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UNIVERSIDADE FEDERAL DE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – MESTRADO EM GEOGRAFIA AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

GISELI DALLA NORA FÉLIX

ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MATO GROSSO. ESTUDO DE CASO: O PARQUE NACIONAL DO

CUIABÁ - MT 2008

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GISELI DALLA NORA FÉLIX

ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MATO GROSSO. ESTUDO DE CASO: O PARQUE NACIONAL DO JURUENA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso, requisito parcial para a obtenção do titulo de Mestre em Geografia através do Programa de Mestrado em Geografia, sob orientação do Prof. Dr. Luiz da Rosa Garcia Netto.

CUIABÁ - MT 2008

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Nora Felix, Giseli Dalla. Analise da Sustentabilidade das Unidades de Conservação em Mato Grosso. Estudo de Caso: O Parque Nacional do Juruena/Giseli Dalla Nora Felix. Cuiabá. 2008.

Xi 105 F.:Il. Dissertação (Mestrado em Geografia) Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. Programa de pós-graduação em Geografia- POSGEO.

Orientador: Prof. Dr. Luiz da Rosa Garcia Netto.

1- Unidades de conservação. 2- Parque Nacional do Juruena. 3- Sustentabilidade Legal. 4- Bacias Hidrográficas. 5- Mato Grosso.

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AGRADECIMENTOS Agradeço aos Deuses, que me deram força, garra e determinação em mais esta batalha, que estiveram me guiando, iluminando-me nos momentos de escuridão e dúvidas, que souberam me indicar o melhor caminho a seguir. Agradeço muito ao meu companheiro e amigo de todos os momentos, ao homem que soube me dizer as piores coisas de uma forma boa e positiva. A pessoa que em todos os momentos desse trabalho e da minha vida acreditou em mim muito mais que eu mesma: o meu amor Pedro Carlos Nogueira Felix. Agradeço a meus pais, sempre por colocar meus pés no chão, me trazendo à realidade. Eu não poderia deixar de fazer um agradecimento muito especial ao meu orientador, o professor Dr. Luiz da Rosa Garcia Netto que sempre de maneira incondicional apostou, e aposta em mim. O orientador não é aquele que faz o trabalho mais sim aquele que mostra o rumo que o orientando quer chegar. É aquele que mostra o detalhe que você percebeu, mas não sabe como argumentar. Obrigado pelo companheirismo e, sobretudo pela confiança no meu trabalho e no meu profissionalismo. Agradeço as contribuições da banca avaliadora formada pelo Prof. Dr. Cornélio Silvano Vilarinho Neto e a Profª. Drª. Mônica dos Santos Marçal. Agradeço também a Joelma, uma amiga e conselheira que em momentos chaves atingiu o ponto “x” das minhas indagações. Agradeço a todos os meus professores e colegas que nos bate papos e discussões, foram de fundamental importância para os “insights” deste e de outros trabalhos. Agradeço ainda a Regina, nossa querida secretária da pós- graduação por sua ajuda e competência. Agradeço aos meus “pimpolhos” Fabio e Danilo, meus queridos “filhos” que sempre tiveram compreensão nos meus momentos de stress e nervosismo. Agradeço o apoio e os materiais fornecidos pela SEPLAN, na pessoa de Ligia Camargo, á SEMA, ao IBAMA e ao PARQUE NACIONAL do JURUENA O MEU MUITO OBRIGADO! 4

“Foi atravessando os rigores do inverno que o tempo chegou à primavera”

Zalkind Piatigórsky 5

RESUMO

O mundo contemporâneo debate as questões ambientais. As universidades, academias, sociedade civil e ONGs estão discutindo vários temas ligados ao meio ambiente. Esta dissertação também trás à discussão, o meio ambiente, enfocando a sustentabilidade das unidades de conservação – UC no estado de Mato Grosso, relacionando-as com a preservação das áreas de nascentes. A abordagem que aqui se faz é, se, realmente as unidades de conservação cumprem seus papéis no contexto da preservação dos recursos naturais? A sustentabilidade das unidades de conservação aqui abordada não se refere só à sustentabilidade ambiental, mas sim a sustentabilidade legal, ou seja, a sustentação dos recursos naturais pautada na legislação ambiental, nas esferas federal e estadual. Neste sentido aborda temas como os critérios de criação de unidades de conservação, tipos de unidades de conservação, água, recursos hídricos e principalmente a preservação das áreas de nascentes no entorno das UCs. A área de estudo desta dissertação é o Parque Nacional do Juruena, unidade de conservação federal, criada em 2006 e que até hoje não possui infra-estrutura de Parque como sugere a lei do Sistema Nacional de Unidade de Conservação, o SNUC. Esta área não é diferente das demais UCs do estado, tanto as áreas federais quanto as estaduais estão praticamente abandonadas, sujeitas a invasões, exploração dos recursos naturais entre outras praticas. Ao final, sugerimos o maior envolvimento da população local, através de programas de preservação ambiental e educação ambiental, com vistas a melhorias no processo de preservação e sustentabilidade dos recursos naturais.

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ABSTRACT

The contemporary world debate environmental issues. Universities, academia, civil society and NGOs are discussing several topics related the environment. This thesis also brings to the discussion, the means environment, focusing on the sustainability of the conservation units - UC in the state of Mato Grosso, relating them to the eservation of the áreas of springs. The approach here is that is, if indeed the units of conservation fulfill their roles in the conservation of resources Natural? The sustainability of the conservation units discussed here refers not only to environmental sustainability, but the Legal sustainability, namely the support of natural resources based on environmental legislation, the federal and state levels. In this sense addresses issues such as the criteria for the creation of units conservation, types of conservation units, water, water resources and especially the preservation of the areas of sources in the surroundings of CUs. The study of this dissertation is the National Park of Juruena, federal conservation unit, created in 2006 and which until now has not infrastructure for Park as suggested by the law of the National System of Conservation Unit, the SNUC. This area is no different from other CUs the state, both areas as the federal state are virtually abandoned, subject to invasions, exploitation of resources among other natural practices. At the end, we suggest the greater involvement local people, through conservation and environmental environmental education to improve the process of preservation and sustainability of natural resources.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização do Parque Nacional do Juruena14Erro! Indicador não definido.

Figura 2: Ciclo Hidrológico...... 22

Figura 3: Principais vias de acesso a Cuiabá...... 27

Figura 4: Bacias Hidrográficas de Mato Grosso ...... 29

Figura 5: Monções do Norte de Mato Grosso...... 30

Figura. 6: Organograma das Unidades de Conservação...... 52

Figura 7: Área de Confluência dos Rios Juruena e Teles Pires ...... 73

Figura 8: Meandros do rio Juruena ...... 744

Figura 9: Rio Juruena e navegação...... 74

Figura 10: Nascentes do Entorno do Parque Nacional do Juruena...... 77

Figura 11: Salto Augusto – Rio Juruena ...... 79

Figura 12: Salto Augusto – Rio Juruena (Fotografia aérea) ...... 79

Mapa das unidades de Conservação da SEPLAN...... 99

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Situação Geral das Terras Indígenas do Brasil...... 64

Quadro 2: Sustentabilidade do Parque Nacional do Juruena ...... 80

Quadro 3: Unidades de Conservação – Reservas Federais de Proteção Integral ...... 82

Quadro 4: Unidades de Conservação – Reservas Federais de Uso Sustentável ...... 83

Quadro 5: Unidades de Conservação – Reservas Estaduais de Proteção Integral .... 85

Quadro 6: Unidades de Conservação – Reservas Estaduais de Uso Sustentável ...... 85

Quadro 7: Unidades de Conservação – Reservas Municipais de Proteção Integral .876

Quadro 8: Unidades de Conservação – Reservas Municipais de Uso Sustentável .... 87

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 11

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...... Erro! Indicador não definido.

CAPÍTULO I ...... 18 1. Abordagem Teórica ...... 18 1.1 Bacias Hidrográficas ...... 18 1.1.2 Água: continuidade de vida...... 19 1.1.3 Águas Subterrâneas ...... 21 1.1.4 Ciclo Hidrológico ou Ciclo das Águas...... 21 1.1.5 Legislação Ambiental das Águas ...... 23 1.1.6 Código das Águas de 1934 ...... 24 1.1.7 Recursos Hídricos no Estado de Mato Grosso ...... 26 1.2 Políticas Públicas ...... 33 1.3 Sustentabilidade ...... 35 1.3.1 Sustentabilidade Ambiental ...... 37 1.3.2 Sustentabilidade Legal ...... 38 1.4 Meio Ambiente ...... 39 1.4.1 Reserva Legal ...... 42 1.4.2 Reserva Legal e Área de Preservação Permanente ...... 43 1.5 Áreas de Preservação Ambiental e Unidades de Conservação ...... 44 1.5.1 Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC ...... 48 1.5.2 Tipos de Unidades de Conservação ...... 49 1.5.3 Sistema Estadual de Unidades de Conservação - SEUC ...... 53

CAPITULO II ...... 55 2. Processo de Criação das Unidades de Conservação ...... 55 2.1 Critérios de Criação das Unidades de Conservação ...... 56 2.2 Áreas em Estudo para a Criação de Unidades de Conservação em Mato Grosso62 2.3 Terras Indígenas ...... 63

CAPITULO III ...... 66 10

3. Parque Nacional do Juruena ...... 66 3.1 Estado de Mato Grosso ...... 68 3.2 Estado do Amazonas ...... 68 3.3 Uma História de Conflitos ...... 71 3.4 Características Físicas ...... 72 3.5 Parque Nacional do Juruena e o seu Entorno ...... 75 3.6 Situação atual do Parque Nacional do Juruena...... 78

CAPITULO IV ...... 812 4. ANÁLISES DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MATO GROSSO...... 82

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... Erro! Indicador não definido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 94

ANEXO...... 98

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INTRODUÇÃO

Ao observar a relação existente entre os recursos naturais (clima, hidrografia, relevo, vegetação e solos) percebe-se a necessidade de conhecer cada elemento para compreender o todo. Os recursos naturais são de suma importância para a continuidade do atual modelo de produção e por este motivo a sociedade mundial está se preocupando com a sustentabilidade destes recursos, surgindo encontros, simpósios, cúpulas mundiais sobre a sustentabilidade ambiental. O Estado de Mato Grosso apresenta um grande crescimento econômico, baseado inicialmente na monocultura e na exploração dos recursos naturais. Apresenta uma biodiversidade expressiva reconhecida mundialmente, resultante dos biomas presentes em seu território (Amazônia, Cerrado e Complexo do Pantanal), mas a atividade humana, embasada no modo capitalista de produção tem colocado em risco a manutenção desta biodiversidade. Daí a importância de criar e manter Unidades de Conservação - UCs com o intuito de preservar os recursos naturais e promover a sustentabilidade dessa biodiversidade. Atualmente há uma grande preocupação com a questão ambiental em especial o desmatamento, as queimadas e o aquecimento global. Estes problemas ambientais são decorrentes de uma longa história de exploração dos recursos naturais para o bem estar e desenvolvimento tecnológico, sustentado nos atuais modelos de produção. Estudar o meio ambiente e os fatores como a água, biodiversidade, problemas ambientais é de fundamental importância para a preservação dos mesmos. Neste contexto, as áreas de preservação ambiental (Parques nacionais e estaduais, Áreas de Proteção Ambiental, Estradas Parques, Reservas, Reservas Particulares do Patrimônio Natural - RPPNs e Estações Ecológicas) são relevantes para a manutenção da biodiversidade presente no Estado. Conhecer os tipos e segmentos das unidades de conservação verificando os seus papéis no contexto de preservação ambiental, em especial a preservação e proteção das bacias hidrográficas, torna-se imprescindível para uma análise de conjuntura e de comportamento humano, em busca do tão almejado desenvolvimento sustentável e de uma nova concepção cultural de educação ambiental. Observa-se que atualmente as unidades de conservação são tidas como áreas de preservação dos recursos naturais e somente nelas deve haver a preservação. 12

Mas, estas áreas estão circundadas por propriedades privadas. E abrigam mais de 60% das nascentes das bacias hidrográficas do Estado. Alias, este fato caracteriza o estado ainda pela existência de divisores de água da Bacia do Amazonas, do Araguaia e do Tocantins, o que gera a preocupação com a sustentabilidade dos recursos hídricos e das bacias hidrográficas. A legislação ambiental vigente hoje no País e no Estado de Mato Grosso chama a atenção, observando que as áreas de nascentes são Áreas de Preservação Permanente - APPs e afirma através do Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC, que as unidades de conservação são necessárias para a manutenção dos biomas, paisagens e recintos de grande importância natural e biológica para o País sendo criadas com o objetivo de proteção ambiental e utilização sustentável. Outro contexto interessante de ser estudado e analisado é o fato de que as áreas de nascentes são muitas, diante das poucas unidades de conservação existentes em Mato Grosso. Mas, não se discute aqui a implantação de mais UCs, mas sim, a sustentabilidade das já existentes, no sentido de preservação das bacias hidrográficas, da qualidade da água e manutenção da biodiversidade. Os rios são importantes fontes de água e alimentos de muitas comunidades indígenas e comunidades ribeirinhas além de serem utilizados para o abastecimento de cidades e vilas. Mas se as áreas de nascentes são APPs (Áreas de Preservação Permanente), por que temos hoje poluição das bacias hidrográficas por insumos agrícolas? Por que existem rios assoreados e poluídos tendo que tratar a água antes do consumo? Por que temos escassez de água em determinados locais? Quem detém o poder e o acesso a água? Estas indagações levam a pensar também na função das unidades de conservação. Quais são as funções das unidades de conservação criadas no Estado? Por que elas foram criadas? Quais os critérios que definem o tamanho e a localização destas áreas? Porque estas áreas em via de regra não abrigam as nascentes em seu entorno? De que forma a população poderia beneficiar com a criação destas áreas? Mato Grosso se caracteriza por apresentar uma forte concentração fundiária e neste sentido a criação das unidades de conservação, que situam-se, em sua maioria, em terras devolutas ou em áreas sem utilização agrícola, deixando claro que a maioria das propriedades privadas tem em suas áreas o monopólio sobre a água, ou 13

seja, o acesso a água se torna fator de continuidade de produção sendo utilizado para este fim e não a serviço de todos e pela própria sobrevivência humana. Desde a Revolução Industrial no século XVIII a natureza e os recursos que ela dispõe passaram a ser vistos ainda mais, como matéria-prima a serviço do homem e da “modernidade”. Desde então se apropria destes recursos de forma desenfreada causando sérios danos á natureza agravando dia após dia a qualidade de vida no planeta. Este quadro de utilização dos recursos naturais interferiu na sociedade começando a surgir leis e decretos, políticas públicas de modo geral visando o bem- estar da população humana. Um longo processo histórico explica a atual legislação ambiental presente hoje no Brasil e em Mato Grosso. Em cada período da Historia do Brasil e de Mato Grosso, em cada momento político e econômico o meio ambiente teve sua importância ou (des) importância. Esta dissertação tem por objetivo analisar a associação das unidades de conservação com a preservação do meio ambiente relacionando-as com as áreas de nascente, utilizando o Parque Nacional do Juruena como estudo de caso. Discute ainda a sustentabilidade destas mesmas áreas observando suas funções de acordo com a Lei do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) realizando ainda:  Levantamento de bibliografias referentes aos estudos de meio ambiente, desenvolvimento sustentável, legislação ambiental, unidades de conservação e bacias hidrográficas no estado de Mato Grosso;  Discutindo os critérios utilizados para a criação e definição das áreas das unidades de conservação no Estado esclarecendo suas funções;  Relacionando a existência das unidades de conservação com a preservação das Bacias Hidrográficas no Parque Nacional do Juruena;  Sugerindo políticas públicas que priorize a preservação das bacias hidrográficas e dinamize a sustentabilidade das áreas protegidas no Estado. O presente trabalho tem como área de estudo no Estado de Mato Grosso, o Parque Nacional do Juruena (Fig. 1), unidade de conservação classificada pelo SNUC relacionando-a as outras unidades de preservação ambiental, classificadas de acordo com a Resolução do CONAMA n° 11 de 03 de dezembro de 1987. 14

Figura 1: Localização do Parque Nacional do Juruena Fonte: IBAMA, 2008.Organização: Giseli Dalla Nora Felix, 2008.

Este trabalho está estruturado a partir da introdução e dos procedimentos metodológicos, esclarecendo os objetivos e os caminhos traçados para que esta dissertação fosse concluída. Apresenta também, 4 capítulos onde se desenvolve as idéias e as considerações sobre o tema. O capitulo I trata da abordagem teórica, discutindo a questão da água, das bacias hidrográficas, dos recursos hídricos e vai além, entrando na seara do meio ambiente relacionando as unidades de conservação com políticas públicas e discutindo ainda a sustentabilidade inovando com o termo sustentabilidade legal. O capitulo II trabalha com o processo de criação de unidades de conservação no Brasil e em Mato Grosso discutindo também a criação de novas unidades de conservação no Estado em função da lei do Zoneamento Sócio-econômico Ecológico. 15

Trabalha ainda a questão das terras indígenas no Estado de Mato Grosso. Já o capítulo III aborda o Parque Nacional do Juruena, onde discute sua lei de criação, sua localização bem como sua importância para a preservação ambiental. É o estudo de caso desta dissertação. O IV se refere às análises das Unidades de Conservação em Mato Grosso, apresentado as unidades de conservação existentes bem como sua área. Apresenta ainda a real situação do Parque Nacional do Juruena.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa cientifica exige orientação para a análise de uma problemática, de uma situação, de um caso. Esta dissertação utiliza o método qualitativo para o seu desenvolvimento. Colin (2008) argumenta que a pesquisa qualitativa é como um procedimento discursivo e significante de reformulação, de explicitação ou de teorização de um testemunho, de uma experiência ou de um fenômeno. Analisa-se aqui um caso que possivelmente é a realidade de outras unidades de conservação. A proposta de analisar a sustentabilidade das áreas protegidas está pautada no levantamento de referências bibliográficas sobre meio ambiente, políticas públicas, legislação ambiental, vigente hoje no Brasil e no Estado de Mato Grosso, unidades de conservação, bacias hidrográficas e a ocupação do solo. O levantamento desta bibliografia será de suma importância para a discussão sobre a sustentabilidade das unidades de conservação bem como das bacias hidrográficas deste Estado. Neste sentido, foram realizados levantamentos de documentos oficiais em locais como: Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso, Secretaria Estadual do Meio Ambiente - SEMA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, Secretaria de Planejamento do Estado de Mato Grosso - SEPLAN, Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e Arquivo Público do Estado de Mato Grosso, no intuito de levantar dados relevantes para a caracterização das unidades de conservação e bacias hidrográficas presentes no Estado, bem como a legislação ambiental em vigor. Ocorreram também durante o levantamento dos dados acima descritos conversas informais com técnicos e servidores do IBAMA, SEMA e SEPLAN sobre a situação atual das Unidades de Conservação no intuito verificar a realidade e como os órgãos competentes têm agido neste sentido. O Parque Nacional do Juruena que foi criado em junho de 2006 e está localizado ao norte, na divisa entre os Estado de Mato Grosso e do Amazonas, foi escolhido como estudo de caso específico e por estar em uma situação comum com os demais parques do Estado. O Parque Nacional do Juruena foi caracterizado, identificado sua infra-estrutura e o contexto atual desta unidade de conservação no Estado de Mato Grosso. Após 17

abordamos como estes assuntos são baseados nas leis, que são elaboradas visando o bem estar comum. Através das respectivas leis de criação, elencou-se as unidades de conservação existentes no Estado de Mato Grosso, sejam elas municipais estaduais ou federais, no intuito de levantar as áreas protegidas legalmente dentro do Estado e a sua situação atual. No decorrer deste trabalho realizamos conversas informais em setores ligados a administração das UCs (IBAMA, SEPLAN e SEMA) onde técnicos expressaram as dificuldades, possibilidades e a realidade deste segmento no estado. Os responsáveis pelo Parque Nacional do Juruena, lotados no IBAMA no município de á 300 km do Parque, relataram as dificuldades de acesso, a realidade das condições de trabalho e os projetos que envolvem esta UC. Após a análise de todo o material editado, apresentamos um quadro da realidade, onde questionamos se, de fato, as unidades de conservação em Mato Grosso cumprem sua função. Se a lei, que determina essas áreas, como áreas de conservação é cumprida? E, principalmente, se há um “acordo ou motivo de criação” entre as áreas de preservação e as características locais, ambientais, foram consideradas as outras áreas protegidas legalmente e o setor privado. Como parâmetro para definir a sustentabilidade da unidade de conservação levou-se em conta a função de cada unidade de conservação segundo a lei do SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Analisou-se também, a importância das UCs no que tange a conservação das bacias hidrográficas. Sabemos que se uma nascente esta localizada dentro da área de uma UC- Unidade de conservação, a possibilidade da preservação dos rios Mato-grossenses é mais viável. Ao final, apresentamos algumas sugestões que podem contribuir para o fortalecimento da política de preservação ambiental estadual.

