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BALDUINIA, n. 56, p. 01-11, 20-III-2017 http://dx.doi.org/10.5902/2358198026215

NOTAS HISTÓRICAS SOBRE A FAMÍLIA CACTACEAE NO RIO GRANDE DO SUL (BRASIL) E URUGUAI. I – PERÍODO CLÁSSICO (1818-1950): VIAJANTES NATURALISTAS E BOTÂNICOS EUROPEUS1

RODRIGO CORRÊA PONTES2 JOSE NEWTON CARDOSO MARCHIORI3 LEOPOLDO WITECK NETO4

RESUMO O histórico das descobertas de cactáceas no Rio Grande do Sul e Uruguai é examinado a partir de registros literários dos viajantes naturalistas, horticultores e botânicos que se dedicaram à prospecção e ao estudo destas plantas no espaço regional. Palavras-chave: Botânica, Cactaceae, História, Rio Grande do Sul, Uruguai.

ABSTRACT [Historical notes about the Cactaceae family in the State of Rio Grande do Sul (Brazil) and Uruguay. I – Classic period (1818-1950): naturalist travelers and european botanists]. Relevant findings about the history of Cactaceae family in Rio Grande do Sul State (Brazil) and Uruguay are examined according to literary records of ancient traveling naturalists, horticulturists and botanists who dedicated themselves to the exploration and study of these in the regional space. Keywords: , Cactaceae, History, Rio Grande do Sul, Uruguay.

INTRODUÇÃO Na Europa, o interesse pelos cactos data de Distintas paisagens do Rio Grande do Sul e princípios do século XIX, quando viajantes na- Uruguai, tais como afloramentos rochosos, turalistas deram início à busca e estudo dos areais, campos com gramíneas, escarpas e, até mesmos, sobretudo no tocante à taxonomia e mesmo, o interior de florestas densas apresen- fenologia, mas sem maior empenho no registro tam ambientes propícios ao estabelecimento de histórico dos achados e respectivos descobri- cactáceas, as quais, pela ocorrência fragmenta- dores. da, deram origem a numerosos endemismos. O presente artigo, que busca reunir fatos his- Outro aspecto a destacar, de início, é que pela tóricos relativos ao descobrimento de cactos no beleza das formas geométricas e flores visto- Rio Grande do Sul e Uruguai, destina-se não sas, essas plantas são muito apreciadas para fins apenas aos especialistas neste grupo de plantas ornamentais, justificando seu cultivo em todo o e aos amantes da Botânica e de disciplinas afins, mundo. mas, inclusive, a profissionais de outras áreas das ciências naturais, bem como a historiadores e pessoas interessadas nesta família botânica. 1 Recebido em 05-09-2016 e aceito para publicação em 15-11-2016. A elaboração do artigo justifica-se pela au- 2 Geógrafo, doutorando em Geografia, Programa de sência de uma bibliografia em língua portugue- Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal sa sobre o tema no Rio Grande do Sul. A adição de Santa Maria. [email protected] 3 Engenheiro Florestal, Dr. Bolsista de Produtividade do Uruguai deve-se tanto à inclusão de parte da em Pesquisa (CNPq – Brasil). Professor Titular do então província Cisplatina (atual Uruguai) ao Departamento de Ciências Florestais, Universidade território gaúcho no início do século XIX, como Federal de Santa Maria. [email protected] 4 Engenheiro Florestal, M.e., Professor do Colégio pelo fato de diversos exploradores e pesquisa- Politécnico, Universidade Federal de Santa Maria. dores terem desenvolvido seus trabalhos de cam- [email protected] po em ambos os lados da fronteira.

1 A lacuna bibliográfica explica-se pelo fato na busca de espécies novas desta família botâ- da literatura ser, em grande parte, de difícil aces- nica. so e, quando disponível, oferecer dificuldades Até os anos 1980, aproximadamente, ainda ou problemas de difícil solução. Felizmente, era possível a saída de cactos da América do grande parte dessa história ainda perdura, em- Sul sem maiores problemas, devido à bora nem sempre em letra de forma. Salienta- inexistência de fiscalização. A literatura de- se, ainda, a existência de abundantes equívo- monstra que a exportação de plantas era prática cos, sobretudo na grafia de toponímias, bem absolutamente legal e que, até então, nem se pen- como de etiquetas com nomes errôneos e/ou tro- sava no risco do desaparecimento de espécies. cados, caso de espécimes coletados em uma lo- Muitos viajantes, aliás, nem iam, pessoalmen- calidade mas indicados para local distinto. te, em busca de cactos nessa época, repassando Outra dificuldade no desenvolvimento do a tarefa para moradores da região, contratados tema prende-se ao fato de que a literatura se en- para o trabalho de coleta de plantas e sementes. contra, principalmente, em língua