Revista Brasileira Defilosofia

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Revista Brasileira Defilosofia Revista BRASILEIRA DE FILOSOFIA Ano 58 • n. 233 • jul.-dez./ 2009 Revista BRASILEIRA DE FILOSOFIA Ano 58 • n. 233 • jul.-dez./ 2009 Publicação oficial do Instituto Brasileiro de Filosofia Presidente CELSO LAFER Diretor Responsável TERCIO SAMPAIO FERRAZ JÚNIOR Editor Responsável JULIANO SOUZA DE ALBUQUERQUE MARANHÃO EDITORIAL NACIONAL ANTONIO PAIM MARCELO CONIGLIO ARY MARCELO SÓLON MARCELO FINGER CELSO LAFER MIGUEL REALE JUNIOR CLÁUDIO MICHELON MARCIO GRANDCHAMP CLÁUDIO DE CICCO MILTON VARGAS EDÉLCIO GONÇALVES DE SOUZA NEWTON CARNEIRO AFONSO DA COSTA ELZA BOITEAUX PABLO E. NAVARRO ÍTALA D“OTTAVIANO RONALDO PORTO MACEDO JEAN-YVES BEZIAU RENATA WASSERMANN JOSÉ HORÁCIO HALFELD REZENDE RIBEIRO RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA JULIANO SOUZA DE ALBUQUERQUE MARANHÃO SAMUEL RODRIGUES BARBOSA LUIS FERNANDO BARZOTTO TERCIO SAMPAIO FERRAZ JUNIOR LUÍS FERNANDO SCHUARTZ (IN MEMORIAN) WALTER CARNIELLI ISSN 0034-7205 Revista BRASILEIRA DE FILOSOFIA Ano 58 • n. 233 • jul.-dez./ 2009 Publicação oficial do INSTITUTO BRASILEIRO DE FILOSOFIA ISSN 0034-7205 Revista BRASILEIRA DE FILOSOFIA Ano 58 • n. 233 • jul.-dez./ 2009 Publicação oficial do INSTITUTO BRASILEIRO DE FILOSOFIA © edição e distribuição da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA. Diretor responsável CARLOS HENRIQUE DE CARVALHO FILHO Rua do Bosque, 820 – Barra Funda Tel 11 3613-8400 – Fax 11 3613-8450 CEP 01136-000 – São Paulo São Paulo – Brasil TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo — Lei 9.610/1998. CENTRAL DE RELACIONAMENTO RT (atendimento, em dias úteis, das 8h às 17h) Tel. 0800-702-2433 e-mail de atendimento ao consumidor [email protected] Visite nosso site www.rt.com.br [email protected] Diagramação eletrônica: Editora Revista dos Tribunais Ltda., CNJP 60.501.293/0001-12 Impressão e acabamento: Prol Editora Gráfica Ltda., CNPJ 52.007.010/004-03 Impresso no Brasil SUMÁRIO I. FISOLOFIA SOCIAL E TEORIA DO DIREITO 1. Lógica e ontologia das normas JULIANO SOUZA DE ALBUQUERQUE MARANHÃO ....................... 7 2. Jus Cogens como aporia: o crepúsculo do direito interna- cional clássico SAMUEL RODRIGUES BARBOSA ............................................ 39 3. O ceticismo dos realistas norte-americanos: a indetermi- nação no direito CARLA OSMO ................................................................. 93 4. Hermenêutica jurídica e a questão da textura aberta JOSÉ MARIA ARRUDA DE ANDRADE .................................... 138 II. LÓGICA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA 1. Relative charity FABIEN SCHANG ............................................................ 159 2. Logics of deontic inconsistency MARCELO E. CONIGLIO ................................................... 173 3. Biconditional drive to paradox JEAN-YVES BÉZIAU ......................................................... 196 4. Condicionalidade e a lógica de implicação normativa de Von Wright JULIANO SOUZA DE ALBUQUERQUE MARANHÃO ................... 202 III. ONTOLOGIA E FILOSOFIA DOS VALORES 1. Dualidade e a estrutura do mundo ALEXANDRE COSTA-LEITE ................................................. 233 2. Entre as veredas da cultura e da civilização JOSÉ LUIZ BORGES HORTA E MARCELO MACIEL RAMOS .......... 248 6 REVISTA BRASILEIRA DE FILOSOFIA 2009— RBF 233 IV. TRADUÇÕES 1. A grande tradição HANNAH ARENDT .......................................................... 281 2. Razão prática e traços de caráter: um comentário à teoria sentimentalista de Maccormick sobre a percepção moral CLAUDIO MICHELON ...................................................... 296 V. RESENHAS DE OBRAS, TEMAS E AUTORES 1. John Rawls e o utilitarismo GABRIEL BERTIN DE ALMEIDA ............................................ 313 2. Law and the Media: a theoretical and methodological criti- que. Gies, Lieve. 2008. Law and the media – The future of an uneasy relationship. Routledge-Cavendish/Glass Hou- se, 166 p. MARIA FRANCISCA CARNEIRO ........................................... 328 3. La governanza de internet ANTONIO A. MARTINO ................................................... 334 MEMBROS DA DIRETORIA ............................................................. 351 MEMBROS EFETIVOS ...................................................................... 353 NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA AUTORES ............................ 