Trajetória de vida de Miguel de Oliveira Couto (1865 – 1934), médico, educador e político

DOI:http://dx.doi.org/10.31892/rbpab2525-426X.2020.v5.n14.p900-915 TRAJETÓRIA DE VIDA DE MIGUEL DE OLIVEIRA COUTO (1865 – 1934), MÉDICO, EDUCADOR E POLÍTICO

José Mario d´Almeida http://orcid.org/0000-0001-9016-3441 Universidade Federal Fluminense

Claudia Alves d´Almeida http://orcid.org/0000-0001-7274-2757 Fundação Osvaldo Cruz

resumo Com o presente trabalho apresentamos a trajetória acadêmica e profissional do médico Miguel de Oliveira Couto (1865-1934), voltada para três áreas: Clínica, Educação e Política. Foram abordados im- portantes pontos da carreira médica de Miguel Couto, como clínico em hospitais como a Santa Casa de Misericórdia e o Hospital São Sebastião, ambos na Cidade do , como professor de Clínica Médica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Foram abordadas as suas atividades políticas, como deputado constituinte de 1934, defensor ferrenho da Educação. Procuramos também discu- tir as suas ideias, muitas extremamente conflitantes, segregacionis- tas e racistas, muito embora, adotadas pela maioria dos intelectuais da época. Palavras-chave: Miguel Couto. Constituinte de 1934. Pensamento mé- dico.

abstract LIFE TRAJECTORY OF MIGUEL DE OLIVEIRA COUTO (1865 - 1934), DOCTOR, EDUCATOR AND POLITICIAN With the present work we present the academic and professional tra- jectory of the doctor Miguel de Oliveira Couto (1865-1934), focused on three areas: Clinic, Education and Politics. Important points of Miguel Couto’s medical career were discussed, as a clinician in hospitals such as Santa Casa de Misericórdia and Hospital São Sebastião, both in the city of Rio de Janeiro, as a professor of Clinical Medicine at the Faculty of Medicine of Rio de Janeiro. His political activities were discussed, as a 1934 constituent deputy, staunch advocate of Educa- tion. We also tried to discuss his ideas, many of which were extremely

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conflicting, segregationist and racist, although they were adopted by most intellectuals of the time. Keywords: Miguel Couto. Constituent of 1934. Medical thought.

resumen TRAYECTORIA DE LA VIDA DE MIGUEL DE OLIVEIRA COUTO (1865-1934), MÉDICO, EDUCADOR Y POLÍTICO Con el presente trabajo presentamos la trayectoria académica y pro- fesional del doctor Miguel de Oliveira Couto (1865-1934), centrada en tres áreas: Clínica, Educación y Política. Se discutieron puntos impor- tantes en la carrera médica de Miguel Couto, como clínico en hos- pitales como Santa Casa de Misericórdia y Hospital São Sebastião, ambos en la ciudad de Río de Janeiro, como profesor de Medicina Clínica en la Facultad de Medicina de Río de Janeiro. Se discutie- ron sus actividades políticas, como diputado constituyente de 1934, firme defensor de la educación. También tratamos de discutir sus ideas, muchas de las cuales eran extremadamente conflictivas, se- gregacionistas y racistas, aunque fueron adoptadas por la mayoría de los intelectuales de la época. Palabras clave: Miguel Couto. Constituyente de 1934. Pensamiento médico. Introdução A carreira do médico Miguel Couto, entre os com projetos voltados para a melhoria da edu- anos de 1885 e 1934, esteve voltada para três cação do povo brasileiro. Participou de várias áreas: a primeira delas foi a área médica, liga- associações médicas e educacionais, como a da à sua formação acadêmica, na qual foi con- Academia Nacional de Medicina (ANM) e a Aca- siderado um dos mais brilhantes clínicos do demia Brasileira de Letras (ABL), instituições Rio de Janeiro, no final do século XIX e início integradas por ilustres intelectuais. Inúmeros do século XX, clinicando em importantes hos- foram os motivos que nos levaram a estudar a pitais; a segunda atividade do nosso persona- trajetória acadêmica do Dr. Miguel Couto, den- gem foi exercida na área de Educação, como tre eles, nos chamou a atenção uma pergunta professor da Faculdade Nacional de Medicina, básica: Apesar de muitas homenagens, prê- atualmente Faculdade de Medicina da Univer- mios criados com o seu nome (Prêmio Miguel sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Con- Couto) da ANM, por que as fontes de consulta vém ressaltar que o envolvimento com a ati- são escassas? Em meio à literatura pesquisa- vidade educacional esteve relacionado com a da, sobre o nosso personagem, observamos 1 terceira frente de trabalho do médico doutor conflitos ideológicos, envolvendo assuntos Miguel Couto, que foram as atividades políti- polêmicos, tais como: eugenia, autoritarismo e cas, como deputado da Constituinte em 1934, racismo, embora que, contestados por Couto.

1 Miguel Couto diplomou-se pela Academia Imperial de Também, chamou-nos a atenção certos Medicina em 1883 sendo, portanto, médico, foi assis- aspectos relativos à sua personalidade, até tente da Cadeira de Clínica Médica até doutorar-se em 1885, tornando-se, pois, doutor. no discurso de recepção, escrito por Mario de

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Alencar (1872-1925), filho de Jose de Alencar, na era o filho mais novo de quatro irmãos. Ficou ABL, encontramos também indicativos sobre o órfão de pai aos cinco anos, recebendo da mãe quão misterioso poderia ser Miguel Couto, nas os primeiros ensinamentos de leitura e escrita. palavras do autor: Sobre a sua mãe, falava Miguel Couto:

