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Empreendedor angolano aposta na construção de mini-hídricas

Por: Carlos Benedito 217 Vizualizações - 16-11-2020 19h01 - Economia

Ganda – Três fazendas agrícolas localizadas nas comunas da Ebanga e Casseque, no município da Ganda, e Makamombolo (), na província de Benguela, beneficiam já de energia eléctrica 24/24 horas, produzida por mini-hídricas concebidas e construídas pelo empreendedor angolano Cristóvão Warsclike.

As referidas unidades funcionam através de um sistema ímpar de hidro-bombagem inventado pelo empreendedor (produção de energia com pouca água).

Em declarações hoje, segunda-feira, à ANGOP, o empreendedor/inventor, também conhecido por “engenheiro do povo”, explicou que a ideia de fabrico de mini-hídricas surgiu em 2010, devido ao elevado custo dos combustíveis que alimentavam os grupos geradores da sua fazenda.

“Comecei por construir na minha fazenda uma represa, uma câmara de carga e turbina artesanal à qual, no fim, acoplei um dínamo movido por hidro-bombagem e consegui produzir 15 kaveares, que alimentam o meu empreendimento no Casseque até hoje”, esclareceu.

"O sistema funciona basicamente a partir de uma represa, câmara de carga, turbina e um dínamo acoplado, que pode produzir até acima de um megawatt em função dos caudais dos rios e das necessidades. Podemos produzir sistemas para alimentar indústrias e não só, pois construímos as turbinas em função das necessidades energéticas e a custo baixo”, disse.

Segundo o inventor, todo material utilizado na construção das mini-hídricas é de fabrico nacional, com excepção do dínamo, garantindo que a durabilidade desses empreendimentos vai além dos 100 anos.

“A manutenção de uma turbina produzida por mim gasta meio quilo de massa consistente em 20 anos, por exemplo. É energia limpa e para toda a vida, a custo muito baixo”, disse.

Usando o mesmo sistema (hidro-bombagem), Cristóvão Warsclike produziu também um novo sistema de irrigação, sem motor ou motobombas, em que a força da água faz funcionar mini aspersores e canhões aspersores que podem ser utilizados no sistema gota a gota, já em uso em diversas fazendas da província e não só.

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“O sistema de hidro-bombagem tem bastante força, podendo chegar a 17.5 bars e regar 500 ou 1000 hectares de uma só vez”, garantiu.

Apesar de ter sido visitado por membros do governo da província e outras personalidades, lamentou, no entanto, nunca ter recebido proposta no sentido de participar em projectos do Estado e replicar as suas invenções para benefício das comunidades e produtores.

Garantiu estar disponível para implementar estes projectos onde seja necessário, caso haja apoio institucional.

Para ele, com 50 mil dólares seria suficiente para colocar energia nas comunas da e da Ebanga, cujo nível de consumo da população local é baixo, contribuindo desta forma para o combate à fome e à pobreza.

“Gasta-se muito dinheiro com a aquisição de grupos geradores e combustível, que poderia ser usado para outros fins, como por exemplo a produção de asfalto para estradas, construção de escolas e hospitais”, desabafou.

O “engenheiro do povo” mostrou-se indignado com as avultadas somas de dinheiro gastas em projectos hídricos de produção de energia, dando como exemplo a montagem de uma mini- hídrica em (Belize) no valor de 18 milhões de dólares e outra semelhante no Kunge (Bié) onde foram investidos USD 27 milhões sem esta última ser concluída.

Na sua óptica, com orçamentos que vão até cinco milhões de dólares podem ser construídas mini-hídricas para alimentar municipalidades, estando já dentro desse orçamento a construção de subestações, aquisição de dínamos potentes e transportação.

“Nunca recebi nenhum apoio institucional tirando o reconhecimento do Presidente da República, João Gonçalves Lourenço, que me condecorou a sete de Novembro de 2019 pelo meu contributo ao país”, referiu.

Fez saber também que tem parceria com a Universidade Katyavala Buila, com a qual assinou um protocolo há cerca de dois anos, para dar aulas práticas a alunos do quarto ano de engenharia.

Porém, essa parceria tem encontrado constrangimentos, devido à distância de mais de 200 quilómetros de Benguela à comuna do Casseque, Ganda, onde se encontra a sua fazenda.

Cristóvão Warsclike, de 55 anos de idade, é um auto-didacta nascido na Ganda. Apesar de não ter concluído o ensino médio, está a chamar a atenção de especialistas em sistemas hídricos e académicos do país e de outras partes do mundo, tendo já recebido alemães, portugueses e cubanos que vieram conhecer de perto as suas invenções.

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