Revista de Indias, 2016, vol. LXXVI, n.º 268 Págs. 613-640, ISSN: 0034-8341 doi:10.3989/revindias.2016.019 Guerra, domínio e soberania: experiências coloniais e império no Atlântico Sul, década de 1570 por Rodrigo Faustinoni Bonciani Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
[email protected] Por meio da análise de documentos e da historiografia, o artigo identifica a constituição de um campo unificado de experiências de colonização no Atlântico Sul, durante a década de 1570. A caracterização da autoridade régia sobre os espaços coloniais se dava, por um lado, pela instituição de um aparato político-administrativo, por outro, pela intervenção nas relações de domínio senhorial estabelecidas sobre os indígenas e africanos. Esse último era o ponto de compromisso e dissensão, que definia o equilíbrio instável entre os poderes coloniais e as autoridades europeias, por meio de um sistema de exploração compósito, caracterizado pela complementaridade entre diferentes estatutos e formas de dominação. PALAVRAS-CHAVE: guerra; domínio; soberania; império; Atlântico Sul. Entre os séculos XV e XVI foi estabelecido um campo unificado de ex- periências de dominação e soberania que, para além das particularidades de Castela e Portugal, possuía uma perspectiva ibérica e global. A dimensão sul-atlântica dessa política imperial delineou-se entre as décadas de 1570 e 1590. A «conquista de Angola», que viabilizou a ampliação do tráfico de es- cravos, e a do último reduto inca, associadas a um novo momento da política indigenista e de governo nas Américas, foram os eventos desencadeadores dessa construção. A legitimação do domínio ibérico sobre as Américas e as modalidades de sujeição dos ameríndios se definiram em consonância com a política em relação aos reis e chefes da África subsaariana e o desenvolvimento do tráfico negreiro.