso de Ál- ­experiência com a droga é ensino fundamental. Os da- Fonte: Iº e I1º Levantamentos Domiciliares sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil. Senad e Cebrid, 2001 e 2005 cool, Tabaco e Outras Dro- de 1,2%, enquanto a mé- dos preocupam ainda mais,

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já que os alunos que revelaram da que o primeiro uso do crack o uso de drogas registram maior acontece quando o estudan- Homens são maioria, mas defasagem escolar. te tem menos de 14 anos. Mais Mesmo se tratando de crian- uma vez, os meninos (1,1%) consumo feminino preocupa ças e adolescentes (mais de um superam as meninas (0,4%) na terço dos consultados tinham frequência de uso. Todos os estudos analisados entre 13 e 15 anos), o levanta- Na faixa etária de 10 a 12 têm um aspecto em comum: mento já encontrou 0,7% de es- anos de idade já se observou uso o uso de crack, cocaína e ál- S e c o m -M T tudantes com pelo menos uma de drogas pelo menos uma vez cool, entre outras substâncias, experiência com o crack na vida. na vida por 12,7% dos estudan- é muito superior entre os ho- O percentual se repete quando tes, sendo que 0,2% nessa faixa mens. Pesquisadores apontam os alunos são perguntados se isso etária já tinha usado ­crack. que o consumo de drogas é um aconteceu nos 12 meses anterio- Obs.: Esses e outros estudos, in- fator de interação e afirmação res à pesquisa. Desse total, 0,5% clusive com a população indígena, social para o sexo masculino. tinha usado a droga no mês em podem ser encontrados no site da De acordo com o psiquiatra que fora entrevistado.­ Senad na internet (www.senado. Aloísio Antônio Andrade de O levantamento revelou ain- gov.br). Freitas, presidente do Conse- lho de Políticas sobre Drogas Levantamento indicou que 48,7% dos do estado de Minas Gerais, estudantes de ensino superior usaram as mulheres têm mais reações alguma droga ilícita na vida negativas quando usam subs- tâncias como cocaína e álcool, ficam deprimidas, passam mal ou ficam com sono. Essa into- Universitários são parcela da população que mais consome drogas lerância é considerada um fator de proteção natural. “Daí o Entre estudantes dos ensinos fundamental e médio, mais jovens, o número de usuários precoces é o que mais preocupa número de mulheres usuárias, 86,2% proporcionalmente, ser signi- ficativamente menor que o de homens”, analisa. 80% Ainda assim, os especialis- Usuária de drogas grávida tas não subestimam o uso de pode ter aborto drogas entre as mulheres, que, espontâneo, parto prematuro 70% relativamente, procuram mais tranquilizantes e remédios e malformações, 65,2% inclusive controladores da ansiedade, neurológicas, como as anfetaminas (inibi- do feto 60% dores de apetite). Diferente- mente dos homens, estudos demonstram que elas buscam 50% as drogas com o objetivo de di- 46,7% minuir sua insatisfação com a A prioridade se explica por- vida que levam. que, além dos riscos à saúde re- Quando a mulher se torna gistrados pelo usuário comum, 40% dependente química, porém, a grávida pode ter aborto es- Freitas identifica que o trata- pontâneo, parto prematuro e mento, em geral, é mais difícil malformações, inclusive neu- 30% que o do homem, “porque os rológicas, do feto. Declararam ter usado pelo menos uma vez: 24,9% 26,1% mecanismos de proteção foram Já o senador Wellington estudantes do ensino fundamental e médio vencidos e não funcionaram”. Dias relata que traficantes pre- 20,4% 20% estudantes do ensino superior O médico Carlos Alberto sos revelaram a ele, em Alvo- 15,5% 15,3% Salgado, que cuidou de uma rada do Gurguéia (PI), que o unidade para dependentes quí- objetivo é viciar mulheres no micos do Hospital Presidente crack, porque, dependentes, 8,6% 10% 7,7% 7,6% 7,5% Vargas, de Porto Alegre, uma elas se transformam em “uma 5,9% 5,7% das cidades com maior registro arma para aumentar a rede de 2,0% 0,6% 0,3% 0,7%1,2% 0,8% de usuários de crack do país, clientes”. “Eles organizavam 0% informou que lá a demanda festas, elas participavam e, pela J. Freitas Álcool Produtos Maconha Solventes¹ Medicamentos² Cocaína Alucinógenos Ecstasy* Opiáceos³ Crack Merla* da droga aumentou a ponto de necessidade, ofereciam o corpo de tabaco Aloísio Freitas, do Conselho de ser necessário designar leitos em troca de o parceiro experi- *Dados não disponíveis para ensino fundamental e médio. 1. Loló, cola de sapateiro, lança-perfume; 2. Ansiolítico, sonífero; 3. Morfina, heroína Políticas sobre Drogas de Minas Fontes: Senad/Cebrid/ V Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública de Ensino nas 27 Capitais Brasileiras, 2004 Gerais: mulheres têm reações exclusivos para mulheres grávi- mentar uma droga que rapida- I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras, 2010 mais negativas ao uso de drogas das dependentes. mente vicia”, narrou o senador.

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Droga legal, álcool é vendido a ­necessidade de enfrentar a de- “Segundo a ONU, a droga livremente no país: 16% dos pendência química”, pondera o cuja incidência mais aumen- Percepção do risco do crack supera adolescentes dizem beber em grandes quantidades senador Waldemir Moka. tou nos países ricos foram os o do álcool e o da maconha O médico Ricardo Paiva en- estimulantes do sistema ner- tende que é importante abordar voso central [ecstasy e anfeta- Uso do crack, mesmo que apenas o crack de maneira específica. minas], diz". uma vez na vida, é considerado risco grave por mais de três quartos dos brasileiros. Ingerir álcool, no entanto, para a maioria, é menos arriscado 0% Alarmismo só que fumar maconha

Beber de um a dois drinks Feli p e Barra atrapalha, alertam por semana 20,8% os especialistas

Enquanto a percepção do seminar como se fosse aumento do consumo de crack uma praga, uma epide- Usar maconha uma ou está estampada na imprensa, mia. Ela vai encontrar duas vezes na vida 48,1% Álcool é problema muito médicos que compareceram à formas de uso que têm 50% subcomissão do Senado pon- a ver com situações de deraram que não se deve ter percepção de risco, com mais grave, dizem médicos atitude alarmista diante do outras questões de vul- crescimento do uso da droga. nerabilidades sociais Usar cocaina/crack uma ou duas vezes na vida Chamados ao Senado para fa- cupação em relação à drogadição, “Como Bebem os Adolescentes Mais que isso, com base em da- relacionadas”, explicou 77,1% lar sobre problemas com drogas, por uma questão estatística irre- Brasileiros” – concluiu que 24% dos sobre o consumo do crack Esdras. especialmente o crack, médicos futável”, reforçou o vice-presiden- dos adolescentes bebem pelo me- em outros países, eles sugerem Também os médicos e psiquiatras, além de todos os te do CFM, Carlos Vital Corrêa nos uma vez por mês, sendo que que pode haver estabilização do Roberto Kinoshita e Beber diariamente 93,5% representantes das comunidades Lima. 10%, em quantidades considera- ­número de usuários no Brasil. Carlos Alberto Salgado terapêuticas, foram unânimes em “Acho que pedagogia é adotar das ­“arriscadas”. Mais que isso, O psiquiatra Esdras Cabus repetiram à subcomis- Usar maconha diariamente 94,6% alertar que o grande peso para a a mesma atitude diante da subs- 13% dos adolescentes apresen- Moreira citou estudo da Uni- são que um alarmismo Usar cocaína/crack diariamente saúde pública é a dependência de tância predominante dos adultos tam intenso consumo de álcool versidade Johns Hopkins (EUA) com relação ao crack 98,8% 100% álcool. [álcool]”, sugere o psiquiatra Car- (índice que chega a 17% entre os mostrando que as curvas de uso pode prejudicar a con- “Embora ainda não tenhamos los Alberto Salgado. Ele considera ­meninos). de crack e cocaína nos Estados cepção de políticas pú- Fonte: II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas dados confiáveis sobre o crack, o um paradoxo a sociedade brasilei- Outra pesquisa, Vigilância de Unidos vêm declinando, com blicas para combater a no Brasil, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2005 aumento da visibilidade não cor- ra se indignar tanto com a presen- Fatores de Risco e Proteção para tendência a se estabilizar, mes- droga e, principalmen- responde à magnitude do proble- ça e a disponibilidade brutal do Doenças Crônicas por Inquérito mo sem que se tivesse encon- te, tratar a dependência relação grande com a violên- ma. Os problemas relacionados crack e ter uma atitude permissi- Telefônico, do Ministério da Saú- trado uma estratégia eficaz de química de uma forma geral. cia. Mas as estatísticas de crime ao álcool são, de longe, muito va com relação ao álcool. Salga- de, de abril de 2011, mostra que ­prevenção ou de tratamento. de violência de crack e cocaína mais significativos. O número de do lembra que, além dos danos o percentual da população adulta Moreira afirma ainda que Medidas adequadas não mostravam diferenças tão pessoas envolvidas e o custo eco- causados ao organismo, o álcool que consumiu álcool em excesso outro estudo americano reve- Como exemplo de alarmis- grandes que justificassem que o nômico em relação ao álcool são é responsável por grandes prejuí- nos 30 dias anteriores à pesquisa lou que a expansão do consu- mo, Esdras citou a lei aprova- porte de 100 g de cocaína e de infinitamente superiores aos do zos à sociedade, como no caso dos passou de 16,2%, em 2006, para mo de uma droga tem relação da pelo Congresso americano 1 g de crack levassem à mesma crack”, afir- milhares de acidentes e vítimas 18% em 2010 (26,8% dos ho- com a percepção de risco dos durante a expansão do crack no pena”, analisou Esdras. mou o psi- fatais, causados por motoristas mens e 10,6% das mulheres). usuários. Segundo o psiquiatra, país. Lá, os parlamentares foram Roberto Kinoshita acha que

J. Freitas quiatra Ro- bêbados, principalmente nos fe- cada vez mais os estudantes dos informados que a droga era mais apenas com evidências científi- berto Ki- riados nas estradas brasileiras. Despertador EUA acreditam que a maco- danosa e trazia mais violência e cas os agentes públicos terão a noshita, co- As afirmações se sustentam em Ainda assim, senadores e mé- nha, por conta de seu uso me- crime que a cocaína e, então, firmeza necessária para dimen- ordenador todos os levantamentos realiza- dicos acreditam que a dissemina- dicinal, é pouco perigosa. “Isso endureceram as leis para punir sionar e enfrentar a questão da área de dos, que apontam o álcool como a ção do crack serve para que haja corresponde a um aumento do usuários. A partir daí, se uma com medidas apropriadas. Para Saúde Men- droga mais consumida. Em 2007, uma mobilização maior com consumo”, afirmou Esdras. pessoa fosse flagrada com 5 g de ele, é importante “não minimi- tal, Álcool Senad e Unifesp fizeram o 1º Le- ­relação à dependência química. Porém, com relação ao crack, crack e outra com 500 g de coca- zar, mas não alarmar e gerar e Outra s vantamento Nacional sobre os Pa- “O crack, infelizmente, serviu até mesmo os usuários pensam ína, as duas, apesar de o princí- pânico e medo”. Drogas do drões de Consumo de Álcool na Po- para que a sociedade acordas- se tratar de uma droga arriscada, pio ativo ser o mesmo, ficariam “Uma sociedade que vive Ministério pulação, segundo o qual a primei- se. Com 35 anos de formado, “de mendigo", que traz graves sujeitas a sentença semelhante. com medo, insegurança, senti- da ­Saúde. ra experiência com álcool ocorre ouço colegas me dizerem 'Vo- prejuízos. Essa percepção com “Isso gerou crescimento mento de impotência, corre ris- “Noto- antes dos 14 anos. Cerca de 16% cês têm que fazer alguma coi- relação ao crack foi confirma- enorme de pessoas presas no sis- co. Acuada, tende a abdicar de r ia mente, dos adolescentes entrevistados re- sa!'. A exacerbação serviu para da pela pesquisa nacional sobre tema penal americano e gerou direitos por soluções de força, Salgado: “Nos incomodamos com o crack, mas há 1 milhão de o álcool re- lataram beber pesado, o que au- que o Congresso e a sociedade drogas realizada em 2005 (veja disparidade racial grande nas de menos civilidade. Esse talvez pontos de venda de álcool, droga presenta a menta riscos sociais e de saúde. se mobilizassem para enfrentar o infográfico ao lado). prisões. Pelo alarde da mídia, seja o maior risco que esse fenô- cujo uso é até incentivado” maior preo- Um dos capítulos do estudo – crack­ . A gente tem que entender “Essa droga não vai se dis- pensava-se que o crack tinha meno traz”, analisa Kinoshita.

30  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  31 Tratamento Reabilitação desafia a sociedade

Complexidade na maneira de tratar a dependência, que atinge todos os aspectos da saúde e da vida do paciente, é uma das dificuldades enfrentadas em todo o mundo. No Brasil, problema é agravado em função da precariedade da rede de saúde e da falta de profissionais qualificados

ada vez mais, governos e pela sociedade. “No caso das Parte da explicação se deve ao e sociedades em todo o drogas, o primeiro mal que de- país estar atravessando uma fase mundo concluem que vemos evitar é proclamar que de transição para um novo mo- a prioridade é desinto- temos alguma arma melhor do delo de tratamento, inaugurado Cxicar, tratar e auxiliar os depen- que as outras, vender ilusões. Há com a reforma psiquiátrica de dentes químicos a voltarem ao décadas, se estudam e se buscam 2001 (leia mais na pág. 43). convívio social. tratamentos eficazes. E, hoje, a Os médicos, no entanto, acu- Entretanto, além das dificul- eficácia de inúmeras abordagens sam a desarticulação do modelo dades de recuperação dos depen- é muito questionável”, afirma Ro- anterior, sem que nada seja ofe- dentes químicos, especialmente berto Kinoshita, coordenador de recido em seu lugar. De acordo aqueles viciados em crack, o Bra- Saúde Mental, Álcool e Outras com parâmetros da Organização sil convive hoje com uma rede Drogas do Ministério da Saúde. Mundial de Saúde (OMS), o Bra- de tratamento pequena e pre- Como o vício atinge todos os sil oferece 0,34% dos leitos que cária e com profissionais pouco aspectos da saúde e da vida do seriam necessários para sua popu- qualificados.­ dependente, a psiquiatra Alessan- lação. A complexidade do tratamento dra Diehl e seus colegas da Uni- Outro problema detectado é a da dependência, doença crônica versidade Federal de São Paulo falta de preparo dos médicos para e grave, foi resumida no depoi- (Unifesp) enfatizam que “o pa- lidar com o dependente químico. mento de Célio Luiz Barbosa, ciente apresentará necessidades Para suprir essa carência, as coordenador-geral dos Centros de múltiplas e o tratamento deve comunidades terapêuticas, insti- Atendimento às Famílias da Fa- ser preparado para oferecer um tuições privadas disseminadas por zenda da Paz na subcomissão do amplo conjunto de intervenções todo o mundo que oferecem tra- Senado. ­personalizadas”. tamento especialmente a depen- “Tratar a dependência química dentes químicos, estão abrigando não é apenas curar os efeitos que Tratamento indisponível a maior parte dos pacientes em as drogas causam no indivíduo, é Às dificuldades do tratamento tratamento. reorganizar o indivíduo por com- em si, intensificadas muitas vezes O problema, nesse caso, é a pleto”, afirma. pela falta de apoio de famílias de- falta de regulamentação dessa O problema é agravado pela sarticuladas, soma-se um sistema atividade e, também, de apoio efetividade limitada das aborda- público de saúde particularmente público às entidades que reali- gens de tratamento para depen- desaparelhado para tratar a de- zam um trabalho em acordo com dência de cocaína e crack discu- pendência química e as doenças as ­mínimas diretrizes e padrões tidas pela comunidade científica mentais. ­legais. ilustração: diego Jimenez

32  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  33 Tratamento Recuperação envolve do médico ao juiz Desintoxicar o dependente por parte de quem aplica o trata- no sentido de reduzir os danos a generalizado entre dependentes químico é apenas parte do tra- mento. O atendimento ao usuário que está sujeito o usuário, mas é de crack ou cocaína. A equipe tamento. Além de depender da exige habilidade e disponibilidade uma contribuição modesta. Um da Unifesp observa que o álco- vontade do paciente, o uso de emocional dos profissionais en- sólido sistema de apoio médico, ol é um dos maiores obstáculos medicamentos, isolado, pouco volvidos, o que demanda gran- psiquiátrico, social, familiar e ao tratamento, por reduzir a ca- consegue ajudar uma pessoa com- des investimentos, inclusive em psicológico­ é essencial”. pacidade crítica e a motivação e pletamente desorganizada, desde treinamento. Os médicos confirmam que por levar o usuário a estados de seus cuidados básicos de higiene Essa necessidade é agravada não existe medicação para redu- impulsividade e euforia, o que até suas relações sociais e laços ainda pelas recaídas, muito co- zir o desejo por crack ou cocaína. ­aumenta o risco de recaída. afetivos. muns, por outras doenças asso- Por isso, dizem que não se pode Além disso, qualquer medica- Daí o consenso de que é ne- ciadas, por problemas afetivos e passar às famílias e dependentes mento pode oferecer risco se não Debate na subcomissão do cessária uma abordagem multi- com a lei. E o tratamento dessas a ideia de que, sozinhos, medica- for considerada a interação com o Senado mostrou necessidade disciplinar para que o tratamento questões é tão importante quanto mentos vão resolver o problema. álcool, as recaídas, os efeitos co- de abordagem multidisciplinar seja eficaz. Desintoxicação, psico- livrar o dependente do abuso das Isso sem contar que, a cada passo laterais e o uso dos remédios em para o sucesso do tratamento

terapia, terapia ocupacional e as- drogas. da medicina, o mercado de dro- tentativas de suicídio. José Cruz sistência social são apenas partes Segundo o psiquiatra e consul- gas ilícitas diversifica seus produ- Para tornar o quadro ainda do tratamento. E há ainda quem tor da Secretaria Nacional de Po- tos, deixando os cientistas para mais complexo, estudos relatam defenda um componente religioso líticas sobre Drogas, José Manoel trás. que o uso de cocaína e crack pode nessa recuperação do indivíduo. Bertolote, “o sucesso de qualquer Os psiquiatras da Unifesp Ha- desencadear psicose, depressão O que não deve ser feito Porém, em regra, essas aborda- tratamento para dependência mer Alves, Marcelo Ribeiro e Da- e esquizofrenia, entre outras do- gens ainda estão completamente química passa pela vontade do niel de Castro recomendam ainda enças psiquiátricas. Para que o Se ainda há muito a aprender ou comunidades como Narcó- desarticuladas no Brasil. usuário de se manter afastado que o tratamento leve em conta tratamento tenha sucesso, o diag- sobre como tratar o dependen- ticos Anônimos e Alcoólicos Além da articulação, há ne- da droga”. Ele lembra ainda que o uso concomitante de outras nóstico deve ser o mais exato pos- te químico, psiquiatras da Unifesp Anônimos. Além de acompanhar cessidade de grande dedicação “a desintoxicação tem seu papel, drogas, especialmente do álcool, sível para que essas doenças sejam têm claro o que não funciona: o dependente, elas ainda têm tratadas com remédios especí- • Deixar de investigar e tratar to- custo zero. ficos, tradicionais e de eficácia das as dependências além do • Dispensar o uso de equipe mul- comprovada. crack ou cocaína. tiprofissional, já que, em geral, • Excluir o tratamento psiquiátrico um só profissional não consegue Vacinas só daqui a dez anos e para metade dos casos Caso a caso ao optar por terapias alterna- atender a todas as demandas do A estratégia de tratamento tivas. Acupuntura, técnicas de paciente, desde deixar de usar Um laboratório dos Estados Uni- Pesquisadores das escolas de me- diências públicas no Senado, no deve ser definida para cada usu- relaxamento e medicina oriental a droga até se reorganizar por dos (Immunologic Pharmacological dicina da Universidade de Yale e do entanto, apontaram que as vacinas ário, de acordo com sua idade, podem melhorar a qualidade de completo. Corporation) desenvolve desde 1996 Baylor College observaram que ape- exigirão entre cinco e dez anos para sexo e formação, e sua realidade vida, mas não tratam o vício. • Deixar de levar em conta as re- uma vacina contra a cocaína. Em nas 38% dos pacientes vacinados serem oferecidas no mercado. sócio-econômica. Ainda assim, • Propor a substituição do cra- caídas, que podem acontecer 2009, a pesquisa entrou na terceira produziram anticorpos suficientes Esdras Moreira, coordenador do essa estratégia deve estar sempre ck ou cocaína por maconha várias vezes antes de uma recu- e última fase, a experimentação em para bloquear os efeitos da droga. Núcleo de Estudos e Pesquisas do sujeita a revisões. Os médicos es- – além dos prejuízos causados peração definitiva. O tratamento humanos. A vacina é composta por Mas a eficácia da vacina não per- Centro de Estudos e Terapias do timam ser necessários entre seis pela maconha, isso manterá o e a prescrição de medicamentos cocaína, ácido carbônico e toxina da sistiu por mais de dois meses. “Um Abuso de Drogas, da Bahia, é céti- e 12 meses de tratamento, que dependente em contato com o não podem causar danos ainda cólera asiática. ótimo tratamento necessitaria, sem co quanto à eficácia da vacina: “O pode chegar a mais de três anos. ambiente das drogas. maiores caso o dependente volte No corpo humano, a vacina aju- dúvida, de vacinações repetidas para que um usuário que não queira parar Internações são consideradas im- • Dispensar o suporte de grupos a usar a droga da a formar anticorpos, que passam manter o nível de anticorpos ade- de usar vai fazer se você utilizar a prescindíveis nos casos em que a combater a cocaína. Assim, blo- quado”, afirmam os autores. vacina nele? Ele vai tentar burlar a o paciente for um risco para si queiam a passagem da cocaína para Em outra pesquisa, financia- vacina na forma como utiliza a subs- ­mesmo e para os outros. o cérebro, impedindo-o de produzir a da pelo Instituto Nacional sobre tância e aí os anticorpos não vão ser A família e os amigos são fun- euforia que os usuários buscam (veja Abuso de Drogas (Nida) dos EUA, necessários”. damentais para que os dependen- M oreira ariz infográfico na pág. 14). cientistas de Weill Cornell combina- Bo Mathiasen, representante tes se mantenham motivados e ram pedaços de um vírus causador do Escritório Contra Drogas e Cri- compromissados com o tratamen- do resfriado e partículas que imi- mes, da Organização das Nações to recebido. No entanto, informa

O pesquisador J. Freitas tam a cocaína. Assim, criaram um Unidas (Unodc), faz questiona- a psiquiatra Gilda Pulcherio, “a Esdras Moreira composto que induz o sistema imu- mentos de natureza ética: “Como levanta dúvidas maioria dos estudos confirma que sobre a eficácia nológico a destruir a droga antes que seria trabalhada a questão do o universo familiar dessa popu- da iniciativa ela alcance o centro de prazer do consentimento? Pode haver uma lação é frequentemente disfun- cérebro. obrigatoriedade legal de vacinação cional”. Assim, muitas vezes o de indivíduos considerados em situa- tratamento deve incluir também Grupo Alcoólicos Anônimos Alvorada, de Brasília, se reúne toda semana como passo para evitar recaídas Alerta ção de maior risco? E quem definiria apoio psicológico para a família Os participantes do ciclo de au- essas situações?”­ do ­dependente.

