TURMALINA NOS CAMINHOS DA ESTRADA REAL Carvalho, Maria Regina Antunes1. Leite. Marta Verônica Vasconcelos2. Palavras Chave
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
TURMALINA NOS CAMINHOS DA ESTRADA REAL Carvalho, Maria Regina Antunes 1. Leite. Marta Verônica Vasconcelos 2. Palavras chave: Estrada Real; Turmalina; Mineração; Tropeiros. Este trabalho busca analisar a história da cidade de Turmalina a partir da Estrada Real, em função dos primeiros registros da descoberta de diamantes no Arraial do Tijuco até a emancipação de Turmalina. É visível que desde a colonização das terras americanas, que Portugal ambicionava em encontrar jazidas de metais preciosos. Tal vontade fica explicitada, através um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha, datada de 1500: Senhor [El-Rei D. Manuel], [...] E hoje que é sexta-feira, primeiro dia de maio, saímos em terra com nossa bandeira; e fomos desembarcar no rio acima [...] Até agora não podemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal [....] Contudo a terra em si é de muitos bons ares, frescos e temperados como dos de Entre-Douro e Minho [...] Em tal maneira é graciosa que, querendo a aproveitar-se há nela tudo, por causa das águas que tem! [...] Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. 1Graduanda em História pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). 2Professora da Graduação em História pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). A partir da vontade dos Portugueses expressa claramente na carta, já se esperava que ao encontrar o que desejavam haveria uma exploração maciça. O que aconteceu, por exemplo, em Minas Gerais no século XVII, mais precisamente em 1693 a 1695, uma vez que a mesma foi palco de ambições, pois ocorreram na região as primeiras descobertas de imensas riquezas em ouro e pedras preciosas. Esse acontecimento se deve às expedições organizadas pelos Bandeiran tes paulistas, que adentravam os sertões da colônia com os mais diversos fins. A partir de tal ocorrência, Minas Gerais que até então não passava de uma região “esquecida” pelo estado Português, passou a ser conhecida por um pseudônimo vulgar: “a galinha dos ovos de ouro”, além de ser alvo de cobiça e de uma intensa fiscalização por parte da Coroa Portuguesa. Laura de Mello e Souza 3reforça tal acontecimento ao afirmar que Minas Gerais, era uma zona interior, longe do litoral e dos povoados de colonização antiga, eriçada de montanhas pedregosas ricas em minério, incorporada ao âmbito da colonização lusa em razão da mobilidade dos paulistas que (...) buscavam no ouro o “remédio para a sua pobreza”. De acordo com a mesma, Minas Gerais em surpreendentes meio século já contava com centros urbanos bem sedimentares, além de aparelho burocrático, templos, enfim, todos os elementos que constituíam a vida social. Esse trabalho terá como foco parte dessa região mineira, onde ouro e pedras preciosas foram encontradas em abundância. O município de Turmalina, apesar de ter sido alvo dos mineradores e de ter inclusive seu nome derivado das minas de Turmalina, e está as margens da Estrada Real que liga a região do Serro a Diamantina, ficou esquecida e tem muito pouco de sua história registrada. Nesse complexo de cidades ligadas a mineração, Diamantina terá um maior destaque, pela proximidade com Turmalina, cidade foco do trabalho, e por ter sido um triunfo na mineração, tendo destaque na história brasileira e mineira. A real extração de diamante foi retardatária se compararmos com a extração de ouro, segundo Júnia 3 SOUZA, Laura de Mello e, Prefácio in SILVEIRA, Marco Antonio. O universo do indistinto: estado e sociedade nas Minas setecentistas: (1735-1808). São Paulo: Hucitecc, 1997. Furtado a primeira ocorreu em 1772. De acordo com a mesma, Diamantina imprimiu uma singularidade em relação às demais áreas mineradoras, como o fato dos excelentes resultados da centralização do poder na mesma, como reforça Furtado apud Lima Júnior: (FURTADO, 2008, p. 37.) (...) pouco tempo depois de se divulgar o descobrimento dos diamantes, o arraial do Tijuco ostentava uma prosperidade espantosa. (...) Em pouco tempo, esse arraial (...) exercia no norte uma influência análoga à de Vila Rica na parte central. Todos os negócios convergiam para ali, (...) atraía uma população numerosa, que em pouco tempo levava uma vida opulenta, graças ao intenso comércio de que era centro. (...) Uma opulência deslumbradora reinava no Arraial do Tijuco, onde, não obstante a distância dos portos do mar e a precariedade dos meios de transporte, todo ele em costas de animais, se levava uma vida e luxo e regalos como na própria metrópole. De acordo com Márcio Santos havia três caminhos que constituíam as vias oficiais de acesso a região das reservas auríferas da capitania das Minas Gerais no século XVIII. Quando aos três grandes caminhos se agregaram rotas regionais como a via para o Distrito Diamantino, novos e sofisticados meios de controle surgiram; no caso da região diamantífera, por exemplo, todo ele demarcada rigorosamente, existindo nos seus limites os registros da demarcação Diamantina (SANTOS, 2001, p. 149). De acordo com o mesmo, multiplicavam- se os arraiais, acompanhando os sucessivos