D. Jorge Ortiga Pede Respostas Adequadas Para O Envelhecimento António Silva António Silva
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DOMINGO.18.MAR 2018 WWW.DIARIODOMINHO.PT 0,90 € Diretor: DAMIÃO A. GONÇALVES PEREIRA | Ano XCVIII | n.º 31704 Monsenhor Silva Araújo Filipa Correia/DACS distinguido como exemplo de cidadania e vida cristã BRAGA Monsenhor Silva Araújo foi homenageado, ontem, em Braga. Entre os diversos elogios proferidos no âmbito desta cerimónia, monsenhor Silva Araújo foi classificado como «um príncipe do jornalismo», «sacerdote exemplar», «homem íntegro ou inteiro» e um «exemplo de cidadania». P.10-11 BRAGA P.04-06 D. Jorge Ortiga pede respostas adequadas para o envelhecimento António Silva António Silva DESPORTO P.20 SPORTING DE BRAGA BRAGA P.08-09 PREPARADO PARA Católica quer mais cidadãos DIFICULDADES WWW.AUTOFIX.PT AutoFix.lda com curso superior em Portugal EM CHAVES 02 DIÁRIO DO MINHO / DOMINGO / 18.03.18 www.diariodominho.pt narciso machado p. rui rosas Juiz desembargador jubiloado A propósito da pena máxima de prisão Monges, freiras e recasados edro Dias, autor do massa- de 1995, que alterou o máximo da pe- a sua Exortação Apostó- soal, clara e responsável, que surge no cre de Aguiar da Beira foi na do homicídio qualificado de 20 pa- lica, Amoris Laetitia, o Pa- seu percurso vital como uma resposta condenada pelo Tribunal ra 25 anos de prisão, se encontra mani- pa Francisco convidou to- a um chamamento divino, a que ha- da 1.ª instância a uma pe- festamente desadequada: matar uma ou dos nós a procurar tratar, bitualmente se chama “vocação”. Por na com cúmulo material mais pessoas é indiferente. O atribuir-se com a maior compreensão outras palavras, a sua vida é posta ao de 104 anos de prisão e em à pena um conteúdo de reprovação éti- e discernimento, aqueles serviço de Deus com absoluta volunta- Pcúmulo jurídico a 25 anos, pena máxima ca não significa que se abandonem as fi- Ncristãos que estivessem numa situação riedade. Não há coacção, nem fracas- admitida no nosso Código Penal. Mas, nalidades da prevenção geral e especial, matrimonial que não coincide com a so, nem percalço, mas correspondência se tudo lhe correr bem na prisão pode- nem muito menos, que se sugira o alhea- doutrina que a Igreja sempre expôs co- livre a um chamamento de Deus, que rá sair em liberdade condicional aos 19 mento da recuperação do delinquente. mo aquela que Jesus Cristo, na sua pas- Se compromete a dar toda a ajuda ne- anos de prisão. O número de crimes gra- Se o crime está a tornar-se uma amea- sagem pela terra, nos deixou para sem- cessária, através da graça que concede, ves cometidos, por Pedro Dias (três ho- ça real, não podemos dar-nos ao luxo de pre. Também o actual Romano Pontífice para que o caminho por Ele sugerido micídios e vários outros crimes) suscita nos entregar a sentimentos demasiado não quis, como é óbvio, modificar a mes- seja perfeitamente ultimado por quem a questão da justeza da pena máxima de benevolentes. O primeiro passo con- ma doutrina. Pediu apenas que se exer- o aceitou e quis. prisão, admitida no nosso ordenamento siste, como é óbvio, em determinar até citasse com todos uma caridade mise- Os recasados merecem toda a mise- jurídico-penal. que ponto o problema é realmente sé- ricordiosa. Deste modo, ninguém deve ricórdia da Igreja e, portanto de qual- Os crimes cada vez mais violentos rio. Depois, devemos indagar que medi- ser posto de parte, pois, apesar dos nos- quer cristão. São filhos de Deus como que têm ocorrido nestes últimos anos das se tornam necessárias tomar, a fim sos erros e debilidades, continuamos a todo o homem e receberam, além do comprovam a necessidade urgente de de reduzir o crime violento. ser filhos de Deus. E Deus é um Pai que sacramento do Baptismo que minora aumentar a pena máxima de prisão, já As estatísticas publicadas são úteis, nos quis manifestar a qualidade do seu as fraquezas do pecado original, tam- que a justiça, a segurança e o bem co- sendo a principal fonte de informação amor, contando-nos, pela boca de Cris- bém, entre outros, um sacramento – o mum são considerados os principais fins verdadeiramente segura de que dis- to, a parábola do “Filho Pródigo”. do matrimónio – que tem exigências do Estado, objetivos globais que ele vi- pomos sobre assunto. E estas vão no E quem pode não sentir-se nessas muito concretas sobre a unidade do sa atingir. E surgindo em conflito os di- sentido de um aumento substancial circunstâncias, fazendo um exame de vínculo que contraem e a fidelidade de versos fins do Estado, tem este que de- do crime violento. Na verdade, não há consciência humilde e profundo? E ambos os cônjuges. Se a sua vida foi sa- cidir, escolhendo aquele que deve, em muito tempo, houve uma rápida su- quem não se sente verdadeiramente cudida por uma espécie de abalo muito