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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Departamento de Economia e Contabilidade Departamento de Estudos Agrários Departamento de Estudos da Administração Departamento de Estudos Jurídicos CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO

A TRAJETÓRIA DO REASSENTAMENTO ITÁ I, MANGUEIRINHA-PR

IDIANE MÂNICA RADAELLI

IJUÍ (RS) 2010

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IDIANE MÂNICA RADAELLI

A TRAJETÓRIA DO REASSENTAMENTO ITÁ I, MANGUEIRINHA-PR

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento, Linha de Pesquisa: Integração Regional e Desenvolvimento Local Sustentável da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como um dos requisitos para a obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. David Basso

IJUÍ (RS) 2010 2

IDIANE MÂNICA RADAELLI

A TRAJETÓRIA DO REASSENTAMENTO ITÁ I, MANGUEIRINHA-PR

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento, Linha de Pesquisa: Integração Regional e Desenvolvimento Local Sustentável da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como um dos requisitos para a obtenção do título de Mestre.

BANCA EXAMINADORA

______Prof. Dr. David Basso- UNIJUÍ

______Prof. Dr(a)

______Prof. Dr(a)

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Ao meu pai (in memorian) com saudade À minha mãe

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AGRADECIMENTOS

Ao meu Orientador, pela paciência e compreensão que dedicou neste período. A minha mãe, pelo seu amor e coragem Aos meus irmãos, Sandro, pelo apoio e carinho; Samuel, pelo incentivo aos estudos. Ao Tio Roque e a Tia Tânia, pelo carinho partilhado. A Leonice Aparecida Alves, pela presença em meus estudos. Ao pessoal do município de Mangueirinha-PR, pela receptividade e acolhida para a realização da pesquisa. Ao Mab, pela contribuição para o estudo. À Mariane, pela nossa amizade e partilha. A família Reginato, pela contribuição para a realização da pesquisa. Aos amigos e amigas que me ajudaram neste momento especial e difícil.

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RESUMO

A dissertação estuda o processo de reassentamento como alternativa de indenização dos atingidos pela barragem da Usina Hidrelétrica de Itá. Este empreendimento atinge vários municípios da região, atingindo um número significativo de pessoas, que estavam com inúmeras dúvidas sobre o que significava este projeto. Movidos por estas incertezas é que inicia a organização social da população, criando a CRAB que é a representação dos atingidos, que buscavam conhecer o setor energético brasileiro e seus projetos. Contudo, a CRAB não conseguiu impedir a construção da usina, iniciando a discussão sobre o processo de indenização para que os atingidos pudessem construir suas vidas em outro território. Apesar da resistência da empresa em compreender que eram os atingidos (proprietários e não proprietário) a persistência da organização conquistou o direito da indenização sendo ela terra por terra, em dinheiro e o reassentamento. O reassentamento é destinado para os que não possuem propriedade ou propriedades pequenas. O foco deste estudo é compreender como ocorre a construção do Reassentamento Itá I em Mangueirinha-PR. Onde são reassentadas 48 famílias, que constroem a infra-estrutura do reassentamento no sistema de mutirão, sendo uma experiência nova até então. Posteriormente a organização da produção do reassentamento pois é, ela que garantira a reprodução social destas famílias, também estabelecem relações internamente e relações com a comunidade local. A organização das famílias no reassentamento foi de grande êxito, apesar da saudade das localidades de origem que já não existem mais, conseguiram desenvolver na região os aspectos, sócio, culturais, econômicos, com isso, a situação estudada que constituiu-se uma alternativas que proporcionou melhorias para as famílias atingidas frente a situação de original.

Palavras-chave: Reassentamento Itá. Processo indenizatório. Movimentos sociais.

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ABSTRACT

The dissertation studies the reassentamento process as compensation alternative of the reached by the dam of Itá Hydroelectric power station. This enterprise reaches several municipal districts of the area, reaching a significant number of people, who were with so many doubts on what this project meant. Moved by these uncertainties is that the social organization of the population begins, creating CRAB that is the representation of those reached, that wanted to know the Brazilian energy section and its projects. However, CRAB didn't get to impede the construction of the plant, beginning the discussion on the compensation process so that reached could build their lives in another territory. In spite of the resistance of the company in understanding that were the reached (proprietors and not proprietor) the organization persistence conquered the right of the compensation being it land for land, in cash and the reassentamento . The reassentamento is destined for the ones that don't possess property or small properties. The focus of this study is to understand how the construction of Reassentamento Itá I, in Mangueirinha-PR, occurs. Where 48 families are reassentadas , that build the infrastructure of the reassentamento in the collective effort system, being a new experience so far. Later, theproduction organization of the reassentamento because it is it that had guaranteed the social reproduction of these families, they also establish relationships internally and relationships with the local community. The organization of the families in the reassentamento was of great success, in spite of the longing of the origin places that no longer they exist, they got to develop, in the area, the partner, cultural, economical aspects, with that, the situation studied that it was constituted an alternative that provided improvements for the reached families in front to the original situation.

Keywords: Reassentamento Itá. Compensation Process. Social movements.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Uhes na Bacia do Rio Uruguai em Santa Catarina ...... 19

Figura 2 - Arranjo geral do empreendimento ...... 21

Figura 3 - Reassentamentos de Mangueirinha, e Campo Erê ...... 33

Figura 4 - Divisão que compreendia dos campos de ...... 35

Figura 5 - Situação de Palmas no final do século XIX ...... 36

Figura 6 - Mapa do sudoeste do Paraná...... 41

Figura 7 - Mapa do Município de Mangueirinha-PR ...... 42

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMFOB - American & Foreign Power Company

BIRD- Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento.

CAIS - Complexos Agroindústrias

COAMO - Cooperativa Agropecuária Mouraoense.

CRAB - Comissão regional do atingidos por barragens.

EIA-RIMA - Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental.

ELETROBRÁS - Centrais Elétricas do Sul do Brasil S.A

ELETRONORTE - Centrais Elétricas do Norte do Brasil

FURNAS - Centrais Elétricas de Furnas S/A.

GERASUL - Centrais Geradoras do Sul do Brasil S.A

INCRA - Instituto Nacional de Reforma Agrária

KW- Quilowatts

PROCERA - Programa Especial de Crédito para a Reforma Agrária

MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens.

MASTER- Movimento dos Agricultores Sem Terra

UHE - Usina Hidrelétrica

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 10

1 USINAS HIDRELÉTRICA E O PROCESSO DE REASSENTAMENTO ...... 14 1.1 O Setor Energético Brasileiro ...... 14 1.2 Usina Hidrelétrica Itá ...... 18 1.3 Caracterização da região da construção da Usina Hidrelétrica de Itá ...... 20 1.4 Mobilização da População Atingida ...... 22 1.5 Consolidação de um Movimento Nacional ...... 27 1.7 A Visão do Desenvolvimento ...... 28 1.8 Construção dos Reassentamentos ...... 30

2 CAMPOS DE PALMAS ...... 34 2.1 Trajetória Regional do Desenvolvimento Rural dos Campos de Palmas ...... 34 2.2 Palmas e Suas Fronteiras ...... 37 2.3 A Evolução Econômica dos Campos de Palmas ...... 38 2.4 Ocupação dos Campos de Palmas ...... 40 2.5 Características GEOGRÁFICAS ...... 41 2.6 Aspectos Históricos do Município de Mangueirinha ...... 43 2.7 Mangueirinha a Partir da Década de 1980 ...... 45 2.7.1 Microregião 1 (área de campo) ...... 45 2.7.2 Microrregião 2 (área de floresta) ...... 47

3 O REASSENTAMENTO ITÁ EM MANGUEIRINHA-PR...... 51 3.1 Trajetória do Reassentamento ...... 51 3.2 A Construção do Reassentamento ...... 54 3.3 A Produção ...... 55 3.4 Participação na Construção do Reassentamento ...... 58 3.5 Relações Internas do Reassentamento e a Comunidade Local ...... 60 3.6 Como Podemos Compreender a Proposta Atual de Reassentamento Hoje ...... 61

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 63

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ...... 66

ANEXOS ...... 70

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem como objetivo conhecer como ocorreu o processo de reassentamento Itá I, localizado em Mangueirinha-PR. Isso implicará na leitura e sistematização de fontes bibliográficas, de obras referentes aos temas indicados na fundamentação teórica. Foi necessário investigar os documentos do MAB (estatutos, cartilhas, atas de reuniões, etc.) que estão em grande maioria, na sede do movimento na cidade de Erechim-RS. Também manuseamos fontes jornalísticas acerca da atuação do MAB e da formação do reassentamento na região para dar conta do objetivo. Realizamos entrevistas com pessoas que conhecem a trajetória do reassentamento, como: lideranças do MAB, reassentados e população vizinha, pessoas que conhecem a evolução do município de Mangueirinha.

A pesquisa foi feita no município de Mangueirinha-PR, para uma maior compreensão da dinâmica do desenvolvimento rural do município, bem como aspectos geográficos da região, clima e infra-estrutura. Para conhecer a história de desenvolvimento do município foram entrevistadas pessoas que conhecem as mudanças que ocorrem no decorrer dos anos. Da mesma forma pessoas do reassentamento que vivenciaram todos os momentos, desde a demarcação dos lotes no espaço de construção da barragem, ao deslocamento para Mangueirinha-PR, até o momento da pesquisa. A história possibilitou perceber as bifurcações que ocorreram no processo de desenvolvimento do reassentamento.

É importante compreender o conceito de atingido por barragens, bem como as diferentes concepções que perpassam, onde vai sendo questionadas e ampliadas com o passar dos tempos. A priori os atingidos eram que tinha suas propriedades atingidas pelo alagamento, apenas os proprietários teriam direito a indenização. Segundo Sigaud (1986), 11

para a empresa Eletrosul, atingidos são as populações que tem suas propriedades atingidas pela água, sendo assim apenas os proprietários tem direitos indenizatórios. A partir desse entendimento, a empresa reduzia seu “problema” à indenização de proprietários atingidos pela água e se propunha negociar.

Para tanto, torna-se necessário compreender as implicações que a construção da usina hidrelétrica causa no território, para poder definir melhor quem são os atingidos. As implicações perpassam impactos sociais, ambientais, político, cultural entre outros, que ocorrem simultaneamente com a construção da usina hidrelétrica. Portanto, o conceito de atingido não pode se resumir apenas aos proprietários que são atingidas diretamente.

Para as agências multilaterais , o conceito de atingido vai além dos proprietários atingidos pela água, incluindo o que consideram aspectos físicos ou econômicos que provocam o deslocamento. Vainer (2003) refere-se que deslocamento físico ocorre pela perda de acesso a recursos produtivos como terra, água e floresta, que geralmente afetam pescadores e a agricultores que cultivam áreas de várzea. O deslocamento econômico é aquele resultante da interrupção de atividades econômicas mesmo sem qualquer conotação física-territorial, afetando quem presta serviço nas localidades atingidas que por falta de população, não necessitam mais destes serviços.

Sygaud (1986) avalia que a formação do lago atinge um espaço físico que provoca uma desestruturação nas relações sociais que a partir dele haviam se construído gerando a necessidade de criar outras relações sociais, em um outro espaço, em que os atingidos se reterritorializam.

A comissão de barragem criada em 1997 reforça e amplia a distinção de quem são os atingidos, não se restringe aos aspectos econômicos quando se refere aos atingidos, ampliando para relações sociais por compreender que as localidades atingidas sofrem rupturas de relações sociais, principalmente quando a saída de um número considerado de pessoas inviabiliza atividades que até então aconteciam. Contudo, muitos dos proprietários tem problemas com título legal de terras, não possuindo os mesmos, sendo um limitante para que fossem assistidos pelo processo indenizatório, a CRAB já chamava a atenção para este fato.

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O relatório da comissão Mundial de Barragens tem a virtude de introduzir a variável temporal no entendimento dos impactos, em particular ao tratar das populações a jusante da barragem, uma vez que os efeitos aí somente são sentidos após a finalização das obras e o enchimento do reservatório. Há grupos sociais, famílias ou indivíduos que sofrem os efeitos do empreendimento desde o anúncio da obra, há outros que sofrem sobretudo durante as obras e outros, enfim, que serão afetados com o enchimento e operação do reservatório (VAINER.2003,p.12)

Na construção da usina hidrelétrica de Itá, a visão de atingido para a Eletrosul era apenas os proprietários. Esta visão foi fortemente questionada pela CRAB comissão dos atingidos por barragens, que negociava com a empresa. A empresa passa a reconhecer os atingidos sendo eles proprietários ou não proprietários. Também como atingidos diretos os proprietários e atingidos indiretos os não proprietários.

No primeiro capítulo buscaremos trabalhar os aspectos históricos do setor energético brasileiro, bem como compreender a construção da Usina Hidrelétrica de Itá, que implica em uma mudança territorial afetando grande parte da população, causando um tensionamento social entre a população e empresa, devido a incerteza que o empreendimento gerou. Contudo a população organizou a Comissão de Atingidos por Barragens (CRAB), para garantir os direitos dos atingidos negociando com a empresa uma indenização justa. As organizações de resistência que vão surgindo em diferentes regiões tomando dimensão nacional criam o Movimento dos Atingidos (MAB). A organização dos atingidos garante uma indenização justa. Entre elas o reassentamento que é visto como uma alternativa de desenvolvimento, principalmente para as famílias atingidas com pouca área de terra e os sem terras.

No segundo capítulo trataremos da trajetória de evolução dos Campos de Palmas, que possuíam um vasto território, que desenvolvia a atividade da pecuária de corte sendo ela significativa na região. Posteriormente é considerada as florestas a ser exploradas pela colheita da erva mate, depois a criação de suínos soltos e a exploração da Araucária, e com a modernização da agricultura a região, tanto a área de campos como a de floresta volta-se para a produção de grão, tendo um aumento demográfico significativo nesta região. Juntamente com a evolução dos Campos de Palmas buscaremos compreender as particularidades da trajetória do município de Mangueirinha, na busca de compreende a região em que o Reassentamento Itá I e construído.