descobertos. E Turmalina tem seu surgimento remetido a tal acontecimento, entrelaçado ao ciclo do ouro. Este trabalho tem como problemática entender como se dá a formação de Turmalina, a partir da Estrada Real. Levando em conta a significativa importância que a história regional e local tem ganhado nas últimas três décadas, e as inúmeras transformações historiográficas. Tal “conquista” só foi possível, em 1929 devido a uma nova concepção metodológica que surgiu na França, denominada de Nova História. Como conseqüência dessa renovação historiográfica há uma diversificação no conceito de fonte histórica, como cita Ana Maria Carvalho de Oliveira. (...) A Nova Historia, em suas diversas expressões, contribuiu para renovação e ampliação do conhecimento histórico e dos olhares da história, na medida em que foram diversificados os objetos, os problemas e as fontes. A História Regional constitui uma das possibilidades de investigação e de interpretação histórica. (...) Através da História Regional busca-se aflorar o específico, o próprio, o particular. (OLIVEIRA, 2003 p. 15) Partindo desse ponto de vista, é notória a importância do estudo da História regional e local no universo historiográfico, pois ela aproxima o pesquisador do seu objeto de estudo. Com o incentivo do projeto estrada real do Governo de Minas Gerais 4, percebemos a importância de pesquisar essa cultura regional, que valoriza parte da história de Minas, ainda necessitada desses registros, uma vez que se encontra praticamente inexplorado no meio acadêmico. O objetivo desse trabalho é analisar a história da cidade de Turmalina a partir da intensa movimentação nas Estradas Reais, devido ao descobrimento e consequêntemente a maciça exploração de minerais em Minas Gerais, especificamente na região de Diamantina. O corpus documental será composto por pesquisas bibliográficas, documentos disponíveis em Turmalina e no Arquivo Público mineiro, além de entrevistas com antigos moradores/tropeiros, e/ou suas famílias. As entrevistas terão caráter qualitativo, pois entendemos a história enquanto processo. Esse último com objetivo de compreender como se dava o transporte de mercadorias no lombo de animais, e ressaltar sua importância como dinamizadora do mercado interno, Finalmente, esta pesquisa tem como recorte temporal final do século XVII mais precisamente no período de 1772 a 1948. Uma vez que enquadra desde os primeiros registros da descoberta de diamantes no Arraial do Tijuco até a emancipação de Turmalina. A pesquisa se insere no âmbito da história local e regional e pertence ao campo historiográfico da história cultural. REFERÊNCIAS 4 O projeto Estrada Real é a principal iniciativa do governo de Minas Gerais na área de turismo e o mais importante programa turístico em implantação no País. Seu objetivo é promover o desenvolvimento dos 162 municípios mineiros situados na área de influência da Estrada Real, por meio do incentivo ao turismo cultural, religioso, histórico e rural, ecoturismo e turismo de aventura. AMARAL, Leila. Do Jequitinhonha aos canaviais: em busca do paraíso mineiro. 3 v. Belo Horizonte: FAFICH/UFMG, 1988. Dissertação (Mestrado em Sociologia da Cultura). ANASTASIA, Carla Maria Junho; RESENDE, Maria Efigênia Lage de. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA. A sedição de 1736: estudo comparativo entre a zona dinâmica da mineração e a zona marginal do sertão agro-pastoril de São Francisco. Belo Horizonte: 1993. ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil. 2. ed. Brasília: INL, 1976. BARBOSA, Waldemar de Almeida. Fanado (Minas Novas): Nossa Senhora do Bom Sucesso das Minas Novas do Araçuaí. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do estado de Minas Gerais. Edição especial comemorativa dos 250 anos da Vila de Minas Novas, Minas Gerais. Vol. XVIII. Belo Horizonte, 1981. BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 13. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. BOXER, Charles R. A idade do ouro do Brasil , 2 ed. São Paulo: Companhia editora nacional (Coleção Brasiliana), 1969. CANO, Wilson. Economia do ouro em Minas Gerais (século XVIII). Contexto. São Paulo, n. 3, 1977. CHAUÍ, Marilena de Souza. Convite à filosofia. 13. Ed. São Paulo: Ática, 2008. D´ASSUMPÇÃO, l. Romanelli e. “Considerações sobre a formação do espaço urbano no setecentista nas Minas”, Revista do Departamento de História, Belo Horizonte, FAFICH/UFMG, 1989. FERREIRA, Valdivino Pereira. Genealogia norte mineira: Resumo genealógico das grandes famílias norte mineiras e do sudoeste baiano. Turmalina: Edição do autor, 2003. FURTADO, Júnia Ferreira. O livro da capa verde: o regimento Diamantino de 1771 e a vida no distrito diamantino no período da real extração. / Júnia ferreira furtado. - São Paulo: Annablume, belo Horizonte: PPGH/UFMG, 2008. (coleção olhares). GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1988. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e fronteiras. 3. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. LE GOFF, Jacques. Historia e memória Campinas Unicamp 5.Ed/2003. MACHADO F., A. M. Arraial do Tijuco, Cidade Diamantina, 3° Ed. Belo Horizonte – São Paulo: Itatiaia-Edusp, 1980. MARTIS FILHO, Amilcar Vianna.