seu ponto de vista, prevalecer. De um cessão de brutais crimes de homicídio, defendido por esse Pai que festeja sem- duro, quer no plano afectivo, quer no modo geral, os Estados costumam dar mas a ansiedade e a indignação públi- pre o regresso do seu filho destempe- plano existencial, não podem sacudir a sua preferência à segurança, quando cas atingiram o climax com o massa- rado, explicando-nos, também através com ligeireza toda a responsabilidade esta estiver seriamente ameaçada. cre de Aguiar da Beira. E a propósito de Cristo, que é capaz de perdoar até e reclamar para si um tratamento sem A dimensão ética do Estado impri- choveram opiniões, não só na impren- setenta vezes sete? fronteiras e exigências. Pelo contrário, me à justiça o estatuto de primeiro ga- sa mas em toda a parte, para que se- Tudo isto vem a propósito de um te- devem reflectir seriamente sobre a sua rante da consolidação dos valores funda- ja aumentada a pena máxima de pri- ma que tem sido muito abordado, com responsabilidade a respeito da situação mentais reconhecidos pela comunidade, são para este tipo de crimes, tendo em frequência sem qualquer clarividência e em que se encontram. com especial destaque para a dignidade conta o número de homicídios prati- boa informação, a respeito, como atrás Não é tarefa fácil, embora não im- da pessoa humana. Assim, a sociedade cados pelos arguidos. se referia, dos cristãos que se encontram possível. O Papa Francisco, repetimos, política deve substituir, à arbitrária vio- Alguém já imaginou, como justa, uma em situação matrimonial complexa. vem-nos chamar a atenção para que em lência individual, as regras inspiradas na pena de 25 anos de prisão para um ato Não há muito tempo, alguém, apro- tais casos se saibam discernir, acolher e justiça, visando a equidade e o respeito terrorista no qual morrem uma ou duas fundamento exaltado e indignado, ao receber com o maior afecto cristão es- mútuo nas relações inspiradas entre os dezenas de pessoas? Creio que ninguém ver-me, me interpelou, quase gritan- ses filhos de Deus que se encontram em cidadãos, nomeadamente o respeito pela duvida que nestes casos a severidade das do: “Com que então a Igreja quer que circunstâncias difíceis. Mais uma vez se vida humana, que a Constituição diz ser sanções constituem um instrumento fun- os recasados vivam como monges ou recorda a parábola do “Filho pródigo”. inviolável (art. 24.º, n.º 1.º). Não sendo o damental de prevenção criminal, na me- como freiras? Bem se vê que não en- A Igreja não pode proceder de manei- único instrumento de combate à crimi- dida em que serão um elemento forte- tende nada sobre a natureza humana. ra diferente daquilo que Cristo nos en- nalidade, o Código Penal deve constituir mente dissuasor de futura deliquência. Coitados deles...” sinou, quer na forma como acolhe es- o repositório dos valores fundamentais Existe até um correlação estreita entre a E seguiu o seu caminho sem me dar sas pessoas, quer no modo como lhes da comunidade. E as molduras penais gravidade da pena e a condenação moral ocasião para explicar alguma coisa so- recorda aquilo que também Cristo nos mais não são, afinal, do que a tradução do comportamento delituoso, na medida bre os monges, as freiras e os recasados. recordou sobre as características essen- da hierarquia de valores da sociedade. em que a lei e a pena sejam considera- E, muito menos, para lhe dizer que ela ciais do matrimónio. E ajudá-los a en- Uma das razões que justifica a revi- das justas e legítimas. Ora, u ma análise entende com profunda objectividade e trar pelas vias que devem seguir para al- são da pena máxima está a necessidade desapaixonada verificará que a medida sabedoria a natureza humana. cançar do Pai o abraço carinhoso com de corrigir o desequilíbrio entre as pe- da pena máxima, cominada no Código Em primeiro lugar, a Igreja não quer que recebe os seus filhos. nas previstas para os crimes mais gra- Penal, já não se adequa ao sentir profun- que os recasados vivam como monges ves contra as pessoas e os crimes contra do da comunidade portuguesa. ou como freiras. Quer os monges, quer o património. Creio que a maioria dos A maior severidade da pena máxima a freiras, não se encontram nas suas portugueses desejará uma agravação pa- e a necessidade de reprovação ética do comunidades na sequência dum fra- ra os primeiros. Assim, verifica-se que, delinquente, não exclui, naturalmente, casso duro e difícil da vida. A sua con- atualmente, a revisão do Código Penal a aposta na reinserção social. dição corresponde a uma decisão pes- 18.03.18 / DOMINGO / Publicidade / DIÁRIO DO MINHO 03 www.diariodominho.pt 04 DIÁRIO DO MINHO / DOMINGO / 18.03.18 www.diariodominho.pt Arquidiocese de Braga vai continuar a apostar no ciclo de debates Braga Nova Ágora com temas de interesse e relevância social inegáveis.