O lampião de querosene fez-se lâmpada elétri- A formação do meu caráter a elas devo: a pri- ca, o sobrado da Prainha dilatou-se no palacete meira – minha mãe, que costurava dia e noite de Marquês de Abrantes, a clientela da Saúde para extrair do anonimato da nossa extrema universalizou-se em clientela de toda a Capital pobreza, um doutor. Enquanto viveu, privei-me e do Brasil [...] Não consentis que o descanso de construir família, para não dividir a dedica- vos feche as pálpebras antes de concluída a ção que lhe devia; a outra aquela que transfor- tarefa cotidiana [...] E assim realizais a tarefa mou em realidade a minha visão Canaã e é há formidável de acompanhar pari passu as múlti- 20 anos a fonte e a inspiração de minha vida. plas, diárias, infatigáveis pesquisas e descober- (NAVARRO, 1950, p. 8) tas das ciências médicas que em anos edificam Miguel Couto se referindo aos psicólogos, bibliotecas e inundam revistas de todas as lín- dizia que com essas suas declarações, certa- guas, num sem-conto que parece emular a ação das moléstias e da morte. [...]A vossa atitude é mente encontrariam explicações para o seu a da curiosidade tímida, que não abona para comportamento modesto (ACAMERJ, 2019). Mo- o comum dos homens a posse da sabedoria; a rando em Niterói no Rio de Janeiro, estudou vossa palavra, quando não exercita o dever do no Colégio Briggs onde cursou Humanidades. professor, sussurra e pergunta, que não recita Nessa escola conheceu Alberto Torres, advoga- nem afirma; e o vosso semblante sorri em plá- cido alheamento de vós mesmo. Esse é o vos- do, político e jornalista, deputado da Assem- so enigma, e eu quis entendê-lo, e penso ex- bleia Constituinte do Estado do Rio de Janeiro plicá-lo – pedindo-vos que me releveis à conta (1892), deputado federal, ministro da Justiça e de mau psicológico o meu engano ou a minha Negócios Interiores e ministro do Supremo Tri- indiscrição. [...]Contentastes-vos com as vossas bunal Federal (STF). Alberto Torres foi abolicio- lições de professor, que dão a medida do que nista e republicano, suas principais obras, se- seria a vossa obra, realizada num pensamento de glória. Sábio, sem o aspecto de sábio; au- gundo Alves (2016) foram – A organização na- tor em virtualidade, sem a ambição de o ser cional e O problema nacional – que nasceram em grandes livros que seriam razão de orgulho de artigos publicados no Diário de Notícias e para a medicina brasileira; erudito, sem into- no Jornal do Comércio. Nesses dois livros, Tor- lerância; penso ter achado a solução do vosso res defende suas ideias nacionalistas além da enigma: vós sois um cético. (ABL, 2019) defesa da miscigenação, posição encontrada Assim sendo, com o presente trabalho, ob- também em seu último livro, As fontes da vida jetivamos discutir aspectos ligados à trajetó- no Brasil, de 1915. Dessa amizade, surgem as ria de vida e produção acadêmica do médico, discussões a respeito da “República, progres- educador e político Miguel de Oliveira Couto so e educação” (ALVES,2016). Convém destacar que muitas dessas ideias de Alberto Torres não Dados biográficos do Dr. Miguel foram, no futuro, compartilhadas por Miguel Couto, como veremos no decorrer do texto. Couto Miguel Couto aos 15 anos começou a cursar a Miguel de Oliveira Couto nasceu em 1° de maio Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, além de 1865 no Rio de Janeiro, no bairro da Saúde, de trabalhar na farmácia do irmão mais velho. filho do português Francisco de Oliveira Couto Era casado com Maria Barroso Jales Couto e e da brasileira Maria Rosa do Espírito Santo; pai de Miguel Couto Filho (1900-1969), que era

902 Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 05, n. 14, p. 900-915, maio/ago. 2020 José Mario d´Almeida; Claudia Alves d´Almeida médico, também envolvido com política, mi- Janeiro, tenaz defensor da medicina preventi- nistro da Saúde (1953-1954), foi governador do va, junto à população (COUTO, 1927). É impor- estado do Rio de Janeiro (1955-1958) e senador tante destacar, também, o lado humano de (1959-1967) (ALVES, 2016). Couto, ressaltado em depoimentos registrados Miguel Couto faleceu no Rio de Janeiro por muitos amigos e admiradores: em 6 de junho de 1934, ainda como deputado Segundo relatos de amigos próximos, como Al- constituinte, em função de um ataque súbito berto Torres, muitas vezes grandes nomes da de angina pectoris, após ter saído da missa de política brasileira, esperavam em seu consul- sétimo dia da escritora Júlia Lopes de Almeida. tório, na sala de espera ao lado de moradores De acordo com Alves (2016, p. 42), Couto an- de bairros pobres da cidade. O compositor Noel tes do término da missa dirigiu-se à Drogaria Rosa, justifica a sua saída da Faculdade de Me- dicina para o médico Lauro de Abreu Coutinho Granado, em busca do médico Ramos, antigo dizendo – ‘como médico eu jamais serei um Mi- interno seu, para os primeiros socorros. Já no guel Couto. Quem sabe não posso ser um Mi- palacete da Praia de Botafogo, o ilustre médi- guel Couto do samba’ (NAVARRO, 1950, s/p). co, ainda lúcido, esclareceu a médicos conhe- Miguel Couto ingressou na Faculdade de cidos, que o atendiam, inclusive o seu filho, a Medicina da Academia Imperial de Medici- gravidade do caso. na em 1880, com 15 anos, diplomando-se em

Figura 1 - Casa onde morou o Dr. Miguel Couto, na 1885, com apenas 20 anos. Como acadêmico, praia de Botafogo, Rio de Janeiro (RJ) foi interno, em seus dois últimos anos, na San- ta Casa de Misericórdia, sob a orientação do Prof. José Pereira do Rêgo, Barão do Lavradio (1816-1892), médico muito prestigiado, não só nesse respeitado hospital, como também em todo o Império brasileiro e no Reino portu- guês, lá recebeu alguns títulos, como Comen- dador da Real Ordem Militar Portuguesa da Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, dentre outros. Convém destacar a importância desse primeiro contato do jovem Miguel Cou- to com tão importante orientador, para a sua promissora carreira (COC, 2019). Depois, foi as- sistente interno, por concurso, de um renoma- do médico o Prof. João Vicente Torres Homem (1837-1887) (ANM, 2019). Fonte: https://rioquemoranomar.blogspot.com/. Formou-se pela Faculdade de Medicina em 1885, com a tese Da Etiologia Parasitária em Dr. Miguel Couto, clínico e relação às Doenças Infecciosas. Convém desta- professor da Faculdade de car que a Faculdade de Medicina cursada por Miguel Couto, atualmente Faculdade de Medi- Medicina (1885 – 1930) cina da UFRJ, teve várias denominações: Escola Dr. Miguel Couto foi considerado, por seus pa- Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janei- res, um dos mais brilhantes clínicos do Rio de ro (1808); Academia Médico-Cirúrgica do Rio de

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Janeiro (1813); Faculdade de Medicina do Rio na, sem defender tese, o Catedrático de Clínica de Janeiro (1832); Faculdade de Medicina e Far- Propedêutica, o Prof. Francisco de Castro (1857- mácia do Rio de Janeiro (1891); Faculdade de 1901), conhecido no meio médico como “divi- Medicina do Rio de Janeiro (1901); Faculdade no mestre”, que havia falecido (CPDOC, 2019). de Medicina da Universidade do Rio de Janei- Contudo, quando foi aberto concurso para a ro (1920); Faculdade Nacional de Medicina da Cátedra de Clínica Médica, também ocupada Universidade do Brasil (1937) e Faculdade de por Francisco de Castro, Miguel Couto viveu Medicina da UFRJ (1965) (COC, 2019). uma terrível fase de dúvidas sobre se faria a Após a formatura, Couto inicialmente clini- inscrição. Um dos concorrentes, Pedro de Al- cou em São Paulo, por curto período, retornan- meida Magalhães (1864-1905), admirado pelo do para a Capital Federal em 1886, no Distrito falecido catedrático e contando, por isso, com Federal, novamente procurou a Santa Casa de a admiração da Congregação da Faculdade, Misericórdia, onde foi assistente do Prof. An- indiretamente afastava os possíveis competi- tônio José da Silva Rabello. No Hospital São dores. Mesmo com a insistência de amigos e Sebastião, também no Rio de Janeiro, Miguel colegas mais próximos, Couto vacilou até os Couto realizou um brilhante trabalho, com o instantes finais da inscrição. Foi o médico An- pesquisador Francisco Fajardo (1864-1906), so- tônio Augusto de Azevedo Sodré (1864-1929), bre a Febre Amarela, que atingia a cidade: seu grande amigo, que acabou convencendo