alemã, exi- Desse modo, tanto botânicos como coleciona- gindo tradução criteriosa. Não raro, ainda, são dores contribuíram para as descobertas (ou os textos em espanhol, francês, holandês, inglês redescobertas) de espécies novas, as quais, pos- e tcheco. Por fim, ressalta-se que o cole- teriormente, foram introduzidas, cultivadas e cionismo, difusão e estudo de cactáceas sempre propagadas por viveiristas amadores e profissi- foi (e continua a ser) mais intenso em países onais, em âmbito internacional. como Alemanha e Áustria, do que em nosso Para manter o caráter histórico e cronológi- meio. co do texto preferiu-se conservar os binômios Ao longo do texto, os leitores perceberão que das descrições originais. A nomenclatura atual a riqueza de dados se avoluma com o passar dos e sinonímia podem ser consultadas em tabela a anos. Do início do século XIX até meados do ser apresentada em anexo, no artigo final desta século XX, as informações disponíveis são es- série. cassas e fragmentárias, carecendo, por vezes, Por fim, na realização da presente pesquisa de dados precisos sobre locais e datas de cole- foram recolhidas informações esparsas, cons- ta. Elementos importantes, como esses, mesmo tantes em cartas, diários, jornais, livros e revis- tendo existido um dia, não raramente acabaram tas, às quais se somam entrevistas com pessoas extraviados, destruídos ou separados de cole- que vivenciaram ou testemunharam essa verda- ções por motivos variados, inclusive em decor- deira saga, que é a história do descobrimento rência de conflitos mundiais. das espécies dos cactos no Rio Grande do Sul e A partir da década de 1950, as informações Uruguai. mostram maior detalhamento, demonstrando que os viajantes dessa época, mais ligados à ci- O PERÍODO CLÁSSICO ência botânica, bem como ao cultivo e comér- No início do século XIX já se encontravam cio de plantas em maior escala, reconheciam a espécies tipicamente pampianas em coleções importância da precisão nos registros. Tais ele- privadas ou em jardins botânicos da Europa, mentos, de fundamental importância, foram oriundas da Argentina, Uruguai e Brasil, leva- principalmente anotados em diários de viagem das por viajantes anônimos, sem interesse botâ- e em cartas, constando, em menor parte, em ar- nico, ou a pedido de colecionadores. tigos de periódicos ligados a sociedades vincu- O primeiro cacto globular pampiano referi- ladas ao colecionismo, bem como ao cultivo e do na literatura foi erinaceus, descrito estudo científico dos cactos. pelo botânico e entolomogista inglês Adrian Outro ponto a salientar é que o cultivo Hardy Haworth (19-04-1767 – 23-08-1833) em (horticultura) sempre foi o principal estímulo 1819, a partir de exemplar cultivado em

2 Norwich, leste da Inglaterra, e publicado em Conforme Ritter (1979), Echinocactus “Supplementum Plantarum Succulentarum” denudatus foi descoberto por Sellow entre (Haworth, 1819). Ao que consta, Haworth exa- Caçapava do Sul e Bagé, em janeiro de 1824. minou a planta na coleção particular de um No ano seguinte, o botânico prussiano enviou amigo – o Sr. Hitchin –, no ano de 1818. De exemplares para o Jardim Botânico de Berlim. acordo com registro em “Transactions of the Com relação a Cactus scopa (Sprengel, Horticultural Society of London”, nessa época 1825), C. langsdorffii e C. linkii (Lehmann, havia apenas duas coleções notáveis de cactos 1826, 1827), Echinocactus courantii, E. na Inglaterra: a do próprio Haworth e a de mammulosus e E. pumilus (Lemaire, 1838), Hitchin (Beaton, 1842). Embora de origem des- Echinocactus gracillimus, E. hyptiacanthus, E. conhecida, o material costuma ser atribuído ao submammulosus (Lemaire, 1839) e Echino- Uruguai, uma vez que é nesse país que a referi- cactus concinnus (Monville, 1839), não se des- da espécie tem maior área de ocorrência. No carta, igualmente, a possibilidade de que a des- Rio Grande do Sul, de acordo com recentes tra- crição dessas espécies pampianas seja resulta- balhos de campo, o táxon tem distribuição res- do de remessas de Friedrich Sellow ao Jardim trita a municípios da metade sul, tais como Botânico de Berlim, uma vez que a área de ocor- Herval, Pedras Altas e Arroio Grande, e limite rência das mesmas coincide com o trajeto per- setentrional no município de Bagé. corrido pelo naturalista no Uruguai e Rio Gran- Um grande destaque no histórico das de do Sul. cactáceas uruguaias e sul-rio-grandenses deve A respeito do espólio do viajante prussiano, ser creditado a Friedrich Sellow (12-03-1789 - que inclui anotações, cartas, desenhos, docu- ?