34 agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  35 Tratamento

ocorreu em toda a história da Benefícios garantidos humanidade. HIV Presença de HIV entre usuários de drogas injetáveis: Entre os maiores danos está a infecção por HIV, à Em países com políticas de redução de danos consistentes qual os usuários de crack são especialmente vulneráveis, Reino Unido além de a outras doenças Suiça transmitidas sexualmente, por Alemanha conta das práticas sexuais sem proteção associadas ao núme- Austrália ro elevado de parceiros, troca % 0 10 20 30 40 de sexo por dinheiro ou por droga, baixo nível de instru- ção dos consumidores, depen- Em países com estratégias parciais de redução de danos ou em fase tardia da epidemia dência concomitante de ou- tras drogas e baixa imunidade EUA dos usuários. Portugal Bo Mathiasen, represen- tante do Escritório Sobre Malásia Drogas e Crimes, da Orga- França nização das Nações Unidas (Unodc), afirma que, na dé- % 0 10 20 30 40 cada de 1990, estudo reali- zado em Nova York eviden- Em países que não implantaram quaisquer políticas B a gé ciou que, entre as mulheres de redução de danos usuárias de crack, 21% eram Tailândia Distribuição de preservativos soropositivas. Outro estudo, em Bagé (RS): evitar DSTs é também dos anos 1990, feito Rússia objetivo da política de reduzir em Houston (EUA), mostrou

riscos para os dependentes M ac h ado /Pr e f ei t u r a altas taxas de infecções sexu- % 0 10 20 30 40

L e k o almente transmitidas entre as Fonte: Report of the Global Comission on Drug Policy, 2011 dependentes da droga: 11,3% de Redução de Danos e Di- positivas para HIV; 14,9%, reitos Humanos (Reduc) e para sífilis; e 53,3%, para he- Brasil adota redução de danos, a Associação Brasileira de patite B. No Brasil, segundo Redutores de Danos (Aborda) Mathiasen, estudo publicado mas não há consenso partem do princípio de que em 2004 revelou uma pre- não é possível livrar o mun- valência de 20% para o HIV Ao contrário do tratamento abordagem “leva em conside- o Ministério da Saúde afirma do das drogas, fato que nunca entre as dependentes de crack. por desintoxicação, as inicia- ração a complexidade do fenô- que “a abstinência não pode ser tivas de redução de danos não meno, a diversidade dos usos o único objetivo a ser alcança- exigem que o dependente deixe e as particularidades culturais do. As práticas de saúde devem de consumir drogas. A ideia é dos usuários, possibilitando acolher, sem julgamento e para diminuir os prejuízos causa- uma melhor compreensão da cada usuário, o que é possível, Estratégia inclui ações polêmicas dos pela dependência, tanto hierarquia de riscos”. o que é necessário, o que está para o usuário quanto para a A primeira menção à redu- sendo demandado, o que pode • fornecimento de preservativos, serin- dependente com o traficante, reduzir sociedade. Entre os riscos a se- ção de danos registrada foi o ser ofertado, o que deve ser gas, cachimbos descartáveis etc., para a demanda, garantir que não sejam rem minorados estão: suicídio, Relatório Rolleston, de 1926. feito”.­ evitar a transmissão de doenças e as consumidas substâncias ainda overdose, acidentes, prejuízos O documento, assinado por Mesmo oficializada, a re- queimaduras na boca e mãos do de- mais tóxicas e retirar o caráter cerebrais irreversíveis e doen- vários médicos ingleses, de- dução de danos está longe pendente de proibição da droga, que ças transmissíveis, como Aids e fendia que a administração da de conquistar consenso no • substituição da cocaína ou crack pela serve como atrativo, es- ­hepatite. droga e o monitoramento do Brasil. Um dos maiores obs- maconha, para evitar danos cerebrais pecialmente para os mais jovens Para Aloísio Andrade de seu uso feitos pelo médico – à táculos à sua implantação é o mais graves (essa é uma opção muito Freitas, presidente do Conselho época em teste na Europa – entendimento de que ela in- criticada pelos médicos, que discor- Obs.: como o uso do crack é re­cente Estadual de Políticas sobre Dro- eram a melhor maneira de tra- centivaria o consumo de dro- dam da substituição de uma droga por se comparado a outros entorpe- gas de Minas Gerais, “a redução tar dependentes de morfina ou gas, com gastos desnecessários, outra – leia mais na pág. 11) centes, faltam dados para que os • criação de locais monitorados para o especialistas avaliem as vantagens da S to c k.XCH NG de danos quer dizer que entre o ­heroína. quando o objetivo deveria ser a Uso da maconha para substituir o real e o ideal tem o possível”. A redução de danos integra desintoxicação total. consumo ou o fornecimento da droga distribuição de cachimbos descartá- crack é uma das ideias propostas por A cientista social Andréa as políticas públicas oficiais Por outro lado, institui- pelo Estado, para evitar o contato do veis ou outras medidas específicas. defensores da redução de danos Domanico afirma que esta de diversos países. No Brasil, ções como a Rede Brasileira

36  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  37 Tratamento Número de vagas está longe do previsto e prometido País oferece 0,34% dos Amapá, Rondônia e sequer aparecem na relação de estados que têm postos para atendi- mento aos pacientes com doenças mentais e dependentes químicos do Ministério da Saúde leitos que seriam necessários

O Brasil oferece cerca de 32,7 Dos 32,7 mil leitos, estão dis- mil leitos para internação de do- poníveis apenas 11,5 mil para Dependente entes mentais. Porém, se o país os dependentes de drogas: 2,5 Consultório de Rua tivesse que cumprir a recomen- mil nos hospitais gerais e 9 mil dação da Organização Mundial nos Caps, hospitais psiquiátri- Pronto-socorros e da Saúde (OMS) de manter um cos e prontos-socorros gerais e emergências número de vagas na área de saú- ­psiquiátricos. de mental suficiente para internar “Há insuficiência de estrutu- Saúde da Família 0,5% da população do país, se- ra para tratamento. Temos ape- riam necessários 950 mil leitos. nas 258 unidades de Caps AD, Essa necessidade é reforçada para 190 milhões de habitantes”, pelos números do próprio MS, constata a senadora Ana Amélia que informa: “3% da população (PP-RS).­ Hospitais e leitos Caps brasileira têm transtornos mentais Diante desses dados, a socieda- Os 32,7 mil leitos atendem a 0,017% da Recebe os dependentes, faz o diagnóstico e severos e persistentes, mais de 6% de vem encontrando saída, na es- população (a OMS recomenda 0,5%). decide da necessidade de internação. têm transtornos psiquiátricos gra- magadora maioria dos casos, ape- Leitos por Caps por ves decorrentes do uso de álcool e nas no tratamento oferecido por UF Hospitais Leitos UF Caps I Caps II Caps III Caps i Caps AD mil hab. 100 mil hab.¹ outras drogas e 12% necessitam comunidades terapêuticas, muitas de algum atendimento em saúde delas sem qualquer regulação ou AC 1 35 0,05 AC 0 1 0 0 1 0,27 mental, contínuo ou eventual”. fiscalização do Estado. AP² – – – AP 0 0 0 1 2 0,45 Com o número atual, de um “Até a Organização Mundial AM 1 20 0,01 Dados de 2010 AM 5 4 1 0 0 0,23 Dados de 2011 leito para cada grupo de cerca de da Saúde reconhece o assessora- PA 1 56 0,01 PA 24 12 1 2 6 0,44 5,8 mil pessoas (veja infográfico mento das comunidades terapêu- na pág. 38), a possibilidade de ticas, especialmente no Brasil, em RO² – – – RO 11 5 0 0 1 0,74 dar tratamento a quem precisa de que a participação do Estado é Cartaz do Ministério da Saúde informa sobre RR² – – – RR 1 0 0 0 1 0,33 cuidados de saúde mental é quase muito pequena”, diz Ana Amélia programas para o tratamento da dependência, como os centros de atenção psicossocial Norte TO 1 160 0,12 Norte TO 7 2 0 0 1 0,47 nula. (leia mais a partir da pág. 60).

AL 5 880 0,28 AL 37 6 0 1 2 0,88 BA 7 877 0,06 BA 121 31 3 7 16 0,85 Municípios não conseguem CE 7 949 0,11 CE 45 29 3 6 17 0,94 MA 3 662 0,10 MA 36 13 1 3 6 0,63 estruturar rede de atendimento PB 5 691 0,18 PB 38 8 3 7 8 1,23 PE 13 1.932 0,22 PE 26 18 2 6 12 0,59 Apesar de os dados demons- de atendimento disponíveis em mado de dependentes], e a única trarem uma carência extrema de sua região para encaminhamento ferramenta que o Brasil tem são os PI 1 160 0,05 PI 27 6 1 1 4 0,83 leitos na rede de atendimento à dos dependentes. Como se não Caps AD, há um déficit de 1,99 RN 4 572 0,18 RN 12 11 1 2 6 0,84 saúde mental no Brasil, os meca- bastassem esses esforços, há ainda milhão de vagas”.

Nordeste SE 2 280 0,14 Nordeste SE 19 4 3 2 4 1,16 nismos atuais não conseguem fa- outras condições que precisam ser zer com que a rede pública se ex- cumpridas para as cidades criarem DF 1 85 0,03 DF 1 2 0 1 2 0,21 panda rapidamente. Pelo modelo suas redes de saúde mental com Os centros de Atenção Psicosso- GO 10 1.171 0,20 GO 11 14 0 2 4 0,42 construído há mais de nove anos ajuda do governo federal. cial (Caps) podem ser do tipo pelo Ministério da Saúde, os mu- Para o deputado federal Gival- I, II ou III, ou infanto-juvenis MT 2 202 0,07 MT 24 2 0 2 5 0,69 (Capsi), ou ainda exclusivos nicípios têm que arcar com todo do Carimbão (PSB-AL), houve

Centro-oeste MS 2 200 0,08 Centro-Oeste MS 9 6 1 1 4 0,69 para dependentes de drogas e o custo do planejamento e cum- “a municipalização do transtorno álcool, os chamados Caps Álcool ES 3 565 0,16 ES 7 8 0 1 3 0,44 prir diversos passos burocráticos mental”. Porém, as prefeituras, e Drogas (Caps AD). As diferen- MG 17 2.292 0,12 MG 81 46 8 12 20 0,67 para conseguir a liberação de re- por conta de todas as etapas exi- ças entre os Caps I, II e III dizem cursos, considerados insuficien- gidas, não conseguem implantar respeito ao tamanho e formação RJ 36 6.224 0,39 RJ 34 39 1 16 19 0,58 tes, para montar a infraestrutura. rapidamente a estrutura de aten- dos membros da equipe. Os Caps

Sudeste SP 54 10.780 0,26 Sudeste SP 61 76 22 30 62 0,56 Pelo sistema atual, é dos muni- dimento necessária. Consequente- III são os únicos que podem fun- cípios ( mente, o país pode demorar mui- cionar durante a noite, mas não PR 15 2.452 0,23 PR 35 27 2 8 22 0,74 veja quadros nas págs. 38 e 40) a responsabilidade de criar e to e até não conseguir enfrentar há obrigatoriedade. Já os leitos RS 6 810 0,08 RS 65 37 0 15 24 1,01 para internação de pacientes com gerir a rede de atendimento aos o problema. Carimbão criticou a transtornos mentais devem ser

Sul SC 4 680 0,11 Sul SC 43 13 2 6 11 0,87 usuários de drogas. As prefeitu- demora, afirmando que “se tenho oferecidos apenas nos hospitais ras devem organizar a demanda um montante de 2 milhões para da rede de atendimento geral. Brasil 201 32.735 0,174 Brasil 780 420 55 132 263 0,68 e mapear os leitos e outros tipos serem atendidos [número esti- Cobertura, segundo o Ministério da Saúde: muito boa (acima de 0,7), regular/boa (0,5 a 0,69), regular/baixa (0,35 a 0,49), Fonte: Ministério da Saúde, com dados do Censo 2010 do baixa (0,2 a 0,34) e insu ciente/crítica (abaixo de 0,20).  Não há dados disponíveis para esses estados. Instituto Brasileiro de Geogra a e Estatística (IBGE) www.senado.gov.br/emdiscussao  39 Tratamento Modelo do governo visa Burocracia dificulta a montagem dos aula centros de atenção psicossocial para P dependentes de álcool e drogas, como garantir acesso e direitos civis esse em cidade-satélite do DF L ia de O governo tenta responder ao Roberto Kinoshita, coordenador do MS, aumento do número de depen- P e r ei a observado pela senadora Ana Amélia: dentes e à complexidade do tra- internações devem ser de curta duração tamento que a doença exige por J ona s meio da Política Nacional de Saú- de Mental, que prevê a formação de uma rede aberta de atendimen- to para oferecer tanto tratamento quanto apoio à reinserção social. No papel, as intenções das nor- mas são muito claras. Porém, na realidade, o que se verifica é uma rede de atendimento limitada, quando existente. Responsável atual pela imple- mentação da política de saúde aos dependentes químicos e deve grupos (psicoterapia, atividade mental, Roberto Kinoshita, coor- oferecer serviços de saúde mental de suporte social), oficinas te- denador de Saúde Mental, Álcool e leitos para internação. O MS es- rapêuticas, visitas e atendimen- e Outras Drogas do Ministério da tabeleceu que “a internação deve tos domiciliares, atendimento Saúde (MS), acredita que o mode- ser de curta duração, em hospital à família e atividades comuni- lo deve garantir tanto o acesso ao geral da rede pública, com vistas à tárias para a integração do de- tratamento quanto o respeito aos desintoxicação associada aos cui- pendente químico na comunida- direitos civis dos usuários de dro- dados emergenciais das compli- de e sua inserção familiar e gas (leia mais na pág. 43). cações orgânicas ou à presença de social”. De acordo com o modelo de- algum tipo de comorbidade de- Para Doralice Alcântara, secre- senhado pelo MS, as equipes de senvolvida com o uso”. tária de Assistência Social de Pon- Saúde da Família devem prestar o ta Porã (MS), o tratamento am- primeiro atendimento aos depen- Foco nos Caps bulatorial nos Caps só funciona dentes que buscam tratamento. De acordo com o MS, os Caps se a família do dependente tiver Já os doentes que não procuram devem “oferecer atendimento condições de recebê-lo em casa atendimento devem ser abordados individual (medicamentos, psi- e administrar a medicação. "In- Burocracia por equipes itinerantes, chamadas coterapia, orientação etc.), em felizmente, quando a doença da Para implantar o Caps, os mu- Rede de atendimento varia com a população consultórios de rua e formadas nicípios com mais de 40 mil ha- por médicos, psiquiatras, enfer- bitantes (30 mil na Amazônia) Para receber apoio financeiro do governo federal, as prefeituras têm que meiros, assistentes sociais, psicólo- Caps fazem diagnóstico e programa de tratamento devem ter um núcleo de atenção construir sua rede de saúde mental segundo as regras do Ministério da Saúde gos e pedagogos. Tanto as equipes integral à saúde da família, com de Saúde da Família quanto os Embora ressalte que os Caps não são a principal estrutura de atendimento da pelo menos um psicólogo ou psi- Habitantes Recursos disponíveis para: consultórios de rua devem estar rede, Ministério da Saúde atribui a eles as tarefas iniciais mais importantes quiatra, e um terapeuta ocupacio- até 20 mil Rede básica com ações de saúde mental vinculados a um Centro de Aten- Agendamento nal ou assistente social. entre 20 e 70 Caps I e rede básica com ações de ção Psicossocial (Caps). Público atendido: • Usuários adolescentes Cada núcleo deve dar suporte mil saúde mental Essas três instâncias são res- e acolhimento • Alcoólatras • Tabagistas técnico para nove a 11 equipes de ponsáveis pela triagem, pela ava- • Usuários maiores de idade • Família do dependente entre 70 e 200 Caps II, Caps AD e rede básica com Saúde da Família. Essas equipes mil ações de saúde mental liação clínica das condições de devem estar articuladas preferen- saúde física e mental do depen- Entrevista cialmente aos Caps, onde houver, Caps II, Caps III, Caps AD, Capsi e dente e pela definição do tra- Com elaboração de ou ao serviço de saúde mental de mais de 200 mil rede básica com ações de saúde mental e capacitação do tamento a ser feito, incluindo projeto terapêutico Serviço de Atendimento Movél de Urgência (Samu) referência. decidir sobre a necessidade ou Tratamento Para obter auxílio financei- Fonte: Ministério da Saúde não de internação. Cabe ainda a Atendimentos Intensivo Semi-intensivo Não intensivo ro antecipado é preciso enviar esses serviços organizar a deman- Internação e outros Diário ao Ministério da Saúde (MS) tramento do serviço, o que só é papelada do projeto ao MS. da de saúde mental no município, disponíveis: dados sobre o projeto terapêu- feito com autorização da Comis- Somente depois dessas etapas, mapeando vagas e leitos dispo- (em grupo ou individuais) tico, os profissionais e os gastos são Intergestores Bipartite (órgão é que o MS repassa R$ 20 mil níveis na região e encaminhando • Clínica geral necessários.­ do SUS composto por estados e para a implantação do Capsi, R$ os pacientes de acordo com suas • Psiquiatria • Psicoterapia A burocracia exige ainda que o municípios), a pedido do secre- 30 mil para o Caps II ou Caps I e necessidades. • Enfermagem Educação física e serviço social município elabore todo o projeto tário estadual de Saúde. É preciso R$ 50 mil para o Caps III ou O sistema público de saúde • Farmácia Com programa de reinserção psicossocial e no mercado de trabalho do centro e peça ao MS o cadas- ainda enviar essa autorização e a Caps AD. completa a rede de atendimento Fonte: Ministério da Saúde, 2010