Em 22 de julho, os delegados do Rio de Janei- Miguel Couto a se inscrever no concurso, de ro subiram à tribuna da Academia Nacional de forma impositiva, ordenando: “– inscreva-se!” Medicina para relatar a descoberta a uma pla- (NAVARRO, 1950, p. 31-32). téia ‘excepcionalmente’ numerosa, formada por Segundo Navarro (1950), nessa época, os médicos, estudantes e espectadores de ‘diver- candidatos a uma cátedra, arguiam-se mu- sas classes sociais’. João Batista de Lacerda fa- tuamente, frente à Congregação. Lá estavam, lou do orgulho que sentiam os uruguaios pelo Instituto de Higiene, ‘sem igual na América do frente a frente Almeida Magalhães e Miguel Sul’, e descreveu as investigações que culmina- Couto, candidatos com personalidades bem ram no isolamento de um bacilo extremamente díspares, Magalhães exaltava-se, esmurrava virulento, que reproduzia os sintomas caracte- a mesa, gritava, enquanto, Couto sem perder rísticos da febre amarela quando inoculado em a compostura, respondia calmamente, com a animais, realizando-se as experiências em uma ordem zoológica de crescente complexidade: sua característica simplicidade. Assim sendo, roedores, ruminantes, símios, por último o ho- foi aprovado para a tão almejada Cátedra, ini- mem. Relatou, por fim, as contraprovas que ob- ciando sua carreira de professor universitário, tivera no laboratório da Diretoria Geral de Saú- exercida ao longo de 30 anos (ACAMERJ, 2019). de Pública, com ajuda do dr. Emilio Gomes e a A obra bibliográfica médica de Miguel Cou- assistência de Chapot Prévost, Affonso Ramos, to esteve muito voltada aos relatos e análises Zacharias Franco e Antonio Pimentel. Naque- la mesma sessão da Academia e, dias depois, de casos clínicos, muitos deles publicados nos na Sociedade de Medicina e Cirurgia, Francisco seus dois volumes de Lições de Clínica Médi- Fajardo apresentou os resultados igualmente ca, o que faz até parecer, de forma equivocada, positivos das inoculações que efetuara com Mi- que a produção de Couto foi escassa (COUTO, guel Couto no Laboratório Militar de Bacteriolo- 1916, 1923). É interessante ressaltar que nesses gia. (O BRAZIL-MEDICO, 1897, s/p) dois volumes de Lições de Clínica Médica, Cou- Em 1891, inicia a sua vida de professor uni- to relata os casos clínicos como se estivesse versitário, sucedendo na Faculdade de Medici- ministrando aulas para os seus alunos:

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Prognostico das hemorragias nas afecções do Foi membro de muitas associações e aca- estomago e do duodeno demias médicas, não só no Brasil, como tam- Meus Senhores bém em outros países. Dentre elas podemos destacar: Sociedade de Medicina e Cirurgia Continuamos hoje a conversar sobre a doença do Rio de Janeiro e da Paraíba; membro e vi- deste homem que foi o objeto da lição passada, e sobre o qual acordamos o diagnóstico de ul- ce-presidente da Sociedade Médica dos Hos- cus duodeni. Ouvistes-lo contar que ha mêses, pitais do Rio de Janeiro; membro do Conse- sofrendo apenas de alguns symptomas dyspep- lho Técnico e Administrativo da Faculdade de ticos e ‘a que não ligara’, sobretudo azia e adus- Medicina da Universidade do Rio de Janeiro; tão no estomago pela madrugada, foi um dia membro do Conselho Superior de Ensino e da acometido de vômitos sanguíneos ao mesmo tempo que expellia do intestino enorme quan- Sociedade de Medicina de São Paulo. Foi sócio tidade de sangue, a ponto de cahir vertiginoso -benfeitor da Policlínica Geral do Rio de Janei- [...] (COUTO, 1923, p. 15, grifos do autor) ro (ANM, 2019). No exterior, participou de algumas Entida- Miguel Couto priorizou publicar os casos des Científicas, como também, foi por elas ho- clínicos, que poderiam ser convertidos em menageado, conforme registros da ANM: artigos, como capítulos dos livros Lições de Clínica Médica, deixando claro a sua forte in- Atuou como Membro Correspondente da ‘Socie- clinação para o magistério, em detrimento da té de Pathologie Exotique’ de Paris, da Academia de Medicina de Havana, da Academia de Medi- produção acadêmica, tão valorizada nos dias cina da Colômbia, da Sociedade Médico-cirúrgi- atuais. O volume 1 foi estruturado com 16 rela- ca do Equador, da Sociedade de Ciências Médi- tos de casos clínicos e cinco notas; enquanto cas de Lisboa, da Sociedade Médica dos Hospi- o volume 2 dessa magistral obra, foi dividido tais de Paris, Membro Honorário da Sociedade em sete lições sobre análises de casos clíni- de Medicina e Cirurgia de Niterói, da Academia Nacional de Medicina da França, da Academia cos, 12 notas de ambulatório e 19 estudos de de Medicina de Buenos Aires, da Academia de casos clínicos. Ressalta-se que Couto também Medicina de Berlim, da Real Academia Médica participou, como colaborador de muitos traba- de Roma, da Associação Médica Argentina e do lhos efetuados na Faculdade de Medicina e na Instituto Brasileiro de Estomatologia. Fundou e Santa Casa de Misericórdia, onde foi Chefe da integrou a Sociedade de Neurologia, Psiquiatria 18ª Enfermaria, responsável pela instalação do e Medicina Legal. É o Patrono da Cadeira 6 da Academia de Medicina do Estado do Rio de Ja- primeiro aparelho de Raio X no Brasil (NAVAR- neiro e da Cadeira 39 da Academia Brasileira de RO, 1950). Também teve uma atuação marcante Medicina Militar. Além disso, destacou-se como no Hospital São Sebastião, na Ponta do Caju, Professor ‘Honoris Causa’ da Universidade de Rio de Janeiro, onde eram priorizados os casos Buenos Aires e da Universidade de Lima (Peru) de doenças infectocontagiosas, chamando-se e recebeu a Medalha da Instrução Pública da a atenção, nessa época, para a febre amare- Venezuela e da Coroa da Bélgica. (ANM, 2019, s/p) la, doença que atingia não só a capital federal, como também, outros estados da federação. Na ANM, Miguel Couto foi eleito membro ti- Juntamente com Azevedo Sodré, Miguel Couto tular da Academia com a Memória intitulada publicou o livro Tratado sobre a Febre Amarela, O Pneumogástrico na Influenza, empossado no obra com inúmeros ensinamentos e observa- dia 1º de abril de 1897, na Cadeira 9, ocupan- ções pessoais, que serviu de guia para muitos do em diferentes diretorias vários cargos, tor- clínicos. nando-se presidente de 1913 a 1915. Após essa