-10-1831), botânico que entre os anos de 1923 mentos diversos, exsicatas, animais (insetos, e 1926 realizou extensas viagens pelas então mamíferos, etc.) e amostras de rochas, não cus- províncias Cisplatina e de São Pedro do Rio ta salientar que este riquíssimo acervo acabou Grande do Sul, sendo um dos pioneiros no des- repartido entre os diversos museus de Berlim, cobrimento e envio de cactos globulares da re- após sua morte por afogamento nas águas do gião para a Europa (Schumann 1890; Herter rio Doce, em outubro de 1831 (Marchiori et al., 1945). Os exemplares coletados por Sellow fo- 2016). Apesar da destruição de parte do materi- ram cultivados por muitos anos no Jardim Bo- al de herbário da capital alemã ao final da Se- tânico de Berlim e, mais tarde, serviram para as gunda Guerra Mundial, são numerosas as descrições taxonômicas realizadas por Johann exsicatas de Sellow que se encontram nas cole- Heinrich Friedrich Link (02-02-1767 – 01-01- ções de outras importantes instituições científi- 1851), Christoph Friedrich Otto (04-12-1783 – cas do mundo, citando-se o “Royal Botanic 07-12-1856) e Johann Georg Christian Lehmann Gardens” (Kew, Inglaterra), o “New York (25-02-1792 – 12-02-1860), entre outros (Link Botanical Garden”, o “Muséum National & Otto 1827, 1828, 1829; Lehmann, 1827). d’Histoire Naturelle” (Paris), o “Natural History De acordo com a “Flora Brasiliensis”, Sellow Museum” (Londres), o Museu Nacional do Rio foi responsável pela coleta e envio para o Jar- de Janeiro, o “Jardin Botanic de l’État” (Bruxe- dim Botânico de Berlim de Cactus ottonis, C. las), o Herbário da Universidade de Cambridge tenuispinus, Echinopsis oxygona, E. multiplex, (Inglaterra), os herbários Boissier e Delessert Echinocactus. denudatus, E. acuatus (?), E. (de Genebra, Suíça), o “Gray Herbarium” intricatus (?), E. orthacanthus, E. poliacanthus, (Harvard, USA), o “Botanisches Institut und E. sellowii, E. tephracanthus e E. tortuosus Botanischer Garten” (Kiel, Alemanha), o (Link & Otto 1827, 1828,1829; Lehmann 1826, “Rijksherbarium” (Leiden, Holanda), o “Lunds 1827; Schumann 1890). Universitet Botaniska Museet” (Lund, Suécia),

3 o “Botanitscheski Institut Akademij Nauy” (São vavelmente, do leste da Argentina ou do sul do Petersburgo, Rússia), o Instituto Botânico da Brasil. Na obra de Pfeiffer (1837, p. 72), a ori- Universidade de Lisboa, o “Botanisches Institut gem das plantas consta como sendo de “Buenos der Universität” (Leipzig, Alemanha), o Aires”. Em expedições recentes, a espécie foi “Botaniska Museet” (Uppsala, Suécia), o encontrada no oeste do Rio Grande do Sul, en- “Naturhistoriska Riksmuseet” (Estocolmo), o tre os municípios de Quaraí e Uruguaiana, pre- “Botanische Tuinen Universiteit Utrecht” ferencialmente em solos arenosos, mas também (Holanda), o “United States National em afloramentos de rocha. Herbarium” (Washington), o “Naturhistorisches Ainda em 1830, Link descreveu Echino- Museum” e “Botanischer Garten Universität” cactus oxygonus em “Verhandlungen des (em Viena) e o Museu Nacional de Historia Vereins zur Beförderung des Gartenbaues in den Natural de Santiago, Chile (Barreto, 1976). Königlich Preussischen Staaten 6” (Link & Otto, Alguns diários e relatórios de Sellow foram 1830), publicação que se pode traduzir como preservados, mas os registros de suas coletas “Registros de transações da Sociedade de de Cactáceas foram completamente perdidos Horticultura da Prússia”. Conforme indicação (Hackethal, 1995). Desse modo, na ausência de do texto, que fornece ilustração, o tipo também documentos – e com informações disponíveis seria procedente de coleta realizada por imprecisas –, não se tem certeza sobre a locali- Friedrich Sellow no sul do Brasil. dade exata de grande parte de suas coletas. É Em 1837, Ludwig Karl Georg Pfeiffer (04- possível, no futuro, que esta lacuna venha a ser 07-1805 – 02-10-1877) descreveu Cereus esclarecida (ou pelo menos mitigada) mediante multiplex em “Enumeratio Diagnostica Cacte- criterioso estudo comparativo entre as informa- arum Hucusque Cognitarum”, com base em ções disponíveis em exsicatas e os registros re- material igualmente atribuído a Sellow. Nessa lativos a outras coleções, tais como a de rochas, mesma obra foram descritos Cereus ala- juntamente com viagens pontuais, com vistas à criportanus, coletado em Porto Alegre, reconstituição do roteiro do viajante, o qual foi Echinocactus corynodes, procedente de esboçado, inicialmente, por Urban (1893). Maldonado, no sudeste do Uruguai, e E. Não custa lembrar que o botânico prussiano