PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

MARIA JOSÉ LOPES DE CARVALHO

MULHERES DO ARARIPE: Trajetórias de lutas e representatividade política (1982-2004)

MESTRADO EM HISTÓRIA SOCIAL

São Paulo 2011 2

MARIA JOSÉ LOPES DE CARVALHO

MULHERES DO ARARIPE: Trajetórias de lutas e representatividade política (1982-2004)

MESTRADO EM HISTÓRIA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em HISTÓRIA SOCIAL, sob a orientação da Profª. Drª Maria Izilda Santos de Matos.

SÃO PAULO 2011 3

BANCA EXAMINADORA

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À minha mãe Maria do Socorro Reis de Carvalho, grande mulher, que a memória torne possível partilhar sua experiência vivida, e ao meu pai José Manoel de Carvalho que, aos nossos ouvidos, é agradável ouvir as muitas histórias de outrora por ele contadas, grande historiador, e que me são muito queridos, admiráveis e exemplos de integridade. Dedico com amor filial e agradeço profundamente pelo incentivo, apoio e empenho possibilitando a mim e aos meus irmãos oportunidades de adquirir conhecimentos e respeito à vida.

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AGRADECIMENTOS

Bom é louvar ao SENHOR, e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo. (Salmo 92-1)

É uma ação difícil, relacionar todas as pessoas que contribuíram para concretização desse trabalho, portanto, amigas e amigos não fiquem tristes pelo fato de não ter registrado o nome de algum de vocês, isso não significa que não me ajudaram. Quando se parte para seção de agradecimentos, acaba-se às vezes sendo injusto, mas com certeza agradecerei pessoalmente a vocês e direi MUITO OBRIGADA, MUITO OBRIGADA... Em primeiro lugar, agradeço ao supremo Deus pela realização desse sonho. O apoio da família, das amigas, dos amigos e de outras pessoas que colaboraram de forma direta e indireta, para o alcance dessa etapa, foram fundamentais para continuar no caminho e na busca de aprofundar os conhecimentos nas áreas das Ciências Humanas e Sociais e, em especial, no campo da historiografia. Entendo que a história é carregada de sentido porque movem mulheres e homens para realizarem seus desejos e vontades. A frase de Walter Benjamin explica que "a história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de 'agoras'." Dessa forma, que busquei vivenciar, não somente no percurso da carreira acadêmica, mas na vida profissional e afetiva as potencialidades que a vida oferece, uma vida vazia também é uma história vazia, e foi o encontro com a história que propiciou um encontro com a vida cheia de sentidos, foi na história que encontrei Deus, que me ajudou a superar as adversidades e as angústias. Às mulheres do Araripe que com seus "saberes e fazeres" são protagonistas desse cenário. Agradeço a todas, uma vez que sem elas não existiria essa pesquisa e para mim são MESTRAS: Vera Lúcia dos Santos Araujo; Maria Darticlea A. Lima Modesto; Francisca de Assis Arruda Gomes – Assisinha; Silvania Maria de Oliveira Gomes; Maria Augusta Lima Modesto; Maria Gracilda Lopes de Carvalho; Maria Aparecida dos Reis – Cidoca; Maria de Jesus de Araújo Reis – Maria Lopes; Maria Marlene de Morais; Terezinha de Jesus Carvalho e Sousa; Maria das Graças Veloso Sousa e Maria Clenilda de Carvalho Assunção – Maria Luiza. 6

Quero registrar meus agradecimentos à professora Dra. Maria Izilda Santos de Matos que me acompanhou com suas orientações nesses dois anos e meio de Mestrado na PUC/SP. Confesso que a maneira suave e paciente de orientar da Drª Izilda me cativou bastante, de forma que contribuiu para meu amadurecimento como acadêmica e inclusive como pessoa. Às professoras doutoras da qualificação, agradeço pela leitura e sugestões ao texto dissertativo: Profª Drª Rosana Maria Pires Barbato Schwartz (Mackenzie-SP); meu agradecimento em especial à Profª Drª Maria Angélica V. M. C. Soler (professora aposentada da PUC-SP) (in memoriam) que alguns dias após a qualificação partiu repentinamente. Às Professoras e professores doutores do Mestrado em História Social da PUC-SP: Olga Brites, Heloísa Cruz, Estefânia Knotz, Maria Odila, Antonio Rago pelas contribuições nas reflexões para este trabalho. Aos meus bisavós e avós todos in memoriam: Rosa Dias, Luis Lopes (bisavós), Francisca (mãe Chica), Manoel (pai Né), Josefa. Sem esquecer do meu avô materno – querido avô Domingos – meus sinceros agradecimentos; um grande exemplo para toda família e para minha formação educacional e pessoal, é uma pessoa íntegra que passa boas energias. Às tias e tios: Belúcia, Salete, Gilda, Eliana, Joaquina (Quininha), Apolônia, Didi, Maria, Arcânja, Lô, José Luís (Lécio), Francisco (Titico), Luís Avelino, Francisco (Nêgo Chico), João de Neco, Florêncio, Luiz Nunes e João de Maria. A estes que me são caros, tia Zita e tio Déde, Socorrinho, Ana Rosa e Vicente Luiz, tia Roze Mary e Sales, Roberto Luiz, Rômulo e Junior, que me acolheram em suas residências na minha caminhada estudantil em Picos-PI e Trindade-PE, onde fui cercada de muito amor e carinho. Um muito obrigada é pouco! Às irmãs e aos irmãos que me são muito queridos: Luzanilda (Nildinha), Manoel (Dedé), Welington e Eugênia, que acreditaram em mim e pelas palavras de incentivo que sempre me dispensaram. Sou infinitamente grata! Sou muito agradecida às(aos) cunhadas(os): Patrícia, Gracinha, Elizângela, Aparecida, Socorro, Milton, Romércio, Avelar e Raimundo, pela valiosa atenção e afeto. Às(aos) sobrinhas(os): Ludmilla, Eveline, Maria Clara, Linneu, Lamarck, Erico e André Luís, obrigada pelo carinho. 7

Às(aos) primas(os): Cidinha, Bia, Estelita, Renato, Reginaldo, Enaide, Eridan, Eridalva (in memoriam) e Ednalva que, mesmo distantes geograficamente, sempre estiveram presentes através de conversas pelo telefone, transmitindo muita força, meu profundo agradecimento. Muitíssimo obrigada às(aos) primas(os) que me acolheram em São Paulo: Socorro, Natália, Maria de Quininha, Duda e Luís. Aos amigos e amigas que encontrei em São Paulo, no percurso da valiosa experiência do mestrado. Às amigas e aos amigos da minha querida Simões-PI e de São Paulo, meus sinceros agradecimentos: Rosário Reis, Edna, Janete, Lourdes, Ana Carla Carvalho, Joaquim, Rafael Lima, Welligton Araújo, Seu Hildo, Wesley, Alfredo, Patrícia Lima, Silvana Ferreira, Luzaneide, Joana Virginia e Naira Moura por serem sempre atenciosos e estarem muito presentes com palavras encorajadoras e amizade. A Nazaré e Rosa, por elas agradeço a todos(as) da família Moraes que me acolheram. Assim, também agradeço às instituições: CAPES, UESPI, UAB-UAPI-UFPI, SEDUC-PI, Superintendência de Ensino Superior do Piauí (SUPES), U.E. Silvia Coutinho, direção, docentes, discentes e toda equipe administrativa dessa escola – a Supervisão Estadual de Educação de Simões-PI. À Marciana e demais funcionários da Câmara Municipal de Simões, Edileusa Leonor – secretária da instituição que esteve sempre muito prestativa às informações a qualquer momento, grande e admirável amiga eterna. Muitíssimo obrigada com estima. Quero externar, de uma maneira muito especial, os meus agradecimentos a uma pessoa, que pelo afeto e amor, tornou-se imprescindível na trajetória da pesquisa – meu companheiro Jonas Moraes. Por seu acúmulo de experiências na vida pessoal, no âmbito intelectual e da política, amante da História, e ainda que com suas angústias do doutorado que cursa, soube com paciência, dedicação e bom humor me incentivar e apoiar. Com muito carinho me acompanhou em todos os momentos desde a elaboração do projeto, nas entrevistas, nas infinitas discussões sobre o feminino, até a conclusão da pesquisa, incansavelmente e sempre pronto a servir, característica que a ele é peculiar. Ao homem mais feminino que conheço, a minha amorosa e eterna GRATIDÃO!

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"O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher." Cora Coralina (1889-1985)

Oração a Nossa Senhora Aparecida

Ó incomparável Senhora da Conceição Aparecida, Mãe de Deus, Rainha dos Anjos, Advogada dos pecadores, refúgio e consolação dos aflitos e atribulados, Virgem Santíssima, cheia de poder e de bondade, lançai sobre nós um olhar favorável, para que sejamos socorridos por vós, em todas as necessidades em que nos acharmos.

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RESUMO

CARVALHO, Maria José Lopes de. MULHERES DO ARARIPE: Trajetórias de lutas e representatividade política (1982-2004). Dissertação (Mestrado em História Social), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo, 2011.

A pesquisa "MULHERES DO ARARIPE: Trajetórias de lutas e representatividade política (1982-2004)" busca, a partir da relação entre história e gênero, discutir, refletir e historicizar sobre o papel dessas mulheres na região da Serra do Araripe, especialmente nas cidades de Araripina-PE e Simões-PI. Em "Mulheres do Araripe" pretende-se analisar o engajamento político-partidário das mulheres como sujeitos históricos e sociais, na conquista de cargos eletivos ou na participação dos processos eleitorais. Com efeito, o alvo maior desse trabalho é discutir o processo de inserção e envolvimento das mulheres na política institucional nas duas cidades em pauta, durante o período de 1982 a 2004. Outro objetivo pertinente para a elaboração da pesquisa é a identificação das diferentes práticas e estratégias utilizadas pelas candidatas para conquistar votos nos processos eleitorais. Enfim, o que se intenta com a investigação proposta nessa pesquisa é compreender, historicamente, a trajetória de lutas das mulheres no Araripe no exercício de participação e intervenção política nos processos eleitorais e nos órgãos públicos de decisões políticas.

Palavras-chave: Região do Araripe; Mulheres; Gênero; Representação política; Narrativas Orais; Eleições.

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ABSTRACT

CARVALHO, Maria José Lopes de. WOMEN FROM ARARIPE: Struggle paths and political representation (1982-2004). Dissertation (Masters in Social History), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo, 2011.

The research “WOMEN FROM ARARIPE: Struggle paths and political representation (1982-2004)” seeks to discuss, ponder and turn into history, based on the relation between history and gender, the role of these women from the Araripe Mountains region, especially from the cities of Araripina-PE and Simões-PI. In “Women from Araripe” one searches to analyze the political and party engagement from women as social and historical beens looking for elective positions or as part of the election process. This paper‟s greatest objective is to go over the insertion (participation) and involvement process of women in the political arena of both cities here in debate during the period of 1982 to 2004. The second most pertinent goal of this research is the identification of the different ways and strategies used by women candidates when seeking votes in electoral times. At the end, what one hopes to attain by this paper is to understand the struggle paths of the women from Araripe when exercising their participation and political intervention in the electoral processes and at politically decisive public institutions, throughout history.

Key words: Araripe Region; Women; Gender; Political representation; Oral Narratives; Elections.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...... 16

CAPÍTULO I ENTRE FRONTEIRAS NA SERRA DO ARARIPE: ARARIPINA-PE E SIMÕES-PI ...... 30 1.1. REGIÃO DO ARARIPE – DOIS ESTADOS E UMA FRONTEIRA: PERNAMBUCO E PIAUÍ ...... 31 1.2. ARARIPINA-PE ...... 40 1.3. SIMÕES-PI ...... 49

CAPÍTULO II CAMINHOS E VEREDAS: MEMÓRIAS E TRAJETÓRIAS DAS MULHERES DO ARARIPE ...... 63 2.1. TRAJETÓRIAS: MEMÓRIAS E LUTAS ...... 64 2.2. PROCESSOS ELEITORAIS: 1982/2004 ...... 80

CAPÍTULO III ARARIPE EM CENA: MULHERES E ELEIÇÕES ...... 106 3.1. UMA LUTA: VOTO FEMININO E COTAS ...... 107 3.2. ENTRANDO NA CENA POLÍTICA: ARARIPINA-PE E SIMÕES-PI ...... 128 3.3. UMA QUESTÃO DE GÊNERO: PRECONCEITOS, EXCLUSÕES E FAMÍLIA ...... 142

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 153

BIBLIOGRAFIA E DEMAIS FONTES ...... 161

ANEXOS ...... 177

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Mapa de Localização da Chapada do Araripe ...... 32 Figura 2 - Imagem de Satélite da Chapada do Araripe ...... 32 Figura 3 - Divisão de Estados: Pernambuco e Piauí ...... 39 Figura 4 - Araripina-PE ...... 45 Figura 5 - Maria Cecy de Alencar ...... 48 Figura 6 - Simões-PI e Serra do Araripe ...... 49 Figura 7 - Bárbara de Alencar ...... 58 Figura 8 - Jovita Alves Feitosa (1848-1867) ...... 61 Figura 9 - Vera Lúcia dos Santos Araújo ...... 65 Figura 10 - Maria Darticlea ...... 66 Figura 11 - Francisca de Assis – Assisinha ...... 67 Figura 12 - Silvania Maria ...... 68 Figura 13 - Maria Augusta ...... 69 Figura 14 - Maria Augusta ...... 69 Figura 15 - Maria Gracilda ...... 70 Figura 16 - Maria Aparecida – Cidoca ...... 71 Figura 17 - Maria de Jesus de Araújo Reis - Maria Lopes ...... 72 Figura 18 - Maria de Jesus de Araújo Reis - Maria Lopes ...... 72 Figura 19 - Maria Marlene de Morais - ao centro ...... 73 Figura 20 - Terezinha Carvalho...... 74 Figura 21 - Terezinha Carvalho...... 74 Figura 22 - Maria das Graças Veloso ...... 75 Figura 23 - Maria Clenilda de Carvalho Assunção - Maria Luiza ...... 76 Figura 24 - Maria Luiza (ao centro) ...... 76 Figura 25 - Voto Feminino (Leolinda Daltro em Passeata, 1917) ...... 112 Figura 26 - Júlia Alves Barbosa (esquerda) ...... 114 Figura 27 - Celina Guimarães Viana (direita) – primeira eleitora no Brasil...... 114 Figura 28 - Alzira Soriano (esquerda) ...... 119 Figura 29 - Neném Paiva/PSD (direita) ...... 119 Figura 30 - Carlota Pereira de Queirós (esquerda)...... 120 Figura 31 - Maria do Céu Fernandes de Araújo (direita) ...... 120 Figura 32 - Bertha Maria Julia Lutz - Deputada Federal em 1936...... 121 Figura 33 - Eunice Mafalda Berger Michiles (esquerda) ...... 123 Figura 34 - Laélia Contreiras Agra de Alcântara (direita) ...... 123

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LISTA DE TABELAS

QUADRO I Representação feminina no Senado Federal (1995 – 1998) ...... 24

QUADRO II Representação feminina nas Assembléias Legislativa PE e PI (1995 – 1998) ...... 24

QUADRO III Distribuição de habitantes e eleitores em 2010 (Araripina-PE e Simões-PI) ...... 33

QUADRO IV Resultado de candidatas a vereadoras em 1992 (Araripina-PE) ...... 84

QUADRO V Resultado de candidatas a vereadoras em 1996 (Araripina-PE) ...... 87

QUADRO VI Resultado de candidatas a vereadoras em 2000 (Araripina-PE) ...... 90

QUADRO VII Resultado de candidatas a vereadoras em 2004 (Araripina-PE) ...... 94

QUADRO VIII Resultado comparativo de vereadoras em 1982 (Araripina-PE e Simões-PI) ...... 96

QUADRO IX Resultado comparativo de candidaturas de mulheres em 1988 (Araripina-PE e Simões-PI) ...... 97

QUADRO X Resultado de candidatas a vereadoras em 2004 (Simões-PI) ...... 104

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACB – Ação Católica Brasileira AGESPISA – Água e Esgotos do Piauí S/A ARENA – Aliança Renovadora Nacional AVC – Acidente vascular cerebral CEB – Comunidade Eclesial de Base CEM – Centro de Educação Municipal CEPISA – Centrais Elétricas do Piauí S/A CFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CNDM – Conselho Nacional dos Direitos da Mulher CNEC – Campanha Nacional de Escolas da Comunidade COLINA – Comando de Libertação Nacional CPT – Comissão da Pastoral da Terra CUT – Central Única dos Trabalhadores DEM – Democratas DF – Distrito Federal FAFOPA – Faculdade de Formação de Professores de Araripina. FCMC – Fundação Cultural Monsenhor Chaves IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. JAC – Juventude Agrária Católica JEC – Juventude de Estudantil Católica JIC – Juventude Independente Católica JOC – Juventude Operária Católica JUC – Juventude Universitária Católica MDB – Movimento Democrático Brasileiro MEB – Movimento de Educação de Base MST – Movimento dos Sem Terra NEPP-DH/UFRJ – Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos/ Universidade Federal do Rio de Janeiro. ONU – Organização das Nações Unidas PC do B – Partido Comunista do Brasil PCB – Partido Comunista Brasileiro PCPR – Programa de Combate a Pobreza Rural PDC – Partido Democrata Cristão PDT – Partido Democrático Brasileiro PDS – Partido Democrático Social PFL – Partido da Frente Liberal PL – Partido Liberal PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro PP – Partido Progressista PPB – Partido Progressista Brasileiro POLOP – Política Operária PRB – Partido Republicano Brasileiro PR – Partido da República 15

PRN – Partido da Reconstrução Nacional PRP – Partido Republicano Progressista PPS – Partido Popular Socialista PSB – Partido Socialista Brasileiro PSC – Partido Social Cristão PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira PSD – Partido Social Democrático PST – Partido Social Trabalhista PSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados PSOL – Partido Socialismo e Liberdade PT – Partido dos Trabalhadores PTB – Partido Trabalhista Brasileiro PTC – Partido Trabalhista Cristão PTN – Partido Trabalhista Nacional PTR – Partido Trabalhista Renovado PV – Partido Verde SEMEC – Secretaria Municipal de Educação e Cultura SETAS – Secretaria de Trabalho e Assistência Social. STR – Sindicato de Trabalhadores Rurais UAB-UAP-UFPI – Universidade Aberta do Brasil – Universidade Aberta do Piauí – Universidade Federal do Piauí. UDN – União Democrática Nacionalista UESPI – Universidade Estadual do Piauí UFC – Universidade Federal do UFAL – Universidade Federal de Alagoas UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais UFPE – Universidade Federal do Pernambuco UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro TRE-PE –Tribunal Regional Eleitoral do Pernambuco. TRE-PI – Tribunal Regional Eleitoral do Piauí TSE – Tribunal Superior Eleitoral UDN – União Democrática Nacionalista UESPI – Universidade Estadual do Piauí UFC – Universidade Federal do Ceará UFAL – Universidade Federal de Alagoas UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais UFPE – Universidade Federal do Pernambuco UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro UNB – Universidade de Brasília UNICAP – Universidade Católica do Pernambuco UNIVALE – Faculdades Integrada do Vale do Ivaí URCA – Universidade Regional do Cariri VAR-Palmares – Vanguarda Armada Revolucionária Palmares VPR – Vanguarda Popular Revolucionária.

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APRESENTAÇÃO

A promoção da expanção do papel da mulher e a plena participação da mulher em condições de igualdade em todas as esferas da sociedade, incluindo a participação nos processos de tomada de decisões e o acesso ao poder, são fundamentais para a conquista da igualdade, do desenvolvimento e da paz.1

1 Item 13 da Declaração de Pequim - IV Conferência Mundial sobre a mulher. Pequim-China/1995. Apud. RUSSO, Vanda Sauhi. Partido Político como referência política das mulheres: uma tentativa de análise de dados. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade de Campinas (UNICAMP). Campinas-SP, 1999. p. 44. 17

Esta dissertação tem por objetivo discutir e historicizar sobre as mulheres nas cidades de Araripina-PE e Simões-PI, região da Serra do Araripe2, da qual fazem parte um conjunto de trinta e oito cidades. A razão da escolha da atuação e inserção das mulheres na política de Araripina-PE deve-se a diversas razões, dentre as quais o fato de ter cursado a graduação em História na Faculdade de Formação de Professores de Araripina-PE (FAFOPA) entre os anos de 1988 a 1992, e Simões-PI porque sou natural dessa cidade. Cabe também destacar a minha condição feminina de ter ocupado cargos de direção de órgãos na educação estadual, inicialmente, como gestora na direção da Unidade Escolar Silvia Coutinho (1995 a 1998), Coordenadora da Universidade Estadual do Piauí (UESPI - Núcleo Universitário de Simões-PI) no período de 1998 a 2001 e 2003 a 2009 e Coordenadora da Universidade Aberta do Brasil (UAB-UAP- UFPI) entre os anos de 2006 a 2009. Assim, foi possível presenciar a participação política das mulheres nas duas cidades. Nessa pesquisa, procura-se analisar, efetivamente, o envolvimento político- partidário das mulheres que se engajaram na conquista de cargos eletivos ou nos processos eleitorais. Desse modo, entende-se que a participação das mulheres em eleições é um grande desafio, uma vez que a estrutura eleitoral do país é sexista. Compreender historicamente a trajetória das lutas das mulheres do Araripe, no exercício de participação e intervenção política nos processos eleitorais e nos órgãos públicos de decisões de poder, é o que se pretende com esse estudo ora apresentado. O historiador deve observar as eleições como um objeto importante para compreensão da história política de um país, estado ou município. Os resultados de eleições municipais, muitas vezes, afetam a vida dos munícipes. No trecho a seguir evidencia-se uma preocupação do historiador em problematizar e analisar as eleições:

[...] o interesse dos historiadores pelas eleições não data de hoje, e mesmo precedeu de muito o nascimento de estudos mais especializados, ele também não se manifestou de maneira contínua, nem se aplicou sempre a todos os aspectos

2 A Serra também é chamada de "chapada do Araripe [...] nascendo na Paraíba, ela vai morrer na serra do Inácio, na fronteira de Pernambuco com o Piauí. Sua inclinação drena todas as águas pendentes para o vale do Cariri, região mais nobre e rica do Ceará, zona de cultivo da cana-de- açúcar e da rapadura". DREYFUS, Dominique. Vida de Viajante: A saga de Luiz Gonzaga. 1ª ed. São Paulo: Editora 34, 1996. p.27. Mais informações sobre a região do Araripe no capítulo I. 18

do fenômeno: passou por eclipses, alguns ligados a uma etapa da reflexão sobre a história que, durante algum tempo, lançou a história política num relativo descrédito. [...] Há, portanto, uma história da contribuição dos historiadores ao estudos das eleições, e o balanço dessa contribuição não pode ignorar inteiramente nem as suas variações nem as causas dessas variações.3

As cidades de Araripina-PE e Simões-PI também serão analisadas pelo aspecto conceitual e teórico de uma cultura política. Na investigação que se realiza, a política é compreendida como uma ação cultural de mulheres e homens e constitui "[...] um conjunto coerente em que todos os elementos estão em estreita relação uns com os outros, permitindo definir uma forma de identidade do indivíduo que dela se reclama"4. Como uma forma de organização de indivíduos em coletividade, a política apresenta-se como "[...] uma referência permanente em todas as dimensões do nosso cotidiano na medida em que este se desenvolve como vida em sociedade"5. Ao discutir sobre a participação das mulheres em eleições e em órgãos de representação política, torna-se necessário recuperar os percursos de lutas femininas na história do Brasil e nos processos eleitorais. No dia 31 de outubro de 2010, estava eu no Bar Charme na Rua Augusta em São Paulo – uma das ruas poetizadas e descritas em canções por compositores da Música Popular Brasileira, a exemplo de Tom Zé, que compôs coincidentemente uma música com nome de três mulheres "Augusta, Angélica e Consolação"6, e os Mutantes que interpretou a composição de Hervé Cordovil "Rua Augusta"7 – que para mim, teve seu charme nas pessoas que por aquela rua passavam, empunhando suas bandeiras vermelhas, muitas delas mulheres militantes. O momento era ímpar na história do Brasil, pois tanto entusiasmo e vibração tratava da vitória de (1947) do Partido dos Trabalhadores (PT)8, primeira

3 REMOND, René. As eleições. In: REMOND, René (Org.). Por uma História Política. 2a. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. p.39-40. 4 BERSTEIN, Serge. A Cultura Política. In: RIOUX, Jean-Pierre; SIRINELLI, Jean-François. Para uma história cultural. 1ª ed. Lisboa-PT: Editorial Estampa, 1998. 5 MAAR, Wolfgang. O que é política. 16ª ed. São Paulo: Ed Brasiliense,1994. p.7. 6 ZÉ, Tom. Augusta, Angélica e Consolação. LP - Continental/1012,1973. 7 CORDOVIL, Hervé. Rua Augusta. LP - Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets,1972. 8 Segundo dados do TSE, atualmente o Partido dos Trabalhadores (PT) é o segundo maior partido do Brasil com 1.394.292 filiações. "O PT nasceu com o novo sindicalismo do ABC paulista dos anos de 1970. Agregou dirigentes sindicais, a esquerda católica, intelectuais e ex-militantes de organizações clandestinas". REVISTA VEJA. Radiografia dos Partidos. Disponível em: . Acesso em: 09/01/2011. 19

mulher a conquistar pelo desejo e espontaneidade do povo o cargo máximo de representação política do país9. Na campanha eleitoral de 2010, tivemos duas candidatas à Presidência da República: Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV). A primeira é economista, representante do PT e da coligação com o Partido Republicano Brasileiro (PRB), Partido Democrático Brasileiro (PDT), Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB)10, Partido Trabalhista Nacional (PTN) Partido Social Cristão (PSC), Partido Republicano (PR), Partido Trabalhista Cristão (PTC), Partido Socialista Brasileiro (PSB) e Partido Comunista do Brasil (PC do B), que atingiu no primeiro turno uma votação significativa de 47.651.434 (46,91%) que propiciou-a disputar o segundo. Enquanto a segunda candidata é ambientalista, historiadora e pedagoga, representante do Partido Verde (PV) e ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula entre os anos de 2003 a 2008, que por sua vez obteve 19.636.359 votos (19,33%), o que não lhe permitiu chegar à disputa do próximo turno11. Cabe ainda destacar que, na história das eleições do Brasil, essas duas mulheres que concorreram à eleição de 2010, apresentavam perfis bastante significativos. O segundo turno desse processo eleitoral teve uma disputa bastante acirrada entre Dilma Rousseff (PT) que obteve uma votação de 55.752.529 (referente a 56,05%), contra José Serra do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) com 43.711.388 votos (43,95%). Dilma Rousseff, antes de ocupar os cargos de ex-ministra das Minas e Energias e da Casa Civil do governo Lula, foi militante nos movimentos pela redemocratização do país, participando de várias organizações de esquerda revolucionária, inicialmente como simpatizante da Política Operária (POLOP) pelos idos de 1963. Em 1967, quando cursava Ciências Econômicas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) passou a integrar os

9 Vide Anexo 3 - Percurso dos partidos políticos no Brasil. 10 "Pelos dados do TSE, o PMDB continua como o maior partido político brasileiro com mais de 2,3 milhões de filiados. Os números foram totalizados em novembro de 2010. O Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB, sucessor do antigo MDB, surgido na Quarta República [...]. Trata-se da maior agremiação partidária brasileira em funcionamento. Através de José Sarney, a legenda governou o país entre 1985 e 1990." SCHMITT, Rogério. Partidos Políticos no Brasil: (1945-2000). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. p.69. 11 Nessa campanha, do universo de 513 vagas para Câmara Federal, foram eleitas 44 deputadas federais. Após as eleições de 2010, a quantidade de mulheres eleitas para a Câmara Federal permaneceu a mesma. No pleito de 2006 foram eleitas 45 deputadas federais. No ano de 2010, apesar de 44 mulheres terem sido eleitas, o Tribunal Superior Eleitoral deferiu mais uma candidatura feminina no Rio Grande do Sul, totalizando 45 mulheres na bancada feminina da Câmara Federal. Observatório Brasil da Igualdade de Gênero. Presença feminina na Câmara Federal permanece a mesma. Disponível em: . Acesso em: 10/01/2011. 20

quadros do Comando de Libertação Nacional (COLINA), mais tarde, no ano de 1969, atuou na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) – organização que se originou da fusão do COLINA e da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR)12. Por outro lado, Marina Silva iniciou sua formação política ao se inscrever num curso de liderança rural nos primeiros anos da década de 1970, no qual conheceu o líder seringueiro e sindicalista Chico Mendes (1944-1988). Foi bastante influenciada pelos ideais da Teologia da Libertação, movimento importante que fez despertar o interesse em participar das organizações das Comunidades Eclesiais de Bases (CEB‟S). Em 1984, o crescimento dos movimentos sociais de esquerda no Acre impulsionou a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entidade da qual Marina se tornou vice-coordenadora ao lado do Coordenador Chico Mendes. Em resumo, Marina ocupou diversos cargos pelo PT: vereadora de Rio Branco-AC (1989-1990), deputada estadual do Acre (1991-1994) e dois mandatos de senadora também pelo Acre (1995-2003 e 2003-2011), sendo que durante o último mandato afastou-se para tornar-se ministra do Meio Ambiente. Marina rompeu com o PT e se filiou ao PV para disputar o cargo de presidente da República nas eleições de 2010.13 A presidenta Dilma foi vitoriosa em todos os Estados da região Nordeste, em alguns deles, como no Maranhão e em Pernambuco, o índice superou 70% dos votos válidos. Sua vitória foi expressiva num tradicional reduto do PSDB, Minas Gerais14. A campanha eleitoral foi marcada por debates intensos, em especial sobre o tema do aborto – pautado de maneira muito agressiva – que apareceu com mais frequência na reta final, entretanto, nota-se que essa discussão foi feita às vezes de forma imatura, sem aprofundamento. Com efeito, foi difundido amplamente pela internet, cerimônias religiosas e em outros meios de comunicação que a candidata Dilma era a favor do aborto, mesmo tendo sido desmentido pela mesma.

12 FOLHA DE SÃO PAULO. Dilma Rousseff - Presidente do Brasil. UOL Educação - Biografias. Disponível em: . Acesso em: 11/01/2011. 13 BLOG MARINA SILVA. Biografia. Disponível em: . Acesso em: 11/01/2011. 14 AGÊNCIA PATRÍCIA GALVÃO. Dilma Rousseff é eleita a primeira mulher presidente do Brasil. 31/10/2010. Disponível em: . Disponível em: . Acesso em: 10/01/2011. 21

Logo após ser eleita, a presidenta Dilma Roussef ressalta o fato de ter se tornado a primeira mulher a dirigir o país, ao mesmo tempo assumiu compromissos com a população feminina brasileira. Assim a presidenta Dilma se pronunciou:

Este fato, para além de minha pessoa, é uma demonstração do avanço democrático do nosso país: pela primeira vez uma mulher presidirá o Brasil. Já registro portanto aqui meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural. E que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis, nas entidades representativas de toda nossa sociedade. A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um princípio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: SIM, a mulher pode!15

No percurso sobre a história das eleições no país, é importante salientar o processo eleitoral de 2006, que também apresentou duas candidatas mulheres: Heloísa Helena (professora do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas – UFAL) pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) coligada ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU) e Partido Comunista Brasileiro (PCB), que conseguiu uma votação de 6.575.393 (6,85%) e Ana Maria Rangel (cientista política) pelo Partido Republicano Progressista (PRP), que obteve 126.404 votos (0,13%). Nessa eleição, foi eleito presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o total de 46.662.365 votos (48,61%) associado ao Partido Republicano Brasileiro (PRB) e Partido Comunista do Brasil (PC do B)16. Nas eleições de 2002, não houve candidaturas de mulheres ao cargo de presidente da República, somente candidaturas masculinas. A eleição foi disputada em dois turnos, saindo vencedor Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com uma votação expressiva de 52.793.364 (61,27%) contra 33.370.739 (38,72%) do candidato tucano José Serra (PSDB).

15 ROUSSEFF, Dilma. Apud. Agência Patrícia Galvão. Dilma Rousseff é eleita a primeira mulher presidente do Brasil. Disponível em: . Acesso em: 10/01/2011. 16 RODRIGUES, Almira. Eleições de 2006 no Brasil: a difícil conquista de mandatos eletivos por Mulheres. In: Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. p.1. Disponível em: . Acesso em: 20/06/2011. "As mulheres concorreram aos Governos Estaduais em 18 unidades da Federação [...]. Dessas, foram eleitas três governadoras, Vilma Maria de Faria (RN), Ana Júlia (PA) e Yeda Crusius (RS). As duas últimas, em especial, enfrentaram forças políticas consolidadas saindo-se vitoriosas, e são as primeiras mulheres eleitas para governar seus respectivos Estados". Ibidem. p.2. 22

Nessas eleições para o Senado Federal, das 81 cadeiras oito foram ocupadas por mulheres: Marina Silva (PT/AC); Serys Marly (PT/MT); Ana Júlia (PT/PA); Fátima Cleide (PT/RO); Idely Salvati (PT/SC); Patrícia Gomes (PPS/CE); Lucia Vânia (PSDB/GO); Roseana Sarney (PFL/MA). No total, foram onze mulheres eleitas, uma vez que completaram essa lista: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho (PSOL/AL); Maria do Carmo do Nascimento Alves (DEM/SE) e Iris de Araújo Rezende Machado (PMDB/GO). A representação feminina na Câmara Federal cresceu timidamente, nesse processo eleitoral foram eleitas 42 deputadas federais em todo o país, o que representou apenas 8,2% dos eleitos, porém um crescimento de 45% em relação às eleições de 1998. Efetivamente em 2002, cinco estados não elegeram nenhuma deputada federal: Alagoas, Ceará, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Sergipe. Por outro lado, ficaram assim distribuídas as oito mais votadas no país: no Amazonas, elegeu- se Vanessa Graziottin (PC do B), para seu segundo mandato na Câmara Federal atingindo o percentual de 17,2%, ou seja, 197.419 votos; no Tocantins, Kátia Abreu (PFL) recebeu 76.170 votos, o equivalente a 12,9%; no Estado do Piauí, Francisca Trindade (PT) alcançou o primeiro lugar, com uma votação expressiva de 165.190 votos, obtendo 11,5% dos votos válidos; no Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), com 161.875 votos (11,1%); no Amapá, Janete Capiberibe (PSB), com 23.203 votos (9,6%); em Rorâima, Maria Helena (PST), com 15.620 votos (9,2%); no Acre, Perpétua Almeida (PC do B), com 21.930 (7,9%) e no Rio de Janeiro, a Juíza Denise Frossard (PSDB) que obteve 385.111 (4,8%).17 A representação feminina nas Assembleias Legislativas no âmbito de Brasil, cresceu de 2,5% em relação a eleição de 1998, ou seja, as deputadas nos estados ocuparam 133 cadeiras, que equivalem a 12%. No ano de 2002, nos Estados da federação brasileira cresceu significativamente a Bancada Feminina nas Assembleias Legislativas, de modo que os destaques foram para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro que elegeram no referido pleito 10 deputadas estaduais. Para os estados do Ceará, Maranhão, Pará e Pernambuco o número de

17 CFEMEA - Centro Feminista de Estudos e Assessoria. Eleições 2002: Cresce o número de deputadas federais e senadoras eleitas. Brasília, 08 de outubro de 2002. p.2. Vale destacar que essas oito mulheres foram as mais votadas em seus respectivos estados. "Em outros 6 estados, as mulheres estiveram entre os candidatos mais votados: Maninha (PT/DF), Professora Raquel Teixeira (PSDB/GO), Maria do Carmo Lara (PT/MG), Ieda Crusius (PSDB/RS), Maria do Rosário (PT/RS), Marinha Raupp (PMDB/RO) e Jandira Feghali (PC do B/RJ)". Ibidem. p.2. 23

parlamentares eleitas foram 8. "Em termos relativos, a Bancada Feminina, em cada Assembléia/Câmara Legislativa é mais expressiva nos seguintes estados: Sergipe (25%), Rio de Janeiro e São Paulo (21,4%), Distrito Federal (20,8%), Pará e Maranhão (19%)".18 Nas eleições de 1998, onze homens se candidataram a presidente da República e somente uma mulher foi candidata ao cargo máximo da Nação brasileira, tratava-se de Thereza Tinajero Ruiz do Partido Trabalhista Nacional (PTN). A candidata do PTN ficou na 10ª colocação e sua somatória foi de 166.138 votos (0,25%). O vencedor das eleições foi o sociólogo Fernando Henrique Cardoso – FHC – na coligação (PSDB/PMDB/PFL/PPB/PTB) com uma votação 35.936.540, correspondente a 53,06% dos votantes. Nesse pleito, vinte e nove deputadas federais passaram a compor a Bancada Feminina na Câmara Federal, o equivalente a 5,6% das vagas. Nas Assembleias legislativas, 106 mulheres foram eleitas no pleito em discussão, o que correspondeu a 10%. Um dado relevante foi o aumento das candidaturas de mulheres que chegou a 138%, no referido processo eleitoral eram 1.361 mulheres contra 9.158 candidaturas masculinas19. Nas eleições de 1994, para presidente da República não houve candidaturas femininas, mas para o cargo de vice-presidente candidatou-se Maria Gardênia Santos Ribeiro Gonçalves do Partido Progressista Reformador (PPR), na chapa de Esperidião Amin, que obteve 1.739.894 votos o concernente a 2,75%. No referido pleito foi eleito FHC pela coligação (PSDB/PFL/PTB) que obteve uma votação de 34.364.961, correspondente a 54,27%. Nesse processo eleitoral, concorreram à Câmara Federal e às Assembleias 571 mulheres e 7.386 homens em todo o país. Na Câmara Federal foram eleitas vinte e seis deputadas, patamar correspondente a 5%. Constata-se, então, uma sub- representação feminina no Senado, já que para a 50ª legislatura (1995-1998) apenas cinco mulheres ocuparam cadeiras nessa instituição política, referente a 6,17%. Para uma melhor visualização e compreensão apresenta-se no quadro a seguir o número de mulheres que exerceram a função de senadora na legislatura do período em discussão.

18 CFEMEA - Centro Feminista de Estudos e Assessoria. Op.cit., Brasília, 08 de outubro de 2002. p.7. 19 FERREIRA, Maria Mary. Representação feminina e construção da democracia no Brasil. In: VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais. 16 a 18 de Setembro de 2004. Coimbra-PT. p.16. Disponível em:

QUADRO I Representação feminina no Senado Federal (1995 – 1998)

Nome da Senadora Estado da Federação Partido Marina Silva Acre PT Júnia Marise * Minas Gerais PDT Benedita da Silva Rio de Janeiro PT Emília Fernandes Rio Grande do Sul PTB Marluce Pinto* Rorâima PTB * Essas senadoras foram eleitas em 1990. Fonte: Anais do Senado Federal20

Nos dois estados de Pernambuco e Piauí, onde estão localizadas as cidades de Araripina e Simões respectivamente, para o mandato de 1995 a 1998 não foram eleitas mulheres para representação na Câmara Federal. Contudo, nas eleições de deputados estaduais para o referido processo eleitoral, observa-se que somente foram eleitas duas mulheres, sendo essas representantes no parlamento estadual da bancada feminina de Pernambuco, ao contrário do Piauí, que para essa gestão não teve mulheres na Assembleia Legislativa, conforme verifica-se no quadro a seguir:

QUADRO II Representação feminina nas Assembleias Legislativa Pernambuco e Piauí (1995 – 1998)

Nome da Deputada Estadual Estado Partido Votação Rosa Maria Lins de Albuquerque PDT / Frente Popular Pernambuco 21.344 - Eleito de Barros Correia de Pernambuco PFL / União Por 19.898 - Eleito Maria Tereza Caminha Duere Pernambuco Pernambuco (por média) Nenhuma Piauí - - Fonte: Quadro organizado conforme resultados das eleições de 1994 (TRE-PE e TRE-PI)21

Chamada de eleição solteira, o pleito de 1989 representou a vigésima quinta (25ª) eleição presidencial do Brasil e a primeira após os vinte e um anos de ditadura militar. Num conjunto de vinte e dois candidatos a presidente da República apareceu o nome de uma mulher, a advogada Lívia Maria de Abreu pelo Partido Nacionalista

20 SENADO FEDERAL. Anais... v. 19, nº 5, 16 de março a 31 de março de 1995. Brasília-BR: Secretaria de documentação e informação - Subsecretaria de Anais do Senado Federal, 1995. 21 TRE-PE. Eleições 1994 - Resultados. Disponível em: e TRE-PI. Eleições 1994 - Resultados. Disponível em: . Acesso em: 11/01/2011. 25

(PN) – após esse processo eleitoral esse partido foi extinto – nessa eleição a candidata obteve uma votação de apenas 179.896 votos, cujo coeficiente foi 0,25%. Fernando Collor de Mello pelo Partido da Reconstrução Nacional (PRN)22 e sua coligação formada pelos PSC, PTR e PST, tornou-se vencedor no segundo turno das eleições de 1989, com 35.089.998 votos, o equivalente a 49,94%. Além disso, nesse mesmo período haviam dezesseis deputadas federais eleitas e apenas uma senadora pelo Ceará - Maria Alacoque Bezerra Figueiredo. Para legislatura entre 1987-1990, existiam em torno de 31 deputadas estaduais nas Assembleias Legislativas brasileiras. Na representação legislativa municipal "apesar de não dispormos de estatísticas oficiais para o período anterior às eleições de 1992, estima-se que foram eleitas nesse ano 3.964 vereadoras, o que representava cerca de 8% do total de vereadores eleitos"23. A discursividade sobre a relação entre história, política e gênero constitui-se num campo de pluralidades imprescindíveis para perscrutar as relações políticas e sociais de mulheres no cotidiano e na sociedade. No Brasil durante a década de 1980, emergiram muitas produções acadêmicas sobre o papel das mulheres nos movimentos sociais e nos espaços de representações dos órgãos do poder público. As preocupações desses estudos revelaram a presença e o exercício político das mulheres na vida social, as táticas e estratégias no cotidiano demonstram que a ousadia feminina construiu modos de sobrevivência, "diferenciadas de resistência à dominação masculina e classista, enfatizando, enfim, a sua capacidade de luta. Esse conjunto foi fortemente influenciado pelas análises do historiador inglês E. P. Thompson"24. Entender as lutas e resistências do segmento de mulheres na historiografia significa compreender que:

o passado humano não é um agregado de histórias separadas, mas uma soma unitária do comportamento humano, cada aspecto do qual se relaciona com outros de determinadas maneiras, tal como os atores individuais se relacionavam de certas maneiras (pelo mercado, pelas relações de poder e subordinação etc.).25

22 Sobre a trajetória do PRN vide Anexo 1. 23 COSTA, Delaine Martins. Mulher: poder e participação política. Disponível em: . Acesso em: 12/01/2011. 24 CUNHA, Maria de Fátima da. A face feminina da militância clandestina de esquerda - Brasil Anos de 1960/70. Tese (Doutorado em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Campinas-SP: 2002. p.45-46. 25 THOMPSON, E. P. A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma crítica ao pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1981. p.50. 26

A incorporação pelos estudos culturais de novos objetos, abordagens e problemáticas possibilitou uma abertura para os estudos sobre as mulheres. Dessa forma, o tema da mulher passou a interessar aos historiadores desejosos de ampliar os limites de sua disciplina, de abrir áreas de pesquisa e, acima de tudo, de explorar experiências de sujeitos, cuja identidade foi tão freqüentemente ignorada ou mencionada apenas de passagem.26 Nesse sentido, as produções nas áreas das ciências sociais sobre as mulheres ganharam propulsão na escrita da história como também constituíram-se num material fecundo para história cultural. Essa ampliação de novas formas de abordagens e de novos olhares propiciada pelos Annales e seguida pela história cultural, foi objeto de várias discussões no curso de Especialização Lato Sensu em História e Sociologia da Universidade Regional do Cariri (URCA), realizada no ano de 2004. Tais discussões colaboraram para minha pesquisa monográfica, na qual propus investigar a experiência social vivida pelas mulheres na política partidária no município de Simões-PI, a partir do seguinte tema: “Mulheres: de simples matronas a protagonistas no cenário político simonense” sob orientação do professor mestre Iarê Lucas Andrade. O interesse por esse estudo foi motivado pelo exemplo de resistência e luta política de minha avó materna, Josefa Lopes dos Reis (in memorian), oriunda de uma família patriarcal cercada de preconceitos, que se opunha à sua participação na política. Entretanto, contrapondo-se a sua realidade, ela construía suas táticas27 para atuar no espaço político local. Desse modo, a liderança de Josefa Lopes passou a ser reconhecida pelos habitantes do município de Simões-PI. Ela era filha de Luiz Lopes dos Reis (in memoriam), primeiro prefeito nomeado da cidade. Posteriormente, esposa de Domingos Avelino dos Reis28, que tornou-se o primeiro vereador da família nesse município, bem como seu filho Luiz Avelino, que foi eleito também para Câmara de Vereadores devido à influência política da minha avó com os eleitores. Além da história de Josefa Lopes, outro destaque político analisado foi o de Maria Gracilda Lopes de Carvalho (minha madrinha e sobrinha de Josefa Lopes

26 SAMARA, Eni de M; SOIHET, Rachel; MATOS, Maria Izilda S. Gênero em debate: trajetória e perspectiva na historiografia contemporânea. São Paulo: EDUC, 1987. p.90. 27 A categoria conceitual tática utilizada nesse trabalho é ancorada na elaboração teórica de CERTEAU, Michel de. A Invenção do cotidiano. v. 1. Artes de Fazer. 11ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1994. 28 Domingos Avelino dos Reis – meu avô materno ainda vivo – tem hoje 92 anos de idade. 27

dos Reis), que exerceu um mandato de vereadora entre os anos de 1983 a 1988. As duas mulheres citadas foram fontes de inspiração para essa pesquisa, mas outras aparecerão no decorrer do texto. Na pesquisa "Mulheres do Araripe: trajetórias de lutas e representatividade política (1982-2004)" busca-se discutir como se processou a inserção e o envolvimento político das mulheres eleitas nos órgãos de representação política, como também analisar a participação das mulheres não eleitas nos processos eleitorais nas cidades de Araripina- PE e Simões-PI. Indubitavelmente, o adensamento da pesquisa seguiu em trilhas sobre a trajetória como uma categoria teórica. Essa noção teórica é explicitada da seguinte forma: "entende a trajetória como um determinado ponto de partida e de chegada. É na trajetória enquanto ponto de partida e ponto de chegada que o indivíduo efetua um processo de aquisição de vários capitais (capital social, capital cultural)"29, bem como ainda compreende-se que na trajetória se comprova “a relação entre o capital de origem e o capital de chegada, ou, se preferirmos, entre as posições original e atual no espaço social"30. Seguindo por esse viés de análise permite-se perceber que: "é no interior da trajetória que o sujeito inculca determinada visão de mundo, estilo de vida".31 Nesse percurso, o mundo social das mulheres do Araripe, enquanto sujeitos sociais em movimento, é representado nos espaços ou nas posições ocupadas por essas mulheres, participando de candidaturas ou dos órgãos de representatividade, sendo esse mesmo mundo social que estrutura os estilos de vida do seu campo simbólico. A trajetória de cada uma das partícipes do Araripe, em seu espaço político, torna o que chamo de habitus32 Dentro de uma perspectiva relacional entre história e gênero busca-se, a partir das fontes, documentos e bibliografia, investigar a atuação das mulheres do Araripe em eleições e órgãos institucionais. Além dos depoimentos orais, as fontes

29 BOURDIEU, Pierre. Apud. ABREU, Jaciléia Catete. Relações Sociais de Gênero e Política Partidária: inserção partidária das mulheres na política maranhense. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais), PUC-SP, São Paulo, 2010. p.18. 30 BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: EDUSP; Porto Alegre- RS: Zouk, 2007. p.103. 31 BOURDIEU, Pierre. Apud. ABREU, Jaciléia Catete. Op.cit., 2010. p.18. 32 Sistema de disposições adquiridas pela aprendizagem implícita ou explícita que funciona como um sistema e esquemas geradores de estratégias, que podem ser objetivamente afins aos interesses objetivos de seus autores sem terem sidos expressamente concebidos para esse fim. BOURDIEU, Pierre. Textos. In: ORTIZ, Renato (Org.). Pierre Bourdieu: sociologia. Trad. Paula Montero e Alícia Auzmendi. São Paulo: Ática, 1983. p.94. 28

para esse estudo foram coletadas nas visitas aos cartórios eleitorais das duas cidades e junto aos partidos políticos. As análises desses documentos e das fontes visam compreender o percurso realizado pelas mulheres na política das duas cidades. Salienta-se que entre a documentação significativa para construção da pesquisa destacam-se os livros de atas dos partidos políticos, consultas aos sites do Tribunal Superior Eleitoral e Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Pernambuco e do Piauí, atas das convenções partidárias para escolhas dos candidatos a cargos eletivos das cidades de Araripina-PE e Simões-PI. Foram utilizados os seguintes procedimentos para a elaboração da pesquisa: seleção e estudo de materiais que tiveram afinidade com a temática, livros, jornais e leitura de outras fontes bibliográficas sob a colaboração da orientadora. É na maneira de agir das “Mulheres do Araripe” que se busca compreender de que forma se ampliaram os espaços de participação política das mulheres e como se deu o exercício de cidadania33 feminina nos órgãos de decisão política. Para o delineamento da pesquisa, recorre-se aos conceitos e às categorias teóricas de território, lugar, localidade, comunidade, espaço, gênero, família, patriarcalismo, memória, representação política, direitos e voto feminino. Essa pesquisa encontra-se distribuída em três capítulos que efetivamente se relacionam com as bases teóricas citadas anteriormente. No primeiro capítulo, empenha-se em destacar os aspectos históricos e geográficos das cidades em discussão. A fronteira trabalhada nessa pesquisa é focada não somente do ponto de vista geográfico, mas também no sentido cultural. Para isso, torna-se relevante conhecer como foi instituído o território do Araripe e se as relações entre feminino e masculino nessa região foram marcadas pelo patriarcalismo. Nesse sentido,

33 "Cidadania – capacidade dos indivíduos influenciarem na definição e no usufruto de direitos e participação numa coletividade e não se restringe à conquista de direitos, mas, sobretudo, ao exercício desses direitos, sem a exclusão de nenhum cidadão". SILVA, Roberto John Gonçalves da. A constituição do sujeito coletivo CUT-PI: institucionalização, praticas e mudanças sócio-políticas. Dissertação (Mestrado em Serviço Social), PUC-SP, São Paulo, 1993. p.12. O termo cidadão ganhou significação mais completo após a elaboração do texto da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, quando Thomas Jefferson "[...] percebeu que a palavra „súdito‟ era imprópria para descrever os habitantes na nova nação. Precisava de algum outro termo para aplicar aos homens livres que estavam em vias de fazer nascer a República. Procurando pelo substantivo que mais de perto exprimisse sua compreensão de status dos colonos em rebelião, inseriu a palavra „cidadão‟, que em sua mente se vinculava vagamente aos antecedentes romanos. Mais tarde, durante a Revolução Francesa, os súditos rebeldes de Luís XVI tomaram-na emprestada e disseminaram-lhe o uso pelo mundo". HANDLIN, Oscar. A verdade na história. São Paulo: Martins Fontes e Editora Universidade de Brasília, 1982. p.159-160. 29

percebe-se a força política feminina de romper com o patriarcalismo, exemplificado aqui no caso de Otília Ceci de Alencar, primeira vereadora de Araripina e de Pernambuco. Outro enfoque tratado no capítulo está relacionado à trajetória de luta política de Maria Preta, Bárbara de Alencar e Jovita Alves Feitosa, três mulheres do Araripe-PE que se constituíram em referência política para as mulheres brasileiras. No segundo capítulo, dialoga-se como as memórias e as narrativas orais das mulheres foram protagonistas nos processos eleitorais, nos espaços do Legislativo e do Executivo. As mulheres entrevistadas relataram as diversas dificuldades que enfrentaram ao se inserirem no universo político do Araripe. Finalmente, no terceiro capítulo, enfatiza-se os avanços e conquistas dos movimentos sociais de mulheres pela conquista do voto feminino e das cotas. Procura-se discorrer sobre as táticas e estratégias, que essas mulheres do Araripe se utilizaram para entrarem na cena política na região entre os anos de 1982 a 2004.