357 FISOLOFIA SOCIAL E I TEORIA DO DIREITO 1 Lógica e ontologia das normas JULIANO SOUZA DE ALBUQUERQUE MARANHÃO Professor Doutor da USP. ÁREA DO DIREITO: Filosofia RESUMO: O presente artigo explora a rela- ABSTRACT: The present paper investigates ção entre lógica e ontologia das normas the relation between logic and the ontolo- jurídicas, a partir do postulado hermenêu- gy of legal norms, departing from the pos- tico de não-contradição em um sistema tulate of non-contradiction in a normative normativo. system assumed by legal hermeneutics. PALAVRAS-CHAVE: Lógica jurídica – Interpre- KEYWORDS: Legal logic – Interpretation – tação – Legislador racional. Rational legislator. SUMÁRIO: 1. Dialetheismo normativo – 2. Como opera o postulado de não contradição na linguagem da dogmática jurídica?: 2.1 Um exemplo de argumentação hermenêutica envolvendo contradições normativas – 3. Em busca de uma ontologia para as normas e o papel da lógica: 3.1 O dilema; 3.2 A angústia de Von Wright: 3.2.1 Duas soluções, duas ontologias; 3.2.2 Primeira solução; 3.2.3 A solução final; 3.2.4 O que criei? – 4. Wittgenstein e a noção de inferência lógica – 5. O papel das contradições normativas – 6. Compreendendo as inferências que superam as “aparentes” contradições – Bibliografia. 1. DIALETHEISMO NORMATIVO Um tema interessante para pensar a relação entre a linguagem e nossa concepção de mundo é o da possibilidade de existência de con- tradições verdadeiras (tese chamada de dialetheismo). É um impulso 8 REVISTA BRASILEIRA DE FILOSOFIA 2009— RBF 233 forte do senso comum a ideia de que alguma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, como se fosse algo determinado pela estrutura da realidade, que se refletiria na linguagem. Pelo menos, é difícil con- ceber como estariam as coisas de forma contraditória ou mesmo qual a função da linguagem ao ser usada por regras contraditórias. Aqui não falamos somente de um conceito, mas de um conceito que se aplica aos próprios conceitos ou categorias do pensamento ou da lin- guagem . A idéia de impossibilidade de contradições é uma noção funda- mental na organização de nossa interação com o mundo por meio da linguagem. Quando fazemos afirmações qualificamos o mundo de alguma forma e não de outra. Cada afirmação exclui possibilidades e é natural termos como falar das possibilidades excluídas por meio da linguagem. Se a ilusão de acesso à realidade para a constatação de contradições pode ser uma armadilha da linguagem, podemos refletir sobre o dialetheismo a partir de nossos conceitos ou categorias funda- mentais. Kant, por exemplo, chegava a admitir que categorias funda- mentais do pensamento poderiam levar a contradições, ainda que por meio do emprego de um raciocínio correto. Nesse caso, porém, a apli- cação da categoria seria ilegítima, pois efetuada fora de nosso campo de experiência sensível. Essa possibilidade de contradição entre con- ceitos fundamentais, por sua vez, para Hegel apontava para a possibi- lidade de existência de contradições efetivamente verdadeiras (para uma discussão do dialetheismo por meio do exame de paradoxos lógi- cos, ver Priest, 2006). Não é objetivo deste artigo enfrentar o dialetheismo nesse nível de profundidade e complexidade. O que pretendo fazer é apenas ten- tar entender um pouco melhor as implicações de um postulado onto- lógico da hermenêutica jurídica que sempre me intrigou: o ordenamento é necessariamente consistente. Em outras palavras, não existem contradições normativas em um ordenamento. O postulado liga-se diretamente à possibilidade de conceber o direito como um sis- tema de normas e, embora seja explicitado nas construções dogmáti- cas, também está implícito em formulações de sistemas éticos ou morais. A investigação desse postulado consiste em interessante exer- cício de ontologia normativa, o que procuraremos explorar aqui. FILOSOFIA SOCIAL E TEORIA DO DIREITO 9 O ponto curioso é que, de certa forma, o postulado é autorrefe- rente. A afirmação não se refere a um “ordenamento” ou a um “legis- lador” lá fora, mas a determinadas assunções do próprio intérprete na atribuição de sentido às formulações de normas, bem como na recons- trução do sistema jurídico, em nome de um fictício “legislador racio- nal”. Assim, é a interpretação que deve apresentar o direito de forma consistente ainda que encontre ou pressuponha que encontrará algo possivelmente inconsistente. Mas se descrevo como consistente algo inconsistente, eu, como intérprete, se pretendo descrever o que é di- reito em uma comunidade, posso ser acusado de inconsistente. O próprio postulado tem um sentido normativo para o intérpre- te. É uma diretriz para a interpretação e não a descrição de uma carac- terística necessária de ordens jurídicas. Se não um comando, pelo menos uma regra técnica sobre uma condição mínima necessária para a boa interpretação. Sendo assim, deve valer independentemente dos fatos. Mas a dogmática hermenêutica interfere no seu objeto ao iden- tificar o que é direito por meio de atribuições de sentido às formula- ções normativas, a partir de determinadas escolhas. Mas se essas escolhas respeitam a diretriz de evitar contradições, então uma con- tradição, como resultado do processo interpretativo, nunca seria direi- to, isto é, não poderia existir
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