muricatus, do sul do Brasil. A respeito da últi- não viveu o suficiente para escrever e publicar ma espécie, cabe salientar que o autor não men- sobre o extraordinário acervo científico por ele ciona coletor nem fornece informações mais reunido, motivo pelo qual seu nome foi rapida- precisas sobre o local de coleta (Pfeiffer, 1837); mente esquecido, pelo menos no que concerne apesar desta lacuna, o mais provável é que tam- aos cactos. bém se deva a Friedrich Sellow e, provavelmen- Outra espécie de antigo e difundido cultivo te, por ocasião de sua viagem de Alegrete a São na Europa é Echinocactus eyriesii, descrita pelo Borja e Missões, uma vez que a espécie tem dis- botânico e ilustrador francês Pierre Jean tribuição restrita ao centro-oeste do Rio Gran- François Turpin (11-03-1775 – 01-05-1840) no de do Sul, principalmente nos atuais municípi- periódico “Annales de l’Institut de Fromont os de Jaguari, Nova Esperança do Sul, São Horticole” e em “Observations sur La Famille Vicente do Sul e Santiago. des Cactées”, ambos datados de 1830. O táxon Ainda no mesmo ano, o botânico alemão presta homenagem ao Sr. Alexandre Eyries, da Joseph Gerhard Zuccarini (10-08-1797 – 18-02- cidade de Le Havre, França (Turpin, 1830). 1848) criou o gênero Echinopsis, propondo De acordo com Charles (2013, p. 28), Eyries Echinocactus eyriesii como espécie-tipo informa que foi um capitão francês quem levou (Zuccarini, 1837). de Buenos Aires para a França dois exemplares Um ano mais tarde, tanto Cereus oxygonus de Cactus eyriesii em 1827, procedentes, pro- como C. multiplex foram transferidos para o

4 gênero Echinopsis, na obra “Abbildung und Adolph Haage Jr. (08-04-1859 – 07-05-1930), Bescheibung Blühender Cacteen”, enriquecida em Erfurt (Alemanha), não constando qualquer com belas ilustrações (Pfeiffer & Otto, 1838). menção ao coletor e origem das mesmas. O Em 1838, o botânico e professor francês nome específico presta homenagem ao Dr. Charles Antoine Lemaire (01-11-1800 – 22-06- Haselberg, experiente cultivador de cactos de 1871) descreveu Echinocactus courantii, E. Stralsund (Alemanha). Sobre a origem, mammulosus e E. pumilus na obra “Cactearum Schumann (1903) informa que os indivíduos aliquot novarum ac insuetarum in horto foram levados para a Alemanha em 1884, pro- Monvilliano cultarum accurata descriptio” cedentes do Rio Grande do Sul. (Lemaire, 1838). No ano seguinte, o mesmo Em 1895, a espécie Pilocereus lenninghausii autor descreveu Echinocactus gracillimus, E. foi mencionada pela primeira vez por Karl hyptiacanthus e E. submammulosus, em Schumann, que atribuiu o binômio a Friedrich “Cactearum genera nova specieque novae et Haage, o famoso viveirista de cactos de Erfurt omnium in horto Monvilliano cultarumex (Schumann, 1895). Essa referência, entretan- Affinitatibus Naturalibus Ordinatio Nova to, não constitui descrição válida, pois mencio- Indexque Methodicus ”; na descrição dessas na apenas o nome científico, sem fornecer ca- espécies, que não inclui dados sobre flores e racterísticas mais precisas da planta. Um ano frutos, o autor também não faz referências so- mais tarde, Pilocereus lenninghausii apareceu bre a procedência das mesmas (Lemaire, 1839). em oferta no catálogo comercial do viveiro da De acordo com Schumman (1903, p. 130), o Firma Haage, de Friedrich Ferdinand Adolph período de 1840 a 1880 foi marcado pela au- Haage Jr., juntamente com uma ilustração e bre- sência de novos registros de cactos procedentes ve descrição (Eggli & Hofacker, 2010). Segun- do Rio Grande do Sul e Uruguai. Salienta-se, do Haage (1981), o epíteto específico presta todavia, a criação do gênero Malacocarpus em homenagem a “Fred. Guilhermo (Wihelm) 1850, com vistas a abranger algumas espécies Lenninghaus”, imigrante alemão que se insta- até então classificadas em Echinocactus (Salm- lou em Porto Alegre, onde passou a colecionar Dyck, 1850). cactos. A espécie, encontrada em local impreci- Em 1886, o botânico inglês Joseph Dalton so no Rio Grande do Sul, teria sido enviada ao Hooker (30-06-1817 – 10-12-1911) descreveu viveiro Haage em 1894. Sobre esse ponto, Echinocactus joadii, com base em plantas cul- Schumann (1903, p. 130) opina que o mais pro- tivadas no “Royal Botanic Gardens”, obtidas por vável é que a mesma foi inicialmente introduzida “Mr. Joad”, residente em Wimbledon (Inglater- na Alemanha em 1884, por August Christian ra). O texto indica que as plantas foram coletadas Gustav Ferdinand Haage (1830-1921) e, numa no Uruguai (Hooker, 1886). segunda oportunidade, por seu filho Ferdinand Data