30

CAPÍTULO I

ENTRE FRONTEIRAS NA SERRA DO ARARIPE: ARARIPINA-PE E SIMÕES-PI

De longe vemos o azulado da Serra do Araripe dando-nos a impressão de um encontro do céu com o mar.34

34 VERDE, Rosiane Lima. Os registros rupestres da Chapada do Araripe, Ceará, Brasil. In: I Congresso Internacional da SAB, XIV Congresso da SAB e II Encontro do IPHAN e arqueólogos. Florianópolis-SC, 30 de setembro a 04 de outubro de 2007. p.2. 31

No capítulo que se inicia, traça-se um perfil histórico e geográfico dos estados de Pernambuco e do Piauí. Os mapas e imagens ajudam a visualizar a região do Araripe e as cidades de Araripina-PE e Simões-PI. Cabe apontar que os estados e suas divisas (entendido como fronteiras) se articulam teoricamente, a partir da idéia de território, lugar, localidade, comunidade e espaço. Outra problematização abordada relaciona-se aos signos do “cabra macho” explicado por meio do patriarcado, uma noção teórica fundamental para compreender esse sujeito do Araripe. As lutas empreendidas por Maria Preta, Bárbara de Alencar e Jovita Alves Feitosa instauraram essa espacialidade pelo viés do feminino.

1.1. REGIÃO DO ARARIPE – DOIS ESTADOS E UMA FRONTEIRA: PERNAMBUCO E PIAUÍ

Historicamente, a chegada dos portugueses na região do Araripe representou o início da colonização. A Coroa Portuguesa encontrou, na referida localidade, a presença das nações indígenas: "Ubatês, Moatans, Janduins, Icós e Urirês, na Serra do Araripe"35. De origem Tupi, a Serra do Araripe era o "Lugar das Araras", daí a razão de ter recebido essa denominação. O diálogo seguinte mostra a localização da Serra do Araripe.

A Chapada do Araripe é notícia desde o século XIX e, segundo o Barão de Capanema (1859), é 'uma Serra em decomposição' que delimita geograficamente três estados: Ceará, Pernambuco e Piauí. Seus "braços", à oeste, se estendem chegando à fronteira do Piauí onde se encontram com a Serra da Ibiapaba. À leste, seus vales férteis chegam até quase o limite do estado da Paraíba pelas Serra do Saco e Serra Verde. Ao sul, em toda a sua extensão, limita-se com o Pernambuco. Ao norte, abre seus flancos avançando em direção à depressão sertaneja Cearense36.

Os mapas abaixo propíciam compreender geograficamente a região do Araripe nos estados: Ceará, Pernambuco e Piauí.

35 CHAVES, Monsenhor. Obras completas. Teresina-PI: Fundação Monsenhor Chaves, 1988. p.127. 36 VERDE, Rosiane Lima. Os registros rupestres da Chapada do Araripe, Ceará, Brasil. In: Op. cit., 2007. p.2. 32

Figuras 1 e 2 - Localização da Chapada do Araripe (Mapa a esquerda e Imagem de Satélite a direita) Fonte: UNESCO e GOOGLE MAPS37

A região do Araripe está localizada no coração do Nordeste e abrange uma área de 1.063.000 hectares, sendo 47% no estado do Ceará (15 municípios): Missão Velha, , , Porteira, Jardim, Jati, , , Crato, Nova Olinda, , Araripe, , Campos Sales e Salitre; 36% no estado de Pernambuco (12 municípios): Araripina, Trindade, Ouricuri, Ipubi, Exu, Santa Cruz, Bodocó, , Moreilândia, Granito, Serrita, Terra Nova; e 17% no estado do Piauí (11 municípios): Belém, Caldeirão Grande do Piauí, do Piauí, Curral Novo do Piauí, Francisco Macedo, Fronteiras, Jaicós, Marcolândia, Padre Marcos, Pio IX e Simões.38

37 Figura 1. Ministério do Meio Ambiente, Governo do Estado do Pernambuco e UNESCO. Região do Araripe - Pernambuco. Diagnóstico Florestal. 2007. Mapa Região do Araripe-PE. p.15. Disponível em: . Figura 2. GOOGLE MAPS. Imagem de Satélite. Disponível em . Acessos em: 15/06/2011. 38 Informações da Área de Proteção Ambiental (APA) que foi criada pelo Decreto nº 148 de 04 de agosto de 1997. Disponível em: . Acesso em: 20/10/2009. 33

Desse modo, Araripina-PE e Simões-PI, atualmente têm uma população de 91.548 habitantes. Importante salientar que nos municípios em discussão a população é majoritariamente feminina. Os habitantes estão distribuídos da seguinte forma:

QUADRO III Distribuição de habitantes e eleitores em 2010 (Araripina-PE e Simões-PI)

Araripina-PE Homens Mulheres Total População 37.884 39.479 77.363 Eleitores 25.238 28.311 53.60139

Simões-PI Homens Mulheres Total População 7.079 7.106 14.185 Eleitores 5.050 4.988 10.04140 Fonte: Dados organizado conforme informações do IBGE41, TRE-PE e TRE-PI (ver anexos 2 e 3).

Nesse sentido, cabe conhecer os aspectos geográficos e históricos dos estados de Pernambuco e do Piauí, dos quais fazem parte as cidades de Araripina- PE e Simões-PI. Esse dois estados situam-se geograficamente na região Nordeste. Pernambuco é dividido em quatro grandes regiões: Região Metropolitana do Recife, Zona da Mata, Agreste e Sertão. Esta última localiza-se no semi-árido pernambucano. É no sertão que se encontra a microrregião de Araripina, formada por um conjunto de nove cidades: Araripina, Bodocó, Exu, Granito, Ipubi, Moreilândia, Ouricuri, Santa Cruz, Santa Filomena e Trindade42. A antiga Capitania de Pernambuco43 foi doada por meio de uma Carta Régia por D. João III a Duarte Coelho Pereira, que se tornou donatário em 10 de março de

39 Desse total de eleitores, 52 não informaram o sexo. Fonte: TSE. Estatística do Eleitorado por Sexo e Faixa Etária (Araripina-PE), novembro de 2010. Disponível em: . Acesso em: 21/12/2010. 40 Desse total de eleitores, 03 não informaram o sexo. Fonte: TSE. Estatística do Eleitorado por Sexo e Faixa Etária (Simões-PI), novembro de 2010. Disponível em: . Acesso em: 21/12/2010. 41 Em Araripina, a população urbana é de 46.975 e rural de 30.388 pessoas. Simões tem uma população urbana de 5.697 e rural de 8.488 pessoas. Fonte: IBGE. Primeiros resultados do Censo 2010. Disponível em: . Acesso em: 21/12/2010. 42 PORTAL DE INFORMAÇÕES DE PERNAMBUCO. Pernambuco. Disponível em: . Acesso em: 21/10/2009. 43 "[...] já nos primeiros anos, após o descobrimento, o vocábulo Pernambuco, em suas diversas formas primitivas, como Perñabuquo e Fernambouc, ambas originárias da forma tupi (Paranã-puka), se fazia presente nas cartas e mapas dos portugueses: os topônimos São Miguel e Rio São Francisco, existentes no território que veio a ser ocupado pela Capitania de Pernambuco, já estão registrados no planisfério de Alberto Cantino, desenhado por certo cartógrafo português para o Duque 34

1534. Duarte Coelho recebeu o título das mãos de D. João III, de Capitão e Governador das terras de Pernambuco. Essa Capitania foi denominada pelo donatário de Nova Lusitânia, homenagem à sua pátria de origem. O território pernambucano se estendia entre o rio Igaraçu e o rio São Francisco, assim compreendia:

[...] sessenta léguas de terras da costa do Brasil, as quais começarão no Rio São Francisco, que é do Cabo de Santo Agostinho para o Sul, e acabarão no rio que cerca em redondo toda Ilha de Itamaracá, ao qual ora novamente ponho nome de Rio Santa Cruz, [...] e ficará com o dito Duarte Coelho a terra da banda Sul, e o dito rio onde Cristovão Jacques fez a primeira casa de minha feitoria e a cinquenta passos da dita casa da feitoria pelo rio adentro ao longo da praia se porá um padrão de minhas armas, e do dito padrão se lançará uma linha ao Oeste pela terra firme adentro e a terra da dita linha para o Sul será do dito Duarte Coelho, e do dito padrão pelo rio abaixo para a barra e mar, ficará assim mesmo com ele Santa Cruz para a banda do Sul e assim entrará na dita terra e demarcação dela todo o dito Rio de São Francisco e a metade do Rio de Santa Cruz pela demarcação sobredita, pelos quais rios ele dará serventia aos vizinhos deles, de uma parte e da outra, e havendo na fronteira da dita demarcação algumas ilhas, hei por bem que sejam do dito Duarte Coelho, e anexar a esta sua capitania sendo as tais ilhas até dez léguas ao mar na frontaria da dita demarcação pela linha Leste, a qual linha se estenderá do meio da barra do dito Rio de Santa Cruz, cortando de largo ao longo da costa, e entrarão na mesma largura pelo sertão e terra firme adentro, tanto, quanto poderem entrar e for de minha conquista, [...]44

O Piauí está dividido em quatro mesorregiões: Centro-Norte Piauiense, Norte Piauiense, Sudeste Piauiense, Sudoeste Piauiense. É do Sudeste Piauiense que Simões faz parte, compondo a microrregião Alto Médio Canindé constituída por trinta e nove municípios45. Esse estado da federação brasileira,46 anteriormente era uma Capitania chamada de São José do Piauí – recebeu esse nome em homenagem a D. José I,

de Ferrara, Hércoles D‟Este, entre setembro e outubro de 1502". SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco: imagens da vida e da história. Recife-PE: SESC, 2001. p.24. 44 Carta de Doação. In: PEREIRA DA COSTA, Francisco Augusto. Anais Pernambucanos (10 vols). v. 1. Recife: Cia Editora de Pernambuco, 1981. p.161-162. 45 ABREU, Irlane Gonçalves. Et al. Atlas Escolar Piauí: Geo-Histórico e Cultural. 1ª. ed. João Pessoa: Grafset, 2008. p.6-10. 46 Antes "em termos administrativos, o Piauí esteve sob a bandeira de Pernambuco até 1701. Em 3 de março daquele ano, uma Carta Régia enviada a governador do Pernambuco anexava o Piauí ao Maranhão. A autonomia veio em 1761". SANTOS, Gervásio; KRUEL, Kenard. História do Piauí. Teresina: Halley/Zodíaco, 2009. p.16. 35

rei de Portugal – foi criada em 1718, que somente passou ser estabelecida em 1759. Pela Carta Régia de 29 de julho de 1758, nomeou-se o primeiro governador da Capitania, João Pereira Caldas, militar português que ocupou a patente de Major47. No ano de 20 de setembro de 1759, Pereira Caldas assumiu o governo na Vila Mocha (Oeiras), numa Carta Régia de 19 de junho de 1761, a Vila da Mocha ascendia à condição de capital da Capitania com o nome de Oeiras – uma homenagem ao ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, o Conde de Oeiras, e mais tarde, Marquês de Pombal. Em cumprimento à Carta Régia, o governador elevou seis povoações à condição de vilas: N. S. do Livramento de Parnaguá (03/06/1762); Jerumenha (22/06/1762); Campo Maior – antiga freguesia de Santo Antônio do Surubim (08/08/1762); São João da Parnaíba – atual Parnaíba (18/08/1762); Marvão – atual Castelo do Piauí (13/09/1762) e Valença do Piauí – antiga freguesia de N.S. da Conceição dos Aroás 20/09/1762)48. Esse estudo discute a inserção e atuação das mulheres nas eleições e nas instituições de decisões políticas de Araripina-PE e Simões-PI – essas duas cidades fazem parte do território da Serra do Araripe. A discussão sobre território constitui-se como uma das bases teóricas para entender as questões políticas dessa localidade. Nessa lógica, a noção de territorialidade é tida também como um "[...] espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder"49. Nessa perspectiva de análise, cabe enfatizar que "o território não é menos indispensável, uma vez que é a cena do poder e o lugar de todas as relações, mas sem a população, ele se resume a apenas uma potencialidade, um dado estático a organizar e a integrar numa estratégia"50. Com efeito, entende-se a territorialidade como um campo de construção da vida social e onde se entrecruzam, no tempo plural do cotidiano. Nesse aspecto, o diálogo abaixo ainda assinala que:

O território é antes de tudo uma relação que envolve apropriação, domínio, identidade, pertencimento, demarcação,

47 CAMELO FILHO, José Vieira. Espírito Santo: um pontinho do Brasil que não pode ser apagado. São Paulo: Edições Pulsar, 2001. p.28. "O Piauí foi um „joguete‟ dos interesses coloniais, submetido à administração do Maranhão e do Grão Pará, sendo que as primeiras providências para tornar este território uma província só ocorrerão na segunda metade do século XVIII". Ibidem. 48 NUNES, Odilon. Pesquisas para a história do Piauí: primeiros contatos com a terra. Primórdios da colonização e ausência de governo. Primeiros... Teresina: FUNDAPI; Fund. Mons. Chaves, 2007. p.118-155. 49 SOUZA, Marcelo José Lopes de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In: CASTRO, Iná Elias de. Et al. Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p.77-116. 50 RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993. p.58. 36

separação. E, se apenas parte destas características estão presentes, creio que podemos considerar a ocorrência do seu princípio, ou seja, do princípio da territorialidade.51

Nesse estudo, buscou-se trilhar também pelas reflexões sobre o lugar, constituindo-se num outro viés de análise para fundamentação da pesquisa. Assim, pode-se afirmar que:

o lugar é a base de reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade habitante-identidade-lugar [...] ele permite pensar a articulação do local com espaço urbano que se manifesta como horizonte. É a partir daí, que se descerra a perspectiva da análise do lugar, na medida em que o processo de produção do espaço é também um processo de reprodução da vida humana [...] o lugar abre a perspectiva para se pensar o viver e o habitar, o uso e o consumo, os processos de apropriação do espaço. Ao mesmo tempo, posto que preenchido por múltiplas coações, expõe as pressões que se exercem em todos os níveis.52

Para entender a espacialidade de atuação das Mulheres do Araripe tornam-se importantes seus envolvimentos em práticas políticas relacionadas à comunidade e a localidade. A maioria das mulheres que se inseriram nos processos eleitorais ou nos órgãos de representação política se envolveram em práticas comunitárias em suas localidades porque é no local e no comunitário que as pessoas se relacionam e interagem, político e socialmente, e ainda compartilham do mesmo legado cultural e histórico. Assim localidade e comunidade

[...] referem-se tanto a um espaço demarcado quanto agrupamentos de interação, podemos perceber que a identidade de um lugar surge da interseção entre seu envolvimento específico em um sistema de espaços, hierarquicamente organizados, e sua construção cultural como comunidade ou localidade. 53

51 HEIDRICH, Álvaro Luiz. Território, integração socioespacial, região, fragmentação e exclusão social. In: RIBAS, A. D.; SPOSITO, E. S.; SAQUET, M. A. (Org.). Território e desenvolvimento. 3ª ed. Francisco Beltrão: Unioeste, 2005, p.39. 52 CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo: Ed. Hucitec, 1996. p.19-20. Nessa mesma perspectiva pensa-se "[...] o lugar – como experiência de uma localidade específica com algum grau de enraizamento, com conexão com a vida diária, mesmo que sua identidade seja construída e nunca fixa – continua sendo importante na vida da maioria das pessoas, talvez para todas. Existe um sentimento de pertencimento que é mais importante do que queremos admitir, o que faz com que se considere se a idéia de 'regressar ao lugar' [...]". ESCOBAR, Arturo. O lugar da natureza e a natureza do lugar: globalização ou pós-desenvolvimento? In: CASTRO GÓMEZ, Santiago. Et al. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais perspectivas Latino- americanas.1ª Ed. Buenos Aires: Cons. Latinoamericano de Ciencias Sociales-CLACSO, 2005. p.134. 53 GUPTA, Akhil & FERGUSON, James. Mais além da "cultura": espaço, identidade e política da diferença. In: ARANTES, Antonio Augusto (Org.). O Espaço da Diferença. São Paulo: Papirus editora, 2008. p.34. 37

Desse modo, a idéia de espaço entra como uma condição sine qua non de ação política das mulheres do Araripe. A espacialidade traduz-se num campo de relações que, simultaneamente, envolve seres ou objetos, tornando um lugar praticado. O diálogo seguinte permite compreender o espaço como,

[...] um cruzamento de móveis. É de certo modo animado pelo conjunto dos movimentos que aí se desdobram. Espaço é o efeito produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam e o levam a funcionar em unidade polivalente de programas conflituais ou de proximidades contratuais. O espaço estaria para o lugar como a palavra quando falada, isto é, quando é percebida na ambiguidade de uma efetuação, mudada em um termo que depende de múltiplas convenções colocada como ato de um presente (ou de um tempo), e modificado pela transformações devidas a proximidades sucessivas.54

A região do Araripe – como uma espacialidade nordestina – (foi e) é marcada pelo signo do "cabra macho", que se constitui em outro viés analítico que serviu de referência para esse estudo. Para se compreender as trajetórias de lutas das mulheres no Araripe recorre-se à representação do ser nordestino que está vinculado à sua territorialidade. O espaço do Araripe (foi e) é focado também no discurso violento do "cabra- valente". Basicamente a violência no Araripe e, em parte, do Nordeste, está presente no discurso do valentão, a todo e qualquer momento essas expressões saem da boca desses "cabra": "lhe enfio a peixeira de goela abaixo", "vou torar você na bala" e "quem é frouxo não se mêta", para mostrar que é justiceiro e defensor da honra. Percebe-se que "a violência é neste discurso um componente da sociabilidade no Nordeste, uma característica da própria forma de ser do nordestino e, mais acentuadamente, um dos elementos que comporiam os atributos da masculinidade nessa região. Ser 'cabra macho' requer ser destemido, forte, valente, corajoso"55. Assim, o diálogo abaixo explica como foram instituídos os discursos sobre o Nordeste e do sujeito nordestino que se aplica ao "cabra-da-peste" do Araripe:

54 CERTEAU, Michel de. A Invenção do cotidiano. v. 1. Artes de Fazer. Petrópolis: Vozes, 1994. p.202. 55 ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. "Quem é frouxo não se mete": violência e masculinidade como elementos constitutivos da imagem do nordestino. In: Projeto História: revista do Prog. de Estudos Pós-Graduados em História e do Dep. de História da PUC-SP. n. 19, São Paulo: EDUC, 1999. p.175. "Nesta sociedade, o frouxo não se mete, não há lugar para homens fracos e covardes". Ibidem. 38

Enrijecimento de organismo potente; tipo fisicamente constituído e forte; aspecto dominador de um titã acobreado; verdadeiro pai-d‟égua; gritando muito e descompondo como um capitão de navio; homem bravo, homem de gênio forte; cabra se fazendo em arma com facilidade; falando sempre em mulheres; quase nu, de brincadeira com os outros, com gestos dos touros, de pernas abertas e membro em riste, no deboche, na gargalhada; homem encourado, vermelho, com o guarda- peito peito encarnado, desenhando-se o busto forte e as longas perneiras ajustadas ao relevo poderoso das pernas; [...]. O nordestino é uma figura que vem sendo desenhada e redesenhada por uma vasta produção cultural, desde o começo: Figura em que se cruzam uma identidade regional e uma identidade de gênero. O nordestino é macho. Não há lugar nesta figura para qualquer atributo feminino.56

Outra abordagem pertinente que se pôde constatar na região do Araripe foi como se estabeleceram as relações no campo da história relacional, ou seja, entre o masculino e o feminino. Ressalto que não entendo as relações entre o masculino e feminino pela oposição binária. Nesse caminho perscruto, a partir do conceito patriarcado, as relações de conflito ou compartilhamento das mulheres do Araripe, que atuaram politicamente na busca de cargos eletivos. Foram nos anos 1970, que uma nova acepção feminista classificou o que é patriarcalismo. Foi nessa esteira histórica, que se ressignificou e se utilizou dessa noção teórica, não que a mulher seja um sujeito submisso ou sem ações e práticas sociais, mas como um sujeito com experiência social vivida. Desse modo, retoma-se e compreende-se que:

[...] o patriarcado designa uma formação social em que os homens detêm o poder, ou ainda, mais simplesmente, o poder é dos homens. Ele é, assim, quase sinônimo de "dominação masculina" ou de opressão das mulheres. [...] "Patriarcado" vem da combinação das palavras gregas pater (pai) e arkhe (origem e comando). Essa raiz de duplo sentido em arcaico e monarquia. Para o grego antigo, a primazia no tempo e a autoridade são uma só e a mesma coisa. Portanto, o patriarcado é literalmente é autoridade do pai.57

56 ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Nordestino, uma invenção do falo: Uma história do gênero masculino (Nordeste -1920/1940). Maceió: Edições Catavento, 2003. p.19-20. 57 HIRATA, Helena. Et al. (Orgs.). Dicionário Critico do Feminismo. São Paulo: UNESP, 2009. p.173-174. Ainda articulando a categoria patriarcado Pateman afirma: "A dominação dos homens sobre as mulheres e o direito masculino de acesso sexual regular a elas estão em questão na formulação do pacto original. O contrato social é uma história de liberdade; o contrato social é uma história de sujeição. O contrato original cria ambas, a liberdade e a dominação. A liberdade do homem e a sujeição da mulher derivam do contrato original e o sentido da liberdade civil não pode ser compreendido sem a metade perdida da história, que revela como o direito patriarcal dos homens sobre as mulheres é criado pelo contrato. A liberdade civil não é universal – é um atributo masculino e depende do direito patriarcal. Os filhos subvertem o regime paterno não apenas para conquistar sua liberdade, mas também para assegurar as mulheres para si próprios." PATEMAN, Carole. O contrato sexual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993. p.16-17. 39

Com efeito, recorreu-se à categoria de território, lugar, localidade, comunidade e espaço para explicar os antecedentes históricos das cidades: Araripina e Simões. O percurso teórico sobre essas categorias ampliaram o entendimento sobre a atuação política e social das mulheres do Araripe. As idéias de fronteira58 e deslocamento, além de abrirem possibilidades de abordagem para refletir sobre as personagens que entraram na cena política do Araripe, constituem contribuições importantes para este estudo, ao passo que se relacionam diretamente com as bases teóricas dessa pesquisa. Destarte, Araripina-PE e Simões-PI, duas cidades situadas entre as fronteiras de Pernambuco e do Piauí, tornam-se cenário para muitas pessoas que se deslocam e circulam cotidianamente. Esses deslocamentos são motivados por questões econômicas, educacionais, políticas, sociais, culturais, emocionais, ou ainda outras razões. De tal forma, vale ressaltar que "os amplos deslocamentos e circulação de pessoas nos territórios fronteiriços possibilitam novas reflexões sobre a polissemia de sentido do termo 'fronteira'."59 Para descortinar a fronteira entre as duas cidades pertencentes aos estados de Pernambuco e Piauí, a imagem seguinte dialoga e mostra a localização dos dois estados.

Figura 3 - Divisão de Estados: Pernambuco e Piauí Fonte: Fotografia de Welington José de Carvalho

58 Para além geográfica a noção teórica de fronteira é entendida no aspecto cultural e simbólico. 59 ALBUQUERQUE, José Lindomar C. A dinâmica das fronteiras: deslocamento e circulação dos "brasiguaios" entre os limites nacionais. In: Revista Horizontes Antropológicos. Porto Alegre, ano 15, n. 31, jan./jun. 2009. p.138. 40

A região do Araripe, particularmente a cidade de Araripina-PE, caracteriza-se economicamente pela exploração do minério da gipsita, matéria-prima importante para a fabricação do gesso, sendo a maior parte dessa produção é utilizada na construção civil. O pólo gesseiro da região se concentra em cinco municípios: Araripina, Trindade, Ouricuri, Ipubi e Bodocó. Esse polo gesseiro é responsável por 95% da produção de gesso do país e ainda possui 40% das reservas mundiais de gipsita. No tocante à produção agrícola de culturas de subsistência nas áreas de sequeiro60, o território do Araripe – tanto Araripina-PE quanto Simões-PI – é bastante diversificado. Os destaques para o cultivo do sorgo em Exu e Ouricuri, das oleaginosas (mamona) em Moreilândia e Santa Cruz, e, principalmente da mandioca, cultivada nos dois municípios em discussão além de toda extensão da chapada do Araripe. Essa região como um todo, tornou-se grande produtora de mel, Araripina é responsável por 25% da produção de mel do estado de Pernambuco. As duas cidades sobressaem nas atividades relacionadas à agropecuária com destaque para a apicultura, ovinocaprinocultura, bovinocultura, entre outras...

1.2. ARARIPINA-PE

Araripina é uma cidade do sertão pernambucano, situada no extremo Oeste desse estado e localizada no sopé da Serra do Araripe. Limita-se com o município de Campos Sales-CE ao Norte, com Ouricuri-PE ao Sul, a Leste com as cidades de Trindade-PE e Ipubi-PE e a Oeste com os municípios piauienses de Fronteiras, Marcolândia e Simões-PI. O município localiza-se no semi-árido brasileiro, apresentando uma temperatura média de 24°C, que ocorre num período seco de sete a oito meses por ano – descrição vinculada efetivamente ao clima tropical e semi-árido quente. Sua área geográfica é de 1.893km2, incluída na bacia hidrográfica do rio Brígida61, tendo com bioma a Caatinga. A cidade dista 673Km da capital, Recife-PE.

60 "A agricultura de sequeiro é a cultura sem irrigação em regiões onde a precipitação anual é inferior a 500mm. A agricultura de sequeiro depende de técnicas de cultivo específicas que permitem um uso eficaz e eficiente da limitada humidade do solo". QUARANTA, Geovanni. Agricultura de Sequeiro. In: Lucinda - Land Care in Desertification Affected Areas. p.1. Disponível em: . Acesso em: 27/07/2011. 61 A área de abrangência da bacia engloba 15 municípios: os instalados completamente são Bodocó, Granito, Ipubi, Ouricuri, Trindade, Exu, Moreilândia Araripina, Ouricuri e Parnamirim; e os municípios 41

A cidade de Araripina-PE anteriormente era uma fazenda denominada de São Gonçalo, cujo proprietário inicial foi o Visconde da Parnaíba, Manoel de Sousa Martins62, vendida provavelmente a um paraibano, Manoel Félix Monteiro que era casado com Theotônia Leite Monteiro (ou Theotônia Leite Teixeira)63. Entretanto sabe-se que:

Em 30 de janeiro de 1854, o Imperador Pedro II deu ao Brasil um regulamento, para execução da Lei nº 601, de 18.09.1850, que determinava o registro das terras de todo o Império. Para cadastramento, o regulamento marcou um prazo, de 1º de janeiro de 1858 a 31 de dezembro de 1859, de acordo com o art. 91, Capítulo 9º. No Prazo de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 1860, poderiam ser feito registros, mas com o pagamento de multa.64

No principio, a Fazenda São Gonçalo possuía poucas casas, com a determinação do Imperador D. Pedro II, os vigários das freguesias deram encaminhamentos aos registros das terras e coube ao Padre Francisco Pedro da Silva, vigário de Ouricuri, registrar

as terras da jurisdição dessa freguesia, num total de 1.349 registros, concluindo o trabalho no dia 31 de dezembro de 1859. É nesses registros que vamos encontrar referência a Fazenda São Gonçalo, assim como a outras fazendas que hoje constituem distritos, povoados, fazendas e sítios de Araripina: Morais, Nascente (antigo Olho D‟Água), Alegre, Água Fria, Sipaúba, Queimadas, Mulungu, Conceição, Flamengo, Tamboril, Alto Alegre, Burro Morto, Baixa Verde, Cavalete, Santa Cruz, Campina e muitos outros. Relativamente a São Gonçalo, há registros com a denominação de fazenda, sítio e saco. [...] Somente quatro pessoas deram a registros posses de terras na dita fazenda: Reginaldo de Castro Bittencourt e sua mulher Joaquina Maria de Castro, um sítio denominado Semembu, [...] (registro nº 265); Manoel Ferreira de Oliveira parcialmente inseridos como Cabrobó, Orocó, Santa Cruz, Santa Maria da Boa Vista, Santa Filomena e Serrita. FECHINE, José Alegnoberto Leite; GALVÍNCIO, Josiclêda Domiciano. Agrupamento da precipitação mensal da Bacia Hidrográfica do rio Brigida-PE, através da multivariada. In: Revista Brasileira de Geografia Física, Recife-PE. v. 01 n. 01, mai./ago. 2008, pp.39-46. 62 Manoel de Sousa Martins foi governador do Estado do Piauí "durante 20 anos, de 24 de janeiro de 1823 a 30 de dezembro de 1843, com pequenos interregnos (de 9 de dezembro de 1828 a 13 de fevereiro de 1829 e de 15 de fevereiro do mesmo ano a 17 de fevereiro de 1831), [...] enfeixando um poder e um prestígio que nenhum outro governante piauiense possui até hoje. [...] Foi ele que mobilizou, armou e levou o Piauí a enfrentar a Balaiada, no princípio sem nenhum apoio do poder central e também pouco apoiado pelos governos do Maranhão, Bahia e Ceará durante todo o desenrolar da guerra". CHAVES, Monsenhor. Op. cit., 1988. p. 435. 63 "Essa versão não pode ser documentalmente comprovada". ARRAES, Francisco Muniz. Araripina- História; fatos & reminiscência. Recife: FIAM-CEHM - Prefeitura Municipal de Araripina, 1988. p.17. 64 Arquivo público – Registros de Terras públicas, volumes 7 e 9. Apud. ARRAES, Francisco Muniz. Op. cit., 1988. p.17. 42

Júnior e sua mulher Francisca Raimunda de Jesus, três posses de terra [...] (registro nº 632); uma posse de terra no lugar denominado Saco de São Gonçalo, que disse ter havido por compra a Theotônia Leite Monteiro e seu filho Manoel Leite Monteiro (registro nº 784) e José Alves de Sousa e sua mulher Antônia Maria Joaquina, posse de terra em comum no Sítio São Gonçalo, havido por compra a Marcos Francisco [...] (registro nº 966).65

A Fazenda São Gonçalo passou por conflitos relacionados à posse de terras. De fato é constatado na historiografia local que "[...] a Fazenda São Gonçalo foi adquirida por Manoel Félix Monteiro do Visconde de Parnaíba"66. Porém, "conta-se que houve um desentendimento entre o casal Manoel e Theotônia, tendo aquele regressado para sua terra natal, na Paraíba, ficando a administração de suas terras com D. Theotônia, coadjuvada pelos seus filhos Manoel Leite Monteiro e João Teixeira Leite"67. Pelo visto, D. Theotônia Leite Monteiro – a dona das terras da Fazenda São Gonçalo – com a separação de Manoel Félix Monteiro, seu ex-esposo, passou a se chamar Theotônia Leite Teixeira, tornando-se assim uma mulher do sertão e muito rica. Vale salientar, que para ser uma mulher rica no século XIX, destacava-se "[...] mais pelos bens de raiz: as muitas fazendas, as centenas de cabeças de gado cavalar, muar e vacum, as variadas casas de telha na cidade com muitas portas e janelas, as benfeitorias expressas em currais, cercados, roças nas suas terras de fazenda"68. O diálogo a seguir explicita que:

Mulheres ricas, mulheres pobres; cultas ou analfabetas; mulheres livres ou escravas do sertão. Não importa a categoria social: o feminino ultrapassa a barreira das classes. Ao nascerem são chamadas "mininu fêmea". A elas certos comportamentos, posturas, atitudes e até pensamentos foram impostos, mas também viveram o seu tempo e o carregaram dentro delas. [...] Entre as mulheres, a senhora, dama, dona fulana, ou apenas dona, eram categorias primeiras; em seguida ser "pipira" ou "cunhã" ou roceira e, finalmente apenas escravas e negra. O princípio da riqueza marcava o reconhecimento social.69

65 ARRAES, Francisco Muniz. Op. cit., 1988. p.17-18. "Na área do atual município de Araripina, incluíam-se as terras das principais Fazendas da época: Olho d‟Água, Espírito Santo (atual Trindade- PE), Flamengo, Santa Cruz e São Gonçalo". Ibidem. p.19. 66 Ibidem. p.20. 67 Ibidem. p.20. 68 FALCI, Miridan Knox. Mulheres do sertão nordestino. In: DEL PRIORE, Mary (Org.); BASSANEZI, Carla (Coord. de textos). História das mulheres no Brasil. 8ª ed. São Paulo: Contexto, 2006. p.247. 69 FALCI, Miridan Knox. Mulheres do sertão nordestino. In: DEL PRIORE, Mary (Org.); BASSANEZI, Carla (Coord. de textos). Op. cit., 2006. p.241-242. 43

Ao retomar para o contexto histórico da região do Araripe, cabe enfatizar que no mês de maio de 1871, na Fazenda São Gonçalo70, foi erigida pelo Padre José Antônio Pereira de – ou simplesmente Padre Ibiapina71 – uma capela em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade. Ibiapina, também conhecido como padre mestre, construiu um cemitério na localidade. As denominadas santas missões do padre Ibiapina começaram a partir de 1855, e percorreram "[...] as províncias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. Sobre as diversas 'fases' que marcaram a atuação missionária de Ibiapina pelo Norte, esclarece-nos Hoomaert, que a fase propriamente missionária da vida de Ibiapina se situa entre os anos de 1860 e 1876."72 Cabe destacar que na cidade de Picos-PI foi registrada a passagem das santas missões, sendo posterior o deslocamento do Pe. Ibiapina para a Fazenda São Gonçalo. Ao redor da capela Nossa Senhora da Conceição foram construídas diversas casas. O processo de povoamento foi rápido, o que levou a atração e fruição de várias famílias oriundas de outras regiões a se instalarem nessa espacialidade. É evidente que nesse processo de deslocamento, as pessoas operaram seus modos de vida, manifestados em práticas, costumes, fazeres culturais e políticos movidos por experiências e desejos diferentes, com o objetivo

70 Na passagem do Pe. Ibiapina pela localidade, segundo as narrativas orais tem-se "[...] notícia de que as terras da Fazenda São Gonçalo foram vendidas ao cearense Daniel Rodrigues Nogueira, que aí se estabeleceu, explorando a atividade agropastoril. Localizada nas encostas da Chapada do Araripe, eram as terras da Fazenda férteis e bem se prestavam para o criatório de gado". ARRAES, Francisco Muniz. Op. cit., 1988. p.20. 71 "Nascido em Sobral, Província do Ceará, em 05 de agosto de 1806, José Antônio Pereira de Ibiapina, nome de batismo, iniciou seus estudos religiosos no Seminário de Olinda, em 1823. A morte do pai Francisco Miguel Pereira, em praça pública, na cidade de , e do irmão mais velho, Alexandre Raimundo Pereira Lima, num dos presídios para crimes políticos, na ilha de Fernando de Noronha, em consequência de ambos na Confederação do Equador (1824), levou Ibiapina, então com 22 anos de idade, a deixar os estudos no Seminário de Olinda, e retornar ao Ceará afim de resolver os problemas da família, ou seja, reaver os bens confiscados pelo estado. Órfão de pai e de mãe, que havia falecido em 1823, em consequência de um aborto, Ibiapina, na condição de irmão mais velho, torna-se responsável por cuidar do irmão João Carlos, então com 14 anos, e das irmãs, Rita com 13, Maria José, com 10 e Ana, com 9. Aos 27 anos, Ibiapina se forma em Direito, na primeira turma de bacharéis do Curso Jurídico de Olinda". VERAS, Elias Ferreira. O "Echo das Maravilhas": o jornal A Voz da Religião no Cariri e as missões do padre Ibiapina no Ceará (1860 – 1870). Dissertação (Mestrado em História Social), PUC-SP, São Paulo, 2009. p.11-12. 72 Ibidem. p.13. Cabe salientar a passagem do Pe. Ibiapina por essa região no período de 1860 e 1876. "Esse período foi marcado pela ação missionária articulada entre o Cariri Velho e o Cariri Novo. A partir de 1875, o missionário tem longos períodos de doenças e se recolhe à Casa de Caridade de Santa Fé, Paraíba, onde permaneceu até sua morte, em 1883. O Ceará recebeu o missionário em dois períodos: de 1862 até 1865 e de 1868 a 1870, atuando nas vilas de Sobral, de Santana do Acaraú e, extremo oposto da Província, na região do Cariri Novo, nas localidades de Missão Velha, Crato, Barbalha, e Milagres. Essa última região concentrou os maiores esforços das missões ibiapinianas". Ibidem. p.13. 44

precípuo de institucionalizar e territorializar a então Fazenda São Gonçalo. Dessa maneira, "[...] dificilmente a análise dos 'modos de vida' pode ignorar a hierarquia das redes de poder que estabelecem as articulações entre as diferentes 'esferas' do social"73. A partir desse postulado teórico, cabe assinalar que:

os modos de vida colocados em ação pela modernidade nos livraram, de uma forma bastante inédita, de todos os tipos tradicionais de ordem social. Tanto em extensão, quanto em intensidade, as transformações envolvidas na modernidade são mais profundas do que a maioria das mudanças características dos períodos anteriores. No plano da extensão, elas serviram para estabelecer formas de interconexão social que cobrem o globo; em termos de intensidade, elas alteram algumas das características mais íntimas e pessoais de nossa existência cotidiana.74

Para a Fazenda São Gonçalo os padres realizavam as chamadas desobrigas, que se constituíam no deslocamentos dos padres pelas fazendas e povoados recém-criados, onde permaneciam por certo tempo na região para celebrar Missas, Confissões, Batismo, Matrimônio e Crisma. Por volta da década de 1880, registra-se nessa região o deslocamento, de duas a três vezes por ano, do Padre Francisco Pedro – de Ouricuri – com o objetivo de realizar as celebrações na capela de Nossa Senhora da Conceição. Em volta da Fazenda São Gonçalo surgiram várias outras fazendas e sítios, pela "historiografia oficial" essa fazenda foi a que mais se desenvolveu. Sobre o desenvolvimento dessa região destaca-se que:

A Fazenda Morais, de grande extensão, era ocupada por mais de cinco dezenas de possuidores: a Olho D‟Água era a mais populosa, mais de cem pessoas habitavam suas terras; nas proximidades da atual Rancharia, ficavam as Fazendas dos Gregórios e Alegre; Alto Alegre e Mulungu, nas proximidades de Lagoa do Barro; as Fazendas Conceição, Flamengo, Santa Cruz e São Pedro se extremavam com as terras da Fazenda São Gonçalo.75

Por volta da última década do século XIX, em virtude da construção da capela na Fazenda São Gonçalo, foi constatado seu crescimento populacional em aproximadamente 300 moradores incluindo as edificações em torno de mais de vinte

73 GUERRA, Isabel. Modos de vida: Novos percursos e novos conceitos. In: Revista Sociologia: Problemas e Práticas. CIES - Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, n. 13, Lisboa-PT, mar. 1993. p.64. 74 GIDDENS, Antonio. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991. p.21. 75 ARRAES, Francisco Muniz. Op. cit., 1988. p.20. 45

casas. O desenvolvimento do povoado propiciou as condições necessárias para criação do distrito com a permanência do mesmo nome: São Gonçalo, pela lei municipal de 01 de julho de 1893, na qual ficava vinculado ao município de Ouricurí. A lei estadual nº 991, de 01 de julho de 1909, elevou posteriormente a localidade à condição de vila com a mesma denominação76. O município foi elevado à categoria de cidade por força da Lei estadual nº 1.931 de 11 setembro de 1928. A cidade recebeu o nome de Araripina, possivelmente em virtude da proximidade com a Serra do Araripe. Atualmente, esse município é formado pelo conjunto de distritos assim destacado: Morais, Gergelim, Nascente, Bom Jardim do Araripe, Serrânia e Lagoa do Barro77. A imagem a seguir é da cidade de Araripina-PE.