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CAPÍTULO I

1. ABORDAGEM TEÓRICA

1.1 Bacias Hidrográficas

Estudar as bacias hidrográficas, os recursos hídricos e os seus aspectos, se faz necessário para entender a dinâmica e a relação entre esses elementos, buscando a melhor forma de utilizá-los racionalmente. Segundo Hirata, (2001) os recursos hídricos mundiais podem ser divididos em 97,5% de água salgada (mares e oceanos); 2,5% água doce subdividida em: calotas polares (68,9%); aqüíferos, (29,9%); rios e lagos (0,3%) e outros reservatórios (0,9%). Assim, apenas 1% da água doce do planeta pode ser aproveitada, ou seja, 0,007% de toda a água do planeta. A água é um recurso de vital importância para a manutenção da vida no planeta. Entretanto este recurso natural passa por um processo de depredação e esgotamento provocado pela ação do homem. As ações antrópicas são pautadas no crescimento econômico que visa o lucro, que está voltada para retirar da natureza somente o necessário para a sua sobrevivência, Assim, os recursos naturais são assumidos como máquinas de gerar lucros, colocando em discussão o que é realmente necessário para a sobrevivência humana e o que é supérfluo. Privilegiado ambientalmente, Mato Grosso possui em seus limites territoriais três dos mais importantes biomas do Brasil: a floresta Amazônica, o Cerrado e o Pantanal. Possui ainda nascentes que correm para as três maiores bacias hidrográficas do país: a bacia Amazônica, a bacia Platina e a bacia do Araguaia - Tocantins. O Estado de Mato Grosso também é conhecido por seu potencial agroexportador e também por seus índices alarmantes de queimadas e desmatamento, mas Mato Grosso sofre ainda com outro sério problema: a poluição das águas, provocados por esgotos, assoreamento, irrigação, a pesca predatória e contaminação por insumos agrícolas.

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1.1.2 Água: Continuidade de Vida.

A água é de fundamental importância para a manutenção biológica dos seres vivos, neste contexto a água é um recurso natural de uso comum. Segundo a Política Nacional de Recursos Hídricos através da Lei nº. 9.433 de 08 de janeiro de 1997, a água é um bem de domínio público, é um recurso limitado dotado de valor econômico, em situação de escassez, seu uso deve ser prioritário para consumo humano e animal. Esta política deve ainda, proporcionar o uso múltiplo das águas com sustentabilidade. A Política Nacional dos Recursos Hídricos adotou como unidade territorial de implementação a bacia hidrográfica sendo considerada a unidade de planejamento. Segundo o IBGE (1997) bacia hidrográfica, sob o ponto de vista de uso sustentado, é um sistema composto por um rio principal, pelos rios e córregos que a formam tais como: lagos, solos, subsolos, atmosfera, fauna, flora e atividades humanas. Assim estes elementos determinam o uso efetivo e interferem na qualidade e quantidade de água disponível. Chistofoletti et all (1995) define bacia hidrográfica como sendo uma área de captação de água e de precipitação demarcada por divisores topográficos, onde toda a água captada converge para um único ponto de saída, o exutório. Já para Maitelli (2005, p. 278) bacia hidrográfica é:

(...) “definida como uma área drenada por um rio e seus afluentes, de forma que todo volume de água que flui no sistema é descarregado através de um rio principal, e limitada perifericamente por unidades topográficas mais elevadas, denominadas de divisores de água ou interflúvios”.

Existem ainda as sub-bacias e micro-bacias, onde Maitelli (2005) define a primeira como sendo uma unidade menor que a bacia hidrográfica e a segunda sendo uma pequena bacia hidrográfica drenada por um afluente principal e todos os rios que nela deságuam. Outro termo muito utilizado nas discussões acerca da água é “recurso hídrico” que se refere à utilização da água como um bem econômico, que pode gerar divisas, mas nem toda água pode ser considerada um recurso hídrico, devido a sua utilização econômica. Pompeu (2002) aponta a diferença entre água e recursos hídricos:

“Água é o elemento natural, descomprometido com qualquer uso ou utilização. É o Gênero. Recursos Hídricos é a água como bem 20

econômico passível de utilização com tal fim. Por esta razão temos um Código de Água e não um Código de Recursos Hídricos. O Código, adotando o termo no seu sentido genérico, disciplina o elemento líquido com aproveitamento econômico ou não, como são os casos de produção de energia hidrelétrica, de uso para as primeiras necessidades da vida, da obrigatoriedade dos prédios inferiores receberem as água que correm naturalmente dos superiores, das águas pluviais, etc”.

Bruna (2002) diz que a água é uma substância natural descomprometida com qualquer uso ou utilização, mas passa a ser um recurso hídrico quando for passível de utilização econômica. Bruna (2002), afirma ainda que os rios e as águas que cortam um determinado território são de fundamental importância para o uso e ocupação do solo, sendo que as imediações destes locais são atrativas aos assentamentos humanos. Desta forma, cada vez mais há a utilização da água para fins econômicos. Sem a prévia preocupação com os impactos que esta utilização irá causar, podendo até extinguir nascentes e cursos d’água que alimentam os rios. Neste contexto, levanta- se a discussão acerca dos tipos de água e a legislação vigente hoje no país sobre este elemento. As águas brasileiras segundo a resolução nº 20 de 18 de junho de 1986 do Conama – Conselho Nacional do Meio Ambiente são classificadas em águas doces, águas salobras e salinas de acordo com a salinidade que é a medida da quantidade de sais existentes em massas de água naturais como oceanos, lagos, rios e aqüíferos. Esta medida é expressa em "partes-por-mil" ou o/oo - x gramas de sal em um litro de água (Hirata, 2001). Classificadas de acordo com a salinidade podem ser:  Águas doces: com salinidade igual ou inferior a 0,50‰  Águas salobras: com salinidade igual ou inferior a 0,5‰ e 30‰  Águas salinas: com salinidade igual ou inferior a 30‰. A salinidade da água é responsável por sua utilização, quanto maior a salinidade menor é seu uso. Neste contexto, a quantidade de água disponível para a utilização e manutenção humana é reduzida a menos de 0,007 % de toda a água do planeta. (Hirata, 2001). Já a Classificação Mundial das Águas (Rebouças, 2002) é feita com base no teor de sólidos dissolvidos (STD) considerando que:  Água Doce: teor de STD inferior a 1.000 mg/l; 21

 Águas Salobras: águas naturais com teor de STD entre 1.000 e 10.000 mg/l;  Águas salgadas: com teor de STD maior que 10.000 mg/l; As diversas classificações acerca da água demonstram a preocupação com a manutenção dos mesmos, pois se o homem levasse em conta a classificação da água em se despeja resíduos sem prévio tratamento, a qualidade da águas dos rios estaria adequada ao consumo e não sob o ameaça de falta de água no futuro.

1.1.3 Águas Subterrâneas

As águas subterrâneas são de suma importância para o abastecimento de cidades e vilarejos, estas águas apresentam maior qualidade de uso que as águas de superfície, segundo o relatório da Prodeagro (Mato Grosso, 1999) as águas subterrâneas são invisíveis até aparecerem em fonte, nascentes ou poços e são importantes fontes de abastecimento, por apresentarem 97% da água potável disponível no planeta. Segundo Guerra (1980) as águas subterrâneas são aquelas que se infiltram nas rochas e solos, caminhando até o nível hidrostático. Guerra (1980) afirma ainda que a certa confusão entre água vadosa e água subterrânea. Segundo ele a água vadosa é à água que se infiltra nos horizontes do solo ficando acima do nível hidrostático que é a distância entre a superfície do solo e a superfície freática em um poço. As águas subterrâneas têm sofrido forte contaminação, principalmente no Estado de Mato Grosso devido à infiltração de produtos químicos provenientes da produção agrícola, forte da economia no Estado. Esta contaminação tem provocado sérios prejuízos ao poder público que tem que investir mais em saúde e em tratamento de água.

1.1.4 Ciclo Hidrológico ou Ciclo das Águas.

A água realiza constantemente na natureza o seu ciclo de renovação através de um processo natural conhecido por: ciclo hidrológico ou ciclo das águas. Este sempre foi estudado para a compreensão do clima no planeta e hoje já se tem noção 22

de sua importância para a manutenção da água na atmosfera e na superfície terrestre. A água terrestre se recicla partir do ciclo hidrológico ou ciclo das águas. Segundo Guerra (1980) “este ciclo tem origem na evaporação. Às águas das chuvas ao caírem na superfície do solo tomam os seguintes destinos: uma parte pode infiltrar- se, outra parte pode escorrer superficialmente, e outra evaporar-se, retornando a atmosfera pra constituir um novo ciclo” (Fig 2). Á água cumpre seu papel de renovar o ar atmosférico e á água da superfície, mas quando este ciclo é quebrado, seja pela alteração da qualidade da água, seja pelo seu uso indiscriminado a superfície terrestre sente a alteração negativa deste processo.

Figura 2: O Ciclo Hidrológico. Fonte: TEIXEIRA, W; TOLEDO, M. G. M. de; FAIRCHILD, T. R. & TAIOLI, F. Decifrando a Terra.2005.

Através do ciclo hidrológico há a renovação da água presente na atmosfera e na superfície terrestre. É através deste processo natural que á água circula e se renova. Primeiro ela é evaporada pela superfície vegetada e pelos rios, lagos, oceanos, depois se condensa nas altas altitudes e retorna a superfície terrestre em forma de chuva “limpando o ar”. Ao chegar à superfície, ao solo ela pode ser infiltrada 23

formando os lençóis freáticos abastecendo as raízes das plantas e os cursos d’água interiores ou pode ser escoada superficialmente abastecendo os rios, lagos e oceanos para reiniciar seu ciclo. Mas o que seriam os lençóis freáticos? Como nascem os rios? São perguntas comuns que devem ficar bem claras, para se entender a dinâmica que envolve este bem tão precioso à vida no planeta: á água. Guerra (1980) afirma que lençol d’água, lençol freático, lençol de água subterrâneo e lençol aqüífero, possuem a mesma denominação, chamados de aqüífero que é segundo ele é a rocha cuja permeabilidade permite a retenção de água dando origem às águas interiores ou freáticas. O lençol freático segundo a Embrapa (2007) é uma superfície que delimita a zona do subsolo onde os poros estão totalmente preenchidos por água. A pressão da água nessa superfície está em equilíbrio com a pressão atmosférica. Os lençóis freáticos abastecem os mananciais e são importantes como fonte de água para a população não abastecida por rede pública. Por serem rasos são muito vulneráveis à poluição. Já o termo nascente é o mesmo que cabeceira de um rio. Segundo Guerra (1980) cabeceira é a área onde os olhos d’água dão origem a um curso fluvial, é o oposto a foz. As cabeceiras de rio são denominadas também de nascentes, fontes, minadouro, mina d’água. Geralmente não é um ponto mais uma zona considerável da superfície terrestre de vital importância para a manutenção da água e dos recursos hídricos. Com toda a problemática que envolve a água e os recursos hídricos, existe legislação a nível federal e estadual, que regulariza e discrimina o uso dos recursos hídricos. É através desta legislação que, se cumprida, haveria a manutenção deste elemento fundamental para a vida no planeta.

1.1.5 Legislação Ambiental das Águas

A legislação de modo geral é de suma importância para a organização de uma sociedade, de um território. Estas se referem aos recursos naturais e humanos. Através delas é que é feita a regularização de todas as ações humanas. Neste sentido a legislação assume um caráter especial quando se trata de defesa do meio ambiente, o homem sem o meio ambiente não existe e para a própria sobrevivência humana, para a manutenção da vida que as leis são feitas. 24

As leis devem ser cumpridas, não só por uma questão de obrigatoriedade, mas por uma questão de necessidade, todos os recursos existentes hoje provêm, direta e indiretamente da natureza. Então por que não utilizar de forma adequada estes recursos, zelando pela sua sustentabilidade? Nesta perspectiva é que a legislação ambiental no Brasil adquire caráter importante e deve ser respeitada, mas a legislação ambiental não é uma “onda” nova, um assunto atual, mas sim um assunto que é discutido a muitos séculos e que vem ganhando força em decorrência das mudanças ocorridas bruscamente no ambiente. A questão da água no Brasil é discutida desde antes da Constituição do Império. Neste mesmo período em Cuiabá, já se pensava em trazer água da região de Chapada dos Guimarães, do rio Mutuca para abastecer a cidade e suprir a seca intermitente que existia e ainda existe na Baixada Cuiabana, hoje Depressão Cuiabana. O regime das águas públicas no Brasil teve duas fases diferentes: antes e depois da Constituição do Império. Neste contexto a utilização da água necessitava de uma concessão, que ficou conhecida como Alvará de 1804, que dizia que as águas poderiam ser utilizadas por particulares para a agricultura e a indústria, mas esta situação gerou grandes conflitos até que a Constituição do Império formalizou que os direitos sobre a água são de domínio nacional e assim prevaleceu até entrar em vigor o Código de Águas de 1934. (Pompeu, 2005)

1.1.6 Código das Águas de 1934

O Código das Águas foi criado a partir do decreto nº 24.643, de 10 de Julho de 1934, considerando que para o uso das águas no Brasil a legislação vigente era obsoleta para a época, e não correspondia com as necessidades e interesses da coletividade nacional; visava acompanhar a tendência atual da época permitindo ao poder público controlar e incentivar o aproveitamento industrial das águas; levava em conta o aproveitamento hídrico para a geração de energia. Sob estas circunstâncias que se cria o Código das Águas que naquele momento, ficava sobre a jurisdição do Ministério da Agricultura. A partir de então, toda a utilização hídrica do país deve respeitar este código que define sobre a utilização e aproveitamento das águas, sobre a navegação, portos, pesca, nascentes, águas pluviais, fluviais e subterrâneas entre outros segmentos. 25

A Constituição Federal de 1988 formalizada através da Lei nº 9.433 de 08 de Janeiro de 1997, prevê a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, que regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal e altera o art. 1º da Lei nº. 8.001, de 13 de março de 1990, modificando a Lei nº. 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Esta política visa administrar o uso dos recursos hídricos idealizando a utilização sustentada para as atividades humanas, que muitas vezes não se preocupam com a continuidade dos recursos naturais. Neste contexto foi instituída a Lei nº. 9.984, de 17 de Julho de 2000 que dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Águas - ANA, entidade federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras providências. Com esta lei a ANA assume a fiscalização e monitoramento dos recursos hídricos no Brasil, cria estações de coleta de dados pluviométricos, de vazão e qualidade das águas dos rios do País. Da mesma forma que há, a legislação federal sobre os recursos hídricos há também a legislação estadual de Mato Grosso, que é amparada na Constituição Federal, Lei nº. 4.894 de 25 de setembro de 1985 que dispõe sobre a Política Estadual do Meio Ambiente. Normatiza a utilização dos recursos hídricos no Estado. Segundo o art. 26, da referida lei, “às águas das Bacias Hidrográficas do Estado somente poderão ser utilizadas pelo homem para navegação, irrigação, preservação da flora e fauna aquática, práticas desportivas ou recreativas, abastecimento de água potável e industrial e para fins energéticos”. Outra, a Lei complementar nº. 36 de 21 de novembro de 1995 dispõe sobre o Código Estadual do Meio Ambiente em concordância com o Artigo 45 da Constituição Estadual. Esta, no Artigo 77, diz que “o Estado estabelecerá diretrizes específicas para a proteção de mananciais, através de planos de uso e ocupação de áreas de drenagem de bacias e sub-bacias hidrográficas”. No Art. 78. “O Estado poderá exigir dos usuários dos recursos hídricos o automonitoramento de seus efluentes”. Já o Art. 79 argumenta que “é proibido o lançamento de águas residuárias nos cursos d’ água, quando essas não forem compatíveis com a classificação dos mesmos”. Esta classificação está baseada na quantidade de sólidos dissolvidos já citados no corpo desta dissertação. 26

Se a legislação não permite estes meios de poluição por que os rios de Mato Grosso, a cada ano que passa, sofrem mais com poluição e degradação ambiental? É a legislação falha ou a fiscalização que faz “vista grossa” às empresas que em suas ações poluem? Quem são os responsáveis pela fiscalização, ou pela poluição? O fato é que cada dia mais os rios de Mato Grosso estão sendo poluídos por dejetos industriais, esgotos domésticos, desmatamento das matas ciliares, contaminação por insumos agrícolas, a utilização irracional dos pivôs de irrigação, entre outros fortes impactos aos recursos hídricos.

1.1.7 Recursos Hídricos no Estado de Mato Grosso

O estado de Mato Grosso possui uma posição estratégica na região Centro- Oeste do Brasil e possui algumas características de destaque como:  Dispõe de três grandes biomas: Amazônia, Cerrado e Pantanal.  Abriga importantes nascentes das três maiores bacias hidrográficas do país: Amazônica, do Paraná e do Tocantins. (Fig 4);  3ª maior Estado da Federação Brasileira.  Maior produtor de grãos do Brasil. (IBGE, 2006);  Área km – 903.357,908 km²;  Capital: Cuiabá;  População estimada em 2.803.274hab. (IBGE, 2007) Mato Grosso está localizado na região Centro-Oeste da República Federativa do Brasil, no sul do continente americano. Possui como limites territoriais os Estados de Rondônia, Amazonas, Pará, Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul e faz divisa internacional com a Bolívia. É um Estado de expressiva participação nas exportações brasileiras, além de possuir biodiversidade de exuberante beleza e expressiva importância científica. Nesta perspectiva às águas e os recursos hídricos presentes em seu território, sua importância e seus principais problemas ambientais devem ser estudados e trabalhados no intuito de continuidade dos recursos naturais. A hidrografia de Mato Grosso apresenta um importante papel desde o período colonial, através deles houve a ocupação e conquista da região oeste do atual território do Brasil, através dos rios navegáveis havia a comunicação com a então capitania de São Paulo e ainda com a Metrópole Portugal. Observe a figura 3: 27

Figura 3: Principais vias de acesso a Cuiabá. Fonte: Giseli Dalla Nora Felix, 2007.

Os rios no período colonial, durante todo o império e até mesmo no início do governo de Getulio Vargas representavam verdadeiros caminhos, que além da necessidade da sobrevivência cotidiana serviu para impulsionar a fixação humana na região mais ocidental do Brasil central. A importância das águas e seus fluxos são observadas nas monções, seja do norte ou do sul (Felix, 2008), que obedecendo às curvas dos rios e as estações climáticas do momento, aventureiros buscavam melhores condições de vida. Dentre as principais características da hidrografia de Mato Grosso, destacam- se uma densa e importante rede fluvial das três maiores bacias hidrográfica do país (Fig.4). Apresenta rios de planaltos com inúmeras cachoeiras e corredeiras, 28

favorecendo a diversidade de paisagens naturais. Não possuem lagos de expressiva extensão territorial, mas lagoas fluviais, principalmente no pantanal. Possuem drenagem exorréica, ou seja, cursos d’água que deságuam em outros cursos d’água que correm para o mar (drenagem hierarquizada); Mato Grosso possui ainda os “rios que somem”, ou seja, rios que se infiltram nos solos, em terrenos de rochas calcárias e ressurgindo em outros pontos da superfície. Os rios apresentam oscilação de volume d’água de acordo cm o regime das chuvas, sendo a estação chuvosa no verão de novembro a março e a estação seca nos meses de maio a outubro. (Maitelli, 2005) O principal divisor de águas de Mato Grosso é o Planalto dos Parecis. Esta unidade geomorfológica divide as águas que correm para as três bacias hidrográficas abaixo ilustradas.

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Figura 4: Bacias Hidrográficas de Mato Grosso Fonte: IBGE, 2000 in Maitelli, 2005.

A Bacia Amazônica ocupa a porção norte - noroeste do estado de Mato Grosso, e ajuda a compor o volume de água desta importante bacia através dos afluentes presentes no Estado de Mato Grosso como os Rio Xingu, rio Teles Pires, rio Juruena, e Rio Guaporé. Extrapola os limites territoriais do Brasil tendo uma de suas nascentes no Peru. O Rio Guaporé (Fig. 5) junto com seus afluentes foi uma importante via de acesso à ocupação e desbravamento da região norte do país e de comunicação com a metrópole Portugal no século XVIII até metade do século XIX, 30

com as chamadas monções do Norte. (Povoas, 1995). Atualmente este rio esta sendo utilizado para promover a hidrovia Madeira-Amazonas.

Figura 5: Monções do Norte de Mato Grosso. Fonte: Nora, 2008.