de 1886, ainda, a publicação de Haage Jr., entre 1895-1896. “Handbuch der Kakteenkunde”, obra dos botâ- Outra expressiva contribuição ao conheci- nicos e horticultores alemães Carl Friedrich mento dos cactos do Rio Grande do Sul deve-se Föster (1817-1901) e Karl Theodor Rümpler ao alemão Karl Moritz Schumann (17-06-1851 (1817-1891), que inclui as descrições de – 22-03-1904), professor de Botânica, natural Malacocarpus martinii (de origem desconheci- de Görlitz (Volkens, 1904), que foi curador do da), Echinocactus concinnus var. tabularis Museu de Berlim-Dahlem entre 1880 e 1894 e (oriundo do Uruguai) e E. haselbergii (Förster presidente da “Deutsche Kakteen-Geselschaft”, & Rümpler, 1886). a renomada “Sociedade Alemã de Cactos”. Den- A respeito de Echinocactus haselbergii, sabe- tre as numerosas contribuições de Schumann à se que a descrição foi elaborada a partir de plan- família botânica destacam-se: “Gesamtbes- tas cultivadas no viveiro de Friedrich Ferdinand chreibung der Kakteen” (1898) e “Praktikum für

5 morphologische und systematische Bota- mo e agrostólogo argentino Lorenzo R. Parodi nik” (1904). O pesquisador também publicou (23-1-1895 –21-4-1966), o nome genérico presta sobre plantas brasileiras e participou ativamen- homenagem, em verdade, a outro naturalista de te na organização da monografia de Cactáceas mesmo sobrenome – Domingo Parodi (Gêno- da “Flora Brasiliensis”, para a qual forneceu va, 1823 – Paris, 1889) –, que se graduou em algumas ilustrações e elaborou uma chave de Farmácia em Buenos Aires e publicou sobre as identificação para as espécies descritas floras do Paraguai, de Corrientes e Misiones. A (Schumann, 1890; Volkens, 1904), incluindo, de respeito do referido gênero, não custa adiantar forma organizada e objetiva, diversas espécies que sua distribuição geográfica inclui, atualmen- sul-rio-grandenses. te, diversas espécies nativas no Rio Grande do Em 1903, Schumann descreveu Echino- Sul e Uruguai (Hunt, 2006). cactus graessneri, igualmente indicada para o Um grande marco no estudo dos cactos do estado sulino. As informações complementares Uruguai deve-se a José Cosme Arechavaleta y foram fornecidas pelo Sr. Graessner Jr., de Balparda (27-09-1838 – 16-06-1912), botânico Perleberg (Alemanha), responsável pela impor- e naturalista espanhol que imigrou para Monte- tação das plantas em agosto de 1903 (Schumann, vidéu em 1855, onde atuou como farmacêutico 1903). Um ano mais tarde, o mesmo autor des- e professor universitário de Botânica e de His- creveu Echinocactus arechavaletae, oriunda do tória Natural Médica. Em 1890, Arechavaleta Uruguai e que presta homenagem ao ilustre bo- tornou-se diretor interino do Museu de História tânico hispano-uruguaio José Arechavaleta y Natural de Montevidéu e passou a trabalhar Balparda (27-9-1838 – 16-6-1912). exaustivamente em sua notável “Flora Em 1904 foi também descrito Echinocactus Uruguaya”, vinda a lume em 1905. Nas mais de elachisanthus, pelo francês Frédéric Albert cem páginas dedicadas aos cactos nativos, soma- Constantin Weber (17-05-1830 – 21-07-1903). se, à riqueza de dados, numerosas fotografias e Trata-se de espécie dúbia, nativa no nordeste uma chave para identificação de gêneros do departamento de Maldonado, Uruguai (Arechavaleta, 1905). A contribuição de (Weber, 1904). Arechavaleta serviu, ainda, para aguçar o olhar Em 1905, o naturalista ítalo-argentino Carlo de botânicos e especialistas posteriores, tais Luigi (Carlos Luis) Spegazzini (20-04-1858 – como Herter, Osten, Marches e Schlosser. Com 01-07-1926) incluiu e/ou descreveu Echi- o tempo, comprovou-se que muitas das desco- nocactus arechavaletae, E. acuatus var. bertas de Arechavaleta eram ecotipos, motivo depressus, E. acuatus var. tetracantha, E. pelo qual acabaram reduzidas à sinonímia (Hunt caespitosus, E. mammulosus var. typica, E. et al, 2006). De sua autoria, entretanto, restam mammulosus var. pampeana, E. mammulosus Echinocactus apricus, E. fricii, E. floricomus, var. hircina, E. pampeanus, E. pygmaeus e E. E. pauciareolatus, E. scopa var. albicans, E. pygmaeus var. phaeodisca em “Cactacearum sellowii var. acutata, E. sellowii var. Platensium Tentamen” (Spegazzini, 1905), obra macrocantha, E. sellowii var. macrogonus, E. que firmou seu nome na bibliografia de tacuarembense, E. turbinatus e E. uruguayensis fanerógamas, ampliando sua já conhecida tra- (Arechavaleta, 1905). jetória em outros campos das ciências naturais, Curiosamente, Arechavaleta cometeu alguns notadamente da micologia, zoologia, mineralo- erros de identificação. É o caso de Echinocactus gia e geologia. tabularis, em que o autor apresenta como ilus- Em 1923, Spegazzini estabeleceu o gênero tração uma foto de Notocactus mueller- Parodia para designar cactos globulares da Ar- melchersii em plena floração, espécie que ain- gentina e Bolívia. Embora menos conhecido na da não havia sido descrita. Outra informação ciência botânica do que o engenheiro agrôno- dúbia prende-se à ocorrência de Echinocactus