40  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  41 Tratamento

dependência química pelo crack se Aos Shrads caberá o atendi- ­estrutura que vai lidar com pesso- Psiquiatras propõem outro fluxo de atendimento instala nas famílias, já não é mais mento de emergência relacionado as que necessitam de cuidados in- suficiente o tratamento ambula- ao uso de álcool e outras drogas tensivos”, alerta Fortes. Para a Associação Brasileira de Psiquiatria, o atendimento dos dependentes torial porque a pessoa vai para a (síndrome de abstinência alcoóli- deve começar na rede básica de saúde, não nos Caps Internação rua". ca, overdose etc) com o objetivo de Unidade da rede de saúde Hospital Geral ou Psiquiátrico reduzir as internações de alcoóla- Os médicos criticam ainda a (casos de média gravidade) Álcool e drogas tras e dependentes químicos em política de internar doentes men- • Diagnóstico e acompanhamento por A política de saúde mental hospitais psiquiátricos. tais, entre eles os dependentes clínico geral (em conjunto com a equipe de • Internação em unidade especializada prevê ainda a criação, nos muni- Esses serviços não estão regula- químicos, em leitos dos hospitais Saúde da Família e Consultório de Rua) • Desintoxicação complexa em pacientes com • Cuidados psiquiátricos gerais e identificação doenças físicas associadas cípios com mais de 200 mil ha- mentados e o MS promete pagar gerais. Além de onerosa, a perma- de doenças associadas • Tratamento dos problemas físicos bitantes, dos chamados Serviços valores maiores pelos procedimen- nência de dependentes químicos • Tratamento dos principais problemas físicos • Avaliação e tratamento da dependência Hospitalares de Referência para tos dos Shrads, que deverão ser junto com outros doentes pode • Prevenção de doenças transmissíveis química e doenças psiquiátricas associadas Álcool e Outras Drogas (Shrads), oferecidos exclusivamente em hos- colocar a equipe médica e demais (redução de danos) • Programas complexos de reabilitação que deverão priorizar a redução pitais gerais e com, no máximo, pacientes em risco, por conta da • Atendimento a emergências e acidentes psicossocial de longa duração (mais de 3 de danos (leia mais na pág. 36). 14 leitos. natureza dessas doenças. • Desintoxicação em consultório meses) Ou seja, “o tratamento deve Porém, o repasse de recur- “Para oferecer seis leitos em ala • Orientação familiar • Moradias assistidas aula P estar pautado na realidade de cada sos para criação dos primeiros própria para doentes mentais é • Encaminhamento para serviços mais • Encaminhamento a comunidades complexos, se for o caso terapêuticas, se for o caso L ia de paciente, o que não quer dizer Shrads ainda depende de regras preciso ter psiquiatra e equipe de Enquanto estão no Caps AD de Santa Maria, no abstinência para todos os casos”, para os convênios com os muni- enfermagem, além de plantonis- Distrito Federal, pacientes fabricam bijouterias afirma o Ministério da Saúde em cípios, ainda não detalhadas pelo tas, psicólogo e assistente social, como parte da terapia que busca a reabilitação seu site. Ministério da Saúde. toda uma equipe, quando sabe- Ambulatório comunitário mos que essa mesma equipe, com (casos de menor gravidade) um psiquiatra e duas enfermeiras, atenderia quarenta leitos. A gente • Orientações psicológicas (motivacionais, Médicos contestam política tem que entender que não pode- habilidades sociais) • Grupos terapêuticos para prevenir recaídas mos jogar dinheiro fora”, argu- • Grupos de orientação profissional menta Fortes. Ambulatório especializado do Ministério da Saúde (casos de maior gravidade) (reinserção social) Outra medida do governo con- • Facilitação de acesso ao tratamento Os representantes da Asso- médica para priorizar a percepção estrutura desenhada pelo Ministé- siderada equivocada pelos psiquia- • Tratamento de doenças psiquiátricas (agendamento de consultas etc.) ciação Brasileira de Psiquiatria social. A dependência de drogas rio da Saúde. tras é o limite do tempo de inter- complexas • Acompanhamento das doenças psiquiátricas (ABP) e do Conselho Federal de é, antes de tudo, uma doença. E Para Fortes, “os Caps são uma nação. “O médico é quem tem • Psicoterapia estruturada, associada a associadas Medicina (CFM) ouvidos pela a política do Ministério da Saúde boa ideia, mas eles não podem ser de dizer o tempo de que a pessoa orientação familiar • Desintoxicação medicamentosa subcomissão do Senado critica- é equivocada porque confunde os o controlador da porta de entra- precisa. O que há hoje é uma in- • Desintoxicação complexa em consultório ram a implementação da reforma Caps com uma panaceia que re- da, o prescritor de medicamentos gerência extraordinária na ação do • Atendimento nas crises • Orientação familiar psiquiátrica pelo Ministério da solve todos os problemas”, afirma. e o aplicador de terapias reabi- médico. Você tem de fazer todo Fonte: Associação Brasileira de Psiquiatria, 2010 Saúde, a partir da Lei 10.216/01. Segundo ele, o Conselho Fe- litadoras porque a dependência o trabalho em 15 dias, ainda que Para eles, em um primeiro mo- deral de Medicina considera os está associada a doenças como a esse período seja insuficiente”, cri- dendo dos danos ao cérebro, do reunião realizada em 2 de junho, mento, houve o fechamento em Caps impróprios para o trabalho esquizofrenia, o transtorno afe- tica o representante da Associação tempo de consumo e da gravi- que o ministério irá rever a políti- massa de leitos para tratamento de do médico porque não têm estru- tivo bipolar, as psicopatias, os Brasileira de Psiquiatria. dade das doenças associadas. ca de saúde mental, avaliar a efici- saúde mental e, na construção do tura que lhes permita uma ação transtornos de déficit de atenção Essa também é a posição do ência dos Caps, analisar a criação novo modelo, há sérios desvios na imediata, muitas vezes necessária e a uma gama imensa de pertur- CFM, representado pelo vice-​ Resposta de ambulatórios de psiquiatria e a concepção da rede de atendimen- no atendimento ao dependente, bações que vai da doença do pâ- presidente, Carlos Vital Corrêa Em resposta às críticas, o se- contratação de psiquiatras para as to que tem os Caps como base. como nos casos de crises convulsi- nico até a ansiedade generalizada. Lima, que afirmou ser neces- cretário de Atenção à Saúde do emergências, e definir o que é ser- Emmanuel Fortes, da ABP, vas e overdoses, por exemplo. “Fica É preciso um diagnóstico médico sário internar o dependente de Ministério da Saúde, Helvécio viço médico e serviço social den- avalia que há uma distorção do somente uma enfermeira, uma antes de admitir o doente no sis- crack por até três meses, depen- Magalhães, garantiu à ABP, em tro das comunidades terapêuticas. foco do Ministério da Saúde: “O psicóloga, uma assistente social. tema e o Caps não tem estrutura Brasil negligencia a percepção E esses profissionais não têm a para cumprir esse papel”. formação para executar um pro- Mais que isso, afirma o médi- Carlos Corrêa Lima, cedimento. Têm que chamar o co, os Caps não estão devidamen- Reforma psiquiátrica eliminou J. Freitas do CFM, critica Samu”, argumenta Fortes. te aparelhados para a desintoxi- limite imposto pelo Para a ABP, os Caps invertem cação, emergências e acidentes, Estado sobre o 90 mil leitos em hospitais tempo de internação a sequência correta do atendi- que exigem atendimento médico dos dependentes mento, que deveria começar pelo especializado. Diagnosticar e tra- A decisão do Ministério da mento das pessoas com doenças Ministério da Saúde a partir da de crack diagnóstico clínico e psiquiátrico tar doenças transmissíveis sérias, Saúde de não relacionar os hospi- mentais, incluídos os dependentes lei de 2001, é reduzir o número numa unidade da rede geral de comuns em usuários de drogas, tais psiquiátricos entre as estrutu- de drogas e álcool. Nesse modelo, de leitos oferecidos em hospitais saúde. Essa avaliação, necessária entre elas Aids e hepatite, também ras prioritárias para atendimento cujo maior objetivo é a reinserção psiquiátricos e transferir a respon- para detectar o uso de outras dro- não seria possível nos Caps. aos dependentes químicos, dura- social, os doentes teriam liberda- sabilidade pela assistência a esses gas além do crack e para diagnos- “Essa é uma estrutura que pre- mente criticada pelos psiquiatras, de para escolher entre os diversos pacientes para a rede de aten- ticar as doenças físicas e psíquicas vê apenas dois psiquiatras durante tem origem na chamada reforma centros de atendimento. ção extra-hospitalar, da qual fa- associadas, seguida das providên- o dia, não tem psiquiatra à noi- psiquiátrica, iniciada em 2001 Como consequência, uma das zem parte os Caps, as equipes de cias de início de tratamento, es- te, nem nos fins de semana, nem (Lei 10.216/01), que concebeu principais diretrizes da Política Saúde da Família e os consultórios taria relegada a segundo plano na nos feriados e dias santos. E é essa um modelo aberto para trata- de Saúde Mental, delineada pelo de rua.

42  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  43 Tratamento aula

ideia de que os hospitais fazem grande maioria, não estão pre- P Segundo Emmanuel Wellington Dias cobra do J. Freitas Fortes, da ABP, criou-se mal. Faz mal um mau hospital. parados para atender, nem governo mais especialistas no país "uma animosidade O bom hospital faz bem à saúde mesmo os alcoólicos. Uma boa L ia de em dependência química contra o hospital da população”, argumenta. parte dos clínicos não sabe aten- para a rede pública de saúde psiquiátrico" Ele defende o retorno de inves- der bem essa doença rotineira, timentos públicos em hospitais corriqueira”. psiquiátricos especializados para Kinoshita avalia ainda que os tratamentos mais complexos, o treinamento dado aos profis- inclusive dos dependentes de dro- sionais se perde em pouco tem- gas, e contesta a interpretação po, em razão da sua mobilidade. dada pelo Ministério da Saúde à “Passados seis meses, um ano, Lei 10.216/01. aquele treinamento perde a eficá- “Essa lei foi feita para discipli- cia. É necessária educação perma- nar o hospital psiquiátrico e não nente”, diz. para destruí-lo. Foi feita para di- Esdras Cabus Moreira, coor- zer: funcione com uma equipe denador do Núcleo de Estudos e No entanto, a resposta do Es- Nesse sentido, Emmanuel For- competente, multiprofissional. Pesquisas do Centro de Estudos e rar terapeutas, médicos, psiquia- continuamente. O treinamento tado não tem unanimidade no tes, da Associação Brasileira de Se não tiver médico, enfermeiro, Terapias do Abuso de Drogas, da tras, enfermeiros. Parece-me que será, segundo ele, feito pela rede meio médico. José Raimundo da Psiquiatria, acredita que o debate assistente social, psicólogo e te- Bahia, também aponta que a ca- a qualificação é uma das coisas Telessaúde, cujo conteúdo é pro- Costa, psicólogo clínico e mestre sobre a reforma psiquiátrica no rapeuta ocupacional, o local será pacitação não traz resultados por mais baratas do ponto de vista vido por universidades e hospitais em Bioética, observa que o trata- Congresso Nacional começou de considerado um asilo, impróprio conta da dispersão das equipes, de políticas públicas. O que são universitários. mento cruel e desumano registra- forma preconceituosa com relação para o tratamento. E hoje nós em razão da falta de recursos. R$ 10 milhões para um país rea- A intenção do Ministério da do nos antigos manicômios deu aos médicos. “O projeto de lei estamos vendo proliferar os Caps, lizar uma qualificação dessas?” Saúde é interligar essa rede, hoje força àqueles “que clamam pela que deu início à discussão, e que e até outros estabelecimentos, Experiências Kinoshita esclarece que o go- limitada a nove estados, à rede do desospitalização e pelo fecha- não foi aprovado, do deputado sem quaisquer condições de obe- Wellington Dias cobra solução verno está apostando na edu- Sistema Único de Saúde (SUS), mento de todos os hospitais psi- Paulo Delgado (PT-MG), tratava decerem a esse pressuposto de- imediata para o problema. “Há cação à distância para treinar e de maneira a atender todos os quiátricos. É como se todas as psiquiatras como sequestradores, finido na lei para a internação universidades prontas para prepa- atualizar os profissionais de saúde profissionais da rede pública. instituições psiquiátricas fossem violadores dos direitos funda- de doentes psiquiátricos”, afirma assim, o que não é verdade”, mentais do ser humano e cúm- o representante da ABP. argumenta. plices de crimes que chegariam à Para ele, a definição de limites À época em que a lei foi apro- tortura. Era um viés ideológico”, de tempo para a internação, fei- vada, a imagem dos hospitais ­afirma. ta pelo MS, é mais um equívoco Médicos denunciam psiquiátricos estava muito desgas- Por conta das denúncias e des- da Política Nacional de Saúde, tada, em meio a denúncias, am- se projeto, Fortes entende que se que define a priori o período de discriminação a drogados plamente divulgadas na mídia, de “criou uma animosidade contra o internação sem levar em conta a abandono, maus-tratos e cruelda- hospital psiquiátrico, de tal forma competência de decidir do mé- no sistema de saúde de impostos a pacientes nos anos que perdemos 90 mil leitos des- dico, estabelecida claramente na 1990. de que começou essa famigerada Lei 10.216/01. Além do estigma que sofre da sociedade, o depen- dente químico ainda é alvo de discriminação na rede pública de saúde. Essa seria, segundo os próprios médicos, mais uma falha na formação dos profissio- Prontos-socorros não têm psiquiatras nais de saúde que precisa ser corrigida para que haja expectativa de recuperação da pessoa que busca ou profissionais preparados atendimento. A denúncia é feita pelo próprio coordenador de A baixa capacitação dos pro- Kinoshita informa ainda que “Ouvimos do Ministério da Saú- Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério Usuários de drogas sofrem com o fissionais envolvidos no atendi- “o Brasil tem em torno de 30 ve- de, do Conselho Federal de Me- da Saúde, Roberto Kinoshita. “Os usuários de drogas, preconceito nos prontos-socorros, diz mento aos dependentes químicos zes menos psiquiatras do que um dicina, das comunidades terapêu- de álcool, de crack, essa população cada vez mais po- representante do Ministério da Saúde

no Brasil é outra dificuldade para país rico e 20 vezes menos que na ticas, dos representantes da área bre, mais vulnerável, mais estigmatizada também é M oreira ariz que seja oferecido tratamento Itália. Temos 15 vezes menos psi- de psiquiatria e de outros segmen- vítima de discriminação nos serviços de saúde”, afirma efetivo. De acordo com Roberto quiatras que a Argentina. É muita tos, uma queixa comum: a de que Roberto Kinoshita. Ele relata que, durante a triagem Ele acrescenta que “não temos como enfrentar os Kinoshita, coordenador de Saúde diferença. Não teremos nas próxi- não há profissionais qualificados nos prontos-socorros, os profissionais relegam a se- preconceitos por lei, mas a discriminação, sim. Por Mental, Álcool e Outras Drogas mas décadas psiquiatras suficien- na área da saúde para tratar desse gundo plano o dependente de drogas, mesmo que isso, é preciso tornar a discriminação uma falta. A pes- do Ministério da Saúde, o proble- tes para que possamos pensar da tema. Não temos, nos prontos-so- tenha sintomas graves. soa pode não gostar de quem está atendendo, mas ma tem raiz nas universidades. mesma forma que nesses países. corros, condição de atendimento “A convulsão é visível, você tem que intervir, não tem que atender. Em toda a rede nacional, a ideia é “A questão da emergência na Ou seja, vamos ter que pensar para esse tipo de questão e esse tem como fugir. Mas, se a pessoa que chegar andan- de que as pessoas sejam habilitadas, capacitadas para área de saúde mental, álcool e em outras formas de abordagem é o lugar onde mais se procura do e falar que não está se sentindo bem, estiver mal atender do ponto de vista técnico e do ponto de vista drogas não é importante, porque que não dependam da formação ­atendimento”. vestida, for negra e tiver histórico de uso de droga; ético. E isso, nos prontos-socorros, não é simples”. academicamente não dá publica- de profissionais especializados ou Respondendo ao senador, ou ainda se essa pessoa vier carregada porque estava O senador Eduardo Amorim (PSC-SE) lembra que ção. Então, ninguém se dedica a não atingiremos nossas metas”. Kinoshita afirma que o gover- embriagada ou por outro motivo, a discriminação leva “pode até faltar um medicamento ou equipamento, isso. Nem os Estados Unidos têm O senador Wellington Dias no está ciente do problema. “De a situações em que o paciente é descuidado e acaba mas, um gesto de carinho na abordagem está na índo- experts nessa área”, afirma. (PT-PI) faz eco aos especialistas. fato, os prontos-socorros, na sua morrendo”, revela o coordenador do ministério. le de cada um. Isso é intransferível e não pode faltar”.

44  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  45 Crianças do Rio estão sendo recolhidas das cracolândias e internadas

Desde maio deste ano, a Secre- iniciativa em projeto de lei. o psiquiatra em debate na Comissão , por ordem judicial, in- taria de Assistência Social do Rio de O psiquiatra Jorge Jaber, di- de Constituição e Justiça (CCJ) da ternar uma criança, por exemplo, Janeiro retira das ruas e cracolândias retor da Associação Brasileira de Câmara dos Deputados. numa fazenda terapêutica de uma as crianças viciadas em crack, que Alcoolismo e Drogas, estudou a O apoio à internação compul- religião distinta da sua. é preciso são internadas com autorização da dependência em diversos tipos de sória, no entanto, não é unânime. respeitar valores, a cultura”, afirma Justiça e recebem tratamento espe- drogas e, segundo ele, dos depen- A presidente da CCJ da Câmara, a deputada. cializado para deixar o vício. dentes internados para tratamento deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-​ A juíza da 1ª Vara da Infância C i t y Time s contra a própria vontade por 18 me- RS), alerta para uma possível

O chamado abrigamento com- do Rio de Janeiro Ivone Caetano, B ay pulsório é feito por meio de acordo ses, 66% se recuperaram do vício. afronta aos direitos da criança, que também participou do deba- com o Ministério Público, a Vara da “É preciso que essa pessoa pas- quando um juiz, e não um familiar, te, discorda da deputada. Segundo As drug treatment courts, nos EUA, oferecem penas

Infância e Juventude e a Delegacia se um período sem usar drogas decide pela internação. a magistrada, a criança viciada em t e r man / T h alternativas para dependentes a de Proteção de Crianças e Adoles- para que ela recupere a capacidade “No Brasil, não existem espa- crack e exposta aos perigos do vício que aceitam se tratar W

centes. A deputada Solange Almeida mental e possa reconhecer que o ços para internação, não existem e das ruas, já não tem nenhum direi- C ole (PMDB-RJ) já estuda transformar a tratamento é importante”, explicou padrões de internação. E não to garantido. Apesar da falta de vagas, lei já prevê Justiça Terapêutica D ivul g a çã o / S MA A Lei 10.216/01 prevê que o enquanto que cerca de 48% dependente de drogas pode ser dos que não se tratam voltam a internado compulsoriamente, cometer crimes. Estudos norte-​ desde que haja determinação da americanos, australianos e esco- Justiça. Por conta disso, muitos ceses também apontam redução dos cerca de 32 mil leitos dis- da taxa de reincidência dos in- poníveis podem ter essa desti- fratores que concluem satisfa- nação, sobrando ainda menos toriamente a terapia oferecida. vagas para aqueles que buscam No Brasil, não há dados. a internação voluntária. Pulcherio esclarece ainda Essa internação compulsória, que, embora haja posicionamen- por ordem do juiz, já é adotada tos divergentes quanto à ques- por vários países. As chamadas tão, a Organização Mundial da drug treatment courts, que ofere- Saúde considera ético e legal- cem alternativas às penas con- mente justificado o tratamento vencionais, propiciam ao acu- determinado por via judicial, sado a suspensão do processo, desde que observadas as garan- desde que ele ingresse no trata- tias individuais e respeitado o mento da dependência quími- devido processo legal. ca. No Brasil, esse recurso vem Além disso, afirma a psi- sendo chamado de Justiça Tera- quiatra, “o uso da coerção para pêutica e já está disponível em manter o sujeito engajado no algumas cidades e estados. tratamento pode oferecer resul- Na Suécia, por exemplo, país tados mais satisfatórios, inclu- tido como modelo na questão sive, que os obtidos nos trata- das drogas, há previsão legal de mentos voluntários”. obrigar pessoas que representem No Congresso, já tramitam uma ameaça à própria saúde e propostas, como o PLS 111/10, à de terceiros a se submeterem do senador Demóstenes Tor- a até seis meses de internação res (DEM-GO), que ampliam (leia mais na pág. 79). a previsão legal para a inter- No Chile, segundo a psi- nação compulsória. Assim, o quiatra Gilda Pulcherio, a taxa usuário de drogas condenado a de reincidência (novo crime uma pena entre seis meses e um Cracolândia de Jacarezinho, no Rio: internação compulsória de usuários em um período de cinco anos) ano de prisão pode ter a puni- vem apresentando bons resultados daqueles que concluem o tra- ção substituída por tratamento tamento compulsório dimi- (leia mais sobre a proposta na nui para, no máximo, 29%, pág. 75).