Mas, esta bacia hidrográfica apresenta inúmeros problemas tais como, o desmatamento nas matas ciliares que promove o assoreamento de muitos rios e nascentes, as atividades garimpeiras, que lançam em suas águas o mercúrio, produto químico que envenena as águas e concorre para a extinção de espécies de peixes e outros seres vivos. 31

Outra importante bacia hidrográfica que possui nascentes no Estado de Mato Grosso é a Bacia Platina que ocupa uma pequena a porção do Estado: o sudoeste. Seus principais afluentes são o Rio Paraguai, o Rio e o Rio Cuiabá. Os rios Cuiabá e o Paraguai foram importantes no processo de ocupação da depressão cuiabana (fig. 4). A Bacia Platina sofre muito com a interferência antrópica em função do lançamento de dejetos com pouco ou quase nenhum tipo de tratamento, que polui suas águas, conseqüentemente o pantanal Mato – grossense. O Rio Cuiabá, um dos principais desta Bacia, sofre ainda com a destruição de suas matas ciliares e com o processo de assoreamento e os impactos da pecuária nesta região, pois muitos proprietários rurais abrem trilhas em matas ciliares para o gado beber água na beira de córregos e nascentes, provocando o pisoteamento destas áreas chegando até a desaparecer estes locais. Clarke e King, (2005), já haviam observado este problema:

“A região norte do Brasil apresenta abundância em águas, mas seus principais problemas estão relacionados ao saneamento básico, atividade pesqueira e além da dificuldade de manter a biodiversidade, devido aos altos índices de desmatamento e queimadas. Já na região Centro – Oeste do país. O principal desafio é a preservação e manutenção da biodiversidade do Pantanal que possui como forte atividade econômica a pecuária”.

Já a Bacia Araguaia - Tocantins, ou Bacia do Tocantins ocupa a porção sudeste para o nordeste do Estado. Os principais rios que compõem esta bacia são: os rios das Mortes, o rio Araguaia, o rio Cristalino e o rio das Garças. Miranda & Tocantins (2003) observaram que:

“A vertente do Araguaia-Tocantins tem uma área de 112.172,02 km² e uma densidade demográfica de 1,89 habitantes/ km², com predomínio da monocultura da soja, exploração de madeira, pecuária extensiva e mineração”.

Os rios de Mato Grosso sejam na bacia Amazônica, na Platina ou na Araguaia- Tocantins vêm sofrendo expressiva depredação ambiental em função da ocupação do espaço, por extensas áreas de produção agrícola. As lavouras de soja, milho, algodão utilizam insumos agrícolas para suas produções, e estes insumos são levados pelas 32

chuvas no escoamento superficial até os rios, influenciando a qualidade da água e a biodiversidade dos cursos de água de Mato Grosso.

“O consumo anual de agrotóxicos no Brasil tem sido superior a 300 mil toneladas de produtos comerciais. Expresso em quantidade de ingrediente - ativo (i.a.), são consumidas anualmente no país cerca de 130 mil toneladas; representando um aumento no consumo de agrotóxicos de 700% nos últimos 40 anos, enquanto a área agrícola aumentou 78% nesse período”. (Spadotto et al., 2007)

Com tamanha disponibilidade hídrica, Mato Grosso possui um papel importante na preservação dos recursos hídricos, por que guarda em seus limites territoriais as principais nascentes dos rios que compõem as três maiores bacias hidrográficas do País, Neste sentido entender seus processos e sua dinâmica ajuda a desmistificar que a água potável existe em abundância e assim, modificar os métodos de uso e apropriação deste recurso. Observa-se que existe uma legislação ambiental que discrimina o uso das águas, mas esta legislação fica apenas no papel ou nas páginas da internet que tratam de legislação e de meio ambiente, por que na prática os recursos hídricos são utilizados sem qualquer fiscalização e cuidados. Observa-se ainda que Mato Grosso e o Brasil de modo geral, possuem um potencial hídrico que chama a atenção e despertam interesses, mas esta particularidade do Estado está sendo cada vez mais prejudicada utilização inadequada, bem como desrespeito a leis de manutenção dos recursos hídricos. É preciso repensar o uso e ocupação dos solos, bem como a exploração dos recursos naturais que estão cada dia mais comprometidos com a exploração desenfreada da ganância humana. Uma questão séria é que os recursos hídricos e de outras áreas agricultáveis do país enfrentam é a utilização dos rios de Mato Grosso para a irrigação, Clarke e King, (2005) discutem que muitos países em desenvolvimento estão usando até 40% de suas águas doces renováveis para a irrigação, no entanto, mais da metade se perde em vazamentos durante a distribuição, nunca atingindo as plantações. Neste contexto cada vez mais se utiliza os recursos hídricos sem pensar nas conseqüências em longo prazo, que pode levar até a falta d’ água em um estado com tanto potencial hídrico. Segundo a Embrapa (2007): 33

“A agricultura tem sua parcela de influência na depredação dos recursos hídricos, uma vez que se utiliza de grande quantidade de água, principalmente nos sistemas irrigados, e também de elevadas quantidades de insumos, os quais constituem fontes potenciais de contaminação da água. Acrescente-se a isso os problemas relacionados à erosão, que promovem o assoreamento dos mananciais, diminuindo a quantidade de água disponível no meio agrícola”.

O Estado de Mato Grosso possui potencialidade hídrica para atender a sua população e suas atividades econômicas, mas a perspectiva de exploração que se identifica atualmente demonstra que este Estado não está cuidando de seus recursos, provocando alterações significativas em seus recursos naturais.

1.2 Políticas Públicas

Todas as ações devem ser pautadas nas políticas de desenvolvimento elaboradas pelas esferas federal, estadual e municipal que devem atentar para a legalidade. As políticas, programas e ações públicas interferem diretamente no cotidiano das pessoas, daí a importância de existir uma política integrada que desenvolva todos os setores humanos (saúde, educação, meio ambiente, indústria, turismo, comércio, agricultura, entre outros), apresentando uma hierarquia que perpasse por todas as esferas da administração, e que exista uma relação entre estas esferas visando tão somente o bem estar comum. Para se entender as dinâmicas que a legalidade das ações, é necessário entender o que são políticas públicas e quais as suas funções. Para Lima (2006) políticas públicas são:

“Um conjunto de normas e iniciativas governamentais visando determinados objetivos. Ao verificarmos como estas iniciativas podem melhorar a qualidade de vida, principalmente as políticas públicas ambientais e de desenvolvimento turístico estadual”.

Já para Maar (1983) “Política é, sobretudo uma atividade transformadora do real, da história. Transformação que se apresenta, há um tempo, como resultado científico, previsível e calculável.” Neste sentido estudar como estas políticas são 34

desenvolvidas e articuladas é importante para se definir e se conhecer as novas perspectivas. Segundo Rabaldi & Oliveira (2005, p. 503) política é um conjunto de diretrizes que orientam e permitem alcançar os efeitos desejados. Define-se ainda que as políticas públicas resultam nas tomadas das decisões governamentais sobre o fazer algo, ou não fazer que também é uma política. Pode ser considerado também, como um conjunto de decisões tomadas por atores políticos, consistindo na seleção de metas e meios para alcançar determinada situação. As políticas públicas podem ser entendidas como uma hierarquização de objetivos e de idéias comuns que forme uma teia de ação dos organismos públicos que desenvolvam determinado setor, em conjunto com outros setores, ou seja, todos trabalhando em função de um objetivo. O Senado Federal (2007) aponta que Políticas públicas são um conjunto de objetivos que se relacionam a segmentos ou áreas específicas da população, cuja execução depende de que sejam incluídos em programa de ação governamental. Por exemplo: Política habitacional; política de saúde; política de segurança; política do idoso. A conceituação de termos utilizados para a Constituição Brasileira como o termo “lei” é a regra a que todos são submetidos que exprime a vontade imperativa do Estado. Norma jurídica obrigatória, de efeito social, emanada do poder público competente. Ato normativo aprovado pelo Poder Legislativo e sancionado pelo Presidente da República. Constituição Federal, Art. 61 a 68. O Senado Federal (2007) possui ainda termos importantes no que tange aos atos normativos dentro da perspectiva política da administração pública. Destacamos entre eles: Decreto é um ato de natureza administrativa da competência privativa do Presidente da República. Lei complementar é considerada um Dispositivo legal destinado a regulamentar norma prevista na Constituição Federal. CF, Art. 61. Projeto de Lei pode e deve ser considerado uma proposição destinada a regular matéria inserida na competência normativa da União e pertinente às atribuições do Congresso Nacional, sujeitando-se, após aprovada, à sanção ou ao veto presidencial. RICD, Art. 109, I. Já o termo “Projeto de Lei Complementar” é uma proposição destinada a regulamentar dispositivo da Constituição, quando este não é auto-aplicável. Para sua aprovação é necessária a maioria absoluta dos votos dos membros da Câmara dos 35

Deputados. Também são exigidos dois turnos de discussão e votação. RICD, Art. 109. Ao entender o que cada ato destes acima citados corresponde, verifica-se a importância de discutir a política e o que ela influencia que estes atos têm no cotidiano da sociedade brasileira. Venosa (2007) diz que a etimologia da palavra lei apresenta duas explicações técnicas podendo ser originária do verbo legere = ler ou ainda do verbo ligare, que tem seu significado no sentido de eleger, escolher. Então segundo estes princípios lei é a escolha de uma determinada norma ou regra dentro de um conjunto, sociedade ou grupo social.

1.3 Sustentabilidade

O termo sustentabilidade expressa à idéia de algo que se pode sustentar, dar base ou simplesmente se retroalimentar e neste sentido a sustentabilidade pode ser encontrada em vários contextos humanos. Ignacy Sachs em seu livro Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável (2002) aponta que a sustentabilidade pode e deve, ser dividida em critérios. Critérios estes importantes para a continuidade das relações e contextos humanos como o social, cultural ecológico, territorial, econômico, político nacional e internacional. Estes critérios precisam ser desenvolvidos para se efetivar a tal da sustentabilidade. Ele aponta ainda que dentro do aspecto social deve-se alcançar um patamar razoável de homogeneidade social, além de distribuição de renda justa, bem como emprego pleno e/ ou autônomo, com qualidade de vida decente, tendo ainda a igualdade de acesso aos recursos e serviços sociais. Já no aspecto cultural é de suma importância que para a sustentabilidade acontecer haja mudanças no interior da continuidade, e também capacidade de autonomia para elaboração de um projeto nacional integrado e ainda acreditar que um mundo melhor é possível

Para haver sustentabilidade no setor ecológico é necessário a preservação do potencial do capital natureza na sua produção de recursos renováveis além do mais complexo de todas as ações: limitar o uso dos recursos não-renováveis; que associado com a sustentabilidade ambiental procura respeitar e realçar a capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais; 36

Em relação a sustentabilidade ainda, deve-se levar em conta as configurações urbanas e rurais balanceadas, melhoria do ambiente urbano, superação das disparidades inter-regionais e estratégias de desenvolvimento ambientalmente seguras para áreas ecologicamente frágeis. Já no aspecto de economia, para atingir-se a sustentabilidade deve haver um desenvolvimento econômico intersetorial equilibrado, capacidade de modernização contínua dos instrumentos de produção; razoável nível de autonomia na pesquisa científica e tecnológica e inserção soberana na economia internacional. Para alcançar a sustentabilidade das ações humanas e a Política (nacional) deve ter uma democracia definida em termos de apropriação universal dos direitos humanos, um desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar o projeto nacional, em parceria com todos os empreendedores e um nível razoável de coesão social. Já para a Política (internacional) tem se como objetivo a eficácia do sistema de prevenção de guerras da ONU, na garantia da paz e na promoção da cooperação internacional, a um pacote Norte-Sul de co-desenvolvimento, baseado no princípio de igualdade (regras do jogo e compartilhamento da responsabilidade de favorecimento do parceiro mais fraco), ao controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro e de negócios, ao controle institucional efetivo da aplicação do Princípio da Precaução na gestão do meio ambiente e dos recursos naturais; prevenção das mudanças globais negativas; proteção da diversidade biológica (e cultural), gestão do patrimônio global, como herança comum da humanidade e um sistema efetivo de cooperação científica e tecnológica internacional e eliminação parcial do caráter de “commodities” da ciência e tecnologia, também como propriedade da herança comum da humanidade. A sustentabilidade política é a mais relevante dentro do foco deste estudo, pois utiliza a perspectiva de trabalho gerado por órgãos governamentais, que organizam as leis e executam ações do governo construindo a realidade. Neste sentido a realidade da preservação ambiental é reflexo das ações governamentais, pois se a lei fosse seguida como deve ser, a situação do meio ambiente estaria diferente.

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1.3.1 Sustentabilidade Ambiental

Dentro da perspectiva de meio ambiente o termo sustentabilidade é de suma importância para entender a discussão sobre utilização sustentável dos recursos naturais e sobre a importância da legislação ambiental para a manutenção do mesmo. Eventos internacionais despertaram a consciência mundial e política para as questões ambientais como a Conferência de Estocolmo (1972) e a ECO-Rio 92 (1992) deste momento em diante, vários foram os eventos relacionados a preservação e ao desenvolvimento ecologicamente correto, discutindo e criando conceitos chaves para o desenvolvimento sem depredação ambiental. Um dos conceitos mais importantes desta discussão está baseado no Relatório Brundtland, ou mais conhecido com “Nosso Futuro Comum”. Este relatório traz a vista, a idéia de desenvolvimento sustentável que para eles seria a capacidade de garantir a necessidade das gerações futuras (Becker, 2002). Becker (2002) afirma que a noção de desenvolvimento sustentável vem sendo utilizada como portadora de um novo projeto para a sociedade, capaz de garantir, no presente e no futuro, a sobrevivência dos grupos sociais e da natureza. Buarque (2002, p. 58) confirma esta idéia com o seguinte argumento:

“O conceito de desenvolvimento sustentável resulta do amadurecimento das consciências e do conhecimento dos problemas sociais e ambientais e das disputas diplomáticas, mas também de várias formulações acadêmicas e técnicas que surgem durante as três últimas décadas com críticas ao economicismo e defesa do respeito ao meio ambiente e às culturas”.

Nesta argumentação observa-se o papel da sociedade neste debate e frente a este desafio, onde as ações do poder público estão ligadas a cobrança da sociedade que reflete na legislação e conseqüentemente na legalidade política, ou seja, leis que venham desempenhar controle e organização perante uma determinada sociedade vêem de encontro com as necessidades que a própria sociedade estipula. E por isso temos tantos conceitos, idéias, teorias e hipóteses sobre tantos assuntos e sobre em especial meio ambiente, desenvolvimento sustentável, sustentado entre outros. O fato de existir tantos conceitos sobre desenvolvimento sustentável mostra que as diversas visões são pautadas em fatos e casos e Soto (2002) argumenta que 38

o conceito de desenvolvimento sustentável apresenta várias versões, onde alguns autores definem que desenvolvimento sustentável é um meio que deve criar condições para atingir uma sociedade igualitária e menos injusta, já outros afirmam que este seria o próprio fim, pois quando as sociedades produzirem sem destruir os recursos terão atingido o próprio desenvolvimento sustentável. Buarque (2002, p.62) confirma esta visão, dizendo:

“A proposta de desenvolvimento sustentável é generosa, mas difícil e complexa, por envolver mudanças estruturais e contar com resistências sociais e políticas fortes, decorrentes de privilégios e hábitos consolidados, principalmente nos países e segmentos sociais privilegiados. Entretanto, o desenvolvimento sustentável encontra, atualmente, condições favoráveis que permitem considerar uma referência concreta para o desenvolvimento”.

Ele afirma ainda que há um crescimento da consciência na sociedade em relação à “insustentabilidade”, que decorre, da recusa em aceitar a pobreza e as desi- gualdades sociais observando que os custos sociais advindos do atual modo de produção. Estes complicam o controle e o atendimento das necessidades básicas de uma sociedade, mas nem tudo é negativo neste processo. Através do investimento em tecnologia a utilização dos recursos naturais evolui e induz a redução da exploração irracional dos recursos naturais não-renováveis. Esta é uma dinâmica que vem se mostrando positiva, mas muito se tem ainda que caminhar para conciliar o desenvolvimento econômico, distribuição de renda e preservação ambiental.

1.3.2 Sustentabilidade Legal

A sustentabilidade legal se refere à legalidade dada as ações antrópicas frente à sustentabilidade ambiental, ou seja, desenvolver leis que atendam as necessidades de uma sociedade pensando no futuro. Ao se deparar com as transformações na sociedade em relação à utilização dos recursos naturais, observa-se uma preocupação com a continuidade dos mesmos. Neste sentido as leis foram criadas para organizar as ações humanas não só agora, nos tempos atuais, mas desde a remota Mesopotâmia. Como argumenta Schmidt (2005) todos os habitantes da Babilônia tinham que obedecer a um conjunto de leis chamado de “Código de Hamurabi”, cujo princípio era 39

“olho por olho, dente por dente”. Este código foi instituído cerca de 1750 a. C. e segundo alguns estudiosos possuem idéias sensatas como a de pagar indenização caso uma ação humana prejudicasse outra pessoa. É interessante discutir como e por que as leis foram criadas no sentido de ordenar as atividades humanas, e por este motivo estuda-se a necessidade de discutir o termo sustentabilidade legal, pois se as leis são criadas para atender a uma demanda da sociedade conseqüentemente elas atendem a sustentabilidade que aqui se chama de legal no sentido de inserir a discussão sobre a sustentabilidade limitada ou proporcionada pelas leis. Ao proporcionar a sustentabilidade, as políticas públicas assumem a conseqüência de serem responsáveis pela manutenção dos recursos naturais, mas enquanto as leis ficam nos papéis, nos livros e artigos científicos, as ações humanas assumem o caráter de modificadoras da paisagem e das estruturas naturais presente no ambientes naturais. Por isso a perspectiva de sustentabilidade legal relaciona não apenas com o meio ambiente, mas também com todos os segmentos da sociedade. Levando em conta também que a sustentabilidade legal aqui discutida refere-se ao desenvolvimento de unidades de conservação de acordo com o que rege a lei. Por isto saber o que ela diz, significa ter uma unidade de conservação legal e sustentável, mas como ter uma unidade de conservação legal se quando criadas pelo próprio poder público, através de políticas públicas, não se levam em conta suas próprias leis? É uma resposta difícil, mas de modo pragmático pode-se dizer que as unidades de conservação são criadas de acordo com sua essência, localização e as áreas por ela circundadas, bem como pela vontade política que a cerca. Este fato ilustra os limites que a própria lei tem dentro da sociedade que a utiliza, deixando claro que ela pode e é manipulável de acordo com interesses pessoais e financeiros.

1.4 Meio Ambiente

Segundo a Constituição Federal de 1988, todos os brasileiros têm direito a um ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as futuras gerações. Define ainda que em todas as 40

unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. Assegurar a efetividade desse direito incumbe o poder público de preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. Diante dessa redação que se refere ao Artigo 225 da Constituição Federal de 1988, tem-se a dimensão dos reais objetivos do poder público em relação à preservação ambiental. Mostra que através destes objetivos se tem baseado a sustentabilidade dos recursos naturais e se cumprida a lei muitos dos problemas ambientais vividos atualmente poderiam ter sido evitados. Para Troppmair (2006) Meio Ambiente é o complexo de elementos e fatores físicos, químicos, biológicos e sociais que interagem entre si com reflexos recíprocos, que afetam de forma direta e muitas vezes visível, os seres vivos. Por isto devemos manter os recursos naturais, evitando quebrar o equilíbrio entre os agentes da natureza. Dentro desta perspectiva e baseado na sustentabilidade ambiental, na distribuição de renda e no desenvolvimento econômico, é importante verificar a dinâmica que envolve as relações homem X natureza e como ela é tratada e preservada nas relações de sociedade. A antiga Fema – Fundação Estadual do Meio Ambiente hoje Sema – Secretaria Estadual do Meio Ambiente reconhece a importância da criação de Unidades de Conservação:

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“Nosso grande desafio foi implementar uma Política Ambiental que trouxesse o desenvolvimento, a geração de empregos, melhoria na qualidade de vida e contemplasse a conservação dos recursos naturais”. (FEMA, 2002, p. 13).

