Lamarck Rocha1,5, Ramiro Gustavo Valera Camacho2, Margareth Ferreira De Sales3 & José Iranildo Miranda De Melo4
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Rodriguésia 68(2): 569-579. 2017 http://rodriguesia.jbrj.gov.br DOI: 10.1590/2175-7860201768219 Flora da Região de Xingó, Alagoas e Sergipe (Brasil): Turneraceae Flora of Xingó Region, Alagoas and Sergipe (Brazil): Turneraceae Lamarck Rocha1,5, Ramiro Gustavo Valera Camacho2, Margareth Ferreira de Sales3 & José Iranildo Miranda de Melo4 Resumo Este trabalho compreende o levantamento taxonômico da família Turneraceae para a Região de Xingó: Alagoas e Sergipe, Nordeste brasileiro. Foram encontradas nove espécies, distribuídas em dois gêneros: Piriqueta cistoides, P. guianensis, P. racemosa, Turnera calyptrocarpa, T. cearensis, T. chamaedrifolia, T. hermannioides, T. pumilea e T. subulata. O tratamento taxonômico inclui chave de identificação, descrições, ilustrações e comentários sobre os táxons. Palavras-chave: Caatinga, florística, nordeste brasileiro, Piriqueta, Turnera. Abstract This work comprises the taxonomic survey of the family Turneraceae for the Xingó Region: states of Alagoas and Sergipe, Brazilian northeastern. Nine species distributed in two genera were found: Piriqueta cistoides, P. guianensis, P. racemosa, Turnera calyptrocarpa, T. cearensis, T. chamaedrifolia, T. hermannioides, T. pumilea and T. subulata. The taxonomic treatment includes an identification key, descriptions, illustrations and comments about the taxa. Key words: Caatinga vegetation, floristics, Brazilian northeastern, Piriqueta, Turnera. Introdução especialmente no Cerrado e Caatinga, os quais Turneraceae é uma família predominantemente representam os principais centros de diversidade tropical com 12 gêneros e 229 espécies distribuídas da família (Arbo & Mazza 2011). Apesar de na América e África (Arbo 2007). Turneraceae s.s., tratar-se de um grupo bem estudado do ponto juntamente com Malesherbiaceae e Passifloraceae de vista taxonômico (Arbo 1995a, 1997, 2000, s.s., encontra-se circunscrita a Passifloraceae 2005, 2008), ainda é pouco representado em s.l., na ordem Malpighiales (APG IV 2016). floras locais, principalmente na região Nordeste Entretanto, estudos filogenéticos as sustentam do Brasil (Arbo 1995b; Agra et al. 2009; Rocha como independentes (Thulin et al. 2012; Tokuoka et al. 2012; Arbo 2013; Souza et al. 2013). O 2012). Por esta razão, neste estudo considerou-se a estudo de Arbo (2013) para o estado de Sergipe circunscrição tradicional de Turneraceae, conforme corresponde a uma importante contribuição para o Cronquist (1981). conhecimento da flora da Região de Xingó, porém No Brasil, Turneraceae está representada 158 as espécies do estado de Alagoas têm permanecido espécies, distribuídas em dois gêneros: Piriqueta desconhecidas, estando restritas a menções em Aubl., com 39 espécies, e Turnera L., com 120 listas florísticas (p. ex. Arbo 2006). espécies (BFG 2015; Arbo 2015). Ocorrem em Através deste estudo, objetivou-se inventariar todas as regiões e domínios fitogeográficos, e caracterizar morfologicamente as espécies de 1 Universidade Estadual de Feira de Santana, Prog. Pós-graduação em Botânica, Av. Universitária s/n, 44031-460, Feira de Santana, BA, Brasil. 2 Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Prog. Pós-graduação em Ciências Naturais, Depto. Ciências Biológicas, Av. Prof. Antônio Campos s/n, 59633-010, Mossoró, RN, Brasil. 3 Universidade Federal Rural de Pernambuco, Depto. Biologia, Prog. Pós-graduação em Botânica, R. Dom Manuel de Medeiros s/n, 52171-030, Recife, PE, Brasil. 4 Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Depto. Biologia, Av. das Baraúnas 351, 58429-500, Campina Grande, PB, Brasil. 5 Autor para correspondência: [email protected] 570 Rocha, L. et al. Turneraceae da Região de Xingó, abrangendo parte Pernambuco e Sergipe, com predominância dos estados de Alagoas e Sergipe, além de prover da vegetação de caatinga [Savana Estépica chave de identificação, descrições, ilustrações Arborizada - IBGE (2012)]. A Região é cortada e dados atualizados acerca da distribuição dos pelo rio São Francisco e se destaca como uma representantes desta família no domínio da importante unidade geográfica e sociocultural Caatinga, dando continuidade ao projeto “Flora no Brasil. A área estudada se localiza entre os da Região de Xingó: Alagoas e Sergipe” (Melo et estados de Alagoas (municípios de Olho d’Água al. 2009a, b; Santos et al. 2009; Silva et al. 2010; do Casado, Pão de Açúcar e Piranhas) e Sergipe Machado-Filho et al. 2012). (municípios de Canindé do São Francisco, Nossa Senhora da Glória, Poço Redondo e Porto da Material e Métodos Folha) (Fig. 1). A Região de Xingó está situada no Nordeste Foram analisadas as coleções dos herbários brasileiro (9o30’–10o0’S, 37o30’–38o0’W), na ASE, CTES, HUEFS, IPA, PEUFR, RB e UFP, confluência dos estados de Alagoas, Bahia, além de espécimes coletados nos municípios Figura 1 – Mapa de localização da Região de Xingó, evidenciando a área estudada em cinza-escuro (Canindé do São Francisco, Nossa Senhora da Glória, Olho d’Água do Casado, Pão de Açúcar, Piranhas, Poço Redondo e Porto da Folha). Fonte: IBGE 2012. Figure 1 – Xingó Region location map, showing the study area in dark-grey (Canindé do São Francisco, Nossa Senhora da Glória, Olho d’Água do Casado, Pão de Açúcar, Piranhas, Poço Redondo and Porto da Folha). Font: IBGE 2012. Rodriguésia 68(2): 569-579. 