46  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  47 Atuação do Estado

Faltam verbas e coordenação nas iniciativas do governo

Executivo, Legislativo e Judiciário, União, estados e municípios agem desarticuladamente e sem visão harmônica da questão das drogas. Especialistas reclamam da ausência de dados que dimensionem o problema e da falta de uma abordagem única para drogas lícitas e ilícitas

s políticas públicas, Drogas do Ministério da Saúde, como vítimas, eles ainda enfren- programas e órgãos, na afirma que é importante que não tam a discriminação e a crimi- União, estados e muni- haja reação excessiva do poder nalização do uso de drogas, que, cípios, incluindo o Ju- público. em alguns momentos, podem Adiciário e o Ministério Público, “O Executivo, o Legislativo, colocar em risco garantias indi- estão desarticulados, pulveriza- todos os agentes públicos, pre- viduais em troca de soluções de dos e não formam redes eficien- cisamos ter a firmeza necessá- força exigidas por uma sociedade tes e integradas, essenciais tanto ria para enfrentar o problema, assustada, como no caso do trata- à prevenção e repressão quanto não minimizar, mas, ao mesmo mento compulsório (leia mais na ao tratamento e reinserção social. tempo, ter a clareza de não alar- pág. 47). Essa opinião foi unânime entre mar de forma a gerar pânico. Na avaliação da advogada Ro- senadores e especialistas ouvidos Ao contrário. Como agentes de berta Duboc Pedrinha, especia- na subcomissão sobre dependen- Estado, devemos agir de forma lista em Direito Penal e Sociolo- tes químicos, da Comissão de As- a assegurar à sociedade que esse gia Criminal, a Constituição e as suntos Sociais (CAS). tipo de problema é possível de ser leis penais colocam os usuários A vontade política do poder solucionado”. de drogas como inimigos da so- público para enfrentar o proble- Senadores, médicos e especia- ciedade. Essa estratégia, analisa, ma também foi questionada, já listas concordam que o Estado busca dar uma resposta à popu- que os recursos, além de insufi- precisa trabalhar a questão das lação com medo da violência do cientes, muitas vezes não chegam drogas ilícitas paralelamente ao tráfico de drogas, por meio de aos seus objetivos. Dos R$ 410 das lícitas, como tabaco e, princi- leis mais severas. milhões anunciados pelo governo palmente, bebidas alcoólicas, fa- Na direção oposta, uma políti- em maio de 2010 para combater cilmente acessíveis e alvo de pro- ca de tolerância zero também foi o crack, por exemplo, apenas dois paganda. Considerados porta de defendida na subcomissão. Para terços foram aplicados até o mo- entrada para maconha, cocaína e José Luiz Gomes do Amaral, mento (leia mais na pág. 51). crack, cigarro e álcool são apon- Presidente da Associação Médica Parte da ineficiência do Estado tados como principais problemas Brasileira, “não é possível tolerar foi atribuída à falta de um me- de saúde pública do país, muito o crack nas ruas. lhor dimensionamento do proble- maiores que o das drogas ilícitas. E é necessário que os agen- ma das drogas e da dependência tes públicos trabalhem de ma- química por conta da falta de Legislação neira integrada para encami- dados (leia mais na pág. 22). Ro- Tampouco há clareza acer- nhar usuários imediatamente Depósito de armas apreendidas berto Kinoshita, coordenador de ca dos direitos dos dependentes ao serviço de saúde para serem pela polícia do Rio de Janeiro: maioria delas estava nas mãos Saúde Mental, Álcool e Outras e usuários. Por vezes encarados monitorados”. de traficantes de drogas Spray Filme s Spray

48  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao Atuação do Estado

vice-presidente do Conselho Fe- Porém, Paulina Duarte, ti- deral de Medicina, pedem a ida tular da Senad, entende que a Pulverizados, órgãos e iniciativas da Senad para o Ministério da ida do órgão para o Ministé- Saúde, por achar que as drogas rio da Justiça “não teve outra são problema de saúde pública, razão senão a ampliação e o não conseguem se articular senadores e representantes das fortalecimento das ações de comunidades terapêuticas acre- coordenação da política so- Segundo relatório da Co- líticas governamentais relacio- “O Ministério da Justiça ditam que a questão social é bre drogas. Para termos uma missão Global da ONU, nadas à dependência química tem o seu papel de cuidar dos mais grave e querem a subordi- ação coordenada e fortalecida, “apesar de os governos, cada estão distribuídas entre vários traficantes, da entrada de dro- nação da secretaria ao Ministé- precisaríamos ter uma secre- vez mais, reconhecerem que ministérios, formando o Siste- gas, das armas, coisas do cam- rio do Desenvolvimento Social, taria com capacidade real de estratégias policiais para o ma Nacional de Políticas Pú- po da segurança. Mas eu acho inclusive para facilitar o acesso coordenação”. controle das drogas precisam blicas sobre Drogas, o Sisnad que o que é grave no Brasil é o a recursos pelas entidades, que Os especialistas, no entanto, A senadora Lídice da Mata estar integradas em uma abor- ( ). problema social, que não pode não conseguem se adequar às acusam que essa integração não acredita que a repressão às veja infográfico abaixo drogas deve ser separada do dagem mais ampla, social e de ser tratado no Ministério da regras do ministério. acontece. Para Ricardo Paiva, atendimento aos dependentes saúde pública, as estruturas Senad Justiça”, questionou o senador diretor do Conselho Regional das políticas públicas, de orça- Para executar essas políti- Wellington Dias (PT-PI). Integração de Medicina de Pernambuco, mento e de gastos públicos não cas, foi criada em 1998, por Da mesma forma, a senado- Já o presidente do Conselho os três eixos do problema – po- s J. Freita se modernizaram na mesma medida provisória, a Secreta- ra Lídice da Mata (PSB-BA) Estadual Antidrogas de Mi- licial, de saúde e social – devem velocidade”. ria Nacional de Políticas sobre acredita que “devemos separar nas Gerais, Aloísio Freitas, dis- ser tratados de forma articulada é a realidade do Brasil? Fazem Nos debates na subcomis- Drogas (Senad). Ligado ao a política pública de atendi- se que "se [a Senad] for para o e sob um comando único, que políticas aqui em Brasília e lá são do Senado, ficou evidente Gabinete de Segurança Insti- mento a usuários de drogas da Ministério da Saúde ou do De- deve ser reproduzido nos esta- na ponta não funciona, porque que o Brasil não escapa desse tucional da Presidência da Re- ação da polícia no combate ao senvolvimento Social, vamos ter dos e municípios para permitir não têm a questão técnica do diagnóstico. Isso foi reconhe- pública, o órgão foi transferido tráfico, que tem que ter a sua uma pulverização”. O senador a fixação de metas e prazos, lugar. Temos que ter conhe- cido, inclusive, pelos represen- em janeiro deste ano para o relação com a Justiça, com o Wellington Dias (PT-PI) afir- item imprescindível à execução cimento, de fato, da região, e tantes dos ministérios da Saú- Ministério da Justiça. Mesmo Judiciário, com todo o aparato mou que é preciso dar “status de políticas públicas. não descer leis e técnicas goela de, Justiça e Desenvolvimento que a mudança tenha sido ava- repressivo que precisa haver”. de ministro para a coordenação, Nesse sentido, o terapeu- abaixo para o Brasil todo sem Social que participaram das liada como avanço, a situação Mas não há consenso sobre até porque há um consenso de ta Célio Luiz Barbosa critica conhecer as regiões. O trafi- audiências públicas. institucional do órgão que co- onde a Senad deve estar. En- que precisa ser feito um traba- a centralização na formulação cante conhece as regiões e o No Brasil, as estruturas de ordena o combate às drogas foi quanto médicos, representados lho integrado”. das políticas. “Primeiro: qual Brasil, não”. elaboração e execução das po- criticada na subcomissão. por Carlos Vital Corrêa Lima,

Sistema sobre drogas abrange oito ministérios e governos estaduais e prefeituras

Número de órgãos envolvidos dificulta a coordenação das ações nas três esferas de governo, aumentando a burocracia para os Secretaria só aplicou municípios, destinatários dos recursos e responsáveis pela implantação e gestão das redes de tratamento e de assistência social Metade dos dois terços do previsto brasileiros ingere Governo federal álcool, em especial cerveja. Médicos Outros envolvidos Ministério da Justiça Ministério da Saúde Anunciado em maio do Cerca de um terço des- denunciam redução Ministério da Educação Conselho Nacional Agência Nacional de Vigilância de verba para de Políticas sobre Sanitária – Anvisa ano passado como forma de se valor (R$ 121,6 milhões) internar alcoólicos Ministério do Trabalho Drogas – Conad articular as ações do governo, foi gasto no ano passado. Polícia Federal e Saúde na Escola Integrado por ministérios, Secretaria Nacional de o Plano Integrado de Enfren- Segundo a Senad, isso acon- Ministérios da Defesa, das Relações Exterio- tamento ao Crack e Outras teceu porque os recursos só res e da Fazenda (Receita Federal e Conselho especialistas e sociedade civil Segurança Pública Sistema Único de Saúde – SUS de Controle de Atividades Financeiras) Drogas previa investimentos chegaram de fato ao órgão Ministério do Desenvolvimento de R$ 410 milhões do Orça- em agosto de 2010. Já os Social e Combate à Fome mento da União em 2010. R$ 255,1 milhões não usa- Secretaria Nacional de Políticas No entanto, apenas R$ 274,3 dos em 2010 foram transferi- Conselho Nacional de Funções do Sisnad sobre Drogas – Senad milhões (66,9%) foram efe- dos para 2011, como “restos Executa as políticas, gere os recursos, coordena e Assistência Social – Cnas Gestão tivamente gastos, dois terços a pagar”. Desse total, até 2 de integra as ações dos outros órgãos Saúde Sistema Único de do previsto (veja infográfico na agosto, R$ 152,7 milhões ha- Fundo Nacional Antidrogas – Funad Assistência Social – Suas Assistência social pág. 52). Os dados são do sis- viam sido efetivamente repas- Repressão tema Siga Brasil da Consulto- sados para seus objetivos pelo ria de Orçamento do Senado. governo. Normatização e (ou) Municípios financiamento O pior é que 8,1% do total Centros de Referência de Assistência Pouco dinheiro Social (Cras) e Centros de Referência (R$ 33,3 milhões) não foram Estados Especializados de Assistência Social (Creas) empenhados, condição para Além de o ritmo da apli- Conselhos estaduais de Entorpecentes ou Antidrogas Secretarias estaduais de Saúde que o dinheiro seja gasto, e cação dos recursos ser lento, Saúde da Família, consultórios de rua, acabaram eliminados do orça- não chegando sequer à cifra Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e Secretarias estaduais de Assistência Social Secretarias estaduais de Segurança Pública unidades de saúde mento do plano. Com isso, o anunciada em maio de 2010, orçamento inicial foi reduzido os médicos ouvidos pelo Se-

para R$ 376,7 milhões. nado e os próprios senadores Felipe Barra

50  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao 51 Atuação do Estado

Governo aplicou 66,9% dos recursos anunciados 2002, os primeiros recebiam mais de 75% dos recursos, no Plano tem ambição, mas falta dinheiro Um ano e três meses depois do anúncio do Plano Integrado de Enfrentamento ano passado receberam menos ao Crack, governo investiu R$ 274,3 milhões dos R$ 410 milhões prometidos de 30%. O percentual cres- A dificuldade de articulação ceu em sentido inverso para os entre atendimento em saúde e as- Programa Nacional de Segurança atendimentos extra-hospitalares sistência social e entre as diversas Principais ações do Pública com – (ambulatoriais, nos Caps, entre esferas e órgãos públicos levou Ministério da Justiça (120 mi) Proteção Social Especial – Fundo outros). o governo a lançar, em maio de plano contra o crack Gestão da Política Nacional sobre Nacional de Assistência Social (47,9 mi) O Ministério da Saúde (MS) 2010, o Plano Integrado de En- Drogas – Fundo Nacional Diagnóstico Antidrogas (100 mi) Proteção Social Básica – Fundo informa ainda que os recursos frentamento ao Crack e Outras comunidade escolar e formar Nacional de Assistência Social (33,7 mi) destinados para saúde mental Drogas, cujo principal objetivo é • Realizar ampla pesquisa de âm- multiplicadores em prevenção, Assistência Ambulatorial e Hospitalar Especializada – Fundo Sistema Nacional de Atendimento vêm crescendo, passando de desenvolver ações coordenadas de bito nacional sobre o consumo em parcerias com universida- Nacional de Saúde (90 mi) Socioeducativo ao Adolescente em crack Conflito – Fundo Nacional de R$ 619,3 milhões em 2002 prevenção, tratamento e reinser- de no Brasil, inclusive no des, em dez diferentes cursos de Assistência Social (18,3 mi) para R$ 1,8 bilhão em 2010. ção social do usuário de crack e que diz respeito ao impacto do educação a distância. 410 mi Esse aumento também se dá de combate ao tráfico, de forma a uso da droga sobre a economia Valor inicial do plano, em termos percentuais, che- integrar as iniciativas dos diversos do país. Tratamento (a cargo autorizado no Orçamento gando a quase 3% do total órgãos da União, estados, municí- A titular da Senad, Paulina Du- dos municípios) Gestão da Política Nacional sobre Drogas – Fundo investido pelo ministério no pios e da sociedade civil. arte, prometeu os resultados • Ampliar o número de leitos em Nacional Antidrogas (19,7 mi) ano passado. As ações são ambiciosas, mas, do levantamento, realizado serviços de emergência e nos Programa Nacional de Segurança Pública segundo especialistas e senadores, com 25 mil pessoas ao custo de hospitais gerais, para tratamen- com Cidadania – Ministério da Justiça (12,6 mi) 33,3 mi Novos recursos esbarram no orçamento do plano, R$ 7 millhões, para abril de to de usuários de crack e outras Valor não empenhado em Assistência Ambulatorial e Hospitalar O psiquiatra Aloísio Freitas, bastante modesto (leia mais nas 2011, mas eles ainda não fo- drogas. Especializada – Fundo Nacional de Saúde (1 mi) 2010 (na prática, perdido) porém, critica a falta de garan- páginas anteriores). E essa não é a ram divulgados (leia mais na ­ • Desenvolver e integrar a rede tias de que o enfrentamento única crítica. pág. 22). especializada (veja infográfico Desde maio de 2010 às drogas terá recursos a longo “Esperávamos que o plano ti- • Desenvolver novas terapias e na pág. 38) 66,9% prazo, o que, segundo ele, atra- vesse, ao mesmo tempo, ações nas estratégias para aumentar a • Implantar casas de passagem e (274,3 mi) do Orçamento palha a efetividade das ações. áreas social, de saúde e policial, e adesão ao tratamento pelos comunidades terapêuticas. 121,6 mi inicial foram gastos crack. Gastos em 2010 “Não basta despejar dinhei- não um pacote pulverizado, que usuários de ro na área da dependência quí- prevê que os municípios busquem • Avaliar a capacidade e a qua- Reinserção social mica, porque isso não vai resol- os seus convênios”, critica o mé- lidade dos serviços de saúde e • Capacitar juízes e equipes psi- ver. Sem dinheiro garantido, dico Ricardo Paiva, referindo- proteção social que atendem cossociais para uniformizar e sem fontes de financiamento -se à responsabilidade transferida usuários de crack e outras implantar práticas de reinserção continuados, não é possível. Se às prefeituras para execução da drogas.­ social (leia mais na pág. 47). 376,7 mi 152,7 mi 102,4 mi o governo é mais sensível, in- maioria das ações, como elaborar Empenhados em 2010 Transferidos para 2011, Precisam ser gastos até veste, se é menos sensível, não projetos, pleitear recursos, imple- Combate Treinamento (liberados para serem gastos) gastos até 2 de agosto 31 de dezembro de 2011 investe. Se, entre os membros mentar e gerir o plano, estruturas • Ampliar as operações de com- • Oferecer, em cinco univer- Fonte: Subsecretaria de Apoio Técnico/Siga Brasil da Consultoria de Orçamento do Senado Federal, 2011 de alto escalão do governo, de saúde e de assistência social bate ao narcotráfico pelas sidades federais, cursos de tem pessoas portadoras da de- (veja quadro na pág. 50). polícias Federal e Rodoviária especialização e mestrado em pendência química, a questão Para Carlos Vital Corrêa Lima, Federal, em especial nas regi- gestão do tratamento de usu- da subcomissão consideram o atenção específica ao crack, já é vista como não tão impor- ões de fronteira, em articulação ários de crack e outras drogas, total destinado pelo governo médicos denunciam a redução tante. E se o governo não tem com as polícias estaduais e com para profissionais que atuam na

insuficiente para enfrentar o das internações para tratamen- um corpo de membros conta- C r uz o apoio das Forças Armadas. rede de atenção à saúde e pro- • Fortalecer as polícias estaduais teção social.

problema. to do alcoolismo. Essa queda minados, a atenção é maior”, J os é “A Senad tem um plano que coincide com a aplicação da afirma. para enfrentamento do crack • Prever outros cursos de pós- tem concepção perfeita. Abor- Reforma Psiquiátrica de 2001, Ele propõe uma contribui- em áreas mais vulneráveis ao -graduação, de residência da todos os itens que se possa que reduziu o número de leitos ção social de 1% sobre bebidas consumo. multi­ profis­ sional,­ mestrado e imaginar e contempla todas as em hospitais psiquiátricos (leia alcoólicas e tabaco para capi- doutorado. esferas, inclusive no eixo social, mais na pág. 43), transferindo talização do Fundo Nacional Prevenção • Criar seis centros para de- no eixo de saúde e no eixo po- os pacientes para atendimento Antidrogas (Funad). Somente • Realizar campanha na- pendentes químicos em licial. Entretanto, o custeio é ambulatorial. Segundo o Mi- a Ambev, empresa que detém cional e permanente para hospitais universitários para insuficiente, porque o proposto nistério da Saúde, o número de cerca de dois terços do mercado mobilizar a sociedade para o desenvolver metodologias de no orçamento são R$ 410 mi- atendimentos desse tipo passou nacional de bebidas (alcoóli- ­enfrentamento do crack. tratamento e de reinserção so- lhões para 27 estados”, afirma de 450 mil em 2002 para mais cas e não alcoólicas), teve uma • Estender as ações do Projeto cial, que incluam um Centro de o médico Ricardo Paiva. O vi- de 20 milhões em 2010. receita líquida de R$ 25,2 bi- Rondon (Ministério da Defesa) Atenção Psicossocial Álcool e ce-presidente do Conselho Fe- Essa mudança vem se re- lhões em 2010. e do Projovem (Ministério da Drogas (Caps AD) e um Centro deral de Medicina, Carlos Vital fletindo nos gastos do SUS “A sociedade não seria pu- Educação) a regiões vulneráveis de Referência Especializado de Corrêa Lima, lembra que esse com hospitais psiquiátricos nida, porque quem vai pagar à violência e ao consumo de Assistência Social (Creas) para valor tem que atender a um e serviços extra-hospitalares, essa contribuição social é quem Paulina Duarte, titular drogas. dependentes de crack, ofere- país gigantesco com mais de 5 como os realizados nos cen- compra para consumo próprio da Senad, é responsável • Capacitar cerca de 100 mil cendo vagas para tratamento mil municípios. tros de Atendimento Psicosso- ou compra para presentear”, por executar o Plano de profissionais das redes de saú- em regime ambulatorial e de in- Enquanto o governo dá cial (Caps). Enquanto que, em afirma Freitas. Enfrentamento ao Crack de e de assistência social e da ternação.

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vice-presidente do Conselho Fe- preparação da polícia para agir • Na área social: criação de es- deral de Medicina, o plano está com humanidade e respeito colas integradas que ofereçam Iniciativas de assistência longe de ser suficiente. Segundo aos direitos dos dependentes. inclusão social; sistema de eco- ele, deveriam ser incluídas outras • Na área de saúde: assistência nomia solidária que permita a prioridades: médica integrada numa rede reinserção e a preservação da e reinserção social • Na área de represssão: con- capaz de absorver a deman- autoestima do dependente. trole efetivo de fronteiras; cria- da assistencial, priorizando a “E precisamos, sem dúvida, ter ção de um setor de inteligência implantação dos Caps III e financiamento adequado, siste- ainda engatinham na esfera policial para expurgar a oferta de psicoterapia pelo matização, metodologia de con- os policiais ligados ao tráfico; SUS. trole e avaliação”, conclui. Senadores e especialistas con- a aprovação da Política Nacio- sideram que o trabalho de rein- nal de Assistência Social e, em Assistência social serção social e acompanhamen- 2005, da norma operacional bá- Lu i z Número de Cras e Creas cresce to dos dependentes químicos é sica do Sistema Único de Assis- desde 2007, mas a ritmo lento Reunião de familiares de fundamental para que as pessoas tência Social (Suas), que a gente M arcos dependentes químicos no Centro de Atendimento superem o vício. E, por isso, du- começou a organizar um sistema Seguridade Social Psicossocial de Diadema rante as audiências públicas, co- com comando único, em que o braram maior envolvimento do cidadão possa acessar, em dife- Previdência Saúde sistema de assistência social na rentes localidades, serviços com questão. estrutura homogênea e adaptada Assistência Social “De tudo o que temos apren- à realidade local”. (Suas) dido aqui, fica clara a necessi- Segundo Juliana, a ponta do dade de criar, pelo menos, três Suas (veja infográfico ao lado) redes distintas: uma na área de são os centros de Referência de saúde, desde a UTI até a atenção Assistência Social (Cras) e espe- Cras Creas básica; uma rede social, com os cializados de Assistência Social 2007 4.049 - - Cras, os Creas, as comunidades (Creas), criados para atender 2008 5.142 - - terapêuticas e outras entidades; crianças, adolescentes, mulheres, 2009 5.798 2009 1.149 e uma rede de reinserção social, idosos, pessoas com deficiência e 2010 6.801 2010 1.540 em que devem entrar áreas da famílias vítimas de violência ou Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social economia, da geração de em- em situações de pobreza extre- prego, do trabalho”, resumiu o ma, além de dependentes quími- ministério garante ainda que os ­senador Wellington Dias. cos em tratamento. centros trabalham todas as face- Apesar de ainda não conse- Desde 2007, segundo o MDS, tas da reinserção do dependente guir atender à demanda, Juliana o número de Cras cadastrados – acolhimento, trabalho e renda, Maria Fernandes Pereira, coor- passou de 3.360 para 6.801, convívio familiar e comunitário, denadora do Departamento de 6.057 com ajuda financeira do e proteção social. Proteção Social Especial do Mi- governo federal. Os Creas, que De forma semelhante à im- nistério do Desenvolvimento So- atendem problemas de maior plantação da rede de atendi- cial e Combate à Fome (MDS), complexidade e regiões maio- mento (Caps, consultórios de Diadema leva consultórios afirmou que “a assistência so- res (municípios com mais de 20 rua etc. – leia mais na pág. 41), cial, desde a Constituição Fede- mil habitantes), passaram de cabe ao município implementar às cracolândias Diadema (SP) ral, integra a seguridade social, 1.149 em 2009 para 1.540, em a rede de assistência social, con- mas foi, a partir de 2004, com 2010 (veja infográfico acima). O tratar pessoal e buscar os recur- Pioneiro em articulação local das danos causados pelo uso de drogas. Dados sociodemográficos sos junto ao MDS, o que signi- ações de enfrentamento do crack, Já o Centro de Atenção Psicossocial fica numerosos procedimentos