No terceiro capítulo compreender como ocorre a construção do reassentamento de Itá, sendo o reassentamento uma forma de indenização, onde as famílias realocadas passam a 13

viver e construir suas vidas neste novo território Sendo necessário construir a estrutura física mínima como casa e galpão para que pudessem mudar, organizar a produção pois ela garantir a reprodução social das famílias, bem como sua vida internamente no reassentamento como suas relação com a comunidade local. E por fim as considerações finais e os anexos.

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1 USINAS HIDRELÉTRICA E O PROCESSO DE REASSENTAMENTO

Este capítulo contextualizaremos os aspectos históricos do setor energético no Brasil, buscando compreender a construção da Usina Hidroelétrica de Itá, sendo ela de grande porte, atingido um considerado número de pessoas. Este projeto de desenvolvimento gerou contradições entre os atingidos e a empresa, resultado na mobilização social dos atingidos que forma a Comissão Regional dos Atingidos por Barragens (CRAB), mais tarde assume dimensões nacionais passando a ser chamado de MAB. A CRAB tinha como objetivo inicial impedir a construção, mas, não sendo possível, passam a defender que os atingidos tenham uma justa indenização para reconstruir suas vidas em outro território. Contudo, buscam compreender são os atingidos, pois até então permeava a concepção que atingidos era apenas os proprietários de bens, analisando as formas que são indenizados, de modo especial os primeiros processos de reassentamento.

1.1 O Setor Energético Brasileiro

Entre os séculos XIX e XX a tecnologia é aperfeiçoada, segundo Dall Agnol (2006), as máquinas tornam-se parte da vida humana, contudo necessitam da energia humana para alimentarem-se. O uso da ciência e da tecnologia aplicada às fontes energéticas permitiu a produção de eletricidade através de usinas hidrelétricas.

No final de 1880 inicia-se a produção de energia elétrica na Alemanha e nos Estados Unidos, através do uso da água, a chamada Hidroeletricidade. Nestes países a energia elétrica é utilizada como um bem de produção, para o funcionamento de motores elétricos, máquinas e equipamentos, potencializando o modelo econômico da época (MAB, 2009).

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No Brasil, em 1889, a empresa canadense Light ligada ao capital europeu, se estabelece em São Paulo e Rio de Janeiro, nas maiores cidades brasileiras sobre a justificativa de haver um capital mais significativo que daria espaço para o desenvolvimento da mesma. Este capital era principalmente humano, pois no Brasil a energia elétrica é um bem de consumo, que seria para iluminação praças, teatros e espaços, linhas de bondes que facilitava o transporte urbano.

Posteriormente, por volta de 1920 a empresa AMFOB (American & Foreign Power Company ), do Grupo General Elétric, instala-se nas demais capitais, contudo o setor energético brasileiro é coordenado por estas duas empresas. (MAB, 2009).

Prado Junior (1998), p. 274) refere que:

[...] Praticamente tudo que se fez neste terreno desde a segunda metade do século passado é de iniciativa do capital estrangeiro, ou financiado por ele. É particularmente de notar o caso do maior truste que opera ainda hoje em tal setor: a Brazilian Traction Light & Power Co.Ltd. Organizou-se em 1904 no Canadá, com capitais internacional, sobretudo ingleses. Foi se estendendo aos poucos, através de várias empresas filiadas e subsidiárias concentrou em suas mãos a maior parte dos serviços públicos do Rio de Janeiro, de São Paulo e de toda a região circunvizinha: luz e energia elétrica, transporte coletivos urbanos, telefone, gás, esgotos e água. Com a Light & Power vieram concorrer, em 1927, as Empresas Elétricas Brasileiras, filial da american & Foreign Power ( que por seu turno é filial da Electric Bond & Shade, o maior truste mundial de produção e distribuição de energia elétrica), que assegurão o fornecimento de energia elétrica e serviços conexos no nordeste, na Bahia, interior do Estado de São Paulo, parte de Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A crise mundial de 1930, afeta a economia Brasil, sendo necessária repensá-la. Até então o Brasil era um pais exportador de produtos primários, sendo que a política do governo Vargas busca a industrialização do país, porém, um dos limitantes do país era a energia elétrica, sendo pobre em carvão de pedra utilizada na época como fonte de energia. Com a abundância de água viria a opção pelas hidrelétricas, como um potencial gerador de eletricidade.

Contudo, Vargas assume uma política intervencionista, com o objetivo de estimular a industrialização e toma medidas para a condução do setor energético brasileiro; a criação do Código de Águas é uma delas. Instituído pelo Decreto 24.643 de 10 junho de 1934, com o objetivo de que a propriedade dos rios deixa de ser do proprietário da terra e passava a ser propriedade do município, do estado, ou da União. As propriedades das quedas água e do 16

potencial hidrelétrico, da mesma forma deixavam de pertencer aos proprietários das terras, passando a ser de domínio da nação, sob a forma de propriedade da união. O governo passava a deter o poder de concessão e de fiscalização, para controlar as atividades das empresas privadas (SILVESTRE, 2008).

Tais medidas não foram aceitas com tranqüilidade pelas empresas privadas que se sentiram lesadas com a ação intervencionista do Estado, pois a ação causou limitações a atuação das mesmas.

A partir da segunda metade do século XX, o Brasil busca o desenvolvimento do país, baseado no crescimento econômico. A visão de desenvolvimento predominante era linear, sendo que os países subdesenvolvidos chegariam a serem desenvolvidos se seguissem o caminho percorrido pelos países desenvolvidos.

[...] O subdesenvolvimento não era concebido como o fruto de uma estrutura econômica mundial de exploração, nem como uma característica peculiar especifica de determinadas sociedades nacionais. Era considerado simplesmente um atraso resultante de um ritmo mais lento de crescimento econômico linear. Identificando-se desenvolvimento como um mero crescimento econômico. E pensava-se que, acelerando-se o ritmo de crescimento econômico, se chegava ao desenvolvimento. (BRUM, 2000.p. 231).

O Brasil volta-se para a efetivação do modelo de desenvolvimento voltado para a industrialização e urbanização, e para isso torna-se necessário ampliar a oferta de energia elétrica (VIANA, 2003). Contudo, é retomada a questão energética, o governo brasileiro dirigido por Juscelino Kubickek, que em 1965 inicia a fase chamada desenvolvimentista, elaborando um plano de metas. “O Plano de metas compreendia 30 metas prioritárias, que buscavam estabelecer um planejamento nos diversos setores da sociedade brasileira, entre eles o setor energético: a energia elétrica, nuclear, aproveitamento de carvão, produção de petróleo, refino de petróleo” (BRUM, 2000 p. 234). Um dos objetivos do plano de metas para o setor energético, era elevar a produção energética de 3 milhões para a 5 milhões de kw (BRUM, 2000).

Para consolidar o sistema energético brasileiro é criado o Ministério de Minas e Energia em 1960, e posteriormente, em 11 de junho de 1962 é criada a Eletrobrás (Centrais Elétricas do Sul do Brasil S.A), um órgão nacional. Nas regiões são criadas outras 17

representações com objetivo de realizar estudos para conhecer a viabilidades da construção de projetos hidrelétricos.

O grupo Eletrobrás foi formado por quatro empresas de âmbito regional- Chesf( (1945) responsável pelo nordeste, Furnas(1957) que administrará o Sudeste, Eletrosul (1968) responsável pela região sul, e Eletronorte (1973) responsável pela região Norte, e por duas empresas controladas de âmbito estadual- Light e Excelsa. A Chesf e Furnas eram as duas únicas empresas já organizadas no momento da constituição da Eletrobrás. (DALL AGNOL, 2006 p, 26-27).

Para Boeira (2006), a Eletrobrás se constitui em um aparelho de planejamento, controle e gestão dos sistemas de produção de energia elétrica no conjunto do território nacional.

No final da década de 1960 e início da década de 1970 o Brasil atingiu um crescimento econômico considerado, sendo o período conhecido como o milagre econômico. Porém, segundo Dall Agnol (2006), com a crise do petróleo os países centrais passam a transferir para os países periféricos as indústrias que consomem muita energia, principalmente as eletrointensivas 1. Esses países passam a financiar a construção de grandes barragens para fornecer energia elétrica para as indústrias e, países como o Brasil, passam a ser os maiores exportadores de produtos eletrointensivos.

Contudo, tais condições permitiram que o setor energético brasileiro mantivesse sua matriz enérgica baseada pela via hidráulica desde o fim do século XIX (CARVALHO, 2005). A maior parte da energia brasileira é de origem hidrelétrica e representa mais de 79% de toda a eletricidade produzida no Brasil. A demanda de energia de uma sociedade depende fundamentalmente da estrutura do setor produtivo, seu nível de atividade e suas opções tecnológicas, da estrutura do setor de transporte, do crescimento populacional e da distribuição de renda dentro do tecido social.

Na década de 1990 o Estado brasileiro adotando uma política neoliberal, passando por um processo de privatizações da maioria dos setores, em particular, os infra- estrutura. A Eletrosul tem parte da empresa privatizada, para a empresa privada Centrais Geradoras do Sul do Brasil S.A- GERASUL, a qual ficou responsável pelo setor de geração de energia elétrica na região sul do país.

1 Eletrointensivas são empresas que utilizam muita energia elétrica. 18

1.2 Usina Hidrelétrica Itá

Na década de 1960 o governo federal inicia um levantamento dos recursos energéticos dos estados do sul, mais especificamente entre os anos 1966 e 1969, encomendado pelo Comitê de Estudos Energéticos da Região Sul (ENERSUL) à empresa norte-americana canambra Engineering/ Consultants Limited, empresa canadense. (Sigaud, apud Viana1986). Os projetos de hidrelétricas orientaram-se pelo consórcio realizados entre canadense e Canambra, com apoio do Banco Mundial e os estudos complementares realizados pela Eletrobrás (DALL AGNOL, 2006).

Os estudos tinham como objetivo identificar os locais com maior aproveitamento dos recursos hidro-energéticos da bacia do rio Uruguai, e conseqüentemente realizar projetos para a utilização dos mesmos.

A Eletrosul pede autorização ao Ministério de Minas e Energia para o estudo dos aproveitamentos energéticos da Bacia do Rio Uruguai, tendo como justificativa: a) de crescimento acelerado do mercado; b) da necessidade de intercâmbio da energia elétrica com a região sudeste; c) do esgotamento do potencial energético do rio Iguaçu, que na época já estava totalmente comprometido com outros projetos. (VIANA, 2003, p. 102).

Em outubro de 1979 foi publicado pela ELETROSUL o estudo de inventário Hidroenergético da Bacia do Rio Uruguai. Neste, apresentou a viabilidade de serem construídas 22 usinas entre elas a de Itá e Machadinho, as duas de grande porte.

Neste estudo constam a atualização dos critérios de dimensionamento energético do levantamento ENERSUL/CANAMBRA (1966/1969), seleção de alternativas com otimização dos recursos hídricos e custos competitivos e seleção de aproveitamentos interessantes para posteriores estudos de viabilidade técnica, econômica e financeira. (SYGAUD, 1986, p. 71).

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UHEs No rio Pelotas: Barra Grande* (690mw) INSTALADAS– 04 No rio Chapecó: Quebra-Queixo (167mw) No rio Uruguai: Machadinho (1140mw), Itá (1450mw) UHEs No rio Canoas: Campos Novos (880mw) EM INSTALAÇÃO- 02 No rio Chapecó: Foz do Chapecó (1228mw) No rio Pelotas: Passo da Cadeia (104mw), UHEs Pai-Querê (228mw) PROJETADAS - 16 No rio Canoas: Barra do Pessegueiro*, São Roque (360mw), Garibaldi (228mw) No rio Chapecozinho: Voltão Novo (45mw), Xanxerê (25mw), Bom Jesus*, Gabiroba*. No rio Chapecó: Nova Erechim (198mw), Foz do Chapecozinho (184mw), São Domingos (55mw), Aparecida (64mw), Abelardo Luz (84mw) No rio Uruguai: Itapiranga (1160mw), Garabi (1500mw) *Reservatório de regularização, sem usina no local Figura 1 – Uhes na Bacia do Rio Uruguai em Santa Catarina Fonte: Bacias Hidrográficas/SC adaptado de SEDUMA-SC. Situação dos empreendimentos projetados a partir do Levantamento Hidroenergético desta bacia hidrográfica realizado em 1979, pelo CNEC ELETRTOBRÁS.

A Usina Hidroelétrica de Itá é considerada de grande porte, Segundo Viana (2003) a Comissão Mundial de Barragem, considera barragens de grande porte cujo comprimento desde a fundação até a crista, é igual ou superior a quinze metros. A mesma autora descreve que para a indústria uma grande barragem apresenta comprimento igual ou superior a 150 20

metros; volume igual ou superior a 15 milhões de metros cúbicos; capacidade de armazenamento do reservatório igual ou superior a 25 quilômetros cúbicos e; capacidade de geração elétrica igual ou superior a 1.000 Megawatts.

1.3 Caracterização da região da construção da Usina Hidrelétrica de Itá

A região onde construída a Usina Hidrelétrica de Itá, faz parte do Alto Vale Uruguai. Situa-se sobre o Rio Uruguai, na Volta do rio Uvá, onde faz uma curva em forma de laço construída entre os município Itá - Santa Catarina e Aratiba - Rio Grande do Sul sendo divisor dos Estados (DALL AGNOL, 2006). O projeto alagaria uma grande extensão de terras, bem como vários municípios da região.

[...] O reservatório, resultado do alagamento do rio Uruguai e seus afluentes, com seus 142 Km² de lago, atingiu terras de onze município: Aratiba, Mariano Moro, Severiano de Almeida e Marcelino Ramos, no Rio Grande do Sul; Itá, Arabutã, Concórdia, Alto Bela Vista, Ipira, Piratuba e Peritiba em Santa Catarina. (Gerasul, 1994, p 13).