Pensando nos avanços que o País teve em relação à consciência ambiental, podemos citar as legislações ambientais tais como a Lei dos Crimes Ambientais, Código das Águas, Código Florestal, Sistema Nacional de Unidades de Conservação e o Programa Nacional de Recursos Hídricos, além das Diretrizes para a Visitação em Unidades de Conservação, proposta elaborada pelo Ministério do Meio Ambiente. Neste contexto o Ministério do Meio Ambiente (2006) institui o que se pode chamar de “conceitos- bases” para ajudar no entendimento dos aspectos da natureza e dentre estes conceitos citam-se:

“Áreas Protegidas - Áreas Protegidas são áreas de terra e/ou mar especialmente dedicadas à proteção e manutenção da diversidade biológica, e de seus recursos naturais e culturais associados, manejadas por meio de instrumentos legais ou outros meios efetivos. Unidades de Conservação – UC - São espaços territoriais (incluindo seus recursos ambientais e as águas jurisdicionais) com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e com limites definidos, sob regime especial de administração, às quais se aplicam com garantias adequadas de proteção. Áreas de Preservação Permanente - são definidas pelo Código Florestal como sendo certas áreas públicas, ou particulares, nas quais a supressão total ou parcial da vegetação natural só é permitida, mediante prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando necessária a execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou de interesse social. Como exemplo: as margens dos rios; ao redor de lagoas, lagos ou reservatórios d'água; e os topos de morros, montes, montanhas e serras. Corredores Ecológicos - o termo "corredores" foi primeiramente usado por Simpson (1963) no contexto de dispersão de fauna entre os continentes. Os registros paleontológicos são um "testamento" do valor de corredores intercontinentais. Hoje em dia, o enfoque dado a corredores para reservas naturais é bem diferente. Entretanto, é interessante especular o quanto a idéia foi influenciada pela percepção anterior de que a biota se dispersa ao longo dos vales, bacias hidrográficas e outras características fisiográficas (Shafer, 1990). Leopold (1949) notou que vários animais, por razões desconhecidas, não pareciam ater-se às suas populações, porém, foi Preston (1962) que recomendou o uso de corredores entre reservas. Usados estrategicamente, os corredores e zonas de amortecimento podem mudar fundamentalmente o papel ecológico das áreas protegidas. Esses corredores serviriam para aumentar o tamanho e as chances de sobrevivência de populações pequenas, além de poderem servir como 42

possibilidades de recolonização de espécies localmente perdidas e, ainda, permitir a redução da pressão do entorno das áreas protegidas. Biomas - É uma área geográfica extensa, correspondendo às principais formações vegetais naturais”.

Segundo Miranda e Amorim (2001), definem Áreas legalmente protegidas como espaço territorial sobre o qual incidem proteções decorrentes das normas constitucionais e legais, que condicionam e/ou restringe o uso e a ocupação do solo e dos recursos naturais; Estes conceitos em comum acordo discutem e beneficiam o conhecimento científico em relação às políticas públicas, ou seja, as ações do governo que refletem no modo de vida de uma cidade, município, estado ou país. Ao se abordar os conceitos de áreas protegidas, unidades de conservação, biomas, área de preservação permanente, corredores ecológicos, percebe-se a importância de conhecer os aspectos legais dessas áreas ambientalmente protegidas e de suas funções perante as atividades humanas.

1.4.1 Reserva Legal

Segundo o Ministério do meio Ambiente, Reserva Legal é a área de cada propriedade particular onde não é permitido o corte raso da cobertura vegetal, ou seja, remover de uma determinada área todo tipo de vegetação que nela existe, deixando o solo nu. Essa área deve ter seu perímetro definido, sendo obrigatória sua averbação no registro de imóveis competente. Ainda que a área mude de titular, ou seja, desmembrada é vedada a alteração de sua destinação. Como prevê o Código Florestal, o percentual das propriedades a ser definido como reserva legal varia de acordo com as diferentes regiões do Brasil. Moreno (2005) diz que a lei n° 4.771 de 15 de setembro de 1965 determina a obrigatoriedade da área de reserva legal de no mínimo 20% da propriedade rural, no intuito de preservar a vegetação nativa presente nestas propriedades. A Reserva Legal, segundo LAGO (2006, p. 01) foi instituída por: “Ser necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e à reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade, ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas, e às Áreas de Preservação Permanente, cobertas ou não por vegetação nativa com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade 43

geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas consideradas como limitação administrativa, tendo como finalidade atender ao princípio da função social da propriedade”.

Lago (2006, p.04) Em 1989, o Código Florestal foi alterado com novas exigências. “Toda propriedade rural deveria manter uma área de “Reserva Legal” de no mínimo 20%, proibindo o corte raso e exigindo o seu registro à margem da inscrição da matrícula do imóvel, como também vedando a alteração de sua destinação no caso de transmissão ou desmembramento da área. Nas propriedades rurais, com área entre 20 e 50 hectares, os maciços de porte arbóreos, frutíferos, ornamentais e industriais seriam computados para efeitos de fixação do limite percentual da reserva permanente”.

1.4.2 Reserva Legal e Área de Preservação Permanente

O Código Florestal Brasileiro, instituído em 1965, teve como objetivo, legislar sobre as questões do meio ambiente que foi tocado em vários momentos da história do Brasil, mas nunca efetivamente concretizado. Ao ser criado o Código Florestal instituiu diversos mecanismos para o controle e preservação ambiental no País como é o caso das áreas de reserva legal e as áreas de preservação permanente. Um sério problema conceitual que enfrentamos é o fato de reserva legal ser confundida com áreas de preservação permanente. Ambas foram instituídas pela mesma lei, mas a reserva legal se refere à preservação ambiental da formação vegetal existente na área; enquanto, as áreas de preservação permanente dizem respeito à preservação das áreas localizadas as margens de córregos, nascentes, lagos e rios, bem como topos de morros, montes e montanhas, alem das áreas de entorno de rodovias e ferrovias. Essa divisão conceitual tem que ficar clara devido ao fato de serem três segmentos diferentes: Reserva legal, áreas de preservação permanente e unidades de conservação e neste sentido esclarecendo esta dinâmica pode-se discutir com tranqüilidade o que são as unidades de conservação e suas funções.

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1.5 Áreas de Preservação Ambiental e Unidades de Conservação

O tema que envolve o desenvolvimento sustentável trás consigo algumas preocupações com o discurso de preservação e conservação ambiental e se une a tantos outros conceitos dentro da dinâmica que se propõe este trabalho. Preservar é manter intacto? Conservar é utilizar de forma sustentável? Quais são as reais formas de discutir a manutenção dos recursos naturais e a sobrevivência do desenvolvimento tecnológico? Perguntas difíceis de responder, mas que remetem a áreas de preservação ambiental que são hoje ilhas do que ontem foram florestas, campos e áreas nativas. As áreas de preservação ambiental são relevantes dentro de processo de preservação dos recursos naturais, dos biomas e dos ecossistemas presentes no planeta e em especial no Brasil e por isto recebem atenção especial quanto aos seus tipos e utilidades. Giansanti (1998) discute a criação de unidades de conservação como sendo uma das atribuições do poder público e este, deve levar em conta os interesses da sociedade e neste sentido define Unidades de Conservação como:

“Áreas com características naturais de relevante valor, protegidas legalmente e mantidas sob regimes especiais de administração; trata-se de conjuntos naturais representativos, instituídos para preservação, pesquisa, educação ambiental e lazer. Basicamente, os objetivos das unidades de conservação são preservar a biodiversidade, proteger espécies raras, endêmicas ou ameaçadas de extinção, preservar os ecos sistemas, estimular o uso sustentável dos recursos e proteger paisagens naturais ou pouco alteradas. Assim, do ponto de vista do desenvolvimento sustentável, a existência dessas unidades pode estimular e fazer avançar as práticas de uso sustentável dos recursos”. (GIANSANTI. 1998, p. 90)

Estas áreas de são de suma importância para a preservação da biodiversidade existente no país. A primeira unidade de conservação criada na Brasil foi o Parque Nacional de Itatiaia em 1937, na Serra da Mantiqueira. A idéia de criar unidades de conservação já havia sido defendida por José Bonifácio de Andrada e Silva, pelo abolicionista André Rebouças (o idealizador do Parque Nacional de ltatiaia) e pelo escritor Euclides da Cunha. Giansanti (1998) afirma ainda, que era comum no final do XIX, a criação de hortos florestais, que associava a proteção ambiental com a utilização da floresta para a silvicultura. As funções destas áreas eram de resguardar a beleza cênica e garantir 45

o lazer e a recreação para as populações urbanas. A Primeira Conferência para a Proteção das Árvores no país e a elaboração do código de Caça e Pesca, código de Minas, código das Águas e código Florestal, aconteceram na década de 1930 e começaram a instituir uma legislação ambiental e preocupada com os recursos naturais. Giansanti (1998) diz que o maior impulso à criação de novas unidades de conservação surge, em 1979, com o Plano de Sistema de Unidades de Conservação no Brasil, sob a administração do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), então responsável pelos parques e reservas do país e em 1989 passa para o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, a responsabilidade de criação e administração de unidades de conservação federais do país. Atualmente as unidades de conservação federais são administradas pelo Instituto Chico Mendes da Biodiversidade – ICMBio secretaria ligada ao Ministério do Meio Ambiente. Este órgão foi criado em 28 de agosto de 2007 através da lei 11.516 para executar ações da Política Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, referentes às atribuições federais relativas à proposição, implantação, gestão, proteção, fiscalização e monitoramento das unidades de conservação instituídas pela União; executar as políticas relativas ao uso sustentável dos recursos naturais renováveis e ao apoio ao extrativismo e às populações tradicionais nas unidades de conservação de uso sustentável instituídas pela União; fomentar e executar programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade e de educação ambiental; exercer o poder de polícia ambiental para a proteção das unidades de conservação instituídas pela União; promover e executar, em articulação com os demais órgãos e entidades envolvidos, programas recreacionais, de uso público e de ecoturismo nas unidades de conservação, onde estas atividades sejam permitidas. Muitos são os órgãos governamentais que cuidam das unidades de conservação, pois os mesmos podem ser criados e administrados pelo governo Federal, Estadual e Municipal e ainda tem a possibilidade de criação de áreas de preservação particulares. Até 1998 as unidades de conservação no Brasil podiam ser classificadas em Parques Nacionais, Reservas Biológicas, Estações Ecológicas, Florestas Nacionais, Áreas de Proteção Ambiental (APAs) Reservas Extrativistas, Áreas de Relevante 46

Interesse Ecológico, Áreas de Proteção Ambiental e Áreas Tombadas além e claro das Terras Indígenas e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). Conforme definição de Giansanti (1998, p. 92). Parques Nacionais: São áreas de extensão considerável, definidas pelo Código Florestal de 1965, criadas pelo poder público com a finalidade de preservação ecológica e proteção de espécies raras, recursos hídricos e estruturas geológicas. Destinam-se ao lazer e à recreação, a pesquisas e à educação ambiental, estando vedadas quaisquer possibilidades de exploração ou extração de recursos. Reservas Biológicas: Caracterizam-se por conter ecossistemas ou exemplares de fauna e flora de significativa importância biológica. São áreas de extensão variável, criadas em terras públicas, fechadas à visitação (exceção feita a grupos de pesquisadores autorizados) e com restrição total a qualquer forma de exploração de recursos. Estações ecológicas: São áreas de porções significativas de ecossistemas naturais, criadas por lei federal de 1981, destinadas a pesquisa, proteção e educação ambiental. Pelo menos 90% de sua área devem voltar-se à preservação integral, destinando-se o restante às atividades de pesquisa e educação. Florestas Nacionais: Também criadas pelo Código Florestal de 1965, localizam-se principalmente na região norte do país. São áreas de grande extensão recobertas por matas nativas. Destinam-se ao uso sustentado de madeiras e outros produtos florestais, à proteção de recursos hídricos, ao manejo de fauna silvestre, ao lazer e à recreação. Áreas de Proteção Ambiental: As APAs são unidades de conservação criadas para conservar a vida silvestre, os recursos naturais e os bancos genéticos, além de preservar a qualidade de vida dos habitantes locais. Envolvem áreas com densidade de ocupação, dependendo do zoneamento ambiental e da participação da população para alcançar seus objetivos. Podem ser de âmbito federal ou estadual. Reservas Extrativistas: Previstas pela Lei 7. 804/89, as reservas extrativistas são áreas da União usadas mediante concessão, sob regulamentação dos governos federal e estadual. Não há títulos individuais de propriedade. Nelas, grupos e culturas tradicionais dedicam-se à extração de produtos de valor comercial, como o látex, a castanha-do-pará e óleos vegetais, além da caça e da pesca não predatórias e roça. 47

Outros autores e órgãos competentes possuem outras definições como a resolução do CONAMA n° 11 de 03 de dezembro de 1987 classifica-se as unidades de conservação em:

 Estações ecológicas;  Reservas ecológicas;  Áreas de Proteção ambiental, especialmente suas zonas de vida silvestre e os corredores ecológicos;  Parques Nacionais, Estaduais e Municipais;  Reservas Biológicas;  Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais;  Monumentos Naturais;  Jardins Botânicos;  Jardins zoológicos;  Hortos Florestais.

Miranda e Amorim (p.24, 2001), argumentam que as unidades de conservação do Estado podem ser classificadas em:

 Parque nacional: área geográfica extensa e delimitada, dotada de atributos excepcionais com o objetivo de preservação permanente, submetida às condições de inalienabilidade e indisponibilidade no seu todo, proibida qualquer forma de exploração de seus recursos naturais;  Parque estadual: bens dos Estados, criados para proteção e preservação permanente de áreas dotadas de excepcionais atributos da natureza, ou de valor científico ou histórico, postos a disposição do povo;  Estrada parque: parque linear que compreende a totalidade ou parte das rodovias de alto valor panorâmico, cultural ou recreativo, com o objetivo de manter todas ou partes das rodovias e sua paisagem em estado natural, seminatural ou culturalmente integral, e proporcionar uso recreativo e educativo;  Área de proteção ambiental: unidade de conservação que visa a proteção da vida silvestre, manutenção de bancos genéticos e espécies raras de biota regional, mananciais e coleções hídricas, demais recursos naturais, através da adequação e orientação das atividades humanas;  Estação ecológica: florestas e demais formas de vegetação natural, publica ou particular, de preservação 48

permanente, situadas ao longo dos rios ou qualquer curso d’água, ao redor de lagos e etc.  Reserva extrativista: área que corresponde a espaços territoriais destinados a exploração auto-sustentável e conservação dos recursos naturais renováveis;  Reserva particular do patrimônio natural: área de domínio privado a ser especialmente protegida, objetivando preservar e conservar amostras dos ecossistemas brasileiros por ser considerada de relevante importância pela sua biodiversidade, ou pelos aspectos paisagísticos, ou ainda por suas características ambientais que justifiquem ações de recuperação.

As denominações apresentadas pelos autores sugerem o interesse em se estudar unidades de conservação e sua importância no contexto de manutenção da biodiversidade do planeta. Associá-las a preservação direta dos recursos hídricos, em especial áreas de nascentes, definem e auxiliam na preservação e manutenção dos recursos naturais preciosos para a manutenção da vida humana no planeta. Em 2000, oficializou –se conceitos e definições das unidades de conservação no País com o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação criado pelo Ministério do Meio Ambiente.

1.5.1 Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC

O trato com tema Unidades de Conservação – UCs é muito amplo e complexo, pois envolve políticas públicas, meio ambiente, áreas de reservas legais, áreas de proteção permanente e terras indígenas. Neste sentido a interação sociedade e espaço ganha papel de destaque, pois a ação humana cria e recria os ambientes de acordo com a vontade e conveniência relacionadas a estas ações. Para isto foi instituído no Brasil, em 18 de julho de 2000, a Lei Nº 9.985 que visa ordenar as áreas protegidas, nos níveis federal, estadual e municipal. Os objetivos do SNUC, de acordo com o disposto na Lei, são: contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais; proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais; promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento; proteger paisagens naturais e pouco alteradas de 49

notável beleza cênica; proteger as características de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, paleontológica e cultural; proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos; recuperar ou restaurar ecossistemas degradados. Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental; valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; favorecer condições de promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento, sua cultura e promovendo-as social e economicamente. (SNUC, 2000) O Sistema Nacional de Unidades de Conservação divide as unidades de conservação em dois tipos de acordo com sua função e uso e assim temos Unidades de Proteção integral e Unidades de Uso Sustentável (MMA, 2007).

1.5.2 Tipos de Unidades de Conservação

As Unidades de Conservação instituídas pelo SNUC (SNUC, 2006) são classificadas em dois segmentos (Fig. 6): Unidades de Proteção Integral cujo objetivo básico dessas unidades é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, ou seja, atividades educacionais, científicas e recreativas. E este grupo é formado pela Estação Ecológica - Tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas. É de posse e domínio públicos. Reserva Biológica- Tem como objetivo a proteção integral da biota e demais tributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais. Parque Nacional - Tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. É de posse e domínio públicos. Monumento Natural - Tem como objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. Pode ser constituído por áreas particulares e Refúgio de Vida Silvestre - Tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória. 50

Já as Unidades de Uso Sustentável têm por objetivo é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. E fazem parte deste grupo: Área de Proteção Ambiental (APA) - Área extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem- estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. É constituída por terras públicas ou privada. Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) - É uma área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da biota regional, e tem como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza. É constituída por terras públicas ou privada. Floresta Nacional (FLONA) - É uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas. É de posse e domínio públicos. Reserva Extrativista (RESEX) - É uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementariamente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. É de domínio público com seu uso concedido às populações extrativistas tradicionais. Reserva de Fauna - É uma área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos sobre manejo econômico sustentável de recursos faunísticos. É de posse e domínio públicos. Reserva de Desenvolvimento Sustentável - É uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica. É de domínio público. Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) - É uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica 51

Conhecendo e estudando melhor cada função das unidades de conservação a possibilidade de preservar e utilizar de forma racional os recursos naturais gera melhoria na qualidade de vida e no meio ambiente.

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Fig. 6: Organograma das Unidades de Conservação. Fonte: sdn/organização Giseli Dalla Nora Felix, 2008.

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1.5.3 Sistema Estadual de Unidades de Conservação - SEUC

Através da Política Estadual do Meio Ambiente criada pela lei n° 4.894 de 25 de setembro de 1985 e também pelos decretos n° 1981 e n° 1986 de 23 de abril de 1986, surge então o primeiro instrumento legal preocupado com a preservação ambiental de Mato Grosso. Este instrumento legisla sobre a proteção das águas, proteção do ar, proteção do solo, e proteção das áreas de lazer deixando claro que neste primeiro momento quase não existia preocupação com a manutenção das unidades de conservação em Mato Grosso, mas isto não era apenas privilégio deste estado, mas de todo o restante do país. A preocupação ambiental e a criação das unidades de conservação só passaram a ganhar destaque no Brasil após a conferência de meio ambiente conhecida mundialmente como RIO-ECO 92, e a partir deste momento a busca de alternativas para a mudança de ideologia e vários grupos ambientalistas ganhou força dentro do País. Mato Grosso só descobriu a importância da preservação ambiental bem recentemente, quando a pressão internacional começou a cobrar mais efetivamente dos governantes, atitudes como políticas que protejam e preservem os recursos naturais. Uma prova deste fato é que somente em 1995 cria-se o Código Ambiental do Estado de Mato Grosso através da lei complementar n° 38 de 21 de novembro de 1995. Neste, percebe-se a evolução do Estado frente às questões ambientais, pois o mesmo estrutura uma hierarquia desde o principio da Política Estadual do Meio Ambiente, como o Sistema Estadual do Meio Ambiente, o Fundo, o Zoneamento Ambiental, o Licenciamento Ambiental, os setores ambientais alem das penalidades e infrações. Mas, desta lei vamos nos ater ao Sistema Estadual de Unidades de Conservação foco desta dissertação. O Sistema Estadual de Unidades de Conservação de Mato Grosso está presente no Código Ambiental de Mato Grosso instituído através da Lei Complementar N°. 38 de 21 de novembro de 1995 e Assad (2007) que em seu livro trabalha a legislação ambiental de Mato Grosso argumenta que o Sistema Estadual de Unidades de Conservação é formado por sete artigos que demonstra a preocupação ambiental do Estado. 54

O Artigo 32 apresenta o objetivo deste sistema, que é proteger espaços territoriais que possuem patrimônios biofísicos e culturais em seu território; O artigo 33 institui que o CONSEMA – Conselho Estadual de Meio Ambiente fixa as regras para uso, ocupação e manejo das áreas presentes no SEUC. Institui ainda que as unidades de conservação estaduais podem cobrar ingresso com o intuito de limitar a visitação e arrecadar recursos para a manutenção desta área; O artigo 34 se refere as áreas privadas que são consideradas de utilidade pública para fins de desapropriação que serão transformadas em Unidades de Conservação. Nestas áreas não será permitido nenhuma atividade que prejudique a integridade dos recursos naturais nela disponíveis; A artigo 35 diz que as áreas que apresentam características significativas dos ecossistemas locais, devem ser consideradas não podendo ser cedidas sob nenhuma circunstância e só podem ser utilizadas como unidades de conservação; O artigo 36 se refere à obrigatoriedade da todos os mapas, e documentos oficiais do Estado de apresentarem as áreas tidas como unidades de conservação para o conhecimento de todos; O Artigo 37 garante a criação de unidades de conservação (jardins botânicos e museus) no intuito de pesquisa e educação ambiental. Estas áreas são de suma importância, pois a pesquisa que se desenvolve resulta em conhecimento científico que resulta em tecnologia para a convivência humana, porém este é um benefício que se desvirtuado pode gerar mais exploração aos recursos naturais. Pesquisa é importante, mas ela deve estar voltada para a utilização racional – sustentável dos recursos naturais; No Artigo 38 que trata sobre o SEUC, é apresentado o argumento em que o Estado de Mato Grosso criará e estimulará os centros de reabilitação e reintrodução no habitat de origem os animais silvestres que sofreram algum tipo de agressão. Ao verificar a importância da legislação ambiental, se observa que a mesma apresenta fatores que contribuem para a construção de uma sociedade justa e igualitária, pautada na sustentabilidade de suas ações sejam elas no tocante ao meio ambiente ou a sociedade como um todo. Neste contexto a legislação ambiental deve pautar todas as atividades humanas para que os recursos naturais auxiliem a continuidade das mesmas, por isto conhecer a legislação ambiental sobre as unidades de conservação é fundamental para a manutenção destas áreas e conseqüentemente de “pedaços” de ecossistemas que ainda resistem às ações antrópicas.