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gestão, Couto foi reeleito seguidamente, até a chamar-lhe assim. Creio que o Miguel sua morte em 1934. Foi aclamado Emérito em Couto me trouxe a graça. (RIBAS, 2008, p. 60) 1927 e presidente perpétuo em 1929. Também foi membro da Academia de Medicina do Rio 3. Homenagem pelos 25 anos de magisté- de Janeiro, ocupando a Cadeira 6 (ACAMERJ, rio do Prof. Miguel Couto na Faculdade 2019). O nosso personagem, em 9 de dezembro de Medicina, assinaram esse documen- de 1916, foi eleito membro da ABL, ocupando to 59 médicos. Destacamos, basicamen- a cadeira 40, sucedendo, nada menos, que, o te, pela ligação com a pesquisa acadê- advogado, contista e romancista mica os seguintes médicos: Aloysio de Castro (1881-1959), Álvaro Osório de (1868-1916) (ABL, 2019). Almeida (1882-1952), Antônio de Barros Conforme já relatado, muitos dos trabalhos Terra (1879-1961), José Gomes de Faria de Miguel Couto não foram publicados como ar- (1887-1962), Candido de Melo Leitão tigos em periódicos especializados, mas como (1886-1948), Miguel Osório de Almei- capítulos de seus livros de clínica médica, con- da (1890-1952), Júlio Muniz (1898-1975), tudo a literatura médica destaca a importância dentre outros renomados médicos das seguintes obras: Desordens Funcionais do (COUTO, 1923). Pneumogástrico na Influenza (1896), Dos Espas- 3. Sobre o Dr. Miguel Couto, o imortal Al- mos nas Afecções dos Centros Nervosos (1898), ceu Amoroso Lima, assim relata: “Dava Febre Amarela (1901), Meralgia Parestésica na à sua tarefa, à sua profissão, à sua in- Colite Mucomembranosa (1913), Da Poliesteato- saciável curiosidade científica e social, se Visceral Curável (1914), Líquido Cefalorraqui- essa imensa capacidade de dedicação, diano na Febre Amarela (1916), Lições de Clínica que o faria, por toda sua vida, conjugar Médica (v. 1, 1916 – v. 2, 1923), As alocuções do o verbo servir, em todos os tempos” Presidente da Academia de Medicina (1923), Me- (ABL, 2019, s/p) dicina e Cultura (1932) (COC, 2019). 5. Miguel Osório de Almeida (1890-1953), Miguel Couto recebeu homenagens e ci- pesquisador fisiologista do Instituto de tações de importantes letrados, dentre elas, Manguinhos (Instituto ), destacamos as seguintes: ex-discípulo, assim se refere ao Dr. Mi- 1. Homenagem feita pelo Dr. Carlos Chagas guel Couto, em discurso na ABL: (1879-1934) na sessão de 14 de junho de A ciência poderá um dia vos reclamar 1934. “Carlos Chagas exalta as virtudes tudo o que lhe havíeis prometido. Mas profissionais e pessoais de Miguel Cou- o que vale a ciência, falaz, precária e to, destacando os laços afetivos que o balbuciante, diante dessa verdade eterna, insofismável, indestrutível: a uniam ao amigo e mestre. Ressalta sua caridade? E vós reunistes as duas. Na importância como um dos mais notá- vida de um sábio completo, só é per- veis professores de Clínica Médica da feita a atitude da inclinação para o es- época” (ANM, 2019, s/p). tudo quando termina na prosternação 2. Carta do imortal (1839- para a prece. Foi sempre essa a missão 1908) para Mario de Alencar, sobre o seu de Miguel Couto. E sua vida um admi- rável equilíbrio entre a bondade e o médico assistente e colega da ABL: conhecimento (ACAMERJ, 2019, s/p) De mim vou bem, apenas com os acha- ques da velhice, mas suportando sem O Dr. Miguel Couto teve destacada participa- novidade o pecado original, deixe-me ção, como médico, em defesa de teorias eugê-

906 Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 05, n. 14, p. 900-915, maio/ago. 2020 José Mario d´Almeida; Claudia Alves d´Almeida nicas. Contudo, convém ressaltar que a Eugenia, fendidas por Miguel Couto, podemos concluir como outras teorias polêmicas, eram defendi- que o sentido das diferenças entre as raças, seja qual for o seu significado, pressupõe a sua das por muitos intelectuais, médicos, advoga- hierarquização em ―inferiores e ―superiores. dos, engenheiros, dentre outros letrados. (ENGEL, 2012, p. 22)

O nosso personagem participou da criação Miguel Couto na Política e na de várias associações, denominadas “ligas” e Educação academias, tendo sido membro ativo de mui- O Dr. Miguel Couto foi um dos mais respeita- tas delas. Dentre essas ligas, convém destacar dos e prestigiados clínicos no Rio de Janeiro e a Liga de Defesa Nacional (LDN), fundada na no Brasil, como também em outros países, no Cidade do Rio de Janeiro em 7 de setembro de final do século XIX e nas três primeiras déca- 1916, por juristas, médicos, escritores, militares das do século XX, tendo sido também elogiado de alta patente, empresários, digamos, uma pela comunidade acadêmica como um exímio significativa parcela da intelectualidade brasi- professor de Clínica Médica da Faculdade de leira, dentre eles, centro do nosso estudo, o Dr. Medicina do Rio de Janeiro. Enfim, escrever so- Miguel Couto. A LDN defendia, principalmente, bre Miguel Couto, médico e professor, não foi o apoio aos aliados da Primeira Grande Guerra uma tarefa complicada, mesmo incorrendo na (1914-1918) e a ideia defendida ferrenhamente tão criticada “biografia heroica”, ressaltando- pelo Poeta de “cidadão soldado” se que a vida acadêmica de Miguel Couto foi (ENGEL, 2012). Contra esses princípios da LDN, muito interessante, reverenciada por todos. voltaram-se os partidários do Anarquismo e Contudo, quando se discute as ideologias ado- alguns escritores, como Lima Barreto (1881- tadas pelo nosso personagem, criam-se polê- 1922). Em sua obra Triste Fim de Policarpo Qua- micas e as controvérsias se avolumam, portan- resma, Barreto (2011) mostra a decepção do to, iniciaremos esse tópico discutindo as suas personagem Policarpo Quaresma, não só com ideias. a guerra, como também, com os ensinamentos Engel (2012) ressalta muito bem as contra- ministrados pelos militares, defendidos pelo dições ideológicas de Couto, em especial, os programa de ação da LDN: preconceitos ligados a estrangeiros, excluindo Fiquei com um horror à guerra que ninguém os brancos europeus: pode avaliar... Houve momento em que aban- A miscigenação, reconhecida como caracterís- donamos as armas e fogo: batíamo-nos à baio- tica irrefutável da sociedade brasileira, assu- neta, a coronhadas, a machado, facão. Filha: um me aqui claramente o sentido de branquea- combate de trogloditas, uma coisa pré-históri- mento, cujo atributo purificador representaria ca... Eu não vi homens de hoje; vi homens de um ―grande serviço à humanidade. Longe de Cro-Magnon, do Neanderthal armados com ma- promover a integração entre as diferenças, a chados de sílex, sem piedade, sem amor, sem mistura do ―nosso sangue – branco e brasileiro sonhos generosos, a matar, sempre a matar...Eu – promoveria a depuração ―dessa raça, negra matei, minha irmã; eu matei! E não contente de e estrangeira. Reconhecendo as controvérsias matar ainda descarreguei um tiro quando o ini- em torno da definição do termo raça – que ain- migo arquejava a meus pés [...]. (BARRETO, 2011, da não teria sido fixado pela própria ciência, o p. 35) deputado ressaltava a existência de diferenças entre –pretos, amarelos e brancos: ―classifi- Dentre outros letrados da época, críticos quem-nos como quiserem, mas são diferentes. dos princípios da LDN, destaca-se Alberto Tor- Pelo que vimos em relação às concepções de- res (1865-1917) que, segundo Fonseca (2004),

