Redalyc.Hipertextos Educacionais: Relativizando O Meio Eletrônico

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Redalyc.Hipertextos Educacionais: Relativizando O Meio Eletrônico Educação Unisinos E-ISSN: 2177-6210 [email protected] Universidade do Vale do Rio dos Sinos Brasil Correia Dias, Ângela Alvares; dos Santos, Geraldo Severino Hipertextos educacionais: relativizando o meio eletrônico Educação Unisinos, vol. 9, núm. 3, septiembre-diciembre, 2005, pp. 216-220 Universidade do Vale do Rio dos Sinos São Leopoldo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=449644421004 Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto Educação Unisinos 9(3):216-220, set/dez 2005 © 2005 by Unisinos Hipertextos educacionais: relativizando o meio eletrônico Educational hypertexts: relativizing the electronic media Ângela Alvares Correia Dias [email protected] Geraldo Severino dos Santos [email protected] Resumo: O presente artigo tem como objetivo se contrapor à tendência dos educadores de generalizar a idéia de que os hipertextos são inerentes aos meios eletrônicos e, como decorrência, de que as possibilidades da interatividade se restringem aos recursos da máquina. Desloca-se, assim, o foco exclusivo nos meios para privilegiar as vinculações entre a diversidade de vozes sociais, linguagens e gêneros discursivos que se defrontam, entrechocam e manifestam em diferentes percursos sígnicos na construção de sentidos. Palavras-chave: hipertexto, dialogismo, intertexto. Abstract: This article challenges a trend in education to generalize the idea that the hypertexts are inherent to the electronic media and that, as result, their possibilities of interaction are restricted to the resources of the machine. Thus, the exclusive focus on the media is turned into a focus on the links between the diversified social voices, languages and discourse genres that encounter, clash and are expressed in different signs in the process of the construction of meaning. Key words: hypertext, dialogism, intertext. O avanço que observamos a res- litasse novos processos de produzir Para Pierre Lévy (1993), o hiper- peito da teoria do hipertexto está textos, acessar e trocar informações, texto é um conjunto de nós (que po- muitas vezes associado às inova- além da associação instantânea a dem ser palavras, páginas, imagens, ções tecnológicas e leva ao entendi- outros textos – criando ramificações gráficos) ligados por múltiplas co- mento de que é necessário o meio e conexões com novas obras. Essa nexões. Ele se caracteriza pela aber- eletrônico para que ocorra a hipertex- forma de organização e estruturação tura que oferece ao leitor, permitindo tualidade. da informação, possibilitada pelos que este seja co-autor do texto, cons- Nesse sentido, é determinante a avanços da tecnologia, passou a ser truindo ele próprio a seqüência ou contribuição de Vanevar Bush e de denominada hipertexto que, segun- direção que deseja seguir, abrindo, Theodore Nelson (Levy, 1993), que do Bush e Nelson, apontava para a assim, espaço para uma leitura não compartilhavam a idéia do hipertexto revolução do nosso modo de pen- linear no qual o leitor/co-autor esta- a partir do meio eletrônico. Pesqui- sar, ler e escrever na medida em que belece livres redes de conexões e sadores vinculados à área da com- a construção hipertextual é análoga associações, adquirindo um papel putação tentaram desenvolver um às estruturas associativas, multidi- ativo. Desta forma, o hipertexto é um sistema de informações amplo, mensionais e não-seqüenciais da texto aberto, multilinear, multis- expansível e não-linear que possibi- mente humana. seqüencial e labiríntico em que o lei- 04_Art03_ADias.pmd 216 30/01/2006, 11:15 Hipertextos educacionais: relativizando o meio eletrônico tor interage com diversos discursos Jacques Roubaud, entre tantas outras A descontinuidade do hipertexto – palavras, citações, imagens, docu- que construíram narrativas labirínticas é inerente a qualquer meio, e nesse mentação, músicas, vídeos, etc. – e multidimensionais, rompendo com a sentido podemos observar que não produzindo seu próprio percurso tex- idéia de início-meio-fim predetermina- se manifesta de uma única forma de tual de leitura. Esse percurso do. Desde modo, o texto passa a ser leitura – uma leitura linear – mas vá- interativo com os diversos e múlti- entendido como produto não acaba- rias possibilidades m que seu senti- plos textos no qual o leitor realiza a do, uma obra em construção, permi- do é construído no contexto da pro- passagem de um espaço textual a tindo que o próprio leitor construa e dução e da leitura do texto, num jogo outro, de um fragmento a outro, de recrie, por meio de uma complexa rede de fluxo e refluxo do significado que uma página a outra, gerando um tex- de montagem, a invenção de novos sen- faz do processo hipertextual um mo- to efêmero e transitório, constitui o tidos de leitura e interpretação. Esse vimento sempre dinâmico de signifi- fundamento do hipertexto. descentramento é