6º Encontro ABRI Pontifícia Universidade Católica De Minas

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6º Encontro ABRI Pontifícia Universidade Católica De Minas 6º Encontro ABRI Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – (PUC Minas) Belo Horizonte, 25 a 28 de Julho, 2017. Área Temática: História das Relações Internacionais e da Política Externa A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA PÓS-IMPEACHMENT: UMA ANÁLISE DOS GOVERNOS ITAMAR FRANCO E MICHEL TEMER Ana Regina Falkembach Simão ESPM/Sul RESUMO Três décadas de democracia, sete eleições diretas e dois impeachments, esses números colocam o Brasil numa posição singular no contexto político do continente Americano. Após os processos de impeachment de Fernando Collor de Melo e de Dilma Rousseff, os vice-presidentes Itamar Franco e Michel Temer, ambos do PMDB, assumiram o executivo do país, com o desiderato de dar respostas à crise brasileira e montar uma nova equipe de governo que restabeleça a governabilidade. Em que pese os distintos cenários políticos, sociais e econômicos que marcaram os dois impeachments e os dois governos, essa pesquisa analisa, numa perspectiva comparada, a política externa de Itamar Franco e de Michel Temer. Essa análise se dá através de três enfoques: o perfil da chancelaria, a relação com a América do Sul e a linha adotada pelo MRE para a inserção internacional do Brasil nos dois governos. Para o desenvolvimento dessa fase da pesquisa são utilizadas a seguintes fontes: pesquisa bibliográfica, discursos dos representantes na Abertura da Assembleia Geral da ONU e entrevistas dos presidentes e chanceleres para os meios de comunicação no Brasil. Especificamente sobre o governo Temer, que se encontra em curso, a pesquisa se dará de maio de 1916 a maio de 2017. Palavras-Chave: Política Externa; impeachment; Governos Itamar e Temer. INTRODUÇÃO Este ensaio analisa o perfil da política externa dos governos pós- impeachment de Collor de Melo e de Dilma Rousseff. Com o impedimento dos dois presidentes cujos mandatos foram interrompidos em situações certamente diversas, os vice- presidentes - Itamar Franco e Michel Temer - assumiram o poder com o desafio de dar respostas à crise econômica e política e estabelecer uma nova agenda internacional para o Brasil. Vale destacar que em vinte e três anos a jovem democracia brasileira afasta dois presidentes eleitos, repercutindo não apenas na política doméstica mas igualmente no projeto de política externa. A história e a análise da Política Externa são dois campos de estudo das Relações Internacionais que têm sido investigados e debatidos de forma consistente pela literatura especializada internacional1 e brasileira2. Em que pese a importância desta reflexão, o presente ensaio – num primeiro momento - não tem o objetivo de revisitar profundamente o debate teórico acerca da política externa, tarefa que será deixada para a continuidade da pesquisa que entendemos urgente. De qualquer maneira, sobre esta questão cabe sublinhar dois aspectos. Primeiramente, há que se destacar que a política externa é uma política de Estado que, no caso do Brasil, a partir da redemocratização, deixou de ser fechada às diversas agendas governamentais. Como, aliás, também deixou de ser imune às questões econômicas, às crises políticas e as demandas sociais, em que pese a histórica tradição de insulamento do Itamaraty. De fato, a influência de vários Ministérios, de atores subnacionais, de entidades empresariais, do mundo acadêmico e das organizações sociais promoveu na política externa uma renovação na forma de interpretar o tema. Tais mudanças deram à política externa uma nova dimensão: a de política pública. Como observa Milani (et all, 2015, p. 61), essa realidade resultou numa diplomacia pública que, através do Itamaraty, “tem respondido as demandas por informação”. Aliás, alguns setores da diplomacia brasileira têm ampliado o relacionamento com a imprensa, passando a desenvolver “verdadeiros serviços de relações públicas”. Como exemplo, temos a relação dos Ministérios das Relações Exteriores e do Turismo na elaboração de uma “marca Brasil, visando também atrair investimento estrangeiro e 1 Como referência teórica acerca da análise de política externa destaca-se fundamentalmente: SNYDER, R.;BRUCK, H.;SAPIN, B. (1963); SPROUT, H.; SPROUT, M. (1957); Martin, Lisa (2000); HERMANN, M; HERMANN, C. (1989); ALLISON, G.; ZELIKOW, P. (1999). 