Figura 4 - Araripina-PE Fonte: Portal araripina.com.br78 em parceria com Luizito Fotografias

76 "A Lei Orgânica dos Municípios, nº 52 de 03 de agosto de 1892, deu autonomia política a Ouricuri e São Gonçalo figura na sua formação administrativa como Distrito, porque era um povoado que ficava distante da sede [...]." a Lei estadual 991 de 01 de julho de 1909, que tratou da divisão administrativa do Estado deu a categoria de vila a todos os distrito municipais que constituíssem povoações distintas da sede do município a que pertencessem (art. 3º, § 4º). ARRAES, Francisco Muniz. Op. cit., 1988. p.21. 77 Prefeitura Municipal de Araripina. A Cidade. Disponível em: . Acesso em: 17/05/2010. Segundo o IBGE, a população atual é de 77.302. IBGE. Cidades@ Pernambuco 2010. Disponível em: . Acesso em: 18/11/2010. 78 Figura 4. Portal: araripina.com.br. Categoria: Sobre a Cidade - Fotos da cidade. Disponível em: . Acesso em: 06/04/2011. 46

Dessa forma, percebe-se que a maioria das cidades brasileiras são fundadas por homens que, de certa forma, tentam ocultar a participação feminina. O caso de Araripina mostrou-se uma especificidade, com a separação do casal Theotônia Leite Teixeira e Manoel Félix Monteiro, as terras da Fazenda São Gonçalo passaram a ser administradas por Theotônia Leite, tornando-se uma das primeiras fundadoras do lugar que deu origem à cidade de Araripina. Entretanto, os nomes de personalidades masculinas aparecem de forma contundente na historiografia oficial de Araripina, desde quando era vila, assim destacado:

3 - OS PIONEIROS. A seguir os principais povoadores da Vila de São Gonçalo. Daniel Rodrigues Nogueira, cearense, último proprietário conhecido da fazenda São Gonçalo [...]; Victor José Modesto, cearense, de Jardim [...] veio para Fazenda Alagoinha, nas proximidades do povoado de São Gonçalo no ano de 1881, mais ou menos. Henrique Alves Batista [...] patriarca de numerosa descendência. Entre outros, eram seus filhos: Ana, casada com Dionísio de Deus Lima e mãe do ex- prefeito Raimundo Batista de Lima (Dosa); Manoel, pai do ex- prefeito Sebastião Batista Modesto (Sebasto) e Florentino, pai do também ex-prefeito Dr. Pedro Alves Batista. Antônio José Modesto [...] era coronel da Guarda Nacional, mas não tinha a farda. Sua patente e espada foram compradas para ajudar a pagar a dívida nacional. José Martins de Alencar, cearense, proprietário da fazenda Sauhén. João Ricardo Arraes Neto, conhecido por João Custódio, era piauiense, de Pio IX. [...] da família Arraes da região dos Inhamuns, era ligado politicamente a família Feitosa, da corrente liberal. Estava presente nos acontecimentos do Assaré (CE), no ano de 1868, quando foi assassinado um membro da família Carcará, da corrente conservadora, por seu primo Ignácio Ricardo Arraes. Por essa razão, João Custódio veio homiziar-se no lugar Sítios Novos, no município de Ouricuri, [...].79

No trecho abaixo, a história oficial da cidade ainda evidencia que muitos desses sujeitos eram "senhores" latifundiários, donos de fazenda, atuavam na política municipal e ainda faziam parte da Guarda Nacional. Pela narrativa histórica destacam-se esses sujeitos:

Boaventura Praxedes de Alencar, conhecido como Senhor do Sauhén Cearense. Foi a primeira autoridade policial de São Gonçalo. Deu combate aos desordeiros e ladrões que apareciam na região. Apesar de profundamente religioso, castigava severamente os marginais. Como não havia cadeia, prendia os fora da lei no 'tronco' – toro de baraúna, partido ao

79 ARRAES, Francisco Muniz. Op. cit., 1988. p.23. 47

meio, com cavidades, onde se colocava o pé do malfeitor; numa ponta, uma dobradiça, no outro lado, um cadeado. Severo Cordeiro dos Santos, baiano, de Senhor do Bonfim [...]. Foi influente na política de São Gonçalo. José Pedro da Rocha. De Ouricuri (PE), [...] era pai também de Rodrigo Castor da Rocha Falcão, que liderava uma corrente política em Ouricuri. Pedro Cícero da Rosa Muniz. De Salgueiro (PE), [...] era coronel da Guarda Nacional, com patente, farda e espada. Foi político de grande influência em São Gonçalo, transmitindo ao seu filho Chico Cícero o gosto pela política. Alexandre Arraes, cearense, de Campos Sales, casou-se com uma filha do Cel. Antônio Modesto, Thereza, viúva de outro Arraes, Fenelon Viana Arraes. Joaquim Alexandre Arraes – Irmão de Alexandre Arraes e conhecido como o Major Quicó. Chegou em São Gonçalo em 1912, [...] foi político de destacada atuação em São Gonçalo e chegou a exercer o cargo de delegado de polícia e de prefeito por duas vezes. Antônio de Barros Muniz. De Salgueiro (PE), filho do Cel. Pedro Cícero da Rosa Muniz. Veio para São Gonçalo com o seu pai.80

Entretanto, as mulheres de Pernambuco, em particular as do Araripe, apareceram historicamente nos processos eleitorais no ano de 1957, foi o caso de Maria Cecy de Alencar81, conhecida popularmente por Cecy, que candidatou-se pela União Democrática Nacional (UDN) tornando-se a primeira vereadora de Araripina e uma das primeiras de Pernambuco com 351 votos. Em virtude da morte do vereador José Barreto Alencar – Dorico – esposo de Cecy, o parlamento municipal ficou sem suplentes para assumir a vaga deixada por Dorico. Tal situação ocorreu na história política do município porque nas eleição de 1955, por consequência de um acordo político feito entre o Partido Social Democrático (PSD) e a UDN para a distribuição de vagas de candidatos de acordo com um número de vagas de vereadores. Assim, foi realizada uma eleição suplementar em 15 de dezembro de 1957, na qual Cecy foi eleita vereadora, assumindo a vaga do falecido esposo. Na fotografia abaixo visualiza-se a imagem de Cecy.

80 ARRAES, Francisco Muniz. Op. cit., 1988. p.24-25. 81 Maria Cecy de Alencar, nasceu em 1910, filha de Maria Cristina de Alencar e do coronel Gualter Alencar Lima. Casou-se em 1928, ficando viúva antes do nascimento do seu primogênito. Algum tempo depois, casou-se com o primo José Barreto Alencar – Dorico, com quem teve 12 filhos. José Barreto faleceu em 1957, um ano antes de Cecy assumir a Câmara Municipal de Araripina-PE. Nessa eleição Cecy foi candidata única e ocorreu apenas no município sede de 10 sessões, como exposto Cecy obteve 351 votos dos 361 eleitores. PAIVA, Fredson. Luto - Morre Ceci Alencar - Primeira vereadora de Araripina e de Pernambuco. Disponível em: . Acesso em: 26/01/2011. 48

Figura 5 - Maria Cecy de Alencar (Primeira vereadora de Araripina-PE e de Pernambuco) Fonte: Blog do Fredson Paiva82

Movidos por desejos e necessidades, os moradores da Fazenda São Gonçalo e das áreas circunvizinhas conseguiram, com seus hábitos, costumes e experiências sociais vividas, se estabelecerem em torno dessa espacialidade. Nesse sentido, nesse item procurou-se aprofundar, historicamente, sobre a fundação de Araripina-PE, levando em consideração as experiências e modos de vida das mulheres do sertão do Araripe. No próximo item deseja-se entrar nas veredas historiográficas de Simões-PI e descortinar para visibilizar os saberes e fazeres políticos das mulheres simonenses.

82 Figura 5. PAIVA, Fredson. Op. cit.. Disponível em: . Acesso em: 06/04/2011. 49

1.3. SIMÕES-PI

O município de Simões está geograficamente situado no sertão do Piauí. Localiza-se na Serra do Araripe, limitando-se com as cidades de Curral Novo-PI e Caridade-PI ao Sul, ao Norte com o município de Marcolândia-PI, a Oeste com Padre Marcos-PI e a Leste com as cidades pernambucanas de Araripina e Ouricuri. Com localização na área geográfica do semi-árido brasileiro, exibe um clima semi- árido quente e seco, registrando temperaturas mínimas de 23°C e máximas de 36°C, chegando em torno de 18ºC no período de inverno. Sua distância da capital Teresina-PI é de 442 km. Na fotografia seguinte temos uma imagem da cidade de Simões-PI e ao fundo da Serra do Araripe.

Figura 6 - Simões-PI e Serra do Araripe Fonte: Fotografia de Welington José de Carvalho83

Conta-se que a cidade surgiu a partir de uma fazenda de gado denominada de Simões à margem do rio Boa Vista. Em 07 de outubro de 1681, fora concedida a José Simões, a sesmaria na qual pertencia a fazenda Simões, que recebera esse nome em homenagem ao seu proprietário84. Segundo a historiografia oficial, o

83 Figura 6. Portal simoespi.com.br. Categoria Fotos. Disponível em: . Acesso em: 04/03/2010. 84 D‟ALENCASTRE, José Martins Pereira. Memória, chronologica, historica geographica da província do piauhy. Rio de Janeiro, 15 de maio de 1855. In: Revista do Instituto Histórico Geographico Tomo XX. 1º Trimestre de 1857. p.156. "As primeiras sesmarias do Piauhy foram concedidas em 12 de Outubro de 1676 por dom Pedro de Almeida, governador de Pernambuco ao capitão-mor Francisco Dias d‟Avila, seu irmão Bernardo Pereira Gago, o capitão Domingos Affonso Certão e seu irmão Julião Affonso Serra, que requereram 10 legoas em quadro para cada um na margem do Herigueia (Gurugueia). Em 30 de Janeiro de 1681 o governador Ayres de Souza de Castro concedeu mais a cada um quatro sócios, e ao alferes Francisco de Souza Fagundes, 10 legoas de terra na margem Parnahiba". Ibidem. p.156. 50

governador de Pernambuco Ayres de Souza de Castro doou posses de terra em carta de sesmarias. Em documentos da época assim relatou:

Com data de 07 de Outubro de 1681 foram concedidas terras de sesmarias a José Simões, Francisco de Oliveira Perreira, Catharina Fugaça, Pedro Vieira de Lima, Manoel Ferreira, e João Ferreira Lima, todos moradores da Bahia, que pediram todo território entre o rio Itapicuru e Gurugueia, ou entre as aldêias dos Aítatus, e Aboypiras, cujo território não póde ser hoje senão o de Pastos-bons parte do Parnaguá. Na mesma data as terras do Parnaguá entre as cabeceiras do Parahim até a barra d‟este rio no Gurugueia foram partidas em porções iguaes entre Manoel de Oliveira Porto, Francisco de Oliveira, Coronel Francisco Dias D‟Avila, [...] Domingos Vieira de Lima, João de Souza Fragoso, Christovam da Costa Ferreira, todos fazendeiros do Rio San Francisco. [...]85

A concessão de terras ainda teve continuidade, na narrativa seguinte, assim descreveu:

Lê-se no livro 6º a folhas 156 do registro de Provisões e Patentes que D. João de Sousa concedeo em data de 13 de Outubro de 1684 mais dez léguas de terras na margem do Gurugueia e Parahim com reservas de terras, catingas, e terras inúteis a Domingos Affonso Garcia de Avilla, Francisco D‟Avila, Bernardo Pereira e Julião Affonso e outras tantas léguas em quadro ao mesmo sócios nas margens do rio Tranqueira; e em 29 de Dezembro de 1686 mais doze léguas em quadro aos mesmo sócios na margem do Parnahiba, começando da aldeia dos Aranhuns até a última aldeia ou tapera do gentio Muypurá, e pela parte do sul até a serra do Araripe.86

O dono da fazenda Simões era oriundo da capitania da Bahia, notadamente de Vila Bela da Rainha, município de Jacobina que atualmente recebe o nome de Senhor do Bonfim87. Simões pertecencia à freguesia de Jaicós88 – até 1801, esta era

85 D‟ALENCASTRE, José Martins Pereira. Op.cit., 15 de maio de 1855. p.156. 86 Ibidem. 87 DANTAS, José Avelar. Fragmentos Históricos Simões. Picos-PI: Gráfica e editora Brito LTDA, S/D. p.16. 88 Os documentos oficiais de Jaicós apresentaram a seguinte descrição: "Tem essa freguezia 40 legoas de comprimento e 20 de largura; é limitada ao Nascente pela freguezia do Assaré no Ceará, e Uricury em Pernambuco, ao Sul com a freguezia de Santa Maria, comarca da Boa-vista em Pernambuco, e com a de S. Raymundo Nonnato; ao Poente com a freguezia de Oeiras, e ao Nordéste com a freguesia dos Picos. O decreto de 6 de Julho de 1832 elevou a freguezia de Jaicoz às honras de villa, e a sua installação data de 24 de Fevereiro de 1834. A villa Jaicoz é pequena, apenas tem 44 casas de telhas. A sua matriz é uma das melhores da província: teve começo a sua edificação em 1833 e foi concluída em 1839 a expensas do benemérito Padre Marcos de Araujo Costa. Sua população excede 9 mil almas, inclusive quasi 2.000 captivos. Em 6 de Outubro de 1829 foi dotada esta freguesia com uma escola de primeiras letras do sexo masculino, e por lei provincial de 17 de Agosto de 1854 de uma aula pública para meninas". D‟ALENCASTRE, José Martins Pereira. Op.cit., 15 de maio de 1855. p.132. 51

capela filial de Oeiras. Nesse mesmo ano, Jaicós elevou-se à condição de freguesia. No entanto, Antonio Delfino da Cunha, seu primeiro vigário, tornou-se pároco apenas em 1806. A freguesia constituía-se em torno de 113 localidades entre sítios e fazendas, dentre as quais incluía a fazenda Simões, conforme se observa no texto abaixo:

Jaicoz, Tamboril, Gameleira, Lagôa grande, Tiririca, Santa Anna, Casa de Pedra, Peixe, Santo Antonio, Campo Grande, São Bento, Simões, S. João, Caldeirão, Canna-Braba, Boa Esperança, Alegrete, Boa Vista, Joazeiro, Maria Preta, Sobrado, Pedra d‟agoa, Boqueirão, Salgado, Alagadiços, Cacimba da Onça, Mamona, Tanque, Madeira Cortada, Inhuma, Mulungu, Tamanduá, Intaizinho, Serra Vermelha, Emparedada, Pajehú, Lagoinha, Bom Sucesso, Ferramenta, Bom Jardim, Mamiranga, Sacco, Poções, S. Francisco, Baixa verde, , Joazeiro, Paracaty, Serra-Branca, Estreito, Poço redondo, Pilões, Curralinho, Sussiuarana, Samidor, Taboleiro, Sítio, Capim, S. José, Brejo, Arroz, Aruá, Paulista, Carnahiba, Curral novo, Chapeo, Jacobina, Conceição, Jacaré, Mocambo, Serra Branca, Brejo, Ingá, Serrinha, Carumatá, Catolé, Campos, S. Gonçalo, Condado, Marçal, Cumbe, Tamanduá, Cajazeiras, Carnahubinha, Inharé, Cadox, Alecrim, Gravatá, Oiticica, Barra das Pombas, Alto-Alegre, Barra, Logrador, Riacho Grande, S. Bento, Recanto, Salgado, Lagoa Secca, Varella, Povoação, Patos, Riachão, Canindé, Salamanca, Pedra, Côcos, Pocinho, S. Julião, Macacos, Almoço.89

Existia na região de Simões um rio que se denominava pelo mesmo nome. Esse rio nascia na fazenda Simões – do sopé de um serrote – desaguando no Itaim, na fazenda Peixe. José Simões, o proprietário da fazenda com mesmo nome, manteve essa região com seus descendentes por pouco tempo. Ao que tudo indica, na década de 1830, retornou com seus familiares, inclusive o seu irmão Joaquim Simões, para província da Bahia. Já na região baiana da Vila Bela da Rainha, José Simões entrou em conflito com outra família de sobrenome Amorim90. As mudanças foram significativas na região de Simões, porque um novo dono – Capitão Joaquim Francisco dos Reis – adquiriu a fazenda, no dia 02 de julho de 1848, vindo a falecer nesse mesmo ano. A nova proprietária Ana Maria do Rosário, viúva do Capitão, providenciou um "[...] inventário dos bens deixado por seu esposo

89 D‟ALENCASTRE, José Martins Pereira. Op. cit., 15 de maio de 1855. p.133-134. Estas localidades atualmente fazem parte do município de Simões: Maria Preta, Alto-Alegre, Barra, Recanto, Lagoa Secca. 90 DANTAS, José Avelar. Op. cit., S/D. p.16-17. 52

e no arrolamento, com relação de todos seus pertences, estava incluída a fazenda Simões com cem cabeças de gado uma casa de telha, três cavalos e outros objetos de uso doméstico"91. Assim, Ana Maria do Rosário tornou-se a mulher do sertão, rica e dona de muitos bens em virtude de seu casamento "acertado" com o Capitão. Nesses termos, o casamento de uma mulher do sertão nordestino,

[...] sempre foi antes de tudo um compromisso familiar, um acordo, mais do que um aceite entre esposos. Assim, pai e mãe, conhecedores das famílias da sociedade local e com a responsabilidade de "orientar as filhas" ao propiciarem alegres festas e saraus na casa da fazenda – transcritos em livros de memórias e diários do século passado –, do patrimônio territorial, e da inter-relação de famílias poderosas oligárquicas locais. Inúmeros casamentos entre as famílias de elite no Piauí colonial e imperial se originaram desse modo.92

Na Fazenda Simões, destacou-se a realização da primeira missa celebrada no dia 1º de outubro de 1864, na casa de Isabel Maria da Conceição e do seu esposo – Clementino Lopes dos Reis. Nessa ocasião ocorreu também o casamento do filho desse casal: Felyphe Lopes dos Reis com Josefa Joaquina de Carvalho, sendo a noiva filha do casal: Josefa Umbilina de Carvalho e Luis José de Carvalho. Tal celebração ficou por conta do Cônego Claro Mendes de Carvalho93. Destarte, registrou-se o retorno do Cônego Claro Mendes de Carvalho, em 05 de agosto de 1871, em virtude da celebração do casamento de Flugêncio Lopes dos Reis – viúvo de Miguelina Anna dos Humildes – com a baiana Maria do Carmo Silva, filha de Angélica Maria de Lima94. Esporadicamente, ocorriam as desobrigas, deslocamento de padres e religiosos que saiam de Jaicós em direção à Fazenda Simões, para fazerem diversas celebrações. Numa dessas atividades, em 26 de novembro 1873, o Padre José Damasceno Rodrigues veio à fazenda, substituindo o Cônego Claro Mendes de Carvalho, o qual gozava de suas férias. Nessa data, o Padre José Damasceno tinha como objetivo realizar a cerimônia matrimonial do casal: Emília Joaquina de Sousa (filha de Raimunda Joaquina dos Humildes e de Eugênio Rodrigues de Sousa) com Manoel Flugêncio dos Reis (filho de Flugêncio Lopes dos Reis e Miguelina Anna

91 DANTAS, José Avelar. Op. cit., S/D. p.16-17. 92 FALCI, Miridan Knox. Op. cit., 2006. p.256-257. 93 "Esta foi a data mais antiga que encontramos pelos arquivos históricos e eclesiásticos, que apresenta festas religiosas na anterior fazenda Simões". DANTAS, José Avelar. Op. cit., S/D. p.20. 94 Ibidem. p.21. 53

Humildes). O casal era primo pelo lado materno.95 Outros casamentos também foram realizados na Fazenda Simões:

Desta vez quem convidou o padre foi o Sr. José Dias Maia residente na fazenda Feitoria. Tendo sua filha noiva com o jovem Arcênio Lopes dos Reis, achou por bem dispensar uma viagem até a matriz em Jaicós, em companhia de seus familiares, e trouxe o Reverendo Cônego Claro Mendes de Carvalho, para dar a benção matrimonial aos nubentes Arcênio Lopes dos Reis e Isabel Maria da Conceição, no dia 29 de setembro de 1885. Sendo ele filho de Inácio Lopes dos Reis e Joaquina Maria de Assunção, participaram por testemunhas os senhores Antônio Lopes dos Reis e Cândido José Lopes Gomes. 96

Com efeito, as primeiras famílias tradicionais da elite piauiense conseguiram expandir seus tentáculos pelas extensas terras da então província. Nesse aspecto "[...] uma numerosa população composta por familiares não consanguíneos da 'família' de elite. Tios e tias por afinidade, membros absorvidos pelos casamentos, [...] ou adoção, como era o caso dos 'filhos de criação', eram rotineiramente incorporados"97. Esse exemplo de tradições familiares foi seguido pelos Coelhos Rodrigues98, tradição iniciada por Valério Coelho Rodrigues, nascido na freguesia de São Salvador do Paço de Souza, Bispado do Porto - Portugal, em 1713. Ele veio para o Brasil, chegando primeiro em São Paulo onde se casou com a "Paulistana", Domiciana Vieira de Carvalho, baronesa. Da mesma forma,, José Vieira de Carvalho – irmão de Domiciana Vieira de Carvalho – casou-se com Maria Ferreira de Silva formando um dos casais responsáveis pelo povoamento da Fazenda Paulista (atualmente Paulistana-PI, em homenagem à procedência de Domiciana)99. Nesse percurso de análise dessas famílias tradicionais no processo de povoamento do Piauí e de Pernambuco, descenderam vários outros ramos familiares, a saber:

95 DANTAS, José Avelar. Op. cit., S/D. p.20. 96 Ibidem. p.21. É importante salientar que os nomes e sobrenomes de mulheres nessa região eram vinculados a questão religiosa a exemplo: Isabel Maria da Conceição – relacionado a Nossa Senhora da Conceição; Maria do Carmo Silva – Nossa Senhora do Carmo; Raimunda Joaquina dos Humildes e Miguelina Anna Humildes, cuja relação era Nossa Senhora dos Humildes. As famílias de sobrenomes tradicionais dessa região foram: Simões, Lopes dos Reis, Carvalho, Mendes de Carvalho, Silva, Lima, Damasceno, Rodrigues, Sousa, Dias, Maia, Gomes, entre outros. 97 FALCI, Miridan Knox. Op. cit., 2006. p.255. 98 Ver: CARVALHO, Abimael Clementino de. A família Coelho Rodrigues. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1987. 99 BASTOS, Cláudio de Albuquerque. Dicionário Histórico e Geográfico do Piauí. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1994. p.466-468. 54

Coelho Rodrigues, Sousa Martins, Ferreira de Carvalho, Sousa Mendes e Araújo Costa. Outra família muito antiga e radicada no Piauí são os Castelo Branco, que se instalaram na região de Campo Maior, ao norte, e formaram extensa rede familiar, com os Brandão, Barbosa e Araújo Costa. Também datando do século XVIII estão Borges Leal de Souza Brita, que se localizaram na Bocaina e Picos, antiga região pertencente a Oeiras: desdobraram-se em Borges Leal e Souza Brita. Ainda as famílias Pereira da Silva, Silva Moura, Pereira Ferraz, Coelho Maia e Freitas se localizaram no centro-sul do Piauí, cobrindo cerca de 30 municípios atuais. Ao sul, já nos limites com Goiás e Bahia localizaram-se os Nogueira, Paranaguá, os Lustosa, os Correntino. Outras famílias chegaram no século XIX, vindas das províncias vizinhas como os Almendra, Gayoso, Burlamaqui, Ribeiro Gonçalves, Napoleão e Tapety. Entre os conhecido nomes de família, vale lembrar que alguns eram diretamente tirados das famílias maternas, sobretudo quando se tratavam de sobrenome ilustres.100

Dito isso, a pesquisa trilhou também pela referência teórico-famíliar que nesse estudo constituiu-se em outro objeto de análise para se compreender as "Mulheres do Araripe" em processos de atuação política. Para analisar a família como construção teórica, o passo inicial "[...] deveria ser o de 'dissolver sua aparência de naturalidade, percebendo-a como criação humana mutável' [...]"101. Nessa perspectiva, a família pode "[...] se apresentar como instituições bastante diferenciadas em outras sociedades ou em diferentes momentos históricos"102. Nesse viés de análise:

As lembranças do sujeito feminino, quase sempre voltadas para o seio da família, não significam, entretanto, que mulher e família devam ser vistas como uma unidade não-problemática ou uma evidência natural. [...] portanto, a relação mulher- família foi (e é), historicamente instituída: é um constructo social, político e cultural, e não um dado da "natureza" ou da "essência" da mulher.103

O contexto sobre a localização das famílias de elite do Piauí e o conceito de família serviram para compreender a dinâmica política e social da região do Araripe,

100 FALCI, Miridan Knox. Op.cit., 2006. p.255. 101 DURHAM, Eunice Ribeiro. Apud. BRUSCHINI, Cristina Aranha. Mulher, casa e família: cotidiano nas camadas médias paulistanas. São Paulo: Fundação Vértice, Editora Revista dos Tribunais, 1990. p.31. "A tendência à naturalização da família, tanto ao nível do senso comum, quanto da própria científica, que leva à identificação do grupo conjugal como forma básica elementar de toda família e à percepção do parentesco e da divisão de papéis como fenômenos 'naturais' criou, durante muito tempo, obstáculos de difícil transposição para sua análise. Ibidem. 102 Ibidem. 103 RAGO, Elisabeth Juliska. Outras falas: feminismo e medicina na Bahia (1836-1931). São Paulo: Annablume e FAPESP, 2007. p.53. 55

em especial a de Simões. Desde quando era fazenda, as personalidades destacadas pela "história oficial" de Simões mostram também que, na sua maioria, eram "homens de família", entretanto, nessa mesma historiografia, constata-se a presença feminina (em destaque). Nesse primeiro momento, deu-se enfoque aos nomes das primeiras pessoas que povoaram o lugar, indo da segunda metade do século XVII até o final do século XIX:

José Simões; o seu irmão Joaquim Simões; Capitão Joaquim Francisco dos Reis; Ana Maria do Rosário; Isabel Maria da Conceição; Clementino Lopes dos Reis; Josefa Umbilina de Carvalho; Luis José de Carvalho; Felyphe Lopes dos Reis; Josefa Joaquina de Carvalho; Flugêncio Lopes dos Reis; Miguelina Anna dos Humildes; Maria do Carmo Silva; Angélica Maria de Lima; Raimunda Joaquina dos Humildes; Eugênio Rodrigues de Sousa; Emília Joaquina de Sousa; Manoel Flugêncio dos Reis; Inácio Lopes dos Reis; Joaquina Maria de Assunção; Antônio Lopes dos Reis e Cândido José Lopes Gomes; Josefa Rodrigues Coelho, Martins Lopes dos Reis; [...] entre outros.104

No segundo momento procurou-se dar destaque, dentre alguns nomes masculinos, à presença das mulheres do Araripe no final do século XIX até início do século XXI. Algumas dessas mulheres foram primeiras damas municipais ou vereadoras: Arcênio Lopes dos Reis construiu a primeira capela por volta do ano de 1886; Liberato José; João Raimundo de Oliveira; Sanô Lopes; Rosa Dias dos Reis, Luis Lopes dos Reis, esse foi o prefeito da cidade de Simões, juntamente com o vice Abércio Josias de Carvalho (Outubro de 1954 - Dezembro de 1954); Teresinha de Carvalho Bento; Idalina Maria de Carvalho; Isabel Maria de Carvalho; Acylino de Carvalho Dantas; Antônio de Carvalho Dantas; Teresinha de Jesus Silva; [...] Ana de Carvalho Reis; Rufino Lopes dos Reis, prefeito (1955 - 1958); Eva Maria da Silva (primeira professora contratada pelo decreto 55/1963); [...] Maria Luiza de Carvalho Reis (Biosa); Joaquim José de Carvalho, Valdeci prefeito (mandatos: 1973-1977, 1983-1988, 1993-1996, 2001- 2004, 2005-2008) [grifo meu], Maria Aldenora de Oliveira, vereadora legislatura (1983-1988), Lisléia Lopes Nunes do Nascimento [...].105

Desse modo, a partir da segunda metade do século XVIII, constava a existência de fazendas, lugares e sítios que hoje compõem o município de Simões, são eles: Alecrim, Araripe, Feitoria, Lagoa Seca, Paz, Poço Cercado, e Sossego.

104 DANTAS, José Avelar. Op. cit., S/D. p.16-171. 105 Ibidem. p.171-213. 56

Por volta do ano de 1886, na Fazenda Simões, um senhor de nome Arcênio Lopes dos Reis construiu uma capela dentro do cemitério. Foi pelos anos de 1887, que foram residir as famílias de Sanô Lopes e João Raimundo de Oliveira. Essa fazenda passou a ser visitada aos domingos e dias santos por muitos moradores de outras localidades circunvizinhas. O deslocamento de pessoas para essa espacialidade propiciou o início de uma feira que surgiria em 1888. A compra e a venda de produtos agrícolas e mercadorias realizava-se à sombra de frondosos juazeiros, que ficavam também à margem do rio Boa Vista106. No ano de 1910, a localidade apresentava características de povoado, porém somente em 22 de julho de 1954, pela lei estadual nº 1046, Simões desmembrou-se de Jaicós-PI sendo elevada à categoria de cidade.107 Embora a "história oficial" da região do Araripe oculte a participação feminina, entretanto, desde o início do século XIX, tem-se em conta a existência da Fazenda Maria Preta. Essa mulher foi uma negra escravizada que, depois de ser açoitada pelo seu senhor, resolveu fugir provavelmente em direção a um quilombo, mas em determinado lugar sentou-se numa pedra e por um longo tempo permaneceu ali sem se alimentar, entrando num estado de tristeza profunda que resultou em sua morte. A trajetória dessa mulher do Araripe foi marcante, porque o nome de Maria Preta foi dado ao local onde ela morreu – hoje povoado de Simões. Outra versão para a história de Maria Preta se apresenta da seguinte maneira:

[...] esta escrava teria sido da senzala de Florentino Bartolomeu (seu Flor do Caititu), e tendo vindo para o serviço doméstico destas residências, ficou a disposição de sua patroa quando, em determinado dia, sentiu-se aborrecida com tantas ordens e acúmulo de serviços que lhe levara a ser uma escrava hábil e bem mandada de sua patroa. Resolveu fugir sem destino e desiludida da vida, andou poucos metros em direção da fazenda Caititu, e logo se sentou em uma pedra, ficou a pensar no que podia fazer. Quando a patroa sentiu sua

106 "Mais tarde a feira passou a realizar-se em um galpão construído pelos moradores do lugar, onde hoje se localiza a cidade de Simões. Com a edificação do galpão e o conseqüente desenvolvimento da feira, surgiram-lhe em torno alguns quartos para a venda de mercadorias, inciativa que partiu de João Raimundo de Oliveira, primeiro comerciante da localidade, ao tempo em que foram levantadas casas residenciais, o que contribuiu para que, já em 1910, se apresentasse o lugar características de povoado". IBGE. Cidades@. Disponível em: . Acesso em: 18/05/2010. 107 "No ano de 1917 reuniram-se os católicos e, com a colaboração do Vigário da Paróquia de Jaicós, a que era subordinado eclesiasticamente o povoado, contribuíram uma capela sob a invocação de São Simão, padroeiro do lugar". IBGE. Cidades@. Disponível em: . Acesso em 18/05/2010. 57

ausência, seguiu pela pegadas de seus pés, quando ao longe avistou sentada em uma pedra e gritou: – Maria Preta o que faz aí? Ela responde: – "êsi é o mió lugar dy ficá puquê ninguém zanga cum eu". Maria voltou para casa, [...] mas o lugar onde foi encontrada, pegou seu nome, nem o primitivo casarão com suas tradições e riquezas manteve o título do lugar, mas a fuga da velha escrava trouxe o nome que todos escolheram para batizar o lugar, [...] .108

O segundo exemplo de participação feminina foi Bárbara de Alencar109, natural de Exu-PE, uma mulher do Araripe, considerada uma das primeiras lutadoras a se envolver em política no Brasil. Bárbara atuou como militante na Revolução Pernambucana de 1817 no Crato-CE, porque se colocou a favor da Independência do Brasil e liderou o movimento proclamando a República nesse município. Em 29 de abril de 1817, seu filho José Martiniano de Alencar110 (1794-1860), com incumbência do Governo revolucionário de Pernambuco, chegou ao Crato-CE para comandar a libertação do Ceará contra o domínio português. Nessa cidade, o Diácono José Martiniano de Alencar subiu ao púlpito na Matriz do Crato e proclamou a República e a Independência no dia 3 de maio do mesmo ano. Esse ato teve como consequência a prisão de Bárbara de Alencar, a qual foi mandada para o presídio de Icó-CE, transferindo-a para outras prisões em Fortaleza, Recife e Salvador. Por ocasião da Anistia Geral, ganhou liberdade em 17 de novembro de 1821. No ano de 1824, por ocasião da Confederação do Equador, seus filhos, José Martiniano de Alencar, Carlos de Alencar e Tristão Gonçalves de Alencar Araripe se envolveram nesse movimento. A agitação levou à morte de dois dos seus filhos, Carlos de Alencar e Tristão Gonçalves de Alencar Araripe. Posteriormente na fazenda Alecrim, no Piauí, faleceu Bárbara em 28 de agosto de 1832.

108 DANTAS, José Avelar. Op. cit., S/D. p.58 109 Avó do escritor cearense José de Alencar, Bárbara de Alencar era "pernambucana, naturalizada cratense, Bárbara, ou Dona Bárbara do Crato como era conhecida, nasceu na fazenda Caiçara – antiga fazenda Várzea Grande – localizada no atual município de Exu, em Pernambuco, no dia 11 de fevereiro de 1760. Viveu na fazenda até os 22 anos, quando se casou, em 1782, com o capitão português José Gonçalves dos Santos, comerciante de tecidos na vila de Crato, região do Cariri, no Ceará, para onde se mudou e passou maior parte da sua vida. Teve quatro filhos: João Gonçalves Pereira de Alencar, Carlos José dos Santos, Joaquina Maria de São José, Tristão Gonçalves Pereira de Alencar e José Martiniano de Alencar". ALBUQUERQUE, Michele Rodrigues de. Bárbara de Alencar: do mito à narrativa histórica. In: Historien - Revista de História [1]; Petrolina, out./dez. 2009. p.90-95. 110 José Martiniano de Alencar, pai de José de Alencar, tornou-se mais tarde Senador Vitalício do Império pela Província do Ceará de 2 de maio de 1832 a 15 de março de 1860. Ver: MOREIRA, José Roberto de Alencar. Vida e Bravura: origens e genealogia da família Alencar. Brasília: CERFA, 2005. 58

Figura 7 - Bárbara de Alencar Fonte: Jornal O Povo111

Outro destaque de luta feminina foi Jovita Alves Feitosa, quando se alistou ao Exército em Teresina-Piauí para servir à Pátria brasileira na Guerra do Paraguai (dezembro de 1864 a março de 1870), tendo em vista que precisava do soldo para seu sustento. No Início da guerra com o Paraguai, a imprensa escrita funcionou como:

instrumento para incentivar o sentimento de nacionalidade e entusiasmo patriótico da população, transmitiam a muitos jovens brasileiros o amor pela pátria e a vontade de "servir ao Brasil". O caso mais conhecido de alistamento de Voluntários da Pátria foi bastante registrado pela imprensa da época [...].112

Algumas pessoas se manifestavam pela imprensa ora apoiando atitude de Jovita Feitosa, ora desaprovando. A declaração de um autor que se identificava como "O Admirado" dando apoio a coragem de Jovita, foi bastante explicito numa nota ao Jornal do Comércio do dia 27 de agosto de 1865:

111 Figura 7. O JORNAL DO POVO. A História de Bárbara de Alencar - heroína do Crato. Postado em 05/02/2009. Disponível em: . Acesso em: 25/06/2011. 112 DOURADO, Maria Teresa Garritano. Mulheres comuns, senhoras respeitáveis: a presença feminina na Guerra do Paraguai. Dissertação (Mestrado em História) - UFMS. Campo Grande-MS, 2003. p.85. 59

Será possível que o belo sexo de algumas províncias esteja dando o exemplo, oferecendo-se para o serviço de guerra e alguns Srs. Oficiais do efectivo serviço ainda empregados nas fortalezas e comissões outra, que podem ser substituídos pelos reformados!!!.113

Em 14 de setembro do mesmo ano, outra pessoa de forma anônima identificada pelas iniciais J.M.C expôs sua crítica ao presidente da Província do Piauí – Franklin Dória – por permitir o alistamento de Jovita. O autor do comentário enfatizava que as mulheres, ao acompanhar os homens, deveriam exercer as mesmas funções desempenhadas em casa:

A ofensa mais grave à dignidade dos homens que se prezam e à daqueles que militarão é sem dúvida a presença da jovem Jovita Alves Feitosa nas fileiras do segundo batalhão de voluntários do Piauhy.... a mulher poderá servir quando muito para fornecer um ou outro cartucho um ou outro cantil d'água... mas não poderá jamais lançar mão de um sabre e bater-se quando se apresentam as ocasiões.114

Apesar de todas essas críticas, Jovita se engajou no Exército, passando por São Luís-MA, Recife-PE, Salvador-BA, foi festejada e tratada nesses lugares como heroína. Entretanto, quando chegou ao Rio de Janeiro, Jovita Feitosa foi impedida de embarcar como voluntária para o Paraguai, pelo simples fato de ser mulher. O diálogo seguinte permitiu entender a trajetória dessa personagem.

Com o 2 º Corpo de Voluntário da Pátria, que saiu de Teresina em 10 de agosto de 1865, viajou uma moça cearense, de Inhamuns, Jovita Alves Feitosa, de 17 anos, domiciliada em Jaicós e que se apresentou em Teresina como Voluntário. Até hoje nunca ficou bem claro se, na primeira hora, o Governo Provincial aceitou ou não o seu engajamento como praça. Pelo menos ela se tinha nesta conta e partiu com o batalhão trajando farda e calça branca com um saiote vermelho, ostentando as insígnias de 2º Sargento [...]. No Recife as manifestações foram ainda mais estrondosas. Jovita foi cantada em prosa e verso na imprensa pernambucana. Na Bahia, a mesma coisa. Ela foi hospedada no próprio Palácio da Presidência. [...] No Rio, às autoridades militares superiores não interessavam mitos e sim soldados.115

O governo e a autoridade da época não aceitaram que Jovita prosseguisse com o desejo patriótico. Num jornal da época encontrou-se a seguinte publicação:

113 MATTOS, Kelma. Jovita Feitosa. Fortaleza: edições Demócrito Rocha, 2001. p.20. 114 Ibidem. p.22. 115 CHAVES, Monsenhor. Op. cit., 1988. p.240-241. 60

[...] S. Excia. disse que essa rapariga, animada como se mostrava do desejo de prestar a sua terra um serviço qualquer, nas atuais circunstâncias, poderia ser aproveitada como enfermeira, nos hospitais de sangue, a exemplo de outras, se não pudesse sê-lo nos campos de batalha. Não a fez assentar praça de soldado, nem ela jurou bandeira; a graduação de sargento que lhe deu o Comandante do Corpo, foi um meio de proporcionar-lhe um maior vencimento para melhor ocorrer às suas necessidades.116

Visconde de Taunay, Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay (1843- 1899), embora de maneira preconceituosa e irônica, chegou a elogiar a atitude das mulheres soldadas ao se referir à Sargenta Jovita:

Chegaram os retratos do Viegas, o meu antigo inspetor, e da interessante Jovita que me pareceu muito engraçada nos seus trajes de primeira Sargenta.

Entretanto Polidoro, como homem de muito juízo e bom senso fez muito bem não consentindo na partida daquela patriota como soldado. O papel de enfermeira para a mulher que queira dedicar-se é o mais elevado e nobre possível; concilia a dedicação e a conveniência, a abnegação e a dignidade. A piauense devia considerar tudo isso e em lugar de seus instintos belicosos, lembrar-se de que, para uma mulher, é mais nobre sanar feridas do que as abrir.117

Jovita Alves tornou-se personalidade pública e notória, no entanto, não lhe foi proporcionada a oportunidade de servir ao Exército na condição de enfermeira, já que não tinha maiores conhecimentos com a leitura como também nas áreas de conhecimentos gerais, ou seja, resumidamente ela tinha pouca escolaridade para assumir tal função118. Desse modo, no diálogo abaixo confere-se o regresso da voluntária:

Jovita voltou ao Piauí. Deve ter sido muito melancólica sua volta passando despercebida pelos mesmo portos onde fora, meses antes, tão festejada. Aqui chegando, enquanto conseguia passagem e recurso para viajar a Jaicós, esteve hospedada em casa de família, a pedido da Presidência. Em Jaicós sua família a recebeu muito mal. Desgostosa, ela regressou ao Rio e ali desapareceu num anonimato infeliz e de pouca duração. A única notícia que dela vamos ter depois será

116 Jornal A Imprensa 28/10/1865. Apud. CHAVES, Monsenhor. Op. cit., 1988. p.242. 117 TAUNAY, Alfredo D‟Escragnolle. Cartas da Campanha de Matto Grosso: 1865 a 1866. Rio de Janeiro: Editora Biblioteca Militar, 1944. p.119. 118 CHAVES, Monsenhor. Op. cit., 1988. p.242. 61

também a última, e muito trágica: "Suicidou-se anteontem, à tarde na casa da praia do Russel, nº 43, Jovita Alves Feitosa" [...].119

O exemplo de Jovita Alves Feitosa mostrou a "bravura" de uma das mulheres do Araripe. O comportamento dela demonstrou que as mulheres do sertão nordestino, em particular as do Araripe, romperam de certa forma com o silêncio e a invisibilidade. Na imagem visualiza-se o perfil de uma mulher de coragem.

Figura 8 - Jovita Alves Feitosa (1848-1867) (Jovita Feitosa com uniforme do Exército brasileiro nos preparativos para a Guerra do Paraguai) Fonte: Enciclopédia Nordeste120

As análises desse primeiro capítulo discutiram inicialmente o território, lugar, localidade, comunidade e espaço como categorias conceituais importantes para esse estudo. Posteriormente, delineou os aspectos históricos e geográficos dos estados de Pernambuco e do Piauí e das cidades de Araripina-PE e Simões-PI,

119 CHAVES, Monsenhor. Op. cit., 1988. p.242. 120 Figura 8. O NORDESTE.COM. Enciclopédia Nordeste - Jovita Feitosa. Disponível em: . Acesso em: 25/06/2011. 62

procurando explicar as origens dos signos do "cabra macho" que se aplica ao sujeito do Araripe. Utilizou-se também do patriarcalismo como outro conceito-chave fundamental para compreender o perfil do masculino nessa região. Por último, mostrou-se a trajetória de luta de três mulheres do Araripe: Maria Preta, Bárbara de Alencar e Jovita Alves Feitosa. No próximo capítulo, estas e outras questões serão aprofundadas, pelas memórias e narrativas orais, dando destaque para atuação das mulheres do Araripe, suas trajetória de lutas nos processos eleitorais e nos órgãos do Legislativo e Executivo.

63

CAPÍTULO II

CAMINHOS E VEREDAS: MEMÓRIAS E TRAJETÓRIAS DAS MULHERES DO ARARIPE

As marcas da memória encerram uma ambiguidade latente, são indeléveis e opacas, uma névoa espessa mascara os traços de suas pegadas. As recordações não são nunca límpidas, cristalinas, elas repousam no fundo de uma tela recoberta por camadas superpostas de tinta. Diz-se que o sentimento de um quadro é o vestígio de uma composição anterior, (a)s mudanças feitas pelo pintor, seu arrependimento, encobrem os passos do desenho original.121

121 ORTIZ, Renato. Trajetos e memórias. 1ª ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 2010. p.7. 64

Nesse capítulo, analisar-se-á, através de memórias e narrativas orais, as trajetórias das mulheres do sertão do Araripe e suas formas de inserção nas campanhas eleitorais e nos espaços de decisão política dos dois municípios em questão. Desse modo, para as mulheres entrevistadas era desafiador fazer parte do cenário político na região do Araripe, porém não impossível. Ocupar os palanques, as tribunas das Câmaras Municipais, evidentemente, não foi uma tarefa fácil para essas mulheres, em virtude de que as estruturas de poder são eminentemente masculinizadas. O ingresso dessas mulheres na política partidária e institucional constituiu-se em mudanças necessárias para aprofundamento da democracia.

2.1 TRAJETÓRIAS: MEMÓRIAS E LUTAS

Já são tantas. Milhares. Milhões. Uma verdadeira rama, florescendo, por todo o planeta. Lilás.

São Maria-sem-vergonha de ser mulher.

Não são só florzinhas. São mulheres se agrupando, misturando cores, gritando seus encantos, exibindo suas verdades.

São domésticas, bailarinas, médicas, estudantes, bancárias, professoras,escritoras, garis, brancas, negras, índias, meninas [...] (Nanci Silva)122

Tendo como foco o cenário político dos municípios de Araripina-PE e Simões- PI, o som das narrativas das mulheres do Araripe se apresenta nas nuances históricas dessas atrizes sociais em movimento. O item mostra e analisa a trajetória de lutas das doze mulheres que foram candidatas ou que ocuparam os espaços de poder no Legislativo e no Executivo nas duas cidades.

122 Trecho de poema. SILVA, Nanci. Maria-sem-vergonha de ser mulher. 65

2.1.1. Mulheres de Araripina-PE em trajetória

Figura 9 - Vera Lúcia dos Santos Araújo (vereadora/PMDB de Araripina-PE, mandato de 1983-1988) Fonte: Arquivo Particular da Autora

Na figura acima, observa-se a imagem da vereadora Vera Lúcia dos Santos Araújo, natural de Simões-PI, nascida em 25 de dezembro de 1952. No ano de 1985, concluiu sua graduação em Biologia pela Faculdade de Formação de Professores de Araripina-PE (FAFOPA). Como uma mulher em deslocamento político, Vera Lúcia iniciou sua atuação política no ano de 1982, com a idade de 30 anos, na cidade de Araripina-PE, a convite de seu pai Afonso Nascimento.

66

Figura 10 - Maria Darticlea (vereadora/PRN e PSB de Araripina-PE, mandatos de 1993-1996 e 1997-2000) Fonte: Arquivo Particular da Autora

Na imagem acima visualiza-se o perfil da vereadora Maria Darticlea A. Lima Modesto. Nascida em 09 de maio de 1943, na cidade de Araripina-PE, atua na área de pedagogia, cuja curso foi feito na Universidade Regional do Cariri (URCA/Crato- CE), além de ser professora da Faculdade de Formação de Professores de Araripina-PE (FAFOPA). A sua formação em pedagogia, bem como a sua procedência de família do meio político araripinense – seu pai, Joaquim Pereira Lima, foi vereador, vice-prefeito, prefeito e deputado estadual (por duas legislaturas) – facilitou a inserção no movimento político-partidário dessa cidade. Candidatou-se a vereadora em 1992, pelo PRN e foi eleita para mandato de 1993-1996. Foi reeleita para a legislatura de 1997-2000 chegando à condição de presidenta da Câmara de 1997/1998.

67

Figura 11 - Francisca de Assis – Assisinha (candidata a vereadora/PRN nas eleições Araripina-PE de 1988) Fonte: Arquivo Particular da Autora

Tem-se na imagem a descrição visual da professora Francisca de Assis Arruda Gomes – Assisinha. Nascida em 22 de setembro de 1941 e araripinense. Concluiu o curso de Licenciatura em Letras pela Faculdade de Formação de Professores de Araripina-PE (FAFOPA) em 1979, além de especialização (Lato Sensu) em Língua Portuguesa pela Universidade Católica do Pernambuco (UNICAP). É professora de Didática Geral na FAFOPA. Em relação à política, ocupou o cargo de Secretária Municipal de Educação de Araripina-PE, na gestão de 1989 a 1992. Com a idade de 50 anos foi candidata a vereadora pelo PRN nas eleições de 1992. 68

Figura 12 - Silvania Maria (candidata a vereadora/PDT nas eleições Araripina-PE de 1996) Fonte: Arquivo Particular da Autora

A fotografia de Silvania Maria de Oliveira Gomes foi na ocasião da sua candidatura. Nascida em 14 de abril de 1965, na cidade de Araripina-PE, é professora de história da rede municipal em Simões-PI, onde reside atualmente. Graduou-se em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI no Núcleo Universitário de Simões-PI), é especialista em História e Sociologia pela Universidade Regional do Cariri (URCA/Crato-CE). Na cidade de Araripina-PE nas eleições de 1996, Silvania se filiou ao PDT e iniciou sua trajetória política com 31 anos de idade, candidatando-se a vereadora por esse partido. Como uma mulher também em deslocamento na região do Araripe, ela transferiu seu título para Simões-PI e continua filiada ao PDT.