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foi um dos primeiros intelectuais a fazer infe- nos quartéis. O ‘cidadão-soldado’, fruto desse rências sobre o significado de “raça”, no Brasil, processo de amálgama que desembocaria na identificação Exército-nação, constituiria uma elogiando a “mestiçagem”, tão criticada por ‘força nacional real’, de grande importância certas ligas, algumas, oriundas da LDN. Outro para a solução dos problemas do país. A defe- personagem, de grande importância como crí- sa do serviço militar obrigatório instituído em tico da segregação racial, foi o sociólogo Gil- outubro de 1916 inseria-se no quadro maior berto Freyre (1900-1987), que exaltou a iden- de uma campanha nacionalista em grande tidade brasileira pela fusão das três raças, escala, centrada no tema do patriotismo e do culto às tradições brasileiras. Essa cruzada de formadoras da nossa nacionalidade: branco, civismo produziu, além da LDN, a Liga Nacio- índio e negro (FREYRE, 2006). nalista de São Paulo, fundada em dezembro O programa de ação da LDN visava promo- de 1916 por estudantes da Faculdade de Direi- ver, acima de tudo, o nacionalismo e o patrio- to. (LIGA DA DEFESA NACIONAL, Estatutos, 2016, tismo entre os brasileiros: p. 57)

A criação da Liga da Defesa Nacional foi um Esses programas nacionalistas, autoritários desdobramento da campanha, promovida en- e segregacionistas, de muitas das ligas, desta- tre 1915 e 1916 pelo poeta Olavo Bilac em prol cando-se a LDN, persistiram durante muitos da implantação do serviço militar obrigatório anos, enfraquecendo-se com a Segunda Gran- no Brasil. Essa campanha, lançada pela pri- meira vez em 1907, no governo Afonso Pena de Guerra (1939-1945) e com a ascensão dos re- (1906-1909), quando o general Hermes da Fon- gimes totalitários, em especial o Nazismo. seca ocupava a pasta da Guerra, recebeu então Embasadas nos princípios da LDN, surgi- o apoio do general Caetano de Faria, ministro ram outras associações, como a Liga Brasileira da Guerra do presidente Venceslau Brás (1914- contra o Analfabetismo (7/9/1915); Liga Pró Sa- 1918). O serviço militar era concebido pelos seus defensores como um instrumento capaz neamento do Brasil (11/2/1918); dentre outras, de apagar as fronteiras entre civis e militares, contudo, destacando-se a Sociedade de Euge- através da disseminação da ‘consciência civil’ nia de São Paulo em 1917.

Figura 2 – Criança premiada como Bebê Eugênico: Imagem apresentada no trabalho “A influência da educação sanitária na redução da mortali- dade infantil” no Congresso de Eugenia de fevereiro de 1929, São Paulo

Fonte: Fotografia de Ademir F. de Carvalho. Acervo Arquivo de Antropologia Física. Museu Nacional/UFRJ.

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É interessante ressaltar que a sessão de delianas,3 tendo como principal seguidor o en- instalação da LDN foi realizada na Sociedade genheiro agrônomo Otávio Domingues (1897- Nacional de Agricultura, em 1916, demonstran- 1972). Mesmo com as duas correntes adotando do a concepção ruralista de nossos intelec- a mesma definição de Eugenia, apresentavam tuais, o que talvez permaneça até os dias de visões diferentes sobre miscigenação, isto é, hoje. A filiação da intelectualidade da época a a mistura de raças, sendo conveniente ressal- essas ligas, muitas delas, de princípios nacio- tar que a corrente lamarckista considerava a nalistas, autoritários e discriminativos, como a miscigenação uma forma de degeneração da LDN, foi enorme. Para dar maior representati- espécie humana, enquanto a mendeliana pre- vidade à LDN, foram convidados para a presi- gava o embranquecimento (STEPAN, 2004). As dência e vice-presidência os doutores Carlos polêmicas foram muitas, o médico, zoólogo, Chagas e Juliano Moreira, respectivamente e o antropólogo João Batista de Lacerda, em um discurso de abertura foi proferido pelo médico Congresso Universal das Raças, em Londres, sanitarista Belisário Pena (ENGEL, 2012), cien- em 1911, representou o Brasil, apresentando tistas de grande representatividade na ciência uma tese sobre o “Embranquecimento da Raça brasileira. Podemos ressaltar que o convite Negra”, em que com esses ideais eugenistas a Belisário Pena pode estar associado a uma postulavam que após alguns anos os negros expedição realizada pelo convidado e pelo seriam poucos (SCHWARCZ, 2011). Outra liga, médico, sanitarista e político Arthur Neiva ao surgida em 1911, também inspirada nos prin- interior do Brasil, onde esses renomados cien- cípios da LDN, foi a Liga Brasileira de Higiene tistas retrataram a triste situação do sertanejo Mental, com muitos médicos a ela associados. (NEIVA; PENNA, 1912). Segundo Bomeny (1993), Na maioria dessas ligas, Couto estava presente Belisario Penna não só destacava o “branquea- como ativo participante. mento da raça”, como também, o saneamento, Com o discurso higienista, buscava-se uma visando a melhoria do vigor físico, aprimora- regeneração sanitária e estética da cidade, mento da raça e, digamos até de forma “fan- procurando combater tudo aquilo que fosse tasiosa”, produção de alegria, da riqueza e do considerado ultrapassado para as sociedades progresso. Outra associação que marcou o iní- civilizadas. Dessa maneira, principalmente se cio do século XX, uma das mais significativas, tratando do Rio de Janeiro, a cidade deveria foi, sem dúvidas, a Sociedade de Eugenia de ser uma vitrine para os países latinos e para São Paulo, fundada em 1917 pelo médico e far- isso deveria retirar, esconder, aqueles que macêutico Renato Kehl (1889-1974). Segundo “não se enquadravam nos padrões europeus Stepan (2004), duas correntes eugenistas pre- nem pelo comportamento político, nem pela valeceram no Brasil: uma delas, inspirada nos cultura, nem pela maneira de morar, nem pela princípios lamarckistas,2 liderada por Renato cara” (CARVALHO, 1990, p. 162). Kehl; e a outra, baseada nas concepções men- Para o personagem de nossa história, Dr. Miguel Couto, a saúde não era a única preo- 2 O Lamarckismo foi uma teoria proposta e criada no cupação brasileira, para ele, o que mais preo- século XIX por Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) para cupava era a ignorância da população. En- explicar a evolução das espécies. Lamarck acreditava que mudanças no ambiente causavam mudanças nos quanto para um outro ilustre personagem da organismos que ali viviam, como também no seu com- portamento. O Lamarckismo baseia-se em duas leis: 3 Conjunto de leis e princípios relacionados à trans- Lei do uso e desuso e Lei da transmissão dos carac- missão hereditária, tendo como origem os trabalhos teres adquiridos; foram descritas na obra Philosophie do Abade Gregor Mendel (1822-1884), publicados em Zoologique. (WIKIPEDIA, 2020). 1866, contudo, redescobertos e reestudados em 1900.

