Redalyc.Composição Florística De Solanaceae E Suas Síndromes De Polinização E Dispersão De Sementes Em Florestas Mesófil
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Interciencia ISSN: 0378-1844 [email protected] Asociación Interciencia Venezuela Albuquerque, Lidiamar B.; Velázquez, Alejandro; Vasconcellos-Neto, João Composição florística de solanaceae e suas síndromes de polinização e dispersão de sementes em florestas mesófilas neotropicais Interciencia, vol. 31, núm. 11, noviembre, 2006, pp. 807-816 Asociación Interciencia Caracas, Venezuela Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=33912209 Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA DE SOLANACEAE E SUAS SÍNDROMES DE POLINIZAÇÃO E DISPERSÃO DE SEMENTES EM FLORESTAS MESÓFILAS NEOTROPICAIS Lidiamar B. AlbuQuerQue, AleJandro VelÁZQuez e João Vasconcellos-Neto RESUMO Em geral, os processos de polinização e dispersão de sementes de Solanaceae estão primeiramente associadas às condições de são fundamentais para entender a colonização e a regeneração perturbação e umidade, enquanto que no Brasil, as análises su- dos ecossistemas. Neste trabalho, analisou-se a composição flo- gerem a altitude ao nível do mar e a umidade. Nas dois regiões rística e suas síndromes de polinização e dispersão de sementes constatou-se que a síndrome de polinização dominante é a me- da família Solanaceae nas florestas mesófilas das regiões equi- litofilia. Entretanto, ao comparar as síndromes de dispersão de valentes do México e do Brasil. Partiu-se da premissa que se as sementes, verificou-se que existem diferenças significativas entre florestas são fisionômicamente semelhantes e estão distribuídas essas regiões. Para o México prevalece a ornitocoria, enquanto em regiões equivalentes, deveriam ter processos funcionais simi- para o Brasil a quiropterocoria. Isto coincide com os centros de lares. Os resultados mostram as diferenças na composição flo- diversificação das aves na América Central e dos quirópteros na rística, mas ambas as florestas compartem um número similar América do Sul, o que sugere que houve um processo de coa- de espécies de Solanaceae (México 25 e Brasil 26). No Méxi- daptação funcional entre as espécies de solanáceas e as espécies co, verificou-se que a distribuição e a abundância das espécies de morcegos e aves dispersoras de sementes em cada região. s solanáceas têm dis- ricos, como perturbação natural e huma- írem amplamente em áreas perturbadas, tribuição cosmopolita, na, também influenciam os padrões de sendo consideradas espécies pioneiras com cerca de 90 gêneros distribuição (Motzkin et al., 1999). Na (Bohs, 1994; Silva et al., 1996; Neps- (Martins e Costa, 1999) e mais de 3500 primeira etapa da perturbação as espécies tad et al., 1998; Tabarelli et al., 1999). espécies (D’Arcy, 1986, 1991). Estão am- estabelecidas têm suas populações reduzi- No entanto, ao contrário da maioria das plamente distribuídas nos trópicos e regi- das e/ou segundo Laurence e Bierregard espécies pioneiras apresentam, predomi- ões temperadas, com maior centro de dis- (1997) pode ocorrer à extinção das plan- nantemente, dispersão zoocórica, princi- persão na Austrália e na América Latina. tas, tanto através de ações diretas sobre palmente quiropterocórica e ornitocórica. O Brasil apresenta cerca de 30% dos gê- elas quanto através de efeitos indiretos Outras espécies apresentam restrições neros (26) e aproximadamente 10% (362) nos polinizadores e/ou nos dispersores de ecológicas como Solanum inodorum (na de todas as espécies de Solanaceae do sementes. Essas interações entre planta, Serra do Japi, São Paulo, Brasil) que mundo (Barroso, 1991). Na América do polinizador e dispersor são fundamentais ocorre acima de 800m (João Vascon- Sul encontra-se a sua maior diversidade, na estruturação de comunidades, pois po- cellos-Neto, comunicação pessoal) e, no assim considera-se que esta região seja o dem influenciar na sua distribuição espa- México, Lycianthes monziniana, distri- seu provável centro de origem (Hunziker, cial, na riqueza e abundância de espécies, buído acima de 2000m em florestas de 1979). na estrutura trófica e na fenodinâmica pino-encino (Nee, 1986; Williams, 1993). A distribuição das es- (Janzen, 1970; Heithaus, 1974; Bawa et Outras espécies apresentam em áreas res- pécies responde aos fatores climáticos e al., 1985; Morellato, 1991). tritas como Physalis tehuacanensis e P. edáficos e à disponibilidade de recursos. Muitas espécies de So- queretaroensis (endêmicas do México), As interações bióticas e os fatores histó- lanaceae são conhecidas por se distribu- enquanto outras como S. americanum PALAVRAS CHAVE / Dispersão de Sementes / Florestas Mesófilas Neotropicais / Florística / Polinização / Solanaceae / Recebido: 28/07/2005. Modifição: 13/10/2006. Aceito: 16/10/2006. Lidiamar B. Albuquerque. Ph.D. em Ecologia, Universidade Estadual de Campinas (UNI- CAMP), Brasil. Pesquisadora, Universidade Católica Dom Bosco, Brasil. Endereço: Rua Moreira Cabral, 321. B. Planalto, Campo Grande, MS, Brasil. CEP: 79.009-150. e-mail. [email protected] João Vasconcellos-Neto. Ph.D. em Ecologia, UNICAMP, Brasil. Pesquisador, UNICAMP, Brasil. e-mail: [email protected] Alejandro Velázquez. Ph.D. em Ecologia de Paisagem, Universidade de Amsterdam, Holan- da. Pesquisador, Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM). e-mail: [email protected] NOV 2006, VOL. 31 Nº 11 0378-1844/06/11/807-10 $ 3. 