69

Figura 13 - Maria Augusta Eleição para presidente da Câmara Municipal em 2010 (legislatura de 2009-2012) Fonte: Paulo Elias em Arquivo Particular da Autora

Figura 14 - Maria Augusta (vereadora/PPS e PP de Araripina-PE, mandatos de 2001-2004) Fonte: Paulo Elias em Arquivo Particular da Autora

As imagens propiciam um diálogo com a vereadora Maria Augusta Lima Modesto. Nascida na cidade de Araripina-PE no dia 07 de dezembro de 1967, tem formação em Odontologia pela Universidade Federal do Pernambuco (UFPE). Quando entrou era bem jovem, mais ou menos com a idade de 14 a 15 anos, concluiu seu curso em 1989, com duas especializações (Lato Sensu), a primeira em Prótese Dentária (1993) e a segunda em Ortodontia (1997), ambas feitas na cidade de Uberlândia-MG. Com a idade de 33 anos, iniciou sua carreira política pelo incentivo de sua mãe – Maria Darticléa – no ano de 2000. Nesse ano concorreu e foi eleita para a Câmara Municipal de Araripina-PE – "Casa Joaquim Pereira de Lima" – pelo PPS. 70

2.1.2. Mulheres de Simões-PI em trajetória

Figura 15 - Maria Gracilda (vereadora/PDS de Simões-PI, mandado de 1983-1988) Fonte: Arquivo Particular da Autora

A fotografia de Maria Gracilda Lopes de Carvalho mostra a conclusão de seu curso de normalista. Gracilda nasceu em 30 de abril de 1935, no município de Simões-PI. Sua formação em magistério foi na Escola Normal "Dom Malan" na cidade de Araripina-PE e concluído em 13 de dezembro de 1975. A normalista Maria Gracilda foi incentivada para ingressar na politica-partidária por sua tia Josefa Lopes (in memoriam), bem como pelo avô Luiz Lopes dos Reis, primeiro prefeito nomeado de Simões-PI (14/12/1954 a 30/12/1955). Com idade de 47 anos, concorreu ao Legislativo Municipal pelo PDS nas eleições de 1982, tornando-se uma das primeiras vereadoras da cidade, ao lado de Maria Aldenora de Oliveira (in memoriam). 71

Figura 16 - Maria Aparecida – Cidoca (candidata a vice-prefeita/PT nas eleições de 1988, 1996 e 2004; e a vereadora/PT em 1992 no município de Simões-PI) Fonte: Arquivo Particular da Autora

A imagem acima é o perfil da candidata Maria Aparecida dos Reis (Cidoca). Nasceu em 26 de junho de 1954 no município de Simões-PI. Concluiu sua Licenciatura Plena em Letras no ano 1989 pela Faculdade de Formação de Professores de Araripina-PE (FAFOPA) e foi professora da rede pública estadual do Piauí. Iniciou sua militância política nos movimentos sociais (Sindicato dos Trabalhadores Rurais), coordenou o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais, foi membro da coordenação estadual desse movimento. Filiou-se ao PT de Simões- PI aos 34 anos de idade, concorrendo ao cargo de vice-prefeita em 1988, sendo candidata a esse cargo, por mais duas vezes, nos anos de 1996 e 2004, já no ano de 1992, candidatou-se ao cargo de vereadora. Porém, nas referidas campanhas não alcançou êxito para se eleger. Cidoca foi presidenta do Diretório Municipal do PT e Assessora Técnica do Gabinete do Governo Wellington Dias (PT) na região de Simões-PI (2003-2010).

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Figuras 17 e 18 - Maria de Jesus de Araújo Reis - Maria Lopes (candidata a vereadora/PT em Simões-PI nas eleições 1988 e 1992). Fonte: Arquivo Particular da Autora

As fotografias atuais são da militante Maria de Jesus de Araújo Reis – Maria Lopes. Simonense nascida em 06 de agosto de 1947. Tem o ensino fundamental completo e atualmente reside em Petrolina-PE. Sua atuação política em Simões-PI foi bastante abrangente, participou ativamente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, das Pastorais Sociais da Igreja Católica, Comunidades Eclesiais de Base (CEB‟s) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT) que, na época, era Área Pastoral da Paróquia de Nossa Senhora das Mercês de Jaicós-PI. Foi também uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT) nessa cidade. Efetivamente, o trabalho de Maria Lopes com os movimento sociais e nos segmentos pastorais impulsionou-a a candidatar-se duas vezes pelo PT, primeiro em 1988 aos 41 anos e posteriormente em 1992.

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Figura 19 - Maria Marlene de Morais - ao centro (vereadora/PFL de Simões-PI, mandato 1997-2000) Fonte: Arquivo Particular da Autora

A imagem acima mostra um dos momentos da atuação da parlamentar Maria Marlene de Morais. A mesma nasceu em Simões-PI (19 de outubro de 1961). Graduou-se em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Regional do Cariri (URCA/Crato-CE) concluída em 23/06/2006, e Pós-graduada (Lato Sensu) pela Sociedade Nacional de Educação, Ciência e Tecnologia (SOET), em convênio com as Faculdades Integradas do Vale do Ivaí (UNIVALE), cuja conclusão foi em 08/06/2007. Marlene de Morais é atualmente professora da rede municipal de Simões-PI e agente de saúde. Sua militância política se deu nas associações de trabalhadores rurais, bem como no trabalho com as comunidades, no qual se tornou dirigente da comunidade Curralinho (povoado de Simões). Seu envolvimento foi marcado pela atuação no Programa de Combate a Pobreza Rural (PCPR), órgão do governo do Estado do Piauí responsável por melhorar a situação dos trabalhadores rurais. Antes de ser vereadora se destacava como "cabo eleitoral" – liderança política – na região de Bela Vista, que não tinha nenhum representante na Câmara de Simões-PI. Além desse envolvimento político, ressalta-se o convite feito pelo então prefeito da época, Joaquim José de Carvalho (Valdeci) juntamente como seu vice-prefeito Lício Morais (tio de Marlene), que a convidaram para disputar uma vaga ao Legislativo simonense. Todos esse fatores resultaram na primeira candidatura a vereadora de Marlene Morais em 1996 pelo PFL com idade de 35 anos.

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Figuras 20 e 21 - Terezinha Carvalho (vice-prefeita/PFL de Simões-PI, mandato 1997-2000) Cartaz de Campanha (esquerda) e Audiência como vice-prefeita na Câmara de Vereadores (direita de vestido rosa) Fonte: Arquivo Particular da Autora

As duas imagens apresentam parte da trajetória de Terezinha de Jesus Carvalho e Sousa - Terezinha. Ela nasceu em 30 de setembro de 1950, na cidade de Simões-PI. No ano de 1975, formou-se em Licenciatura Plena em Letras pela Universidade Regional do Cariri (URCA/Crato-CE). Cursou duas especializações (Lato Sensu): a primeira em 1988, na área de Letras - Português pela Faculdade de Formação de Professores de Araripina-PE (FAFOPA), a segunda em Educação Ambiental à distância pela Universidade de Brasília (UNB), concluída no ano 2002. Na educação foi professora e diretora da Escola Sílvia Coutinho (Ensino Fundamental e Médio); professora da Escola de Ensino Médio Raul Sérgio e da Escola Pe. Luís Gonzaga (Ensino Fundamental e Médio) em Araripina-PE e na Escola 31 de março (Ensino Médio) em Ji-paraná-RO. Lecionou na Faculdade de Formação de Professores de Araripina-PE (FAFOPA); na Escola Centro de Educação Municipal (CEM) em Simões-PI; na Universidade Estadual do Piauí (UESPI no Núcleo Universitário de Simões-PI) e Coordenadora Pró-formação na Escola Pe. Luís Gonzaga (Araripina-PE). Também foi Secretária de Educação (2001/2004 e 2005/2008) e atualmente é Diretora de Cultura – SEMEC de Simões- PI. Com idade de 42 anos, foi candidata a vereadora (PT) no ano de 1992, mas, mesmo com uma votação expressiva na época, não foi eleita. De fato foi eleita a vice-prefeita (PFL) em 1996, na chapa do médico João Batista. 75

Figura 22 - Maria das Graças Veloso (vereadora/PFL de Simões-PI, mandato 2001-2004) Fonte: Arquivo Particular da Autora

A fotografia permite visualizar a vereadora Maria das Graças Veloso Sousa. A simonense Graças Veloso nasceu no dia 05 de maio de 1967. Formou-se em Educação Física pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI no Núcleo Universitário de Simões-PI), em 2005. Tem especialização (Lato Sensu) em Biologia e Química pela Universidade Regional do Cariri (URCA/Crato-CE). Por muitos anos desenvolveu vários trabalhos como voluntária na comunidade, na Igreja Católica atuou em várias pastorais. Desde 1991, trabalha como agente de saúde e também como professora do município. Na primeira vez que ingressou na vida político- partidária, candidatou-se (PFL) no ano de 2000, sendo eleita com 33 anos de idade.

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Figura 23 - Maria Clenilda de Carvalho Assunção - Maria Luiza (vereadora/PSDB de Simões-PI, mandato 2001-2004, 2005-2008 e 2009-2012) Fonte: Arquivo Particular da Autora

Figura 24 - Maria Luiza (ao centro) Solenidade: certificados de alfabetização de trabalhadores rurais no Hotel Municipal Fonte: Arquivo Particular da Autora

A fotografia propicia um diálogo com a vereadora Maria Clenilda de Carvalho Assunção - Maria Luiza. Natural do Sítio João de Sousa no município de Simões-PI, nasceu em 24 de abril de 1974. Atualmente cursa Pedagogia na Universidade Regional do Cariri (URCA/Crato-CE). É auxiliar de enfermagem e auxiliar de serviços gerais na Secretaria de Trabalho e Assistência Social (SETAS). Filha de agricultores, Maria Luiza ressaltou as dificuldades para estudar, uma vez que os cadernos e lápis eram divididos com os três irmãos, sem falar nos calçados que também eram socializados entre os mesmos no percurso diário de 6 km para ir até a escola. Sua candidatura foi estimulada para defender os interesses da comunidade. Com a idade de 26 anos, conquistou seu primeiro cargo legislativo na Câmara Municipal de Simões-PI pelo PSDB, sendo ainda re-eleita por mais duas vezes. 77

As trajetórias de lutas femininas por um espaço político e de representatividade das mulheres do Araripe despertou uma paixão em ouví-las, principalmente sobre suas dificuldades na hora da campanha, a luta, a resistência e o processo de enfrentamento a uma estrutura eleitoral, em parte excludente. Os desafios são maiores ainda depois de eleitas no Parlamento Municipal, constituem- se em outro campo de batalha, visando implementar políticas públicas que atendam a toda a sociedade e, especialmente, ao segmento feminino. Portanto, faz-se um convite para ler as narrativas produzidas pela mulheres do Araripe. Nesse estudo, é pertinente observar a participação das "Mulheres do Araripe" pelo viés da memória e, assim, perceber que a memória se apresenta em múltiplas formas e faz emergir uma variedade de campos de disputa e poder. Nessa pesquisa, analisa-se como as mulheres vão se inserindo na política e nos espaços do Legislativo e Executivo nos municípios de Araripina-PE e Simões-PI, a partir da reconstituição da memória das mulheres entrevistadas (eleitas ou não) nos processos eleitorais. O princípio de que a memória é presente e o passado não está acabado nos auxilia no diálogo que: "ao lidarmos com a memória como campo de disputa e instrumento de poder, ao explorarmos modos como memória e história se cruzam e interagem nas problemáticas sociais [...] se transformam na experiência social vivida"123. Ao destacar a atuação e participação das mulheres na região do Araripe como atrizes no campo político-partidário e nas instituições de decisão de poder, procura-se dar ênfase às lembranças e ao modo de vida das mulheres nesse território. Assim, a história dessas mulheres coloca-se no terreno da memória.

[...] como qualquer experiência humana, a memória é também um campo minado pelas lutas sociais. Um campo de luta política, de verdades que se batem, no qual esforços de ocultação e de clarificação estão presentes na disputa entre

123 KHOURY, Yara Aun. Muitas memórias, outras histórias: cultura e o sujeito na escola. In: FENELON, Déa Ribeiro. Et al. Muitas memórias, outras histórias. São Paulo: Olho D‟Água, 2004. p.118. "A memória é, em parte, herdada, não se refere apenas à vida física da pessoa. A memória também sofre flutuações que são função do momento em que ela é articulada, em que ela está sendo expressa. As preocupações do momento constituem um elemento de estruturação da memória. Isso é verdade também em relação à memória coletiva, ainda que esta seja bem mais organizada [...] a memória é um fenômeno construído. Quando falo em construção, em nível individual, quero dizer que os modos de construção podem ser conscientes como inconscientes [...]." POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro v. 5, n.10, 1992. p.4-5. 78

sujeitos históricos diversos, produtores de diferentes versões, interpretações, valores e práticas culturais.124

É através dos depoimentos orais das mulheres do Araripe, especificamente das duas cidades dessa região, que se analisa as experiências125 sociais vividas por essas mulheres. O método da oralidade contribuiu significativamente para esse estudo, porque permitiu adentrar no universo dos sujeitos femininos que fazem parte dessa pesquisa. Nessa direção, "a história oral ao se interessar pela oralidade procura destacar e centrar sua análise de visão e versão que dinamizam do interior e do mais profundo da experiência dos atores sociais"126. Indubitavelmente a história oral colaborou de forma incisiva para este trabalho. Efetivamente, entende-se que:

[...] a história oral tem se constituído numa prática significativa, alcançando maior conhecimento em ambientes acadêmicos, profissionais e militantes e uma dimensão pública mais ampla. Praticada nesses ambientes com metodologia de investigação social, ou como área de conhecimento, e/ou como instrumento de luta política, ela tem gerado trabalhos ricos e variados, visibilizando sujeitos e lugares ocultados e silenciados por esses processos, trazendo novas questões para o debate.127

Essas narrativas orais permitiram entrar no universo político da região do Araripe e assim procurar entender o lugar que as mulheres ocupam no espaço público. O diálogo abaixo, assinala que:

O lugar das mulheres no espaço público sempre foi problemático, pelo menos no mundo ocidental, o qual desde a Grécia antiga, pensa mais energicamente a cidadania e constrói a política como coração da decisão do poder. "Uma mulher em público está sempre deslocada", diz Pitágoras. Prende-se à percepção da mulher uma idéia de desordem. Selvagem, instintiva, mas sensível do que racional, ela incomoda e ameaça. A mulher noturna, mais ou menos feiticeira, desencadeia as forças irreprimíveis do desejo. Eva

124 FENELON, Déa Ribeiro; CRUZ, Heloisa Faria; PEIXOTO, Maria do Rosário Cunha (Orgs.). Introdução: Muitas memórias, outras histórias. In: FENELON, Déa Ribeiro. Et al. Muitas memórias, outras histórias. São Paulo: Olho D‟Água, 2004. p.6. 125 Nesse sentido, cabe retomar o termo experiência na concepção de Thompson. Para o autor "os homens e as mulheres também retornam como sujeitos autônomos 'indivíduos livres', mas como pessoas que experimentam suas situações e relações produtivas determinadas como necessidades e interesses e como antagonismo, e em seguida 'tratam' essa experiência em sua consciência e sua cultura [...]". THOMPSON, E. P. A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma critica ao pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 1981 p.182. 126 PORTELLI, Alessandro. Historia oral como gênero. In: Projeto História, São Paulo: EDUC, n. 15, 1997. p.16. 127 KHOURY, Yara Aun. Apud. PORTELLI, Alessandro. Ensaios de história oral. São Paulo: Letra e Voz, 2010. p.7. 79

eterna, a mulher desafia a ordem de Deus, a ordem do mundo.128

Por outro viés, pode-se analisar que as mulheres romperam a dicotomia entre o público e o privado. Efetivamente, o espaço privado contribui para o engajamento das mulheres nos movimentos sociais e nos processos eleitorais que elas disputam. Cabe assim assinalar que:

[...] ao levarem para o espaço público demandas originadas de suas experiências na esfera privada, rompem com a concepção da divisão entre esfera pública e esfera privada, mostrando como a política é interpenetrada pela esfera privada. A concepção dual de esfera pública e privada não faz jus à realidade vivida pelas mulheres, pois, na verdade, há uma interrelação entre as duas esferas que repercute em todo o sistema político.129

Nessa reflexão, questiona-se por que as mulheres, apesar de todas suas conquistas (igualdade civil, instrução, condição de assalariadas, certas formas de criação, esporte de alto nível, entre outras), ainda têm dificuldade de chegar aos comandos da cidade, tanto econômico quanto político. Nesse sentido, busca-se abordar a realidade enfrentada pelas mulheres do Araripe, nos processos eleitorais e nas instituições de decisões políticas nos municípios de Araripina-PE e Simões-PI. Pensando como as mulheres se utilizaram de táticas e estratégias130 para alcançarem, com sua militância na política institucional, a possibilidade de mudar o habitus em seus municípios. Desse modo, cotidiano e política se entrelaçam de maneira a desmanchar qualquer separação epistemológica. Durante a pesquisa, foram entrevistadas algumas mulheres que foram candidatas a cargos eletivos visando verificar suas trajetórias de lutas, como as relações familiares e sociais interferiram na participação, se ocorreu alguma ruptura com os preconceitos sexistas para ocupação desses cargos de vereadoras e vice- prefeita, durante o período analisado.

128 PERROT, Michelle. Mulheres públicas. São Paulo: Editora da UNESP, 1998. p.8. 129 SKJEIE, Hege. Apud. AVELAR, Lúcia. Mulheres na elite política brasileira. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer/Editora da UNESP, 2001. p.147. 130 CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. v. 1. Artes de Fazer. Petrópolis: Vozes, 1994. 80

2.2. PROCESSOS ELEITORAIS: 1982/2004

Nesse item, procura-se dar destaque, a partir das narrativas orais, às dificuldades com que as mulheres do Araripe se depararam, ao saírem candidatas nos processos eleitorais em suas cidades. Com esse trabalho, também se busca narrar as experiências sociais vividas pelas mulheres do Araripe. Suas vivências tornaram-se fundamentais para escrever em parte a história política de seus municípios. Assim, cabe assinalar que "narrar para existir"131 reforçou as experiências de participação políticas das mulheres do Araripe. Nesse contato, descobre-se as formas e as articulações que essas mulheres fizeram para participar do processo eleitoral e atuar dentro do parlamento municipal, bem como no executivo. Com efeito, ressalta-se o empenho de cada uma das atrizes sociais, no campo político e eleitoral e, sobretudo, mostra-se as experiências individuais e de grupo que foram indispensáveis para o alcance de um mandato eletivo, como também para o ingresso nas campanhas eleitorais, como candidatas.

2.2.1 Araripina-PE

No primeiro momento, para compreender os processos eleitorais de 1982 e 1988, nas cidades de Araripina-PE e Simões-PI, empenha-se em mostrar que nesses dois municípios o contingente populacional chegava em torno de 66.287 habitantes. As eleições de 1982, tanto em Pernambuco como no Brasil, ocorreram para os mandatos de governador132, senador, deputado federal e estadual, prefeitos e vereadores. Apoiada pelo governador José Muniz Ramos (ARENA), para os cargos

131 "Particularmente em uma sociedade de informação, é preciso também narrar, falar sobre, construir discursos por meio do qual se tornem visíveis pessoas, instituições, realidades, situações antes totalmente escondidas e, por isso mesmo, inexistentes. [...] Pela narração falamos de um outro recriando-o, reforçando a sua existência, destacando a sua presença como ator histórico". AVELAR, Lúcia. Op. cit., 2001. p.8-9. 132 Discuto profundamente sobre eleições no capitulo 3. Outra informação pertinente sobre esse assunto é de que "em 1982 a eleição de governadores volta a ser direta, uniformizados os mandatos em 4 anos de duração, na forma da Emenda Constitucional n.º 15, de 19/11/1980. Essa Emenda restabeleceu, também, o voto direto nas eleições para senador da República, com mandato de oito anos". Fonte: TSE. Cronologia das Eleições no Brasil (1945-2010) - Eleição Direta (Nota 29) 15 de novembro de 1982. Disponível em: . Acesso em: 19/01/2011. 81

de governador e vice, saiu vencedora a chapa composta por: Roberto Magalhães Melo e seu vice Gustavo Krause (PDS), cuja votação foi de 913.774 votos, sendo eleito Senador Marco Antônio de Oliveira Maciel com 926.771 votos133. De acordo com os dados do IBGE de 1982, a população de Araripina era de 48.054 habitantes. Desse total, 24.756 eram mulheres e 23.298 homens.134 Nesse período, constatou-se que a população feminina era significativa e majoritária. Essas informações são relevantes para contextualizar, historicamente, o cenário político- eleitoral do município em discussão. No processo eleitoral de 15 de novembro de 1982, para prefeito e vice em Araripina-PE, o então governador da época José Ramos apoiou seu primo Valmir Ramos Lacerda (PDS) como candidato a prefeito e como vice-prefeito Emanuel Santiago Alencar (PDS). Essa chapa saiu vitoriosa com 10.047 votos, contra 2.031 para Afonso Nunes do Nascimento (PMDB 2) e 603 votos dados a José Barreto Modesto (PMDB 1). No referido processo, somente duas mulheres se candidataram à Câmara Municipal, ambas pelo PMDB: Vera Lúcia dos Santos Araujo, com 997 votos, e Terezinha Alencar Ribeiro, com 83 votos. O número de candidaturas femininas representou o equivalente a 10,52%.135 Cabe assinalar o crescimento do PMDB no sertão pernambucano, principal partido de oposição nesse município. Destaca-se uma outra novidade, o fato de Vera Lúcia dos Santos Araujo ter sido eleita como vereadora, ou seja, a segunda mulher a exercer o cargo no Legislativo Municipal. Porém, Terezinha Alencar Ribeiro não obteve o mesmo êxito eleitoral que sua correligionária Vera Lúcia. Nesse período, em Araripina e em boa parte do Brasil, muitas vezes, correligionários do PMDB eram tidos como "comunistas", em virtude do partido representar um imenso guarda-chuva político, que abrigava os partidos comunistas e socialistas (PCB, PC do B e PSB), que até então viviam na clandestinidade. O Olhar social dos adversários para o PMDB, em Araripina, era enfático em taxar os

133 Marco Maciel tornava-se o terceiro senador para a legislatura de 1983 a 1991. Os outros senadores eram: Aderbal de Araújo Jurema (ARENA), Nilo de Souza Coelho (ARENA) que faleceu em 1983 assumindo sua vaga Cid Feijó Sampaio na condição de segundo candidato mais votado nas eleições de 1978. SENADO FEDERAL, Períodos Legislativos da Quinta República (1983-1987). Disponível em: . Acesso em: 19/01/2011. 134 IBGE. IX Recenseamento Geral do Brasil - 1980. Censo Demográfico: dados gerais, migração, instrução, fecundidade, mortalidade. In: Fundação Instituto Brasileiro de geografia e Estatística. Rio de Janeiro: IBGE, 1982-1983. p. 40-55. 135 Nessas eleições os candidatos a vereadores foram distribuídos da seguinte forma: 10 candidaturas pelo PDS e 11 pelo PMDB. ARRAES, Francisco Muniz. Araripina - História; fatos & reminiscência. Recife, FIAM-CEHM – Prefeitura Municipal de Araripina, 1988. p.111-112. 82

candidatos dessa legenda como "comunistas". Em seu depoimento, a vereadora Vera Lúcia dos Santos Araújo (eleita no pleito de 1982) assinala as dificuldades pelas quais enfrentou para conquistar o cargo de vereadora:

É, e principalmente para mim, porque naquela época eu me candidatei e me elegi pelo PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) e naquela época eles tinham o PMDB como um partido comunista. Na época eles diziam que nós erámos comunistas, para a maioria da população, como era um partido novo, que entrou na política local, para época era praticamente um novo partido. Então, o povo acreditava muito. Essa era a campanha deles, do pessoal da direita, eles faziam a campanha em cima disso aí, que o meu partido era um partido comunista, que o povo não devia votar no comunismo, divulgavam o que os comunistas faziam. E aí principalmente o povo da zona rural eles tinham muito medo, eles tinham muito medo [...] então para mim foi muito difícil porque eles trabalhavam em cima disso aí, dessa [...] Eu fazia oposição ao Dr. Valmir Lacerda – candidato a prefeito na época – que se tornou prefeito. E, ele já assim um tanto radical, e como era uma pessoa de oposição, misericórdia! Então, tanto eu sofri um pouco na campanha para conseguir a votação para ser eleita como também sofri pressão dentro da câmara. Porque eu era oposição, eu era do PMDB e ele era do PDS (Partido Democrático Social). Acho que era o partido do governo. E mesmo assim eu lutei muito, ainda consegui ser eleita com quase 1.000 (mil) votos na época foi assim uma vitória, fui vitoriosa mesmo, causou admiração para todo mundo, porque com tantas dificuldades, tantos problemas, mas consegui uma votação de quase 1.000 (mil) votos.136

O calor das campanhas eleitorais envolveu as disputas pelo poder de representação pública, cada candidato queria ganhar mais espaço, o que é perfeitamente normal na busca pela conquista de votos para se eleger. Perpassou sobre a campanha da Vera Lúcia uma certa desqualificação dos adversários à sua candidatura, mas uma resistência e uma vontade de lutar contra os empecilhos. Porém, a narradora deixa bastante claro que na campanha existia preconceito por sua condição feminina e por ser do PMDB "comunista",

na época da campanha, primeiro eles não acreditavam que eu seria capaz de ganhar a eleição, para eles isso aí era impossível. Então, eles já trabalhavam com essa certeza que eu não ia ter condições de ganhar a eleição, pelo trabalho deles, pela oposição que eles faziam ao PMDB, eles tinham

136 ARAÚJO, Vera Lúcia dos Santos. Depoimento [janeiro de 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 83

certeza que o partido não elegia a vereadora, e ai foi surpresa né? Para eles foi surpresa.137

No panorama das eleições de 1988 em Araripina-PE, o número de mulheres aptas a votar era de 14.956 e de homens 14.463, um total de eleitores que atingia cerca de 29.534.138 Nessas eleições para prefeito foram quatro candidatos homens e nenhuma mulher, sobressaindo-se vencedor Valdemir Batista de Souza pelo PFL, com uma votação de 13.464 votos139. No mesmo ano, tivemos um total de cinquenta candidaturas, das quais três mulheres, a saber: Ana Mendes de Sousa Silva (PT), com 77 votos; Maria Auxiliadora da Silva (PT) com 35 votos; Vera Lúcia dos Santos Araújo candidata à reeleição (PMDB), atingiu o equivalente a 296 votos140, vale salientar que essas mulheres não foram eleitas, portanto, a Câmara Municipal de Araripina ficou sem representação feminina. No processo eleitoral de 1992, cabe descortinar o quadro de eleitores que compunha a cidade de Araripina: o eleitorado feminino era de 18.772 (50,7%), o masculino representava 18.145 (49,01%), o total de eleitores era de 37.023.141 Nesse pleito de 1992142, foram candidatos a prefeito, mas não eleitos: Emanoel Santiago Alencar, pelo PRN que obteve 8.684 votos e José Alencar Gualter, do Partido Social Trabalhista (PST), com uma votação de 4.290 votos, saindo vencedora Maria Dionea de Andrade Lacerda, do Partido da Frente Liberal (PFL), eleita com 13.293 votos143. Dos sessenta candidatos a vereador de Araripina- PE, somente seis mulheres concorreram à eleição. Nesse processo eleitoral, apenas

137 ARAÚJO, Vera Lúcia dos Santos. Depoimento [janeiro de 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora.. 138 Desse total de eleitores, 115 não informaram o sexo. Fonte: TSE-PE. Estatística do Eleitorado por Sexo e Faixa Etária (Araripina-PE), outubro de 1988. Disponível em: . Acesso em: 19/01/2011. 139 Nesse pleito eleitoral outros três candidatos não foram eleitos: Pedro Alves Batista, nº 15, Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), 6.608 votos; Francisco Batista Sobrinho, nº 13, Partido dos Trabalhadores (PT), 640 votos; Vicente Alexandre Alves, nº 40, Partido Socialista Brasileiro (PSB), 418 votos. Fonte: TRE-PE. Eleições 1988 - Resultados Votação para Prefeito (Araripina- PE). Disponível em: . Acesso em: 19/01/2011. 140 Ressalto que nenhuma das mulheres candidatas foram eleitas; outra informação pertinente foi que Vera Lúcia dos Santos Araújo, tendo mandato de Vereadora, não conseguiu se reeleger. 141 Desse total de eleitores, 106 não informaram o sexo. Fonte: TSE-PE. Estatística do Eleitorado por Sexo e Faixa Etária (Araripina-PE), outubro de 1992. Disponível em: . Acesso em: 19/01/2011. 142 Fonte: TRE-PE. Eleições 1992 - Resultados Votação para Prefeito (Araripina-PE). Disponível em: . Acesso em: 22/01/2011. 143 A prefeita eleita Maria Dionea de Andrade Lacerda foi procurada várias vezes por mim, na perspectiva de coletar depoimento sobre sua trajetória política, mas a mesma não quis dar depoimento. 84

a candidata Maria Darticlea A. Lima Modesto (PRN), com 945 votos, obteve o sufrágio necessário para compor uma das vagas na Câmara Municipal, sendo eleita na quarta (4ª) colocação. Em detalhes constata-se o quadro de votações:

QUADRO IV Resultado de candidatas a vereadoras em 1992 (Araripina-PE)

Nome das candidatas a vereadora Partido Resultado eleitoral Maria Darticlea A. Lima Modesto PRN 945 votos - Eleita Francisca de Assis Arruda Gomes PRN 584 votos - Não Eleita Irene Ildeci Delmondes Souza PST 148 votos - Não Eleita Vera Lúcia da Costa Barros PFL 110 votos - Não Eleita Maria Leda Alexandre Pereira PST 39 votos - Não Eleita Maria de Fátima Alencar Carvalho Gualter PST 04 votos - Não Eleita Fonte: Dados organizado pela autora conforme informações do TRE-PE

A vereadora Maria Darticlea, professora Darticlea como é conhecida em Araripina, ocupou o cargo de vice-presidente da Câmara Municipal no biênio de 1995/1996. Eleita pelo PRN, posteriormente muda para o Partido Socialista Brasileiro (PSB), tornou-se oposição ao seu pai que era de outra sigla partidária. Ela explica que foi bastante cobrada pela condição de ser mulher, ressaltando principalmente os conflitos vivenciados com seu esposo em virtude de sua candidatura. No depoimento abaixo, a entrevistada relata um desses conflitos, ocasionado porque ele pensava que ela tinha perdido sua feminilidade:

a mulher que ingressa na política, que se candidata a algum cargo, tem que estar preparada, pode ir de "cabeça feita" porque ela será muito cobrada, eu fui muito cobrada, pois muitas pessoas, inclusive o meu marido entrou em conflito comigo pois achava que eu não era mais feminina, que fiquei um tanto grosseira, pois ele passou a me ver com "outro olhar", dizia que a mulher que entra na política perde a sensibilidade para viver, conviver como esposa e tudo isto se tornou um grande conflito, que estou confessando pela primeira vez, acredito plenamente, que isto nos levou a separação conjugal. O preconceito no próprio lar é muito forte com meus irmãos, minha família. Os meus irmãos chegaram a não apoiar minha filha que se candidatou, pois diziam que o feminismo estava sobressaindo mais que a equipe masculina, deu muita confusão. É uma disputa de poder, de gênero na própria família.144

144 MODESTO, Maria Darticléia A. Lima. Depoimento [06 de agosto, 2008]. GERE em Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 85

Uma das candidatas a vereadora, também nesse período, foi a professora Francisca de Assis Arruda Gomes – Assisinha. Candidatou-se pelo PRN e obteve 584 votos. Ela descreveu uma grande decepção diante do eleitorado, ao demonstrar seu trabalho realizado na comunidade e que não teve reconhecimento por parte dos eleitores.

[...] Mas, eu quero lhe dizer, para mim foi uma grande decepção, eu acho que para a gente ajudar as pessoas não precisa, a gente ser candidata a vereadora. Eu saí de porta em porta, pedindo votos, mostrando que eu fiz um trabalho, dizendo da minha capacidade, que tenho condições de reivindicar, de buscar coisas melhores para as pessoas, mas ai ninguém teve esse reconhecimento, ninguém fazia essa leitura. Lugar pequeno é de quem dá mais, [...]. O voto e o povo ainda é de cabresto [...]. Hoje eu passo sem mágoas, nem rancor de nada.145

Para Assisinha, a maioria dos eleitores são imediatistas, pensa em ajuda financeira momentânea e, muitas vezes, não vota em candidatos que tem, segundo ela, a "capacidade de exercer um bom mandato de vereador". Essa situação toda pode ser acompanhada na descrição da narradora:

eu faço uma leitura que não é fácil a gente ser candidata, você sai pedindo voto, e o povo até vota realmente. Mas, eu acho que o povo não vota realmente porque a pessoa tem a capacidade de exercer um bom mandato de vereador. Vota por aquele que deu um saco de cimento, uma carrada d‟água, ou que chegou lhe deu uma blusa, que lhe deu um vestido. Ainda é essa política que predomina no município de Araripina e como é em Simões, e de todo interior é isso mesmo. Tem muito mais pessoas que se satisfazem com uma carrada d‟água, naquele momento, que não pensa no futuro, visando um amanh(a), do que aquelas pessoas, que se você for eleita, a pessoa pode lhe ajudar lá na frente muito mais do que eles receberam naquele momento. Minha intenção era essa de melhorar a educação, de ajudar, de fazer muita coisa pelo nosso município, infelizmente a visão que o povo tem ainda é essa.146

De tal forma Assisinha chega a salientar "que as próprias mulheres não votam em mulheres" e a eleição para vereador "é muito difícil". A quantidade de candidatos de sua família, de fato contribuiu como mais um dos obstáculos encontrados por ela. Na hora de subir ao palanque, a fala da candidata era atrapalhada por seus

145 GOMES, Francisca de Assis Arruda (Assisinha). Depoimento [24 de julho, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 146 Ibidem. 86

correligionários. Durante a conversa, a depoente descreve as dificuldades para ser candidata a um cargo eletivo, assim explica:

na minha família tinha seis pessoas que se candidataram, tinha seis candidatos da minha família. [...] aí era inteiramente impossível ter tanto voto, contudo tive muitos votos, faltaram cento e tantos para que fosse a eleita [...]. Mas, infelizmente perdi por pouca coisa [...]. Porém, as dificuldades que a gente encontra é porque a eleição para vereador é uma eleição muito difícil e, eu acho, que as próprias mulheres não votam em mulheres, acredita? Que as próprias mulheres, não votam em mulheres e é uma eleição muito difícil, a de vereador. É uma concorrência muito grande, a luta por um voto, sabe, eu lembro que quando subi uma vez num palanque para falar, era numa região aqui chamada sítio Flamengo [...] na hora que eu estava falando, eles tinham aqueles instrumentos de bate-bate, de animação dos comícios, aquelas baterias, eles mesmos atrapalhavam para que o povo não escutasse minha fala. A dificuldade é grande, a luta é grande! Os próprios colegas de partido da coligação agiam dessa forma no mesmo palanque, não há respeito, é uma luta desigual.147

Outra dificuldade narrada por Assisinha, trata-se do momento da votação. Muitos eleitores não conseguiam escrever seu apelido conforme registrado no cartório eleitoral. Isto tornou-se um problema na hora da contagem dos votos, que desencadeou numa decepção junto a Justiça Eleitoral. Na fala da candidata observa-se essa situação:

[...] e outra coisa a luta é tão grande que na própria Justiça Eleitoral você encontra também coisas que lhe desagrada, lhe desestimula, lhe decepciona. No dia da apuração dos votos, pediram para trocar o Juiz que era Dr. Armando, e meu nome é muito difícil para escrever e o juiz Dr. Armando, disse que pela intenção de voto ele consideraria meus votos. E eu havia registrado a candidatura com o nome Assisinha, aí fica difícil escrever, porém o Juiz Dr. Armando – falou não se preocupe se tiver escrito Cissinha, Narsinha são intenções de votos e eu considero. Mas esse que veio de última hora do Recife, não conhecia ninguém e ele dizia – tem gente aí inscrita com esse nome: Narcisinha, Narcisa, Cisina, Cissinha, eram vários nomes, porque o povo não sabia escrever meu nome, era semi-analfabeto. Sei que isso dificultou também. Então, esses votos de intenção não foram considerados, e só esses votos dariam para me eleger. O Juiz eleitoral que chegou para substituir o Juiz Dr. Armando, era de Recife, não conhecia ninguém, não quis nem saber, não considerou, anulou tudo, tudo. Esses votos e muitos votos, depois eu soube. Pois eu

147 GOMES, Francisca de Assis Arruda (Assisinha). Depoimento [24 de julho, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 87

não tinha como ficar em todas as mesas apuradoras ao mesmo tempo. Mas é uma coisa que não é certo, [...] (risos).148

Nas eleições de 1996, o total de eleitores na cidade de Araripina era de 39.705 evidenciando um maior número de mulheres em seu eleitorado, que chegou a 20.277 (51,07%), enquanto o masculino ficou exatamente em 19.328 (48,68%).149 Nas eleições de 1996 para Prefeitura Municipal de Araripina-PE, candidataram-se três pessoas, exclusivamente homens já que não houve candidatura feminina. Nesse mesmo ano, os candidatos à Câmara Municipal eram num total de trinta e nove, dos quais seis eram mulheres150, dentre elas foi eleita somente Maria Darticlea Albuquerque Lima Modesto (PSB) e as outras se tornaram suplentes. Vide quadro a seguir:

QUADRO V Resultado de candidatas a vereadoras em 1996 (Araripina-PE)

Nome das candidatas a vereadora Partido Resultado eleitoral Maria Darticlea A. Lima Modesto PSN 1.186 votos - Eleita Maria Angela Lyra de Queiroz C. Ferraz PFL 568 votos - Não Eleita Dinair Cordeiro Gomes PFL 532 votos - Não Eleita Vera Lucia da Costa Barros PFL 248 votos - Não Eleita Silvania Maria de Oliveira Gomes PDT 85 votos - Não Eleita Dalcy Lopes da Silva PDT 06 votos - Não Eleita Fonte: Dados organizado pela autora conforme informações do TRE-PE

A entrevistada no processo eleitoral de 1996 foi Silvania Maria de Oliveira Gomes151. Ela queria registrar sua candidatura no cartório eleitoral com o apelido de "Teté", só que infelizmente a candidata Darticlea já havia registrado a dela com esse apelido:

[...] outra coisa que aconteceu que atrapalhou muitos os meus votos foi que: o povo da minha família me chamam de Teté e meus conhecidos do interior – Serra – também me chamam de

148 GOMES, Francisca de Assis Arruda (Assisinha). Depoimento [24 de julho, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 149 Desse total de eleitores, 100 não informaram o sexo. Fonte: TSE-PE. Estatística do Eleitorado por Sexo e Faixa Etária (Araripina-PE), outubro de 1996. Disponível em: . Acesso em: 20/01/2011. 150 Dessa maneira, nesse período salienta-se que "[...] a diferença entre a competitividade eleitoral masculina e a feminina aumenta nas regiões mais desenvolvidas do país." MIGUEL, Luís Felipe; QUEIROZ, Cristina Monteiro de. Diferenças regionais e o êxito relativo de mulheres em eleições municipais no Brasil. In: Revista Estudos Feministas. v. 14, n. 02. Florianópolis, mai./ago. 2006. p.368. 151 Na época a depoente era locutora de rádio. Quando se candidatou ela não tinha formação universitária, atualmente é Licenciada em História pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e especialista em História e Sociologia pela Universidade Regional do Cariri (URCA). 88

Teté. Então, eu fui registrar a candidatura com esse apelido e não deu certo porque Darticléa já havia registrado a dela primeiro com esse apelido. [...] quando eu fui registrar a minha candidatura com esse apelido não aceitaram, só aceitaram o registro com o nome Silvania. Então, como lá tinha as opções e os eleitores poderiam colocar Teté, então Darticléa se deu bem e ela sabia que eu ia me candidatar como esse apelido, daí ela [...] registrou primeiro do que eu.152

A candidata comentou que na hora do discurso, nos palanques, era atrapalhada por seus colegas de partido. Até mesmo no aluguel dos carros pelo candidato a prefeito de sua coligação (Lula Sampaio), já que lhe ofereciam o pior carro: "uma Kombi Volkswagen velha que não saia do lugar". Essas foram algumas das dificuldades narradas pela candidata:

Na realidade eu só pedia votos nos palanques, e, assim mesmo na hora do meu discurso, eles (candidatos homens), ficavam bisbilhotando, cochichando no meu ouvido assim eles diziam: fala só isso, diz só isso, tu não podes pedir voto aqui assim, porque aqui é região de fulano. Então, foi uma campanha muito chata [...] o Lula (candidato a prefeito da coligação) alugou senão me engano, onze fiats, para cada candidato ele deu um, e, para mim ele deu uma Kombi Volkswagen, "lata velha" que não saia do lugar, então, eu sofri muito com aquele carro e resolvi deixá-lo lá, não dava certo andar nela [....].153

Na campanha eleitoral de 1996, Silvania ressaltou que percorreu o município de Araripina em companhia da Erenilde (esposa do Luiz Wilson Ulisses Sampaio – Lula Sampaio, candidato a prefeito) para pedir votos. No entanto, embora fosse uma facilidade, por outro lado constituiu-se em dificuldades, porque não podia pedir votos para ela e, sim, somente para o candidato a prefeito. O que se verifica no diálogo seguinte:

Aí fui andar com a Erenilde (mulher do Lula) para pedir votos, [...] só que eu não pedia (votos) para mim, eu pedia apenas para ele (Lula) [...], surgiu um ciúme muito grande dos outros candidatos que queriam me proibir de andar com ela (Erenilde), porque achavam que ela estava pedindo votos para mim, na realidade não estava, ela pedia votos para o cunhado dela, candidato a vereador (Wilson Sampaio Filho) que era irmão do Lula. Quando nós chegávamos numa residência eu ficava proibida de pedir votos para mim, mas como eu era candidata e

152 GOMES, Silvania Maria de Oliveira. Depoimento [21 de julho, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 153 Ibidem. 89

tinha que andar o município inteiro, eu ia com ela e mostrava pelo menos a cara [...].154

No referido pleito, Silvania destaca que havia solicitado apoio dos candidatos a prefeito e vice (Lula Sampaio e Afonso Nunes respectivamente) e os mesmos se dispuseram a apoiá-la, no entanto, eles não concretizaram o compromisso feito. Assim, a candidata pensou em afastar-se da campanha, mas foi insistente mantendo-se candidata até o final das eleições. Para ela:

no decorrer da campanha o compromisso não foi cumprido, sobre o que agente deixou acertado, na época que fizeram o convite. Não tive apoio por parte deles (candidato prefeito e vice). Eu poderia ter abandonado a campanha, mas eu fiz de propósito não abandonei, participei de todos os comícios importantes e fiz tudo que eu poderia fazer e mostrar para eles que eu estava lá para mostrar para eles que eu sou mulher, que eu estava lá pelo simples fato de ser mulher, porque, na realidade eles não queriam mulher na campanha mas como era obrigatório, eles tiveram que nos engolir a mim, a Agacy e a outra candidata que até agora não lembrei o nome, [...]. Mas eles ficavam chateados porque Agacy não ia para os comícios, a outra era quem menos aparecia e eu estava "na cola" ali, pisando no "calo" deles. Eles marcavam reunião não me convidavam eu descobria as reuniões ia lá, uma vez eles marcaram uma reunião 1:00 hora da manhã (risos) e eu cheguei lá. Então foi assim. (risos).155

Em Araripina-PE, o cenário eleitoral de para o ano de 2000 se apresentava majoritariamente feminino com 22.266 (51,73%), em superioridade ao de homens, que era constituído de 20.691 (48,07%).156 Nas eleições de 2000, os araripinenses podiam escolher para prefeito um nome entre os quatro candidatos. Dentre as candidaturas colocadas a cargos majoritários, candidatou-se Maria Soares de Amorim Silva – a única mulher – ao cargo de vice-prefeita na chapa do PT que apresentava como candidato a prefeito Espedito Antonio Saraiva da Cruz (professor Espedito) com 249 votos. Porém, nessa eleição saiu vencedora a coligação "Trabalho e união por Araripina"

154 GOMES, Silvania Maria de Oliveira. Depoimento [21 de julho, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 155 Ibidem. 156 Desse total de eleitores, 83 não especificaram o sexo. Fonte: TSE-PE. Estatística do Eleitorado por Sexo e Faixa Etária (Araripina-PE), outubro de 2000. Disponível em: . Acesso em: 20/01/2011. 90

encabeçada por Emanuel Santiago Alencar (Emanuel Bringel) pelo PSDB, e seu vice Valdemir Batista de Souza pelo PPS, com 17.029 votos.157 Nesse processo eleitoral, concorreram dez mulheres para as treze vagas de vereadores da "Casa Joaquim Pereira Lima", entre elas foi eleita: Maria Augusta Lima Modesto (Maria Augusta) pelo PPS, com 1.977 votos. Destarte, cabe também salientar os nomes das demais candidatas suplentes158:

QUADRO VI Resultado de candidatas a vereadoras em 2000 (Araripina-PE)

Nome das candidatas a vereadora Partido Resultado eleitoral Maria Augusta Lima Modesto PPS 1. 977 votos - Eleita Verônica Cristina de Souza PPS 317 votos - Não Eleita Perpétua Nobre Delmondes (Pérpetua) PFL 224 votos - Não Eleita Maria Aparecida da Conceição Araújo - Cida PFL 149 votos - Não Eleita Maria Alencar Ferreira Modesto - Hozana PMDB 119 votos - Não Eleita Isabel de Lima Alencar - Isabel PC do B 110 votos - Não Eleita Maria Elisa Antunes Alencar - Maria de Santo PFL 101 votos - Não Eleita Ambrosina da Silva Souza - Ambrosina Mocinha PT 82 votos - Não Eleita Maria Lourdes de Lima - Lourdes PFL 60 votos - Não Eleita Francileide Lacerda de Carvalho - Francileide PC do B 56 votos - Não Eleita Fonte: Dados organizado pela autora conforme informações do TRE-PE

Nas eleições em questão, foi entrevistada Maria Augusta – primeira vereadora colocada desse processo eleitoral. A parlamentar afirmou que não cogitava entrar na política partidária para disputar uma vaga ao Legislativo Municipal, tendo em vista a dificuldade para as mulheres participarem de eleições, devido às múltiplas tarefas desempenhadas por elas. Em sua fala assinalou que o "machismo" constituiu um dos últimos entraves para as mulheres ingressarem nas atividades políticas. Deu destaque de que é preciso muita ousadia para mulheres perseverarem na vida política. De modo geral, colocou "no Nordeste quando diz assim, começou, fulano é candidato, você passa três meses sem comer [...]". Nestes termos, Maria Augusta destacou:

157 Os outros candidatos nessas eleições foram: Luiz Wilson Ulisses Sampaio (Lula Sampaio) pelo PMDB e seu vice Aurismar Pinho Gomes (PFL) da coligação "Força popular para renovar" que atingiu 12.997 votos; Valmir Jacó Valmir Modesto (Jacó) e seu vice Januário Batista de Souza (PC do B) coligação "Frente popular" cuja votação foi de 135. Fonte TRE-PE. Eleições 2000 - Resultados Votação para Prefeito (Araripina-PE). Disponível em: . Acesso em: 25/01/2011. 158 Fonte: TRE-PE. Eleições 2000 - Resultados Votação para Vereador (Araripina-PE). Disponível em: . Acesso em: 25/01/2011. 91

Bem, é na verdade eu não pretendia entrar na política né. Porque você sabe muito bem, que a política para uma mulher é muito difícil. E, primeiramente ela é difícil porque ela tem várias outras funções. Eu sou profissional, sou dentista, sou dona de casa, sou mãe, na época eu era casada, meu casamento foi atrapalhado bastante por conta da política, depois a gente terminou se separando, por conta de tantas funções que me sobrecarregavam. E, por fim, a parte machista vem no final de tudo, sabe tem todo um outro percurso. Eu acho que a mulher está ainda mais fora da política, por conta de muitas outras funções, daí ela se sobrecarrega, não é por conta do machismo, que tem, tem! Existe o machismo. [...] Então, eu acho que o machismo fica em último. Se a mulher não tiver coragem de deixar as outras funções, se ela optar pelas sobrecargas realmente ela não consegue ser política. Porque não é fácil, uma campanha política aqui no Nordeste quando diz assim começou, fulano é candidato, você passa três meses sem comer, sem dormir e sem andar em sua casa e se você tiver filhos? A gente não tem privacidade a casa se torna de todos, e não podemos ter [...] Foi uma opção que a gente fez de ser política e a gente tem que carregar até o final.159

Maria Augusta expôs que existiram muitas candidatas a vereadora na cidade de Araripina-PE, mas que nas campanhas encontravam vários tipos de barreiras. Por outro lado, ao tratar da campanha eleitoral dos municípios vizinhos, Trindade e Ibupi, pertencentes também ao Estado do Pernambuco, a parlamentar informou que o número de vereadoras eleitas era bem maior que em Araripina. Ao constatar os dados do Tribunal Regional Eleitoral do Pernambuco (TRE-PE), de fato existiu um aumento de representação feminina na Câmara de Vereadores de Trindade, do total de seis candidaturas três mulheres se elegeram. Ao contrário de Ipubi que teve oito candidatas mulheres e somente uma obteve a votação necessária para se tornar vereadora, no caso desse último município, demonstrou-se uma sub-representação feminina.160

159 MODESTO, Maria Augusta Lima. Depoimento [fevereiro, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 160 Cabe informar que no município de Trindade-PE se candidataram para a Câmara de Vereadores: Maria Marina da Silva e Souza - Pepe (PPB), 201 votos; Quirlândia Paulino de Souza - Quirlândia (PPB), 70 votos; Lucia de Fátima Rodrigues da Penha - Lucia Braz (PSDB), 31 votos. Foram eleitas três mulheres para Câmara de Vereadores assim relacionadas: Maria da Conceição Barros Soares Costa - Dra Conceição (PPB) obteve 1.688 votos; Ricolice Lima Siqueira - Ricolice (PDT) com uma votação de 683; Francisca Batista Gomes de Andrade - Tequinha (PDT) alcançou nesse pleito 683. Fonte: TRE-PE. Eleições 2000 - Resultados Votação para Vereador (Trindade-PE). Disponível em: . Acesso em: 25/01/2011. No mesmo pleito na cidade de Ipubi-PE se candidataram: Maria de Lourdes Miranda Silva - Lourdes Miranda (PMDB), 108 votos; Luzia Alves de Souza Lemos - Luzia (PT), 67 votos; Maria Neide Ferreira de Carvalho - Neide do Correio (PMDB), 52 votos; Irene Eleuses Barros - Irene Enfermeira (PPB), 27 votos; Maria Izabel Feitoza - Ninita (PFL), 26 votos; Lucineide Guedes de Souza - Nega de Valdemar (PSDB), nenhum. Neste processo eleitoral foi eleita somente Maria 92

Maria Augusta descreveu com propriedade a situação eleitoral das mulheres nos municípios que fazem parte da região do Araripe. A vereadora chegou a me perguntar sobre a representação feminina no Legislativo em Simões-PI. Concernente ao mandato do ano de 2001-2004, a legislatura feminina simonense foi representada por duas mulheres. No momento da entrevista descrevi que "em Simões, atualmente, tem duas vereadoras. De algum tempo pra cá, tem duas ou só uma também. Acho que nunca chegou a três no mesmo mandato". Maria Augusta expôs a problemática que envolve o gênero feminino, para ela o fato da "mulher não vota(r) em mulher" constitui em dificuldades para ampliação da presença feminina na câmara municipal. Em seguida Maria Augusta afirmou "então, por isso eu lhe digo, a mulher é mais machista que o homem, infelizmente eu digo isso sempre". Acompanhe em detalhes o relato da vereadora sobre esse período eleitoral:

Aqui em Araripina já tiveram várias candidatas, mas política no nosso município, não é fácil, mas, é como eu lhe disse não é fácil mesmo. Politicamente, Araripina é uma cidade muito mais complexa do que qualquer uma outra aqui na região. Porque Trindade- PE, teve várias mulheres que são vereadoras Ipubi- PE também, Simões, teve quantas? E, em Araripina não, só é uma mulher, uma mulher, e se eu não tivesse saído não seria nenhuma mulher, nenhuma, porque elas ficaram bem aquém. Então, não é uma questão de ser mulher, a mulher não vota em mulher, o que deveria, né? Para conquistar melhor seu espaço, a mulher vai votar em quem ela achar que realmente [...] Então, por isso eu lhe digo, a mulher é mais machista que o homem, infelizmente eu digo isso sempre.161

A busca por possibilidades de participação feminina na esfera pública não tem sido fácil, diante das resistências sexistas vigentes da sociedade. A atuação das mulheres no espaço público encontra obstáculos, frente aos indícios de segurança para o patrimônio familiar e uma boa convivência nas relações entre cônjuges, pois o sexismo se afirma nas atividades, e a ocupação de espaços pelas mulheres, antes predominantemente do homem, ferem o brio masculino, representando uma ameaça à dominação162 dos homens sobre as mulheres. Essa dominação vem na esteira da

Heldaci da Silva Pereira - Daci (PSDB) com 340 votos. Fonte: TRE-PE. Eleições 2000 - Resultados Votação para Vereador (Ipubi-PE). Disponível em: . Acesso em: 25/01/2011. 161 MODESTO, Maria Augusta Lima. Depoimento [fevereiro, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 162 Contrariamente as posições defendidas por Pierre Bourdieu sobre a dominação masculina. Michelle Perrot apresenta em seu postulado uma outra posição em relação ao poder das mulheres "Se elas não têm o poder, as mulheres têm, diz-se, poderes. No plural, eles se estilhaça em 93

história, pela construção discursiva de um "modelo masculino" bem sucedido profissionalmente e socialmente.

