Central Venous Minus Arterial Carbon Dioxide Pressure To
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ARTIGO DE REVISÃO Arnaldo Dubin1,2 , Mario Omar Pozo3, Javier Hurtado4,5 Proporção entre pressão venosa central menos arterial de dióxido de carbono e conteúdo arterial menos venoso central de oxigênio como indicador de oxigenação tissular: uma revisão narrativa Central venous minus arterial carbon dioxide pressure to arterial minus central venous oxygen content ratio as an indicator of tissue oxygenation: a narrative review 1. Cátedra de Farmacología Aplicada, Facultad de Ciencias Médicas, Universidad Nacional de La Plata - La Plata, Argentina. 2. Servicio de Terapia Intensiva, Sanatorio RESUMO provavelmente não demandaria maiores Otamendi - Buenos Aires, Argentina. monitoramentos. Visto que o início 3. Servicio de Terapia Intensiva, Hospital A proporção entre pressão venosa do metabolismo anaeróbico é indicado Británico - Buenos Aires, Argentina. central menos arterial de dióxido de 4. Servicio de Terapia Intensiva, Hospital pelo aumento súbito do quociente Español-ASSE - Montevidéu, Uruguai. carbono e conteúdo de oxigênio arterial respiratório e que a faixa normal do 5. Departamento de Fisiopatología, Facultad menos venoso central (Pcv-aCO2/Ca-cvO2) quociente respiratório é ampla, o uso de Medicina, Universidad de la República - foi proposta como marcador substituto do ponto de corte definido como 1,4 Montevidéu, Uruguai. para quociente respiratório e indicador para Pcv-aCO2/Ca-cvO2 não faz sentido. de oxigenação tissular. Alguns pequenos Estudos experimentais demonstraram estudos observacionais identificaram que que a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 é mais dependente Pcv-aCO2/Ca-cvO2 acima de 1,4 se associa de fatores que modificam a dissociação com hiperlactatemia, dependência do dióxido de carbono da hemoglobina de suprimento de oxigênio e maior do que do quociente respiratório, e mortalidade. Mais ainda, a Pcv-aCO2/ o quociente respiratório e Pcv-aCO2/ Ca-cvO2 foi incorporada a algoritmos Ca-cvO2 podem ter comportamentos para avaliação da oxigenação tissular distintos. Estudos conduzidos em e ressuscitação. Contudo, a evidência pacientes críticos demonstraram para estas recomendações é bastante resultados controvertidos com relação limitada e de baixa qualidade. O objetivo à capacidade da Pcv-aCO2/Ca-cvO2 para desta revisão narrativa foi analisar as predizer o desfecho, hiperlactatemia, bases metodológicas, os fundamentos anomalias microvasculares e dependência fisiopatológicos e a evidência experimental de suprimento de oxigênio. Um estudo e clínica para dar suporte à utilização randomizado controlado também da Pcv-aCO2/Ca-cvO2 como marcador demonstrou que a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 é Conflitos de interesse: Nenhum. substituto para quociente respiratório. inútil como alvo para ressuscitação. A Pcv- De um ponto de vista fisiopatológico, CO /C O deve ser interpretada com Submetido em 28 de abril de 2019 a 2 a-cv 2 o aumento do quociente respiratório cautela em pacientes críticos. Aceito em 9 de junho de 2019 secundariamente a reduções críticas Autor correspondente: no transporte de oxigênio é um evento Descritores: Anaerobiose; Respira- Arnaldo Dubin dramático e com risco à vida. Entretanto, ção; Oxigenação; Dióxido de carbono; Cátedra de Farmacologia Aplicada este evento é facilmente observável e Quociente respiratório; Estado terminal Facultad de Ciencias Médicas, Universidad Nacional de La Plata Calle 42 Nº 577 (1900) La Plata, Argentina E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO Editor responsável: Luciano César Pontes de Azevedo Em pacientes críticos, a hipóxia tissular é um importante mecanismo DOI: 10.5935/0103-507X.20200017 de falência de múltiplos órgãos e morte. Assim, a detecção e a correção do metabolismo anaeróbico são tarefas cruciais. Infelizmente, faltam referências que sejam padrão-ouro para a avaliação da oxigenação tissular. Algumas Rev Bras Ter Intensiva. 2020;32(1):115-122 Este é um artigo de acesso aberto sob licença CC BY (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/). 116 Dubin A, Pozo MO, Hurtado J variáveis, comumente utilizadas no monitoramento de pacientes críticos, podem ser indicadores enganosos do metabolismo anaeróbico. O lactato é um excelente preditor de desfechos,(1,2) porém não é um marcador confiável para hipóxia tissular.(3) O monitoramento clínico da perfusão periférica é uma abordagem atraente e viável, porém também tem limitações.(4) Embora a saturação venosa central de oxigênio (ScvO2) e a diferença entre a pressão parcial de dióxido de carbono (PCO2) venosa central menos a arterial (Pcv-aCO2) possam rastrear modificações no débito cardíaco, seu papel na avaliação da adequação da oxigenação tissular é controvertido.(5,6) Lamentavelmente, a avaliação da PCO2 tissular não está mais disponível, e o monitoramento da microcirculação ainda é restrita ao campo da pesquisa.