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CAPITULO II

2. PROCESSO DE CRIAÇÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

A perspectiva da exploração dos recursos naturais sempre gerou preocupações ao longo da história. Platão, já observava o papel das florestas para a regulação do ciclo da água, e já dizia que “deveria se preservar estas áreas para manter o equilíbrio na natureza”. Esta concepção fez com que muitos estudiosos olhassem com muita cautela a exploração dos recursos naturais e prevessem grandes impactos ambientais. O Ministério do Meio Ambiente do Brasil (2007) argumenta em sua justificativa de existir enquanto órgão governamental, que desde o início da civilização, os povos reconheceram a existência de sítios geográficos com características especiais e tomaram medidas para protegê-los. Esses sítios estavam associados a mitos, fatos históricos marcantes e à proteção de fontes de água, caça, plantas medicinais e outros recursos naturais. Diz ainda que o acesso e o uso dessas áreas eram controlados por tabus, normas legais e outros instrumentos de controle social. O conceito moderno de unidade de conservação (UC) surgiu com a criação do Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA, em 1872. Dentre os objetivos que levaram à criação desse Parque pode-se citar a preservação de atributos cênicos, a significação histórica e o potencial para atividades de lazer. Diz-se ainda que a partir da criação deste parque houve a racionalização no processo de colonização do oeste americano, quando, inclusive, ocorreu a criação de diversas outras unidades de conservação. O Ministério do Meio Ambiente (2007) observa que, na Europa, após muitos anos de exploração não sobrou muito que proteger dos ecossistemas daquele continente, daí desenvolveu-se um conceito de área natural protegida. No entanto, a paisagem modificada ainda apresentava importantes atributos de beleza cênica, e estava sendo ameaçada pelo crescimento urbano e pela agricultura de produção em larga escala. Existiam poucas áreas de domínio público, e o preço da terra tornava inviável a desapropriação para a criação de unidades de conservação. Essa realidade mudou a concepção e a legislação de alguns países, que passaram a buscar a conservação da biodiversidade como um objetivo. Mas foi 56

apenas a partir de meados do século XX que a conservação da biodiversidade se tornou um objetivo explícito das unidades de conservação. No Brasil, a primeira iniciativa para a criação de uma área protegida ocorreu em 1876, como sugestão do Eng. André Rebouças (inspirado na criação do Parque de Yellowstone) de se criar dois parques nacionais: um em Sete Quedas e outro na Ilha do Bananal. No entanto, apenas em 1937 este fato começou a ocorrer no Brasil com a criação do primeiro parque nacional brasileiro: o Parque Nacional de Itatiaia. Este breve histórico mostra que existem inúmeros motivos para se criar uma unidade de conservação da biodiversidade, mas existem mais motivos para não criarem, e um deles diz respeito à falta de planejamento e de critérios para criação de UCs. Neste trabalho pretendemos discutir os critérios de criação que algumas entidades levam em consideração para a criação de uma unidade de conservação.

2.1 Critérios de Criação das Unidades de Conservação

Ao se criar ou implantar uma unidade de conservação muitos são os objetivos e critérios a serem analisados pelos órgãos responsáveis por este segmento. O IBAMA e o Ministério do Meio Ambiente possuem critérios diferenciados para criar e implementar uma unidade de conservação. Os órgãos estaduais e municipais seguem esta linha, mas apresentam diferenciações em seus critérios, o que faz com que se tenham tantas unidades de conservação com diferentes objetivos e funções e principalmente com áreas diferenciadas. O IBAMA surgiu com a extinção do IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal em 1989 assumiu a função de organizar, gerenciar e planejar as unidades de conservação presentes no país. Segundo este órgão para uma área ser considerada apropriada para a criação de uma unidade de conservação, deve-se discutir posteriormente a qual nível do poder público ela deverá ser subordinada. Alguns critérios podem ser sugeridos, apesar deles não serem rígidos. O Guia do Chefe (Manual de Apoio ao Gerenciamento de unidades de Conservação Federal, 2001) apresenta um roteiro de criação de unidades de conservação. Para o IBAMA uma das formas de garantir a conservação da diversidade biológica de um país é o estabelecimento de um sistema de áreas protegidas. No Brasil, as áreas protegidas incluem as áreas de proteção permanente, as reservas legais, as reservas indígenas e as unidades de conservação. As unidades 57

de conservação constituem-se em uma categoria de área protegida mais específica e efetiva. Elas devem como características: ser um espaço territorial que destaca-se por possuir um conjunto "único" ou representativo das características naturais consideradas como relevantes; ser legalmente instituída para a proteção da natureza, com objetivos e limites definidos; possuir um regime específico de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção; ser permanente. Ainda, segundo o IBAMA (2001) a escolha de uma área para a implantação de uma nova unidade de conservação não é um tema trivial e tem sido objeto de sucessivos debates. No passado, a escolha de uma área era feita basicamente com base em aspectos cênicos e, principalmente, na disponibilidade de terra. Várias unidades de conservação no mundo foram criadas a partir desta perspectiva. Com o avanço do conhecimento sobre a diversidade biológica e com a fundamentação teórica da moderna biologia da conservação, a antiga estratégia tem sido bastante criticada. A razão principal é que nenhum dos dois critérios utilizados poderia ser considerado razoável do ponto de vista científico, pois beleza cênica e disponibilidade de terra nem sempre indicam aquelas áreas como as mais preciosas para a conservação da biodiversidade. Deve-se levar em conta a conservação de áreas que apresentem espécies símbolos, geralmente de grande porte, que sensibilizam o público, em geral, e as autoridades; alta riqueza de espécies; alta concentração de espécies endêmicas, ou seja, de espécies que possuem uma distribuição geográfica bastante restrita e alta concentração de espécies ameaçadas de extinção. Dentre as áreas a serem escolhidas como unidades de conservação é necessário que técnicos especializados visitem a área, coletem dados e verifiquem:

 Estado de conservação da área. Uma unidade de conservação deve possuir grande parte de sua área coberta pela vegetação natural da região, com pouca ou quase nenhuma modificação antrópica.  Presença de espécies raras, endêmicas ou ameaçadas de extinção. Estas espécies são possivelmente as que desapareceriam primeiro caso as modificações em seus habitats continuasse. Assim, elas devem ser consideradas como prioritárias para a conservação. Somente um especialista poderá dizer se a espécie é rara ou endêmica.  Representatividade da região ecológica natural, ou seja, quanto da variação ambiental existente na região ecológica natural (ou ecorregião) está representado na Unidade proposta.  Complementaridade ao atual Sistema de Unidades de Conservação. Esta medida indica como a unidade de conservação 58

proposta contribuirá para a conservação de ecossistemas ou paisagens ainda não protegidas dentro de uma determinada região ecológica natural.  Diversidade de ecossistemas e de espécies.  Área disponível para implantação de uma unidade de conservação.  Valor histórico, cultural, antropológico e beleza cênica. Esta é uma medida que indica a presença e a quantidade de sítios de grande beleza e valor histórico, cultural e antropológico.  Grau das pressões humanas sobre a área.  Situação fundiária ou viabilidade de regularização fundiária.

Estes critérios tendem a organizar e a diferenciar o tipo de unidade de conservação que aquela determinada área exige, neste contexto deve-se levar em conta também dentre os critérios de conservação, os recursos hídricos são importantes para a manutenção destas áreas. Sem os recursos hídricos não se teria condições de ter belezas cênicas como cachoeiras, corredeiras e água mineral. Para o IBAMA (2001) uma unidade de conservação federal a área deve reunir algumas características, dentre elas os limites desta unidade de conservação incluindo mais de um estado, deve proteger as bacias hidrográficas de importância nacional; possuir grande extensão em relação a área ainda intacta do bioma; ter a presença confirmada de espécies de animais ou plantas ameaçadas de extinção protegidas por legislação federal; incluir ecossistemas relevantes em nível nacional; atuar como corredor ecológico conectando duas ou mais unidades de conservação já existentes ou ainda abrigar elementos de valor histórico, cultural ou antropológico de interesse nacional ou grande beleza cênica. Por outro lado, se a unidade de conservação for de caráter estadual deverá se levar em conta alguns fatores como estar localizada dentro dos limites de dois ou mais municípios; ter a presença confirmada de espécies de animais e/ou plantas raras ou ameaçadas de extinção e protegidas por legislação estadual e/ou federal; incluir ecossistemas relevantes em nível regional ou estadual; proteger bacias hidrográficas importantes para um conjunto de municípios; atuar como corredor ecológico conectando duas ou mais unidades de conservação já existentes, e abrigar elementos de valor histórico, cultural ou antropológico de interesse estadual ou grande beleza cênica. Já para uma área ser considerada unidade de conservação municipal, ela deverá ter como critérios de criação entres outros fatores o de proteger ecossistemas 59

relevantes em nível municipal; proteger bacias hidrográficas; atuar como corredor ecológico conectando duas ou mais unidades de conservação já existentes; e abrigar elementos de valor cênico, histórico, cultural ou antropológico de interesse municipal. Mas, ao se observar a forma que as diversas esferas do governo trabalham a questão ambiental e unidades de conservação, percebe-se que os mesmos não possuem um discurso único o que gera contradições, ações diferenciadas e choques entre estes organismos. Tal fato mostra que cada órgão governamental tem critérios para a criação de unidades de conservação e manutenção dessas áreas e neste contexto defronta-se com vários momentos diferenciados criando um ambiente em quem muitos são os responsáveis, mas poucos realmente realizam a ação. Os três níveis governamentais propõem a preservação, das bacias hidrográficas, mas com enfoques diferentes o que gera contradições e “brechas” na lei. Além disso, se os três níveis de governo visam à proteção ambiental, visam à proteção das bacias hidrográficas, porque atualmente, se enfrenta problemas ambientais como poluição das mesmas, com insumos agrícolas, desmatamento, queimadas entre outros. Por mais que os três níveis se preocupem, em forma de leis, na preservação dos recursos naturais, efetivamente pouco ou quase nada tem se feito, de fato, para esta preservação. O Ministério de Meio Ambiente (2007) tem um roteiro para a criação das unidades de conservação sob jurisdição federal, levando em conta os seguintes fatores:

 Identificação da demanda pela criação da unidade: sociedade civil, comunidade científica, poder público, etc.;  Elaboração dos Estudos Técnicos: poder público por meio de seus órgãos executores ou por meio de consultorias contratadas; Vistoria da área;  Levantamento de dados planimétricos e geográficos; Laudo acerca dos fatores bióticos e abióticos da área; Levantamento Sócio-econômico;  Presença de comunidades indígenas e tradicionais; Diagnóstico das ações antrópicas, como formas de uso do solo;  Elaboração do Diagnóstico Fundiário dos imóveis;  Levantamento da cadeia sucessória dos imóveis; Identificação das áreas de domínio público e privado; Avaliação do valor de mercado de 1 ha de terra na região; Elaboração da Base Cartográfica abrangendo;  Limites políticos; Fitofisionomia; Hidrografia; Uso do solo; Altimetria; Malha viária; 60

 Áreas sob alguma forma de proteção (Terras Indígenas, Unidades de Conservação, Áreas de Mineração e Áreas das Forças Armadas);  Encaminhamento ao Órgão de Meio Ambiente (Ministério do Meio Ambiente; Secretarias Estaduais e Municipais de Meio Ambiente) para a elaboração de pareceres técnico e jurídico;  Encaminhamento a outros órgãos da estrutura do Poder Executivo, que tenham algum tipo de interesse alcançado pela criação da Unidade;  Realização de Audiência Pública;  Encaminhamento, ao Chefe do Poder Executivo, dos seguintes documentos;  Solicitação dos moradores, em se tratando de Reservas Extrativistas ou de Desenvolvimento Sustentável;  Estudo Técnico que justifique e embase a criação da UC;  Pareceres Técnicos e Jurídicos elaborados pelo Órgão de Meio Ambiente;  Manifestação dos outros órgãos públicos interessados;  Ata da Audiência Pública realizada;  Minuta do Decreto de declaração da área como sendo de utilidade pública para fins de desapropriação, com a expeditiva Exposição de Motivos;  Minuta do Decreto de criação da Unidade, ou do Projeto de Lei a ser enviado ao Poder Legislativo, com a respectiva Exposição de Motivos;  Assinatura e publicação dos Decretos, ou envio do Projeto de Lei ao Poder Legislativo.

Como já foi dito, para se criar uma unidade de conservação de acordo com os critérios de Ministério de Meio Ambiente, o mesmo se divergem dos critérios já apresentados do IBAMA. Dois órgãos federais que agem de forma diferenciada sobre o mesmo contexto preservação dos recursos naturais. O fato de que vários segmentos terem visões diferentes sobre o mesmo aspecto de preservação dos recursos naturais mostra que se pode preservar, mas com abordagens diferentes e se pode também ter várias unidades de conservação com características diferentes. Cesar et all (2003) aponta que para existir unidades de conservação que realmente conservem deve-se levar em conta alguns fatores, mas ele afirma ainda que por mais que se apresente critérios de criação de unidades de conservação nada em relação a este tema é novo e sim mal gerenciado e mal planejado, haja vista que para se preservar as unidades de conservação é só cumprir a legislação ambiental deste segmento que com certeza se tem ambientes preservados, conservados e utilizados racionalmente. 61

Cezar afirma que entre os fatores que se deve levar em conta estão os estudos preliminares dos atributos biofísicos tais como os fatores biológicos com espécies raras, endêmicas entre outras. Os fatores ecológicos relacionados aos ecossistemas e habitats alem dos fatores físicos como clima, relevo, hidrografia, pedologia e vegetação. Além dos fatores físicos deve-se levar em consideração os fatores políticos como a estrutura fundiária da área, ou seja, os proprietários da área que se pretende instituir a unidade de conservação. Fora estes fatores, existem ainda os fatores socioeconômicos que devem ser levados em consideração para a aplicação e sustentabilidade de uma unidade de conservação que estão relacionados com o uso e ocupação do solo, a população residente na área, os serviços da área como saúde e educação e ainda a autorização, a aprovação ou não da população ali residente. Tais fatores mostram que por mais que se tente criar uma unidade de conservação deve-se levar em conta diversos fatores envolvidos da sociedade pois a mesma é que vai preservá-la ou não. Outros segmentos dentro das unidades de conservação também são importantes em discutir haja vista sua importância neste segmento como as RPPNs ou Reserva Particular do Patrimônio Natural e quem define estes critérios de criação das RPPNs é o IBAMA (2008) que argumenta:

“Desde o antigo Código Florestal de 1934, já estava previsto o estabelecimento de áreas particulares protegidas no Brasil. Nesta época, estas áreas eram chamadas de “florestas protetoras”. Tais “florestas” permaneciam de posse e domínio do proprietário e eram inalienáveis. Em 1965, foi instituído um novo Código Florestal e a categoria “florestas protetoras” desapareceu, mas ainda permaneceu a possibilidade do proprietário de floresta não preservada, nos termos desse novo Código, gravá-la com perpetuidade. Isso consistia na assinatura de um termo perante a autoridade florestal e na averbação à margem da inscrição no Registro Público”.

Após, em 1977, quando alguns proprietários procuraram o IBAMA desejando transformar parte de seus imóveis em reservas particulares, foi editada a Portaria 327/77, do extinto IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, criando os locais chamados refúgio particulares de animais nativos – REPAN, que mais tarde foi substituída pela Portaria 217/88 que lhes deu o novo nome de Reservas Particulares de Fauna e Flora. 62

Com essa experiência mostrou-se a necessidade de um mecanismo melhor definido com uma regulamentação mais detalhada para as áreas protegidas privadas. Assim, em 1990, surgiu o Decreto nº 98.914 regulamentando esse tipo de iniciativa que, em 1996, foi substituído pelo Decreto nº 1.922, sendo que, em 2000, com a nova lei do Sistema Nacional de Unidade de Conservação – SNUC, as RPPN passaram a ser considerada unidade de conservação, integrante do grupo de uso sustentável. Pode ser decretada pelo proprietário que possuir uma propriedade, ou parte dela, que tenha área de relevante interesse ecológico ou com beleza cênica ou que possua espécies endêmicas ou ameaçadas. Tem caráter perpétuo diante da legislação. O proprietário fica isento de pagar imposto territorial rural da área decretada e pode conseguir apoio de instituições governamentais e não governamentais para desenvolver centro de educação e pesquisa. Não existe tamanho mínimo para a criação. Para uma pessoa física instituir uma RPPN é necessário um requerimento assinado pelo proprietário ou pelo representante. Em caso de mais de um dono, é necessário uma procuração dos proprietários nomeando um; Titulo definitivo da propriedade; Cédula de Identidade e CPF (em caso de comunhão de bens, documentos do (a) cônjuge); Comprovante do último ITR pago (do ano anterior); Planta de localização da propriedade no Município; Planta de localização da RPPN dentro da propriedade. Já para uma pessoa jurídica constituir uma RPPN é necessário um requerimento assinado pelo representante da empresa; Cédula de Identidade e CPF (dos sócios da empresa ou do representante legal); Ata de designação do representante legal da empresa; Contrato social (caso tenha última alteração do contrato social); Comprovante do último ITR pago (do ano anterior); Planta de localização da propriedade no Município; Planta de localização da RPPN dentro da propriedade.

2.2 Áreas em Estudo para a Criação de Unidades de Conservação em Mato Grosso

O Zoneamento Sócio-Econômico Ecológico – ZSEE é um instrumento político e técnico de Gestão para orientar a política de planejamento e ordenamento sustentável 63

de Mato Grosso. Este instrumento tem por objetivo planejar de forma integrada e participativa atividades sociais, econômicas e ambientais de espaços territoriais expressas em planos e programas de governo, orientar o uso sustentável dos recursos naturais e fomentar a melhoria das condições de vida da população As áreas indicadas pelo ZSEE no Mapa das Áreas Legalmente Protegidas do Estado de Mato Grosso e Unidades de Conservação Propostas pelo ZSEE, 2008 (Anexo) são consideradas como de interesse especial para a conservação de seus componentes naturais particulares tais como a presença de nichos ecológicos relevantes para a conservação da biodiversidade, a proteção da flora e fauna silvestre, a proteção de formações vegetais de relevante interesse científico e biológico e os recursos hídricos. Inclusive, este mapa ilustra bem as áreas em estudos justamente em áreas para proteger nascentes. Estas áreas se localizam em sua maioria, em áreas consolidadas ou em consolidação agrícola.

2.3 Terras Indígenas

Outro tipo de área protegida que apresenta um perfil diferenciado são as terras indígenas que apesar de possuírem habitantes em seu interior, os mesmos respeitam a diversidade e as características físicas, pois sabem que delas provêm seu sustento. Oliveira (2005) afirma que o território indígena “é um espaço de sobrevivência e reprodução de um povo, onde se realiza a cultura e abrigam seus antepassados”, para ele estes espaços são simbólicos entre pessoas e Deuses de acordo com cada crença. Existem várias versões para a utilização destes espaços. Muitos consideram estas áreas desperdiçadas nas mãos dos índios em função da sua utilização somente retirando na natureza o necessário para sua sobrevivência. Segundo a FUNAI (2008) os povos indígenas não vêem a terra apenas como um simples meio de sobrevivência, mas sim a representação de sua vida social, suas crenças e cultura. Na Constituição Federal o índio e o território estão interligados nos aspectos físicos, ambientais, econômicos e sociais expressos no parágrafo 1º do artigo 231, onde as terras indígenas são aquelas "por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários ao bem-estar e as necessárias a sua reprodução 64

física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições". Já no inciso XI do artigo 20 da Constituição Federal, estas terras "são bens da União" e que, pelo §4º do art. 231, são "inalienáveis e indisponíveis e os direitos sobre elas imprescritíveis". Embora os índios detenham a posse permanente e o "usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos" existentes em suas terras. (FUNAI, 2008) A situação atual das terras indígenas é uma preocupação tanto para a FUNAI quanto para a sociedade, pois, todos os dias se têm noticia de protestos indígenas contra a invasão de suas terras, para pressionar a resolução dos processos de demarcação. Observe no quadro 1 a situação das terras indígenas. (FUNAI, 2008).