[...] O "modelo masculino" mais difundido era o do homem provedor-trabalhador, vinculado a um emprego fixo que propiciasse estabilidade e segurança à família, dedicado à família, metódico e regrado.[...] No "modelo masculino" também valorizavam-se o sucesso profissional, a competitividade, a paixão pelo futebol e pela política, a força física, a capacidade de luta, esperteza e "jogo de cintura". A masculinidade heterossexual tradicional comporta aspectos como o status, o sucesso, a resistência, a independência, incentivando a disputa como um elemento positivo no perfil do masculino.163

Muitos discursos reafirmam os valores viris164, mantendo uma postura de preconceito e exclusão, realizando uma demarcação nos espaços "público" e "privado" e atribuições do masculino e do feminino. Nesse contexto,

sua feminilidade proporciona preferencialmente uma aptidão prática à mulher, mas em caso algum uma aptidão especulativa. Por conseguinte, as mulheres não podem ocupar cargos públicos. Hegel fala da vocação natural dos dois sexos. O homem tem sua vida real e substancial no Estado, na ciência ou em qualquer outra atividade do mesmo tipo. Digamos, de modo geral, no combate e no trabalho que o opõem ao mundo exterior e a si mesmo. A mulher, pelo contrário, é feita para a piedade e o interior. Se colocam mulheres à frente do governo, o Estado se encontra em perigo. Pois elas não agem conforme as exigências da coletividade, mas segundo os caprichos de sua inclinação e seus pensamentos. Auguste Comte vai ainda mais longe, já que fala da inaptidão radical do sexo feminino para o governo, mesmo da simples família, em virtude da espécie de estado infantil contínuo que caracteriza o sexo feminino.165

No ano de 2004, do ponto de vista da estatística do eleitorado por sexo, a cidade de Araripina apresentava a seguinte distribuição de eleitores: mulheres aptas

fragmentos múltiplos equivalente a „influências‟ difusas e periférica, onde as mulheres têm sua grande parcela". PERROT, Michelle. Os excluídos da historia: operários, mulheres e prisioneiros. 2a ed. São Paulo: Paz e Terra, 1992. p.167. 163 MATOS, Maria Izilda Santos de. Dolores Duran: experiências boêmias em Copacabana nos anos 50. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p.117-118 e 120. 164 "A virilidade, em seu aspecto ético mesmo, isto é, enquanto qüididade do vir, virtus, questão de honra (nif), princípio da conservação e do aumento da honra, mantém-se indissociável, pelo menor, tacitamente, da virilidade física, através, sobretudo, das provas da potência sexual – defloração da noiva, progenitura masculina abundante etc. – que são esperadas de um homem que seja realmente um homem. Compreende-se que o falo sempre presente metaforicamente, mas, muito raramente nomeado e nomeável, concentre-se todas as fantasias coletivas de potência fecundante." BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 7ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. p.20. 165 PERROT, Michelle. Op. cit., 2006. p.177-178. 94

a votar 24.333 (52,06%), o número de eleitores masculino era de 22.333 (47,78%) – que constituía um percentual de 4,28% a menos do eleitorado feminino166. Na eleição de 2004 em Araripina-PE, duas mulheres concorreram a vaga de vice-prefeita: Maria do Socorro Holanda Muniz Falcão do Espírito Santo (PPS) na chapa com Luiz Wilson Ulisses Sampaio - Lula Sampaio (PMDB) que obteve 16.161 votos, e Maria da Penha Silva (PT) com José Alencar Gualter (PSB), candidato a prefeito, juntos conseguiram 1.779 votos. Sobressaiu vitoriosa a chapa da coligação "União Por Araripina" encabeçada por Valdeir de Andrade Batista - Valdeir Batista (PSDB) com 16.927 votos. Já com relação às noventa e cinco candidaturas ao Legislativo Municipal de Araripina-PE, dezenove mulheres concorreram a uma das dez vagas, sendo eleita apenas Maria Augusta Lima Modesto - Maria Augusta167 (PP) com 1.509 votos, as outras candidatas ficaram na condição de suplente:

QUADRO VII Resultado de candidatas a vereadoras em 2004 (Araripina-PE)

Nome das candidatas a vereadora Partido Resultado eleitoral Maria Augusta Lima Modesto - Maria Augusta PP 1.509 votos - Eleita Maria Francisca Alves Souza - Maria Francisca PSC 300 votos - Não Eleita Hema Bandeira Portela - Hema Bandeira PTB 260 votos - Não Eleita Francisca Betanha Nunes Neri - Betânia PV 239 votos - Não Eleita Maria Agaci Lopes da Silva - Agaci PV 233 votos - Não Eleita Maria Aparecida da Conceição Araújo - Cida PFL 101 votos - Não Eleita Janaina Mª Tavares P. Cavalcante - Drª Janaina PTB 96 votos - Não Eleita Silvania Maria de Souza - Silvania PC do B 67 votos - Não Eleita Ambrosina da Silva Sousa - Ambrosina PT 63 votos - Não Eleita Neiremar Maria Eloi Silva - Neiremar PP 52 votos - Não Eleita Maria Elisa Antunes Alencar - Maria de Santo PFL 50 votos - Não Eleita Irene Idelci Delmondes Souza - Irene PSB 43 votos - Não Eleita Ana Edileusa Nogueira PT 39 votos - Não Eleita Maria Renata de Melo - Renata PT 32 votos - Não Eleita Maria Elza Gomes Coelho - Elza de Zé Leó PDT 25 votos - Não Eleita Edilene de Lima Silva - Edilene (PTB), 24 votos; PDT 24 votos - Não Eleita Maria Janete Cordeiro Ribeiro - Janete PSB 24 votos - Não Eleita Maria do Socorro Emidio C. Rodrigues - Socorro PTC 21 votos - Não Eleita Emidio Maria Gilda Silva - Bia da Silva PDT 16 votos - Não Eleita Fonte: Dados organizado pela autora conforme informações do TRE-PE

166 Desse total de eleitores, 72 não informaram o sexo. Fonte: TSE-PE. Estatística do Eleitorado por Sexo e Faixa Etária (Araripina-PE), julho de 2004. Disponível em: . Acesso em: 26/01/2011. 167 Nesse processo, a candidata eleita efetivamente prestou depoimento, conforme comentado anteriormente. 95

2.2.2 Simões-PI

Segundo os dados do IBGE de 1982, a população total de Simões-PI era de 18.233 habitantes. A população feminina somava o equivalente a 9.112 e a masculina era de 9.121. Percebe-se que, no período em questão, contrariamente ao número de Araripina-PE, em Simões o número maior de habitantes era do sexo masculino168. Essas informações colaboraram para compreender o panorama político do município de Simões. Nas eleições de 1982, o candidato a prefeito vitorioso no pleito foi Joaquim José de Carvalho – Valdeci – Partido Democrático Social (PDS II), com 3.337 votos, contra os candidatos: Justino Antônio da Silva (PDS I) que obteve 2.337 votos, e Cícero Alves Feitosa (PMDB), 36 votos. No plano estadual, Valdeci tinha apoio do então governador da época Lucídio Portela Nunes (1922), da ARENA - último governador eleito pelo voto indireto em 1º de setembro de 1978, pelo colégio eleitoral estadual. Com a morte de seu irmão Petrônio Portela em 1980, Lucídio Portela passou a exercer a liderança do PDS com objetivo de eleger, nas eleições de 1982, seu candidato a governador: Hugo Napoleão do Rêgo Neto (1943)169, reforçando o apoio ao candidato a prefeito em Simões-PI. Nesse pleito eleitoral, no montante das candidaturas apresentadas para a Câmara de Vereadores "Casa Almir Pereira Feitosa" foram vinte e uma candidaturas das quais três eram mulheres, o que representou o equivalente a 14,28% de candidatas femininas à Câmara Municipal de Simões. Foram eleitas as vereadoras: Maria Aldenora Oliveira (PDS), cuja votação obtida no pleito foi de 378 votos e Maria Gracilda Lopes de Carvalho (PDS) com 274 votos. A única não eleita no processo foi Antônia Nilsa dos Santos (PMDB), com 17 votos (ver anexo 4).

168 IBGE. IX Recenseamento Geral do Brasil – 1980. Censo demográfico: dados gerais, migração, instrução, fecundidade, mortalidade. In: Fundação Instituto Brasileiro de geografia e Estatística. Rio de Janeiro: IBGE, 1982-1983. p.44-45. 169 "Hugo Napoleão assumiu o Governo do Estado do Piauí, em 15 de março de 1983, após ser eleito no pleito direto de 15 de novembro de 1982, nesta eleição estavam habilitados a votar 970.888 eleitores em todo Piauí; destes, votaram 778.423. A primeira eleição direta pós Ditadura Militar constatou um alto índice de abstenção (20%). Concorreram ao cargo de governador com candidaturas próprias o PDS, o PMDB e o PT. Hugo Napoleão (PDS) foi eleito com 303.818 votos, contra 271.274 dados a Alberto Silva (PMDB) e 5.814 dados a José Ribamar (PT); os votos em branco somaram 85.430 e nulos 22.087". SANTOS, José Lopes dos. Novo Tempo Chegou. Teresina: Gráfica Mendes, 1983. p.166. 96

O cenário da política simonense, no que tange à participação das mulheres nas eleições de 1982, evidenciava um número maior de mulheres eleitas para a Câmara Municipal em relação a Araripina. Como comprovado no quadro seguinte:

QUADRO VIII Resultado comparativo de vereadoras em 1982 (Araripina-PE e Simões-PI)

Nome das candidatas a vereadora Cidade Partido Resultado eleitoral Vera Lúcia dos Santos Araújo Araripina-PE PMDB 997 votos - Eleita Terezinha Alencar Ribeiro Araripina-PE PMDB 83 votos - Não eleita Maria Aldenora Oliveira Simões-PI PDS 378 votos - Eleita Maria Gracilda Lopes de Carvalho Simões-PI PDS 274 votos - Eleita Antônia Nilsa dos Santos Simões-PI PMDB 17 votos - Não eleita Fonte: Dados organizado pela autora conforme informações do TRE-PE e TRE-PI

No mandato eletivo de 1983 à 1988, a bancada feminina no Legislativo simonense foi de 22,22%. Cabe salientar que a vereadora Maria Aldenora Oliveira (in memoriam) tornou-se presidenta da Câmara de 1983/1985 e Maria Gracilda Lopes de Carvalho, vice-presidenta da Câmara de 1985/1987. Essa última em sua narração expressou o que a fez desistir de não se candidatar novamente, assim ela abordou: "o que me fez desistir foram algumas dificuldades encontradas e a falta de apoio por parte do governante".170 No processo eleitoral de 1988, em Simões-PI, o quadro de eleitores era diferente ao de Araripina-PE. Nesse município o eleitorado feminino alcançava 5.522 e o masculino 5.903. o total de eleitores era 11.458.171 No período em questão, foram registradas também três candidaturas para prefeito. Uma das chapas tinha como candidata a vice-prefeita a professora Maria Aparecida dos Reis - Cidoca172 (PT) e seu candidato a prefeito José Francisco Lopes (PT) que atingiram a quantidade de 737 votos; a outra coligação formada pela coligação "PMDB e PDS" composta pelo candidato a prefeito e vice: Francisco Batista Neto (PMDB) e Valderi da Silva Neto (PDS) obtiveram 2.338 votos. Sairam

170 CARVALHO, Maria Gracilda Lopes de. Depoimento [20 de dezembro, 2009]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. O relato sobre as facilidades que essa narradora encontrou nas campanhas e no parlamento municipal de Simões-PI será analisado no capítulo III. 171 Desse total de eleitores, 33 não informaram o sexo. Fonte: TSE-PI. Estatística do Eleitorado por Sexo e Faixa Etária (Simões-PI), outubro de 1988. Disponível em: . Acesso em: 19/01/2011. 172 Maria Aparecida dos Reis, nascida em 26/06/1954, professora e liderança sindical filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT) foi candidata não eleita ao cargo de vice-prefeita em três eleições: 1988, 1996 e 2004; e a uma de vereadora em 1992, na qual também não atingiu o coeficiente eleitoral para ser eleita. 97

vencedores o candidato a prefeito Abércio Josias de Carvalho (PFL) e seu vice Aluízio Francisco de Morais (PFL) com 5.713 votos. Em relação às candidaturas para vereador no ano de 1988, registraram-se um total de quarenta e três, dentre esses candidatos três eram mulheres, entretanto, não conseguiram se eleger: Maria Aldenora Oliveira de Carvalho, candidata a reeleição pelo PFL com 221 votos; Argentina Cordeiro de Araújo (PMDB), 198 votos; Maria de Jesus de Araújo - Maria Lopes (PT), 58 votos. O mandato de 1989 a 1992 seguiu sem nenhuma representação feminina na Câmara Municipal de Simões, ou seja uma bancada exclusivamente masculina. Nesse período, percebe-se uma ausência de representação feminina no Legislativo das duas cidades, conforme observado no quadro comparativo abaixo:

QUADRO IX Resultado comparativo de candidaturas de mulheres em 1988 (Araripina-PE e Simões-PI)

Nome das candidatas a vice-prefeita Cidade Partido Resultado eleitoral - Araripina-PE - - Maria Aparecida dos Reis Simões - PI PT 737 votos - não eleita

Nome das candidatas a vereadora Cidade Partido Resultado eleitoral Vera Lúcia dos S. Araújo Araripina-PE PMDB 296 votos - não eleita Ana Mendes de S. Silva Araripina-PE PT 77 votos - não eleita Maria Auxiliadora da Silva Araripina-PE PT 35 votos - não eleita Maria Aldenora O. de Carvalho Simões - PI PFL 221 votos - não eleita PMDB/ Argentina C. de Araújo Simões-PI 198 votos - não eleita PDS Maria de Jesus de A. Reis Simões-PI PT 58 votos - não eleita Fonte: Dados organizado pela autora conforme informações do TRE-PE e TRE-PI

Nas quatro vezes que foi candidata no município de Simões-PI, Maria Aparecida dos Reis relatou as dificuldades enfrentadas pela condição de ser mulher com poucos recursos econômicos nas campanhas eleitorais. Pela candidata evidencia-se que o ser feminino sofre preconceito duplamente, uma pela condição de ser mulher, e outra pelo fato do processo eleitoral trazer muitos encargos financeiros. O que se constata no depoimento a seguir:

Empecilho pela candidatura não. Preconceitos sociais sim, pois como não sou uma pessoa de grande poder aquisitivo tive muitas dificuldades em conquistar votos durante as campanhas 98

eleitorais. Isso aconteceu por que maior que o preconceito machista e partidário foi o preconceito econômico.173

Nas décadas de 1980 e 1990, as personagens da cena política simonense Maria de Jesus de Araújo Reis (Maria Lopes) e Maria Aparecida dos Reis (Cidoca) foram movidas por um ideário de esquerda, porque elas eram militantes do PT, além de estarem envolvidas em movimentos sociais e Pastorais. Enfatiza-se o direcionamento e o percurso da Igreja Católica no Brasil para as questões de organização dos segmentos sociais:

As ações da Igreja no Brasil passaram por transformações a partir da mudança de postura da Ação Católica Brasileira – ACB (instituída desde a década de 20, durante o papado de Benedito XV, por leigos católicos), que se espelhava na Ação Católica Italiana.174

Na década de 50, com Monsenhor Hélder Câmara à frente da Ação Católica Brasileira, sustentava-se a idéia de se fundar uma entidade que representasse os bispos do Brasil, como a CNBB. A Ação Católica Brasileira, em meados do século XX, estimulava uma maior autonomia para os integrantes das entidades estudantis: a Juventude Universitária Católica - JUC, a Juventude Operária Católica - JOC, Juventude de Estudantes Secundaristas - JEC, Juventude Agrária Católica - JAC e a Juventude Independente Católica - JIC.175

Cabe afirmar que nesse período, surgiu em Simões-PI segmentos sociais organizados, em especial de mulheres, que manifestavam resistência ao conservadorismo local em relação à participação política, até então mantida na esfera do poder sem questionamento. A organização de mulheres do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Simões, da qual fazia parte Cidoca, constituiu-se como referência de sujeito coletivo de luta das trabalhadoras rurais. Nesse viés de análise, o diálogo seguinte permite entender que o "uso da noção de sujeito coletivo é no sentido de uma coletividade, onde se elabora uma identidade e se organizam

173 REIS, Maria Aparecida dos (Cidoca). Depoimento [setembro, 2004]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. Cidoca candidatou-se a Vice-Prefeita (PT) nas eleições 1988, 1996, 2004; e a vereadora (PT) em 1992, todos cargos no município de Simões-PI. 174 CAVA, Ralph D. A Igreja e a abertura: 1974-1985. In: STEPAN, Alfred (Org.). Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p.77. 175 SCHWARTZ, Rosana Maria Pires Barbato. Mulheres em movimento - movimento de mulheres (A participação feminina na luta pela moradia na Cidade de São Paulo). Dissertação (Doutorado em História Social), PUC-SP, São Paulo, 2007. p.100-101. "A Juventude Operária Católica, originada do ABC, assumiu uma postura conservadora até meados da década de 60, quando passou a defender as reformas de base do presidente João Goulart, fundando a Ação Católica Operária e posições socialistas, após o golpe de 1964. Antes a função da JOC era resgatar a cristandade da classe operária." Ibidem. 99

práticas, através das quais seus membros pretendem defender seus interesses e expressar suas vontades, constiuindo-se nessas lutas".176 Os movimentos da Igreja Católica foram fundamentais para atuação de algumas mulheres do Araripe, em especial, Maria Lopes e Cidoca (PT) que se tornaram líderes dentro desses movimentos e, ao mesmo tempo, se colocaram em oposição ao PFL para questionarem a ordem oligárquica estabelecida no município de Simões-PI. Desse modo, o PT e o PMDB da referida cidade eram partidos de oposição ao grupo do PFL – partido da situação. Como explicitado anteriormente, algumas mulheres do Araripe partiram de vínculos com os movimentos de trabalhadoras do campo, ligadas junto às lutas do Sindicato de Trabalhadores Rurais (STR)177, à Comissão da Pastoral da Terra (CPT), outras Pastorais Sociais e às Comunidades Eclesiais de Base (CEB‟s). O diálogo seguinte permite compreender a dinâmica dessa organização.

As comunidades eclesiais de bases (CEBs) se multiplicaram, primeira e principalmente na zona rural, mas também tomaram conta da periferia das grandes cidades. Em 1981, calculava-se em 80 mil para todo país, mas os números eram muito imprecisos. Entre os motivos de seu êxito, podemos pensar no caráter flexível de sua forma organizada, na revivescência de relações primarias como espaço de reconhecimento pessoal para seus membros, no acolhimento das formas da religiosidade popular. E seu próprio êxito significará que a prática das CEBs não se conteve nos ditames eclesiásticos.178

A organização feminina nesses movimentos foi de tal forma indispensável para o embate com o poder dominante em Simões e também oferecia alternativas de projetos em relação ao tradicionalismo político local. No pleito eleitoral de 1992, na cidade de Simões, para uma população de 22.147 existiam 12.771 votantes, assim distribuídos: o número de eleitoras femininas

176 SADER, Eder. Quando novos personagens entram em cena: experiências, falas e lutas dos trabalhadores da Grande São Paulo (1970-80). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p.55. 177 Desse modo, informa-se que "de 1961 até 1964, foram organizados e disputavam reconhecimento 45 sindicatos em 29 municípios piauienses, alguns orientados pela Igreja outros pela esquerda. Entre os anos de 1965 a 1980, foram criados mais 131 novos sindicatos – 46 patronais e 85 de trabalhadores". ROCHA, Cristiana Costa da. Memória migrante: a experiência do trabalho escravo no tempo presente (Barras, Piauí). Dissertação (Mestrado em História Social), Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza-CE, 2010. p.28. 178 SADER, Eder. Op. cit., 1988. p.155-156. Nesse propósito vale ressaltar que o surgimento das CEB‟s representou para Igreja Católica "[...] um momento de reprodução institucional e, ao mesmo tempo, uma forma de a população discutir os problemas do seu bairro, da sua cidade e, até mesmo, do seu país". SCHWARTZ, Rosana Maria Pires Barbato. Op. cit., 2007. p.100. 100

era de 6.240 (48,86%), quando se estabelece um termo comparativo com a representação masculina de 6.500 que representava 50,9%. Nesse sentido, o eleitorado feminino era menor em 2,04% que o masculino 179. Nas eleições de 1992, houve três candidatos a prefeito em Simões-PI, as mulheres não se candidataram a esse cargo de representação máxima no município. O vitorioso no pleito foi Joaquim José de Carvalho - Valdeci, (PFL) com 5.333 votos, contra Justino Antônio da Silva (PMDB), 3.306 votos; José Francisco Lopes - Zé Francisco (PT), 492 votos. Das trinta e cinco candidaturas para o Parlamento Legislativo Municipal simonense, as mulheres: Terezinha de Jesus Carvalho e Sousa - Terezinha (PT), 418 votos; Maria de Jesus de Araújo Reis - Maria Lopes (PT), 90 votos; Maria Aparecida dos Reis - Cidoca (PT), 82 votos; se candidataram a uma das nove vagas, no entanto não obtiveram êxito eleitoral. Deve-se salientar que as três candidatas se lançaram pelo PT e que a Câmara de Vereadores desse município ficou sem representação feminina180. Nessa "[...] perspectiva o falante é social de ponta a ponta, [...] mas, ao mesmo tempo, ele é individual de ponta a ponta"181. A fala de Maria Lopes foi focada no social, abordando sua subjetividade enquanto militante. A narradora expôs que o "machismo era bem violento" mas, que com o engajamento nos movimentos sociais e o contato que teve com a palavra de Deus (ressaltando sua interação com os movimentos da Igreja Católica) foram importantes para superar as adversidades na campanha política. Assim, Maria Lopes mostrou em seu depoimento:

Naquela época o machismo ainda era mais violento para o lado da descriminação, mas o que fez eu romper, porque agente rompe [...] foi o engajamento que adquiri quando conheci a palavra de Deus na minha vida, vi que eu tinha que mostrar que a mulher, como eu e outras que também se envolveram, tínhamos que mostrar que também somos capazes, com todos os obstáculos que agente tinha.182

179 Desse total de eleitores, 31 não especificaram o sexo. Fonte: TSE-PI. Estatística do Eleitorado por Sexo e Faixa Etária (Simões-PI), outubro de 1992. Disponível em: . Acesso em: 21/01/2011. 180 Fonte: TRE-PI. Resultados Eleições - 1992. Disponível em: . Acesso em: 21/01/2011. 181 FARACO, Carlos Alberto. Linguagem e diálogo – as idéias linguísticas do Círculo de Bakhtin. 2ª ed. São Paulo: Editora Parábola, 2009, p.113. 182 REIS, Maria de Jesus de Araújo (Maria Lopes). Depoimento [julho, 2010]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 101

Nas eleições de 1996, o quadro eleitoral do município de Simões-PI era composto por 4.622 (49,5%) de mulheres e 4.702 (50.36%) de homens, o total de eleitores era de 9.337. Dessa forma, o número de eleitores masculinos continuou maior que o eleitorado feminino.183 No processo eleitoral em discussão, duas mulheres foram candidatas a vice- prefeita da coligação "PFL e PPB": Terezinha de Jesus Carvalho e Sousa (PFL), vitoriosa com 4.355, e seu candidato a prefeito, João Batista de Carvalho (PFL). A outra candidata a vice-prefeita da aliança PMDB e PT, Maria Aparecida dos Reis (PT), obteve 2.080 votos e seu candidato a prefeito Naziozênio Antônio Lacerda (PMDB), essa chapa não atingiu o quórum suficiente para ser eleita. No mesmo pleito, no total de vinte e um candidatos a vereador, cinco eram mulheres a saber: Maria Marlene de Morais (PFL) eleita com 370 votos; Maria Lisléia Lopes Nunes do Nascimento (PFL) também vitoriosa, obtendo 336 votos. As outras candidatas não eleitas e ficaram na condição de suplente: Ana Maria Conceição (PMDB), 178 votos; Argentina Cordeiro de Araujo Nunes (PFL), 332 votos; Maria Suely de Carvalho (PFL), 283 votos. Marlene Morais – como é conhecida – ocupou a 2ª secretária da Câmara de 1997/1998 e a 1ª secretária de 1999/2000, já Maria Lisléia foi presidenta da Câmara de 1999/2000. Desse modo, na gestão de 1997/2000, a vereadora Marlene Morais expõe os problemas enfrentados por ela no processo eleitoral bem como as decepções no Legislativo Municipal. A seguir a declaração da vereadora:

[...] a maior dificuldade é essa Mazé, que todo mundo só vota, só quer votar, a maioria só vota a troco de dinheiro, a gente sabe que há muitas traições por parte dos eleitores que lhe garante e tudo, aí chega outros candidatos, e, eles prometem também aos outros, mas sinceramente eu sei que a luta foi grande, mas, a maior foi a financeira, porque por mais que a gente tenha amizade, um serviço prestado, o eleitor chega e diz: - "eu estou precisando". A necessidade dos eleitores é grande, tem deles que passam dois, três anos doentes, esperando chegar a época da eleição para que possa adquirir um tratamento para um filho, uma pessoa da família. [...] eu tinha um engano, quando eu me candidatei, eu tinha essa vontade, eu pensava que os vereadores unidos tivessem FORÇA para lutar pelos nossos direitos, pelo direito do povo, só que chegando lá (na câmara) foi totalmente diferente, não

183 Desse total de eleitores, 13 não informaram seu sexo. Fonte: TSE-PI. Estatística do Eleitorado por Sexo e Faixa Etária (Simões-PI), outubro de 1996. Disponível em: . Acesso em: 22/01/2011. 102

era para isso que a maioria estava, estavam lá muitos para adquirirem para si e não para o povo [...].184

Terezinha de Jesus Carvalho e Sousa (professora Terezinha) se candidatou em 1992 a uma vaga para Câmara de Vereadores de Simões-PI, obteve uma votação expressiva, mas em relação ao coeficiente eleitoral, chegou somente à suplência. No processo eleitoral de 1996, concorreu pela segunda vez a um cargo eletivo na condição de vice-prefeita, conquistando um mandato para período de 1997 a 2000. No diálogo com a professora, ao investigar se a mesma pretendia se candidatar novamente, Terezinha foi categórica: "por enquanto, não":

O meu projeto político, como vice-prefeita de Simões (1997 a 2000) foi podado antes mesmo da concretização e socialização de idéias com o parceiro que eu defendia sobre desenvolvimento, respeito à vida, participação, democratização, mudanças no município [...]. Outros motivos me levaram a grande desmotivação, como: a falta de conscientização do povo na escolha de seus representantes: a comercialização do voto, a não participação e apoio do gênero feminino em defesa de candidatura daqueles que melhor poderia contribuir na administração. Enfim, a concepção que a maioria não tem sobre o que é "ser político".185

Para as eleições de 2000, os dados do IBGE registravam em Simões-PI uma população de 13.621 habitantes, sendo 6.819 mulheres e 6.802 homens.186 O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) constatou em junho de 2004, véspera das eleições, que em Simões-PI seus habitantes formavam um colégio eleitoral de 9.441 eleitores, desses, 4.744 eram masculino e 4.694 feminino. Em relação aos números, mesmo a população feminina sendo superior à masculina, conforme o Censo do IBGE de 2000, percebe-se que o número de eleitores mulheres é inferior à quantidade de homens. Isso implica em enfatizar que poucas mulheres tiveram interesse de participar do processo eleitoral como eleitoras.187 Nessa campanha eleitoral, não houve candidatas femininas, para as chapas majoritárias. A coligação formada pelos partidos "PFL, PPB, PSDB" saiu vencedora

184 MORAIS, Maria Marlene de. Depoimento [julho, 2010]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 185 SOUZA, Teresinha de Jesus Carvalho e. Depoimento [julho, 2010]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 186 Fonte: IBGE. Resultados do Censo/IBGE de 2000. Disponível em . Acesso em 18/01/2011. 187 Ressalto que três pessoas não informaram o sexo. Fonte: TSE-PI. Estatística do Eleitorado por Sexo e Faixa Etária (Simões-PI), junho de 2004. Disponível em: . Acesso em: 27/01/2011. 103

com o candidato a prefeito: Joaquim José de Carvalho - Valdeci (PFL) e seu vice- prefeito Aluizio Francisco de Morais, atingiram 4.792 votos, contra os candidatos a prefeito e vice da coligação "PPS e PMDB": Raimundo Nonato da Silva - Nonato (PPS) e Francisco Homero Moura de Carvalho (PMDB), que obtiveram 1.265 votos. Das vinte e seis candidaturas à Câmara Municipal de Simões-PI, três eram mulheres, das quais se elegeram: Maria das Graças Veloso Sousa (PFL), 233 votos; Maria Clenilda de Carvalho - Maria Luiza (PSDB), 199 votos. Não atingiu o coeficiente para se eleger: Maria Rosa de Carvalho (PFL), 209 votos. No entanto, cabe salientar que, algumas mulheres enfrentaram o desafio e colocaram seus nomes como candidatas nas eleições. É o caso da vereadora Maria das Graças Veloso Sousa – eleita para legislatura de 2001 a 2004. Inicialmente, a vereadora abordou que foi muito difícil para ela, e depois expôs que o acúmulo de funções desempenhada pela mulher aumenta sua responsabilidade no campo político:

[...] foi muito difícil pra mim, porque além de ser mulher sou de família pobre. A mulher em todos os sentidos é mais atuante, compromissada e mais sensível, mas infelizmente, as oportunidades são menos dentro da política [...]. Dentro da política a sua responsabilidade aumenta, pois já vem como dona de casa, esposa, mãe, e a confiança do público aumenta, ela passa a ser mais cobrada. Dá pra perceber que o homem tem muito medo de ser passado para trás.188

Para o ano de 2004, no quadro eleitoral de Simões-PI, o número total de eleitores desse município era de 9.441. Estava distribuído da seguinte maneira: mulheres 4.694, representava o percentual de 49,72%; homens 4.744 eleitores que alcançou nesse ano o equivalente a 50, 25%.189 Em Simões-PI, no pleito eleitoral de 2004, Maria Aparecida dos Reis - Cidoca, candidatou-se pela terceira vez ao cargo de vice-prefeita (PT), na chapa do médico João Batista de Carvalho (PMDB), candidato a prefeito. A coligação PMDB e PT conseguiu uma votação de 3.215190. A coligação vencedora formada pelo PFL, PSDB e PSB obteve um total de 4.522 votos, foi encabeçada por Joaquim José de

188 SOUSA, Maria das Graças Veloso. Depoimento [setembro, 2004]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 189 Ressalto que três pessoas não informaram o sexo. Fonte: TSE-PI. Estatística do Eleitorado por Sexo e Faixa Etária (Simões-PI), julho de 2004. Disponível em . Acesso em 24/01/2011. 190 Os partidos Partido Democrático Trabalhista (PDT), Partido Trabalhista do Brasil (PT do B) e o Partido Trabalhista Nacional (PTN) integravam a coligação do PMDB e PT. 104

Carvalho (Valdeci) – que alcançou nessa eleição seu quarto mandato eletivo como prefeito. O candidato a vice-prefeito da chapa foi Edilberto Abdias de Carvalho – irmão de João Batista, seu adversário nessa campanha eleitoral. No tocante ao aumento de poder político das mulheres do Araripe, na cidade de Simões-PI, para o Legislativo simonense, das trinta e duas candidaturas que concorreram à Câmara de Vereadores, nove eram mulheres, o que constituiu um avanço significativo no número de candidaturas femininas. Contudo, a representação na câmara diminui, porque somente Maria Clenilda de Carvalho - Maria Luiza (PSDB) tornou-se vereadora com uma votação de 614 votos – eleita em primeiro lugar – uma vez que a candidata à reeleição Maria das Graças Veloso Sousa (PFL) conseguiu 315 votos e ficou na suplência. Também ficaram na suplência as seguintes candidatas:

QUADRO X Resultado de candidatas a vereadoras em 2004 (Simões-PI)

Nome das candidatas a vereadora Partido Resultado eleitoral Maria Clenilda de Carvalho - Maria Luiza PSDB 614 votos - Eleita Maria das Graças Veloso Sousa PFL 315 votos - Não Eleita Francisca Evaldina de Carvalho Gomes PSDB 304 votos - Não Eleita Francisca de Sousa Nascimento PFL 117 votos - Não Eleita Maria Rosa de Carvalho PFL 84 votos - Não Eleita Maria do Socorro Carvalho Reis PDT 84 votos - Não Eleita Francisca dos Santos e Silva PMDB 41 votos - Não Eleita Evangelia Maria Pereira - Dandela PDT 23 votos - Não eleita Ana Maria da Conceição Silva PDT 05 votos - Não eleita Fonte: Dados organizado pela autora conforme informações do TRE-PI

A parlamentar Maria Luiza expôs as dificuldades que enfrentou nos processos eleitorais de 2000 e 2004, bem como a desqualificação por ser de família de baixo poder aquisitivo, além da condição de ser mulher, os concorrentes e algumas pessoas da sociedade teciam comentários desse nível: "a molequinha de Manuel Cearense não iria conseguir trinta votos". E na entrevista quando foi perguntada se encontrou alguma dificuldade, empecilho na sua candidatura por ser mulher ela respondeu:

Sim. Ainda tenho registrado o dia em que recebi a proposta de ser vereadora para concorrer à eleição de 2000. Pois logo que saiu o comentário deste convite, um vereador já eleito falou criticamente que a molequinha de Manuel Cearense não tirava trinta votos porque além de ser pobre era mulher e a família 105

não tinha como eleger um vereador. Essa crítica marcou muito e foi através dela que decidi me candidatar, segura de que seria eleita não importava a posição, mas que fosse eleita e pedi a Deus que este vereador também fosse para administrarmos juntos como legisladores do município, e em outra eleição quem ia nos avaliar seria o povo, ai veio a eleição de 2004 onde concorremos a uma nova chapa para legislar no nosso município, onde também recebi críticas absurdas tentaram denegrir a minha imagem moralmente diante do povo, mas como não conseguiram. Porque tudo que eu buscava era para o benefício do povo, tentaram me impossibilitar de tal proeza. Isso por partes de parceiros políticos.191

As narrativas das mulheres do Araripe mostraram os embates nas campanhas eleitorais entre os anos de 1982 a 2004. Com a inserção da mulher na ocupação dos espaços públicos, muitas coisas vêm mudando no Brasil e no mundo nas últimas décadas. O que contribuiu decisivamente foi o desencadeamento de ações pela busca de igualdade de condições com os homens e nas desconstruções dos estereótipos de gênero, o que discutirei no próximo capítulo.

191 ASSUNÇÃO, Maria Clenilda de Carvalho (Maria Luiza). Depoimento [setembro, 2004]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. Essa vereadora atualmente está no seu terceiro mandato, porque foi reeleita nas eleições de 2008 pelo PSB com 548 votos. 106

CAPÍTULO III

ARARIPE EM CENA: MULHERES E ELEIÇÕES

Promover a criação de mecanismos e apoiar os que já existem para assegurar a participação político-partidária das mulheres que, além da paridade nos registros das candidaturas, assegurem a paridade nos resultados, garantam o acesso igualitário ao financiamento de campanhas e à propaganda eleitoral, assim como sua inserção nos espaços de decisão nas estruturas dos partidos políticos. Da mesma forma, criar mecanismos para sancionar o descumprimento das leis neste sentido.192

192 Conferência Regional sobre a mulher da América Latina e do Caribe (XI). Brasília-DF, 13 a 16 de julho de 2010. Consenso de Brasília. Disponível em: . Acesso em: 22/03/2011. 107

Nesse capítulo, aborda-se o voto feminino e uma avaliação das cotas para as mulheres – como política de ação afirmativa que garantiram em parte o acesso delas nos espaços de representação política. Discorre também sobre as mulheres que entraram na cena política na região do Araripe entre os anos de 1982 a 2004, mostrando as facilidades encontradas por elas para se inserirem nos processos políticos e nos órgãos de poder nessa espacialidade. Por último, expõe os preconceitos e exclusões pelos quais passaram as mulheres em militância política partidária, bem como a relação familiar dessas atrizes do cenário do Araripe. Essas questões além de serem tratadas como uma problemática de gênero, também estão relacionadas às questões econômicas, ideológicas e partidárias.

3.1 UMA LUTA: VOTO FEMININO E COTAS

Nesse item, pretende-se debater sobre o percurso do voto feminino conjugado com as discussões sobre as cotas partidárias para mulheres e as lutas em torno dessas políticas públicas de ações afirmativas que foram implementadas no Brasil. Destarte, procura-se compreender a luta das mulheres pelo voto feminino no Brasil, no final do século XIX e início do século XX193. Para essa conquista no país, a tática das mulheres baseou-se em inverter o discurso sexista em benefício da luta feminista. Cabe enfatizar que "as mulheres, ao lado de outros recursos, buscaram insinuar-se de forma astuciosa, buscando aproveitar em todas as 'ocasiões', as possibilidades oferecidas para garantir o exercício da sua cidadania"194. No que diz respeito ao direito ao voto feminino deve-se salientar "[...] que no Brasil na primeira Câmara dos Deputados Gerais do Império, José Bonifácio advogou a causa do sufrágio de qualidade, defendendo o voto para as mulheres diplomatas por escola superior – mas a idéia não vingou"195. Nesse sentido, a luta das mulheres pela conquista do direito ao voto foi imprescindível para consolidação da democracia.