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época, também eugenista, o escritor Coelho Foucault, com relação ao poder e os inte- Neto, a preocupação maior era o analfabetis- lectuais, afirma: mo, que grassava 80% da população brasilei- Ora, o que os intelectuais descobriram recente- ra (ENGEL, 2012). Nos parece que os conceitos mente é que as massas não necessitam deles de “ignorância” e “analfabetismo” têm mui- para saber; elas sabem perfeitamente, clara- tos pontos em comum, ou pelo menos são mente, muito melhor do que eles; e elas o di- convergentes. Contudo, Miguel Couto insistia zem muito bem. Mas existe um sistema de poder que barra, proíbe, invalida esse discurso e esse enfaticamente no discurso da importância saber. Poder que não se encontra somente nas maior da ignorância: instâncias superiores da censura, mas que pe- A ignorância é uma calamidade pública como netra muito profundamente, muito sutilmente a guerra, a peste, os cataclismos, e não só uma em toda a trama da sociedade. Os próprios inte- calamidade, como a maior de todas, porque as lectuais fazem parte deste sistema de poder, a outras devastam e passam, como tempestades idéia de que eles são agentes da ‘consciência’ e seguidas de céu bonança; mas a ignorância é do discurso também faz parte desse sistema. O papel do intelectual não é mais o de se colocar qual o câncer, que tem a volúpia da tortura no ‘um pouco na frente ou um pouco de lado’ para corroer célula a célula, fibra por fibra, inexo- dizer a muda verdade de todos; é antes o de lu- ravelmente o organismo; dos cataclismos, das tar contra as formas de poder exatamente onde pestes e das guerras se erguem os povos para ele é, ao mesmo tempo, o objeto e o instrumen- as bênçãos da paz e do trabalho: na ignorância to: na ordem do saber, da ‘verdade’, da ‘cons- se afundam cada vez mais para a subalterni- ciência’, do discurso. (FOUCAULT, 2008, p. 71) dade e a degenerescência. Imaginemos - quod Deos avertat - que somos surpreendidos um Muitas das propostas do Dr. Miguel Couto, dia por uma irrupção inimiga. Que faremos? mesmo com objetivos nobres, parecem que Do nada tudo até eliminá-la do solo sagrado. traziam embutidas visões extremamente auto- Por que, pois, a passividade ante as tremen- das consequências da ignorância? Ou o Brasil ritárias, desconsiderando o direito das classes a encara como uma calamidade nacional e lhe mais pobres, impondo o poder da intelectua- acode com o socorro imediato ou estará irre- lidade, tão bem discutido por Michel Foucault mediavelmente batido na concorrência com as (FOUCAULT, 2008, p. 71). Rocha (1995), em sua nações cultas. (ABL, 2019, s/p) Dissertação apresenta interessantes textos de Miguel Couto, como médico, representan- Couto, como aquele referente a “tutela higiêni- do as classes cultas de uma elite privilegiada, ca através das escolas maternais”: chamava para si a construção de um país civi- Dos três aos sete anos, atutelagem do Estadovae lizado, o que significava demonstrar que toda se exercer tambem através da ‘Escola Materna’ essa doutrinação estava voltada para um povo, ou ‘Casa da Criança`ou ‘Jardim da Infancia’, de- dócil, obediente, não contestador, seguindo os nominações anodynas que se valem, quaisquer que sejam as divergencias dos processos, por- princípios da LDN (ROCHA, 1995). que há em todos o mesmo obje(tivo: tendo em Esse pensamento elitista, adotado por Mi- conta os phenomenos physiologicos, somáticos guel Couto estava enfronhado em toda classe e psychicos, que se passam e se desenvolvem médica da época, tal como, acreditamos que naquela edade da vida, seguí-los sem maltra- ocorra até os dias de hoje. Em sua obra Lima tá-los, tal qual como se fosse uma plantinha tambem em crescimento, que só pede que a Barreto: Triste Visionário, Schwarcz (2017), em preservem de contaminações parasitarias de alusão ao avô do escritor Lima Barreto, refere- deformações desgraciosas, da excessiva ac- se aos médicos como uma espécie de “teocra- ção urente do sol ou humectante da chuva. É cia médica”. um laboratório de orthopedia moral, para ser

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confiada a uma hygienista, - como o devem ser capazes de depurar a raça brasileira. (TAKEU- todas as professoras, - versada na psychologia CHI, 2008, p. 178) infantil e de grande intuição pedagógica. (COU- TO, 1933, p. 49, apud ROCHA, 1995, p. 100) Contudo, de acordo com Miki (2015), o nos- so personagem, diferentemente de Arthur Nei- Outra proposta de Couto, que nos parece va e Xavier da Silveira, não afirmou serem os muito polêmica, contudo, talvez até condizen- japoneses inferiores, temia, sim, que os nipô- te com o contexto de época, isto é, o “poder nicos “nas Américas almejassem fazer dos seus da intelectualidade”, foi a proposta das pro- emigrantes pequenos embaixadores, legítimos fessoras primárias, como as “garças brancas”, representantes do Japão e da raça amarela no conforme o seguinte texto: exterior” (p. 65). Mensageiras de cultura e de bondade, como Em um outro momento, em sessão Consti- bandos de garças brancas deixando cahir plu- tuinte, Couto, contraditoriamente, atacou dife- mas brancas, lá vão as santas professoras bra- rentes raças, asiáticos e negros: sileiras para o seu apostolado de fazer de cada criança um homem forte pelo caracter, útil pela É proibida a imigração africana ou de origem inteligência, bom pelo contagio (COUTO, 1933, p. africana, e só consentida a asiática na propor- 41, apud ROCHA, 1995) ção, de 5 por cento, anualmente, sobre a totali- dade de imigrantes dessa procedência existen- Nessa proposta, nos parece claro que Couto tes no território nacional. (ANNAES DA ASSEM- considerava que o trabalho das “garças bran- BLÉA NACIONAL CONSTITUINTE, 1934) cas” era um apostolado, no qual as professo- ras eram obrigadas a renunciar a “vida terrena Outra questão que nos parece conflitante e aos prazeres da carne” está relacionada com a destinação de impos- O envolvimento do Dr. Miguel Couto com a tos para a Educação, em que no parágrafo re- eugenia foi marcado por certas particularida- lativo às bebidas alcoólicas, Couto estabelece des, como pode-se observar nas palavras de uma distinção social quanto ao consumo des- Takeuchi: sas bebidas. Mesmo considerando a sua inges- tão, também nefasta aos ricos, é ainda mais Nos debates empreendidos por Couto, Neiva enfático em relação aos pobres: e Xavier de Oliveira, os imigrantes japoneses e seus descendentes no Brasil foram qualificados No bojo das preocupações eugênicas presen- como indivíduos feios, hipócritas, portadores tes no período, é interessante notar a relação do eterno sorriso, que obedeciam tão-somen- estabelecida entre alcoolismo-degeneração te às ordens de seus chefes. Estes, por sua vez, da raça-pobreza comprehende-se, pois, que a receberiam os comandos diretamente do go- venda de um agente desta natureza, inimigo verno japonês. Os homens do complô nipônico inexorável da espécie, destruidor no homem considerariam legítimos todos os meios para a de suas energias physicas e de suas faculdades destruição da nação brasileira, inclusive a es- superiores, dissolvente do lar e da prole, fosse pionagem. Eram, em suma, na expressão toma- cercado das derradeiras barreiras até as raias da de Miguel Couto, abutres e serpentes que se da proibição, já aconselhada pela Academia de infiltravam, a fim de tomar todas as riquezas de Medicina; nem ao menos é o tóxico elegante só nossa pátria. Xavier de Oliveira, em seus discur- ao alcance das bolsas fortes dos ricos, ao con- sos, afirmara que os japoneses tinham tendên- trário é o vício deselegante propiciado ao po- cia a desenvolver doenças mentais incuráveis. bre pelo seu ínfimo preço. (COUTO, 1927, .p 132) Já Artur Neiva considerava que os nipônicos, além de serem muito mais organizados do que Outra passagem interessante, reportada os brasileiros, não eram sinônimo de estética, por Miki (2015), que se encontra registrada nos ao contrário dos desejados imigrantes ibéricos, Anais da Assembleia Constituinte de 1934, re-