Campinas C r uz Diadema, na Grande São Paulo, Álcool e Drogas (Caps AD) da cida- Juliana Pereira, burocráticos junto ao governos J os é lançou em junho último o seu pla- de passará a atender 24 horas por coordenadora de ­federal e estaduais. nejamento municipal. A estratégia dia. Será montada ainda uma escola São Paulo Proteção Social do Mais uma vez, a integração Diadema governo, informa segue os moldes do plano nacional, de redução de danos para capacitar São Paulo já haver mais de da rede de assistência social com Santos com ações, programas e serviços agentes comunitários de saúde. 6 mil centros de a de saúde, as comunidades te- Oceano Atlântico envolvendo o poder público e a A construção do plano de Diade- referência no país rapêuticas e os programas de sociedade nas áreas de prevenção, ma começou em dezembro de 2010 População: 368.039 reinserção social, inclusive no reinserção social, redução de danos, e envolveu as secretarias de Assis- PIB per capita: R$ 26.618,26 financiamento, continua a ser o repressão, tratamento e capacitação tência Social e Cidadania, Cultura, Estabelecimentos de saúde: 77 calcanhar de Aquiles do sistema. de profissionais. Defesa Social, Educação, Esporte e Leitos para internação: 562 Dois consultórios de rua levarão Lazer, Planejamento, Gestão Públi- Unidades de saúde com atendimento Emprego equipes até as cracolândias para ca e Comunicação, e Saúde, numa de emergência psiquiátrica: 3 Quanto às ações de apoio ao abordar os dependentes e incenti- tentativa de integrar os esforços de dependente químico para a vol- Fonte: Assistência Médica Sanitária, 2009; Censo 2010, do vá-los a cuidar da saúde e reduzir os cada uma. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ta ao mercado de trabalho, o senador Wellington Dias infor-

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mou que o Ministério do Traba- que representou o Ministério do lho e Emprego declarou à subco- Trabalho no ciclo de audiências, -S ecom /CD missão que ainda “não há uma afirmou que “já foi solicitado S efot política específica na área do que em todas as mesas redondas trabalho vinculada à reinserção das superintendências regionais para os dependentes”. do Trabalho, com a presença de A senadora Ana Amélia foi trabalhadores e empregadores, incisiva quanto à necessidade de este assunto seja pautado para iniciar, também no Ministério que passe a constar nos acordos do Trabalho, ações integradas e convenções coletivas”. para apoio à reinserção social. Zilmara informou ainda “Gostaria de propor ao minis- aos senadores que o Ministé-

tério que fizesse o mais rápido rio do Trabalho se comprome- BH O programa Saúde na Escola possível uma reunião conjunta te a incluir, em todos os seus atende a criança em Belo das centrais sindicais e empresa- programas, inclusive os de Horizonte: mira não só no riais para discutir objetivamente qualificação do trabalhador, tratamento, mas na prevenção Zilmara Alencar garante aos e exclusivamente essa questão re- ações para reinserir o depen- SMSAS/P refeit u ra senadores que dependência às drogas vai estar na pauta do lacionada ao crack”. dente químico no mercado de Ministério do Trabalho Zilmara David de Alencar, trabalho. Ações de prevenção às drogas são direcionadas a escolas Ponta Porã integrou políticas públicas

Outra área de atuação do Es- brasileiro e forma profissio- C r uz Denise Colin, secretária nacional Assim como Diadema (SP), Pon- social do município recebe grande tado, essencial para enfrentar o nais de saúde e de educação J os é de Assistência Social, reconhece a Cidade recebe demanda do ta Porã (MS), na fronteira com demanda da população da cidade C r uz problema do crack e de outras por meio de convênios com falta de recursos e metodologias Paraguai, afirma secretária o Paraguai, tenta acelerar a luta paraguaia vizinha, Pedro Juan Ca- de Assistência Social J os é drogas, é a educação, uma das universidades. contra o crack e outras drogas. A ballero, contabilizando mais de 150 e do Trabalho, principais responsáveis pelas Assim como na rede de aten- realidade da cidade é especial por pacientes, entre os mais de mil de- Doralice ações de prevenção do consumo dimento (leia mais na pág. 55), a envolver problemas que abrangem pendentes atendidos em Ponta Alcântara entre crianças e adolescentes e iniciativa de aderir ao Saúde na dois países, que lutam, paralela- Porã. pela formação de uma cultura Escola e de elaborar os projetos mente e com legislações diferentes, “Já caminhamos para tirar do menos vulnerável às drogas. compete ao município, que re- contra o tráfico e a dependência de papel uma articulação de todas Segundo Marta Klumb Ra- cebe material didático e ajuda drogas. as políticas públicas municipais e belo, representante da Secreta- financeira do MEC. Doralice Nunes Alcântara, se- também um processo de integra- ria de Educação Básica do Mi- Maria de Fátima Malheiros, cretária de Assistência Social e do ção com Pedro Juan Caballero. A nistério da Educação (MEC), também do MEC, informa que Trabalho de Ponta Porã (MS), infor- câmara municipal está conosco e desde 2003 o programa Saúde o programa já chegou a 2.572 mou aos senadores da subcomissão também as autoridades paraguaias na Escola, apoiado pela Unes- municípios e formou cerca de que o sistema de saúde e assistência convidadas. Daí resultou o nosso co e pelo Unicef e com a parti- 80 mil educadores. “Estamos re- plano operativo local de enfrenta- cipação do Ministério da Saúde produzindo 200 mil guias para mento ao crack e outras drogas”, (MS), monitora o estudante os próprios adolescentes e jovens Ponta Porã (MS) explica Doralice. executarem as ações de preven-

Dados sociodemográficos A secretária informou ainda que C r uz ção”, informa. aula, que não têm vaga na es- também desen-

J os é A senadora Ana Amélia, no cola? Então, acabamos fazendo Campo Grande volve um plano de atenção à saúde do Ministério da Saúde por não se entanto, criticou a desarticula- a prevenção de quem talvez não Mato Grosso do Sul que contempla a dependência quí- adequarem às regras da Anvisa para ção dos programas governamen- precisasse, porque talvez a prin- Dourados mica e destinou ao Fundo Estadual estabelecimentos de saúde. tais. “O que fazem uma profes- cipal prevenção que devamos de Assistência mais de R$ 1 milhão. “Temos a Resolução 109 [de Pedro Juan Ponta Porã sora ou um jovem que foi qua- fazer é garantir que as crianças Caballero “Nossa universidade estadual é um 2009] do MDS, que define os ti- lificado ao perceberem jovens possam entrar e não sair mais da Paraguai dos centros regionais de enfren- pos de serviços socioassistenciais. em risco ou que fazem uso ou escola”. tamento, que começou agora [em E é assim que fazemos o conve- abuso de droga? Para onde enca- A Secretária Nacional de As- População: 77.866 abril de 2011] o primeiro seminário, niamento [com as comunidades minham? Eu visito escolas e não sistência Social, Denise Colin, PIB per capita: R$ 9.738,50 a primeira capacitação prevista no terapêuticas] em Ponta Porã”, consigo ver essa integração”. reconheceu insuficiência de re- Estabelecimentos de saúde: 33 plano”. explica Doralice, referindo-se à O próprio Roberto Kinoshita, cursos e metodologias. E afir- Leitos para internação: 138 Ponta Porã, segundo Doralice, equiparação dessas entidades, feita do MS, reconhece outros limites mou que “a responsabilidade Unidades de saúde com atendimento financia comunidades terapêuti- pelo município, aos abrigos, casas do Saúde na Escola. “Uma das tem que ser a presença do Es- de emergência psiquiátrica: 0 Segundo Fátima Malheiros, cas com recursos do Ministério do de passagem e residências previstos programa do MEC já formou 80 tradições da área de saúde, de tado. Ficou bastante claro aqui Fonte: Assistência Médica Sanitária, 2009; Censo 2010, do Desenvolvimento Social, já que pelo MDS como destinatários de re- mil educadores para trabalhar fazer prevenção, é trabalhar com que a ausência de políticas pú- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) elas não têm acesso aos recursos cursos públicos. na prevenção contra as drogas as crianças que estão na escola. blicas acarreta, viabiliza e favo- Mas e as crianças que não têm rece a busca por alternativas”.

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Lei 6.368/1976, que separou as prisão para o usuário e o depen- Pacificadora (UPPs), reforçaram Da guerra ao tratamento: figuras penais do traficante e do dente, ou seja, para aquele que a repressão e levaram a presença usuário. Além disso, a lei fixou a tem droga ou a planta para con- do Estado a regiões antes entre- necessidade do laudo ­toxicológico sumo pessoal. A legislação tam- gues ao tráfico, não apenas aten- uma história de como o para comprovar o uso. bém passou a distinguir o trafi- dendo às críticas internacionais, Finalmente, a Constituição de cante profissional do eventual, como também como preparação 1988 determinou que o tráfico de que trafica pela necessidade de para a Copa do Mundo de 2014 e Brasil enfrenta as drogas drogas é crime inafiançável e sem obter a droga para consumo pró- as Olimpíadas de 2016. anistia. Em seguida, a Lei de Cri- prio e que passou a ter direito a As discussões em torno das leis mes Hediondos (Lei 8.072/90) uma sensível redução de pena. que tratam do tráfico e depen- Em sintonia com o modelo in- às Américas, a partir da década cialmente as drogas psicodélicas, proibiu o indulto e a liberdade pro- Já a criação da Força Nacional dência de drogas continuam a ser ternacional de combate às drogas, de 60, a droga passou a ter uma como maconha e LSD”, analisa. visória e dobrou os prazos proces- de Segurança e as operações nas feitas no Congresso, envolvendo capitaneado pelos Estados Uni- conotação libertária, associada Em 1973, o Brasil aderiu ao suais, com o objetivo de aumentar favelas do Rio de Janeiro, ini- ainda aspectos como o aumento dos, o Brasil desenvolve ações de às manifestações políticas demo- Acordo Sul-Americano sobre a duração da prisão provisória. ciadas em 2007 e apoiadas pelas de impostos e o controle do ál- combate e punição para reprimir cráticas, aos movimentos contes- Estupefacientes e Psicotrópi- Já a Lei de Drogas (Lei Forças Armadas, seguidas da im- cool e do cigarro (leia mais nas ­­ o tráfico. tatórios, à contracultura, espe- cos e, com base nele, baixou a 11.343/06) eliminou a pena de plantação das unidades de Polícia págs. 75 a 77). Essa tendência, porém, vem desde os tempos de colônia. As JB Ordenações Filipinas, de 1603, já previam penas de confisco Apreender drogas não resolve, é preciso

de bens e degredo para a África T ei x eira /CPD oc para os que portassem, usassem

andro desmantelar o tráfico, afirma delegado

ou vendessem substâncias tóxi- Ev cas. O país continuou nessa li- nha com a adesão à Conferência “Infelizmente, o Brasil faz fron- ga apreendido; e a identificação, Apreensões aumentam ­Internacional do Ópio, de 1912. teira com os três maiores produ- por meio de impressão digital, A visão de que as drogas se- tores de cocaína do mundo: Co- de todos os que forem pegos Nas apreensões, PF não distingue riam tanto um problema de saú- lômbia, Peru e Bolívia”, afirmou transportando. entre cocaína, pasta base e crack de quanto de segurança pública, o diretor de Combate ao Crime Ainda assim, os esforços estão Valores em toneladas 24,1 desenvolvida pelos tratados inter- Organizado da Polícia Federal longe de ser suficientes, afirmam 19,6 15,7 16,5 nacionais da primeira metade do (PF), Oslain Campos Santana, os participantes do ciclo de de- 13,4 século passado, foram paulatina- único convidado da subcomissão bates sobre drogas, muitos deles 7,2 mente traduzidos para a legisla- do Senado a falar sobre a repres- assombrados com a falta de re- ção nacional. Até que, em 1940, são à produção e ao tráfico de pressão policial e a tolerância às o Código Penal nacional confir- drogas. Para ele, porém, o maior cracolândias e ao tráfico. 2004 2005 2006 2007 2008 2009 mou a opção do país de não cri- problema é o ingresso de cocaína Fonte: Departamento de polícia Federal, Relatório minalizar o consumo. boliviana e colombiana através do Apreensões de Atividades, 2008. World Drug Report, 2011 Segundo Roberta Duboc Pe- Paraguai, que também produz e Apesar das deficiências das drinha, especialista em Direi- vende maconha ao Brasil. políticas e ações de repressão, o na estrada, você prender entorpe- to Penal e Sociologia Criminal, Diante dessa realidade, o dele- Brasil foi o país da América a re- centes, porque isso vai fazer parte estabeleceu-se uma “concepção gado informou que a PF decidiu gistrar o maior número de apre- do risco do negócio do trafican- sanitária do controle das drogas”, priorizar a região de fronteira. ensões de cocaína com destino te. Então priorizamos identificar pela qual a dependência é consi- No entanto, para patrulhar os à Europa em 2009. De acordo quem são os traficantes e desarti- derada doença e, ao contrário dos 16.886 km de fronteiras terrestres com o Relatório Mundial sobre cular toda a organização crimino- traficantes, os usuários não eram e os 7.408 km de costa marítima, Drogas 2011, da Organização das sa”, explicou Oslain, que apresen- criminalizados, mas estavam sub- o efetivo da PF é de apenas 982 Nações Unidas (ONU), o núme- tou as iniciativas atuais da PF de metidos a rigoroso tratamento, policiais. Para se ter uma idéia, a ro de apreensões da droga com repressão às drogas. com internação obrigatória. fronteira dos Estados Unidos com destino a outros países subiu de

o México, intensamente vigiada e 25 em 2005 para 260 em 2009. C r uz Modelo bélico Oslain Santana ainda assim permeável às drogas, Nesse mesmo período, o volu- J os é acusa que efetivo Porém, Roberta Pedrinha con- tem apenas 3.141 km. me apreendido subiu de 339 qui- é pequeno para ta que o golpe militar de 1964 e a Outros projetos da PF em an- los para 1.500 quilos. Já o total grande fronteira Lei de Segurança Nacional deslo- damento são a integração, inclu- das apreensões de cocaína subiu com produtores caram o foco do modelo sanitário sive com acesso às informações, de pouco mais de sete toneladas de cocaína para o modelo bélico de política com outras forças de segurança, em 2004 para 24 toneladas em criminal, que equiparava os tra- brasileiras e dos países vizinhos; 2009 (veja infográfico nesta pági- ficantes aos inimigos internos do a criação de cinco bases de fron- na), quando 1.600 quilos foram regime. Passeata estudantil no Rio, em teira dotadas de um avião de apreendidos em cinco aeronaves Para a advogada, não por aca- 1968: a contracultura da época patrulhamento não tripulado; interceptadas. so, a juventude associou o consu- também associou consumo de o projeto Perfil Químico das “Nós priorizamos não só a mo de drogas à luta pela liberda- drogas à luta pela liberdade Drogas, para identificar a fonte apreensão da droga. Não adianta de. “Nesse contexto, da Europa produtora de cada lote de dro- você só ficar apreendendo a carga

58  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  59 sociedade Comunidades oferecem A maioria das quase 3 mil comunidades terapêuticas foi criada a partir dos anos 1980, mas os 30 anos de atividade 80% das vagas e não fortaleceram suas relações com o poder público no que diz respeito a recursos e fiscalização. Área médica discorda que o tratamento de dependentes químicos seja concentrado querem ajuda do Estado no reforço e ampliação dessas instituições

om a falta de vagas comunidades com o poder públi- oferecidas pelo Esta- co é limitada. Elas não são consi- do para tratamento deradas instituições de tratamen- de dependentes quí- to, porque, na sua maioria, não Cmicos e doentes mentais, orga- apresentam condições técnicas nizações sociais são responsáveis para diagnosticar e tratar os de- pelo atendimento à maior parte pendentes segundo as normas de dos usuários de drogas no país. saúde. Para isso, precisariam estar Muitas delas são ligadas a grupos articuladas com a rede de saúde religiosos, instituições com gran- pública. E ambos impõem condi- de capilaridade, tradição de tra- ções de lado a lado. balho voluntário e capacidade de Roberto Kinoshita, coordena- mobilização. dor de Saúde Mental, Álcool e Segundo o senador Wellington Outras Drogas, do Ministério da Dias (PT-PI), 80% das vagas para Saúde, esclareceu aos senadores tratamento de dependentes quími- que, de fato, o órgão "não tem cos, disponíveis para internação intenção de trazê-las para dentro ou não, estão no setor privado, nas do sistema sanitário pelo enges- comunidades terapêuticas ou em samento que implicaria para as clínicas. comunidades. Desvirtuaria aqui- A senadora Ana Amélia lo que elas têm de essencial, que (PP​-RS) destaca que “até a Orga- é o empenho, a dedicação, que é nização Mundial da Saúde reco- muito ef icaz”. nhece o assessoramento das comu- No ciclo de audiências da sub- nidades terapêuticas, especialmen- comissão, os representantes das te no Brasil, em que a participação comunidades reclamaram do do Estado é muito pequena e os excesso de exigências feitas e da médicos já identificaram a insufi- consequente falta de apoio do go- ciência de tratamento”. Por conta verno ao seu trabalho, resultado disso, Wellington defende apoio desse “limbo” institucional em do governo para que as comunida- que se encontram. des terapêuticas possam expandir Nos debates, a comunidade ainda mais o seu trabalho. médica demonstrou reservas ao A partir da década de 1980, tipo de tratamento oferecido pe- começaram a ser implantadas as las comunidades, as quais acusam quase 3 mil comunidades tera- de internar dependentes sem o pêuticas brasileiras, que, geral- necessário diagnóstico e de tenta- mente, baseiam os seus métodos rem tratar apenas com disciplina Fazenda da Esperança de tratamento e de reinserção e apoio moral aqueles que têm São Libório: pacientes social em princípios religiosos e outras doenças associadas, espe- participam de atividades morais. cialmente psiquiátricas (leia mais

Maurício A raújo religiosas na instituição Passados 30 anos, a relação das nas págs. 63 e 64).

60  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  61 Sociedade Fazendas dizem recuperar entre 40% e 80% dos viciados

Apesar da carência de recursos, tanto dos dependentes quanto de grande parte das instituições, os representantes das comunidades terapêuticas afirmam ter índi- ces de recuperação entre 40% e 80%. Fazenda da Esperança de O coordenador de Saúde Men- Guaratinguetá (SP): tal, Álcool e Outras Drogas, do terapia ocupacional é uma Ministério da Saúde, Roberto das bases do tratamento Kinoshita, contesta os números.

J oacir O liv e ira “Do ponto de vista estatístico, a parte técnica do tratamento tem Entrega de certificados nos limites claros. No que concerne cursos de técnica agrícola, Recuperação pela vivência religiosa e trabalho aos estudos de eficácia, há pesso- informática básica e marcenaria, as que saem do problema das dro- na Fazenda da Paz, em 2006 Mesmo com metodologias instalações da comunidade, além 8. O contato com a natureza, com gas sem nenhum tratamento e há A rquivo muito diferentes, há algumas ca- de preparar e servir a própria animais, esporte, cultura e la- outras que fazem um monte de racterísticas básicas que podem ser comida. zer em grupo, facilitados pela tratamentos e não saem. As diver- Fazenda da Esperança de ninguém e sequer de si mes- encontradas nas comunidades te- 3. Como terapia ocupacional, os instalação das comunidades te- sas técnicas e abordagens têm efi- Em 1983, o frade francisca- mos, mas na fazenda começam rapêuticas mais conceituadas que internos trabalham. Aquilo que rapêuticas em fazendas, é outro cácia bastante análoga: nenhuma no alemão Hans Stapel criou em a perceber que aquelas criaturas funcionam no país para tratar de de- produzem ou plantam é vendi- diferencial, eliminando as fontes supera os 30% de cura”. Guaratinguetá (SP) a Fazenda dependem do seu cuidado para pendentes químicos. do, em muitos casos, para gerar de estresse e ansiedade da vida Alguns especialistas, como a da Esperança – juntamente com crescerem”, afirma relatório da 1. As comunidades acreditam que renda, que ajuda a sustentar a urbana. socióloga Rita Maria Monteiro, Nelson Giovanelli, jovem que Fazenda da Esperança. as atividades religiosas (cultos, comunidade em que estão inter- 9. O tempo médio de tratamento ressalvam, porém, que a absti- frequentava a paróquia. Segundo Com relação à liberdade reli- cursos, palestras) estão no cer- nados. A atividade serve ainda gira em torno de um ano. Não nência total das drogas, até o fim ele, os centros combinam espiri- giosa, questionada na subcomis- ne da recuperação das pessoas. como preparação profissional é claro como é medido o grau da vida, só acontece em 2% dos tualidade, trabalho e convivência. são, Stapel argumenta que “se São usadas como recurso para que possa ajudar na reinserção de dependência e como isso in- casos. “Hoje, mais de 20 mil pessoas cada um faz o que quer, vira uma reorientar psicológica e moral- social da pessoa depois da in- fluencia no desenvolvimento e no Três experiências foram apre- de 15 a 55 anos já passaram pela bagunça. Cada um que se inscre- mente o interno, estimulando ternação, para que ela se sinta cumprimento de um programa sentadas na subcomissão: da Fa- Fazenda da Esperança. Temos ve sabe que funciona assim e, se valores como a solidariedade. incluída na sociedade e as chan- terapêutico que também previna zenda da Paz, com duas comu- índice de 80% de recuperação, quiser participar, é bem-vindo. Nessa linha, muitas comunida- ces de recaída sejam reduzidas. recaídas. nidades no Maranhão e uma no medidos por pesquisa de três uni- Você tem que se tornar católico? des procuram reproduzir a rotina 4. O trabalho é voluntário, execu- Essas características se referem Piauí; da Instituição Padre Ha- versidades, sendo que uma, da Não. Mas você tem que partici- familiar, unidade básica da socie- tado por pessoas vocacionadas, às comunidades que são referên- roldo; e da Fazenda da Esperan- Alemanha, nos acompanhou por par e viver o amor. A gente ensina dade, provocando a participação que se dedicam, sem salário, a cia, inclusive para a subcomissão do ça, rede com 52 unidades em 23 mais de cinco anos. Três mil es- isso na meditação, na missa”. e o envolvimento do interno. A orientar os internos. Muitas das Senado. Os especialistas médicos estados e centros em outros dez tão conosco hoje, em tratamento. Outro foco do tratamento nas própria família do dependente comunidades, no entanto, recor- reconhecem a metodologia e o es- países. Somos a maior do Brasil”, afirma fazendas da Esperança é o tra- químico é estimulada a participar, rem aos serviços remunerados de forço das comunidades terapêuticas Stapel. balho, usado como terapia desti- ainda que as visitas sejam restri- profissionais habilitados em áreas para acompanhamento, assistência Os jovens que ficam um ano nada a afastar os “malefícios da tas e monitoradas. como psicologia e medicina. e reinserção social dos dependentes, Frei Hans Stapel, fundador na entidade passam a frequentar desocupação e da ociosidade”, 2. Para atingir os objetivos, a 5. A atenção e o acompanhamen- depois que a doença (mental ou de da Fazenda da Esperança, na o grupo Esperança Viva, dedica- para elevar a autoestima e a auto- disciplina nas comunidades to do interno são, na medida do dependência química) seja diagnos- audiência da subcomissão do à reinserção social. Quando confiança do interno, e como mé- terapêuticas costuma ser rígi- possível, individualizados, o que ticada e tratada. saem, continuam se encontran- todo de reabilitação social, sob a da. O cumprimento das regras tende a propiciar melhores resul- Porém, há comunidades tera- do no grupo, junto com os pais. ótica do desenvolvimento de no- e dos horários e a frequência tados às terapias. pêuticas criticadas por não terem Existem 180 grupos no país. vas habilidades e da descoberta de às atividades são cobrados. É 6. Separação por sexo (praticamen- know-how para tratar pessoas com A instituição aposta no aten- novas perspectivas profissionais. imperioso que haja respeito aos te todos os estabelecimentos só problemas físicos e psiquiátricos dimento psicológico – usando a demais membros da comuni- atendem a pessoas de um mesmo associados, bem como a depen- técnica de abordagem direta do Padre Haroldo dade. Assim, espera-se que os sexo) e exigência de abstinência dência química a múltiplas drogas, inconsciente e o método psicana- O jesuíta norte-americano internos tenham consciência de sexual durante a internação. especialmente o álcool, e fazer o lítico da regressão – e na desin- Haroldo Rahm, fundador da Ins- suas responsabilidades e tare- 7. A abstinência do álcool e das dro- encaminhamento dos internos à toxicação natural, por meio do tituição Padre Haroldo, de Cam- fas, inclusive por trabalharem em gas é total. A estratégia radical, rede pública de saúde. Outras são contato com a natureza, o cultivo pinas (SP), esclarece que a enti- equipe. Os internos devem cuidar porém, é criticada por especialistas acusadas até de escravização dos pa- de plantas e a criação de animais. dade trata, em especial, “a vítima

de seus próprios pertences e das em dependência química. cientes (leia mais na pág. 68). s J . Fr e ita “Muitos deles nunca cuidaram pobre que não pode ir ao psiquia-