193 Um análise importante sobre a trajetória do voto feminino tem-se na obra de SOIHET, Rachel. O Feminismo tático de Bertha Lutz. Florianópolis: Ed. Mulheres; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2006. 194 Ibidem. p.22. 195 RODRIGUES, João Batista. Apud. TABAK, Fanny; TOSCANO, Moema. Mulher e política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. p.87. 108

Entre os direitos políticos pleiteados pelas mulheres desde suas primeiras batalhas em prol da igualdade com os homens, destaca-se o direito ao voto, isto é, que lhes seja facultado participar direta e ativamente da eleição dos órgãos de representação popular, base de qualquer regime que se pretenda democrático. A bandeira da luta pela conquista do direito de voto foi desfraldada nos idos da Revolução Francesa, mas a Comissão sobre a Situação Jurídica e Social da Mulher, da ONU, constatava, em 1966, que as mulheres podiam votar em 114 países, mas existiam ainda oito, nos quais tal direito não lhes era reconhecido.196

A longa trajetória de 1850197 até a conquista do voto feminino, em 1932, tornou-se importante para história das mulheres. Nesse período foram publicados muitos artigos e matérias jornalísticas dirigidos ao público feminino. Sobressaiu nesse momento histórico Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810-1885), considerada uma das primeiras feministas. Ela foi defensora da abolição da escravatura, ao mesmo tempo que também lutava pela melhoria da educação brasileira, emancipação feminina, bem como pela instauração da República. Cabe dar ênfase que, antes da primeira Constituição da República de 1891198, houve registro de manifestações de lutas femininas pelos direitos civis e sociais199, e em especial pelo voto. Vale destacar que, na conquista pelo sufrágio feminino, em setembro de 1890, o intelectual César Zama assumiu posição em favor das mulheres, propondo que no texto constitucional fosse garantido o direito ao voto. Alguns parlamentares constituintes se posicionaram a favor do sufrágio universal,

196 RODRIGUES, João Batista. Apud. TABAK, Fanny; TOSCANO, Moema. Op. cit., 1982. p.87. "Muito embora uma Convenção realizada em 1962 e aprovada pela Assembleia Geral da ONU tivesse proclamado explicitamente que 'as mulheres terão direito a votar em igualdade de condições, serão elegíveis para todos os órgãos públicos e terão direito a exercer toda classe de funções públicas'." LE COURIER. Apud. TABAK, Fanny; TOSCANO, Moema. Op. cit.,1982. p.87. 197 Antes desses marcos cronológicos estabelecidos é imprescindível enfatizar que em "1827 – A primeira Legislação no Brasil se relacionava à educação para as mulheres, que até então tinham direito apenas ao ensino elementar". Jornal Extra Classe - Sinpro-RS, nº 71 - Maio/2003. Voto feminino tem história. Disponível em: . Acesso em: 20/06/2011. 198 Antes na Constituição outorgada em 23/03/1824 pelo Imperador D. Pedro I tinham "artigos de direito político que não fazem exclusão expressa do sexo feminino, faltava o substrato histórico-social para que as mulheres se sentissem incluídas no texto constitucional como cidadãs e consequentemente com aqueles direitos conferidos aos homens". CARDONE, Marly A. Apud. TABAK, Fanny; TOSCANO, Moema. Op. cit.,1982. p.88. 199 Entende-se como direito civil "[...] os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. [...] São eles que garantem as relações civilizadas entre as pessoas e a própria existência da sociedade civil surgidas com o desenvolvimento do capitalismo. [...] Os direitos sociais garantem a participação na riqueza coletiva. Eles incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário, à saúde, à aposentadoria. A garantia de sua vigência depende da existência de uma eficiente máquina administrativa do Poder Executivo”. CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 10ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p.09-10. 109

em 1891, o deputado Almeida Nogueira teve a iniciativa de defender o voto feminino. Foi somente em janeiro daquele ano, que 31 parlamentares constituintes assinaram uma emenda ao projeto de Constituição, na qual concedia direito às mulheres votarem. Entretanto, a apresentação da emenda nesse período não foi sancionada porque, no referido texto constitucional, embora não vetasse o voto feminino, tornou- se inexequível a participação política das mulheres por considerá-las economicamente incapazes. Aqueles que se posicionavam contrariamente a permissão do direito de votar para as mulheres, se fundamentavam "[...] principalmente na falta de capacidade para exercer, com independência, o direito de voto e no desequilíbrio que essa concessão traria para o ambiente doméstico. As paixões políticas acabariam por dividir os casais e causar transtornos na administração das tarefas domésticas cotidianas"200. Na Constituição de 1891, alguns deputados acreditavam que o espaço exclusivo das mulheres seria o doméstico, como foi o caso de Muniz Freire que chegou a afirmar: "Estender o direito de voto à mulher é uma idéia imoral e anárquica porque, no dia em que for convertida em lei, ficará decretada a dissolução da família brasileira. A concorrência dos sexos nas relações da vida anula os laços sagrados da família"201. Nessa perspectiva vale esclarecer que:

Declarações como estas refletiam a ideologia patriarcal dominante em que a mulher era sinônimo de maternidade, lar e trabalhos domésticos. As primeiras manifestações feministas não questionaram as bases desta discriminação, o que só veio a ocorrer na década de 1960 e, com maior expressão, a partir de 1975. Nossas sufragistas limitaram-se a lutar pelos direitos políticos e posteriormente trabalhistas, sem questionar o papel que a sociedade lhes atribuía.202

Nessa Constituição, vários questionamentos foram feitos sobre a ausência de direito ao sufrágio feminino. Foram propostas várias emendas no artigo 70 para garantir o voto às mulheres, alguns parlamentares entenderam a inconstitucionalidade dessas emendas. Contudo, outros deputados apresentavam

200 CASTELO BRANCO, Pedro Vilarinho. Mulheres Plurais. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves (FCMC), 1996. p.126. 201 FREIRE, Muniz. Apud. TOSCANO, Moema. Mulher: trabalho e política – caminhos cruzados do feminismo. Rio de Janeiro: Cia Ed. Americana. 1975. p.35. 202 BORBA, Ângela. Legislando para as mulheres. In: BORBA, Ângela; FARIA, Nalu; GODINHO, Tatau. (Orgs.). Mulher e política: gênero e feminismo no Partido dos Trabalhadores. São Paulo: Editora Perseu Abramo, 1998. p.154. 110

argumentos de que na categoria "cidadãos brasileiros" estavam incluídas também as mulheres. No entanto, essa Assembleia não manifestou "[...] claramente o direito eleitoral às mulheres, numa época de tantas restrições à sua participação; por outro lado, não permitiu, porém, a Constituinte, que esta concessão fosse assinalada, 'expressamente a cidadãos varões'."203 Assim constata-se no texto constitucional: TÍTULO IV – Dos Cidadãos Brasileiros; SEÇÃO I – Das Qualidades do Cidadão Brasileiro:

Art 69 - São cidadãos brasileiros: 1º) os nascidos no Brasil, ainda que de pai estrangeiro, não, residindo este a serviço de sua nação; 2º) os filhos de pai brasileiro e os ilegítimos de mãe brasileira, nascidos em país estrangeiro, se estabelecerem domicílio na República; 3º) os filhos de pai brasileiro, que estiver em outro país a serviço da República, embora nela não venham domiciliar-se; [...] Art 70 - São eleitores os cidadãos maiores de 21 anos que se alistarem na forma da lei. § 1º - Não podem alistar-se eleitores para as eleições federais ou para as dos Estados: 1º) os mendigos; 2º) os analfabetos; 3º) as praças de pré, excetuados os alunos das escolas militares de ensino superior; 4º) os religiosos de ordens monásticas, companhias, congregações ou comunidades de qualquer denominação, sujeitas a voto de obediência, regra ou estatuto que importe a renúncia da liberdade Individual. § 2º - São inelegíveis os cidadãos não alistáveis.204

A dificuldade para implementação do voto feminino no Brasil relaciona-se a estrutura excludente do Estado. Em linhas gerais, quando foi proclamada a República brasileira, percebe-se toda uma "herança maldita" deixada pelo os governos imperais e que os presidentes da chamada "República Velha" não tomaram providências concretas para garantir os direitos sociais e civis ao conjunto da população. Nesse aspecto cabe assinalar que:

203 SOIHET, Rachel. Op. cit., 2006. p.24. Cabe pontuar que advogada "Myrthes de Campos, primeira mulher aceita na Ordem dos Advogados, requerer seu alistamento eleitoral, argumentando que a Constituição não negava esse direito às mulheres. Seu requerimento foi indeferido, o que não impediu a Dra. Myrthes a sua luta por este direito. Mas foi Leolinda Daltro, aquela que primeiro reivindicou o voto de forma organizada. Usando do mesmo argumento, sobre sua constitucionalidade, requereu seu alistamento que lhe foi, igualmente negado". Ibidem. p.25. 204 Presidência da República - Casa Civil - Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 24 de fevereiro de 1891). Disponível em: . Acesso em: 21/06/2011. 111

O processo de formação do Estado republicano brasileiro desenvolveu elementos que se configuraram como marcas ao longo de sua trajetória: o autoritarismo e o caráter excludente são partes do conjunto dessas particularidades. Tais aspectos são resultantes de uma configuração definida pela vasta extensão territorial, por uma distribuição irregular e por traços culturais e sociopolíticos bastante específicos. Nessas condições, a obra de construção da unidade nacional foi resultante de um conjunto de relações instituídas entre as entidades políticas – elite, povo e Estado – que foi se definindo, conforme as especificidades de cada região do país.205

Desse modo, vale salientar outro episódio ocorrido na luta pela conquista do voto feminino, que foi o da estudante de direito Mietta Santiago – de pseudônimo Maria Ernestina Carneiro Santiago Manso Pereira – de naturalidade mineira, que estudou na Europa. Em 1928, com 20 anos, retornou ao Brasil descobrindo que o veto ao voto feminino contrariava o artigo 70 da Constituição Brasileira de 1891. A advogada Mietta garantiu, por meio de um Mandado de Segurança, o direito de votar e de ser votada. E para deputada federal votou em si mesma, entretanto não foi eleita. Mietta era escritora, competente oradora, participava ativamente dos círculos de política, bem como das rodas de boêmias com os escritores mineiros, tais como Pedro Nava, Carlos Drummond, Abgar Renault entre outros. O poeta de Itabira, Drummond a homenageou com o poema "Mulher Eleitora"206. Efetivamente, esse Mandado de Segurança impetrado pela advogada Mietta não se ampliou para todas as mulheres. Contudo, as reivindicações e lutas em prol do voto feminino continuaram promovidas pelos movimentos de mulheres, intensificando-se em âmbito nacional através de muitas mobilizações. Tudo isso visando que, de fato e de direito, fosse implementado não somente o direito ao sufrágio feminino, mas também, o direito de ocupar espaços nos órgãos de decisões do Estado e na política partidária. Tendo como parâmetro a Constituição de 1891, a aprovação do voto feminino acontecera quase 41 anos depois. Em cartaz as lutas das mulheres.

205 ALVARENGA, Antonia Valtéria Melo. Desenvolvimento e segregação: políticas de modernização e isolamento compulsório de famílias afetadas pela lepra no Piauí (1930-1960), 2011. Tese (Doutorado em História) - Instituto de Ciências Humanas e Sociais e Filosofia - Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói-RJ, 2011. p.36. 206 Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais de São Paulo. Mulheres na política do Brasil. Disponível em: . Acesso em: 21/06/2011. 112

Figura 25 - Voto Feminino (Leolinda Daltro em Passeata, 1917)207 Fonte: VIRTUÁLIA - O Manifesto Digital

Em 28 de dezembro de 1918, foi publicado na Revista da Semana do Rio de Janeiro, na seção Cartas de Mulher, pela bióloga Bertha Lutz (1894-1976), um artigo no qual a feminista denunciou a discriminação de mulheres. Nesse artigo, ela "expressou suas percepções a respeito da emancipação feminina"208. O conteúdo da carta manifestava a seguinte posição:

Critica os homens pelo tratamento dispensado às mulheres que, sob a capa do respeito, tentavam mantê-las em permanente estado de infantilização. Exige o direito de ser respeitada como ser humano e não como objeto de luxo ou agrado, incapaz de pensar por si. Reconhece, porém, não serem eles os únicos responsáveis pelo estágio em que se encontravam as mulheres, embora tivessem uma grande parcela, já que “a legislação, a política e todas as instituições públicas” estão em suas mãos.209

Em torno dos direitos das mulheres Bertha organizou, junto com um grupo de mulheres, a Liga para Emancipação Intelectual da Mulher. Essa organização construía e defendia políticas na perspectiva de fazer com que o estado brasileiro pudesse reconhecer os direitos civis e sociais para as mulheres do país. Cabe enfatizar que desde 1923, outras militantes políticas no Brasil destacaram-se ao lado de Bertha Lutz na conquista pelo voto feminino, notabilizaram-se nessa luta: Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), Jeronyma de Mesquita (1880-1972), Margarida

207 Figura 25. BLOG VIRTUÁLIA - O Manifesto Digital. As sufragistas - a mulher e o direito ao voto. Foto: Leolinda Daltro em Passeata (1917). Disponível em: . Acesso em: 20/06/2011. 208 SOIHET, Rachel. Op. cit., 2006. p.133. 209 LUTZ, Bertha. Apud. SOIHET, Rachel. Op. cit., 2006. p.28. 113

Lopes de Almeida (1897-?), Alice Tibiriça (1886-1950), Ana Toledo, Heloísa Alberto Torres (1895-1977), Iveta Ribeiro, Nutta Bartlett James (1885-1976), Olga Braga e Leolinda de Figueiredo Daltro (c.1860-1935).210 Nessa atmosfera política de luta pela conquista do sufrágio feminino pontua- se que a articulação política entre Bertha Lutz – a frente da Federação Brasileira para o Progresso Feminino211 – com o Deputado Federal, Juvenal Lamartine de Faria (1874-1956), que há muito tempo era partidário do direito ao voto para as mulheres, o conduziu ao governo do Rio Grande do Norte em 1927. Na sua candidatura a governador anunciou, na plataforma política, amplos direitos políticos às mulheres, não só o de votar, como o de ser votada, declarando que a Constituição Federal não proibia às mulheres gozar de seus direitos políticos plenos e inalienáveis. Considerava um absurdo a privação de metade da população brasileira do exercício de seus direitos políticos.212 Nesse mesmo ano, ainda no Rio Grande do Norte, registraram o alistamento de Júlia Alves Barbosa (1898-1943) e Celina Guimarães Viana (1890-1972) – professora de Mossoró, considerada a primeira eleitora do Brasil – por meio da Lei estadual nº 660, de 25 de outubro de 1927, cujo Artigo 77 – das Disposições Gerais do Capítulo XII da referida lei declarava: "No Rio Grande do Norte poderão votar e ser votados, sem distincção de sexos, todos os cidadãos que reunirem as condições exigidas por esta lei"213. Nas imagens seguintes visualiza-se o perfil das primeiras eleitoras:

210 TABAK, Fanny; TOSCANO, Moema. Op. cit.,1982. p.89. 211 A Liga pela Emancipação Feminina em 1922, converteu-se em Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Nesse período foi organizado o I Congresso Feminista no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. "Já nesse congresso aparecem registros de representantes de São Paulo e Ceará. É interessante observar que ao longo da década de 1920 espalhou-se pelo país. Há notícia da criação de federações em Minas Gerais, Paraíba, Bahia, São Paulo, Ceará, Rio Grande do Norte. Não há dados ou alcance desses núcleos, mas mesmo que tenham sido muito pequenos é surpreendente que em época de comunicação tão difícil e de deslocamentos que exigiam longos períodos de tempo houvesse a proliferação das idéias dos direitos das mulheres em estados tão distante do Rio de Janeiro, centro principal de irradiação do movimento". PINTO, Céli Regina Jardim. Uma História do feminismo no Brasil. 1ª ed. São Paulo. Editora Fundação Perseu Abramo, 2003. p.23. 212 No ano de 1927 "registraram-se as primeiras eleitoras de lá e, em abril de 1928, 15 mulheres votaram no Rio Grande do Norte. Contudo, a Comissão de Poderes do Senado Federal, no ano de 1928, ao analisar essas eleições realizadas no Rio Grande do Norte, requereu em seu relatório a anulação de todos os votos que haviam sido dados as mulheres, sob a alegação da necessidade de uma lei em nível federal a esse respeito, sendo assim esses votos não foram reconhecidos". TELES, Maria Amélia de Almeida. Apud. SOW, Marilene Mendes. A Participação feminina na construção de um parlamento democrático. Monografia (Curso de Especialização em Instituições e Processos Políticos do Legislativo) Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento (CEFOR), da Câmara dos Deputados. Brasília-DF, 2009. p.18. 213 Documento impresso no acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Livro de Leis e Decretos, 1927 e digitalizado no sítio do Centro de Memória da Justiça Eleitoral Professor 114

Figura 26 - Júlia Alves Barbosa (esquerda) Figura 27- Celina Guimarães Viana (direita) – primeira eleitora no Brasil. Fontes: TOK de HISTÓRIA214 e Folha de Contagem215

A República Velha teve seu fim com a tomada do poder por Getúlio Vargas. Como na maioria dos países latino-americanos, não havia nenhuma oposição ao sufrágio feminino por parte do governo, a decisão do regime provisório de Vargas era favorável à criação de um novo código eleitoral que permitisse uma oportunidade de garantir o voto às mulheres. No final de agosto de 1931, o governo liberou um código provisório que concedia voto limitado às mulheres, ou seja, apenas determinados grupos de mulheres, como as mulheres solteiras ou viúvas com renda própria ou ainda as casadas com a permissão do marido podiam votar. Protestando que este código provisório era insuficiente, grupos feministas promoveram uma campanha para remover tais restrições antes que o mesmo fosse adotado. Assim, o novo Código foi instituído pelo Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, dava o direito de voto às mulheres sob as mesmas condições que os homens. No entanto, essa legislação restringia o direito do voto aos mendigos, analfabetos entre outros. Nesse Código Eleitoral, o Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, decretava o seguinte:

Tarcísio Medeiros. Disponível em: . Acesso em: 22/06/2011. 214 Figura 26. WORDPRESSTOK de HISTÓRIA. A primeira eleitora do Seridó Potiguar - Júlia Alves Barbosa. Disponível em: . Acesso em: 22/06/2011. 215 Figura 27. Folha de Contagem. As mulheres na política brasileira - Celina Guimarães Viana. Disponível em: < http://www.folhadecontagem.com.br/portal/index.php/destaques/95-link-1-edicao-da- semana/1485-homenagem-as-mulheres.html>. Acesso em: 22/06/2011. 115

CÓDIGO ELEITORAL PARTE PRIMEIRA Introdução Art. 1º Este Código regula em todo o país o alistamento eleitoral e as eleições federais, estaduais e municipais. Art. 2º É eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na forma deste Código. [...] Art. 4º Não podem alistar-se eleitores: a) os mendigos; b) os analfabetos; c) as praças de pré, excetuados os alunos das escolas militares de ensino superior. Parágrafo único. Na expressão praças de pré, não se compreendem: 1º) os aspirantes a oficial e os sub-oficiais; 2º) os guardas civis e quaisquer funcionários da fiscalização administrativa, federal ou local.216

Uma comissão de mulheres foi recebida no Palácio do Catete pelo presidente Getúlio Vargas, por volta do dia 30 de junho de 1932. Na ocasião, Vargas recebeu um memorial com mais de cinco mil assinaturas, no qual reivindicava-se a indicação da militante feminista Bertha Lutz para participar da comissão que deveria elaborar o anteprojeto da nova Constituição Brasileira. Entretanto, com mais de uma semana depois, insurgiu a Revolução Constitucionalista em São Paulo, e todas as atenções foram dirigidas ao conflito. Em 27 de outubro de 1932, Getúlio satisfez as solicitações das militantes feministas e nomeou a comissão do anteprojeto que foi composta por 23 pessoas, na qual, além de Bertha Lutz, estava também Nathércia da Cunha Silveira. Em todo o Brasil foi realizado o alistamento eleitoral. Porém, em alguns Estados, nem todas as mulheres despertaram interesses para efetuarem sua inscrição, por outro lado a mineira de Itabira, Virgínia Augusta de Andrade Lage, numa demonstração de entusiasmo, se tornou eleitora aos 99 anos de idade.217 O Presidente Getúlio Vargas normatizou as eleições no Brasil assinando o Decreto que instituiu o Código Eleitoral. Posteriormente, essa legislação foi incorporada à nova Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 16 de Julho de 1934) conforme se comprova no TÍTULO III - Da Declaração de Direitos; CAPÍTULO I - Dos Direitos Políticos:

216 Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH/UFRJ). Código Eleitoral, decreto n. 21.076, de 24 de fevereiro de 1932. Disponível em: . Acesso em: 22/06/2011. 217 SOW, Marilene Mendes. Op. cit., 2009. p.18. 116

Art 108 - São eleitores os brasileiros de um e de outro sexo, maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei. Parágrafo único - Não se podem alistar eleitores: a) os que não saibam ler e escrever; b) as praças-de-pré, salvo os sargentos, do Exército e da Armada e das forças auxiliares do Exército, bem como os alunos das escolas militares de ensino superior e os aspirantes a oficial; c) os mendigos; d) os que estiverem, temporária ou definitivamente, privados dos direitos políticos. Art 109 - O alistamento e o voto são obrigatórios para os homens e para as mulheres, quando estas exerçam função pública remunerada, sob as sanções e salvas as exceções que a lei determinar.218

O direito de voto e outras políticas civis e sociais foram mantidos e até mesmo ampliados na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Indubitavelmente, tal constituição trouxe avanços significativos para o conjunto das mulheres brasileiras, cabe mencionar o "Artigo 5º, Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: inciso I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, [...]"219. No tocante ao sistema eleitoral, a Carta Magna em seu TÍTULO II - CAPÍTULO IV - Dos Direitos Políticos, manteve o direito a todos brasileiros votarem e serem votados, consoante a legislação abaixo:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: [...] § 1º - O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. § 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.220

218 Presidência da República - Casa Civil - Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 16 de julho de 1934). Disponível em: . Acesso em: 22/06/2011. 219 Presidência da República - Casa Civil - Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil (de 05 de outubro de 1988). Disponível em . Acesso em 23/06/2011. 220 Presidência da República - Casa Civil - Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil (de 05 de outubro de 1988). Disponível em . Acesso em 23/06/2011. 117

Evidentemente que tratar sobre a ampliação dos direitos civis e sociais para as mulheres no Brasil tem sido uma preocupação desse estudo. Além do voto feminino, existem e persistem as cotas – que se constituem numa outra política pública de ação afirmativa221 de ampliação e aprofundamento da democracia no país. Dessa forma, a participação das mulheres nos processos eleitorais e órgãos institucionais tem como objetivo aumentar o poder do sujeito feminino nesses espaços de representação política. Com mais de meio século da conquista do direito de voto, desencadeou um denso e importante debate acerca da participação e representação política das mulheres. Deve-se salientar que, em vários países, inclusive no Brasil, é reduzido o número de mulheres nos espaços de poder. O movimento feminista, sobretudo dos anos 1970, apontou essa redução como um problema – "que não se tratava do reflexo de uma pretensa inclinação menor das mulheres para a participação na vida pública, mas do sintoma de uma exclusão, com base estrutural que devia ser combatida"222. As políticas públicas relacionadas às mulheres brasileiras têm sido impulsionadas pelo esforço de mulheres intelectuais, de militantes dos movimentos sociais e de outras organizações femininas que lutam pela igualdade de gênero, como também pela ampliação desse público nos espaços de decisões da política governamental. As transformações nos espaços de atuação das mulheres no Brasil dos últimos 40 anos, as mudanças no cotidiano feminino e o desafio das mobilizações do movimento de mulheres têm como pressuposto combater ideologicamente a cultura de submissão, na busca pela ampliação da representação política, tanto no Executivo quanto no Legislativo. Porém, não tem sido fácil, diante dos valores

221 "Atualmente, as ações afirmativas podem ser definidas como um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação racial, de gênero e de origem nacional, bem como para corrigir os efeitos presentes da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a educação e o emprego. Diferentemente das políticas governamentais antidiscriminatórias baseadas em leis de conteúdo meramente proibitivo [...], as ações afirmativas têm natureza multifacetária, e visam a evitar que a discriminação se verifique nas formas usualmente conhecidas – isto é, através de mecanismos informais, difusos, estruturais, enraizados nas práticas culturais e no imaginário coletivo". GOMES, Joaquim B. Barbosa. A recepção do instituto da ação afirmativa pelo direito constitucional brasileiro. In: SANTOS, Sales Augusto. (Org.). Ações afirmativas e combate ao racismo nas Américas. Brasília: MEC/SECAD, 2005. p.53 222 MIGUEL, Luís Felipe; QUEIROZ, Cristina Monteiro de. Diferenças regionais e o êxito relativo de mulheres em eleições municipais no Brasil. In: Revista Estudos Feministas. v. 14, n. 2. Florianópolis, mai./ago. 2006. p.363. 118

sexistas vigentes na sociedade, no debate e nas lutas do movimento feminista por uma maior inserção feminina nos espaços de decisões de poder. A sub- representação política de mulheres e outros grupos sociais, trabalhadores, negros e analfabetos foi apontada como estrangulamento dos sistemas democráticos contemporâneos. A luta das mulheres é permanente, indubitavelmente a tarefa colocada para os segmentos organizados femininos deve caminhar na perspectiva de conquistar efetivamente espaços nos órgãos de decisões de poder. Para tanto, é necessário refletir sobre as relações de gênero e dos direitos de mulheres e homens na sociedade brasileira, isso significa tomar conhecimento que:

mulheres e homens podem aprender a conviver mantendo relações sociais compatíveis com a dignidade humana, respeitando suas diferenças desde que as estruturas da sociedade acolham e promovam toda pessoa humana, independentemente de sexo, raça/etnia e outras diversidades. As relações sociais são construídas e não dadas pela natureza. As diferenças biológicas não podem ser usadas como justificativa para manter a opressão e, por conseguinte a desigualdade.223

Nesse sentido, cabe fazer um percurso histórico sobre a conquista da representação feminina na política partidária e eleitoral no Brasil. No Rio de Janeiro, na época Distrito Federal, organizou-se a fundação do Partido Republicano Feminino 224 em 1910, protagonizado pelas ativistas políticas, professora Leolinda de Figueiredo Daltro (1860-1935) e a escritora Gilka Machado (1893-1980), entre outras feministas. Esse evento constituiu-se num marco histórico importante porque, nas diretrizes programáticas desse partido, defendia-se que os cargos públicos fossem abertos a todos os brasileiros, sem distinção de sexo. Ainda na Capital Federal, Leolinda Daltro organizou, no ano de 1917, uma passeata com quase 100 mulheres pelo direito ao voto.

223 TELES, Maria Amélia de Almeida. O que são direitos humanos das mulheres. São Paulo: Brasiliense, 2007. p.57. 224 Em relação aos direitos das mulheres, alguns parágrafos do regimento desse partido manifestava da seguinte maneira: "§ 2º Pugnar pela emancipação da mulher brasileira, despertando-lhe o sentimento de independência e de solidariedade patriótica, exaltando-a pela coragem, pelo talento e pelo trabalho diante da civilização e do progresso do século.[...]. § 4º pugnar para que sejam consideradas extensivas à mulher as disposições constitucionais da República dos Estados Unidos do Brasil, desse modo incorporando-a na sociedade brasileira. [...]. § 7º combater, pela tribuna e pela imprensa, a bem do saneamento social, procurando, no Brasil, extinguir toda e qualquer exploração relativa ao sexo". REGIMENTO DO PARTIDO REPUBLICANO FEMININO. In: Diário Oficial, Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 1910. 119

Figuras 28 e 29 - Alzira Soriano (esquerda) e Neném Paiva/PSD (direita) Respectivas: primeira prefeita do Brasil (1928) e primeira vereadora do Brasil (1935) Fontes: O Godeirense e Jornal Sul 21225

Nas figuras acima, tem-se as imagens de duas protagonistas na participação em eleições municipais no Brasil. Em 1928, Luiza Alzira Soriano Teixeira de Souza – Alzira Soriano (1897-1963), apoiada por Juvenal Lamartine, elegeu-se prefeita do Município de Lajes-RN, tendo sido a primeira prefeita eleita no Brasil e a ocupar um cargo eletivo na América do Sul226. Nas eleições municipais de 1935, no município de Muqui-ES, foi eleita pelo Partido Social Democrático (PSD) Maria Felizarda de Paiva Monteiro da Silva – conhecida como Neném Paiva e considerada a primeira vereadora da história brasileira. Joana da Rocha Santos – D. Noca Santos (1892-1970), tornou-se a segunda prefeita eleita no Brasil (de 1934 até 1936) na cidade de São João dos Patos-MA. Nesse sentido, ela seria primeira prefeita eleita do Brasil, em virtude de que sua eleição ocorreu após a promulgação do Código Eleitoral de 1932. Joana da Rocha ocupou o mandato de prefeita em três gestões: 1936-1945, 1945-1951 e 1956- 1961.227

225 Figura 28. BLOG O GODEIRENSE. Alzira Teixeira Soriano: Primeira Prefeita do Brasil. Disponível em: . Acesso em: 23/06/2011. Figura 29. Jornal Sul 21. Neném Paiva foi a primeira vereadora da história do Brasil. Disponível em . Acesso em: 23/06/2011. 226 Em 1945, Alzira Soriano elegeu-se vereadora pelo Município de Jardim de Angicos, cargo para o qual foi eleita por três vezes pelo União Democrática Nacionalista (UDN), sendo que até 1958 liderava a bancada desse partido, tendo ocupado a presidência por diversas vezes. RODRIGUES, João Batista. Apud. TABAK, Fanny; TOSCANO, Moema. Op. cit., 1982. p.92. 227 São João dos Patos-MA. História do Município. Disponível em: . Acesso em: 23/06/2011. 120

Figura 30 - Carlota Pereira de Queirós (esquerda) Figura 31 -Maria do Céu Fernandes de Araújo (direita) Respectivas: primeira deputada federal constituinte (1934) e primeira deputada estadual (1935) Fontes: Mulheres no Poder e Site do Senado Federal Brasileiro228

Nas imagens anteriores, destaca-se duas mulheres pioneiras do Legislativo. No ano de 1933, foram eleitas oito deputadas estaduais em todo o Brasil. Nesse mesmo ano, foi eleita a médica e pedagoga Carlota Pereira de Queirós (1892- 1982)229, primeira deputada federal pelo Partido Constitucionalista de São Paulo. Em suas propostas de ações para o Parlamento defendia a alfabetização e assistência social, permanecendo na Câmara até 1937, momento da história do país em que o Congresso Nacional fechou com a instalação do Estado Novo (1937-1945). Em 1935, Maria do Céu Fernandes de Araújo (1910-2001) foi eleita com 12.058 votos, tornando-se a primeira deputada estadual no Rio Grande do Norte, mas por seu caráter opositor, teve seu mandato cassado em 1937, no período do Estado Novo.

228 Figura 30. MULHERES NO PODER. A primeira parlamentar - Carlota Pereira de Queiroz. Disponível em: . Acesso em: 23/06/2011. Figura 31. ALVES FILHO, Garibaldi (senador). Maria do Céu Fernandes: a primeira deputada. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/senadores/senador/garibaldi/ fernande.asp>. Acesso em: 23/06/2011. 229 Carlota Pereira de Queirós foi "eleita constituinte, em 3 de maio de 1933, pela 'Chapa Única por São Paulo Unido!', ela é a primeira mulher a ocupar um cargo de deputado federal no Brasil e a única a assinar a Constituição de 1934, ao lado dos outros 252 constituintes, todos homens. Finda a Constituinte, ela é reeleita, a 14 de outubro de 1934, desta vez para um mandato na Câmara Federal,[...]". SCHPUN, Mônica Raisa. Entre feminino e masculino: a identidade política de Carlota Pereira de Queiroz. In: Cadernos Pagu (12). Campinas-SP, 1999. p.333. 121

Figura 32 - Bertha Maria Julia Lutz - Deputada Federal em 1936 Fonte: reprodução - Jornal Sul 21230

Bertha Lutz foi outro destaque na conquista de uma vaga no Parlamento Federal para a constituinte de 1934231, teve sua campanha impulsionada em torno dos direitos das mulheres. Ela ficou na primeira suplência de deputada tornando-se a segunda parlamentar ao lado de Carlota Pereira Queiroz. A chegada de Bertha ao Parlamento se deu em virtude do falecimento do deputado Cândido Pessoa, no lugar do qual assumiu o mandato em 28 de julho de 1936 até 10 de novembro de 1937. Ao contrário das eleições de 1934, no processo eleitoral realizado em 02 de dezembro de 1945 não foi eleita nenhuma mulher para o Parlamento Federal, a despeito de que existirem dezoito candidaturas femininas. Em parte, um dos motivos da ausência de mulheres no legislativo federal foi atribuído ao Estado Novo (1937- 1945) que se instituiu pela força e repressão. No entanto, essa argumentação não é suficiente para explicar tal ausência, "[...] já que se observou intensa participação feminina nas lutas pela paz, pela derrubada do Estado Novo e contra a carestia, em sindicatos e associações de bairros e até mesmo em ligas femininas"232. Outra razão

230 Figura 32. Jornal Sul 21. Dilma chega ao poder depois de quase 180 anos de lutas pela emancipação feminina. Disponível em: . Acesso em: 23/06/2011. 231 Nas eleições de 1934, "[...] concorreram três candidatas de São Paulo e uma do Distrito Federal. [...] Bahia, São Paulo, Sergipe e Amazonas também elegeram mulheres para os parlamentos estaduais. O preconceito contra as sufragistas, o não envolvimento de mulheres de outras classes e o pequeno número de candidatas pode explicar o fraco desempenho nesta primeira eleição". BORBA, Ângela. Legislando para as mulheres. In: BORBA, Ângela; FARIA, Nalu; GODINHO, Tatau. (Orgs.). Op. cit., 1998.p.155. 232 BORBA, Ângela. Legislando para as mulheres. In: BORBA, Ângela; FARIA, Nalu; GODINHO, Tatau. (Orgs.). Op. cit., 1998. p.155. 122

explicativa para tal fato, seria que as discussões relacionadas às questões femininas não foram tratadas no período eleitoral233. É importante salientar que, no período compreendido entre os anos de 1946 a 1982, a participação feminina no Legislativo Federal não se modificou. No ano de 1946, dentre as oito candidatas, chegaram às Assembleias Legislativas, em todo território nacional, apenas cinco mulheres. Atingiu esse êxito a educadora e escritora Judith Leão Castello Ribeiro (1898-1982) que conseguiu um mandato parlamentar na Assembleia Legislativa pelo PSD do Estado do Espírito Santo, com 1.170 votos (4,5% do eleitorado da época). Judith Leão cumpriu mais três mandatos e se destacou pela defesa da educação. Constata-se nessa temporalidade (1946-1982) a presença de duas senadoras. A primeira, no ano de 1979, Eunice Mafalda Berger Michiles – Eunice Michiles (1929), que assumiu a vaga de senadora pelo Estado do Amazonas por causa da morte do titular João Bosco de Lima. Filha de missionários adventistas, se tornou a primeira mulher a ocupar o Senado Federal. As proposições defendidas por Eunice Michiles em seu mandato legislativo foram: direitos da mulher, liberdade religiosa, desenvolvimento sustentável e educação ecológica. Outra proposição apresentada pela senadora foi relacionada ao planejamento familiar, para ela o debate sobre a descriminalização do aborto deveria ser amplamente discutido na sociedade, bem como reivindicava que a população deveria ter o direito à informação e o acesso à contracepção. Eunice ainda ocupou o cargo de deputada estadual na legislatura de 1974 a 1978 pelo Estado do Amazonas. A Segunda a ocupar uma cadeira no Senado Republicano brasileiro em 1981, foi a médica Laélia Contreiras Agra de Alcântara – conhecida por Laélia de Alcântara (1923-2005), sendo a primeira mulher negra a exercer o mandato de senadora pelo Estado do Acre. Ela iniciou sua carreira pelo PTB, quando foi eleita suplente de deputada federal em outubro de 1962.234 A seguir, visualiza-se as imagens das duas senadoras.

233 No ano de 1946 realizaram eleições para o DF (na época Guanabara), municipais e estudais, todos os partidos que concorreram nesse processo eleitoral indicaram candidatas mulheres e muitas foram eleitas. "Pela primeira vez no Brasil a campanha eleitoral em favor da eleição de mulheres para o legislativo teve significado diferente das anteriores: foi um fator das organizações das massas femininas, em prol de seus problemas específicos, o que contribuiu para a formação de uma nova mentalidade política, entre as mulheres das camadas mais pobres". TABAK, Fanny; TOSCANO, Moema. Op. cit.,1982 p.94-95. 234 "Em 1966, mais de trinta anos portanto, depois de aprovado o Código Eleitoral que assegurou a mulher o direito de votar e ser votada, um levantamento na Câmara dos Deputados, consignava a 123

Figura 33 - Eunice Mafalda Berger Michiles (esquerda) Figura 34 - Laélia Contreiras Agra de Alcântara (direita) Respectivas: primeira (1979) e segunda senadoras do Brasil Fonte: Site Diálogo Universitário e Senado Federal Brasileiro235

Com efeito, cabe reconhecer que os movimentos sociais e as organizações femininas desempenharam um papel significativo na conquista do direito ao voto, entre outras políticas públicas para as mulheres. A inserção das mulheres na representação institucional começou a ocorrer com maior força a partir dos anos de 1980. É nesse período que,

o Brasil começava uma abertura política, movida pela insatisfação crescente dos brasileiros, que se revelava na quantidade de protestos e manifestações de conteúdos específicos e gerais: movimento dos estudantes, movimento do custo de vida, movimentos populares dos bairros, movimento existência de somente 16 mulheres prefeitas municipais, distribuídas por apenas 8 Estados da Federação: 2 no Amazonas; 1 no Pará; 3 no Maranhão; 1 no Piauí; 2 na Paraíba; 4 no Rio Grande do Norte; 2 em São Paulo e 1 em Goiás. No mesmo ano de 1966, havia na Câmara de Deputados apenas duas deputadas federais (uma de São Paulo e outra da Bahia – ambas do PTB). Em 1968, o número aumentou para seis: 5 do MDB (Acre, Minas, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo) e uma da Arena (Bahia). Em todo país, o número de deputados às Assembleias Legislativas Estaduais não atingia a uma dúzia; eram onze, no total, assim distribuídas: 2 em São Paulo (1 do PTB e 1 da Coligação Janista); 1 em Goiás (Coligação Popular PTB-PSB); 2 na Bahia (Aliança Trabalhista PTB- PR-PL); 4 na Guanabara (PSB, UDN, PTB); 2 em Minas (PTB, PDC) e uma no Rio Grande do Sul (PTB)". TABAK, Fanny; TOSCANO, Moema. Op. cit.,1982. p.95-96. 235 Figura 33. BARBOSA, Henrianne. Eunice Michiles: Diálogo com a primeira senadora do Brasil. In: Diálogo Universitário - um periódico internacional de fé, pensamento e ação. Disponível em: . Acesso em: 23/06/2011. Figura 34. Senado Federal Brasileiro. Subsecretaria. Senadoras dados biográficos (1979-2004) - Laélia Contreiras Agra de Alcântara. Disponível em: . Acesso em: 23/06/2011. 124

das mulheres, movimento pela anistia, movimento operário. Apesar da abertura política e da movimentação da sociedade

brasileira, atentados a bomba ocorreram na primeira metade da década de 1980 no Brasil. Existia ainda um forte esquema repressivo, com prisões e atentados em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, os quais envolviam militares, que, com o objetivo de aumentar o clima de terror, tentavam responsabilizar a esquerda política. A década de 1980 pode ser caracterizada como a década de redescoberta. A Igreja entra em um novo momento da era cristã, bem diferente daquele em que a opressão e a intolerância ideológica eram utilizadas como instrumentos de afirmação de poder.236

Existem muitas portas a serem abertas pelas lutas das mulheres, na perspectiva de se efetivar os direitos de representação e participação feminina na política brasileira. Com a implantação do sistema de cota no país possibilitou, de certa forma, o acesso das mulheres aos órgãos de poder nos Municípios, Estados e no País. Esse tipo de política contribuiu para o aumento do poder feminino e garantiu, em parte, o aprofundamento da democracia brasileira. Desse modo, ao se discutir sobre a presença das mulheres em pleitos eleitorais, procura-se salientar sobre a questão das cotas no Brasil. Cabe nesse sentido, citar o exemplo do Partido Democrático Trabalhista-PDT que em seu Encontro Nacional promoveu debates em torno das cotas. Numas das pautas, o PDT defendia que 30% das vagas das direções dos partidos deveriam serem reservadas para mulheres.237 Em 1991, o PT seguiu nessa mesma direção e sinalizou positivamente adotando o sistema de cotas dentro das instâncias partidárias. Atualmente, as direções municipais, estaduais e nacional reservam 30% das cotas para as mulheres.238

236 SOUSA, Nalva Maria Rodrigues de. A política de salto: a participação feminina na política piauiense (1970 a 1998). Dissertação (Mestrado em História do Brasil) – Programa de Pós-graduação em História do Brasil. Teresina-PI, 2008. p. 29-30. 237 LIGOCKI, Malô Simões Lopes. Discriminação positiva, ações afirmativas: em busca da igualdade. Brasília-DF: CFEMEA, 1995. p.63. "O PPS também é favorável ao sistema de cotas por sexo e desde 1988 a direção do partido instituiu cotas para a composição do diretório nacional". Jornal CFEMEA. Partidos políticos ainda não têm levantamento de cotas por sexo. n. 91, agosto de 2000. Disponível em: . Acesso em: 24/06/2011. 238 Além dessa experiência de representação no Partido dos Trabalhadores. Em agosto de 1993, a CUT-Central Única dos Trabalhadores, após intensa discussão, decide pela adoção de um percentual mínimo de 30% e máximo de 70% para cada sexo, nas instâncias de suas direções, em âmbito nacional, estadual e regional. FOLHA de São Paulo, São Paulo, 20 junho de 1998. 125

Destarte, na metade da década de 1990 a deputada federal , filiada ao PT-SP teve a iniciativa de apresentar o projeto de Lei nº 9.100, de 29 de setembro de 1995, que foi sancionada pelo pres. Fernando Henrique Cardoso e exposto a seguir: Estabelece normas para a realização das eleições municipais de 3 de outubro de 1996, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: [...] Art. 11. Cada partido ou coligação poderá registrar candidatos para a Câmara Municipal até cento e vinte por cento do número de lugares a preencher. [...] § 3º Vinte por cento, no mínimo, das vagas de cada partido ou coligação deverão ser preenchidas por candidaturas de mulheres. [...] Brasília, 29 de setembro de 1995; 174º da Independência e 107º da República.239

Essa lei instituiu o sistema de cotas para mulheres, possibilitando a inserção feminina na política partidária. Aprovada em 1995, passou a vigorar em 1996, ano que aconteceu somente eleições municipais e favoreceu o ingresso das mulheres na bancada da instância do Poder Legislativo Municipal. Alguns trabalhos indicam um aumento significativo conforme o estabelecido por essa política afirmativa, na qual determinava 20%. No tocante às eleições de 1996, embora se considerasse positivo o resultado alcançado pelas mulheres candidatas "[...] a falta de dados relativos a eleições anteriores não permitia estabelecer uma série estatística mínima, dificultando assim conclusões mais categóricas. Noutras palavras, existiam informações para 1992 e para 1996, mas não para 1988, últimas eleições municipais antes de 1992"240. Com adoção da política de cotas em 1996, a análise desse processo eleitoral demonstrou um avanço no número de mulheres candidatas. Os percentuais apresentados para candidaturas de vereadoras ficaram da seguinte forma: o número de candidaturas feminina passou de 7,5% em 1992 para 11,2% em 1996, que constituiu num aumento de 3,7%.

239 BRASIL. Câmara dos Deputados - Centro de Documentação e Informação. Lei n. 9.100, de 29 de setembro de 1995. Disponível em: . Acesso em: 24/06/2011. 240 ARAÚJO, Clara. Potencialidades e limites da política de cotas no Brasil. In: Revista Estudos Feministas. UFRJ. Rio de Janeiro, ano/v. 9, n.1, 2º semestre de 2001– UFRJ. Rio de Janeiro. p.237. 126

Em 30 de setembro de 1997, foi votada a lei nº 9.504 ampliando o percentual de cotas de 20% para 25% em 1998, e posteriormente 30% do número para partidos ou coligações. Marco Antonio de Oliveira Maciel – Marcos Maciel, vice-presidente da República – no exercício do cargo de presidente da República, estabeleceu as normas para as eleições, conforme se verifica no texto da legislação abaixo:

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

DO REGISTRO DE CANDIDATOS

Art. 10. Cada partido poderá registrar candidatos para a Câmara dos Deputados, Câmara Legislativa, Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais, até cento e cinqüenta por cento do número de lugares a preencher. [...]

§ 3º Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido ou coligação deverá reservar o mínimo de trinta por cento e o máximo de setenta por cento para candidaturas de cada sexo.

Brasília, 30 de setembro de 1997; 176º da Independência e 109º da República.241

Após as eleições municipais de 2000, com a disponibilização dos dados desse pleito eleitoral, pode-se constatar que não se modificou substancialmente a situação feminina frente à participação política nos órgãos do legislativo. Para o cargo de vereador existia uma meta a atingir em 1996, que era de 18%, chegando a 19,2% de mulheres em 2000. Embora esse resultado mostrasse um aumento expressivo, deve-se levar em conta que no ano de 2000, em vez de 20%, foi reservado o percentual de 30% para as cotas. Em relação às eleitas, os indicadores permaneceram praticamente iguais, uma vez que nas eleições de 1996, atingiram o êxito com o percentual de 11,2% contra os 11,6% de mulheres, em 2000. Como se pode observar, a desenvoltura política das mulheres no pleito eleitoral de 2000 comparativamente com a de 1996, sofreu pouca alteração242. Cabe reforçar que, essas estatísticas tornam-se

241 BRASIL. Câmara dos Deputados - Centro de Documentação e Informação. Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. Disponível em: . Acesso em: 24/06/2011. 242 "A lei 9.504/97 possui duas grandes diferenças em relação à 9.100/95, além do percentual de candidaturas femininas estipuladas pelas cotas: 1) a lei de 1997 não institui uma cota mínima para mulheres, e sim estabelece um sistema de cotas mínimas e máximas para as candidaturas de 127

imprescindíveis porque discorrem sobre pleitos eleitorais praticamente idênticos e relacionam-se com um momento histórico do país – situação na qual foram adotadas as cotas partidárias para as mulheres. A aprovação da lei de cotas traduz o reconhecimento das lutas políticas dos grupos envolvidos. A mudança na legislação eleitoral no que concerne a cotas para candidaturas femininas representou uma resposta, em sentido mais prático, ao problema de sub-representação feminina na política, ou seja, uma ação afirmativa necessária mas que não é suficiente. Embora a lei estabeleça a reserva de vagas para cada sexo nas candidaturas (no mínimo 30% e no máximo 70%) e mesmo com o crescimento do número de mulheres eleitas, o percentual da presença feminina nos espaços da política, ainda está muito distante de alcançar um patamar proporcional em relação à representação masculina. Com efeito, entende-se que a força para definir os eleitos e eleitas se efetivam com as candidaturas, não apenas lançadas mas também apoiadas, inclusive pelas militantes de movimentos sociais, em todas as etapas das candidaturas e também com atuações nos partidos. Nessa perspectiva, a política de cotas não seguiria com mecanismos de interesses partidários de dominação masculina, pois vale ressaltar que, para ampliação da presença feminina nos espaços de poder, a política de cotas não é a única garantia para proporcionar igualdade no campo político. Por fim, vale salientar que parte das instituições políticas do estado brasileiro se constituíram por práticas excludentes e discriminatórias em relação às mulheres e às minorias243 em geral. Os movimentos sociais de mulheres empreenderam muitas lutas para que a nação brasileira se tornasse democrática, uma dessas foi à conquista do voto feminino, conseguido no ano de 1932. Desse modo, destaca-se que a conquista pelo voto feminino e das cotas – como uma política pública de ação mulheres e homens; e 2) a lei amplia a âmbito de aplicação aos cargos legislativos de todos os níveis. Foi a primeira conseqüência prática da participação do nosso País na Conferência Mundial da Mulher, realizada em Beijing, China, em 1995, que recomendou aos países a adoção de Ações Afirmativas para se apressar a diminuição da exclusão das mulheres e se chegar à igualdade entre os sexos nos centros do poder político". DEMOCRATAS. Mulher, Gênero & Igualdade. Disponível em: . Acesso em: 24/06/2011. p.31. 243 "Os registros graças aos quais um movimento minoritário pode tomar forma são o cultural e o político. O perigo que convém assinalar é que corra sempre o risco de se perder em um ou em outro, o unicamente cultural ou o unicamente político. Enfatizo ideologia política, uma vez que a minoria não possui força política efetiva, pelo menos enquanto se mantém as estruturas centralizadoras que eliminam a possibilidade social de que uma minoria se manifeste por sua própria conta: cai-se, então, na ideologia e no discurso". CERTEAU, Michel de. A cultura no plural. Campinas-SP: Papirus, 1995. p.145-146. 128

afirmativa, foi um processo de muitas jornadas de lutas. Sem dúvida, foi a voz ativa das mulheres nos movimentos, que fez ecoar a necessidade de participação política feminina nas instituições de poder no país. No próximo item "Entrando na cena política", empenha-se em apresentar como as mulheres, em ação política, se inseriram no cenário político na região do Araripe.

3.2. ENTRANDO NA CENA POLÍTICA: ARARIPINA-PE E SIMÕES-PI

Retomando as eleições nos municípios de Araripina-PE e de Simões-PI, nesse item pretende-se ressaltar as facilidades e as resistências políticas que as mulheres do Araripe encontraram para participarem da cena política nessa região.