Situação Geral das Terras Indígenas do Brasil Nº de T.I's % EM REVISÃO EM ESTUDO 123 ---- 0 DELIMITADA 33 1,66 1.751.576 DECLARADA 30 7,67 8.101.306 HOMOLOGADA 27 3,40 3.599.921 REGULARIZADA 398 87,27 92.219.200 T O T A L 611 100 105.672.003 Quadro 1: Situação Geral das Terras Indígenas do Brasil. Fonte: FUNAI, 2008. Organização Giseli Dalla Nora Felix, 2008.

Ao analisar estes dados observa-se que das 611 terras indígenas, 488 estão nos processos de demarcação na fase "DELIMITADA", ou seja, 105.673.003 hectares, perfazendo 12,41% do total do território brasileiro. Outras 123 terras ainda estão por serem identificadas, não sendo suas possíveis superfícies somadas ao total indicado. A nível de Brasil, a situação das terras indígenas não se difere em nada a situação das terras indígenas de Mato Grosso, pois as mesmas também estão delimitadas e algumas demarcadas. A importância das terras indígenas para o estado de Mato Grosso se referem também a área que as mesmas ocupam para a preservação ambiental, pois a localização destas áreas simboliza através da relação que os índios possuem com os recursos naturais, a proteção de importantes espaços ocupados pelo Cerrado, Amazônia e Pantanal. Ao observar a dinâmica que envolve as terras indígenas no Estado de Mato Grosso verifica-se que foi durante a década de 1960 que houve grandes programas de colonização para a região centro-oeste e amazônica idealizada e financiada pelo Governo Federal. Tais ações promovidas principalmente pela SUDAM – 65

Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia conjuntamente com a SUDECO – Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste impulsionaram programas como Proterra, Polocentro, Prodoeste, Polamazônia, Prodepan e Polonoroeste, que resultaram na redução dos espaços naturais ocupados pelas etnias indígenas Bororo, Karajá, Rikbaktsa, Jê (povos Xavante, Suya e Panará), Karib (povos Bakairi, Kalapalo, Kuikuru, Matipu, Nahukwá e Txikão), Tupi Guarani (povos Tapirapé, Kamayura, Kayabi e Apiaká), Tupi Monde (povos Cinta Larga, Surui e Zoró), Aruak (povos Yawalapiti, Paresi e Enawene-Nawê) e dos Nambikwara. (OPAN, 2008) Destaque para a ocupação do cerrado onde as paisagens foram rapidamente substituídas pelas monoculturas da soja, milho, algodão levando a contaminação por inseticidas e insumos agrícolas a água e o solo das regiões próximas a estas áreas. Um caso muito conhecido é o Parque Indígena do Xingu, onde agrotóxicos que poluem as águas e matam animais que são fonte de alimento dos indígenas. As principais nascentes do Rio Xingu, principal rio que corta o parque, ficam localizadas em áreas privadas, grandes fazendas de soja, milho e algodão. Esta situação se repete em várias terras indígenas. Outros produtos que instigam a ocupação e apropriação das terras indígenas são a madeira e os recursos minerais. Além destas situações as terras indígenas ainda sofrem a influência das grandes obras públicas como a construção de estradas, hidrelétricas e hidrovias. Alguns casos como o da Hidrelétrica de Juína, envolvendo o povo Cinta Larga, onde os recursos repassados à FUNAI pela CEMAT não são aplicados na assistência, segundo denúncia dos índios. Existe também o caso da Ferrronorte, cujo primeiro traçado passava pelas terras de R. I. Teresa Cristina dos Bororo e cujo novo traçado ainda não foi divulgado. A Hidrovia Araguaia-Tocantins que afetará diretamente a vida dos povos Tapirapé, Javaé, Karajá e Xavante no Mato Grosso e os Krahô, Xerente, Apinajé, e Krikati no Estado de Tocantins. Assim também o Gasoduto Bolívia-Brasil passará por terras tradicionais do povo Chiquitano em fase de reconhecimento pelos órgãos oficiais. A Rodovia MT-235 foi construída ilegalmente nas terras do povo Paresi, para ligar a . Recentemente se anunciou a federalização e asfaltamento desta rodovia. (OPAN, 2008).

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CAPITULO III

3. PARQUE NACIONAL DO JURUENA

Criado em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho de 2006, e localizado entre o norte do estado do Mato Grosso e sul do Amazonas, o Parque Nacional Juruena conta com uma área de 1,9 milhão de hectares (Fig. 01, pag. 14). É o terceiro maior parque do Brasil, atrás apenas do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (com 3,9 milhões de hectares) e do Parque Nacional do Jaú (com 2,3 milhões hectares). Os dois últimos já recebem suporte do Programa Arpa (Áreas Protegidas da Amazônia). (WWF-BRASIL, 2008) O Parque Nacional do Juruena se justifica por ser uma área de proteção ambiental localizada no “Arco do Desflorestamento”. Este arco corresponde a uma faixa de terras localizada ao sul da Bacia Amazônica, que se estende do Maranhão e nordeste do Pará, passando pelo sul do Pará, Tocantins, e Mato Grosso e atingindo Rondônia, no sudoeste da Amazônia. Essa área é de suma importância para conter o avanço do desmatamento na Amazônia legal brasileira. A área apresenta enorme potencial científico, cultural e ecoturístico. Os rios Juruena e Tapajós foram percorridos pela expedição do Barão Georges von Langsdorff no século XVIII. A paisagem, os acidentes geográficos e os povos indígenas da região foram magnificamente ilustrados pelo artista da Expedição, Hercule Forence. Devido ao grau de preservação da diversidade biológica, à facilidade de observação de uma rica fauna, aos belos rios de águas cristalinas, as extensas praias de areia, às formações vegetais de elevada beleza cênica e aos belíssimos saltos e corredeiras dos rios, (Fig.11 e 12) O Decreto de 5 de julho de 2006, cria o Parque Nacional do Juruena nos Municípios de Apiacás, e Cotriguaçu, no Estado de Mato Grosso, Apuí e Maués, no Estado do Amazonas (Fig.01, pag. 14), com o objetivo de proteger a diversidade biológica da região do baixo Juruena - Teles Pires e alto Tapajós, suas paisagens naturais e valores abióticos associados. As justificativas apresentadas pela Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Amazonas (órgão ambiental estadual) para criação desta área demonstra a preocupação em assegurar a proteção dessa região: 67

“Estas áreas formam um mosaico de unidades de conservação com diferentes propostas de manejo e tem por objetivo frear o desmatamento e a grilagem de terras que se expande, de forma agressiva, do Mato Grosso em direção ao Estado do Amazonas. A criação deste mosaico de unidades de conservação no Sul do Estado é uma das ações de ordenamento territorial mais efetivas já tomadas durante os últimos anos para conter a expansão desenfreada e irracional da fronteira do desmatamento na Amazônia. Além disso, o mosaico permite resgatar o compromisso assumido pelo Brasil, junto à comunidade internacional, em ampliar a rede de áreas protegidas para conter a perda da diversidade biológica, criando uma importante barreira à expansão da frente de desmatamento e degradação ambiental.” (ICV, 2006).

Os limites do Parque englobam as ilhas existentes ao longo do Rio Teles Pires. A parcela da Floresta Nacional do Jatuarana, criada pelo Decreto de 19 de setembro de 2002, situada a leste da linha definida pelos pontos 169 a 175 do memorial descritivo passa a integrar o Parque Nacional do Juruena. Dentro do processo de criação do Parque Nacional do Juruena, bem como de outras unidades de conservação, várias são as etapas para a consolidação e criação de uma unidade de conservação. Neste sentido, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA ficou responsável pelos procedimentos necessários à cessão das terras públicas federais arrecadadas pelo Instituto, contidas nos limites descritos acima. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA reforça que as terras referidas serão objeto de compensação de área de Reserva Legal de projetos agro-extrativistas, de assentamento e de colonização, criados pelo INCRA, nos termos da Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965 ficando ainda autorizado a promover e executar as desapropriações desta área podendo, para efeito de agilizar a posse, alegar a urgência a que se refere o art. 15 do Decreto-Lei no 3.365, de 1941. Caberá ao IBAMA administrar o Parque Nacional do Juruena, adotando as medidas necessárias à sua efetiva proteção e implantação. (Hoje ICMBio) A Advocacia-Geral da União, por intermédio de sua unidade jurídica de execução junto ao IBAMA, é autorizada a promover as medidas administrativas e judiciais pertinentes, visando à declaração de nulidade de eventuais títulos de propriedade e respectivos registros imobiliários considerados irregulares, incidentes na unidade de conservação do Parna Juruena. Dentre essas responsabilidades observa-se que o INCRA e o IBAMA não puderam efetuar a desapropriação devido à falta de recursos para as áreas definidas 68

pela lei de criação. O IBAMA, ainda ficou responsável pela implantação e manutenção dessas áreas. Esta situação expressa que apesar de ser ter dividido as responsabilidades nem um nem outro efetivamente as cumpriram, resultando na falta de manejo e sustentabilidade desta área.

3.1 Estado de Mato Grosso

O Parque Nacional do Juruena possui áreas nos estados de Mato Grosso e Amazonas, sendo que em Mato Grosso ocupa áreas dos municípios de Apiacás, Cotriguaçú e Nova Bandeirantes no extremo norte do estado. Esta área está localizada entre os rios Juruena e Teles Pires dentro de Mato Grosso (Fig. 01 pag. 14). O Parna Juruena contou com o apoio do órgão ambiental estadual para a sua criação. Após a divulgação dos dados alarmantes do desmatamento em Mato Grosso em 2004 e a realização da Operação Curupira, deflagrada em junho/2005 pela Polícia Federal, que provocou a extinção da FEMA (antigo órgão ambiental estadual de Mato Grosso), hoje substituído pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente – SEMA, com equipe renovada, o Governo de Mato Grosso opera mudanças importantes na política ambiental do Estado, buscando alterações nesta realidade. Por outro lado, existiram resistências à proposta de criação do Parna Juruena por parte de alguns setores políticos do Estado, mesmo que se todos concordem com a importância e necessidade de conservação da área. O motivo de divergências está relacionado a interesses políticos diversos, dificultando realmente a sustentabilidade ambiental.

3.2 Estado do Amazonas

No estado do Amazonas o Parque Nacional do Juruena ocupa áreas dos municípios de Apuí e Maués. Esta área abrange um faixa de 100 km em torno de uma rodovia federal, a BR-230, de domínio federal, dando autonomia ao Governo Federal para decidir sobre a sua organização. A criação do Parna Juruena foi muito favorável ao Estado do Amazonas, pois veio consolidar o mosaico criado em final de 2004, como tentativa de conter o desmatamento na Amazônia Brasileira. 69

Segundo o processo 02001.002425/2002-72IBAMA, de criação do Parque Nacional do Juruena- Mato Grosso e Amazonas, os trabalhos para a criação desta área de conservação se iniciaram em agosto de 2002, com trabalhos de campo de vistoria das glebas do INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.

Cronograma de Criação do Parna Juruena (IBAMA, 2008)

2002 – Agosto Trabalhos de Campo e vistoria das glebas do INCRA 2002 – Setembro Limite preliminar concluído;

2002 – Outubro Consulta pública (internet); Estado do Amazonas se manifesta contrário à proposta; Estado do Mato Grosso não se manifesta, mas depois diz não concordar;

2002 – Nov/Dez Estado do Mato Grosso cria o Parque Estadual Igarapés do Juruena no dia 11 de novembro; realizada reunião em Manaus (IBAMA e MMA); marcado seminário para discutir propostas de criação de UCs no Amazonas 2003 – Sem progressos com o Estado do Amazonas; Juruena é incluído entre as áreas prioritárias para criação do ARPA, entre as metas de criação de UCs do Projeto de Controle do Desmatamento na Amazônia e nas propostas de medidas ambientais vinculadas ao asfaltamento da BR-163;

2004 – Abril Realizado em Manaus o Seminário de Estratégia para a Conservação no Estado do Amazonas, que acata sugestão do IBAMA e recomenda a criação de UC de proteção integral na região proposta para o P.N.Juruena, em caráter de urgência; sugere avaliar a possibilidade de parte do domo do Sucunduri fazer parte de uma UC de proteção integral; agendada reunião para o mês seguinte para apresentação e discussão das propostas de criação de UCs federais e estaduais para a região;

2004 – Maio Realizada reunião em Manaus; apenas o IBAMA tinha propostas para a região sul do Amazonas e apresentou Juruena e Campos Amazônicos;

2004 – Junho Realizada outra reunião em Manaus; pela primeira vez o Estado apresenta idéias sobre criação de UCs na região, mas que não passavam de grandes círculos no mapa, identificando possíveis polígonos de interesse ou supostamente com solicitações de comunidades tradicionais. Ainda não havia nenhuma proposta concreta de unidade ou mesmo a idéia de se criar UC’s em toda a extensão de terras públicas estaduais; nessa reunião o Secretário Virgílio Viana, da SDS- Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, falou que não 70

apoiaria a criação do Parque Nacional do Juruena, mesmo que apresentássemos soluções para todos os questionamentos que ele apontava, inclusive afirmando ser ilegal incluir terras estaduais em uma unidade federal;

2004 – Julho Presidente do IBAMA se reúne com Governador Eduardo Braga para tratar da criação do Parque Nacional do Juruena; governador manifestou sua concordância com a criação de uma UC federal na região conforme propunha o IBAMA apenas solicitando que fosse avaliada a questão da mineração de calcário no Sucunduri e a possível presença de populações tradicionais na região do rio Juruena;

2004 – Agosto Decidida realização de estudos de campo complementares; planejamento do trabalho e organização da logística da viagem (definição de bases físicas, disponibilização de aeronave, definição de pontos de abastecimento; fretamento de aeronave para transporte de combustível e equipamentos, escolha dos pontos a serem vistoriados e planejamento das rotas, etc)

2004 – Setembro Viagem de campo

2004 – Outubro Congresso UCs Curitiba: circula notícia realização consultas públicas em Apuí pela SDS/AM; consultas realizadas; propostas pouco consistentes, conflitando com UCs federais pré-existentes, APA em terras da União, etc; Presidente IBAMA envia carta Governador Amazonas expressando preocupação com situação e propondo alternativas;

2004 – Novembro Ausência de manifestação por parte do Governo do Estado leva realização em Brasília de reunião entre Presidente do IBAMA e Secretario SDS;

2004 – Dezembro Realização de reunião técnica em Manaus com equipes das duas instituições e presença dos dois dirigentes; sem resultados; SDS não tem argumentos, mas não concorda com proposta IBAMA; Calcáreo Sucunduri: inviável economicamente; SDS: cada um atuando apenas nas “suas terras”;

Realização reunião com Estado do Mato Grosso: total apoio à proposta IBAMA, inclusive com a incorporação terras Reserva Ecológica de Apiacás;

Ministra Marina cede às pressões do Estado e descarta a proposta do P.N. Juruena, apoiando a criação do mosaico estadual, que é anunciado publicamente pelo Governador, mas os Decretos só são assinados no final de janeiro de 2005;

2005 – Março Reunião pública em Alta Floresta (presença de prefeitos de vários municípios, lideranças políticas, representantes de grupos 71

interessados, proprietários de terras; estava tudo preparado para detonar com a equipe do IBAMA e enterrar a proposta original do parque e substituir pela alternativa;

2005 – Setembro Reunião no IBAMA com participação do MPF, FUNAI, DPF, ABIN, MMA e IBAMA sobre a questão da T.I. Kayabi; nesta reunião se discutiu a invasão de terras próxima à foz do Rio São Tomé por um grupo de índios Apiacás que teriam sido levados para lá por funcionários da FUNAI local; na reunião a FUNAI afirmou que a Fundação não reconhece tal área como Terra Indígena;

2005 – Outubro ICV – Instituto Centro Vida apresenta estudos;

2006 – Grande movimentação de deputados estaduais Mato-grossenses para inviabilizar a criação do parque, inclusive com a proposta de criar uma floresta pública estadual;

2006 – Fev/Mar Consultas Públicas em Apuí e Apiacás;

2006 – Junho Decreto de criação do Parque Nacional é assinado pelo Presidente da República.

O processo de criação do Parque Nacional do Juruena como mostra o cronograma apresentado acima, ilustra a dificuldade de conciliar a preservação e conservação ambiental com os interesses do crescimento econômico e os conflitos que estes geram. Neste sentido a criação do Juruena e de outras unidades de conservação vem batendo de frente com a proposta de crescimento econômico adotada há muito tempo pelos países em desenvolvimento.

3.3 Uma História de Conflitos

A ausência do Estado em diversas partes da Amazônia faz com que a grilagem seja muito lucrativa, abrindo campo para o desmatamento, seja ele voltado para atividade madeireira, pecuária ou agricultura”. De acordo com dados do Instituto de Terra de Mato Grosso – Intermat, (ICV, 2006) a área do Parque Nacional do Juruena estaria composta essencialmente por propriedades privadas, tituladas pelo Intermat na década de 1980. A região norte do estado de Mato Grosso tem sido palco de inúmeros conflitos fundiários, relacionados a grilagem de terras envolvendo índios e posseiros. 72

No município de Apiacás em particular, grandes proprietários de fazendas não residem no local, trazendo pouco movimento à economia local. Em função da dificuldade de manter uma presença em áreas tão extensas e distantes, várias propriedades privadas já foram ocupadas, gerando diversos conflitos. O ICV – Instituto Centro e Vida elaborou entre agosto e outubro de 2005 com parceria com o WWF-Brasil/ Programa de Áreas Protegidas e Apoio ao ARPA, um estudo visando fornecer subsídios ao processo de criação da Unidade de Conservação proposta pelo Governo Federal. O estudo incluiu uma revisão bibliográfica e levantamento de dados sócio-econômicos relevantes; montagem da base cartográfica da área (Laboratório de SIG do ICV); realização de um sobrevôo, reconhecimento de campo via terrestre e contatos com partes interessadas. Este documento deu vazão a algumas complicações envolvendo a situação fundiária como, por exemplo, a informação de que o valor a ser desembolsado a título de indenização para a desapropriação das áreas privadas seria inferior ao preço da terra, necessária à implantação do Parque, especialmente considerando algumas grandes propriedades da faixa sul da área proposta, onde os proprietários privados têm posse efetiva da área. A regularização fundiária da UC poderia também ser realizada por meio do mecanismo de compensação de reserva legal, porém isso exigiria uma colaboração estreita entre governos federal e estadual para poder ser realizado. Portanto, a questão da estrutura fundiária e do mecanismo de indenização são aspectos importantes a serem tratados pelo Governo como prioridade para a criação de uma unidade de conservação, mas o que se percebe destes documentos, é que mesmo o governo que implanta unidades de conservação,não regulariza a situação deixando os proprietários de terras sem a devida orientação causando muitos conflitos. Exemplo bem recente destes conflitos é o que ocorre na R. I. Raposa Serra do Sol no estado de Roraima, cuja homologação definiu o aumento dessa área indígena gerando conflitos com os índios e os fazendeiros da área. Esta homologação é resultado de mais de 30 anos de conflitos na região.

3.4 Características Naturais

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O Parque Nacional do Juruena fica localizado no bioma Floresta Amazônica. O relevo da região é marcado pela presença de serras interdigitadas por florestas em excelente estado de conservação. A complexa cobertura vegetal da região proposta, associada a um sistema complexo de relevo e à presença de grandes rios, amplia a importância biológica da região. Ela representa o limite de distribuição de diversas espécies, constituindo uma área de transição biogeográfica na Amazônia, considerando-se tanto o eixo norte-sul, quanto o eixo leste-oeste. (ICV. 2006) Apesar do excelente estado de conservação dos recursos naturais da região, esta área corre o risco de ser fortemente degradada. O estudo realizado na área por técnicos do IBAMA (2008) constatou que as pressões existentes são fortes, frentes de ocupação avançam rapidamente, partindo principalmente do norte e nordeste do Estado de Mato Grosso Ao longo dos rios Juruena e São Tomé constata-se a abertura de estradas e a colocação de placas, sinalizando divisão de glebas particulares. O Parque Nacional do Juruena têm como objetivo a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica (Fig. 7), possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.

Figura 7: Área de Confluência dos Rios Juruena e Teles Pires Fonte: http://www.brasildasaguas.com.br/margi/fotosnew/798.jpg, 2008 74

A figura 7 mostra ainda a confluência dos rios Juruena e Teles Pires formando o rio Tapajós. A figura 8 ilustra os meandros do rio Juruena e o “tapete verde” que é esta região do Estado. Já a figura 9 mostra o rio Juruena e a navegação, ou seja, para acessar o parque é por transporte aéreo e por água sendo crítico atingir o parque pelas precárias condições de trafegabilidade das rodovias e estradas do norte.