62  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  63 Sociedade

mensais por pessoa. “Um jovem, rigir e a construir e os pacientes. Medicina quanto a Associação tem uma história e é uma estra- O jesuíta Haroldo Rahm, Ricardo Paiva, do fundador da Instituição Padre suando, paga R$ 200, e paga- Cumprimos as mesmas normas Brasileira de Psiquiatria consi- tégia que pode ser aplicada num Conselho de Medicina Haroldo: ajuda de amigos mos os outros R$ 2,2 mil. Quem e regras. Temos os mesmos direi- deram que as boas comunidades hospital psiquiátrico, numa fa- de Pernambuco, diz e do poder municipal mantém são os amigos, com al- tos e deveres. O profissional, para realizam efetivamente o acompa- zenda ou numa residência prote- que solução não está guma ajuda da prefeitura”. entrar em uma comunidade tera- nhamento, a assistência e a rein- gidas”, afirma Fortes. nas comunidades Além do atendimento psicoló- pêutica, tem de aprender, primei- serção social dos dependentes, Segundo o médico, desde o sé- gico e do trabalho, a instituição, ro, a respeitar. Aprendemos algu- mas se ressentem do que conside- culo 19 os psiquiatras observam como várias outras comunidades, ma coisa com o paciente também. ram ser uma invasão da área mé- que o trabalho melhora as pessoas lança mão da filosofia dos 12 Essa convivência diária, essa troca dica. Isso porque muitas comuni- e recomendam a ocupação como passos, dos alcoólicos anônimos. de saber é o que leva à reorganiza- dades oferecem, em substituição tratamento. A expressão “comu- “Quero que ciência e espiritu- ção do indivíduo. É muito difícil ao tratamento médico, progra- nidade terapêutica” nasceu dessa alidade trabalhem juntos. Somos para um profissional aceitar isso. ma terapêutico cuja eficácia não observação. racionais e somos espirituais. Novos psiquiatras estão estudan- é comprovada por evidências “Bion [Wilfred Bion, psiquia-

Vivo com 200 homens e mulhe- do, procurando as comunidades científicas. tra e psicanalista inglês] estudou s J . Fr e ita res e tento educá-los e fazer com terapêuticas. Mas os profissionais “Os serviços comunitários ge- melhor esse contexto e aplicou os que eles fiquem sóbrios. Temos resistem, há corporativismo e fal- ralmente são religiosos e muitos conceitos de grupos de trabalho comunidades terapêuticas, os psi- uma escola, onde ensinamos a ta de compreensão”, acusa. são precários, carecem de base para que as tarefas sejam discuti- quiatras questionam, no entanto,

s J . Fr e ita trabalhar profissionalmente. O A instituição tem uma mi- científica e beneficiam pouco no das, executadas e cobradas”, ex- a limitação do direito de ir e vir que precisam é de um bom exem- nirrede de atenção social para aspecto do adoecer. No aspecto plica o representante da Associa- que elas impõem a seus internos. tra, ao psicólogo”. Também repre- plo. Pessoas que tenham interes- adolescentes em situação de rua da reabilitação e da reinserção, ção Brasileira de Psiquiatria. Eles apontam ainda a necessidade sentante da Associação Promo- se neles. Isso cura. Conseguimos e mantém uma unidade para ho- têm uma importância fundamen- Embora reconheçam a vali- de avaliação médica antes e du- cional Oração e Trabalho (Apot), sucesso em, mais ou menos, 40% mens, outra para mulheres e uma tal. A comunidade terapêutica dade do trabalho realizado pelas rante a internação. Rahm destaca diferen- dos casos”, afirma. terceira para adolescentes. ças entre a Instituição Pa- dre Haroldo e a Fazenda da Fazenda da Paz Esperança. O terapeuta Célio Luiz Barbo- “A prefeitura de Campinas me sa, que fundou em 1994 a Fazen- J o sé C ruz Uniad é referência ajuda muito, o estado [de São da da Paz, idealizada pelo padre laica em tratamento Paulo] já ajudou. Mas não conto Pedro Balzi em parceria com lei- com muitos voluntários. Tenho gos da Arquidiocese de Teresina, Elogiada pelos especialistas cerias com o setor público e a 15 psicólogos, seis assistentes so- lamenta que, apesar de suas três que falaram à subcomissão, a sociedade civil. ciais. Tento pagar bons salários. unidades e do índice de recupera- experiência de tratamento dos Em parceria com a Secreta- Mas, depois de oito horas, eles ção de 42%, o trabalho da insti- dependentes químicos desen- ria da Saúde do Estado de São nh o Da n i e l C a s ta têm que ir para casa. Eu não pos- tuição não seja reconhecido. volvida pelo médico psiquiatra Paulo, o Grupo Saúde Bandei- so abrir outros lugares, porque “Trabalhamos com crianças de Ronaldo Laranjeira, coordena- rantes e o Hospital Lacan, a não tenho dinheiro para mais 12 anos até adultos com 72 anos. Célio Barbosa, da Fazenda da Paz, dor da Unidade de Pesquisa em Uniad montou, nos últimos 17 salários”, lamenta. A resistência [dos profissionais de de Teresina, lamenta não ter o Álcool e Drogas (Uniad), da Uni- anos, uma pequena rede de Ele atende a cerca de duzentos saúde] ocorre porque há igual- trabalho reconhecido pelos médicos versidade Federal do Estado de atendimento, ensino e pesquisa, jovens, a um custo de R$ 2,4 mil dade entre os que ajudam a di- São Paulo (Unifesp), baseia-se considerada referência nacional na abordagem multiprofissional e também em prevenção e trata- individualizada. mento do uso indevido de álcool A Uniad foi fundada por e outras drogas, com excelentes Médicos contestam Laranjeira e pelo também psi- índices de recuperação. quiatra John Dunn em 1994, Ronaldo Laranjeira, que é comunidades terapêuticas com o apoio do Departamento também coordenador do De- de Psiquiatria da Unifesp. Até partamento de Dependência Mesmo responsável por qua- ao aumento do número de leitos buco, uma fazenda terapêutica é 1996, funcionava dentro do Química da Associação Brasileira tro em cada cinco tratamentos de para internação e de hospitais bem-vinda e eficaz, mas a solução Complexo Hospital São Paulo, de Psiquiatria (ABP), acredita que dependentes químicos, o modelo psiquiátricos, já em quantidade para a rede de tratamento não com o único objetivo de atender a dependência de crack é muito das comunidades terapêuticas e muito aquém da necessária (veja pode ser centrada em fortalecer funcionários dependentes. grave para ser resolvida apenas o aumento do investimento do infográfico na pág. 38). e ampliar comunidades terapêu- Em novembro de 1996, a ambulatorialmente. Estado nessas instituições (como “Como a tendência é de o tra- ticas. “Precisamos ter o entendi- Uniad e moradores do bairro “O usuário muitas vezes propõem a Frente Parlamentar tamento ser feito por tempo pro- mento de que não é um problema paulistano Jardim Ângela criaram precisa ser internado, principal- Mista em Defesa das Comunida- longado, a sociedade não pode para ser apropriado por religiosos. uma unidade comunitária para mente na fase mais aguda do des Terapêuticas, Acolhedoras e pagar por intervenções que não Queremos uma frente parlamen- oferecer, além de tratamento tratamento, e só uma clínica Apacs – associações de Proteção tenham suficientes evidências de tar, mas não uma frente parla- ambulatorial, moradia assistida pode oferecer cuidados mais in- e Assistência aos Condenados) é resultados satisfatórios”, alerta mentar controlada pela religião. para dependentes com proble- tensivos”, explica, afirmando que muito criticado pelos médicos. Emmanuel Fortes, da Associação O Estado é laico, na forma da mas mais complexos, além de não há fórmula para o tratamen- Eles temem que os recursos, Brasileira de Psiquiatria. lei”, afirma Paiva. atuar em prevenção e reinserção to de usuários e que é preciso No Jardim Ângela, bairro de São social. A Uniad, então, universa- atender à necessidade de cada sempre escassos, se destinados às Para Ricardo Albuquerque Paulo, a Uniad também atende comunidades, deixarão de aten- Paiva, diretor do Conselho Re- Metodologia lizou o atendimento e deu início paciente e oferecer reabilitação a crianças que convivem com der à expansão da rede pública e gional de Medicina de Pernam- Tanto o Conselho Federal de a atividades acadêmicas e par- psicossocial. dependentes químicos em casa

64  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  65 "Pedalada pela vida", em Lins, evento da Acesso a recursos só com Pastoral da Sobriedade, da Igreja Católica: sociedade se organiza tratamento adequado para enfrentar o vício Para terem acesso ao apoio dades e de pagar às comunidades financeiro do Estado, as comu- R$ 800 mensais por vaga durante nidades precisam, em primeiro um ano. O dinheiro seria repassa- lugar, se adequar às normas da do pelo Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Entre outros requisitos, Senad Sanitária (Anvisa). É preciso ain- e ministério exigiram que as co- da atender às regras dos editais do munidades providenciassem duas Ministério da Saúde e da Secre- visitas médicas a cada dez dias taria Nacional de Políticas sobre para cada interno e que não obri- Drogas do Ministério da Justiça gassem o interno que se opusesse Senador Eduardo (Senad), onde está centralizada a assistir aos cultos religiosos. Amorim: desafio a gestão da política antidrogas e Muitas comunidades se recusa- é desburocratizar dos recursos a serem nela aplica- ram a participar em razão dessas liberação de recursos do dos (leia mais na pág. 50). duas exigências e o edital da Se- governo às casas Dom Irineu Danelon, bispo de nad aprovou apenas 78 projetos, de recuperação

Lins (SP) e responsável pela Pas- num total de 985 leitos, ou cerca s J . Fr e ita

toral da Sobriedade da Conferên- de 27% das 3.500 vagas previs- n Go mes A ilto cia Nacional dos Bispos do Brasil tas. Frei Hans Heinrich Stapel, da participação dos internos nas (CNBB), afirmou à subcomissão fundador da Fazenda da Esperan- atividades religiosas, mas, assim, da para o problema das drogas, tão, não foi feito um convênio por “Para mim falta respeito aos do Senado em 28 de junho que ça, rede católica de comunidades correm o risco de o Ministério no Ministério da Saúde. Mas não falta de rubrica no ministério”. senhores deputados e senadores, “o governo não pode abrir mão com 52 unidades no Brasil, expli- Público impugnar o convênio. houve empenho dos recursos por Hans Stapel manifestou a frus- respeito às entidades, respeito das exigências para a concessão ca: “Eu rejeitei. Sabem por quê? Paulina Duarte esclarece que a não haver uma política clara do tração das comunidades com a ao povo brasileiro que precisa de dos recursos, mas poderia reduzir Porque não entendem a comuni- exigência é constitucional: “Não ministério para essa questão. En- não liberação das emendas. ­ajuda”. o excesso de burocracia”. dade terapêutica. Querem fazer posso financiar, com dinheiro Em resposta, o senador Eduar- de nós um hospital, o que não público, uma instituição cató- do Amorim (PSC-SE) disse que somos”. lica que recebe para tratar um o desafio do Senado “é realmente evangélico e o obriga a assistir a desburocratizar” a aplicação dos Religião uma missa. Para essas comuni- Anvisa ameniza regras para comunidades terapêuticas recursos governamentais desti- Sobre essas normas, Paulina dades, a nossa sugestão é de que nados às casas de recuperação de Duarte, secretária nacional de seja seguida a metodologia, mas Durante o ciclo de audiências obter financiamento público. De sobre o crack na subcomissão do acordo com o senador, dois de- Senador Acir dependentes químicos. Políticas sobre Drogas, esclareceu que se dê ao interno o direito de Gurgacz elogia No ano passado, a Senad lan- que, antes de publicado o edital, escolha”. Senado, os representantes das les praticamente impediam que novas regras para çou edital (1/10) para abrir novas representantes das federações de A Em discussão!, Adalberto comunidades terapêuticas quei- as comunidades se adequassem as comunidades vagas nas comunidades terapêu- comunidades terapêuticas foram Calmon Barbosa, diretor de Pro- xaram-se da norma da Agência às regras: a proibição de que os terapêuticas Nacional de Vigilância Sanitária internos fossem obrigados a par- definidas pela ticas, que, entre outras regras, convidados a opinar. jetos da Fazenda da Esperança, Anvisa: flexibilização atribuiu às prefeituras a responsa- “Destinamos R$ 34 milhões disse que “a ideia não é converter (Anvisa) para o funcionamento ticipar das atividades religiosas bilidade de acompanhar as ativi- num único edital para financiar quem quer que seja. Não ensina- das entidades. Segundo eles, a e a exigência de que eles fossem comunidades terapêuticas. Quem mos religião. Ensinamos respeito, norma exige que, para serem atendidos, pelo menos uma vez escreveu esse edital fui eu. Não amor, responsabilidade. Mas é reconhecidas, as comunidades te- por mês, por médico psiquiatra. coloquei a resolução da Anvi- preciso que o interno esteja com o nham estrutura e equipe similares O senador (PDT-​ sa [101/01, revogada – leia mais grupo, que participe. Não pode- às requeridas para unidades de RO) elogiou a mudança. “As na página ao lado]. Coloquei no mos deixá-lo sozinho, ainda que saúde. exigências para que se pudesse Mor e ira Mariz edital critérios mínimos, de acor- ele queira”. A Fazenda da Espe- Com tantos críticos, a Resolu- manter esse tipo de atendimento do com o que eu conhecia e que rança abriu mão de participar do ção 101/01 foi substituída logo até então eram exageradas, em um substituto com a mesma as comunidades poderiam, sim, edital por “não poder prescindir depois, em 30 de junho passado, total desacordo com a própria qualificação;­ cumprir”. de sua filosofia e métodos”. por outra (29/11) bem mais flexí- proposta do governo de popula- • cada interno tenha ficha in- O senador Waldemir Moka vel, que define essas instituições rizar e democratizar esse tipo de dividual com o registro dos (PMDB-MS), no entanto, argu- Emendas parlamentares como prestadores de “serviço de atendimento”, observou. atendimentos; menta que as comunidades “ale- Outra fonte de recursos pode- atenção” a pessoas com “trans- Agora, a nova resolução da • dependentes com doenças as- gam que o edital do Ministério riam ser as emendas parlamenta- tornos decorrentes de uso, abuso Agência Nacional de Vigilância Sa- sociadas que exijam cuidados da Justiça dá a entender que há res, mas aí também as comuni- ou dependência de substâncias nitária exige que: médicos não sejam admitidos; restrição à metodologia deles. Ou dades esbarram na indefinição de psicoativas”. • as comunidades mantenham • haja respeito à pessoa e à famí- Dom Irineu Danelon, bispo de seja, eles apostam na terapia da fé sua situação junto ao governo. O Foram retirados requisitos que, técnico de nível superior le- lia, sem qualquer discriminação; Lins e responsável pela Pastoral da Sobriedade, da CNBB: menos para o tratamento, e é como se o senador Wellington Dias (PT-PI) segundo Wellington Dias, eram galmente habilitado (e não • a permanência seja voluntária burocracia seria melhor governo quisesse interferir nisso”. narrou que, “em 2009, a bancada os principais responsáveis pelas mais obrigatoriamente da área por um tempo definido, nas

rtur Garção A rtur As comunidades não abrem mão do Piauí apresentou uma emen- dificuldades das comunidades em de saúde, como antes), com normas da instituição.

66  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  67 Sociedade

Prefeituras devem fiscalizar, mas ainda não há padronização

Atualmente, cabe aos servi- visarem apenas retirar recursos cionar também como instituição ços de vigilância sanitária das das famílias, das comunidades ou fiscalizadora do atendimento, por prefeituras a fiscalização das das prefeituras. meio da concessão de um selo de comunidades terapêuticas. O Diante da necessidade de dis- ­qualidade. Ministério Público também ciplinar a atividade para evitar O senador Wellington Dias realiza vistorias para evitar irre- que a imagem negativa desses concorda que ainda não se gularidades como a presença de casos se disseminasse foi fun- tem um padrão de atuação que menores, que, por lei, não po- dada, em 1990, a Federação permita uma fiscalização mais dem residir nessas instituições. Brasileira das Comunidades efetiva. “Temos uma entidade Mesmo com fiscalização, Terapêuticas (Febract), encar- mundial que organiza as co- ­muitas comunidades funcio- regada de definir um código de munidades terapêuticas, mas nam em situação precária, sem ética, padronizar métodos de precisamos ter, pelo menos, condições de atender a todas as atendimento e treinar as pesso- um foro dessas entidades para exigências legais. Algumas de- as que lidam diretamente com os que a gente tenha uma pactu- las já foram, inclusive, acusadas dependentes. ação mínima da conceituação e de escravizar e maltratar os de- A Febract pleiteia junto ao das formas de trabalho que dão pendentes e suas famílias e de governo a permissão para fun- certo”.