possibilitado pela cação. Neste sentido, a univocidade Há uma tendência em afirmar que “forma híbrida, dinâmica e flexível de lin- do autor é substituída pela as características de um hipertexto são guagem que dialoga com outras plurivocidade da diversidade das inerentes ao meio eletrônico; no en- interfaces semióticas, adiciona e acon- vozes sociais que são evidenciadas tanto, em contraposição a essa linha diciona à superfície formas outras de no hipertexto. A multiplicidade de de pensamento que defende ser o meio textualidade” (Xavier, 2004, p. 171). signos na apresentação do texto tam- eletrônico o espaço no qual se evi- Na realidade de uma escrita bém privilegia e evidencia a dencia o hipertexto e a não- hipertextual – seja em meio eletrôni- heterogeneidade de discursos que linearidade, deparamos com outra cor- co ou impresso – as fronteiras entre se entrelaçam nas redes intertextuais rente que defende que as narrativas o autor e leitor são diluídas na medi- ou intratextuais, eliminando, assim, hipertextuais podem ser encontradas da em que o autor abandona a posse o tom monológico, para atingir o sob as mais diversas formas e mani- do significado do texto para consen- dialógico. festações. Essa concepção é defendi- tir uma co-autoria com o leitor. As- É a partir do conceito bakhtiniano da por Raquel Wandelli (2003), que sim, o sujeito-leitor afasta-se da pos- de dialogismo que buscamos enten- evidencia que “o procedimento tura de simples consumidor e adota der a lógica do hipertexto. O “[...] as- hipertextual, marcado por característi- uma atitude emancipada e participan- pecto do dialogismo a ser conside- cas como a escrita em tela, a conexão, te frente ao texto, abrindo possibili- rado é o do dialogo entre os muitos a quebra de linearidade, a variedade dades de produzir novos e múltiplos textos da cultura, que se instalam no de recursos gráficos, não surgiu com significados de leitura. interior de cada texto e o definem o computador” (Wandelli, 2003, p. 24). Essa reelaboração do texto apre- [...].” (Barros, 1994, p. 4). O texto se Para demonstrar que o computa- senta-se como uma interação entre o apresenta como um tecido determi- dor não determina o processo de es- autor e o leitor evidenciada tanto no nado por fios dialógicos que se com- crita e leitura não-linear e que este momento da escrita proposta pelo pletam e se entrecruzam criando pode estar presente fora do ambiente autor, como no processo da leitura, novo sentido a cada momento da ob- digital, a autora redimensiona a con- no qual o leitor tem a liberdade de servação. Deste modo, não há uma cepção do hipertexto a partir d as pro- interagir e intervir na estrutura narra- determinação do sentido; este se duções literárias. Nesse sentido, em tiva. Desta forma, não há uma constrói de acordo com as ligações seu livro Leituras do hipertexto: via- predefinição de sentido, nem o meio e articulações que cada leitor realiza. gem ao Dicionário Kazar (2003), en- pode estabelecer uma determinação Nesse sentido, “[...] os textos são contramos várias citações de escrito- da fluidez do texto, mas esta se apre- dialógicos porque resultam do em- res que subverteram as escritas linea- senta na atitude do autor e do leitor. bate de muitas vozes sociais; podem, res e seqüências preestabelecidas, no entanto, produzir efeitos de permitindo ao leitor fazer seu próprio A metáfora do hipertexto dá conta da polifonia, quando essas vozes ou al- percurso e, assim, concedendo aos estrutura indefinidamente recursiva do gumas delas deixam-se escutar, ou seus leitores a participação e interven- sentido, pois já que ele conecta pala- de monofonia, quando o diálogo é ção na estrutura narrativa. Dentre as vras e frases cujos significados reme- mascarado e uma voz, apenas, faz-se tem-se uns aos outros, dialogam e eco- obras citadas estão os contos de am mutuamente para além da ouvir” (Barros, 1994, p. 4). O diálogo Borges, o Dom Quixote , de Cervantes, linearidade do discurso, um texto já é bakhtiniano apresenta-se como a re- 217 As cidades invisíveis , de Italo Calvino, sempre um hipertexto, uma rede de lação de um enunciado com outros O jogo da amarelinha , de Julio associações (Lévy, 1993, p. 73). enunciados, e cada um destes con- Cortázar, O incêndio de Londres , de firma, complementa ou depende dos volume 9, número 3, setembro • dezembro 2005 04_Art03_ADias.pmd 217 30/01/2006, 11:15 Ângela Alvares Correia Dias, Geraldo Severino dos Santos outros. O diálogo pode ser expresso cepção hipertextual. Do mesmo modo drando as oposições arcaico-mo- pela paródia, pela citação ou ainda que os textos literários as expressões derno, local-universal. por marcas no texto que levam a alu- da arte – poesia, música, fotografia, dir ou referenciar outro texto, poden- pintura, cinema, teatro – podem ser Se faz uma jangada do, ainda, manifestar-se em qualquer realizadas e vistas a partir do proces- Um barco que veleje. Um barco que forma da expressão cultural.
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