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laciona-se a uma carta de Miguel Couto para tígio do Dr. Miguel Couto, junto aos letrados, Oliveira Vianna (1883-1951), na qual o nosso em especial aos médicos, era tamanho que personagem demonstra de forma cabal, que a a sua candidatura à Constituinte foi lançada, humanidade se divide entre raças distintas e através de um Manifesto assinado por 204 in- bem diferentes: telectuais, de várias formações (ROCHA, 1995). Rocha (1995) transcreve na íntegra o mani- O que devemos procurar aqui introduzir são ra- ças que sejam ricas em eugenismo. Ora, de to- festo dos intelectuais, com os nomes dos res- das as raças humanas, são as indo-europeias pectivos manifestantes, aqui apresentamos, as que acusam um coeficiente mais elevado de apenas, parte do manifesto: eugenismo. Logo, só estas nos servem - porque o progresso das sociedades e a sua riqueza e É este o manifesto dos intellectuaes lançando cultura são criação dos seus elementos eugêni- a candidatura do consagrado homem de scien- cos, cuja função na economia social é análoga cia: ‘Approximando-se a data da eleição para a à função do oxigênio, na economia animal. Bem Assemblea Constituinte, não podiam os intel- sei que não há raças desprovidas de eugenis- lectuaes brasileiros, aqui residentes, e que se mo: têm-no o mais rude negro da África, como interessam pelo engrandecimento do Brasil, o saxão mais puro. Há, porém, raças mais fe- deixar de compartilhar do enthusiasmo cívico, cundas em elementos superiores e raças menos que deve reinar nesta hora histórica, da qual fecundas. [...] esta dependendo o futuro da pátria comum’. Assim não lhes era razoável deixar passar no Para nós, portanto, que, pelo fato mesmo de olvido occasião em que pudessem trazer a sua termos uma formação em que predominam colaboração áquella Assembléa, apresentando dois sangues inferiores (o negro e o índio), so- o nome de um intellectual cujas virtudes cívicas mos um povo de eugenismo pouco elevado, o são sobejamente conhecidas: Professor Miguel grande problema é a arianização intensiva da de Oliveira Couto. (ROCHA, 1995, anexo 1 – grifos nossa composição étnica. Tudo quanto fizermos do autor) em sentido contrário à arianização é obra cri- minosa e impatriótica. (ANNAES DA ASSEMBLÉA Miguel Couto como constituinte foi enfáti- NACIONAL CONSTITUINTE, 1934) co na defesa da Educação, embora, muitos dos Contudo, mesmo assim, de acordo com a projetos apresentados já tinham sido discuti- literatura pesquisada, o Dr. Miguel Couto, se dos na 5ª Conferência da Associação Brasileira preocupava muito com a possibilidade de ser de Educação (ABE), em 1927, na qual o nosso classificado de racista. Concordamos com Miki personagem defendia enfaticamente a obriga- (2015), quando afirma que Couto, apesar de toriedade, gratuidade e alocação de recursos ter negado o racismo, apologizou a existên- para o ensino, especialmente o primário (COU- cia de raças distintas, superiores e inferiores. TO, 1992). Nos parece, analisando a literatura obtida, que Convém ressaltar que Couto atuou também não ficou clara a “defesa” do Dr. Miguel Couto, como político e educador, durante a Revolução quando afirma que “a forma de pensar e os há- Constitucionalista de 1932, desempenhando bitos culturais seriam os fatores mais impor- papel de mediador entre o governo e os revol- tantes para a classificação racial, mais do que tosos (BOMENY, 1993). os aspectos físicos” (MIKI, 2015, p. 67). Mantendo as suas ideias originais, expres- Como político, o Dr. Miguel Couto teve par- sadas na Conferência de Educação de 1927, na ticipação deveras importante, na promulgação Constituinte de 1934, Miguel Couto também se da Constituição de 1934, como deputado cons- empenhou na criação do Ministério da Educa- tituinte, eleito pelo Partido Econômico. O pres- ção, com dois departamentos, o da Higiene e