6 denudatus nos departamentos de Rivera e Em 1928, Fric publicou o catálogo “Cacti Tacuarembó, no norte do Uruguai. the coming Fashion”, em que se menciona, pela Após a popularização dos cactos globulares primeira vez, a palavra Notocactus, gênero por coletados por Friedrich Sellow, emergiu na Eu- ele atribuído a espécies globulares sul-america- ropa, no início do século XX, outra personali- nas de flores amarelas e frutos secos. A espécie dade que reavivou uma verdadeira “febre” en- utilizada como referência na designação foi tre os colecionadores de cactos pampianos: Echinocactus schumannianus, nativa do Alberto Vojtech Fric (18-09-1882 – 04-12- Paraguai (Theunissen, 1985). 1944). Natural de Praga, esse botânico, escritor Depois dessas viagens à América do Sul, o e etnólogo tcheco tornou-se conhecido como trabalho de Fric passou a distinguir-se por idéi- “caçador de cactos” e chegou a rincões longín- as novas e revolucionárias. Em revisão sobre a quos, além do Oceano Atlântico (Král, 2002). classificação da família, o autor elaborou uma Ao todo, o viajante realizou oito expedições à “árvore genealógica”, antecipando o objetivo América do Sul, em países como Argentina, perseguido pela atual filogenia. O pesquisador Bolívia, Brasil, Paraguai, Peru e Uruguai, sem- tcheco também apresentou novas metodologias pre em busca de registros etnológicos e de plan- para o estudo da semente e o difícil preparo de tas, especialmente de cactos. A seu respeito, plantas na confecção de exsicatas. salienta-se que era pela comercialização de plan- Apesar de redigir seus próprios achados, Fric tas, sobretudo, que o pesquisador angariava os rejeitou a elaboração de diagnoses em latim, recursos necessários a novas viagens. norma exigida desde 1935, e acreditava que uma A região do Pampa começou a ser in- imagem (fotografia), por ser mais fiel, substitui vestigada por Fric em sua segunda expedição, com vantagem qualquer descrição, motivo pelo de agosto de 1903 a setembro de 1905, período qual restam válidas apenas suas descrições an- em que esteve no Uruguai. Na quinta (maio de teriores ao referido ano. 1919 a junho de 1920), ele andou pela Argenti- Muitas décadas mais tarde, os botânicos tche- na e Uruguai; na sétima (de janeiro a junho de cos Zdenik Fleischer (1905-1978) e Bohumil 1927), percorreu a Argentina, Brasil, Paraguai Schütz (1903-1993) reabilitaram, em 1975, al- e Uruguai e, em sua oitava (e última) viagem guns dos antigos achados de Fric, descrevendo (outubro de 1928 a março de 1929), passou pelo Notocactus euvelenovskyi, N. mueller-moelleri Uruguai e Argentina (Neduchal, 2002). Todas e Wigginsia rubricostata (Fleischer & Schütz, estas oportunidades renderam muitas descober- 1975). O mesmo aconteceu com Notocactus tas ao botânico tcheco, principalmente de cac- minimus, descrito a partir de plantas enviadas a tos globulares, que logo se tornaram “moda” no Fric pelo Sr. Kolischer, em 1931 (Buining, 1940). continente europeu. Muitos dos gêneros e espécies criados por Impossibilitado de viajar à América do Sul Fric são atualmente reconhecidos apenas como durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), sinônimos. No inverno de 1939-1940 ele per- Friè dedicou-se neste período ao cultivo de cac- deu grande parte de sua coleção por congela- tos, para o que instalou estufas e um jardim ex- mento. Após esse dano – e sabedor da fome que perimental em sua casa, na cidade de Praga. O então grassava no mundo –, Fric passou a reali- pesquisador gostava de relatar experiências com zar experimentos com híbridos e variedades de semeadura, cultivo, cuidados e enxertia de cac- plantas cultivadas (Theunissen, 1985) em suas tos, salientando-se, no tocante a novas espéci- estufas e laboratório, realizando, inclusive, cru- es, as descrições de Malacocarpus beltranii, M. zamentos intergenéricos de cactos e outras plan- bezrucii, M. bezrucii var. centrispinus, M. tas. Mesmo sem perceber sua contribuição, Fric bezrucii var. cornifer e M. kovaricii foi uma das personalidades que mais influen- (Theunissen, 1985). ciou o universo dos colecionadores de cactos.