Alguns municípios foram atingidos totalmente, como Itá que teve a cidade “reconstruída/realocada”, e Marcelino Ramos; os demais municípios foram parcialmente alagados. Segundo Dall Agnol (2006) 94 comunidades foram alagadas, e em torno de 13 mil pessoas ( aproximadamente 3200 famílias) são atingidos pelo projeto.

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Figura 2 - Arranjo geral do empreendimento Fonte: - Eletrosul 1992

O relevo torna-se mais acidentado e os solos mais rasos, com afloramentos rochosos, possuem uma fertilidade natural elevada com vales profundos e vertentes muito inclinadas. O Estudo de Inserção Regional, realizado pela ELETROSUL, descreve a área atingida pela 22

Usina Hidrelétrica de Itá (UHE Itá). Em função da alta pedregosidade e declividade das vertentes, a mecanização não era utilizada. Os vales dos rios encaixados apresentavam declividade superiora 40º, podendo chegar a 60º. As estações climáticas são bem definidas, com geadas mais freqüentes no inverno e distribuição regular das chuvas. A vegetação original não era de grande relevância, tendo sido fortemente desmatada restando apenas pequenas manchas junto aos rios e nos locais de difícil acesso. A fauna silvestre era bastante reduzida e a fauna aquática continha representantes de todos os níveis.

A economia da região tem como base o setor agropecuário, sendo predominante a agricultura familiar, os lotes variam de 24 a 29 hectares. O setor agropecuário é responsável por mais de 90% dos estabelecimentos gerando cerca de 87% do número de empregos. A cultura de milho e soja juntamente com a suinocultura e a avicultura e pecuária, são as principais atividades, com a presença significativa de grupos agroindustriais (SADIA, CHAPECÓ, SEARA, PERDIGÃO) e cooperativas (COTRIGO, COTREL, COPÉRDIA). A região possui ainda um alto índice de associativismo rural (Centros de Tradições Gaúchas, cooperativas, sindicatos, comissões municipais, etc.).

Outra característica que o estudo apresenta é o significativo número comunidades rurais fundamentais enquanto elemento estruturador da vida sócio-econômica e cultural do meio rural. O sistema de infraestrutura apresentava uma malha viária densa e com condições regulares de trânsito, eletrificação em praticamente todos os núcleos e propriedades rurais, com fortes vínculos comunitários. O ponto onde se encontram as estruturas de uso público e comunitário; como igreja, clube, escola e comércio se constitui o núcleo rural.

A construção da Usina Hidroelétrica de Itá irá provocar alteração no espaço físico e a desconfiguração nas relações sociais existentes, caracterizando uma dinâmica de desterritorialização. O aspecto de desterritorialização que a população sofreu faz com que ocorra a mobilização social em contexto histórico que favorece para a organização da sociedade civil.

1.4 Mobilização da População Atingida

O campo brasileiro tem organizações populares que marcam a ação da população por direitos como: Canudos (1892 a 1893), Contestado (1912 a 1916), as Ligas Camponesas(1955 23

a 1964) e o Master (1958 a 1964), porém são ofuscados pela ditadura militar e reaparecem no final da década de 1970. O Brasil ainda vivendo o período da ditadura militar, mas com o lento processo de abertura política que se inicia neste período, vai ocorrer a reorganização da sociedade , e com isso a efervescência nos movimentos sociais. Segundo Chaui (2006, p.11),

[...] os movimentos sociais e populares, que deram existência a um sujeito coletivo que, na luta de classes, ergueu-se na criação de direitos sociais, econômicos e culturais, ultrapassando os direitos civis da democracia formal rumo à cidadania numa democracia substantiva.

No final da década de 1970, o meio rural passa a explicitar problemas históricos relacionados à estrutura agrária, e novas questões como a modernização conservadora da agricultura e suas conseqüências, a agroindustrialização, os projetos hidrelétricos de grande porte, aumentando a tensão entre as classes sociais gerando a organização dos movimentos sociais, tendo grande apoio da Igreja ligada a teologia da libertação 2. Temos o surgimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Movimentos de Mulheres, e Movimento dos Atingidos por Barragens, entre outros.

Um movimento social compreende nas tentativas coletivas de promover mudanças, em determinadas instituições sociais, ou criar uma nova ordem social. O termo “movimento social” surge na academia no século XIX, por volta de 1840, por Lorens Von Stein, na busca de estudar e compreender a nova e emergente classe operária industrial, que questionara a ordem existente, desenvolvia idéias e ações em torno de projetos socialistas ou anarquistas. Para Lima

Um movimento social é a ação coletiva de um setor da sociedade dividida em classe, que partindo das reivindicações e interesses de seu ambiente social, questões e sistema social que ocasionam desvantagens, põem em ações nas energias, adotando formas organizacionais, táticas e estratégias, e adota um sistema de idéias que racionalizam seu procedimento, dando lugar a um programa para a concretização de uma utopia alternativa.(apud, Gohn 2000.p8)

No decorrer dos anos os movimentos sociais se constituem por duas grandes correntes denominadas por neomarxistas e novos movimentos sociais. Sendo que primeiro orienta-se

2 Corrente pastoral das Igrejas cristãs que aglutina agentes de pastoral, padres e bispos progressitas que desenvolvem uma pratica voltada para a realidade social. Essa corrente ficou conhecida assim porque, do ponto de vista teórico, procurou aproveitar os ensinamentos sociais da Igreja a partir do Concílio Vaticano II. Ao mesmo tempo, incorporou metodologias analíticas da realidade desenvolvidas pelo marxismo.( STÉDILE, João Pedro & Fernandes, Bernardo Mançano. Brava Gente: a trajetória do MST e a luta pela terra no Brasil . São Paulo, Fundação Perseu Abramo, 2001. 24

pela teoria marxista da luta de classe e os novos movimentos sociais que surgem na segunda metade do século XX tem um olhar mais subjetivo da sociedade e não é classista. Para GOHN(1995,p.44), movimentos sociais

São ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre o temas e problemas em situação de: conflito, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade em comum. Esta identidade decorre da força do principio da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo.

Mas, queremos destacar aqui a organização que surge do questionamento ao modelo energético que o Brasil adota, com grandes Usinas Hidrelétricas atingindo inúmeras pessoas e seus territórios. Boeira (2006) destaca que durante as décadas de 1960 a 1980 refletiu-se em um processo marcado pelo poder autoritário do Estado com um difícil processo de negociação com a população atingida. Isto resultou nas organizações das populações atingidas em movimentos sociais como forma de assegurar seus direitos sobre o uso da terra e defender-se do processo de expropriação promovido pelo responsável pelos empreendimentos (o próprio Estado) naqueles momentos.

Com a divulgação do estudo sobre a bacia do rio Uruguai nos anos de 1978 e 1979, um grupo de agricultores, juntamente com lideranças locais ligadas a igreja, sindicatos entre outros, começam a pesquisar o que significava a construção da Usina Hidrelétrica. Enquanto isso uma equipe da Eletrosul, responsável pela obra, dando inicio a demarcação da região que a usina iria alagar. O anúncio da construção da Usina Hidrelétrica de Itá e Machadinho estava no contexto de grandes obras hidrelétricas que já estavam sendo construídas.

Na região nordeste com a construção da UHE de Sobradinho no Rio São Francisco atingiu 70.000 pessoas e mais tarde a UHE de Itaparica. Na região sul com a construção da UHE de Itaipu na bacia do Rio Paraná. Na região norte com a construção da UHE de Tucuruí. Com isso a população local que seria atingida pela Usina de Itá e a Usina de Machadinho passa a organizarem-se, resistindo a implementação da mesma, dando inicio a Comissão do Atingidos por Barragens- CRAB.

25

A priori a construção da Usina Hidrelétrica de Itá gera inúmeras incertezas, principalmente pela falta de informação que a população tinha sobre ela. Porém, a população estava tendo informação de como as empresas trataram os atingidos nas outras usinas que estavam sendo construídas, principalmente pelo fato de terem negado seus direitos e as dificuldades para negociarem as indenizações. Com isso, logo trataram de organizarem-se criando a Comissão Regional dos Atingidos por Barragens, em reunião que contou com a presença de 350 pessoas na cidade de Concórdia Santa Catarina no dia 24 de abril de 1979 (ROCHA, 2009), sendo a primeira vez que a população ameaçada de deslocamento, organiza- se antes do inicio da obra (DALL AGNOL, 2006). A CRAB é constituída por pequenos e médios produtores e não proprietários, que tem seus territórios ameaçados pelo construção da Usina.

A primeira medida da CRAB foi buscar informações sobre a obra, devido a desinformação da população e a falta de informações da empresa para a população. Na década de 1980, são criados grupos de base nas comunidades/linhas cuja função seria basicamente “coordenar, respeitar e fazer valer as decisões de base” (Ata de 03/12/80 apud,REIS 2007). Estas Comissões Locais facilitavam a organização e a melhor circulação das informações entre os atingidos.

Em 1981, a empresa ELETROSUL encaminhou o documento “Política Geral de Desapropriação”, sendo explicitadas as condições em que deveria ocorrer o deslocamento das populações nas áreas atingidas. Consta que as indenizações seriam para os proprietários que teriam suas terras compradas pela empresa (REIS, 2007). A situação dos não proprietários, sendo eles posseiros e arrendatários de terras, devia ser resolvida pelos governos do RS e SC, bem como o INCRA. Com isso, há uma intensa forma de organização da população, que compreende que a forma indenizatória da empresa prejudicaria muitas pessoas, pois, muitos dos que lá viviam, não possuíam título de terras, e outros vendiam sua força de trabalho.

A organização da população resiste à construção da Usina hidrelétrica tentando inviabilizar a construção num primeiro momento. Não sendo isto possível, buscam ampliar seus direitos sociais, possibilitando a construção de suas vidas em outro território (VIANA, 2003) Prefeitos, padres e presidentes de sindicatos de trabalhadores rurais de alguns municípios fundam uma equipe de justiça e trabalho com o objetivo de buscar alternativas 26

para os atingidos. Porém nem todos os prefeitos são favoráveis, ocorrendo divisões políticas entre prefeitos e lideranças dos municípios, que se posicionaram a favor da obra.

Até 1985 o momento era permeado de incertezas de como a população atingida seria indenizada pela perda do seu território de origem. Com isso, neste ano um grupo de parlamentares gaúchos, obtiveram do Ministro de Minas e Energia, Aureliano Chaves, a promessa de suspensão temporária da obra para que fossem reestudadas as suas condições, o que causou a paralisação temporária da obra. (Reis 2007). No ano seguinte a CRAB, consolida-se na região como a representante direta dos atingidos. Em 23 de janeiro de 1986, através das portarias n° 86 e 87, o Ministério das Minas e Energia previa a participação de representantes do movimento em “Grupos de Trabalho” que avaliariam os impactos da construção das barragens de Itá e Machadinho. Inicia-se então o processo de negociação com a ELETROSUL, com a formação de grupos de trabalho para estudar a situação da população rural.

Com o aumento das organizações sociais, na segunda metade da década de 1980, o setor elétrico precisa ampliar sua visão para questões ambientais e ou sociais principalmente. Iniciando a discussão de propostas concretas ao deslocamento dos atingidos, a CRAB realizou um encontro onde definiu 39 pontos que precisam ser contemplados pela ELETROSUL. Entre as formas de indenizações compreendiam a troca de terra por terra, os reassentamentos e o pagamento em dinheiro.

Torna-se obrigatória a realização dos Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental (EIA-RIMA), que tem a finalidade de identificar e analisar os vários impactos que a construção da obra gera, bem como a aprovação de licenciamento para novos aproveitamentos hidrelétricos realizada por órgãos ambientais independentes do setor elétrico.

A ELETROSUL deu um parecer favorável aos vários itens, destacando as indenizações para os atingidos sem terra, destacando que:

Proprietários e não proprietários pequenos meeiros, parceiros, posseiros ( de terras públicas ou privadas), empregados, autônomos, trabalhadores informais, pequenos empresários poderão ser considerados atingidos . A ausência de título legal de propriedade ou de vinculo legal de emprego não será tomada como critério para excluir grupos, comunidades, famílias ou indivíduos ao adequado reconhecimento como atingido ( Eletrosul/CRAB,1987). 27

As indenizações ocorrem em áreas dos três estados do Sul, pois em propostas iniciais a empresa propunha que as indenizações fossem feitas nos estados do Centro-Oeste.

Foi assinado pelo presidente da Eletrosul e Ministro de Minas e Energia o “Documento de Acordo entre a Eletrosul e a CRAB, em relação às Usinas hidrelétricas de Itá e Machadinho”.

Em 29 de outubro de 1987, um acordo entre a CRAB e a ELETROSUL (ratificando o documento PRE-692/86, de 07/10/1986) assegura que “nenhuma obra” seria realizada “dentro dos rios sem prévia indenização ou reassentamento dos atingidos de cada barragem, Itá e Machadinho”, além de estabelecer que as famílias atingidas seriam compensadas mediante três alternativas: a) “terra por terra, mediante a apresentação de áreas quantas necessárias, preferencialmente na região, ou nos três estados do Sul, com características agrícolas e infraestrutura não inferiores às áreas atingidas”; b) “indenização por dinheiro com a participação dos atingidos na determinação dos preços da terra e benfeitorias”; ou, c) “garantia de participação em projetos de reassentamento para todos os sem-terra atingidos pelas barragens de Itá e Machadinho, em áreas dos três estados do Sul, com características agrícolas e infraestrutura não inferiores às atingidas pelas barragens”. ( Eletrosul/CRAB,1987).

Ressalta-se que as três formas de indenização tiveram um longo processo para a conquista sendo fundamental a CRAB para negociar com a Empresa estatal responsável pela obra.