Sociedade também se organiza para colaborar na prevenção

“Enfrentar as drogas ocu- de expressão, explicou, servem pando espaços. Os espaços físi- como ferramentas de integra- Jornalista Manoel Soares, presidente cos, lugares abandonados e fre- ção e inclusão, principalmente da base gaúcha da Cufa: estratégia é quentados por traficantes e vi- em locais que costumam ser ocupar os espaços físicos, simbólicos e afetivos tomados pela droga ciados; os simbólicos, surgidos redutos de consumo e tráfico com a ausência de serviços e de crack, prostituição, brigas e políticas públicas e com a falta assassinatos. de acesso à educação; e os afeti- “Foi graças aos vácuos, es- vos, deixados por famílias com paços que não foram ocupados graves problemas financeiros e por nós, que a droga se insta- estruturais.” Essa é a estratégia lou”, argumenta Soares. da Central Única das Favelas Em 2006, a Cufa produziu o (Cufa), organização fluminen- documentário Falcão: meninos se presente nos 26 estados e no do tráfico, que foi ao ar no pro- Distrito Federal, que promove grama Fantástico, da TV Glo- atividades nas áreas da educa- bo, e na TV Câmara, expondo ção, lazer, esportes, cultura e a vida de jovens relacionados cidadania. ao tráfico, alcançando grande No Senado, o trabalho da ­visibilidade. Cufa foi apresentado pelo jor- Outra iniciativa que alcan- nalista Manoel Soares, presi- çou repercussão nacional foi a

dente da base do Rio Grande campanha “Crack, nem pen- J o sé C ruz do Sul. A central oferece aos sar”, realizada pela Fundação jovens oficinas de grafite, DJ, Maurício Sirotsky Sobrinho, exemplo da mobilização que a Basquete de rua na sede da Central Única break, rap, audiovisual e litera- mantida pelo Grupo RBS de sociedade tem feito para pre- das Favelas, no bairro de Madureira, no Rio tura, além de esportes como ar- Comunicação. Essa campanha encher o espaço deixado pelo de Janeiro: organização está presente em 26 estados e no Distrito Federal tes marciais, skate e basquete de já atingiu, segundo Soares, 12 Estado nas áreas de educação e

rua, entre outras. Essas formas milhões de pessoas e é outro prevenção. n Bru n o I ta

68  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  69 propostas

omo signatário No entanto, diferentemente considerado um problema das convenções da da tendência internacional, civil, e o consumo de drogas ONU sobre entor- principalmente europeia, de passou a ser tratado priorita- pecentes, o Brasil descriminalização gradu- riamente como uma questão deveC manter ilegais drogas al do uso de drogas, grande de saúde pública (leia mais como cocaína, heroína e ma- parte das propostas dos par- na pág. 79). conha. Porém, como mostra lamentares brasileiros apos- “Portugal viveu uma forte Apertar o cerco a experiência em diversos tam em aumentar penas para diminuição da violência as- países, existe margem para traficantes e até para usuá- sociada ao tráfico por meio alternativas, como a descri- rios. da descriminalização do uso minalização, na tentativa de Estudo feito na Câma- e da posse. Deprimiu-se a ou diminuir efeitos negativos ra dos Deputados em 2009, economia do tráfico e con- das drogas na sociedade. com mais de 100 propos- seguiu-se retirar o tema da descriminalizar? Essa opção só está dispo- tas relacionadas ao tema, violência da agenda política, nível porque descriminalizar mostra que a penalização é vinculando as medidas ao não significa legalizar, mas o caminho geralmente su- fortalecimento do sistema de retirar o caráter criminal de gerido. Prisão preventiva tratamento de saúde mental”, algumas condutas em rela- em processos por tráfico de pondera Teixeira no artigo ção às drogas. Sem retirar o drogas, cumprimento total lido por Suplicy, publicado caráter ilícito da relação com da pena em regime fechado, pelo jornal Folha de S.Paulo. substâncias ilegais, a propos- regime de prisão especial e Além das drogas ilícitas, o ta é extinguir a punição na dificuldades para progressão Parlamento discute medidas esfera criminal ou suavizá-​ da pena para traficantes são de controle às drogas lícitas, la, substituindo a prisão por algumas das sugestões. como álcool e tabaco, que penas alternativas, multas Um exemplo é o projeto outros países já adotaram, etc. do senador Demóstenes Tor- para restringir a propaganda Na verdade, o país, ain- res (DEM-GO) que reins- e limitar e taxar as vendas. Entre as experiências internacionais da que não tenha descri- titui a pena de prisão para o “É preciso trabalhar as a serem avaliadas no debate sobre minalizado o consumo e o usuário, como existe na Sué- duas pontas, a oferta e a de- o combate aos entorpecentes, estão porte de drogas, já acabou cia (leia mais na pág. 75). manda”, resume o presidente com a pena de prisão para da subcomissão, Wellington a descriminalização, a redução de o usuário quando apro- Punição branda Dias (PT-PI), apontando que danos e a fiscalização mais rígida. vou a Lei Antidrogas (Lei Mas já há parlamentares o colegiado deve propor um Maioria das propostas no Congresso 11.343/06). Atualmente, que defendem uma mudan- novo caminho para atacar tende a aumentar as penas por crimes “quem adquirir, guardar, ti- ça de enfoque, passando pela o problema das drogas no ver em depósito, transportar despenalização do usuário e Brasil. relacionados às drogas ou trouxer consigo drogas até mesmo pela legali- para consumo pessoal” será zação das drogas. submetido apenas a adver- Eduardo Suplicy tência, prestação de serviços (PT-SP), por exemplo,

comunitários ou obrigação apresentou à subcomis- C ristina Gallo de ­comparecimento a curso são da CAS um artigo educativo. do deputado federal Esse caminho leva em Paulo Teixeira (PT-SP) conta que as ações repressi- que pede um “debate vas das últimas décadas, que aberto e sereno” sobre têm os Estados Unidos como drogas, por não haver referência, não conseguiram “soluções mágicas”. resultados minimamente efi- A política adotada Marcello C asal Jr. cazes. A descriminalização recentemente por Por- é defendida pela Comissão tugal é uma das refe- Global de Política sobre as rências de quem sugere Drogas, da ONU (leia mais essa mudança de abor- na pág. 72). dagem sobre o tema. Lá, o porte de drogas “É preciso acabar com a marginalização Tendência nacional para consumo próprio de pessoas que usam drogas, mas não Suplicy destaca artigo defendendo debate fazem mal a outras”, diz relatório da ONU O Congresso Nacional deixou de ser uma in- aberto e sereno, tendo como referência a não está alheio a esse debate. fração penal para ser política sobre drogas adotada em Portugal

70  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  71 Propostas Mudança de foco Usuário precisa de tratamento, A comissão da ONU critica o fato de os órgãos responsáveis Álcool causa mais danos; crack aparece em 3º lugar pela questão das drogas estarem, defende comissão da ONU em geral, ligados aos ministérios Estudo desenvolvido na Inglaterra estimou mortes de usuários e acidentes da Justiça – caso da brasileira Secretaria Nacional de Políticas Álcool Além de criticar a aborda- de saúde por meio de punições legislação específica de cada sobre Drogas (Senad) – e não Heroína gem atual da política interna- não é efetivo. “Lugar de do- país. aos da Saúde. Mais que isso, su- O álcool causa cional de combate às drogas ente não é na cadeia”. Melhor “Como acontece com to- gere que haja uma reforma nos Crack mais danos a (leia mais na pág. 18), a Co- seria prover serviços de trata- dos os acordos multilaterais, as organismos internacionais que terceiros do que a seus usuários missão Global de Políticas so- mento baseados em evidências convenções sobre drogas pre- cuidam do assunto. “A estrutura Metanfetamina bre as Drogas da ONU oferece científicas. cisam ser submetidas a revisão montada é baseada na noção de Cocaína O uso de alternativas para lidar com o A comissão propõe ainda constante e modernização sob que o controle internacional das metanfetaminas problema, como a redução de a oferta de penas alternativas a luz de variáveis e circunstân- drogas é primariamente uma luta Tabaco é o que mais cresce danos (leia mais na pág. 36) e para pequenos traficantes que cias que mudam. Os governos contra o crime. Assim, há interes- nos Estados Unidos a descriminalização do usuário. sejam réus primários. precisam ter a possibilidade de ses inconfessos na manutenção Anfetamina “É preciso acabar com a cri- O documento das Nações exercer a liberdade para experi- do foco policial e os tomadores minalização, a marginalização Unidas também sugere que, mentar políticas mais adequa- de decisão desses órgãos [como Maconha e a estigmatização de pessoas se for necessário, as conven- das as suas circunstâncias. A o Unodc] têm, tradicionalmen- Tranquilizantes que usam drogas, mas não fa- ções internacionais sobre en- crença de que todos precisamos te, maior familiaridade com essa zem mal a outras”, afirma rela- torpecentes devem ser revistas, ter exatamente as mesmas leis, abordagem”, aponta o documen- Metadona Danos à sociedade tório de junho deste ano. inclusive para que as diversas restrições e programas tem sido to, que acusa ainda a exclusão da Danos aos usuários A comissão entende que ge- realidades políticas, sociais e uma restrição que não ajuda”, Organização Mundial da Saúde Anabolizantes renciar as condições sociais e culturais sejam atacadas por avalia o documento. (OMS) do debate. Ecstasy

LSD Fonte: Nutt, D.J.; King, L.A.; Philips, L.D.: 2010. Drug harms in the UK: a multicriteria Cogumelo decision analysis – The Lancet, 2010; 376: 1558-65 Polícia incinera parte de uma plantação de maconha: nova avaliação dos riscos da droga pode Solução pode passar por mudar legislação classificação das drogas Em vez de tornar mais rígida a classificações do risco e dos danos repressão ou liberar o uso por com- causados pelas drogas “foram fei- pleto, uma solução intermediária tas há 50 anos, quando havia pou- passaria por adotar uma classifi- cas evidências científicas sobre as

Daniel C astellano/ A GP cação das drogas em leves, mode- quais basear as decisões. Isso resul- radas, fortes e pesadas, de acordo ta em anomalias óbvias. Maconha com os riscos e danos que causem e folhas de coca, particularmente, ao usuário e à sociedade. parecem estar classificadas incor- Com uma escala assim, poderia retamente, devendo essas avalia- haver graus de tolerância para cada ções ser revistas pelas autoridades substância – para muitas delas, cla- ­nacionais e pela ONU”. ro, como o crack, a tolerância con- Recentemente, publicações es- tinuaria sendo zero. A Holanda já pecializadas vêm oferecendo me- tem experiências com base nessas todologias de classificação das informações desde 1976 (leia mais drogas, entre elas uma publicada na pág. 80). pela revista The Lancet, em no- A proposta está em linha com vembro de 2010. Novas interpre- a descriminalização do usuário. tações como essa levam a mudan- A Comissão Global, por exemplo, ças na legislação, como ocorreu sugere que uma nova abordagem em diversos países na Europa que sobre as restrições à maconha seja passaram a permitir o porte de feita como transição do modelo maconha em pequenas quantida- repressivo para outro, em que o des e até mesmo seu cultivo pelos preconceito é combatido para que usuários, com o objetivo de afastá-​ o usuário possa ser tratado como los dos traficantes (veja mais sobre doente e não como criminoso. políticas sobre maconha nas págs. O relatório afirma que as atuais 78 a 80).

72  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  73 Propostas

Para Fortes, é impossível sa- o tráfico, mas, com toda certe- liberaram, o número de pesso- ber de antemão quem tem es- za, estimula o comércio de pro- as com menos de 16 anos que Ad e m ir R ibeiro quizofrenia latente ou psicose dutos nocivos à vida psíquica”, passou a consumir aumen- maníaco-depressiva, por exem- afirma. tou. Se, de um lado, resolve plo, e quem pode desenvolver O senador Wellington Dias o problema do traficante, da essas doenças por conta do antecipa que, se a decisão for guerrilha provocada pela ile- contato com as drogas. “Bas- liberar, o país tem que estar galidade e o tráfico, do outro, tam o álcool e o tabaco para pronto para o aumento do con- aumenta o número de mortes causar problemas. A liberaliza- sumo e garantir condições de em consequência de uso mais ção pode evitar o conflito com tratamento. “Nos países que ­generalizado”, ponderou.

Projeto volta a criminalizar J. Freitas uso para garantir internação

Como observado em estudo Para Demóstenes, “a despe- realizado na Câmara dos De- nalização foi uma experiência putados, também no Senado ruim, pois aumentou o sofri- os projetos de lei tendem a au- mento dos próprios viciados e Marchas e outras manifestações mentar as penas por crimes re- de seus familiares”. públicas pela descriminalização lacionados às drogas, inclusive O senador afirma que, “se da maconha foram liberadas pelo STF em junho deste ano com o retorno da pena de pri- o usuário quiser se tratar, ar- são para o usuário, eliminada ruma-se uma clínica; mas se pela Lei Antidrogas de 2006. ele recusar o tratamento, nada Esse é o objetivo, por exem- se pode fazer além de assistir à plo, do projeto do senador ­autodestruição”. Demóstenes Torres que pro- Pelo projeto, a decisão do Demóstenes: "Vincular a substituição da Oposta à política atual, põe detenção de seis meses a juiz deverá basear-se em avalia- pena por tratamento é forma de oferecer um ano para quem usa droga, ção de profissionais da área de assistência ao dependente químico" “com a possibilidade de substi- dependência química, e o Mi- legalização é polêmica tuição da pena por tratamento nistério Público pode propor o para internação do dependente especializado” (PLS 111/10). encaminhamento imediato do (leia mais na ­pág. ­39). A ideia de que o Estado não pelo consumo. Um estudo de os ministros do STF, os direi- A relatora da proposta na acusado para tratamento, com Na Câmara, estão trami- deve interferir na liberdade de 2008 do economista Jeffrey tos constitucionais de reunião Comissão de Assuntos Sociais base em “projeto terapêutico tando projetos como o PL escolha do indivíduo, essên- A. Miron, da Universidade de e de livre expressão garantem é a senadora Ana Amélia (PP-​ individualizado” (leia mais na 1.144/11, do deputado Delega- cia do liberalismo, é a base da Harvard, estimou que a forma- essas marchas. RS), que pediu a realização de pág. 47). do Waldir (PSDB-​GO), e o PL argumentação daqueles que lização do mercado das drogas Especialistas brasileiros ouvi- um debate específico sobre o No entanto, a proposta 888/11, do deputado Arnaldo defendem a legalização do injetaria US$ 76,8 bilhões por dos pela subcomissão do Sena- projeto. pode esbarrar na falta de vagas Faria de Sá (PTB-SP). mercado de drogas. Apesar de ano somente na economia dos do e os próprios parlamentares parecer longe de se transfor- Estados Unidos. Desse total, consideram a liberação arris- mar em realidade, já que antes US$ 44,1 bilhões seriam pou- cada. Sem limitação do uso Outros projetos que aumentam penas para uso ou tráfico de drogas seria necessário rever os acordos pados de ações policiais do Es- “recreativo”, acredita-se que o internacionais sobre drogas, tado. Outros US$ 32,7 bilhões Estado corre até o risco de ser Deputado Arnaldo Faria de Sá Institui penas de detenção e multa para o usuário e aumenta a PL 1.330/11* a proposta se apoia em dados poderiam ser arrecadados na visto como cúmplice de cri- (PTB-SP) pena de quem induz ao uso de drogas e dirige após o consumo consistentes. forma de impostos. mes cometidos por pessoas sob Cria pena de detenção de dois a quatro anos para o usuário PL 4.941/09* Deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) O primeiro é que, legalizado efeito de drogas. que adquirir, guardar ou transportar drogas para uso pessoal o mercado de drogas, o crime "Apologia ao crime" “A proposta é simplista. Fa- organizado e a rede associada No Brasil, a proposta causa lar em liberação de droga no PL 5.522/09* Então deputado Francisco Tenório Torna crime o uso de drogas Institui medidas para prevenção e reinserção social do ao tráfico seriam desmobiliza- tanta polêmica que até mesmo Brasil é piada. O Brasil não PL 4.981/09* Então deputado Laerte Bessa dos. Estima-se que grupos cri- a sua defesa pública já foi con- controla nem a venda de cola usuário e aumenta a repressão à produção de drogas minosos perderiam sua fonte de siderada ilegal, como apologia de sapateiro, de bebida alcoóli- Aumenta a pena no caso de tráfico de PLS 187/09 Então senador Sérgio Zambiasi receita e sua capacidade de cor- ao crime, prevista no Código ca a menores. Não vai contro- drogas mais pesadas, como o crack romper autoridades e de aliciar Penal. O Supremo Tribunal lar maconha, crack ou cocaína”, PLS 287/07 Senador Valdir Raupp (PMDB-RO) Institui pena mais rigorosa para traficante que seja réu primário jovens e novos usuários. Federal (STF) teve que se pro- afirmou o psiquiatra Emma- Institui pena de detenção para o usuário que não cumprir as Mais que isso, o cálculo é de nunciar sobre o caso. Em 15 de nuel Fortes, da Associação Bra- PLS 252/06 Senador Demóstenes Torres (DEM-GO) medidas educativas às quais for condenado. Aumenta a pena que se economizariam recursos, junho passado, a corte liberou a sileira de Psiquiatria. Segundo para o plantio de entorpecentes destinado a consumo pessoal hoje destinados à repressão, su- realização das “marchas da ma- ele, a associação e o Conselho PL 1.340/11 Deputado Anderson Ferreira (PR-PE) Aumenta a pena para tráfico de óxi ficientes para tratar os danos à conha”, que reúnem manifes- Federal de Medicina são contra saúde física e mental causados tantes em diversas cidades. Para a liberação. * Tramitam em conjunto.

74  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  75 Propostas terminante para o consumo de População apoia maior controle sobre bebidas drogas: “No caso do crack, não Limites a álcool e cigarro há propaganda na televisão, nos 3.007 pessoas foram entrevistadas em 143 municípios de jornais, nas revistas. A limita- todas as regiões entre 2005 e 2006: ção [da propaganda das drogas também estão em pauta lícitas] terá alguma eficácia? Impostos As coisas proibidas são mais • 56% defendem o aumento dos impostos sobre as bebidas alcoólicas

Por conta do grande número vo de s­ubstâncias”, afirmou no ela ­atraentes”, pondera a senadora. Restrições à venda de dependentes e da relação ín- ­Senado. g O superintendente do Sindi- • 55% apoiam o aumento da idade mínima para a compra de bebidas alcoólicas tima do álcool e do tabaco com cato Nacional da Indústria da • 4% pedem a redução da idade mínima para a compra de bebidas alcoólicas as drogas ilícitas (leia mais nas Mais impostos Cerveja, Marcos Mesquita, po- • 89% acreditam que estabelecimentos não devem servir bebidas alcoólicas para Geraldo Ma págs. 20 e 21), a subcomissão Uma das medidas adotadas rém, não concorda com nova re- clientes que já estejam bêbados do Senado também debate um no Brasil foi o aumento dos im- gulamentação para o álcool. “O • 74% acham que padarias, confeitarias e mercearias devem ser proibidos de vender bebidas alcoólicas maior controle das drogas lícitas, postos, o que leva à redução do Código Penal já prevê sanção • 95% acham que os comerciantes devem aumentar o controle de venda de bebidas tratadas como prioridade pela consumo e a maior arrecadação para quem as serve para menores alcoólicas a menores Associação Médica Brasileira de recursos, que podem servir, de idade”, afirma. Ele lembrou • 76% defendem a restrição do horário de venda de bebidas alcoólicas (AMB). inclusive, para financiar o sis- ainda que, hoje, a propaganda Adiar o contato da juventude tema de combate às drogas e o dessas bebidas exibe advertências Limites à propaganda com o álcool é importante por- tratamento dos dependentes. como “aprecie com moderação”, • 94% acham que propagandas de bebidas alcoólicas devem reservar espaço para mensagens de alerta sobre riscos e problemas causados pelo álcool que pesquisas científicas confir- A carga tributária brasileira “se beber não dirija”, e “este pro- • 68% apoiam a proibição da propaganda de qualquer bebida alcoólica na televisão mam que a dependência quími- sobre o tabaco, porém, apesar Marcelo Crivella considera "esdrúxulo" duto é destinado a adultos”, por que a propaganda de cerveja, bebida • 55% entendem que fabricantes de bebidas alcoólicas devem ser proibidos de ca é mais comum entre pessoas de mais alta que a do álcool, alcoólica mais consumida no país, recomendação do Código Bra- patrocinar eventos culturais e esportivos que tiveram contato com ele está abaixo da média mundial, não sofra restrições sileiro de Autorregulamentação Fonte: I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira, principalmente antes dos 21 segundo estudo do Banco Mun- Publicitária, de 2003. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 2006. anos. Cerca de 90% dos fuman- dial. “No caso do tabaco, 75% reconhece que o “o lobby da in- tes tornam-se dependentes da [do preço do produto no Bra- dústria do fumo é muito forte Cigarro nicotina entre os cinco e 19 anos sil] são impostos. Na bebida, o e o do álcool é ainda mais”. Da Mesmo com espaço para mais pela Medida Provisória 1.814 proibida a venda de cigarro em e há 2,8 milhões de fumantes percentual é de 35%”, informa mesma forma, Eduardo Suplicy restrições, as últimas medidas –, mensagens com advertências estabelecimentos de livre acesso nessa faixa etária. Ana Amélia. O governo, porém, destaca as dificuldades encon- adotadas para limitar a venda começaram a ser impressas nos a menores de 18 anos. “É na festinha que tem cer- adotou novas normas em agosto, tradas pelo Congresso para vo- e a publicidade do tabaco são maços de cigarro e causaram “Agora está em discussão a veja, pinga, gim, rum etc. que que devem elevar a carga tribu- tar a proibição de propaganda apontadas como referência para impacto entre os fumantes. proibição do cigarro em ambien- se começa a oferecer também tária sobre os cigarros a até 81% do tabaco e do álcool nos meios aumentar o controle para o ál- A inclusão de imagens sobre tes fechados. Vamos ter coragem outras drogas. No mínimo 80% a partir de dezembro. de comunicação. cool. “A regulamentação frouxa os males do fumo nessas adver- de aprovar uma medida como dos dependentes que chegam às Condições, como uma licen- Na última vez que aprovou sobre a publicidade fez subir a tências ocorreu em 2002 e, na essa?”, pergunta Wellington unidades de tratamento começa- ça especial, para uma loja vender normas sobre o assunto (Lei utilização de álcool nos últimos ocasião, pesquisa do DataFolha Dias. ram no álcool e em outras dro- bebidas também são medidas 9.294/96), o Congresso não res- anos, enquanto que o cigarro, revelou que 67% dos fumantes As propostas para restringir o gas”, afirma o senador Welling- estudadas. “Bebida e cigarro tringiu a propaganda de produ- com regulamentação rígida, teve afirmaram ter vontade de parar consumo do tabaco são menos ton Dias. E completa: “A gente podem ser vendidos na porta da tos com concentração alcoólica o consumo reduzido”, observa o por conta das imagens e 54% fi- numerosas que aquelas sobre o acha natural ter em casa lu- escola, no parque, em qualquer de até 13 graus na tabela Gay-​ senador Eduardo Suplicy. caram mais p­ reocupados com a álcool. Parte da explicação para gares para guardar bebida, e lugar, até em farmácia. Como Lussac (GL), como cervejas, Realmente, desde 1988 – pri- própria saúde. isso são as restrições já impos- depois se surpreende com as é que a gente vai lidar com que têm entre 4 e 5 graus GL. meiro por acordo entre governo Com a Lei 10.702/03, tam- tas, principalmente as relativas à consequências”. isso?”, questiona Wellington “A bebida alcoólica mais consu- e fabricantes e depois, em 1999, bém passou a ser expressamente propaganda. O representante do Escritó- Dias. Além de restringir locais, mida em nosso país fica fora do rio das Nações Unidas contra estudos também apontam que critério. Essa situação esdrúxula Drogas e Crime (Unodc), Bo restringir horários para venda não pode prosseguir, a despeito Propostas em debate no Senado que impõem maior restrição a bebidas alcoólicas Mathiasen, relata que, na Eu- de bebidas alcoólicas pode le- da força econômica e política Considera alcoólica bebida com qualquer teor de álcool e ropa, sistemas de maior con- var à redução de homicídios e dos empresários do ramo”, PLS 531/07 Senador Marcelo Crivella trole e prevenção dificultam o violência doméstica. reclama o senador Marcelo proíbe a propaganda em rádio e TVs entre 5h e 23h acesso dos jovens ao álcool e ao Mas o presidente da Associa- Crivella (PRB-RJ). PLS 169/11 Senador Marcelo Crivella Proíbe a venda em postos de combustíveis nas rodovias federais tabaco. “Existe uma ação pro- ção Médica Brasileira (AMB), Ana Amélia, no Considera alcoólica, para fins de propaganda, a bebida com teor PLS 307/11 Senador Wellington Dias ativa do Estado para prevenir José Luiz Gomes entanto, ques- de álcool igual ou superior a 0,5 GL, como na Lei Seca e agir, junto à população, do Amaral, tiona se a pro- Inclui advertências com imagens nos rótulos sobre malefícios para a saúde e a PLS 9/09 Senador Cristovam Buarque para diminuir o uso abusi- p a g a n d a é sociedade; proíbe a venda a menores de 18 anos; e penaliza quem dirigir alcoolizado realmente de-