7 Dos autores que se dedicaram ao estudo e coletada pelo “Dr. Walther” no “Cerro Portón”, classificação de espécies coletadas por outros – departamento de Tacuarembó (Osten, 1941). Em e que permanecem quase desconhecidos na li- 1943, o autor publicou novas combinações, teratura –, salienta-se o botânico alemão Alwin transferindo espécies do gênero Echinocactus Berger (28-08-1871 – 20-04-1931), autor de para Notocactus (Herter, 1943). “Kakteen”, obra publicada em 1929 e que al- O segundo botânico alemão que atuou in- cançou renome em sua época, na qual algumas tensamente no Uruguai foi Cornelius Osten (11- espécies foram agrupadas no gênero Notocactus, 02-1863 – 06-09-1936). Natural de Bremen, ele de acordo com a proposição original de Fric emigrou em 1896 para Montevidéu, dedicando- (Berger, 1929). se à exportação de lã e, por natural inclinação, Nas décadas de 1930 e 1940, outros dois também à botânica, colaborando com eminentes botânicos alemães destacaram-se no Arechavaleta no Museu de História Natural. estudo dos cactos nativos no Uruguai – Herter e Ainda em vida, Osten adquiriu amplo prestígio Osten –, dando sequência ao trabalho realizado entre botânicos norte-americanos e europeus da por José Arechavaleta. época e, apesar de se considerar um outsider5 O berlinense Wilhelm (Guillermo) Gustav na scientia amabilis, publicou várias mono- Franz Herter (10-01-1884 – 17-04-1958) viveu grafias sobre a flora uruguaia (Theunissen, no vizinho país entre 1923 e 1939, associado ao 1993). Jardim Botânico e Museu de História Natural. Pouco antes de falecer, Cornelius Osten re- Entre outras atividades, ele também lecionou na passou suas anotações e herbário para o Museu “Universidad de La Republica” e foi diretor da de História Natural de Montevidéu. Mais tarde, “Revista Sudamericana de Botânica” (Schlosser, o eminente mirtólogo Diego Legrand, diretor- 1980). assistente do referido museu, publicou as notas Além de coletar plantas, Herter publicou di- originais e as excelentes fotografias do botâni- versos trabalhos de revisão taxonômica de co teuto-uruguaio em “Notas sobre Cactáceas”, cactáceas. Em 1930, reconhecendo a existência obra póstuma, vinda a lume em 1941. Neste de dois homônimos no gênero Echinocactus (E. meticuloso trabalho, são apresentadas chaves de arechavaletai Spegazzini e E. arechavaletae K. identificação, descrições detalhadas e fotogra- Schumann), propôs o binômio Echinocactus. fias em preto-e-branco de Echinocactus maldonadensis, sanando a questão. Ignorado por megapotamicus, E. scopa forma ramosus e E. muitos autores, este seu táxon foi reconhecido schroederianum, entre outras espécies. A espé- como válido por Hofacker (2010). cie Echinocactus erubescens, de Piriápolis (Uru- Em dezembro de 1933, Herter coletou uma guai), que segundo o autor seria um híbrido en- espécie desconhecida em rochas de arenito do tre E. mammulosus e E. tabularis (Osten, 1941), “Cerro Galgo”, no departamento uruguaio de constitui, todavia, espécie dúbia. Rivera. A planta floresceu em cultivo nos anos No estudo de Osten percebe-se a oscilação de 1934 e 1935, apresentando flores rosa-escu- entre o sistema de classificação de Karl ras, tonalidade até então incomum em cactos Schumann e o dos botânicos norte-americanos globosos (Werdermann, 1936), motivo pelo qual Nathaniel Lord Britton (15-01-1859 – 25-06- tornou-se um dos mais populares no gênero Echinocactus: trata-se de E. herteri, descrita 5 Expressão usada pelo próprio Cornelius Osten para de- pelo também berlinense Erich Werdermann (02- finir sua relação com a botânica, em carta de 11-02-1931 03-1892 – 20-04-1959), especialista em cactos ao Dr. Benjamin Lincoln Robinson (1864-1935): “yo no pertenezco a la tribu Botánica, solo soy um outsider, colunares. comerciante (yo he enviado muchos fardos de lana a Em 1942, Herter retribuiu a homenagem com USA y Europa), retirado desde hace dos años, la scientia a descrição de Notocactus werdermannianus, amabilis es mi hobby ...” (Paz & Bassagoda, 2011).

8 1934) e Joseph Nelson Rose (11-01-1862 – 04- Melchers em 1936, no departamento de Cerro 05-1928), que também incluíram os cactos Largo (Uruguai), próximo à fronteira com o pampianos em sua alentada “The Cactaceae”, Brasil (Daeniker et Krainz, 1948). No mesmo obra editada entre 1919 e 1923. ano, o botânico alemão Kurt Kreuzinger (1905- Outra importante contribuição aos cactos do 1989) descreveu Notocactus ottonis var. schuldtii Uruguai deve-se a Friedrich Karl Müller a partir de remessa recebida em 1932, procedente Melchers (07-02-1890 – ?-?