(7) Assim, é necessária a busca de novas abordagens. Na fisiologia do exercício, a análise dos gases expirados permite a identificação de metabolismo anaeróbico. O aumento da carga de trabalho se associa com elevações paralelas na produção de dióxido de carbono (VCO2) e consumo de oxigênio (VO2). A inclinação da curva deste relacionamento é o quociente respiratório (QR = VCO2/VO2). O QR permanece inicialmente constante em condições anaeróbicas. Em algum momento, Figura 1 – Consumo de oxigênio, produção de dióxido de carbono e quociente entretanto, os aumentos no VCO2 excedem os do VO2, e o QR aumenta. Este ponto de inflexão corresponde respiratório em função do transporte de oxigênio. (A) Relacionamento entre consumo de oxigênio e produção de dióxido de carbono com transporte de ao desenvolvimento de hiperlactatemia e é conhecido oxigênio. (B) Relacionamento do quociente respiratório com o transporte como limiar anaeróbico.(8) No contexto do outro extremo de oxigênio. Reduções críticas no transporte de oxigênio se associam com fisiológico, durante a dependência de suprimento de diminuições progressivas no consumo de oxigênio e na produção de dióxido de carbono. As reduções na produção de dióxido de carbono são menores do oxigênio, as reduções no VO2 são mais altas do que as no que as no consumo de oxigênio em razão do início da produção de dióxido de VCO2. Consequentemente, seguem-se bruscas elevações carbono anaeróbica secundária ao tamponamento com bicarbonato dos prótons no QR(9-11) (Figura 1). Em ambas as situações, exercício gerados anaerobicamente. Consequentemente seguem-se aumentos abruptos no quociente respiratório. O - oxigênio; CO - dióxido de carbono. anaeróbico e diminuições críticas no transporte de 2 2 oxigênio, o fenômeno de base é o surgimento de VCO2 anaeróbico secundário ao tamponamento por bicarbonato (13) desfavoráveis. Mais ainda, a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 foi dos prótons gerados anaerobicamente. Assim, o aumento incorporada a algoritmos para avaliação da oxigenação do QR indica metabolismo anaeróbico em curso. tissular e ressuscitação.(16-18) Contudo, a evidência para estas Consequentemente, a mensuração do QR surge recomendações é bastante limitada e de baixa qualidade. como abordagem atraente para a identificação de hipóxia O objetivo desta revisão narrativa foi analisar as bases tissular global. Entretanto, nem sempre estão disponíveis metodológicas, os fundamentos fisiopatológicos, e a equipamentos de avaliação metabólica nas condições de evidência experimental e clínica que dão suporte ao uso uma unidade de terapia intensiva. Além disto, o uso de de Pcv-aCO2/Ca-cvO2 como marcador substituto do QR. uma elevada fração inspirada de oxigênio pode interferir Avaliamos, de forma abrangente, a evidência existente nas mensurações.(12) Para solucionar este problema, alguns para a associação entre Pcv-aCO2/Ca-cvO2 e desfechos em pesquisadores propuseram uma simplificação da equação pacientes críticos. Tivemos como alvo determinar se, de Fick, adaptada para o dióxido de carbono, a P CO cv-a 2 em pacientes críticos, a Pcv-aCO2/Ca-cvO2 se associa com para o conteúdo arterial menos venoso central de oxigênio mortalidade mais elevada e é um preditor melhor do (Pcv-aCO2/Ca-cvO2) como substituto para o QR. Alguns desfecho do que o lactato arterial. Revisamos também o pequenos estudos observacionais identificaram que P CO / cv-a 2 papel da Pcv-aCO2/Ca-cvO2 para predizer dependência de (13) Ca-cvO2 acima de 1,4 se associou com hiperlactatemia, suprimento de oxigênio, assim como seu uso como alvo dependência de suprimento de oxigênio,(14,15) e desfechos na ressuscitação. Rev Bras Ter Intensiva. 2020;32(1):115-122 Proporção entre pressão venosa central menos arterial de dióxido de carbono e conteúdo arterial 117 menos venoso central de oxigênio como indicador de oxigenação tissular QUESTÕES METODOLÓGICAS Uso da pressão em vez do conteúdo de dióxido de carbono para cálculo da proporção O uso da Pcv-aCO2/Ca-cvO2 como marcador substituto para o QR e oxigenação tissular se apoia em alguns O relacionamento entre conteúdo e pressão de pressupostos. Primeiramente, o QR é a proporção entre dióxido de carbono é complexo. Em termos gerais, é VCO2 e VO2: um relacionamento curvilíneo. Isto implica que, para a faixa mais elevada de conteúdo de dióxido de carbono, o QR = VCO2/VO2 (Equação 1) relacionamento se torna aplanado. Dessa forma, novos aumentos no conteúdo de dióxido de carbono induzem Segundo a equação de Fick, este cálculo pode ser maior aumento da PCO2. A curva de dissociação de dióxido reorganizado assim: de carbono pode ser modificada por alterações no excesso de base, níveis de hemoglobina e saturação de oxigênio QR = Q x Cmv-aCO2/Q x Ca-mvO2 (Equação 2) (efeito de Haldane) (Figura 2). Estes fatores modificam significantemente a Pcv-aCO2/Ca-cvO2,