Assistência À Saúde Na Trajetória Da Primeira-Dama Sarah Kubitschek
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ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA TRAJETÓRIA DA PRIMEIRA-DAMA SARAH KUBITSCHEK Bruno Sanches Mariante da Silva Pós-doutorando em História – Universidade Estadual de Maringá [email protected] Não há na historiografia obra unicamente dedicada à figura da primeira-dama Sarah Kubitschek, tanto acerca de sua vida pessoal quanto de seu trabalho social. Desse modo, no presente texto vamos apresentar alguns traços de sua vida pessoal e de suas atividades assistenciais, através de trabalhos acadêmicos sobre sua obra social, bem como trabalhos biográficos sobre seu marido, Juscelino Kubitschek. Há no Arquivo Nacional significativo conjunto iconográfico abarcando ações do casal Kubitschek, especialmente sobre a instituição “Fundação das Pioneiras Sociais”, criada e presidida por Sarah. Dessa maneira, tais fotografias consistem em fontes valiosas para analisarmos o trabalho assistencial-filantrópico desenvolvido pela primeira-dama Sarah Kubitschek. Sarah Luísa Gomes de Lemos (1909 – 1996) nasceu em Belo Horizonte em uma família tradicional da cena política mineira. Seu pai, Jaime Gomes de Souza Lemos, foi deputado federal por mais de 30 anos, e sua mãe, Luiza Gomes de Lemos (Luiza Negrão, enquanto solteira), era filha do rico proprietário de terras Comendador José Duarte da Costa Negrão (BOJUNGA, 2010). Sarah conheceu seu futuro marido, Juscelino, em 1926, numa festa beneficente, poucos meses antes da formatura dele no curso de medicina. Já noivo de Sarah, ele decidira partir para a Europa para uma série de cursos de especialização em urologia, retornando, um ano mais tarde, em 1930, na efervescência do contexto da Revolução, comandada por Getúlio Vargas que depusera o presidente Washington Luís. Sarah e Juscelino casaram-se em dezembro de 1931, no Rio de Janeiro, pois desejam uma cerimônia íntima, o que seria impossível na capital mineira, frente à vasta articulação social da família da noiva. O casal teve duas filhas, Marcia Kubitschek, nascida em 1942, e Maristela Kubitschek, adotada pelo casal no ano de 1947, com 4 anos de idade. Bojunga (2010) e Temperini (2016) destacaram que a origem familiar de Sarah abriu a JK, jovem médico recém-formado do interior do estado, a possibilidade de integrar o pequeno universo de famílias mineiras influentes do período. Após o casamento, JK seguiu trabalhando como médico em hospitais e em sua clínica particular. No entanto, foi a interferência de Dona Luiza Lemos, mãe de Sarah, que iniciara o processo de ascensão profissional e política de Juscelino. Gustavo Capanema, então Secretário do Interior do Estado de Minas Gerais, estava empenhado na reformulação do Hospital Militar em um centro médico moderno, e para tal ele ansiava em contar com médicos renomados. Um pedido de dona Luísa Lemos, mãe de Sarah, a Gabriel Passos, seu outro genro, incluiu Juscelino na lista dos nomeados. O marido de Sarah foi encarregado de organizar o Serviço de Laboratórios e Pesquisas nos moldes do que vira na Europa, assumindo em seguida a chefia do Serviço de Urologia, no posto de capitão médico. Juscelino integrava agora o clã dos Lemos. (BOJUNGA, 2010, p.111) Antes de chegar à Presidência, Juscelino teve carreira política no estado de Minas Gerais. Em 1933, ocupou a chefia de gabinete do governador-interventor Benedito Valadares, sendo eleito Deputado federal em 1934, mas era pouco afeito à tribuna e à cena mais pública. Com o fechamento do Congresso Nacional em 1937, Juscelino retornou às atividades médicas em Belo Horizonte. Em 1940, foi nomeado, por Benedito Valadares, prefeito de Belo Horizonte. Em primeiro momento, não quisera aceitar por não compactuar com o regime ditatorial de Vargas, mas aquiesceu. Em 1945 concorrera, com sucesso, à deputado federal novamente. Em 1951, tomava posse como Governador eleito do estado de Minas Gerais e em janeiro de 1956 como Presidente do Brasil (BOJUNGA, 2010). Apesar das rusgas entre o casal - a trajetória conjugal dos Kubitschek é bastante intensa, segundo Bojunga (2010) –, Sarah Kubitscheck sempre assumira as funções de primeira-dama, especialmente a partir da eleição de JK ao Governo do estado de Minas Gerais (1951-1955) (BOJUNGA, 2010). Em 1951, por convite da primeira-dama do país, Darcy Vargas, todas as primeiras-damas estaduais retomaram às presidências das Comissões Estaduais da Legião Brasileira de Assistência, inclusive Sarah Kubitscheck em Minas Gerais. A LBA era uma instituição de assistência social criada por Darcy Vargas em 1942, no contexto do esforço brasileiro de guerra e com a função de amparar as famílias dos soldados brasileiros enviados para o combate na Europa, assim como auxiliar as famílias carentes de modo geral, tendo em vista que a carestia era pungente no período do conflito