Figura 8: Meandros do rio Juruena Fonte: WWF, 2007

Figura 9: Rio Juruena e navegação. Fonte: WWF, 2007

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O clima é uma das variáveis mais interessantes a serem analisados na área de estudo, pois a interação superfície terrestre e atmosfera ilustra sua harmonia. Quando se fala de Mato Grosso a respeito do clima se identifica dois tipos de clima o Equatorial Quente e úmido e o Tropical Seco/Semi úmido. O clima Equatorial que ocorre no norte do estado em contato com a Floresta Amazônica mantendo a umidade alta que favorece as chuvas. Já o clima Tropical ocorre na porção centro-sul do estado tendo duas estações bem definidas uma seca (maio a setembro) e outra chuvosa (outubro a abril). (Maitelli, 2005) O clima do Parque Nacional do Juruena é o Equatorial favorecido pela evapotranspiração e pela sua localização nos trópicos em proximidade com a linha do Equador. A região possui um complexo sistema vegetacional determinado pela intrínseca relação entre os rios, o relevo, o clima e solos. Cortada em sua faixa central pelo rio Juruena, que ali apresenta longos trechos com corredeiras e cachoeiras e tipos de vegetação que vão desde a floresta tropical densa a cerrado. Embora a maior parte da região esteja coberta por Floresta de Terra Firme, existem extensas áreas cobertas por formações savânicas, principalmente no topo dos morros e serras. Nas áreas em que ocorrem manchas de solo rochoso ou calcário, ocorre floresta semidecidual. Ao longo dos rios de maior porte existem grandes lagoas, que apresentam uma estrutura de vegetação diferenciada da Floresta de Terra Firme. Tais lagoas são formadas por mudanças no eixo principal dos rios e correspondem, em sua maioria, a meandros abandonados. Em alguns pontos, no entanto, ocorrem lagoas isoladas, geralmente cercadas por formações abertas. Nos locais onde o solo é saturado de água, existem extensos buritizais, de grande beleza cênica e grande importância para a manutenção das populações de araras e papagaios. (ICV. 2006)

3.5 Parque Nacional do Juruena e o seu Entorno

Apesar das ameaças que pairam sobre sua integridade, a região tem ocupação humana muito incipiente, o que permitiu a delimitação de uma área de conservação extensa, possibilitando assim, uma maior viabilidade a longo prazo da conservação da diversidade biológica que caracteriza a região. Entretanto, a aproximação do arco do desmatamento e a proliferação desmedida da ocupação desordenada de terras exigem ação imediata do poder público para evitar a degradação da área. 76

Até o momento a região é quase despovoada, valendo registrar a presença de algumas poucas aldeias indígenas – incluídas nas Terras Indígenas já delimitadas – e de um único núcleo populacional não indígena, a pequena povoação conhecida como Vila da Barra, situada na margem esquerda do rio Tapajós. Entretanto, o processo de ocupação irregular avança de forma muito rápida em Mato Grosso e o próprio órgão fundiário estadual reconhece que a situação na região é confusa (IBAMA, 2008). São muitos os pontos de avanço constatados durante os estudos de campo, reforçando a importância de soluções de conservação para a região. Apesar de ser uma região com natureza quase intacta, uma área que apresenta características diversificadas quanto a sua criação, o Parque Nacional do Juruena, em 2006, a área inicial abrangia onde hoje são a reserva ecológica Apiacás, criada em 1994, a RPPN América Amazônia e a RPPN Verde Amazônia,ambas criadas em 2002 início dos trabalhos de criação do Parna Juruena mas como a exigência de preservação da reserva ecológica é superior ao parque nacional prevaleceu a reserva ecológica. Em relação às RPPNs, a situação de manutenção da área esta ligada ao caráter de perpetuidade da RPPN deixando a possibilidade de utilização particular de uma área dentro do Parna Juruena (Fig. 01 pag. 14). Interessante também é o fato do Parna Juruena ter como vizinho a terra indígena de Kaiabi, criada em 1990, que divide as terras do “triangulo do norte” em reserva ecológica, terra indígena e parque nacional, na confluência do rio Juruena e Teles Pires. Esta aérea, estrategicamente, poderá vir a ser uma área a ser explorada para pesquisa, turismo lazer, basta que se cumpra a legislação ambiental e se oficialize o plano de manejo destas áreas, possibilitando assim a seu uso sustentável e sua sustentabilidade legal. Outro fato é que, em seu entorno, existem muitas nascentes como mostra a figura 10. Estas nascentes deveriam, por estratégia de preservação ambiental, estar dentro da área do Parque Nacional do Juruena, possibilitando a preservação das bacias hidrográficas que alimentam. 77

Figura 10: Nascentes do Entorno do Parque Nacional do Juruena Fonte: IBAMA, 2008 adaptado por Nora Felix, 2008.

3.6 Situação Atual do Parque Nacional do Juruena

A situação atual do Parna Juruena não é diferente das demais unidades de conservação do Brasil, até o próprio ministro do Meio Ambiente Carlos Minc Baumfeld em artigo recente diz que as reservas naturais do Brasil, que abrigam grande parte da 78

biodiversidade mundial, sofrem de má administração, falta de verbas e constantes invasões. (Colitt, 2008). Das 299 unidades de conservação federais do país 82 não têm gestor responsável, 173 não contam com fiscais e 53 não seguem planos de manejo. Os dados fazem parte de um diagnóstico das unidades de conservação elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Ao divulgar os dados, o ministro afirmou que a situação dessas unidades é reflexo da falta de investimentos, tanto financeiros quanto de humanos nessas áreas. Segundo ele, para tentar reverter a situação, nomear gestores para as unidades de conservação. (Colitt, 2008). O PARNA Juruena não apresenta nenhuma infra-estrutura física que diga que ali existe um Parque. Para entender a gravidade da situação deste parque em época de águas de (novembro a março) não se chega à área do parque, a não ser por via aérea, ou se arriscando a navegar no rio Juruena. Já na época da estiagem (seca) se atola em areia nas estradas precárias que ali existem. A dificuldade de acesso é um impecilho para a proteção e conservação dos recursos naturais disponíveis no Estado de Mato Grosso. De certa forma esta mesma dificuldade de acesso foi o que impediu o avanço acelerado do desmatamento, de novos núcleos populacionais bem como de produção agrícola. O Parque Nacional do Juruena tem como argumentação de criação a proteção de belezas cênicas, além disso, o parque abriga dezenas de corredeiras e cachoeiras em seus cursos d´água, incluindo uma majestosa queda no rio Juruena, com 19 metros: o Salto Augusto (Fig. 11 e 12). Nome dado em homenagem ao comandante militar Capitão-General João Carlos Augusto Oeynhausem de Gravemburg, que explorou no início do século XIX, o inóspito território norte do Estado do Mato Grosso. Em relação ao orçamento do PARNA Juruena o valor para 2008 é de R$ 180.000,00, financiado pelo programa ARPA, esse valor não se destina a manutenção. Segundo a equipe de técnicos do IBAMA instalados em Alta Floresta, o plano de manejo da UC está em fase de conclusão. Na primeira quinzena de setembro de 2008 eles realizaram a 2º Oficina de Pesquisadores, onde foi discutido o resultado das duas campanhas de campo e realizado uma prévia do zoneamento do PARNA, levando em conta somente os resultados das pesquisas. Está prevista para dezembro a OPP - Oficina de Planejamento Participativo, para que isso ocorra eles contam ainda com o apoio financeiro do WWF – Worldwide Fund for Nature, que iria pagar as despesas de 79

deslocamentos e hospedagem dos líderes comunitários do entorno da UC para Alta Floresta, local onde será realizada a reunião.

Figura 11: Salto Augusto – Rio Juruena Fonte: Nora, 2008

Figura 12: Salto Augusto – Rio Juruena (Fotografia aérea) Fonte: WWF, 2007. 80

Conhecer esta realidade permite dizer que ao se criar uma unidade de conservação, referente a qualquer segmento, é necessário que a área a ser transformada seja toda desapropriada, que se monte uma infra-estrutura mínima de visitação, com acesso garantido, bem como fiscalização impedindo a exploração dos recursos naturais e a apropriação indevida de terras da área, pois sem estes não é possível criar uma unidade de conservação, e realmente geri-la e utiliza - lá para proporcionar a educação ambiental, lazer, turismo entre outras atividades definidas no SNUC.

Unidade de Área Objetivos de Situação Atual Nascentes Conservação Total Criação (km²)  Criado em  Não possui plano  Possui comemoração ao dia de manejo elaborado e segundo o mundial do Meio implementado. IBAMA – Cuiabá ambiente;  Não possui 500 nascentes  Área de regularização fundiária; em seu território; Parque 10.632,64 proteção ambiental  Não possui infra-  Possui Nacional do criada para conter o estrutura instalada; aproximadament Juruena desmatamento no  Não possui e 300 nascentes arco do conselho instituído; em seu entorno. desflorestamento;  Recurso humano  Proteger a localizado em Alta diversidade biológica Floresta, 300 Km do do Baixo Juruena- Parque. Teles Pires; Quadro 2: Sustentabilidade do Parque Nacional do Juruena Fonte: SEPLAN, 2008. Organização: Giseli Dalla Nora Felix, 2008.

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CAPITULO IV

4. ANÁLISES DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MATO GROSSO

As análises relacionadas às unidades de conservação são relevantes para entender o processo de uso e apropriação dos recursos naturais de forma a entender a dinâmica da natureza bem como do espaço geográfico, ou seja, o espaço construído pelo homem. A relação homem natureza vem se modificando ao passo que o homem retira da natureza todos os elementos necessários para sua sobrevivência e para suas relações comerciais e políticas. Esta postura mostra que a realidade das unidades de conservação, não só no Estado de Mato Grosso, mas no restante do país. Estas são criadas com inúmeras funções, mas poucas são as que realmente cumprem as mesmas. Neste sentido analisaremos as categorias das unidades de conservação de acordo com cada função estabelecida pelo SNUC. O quadro 3 com as Unidades de Conservação Federais em Mato Grosso apresenta Parques Nacionais – PN e Estações Ecológicas - EE. Nota-se que essas categorias dentro do Estado de Mato Grosso possuem uma área total de 15.772.893 km². Os parques nacionais são áreas com ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, de posse e domínio público. Essas áreas possuem características únicas por apresentar uma infra-estrutura para atendimento ao público seja turismo ecológico, ecoturismo ou pesquisa. Já as estações ecológicas apresentam singularidades relacionadas a preservação ambiental, são comumente conhecidas por serem áreas de domínio público voltadas para a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas. Esses segmentos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC representam a principal parcela das áreas protegidas presentes no Estado. Essas áreas se localizam em pontos estratégicos deste território, se concentram em áreas de divisas políticas com estados vizinhos bem como, com a Bolívia caracterizando áreas especiais.

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Reservas Federais - Proteção Integral Categoria Lei, Decreto ou Portaria Área km² Município de Criação Parque Nacional do Dec. n° 4.340 de 11.874,229 Apiacás, Nova Bandeirante Juruena 05/06/06 e Cotriguaçu E. E Ique Juruena Dec. n° 86.061 de 1.882,741 Juína 02/06/81 E. E. Taimã Dec. n° 86.061 de 110,464 Cáceres 02/06/81 E. E. Serra das Arara I Dec. n° 87.222 de 235,403 31/05/82 E. E. Serra das Arara II Dec. n° 87.222 de 53,635 Porto Estrela e Cáceres 31/05/82 Parque Nacional do Dec. n° 86.392 de 1.240,616 Poconé Pantanal Mato-grossense 24/09/81 Parque Nacional da Dec. n° 97.656 de 320,325 Cuiabá e Chapada dos Chapada dos Guimarães 12/04/89 Guimarães Parque Nacional dos Dec. s /n° 21/07/06 55,480 e Estados do Campos Amazônicos Amazonas e Rondônia Quadro 3: Unidades de Conservação – Reservas Federais Fonte: SEPLAN, 2007. Organização: Giseli Dalla Nora Felix, 2008.

O uso sustentável se refere a um segmento significativo o tão almejado desenvolvimento sustentável observando que utilizar os recursos naturais requer planejamento e acima de tudo respeito a seus ciclos de renovação e continuidade. Ao analisar o quadro 4 sobre as reservas federais de uso sustentável no Estado de Mato Grosso observa-se que em sua maioria elas estão relacionadas com a iniciativa privada, pois as RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural) foram instituídas por empresas ou pessoas físicas obedecendo aos critérios já mencionados acima com uma área preservada de 4.242,835 km². A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é uma categoria de Unidade de Conservação de caráter privado. Está inserida dentro da categoria das unidades de uso sustentável. Pode desenvolver pesquisa científica e ecoturismo. É um mecanismos encontrados pela sociedade civil para contribuir de forma positiva com a preservação e conservação destes recursos. Além disso, o proprietário da área tem benefícios com a criação dessas áreas como não pagamento do imposto sobre a propriedade rural, possibilidade de explorar a área para desenvolver o turismo. O fato é que a mesmo tempo que se tem a preservação e conservação dos recursos naturais se tem também interesses voltados para o sistema de produção capitalista, que busca lucro através dos recursos naturais. Observa-se neste Estado uma tendência a utilizar estes espaços para desenvolver o ecoturismo, o turismo ecológico entre outros segmentos. Tal situação 83

mostra a possibilidade de realmente aproveitar os recursos naturais em beneficio de uma sociedade, mas de maneira organizada e sustentada. Já a A.P.A - área de proteção ambiental foram criadas para conservar a vida silvestre, os recursos naturais e os bancos genéticos e permite a ocupação humana desde que com restrições.

Reservas Federais – Uso Sustentável Categoria Lei, Decreto ou Portaria Área km² Município de Criação R. P. P. N. Reserva Ecológica Port. n°104/94 de 04/10/94 1,205 Cuiabá de São Luiz R. P. P. N. Fazenda Estância Port. n° 06/97 de 19/02/97 276,028 Poconé Dorochê R. P. P. N. Fazenda Terra Port. n° 60/97 de 10/06/97 16,985 e Nova São José do Xingu R. P. P. N. Estância Ecológica Port. n° 71 –N de 04/07/97 1.063,359 Barão de Melgaço SESC Pantanal R. P. P. N. Parque Ecológico Port. n° 170/97 de 29/12/97 42,627 Rondonópolis de João Basso R. P. P. N. Reserva ecológica Port. n° 60/00 de 27/09/00 9,95 Chapada dos Guimarães da Mata Fria R. P. P. N. Reserva Jubran Port. n° 172/01 de 20/11/01 387,838 Cáceres R. P. P. N. Gleba Cristalino Port. n° 28/97 de 11/04/02 8,565 Alta Floresta R. P. P. N. Reserva Rama Port. n° 54/02 de 18/04/02 4,00 Água Boa R. P. P. N. Reserva Ecológica Port. n° 105/02 de 07/08/02 8,988 Nova Canaã do Norte Lourdes Felix Soares R. P. P. N. Reserva Ecológica Port. n° 106/02 de 07/08/02 - Apiacás Verde Amazônia R. P. P. N. Reserva Ecológica Port. n° 107/02 de 07/08/02 - Apiacás América Amazônica R. P. P. N. Reserva Ecológica Port. n° 108/02 de 07/08/02 2,129 Nova Canaã do Norte José Gimenez Soares R. P. P. N. Hotel Mirante Port. n° 25/04 de 08/03/04 0,198 Chapada dos Guimarães A. P. A. dos Meandros do Rio Dec. s /n° de 02/10/98 2. 420,963 , Estados de Araguaia Goiás e Tocantins Quadro 4: Unidades de Conservação – Reservas Particulares do Patrimônio Natural Fonte: SEPLAN, 2007. Organização: Giseli Dalla Nora Felix, 2008.

O Estado apresenta também as suas áreas de conservação estadual de proteção integral e uso sustentável (Quadros 5 e 6) possuem sua própria legislação. Cada estado brasileiro possui seus próprios critérios de política de preservação ambiental de acordo com seus biomas, ecossistemas e diversidade ambiental, mas todos eles devem ter por base a legislação federal e neste sentido Mato Grosso também possui unidades de conservação de proteção integral com reservas ecológicas, estações ecológicas, parques, reservas de vida silvestre além de RPPNs estaduais. Possui ainda unidades de uso sustentável como reservas extrativistas, estradas parques, áreas de proteção ambiental. 84

Os tipos de unidades de conservação em Mato Grosso tem como fio condutor a legislação federal ambiental, que se fazem importantes para a preservação dos recursos naturais presentes no Estado. Mas, o próprio Ministério do Meio Ambiente (2006) afirma que a quantidade de unidades de conservação e a área total destas não são suficientes para realmente cumprirem seus papéis de unidades de conservação na preservação dos biomas e das bacias hidrográficas. Tanto nas áreas federais quanto estaduais a manutenção das mesmas têm preocupado a sociedade, deixando claro que por mais que exista uma lei, esta não está sendo efetivamente respeitada. Neste sentido temos unidades de conservação que são de suma importância para a manutenção dos biomas, mas não estão cumprindo seus papéis, segundo as definições de cada pelo SNUC, em função da má gestão, falta de infra-estrutura, não efetivação das desapropriações entre outros.

Reservas Estaduais Mato Grosso - Proteção Integral Categoria Lei, Decreto ou Portaria de Área Município Criação (km²) R. E. Culuene Dec. n° 1.387 de 10/01/89 35,847 E. E. Rio da Casca I Dec. – Lei n° 6.437 de 35,246 Chapada dos 27/05/94 Guimarães e E. E. Rio da Casca II Dec. – Lei n° 6.437 de 2,337 Campo Verde 27/05/94 R. E. Apiacás Lei n°. 6.464 de 22/06/94 Apiacás E. E. do Rio Rossevelt Dec. n° 1.798 de 04/11/97 552,952 Colniza Lei n°. 7.162 de 23/08/99 E. E. do Rio Madeirinha Dec. n°. 1.799 de 04/11/97 111,017 Colniza Lei n°. 7. 163 de 23/08/99 E. E. do rio Ronuro Dec. n°. 2. 207 de 23/04/98 1.026,266 Nova Ubiratã E. E. do rio Flor do Prado Dec. n°. 2.124 de 09/12/03 91,267 Aripuanã Parque Águas Quentes Dec. n°. 1.240 de 13/01/78 14,805 Santo Antonio do Leveger Parque Massairo Okamura Lei M. n°. 2.681/ 06/06/89 0,536 Cuiabá Dec. n°. 3.345 de 08/11/01 Lei n°. 7.506 de 21/09/01 Parque da Serra Azul Lei n°. 6.439 de 31/05/94 110, 031 Barra do Garças Parque Serra de Ricardo Dec. n°. 1.796 de 04/11/97 1.581,335 Vila Bela da Franco Santíssima Trindade Parque Serra de Santa Dec. n°. 1.797 de 04/11/97 1.200,394 e Bárbara Lei. N°. 7.165 de 23/08/99 Porto Esperidião Parque da Cidade Mãe Dec. n°. 1.470 de 09/06/00 0,775 Cuiabá Bonifácia Parque do Cristalino I Dec. n°. 1.471 de 09/06/00 548,265 Alta Floresta e Novo Lei n°. 7. 518 de 29/08/01 Mundo Parque do Cristalino II Dec. n°. 2.628 de 30/05/01 1.406,398 Parque Gruta da Lagoa Azul Dec. n°. 1.472 de 09/06/00 5.267 Lei n°. 7.369 de 20/12/02 Parque da Saúde Dec. n°. 1.693 de 23/08/00 0,700 Cuiabá Parque do Araguaia Lei n°. 7.517 de 28/09/01 2.249,886 Novo Santo Antonio Lei n°. 8. 458 de 17/01/06 85

Parque do Xingu Dec. n°. 3.585 de 07/12/01 916,443 Lei n°. 8.054 de 29/12/03 Parque Guirá Dec. n°. 7. 625 de 15/01/02 1.034,651 Cáceres Parque Águas de Cuiabá Dec. n°. 4.444 de 10/06/02 108,781 Nobres e Rosário Oeste Parque Dom Osório Stoffel Dec. n°. 5.437 de 12/11/02 63,605 Rondonópolis Parque Igarapés do Juruena Dec. n°. 5.438 de 12/11/02 1.093, 516 Colniza e Cotriguaçu Parque Tucumã Dec. n°. 5.439 de 12/11/02 800,789 Colniza Lei n°. 5.150 de 23/02/05 Parque Encontro das Águas Dec. n°. 4.881 de 22/12/04 1.088,620 Poconé e Barão do Melgaço M. N. Morro de Santo Lei n°. 8.504 de 09/06/06 2,581 Santo Antonio do Antonio Leveger R. V. S. Corixão da Mata Lei. N°. 7.519 de 28/09/01 328,961 Novo Santo Antonio e Azul Cocalinho R. V. S. Quelônios do Lei n°. 7.520 de 28/09/01 940,788 Cocalinho e Ribeirão Araguaia Cascalheira R. P.P.N. Fazenda Vale do Port n°. 045/03 de 14/11/03 10,883 Tangará da Serra Sepotuba Quadro 5: Unidades de Conservação – Reservas Estaduais de Proteção Integral Fonte: SEPLAN, 2007. Organização: Giseli Dalla Nora Felix, 2008.