2 Como uma referência teórica acerca da análise política externa brasileira destaca-se: Lima, Maria Regina Soares de (2000); Lima, Maria Regina S. de; HIRST, Mônica (2002); PINHEIRO, Letícia (2003); SALOMÓN, M.; (2013); VIGEVANI, Tullo (ORG.) (2004); MILANI, C.; PINHEIRO, L. (2013). a organização de eventos internacionais no Brasil” (Milani (et all, 2015, 61). Um segundo aspecto diz respeito à importância dos atores que conduzem a política externa, em especial o perfil e a atuação da chancelaria. Como bem lembrou Celso Amorim entre as múltiplas tarefas do Ministro das Relações Exteriores, [...] está a de apresentar a política externa do País às diversas plateias, internas e externas. No plano interno, é necessário um diálogo permanente com parlamentares, jornalistas, setores empresariais e trabalhistas, professores universitários para que as opções de política externa sejam plenamente compreendidas e ganhem raízes na sociedade. O trabalho diplomático deve partir necessariamente de um amálgama de interesses reais da nação e será tanto mais consistente quanto mais claramente representativo (AMORIM in FONSECA JR e Gelson; CASTRO, Sérgio, 1997, p. 15). Ainda que a diplomacia siga sendo uma área bastante singular, não há como negar que o campo das relações internacionais ou, mais especificamente, as questões de política externa, experimentaram um crescimento dentro do que podemos chamar de uma agenda da mídia, o que amplia sua repercussão na esfera da opinião pública brasileira. Assim, a análise de Celso Amorim acima revisitada torna-se, ano a ano, parte da realidade brasileira. Podemos concordar com o fato de que, mesmo numa análise superficial do campo jornalístico, por exemplo, é crescente o espaço para questões relacionadas às relações internacionais. Fenômeno que acaba atrelado à própria dimensão que a política interna ganha no país em função dos repetidos ciclos de crises. E é exatamente acerca destes contextos, no qual a política brasileira experimentou momentos de ruptura ou exceção, que a próxima sessão vai se debruçar: os dois processos de impeachment que, em pouco mais de duas décadas, sacudiram a incipiente democracia brasileira. Dos impeachments e dos contextos políticos Há pouca similaridade entre os contextos em que ocorreram os dois processos de impeachment no Brasil. Fernando Collor de Melo (1990-1992) se notabilizou por ter sido o primeiro presidente eleito pelo voto direto após vinte e nove anos sem eleições diretas para o executivo, por ser o mais jovem presidente do Brasil, ser “apolítico” e ter se autodenominado um rigoroso combatente da corrupção, ganhando o rótulo midiatizado de “caçador de marajás”. Além disso, Collor de Melo ficou conhecido pelos discursos eufóricos acerca do mundo globalizado e pela enfática defesa de abertura econômica do país, marcada por um viés neoliberal. Nesta agenda, aliás, o governo Collor manteve fidelidade às prescrições do Washington Consensus. Já Dilma Rousseff (2011-2016) elegeu-se na única eleição de que participou e tornou-se a primeira mulher eleita presidente do Brasil. Reconhecida pelo seu perfil “técnico”, ocupou o Ministério de Minas e Energia e posteriormente foi nomeada Chefe da Casa Civil, ambas as tarefas sob o Governo de Luis Inácio Lula da Silva, de quem recebeu a alcunha de “mãe do PAC” – Programa de Aceleração do Crescimento. Herdeira de importantes programas sociais do governo Lula que retiraram cerca de 36 milhões de pessoas da miséria extrema - a exemplo do ‘Bolsa Família’ e do ‘Minha Casa Minha Vida’ - o governo Dilma apostou num projeto “neodesenvolvimentista” que, todavia, teve resultados menos exitosos do que o governo anterior. De fato, o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff iniciou sob a égide da crise econômica e política. Com significativa perda de apoio político e sob uma forte oposição – liderada, sobretudo, pelo Senador Aécio Neves, seu oponente derrotado nas eleições de 2014 – praticamente não governou. Isso nos leva a uma primeira e fundamental observação - e convergência - no âmbito de nosso objeto empírico. No que diz respeito especificamente aos processos de impeachment, o ponto de encontro entre os distintos governos é a existência de uma robusta crise política, que impactou diretamente na governabilidade de ambos. Como observa Brasílio Salum, em entrevista para revista Época, em 2015, com relação ao governo Collor, houve um razoável processo de mobilização, manifesto em iniciativas da CUT, CNBB e OAB, até as revelações do irmão Pedro Collor dizendo que Paulo Cesar Farias era o testa de ferro do presidente. Isso seria “uma espécie de estopim de um barril de pólvora que estava crescendo”. Para o autor em questão, a demanda popular é importante, uma vez que dá legitimidade ao impeachment. Mas só a mobilização popular não basta. Depois dessas denúncias, houve uma articulação político-partidária do PT, do PSDB e do PMDB. Um pedido de CPI parado no Congresso ganhou força, e ela foi instaurada, somando-se à articulação da sociedade até então sem força. Contribuiu ainda a fundação do Movimento Ética na Política. Essa coalizão política foi fundamental, porque é preciso obter dois terços de votos da Câmara para que o processo de impeachment avance para julgamento no Senado. (SALUM, 2015, entrevista Revista Época).3 Ficaria claro enfim que, contra Fernando Collor de Melo foi registrado
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