3.2.1 Em cena Araripina-PE

A idéia de participação política coloca-se como uma elaboração pertinente para esse estudo, porque auxilia a compreender as trajetórias de lutas políticas das mulheres do Araripe. Nesses termos "participação é uma palavra latina cuja origem remonta ao século XV. Vem de participatio, participationis, participatum. Significa 'tomar parte em', compartilhar, associar-se pelo sentimento ou pensamento"244. O diálogo com esse conceito permite enfatizar que a participação é entendida como uma "[...] ação de indivíduos e grupos com o objetivo de influenciar o processo político"245. De maneira geral "a participação é ação que se desenvolve em solidariedade com outros no âmbito do Estado ou de uma classe, com objetivo de modificar ou conservar a estrutura (e, portanto, os valores) de um sistema de interesses dominantes"246. Dessa forma, cabe assinalar que:

244 AVELAR, Lúcia. Participação política. In: AVELAR, Lúcia; CINTRA, Antônio Octávio (Orgs.). Sistema político brasileiro: uma introdução. 2ª ed. Rio de Janeiro: Konrad-Adenauer-Stiftung; São Paulo: Editora UNESP, 2007. p.264. 245 Ibidem. 246 PIZZORNO, Alessandro. Apud AVELAR, Op. cit., 2007. p.264. 129

A participação política emergiu junto com o Estado de soberania popular, à época dos movimentos revolucionários europeus dos séculos XVIII e XIX, no contexto das revoluções industrial e burguesa, um fenômeno que rompeu com a regra secular da correspondência entre posição social e política dos indivíduos.247 No Brasil, a emergência da participação deu-se muito mais tarde, em meados do século XX, quando os níveis de urbanização tornaram-se crescentes e aquela sociedade predominantemente rural transformou-se, em algumas décadas, em uma sociedade urbana. As mudanças na economia propiciaram a constituição de organizações sindicais diferentes daquelas da primeira industrialização brasileira, deflagrada na década de 1930, com um sindicalismo atrelado ao Estado de estrutura pouco competitiva. Os trabalhadores da nova industrialização brasileira consolidada no centro-sul do país a partir dos anos 60 e 70, alcançaram expressão política. Ganhou força a organização política da sociedade também em consequência da mobilização das comunidades eclesiais de base da Igreja Católica progressista, as CEB‟s, inconformadas com os níveis de analfabetismo, miséria, pobreza rural e urbana.248

Nesse sentido, as vias de ingresso das mulheres do Araripe na política eleitoral e partidária foram construídas em processo de luta, a atuação das mesmas se deram de maneira diferenciada, algumas pelos movimentos sociais ou pela tradição familiar com inserção no meio político-partidário, entre outras situações que se tornaram formas de intervir politicamente em seus municípios. Em Araripina, a eleição municipal de 1982 demonstrou que as candidaturas das duas mulheres – Vera Lúcia dos Santos Araújo e Terezinha de Alencar Ribeiro – embora fossem construídas nas fendas do patriarcalismo249 político, constituíram-se como força política e um certo rompimento com a "dominação masculina", porque nessa época não existia o sistema de cotas para mulheres e ambas se candidataram pelo PMDB – partido rotulado por seus adversários como "comunista". O êxito eleitoral alcançado por Vera Lúcia significou uma ruptura da ausência

247 AVELAR, Lúcia. Op. cit., 2007. p.262. 248 KECK, Margareth E. Apud. AVELAR, Op. cit., 2007. p.264. 249 Foi nos anos de 1970 que uma nova acepção feminista classificou o que é patriarcalismo. E, é nessa esteira histórica que se ressignifica e se utiliza essa noção teórica não que a mulher seja um sujeito submisso ou sem ações e práticas sociais. Mas como um sujeito com experiência social vivido. Desse modo, retoma-se e compreende-se que: “[...] o patriarcado designa uma formação social em que os homens detêm o poder, ou ainda, mais simplesmente, o poder é dos homens. Ele é, assim, quase sinônimo de “dominação masculina” ou de opressão das mulheres. [...] “Patriarcado” vem da combinação das palavras gregas pater (pai) e arkhe (origem e comando). Essa raiz de duplo sentido em arcaico e monarquia. Para o grego antigo, a primazia no tempo e a autoridade são uma só e a mesma coisa. Portanto, o patriarcado é literalmente é autoridade do pai. HIRATA, Helena. Et al. (Orgs.). Dicionário Critico do Feminismo. São Paulo: UNESP, 2009. p.173-174. 130

feminina no Legislativo araripinense. Por outro lado, a conjuntura política administrativa de Araripina não permitiu que a vereadora Vera Lúcia pudesse implementar projetos significativos para a cidade, em virtude de ser de oposição ao prefeito. Em grande parte dos municípios brasileiros, há domínio do chamado familismo político250, caracterizado numa herança hereditária política. Porque nesses municípios "[...] ainda predominam os padrões da política tradicional baseada na formação de clientelas e no familismo. Esses padrões abririam certos espaços para as mulheres, que seriam então eleitas não por suas trajetórias pessoais ou vínculos com movimentos da sociedade civil, mas na qualidade de representantes de seus clãs familiares"251. Nesse percurso de compreensão e de atuação política das mulheres do Araripe admite-se que, "sob vários aspectos, a família continua a ser o eixo fundamental de análises que tratam de explicar os processos através dos quais se envolve na política"252. A partir da fala da vereadora Vera Lúcia dos Santos Araújo – eleita para o mandato de 1983-1988 – a qual obteve nas eleições de 1982, um apoio total de sua família, isto é, todos a ajudaram em sua campanha ao Legislativo Municipal. Pelo relato dela observa-se que, em parte, sua conquista ao cargo de vereança foi baseada em relações familiares, mas também representou em facilidades para a candidata, já que suas experiências e de seus familiares (particularmente de seu pai Afonso Nunes) proporcionaram o gosto em participar da política-partidária. Assim, a vereadora expressou:

Eu sempre tive, eu sempre gostei da política, sempre gostei, meu pai sempre foi da política, sempre, sempre. E, então, por vê-lo e acompanhar o trabalho dele dentro da política, a gente foi tomando gosto também, e os filhos todos gostam, e aí ele foi que teve a idéia de que eu fosse candidata. Na época ele foi candidato também a prefeito, e me colocou como candidata a vereadora, e eu aceitei na hora, e aí fomos à luta. Dentro da família tive apoio total, todo mundo ajudou, todo mundo trabalhou, não tive nenhum problema com a família.253

250 MIGUEL, Luiz Felipe; QUEIROZ, Cristina Monteiro de. Op.cit., mai./ago. 2006. 251 Ibidem. p.370. 252 AVELAR, Lúcia. Participação política da mulher: o conservadorismo político feminino. In: OLIVEIRA, Eleonora Menicucci de. (Org.). Mulheres: da domesticidade à cidadania. Estudos sobre movimentos sociais e democratização. Brasília: Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), 1987. p.64. 253 ARAÚJO, Vera Lúcia dos Santos. Depoimento [janeiro de 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 131

No mandato de vereadora (1983-1988), Vera Lúcia acabou atuando num universo masculinizado – a Câmara de Vereadores –, mas não constatou preconceito e nem reações dos colegas pelo fato de ser mulher, e ainda descreveu como eram feitas articulações políticas dentro da casa legislativa:

E em relação aos colegas, a gente tinha, assim um grau de coleguismo grande, muito bom. De fato não tive problemas com os colegas, foram seis anos de uma convivência muito boa. Não sofri nenhum preconceito, pelo contrário, pelo fato de ter só eu de mulher, eles me tratavam muito bem. Eu não sei como era/foi com Darticléia, Maria Augusta, mas comigo, não tive problemas. Dentro da Câmara existem os acordos, existem os conchavos, aí precisa de que? Precisa do presidente, do secretário, então, tem que haver um entendimento lá dentro e como os cargos são eletivos, lá dentro tem que ter harmonia, tem que ter as negociações. É tanto que no primeiro e segundo ano, eu cheguei a ser segunda secretária. Meu pai era quem fazia as articulações, era ele quem conversava com os outros vereadores, era ele.254

A maioria dos indivíduos que assume o poder, ou seja, quando se tornam gestores públicos em municípios, estados, ou muitas vezes de uma nação, adotam um comportamento de que os órgãos de representatividade são propriedade sua, como uma extensão de sua casa. A isso chama-se de patrimonialismo255. Essas pessoas que usam o poder em benefício próprio, percorrem pelas trilhas do poder patrimonial, isto é, de uma busca incessante pelo patrimonialismo político, mostrando-se incapazes de qualquer iniciativa em direção ao autogoverno. Efetivamente, percebe-se em muitos gestores governamentais um "personalismo político", sobretudo uma centralização de poder. Essas análises cabem aos administradores municipais que, além da obediência, impõem um governo nos moldes do patrimonialismo em suas cidades. Destarte, muitas vezes mantém parte da sociedade em certa obediência. Para eles, "não existe [...] outra sorte de

254 ARAÚJO, Vera Lúcia dos Santos. Depoimento [janeiro de 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 255 Esse conceito é ressignificado na medida em que se compreende “[...] no âmbito de um aparelhamento a explorar, a manipular, a tosquiar nos casos extremos. Dessa realidade se projeta em florescimento natural, a forma de poder, institucionalizada num tipo de domínio: o patrimonismo, cuja legitimidade assenta no tradicionalismo [...]”.FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. v. 2, 2ª ed. rev. São Paulo: Globo, 1975. 132

disciplina perfeitamente concebível além da que se funde na excessiva centralização do poder e na obediência"256. Desse modo, para entender o quadro político, eleitoral e administrativo de Araripina-PE na gestão de 1983-1988, Vera Lúcia expôs que o prefeito da época Valmir Ramos Lacerda – conhecido como Dr. Valmir –, era "assim um tanto radical" e como ela era vereadora de oposição, o governante foi bastante "rígido". No depoimento seguinte, ela esclareceu:

Eu fazia oposição ao Dr. Valmir Lacerda – candidato a prefeito na época – que se tornou prefeito. E ele já assim um tanto radical e com uma pessoa de oposição, misericórdia! Então, tanto eu sofri um pouco na campanha para conseguir a votação para ser eleita, como também sofri pressão dentro da Câmara, é por que eu era oposição, eu era PMDB. E ele era PDS, acho que era PDS na época, não me lembro direito, era o partido do governo do estado do Pernambuco, era [...] Naquela época eu não me relacionava bem com o gestor. Hoje a coisa já é mais democrática, mais aberta, já é mais maneiro. Naquela época ele era mais rígido, era mais de travar um pouco as coisas.257

No período eleitoral de 1992, Francisca de Assis Arruda Gomes – Assisinha (PRN) destacou que, inicialmente, ocupou o cargo de Secretária de Educação do Município de Araripina-PE, na gestão do prefeito Valdemir Batista de Souza (Dr. Mimi). Essa função assumida de gestora representava uma facilidade para o ingresso dela na campanha eleitoral. Em sua trajetória, destacou-se como uma secretária dinâmica, que não ficava presa ao gabinete, mas também como professora em sala multiseriada, o que foi fundamental para conhecer a educação em sua cidade. Assisinha relatou,

[...] eu fui candidata a vereadora, era Secretária de Educação do Município de Araripina-PE na gestão do prefeito Valdemir Batista de Souza (Dr. Mimi). E eu quero dizer que eu não fui aquela secretária de viver atrás de um birô, eu realmente fiquei no campo visitei todas as escolas, vi a necessidade de ter um representante no nosso município que tivesse pé no chão para falar de educação, porque eu sou professora. Iniciei minha história como professora em classe multiseriada, na periferia daqui. Então, eu já tinha uma história das dificuldades, dos entraves na educação, e como Secretária de Educação descobri que o nosso município é muito grande, é muito carente. Antes de mim, a Secretaria de Educação era um

256 HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. 26ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p.39. 257 ARAÚJO, Vera Lúcia dos Santos. Depoimento [janeiro de 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 133

Órgão Municipal de Educação, tinha pouca independência. Quando assumi o Órgão Municipal de Educação a primeira providência foi transformar em Secretaria Municipal de Educação, na perspectiva que tivéssemos mais autonomia, fiquei conhecendo às necessidades, às carências de todo município de Araripina.258

Assisinha abordou que experiências como professora e Secretária de Educação permitiu-lhe conhecer e desbravar o município de Araripina de ponta a ponta. Conhecia quase todos os profissionais da educação municipal: professores, merendeiras, pais de alunos, entre outros. Teceu elogios ao prefeito Valdemir Batista, como se confere no diálogo da narradora.

Então, eu achava como eu tinha desbravado o município, tinha o conhecimento grande com os professores, com os pais, com merendeiras, porque não se faz educação somente com professores, começa a fazer com os pais, e como eu tinha um conhecimento muito grande em todas escolas, não ficou nenhuma que eu não conhecesse. Eu vi realmente a dificuldade de cada uma. Então, eu achei na minha inocência ou ignorância que eu poderia me candidatar a vereadora em virtude de conhecer todos os trabalhadores da educação, eu achei que poderia dar continuidade a esse trabalho sendo vereadora. Então, o prefeito Dr. Mimi foi um administrador muito bom, muito trabalhador, como todo mundo sabe, e, ele me convidou para me filiar ao partido dele para que eu me candidatasse. E eu caí na luta. [...] Eu sou grata a quem votou em mim, que eu tive 584 votos, mas, não foi comprado 1 (um). Foram votos realmente de pessoas amigas, de alguns professores que tinham essa visão, que quiseram me ajudar, [...]. Então, eu acredito que muitos professores, muitas merendeiras, esse povo que era o público alvo, que eu queria atingir, que eu queria beneficiar, muitos deles votaram em mim [...].259

Na eleição de 1996, a candidata Silvania Maria de Oliveira Gomes (PDT) descreveu alguns fatores que favoreceram o seu ingresso na vida político-partidária. Inicialmente ela falou que desde muito tempo se interessou por assuntos políticos e pelas campanhas eleitorais, realizava trabalhos voluntários percorrendo várias comunidades, na perspectiva de reivindicar melhorias na saúde, encaminhar idosos para aposentadorias, entre outros trabalhos desenvolvidos pela candidata. Isso permitiu seu credenciamento na candidatura a vereadora.

258 GOMES, Francisca de Assis Arruda (Assisinha). Depoimento [24 de julho, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 259 Ibidem. 134

Bom, eu sempre fui uma mulher política desde muito cedo, quando eu me entendi como gente. [...] Eu fui trabalhar no interior e lá eu trabalhava, mas, não era um trabalho remunerado. Eu procurava sempre ajudar as pessoas assim nas questões de aposentadorias, procurar médicos que era muito difícil na época, estava sempre tentando ajudar aquelas pessoas mais carentes e mais tímidas que tinham dificuldades de se dirigirem aos lugares. Então elas me procuravam e eu as levava aos lugares. [...] Então, como eu tinha contato com o pessoal da Serra lá no interior. Serra que fica na Chapada do Araripe, Serra do Marinheiro e também na Serra da Torre, eu fiz um levantamento para saber se lá precisava de agente de saúde. Na época andei em todas as casas, conversei com todas as pessoas, aí quando chegou o tempo da política eu estava apoiando um candidato lá e na época não tinha nenhuma mulher que quisesse ir para o partido, para compor a chapa [...].260

Silvania relatou que as andanças com a Erenilde (esposa do Lula Sampaio, candidato a prefeito de sua chapa) constituíram-se, de certa forma, em facilidades, porque possibilitaram "conhecer o município de Araripina todinho de ponta a ponta". A candidata explicitou em seu depoimento, que construía táticas para fazer sua campanha eleitoral, como observa-se no relato:

Aí fui andar com a Erenilde (mulher do Lula) para pedir votos, [...]. Foi quando eu conheci o município de Araripina todinho, de ponta a ponta, nós saíamos às seis horas da manhã e voltávamos duas da manhã, eu e ela, pedindo votos em toda região do município e foi muito bom, [...]. Eu ia gravar o programa na rádio, e, eles, alguns candidatos, queriam ir comigo para gravar também, descobri uma estratégia, ir à noite no horário que não ia nenhum candidato, eles já haviam gravado durante o dia. Eu ia lá e gravava meu discurso, o discurso na rádio o mais bonito, bem feito era o meu. [...] sei que todo mundo ouvia e muita gente falava: – Ah! Você é muito boa, seu discurso é muito bom. E, eles ficavam com raiva de tudo isso.261

Nos processos eleitorais de 2000 e 2004, Maria Augusta Lima Modesto (PPS e PP) contou minuciosamente sua trajetória nas eleições no município de Araripina. Dentre os demais candidatos à Câmara de Vereadores, Maria Augusta explicou que alcançou o 1º lugar no ano de 2000, "sendo a mais a votada" com 1.977 votos, e em 2004 obteve a 2ª colocação com 1.509 votos.

260 GOMES, Silvania Maria de Oliveira. Depoimento [21 de julho, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 261 Ibidem. 135

Maria Augusta abordou que sua profissão de odontóloga (dentista) favoreceu no trabalho com o povo, sendo que às vezes cobrava um menor valor no tratamento dentário. Fazia atendimento odontológico nas comunidades permitindo um maior contato com a população. Ao entrevistar a vereadora, ela expressou-se da seguinte maneira ao se referir às visitas feitas nas comunidades: "as pessoas sempre me viam como uma pessoa boa, que tem um certo carisma". O depoimento da mesma continuou a mostrar que o habitus foi fundamental para sua atuação política, o que se confere a seguir:

Tanto que, eu já fui candidata, por exemplo, a minha primeira candidatura foi em 2000, eu fui a mais votada, sou a única mulher na Câmara. Continuei sendo a mais votada em 2004, entendeu? [...] Eu fui uma pessoa que sempre fez muito bem às pessoas, sempre ajudei a um e outro. Logo a minha profissão é uma profissão que faz com que eu trabalhe diretamente com o povo, sou dentista, então eu sempre fui de atender uma pessoa que não pode pagar igual a um particular. Sempre fui nas comunidades atender, então as pessoas sempre me viam como uma pessoa boa, que tem um certo carisma.262

Maria Augusta descende de famílias de tradição política, como os "Modestos" – fundadores da cidade de Araripina-PE – e os "Limas" – que assumiram mandatos de prefeito no município e de deputado na Assembleia Legislativa do Pernambuco. Bem como Darticlea (sua mãe), que ocupou dois mandatos de vereadora (1993- 1996 e 1997-2000), além de outros aspectos já citados. Esses fatores políticos foram também expressivos para o engajamento de Maria Augusta no cenário político local, como pode-se ver:

E, a família, no momento minha mãe era vereadora e ela só [...]. Na família tinha uma opção que era eu, e eu pedi para não entrar na política, ajudava, sempre ajudando. Mas eu não queria entrar por que eu sabia o que ser uma mulher na política. É diferente você ajudar e está, então, ela me pedia e nas primeiras conversas para tratar de candidatura, eu dizia: eu não, não, não, foi um não, não, até que ela insistiu bastante e eu [...] conseguiu me convencer, [...]. Mas na verdade a família MODESTO ela não é muito política, [...]. A política mesmo que está no sangue é do outro lado da minha família, que são os pais da minha mãe, o pai dela foi deputado, foi prefeito de Araripina. Já a família MODESTO foi realmente uma das fundadoras de Araripina, e teve, teve os prefeitos de muitos

262 MODESTO, Maria Augusta Lima. Depoimento [fevereiro, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 136

anos atrás, muito tempo. Então, é uma família muito tradicional e muito grande, mas ela não é tradicionalmente política no momento, tá entendendo?263

3.2.2 Em cena Simões-PI

Destaca-se nas eleições de 1982, Maria Gracilda Lopes de Carvalho (PDS), que ocupou o cargo de vice-presidenta da Câmara de 1985 a 1987. Oriunda de uma família de trajetória política, porque seu avô Luiz Lopes dos Reis (foi o primeiro prefeito nomeado 14/12/1954 - 31/01/1955) e seu tio Rufino Lopes dos Reis, eleito para o mandato de 1955-1958. No início da entrevista, Maria Gracilda enfatizou que não pensava em se candidatar. Ela discorreu sobre sua entrada na cena política, seu trabalho nas comunidades carentes e, sobretudo, o seu trajeto como vereadora.

Para ser franca, eu nunca havia pensado em entrar na política. Fui sempre uma pessoa de estar com a comunidade carente, afim de prestar algum serviço, mas, não com a intenção política. Entrei para satisfação de alguns amigos e da família. Eu fui eleita pela primeira vez que me candidatei, devido à boa amizade que tinha com o povo. [...] não me sentia descriminada perante os meus colegas, nem também por parte da minha família, se deixei de fazer as coisas, muitas vezes era porque o governante não apoiava. Sendo a mulher cidadã, ela poderá muito bem contribuir no desenvolvimento da população do município em vários setores como: Educação, cultura e trabalho que beneficiem a todo município. O que me fez desistir da vida política foi algumas dificuldades encontradas e a falta de apoio por parte do governante.264

Maria Aparecida dos Reis – Cidoca – disputou três eleições para vice-prefeita: 1988, 1996, 2004 e uma para vereadora em 1992, todas como candidata pelo PT. Ela assinalou que o sujeito se interessa pelas questões políticas na medida que vai tomando posição, e que, às vezes, lutando pelas causas sociais "começa a fazer política sem perceber", como se pode acompanhar no seu pronunciamento abaixo.

À medida que a gente começa a se interessar pelas causas sociais, tomando posições, apoiando as lutas e causas, lutando para mudar a realidade em que vivemos, se começa a fazer

263 MODESTO, Maria Augusta Lima. Depoimento [fevereiro, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 264 CARVALHO, Maria Gracilda Lopes de. Depoimento [20 de dezembro, 2009]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 137

política sem perceber. Como sempre gostei de fazer parte de movimentos organizados, senti a necessidade de fazer parte de um partido político, do qual tivesse um projeto e ideologia de acordo com os anseios do povo.265

No seu diálogo, Cidoca informou que as lutas e manifestações dos movimentos sociais favoreceram a entrada dela nas questões políticas no município de Simões-PI. Também relatou sua persistência em disputar processos eleitorais. O trecho abaixo referente ao percurso de militância da entrevistada, observa-se que sua forma de atuação foi diferenciada das demais mulheres do Araripe, porque ser militante do PT nessa época, trazia no seu engajamento um comprometimento maior com as causas e lutas sociais.

Iniciei apoiando as lutas e manifestações do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, mesmo sem ser Trabalhadora Rural. Depois fui Coordenadora do movimento de mulheres trabalhadoras rurais de Simões, além disso, fui membro da coordenação regional e estadual deste movimento. Em seguida filiei-me ao diretório municipal do partido dos trabalhadores de Simões, onde iniciei minha vida político-partidária. Candidatei- me quatro vezes por este partido e atualmente sou presidente do diretório municipal e assessora técnica do gabinete do governador na região. 266

Maria de Jesus de Araújo Reis – Maria Lopes (PT) candidatou-se duas vezes a vereadora, nos processos eleitorais de 1988 e 1992. Expressou que suas militâncias nos movimentos sociais da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Comunidades Eclesiais de Bases (CEB‟s) e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) serviram de fundamentos para sua inserção na política-partidária. Esses antecedentes de atuação de Maria Lopes em movimentos da sociedade civil, articulam-se com a conjuntura da década de 1980, vivenciada por muitos militantes. Nesse sentido, o exercício cotidiano de Maria Lopes nos movimentos proporcionou-lhe acúmulos por meio da "[...] experiência que os excluídos adquirem de sua presença no campo social e político, de interesses e vontades, de direitos e práticas que vão formando uma história, pois seu conjunto lhes 'dá a dignidade de um acontecimento histórico'."267. O depoimento de Maria Lopes mostrou sua atuação nos movimentos sociais.

265 REIS, Maria Aparecida dos (Cidoca). Depoimento [setembro, 2004]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 266 Ibidem. 267 CHAUÍ, Marilena. Apud. SADER, Eder. Op. cit., 1988. p.12. 138

Eu fazia parte da CPT na nossa paróquia, eu já representava na diocese e também eu fazia parte das CEB's e vi que dentro dessa luta, eu tinha que ir mais na frente e fazer parte do conjunto social e democrático do nosso município, e também que pudesse chegar mais, até o estado se fosse possível, porque a gente nunca pensa só [...] quer seguir em frente. Eu era representante das CEB's da nossa área pastoral, que pertencia à paróquia de Jaicós-PI, Simões-PI nesse período era área pastoral. E, na CPT eu fazia parte do Conselho Fiscal e desse trabalho eu despertei que já a gente tinha que chegar ao partido político para que a luta fosse mais ampla e que levasse o conhecimento do valor da pessoa que luta pela vida. Uma das lutas se deu pela lei que favorece os pequenos.268

Maria Lopes explicou sua atuação como missionária nas Comunidades Eclesiais de Base (CEB‟s) e nos outros movimentos sociais, além de sua articulação com padre João (Pároco que atendia a cidade de Simões-PI) e com Dom Augusto Alves da Rocha269, na época, Bispo da Diocese de Picos-PI. Destaca-se na entrevista a mobilização no projeto de alfabetização de jovens e adultos. A narradora continua seu relato nas atividades como militante das organizações sociais.

Era um trabalho de missão com padre João numa região de pessoas muito carente e nesse trabalho a gente viu também a necessidade da Igreja contribuir com aquilo que ela pudesse ajudar, e para isso Dom Augusto, é uma pessoa muito gentil, tomou conhecimento da carência do povo, e ele não deixava as pessoas passarem por momentos difíceis. Vinham aquelas contribuições, ajuda de outros estados e até de outros países. Ele contribuía com cestas básicas e vinha a nossa cidade, e nas homílias dava recado as autoridades despertarem. E, aí no ano de 1993, conseguimos FRENTE DE SERVIÇO, para os municípios da nossa região da Microrregião de Picos, e na qual eu fazia parte também da Comissão, e quando começamos

268 REIS, Maria de Jesus de Araújo (Maria Lopes). Depoimento [julho, 2010]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 269 Dom Augusto Alves da Rocha nasceu em Aparecida (atual município de Bertolinía-PI) em 17 de Julho de 1933. Ainda muito jovem decidiu seguir a carreira como vocacionado religioso, teve passagem pelos seminários do Piauí e Ceará. Estudou Filosofia na Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma/Itália (1953-1956) e teologia na mesma universidade (1956-1960), fez outros cursos no Instituto Superior de Pastoral Litúrgica – ISPAL (1967). Sua ordenação Presbiteral aconteceu em 21/02/1960 na cidade de Roma-Itália. Nesse país, o então Padre Augusto foi pároco da Igreja de São Marcelo. Com a instalação da Diocese de Picos-PI, em 21 de Setembro de 1975, tornou-se o primeiro Bispo dessa Diocese, permanecendo até o ano de 2001. Como Bispo de Picos- PI foi vice-presidente do Regional Nordeste IV, Membro do Comitê Diretor de "Pax Christi International", Membro do Conselho Diretor do Movimento de Educação de Base (MEB) e Presidente dessa mesma instituição, Presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Presidente do Regional Nordeste IV e Presidente do MEB. Permaneceu na Diocese de Oeiras-Floriano entre os anos de 2001 a 2010, ano no qual pediu renúncia da Diocese de Floriano, após completar 75 anos, conforme prescreve o cânon 401 parágrafo 1º do Código de Direito Canônico. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – Regional Nordeste 4. Bispo: Dom Augusto Alves da Rocha. 03/03/2010. Disponível em: . Acesso em: 13/06/2011. 139

fazer o alistamento, eu me preocupei muito, com os adolescentes e jovens, tinha muito gente jovem que não sabia assinar o seu próprio nome. Eu aí anotando aquela quantidade de jovens que ia assinando com o polegar. Eu anotei quantas pessoas assinava com o polegar e levei ao conhecimento da Diocese, e conseguimos graças a Deus, cinco salas de aulas de alfabetização, e hoje tem deles que já estão formado graças a Deus.270

Maria Lopes escolheu o Partido dos Trabalhadores (PT) para se filiar e exercer sua luta em prol dos próprios trabalhadores e da sociedade simonense. Descreveu suas experiências partidárias nesse momento político e os medos que alguns militantes tinham, ambos expostos em seu depoimento pelas reticências. Sua luta favoreceu a organização do Movimento dos Sem Terra (MST) no Piauí, muitos dos militantes da base política de Maria Lopes foram responsáveis pela construção do assentamento Marrecas271 no município de São João do Piauí – primeira ocupação do sem terra no Estado do Piauí –, o que se verifica no depoimento da narradora.

Me filiei ao PT e fui militante para filiar outras pessoas. Era um grupo pequeno, não era um grupo tão grande não, era um grupo pequeno de pessoas que representava as comunidades, com muito medo de ... teve a possibilidade de ... O trabalho que fizemos de base, teve pessoas que perdeu o medo, quando começamos a análise de conjuntura. O trabalho que tínhamos na diocese, na paróquia de análise de conjuntura, fui perdendo medo de entrar na política e agente formou um grupo assim que hoje estão no SEM TERRA (MST).272

Na legislatura municipal de 1997-2000, a vereadora Marlene Morais, que assumiu como 2ª secretária da Câmara (1997-1998) e 1ª secretária (1999-2000) respectivamente, relatou sobre as oportunidades que teve de participar como dirigente da comunidade católica de Salinas II – na zona rural – onde mora

270 REIS, Maria de Jesus de Araújo (Maria Lopes). Depoimento [julho, 2010]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 271 "[...] no início de junho de 1989, após quase cinco anos de intenso trabalho de conscientização, o Movimento realizou sua primeira ocupação em solo piauiense. No dia 10 daquele mês, cento e vinte famílias vindas dos municípios de Picos, Paulistana, Padre Marcos, Pio IX, Dom Expedito Lopes, Itainópolis, Oeiras e Simões, entraram na Fazenda Marrecas, uma área de 10.504 hectares de terra, situada no município de São João do Piauí. Não houve despejo e o assentamento foi negociado. Essa ação marcou o nascimento do MST no Piauí". SILVA, Gisvaldo Oliveira da. A questão agrária sob a ótica da juventude camponesa: a experiência do assentamento Marrecas (1989-1996). Monografia (Graduação em Licenciatura Plena em História) – Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Teresina, 2009. p.35-36. 272 REIS, Maria de Jesus de Araújo (Maria Lopes). Depoimento [julho, 2010]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 140

atualmente. Ela fez militância na Associação dos Trabalhadores Rurais da comunidade Salinas II e no Programa de Combate a Pobreza Rural (PCPR), atuando também como "cabo eleitoral" – liderança política – na região de Bela Vista. A depoente declarou que o seu engajamento nos movimentos sociais lhe proporcionou condições e acúmulo para se candidatar e desempenhar um mandato eletivo. O que me despertou, eu nem achava que seria o momento naquela época, mas eu já vinha me preparando para isso, eu trabalhava com comunidades, como dirigente de comunidade, também participava da Associação de Trabalhadores Rurais, com também participava e participo até hoje do PCPR – Programa de Combate a Pobreza Rural, que é o órgão que trabalha com trabalhadores rurais e eu via ali a necessidade e o interesse de alguém na nossa região – Curralinho (povoado de Simões), principalmente a região de Bela Vista, que não tinha um político por ali e sim eu que já trabalhava como "cabo eleitoral" há alguns anos, e tinha esse apoio pelos políticos aqui de Simões, pois já vinha trabalhando, aí quando foi para a campanha eleitoral de 1996, fui convocada pelo prefeito.273

Com efeito, as experiências de Aluízio Francisco de Morais (Lício Morais) – seu tio, que exerceu os mandatos de vice-prefeito por três momentos (1989- 1992,1993-1996 e 2000-2004) – e o reconhecimento de seus familiares por sua liderança motivaram Marlene Morais a inserir-se nos órgãos de representação política em Simões-PI.

[...] E com isso tanto meus primos, um tio que já era candidato, já tinha sido candidato por algumas vezes, e não tinha ninguém para apresentar e me procuraram, porque achavam que na família a pessoa ideal seria eu, porque já tinha um grande envolvimento com a comunidade há algum tempo, e eu ainda achava que não era o momento que eu não estava preparada, mas ai chegaram os primos, como foi o caso, o Neto de Lício, depois veio o Adão meu irmão e disseram: – Não, o momento é este, você já está pronta, nós conhecemos o trabalho que você realiza dentro da comunidade e a pessoa ideal é você. Então, chegou a hora. [...] Eu tinha grandes amizades, um grande trabalho feito, as pessoas que me apoiavam também tinham, eu acho que não tive tantas dificuldades [...].274

Terezinha de Jesus Carvalho e Sousa – Terezinha, participou duas vezes de processos eleitorais: a primeira como candidata a vereadora pelo PT em 1992, e a segunda como vice-prefeita pelo PFL em 1996, sendo nesta última que obteve êxito.

273 MORAIS, Maria Marlene de. Depoimento [julho, 2010]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 274 Ibidem. 141

Ao ser entrevistada falou das fases de sua vida política pelas quais passou até chegar a se candidatar, e descreveu com satisfação sua militância em defesa do bem-estar da comunidade. Outro fator de acesso da educadora aos processos eleitorais foi o incentivo familiar:

Sempre gostei de desafios. Fui militante de algumas lutas populares pela água na torneira (AGESPISA) abastecimento de energia elétrica (CEPISA), pela educação-movimento comunitário com todo os segmentos da sociedade para trazer para Simões o Ensino Fundamental – através da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC. Participei, por várias décadas, de pastorais da Igreja, Associações de Moradores, ocupei postos de chefia na educação do município, onde procurei assumir posturas a favor do bem-estar coletivo. [...] Até porque essa vocação e interesse pela política já foi motivada por meu avô materno – primeiro prefeito dessa cidade. Em seguida, meu tio, primos também se sobressaíram na câmara de vereadores etc.275

Maria das Graças Veloso Sousa (PFL), popularmente conhecida como Graça Veloso, disputou duas vezes o legislativo municipal de Simões-PI nas eleições de 2000 e 2004, obtendo êxito na primeira eleição. Ao ser entrevistada, a parlamentar do PFL relatou sobre as vias que colaboraram para sua carreira política, em virtude de que ela não tinha antecedentes políticos familiares, seu ingresso aconteceu por meio dos trabalhos e serviços prestados na comunidade.

Pelo fato de um trabalho prestado na comunidade por algum tempo, e conhecendo a realidade de um povo pobre, [...]. Foram várias etapas, primeiro venho de família simples, mas sempre carrego comigo o respeito pela pessoa humana. Muitos anos foram meu trabalho voluntário na comunidade, na igreja em várias pastorais, desde 1991 trabalho como Agente de Saúde e também como professora. Na vida política me candidatei pela primeira vez e fui eleita.276

Maria Clenilda de Carvalho Assunção, conhecida na região por Maria Luiza, passou pelos partidos PSDB e PSB, candidatou-se pela primeira vez em 2000, sendo reeleita mais duas vezes nos pleitos eleitorais de 2004 e 2008. Na entrevista,

275 SOUZA, Teresinha de Jesus Carvalho e. Depoimento [julho, 2010]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. Luiz Lopes dos Reis, avô materno de Terezinha, foi o primeiro prefeito nomeado, logo após seu tio Rufino Lopes chegou a ser o segundo prefeito e Maria Gracilda, sua prima, foi uma das primeiras vereadoras da cidade de Simões-PI. 276 SOUSA, Maria das Graças Veloso. Depoimento [setembro, 2004]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 142

ela narrou o que a levou a se interessar por política, bem como mencionou que a resistência foi um dos aspectos para o sucesso de sua carreira política:

Foi o desafio e desejo de defender os interesses da comunidade, organizando ações acessíveis e propondo atividades conjuntas que até antes de ser vereadora não existiam. Essas atividades tinham como objetivo viabilizar a participação efetiva da mulher na política partidária social do nosso município, fazendo assim uma democracia igualitária que até então não era acessível à comunidade. Na época da primeira campanha para vereadora em 2000, eu não tinha nem o botijão e nem gasolina para por na moto. Mas venci e fui aprovada pelo povo, onde 04 anos de dedicação a este povo valeu a pena, pois meu trabalho foi reconhecido e fui eleita novamente e em primeiro lugar na eleição de 2004.277

No próximo item, trata-se dos preconceitos e exclusões que as atrizes políticas do Araripe encontraram nas campanhas eleitorais. Pretende-se observar de que forma suas famílias reagiram diante de suas candidaturas para o Legislativo e o Executivo. Dentre todo esse contexto político eleitoral em que se envolveram as mulheres do Araripe, uma pergunta que não se cala: foi uma questão de gênero?

3.3. QUESTÃO DE GÊNERO: PRECONCEITOS, EXCLUSÕES E FAMÍLIA

A grosso modo, a representação, isto é, a sub-representação das mulheres em eleições no Brasil tem sido bastante problematizada no campo acadêmico, nas agremiações partidárias e nos movimentos sociais. Nessa abordagem, é pertinente comprovar que a democracia, dita liberal, não concretizou seu princípio fundamental – o de garantir a representação de todos os segmentos sociais nos espaços de poder. De tal forma, constata-se que essa "sub-representação das mulheres na esfera política é hoje entendida como um problema. Mas as explicações para essa discrepância entre o universo dos eleitores e dos eleitos ou dos que ocupam outras posições que lhes conferem poder variam"278. Nesse aspecto, muitas dessas variações

277 ASSUNÇÃO, Maria Clenilda de Carvalho (Maria Luiza). Depoimento [setembro, 2004]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 278 MIGUEL, Luis Felipe; BIROLI, Flávia. Caleidoscópio convexo: mulheres, política e mídia. São Paulo: Editora UNESP, 2011. p.75. 143

[...] partem de diferentes compreensões das relações de gênero e dos aspectos dessas relações, que constituem barreiras à participação política. Mas não se trata apenas de uma questão de ênfase. Pode-se considerar que as posições teóricas e políticas, quanto ao problema mais amplo do limites das democracias concorrenciais contemporâneas, e do ideário que está em sua base, são divisores entre as abordagens. As explicações respondem de maneiras diferentes à constatação de que as democracias liberais não cumprem suas promessas históricas de inclusão universal e à constatação de que existem, nessas democracias, padrões de concentração de poder que reproduzem. Partindo dessas constatações, as explicações dadas a um fenômeno específico, a sub- representação feminina, dependem do entendimento do que deve ser alvo de crítica e objeto de transformações nessas democracias restritas.279

Ao analisar os processos eleitorais na região do Araripe280, particularmente nos municípios de Araripina-PE e Simões-PI, constata-se que o princípio da inclusão universal não se materializou nessa espacialidade, uma vez que através das narrativas das mulheres percebe-se uma variedade de formas de preconceitos e exclusões. Sabe-se que Francisca de Assis Arruda Gomes – Assisinha – candidata a vereadora nas eleições de 1992, no município de Araripina-PE, ocupou o cargo de Secretária de Educação de Araripina-PE (1989-1992). Em sua narrativa expôs que a participação feminina na política perpassa pelas questões culturais. Parte da sociedade não dá credibilidade às mulheres quando essas são dirigentes de um país, estado, município ou quando elas ocupam cadeiras no Parlamento. Em síntese, pelo depoimento de Assisinha, constata-se preconceito e exclusão por uma grande maioria das pessoas, na seguinte citação "[...] lugar de mulher é na cozinha," e por último afirmou "eu acho que é isso aí, é cultural mesmo". Assim ela expressou:

[...] embora todo mundo sabe que é mais difícil uma mulher corrupta na política, você escuta muito menos, mais são os homens que já são mais acostumados a se envolverem em corrupção. E, em cidades pequenas, é mais difícil eles

279 MIGUEL, Luis Felipe; BIROLI, Flávia. Op. cit., 2011. p.75. 280 Já foi explicado no capítulo II, os preconceitos sofridos pelas entrevistadas: Vera Lúcia dos Santos Araujo (PMDB), candidata a vereadora nos processos eleitorais de 1982 e 1988; e Maria Darticlea A. Lima Modesto, candidata a vereadora (PRN e PSB), nos anos 1992 e 1996, no município de Araripina-PE. Em Simões-PI: Maria Aparecida dos Reis – Cidoca (PT), candidata a vice-prefeita (1988, 1996, 2004) e a vereadora (1992); e Maria Clenilda de Carvalho Assunção – Maria Luiza – vereadora pelo PSDB (mandato 2001-2004, 2005-2008 e 2009-2012), explicaram que sofreram preconceitos. Porém, nesse mesmo município, os depoimentos das candidatas: Maria Gracilda Lopes de Carvalho (vereadora/PDS, mandado de 1983-1988) e Terezinha Carvalho (vereadora/PT em 1992 e vice-prefeita/PFL para mandato 1997-2000) não apontaram preconceito e exclusão. 144

acreditarem e confiarem nas mulheres. Olha, eu acho que é cultural, até pouco tempo, você sabe, a mulher nem votava, é cultural, e muitas ainda acham que a mulher tem que estar dentro de casa, ser doméstica, fazer almoço, janta, lanche só para servir o homem. Nós ainda estamos aqui, principalmente no interior, nós temos ainda muito essa cultura, que lugar de mulher é na cozinha, eu acho que é isso aí, é cultural mesmo.281

Assisinha enfatizou que, muitas vezes, era excluída da disputa eleitoral, ou seja, em determinadas situações sua campanha teve momentos de agressividade pelo fato dos próprios correligionários arrancarem seu material de propaganda. Ela relatou ainda que, nos comícios, quase não conseguia falar, e quando falava, seu discurso era, às vezes, interrompido, com os colegas candidatos pedindo para parar. Ela resistia a todos os entraves e conseguia, segundo a mesma, fazer um bom pronunciamento, conforme a expressão usada por ela – "modesta parte eu escatitava".

Nos comícios quase não conseguia falar, quando eu conseguia falar, era muito pouco, porque os colegas candidatos ficavam pedindo para parar, e quando eu falava "modesta parte eu escatitava". Eu lembro quando nós chegamos em Nascente (distrito de Araripina), eu voltei sem nenhuma bandeira, que um outro candidato vereador da minha coligação mandou, pagou para algumas pessoas levar as bandeiras da minha campanha, não ficou uma, e era colega do mesmo partido. Tinha as regiões que você podia falar, em todas as regiões eu tinha algum voto, mas não podia fazer discurso.282

Por outro lado, na mesma campanha eleitoral de 1992, Assisinha obteve apoio de seus familiares em sua candidatura. Esse apoio se deu pelo fato, também, de ser sobrinha de Zuca Jacó – vereador por muitos mandatos em Araripina-PE. A manifestação repentina de um problema de saúde do vereador, alterou significativamente o desempenho na campanha eleitoral da candidata. O que se percebe no relato a seguir.

[...] Felizmente eu tinha um tio que foi vereador presidente da Câmara várias vezes, próximo a eleição ele adoeceu, que era o tio Zuca, Zuca Jacó, foi vereador muito tempo, presidente de Câmara por muitos anos. E infelizmente eu ainda perdi essa ajuda valiosíssima, porque ele adoeceu ficou sem poder andar, teve um AVC (acidente vascular cerebral).283

281 GOMES, Francisca de Assis Arruda (Assisinha). Depoimento [24 de julho, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 282 Ibidem. 283 Ibidem. 145

Nas eleições de 1996, a candidata do PDT, Silvania Maria expressou que muitos colegas, candidatos a vereador de sua coligação, tentavam excluí-la do processo eleitoral. A Serra do Marinheiro (região considerada "da Silvania", por ser o local onde a mesma tinha prestado serviços comunitários) seria uma região prioritária para sua candidatura, entretanto, segundo a entrevistada, o candidato a prefeito da coligação enfatizou que, nessa região, todos candidatos poderiam pedir votos. Apesar de todas as formas de exclusão, a candidata demonstrou muita bravura em continuar na disputa de uma vaga na Câmara Municipal de Araripina, como se confere no depoimento.

Quando fomos fazer um comício na Serra e eles deveriam ter dito – aqui é sua região –, lá era minha região, região da Silvania, pois eu morava lá, trabalhava, tinha um serviço prestado lá na Serra, Serra do Marinheiro, só que chegando lá ele disse que lá era para todos os candidatos, todo mundo tinha muito voto lá, aí eu fiquei muito chateada com isso, mas eu fui até o final da campanha, porque eu não sou mulher de desistir de nada quando eu pego uma coisa, o sangue pode dá no meio da canela, mas eu estou dentro.284

No tocante à questão financeira da sua coligação, a candidata Silvania se sentiu banida outra vez, porque a distribuição dos auxílios econômicos foram para aqueles candidatos a uma vaga no Legislativo Municipal, que tinham maior probabilidade de serem eleitos. Conforme o relato seguinte:

E, eu descobri também que o partido mandou dinheiro para os candidatos, só que para mim nunca chegou, nem um centavo. É tanto que, quando foi para fazer as fotos da candidatura, para mim também veio menos dinheiro do que para os outros. Porque disseram que o partido não tinha dinheiro, não sei o que, [...] essas coisas assim, mas eu descobri que o partido havia mandado dinheiro e que eles dividiram com aqueles que eles achavam que iam ser eleitos e não com aqueles que estavam lá só para cumprirem com a obrigação do Tribunal [...] É muito difícil você entrar numa campanha sem ter condições financeiras. Querendo ou não o que pesa é a condição financeira.285

284 GOMES, Silvania Maria de Oliveira. Depoimento [21 de julho, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 285 Ibidem. 146

Embora viesse de uma tradição política, seu avô foi "cabo eleitoral"286, Silvania comenta que poucas vezes recebeu apoio de seus familiares, em geral, sua família apresentava resistência em apoiá-la, como se observa no depoimento,

A veia política é de muito tempo, meu avô foi "cabo eleitoral" por muito tempo dos antigos políticos de Araripina, minha mãe briga comigo porque eu vivo em cima dos palanques, mas eu descobri que ela era uma "caçadora de conversa" só vivia nos palanques também e não quer que eu fique. [...] referente à minha candidatura nas eleições de 1996, não recebi apoio de minha família. Às vezes eu dava umas voltinhas com papai, outras vezes com meu irmão, mas era assim coisinha insignificante. [...] Muitos familiares tinham resistência em apoiar minha candidatura. A resistência era porque eles achavam que não ganharia, não seria eleita e eu fui só pelo fato de ir mesmo. Aí quando eu vi que eu não tinha [...], eu não pedia votos para mim praticamente, aí eu passei andar (a fazer campanha).287

Maria Augusta Lima Modesto (PPS e PP) candidata a vereadora na cidade de Araripina-PE, nas eleições de 2000 e 2004, expôs que era observada até em sua vida privada e afetiva. Cabe salientar, que quando as mulheres ingressam na política partidária são, efetivamente, vigiadas288. As pessoas e a mídia tentam estigmatizar a imagem das mulheres que ocupam posições parlamentares ou cargos no Executivo. A citação auxilia na compreensão do depoimento da Maria Augusta:

há muito mais atenção ao estado civil e às relações afetivas das mulheres na política que dos homens, bem como a sua aparência física indumentária. Uma análise das matérias jornalísticas das revistas semanais de informação sobre mulheres que ocuparam ministérios, disponibilizadas pelo clipping da Câmara dos Deputados, mostra que cerca de um terço faz referência ao corpo, às roupas e/ou à vida privada, independentemente do período consultado. O foco na aparência envolvem julgamentos, ativa pressupostos sobre o comportamento 'adequado' e serve como trampolim privilegiado para apreciações sobre sua personalidade e suas ações.289

Para Maria Augusta sua vida é um "livro aberto", o fato dela ser uma mulher que ocupa um espaço no Legislativo araripinense levou muitas pessoas a fazerem

286 Expressão cabo eleitoral é muito usada nas eleições majoritárias ou proporcionais no Brasil, significa "indivíduo que procura obter votos ou eleitores para um candidato em troca de favores políticos". FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3ª ed. Curitiba: Positivo, 2004. 287 GOMES, Silvania Maria de Oliveira. Depoimento [21 de julho, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 288 MIGUEL, Luis Felipe; BIROLI, Flávia. Op. cit., 2011. 289 Ibidem. p.170. 147

perguntas do tipo: "Ah, fulana tá namorando, tá namorando muito, né? A candidata tá namorando muito, a vereadora tá...". Ela expressou que, mesmo com essa carga de preconceito embutida nas falas das pessoas, conseguiu superar todas essas adversidades e, aos poucos, foi conquistando espaço na política do município. Pela sua maneira de conduzir o mandato de vereadora, garantiu uma certa projeção, porque ela pensa em futuramente ser candidata a prefeita, na narrativa seguinte ela comentou:

E a gente fica exposta a tudo e a vida passa a ser um livro aberto. E na verdade também eu fui conquistando durante esses anos todos uma certa liberdade as pessoas começaram a... Existe o lado machista, diziam: – Ah fulana tá namorando, tá namorando muito, né? A candidata tá namorando muito, a vereadora tá... E não pode viver, não pode nem viver, mas eu conquistei isso, as pessoas, e hoje o povo me respeita, entendeu? Por isso que eu acho que o importante mesmo é você ir conquistando seu espaço aos poucos, porque um dia eu tenho pretensões de me candidatar a prefeita, agora isso eu estou conquistando aos poucos, porque para mulher, aí o lado machista vai gritar mais alto. – Ah, ela é mulher será que vai dá conta? Então é isso.290

Maria de Jesus de Araújo Reis – Maria Lopes (PT) foi candidata nas eleições de 1988 e 1992, no município de Simões-PI. A narradora apontou que, de forma geral, a sociedade simonense da época achava que a mulher, ao ser candidata, se "entregaria para o mundo e esqueceria da família"291. Desse modo, percebe-se nesse tipo de pensamento da maioria das pessoas o preconceito e a exclusão à sua candidatura.