Viana (2003) descreve que a Usina de Itá e Machadinho representa é um dos casos mais expressivos de resistência, mobilização e participação da população atingida. A bacia do Uruguai caracteriza-se por propriedades de pequeno porte, por isso atingiu um grande número de pessoas fortalecendo a organização social que ia acontecendo. Contudo, a organização popular foi responsável pela redefinição de novas normas, conduta que amplia os direitos das populações atingidas no processo de construção de hidrelétricas no país. O movimento foi responsável pela redefinição de novas normas de condução para o processo de construção de aproveitamento hidrelétrico no país nas décadas seguintes (Boira, 2006).

1.5 Consolidação de um Movimento Nacional

As experiências da resistência frente ao modelo enérgico que estava ocorrendo em outras regiões onde os projetos estavam sendo desenvolvidos, faz com que em 1989 ocorresse o primeiro encontro nacional de atingidos, com o objetivo de conhecer as experiências de resistência de cada organização, fortalecendo-as no âmbito nacional. Após o encontro 28

ocorreu a realização do I Congresso Nacional dos Atingidos no ano de 1991. Daquele encontro foram retiradas algumas definições:

Movimento dos Atingidos por Barragens deve ser um movimento nacional, popular e autônomo, que deve se organizar e articular as ações contra as barragens a partir das realidades locais a luz dos princípios deliberados pelo Congresso. O dia 14 de março é instituído como o Dia Nacional de Luta Contra as Barragens , sendo celebrado desde então em todo o país. Os Congressos Nacionais do MAB passaram a ser realizados de três em três anos, sempre reunindo representantes de todas as regiões organizadas e as decisões tomadas servem como base para o trabalho e linhas gerais de ação. (MAB,2006 p. 7).

Grzybowski (1987) revela uma faceta nova na luta pela terra, que consiste na luta contra a expropriação, pois as hidrelétricas causam a expulsão de um grande número de pessoas que vivem na área, além é claro de privilegiar uma determinada concepção de utilização dos recursos hídricos insustentável.

O MAB, além de preocupar-se com a questão dos atingidos propõe diferentes concepções de utilização dos recursos hídricos, com a minimização dos impactos sócio- ambientais. Para Dall Agnol (2006, p. 32),

O Movimento não é contra a geração de energia e os benefícios que essa possa trazer para a população. É contra os planos que impõem a construção de grandes barragens, sejam elas estatais ou privadas. Luta pela democratização da política energética e pelo compromisso com um projeto de sociedade socialmente justa e ecologicamente responsável.

1.7 A Visão do Desenvolvimento

A temática acerca do desenvolvimento é recente na academia, sendo mais significativa a partir da segunda metade do século XX, onde é vinculada a visão de desenvolvimento igual a crescimento econômico, o que torna o tema complexo e questionador.

O desenvolvimento sempre foi um tema que esteve em voga na sociedade, de modo especial na sociedade moderna, que buscava e busca, sob sua ótica, técnicas para o crescimento e transformação da mesma. Nos últimos duzentos anos as transformações ocorreram rapidamente na sociedade, resultando no aumento significativo do crescimento econômico que gerou o aumento da opulência e, ao mesmo tempo de privações e de miséria para grande parte da população. 29

O desenvolvimento gerado no decorrer das décadas aumentou o fosso entre pobres e ricos. Veiga (2006) diz que até o início de 1960 o desenvolvimento não se distinguia do crescimento econômico. Porém, com o passar dos anos, ocorreu um elevado crescimento econômico, inclusive no Brasil, o que não ocasionou mudanças nas condições objetivas da população de modo geral. Ao perceberem a fragilidade com que o tema era tratado, ocorre um debate internacional sobre o sentido do vocabulário desenvolvimento.

[...] foram surgindo evidência de que o intenso crescimento econômico ocorrido durante 1950 em diversos países semi-industrializados (entre os quais o Brasil) não se traduziu necessariamente em maior acesso de populações pobres a bens materiais e culturais, como ocorrera nos países considerados desenvolvidos. [...] Foi assim que surgiu o intenso debate internacional sobre o sentido do vocabulário desenvolvimento. (VEIGA 2008,p.19)

A partir do momento em que se percebe a complexidade do termo desenvolvimento, a sociedade começa a pensar no conjunto das relações englobadas deste termo, como as relações políticas, econômica, sociais, culturas, ambientais, não apenas relacionados com o crescimento econômico. O desenvolvimento passa a ser discutido a partir da qualidade de vida real da população, do melhoramento de sua condição não só econômica, mas social, ambiental, política, etc.

Ao analisarmos o desenvolvimento, precisamos rever as relações que ocorrem nas dinâmicas de desenvolvimento, buscando compreender se elas potencializam os indivíduos a tomar decisões e resolver problemas. Para Sen (1999), a questão fundamental do desenvolvimento é a superação dos problemas que estão relacionados com a privação e pobreza. Estes problemas estão presentes em países ricos e pobres, e é a superação destes problemas a parte central do processo de desenvolvimento.

No processo de desenvolvimento, os indivíduos passam ter acesso às liberdades substantivas, que compreendem: alimentação, moradia, saúde, educação, enfim, ao terem condições básicas de vida atendidas, o resultado disso é a condição de fazerem escolhas, pois não precisam se preocupar com questões básicas de sobrevivência (SEN, 1999).

O desenvolvimento busca melhorar as condições de vida, bem como garantir qualidade de vida para as futuras gerações. Para tanto, desenvolvimento propõe mudanças no uso dos recursos, redimensionamento de investimentos, desenvolvimento tecnológico e 30

alterações institucionais que devem concretizar a capacidade de atender as necessidades humanas do presente e do futuro. Nesta perspectiva, precisamos compreender o desenvolvimento local, pois ao estarmos inseridos na dinâmica do desenvolvimento global, temos no local a possibilidade de demonstrar as questões que se fazem necessárias para atender a necessidade do local.

Basso (2004) aponta para importância da identidade local onde as pessoas possam unir-se em torno de idéias ou projetos. Sendo assim, faz-se necessário pensar o desenvolvimento local, levando em conta as características internas que o mesmo possui (autonomia, reinvestimento, inovação e identidade).

1.8 Construção dos Reassentamentos

O reassentamento é uma forma de indenização conquistada pela primeira vez pelos atingidos da Usina Hidroelétrica de Itá e Machadinho, passando a ser uma prática de indenização em outros locais onde são construídas as usinas. Para Boeira (2006, p. 41) “representa a possibilidade de agricultores e trabalhadores rurais garantirem as condições básicas para sua reprodução enquanto grupo social, bem como de reorganização dos seus territórios construídos”.

O objetivo da política de reassentamento é assegurar que as pessoas que são fisíca ou economicamente deslocadas, devido à construção da usina, não fiquem em situação pior, mas melhor do que antes.

A CRAB, após conquistar o direito à indenização justa, precisou se empenhar para que o direito se efetivasse, tendo uma contínua tarefa de organização de mobilização para que de fato ocorresse a construção do reassentamento. A CRAB (agora MAB) dedica-se a organização dos reassentamentos, pois acreditava ser uma alternativa de desenvolvimento para a população atingida que constrói suas vidas em outro território. Assim, leva em conta aspectos socieconômicos, culturais entre outros para um desenvolvimento integral dos seres humanos trazendo a premissa da importância da organização coletiva na construção destes novos espaços.

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O documento “Diretrizes e critérios para planos e projetos de Reassentamentos Rurais de populações Atingidas pelas Usinas Hidrelétricas de Itá e Machadinho” 3. Considerando que o reassentamento tem como diretrizes: garantir condições para o desenvolvimento socioeconômico dos agricultores; preservar a cultura e tradição das famílias afetadas; envolver os beneficiários na busca de solução; dotar os projetos da infra-estrutura básica, abastecimento de água, energia elétrica, acessos e outros; assegurar, através de convênios, assistência a saúde, educação e capacidades técnico- profissional (Eletrosul/Cnec,1989 apud DALL AGNOL, 2006). Todos os custos seriam mantidos pela ELETROSUL. Segundo um dirigente entrevistado por ser uma empresa estatal (naquele momento), as negociações foram mais fáceis do que com as atuais empresas privadas. A partir da privatização do setor, cada novo empreendimento a ser construído poderá apresentar um “oponente” diferente para o movimento mesmo se tratando de empresa da mesma natureza (privada). (BOEIRA, 2006).

As áreas de reassentamento têm seus custos de implantação financiados pela Eletrosul. Viana (2003) refere-se que o público alvo para ser reassentados eram os que primeiramente eram excluídos das negociações por não terem títulos de terra, e pequenos proprietários com propriedades inferior a 75 hectares, posseiros, filhos de agricultores (caracterizados sem terra e com idade mínima de 16 anos), pequenos arrendatários, parceiros, assalariados rurais e trabalhadores volantes que, comprovadamente vivem e trabalham em área de terra a ser atingida e devidamente no cadastro socioeconômico. O entrevistado 4 refere-se que o tamanho dos lotes está relacionado à força de trabalho existente na unidade familiar, sendo que no máximo de área que a família receberia era 36 hectares. O calculo da força de trabalho total de uma família era calculado conforme os critérios que contém na tabela.

Tabela 1 - Força de trabalho dos agricultores atingidos pela UHE Itá Faixa etária Idade Sexo Força de trabalho 1 5 a 10 Ambos 0,25 2 11 a 15 Ambos 0,60 3 16 a 60 Homem 1,00 Mulher 0,80 4 Mais de 60 Homem 0,50 Mulher 0,25 Fonte: Eletrosul, 1987, ( apud Viana 2003.p114)

3 Documento em anexo. 32

Os reassentados receberiam a estrutura mínima que garantiria a viabilidade das propriedades como casa, galpão, estrebaria, chiqueiro/ pocilga. Espaço de convivência social com igreja, centro comunitário, cancha de bocha, e campo de futebol. O sistema de infraestrutura também inclui o abastecimento de água, fornecimento de luz, estradas, saúde e educação. Os reassentados recebem uma verba de manutenção por nove meses, por compreender que as famílias precisariam de certo tempo para produzir e se estabelecer no território que passam a integrar.

A emergência e a atuação da CRAB como ator social em alguns territórios rurais atingidos pela construção de UHEs, representou a possibilidade de agricultores e trabalhadores rurais garantirem as condições para sua reprodução enquanto grupo social, bem como a reorganização dos seus territórios construídos (BOEIRA, 2006).

A partir de 1988 a CRAB, volto-se para a organização dos reassentamento juntamente com a Eletrosul, (posteriormente Gerasul). Contudo, foram reassentadas 444 famílias em 8 reassentamentos, sendo eles nos municípios de: 1°) Marmeleiro-PR, 2°) Campo Erê- SC, 3°) Mangueirinha-PR, 4°) -PR, 5°) Honório Serpa-PR, 6°) Chiapeta-RS 7°) Campos Novos-SC, e 8°) Capuipe-RS.

O entrevistado 5 refere-se entre as conquistas que a CRAB obteve em 1989 foi a indenização por sequência, sendo que onde iniciava-se o pagamento da indenização para os atingidos, toda a localidade deveria ser indenizada. Uma tática utilizada pela empresa Eletrosul era indenizar algumas famílias em uma localidade e posteriormente ir para outra região mais distante e indenizar outras famílias, sendo que as primeiras indenizadas tinham um poder de negociação maior, pois a empresa precisava instalar-se na região. Contudo, a CRAB conquista o direito da indenização por seqüência, garantido que todas as famílias seriam indenizadas com os mesmos direitos. Exemplo indenizavam uma os proprietários de terra, se os mesmos tivessem empregados, eram indenizados os proprietários e seus empregados que tinham o direito de serem reassentados.

As áreas de terra destinadas para o reassentamento eram escolhidas pela empresa juntamente com uma equipe de técnicos da CRAB que avaliavam a viabilidade da área para a produção, após isso, as famílias que decidiram pelo reassentamento iam visitar a área e se gostassem fariam a escolha, quando uma área era totalmente ocupada, iriam construir o 33

reassentamento. Os primeiros reassentamentos construídos localizam-se nos municípios de Marmeleiro-PR e Campo Êre-SC e Mangueirinha-PR.( Ver figura 3).

Figura 3 - Reassentamentos de Mangueirinha, Marmeleiro e Campo Erê Fonte Eletrosul, 1992 34

2 CAMPOS DE PALMAS

O capitulo buscará compreender a trajetória dos Campos de Palmas, a região que teve inúmeras disputas territoriais, como o objetivo de exercer seu domínios políticos e posteriormente domínios econômico da região. A pecuária de corte é considerada a atividade econômica desenvolvida nos campos e na floresta ocorre a colheita da erva mate, depois a criação de suínos soltos e a exploração da Araucária, e com a modernização da agricultura a região volta-se a produção de grão, tendo um aumento demográfico significativo nesta região. De modo especial estudaremos a trajetória do município de Mangueirinha, na busca de compreende a região em que o Reassentamento Itá I tem seu território construído.

2.1 Trajetória Regional do Desenvolvimento Rural dos Campos de Palmas

Os campos de Guarapuava possuem imensas áreas de campo nativo, com uma vegetação herbosa que dá boa forragem, altamente favorável à multiplicação do gado, o que propiciou desenvolver a pecuária de corte neste território como a principal atividade econômica. É criado também um núcleo urbano com a finalidade de administrar a região, juntamente com a província de São Paulo, a qual pertencia.

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Figura 4 - Divisão que compreendia dos campos de Guarapuava Fonte: Disponível em:

A região, que compreende os campos de Palmas e os campos de Guarapuava, dividia seu território em áreas de floresta nativa e campos nativos. As florestas nativas não são de grande relevância econômica num primeiro momento, pois o interesse é desenvolver a pecuária de corte, conforme refere Wachowicz (1987, p. 11): “[...] as terras cobertas pela mata das araucárias ou pela floresta subtropical não possuíam muito valor. O importante era ocupar os campos com a criação de gado bovino e cavalo, sobretudo o primeiro”.