2017 Turneraceae na Região de Xingó 571 supracitados, durante os anos de 1999 e 2002, Tratamento Taxonômico através do projeto “Flora da Região de Xingó: Turneraceae Kunth ex DC., Prodr. 3: 345 (1828), Alagoas e Sergipe”. As identificações foram nom. cons. realizadas com base em literatura especializada Ervas a arbustos, anuais ou perenes. Folhas (Arbo 1995a, 1997, 2000, 2005, 2008). A alternas, simples; geralmente com pares de nectários terminologia morfológica se baseou em Radford extraflorais basilaminares, circulares; venação et al. (1974) e Harris & Harris (1994), enquanto broquidódroma. Estípulas 2, desenvolvidas ou os tipos de indumentos se fundamentaram em rudimentares. Inflorescências cimosas, unifloras Payne (1978) e González & Arbo (2004). As e axilares, raro formando um racemo terminal. coordenadas dos municípios foram obtidas Flores actinomorfas, bissexuais, hipóginas, através da ferramenta GeoLoc (CRIA 2005). Os homostilas ou heterostilas; pedúnculo livre ou comentários referentes aos aspectos ecológicos e adnato ao pecíolo (flor epifila); com ou sem coloração das pétalas se basearam nas informações pedicelo; brácteas presentes ou ausentes; bractéolas das etiquetas de herbário. (profilos) 2, geralmente opostos, às vezes ausentes; sépalas 5, porção basal gamossépala, prefloração Resultados e Discussão quincuncial; pétalas 5, dialipétalas, alternissépalas, Para a Região de Xingó foram registradas prefloração contorta; unha conata ao tubo nove espécies distribuídas em dois gêneros: calicino, constituindo um tubo floral; corona Piriqueta, com três espécies, e Turnera, com ausente ou presente e, neste caso, localizada na seis espécies. De modo geral, são espécies unha das pétalas e base das sépalas; estames 5, de ampla distribuição no Nordeste brasileiro, alternipétalos, livres entre si, por vezes, adnatos ocorrendo principalmente em áreas de caatinga pelas margens ou porção basal ao tubo floral; aberta, por vezes associadas a áreas antrópicas. anteras bitecas, dorsifixas, deiscência longitudinal, Os caracteres que se mostraram mais úteis para introrsas; ovário 3-carpelar, gamocarpelar, a separação das espécies foram: a composição unilocular, placentação parietal; estiletes 3; do indumento, coloração das pétalas e forma das estigmas penicelados. Cápsulas loculicidas, bractéolas e sementes. 3-valvares. Sementes com arilo desenvolvido. Chave para as espécies de Turneraceae da Região de Xingó, Alagoas e Sergipe (Brasil) 1. Caules com tricomas tectores simples, estrelados, estrelados-porrectos, às vezes glandulares setiformes; flores com bractéolas rudimentares; corona presente. 2. Corola salmão; epicarpo granuloso, tricomas glandulares setiformes .......2. Piriqueta guianensis 2’. Corola amarela; epicarpo liso, tricomas tectores simples. 3. Flores reunidas em um racemo terminal; sementes lunadas ............... 3. Piriqueta racemosa 3’. Flores solitárias; sementes obovoides ...................................................1. Piriqueta cistoides 1’. Caules com tricomas tectores simples ou estrelados, às vezes glandulares microcapitados, capitado- estipitados ou capitado-sésseis; flores com bractéolas desenvolvidas, 4–13 mm compr.; corona ausente. 4. Nectários extraflorais presentes. 5. Indumento com tricomas tectores simples e estrelados. 6. Subarbustos; flores com pedúnculo adnato ao pecíolo; filetes glabros; sementes oblongas, epiderme lisa ......................................................................... 7. Turnera hermannioides 6’. Arbustos; flores com pedúnculo livre do pecíolo; filetes pilosos; sementes obovoides, epiderme papilosa ........................................................................... 5. Turnera cearensis 5’. Indumento apenas com tricomas tectores simples. 7. Caules tomentoso-hirsutos; flores homostilas; corola amarela, base amarelo-alaranjada; epicarpo liso; sementes lunadas, retículo proeminente .................... 8. Turnera pumilea 7’. Caules estrigosos; flores heterostilas; corola creme, base castanho-escura; epicarpo verrucoso; sementes obovoides, retículo plano ............................... 9. Turnera subulata 4’. Nectários extraflorais ausentes. Rodriguésia 68(2): 569-579. 2017 572 Rocha, L. et al. 8. Tricomas glandulares capitado-estipitados;