Felipe Barra PLS 505/07 Então senadora Marisa Serrano Proíbe a venda e o consumo em locais públicos entre 0h e 6h PLS 177/11 Senador Acir Gurgacz Limita a propaganda à parte interna das lojas, com advertências sobre os danos à saúde PLS 99/11 Senador Acir Gurgacz Proíbe a venda n um raio de 500 metros de qualquer escola

O álcool ainda é a droga que Propostas em debate no Senado que impõem maior restrição ao fumo acarreta mais problemas de saúde e prejuízos para a Aumenta a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido incidente PLS 233/10 Então senador Jorge Yanai sociedade brasileira sobre as industrias produtoras de cigarros, cigarrilhas e charutos PLS 315/08 Senador Tião Viana Veda o fumo em ambientes coletivos fechados, públicos ou privados

Felipe Barra agosto de 2011 Portugal Propostas Subcomissão busca grande expansão da rede de tra- lência na sociedade. Mas houve tamento e a meta é ter leitos de redução do peso das drogas na internação disponíveis para todos repressão policial e no sistema referência em outros países os dependentes que necessitarem. judiciário. Outro foco da legislação é a re- Do universo de pacientes em dução de danos, que permite, por tratamento da dependência de As dificuldades para ser transferida para outro”, mostram algum resultado, exemplo, o fornecimento de se- drogas, 70% são usuários de can- abordar o problema do uso e afirmou Mathiasen duran- mas ainda deixam a desejar”. Em julho de 2001, Portugal se ringas descartáveis a usuários de nabis (maconha) e o restante de do abuso de drogas levaram te o painel da subcomissão Ele destacou ainda a impor- tornou o primeiro país da Europa drogas injetáveis, com redução de heroína, cocaína, ecstasy e ou- os governos de diferentes do Senado que analisou as tância das terapias familiar e a descriminalizar o uso de drogas. 71% no diagnóstico de HIV entre tros. Roberto Kinoshita, coorde- países a buscar soluções al- ­experiências internacionais. cognitiva comportamental, Elas continuam proibidas, mas seu usuários de drogas. nador da área de Saúde Mental, ternativas à simples repres- Bernardino Vitoy, da Uni- da entrevista motivacional e consumo não é mais crime. Por Pesquisa de 2010 revelou pe- Álcool e Outras Drogas do Minis- são da oferta. Muitas dessas dade de Saúde Familiar, da da “prevenção da recaída”. Já lei, o usuário agora é considerado queno aumento no uso de drogas tério da Saúde, lembra que, nos experiências ainda estão em Organização Pan-Americana no caso da Suécia, Mathia- doente crônico que precisa de tra- em Portugal, na mesma propor- primeiros anos da política portu- fase de avaliação de resulta- de Saúde (Opas), ressalta que sen aponta um exemplo de tamento, mas há sanções penais ção de países que não descrimi- guesa, houve muito medo sobre dos, mas algumas já se des- a capacidade técnica brasi- regime de maior controle às para traficantes e produtores. nalizaram. Também não se pode os resultados, mas nenhuma das tacam, seja pela mudança leira é suficiente para desen- drogas que funciona, com O usuário pego com quantida- afirmar que haja relação entre previsões catastróficas acabou se de conceitos, seja pela orga- volver uma estratégia que registros de uso de drogas e de de droga equivalente a, no má- essa política e redução da vio- ­mostrando real. nização da sociedade para responda às necessidades do de álcool inferior à média da ximo, dez dias de consumo (o que ­minorar o problema. país. Europa. é detalhado na legislação), é en- O representante do Escri- Mathiasen e Vitoy, po- No Brasil, segundo Rober- caminhado a uma comissão, com- tório das Nações Unidas so- rém, destacam nações que to Kinoshita, do Ministério posta por um assistente social, um H ug o L p es bre Drogas e Crime (Unodc) estão investindo na resposta da Saúde, o modelo portu- psiquiatra e um advogado, que para o Brasil e o Cone Sul, social ao problema, inclusive guês é o que vem despertando avalia se o caso se configura como Bo Mathiasen, alerta, porém, com bons resultados, como maior interesse. “Na área das tráfico, dependência ou simples que cada país tem suas espe- ­Holanda, Suíça e Portugal. políticas públicas é a vedete consumo pessoal. O usuário, en- cificidades social, cultural, O representante do do momento em termos do tão, pode ser multado, condenado econômica e étnica, que pre- Unodc disse que a experi- que está sendo estudado. É a prestar serviço comunitário ou cisam ser respeitadas e que ência de diversos países tem uma experiência diferente, encaminhado para tratamento. alteram a forma de encarar a mostrado que as formas de mas mais próxima da nossa O Ministério da Saúde coorde- questão. tratamento mais promisso- cultura”, disse. na as ações de prevenção e trata- “Os contextos são diferen- ras, no caso do crack, são o A seguir, Em discussão! mento, que são articuladas com Mesmo com a descriminalização, marcha em Lisboa pediu a legalização tes. É muito difícil dizer que aconselhamento e a terapia destaca algumas experiên- diversas áreas do governo. Houve da maconha para fins terapêuticos e recreativos em maio deste ano uma estrutura que funcio- psicossocial, e que “os tra- cias desses países citados nos na bem em um país poderia tamentos farmacológicos ­debates.

Bo Mathiasen, da Unodc (E), com a senadora Ana Amélia, Suécia vice-presidente da subcomissão, e Bernardino Vitoy, da Opas usuários de cocaína é um quinto comunidade, da taxa dos países vizinhos, como o tratamento Inglaterra e Espanha. E, segundo pode ser com- as informações trazidas ao Senado pulsório, por u la L ia d e Pa pela embaixadora da Suécia, An- no máximo nika Markovic, até o momento o seis meses. país está livre do crack. Depois disso, Ao contrário da tendência eu- Há grande investimento na re- ele escolhe se ropeia de descriminalização, na pressão às drogas: 60% dos re- continua se Suécia o consumo é considerado cursos da polícia de fronteira, por tratando ou crime, com punição de até três exemplo, são usados com esse se vai para a anos de prisão, desde 1993. Mais fim. “Rejeitamos todo e qualquer prisão. de 90% dos suecos rejeitam a tipo de droga não medicamentosa “O trata- tese da descriminalização ou da e não aceitamos a integração das mento visa A embaixadora Annika legalização. Essa política é asso- drogas em nossa sociedade”, afir- preparar o Markovic: legislação mais ciada a fortes ações de prevenção mou a embaixadora. Dessa for- dependente rígida no combate ao tráfico e nas punições aos ­usuários e a tratamento efetivo. Priorida- ma, não há distinção entre drogas a retornar ao de nacional, ela envolve governo, ­leves ou pesadas. convívio social, incluindo traba- ONGs, voluntários, empresas, es- As pessoas suspeitas passam lho comunitário e terapêutico”, colas, igrejas e famílias. por testes para detecção do uso assinalou Annika, revelando que Nos últimos 30 anos, o nú- de drogas. No caso de condena- o serviço social sueco mantém mero de dependentes na Suécia ção à prisão, se o usuário repre- contato com cerca de 80% dos caiu de 12% para 2%. A taxa de sentar um risco a si próprio ou à ­usuários de drogas injetáveis. MÁ RCIA K AL UM E 78  agosto de 2011 www.senado.gov.br/emdiscussao  79 Holanda

o consumo é tolerado. Mas não se recidos para todos que buscam aju- pode fumar maconha em locais pú- da. As junkiebonds (associações de blicos, por exemplo, e o tráfico na usuários de droga injetáveis) buscam rua é proibido e punido. O gover- melhorar as condições de vida dos no afirma que não quer que a polí- usuários, evitando o contágio por cia perca tempo com os pequenos hepatite B e HIV/Aids, distribuindo ­infratores. agulhas e seringas descartáveis. A concepção do modelo holandês Por outro lado, a posse, o comér- A média de consumo de drogas leva em consideração que o proble- cio, o transporte e a produção de na Holanda é inferior à do restante ma das drogas não tem uma só so- todas as outras drogas são expres- do continente e o percentual de pes- lução. Então, é melhor controlá-lo samente proibidas e reprimidas com soas que usam drogas injetáveis é o e reduzir danos em vez de continu- eficiência; há previsão de penas que menor entre os 15 países da União ar uma política de repressão com podem chegar a 12 anos de prisão e Europeia. O número de usuários de ­resultados questionáveis. de multas de até 45 mil euros. heroína diminuiu significativamente A legislação sobre drogas é de O país trata a questão das dro- (de 28 a 30 mil em 2001 para 18 mil 1976 e tem como base a diferencia- gas como de saúde pública, em que em 2008) e a média de idade dos ção entre drogas de risco aceitável tratamento e recuperação são ofe- usuários vem aumentando. (maconha e haxixe) daque- las de risco inaceitável para

a saúde e para a segurança h y K C at públicas (cocaína, heroína, anfetaminas e LSD). O álco- ol, considerado uma droga de risco alto, é legal e controlado pelo governo. Apesar de ato tecnicamen- te ilegal por conta dos trata- dos internacionais assinados pelo país, quem é pego com até cinco gramas de canna- bis sativa não é punido. Ba- res e cafés (coffee shops) que Nos cafés da Holanda é possível vendem até cinco gramas de adquirir e consumir até 5g de drogas maconha ou haxixe podem consideradas leves, como a maconha ser encontrados em toda par- te e, no interior desses locais,

Suíça

rios problemáticos dessa droga (entre

10% e 15% dos dependentes e entre Fil m es Sp ray 30% e 60% dos consumidores) pas- saram a recebê-la gratuitamente. O governo suíço teve que negociar essa possibilidade, baseando-se na avalia- ção de que, quem abusava da heroí- na, ao recebê-la legalmente, deixaria A experiência na Suíça se destaca o tráfico e os crimes. sobretudo no tratamento de usuários O número anual de novos usu- de heroína, maior problema do país ários caiu de 850 em 1990 para 150 nos anos 1980. A opção foi imple- em 2005. E cerca de um terço dessas mentar uma política baseada em saú- pessoas deixaram a droga espontane- Ruth Dreifuss, ex-presidente da Suíça, é de pública, com prevenção e terapia, amente sem nem mesmo um trata- uma das integrantes da Comissão Global em vez de criminalizar o usuário. mento associado. A política fez com de Políticas sobre as Drogas da ONU Em 1994, foi adotada também a que o mercado ilegal de heroína se prevenção de danos: um programa de inviabilizasse e levou a uma queda Em 2008, um plebiscito rejeitou o tratamento por administração de he- de 90% nos crimes contra a proprie- fim do programa com mais de dois roína e a criação de salas para injeção dade cometidos por participantes do terços dos votos. Também foi rejeita- supervisionada. Cerca de 3 mil usuá- programa do governo. da a legalização da maconha.

80  agosto de 2011 Para saber mais

Com o ciclo de debates sobre drogas e dependência Já o Ministério da Saúde mantém atualizados dados química, promovido pela Subcomissão Temporária de acerca de atendimentos na área de saúde mental. O úl- Políticas Sociais sobre Dependentes Químicos, de Álcool, timo deles é de julho de 2011. O ministério tem outras Crack e Outros, a equipe de Em discussão! teve acesso informações sobre como lidar com o crack: ao conteúdo de cinco painéis (Ações Sociais e Preven- • Saúde Mental em Dados 9: http://migre.me/5tgWr ção, Segurança Pública e a Legislação, Saúde Pública e • Como lidar com o crack: http://migre.me/5tgYu Tratamento, Experiência de Organismos Internacionais e Experiências de Especialistas), em que os especialistas O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate convidados (veja lista completa na pág. 5) dissecaram à Fome também é responsável por parte significativa da vários ângulos do problema apoiados por apresentações. interação com os usuários de drogas, orientada pela Polí- • Notas taquigráficas: http://bit.ly/pHy9nq tica Nacional de Assistência Social. • Apresentações: http://bit.ly/qXG6Eo • Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome: http://migre.me/5thhu Além das informações dos debates, outras obras de referência, órgãos públicos e entidades foram A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) lan- consultados.­ çou em 2011 o Observatório do Crack. Além do levanta- Ainda que faltem dados completos sobre o tráfico, o mento que realiza entre as prefeituras, também podem consumo e a dependência do crack no Brasil, a equipe ser encontrados links para informações úteis. buscou os números mais atuais, alguns já de 2011, sobre • Observatório do Crack: www.cnm.org.br/crack a droga e os tratamentos disponíveis, como o relatório Guerra às Drogas, da Comissão Global de Políticas sobre As instituições médicas foram especialmente impor- as Drogas da ONU, de junho, e o Relatório Mundial so- tantes para o levantamento de dados. O Centro Brasilei- bre Drogas 2011, do Escritório das Nações Unidas sobre ro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), Drogas e Crime, divulgado em julho. do Departamento de Psicobiologia da Universidade Fe- • Guerra às Drogas: http://migre.me/5tfT5 deral de São Paulo (Unifesp), reúne grande parte dos • Relatório Mundial sobre Drogas 2011: www.unodc. ­especialistas em dependência química no Brasil. org/wdr • Cebrid: www.cebrid.epm.br

Em 2010, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Dro- Também ligada à Unifesp, a Unidade de Pesquisa em gas (Senad) publicou o Relatório Brasileiro sobre Drogas, Álcool e Drogas (Uniad) mantém uma revista mensal, re- com os levantamentos realizados até então sobre o con- úne informações e realiza pesquisas que pretendem auxi- sumo de substâncias ilícitas e também estudos sobre o liar na definição das políticas de controle da dependência impacto delas na Previdência Social, no mundo do traba- química. lho e na segurança pública. O órgão centraliza as iniciati- • Uniad: http://migre.me/5qHHy vas do governo e no seu site (www.senad.gov.br) podem ser encontradas cartilhas sobre as drogas e os tratamen- A Associação Médica do Rio Grande do Sul publicou tos disponíveis. na edição de julho de 2010 de sua revista um artigo de • Relatório Brasileiro sobre Drogas: http://migre. cinco especialistas (psiquiatras, psicólogo e advogado) me/5tg5n que traz, em sete páginas, uma excelente síntese sobre • I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Ta- a epidemiologia, a dinâmica das drogas no organismo e baco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capi- sobre os tratamentos disponíveis. tais Brasileiras, Senad, 2010. http://migre.me/5tgl0 • Crack – da Pedra ao Tratamento: http://migre. • Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Ou- me/5qHzO tras Drogas, Presidência da República, 2010: http://mi- gre.me/5thbJ Entre os estudos referenciados pelo artigo, há um que analisa a causa mortis em usuários de crack, de Marcelo O Observatório Brasileiro de Informações sobre Dro- Ribeiro, John Dunn, Ricardo Sesso, Andréa Costa Dias gas (Obid), mantido pela Senad, reúne a maior quanti- e Ronaldo Laranjeira, pesquisadores também ligados à dade de informações, entre pesquisas, livros e legislação Unifesp, que acompanhou usuários e observou que gran- sobre drogas. de parte morreu depois de cinco anos. • Obid: http://migre.me/5qHwL • Causes of death among crack cocaine users: http:// migre.me/5uWhS O governo federal também tem um site que reúne informações sobre o que é o crack e o que o país está O Conselho Federal de Medicina (CFM) lançou em fazendo para combatê-lo. Há uma seção sobre mitos e julho do ano passado cartilha com diretrizes para trata- verdades sobre a droga. mento do usuário de crack. A instituição, que tem ainda • Portal Enfrentando o Crack, do governo federal. como apoio os conselhos regionais em cada estado, ofe- www.brasil.gov.br/enfrentandoocrack rece um site específico sobre o tema. www.senado.gov.br/emdiscussao  81 • Portal Enfrente o Crack, do CFM: www.enfrenteo- bre os projetos de lei em tramitação sobre o assunto: crack.org.br • Consumo de álcool por adolescentes, de Cláudio Vi- veiros de Carvalho, 2008. Entre as análises acadêmicas consultadas por Em dis- • Consequência do tabagismo para a saúde, de Fabio cussão! está o livro Dependência química: prevenção, de Barros Correia Gomes, 2003. tratamento e políticas públicas, de Alessandra Diehl, Da- niel Cruz Cordeiro, Ronaldo Laranjeira, entre outros au- Para os dados orçamentários, a equipe da revista tem tores (capa ao lado). o apoio da Subsecretaria de Apoio Técnico da Consul- • Veja resenha do livro e breves currículos dos autores toria de Orçamento do Senado Federal. As informações em http://migre. estão disponíveis por meio de consultas ao sistema Siga me/5thum Brasil: • Siga Brasil: http://migre.me/4emVl Ajudaram ain- da os trabalhos Para toda a edição, mas, sobretudo, para a redação da Craqueiros e cra- seção sobre as propostas legislativas, grande parte das cados: bem vindo informações veio das agências de notícias do Senado e ao mundo dos da Câmara dos Deputados. nóias, da cien- • Agência Senado: http://migre.me/4emq3 tista social An- • Agência Câmara: http://migre.me/4emtt drea Domanico; e Notas sobre a Por fim, as imagens cedidas pelo repórter fotográfi- política crimi- co Marcello Casal Jr. foram fundamentais para ilustrar nal de drogas no a edição. Elas falam com eloquência sobre o problema Brasil: elementos do crack. Para obter o material, o fotógrafo visitou uma para uma refle- “cracolândia” em área central de Brasília, por uma sema- xão crítica, da ju- na, em fevereiro de 2009. rista e professora • Galeria de fotos de Marcello Casal Jr.: http://migre. Roberta Duboc me/5tk2f ­Pedrinha. Coincidentemente, o filme Quebrando o Tabu, de Outra fonte Fernando Grostein Andrade, que traz uma nova perspec- completa sobre tiva sobre o combate às drogas, estreou em junho deste tratamento de dependentes de drogas é o livro O trata- ano, e serviu de inspiração para que os editores elaboras- mento do usuário de crack: avaliação clínica, psicosso- sem a revista (pôster promocional reproduzido abaixo). cial, farmacoterapia e reabilitação. Ambientes de trata- • Trailer oficial do filme: http://migre.me/5tiL2 mento, publicado em 2010. • Íntegra do livro: http://migre.me/5qHHR

Os dados de organizações não governamentais que atuam nessa área também são muito importantes. É de- las, por exemplo, a iniciativa de publicar informações so- bre redução de danos. Entre as ONGs, está o Instituto Crack, Nem Pensar, que atua no sul do país, onde, per- centualmente, o número de usuários da droga é maior. • Informações e notícias sobre drogas: www.antidro- gas.com.br • Crack, nem pensar: www.cracknempensar.com.br

Dois estudos realizados na Câmara dos Deputados trouxeram informações preciosas sobre os projetos de lei em tramitação. Sobre o crack, o consultor Claudionor Rocha apresentou estudo em 2010, enquanto que Mário Coelho Lima Filho defendeu monografia junto ao Centro de Formação da Câmara (Cefor), também em 2010. • Crack, a pedra da morte – Desafios da Adicção e Violência Instantâneas: http://migre.me/5qHvm • O Legislativo e Política Pública de Enfrentamento do Uso do Crack: http://migre.me/5tfYx

Também da Consultoria da Câmara dos Deputados vieram dois estudos sobre álcool e tabaco que apresen- tam dados sobre a dependência a essas substâncias e so-

82  agosto de 2011 Informação clara e imparcial, onde você estiver SECS | SUPRES – Criação e Marketing Foto: Cléber Medeiros

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