A criação de gado de corte impulsionou a efetiva ocupação da região devido à região apresentar aspectos geográficos favoráveis, como o relevo e a vegetação propícios para o desenvolvimento desta atividade. Segundo Heinsfeld (2007, p. 78), “por volta de 1830, começou a ocupação da região por brasileiros criadores de gado. Mais tarde, fundou-se o povoado de Palmas e, após, o de Boa Vista ou Palmas do Sul (atual Clevelândia)”.

A pecuária tornou-se uma importante atividade econômica para região, bem como para o Brasil. Em 1839, com um número significativo de fazendas estabelecidas nos campos de Palmas, ocorreu a abertura de uma rota que ligava os campos do Rio Grande do Sul, de modo 36

especial Cruz Alta, que também desenvolvia a criação de gado 4, tendo como destino o comércio em Sorocaba/SP. Esta nova rota é também conhecida como caminho das tropas, devido à circulação dos tropeiros que lá passavam.

As tropas percorriam um longo caminho, passando por várias regiões, entre elas os campos de Palmas. Nos caminhos que circulavam, os tropeiros estabelecem inúmeros vilarejos, com uma mínima estrutura para atender as necessidades dos viajantes e suas tropas.

Figura 5 - Situação de Palmas no final do século XIX Fonte: WACHOWICZ (1987.p. 47).

4 Segundo Brum (1987), em 1752 o governo português começa a distribuir títulos de propriedades, o que dará origem ao latifúndio pastoril no RS. 37

Em 1840, os Campos de Palmas deixam de estar sobre a direção política da região dos Campos de Guarapuava, formando o seu núcleo urbano que administraria este território. Segundo Heinsfeld (2007), em 1850, Palmas já contava com cerca de 30.000 cabeças de gado.

2.2 Palmas e Suas Fronteiras

O território que compreende os campos de Palmas, no século XIX, era disputado entre Argentina e Brasil. A disputa pela posse dos campos de Palmas retoma questões referentes aos limites da fronteira entre os dois países. Este fato reaparece com o fim da guerra do Paraguai.

A Argentina contestava a demarcação do limite de área realizado pelo Tratado de Madri, pois, para ela, os campos de Palmas estariam sobre o seu território, dessa forma, sob seu domínio. Portanto, queriam rever o tratado e os limites estabelecidos.

Após longas divergências entre Argentina e Brasil, ocorre a intermediação dos governos dos Estados Unidos da América, sob o comando de Grover Stephen Clevelandi, para a resolução do conflito, que utiliza da argumentação do princípio romano do UTI possideti, ou seja, quem possui de fato possui de direito. Alegando com isso, de que a região já, no século XVII, era freqüentada pelos bandeirantes, ao trafegarem com destino às reduções jesuítas. Também utilizando como argumento a existência de índios que ocupavam estes territórios. Sobre estes pressupostos, define-se que a Argentina não tem direito sobre o território.

Segundo Heinsfeld (2007), a população da zona contestada é maior porque na parte acrescida estão a colônia do Chopin e a povoação de Mangueirinha, com 5.793 habitantes. Em 1895, é definido que os campos de Palmas continuam pertencendo ao Brasil.

Segundo Wachowiz (1987, p. 53), “a partir de meados de 1870, a sociedade palmense já dava sinais de alguma organização. A tendência agora seria o seu fortalecimento, embora lento”. Palmas emancipa-se politicamente em 1877, tendo como distritos Clevelândia e Mangueirinha. Clevelândia tem sua emancipação em 1892, e Mangueirinha passa a ser distrito da mesma.

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2.3 A Evolução Econômica dos Campos de Palmas

A pecuária de corte é a principal atividade socioeconômica na região, constituída por duas classes sociais: uma população de proprietários, e outra de pessoas que trabalhavam nestas fazendas como peões ou capatazes.

Segundo Heinsfeld (2007) na maioria das vezes não eram os donos que moravam nas fazendas, e sim, peões e capatazes. Para Brum (1987 p. 25),

Grande propriedade concentrada na mão de poucos e a forma como se organizou o trabalho geraram duas classes bem distintas e fortemente hierarquizadas: a dos estancieiros (proprietários) e a dos peões (dependentes). Alguns milhares de grandes proprietários eram donos das terras e utilizavam nas estâncias de criação o trabalho dos peões, além de escravos para o serviço doméstico.

Como já dito, a região se caracterizava tipicamente por uma sociedade pastoril, sendo que a maioria da população vivia no campo, trabalhando nas fazendas. Os trabalhadores das fazendas, para Silva (2001), são uma massa heterogênea de brancos que não eram senhores, de negros que não eram escravos, de índios e de mestiços, que desempenham uma série de atividades, e conhecidos na região como caboclos. Os caboclos têm um papel significativo na ocupação destes campos. Eles tomam posse de áreas de terras que não pertencem às sesmarias.

O surgimento de uma oligarquia campeira, baseada no domínio dos campos. A consolidação da oligarquia campeira deu-se primeiramente em função da primazia cronológica da chegada. Este patriciado atuou de forma centrífuga. A parte urbana foi relegada para favorecimento dos domínios campeiros, onde inclusive as famílias patriarcais fixavam residência. Desta forma, Palmas teve dificuldades de crescimento e, historicamente, a parte urbana atuou como apêndice do campo, na região. (WACHIWICZ, 1987, p. 54).

O aumento demográfico também significou uma nova dinâmica no sistema econômico. Até então, a pecuária de corte era a atividade econômica hegemônica da região, devido à importância que se dava às áreas de campo. Os posseiros e aventureiros 5 concentram sua atividade econômica nas áreas de florestas, para a extração da erva-mate.

Segundo Prado Junior (1998, p. 105 ), a erva-mate (ilex paraguauensis,St.Hilaire) é encontrada em estado nativo nas matas do rio Paraná, bem como nos Campos Gerais do Sul

5 Como muitos denominam por serem de outras regiões e após a colheita voltava-se para elas. 39

da colônia (território do atual Estado do Paraná), onde buscavam a sua subsistência e um local para morar. Para Wachowicz (1987), a existência destes posseiros era importante para os proprietários da região, pois eles produziam produtos para a subsistência, que as fazendas tinham dificuldades de produzir, desbravam áreas para estabelecem agricultura de exploração, também o sistema de posses era itinerante, não sendo definido, muitos tinham suas posses compradas e eram expulsos, mas condicionando a rede fundiária que se instalava na região.

A erva-mate é uma atividade extrativista que tem relevância econômica na região. A extração inicia em meados do século XIX, principalmente por exploradores que vinham da Argentina e do Rio Grande do Sul para colher e comercializá-la. Havia algumas ervateiras de pequeno porte que processavam o produto para a comercialização, sendo esta outra atividade que atrai a população oriunda de outras regiões. Esta atividade extrativista gerou um aumento populacional na região. A maioria das pessoas que se dedicavam à exploração da erva-mate, vinham do Rio Grande do Sul e não possuíam residência na região, por ser uma atividade extrativista, não disputando território específico, ocorrendo um movimento populacional significativo.

A criação de porcos soltos na mata caracteriza-se por um sistema agrícola bem definido. Muitas vezes, esta atividade era consorciada com a extração erva-mate, sendo que no inverno a população local sendo constituída pelo cabloco/posseiros dedicava-se principalmente à extração da erva-mate (maio a agosto), e no restante dos meses criavam os porcos. A criação destes animais se dava pela alimentação de frutos da floresta, faziam alguns roçados para o plantio de milho como complemento à sua alimentação. Após, eram vendidos para centros maiores, como Guarapuava. Estes animais eram tropeados como o gado até seu destino.

Conforme Wachowicz (1987), na década de 1930, com a urbanização de São Paulo, há uma demanda de banha de porco, tornando-se um comércio interessante, intensificando assim, a criação de porcos no sul do país. Aos poucos, foi mudando a forma de tratamento destes animais, sendo criados em estabelecimentos fechados6 e, com a abertura das estradas, foram sendo transportados em caminhão e abatidos para a comercialização.

6 Um dos motivos era o aumento demográfico que não viabilizava a criação dos porcos soltos. 40

2.4 Ocupação dos Campos de Palmas

Vários acontecimentos influenciam a ocupação dos campos de Palmas, a maioria deles ligados ao contexto do sul do Brasil. No final do século XIX, com a revolução federalista, há um número significativo de pessoas oriundas do Rio Grande do Sul que vão ocupando este território.

Wachowicz (1987) destaca que entre os municípios do sudoeste, Mangueirinha é um dos pólos de atração para as pessoas oriundas principalmente do Rio Grande do Sul pelo contexto existente, e de outras regiões que se estabelecem no município. Prossegue o autor, dizendo que a partir do século XX a ocupação é realizada por peões das fazendas de Palmas e Clevelândia, da região de Guarapuava e campos Gerais paranaenses, à procura de terras para a subsistência. Também foragidos da justiça do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Corrientes, que transformaram estes campos em verdadeiro couto de fugitivos da lei e de posseiros refugiados da região do Contestado, expulsos das terras da Railway Com. (empresa ferroviária, responsável pela construção da estrada de ferro São Paulo- Rio Grande). Nestes aspectos socioeconômicos e políticos vão se consolidando o povoamento da região. Entre os anos de 1900 a 1920, a população do sudoeste passou de 3.000 habitantes para 6.000. Mesmo assim, há um imenso vazio demográfico nesta região 7.

A partir do século XX ocorre um significativo aumento populacional no sudoeste do Paraná, principalmente pelo projeto de colonização incentivado pelo governo federal, também conhecido em algumas bibliografias como marcha a oeste. O governo federal tem interesse em estabelecer domínio direto em alguns territórios. Esta ação visa a efetiva colonização do território do sudoeste, além de sua estruturação política e material. Até 1950 só existiam na região os municípios de Mangueirinha e Clevelândia e os distritos de Pato Branco e Chopinzinho.

7 As extensas áreas de terra que compreendia os campos de Palmas vão sendo redefinidas geograficamente, a partir do processo de colonização iniciado por volta de 1950, que causa um aumento demográfico, que vão sendo criadas mais cidades formando o então sudoeste do Paraná , pois até então as cidades existentes eram Mangueirinha, Clevelândia e Palmas. 41

2.5 Características Geográficas

O sudeste do Paraná é composto por 42 municípios. Alguns municípios, como Palmas, Mangueir inha e Clevelâncias, não aparecem em algumas cartografias e informações como pertencentes ao sudoeste, e sim, ao sul, mais precisamente ao extremo sul do Paraná, porém, por definição política , estes municípios compreendem a região. O território do sudoeste do Paraná possui aproximadamente 33.614 hectares ou 17.103 quilômetros quadrados. Localiza-se à margem do Rio Iguaçu, fazendo fronteira a oeste com a Argentina e ao sul com o Estado de Santa Catarina.

Figura 6 - Mapa do sudoeste do Paraná. Fonte: Disponível em: < www.eps.ufsc.br/disserta98/masutti/cap4a.html >

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Figura 7 - Mapa do Município de Mangueirinha-PR Fonte: Prefeitura municipal de Mangueirinha, departamento de divisão de obras e projetos- 2010. Engenheiro Mauri Griebeller, 2003.

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Atualmente Mangueirinha, possui um território de 1.074 Km, com uma população de 17.119 , índice de desenvolvimento humano em 2000 de 0,754(IBGE, 2007 ), tendo seus limites de áreas com os municípios localizados no sudoeste do Paraná, estabelecendo limites territorial com os municípios de Clevelândia, Honório Serpa, , Chopinzinho, , Foz do Jordão, Reserva do Iguaçu.

2.6 Aspectos Históricos do Município de Mangueirinha

O Estado do Paraná teve parte de seu território destinado ao governo federal para a criação do território do Iguaçu. Com o fim do Território do Iguaçu, o território que pertencia ao Estado do Paraná, volta a pertencer a ele, ocorrendo a emancipação de Mangueirinha, em 1946, com uma extensa área de terra, constituída pelos atuais municípios de Honório Serpa, Coronel Vivida e Chopinzinho. Uma extensa área de terra para ser administrada. Em 1954, ocorre a emancipação os municípios de Coronel Vivida e Chopinzinho, e, em 1990, a emancipação de Honório Serpa.

As questões socioeconômicas do município de Mangueirinha estão ligadas ao contexto de desenvolvimento/evolução dos campos de Palmas, porém com as particularidades do processo de desenvolvimento que afeta a região. O seu sistema agrário caracterizava-se originalmente por áreas de floresta nativa e aréas de campo nativo.

O território de Mangueirinha compreendia a rota dos tropeiros (como a figura 5 mostra). Segundo alguns historiadores, o nome de Mangueirinha é oriundo de uma Mangueira que lá existia, onde os tropeiros paravam para descansar e alimentar suas tropas, para seguirem viagem. Este é um dos motivos que contribuíram para o início do seu povoado. Documentos encontrados no arquivo público 8 do Paraná, em 1870, registram um dos primeiros registros de imóveis rurais em Mangueirinha, sendo realizado na comarca de Palmas.

As áreas de campo nativo apresentavam características geográficas com relevos planos, com vegetação rasteira e gramíneas. Em geral, estas terras apresentavam baixa

8 A ocupação territorial inicialmente nos campos, mas, em 1932, os primeiros registros de lotes, por carta de data e foro, realizados no cartório que estava situado em Palmas. As apropriações dos lotes dão início à construção do que viria a ser o núcleo urbano de Mangueirinha. 44

fertilidade natural do solo, cotando com a presença de poucas árvores nativas. Nestes campos, desenvolve-se a pecuária de corte extensiva que teve início no século XIX. Esta atividade permanece como a principal até 1950 quando é substituída gradativamente pela atividade agrícola, de grão, que causa significativa mudança na paisagem. As terras, que eram utilizadas pela pecuária extensiva, passam a ser utilizadas de forma intensiva (e também extensiva) pela atividade de grãos, compreendendo, hoje, principalmente a micro região 1 do município.