-1967). Natural de do Rio Grande do Sul (Gerloff, 1986). Bremen (Alemanha), ele emigrou para o Uru- Curt Backeberg (02-08-1894 – 14-01-1966), guai em 1914 e trabalhou em uma indústria até outro importante horticultor e taxonomista ale- 1942, dedicando-se, após a aposentadoria, ao mão, também realizou viagens em busca de cac- estudo de vegetais marinhos no Museu Nacio- tos nas Américas Central e do Sul. Autor de “Die nal de História Natural de Montevidéu, onde Cactaceae”, obra em seis volumes, publicados também atuou como bibliotecário voluntário. A entre 1958 e 1962, e de “Kakteenlexicon” respeito de sua pessoa, sabe-se que nas expedi- (1966), Backeberg descreveu novos gêneros, ções ao interior do país ele dedicava especial espécies e variedades, caso de castanea, atenção aos cactos e que foi o coletor de com ocorrência designada, inicialmente, para o Notocactus mueller-melchersii e N. rutilans, Uruguai (Backeberg, 1935), e estabeleceu os entre outras espécies (Backeberg, 1935; gêneros Acanthocephala e Eriocephala para Daeniker et Krainz, 1948). espécies do Rio Grande do Sul (Backberg, Em 1942, o jardineiro suíço Hans Krainz (13- 1938), transferindo-as, mais tarde, para 05-1906 – 20-05-1980) publicou Notocactus Brasilicactus e Eriocactus, respectivamente mueller-melchesii var. gracilispinus, coletado na (Backeberg, 1942). O autor enfocou aspectos “Sierra de las Ánimas”, departamento de fitogeográficos das distintas espécies e elabo- Maldonado (Uruguai) e, três anos mais tarde, rou mapas de ocorrência para subfamílias e gê- descreveu Notocactus scopa var. daenikerianus, neros. Resta comentar que muitos de seus gê- a partir de sementes oferecidas no catálogo de neros foram posteriormente abandonados ou sementes de 1938, da firma de importação e reduzidos à sinonímia. exportação de Harry Blossfeld (27-02-1913 – Mesmo sem ter visitado o Rio Grande do Sul, 07-07-1986), botânico e especialista em cactos Backeberg descreveu duas espécies nativas no e orquídeas, natural de Postdam, Alemanha estado, juntamente com Otto Voll (1884-1959), (Krainz, 1945). Blossfeld também contribuiu outro especialista alemão, responsável pela cria- com a coleta de sementes, sendo que de uma ção e manutenção da coleção de cactos do Jardim viagem à região de Santa Rosa e Santo Cristo Botânico do Rio de Janeiro (Backeberg, 1949). provieram os exemplares que, cultivados na De acordo com a descrição de Frailea antiga Tchecoslováquia, levaram à descrição de alacriportana, os exemplares dessa espécie fo- Notocactus ottonis var. venclusianus, de flores ram inicialmente remetidos a Voll por Ricardo vermelhas (Prestlé 1995). Na referida publica- Kennicke (?) e depositados sob o nº 14.114 na ção de 1942, foi ainda descrito Notocactus scopa coleção do Jardim Botânico do Rio de Janeiro; var. glauserianus. Resta acrescentar que a ori- em 1941, novos exemplares foram enviados por gem de ambas as variedades de Notocactus Carlos Zuckermann, de Porto Alegre (RS), os scopa foi atribuída ao Uruguai, mas sem locali- quais foram registrados sob o nº 15.830. Ape- dade definida (Krainz, 1945). sar da descrição não mencionar a localidade tipo, Em 1948, Krainz descreveu Notocactus o nome específico alude, inequivocamente, à rutilans, em parceria com Albert Ulrich Däniker capital do Rio Grande do Sul. (12-06-1894 – 29-04-1957), com base em ma- Parodia alacriportana foi descrita com base terial encontrado e distribuído por Müeller em planta coletada por Helmut Berger em 1939

9 e depositada sob o nº 15.513 no Jardim Botâni- EGGLI, U; HOFACKER, A. Validation of the Name co do Rio de Janeiro. Como localidade-tipo Parodia lenninghausii (Cactaceae), with a note menciona-se “Serra perto de Porto Alegre”, sem on the lectotypification and orthography of the maiores detalhes (Backeberg, 1949). Segundo name. Novon, v. 20, n.1, p.30-32, 2010. o coletor, em carta de 18-01-1941 enviada a Otto FLEISCHER, Z; SCHÜTZ, B. Uruguayské Voll, a flor era amarela e de grande tamanho. notokaktusy a wigginsie A.V. Fric. Friciana, v. 8, n. 50, 1975. 48 p. Apesar de Voll tê-la cultivado a partir de semen- FÖRSTER, C. F.; RÜMPLER, K. T. Handbuch der tes, as plantas não floresceram. A espécie, infe- Kakteenkunde 2. Leipzig: p. 563-564. 1886. lizmente, não voltou a ser coletada e o local pre- HACKETAL, S. Friedrich Sellow (1789-1831). ciso de coleta segue desconhecido. Skizzen einer unvollendeten Reise durch Südamerika. Fauna und Flora in Rheinland- AGRADECIMENTOS Pfalz, n. 17, p. 215-228, 1995. Os autores registram agradecimentos a HAWORTH, A. Supplementum Plantarum Andreas Hofacker (Böblinger) e Wolf-Rainer Succulentarum, p.74, 1819. Abraham (Hillerse), bem como ao professor HERTER, W. Auf den Spuren der Naturforscher Marcelo Antonio Rodrigues e ao Colégio Poli- Sellow und Saint-Hilaire. Botanische técnico da UFSM, pelo apoio financeiro à rea- Jahrbücher, n. 74, p.119-149, 1945. lização desta pesquisa. HERTER, G. Notocactus maldonadensis (Herter) Herter, Revista Sudamericana de Botanica. n. 7, p. 216, 1943. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HOOKER, J. D. Curtis’s Botanical Magazine. Londres v. 112, tab. 6867, 1886. ARECHAVALETA, J. Cactaceae. Anales del Museo HUNT, D.R; TAYLOR, N; CHARLES, G. The New Nacional de Montevideo. v. 2, n. 5, p. ser. 2, 5, Cactus Lexicon. Milborne Port, 2006. 899 p. p.161-291, 1905. KRAINZ, H. Neue und seltene Kakteen aus der BACKEBERG, C. Neue Kakteen aus Brasilien. 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