00/0 807 distribuem-se em praticamente todos os Os frutos de Solanaceae 3) florestas que englobam, convencional- biomas terrestres. Esse fato pode ser atri- são bastante diversificados, apresentam mente, uma série de comunidades vegetais buído à grande diversidade de espécies e diversos meios de dispersão de sementes, que se caracterizam por prosperar em lu- de hábitos de vida desse grupo, apresen- com predominância de zoocoria em 83% gares com relevo acidentado; 4) florestas tando desde árvores, arbustos, ervas e das espécies. Apesar da importância desta com fisionomias semelhantes em relação a lianas, às vezes semiepífitas (Markea e família, ainda poucos trabalhos de fru- estratos e formas de vida dominantes; 5) Juanulloa), ou ervas rizomáticas, quase givoria foram feitos. O trabalho clássico florestas consideradas relictuais pela alta acaules (Jaborosa), muitas vezes arma- com dispersão de sementes em Solanace- proporção de endemismos que abrigam; das (Acnistus, Grabowskia e Solanum) ae é o de Symon (1979), na Austrália, que 6) florestas com alta diversidade biológi- ou inermes (Barroso, 1991). registrou a ocorrência de vários meios de ca relativa; e 7) florestas com distribuição Algumas espécies de So- dispersão para o do gênero Solanum, com fragmentada. lanaceae são de grande importância na 96% das espécies zoocóricas. O trabalho no México alimentação humana, como Lycopersicon De acordo com Terborgh foi realizado em 9 localidades de flores- esculetum (tomate), S. tuberosum (batata) e Robinson (1986), comunidades com fi- tas mesófilas, compreendendo os municí- e Capsicum spp (pimenta), enquanto ou- sionomias semelhantes têm espaços fun- pios de Molango, Lolotla, Xochicoatlán e tras são ornamentais, como Brugmansia cionais (nichos) semelhantes. Assim, são Tlanchinol (Estado de Hidalgo), na região candida, Petunia violacea, S. pseudo- encontrados muitos equivalentes ecoló- da Sierra Madre Oriental (20º51'65''N e capsicum (Gentry e D’Arcy, 1986; Nee, gicos em florestas nas mesmas latitudes, 98º41'84''W). Nessas áreas a altitude varia 1986). Sua grande variedade e quantidade embora em continentes diferentes como entre 1380 a 1800m. A paisagem mostra de metabólitos secundários (alcalóides, es- América Latina e África. Como as sola- relevo montanhoso de vertentes íngrimes teróides, flavonóides, terpenos, etc) são de náceas têm relevante papel ecológico na a declividades suaves. A temperatura mé- particular interesse na área médica, far- estruturação de comunidades, este traba- dia anual varia entre 12 e 23ºC e a pre- macológica e toxicológica (Evans, 1986; lho tem como objetivo analisar a com- cipitação média é de 2000mm, a máxima Roddick, 1986). Recentemente se desta- posição de espécies e cou a sua importância ecológica como li- comparar as síndromes mitante da frugivoria (Cipollini e Levey, de polinização e dis- 1997a, b, c) e antifúngica (Cipollini e Le- persão de sementes de vey, 1997b). Esta família também tem pa- Solanaceae em duas pel importante como colonizadora de áre- áreas de florestas mesó- as abertas e perturbadas como pastagens, filas que compartilham clareiras, borda de florestas e beira de condições fisiográficas, estradas (Bohs, 1994; Silva et al., 1996; climáticas, ecológicas e Nepstad et al., 1998; Tabarelli et al., graus de perturbações 1999). Essa colonização depende dos pro- semelhantes no México cessos de polinização e dispersão de se- e no Brasil. mentes (Murray et al., 2000), assim estas interações bióticas, tanto em Solanaceae Regiões de Estudo como em outras famílias, são fundamen- tais para se entender o funcionamento e, Definição das regiões portanto, a regeneração dos ecossistemas equivalentes (Morellato e Leitão-Filho, 1992; Gorchov et al., 1993; Reis, 1996; Medellín e Gao- Este estudo foi na, 1999). desenvolvido na região Vários grupos de ani- Neotropical, em duas mais alimentam-se preferencialmente de regiões de florestas me- frutos com determinada combinação de sófilas, uma no hemis- características morfológicas, como cor, fério sul, Serra do Japi, tamanho, forma,