Nas áreas de floresta nativa (que compreende a micro região 2), o relevo também é plano, pouco ondulado na sua maioria, com grande biodiversidade nativa, com destaque à presença de grande número de araucárias. Nestas áreas, a principal atividade econômica é a extrativista, que ocorre pela extração da erva-mate, a criação de porcos, realizada a solto na mata, e a extração da mata nativa, para utilização da madeira.

A extração de madeira é uma atividade de relevância na região, devido às vastas florestas, tendo iniciado por volta de 1950 nas áreas de floresta que compreendia a região, e intensificada no decorrer dos anos.

Segundo Carvalho (2010), na década de 1920, as serrarias se multiplicam pela região, que acompanham a expansão significativa da indústria madeireira em todo o sul do Brasil. A partir de então, esse processo de expansão na indústria madeireira coincide com a intensificação da colonização e ocupação de todas as fronteiras agrícolas da região da floresta de araucária.

Com a nova dinâmica econômica, instalam-se inúmeras empresas do setor madeireiro no município, oriundas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, onde já havia ocorrido a exploração das florestas. Para a realização deste trabalho, eram contratados trabalhadores, muitos deles oriundos de regiões onde já havia ocorrido a extração das florestas e que tinham vínculo com as empresas.

No que tange ao município de Mangueirinha, a indústria madeireira inicia na década de 60, atingindo seu auge na expansão madeireira. Nesta década, segundo o entrevistado 1 9,

9 Algumas bibliografias apresentam que neste período (1960), o ciclo da madeira está em declínio, porém, as entrevistas evidenciam que a região de Mangueirinha está em ascensão. 45

inicia fortemente a exploração da floresta, primeiramente pelas Araucárias (angustifolia) 10 . A atividade envolve um número considerável de pessoas, chegando a contar com 800 funcionários. As serrarias eram de grupos/famílias que se tornam conhecidas na região pela estrutura econômica que vão adquirindo.

As madeiras eram cortadas e as toras transformadas em tábuas, sendo comercializadas, na região para atender a demanda existente, para a construção de casas e outras instalações. A demanda crescia devido o aumento populacional, tanto o local, como estadual e nacional 11 .

Com a intensificação da extração da madeira, ocorre a diminuição desta matéria- prima, tornando insuficiente para atender a demanda existente. Esta situação gera preocupação entre os empresários do setor e o governo. Sentindo os efeitos da falta de árvores, inicia o reflorestamento de árvores de pínus, na década de 1980, para o abastecimento das indústrias moveleiras, sendo comercializada especialmente para o município de Palmas, por ser um centro moveleiro. Mangueirinha é conhecida por possuir a maior reserva de araucária do mundo.

2.7 Mangueirinha a Partir da Década de 1980

Inicia uma nova dinâmica econômica, tanto nas regiões de mata como de campo nativo, devido a fatores externos que atingem o local. A figura 8 mostra a existência de três microregiões homogenias no município de Mangueirinha-PR.

2.7.1 Microregião 1 (área de campo)

Começou apresentado as principais características desta microregião relevo, solos, atividades pecuária primeiramente e depois de grãos... A área de campo apresenta dificuldades em continuar desenvolvendo a com a criação da pecuária de corte, e que vez que aos poucos fossem incorporadas a atividade de grãos, baseado no que chamamos de modernização da agricultura.

10 Com a diminuição das Araucárias, inicia a exploração da Imbuia (ocotea porose). 11 A floresta de Araucária, ou floresta Ombrofia Mista, é um ecossistema que cobria até o final do século XIX cerca de 200 mil Km² dos planaltos dos três Estados do Sul do Brasil. A Araucária (Araucária Angustifolia) é a principal árvore do ecossistema, que ainda possui espécies arbóres de alto valor comercial como a imbuia, o cedro, as canelas, erva-mate, bracatinga, entre outras. (Carvalho, 2010,). 46

A modernização da agricultura teve início após a segunda Guerra Mundial. No Brasil, inicia em 1960, fortalecendo-se nas décadas de 1970 e 1980, causando profundas transformações na forma de produzir, incorporando o que ficou conhecido como pacote agrícola da revolução verde com insumos e máquinas.

A produção agrícola, que tinha como base a produção primária, volta-se para o mercado agroexportador, com a produção de grande escala, que passa a servir a economia global e a industrialização. Este modelo, pouco a pouco, vai tornando-se um modelo hegemônico de produção no país, sendo incorporado nas várias regiões agrícolas, conduzido por grupos econômicos que fazem significativos investimentos no país.

O Brasil com o objetivo de consolidar este modelo agrícola, cria um sistema de crédito a nível nacional, que possibilita os agricultores a adquirirem o pacote agrícola que muda as bases da produção primária. A atividade industrial ganha importância, e são formados os Complexos Agroindústrias (CAIS),

[...] o complexo agroindustrial é componente básico do processo de produção de setores crescentes da agricultura brasileira, e que, portanto, o ciclo produtivo agrícola passa pela indústria de transformação de insumos e de máquinas agrícolas assim como pela indústria de processamento. O processo de internacionalização do capital no setor agrícola significa, fundamentalmente, a interiorização dos processos produtivos desenvolvidos nos países capitalistas avançados, veiculados pelas grandes empresas multinacionais ligadas ao setor agroindustrial. Esse processo independe do controle direto da terra pelas multinacionais ou pelo capital agroindustrial em geral. (SORJ; POMPERMAYER; CORADINI, 1982, p. 9).

Assim, a lógica de produção agrícola primária volta-se para a produção em escala mudando a organização do setor agrícola vinculado aos complexos agroindustriais para servir uma econômica global e industrial.

Com a modernização da agricultura, muda significativamente a paisagem do local, pois tanto a região que era de campo e de floresta desenvolvia a atividade agrícola predominando a produção de soja no município de Mangueirinha. Segundo Basso (2004, p. 49), “a ação humana nos diferentes territórios introduziu inúmeras modificações nas características físicas originais a ponto de ter apagado traços geofísicos que tornavam visíveis as diferenças regionais originais”.

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Neste novo contexto da agricultura, se estabelecem cooperativas no município. Em 1979, instala-se a Cooperativa Agropecuária Mouraoense (COAMO), uma das primeiras cooperativas do município, que tem como objetivo armazenar e comercializar a produção agrícola que se volta para o mercado em escala, também com a prestação de serviços aos produtores e venda dos produtos para a produção e assistência técnica. Outras cooperativas vão instalando-se no município, e há também a construção de silos particulares para armazenar a produção.

Contudo, a pecuária de corte que era a atividade principal passa a ser uma atividade secundária, de entre safra, onde em algumas áreas são plantadas pastagens e solto o gado, porém não de forma homogênea, tendo outras formas de utilização da terra neste período.

Em 1997, o governador do Estado do Paraná, Jaime Lerner, realiza um programa de vila rururbana, ou vilas rurais. O projeto pretendia melhorar a vida do trabalhador rural assalariado.A vila rural de Mangueirinha possui uma área de 18 alqueires, com 59 famílias, onde cada lote conta com aproximadamente 5 mil metros quadrados. O projeto pretendia melhorar as condições. Porém, os moradores apresentam dificuldades de cultivar seus lotes de forma diversificada, para a produção de subsistência.

Ainda, na década de 1990, é construída a Usina Hidrelétrica do Segredo, no Rio Iguaçu, atingindo os municípios de Candoi, Mangueirinha e Pinhão. As famílias atingidas pela Usina são indenizadas, e um grupo de famílias é reassentada nesta microrregião. As famílias indenizadas recebem uma determinada quantia de terra, e se estabelecem nestas localidades, formando uma vida comunitária. O reassentamento faz uma diferença na paisagem, pois até então se caracterizava pela presença de grandes propriedades com baixa densidade demográfica.

2.7.2 Microrregião 2 (área de floresta)

Mangueirinha tem um significativo aumento populacional entre os anos de 1970, com uma população de 12.349, a 1990 quando atinge uma população de 25.604 habitantes (IBGE, 1996). Alguns fatores locais que influenciaram o aumento demográfico foram os assentamentos rurais, reassentamentos rurais e a colonização espontânea, sendo que muitos 48

indenizados vieram da Usina Hidroelétrica de Itaipu, que atingiu o município de Foz do Iguaçu e os países vizinhos, como Argentina e Paraguai.

Muitos dos atingidos pela Hidrelétrica de Itaipu, que precisam se deslocar da região adquiriram terras em Mangueirinha. Segundo o entrevistado 1 , havia um grande número de pessoas que possuíam pequenas quantidades de terras, com um parentesco forte, sendo que quando um vendia uma área de terra, consequentemente o outro também vendia. Esta população era de origem cabocla, praticava a agricultura de coivara, produzindo apenas a subsistência. Entrevistado 1 ressalta “que Mangueirinha, depois da chegada dos atingidos de Itaipu, mudou muito”. Contudo, eles iniciam outro modelo de produção, baseado na modernização da agricultura. As terras, neste período têm um baixo valor comercial, atraindo compradores, enquanto outros ampliavam seu capital com uma maior aquisição de terras.

Gouveia (2001) refere que Mangueirinha já foi um dos maiores municípios em extensão do Paraná, chegando a ser o município com o maior número de assentamentos rurais, mas, com a emancipação do distrito de Honório Serpa, em 1990, ocorrem mudanças neste dado.

Parte do território que está sobre o domínio dos proprietários das madeireiras, de modo especial o Imóvel Imaribo, também conhecido como madeira Estil, é considerado improdutivo, trazendo à tona as questões referentes à estrutura agrária, sendo que pessoas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra do sudoeste do Paraná- MASTES começam a questionar a estrutura agrária, definindo pela ocupação de áreas consideradas improdutivas.

Gouveia (2001) diz que a ocupação do Imóvel Imaribo ocorre em 1986, contando com uma área de 10 mil hectares de terra, situada em Mangueirinha. Estas áreas já eram definidas pelo Incra (Instituto Nacional de Reforma Agrária) como um latifúndio improdutivo, ou seja, que não cumpria a função social da terra. O MASTER então promove a ocupação dessa área.

Ao ocuparem as áreas de terra, geram um fato, que faz com que o governo busque resolver as tensões geradas. Esta ocupação resultou no assentamento de 375 famílias, oriundas de várias cidades do Estado do Paraná, como: , São Miguel do Iguaçu, 49

Marmeleiro, Ampere, São João, Chopinzinho, Coronel Vivida, Capanema, Santa Izabel e Nova Prata do Iguaçu. A divisão dos lotes leva em consideração os municípios de origem das famílias assentadas, devido às questões culturais, entre outras, que facilitaria a convivência e organização das comunidades ou núcleos que vão sendo formados, recebendo o nome dos municípios de onde as famílias são oriundas.

Após assentadas, as famílias não dispunham de nenhuma estrutura física. Moram em barracos iniciam o cultivo da terra para seu própria auto-sustento. Segundo o entrevistado 3, na região, por ser de mata, na sua maioria desmatada, existiam muitos “tocos de árvores” e restos arbóreos na área do assentamento, aspectos que dificultavam o cultivo da terra, sendo feitas roçadas, queimadas e, dessa forma, plantavam para garantir a subsistência das famílias.

A maioria das famílias assentadas tinha crianças em idade escolar. As aulas, inicialmente, aconteciam no assentamento, pois havia estrutura comunitária mínima, mas, posteriormente, com o processo de nucleação das escolas para a cidade, as crianças passam a ter aula na sede do município. Nesse sentido, segundo o entrevistado 3, neste novo espaço de convivência escolar ficam explícitos os preconceitos e as diferenças existentes entre as crianças assentadas com as demais crianças do município.

Para a estruturação das famílias assentadas, o governo federal cria algumas linhas de crédito, como o PROCERA (Programa especial de crédito para a reforma agrária), voltadas para os assentados da reforma agrária, com a finalidade de realizarem investimentos nas propriedades, sendo destacado pelo entrevistado 2 como sendo importante para a estruturação econômica das famílias.

A microrregião apresenta uma área de reversa indígena, com aproximadamente 2 mil índios Kaigang, e é nesta área de terra pertencente à reserva indígena que se encontra a maior reserva de Araucária da mundo.

Na micro região 3 devido seu relevo ser acidentado, sendo uma área de encosta de rio, com terreno mais ondulado, a pecuária de corte é desenvolvida.

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Na margem do lago da barragem (pertencente à microrregião 3) é feito um loteamento para a construção de área/casas de lazer de particulares. Este local fica conhecido como o Lago do Iguaçu (ou seja um ponto turístico).

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3 O REASSENTAMENTO ITÁ EM MANGUEIRINHA-PR

Este terceiro capítulo tem como objetivo descrever e refletir sobre a construção do reassentamento Itá I. Como vimos anteriormente as formas de indenização compreendem a concessão de outras área, em dinheiro e o reassentamento, todas elas conquistadas pela CRAB em negociação com a empresa. A trajetória do reassentamento Itá I, perpassada a conquista da indenização, e a efetivação da construção do reassentamento. A construção do reassentamento Itá I, é um momento de reavaliação da forma que os reassentamentos anterior foram construídos, a partir de então os reassentados decidem administrar e construir a estrutura física, bem como, discutir o processo de produção, estabelecendo relações internas no reassentamento e com a comunidade local, buscando perceber as potencialidade e limites desta experiência.

3.1 Trajetória do Reassentamento

O reassentamento Itá I é considerado uma alternativa para as famílias que são atingidas pela construção da Usina Hidroelétrica de Itá, que gerou inúmeras mudanças para as famílias que habitavam estas localidades atingidas pelo empreendimento. As famílias sem terras e arrendatários, não tinham direito a outro tipo de indenização inicialmente, que não o reassentamento. Algumas famílias com pequenas áreas de terra também optaram pelo reassentamento por acreditarem que seria melhor economicamente e socialmente. O Território vai sendo construído a partir da ação entre os seres no ambiente que visam mudanças socioeconômicas para melhorar a renda, a qualidade de vida e o bem-estar da população.