O quadro 5 de unidades de conservação de reservas estaduais de proteção integral mostra que Mato Grosso apresenta um total de 15.363,345 km². Já no quadro 6 observa-se que o total de áreas protegidas de uso sustentável é de 9.105,093 km². Reservas Estaduais - Uso Sustentável Categoria Lei, Decreto ou Portaria Área km² Município Res. Ex. Guariba Roosevelt Dec. n°. 0952 de 19/06/06 590,942 Aripuanã e Colniza Lei n°. 7.164 de 23/08/99 D. A. E. de Praia Rica Dec. Lei n°. 4.895 de 454,865 Nova Brasilândia e 25/09/85 Rosário Oeste A. P. A. do Pé da Serra Azul Lei n°. 6.436 de 27/05/94 52,587 Barra do Garças e A. P. A. do rio da Casca Dec. n°. 1.356 de 27/05/94 292,500 Chapada dos Guimarães A. P. A. da Chapada dos Dec. n°. 0537 de 21/11/95 2.202, 148 Cuiabá, Chapada dos Guimarães Lei n°. 7.804 de 05/12/02 Guimarães, Campo Verde e Santo Antonio do Leveger A. P. A. Cabeceiras do Rio Dec. n°. 2.206 de 23/04/98 4.531,961 Rosário Oeste, Nobres, Cuiabá Lei n°. 7.161 de 23/08/99 Nova Brasilândia, e A. P. A. do Salto Magessi Lei. n°. 7.871 de 20/12/02 78,249 Santa Rita do Trivelato A. P. A. Nascentes do Rio Dec. n°.7.596 de 17/05/06 715,912 e Paraguai E. P. Transpantaneira Dec. n°. 1.028 de 26/07/96 74,289 Poconé E. P. Cachoeira da Fumaça Lei n°. 7.091 de 28/12/98 6,985 E. P. Chapada dos Guimarães Dec. n°. 1.473 de 09/06/00 20,723 Cuiabá e Chapada dos Guimarães E. P. MT 040/361 Dec. n°. 1.474 de 09/06/00 44,701 Santo Antonio do Leveger E. P. Poconé – Porto Cercado Dec. n°. 1.475 de 09/06/00 39,231 Poconé Quadro 6: Unidades de Conservação – Reservas Estaduais de Uso Sustentável Fonte: SEPLAN, 2007. Organização: Giseli Dalla Nora Felix, 2008. 86

Já as unidades de conservação municipais (Quadro 7 e 8) apresentam características peculiares, pois cada administração municipal têm suas prioridades, mas mesmo com suas características próprias a mesma leva em conta sempre a legislação federal e estadual para implantar suas leis e regras. Ao serem criadas as unidades de conservação em cada município do estado de Mato Grosso, têm se a dimensão de que com mais áreas com proteção ambiental, mas o que não se leva em conta é que geralmente as unidades de conservação municipais são áreas muito pequenas e estão localizadas geralmente nas áreas urbanas de seus municípios. O fato de vários municípios apresentarem unidades de conservação mostra a disparidade de idéias e foco de trabalho de seus representantes, pois dos 141 municípios de Mato Grosso apenas 20 municípios apresentam unidades de conservação municipais sejam elas de proteção integral ou de uso sustentável. Mato Grosso apresenta um contexto interessante a ser observado. É um Estado com um número expressivo de municípios, mas poucos apresentam áreas efetivas de proteção ambiental como às definidas pelo SNUC. Essa situação leva a confirmar a idéia de que a preocupação ambiental é de pouco prioridade de políticas públicas municipais.

Reservas Municipais - Proteção Integral Categoria Lei, Decreto ou Portaria de Área Município Criação (km²) Parque Zoológico de Lei n°.1.535/88 04/08/88 0,172 Rondonópolis Rondonópolis Lei n°. 1.082 de 02/06/95 Tangara da Serra Parque Ilto Ferreira Coutinho Lei n°.1.326 de 03/07/97 0,113 Lei n°. 1.756/01 de 23/05/01 Parque do Bacaba Lei n°. 652/95- 27/12/95 0.427 Dec. n°.1.657/96 08/08/96 0.123 Juína Parque Ambiental do Juína Dec. n°.060/01 - 23/05/01 Parque Florestal de Claudia Lei n°. 266/96 de 16/12/96 0,209 Cláudia Parque do Distrito de Progresso Lei n°. 1.369 de 13/11/97 0,012 Tangará da Serra Lei n°. 1.756/01 de 23/05/01 Parque de Jaciara Dec. n°. 2.033/99 de 0,631 Jaciara 19/10/99 Parque do Córrego Lucas Lei n°. 694/99 de 10/11/99 3,726 Parque das Araras Lei n°.192/00 de 27/06/00 0,051 Parque res. Alto da Boa Vista Lei n°. 1.756/01 de 23/05/01 0,953 Tangará da Serra Parque Zoológico da Lagoa dos Lei n°. 106/01 de 29/11/01 15,555 Veados Parque do Córrego Boiadeiro Lei n°. 106/01 de 29/11/01 2,142 Alto Araguaia Parque Nascente do rio Taquari Lei n°. 314/02 de 07/08/02 0,875 Parque Celebra Lei n°. 259/02 de 26/08/02 0,463 Parque da Cabeceira do rio Lei n°.1.071/02 de 16/12/02 0.062 Chapada dos Guimarães Coxipózinho 87

Horto Florestal Tote Garcia Lei n°.004/92 0,019 Cuiabá Parque da Cachoeira do Lei n°. 485/03 de 04/07/03 0,501 Ribeirão Ponte de Pedra Parque da Cachoeira do Rio Lei n°.486/03 de 04/07/03 0,601 Itiquira Roncador Parque do Rio Congonhas Lei n°.488/03 de 04/07/03 2,622 Itiquira Parque do Rio Congonhas e Lei n°.492/03 de 04/07/03 2,205 Itiquira Barra do rio Itiquira M. N. Confusão Lei n°.262/02 de 26/08/02 0,995 Tesouro M. N. Ponte de Pedra do Rio Lei n°. 488/03 de 04/07/03 0,916 Itiquira Correntes M. N Ponte de Pedra do Rio Lei n°.489/03 de 04/07/03 1,002 Itiquira Itiquira Quadro 7: Unidades de Conservação – Reservas Municipais de Proteção Integral Fonte: SEPLAN, 2007. Organização: Giseli Dalla Nora Felix, 2008.

Por outro lado, alguns municípios apresentam políticas voltadas para a preservação e conservação ambiental com um expressivo número de unidades de conservação instituídas como é o caso da região de Itiquira, Tangará da Serra, Tesouro, Alto Araguaia e Alto Taquari. Estes municípios possuem foco de trabalho diferenciado e discutem a importância de manter as unidades de conservação em função justamente de sua localização, junto (município de Itiquira) às nascentes dos rios Correntes, Itiquira e Congonhas. Outro caso são os municípios da região de Tesouro e Alto Araguaia que abrigam importantes nascentes do rio Araguaia que correm para a Bacia Araguaia – Tocantins. Mas, esses municípios estão sendo convidados a investir na agricultura “pesada”, estão se consolidando a produção agrícola, esquecendo-se do valor das unidades de conservação e priorizando ações diferenciadas do uso e ocupação do solo.

Reservas Municipais - Uso Sustentável Categoria Lei, Decreto ou Portaria de Área Município Criação (km²) A. P. A. Tanque do Fancho Dec n°.20/96 de 04/06/96 0,056 Várzea Grande A. P. A. do Aricá - Açu Lei n°. 3.874/99 de 16/07/99 749,745 Cuiabá A. P. A. Córrego do Mato e Rio Lei n°. 288/01 de 16/11/01 73,560 Araguaia A. P. A. Ribeirãozinho e Lei n°. 007/01 de 21/11/01 41,260 Ribeirãzinho Alcantilados do Rio Araguaia A. P. A. Morro Santa Luzia Lei n°. 235/01 de 26/11/01 23,792 Tesouro A. P. A. Ribeirão da Aldeia Lei n°.236/01 de 26/11/01 34,939 Tesouro A. P. A. Cachoeira da Fumaça Lei n°.237/01 de 26/11/01 7,088 Tesouro A. P. A. Ribeirão Claro, Água Lei n°. 106/01 de 29/11/01 866,918 Alto Araguaia Emendada, Paraíso, Rio Araguaia A. P. A. Ribeirão do Sapo Lei n°. 106/01 de 29/11/01 170,664 Alto Araguaia A. P. A. Córrego Gordura e Lei n°. 106/01 de 29/11/01 83,209 Alto Araguaia Córrego Boiadeiro 88

A. P. A. Rio Araguaia, Córrego Lei n°. 1. 318/01 de 29/11/01 499,154 Alto Araguaia Rico, Couto Magalhães e Rio A. P. A. Serra das Araras Lei n°. 447/01 de 17/12/01 629,736 Nossa Senhora do Livramento A. P. A. Ribeirão da Aldeia e Rio Lei n°.686/01 de 24/12/01 387,390 das Garças A. P. A. Tadarimana Lei n°.687/01 de 24/12/01 88,372 Guiratinga A. P. A. Rio Bandeira, das Lei n°.688/01 de 24/12/01 363,426 Guiratinga Garças e Taboca. A. P. A. Nascente do Rio Lei n°.314/02 de 07/08/02 367,904 Alto Taquari Araguaia A. P. A. Ninho das Águas Lei n°.314/02 de 19/08/02 154,951 Alto Taquari A. P. A. Rio Dantas e Morro Lei n°. 260/02 de 26/08/02 746,868 Tesouro Verde A. P. A. Rio das Garças e Lei n°.261/02 de 26/08/02 920,070 Tesouro Furnas do Batovi A. P. A. do Pontal dos Rios Lei n°. 483/03 de 04/07/03 2.035,750 Itiquira Itiquira e Correntes A. P. A. Ribeirão do Sapo e rio Lei n°.314/02 de 07/08/02 306,425 Alto Taquari Araguaia Quadro 8: Unidades de Conservação – Reservas Municipais de Uso Sustentável Fonte: SEPLAN, 2007. Organização: Giseli Dalla Nora Felix, 2008.

A relação do relevo com os solos, a hidrografia com o clima e vice-versa, que formam as paisagens terrestres e os mais variados ambientes, por si só não existiriam se não fossem essas inter-relações dos elementos da natureza. E é por conhecer estes elementos e suas relações que o homem/sociedade deveria valorizar e preservar ainda mais os pontos “chaves” de equilíbrio da natureza. Neste sentido, as unidades de conservação abordadas juntamente com as terras indígenas expostas no mapa de Unidades de Conservação das SEPLAN – Secretaria de Planejamento do Estado de Mato Grosso (Anexo, 2008), elaborado com dados atualizados e com a proposta de criação de outras unidades de conservação em áreas estratégicas de nascentes, ilustram algumas atitudes que não levam em conta estas inter-relações. Estudos fazem parte do contexto do Zoneamento Sócio- econômico Ecológico- ZSEE ferramenta que se aprovada pela Assembléia Legislativa de Mato Grosso reorganizará todo o uso e ocupação do solo. Observa-se que por mais que existam unidades de conservação, estas apresentam em sua maioria, ineficiência da sua real função. Ao analisar o Mapa das Áreas Legalmente Protegidas do Estado de Mato Grosso e Unidades de Conservação Propostas pelo ZSEE (Anexo) consegue identificar as unidades de conservação presentes no Estado bem como as terras indígenas. A legislação ampara estas áreas considerando-as áreas de preservação permanente, mas o que se percebe na 89

realidade é a devastação destas áreas atingidas pelo desmatamento, queimadas, contaminação por insumos agrícolas e atividades mineradoras. Ao desenvolver esse mapa, a SEPLAN utilizou a espacialização das áreas legais de acordo com o memorial descritivo publicado no documento de criação das mesmas e levou em conta também a espacialização das novas áreas propostas para estudos conforme documento de relevância ecológica do ZSEE (Zoneamento Sócio- Econômico Ecológico) ainda em estudo para ser implantado. Este mapa mostra a área total em km² e hectares, mostra o decreto de criação da unidade de conservação além de expor a atual situação da unidade de conservação (Plano de manejo elaborado, plano de manejo implantado, regularização fundiária, infra-estrutura instalada e recursos humanos in loco). Estes dados são expostos em tabelas que concentram as unidades de conservação federais, estaduais e municipais. Ao proceder sua análise observa-se que as unidades de conservação em sua maioria localizam-se em áreas afastadas dos grandes centros, com poucas possibilidades de acesso. Algumas áreas localizam-se em nas fronteiras do estado e país como é o caso da fronteira do Brasil com a Bolívia. Outro dado interessante de ser analisado neste mapa, que por sinal apresenta informações relevantes, é a rede hidrográfica do Estado coberta de rios caudalosos alimentados por incontáveis nascentes. Ao observar o entorno das unidades de conservação verifica-se que as mesmas apresentam importantes nascentes que alimentam rios como o Rio Xingu, Rio Apiacás, Rio Teles Pires, Rio Juruena, Rio Cristalino, Rio Guaporé entre outros. O mais importante, que tem de chamar a atenção, é que se observamos o mapa, com cuidado, vamos ver que as principais nascentes das grandes bacias não estão protegidas por que estão localizadas nas bordas dos chapadões, áreas produtivas e já ocupadas pelo agronegócio. Esse é o maior paradigma a ser exposto neste trabalho, para a discussão.

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CONCLUSÕES

Os estudos referentes às unidades de conservação, bem como aos recursos hídricos e bacias hidrográficas levam a discutir sobre a importância destes locais para a preservação ambiental. Os espaços construídos pelo homem são organizados e montados através de sua legislação, e esta ilustra a sociedade através dos tempos. Cada período da história mostra para qual situação aquela sociedade estava voltada isto demonstra a evolução social através dos tempos. Na atualidade um dos maiores problemas para a manutenção dos recursos naturais tem sido conciliar a utilização destes recursos e o consumo. O consumo leva a geração de problemas ambientais como o desmatamento, às queimadas, a exploração dos solos e dos recursos minerais. Para amenizar a exploração desenfreada conta-se com as leis ambientais preocupadas com a preservação dos mesmos. O avanço do desmatamento em direção a Amazônia, motivo pelos quais foram criadas várias unidades de conservação nestas áreas nos últimos anos. O desmatamento acontece em todas as áreas do território brasileiro, mas possui destaque para a Amazônia por apresentar uma biodiversidade relevante e ser atualmente área de expansão agrícola. Nestas condições criar unidades de conservação com objetivos de preservar e conservar espécies (Fauna e Flora) é de suma importância. Aliado a preservação e conservação dos biomas está a preservação das bacias hidrográficas. As ações desenvolvidas pelo Poder Público, como a criação de áreas protegidas e de fiscalização têm contribuído para reduzir o desmatamento, mas ainda não são suficientes. É necessário que estas áreas sejam realmente unidades de conservação com as devidas proporções amparadas pela lei. Nesta concepção ao se associar a preservação de nascentes com as unidades de conservação atinge-se maior possibilidade de manutenção da qualidade da água e principalmente de manter a função política e ambiental das unidades de conservação. Muitas nascentes que alimentam importantes rios estão sendo contaminadas por resíduos de insumos agrícolas ou pelo processo de erosão. Estão sendo dizimadas em função do desmatamento de suas cabeceiras entre outros agravantes. Por lei as áreas de nascentes são consideradas APPs – áreas de proteção permanente não podem ser desmatadas ou utilizadas de forma que as degenerem, mas o fato é que nos dias atuais estas áreas sofrem muito com o processo de uso e 91

ocupação do solo de forma discriminada que sem fiscalização comprometem a sua continuidade. Neste sentido, devem-se levar em conta estas áreas quando se trata de criação de unidades de conservação. Atualmente muitas áreas de nascentes localizadas fora das unidades de conservação sofrem sérios impactos ambientais devido às atividades econômicas que predominam no Estado (soja, milho, algodão, sorgo e etc.). O Zoneamento Socioeconômico-Ecológico de Mato Grosso, quando aprovado (ainda está em votação) pela Assembléia Legislativa criará importantes unidades de conservação (Mapa de Unidades de Conservação de Mato Grosso – SEPLAN) visando justamente cabeceiras de rios importantes para o contexto de manutenção de nascentes que alimentam as três maiores bacias hidrográficas brasileiras: Amazônia, Paraná e Tocantins. No caso do Parque Nacional do Juruena a preocupação em relação aos recursos hídricos está vinculada a ser a área do encontro das águas do rio Juruena com o rio Teles Pires formando o rio Tapajós. Mas um rio não é somente formado de sua foz, mas de seus afluentes e sua cabeceira que se não for preservada não poderá contribuir para a formação de nenhum rio, nenhuma bacia hidrográfica. Neste sentido, deduz-se que muitas das unidades de conservação presentes no Estado de Mato Grosso não possuem em seus limites a maioria das áreas de nascentes devido a estas estarem localizadas há muito tempo em propriedades privadas, ou seja, sob o controle do capital. Aliado aos conflitos das unidades de conservação em relação aos objetivos de sua criação, a existência ou não de bacias hidrográficas está à infra-estrutura inexistente ou quase inexistente destas áreas. Nos dias atuais as unidades de conservação são criadas e somente depois de criadas que se começam a pensar em regularização fundiária, infra-estrutura, plano de manejo. Aqui se estudou o Parque Nacional do Juruena e se observou alguns fatos que assemelham a situação de outras unidades de conservação federais, estaduais e municipais comprovadas pelo Mapa de Unidades de Conservação de Mato Grosso – SEPLAN. Atentando aos dados coletados, ao levantamento de campo pode-se dizer que o Parque Nacional do Juruena não é sustentável por: 92

1- Ser criado apenas no papel, pois na realidade não possui infra-estrutura adequada (sede, telefone, rodovias trafegáveis, etc.) que diga que ali é uma unidade de conservação; 2- Não possui regularização fundiária da área total; 3- Não possui fiscalização, nem pessoal na área do Parna Juruena; 4- Não possui plano de manejo (em fase de elaboração pelos técnicos do Parna Juruena); 5- Não apresenta nenhum projeto de educação ambiental, pesquisa científica ou de desenvolvimento do turismo como a legislação possibilita. Os dados acima são confirmados pelo próprio site do IBAMA que coloca a situação dos Parques Nacionais como infra-estrutura, plano de manejo entre outros, no caso do Parna Juruena não existe nenhuma informação sobre o mesmo, nenhum dado que diga que existe algum trabalho que é desenvolvido no Parna. Outro dado interessante é dos próprios técnicos ambientais, em torno de 05 (cinco) técnicos, responsáveis pelo Parna Juruena terem sido nomeados somente em 2007 sendo que o parque foi criado em 2006. Outra característica interessante é destes mesmos técnicos trabalharem no município de Alta Floresta a 300 km da área do Parna Juruena. (conversa informal com os técnicos do IBAMA- MT). O fato é que sem a presença do poder público o parque fica a mercê de praticas e exploração comprometendo a sua função de preservação ambiental. Outro dado a ser levado em consideração em relação ao Parna Juruena é o fato de seu acesso ser dificultado ora pelas águas, ora pela falta dela. Na época das águas, das chuvas fica perigoso trafegar pelos rios em função das corredeiras do rio Juruena e Teles Pires (principais vias de acesso ao parque) além de serem intrafegáveis as estradas de terra que dão acesso aos municípios vizinhos a Alta Floresta e ao parque. Sem infra-estrutura e sem fiscalização os recursos naturais ficam a mercê da utilização insustentável. Para amenizar os impactos das ações antrópicas uma saída seria inserir a comunidade local no processo de criação destas áreas além de incentivar e desenvolver a educação ambiental, turismo, lazer e ecologia. O contexto do Parque Nacional do Juruena não foge a maioria da situação das unidades de conservação do país. Neste sentindo ao criar qualquer unidade de conservação deve-se levar em conta as nascentes próximas a área pretendida para assim proteger as bacias hidrográficas e os recursos hídricos. 93

PROPOSTA

Para garantir a sustentabilidade destas áreas, sugerimos a criação do NÚCLEO ITINERANTE DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO e EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Este núcleo percorrerá todos os municípios do Estado de Mato Grosso desenvolvendo projetos de preservação ambiental, reciclagem, educação ambiental no intuito de envolver as comunidades locais na valorização e preservação destas áreas. Este núcleo será responsável pelos estudos e conscientização da população local sobre as unidades de conservação. Será responsável por identificar possíveis áreas de criação de unidades de conservação. Envolverá a população local na implantação e preservação de unidades de conservação e nas existentes. Deverá transitar pelo Estado em áreas mais afastadas com pessoal técnico e especializado em preservação, fiscalização e conscientização ambiental, atuando de forma efetiva nas unidades de conservação e em todo o seu entorno, dinamizando as relações homem X natureza.

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ANEXOS

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Mapa das unidades de conservação da SEPLAN.