mundial. Quando Getúlio Vargas voltou ao poder em 1951, Darcy Vargas voltou também à presidência nacional da LBA e conclamou todas as primeiras- damas estaduais. O trabalho junto à LBA de Minas não impediu Sarah de criar seu próprio grupo de trabalho assistencial, em outubro de 1951. Sobre esse grupo, chamado de Voluntárias Sociais, Rosana Temperini (2016, p.82) assinalou: As voluntárias desse grupo se reuniam na garagem do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, para ajudar crianças, mães e mulheres grávidas. Em pouco tempo, a iniciativa passou também a se dedicar à educação, com a criação de escolas. Núcleos das Pioneiras foram se espalhando pelo Estado Mineiro, com dezenas de voluntárias oferecendo-se para preparar e servir merenda escolar, confeccionar uniformes para os alunos, prestar auxílio à população pobre através da distribuição de roupas, alimentos, cadeiras de rodas e aparelhos para deficientes físicos. Temperini também observou que as ações do grupo de Sarah tomaram grande destaque, especialmente, em razão da grande influência social e política que a família da primeira dama gozava no estado. Esse grupo de ação assistencial de Sarah seria transformado em “Fundação das Pioneiras Sociais” (FPS), a partir de 1956. Nesse sentido, Temperini evidenciou que “Não se deve esquecer que a credibilidade e o trânsito que a FPS teve entre o poder público, as elites, o empresariado e a mídia, certamente se deve em grande parte à origem social e à rede de relações de sua principal fundadora” (TEMPERINI, 2016, p.85). Uma análise semelhante é oferecida por Maria Lucia Mott (2001; 2005) sobre o trabalho de Pérola Byington e a Cruzada Pró-Infância em São Paulo. Pérola Byington (1879 – 1963), quando fundou a Cruzada Pró-Infância em 1930, já possuía larga experiência com trabalho voluntário na Cruz Vermelha e era casada com um importante empresário da área de eletrificação e do comércio de importação. Além disso, desfrutava de um importante prestígio entre a elite paulista. O grupo das Pioneiras Sociais, que começara como uma instituição local, restrita ao estado de Minas Gerais, é alçada ao cenário nacional quando da eleição presidencial de Juscelino. A partir de 1956, Sarah passou a ser a primeira-dama da nação e iniciou o processo de nacionalização das Pioneiras Sociais com a transferência da família Kubitschek para a capital federal. Já em março de 1956, Sarah lançara a campanha nacional da entidade, com a realização de um espetáculo teatral no Teatro Dulcina para arrecadação de fundos, que contou com larga audiência disposta a prestigiar e contribuir para a ação assistencial da primeira-dama. Segundo Temperini (2016, p.87) Em um curto espaço de tempo as Pioneiras Sociais transformaram-se em um verdadeiro complexo assistencial. Da assistência às mães, crianças e mulheres grávidas, sua área de atuação ampliou-se para as atividades médico assistenciais, atividades educacionais e atividades assistenciais na área da medicina preventiva, inclusive com o incentivo à criação de centros de pesquisas para estudo das doenças crônico degenerativas como o câncer – em especial o feminino - e as doenças cardiovasculares. Em novembro de 1957 foi inaugurado, no Rio de Janeiro, o Centro de Pesquisas Luiza Gomes de Lemos que tinha entre seus objetivos oferecer atendimento ambulatorial para prevenção e detecção precoce do câncer de colo do útero e de mama. As Pioneiras Sociais iniciaram suas atividades como um grupo de voluntárias dedicadas às atividades assistências à maternidade e infância, mas, em seguida, o grupo diversificou sua atuação e passou a também trabalhar em prol da construção de postos de puericultura, centros escolares e a fomentar o diagnóstico precoce e as pesquisas acerca de doenças crônicas e degenerativas, como o câncer. Rapidamente, a entidade passou a contar com Delegacias Regionais em dez estados brasileiros. Em 1960, a instituição inaugurou sua grande obra, até então, o Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek, já na nova capital federal, Brasília. Tratava-se de centro especialmente dedicado a prestar serviços à comunidade no campo da recuperação motora. A inspiração de Sarah para tal obra decorre, fundamentalmente, de sua experiência enquanto mãe e os problemas de coluna de sua filha Márcia e os cuidados específicos que ensejavam. Em agosto de 1956, um decreto presidencial declarou as Pioneiras Sociais como uma instituição de utilidade pública, passando, assim, a ser caracterizada como personalidade jurídica e sem fins lucrativos. Em 1960, a lei Federal nº3.376 autorizou a União a instituir uma fundação, por meio da incorporação da Sociedade Civil Associação das Pioneiras Sociais, ficando então denominada Fundação das Pioneiras Sociais (que seria extinta apenas em 1991, para dar lugar a Rede Sarah, uma rede de hospitais e centros de reabilitação). Em seu segundo artigo,