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O desenvolvimento territorial, estão, é resultado das relações entre os atores de forma cooperada, ao quais embora tendo interesses antagônicos, buscam encontra área de convergência em novos projetos. Nesta concepção, o território é considerado uma construção histórica-social, em permanente construção. O território passa a ser então considerado lócus de desenvolvimento. (BOEIRA, 2006, p.29).

O reassentamento de Itá I localiza-se no município de Mangueirinha, no sudoeste do Paraná, com uma distância de 3 Km do asfalto e a 13 Km da sede do município. Com uma área total de 2.254 hectares, as propriedades variam de 12 hectares a 33 hectares. As famílias que escolheram o reassentamento são oriundas segundo o entrevistado 5 “dos dois estados ,11 município e 27 comunidades diferentes, tendo 48 famílias que formam o Reassentamento Itá I”. Em relação a sua situação sócio-econômica eram do total, 73% arrendatários, 14,5% filhos de proprietários e 12,5% eram proprietários. (Dall Agnol, 2006). Estas famílias vivenciam o processo de desterritorialização que é compreendido a todos os processos de desapropriação. As diferentes formas de desterritorialização são provocadas por forças externas, estranhas ao desejo do desterritorializado, Sendo que o processo de reterritorialização assume uma dimensão de reconquista, a apropriação de algo que perderam ou nunca tiveram (DALLABRIDA, 2006)

Após, a opção das famílias pela reterritorialização a partir do reassentamento, o MAB desenvolveu um processo de formação político-social, com o objetivo de preparar as famílias para a mudança. Pois compreender que a mudança territorial causa um impacto significativo na vida das pessoas que sofreram este processo de desterritorialização. Tinham inúmeras incertezas sobre o território que passariam a fazer parte, principalmente por que a região do sudoeste do Paraná era conhecida por ser uma região muito violenta. Contudo,

O território não é apenas o resultado da superposição de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem. O território é o chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer a aquilo que nos pertence. O território é a base do trabalho da residência, das trocas materiais e espirituais e da vida, sobre os quais ele influi. Quando se fala em território deve-se, pois, de logo,entender que se está falando em território usado, utilizado por uma dada população. (SANTOS apud MEDEIROS 2002, p. 96).

A área destinada para a construção do reassentamento, foi comprada do proprietário Varaskim. No local moravam dois empregados, tinha cerca de 40 hectares arrendados a outro proprietário, também tinha uma serra fita utilizada para a exploração da mata. Segundo o entrevistado 5 “a floresta já tinha sido explorada quase por completa, com isso a serra fita já não estava mais em funcionamento, estes são alguns dos motivos que levaram o proprietário 53

a querer vender esta área para a Empresa Eletrosul”. A área foi avaliada pela Eletrosul e técnicos da CRAB, como uma área viável para a construção do reassentamento. A Eletrosul ao comprarem a área descobre que a mesma esta em divida com a União, a divida era equivalente a 40% do valor negociado, com isso, a empresa pagou pela área o valor de 60% ao proprietário.

O reassentamentos Itá I em Mangueirinha- PR é o terceiro reassentamento a ser construído no Brasil. Os primeiros reassentamentos construídos tiveram muitos problemas, principalmente por apresentarem inúmeros problemas pela baixa qualidade na infra-estrutura, pois a Eletrosul terceirizava este serviço. Contudo, os reassentados passaram a rediscutir a forma de construção do reassentamento, tendo como definição que os próprios reassentados iriam conduzir a construção do reassentamento.

Devido esta situação o MAB 12 rediscutiu a forma de administrar os recursos para a construção do reassentamento com a Eletrosul, propondo que a empresa repassa-se o recurso para o MAB que conduziria a construção do mesmo. Inicialmente a empresa não aceita a proposta apresentada, com isso, uma comissão do MAB foi negociar a liberação do recurso destinado para a obra com o Banco BIRD nos Estados Unidos, onde obtiveram o direito de administrar o recurso destinado para a construção do reassentamento.

O MAB tinha como proposta a adoção dos sistemas de mutirão, que compreende a ajuda mutua entre os reassentados. Também partem do princípio da autogestão que compreendia que os próprios reassentados iriam construir a infra-estrutura do reassentamento tendo uma participação direta na construção do reassentamento, onde iriam morar. Todavia, o recurso destinado para a construção do reassentamento de Itá I seria menor do que os reassentamentos anteriores, pois a empresa financiadora alegava que como o reassentamento seria construído pelo reassentados, em sistema de mutirão, eles não teriam gastos com em cargos fiscais e outros. Entrevistado 5 “o Banco BIRD do recurso destinado para a construção da usina hidrelétrica 95% era para a construção do muro,da estrutura e 5% são destinados para as questões sociais, no caso as indenizações. Para a construção do reassentamento no sistema de mutirão foi descontado 40% do recurso, sendo que uma empresa privada receberia 100%. Os reassentados calcularam o custo que teriam para

12 A partir de agora iremos trabalhar com o MAB, substituição o termo CRAB. 54

construírem a infra-estrutura no local, e chegaram a conclusão que era viável eles conduzirem a construção do reassentamento.

Contudo, efetivaram a construção com sobras de recursos e com uma infra-estrutura de boa qualidade,. Entrevistado 5 “ Doamos nosso trabalho, doamos sem remuneração e construímos isso aqui, e sobrou dinheiro, com 40 % menos” . Esta forma de construir o reassentamento Itá I, tem um longa trajetória interna de organização.

3.2 A Construção do Reassentamento

No projeto de construção do reassentamento uma das preocupações era garantir a melhoria de vida das famílias, o maior número de beneficio possível e ações voltadas para amenizar os impactos decorrentes da mudança territorial das famílias.

A construção do reassentamento através do processo de mutirão, os reassentados cediam parte de seu tempo, do seu trabalho para a construção das residências, galpões, da infra-estrutura mínima. A dinâmica de mutirão tem um papel educativo para os reassentados que tem uma maior participação neste processo, potencializando para uma continua participação das pessoas que passam a viver lá. Foi uma nova experiência para os reassentados que vivenciam um processo de autogestão, para Lechat e Barcetos (2008). O termo autogestão significa literalmente administrar, gerir a si mesmo, do grego autos ( si mesmo) e do latin gest-o (gerir). Esta experiência implicou na participação dos sujeitos em todas as etapas do projeto de construção e da estrutura física do reassentamento, bem com o desenvolvimento do ser humano com capacidade de pensar, decidir sobre a realidade em que estão inserido.

Após a demarcação e divisão dos lotes das famílias reassentadas, iniciou-se o processo de construção da infra-estrutura de moradia para dos mesmos. A definição dos lotes no reassentamento foi feita de forma planejada pela empresa, através do mapa da área fazem o parcelamento dos lotes, sendo que as famílias que tinham certa quantidade de terra por direito, iam se adequando nas respectivas divisões. Entrevista 6 “ficamos sabendo que este lote era nosso quando fomos convidados para vir marcar o lugar que iria ser construída a casa”.

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Inicialmente para a construção da infra-estrutura veio apenas parte das famílias, sendo os homens, dando inicio a construção. A construção envolvia aproximadamente cerca de 120 pessoas, entre eles, os reassentados e trabalhadores na área da construção civil, que ficavam trabalhando e morando no local, onde estabeleceram regras para a organização interna e bom funcionamento dos trabalhos e do convívio entre eles. A primeira etapa de construção durou 9 meses, quando a infra-estrutura básica (casas e galpão) estava construída, os familiares, esposas e crianças mudara-se. A opção das famílias foi que quando a estrutura casas, galpão estivessem prontas mudariam, pois as famílias estavam divididas, parte na construção do reassentamento e parte nas localidades de origem, acreditavam que juntos seria mais fácil de superar as dificuldades. Então em 18 de novembro em 1992 as famílias chegaram com a mudança para o reassentamento.

Após a mudança das famílias para o reassentamento, os reassentados voltaram-se para a organização da produção. Inicialmente as famílias precisaram dedicar-se ao preparo do solo, que foi realizado pelo sistema de mutirão. O Entrevista 5 refere-se “que foi conquistado o recurso para a preparação do solo. Foi necessário destocar área, retirar árvores, tendo 33 motosserras trabalhando no local. Foram formadas equipes, onde uns cortavam, outros arrastavam as árvores com bois, onde eram serradas em metro e carregada. A madeira era vendida para a Empresa de Balas Peccin, localizada na cidade Erechim-RS”.

Os reassentados tinham como definição que a renda obtida com a venda da madeira seria destinada para a construção do ginásio de esporte. Havia uma verba destinada para a construção no projeto do reassentamento A entrevista 6 “ A empresa repassava 8,5m de construção comunitária por família. Em 48 famílias 408 m²”.Mas na compreensão do reassentados atenderia apenas a comunidades, e como eles pretendia realizar eventos com um maior público, exemplo festas e baile o espaço seria limitado, com isso, resolvem ampliá-lo.

3.3 A Produção

A reprodução social das famílias depende da produção, com isso, o reassentamento busca na produção defender o modelo de desenvolvimento construído com o MAB, a produção voltada para a subsistência e sem uso de agrotóxicos, importante para o desenvolvimento da sociedade. Por isso, defendiam que as famílias reassentadas deveriam 56

produzir na sua propriedade sua subsistência, com uma produção diversificada e produtos orgânicos, o restante da produção seria destinado para a venda.

Todavia, deram inicio a produção voltada para os orgânicos. Segundo o entrevistado 5, “conseguiram produzir, porém o limitante era a venda o local não tinha demanda por este tipo de produto, e estavam longe do centro de comercialização, tornando inviável transportar para outros locais devido ao alto custo de transporte”.

A região já desenvolver a dinâmica da agricultura moderna, pois a topografia propicia a mecanização, o uso de venenos, insumos, os reassentados também querem incorporar estes modelo de produção.Porém com as áreas são pequenas, não havendo um planejamento para o setor, muito adotam este modelo agrícola e não tem uma produção suficiente para manter-se. A entrevista 6 “a região aumenta a chance para o endividamento, pois a um encanto nas tecnologias existente, sendo que onde moravam o trabalho era praticamente todo braçal, então muito adquirem máquinas sem calcular a viabilidade delas para a sua propriedade”.

Pelos inúmeros problemas que enfrentaram com a produção inicialmente, e como no reassentamento já existiam ações de cooperação, através da colaboração, do trabalho conjunto, entre outras, começaram a fomentar a idéia de criação de uma cooperativa. Acreditando que seria um instrumento institucional importante para o fortalecimento das famílias reassentadas, bem como dos seus territórios. Buscavam construir uma proposta que não levasse em conta apenas os aspectos mercadológicos como as cooperativas já existentes na região. Para Rech,

A cooperativa é uma associação de pessoas que se uniram voluntariamente para realizar o objetivo comum, através da formação de uma organização administrada e controlada democraticamente, realizando contribuições eqüitativas para o capital necessário e aceitando assumir de forma igualitária os riscos e benefícios do empreendimento no qual os sócios participam ativamente. (1995,p. 25)

Sendo assim, em 17 de novembro e 1997, realizou-se a assembléia de constituição da Cooperativa Agropecuária dos Reassentamentos do Sul- Cooperasul, sua sede é no reassentamento Itá I, com 120 sócios, dos reassentados nos municípios de Mangueirinha, Chopinzinho,Honório Serpa, Marmeleiro este no estado do Paraná e Campo Erê em Santa Catarina. (DALL AGNOL,2006). A partir de então a cooperativa e seus associados passaram 57

a ter um continuo processo de formação para clarear as dúvidas que envolvia o funcionamento da cooperativa.

A partir de 1999, a linha de produção do reassentamento volta-se para a atividade leiteira. Ela ocorria e forma individualizada, porém os produtores tiveram problemas com compradores que não pagaram a produto para eles. A partir de então, começaram a organizar a produção do reassentamento, sendo que no primeiro mês 50 mil litros de leite. Entrevistado 5 relata que “fomos a procura da Parmalat que comprou a produção e ainda os produtores que vendiam o leite a 0,09 centavos passou a ganhar 0,21, foi um sucesso ai no 3°, 4° mês nos estávamos com um produção de 90 mil litros de leite”

Porém, o convênio com a multinacional Parmalat gerou contradições, como o modelo de desenvolvimento que o MAB buscava construir com os reassentamentos. A rentabilidade que os reassentados estavam tendo com a produção, fizeram com que continuassem a vender sua produção a Parmalt, devido a sustentação econômica que ela gerou. Com o fechamento da Parmalat, a cooperativa passa a entregar a produção para o laticínio Zsura/Still, de Mangueirinha. A cooperativa chegou a entregar em torno de 300 mil litros de leite no mês, os reassentados ao negociarem a produção estabelece que todos receberiam o mesmo valor, indiferente da quantidade produzida nas unidades de produção.

A cooperativa fornecia medicamentos, insumos, prestação de serviços entre outros, necessário para auxiliar na produção, assim as famílias tinham facilidades de pagarem os custos que tinha com a produção. Foi se estruturando voltada para a produção leiteira, para atender a necessidade da produção, disponibilizava de técnicos, veterinários, assistente social, entre outros. Porém, a cooperativa começa a enfrentar dificuldade e juntamente como os cooperados, que adquirem ações individuais, principalmente na venda do leite, sendo assim ao invés de negociarem o preço para o conjunto das famílias, negociam a sua produção isolada. Entrevistado 5 “a cooperativa em 2005 na crise da agricultura que o milho ardido 3 anos de seca...ai nessa crise forças externas realizar uma política para quebrar a cooperativa, pois ela tinha o domínio e 5 município com 70% a 75% da produção de leite”.

A cooperativa foi perdendo sua atuação, pois a cooperativa mantinha-se da venda dos produtos que os cooperados necessitam para a produção, com a crise os cooperados não 58

pagaram suas contas com a cooperativa, não tendo mais capital de giro para manter-se, precisando vender bens da cooperativa para pagarem contas.