912 Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 05, n. 14, p. 900-915, maio/ago. 2020 José Mario d´Almeida; Claudia Alves d´Almeida o da Instrução Pública. Contudo, mesmo antes ro especial em cada Estado, sob pena de perda da Constituinte de 1934, o Presidente Getúlio da sua autonomia. Vargas havia criado o Ministério da Educação § 7º. A cada Estado compete o ensino primário e Saúde Pública, em 14 de novembro de 1930 nas suas cidades, vilas, povoados, etc. (Decreto nº 19.560). Sala das Sessões, 30 de Novembro de 1933. – Mi- Convém ressaltar que o médico Miguel guel Couto. (ANAIS, 1934, p. 121) Couto, ao eleger-se deputado, pôs em prática Miguel Couto, como deputado constituin- tudo aquilo que pregava em reuniões e even- te, defendeu enfaticamente a premissa de que tos. De acordo com Ferreira-de-Jesus (2008), a educação significava uma “alavanca para o Couto, em 30 de novembro de 1933, após fun- desenvolvimento”, se bem que, essa opinião já damentar um memorável discurso sobre edu- fora preconizada no Manifesto dos Pioneiros cação “Educação Problema Nacional” propôs da Educação Nova (PINTO, 2002). uma importante emenda constitucional, que marcou definitivamente a sua participação na Considerações finais Constituinte de 1934: Ao longo do texto, procuramos discorrer so- Emendas: bre a trajetória do médico Miguel de Oliveira Art. O ensino primário, compreendendo a ins- Couto, abordando as suas muitas atividades, trução moral, intelectual, física, e quando pos- não só como clínico e professor de Clínica sível a profissional, é obrigatório; obrigatório Médica da Faculdade de Medicina, na qual ao governo em fornecê-lo e às crianças em ida- foi reverenciado por seus pares, como tam- de escolar em freqüentá-lo. bém, abordamos as suas atividades políticas, § 1º. À União compete particularmente fornecer como deputado na Constituinte de 1934, de- o ensino primário no interior do país. fendendo enfaticamente a educação como § 2º. Os pais e irmãos mais velhos, sempre que “problema nacional”. Contudo, procuramos lhes for possível, têm o dever de dar a educação também mostrar que o brilhante médico foi aos seus filhos e irmãos mais moços. uma figura contraditória, polêmica no que se § 3º. O ensino primário fornecido pelo governo refere às suas ideologias, defendendo ideias, é único e gratuito. consideradas hoje, autoritárias e segrega- § 4º. Vinte por cento das receitas da União, cionistas, embora que, adotadas pela gran- dos Estados e dos Municípios serão compulso- de maioria dos letrados da época. Com re- riamente destinados à educação e à saúde do ferência aos médicos, incluindo Miguel Cou- Povo. to, evidencia-se uma visão teocrática, muito § 5º. Todos os impostos federais aplicados à bem abordada por Schwarcz (2011), quando Educação e higiene serão pagos diretamente se refere a “teocracia médica”, na sua obra num tesouro especial – o Tesouro da Educação – e nos Estados à ‘Delegacia Federal da Educa- Lima Barreto: Triste Visionário (2011). Esse ção’. Estas repartições serão geridas pelo Minis- comportamento, ainda presente nos médicos tério da Educação e Higiene. da atualidade, não interfere no fazer médico § 6º. Destinam-se exclusivamente à educação e de muitos profissionais da medicina. Discu- saúde de [sic] povo: O imposto sobre a renda; O timos a influência da LDN, não só sobre os imposto sobre o álcool; O selo educação; intelectuais da época, como também, sobre As multas por faltas, contravenções e outras. Os a criação de outras ligas e associações, algu- municípios – salvo o distrito Federal – enviarão mas delas, pregando ideias segregacionistas, 20% das suas receitas diretamente a um tesou- como a Sociedade de Eugenia de São Paulo.

Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 05, n. 14, p. 900-915, maio/ago. 2020 913 Trajetória de vida de Miguel de Oliveira Couto (1865 – 1934), médico, educador e político

Considerando, portanto, a trajetória polê- em: out. 2019. mica de Miguel de Oliveira Couto, destacamos BOMENY, Helena. Novos talentos, vícios antigos: Os a sua brilhante atuação como médico, clínico renovadores e a política educacional. Estudos His- geral em importantes hospitais, como a Santa tóricos. Os anos 20, Rio de Janeiro, v. 6, nº 11, p. 24- Casa de Misericórdia e o Hospital São Sebas- 39, 1993. tião, ambos na Cidade do Rio de Janeiro, sem- BARRETO, Afonso Henrique Lima. Triste fim de Poli- pre reverenciado por seus pares. Como também carpo Quaresma. São Paulo: Editora Moderna, 2011. destacamos as suas atividades como professor 112p. de clínica médica, ministrando aulas práticas elogiadas por seus alunos, alguns deles, desta- CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas. cados médicos e cientistas. Enfatizamos que o São Paulo: Companhia das Letras, 1990. professor Miguel Couto priorizava o magistério COC – CASA DE OSWALDO CRUZ, 2019. Dicionário His- em detrimento da produção científica, tendo tórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil em vista, que muitos dos seus casos clínicos te- (1832-1930). Disponível em: . Acesso em: 20 out. 2019. em capítulos de seus livros. Por fim, ressalta- COUTO, Miguel. No Brasil só há um problema nacio- mos as suas atividades políticas, defendendo nal – a educação do povo. Rio de Janeiro: Typ do enfaticamente a educação. Entretanto, assim Jornal do Commércio. 1927, 1933. como os “homens de ciência” de sua época, é COUTO, Miguel. Lições de Clínica Médica. Rio de Ja- importante ressaltar que foi um cidadão adepto neiro: Typografia Ao Luzeiro, 1916, v. 1, 350 p. a ideologias racistas e segregacionistas. COUTO, Miguel. Lições de Clínica Médica. Rio de Ja- Referências neiro: Typografia America, 1923, v.2, 378 p. ABL – ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Miguel Cou- COUTO, Miguel. O Problema Nacional. Carta – falas, to. Rio de Janeiro. 2020. Disponível em: http://www. memórias, reflexões. Brasília, Senado Federal, nº 5, academia.org.br/academicos/miguel-couto/textos 1992, p. 111-120. -escolhidosdisponível Acesso em: 20 out. 2019. CPDOC – CENTRO DE PESQUISAS E DOCUMENTAÇÃO ANM – ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA. Cadeira DE HISTÓRIA. Biografias, Rio de Janeiro, Fundação 09, Miguel Couto. Disponível em: http://www.anm. Getúlio Vargas. Disponível em: http://www.cpdoc. org.br/conteudo_view.asp?id=586&descricao=Mi- fgv.br/nav historia/htm/ev biografias.htm. Acesso guel+de+Oliveira+Couto+(Cadeira+No.+09). Acesso em: 20 out. 2019. em: out. 2019. ENGEL, Magali Gouveia. Os intelectuais e a liga de ACAMERJ - ACADEMIA DE MEDICINA DO ESTADO DO defesa nacional: entre a eugenia e o sanitarismo RIO DE JANEIRO. Cadeira n. 6: Miguel Couto. Rio de (RJ, 1916-1933). Intellèctus, Rio de Janeiro, UERJ, Ano Janeiro, 2019. Disponível em: http:www.acamerj.org. XI. nº 1, p. 1-30, 2012. Disponível em: https://www.e- br/cadeira06.htm. Acesso em: nov. 2019. -publicacoes.uerj.br/index.php/intellectus/article/ ALVES, Vera. Miguel Couto, Cadeira 40 / Ocupan- view/27557 Acesso em: 15 set. 2019. te 3. São Paulo: Ed. Academia Brasileira de Letras, FERREIRA de JESUS, Wellington. A emenda Miguel 2016, 64 p. Couto (1933) e a transformação na história do finan- ANAIS DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE de ciamento a educação no Brasil. Congresso Brasilei- 1934. Brasília, Câmara dos Deputados, vol. I-XX 1935. ro de História da Educação (SBHE), V, 2008, Aracaju. Disponível em: http://www.camara.gov.br. Acesso Anais... Aracaju: UFES/UNIT, 2008. v. I. p. 1-14.

914 Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 05, n. 14, p. 900-915, maio/ago. 2020 José Mario d´Almeida; Claudia Alves d´Almeida

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José Mario d´Almeida é doutor em Biologia Parasitária pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). Pós-doutor em História da Ciência pelo Programa de Pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia (HCTE) da Uni- versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor e pesquisador de Zoologia (Artrópodos) e Etologia (aposentado), ministrando disciplinas voluntariamente na Universidade Federal Fluminense (UFF). Pesquisador de História da Ciência (Biologia). E-mail: [email protected]

Claudia Alves d´Almeida é doutoranda em História da Ciência e Saúde na Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). Diretora de escola do município do Rio de Janeiro. E-mail: [email protected]

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