A produção partiu para a individualização da comercialização da produção. Hoje a produção não tem mais a venda organizada, tendo uma produção de 8 mil/litros dia, sendo que muitas empresas tinham interessam em comprar a produção. As entrevista 5 e 6 ressaltam que o processo de individualização foi uma perda pois, até então conseguia ter uma maior atuação contribuindo com o desenvolvimento econômico e social dos reassentados, assim hoje as famílias vão partindo para o processo de individualização, ficando mais difícil de construir projetos comum de modo especial na área da produção.

De modo geral, o reassentamento hoje não tem mais ações coletivas como fomentada inicialmente, principalmente na área da produção. A produção é voltada para atividade leiteira e de grãos, a subsistência existe, porém a entrevista 6 refere-se que muito há de melhoras, pois têm famílias que a produção para o auto consumo é muito baixa, o que aumenta as despesas no mercado. Em aspectos mais coletivos na área da produção o que funciona hoje no reassentamento são as patrulhas agrícolas 13 . Contudo, podemos perceber-se os reassentados atingem suas liberdades substantivas a partir do conceito Sen, ou seja, tendo suas necessidades básicas atingidas, e com isso, buscam ações individualizada enfraquecendo alguns aspectos que já haviam atingido.

3.4 Participação na Construção do Reassentamento

A construção do reassentamento a partir da auto gestão e dos mutirões tendo como pressuposto a participação. O conceito de participação tornou-se, parte do vocabulário político popular no final dos 1960. A participação começa a tomar um novo rumo com o fim da ditadura militar em 1985, passando a integrar-se na vida da família, da rua, do bairro, da cidade, do País. Passando a ser um direito que não pode ser restrito por critério de gênero, idade, cor,credo ou condição social, pois requer a mobilização para estimular o debate e propiciar a ampliação dos espaços sociais para discussão organizada.

13 Dividem-se em 5 grupos um total de 80 famílias (incluindo Ita I e ita II). Possui um trator com equipamentos, o operador da associação realiza o trabalho e cobra o valor de 30% o que é comparada de uma máquina terceirizada. 59

Tendo em vista que vivemos numa sociedade divida em classes, e que, portanto está organizada entorno da infra-estrutura produtiva existente e da posição que os indivíduos têm nela, é que o conceito de participação vem sendo discutido em todas as classes e setores sociais existentes, sendo que estes se apropriam do conceito que lhes é mais adequado. Partindo da constatação de que os conceitos não são neutros, é que para a elaboração deste fiz a opção pelo usado pela classe trabalhadora, onde participação assume um caráter popular, capaz de organizar e motivar a formação de grupos e instituições.

A participação da população nos meios oferecidos pelo Estado não vem sendo um espaço de debate e criação de novas formas de ampliar a participação popular, mas sim como um meio usado para legitimar algumas políticas públicas e garantir a legalidade para alguns processos.

Porém, o processo participativo no reassentamento Itá I encontrou algumas limitações. Avalia-se que a maioria dos reassentados não era eram proprietário, não vivenciavam um ambiente que exigia participação na tomada de decisões, administrar ações recursos a longo prazo, planejamento e analise de viabilidade econômica pois sempre trabalharam como empregados submissões a ordens, ao vivenciar o processo participativo encontram dificuldades para relaciona-se com as novas condições. Para tanto, é importante compreender os aspectos culturais e sociais que envolvem os sujeitos reassentados. Ainda o entrevistado 5 chama a atenção “da importância de conhecermos e não ignorarmos a cultura das famílias e relação que elas traziam dos lugares de origem, onde muitas vezes suas relações era de subordinação, devido as relações desiguais nas relações sociais (uma relação de classe). Desta forma, cada grupo social tem uma cultura que não é imutável, nem isolada, porque é uma “produção histórica”; isto é, “uma construção que se inscreve na história, e mais precisamente na história das relações dos grupos sociais entre si” (CUCHE, 1996, p. 143).

Segundo entrevistado 5 “ainda hoje no reassentamento tem famílias com dificuldade de administrar a produção a propriedade optando pelo arrendamento se suas terras, e trabalhando como diaristas, ressalta que realizam um bom trabalho”.

O reassentamento se propõe a ser uma experiência de desenvolvimento, contudo, é necessário trabalhar com estes limitantes buscando potencializar as pessoas envolvidas, para 60

que contribuíssem na continua construção de desenvolvimento que o reassentamento tem como proposta .

3.5 Relações Internas do Reassentamento e a Comunidade Local

A relação com a comunidade local inicialmente foi difícil, principalmente por pré- concepção da sociedade local dos reassentados. Pois relacionavam com a efervescência dos movimentos sociais do campo que tiveram forte atuação na região de maneira especial do MST. Porém, os reassentados estavam dispostos em estabelecer relação com local. Na construção do reassentamento priorizaram realizar as compra no município, por compreenderem ser importantes estabelecer esta relação com o local. Assim, os reassentados vão ganhando a confiança da população, devido, a seriedade em que com relacionavam-se, na administração dos recursos, pagamento de suas contas.

Após as famílias mudarem para o reassentamento, elas também passam a consumir no comércio local, comprando móveis, utensílios domésticos, insumos agrícolas e outros. Estas famílias estabelecem relações que contribuem para o desenvolvimento local.

A comunidade local vai observando como as famílias reassentadas conduzem internamente o reassentamento, de forma organizada com respeito com o meio em que vivem, cultivando valores e reproduzindo práticas culturais e sociais que reassentamento para a relação social do sujeito, como festas, bailes, um deles é tradicional ocorre no segundo final de semana de fevereiro, com uma forte participação da região, jogos de futebol, bocha, e baralho, missas e cultos, reuniões do clube de mães e do grupo de jovens, outras atividades que envolvem as famílias.

São ações que refletem o processo de territorialização que se dá através da re- territorialização daqueles que sem perder a identidade com o seu espaço de origem, buscam uma nova integração ao espaço a eles destinado, dando a esse espaço, portanto, um novo significado. A re-territorialização se evidencia através da sua permanência, da sua identidade, das suas origens assim com através do ressignificado dado ao seu novo espaço. Ressignificado este que se expressa na diversidade das novas alternativas de produção e na nova dinâmica implementada no comércio local. (MEDEIROS, 2009, p.226).

Podemos ressaltar a existência de aspectos de solidariedade entre as famílias, fortalecendo as relações de comunidade. Sendo assim, o reassentamento , mais do que um 61

lugar de produção é um centro de convivência, segundo Basso (2004), as explicações que tradicionalmente são usadas para o desenvolvimento rural apresentam limites semelhantes àqueles do pensamento econômico convencional. É necessário avançarmos na compreensão do rural, entendendo este espaço, não só como um espaço de produção, mas um espaço de vivência.

3.6 Como Podemos Compreender a Proposta Atual de Reassentamento Hoje

O reassentamento Itá I teve seu inicio em 1992 perpassou por diferentes experiências para construção deste território, que foi sendo construídos pelas famílias, com suas angustia e dificuldade para adaptarem- se ao local. O sentimento que ainda existe entre os reassentados é saudade, apego, se emociona ao relembrar seu local de origem, que precisam deixar. Mas segundo entrevistados “ele conseguiram estabelecer uma boa relação no reassentamento, apesar de existirem limites, contradições no meio, e também ressaltam que no sentido econômico melhoram muito.

Migrar, pois, pode não só significar a perda da terra, mas a perda de seu modo de vida e de sua identidade. Migrar para outra terra pode significar a perda de sua história de vida construída naquela terra onde uma árvore, uma simples cerca de arame, uma pastagem, marcam eventos importantes vividos por estes camponeses. (SCHERER-WARREN, 2001, p.32).

O reassentamento Itá I constitui-se uma referência para o MAB, que defende este processo de indenização como uma alternativa de desenvolvimento mais viável para as famílias atingidas. Entrevistado 6 “O MAB realizou um estudo em 2009 sobre o índice de reassentamentos do MAB até novembro de 2009, sendo que o índice de venda de lotes é de 11%, um número considerado baixo”.

Os reassentados receberem os títulos de proprietário, porém por 10 anos era alienado, sendo assim neste período não poderiam vender a propriedade. Na compreensão do MAB, isso era importante, por que a organização não queria que a terra fosse considerada apenas pelo seu valor monetário, fazendo com que perdesse o sentido da luta que a organização desempenhou para conquistá-la. O reassentamento esta com 18 anos, sendo que o período de alienação da área já acabou. Alguns venderam seu lote, porém para a venda do lotes a uma discussão no reassentamento para sabem quem será o comprar, pois eles priorizam que seja pequeno proprietário, que passam a ter relação com a comunidade. Por que a região é de 62

grandes proprietários os reassentados não gostariam de vender para pessoas que só tivessem o vinculo econômico com a terra, pois isso vai causando o enfraquecimento do local. O entrevistado “ressalta que até agora deu para segurar esta forma de organização, porém a gente não sabe até quando”.

Mas, hoje a demanda por reassentamento diminuiu, sendo que a maior parte dos atingidos opta pela indenização em dinheiro, e no caso dos sem terra e arrendatário e posseiros eles optam pela indenização através da carta de crédito. A carta de crédito surgiu em 1995 como uma forma de indenização, utilizada para indenizar alguns atingidos ainda da usina hidroelétrica de Itá, que são indenizados pela Gerasul. A indenização por carta de crédito o atingido recebe uma quantidade em dinheiro, segundo entrevistado 5 “ 3 força de trabalho sua carta de crédito era de R$ 40 mil, 5 forças de trabalho seu direito era de R$110 mil e o máximo a carta de crédito atinge R$122 mil reais”.

O atingido é responsável em administrar o recurso para estabelecer-se em outro local, para a empresa tem um custo menor. O entrevistado 5 “avalia que há um enfraquecimento da organização social, e as pessoas, neste caso os atingidos eles querem algo imediato, a indenização em dinheiro, através da carta de crédito para os que não são proprietários , atende este desejo”.

Porém, as poucas famílias que ainda fazem a opção pelo reassentamento conseguem estruturar-se, muito melhor economicamente, além de estabelecer, construir relações sociais no território que passam a integrar. Pois isso, ainda o reassentamento é uma forma de indenização considerada uma alternativa de desenvolvimento para as famílias atingidas, defendida pelo MAB.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão central que orientou a pesquisa foi procurar compreender A trajetória do Reassentamento de Itá I, uma forma de indenização utilizada para as famílias que deslocarem- se da região de origem.

Para isso, buscamos compreender como o setor enérgico brasileiro veio desenvolvendo-se historicamente, primeiramente pelo capital estrangeiro e posteriormente pelo capital nacional, com projetos de grandes usinas hidrelétricas, gerando inúmeros impactos nos locais que é construída. A construção da Usina Hidrelétrica de Itá é marcada pela organização social, pela primeira fez os atingidos organizam-se antes da construção da usina. Em um primeiro momento a empresa era coordenada pelo Estado e agora pelo setor privado.

Com isso, passam a serem os agentes de resistência, que buscam ampliar os direitos dos atingidos através da organização social, que foi fundamental neste processo, através da Crab e hoje pelo Mab. Inicialmente é a Crab que organiza a discussão com população local, que não tinha muito clareza sobre a obra, posteriormente passa a buscar que os atingidos sejam indenizados de forma que possam reconstruir suas vidas em outros locais. E que o direito da indenização não fosse apenas para os proprietários, mas para todos os que viviam neste local, sendo eles arrendatários, sem terra, posseiros. Após um logo processo de discussões entre empresa e atingidos, são conquistas três formas de indenização, terra por terra, dinheiro e o reassentamento. O reassentamento é voltado para os atingidos que não são proprietários e que tenham pequena área de terra. Esta forma de indenização é pela primeira vez conquista, tendo 8 reassentamentos construídos todos na região Sul.

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O Reassentamento Itá I, apresentou uma nova forma de construção de reassentamentos, a partir do sistema de mutirão e auto gestão, para a construção da estrutura física, o preparo do solo e o inicio da produção, sendo um método que deu certo, sendo seguida pelo demais reassentamentos. É uma experiência importante que envolve a organização dos reassentados para a construção do território que passam a integrarem, vivenciando as dificuldades de construção do mesmo. Podendo ser considerado um significativo espaço de aprendizado, pois envolvia a administração de recursos financeiros, recursos humanos e além disso, uma proposta de desenvolvimento social e político para este territórios e para os seres que fazem parte dele. Hoje o reassentamento tem uma estrutura mínima de boa qualidade, com espaços de convivência social, e uma boa relação com a comunidade local.

A pesquisa nos mostra que o processo de construção do reassentamento inicialmente teve como foco a construção da infra-estrutura mínima para estabelecem no território, trabalhando em sistema de mutirão até a viabilizarem a produção, pois seria ela responsável pela reprodução social dos mesmos, passam por dificuldades, porém forma internamente buscando alternativa. Pois, o reassentamento tem uma característica de organização social e política. Contudo, o reassentamento atinge boas condições de nível de vida, estando baseado na agricultura familiar.

Nestes 18 anos de reassentamento a característica social e política continua porém com mudanças na forma de organizarem-se na produção, estando ela mais individualizada com a produção voltada para o mercado, perdendo a prioridade defendias inicialmente pelos reassentados, como a produção da subsistência, produção orgânica. As características comunitárias são muito forte no local, o que faz um espaço de convivência fortalecido pelo respeito entre as gerações que lá vivem. Também os atingido aumento seu nível de participação, na medida em que o reassentamento foi desenvolvendo-se, mesmo que alguns tenha ainda dificuldade de terem uma participação mais efetiva.

Com a pesquisa foi possível perceber as várias relações que ocorreram para a construção deste território, a preocupação com desenvolvimento das famílias nos aspectos socioeconômicos, culturas, ambientas entre outros, pois este é o espaço em que vão construir suas vidas. Este território esta em continua construção, por isso, é necessário que os reassentados continuem a pensar questões que fortaleça o local, bem como o MAB 65

organização que fazem partes, para que consigam intervir na sociedade e propor ações para o desenvolvimento, que acreditam.

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