Naquela época olhavam para a mulher que saía para ser candidata e fazer campanha, achavam que essa mulher queria se entregar para o mundo e esquecer até da família. Porque eles não viam a gente cuidar do lar, do trabalho, da comunidade, não viam isso, não viam que a mulher... Achavam que a mulher não tinha base (estrutura). Assim, como é que

290 MODESTO, Maria Augusta Lima. Depoimento [fevereiro, 2010]. Araripina-PE. Entrevista concedida a autora. 291 "Mesmo quando a presença das mulheres políticas se amplia, na política e no noticiário, a vida conjugal, a relação com os filhos e com a rotina doméstica está em pauta, novamente reforçando os estereótipos de gênero. Um dos desdobramentos dessa situação desigual é que atenção entre vida pública e vida doméstica faz parte da caracterização das mulheres que atuam na política, enquanto parece ser uma questão ausente ou, quando muito lateral para caracterização das carreiras e para discussão das chances de êxito dos homens. Afinal, essa política é coisa de homem, para voltar o texto de Veja, isto é, configurou-se historicamente como território masculino, produzindo a valorização de determinados comportamentos e rotinas que, como no mundo do trabalho, pressupõem que mulheres estarão em casa gerenciando a vida cotidiana e cuidando de filhos e outros familiares que exijam maior atenção". MIGUEL, Luis Felipe; BIROLI, Flávia. Op. cit., 2011. p.176. 148

uma mulher deixa a casa dela, abandona e vai fazer campanha política? Achavam que era uma coisa sem futuro. Eu mesma nunca achei que fosse sem futuro, eu acho que foi um avanço que nós tivemos pela coragem que a mulher não só eu, outras e outras mulheres tiveram de romper com esse sistema de "ditadura", porque ainda era o sistema de ditadura, não é?292

Em relação aos apoios familiares a sua candidatura, Maria Lopes (PT) explicou que teve muita resistência no seu núcleo familiar. Essa resistência se relacionava porque seus parentes – tios, tias, primos e primas – eram ligados a outras agremiações partidárias, daí a dificuldade em apoiá-la, como a princípio João Lopes – seu esposo – que demorou a aceitar e apoiar a sua candidatura.

Apesar da família (tios, tias, primos e primas) serem de outras alas partidárias e achavam que fazia vergonha a mulher se destacar assim, minha família no início muitos votaram contra mim, mas isso me levou a amar mais a política, quando eu vi que o que eu conhecia eles não estavam conhecendo, eles não estavam certos e na segunda candidatura já obtive bem mais votos. E, eu percebi que alguém da minha família já me ajudou, mas por essa coragem que eu tive de levar em frente. [...] No início, foi um pouco difícil meu esposo aceitar minha candidatura. Primeiro ele é muito tímido, depois amigo de pessoas políticas de outros partidos e ele sentia que aquilo para ele ia fechar um pouco algumas coisas. Eu fui funcionária da Prefeitura Municipal de Simões, e eu não me apeguei com a carteira assinada de jeito nenhum, mas, eu sentia que ele tinha aquele apego ainda, e achava que eu devia esperar mais um tempo para lançar minha candidatura, estava muito cedo, que eu não devia enfrentar aquele sistema político, que as pessoas estavam se afastando até de mim com medo. Porém, eu dizia para ele assim: – a gente não pode fazer a vontade das pessoas, a gente tem que fazer a vontade de Deus, e eu estou aqui para fazer a vontade de Deus, a vontade de Deus é mais importante e vai dar tudo certo. Graças a Deus ele foi se conscientizando, depois ficou do meu lado.293

Maria Marlene de Morais candidatou-se a vereadora pelo PFL, em Simões-PI, nas eleições 1996. Segundo a entrevistada, alguns cabos eleitorais tentaram inviabilizar sua eleição. Entretanto sua família não foi resistente em aceitar sua candidatura.

Os "cabos eleitorais" tentaram me excluir da campanha eleitoral. Você sabe, eles tem seus interesses, alguns deles há algum tempo já tinham seus vereadores, porque recebiam

292 REIS, Maria de Jesus de Araújo (Maria Lopes). Depoimento [julho, 2010]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 293 Ibidem. 149

recursos financeiros para apoiá-los. Por outro lado, eu era uma das candidatas mais pobres da época, então eu não tinha muita a parte financeira para está dando a "cabos eleitorais" para eles estarem passando para outras pessoas e isso a gente sabe, que a maioria hoje desses "cabos eleitorais" tem seus interesses. E eu não tinha isso, de em tal região colocar um "cabo eleitoral" para trabalhar para mim. Eu não tinha, onde na época tinha outras pessoas como posso citar o irmão do prefeito, que era candidato a vereador também, ele no caso tinha uma boa condição financeira e colocou "cabo eleitoral" lá na região. Aí teve resistência por parte de umas duas pessoas nessa região, mas graças a Deus nessa região mesmo eu sai com 80% (oitenta por cento ) dos votos. [...] também não tive nenhum resistência, nem por parte de marido, nem de filhos, de nenhuma pessoa da família, todo mundo aceitou e quero dizer que, durante este tempo tive um grande apoio da família, de toda a família. Assim, foi difícil ser eleita, pois a gente sabe que é uma luta grande conquistar votos. Hoje na política é preciso ter estrutura financeira, por mais que você já tenha um trabalho prestado, agente precisa da parte financeira, mais até isso não tive dificuldades. Porque contei com muitas ajudas financeiras da minha família, todos ajudaram, irmãos, primos, alguns tios, e não foi tão difícil chegar lá não.294

A vereadora Maria das Graças Veloso Sousa – Graças Veloso (PFL), eleita para o mandato legislativo de 2001 a 2004 em Simões-PI, expôs que seus projetos na Câmara Municipal, às vezes, eram aprovados, contudo, poucos projetos foram implementados na prática, o preconceito estava relacionado ao fato dela ser mulher.

Os projetos dentro da casa são aprovados, mas poucos são executados pelo fato de ser da mulher. [...] o homem tem muito medo de ser passado para trás, em relação à sociedade, ainda há um preconceito, mas acredito que aos poucos está se quebrando este preconceito.295

Efetivamente, para tratar de preconceitos e exclusões, sofridos pelas mulheres em atuação política no Araripe, é importante fundamentar, teoricamente, à luz das abordagens sobre gênero. Em tempos de globalização é necessário posicionar pela democracia ampla e irrestrita, na qual os estudos de gêneros articulem o global com o local. Para isso, torna-se imprescindível analisar que as discussões relacionadas com o gênero levem em consideração "[...] a recepção das

294 MORAIS, Maria Marlene de. Depoimento [julho, 2010]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 295 SOUSA, Maria das Graças Veloso. Depoimento [setembro, 2004]. Simões-PI. Entrevista concedida a autora. 150

idéias e instituições feministas, [...]"296 e sua contribuição para um melhor conhecimento das contradições da sociedade brasileira. Desse modo, com a ampliação de novos objetos na historiografia, a temática sobre gênero ganhou destaque. Com os questionamentos ao sujeito universal297 dos sistemas de análises totalizantes, tivemos passos importantes para valorização de uma experiência social feminina na historiografia, ou seja, isto possibilitou a expansão dos limites da história para esse grupo, antes marginalizado, quando não excluído, o que fez emergir a preocupação com as diferenças também do binômio masculino/feminino. O discurso pluralista na abordagem de gênero tem contribuído para uma revisão na epistemologia histórica, uma vez que adota interdisciplinaridade para compreender a complexidade do objeto humano. Nesse sentido, discute-se, a partir da noção "gênero", a inserção e atuação de mulheres nas eleições municipais das cidades: Araripina-PE e Simões-PI. Importa salientar que entende-se "gênero" como "campo de possibilidades", isto é, como uma noção histórica capaz de contribuir no desenvolvimento da pesquisa e não como modelo explicativo, que opõe masculino e feminino, ou qualquer outra oposição mecânica e maniqueísta dos processos históricos vividos. Qual atmosfera social e política que permitiu a inserção de mulheres nos espaços públicos da cidade? É possível ainda insistir na oposição "Espaço Privado X Espaço Público"? Quais as lutas, embates e conflitos enfrentados por essas mulheres que "resolveram" questionar a ordem? Na reflexão sobre a história das relações de gênero percebe-se que muitos historiadores têm dificuldades em escrever sobre a atuação das mulheres na história. Parte da produção historiográfica elabora uma abordagem relacionada a essa temática de maneira essencialista e parcial. Entretanto, nesse trabalho, gênero é discutido numa análise problematizadora, pois ressalta-se que essas abordagens sofreram importantes modificações nas últimas décadas, o diálogo seguinte propõe observar que:

296 SORJ, Bernardo. A nova sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p.106. 297 "As estruturas sócio-econômicas e imaginárias e [...] as representações sociais, que adensam e se cristalizam numa construção hierarquizada do feminino e do masculino são instituídos pelas constelações imaginárias de significações. O homem torna-se nesta perspectiva, o sujeito universal e o referente, aquele que ancora a criação diferença sexual normativa e evidente". SWAIN Tânia Navarro. Mulheres, sujeitos políticos, que diferença é esta? In: SWAIN Tânia Navarro; MUNIZ, Diva do Couto Gontijo. (Orgs.). Mulheres em ação: Práticas discursivas, práticas políticas. Florianópolis: Ed. das mulheres / Belo Horizonte: PUC-MG, 2005. p.337-338. 151

As contribuições dos estudos de gênero para historiografia contemporânea são inquestionáveis, pois além de tirarem as mulheres da invisibilidade no passado, colocam um conjunto de questões-reflexões metodológicas importantes, por exemplo, as universalidades do discurso historiográfico, que possibilitam o crescimento da história das diferenças e a valorização do relacional na análise.298

Pensar sobre a diferença exige uma definição para construção das relações entre os indivíduos e os grupos sociais. A categoria gênero se apresenta como viés de análise relevante, para compreender os espaços de atuação e mobilização política das mulheres do Araripe. Dessa maneira,

'Gênero' foi um termo usado para teorizar a questão da diferença sexual. Nos Estados Unidos, o termo é extraído tanto da gramática, com suas implicações sobre convenções ou regras (feitas pelo homem) do uso da lingüística, quanto dos estudos da sociologia dos papéis sociais designados a mulheres e homens. Embora os usos sociológicos de "gênero" possam incorporar tônicas funcionalistas e essencialistas, as feministas escolheram enfatizar as conotações sociais de gênero em contraste com as conotações físicas de sexo.299

Como essa pesquisa se fundamenta, teoricamente, na história cultural, o diálogo estabelecido com esse campo historiográfico oferece uma multiplicidade de análises, uma delas apontadas nesse estudo, é sobre "mulheres". Para entender e examinar a categoria "mulheres" busca-se fazer um percurso histórico de como elas aparecem na escrita dos historiadores. É importante salientar que, anteriormente, muitos dos historiadores que focavam suas pesquisas no social "[...] documentaram os efeitos da industrialização sobre as mulheres, [...] (questionávamos, menos frequentemente naquela época, sobre a variabilidade histórica do próprio termo 'mulheres', como ele se alterou, como o decorrer da industrialização,[...])"300. Assim, ressalta-se que "a emergência da história das mulheres ficou então entrelaçada com a emergência das 'mulheres' como uma identidade política, e esta foi acompanhada

298 MATOS, Maria Izilda. Âncora de Emoções: corpos, subjetividades e sensibilidades. Bauru-SP: EDUSC, 2005. p.24. Outra elaboração teórica que ganha força nesse estudo tem-se no arranjo social e espacial, que produz o papel esperado do gênero feminino ao se constituir regulado por um poder disciplinar, nesse viés de análise "[...] em vez de se apropriar e retirar, tem como função maior 'adestrar'; ou, sem dúvida, adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor." FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 35ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2000. p.143. 299 SCOTT, Joan. História das mulheres. In: BURKE, Peter. A escrita da História: Novas perspectivas. 7a. ed. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992. p.86. 300 Ibidem. p.82. 152

por uma análise que atribuía a opressão das mulheres e sua falta de visibilidade histórica à tendenciosidade masculina" 301. Cabe assinalar que,

[...] a categoria "mulheres" assumiu uma existência como entidade social separada de seu relacionamento conceitual historicamente situado com a categoria "homem". A história das mulheres passou menos tempo documentando a vitimização das mulheres e mais tempo afirmando a distinção da "cultura das mulheres", criando assim uma tradição histórica a que as feministas poderiam apelar, como exemplos de atividade das mulheres, para provar sua capacidade de fazer história.302

Tentou-se responder que os preconceitos e as exclusões das mulheres do Araripe, nos processos político-eleitorais nas cidades de Araripina-PE e Simões-PI, além das questões de gênero perpassaram também pelas questões econômicas, ideológicas partidárias, entre outras. Uma discussão pertinente e amplamente tratada foi que as famílias das militantes candidatas, ora apoiavam suas candidaturas, ora nem aceitavam que disputassem os cargos eletivos. Por fim, tratou-se das lutas pela conquista do sufrágio feminino, também do longo debate pela implementação das cotas, embora se soubesse que as mulheres eram mais da metade do eleitorado. A lei de cotas reservava a elas apenas 30% das vagas na listagem de candidaturas, contudo, as agremiações partidárias não cumpriam com o percentual determinado pela lei. Entretanto, mesmo nas regiões onde se consegue eleger mais mulheres, mais de 85% das Câmaras Municipais eram compostas por homens. Cabe ressaltar que "a timidez da lei brasileira comprime, fortemente, a possibilidade de uma ampliação expressiva, em curto prazo, da presença feminina nos espaços de poder"303. No cenário político no Araripe, as mulheres relataram, em suas narrativas, algumas facilidades e, parte dessas, estavam relacionadas às suas atuações em diversos setores (saúde, educação, entre outros), como militantes dos movimentos sociais e nas pastorais da Igreja Católica. Ao final procurou-se mostrar que pleitear vagas nos Parlamentos e nos Executivos Municipais não foi tarefa fácil, porque essas militantes em ação política no Araripe enfrentaram preconceitos e exclusões.

301 SCOTT, Joan. História das mulheres. In: BURKE, Peter. Op. Cit., 1992. p.84. 302 Ibidem. p.83. 303 MIGUEL, Luiz Felipe; QUEIROZ, Cristina Monteiro de. Op. cit., mai./ago. 2006. p.382. 153

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Liberta-se mulher desse sonho de aguardar que te libertem com os braços cruzados.

Mulher encarne em ti a vida e a morte a força e a liberdade dessa vida que nasce hoje dessa forma de ser que vem de ontem e se integra para criar uma mulher forte.

(Guiomar Cuesta Escobar)

154

A dissertação "MULHERES DO ARARIPE: trajetórias de lutas e representatividade política (1982-2004)" buscou inicialmente entrar nos caminhos e veredas da região do Araripe para compreender as táticas, estratégias, dificuldades, facilidades, resistência, preconceitos e exclusões vivenciadas pelas mulheres em atuação política nessa espacialidade. Para isso, foi preciso descortinar a partir da utilização das categorias teóricas sobre território, lugar, localidade, comunidade e espaço. Sabe-se que a maioria das cidades brasileiras estão num foco geográfico entre o rural e urbano, é o caso de Araripina-PE e Simões-PI que se colocam na articulação denominada de rurbana304. Dito isso, entende-se que conhecer um território impulsiona a mulheres e homens conhecerem a si mesmos e aos outros, de maneira alguma essa elaboração tem a pretensão de naturalizar os seres humanos, mas sim de que a todo momento estamos territorializando e desterritorializando. Nesse sentido deve-se "[...] pensar a territorialização e a desterritorialização como processos concomitantes, fundamentais para compreender as práticas humanas"305. À luz desses ensinamentos,

a noção de território aqui é entendida num sentido muito amplo, que ultrapassa o uso que fazem dele a etologia e a etnologia. Os seres existentes se organizam segundo territórios que os delimitam e os articulam aos outros existentes e aos fluxos cósmicos. O território pode ser relativo tanto a um espaço vivido, quanto a um sistema percebido no seio do qual um sujeito se sente "em casa". O território é sinônimo de apropriação, de subjetivação fechada sobre si mesma. Ele é o conjunto de projetos e representações nos quais vai desembocar, pragmaticamente, toda uma série de comportamentos, de investimentos, nos tempos e nos espaços sociais, culturais, estéticos, cognitivos.306

A região do Araripe é um território de exercício político, cultural, econômico de mulheres e homens movidos por desejos e vontades. De forma que essa

304 Gilberto Freyre utilizou-se do termo rurban aportuguesando para rurbano, tal termo foi empregado pela primeira vez na obra "Sociologia: introdução ao estudo dos seus princípios" de 1945. "[...] venho, no Brasil, procurando desenvolver [a noção de rurbano] para caracterizar situação mista, dinâmica e, repito, conjugal, fecundamente conjugal: terceira situação desenvolvida pela conjugação de valores das duas situações originais e às vezes contrárias ou desarmônicas, quando puras". FREYRE, Gilberto. Rurbanização: Que é? Recife: Massangana,1982. p.82-83. 305 HAESBAERT, Rogério; BRUCE, Glauco. A desterritorialização na obra de Deleuze e Guattari. In: Revista GEOgraphia. v. 4, n. 7. NUREG. Departamento de Geografia Universidade Federal Fluminense – UFF. Niterói: 2002. p.7. 306 GUATTARI, Félix; ROLNIK, Sueli. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1986. p.323. 155

espacialidade se tornou um lugar, no qual as pessoas se deslocam cotidianamente para realizar fazeres e saberes políticos, econômicos, subjetivos e culturais. Indubitavelmente compreende-se que "a subjetividade é essencialmente social, cultural, assumida e vivida por indivíduos em suas existências particulares"307. De modo que considera, a subjetividade pelo ângulo de sua produção por instâncias individuais coletivas e institucionais, procura-se renunciar as pretensões universalistas das modelizações psicológicas para tentar apreender a subjetividade em sua dimensão de criatividade processual, como todo, um conjunto de circunstâncias histórico-sócio-culturais (origem, classe social, etnia, cultura) e biográficas (trajetória de vida e de trabalho) que enseja o sentido do eu.308

Cabe questionar, pelo viés das subjetividades políticas, de que maneira as trajetórias destas três mulheres do Araripe foram marcadas: Maria Preta, Bárbara de Alencar e Jovita Alves Feitosa. As lutas dessas mulheres em movimento serviram para mostrar as formas femininas de atuação não somente na região do Araripe, mas também no âmbito de Brasil. É evidente que a ação política dessas mulheres estava articulada no campo relacional entre os gêneros309, porque não se deve

[...] ocultar o poder a que estes gêneros – feminino e masculino – estão submetidos e que constantemente disputam. Para compreender esta disputa, neste instante, recordemos a paulatina substituição do poder feminino (dominante no período Paleolítico) pelo masculino no controle da sociedade humana a partir do desenvolvimento da agricultura (período Neolítico), e, posteriormente, a partir do século XVIII (com a Revolução Industrial), o embate e a disputa (nunca pacífica, pois se em algumas situações e momentos não há a prática da violência física como forma de repressão e tentativa de manutenção do poder do masculino, esta violência está sempre presente de forma emocional, psicológica, social e cultural) por espaços públicos e privados e de domínio.310

Destarte, a reflexão teórica sobre abordagem de gênero, auxiliou nessa pesquisa. Pois para entender a condição das mulheres cabe:

307 MATOS, Maria Izilda Santos de. Âncora de Emoções: corpos, subjetividades e sensibilidades. Bauru-SP: EDUSC, 2005. p.28. 308 Ibidem. 309 Efetivamente, entende-se que estudar a participação política feminina baseia-se na compreensão de gênero como um processo que articula sexo, desejo e prática sexual, no qual o corpo é moldado pela cultura através do discurso composto de espacialidades. BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003 310 SILVA, Samara Mendes Araújo. A Luz dos valores religiosos: as escolas confessionais católicas e a escolarização das mulheres piauienses (1906-1973). Dissertação (Mestrado em Educação), UFPI, Teresina-PI, 2007. p.31. 156

[...] promover estudos sobre a vida feminina – formas de trabalho, corpo, prazer, afetos, escolarização, oportunidades de expressão e de manifestação artística, profissional e política, modos de inserção na economia e no campo jurídico – deu origem, no mundo acadêmico, ao termo e a estudos sobre gênero, o qual passa a ser usado com o significado distinto e distante do termo sexo [...].311

Com efeito, foi nas décadas de 1970 e 1980 que muitas das lutas promovidas pelo segmento feminino modificaram legislações relacionadas às mulheres. Neste período, observa-se que a crescente urbanização, nos grandes centros e a ampliação dos serviços públicos produziram novos postos de trabalho que foram ocupados por um grande número de mulheres.312 Nesse sentido, pode-se enfatizar que a história das mulheres começou a surgir dentro de uma história do trabalho. Nos anos seguintes emergem uma variedade de temas, em que muitas produções acadêmicas concentram seus estudos não somente nos novos agentes sociais, destacando-se entre estes as mulheres, mas também outras dimensões da vida social foram privilegiadas. Dessa forma, história das mulheres ganhou visibilidade e adquiriu um estatuto próprio, afirmando-se como área de interesse da academia313. No campo da política partidária brasileira, cabe enfatizar que partes dos partidos brasileiros muitas vezes se pautam numa política misógina – os partidos políticos tradicionalmente são uma arena masculina, há algum tempo atrás, praticamente só abrigavam correligionários homens – tornando difícil a participação das mulheres. Por outro lado, atribui-se a sub-representação das mulheres no Legislativo e no Executivo por causa da tradicional política brasileira, que sempre foi dominada por homens. Muitos grupos que ocupam posições de comando na política do país tentam ocultar a participação feminina e, consequentemente, à partilha do poder, dificultando inclusive a implementação de cotas para mulheres como também para afrodescendentes e indígenas. Com a intenção de desvendar a participação política feminina no Araripe, procurou-se destacar que a atuação política das mulheres nesse território em

311 SILVA, Samara Mendes Araújo. Op. cit., 2007. p.29. 312 HOBSBAW, Eric. Revolução social. In: Era dos extremos. Trad. Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, pp. 304-305. 313 RAGO, Margareth. Apud. CUNHA, Maria de Fátima da. A face feminina da militância clandestina de esquerda - Brasil Anos de 1960/70. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Campinas-SP, 2002. p.47. 157

processos eleitorais e nos órgãos de poder ainda exige profundas transformações sociais. Vale salientar que a presença das mulheres na política eleitoral de Pernambuco teve início em 1935, porém as candidaturas das pernambucanas não se desdobraram efetivamente em mandatos eletivos. Mesmo assim, a referida data tornou-se significativa para as mulheres. Notadamente, busca-se comprovar no diálogo a seguir que esse processo eleitoral constituiu na "[...] primeira eleição municipal após a conquista do voto, uma vez que as candidaturas de mulheres pernambucanas às eleições constituintes nacional e estadual, em 1933 e 1934, respectivamente, não se converteram em mandatos"314. Em relação ao Piauí, a participação de mulheres nos processos eleitorais foi registrado no ano de 1937 com aquisição de título de eleitora, no município de Castelo do Piauí. Cabe ressaltar que somente mais tarde, no ano de 1958, teve-se notícia do caso Zezita Cruz Sampaio, uma das primeiras prefeitas do Estado do Piauí na cidade de Buriti dos Lopes. Nesse mesmo ano, nos municípios do interior do Estado, constatou-se a presença de cinco vereadoras eleitas: Itainópolis, Paulistana, Landri Sales, Nazaré do Piauí e Beneditinos315. Para isso, torna-se necessário fazer um percurso no processo eleitoral de 1982. Essas eleições representaram um marco na história política do Brasil, rompendo com o período de opressão que durou 21 anos – ditadura militar – pois até então não haviam sido realizadas eleições desta envergadura como pode-se verificar no diálogo seguinte:

Em 1982, são realizadas eleições para governadores de estados, Senado, Câmaras dos Deputados, Câmaras municipais e prefeitos de pequenos municípios. Os partidos de oposição conquistaram dez governos estaduais e em especial os três maiores estados da Federação (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) e, juntos obtêm 50,9% das cadeiras na Câmara dos Deputados.316

314 BUARQUE, Cristina. A representação das mulheres em Pernambuco: uma excessiva minoria. In: As eleições de 2004 e a representação política das mulheres no Nordeste. Cadernos Feministas de Economia & Política. Recife-PE: Casa da Mulher no Nordeste, n. 2, 2005. p.49. 315 SILVA, Maria Dulce. Mulher e Participação política no Estado do Piauí. In: Cadernos Feministas de Economia & Política. Recife-PE: Casa da Mulher no Nordeste, n. 2, 2005. p.133. "Em Teresina, só em 1962, aconteceu a primeira candidatura de uma mulher à prefeitura municipal, Iracema dos Santos Rocha, mas que não foi eleita. Passaram-se, então, duas décadas para que a capital viesse a eleger uma mulher, no caso, a vereadora Maria Guadalupe Lima". Ibidem. 316 MARENCO, André. Devagar se vai ao longe? A transição para a democracia no Brasil em perspectiva comparada. In: MELO, Carlos Ranulfo; SAÉZ, Manuel Alcântra. (Orgs.). A democracia brasileira: Balanço e perspectiva para o século 21. Belo Horizonte-MG: Editora UFMG, 2007. p.82. 158

No tocante a esse pleito, em termos de Brasil, todas as agremiações partidárias manifestaram interesse em participar das eleições, e assim as fizeram registrando suas candidaturas para vereadores. Contudo, "[...] apenas os dois maiores – PMDB e PDS – elegeram um número significativo [...] de representantes femininas. O PT, em São Paulo; o PDT, no Rio Grande do Sul, e o PTB, no Rio de Janeiro, contribuíram também para que as mulheres estivessem presentes nas Câmaras de Vereadores"317. Quanto ao número de vereadoras eleitas no território brasileiro ficou assim distribuído:

O PDS elegeu muitas mulheres nos estados do Nordeste (102 no Ceará, 161 na Bahia, 87 no Rio Grande do Norte, 50 em Pernambuco, 47 em Alagoas). Mas também em Minas Gerais (144) e São Paulo (103) esse partido elegeu mulheres. Quanto ao PMDB, apenas em São Paulo o número das eleitas ultrapassou uma centena (116), sendo que no Estado do Rio de Janeiro esse número não passou de nove, igual ao de Mato Grosso. Apenas em Minas atingiu a 76, sendo bem menor nos demais estados.318

É pertinente salientar nesse estudo a participação das mulheres no parlamento em alguns países. Dados mostram que o Brasil está no 142º lugar em relação a participação das mulheres no parlamento, atrás de Ruanda (56% de parlamentares mulheres), Argentina (40%), Angola (37%) e Moçambique (34%). No caso brasileiro constata-se que:

No espaço político, strictu sensu, as decisões e postos de chefia sempre estiveram nas mãos dos homens; a participação de mulheres eleitas nos postos do legislativo ainda é frágil: em 2004, apenas 53 mulheres eleitas representam 9% do total de 594 parlamentares federais, das quais 45 são deputadas federais e 8 são senadoras. Estas cifras não apontam para grandes mudanças em termos de exercício de poder, na articulação das relações entre mulheres e homens.319

317 TABAK, Fanny. O perfil da vereadora brasileira. In: Revista de Administração Municipal. v. 35, n. 186, jan./mar. Rio de janeiro: IBAM, 1988. p.24. 318 Ibidem. 319 SWAIN, Tânia Navarro. Mulheres, sujeitos políticos, que diferença é esta? In: SWAIN, Tânia Navarro; MUNIZ, Diva do Couto Gontijo. (Orgs.). Mulheres em ação: Práticas discursivas, práticas políticas. Florianópolis: Ed. das mulheres / Belo Horizonte: PUC-MG, 2005. p.339. Atualmente na Presidência de Dilma Rousseff são 10 mulheres que ocupam cargos de ministras: Gleisi Helena Hoffmann (Casa Civil da Presidência da República); Ana Maria Buarque de Hollanda (Ministério da Cultura); (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome); Izabella Teixeira (Ministério do Meio Ambiente); Miriam Belchior (Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão); Helena Chagas (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República); Maria do Rosário Nunes (Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República); (Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial); Iriny Lopes (Secretaria Especial de 159

Ao estudar o poder político na espacialidade do Araripe, destaca-se que a máxima da Constituição Federal, ao enfatizar que o poder emana do povo320, não chegou plenamente para as minorias do país, em especial ao segmento feminino. Em contraposição ao preceito constitucional citado anteriormente, deve-se lembrar que: o mundo do poder político, mesmo o das artes e do conhecimento, são pouco citados como espaços concretos de ação feminina, ainda distantes da realidade da maioria das mulheres no Brasil, ainda que os dados indiquem disposição em conquistá-los. A concentração de obrigações e responsabilidades no mundo privado, reposta a cada dia, certamente dificulta a que se aventurem por outros caminhos públicos, que exigem dedicação e experiência. Para que as mulheres possam exercer a cidadania com igualdade de condições, portanto, ainda há muito que percorrer e romper.321

Com efeito, já citado anteriormente, historicamente a região do Araripe (foi e) é apontada como espacialidade marcada pelo estigma do "cabra macho", do "cabra valente" e, de certa forma, pelo autoritarismo dos governos locais. Essas representações estão presentes na literatura e na música nordestinas322. Partindo desse pressuposto, esta investigação verificou que a participação e inserção das mulheres: Vera Lúcia dos Santos Araujo; Maria Darticlea A. Lima Modesto; Francisca de Assis Arruda Gomes - Assisinha; Silvania Maria de Oliveira Gomes; Maria Augusta Lima Modesto; Maria Gracilda Lopes de Carvalho; Maria Aparecida dos Reis - Cidoca; Maria de Jesus de Araújo Reis - Maria Lopes; Maria Marlene de Morais; Terezinha de Jesus Carvalho e Sousa; Maria das Graças Veloso Sousa e

Políticas para as Mulheres) e Ideli Salvatti (Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República). 320 Em seu parágrafo único a Carta Magna legisla: "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição." BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. São Paulo: Editora Saraiva, 1996. 321 VENTURI, Gustavo; RECAMÁN, Marisol. As mulheres brasileiras no início do século XXI. In: VENTURI, Gustavo; RECAMÁN, Marisol; OLIVEIRA, Suely. de. (Orgs). A Mulher brasileira nos espaços público e privado. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004. p.29. 322 Discutir sobre as mulheres do Araripe leva a também observar as produções musicais dessa região. Na poesia musical de Luiz Gonzaga e Zé Dantas "Cabra da Peste" aborda-se esse espaço como um lugar do "cabra da peste" "valentão sem controle". A maioria da produção musical de Luiz Gonzaga tem como destaque as influências sonoras dessa região do sertão nordestino, especialmente na região do Cariri e sua chapada – a Serra do Araripe. Na música percebe nitidamente a construção desse espaço relacionado ao "cabra valente": Eita! sertão do Nordeste/ Terra de caba da peste/ Só sertanejo arriseste/ anos de seca e verão/ Toda dureza do chão/ Faz também duro/ O homem que vive no sertão/ Tem cangaceiro/ Mas tem romeiro/ Gente ruim, gente boa/ Cabra bom, caba à toa/ Valentão sem controle/ Só num dá cabra mole/ Tem cangaceiro/ Mas tem romeiro/ Lá um caboco mais fraco é vaqueiro/ Eita, Sertão/ Eita, Nordeste/ Eita, sertão/ Ê, he, he, he, he hei tá/ Caba da peste (GONZAGA, Luiz; DANTAS, Zé. Cabra da Peste Baião. julho de 1955. RCA Victor 80.1450b). 160

Maria Clenilda de Carvalho Assunção - Maria Luiza, em ação política no Araripe, representaram um rompimento com as estruturas do patriarcado. De fato, no trabalho examinou-se como se deu o processo de inserção e participação das mulheres nos poderes Executivo e Legislativo nas cidades de Araripina-PE e Simões-PI, no período de 1982 a 2004. Evidentemente que essa pesquisa não teve a pretensão de encerrar as investigações sobre as mulheres do Araripe em processos eleitorais e nos órgãos de representações. Acredita-se que esse trabalho seja uma referência para estudar a participação feminina na política partidária nos municípios dessa região e do Brasil. Por fim, espera-se que essa pesquisa – MULHERES DO ARARIPE: Trajetórias de lutas e representatividade política (1982-2004) – abra possibilidades para outros trabalhos acadêmicos estudarem a questão do eleitorado nessa região ou em outros municípios brasileiros.

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ANEXOS

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ANEXO 1 - PERCURSO DOS PARTIDOS POLITICOS NO BRASIL

SIGLA E ANO DE REGISTRO E NOME DO HISTÓRICO DO PARTIDO NÚMERO PARTIDO Em 30/06/1981, o anterior MDB foi PMDB O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) registrado definitivamente como Partido 15 originou-se do Ato complementar nº4 decretado do Movimento Democrático Brasileiro menos de um mês do AI 2 (em 20/11/1965). (PMDB), essa agremiação partidária se coloca como partido de centro. Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), fundado por Getúlio Vargas em 15 de maio de 1945, foi extinto depois do golpe militar de 1964, foi disputado por Com o retorno do pluripartidarismo essa duas agremiações após a reformulação do sistema PTB legenda de perfil ideológico de direita partidário, em 1979. A deputada Ivete Vargas, 14 volta a ter deferido seu registro em sobrinha-neta do ex-presidente, acabou ficando 03/11/1981. com a legenda que levou o concorrente Leonel Brizola a fundar o Partido Democrático Trabalhista (PDT). 17 de junho de 1979, transformou-se numa data significativa para o Partido Democrático Trabalhista O registro definitivo dessa legenda (PDT), pois nesse momento foi um dos primeiros PDT partidária de centro-esquerda focada em encontros dos trabalhistas no Brasil com os 12 ideais trabalhistas ocorreu em trabalhistas no exílio, liderados por Leonel Brizola. 10/11/1981. Existiram outras reuniões promovidas em N.York que propiciaram a formação do PDT. A Carta de Princípios, lançada publicamente no 1º Em 11/02/1982, registro deferido do PT de maio de 1979 constituiu-se num documento Partido dos Trabalhadores (PT). Sua 13 anterior ao Manifesto de Fundação do Partido dos posição político-ideológica é definida com Trabalhadores (PT). um partido de esquerda. O Democratas (DEM) originou do Partido da Frente Liberal (PFL) que foi formado por dissidentes do Essa agremiação partidária tida como de DEM PDS que optaram por apoiar a candidatura de orientação ideológica de direita foi 25 Tancredo Neves do PMDB, nas eleições indiretas registrada em 11/09/1986. de 1985, contra Paulo Maluf. No estatuto do Partido Comunista do Brasil (P C do B) está expresso que o partido foi "fundado em 25 O PC do B se caracteriza como uma de março de 1922, reorganizado em 18 de agremiação de esquerda vinculada às PC do B fevereiro de 1962 e legalizado, na fase atual, em 27 idéias socialista, patriótica e anti- 65 de maio de 1985". Entretanto, para alguns analistas imperialista. Seu registro definitivo essa agremiação surgiu em 1962 como uma ocorreu em 23/06/1988. dissidência do então clandestino Partido Comunista Brasileiro (PCB) Em 1945, foi lançada a semente chamada de Esquerda Democrática (ED), seu objetivo era combinar as transformações sociais com ampla Renasceu vinculado à esquerda PSB liberdade civil e política. Mais tarde no ano de brasileira, o PSB se caracteriza como um 40 1947, esse segmento transformou-se em Partido partido guiado pelas idéias socialistas, foi Socialista Brasileiro (PSB) sendo extinto em 1965 registrado definitivamente em 01/07/1988. com a Decretação do Ato Institucional nº 2. em 1985. O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) surgiu durante as sessões da Assembleia Nacional Constituinte como uma dissidência do PMDB Em 24/08/1989, ficou registrado PSDB contrária à liderança de Orestes Quercia em São definitivamente. A agremiação partidária se 45 Paulo e a favor da redução do mandato do então coloca como partido de centro. presidente José Sarney e da adoção do sistema de governo parlamentarista. O fim do Regime Militar, em 1985, e as lutas pela redemocratização do Brasil propiciou o surgimento do Partido Trabalhista Cristão (PTC), antes denominado de Partido da Juventude (PJ/1988- O Partido Trabalhista Cristão (PTC) obteve PTC 1989), participou das eleições seu registro definitivo em 22/02/1990 se 36 de 1985, 1986 e1988. No início de 1989, foi caracteriza como um partido de direita. renomeado como partido da Reconstrução Nacional (PRN/1989-2000), sempre presidido pelo advogado Daniel Tourinho, antigo filiado do PDT. 179

De inspiração nos valores do cristianismo a história do Partido Social Cristão (PSC) começou em 1970, O PSC é uma agremiação partidária de PSC com a criação do PDR (Partido Democrático direita, teve seu registro definitivo deferido 20 Republicano) que posteriormente se transformou pela Justiça em 29/03/1990. em 15 de maio de 1985 em PSC. O percurso histórico do Partido da Mobilização Balizado nas idéias do movimento PMN Nacional (PMN), iniciou em 21 de abril de 1984, nacionalista. O PMN é tido como partido 30 data que representa o aniversário de morte de de direita, seu registro em definitivo Tiradentes (21/04/ 1792). aconteceu em 25/10/ 1990. O Partido Republicano Progressista (PRP), remete ao antigo partido fundado nos anos de 1940 pelo PRP O PRP está focado no bloco de direita e foi ex-governador de São Paulo-SP Ademar de 44 registrado no TSE em 29/10/1991 Barros. A sigla faz referência aos velhos PRP e Partido Social Progressista (PSP). Partido Popular Socialista (PPS) surgiu após decisão de setores da executiva nacional do O PPS se localiza politicamente como um PPS Partido Comunista Brasileiro (PCB) romper com o partido de esquerda, seu registro foi 23 partido e fundar um novo. O PPS diante da nova deferido em 19/03/1992. ordem mundial com o colapso do socialismo real.

Partido Verde (PV) versão brasileira dos partidos Essa agremiação partidária se caracteriza PV que lutaram pelo meio ambiente na Europa, na ideologicamente como partido de centro e 43 Alemanha ocorreu o primeiro registro desse partido pela defesa do ambientalismo, teve seu nos anos de 1980. registro deferido em 20/08/1991 Partido Trabalhista do Brasil (PT do B) foi O partido se posiciona politicamente como PT do B organizado por dissidentes do PTB, em de direita e teve seu registro deferido em 15/05/1989. sessão de 03/12/1991, O PP é vinculado ideologicamente a direita Partido Progressista (PP) essa agremiação surgiu brasileira. Em sessão do dia 29/05/2003 o com a ARENA, em 1966, mudou de nome para PP Partido Progressista Brasileiro - PPB teve PDS fundindo-se com o PDC originando o PRP, deferido o pedido de mudança de mudou para PPB e atualmente é PP. nomenclatura e sigla para Partido Progressista-PP. Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) era uma corrente interna no PT chamada PSTU é uma agremiação partidária de Convergência Socialista, rompendo com esse PSTU esquerda e se filia a uma tradição partido criou o Partido Revolucionário dos marxista, pautando na luta pela 16 Trabalhadores – PRT. Solicitou o registro provisório implantação do socialismo. Seu registro foi em 17/12/1992, posteriormente alterou sua deferido em 30/09/1993. nomenclatura e sigla em 23/07/1993 para Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – PSTU. Partido Comunista Brasileiro (PCB) fundado em 1922, sendo legalizado pela primeira vez no ano de O PCB se posiciona politicamente como PCB 1945. Caiu na clandestinidade em 1947 e voltou um partido de esquerda, seu registro para ser legalizado em 1987, com o rompimento de 23 ocorreu em 09/05/1996 parte da executiva que fundaram o PPS, o partido se articulou solicitando ao TSE um novo registro. O PRTB é tido como de direita e se pauta Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), ideologicamente pelo viés do “Trabalhismo PRTB essa agremiação foi PTR, depois PTRB atualmente Participativo”, onde o capital e o trabalho possam interagir voltados para os 28 é PRTB. Esse partido originou do MTR - Movimento Trabalhista Renovador. interesses da sociedade. Seu processo de registro definitivo foi em sessão de 18/02/1997. O PHS considera que sua influência também veio do livro "Neo-Capitalismo, Socialismo, Solidarismo" do Padre Partido Humanista da Solidariedade (PHS), antigo Fernando Bastos de Ávila de 1963, depois PHS PSN. A construção dessa agremiação foi foi lançado somente com o título influenciada pela inspiração social-cristã, "Solidarismo" a partir de 1965. Com a 31 integrantes do PDC mudaram e construíram essa mudança de nomenclatura da antiga sigla legenda. PSN para Partido Humanista da Solidariedade – PHS, ocorreu seu deferimento em sessão de 30/05/2000. É um partido de direita. 180

Esse partido é inspirado nos valores humanísticos do Cristianismo, fundamentado nas Encíclicas Rerum Quando o PDC se fundiu com o PDS deu origem Novarum de Leão XIII e Quadragéssimo ao PPR, mas José Maria Eymael refundou a PSDC Ano de Pio XII. Suas orientações são legenda adotando o nome de Partido social pautadas: na rejeição ao capitalismo democrata cristão (PSDC). selvagem que não realiza a Justiça e o marxismo. É partido de direita que teve registro definitivo em dia 05/08/1997. De inspiração marxista sua luta é pautada Partido da Causa Operária (PCO) antiga corrente nos princípios trotskista da "revolução PCO interna do PT que chamava Causa Operária. permanente", o partido se reivindica de Surgiu do rompimento com o PT dando origem ao 29 esquerda. Teve seu registro definitivo em PCO. 30/09/1997.

Partido Trabalhista Nacional (PTN) é oriundo do PTN trabalhismo varguista, seus primórdios está no É uma agremiação de direita, seu registro 19 antigo PTN de Jânio Quadros, eleito presidente em definitivo foi 22/08/1997. 1960.

Partido Social Liberal (PSL), essa legenda se PSL É um partido de direita que teve seu baseia nos princípio de uma democracia social registro definitivo em 02/06/1998, 17 liberal, sua fundação ocorreu em 30/10/1994

PRB Partido Republicano Brasileiro (PRB) era o PMR Partido caracterizado como de direita, teve que com pouco tempo depois mudou para atual seu registro após a mudança de sigla em 10 sigla PRB. 11/03/2006. Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), foi constituído a partir das dissidências do PT e do PSTU. No início do governo Lula várias O PSOL é tido como de esquerda, uma PSOL tendências que discordaram da políticas do PT, das bases de seu programa é uma delas: a Reforma da Previdência foram 50 fundamentada no socialismo democrático abrigadas no PSOL. O partido é organizado em correntes internas algumas delas trotskistas e eurocomunistas. Partido da República (PR) antigo PL, tinha Essa agremiação partidária é defensora de PR incorporado as siglas PST e PGT. A fusão do PL um social democracia, se definindo como com PRONA ocorreu 26 de outubro de 2006 22 de direita. Foi registrado em 19.12.2006. resultando no atual PR. Organização da autora tendo como fonte o TSE. Histórico dos partidos políticos323 e Partidos Políticos no Brasil: (1945 – 2000)324

323 Fonte o TSE. Histórico dos partidos políticos. Disponível em , consultado em 10/08/2011. 324 SCHMITT, Rogério. Partidos Políticos no Brasil: (1945 – 2000). Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2000. 181

ANEXO 2 - NÚMERO DE ELEITORES POR SEXO EM ARARIPINA- PE

Estatística do Eleitorado por Sexo e Faixa Etária Pesquisa por Município - Município ARARIPINA-PE - Novembro/2010 Não Faixa Etária Masculino(M) %M/T Feminino(F) %F/T Informado %N/T Total(T) %T/TT (N) 16 anos 215 45.94 253 54.06 0 0 468 .87 17 anos 431 46.49 496 53.51 0 0 927 1.73 18 a 20 anos 1.964 47.65 2.158 52.35 0 0 4.122 7.69 21 a 24 anos 3.024 47.83 3.298 52.17 0 0 6.322 11.79 25 a 34 anos 6.207 47.09 6.973 52.91 0 0 13.180 24.59 35 a 44 anos 4.832 47.2 5.398 52.73 7 .07 10.237 19.1 45 a 59 anos 4.613 47.36 5.118 52.54 10 .1 9.741 18.17 60 a 69 anos 2.124 46.72 2.411 53.04 11 .24 4.546 8.48 70 a 79 anos 1.177 45.2 1.414 54.3 13 .5 2.604 4.86 Superior a 651 44.77 792 54.47 11 .76 1.454 2.71 79 anos TOTAL(TT) 25.238 47.08 28.311 52.82 52 .1 53.601 Fonte: TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE) - Eleitorado por Sexo e Faixa Etária por Município/ Município de ARARIPINA-PE, NOVEMBRO/2010.325

ANEXO 3 - NÚMERO DE ELEITORES POR SEXO EM SIMÕES-PI

Estatística do Eleitorado por Sexo e Faixa Etária Pesquisa por Município - Município SIMÕES-PI - Novembro/2010 Não Faixa Etária Masculino(M) %M/T Feminino(F) %F/T Informado %N/T Total(T) %T/TT (N) 16 anos 62 50 62 50 0 0 124 1.23 17 anos 105 49.07 109 50.93 0 0 214 2.13 18 a 20 anos 400 51.15 382 48.85 0 0 782 7.79 21 a 24 anos 591 50.82 572 49.18 0 0 1.163 11.58 25 a 34 anos 1.332 52.46 1.207 47.54 0 0 2.539 25.29 35 a 44 anos 998 49.88 1.002 50.07 1 .05 2.001 19.93 45 a 59 anos 847 48.96 881 50.92 2 .12 1.730 17.23 60 a 69 anos 374 45.67 445 54.33 0 0 819 8.16 70 a 79 anos 244 49.9 245 50.1 0 0 489 Superior a 97 53.89 83 46.11 0 0 180 79 anos TOTAL(TT) 5.050 50.29 4.988 49.68 3 .03 10.041 Fonte: TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE) - Eleitorado por Sexo e Faixa Etária por Município/ Município de SIMÕES-PI, NOVEMBRO/2010.326

325 Tabela disponível em: . Acesso em 21/12/2010. 326 Tabela disponível em: . Acesso em 21/12/2010. 182

ANEXO 4 - RESULTADO DAS ELEIÇÕES 1982 – ARARIPINA-PE TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO

PREFEITO E VICE Partido Resultado eleitoral José Valmir Ramos Lacerda e Abércio PDS 10. 047 votos - Eleito Josias de Carvalho PREFEITO E VICE – Oposição Partido Resultado eleitoral Afonso Nunes do Nascimento PMDB 2 2.031 votos - Não Eleito PREFEITO E VICE – Oposição Partido Resultado eleitoral José Barreto Modesto PMDB 1 603 votos - Não Eleito VEREADORES Partido Resultado eleitoral Valdemir Batista de Souza PDS 2.210 votos - Eleito João Rodrigues Granja PDS 1.508 votos - Eleito Joaquim Lima Filho PDS 1.446 votos - Eleito Luiz de Alencar Barreto PDS 1.112 votos - Eleito José Iremar Alves Modesto PDS 992 votos - Eleito Ancilon Mendes da Costa PDS 662 votos - Eleito José Freire Bihum PDS 538 votos - Eleito Miguel Braz Sobrinho PDS 513 votos - Eleito Vera Lucia dos Santos Araújo PMDB 997 votos - Eleita VEREADORES SUPLENTES Partido Resultado eleitoral Arlindo Cordeiro da Silva PDS 489 votos - Não Eleito Francisco Jeu de Andrade PDS 327 votos - Não Eleito José Geraldo Alencar PMDB 366 votos - Não Eleito Joaquim Félix Filho PMDB 317 votos - Não Eleito Raimundo Nonato de Andrade PMDB 172 votos - Não Eleito Nilo Arraes PMDB 168 votos - Não Eleito José Nunes de Matos PMDB 142 votos - Não Eleito Teresinha de Alencar Ribeiro PMDB 83 votos - Não Eleita Raimundo Nonato Rodrigues PMDB 36 votos - Não Eleito Cristovão Alves de Holanda PMDB 13 votos - Não Eleito Organizado pela autora. Fonte: TRE-PE. Eleições de 15/11/1982 - Relatório, Recife - dezembro de 1982. p. 345-346.

ANEXO 5 - RESULTADO DAS ELEIÇÕES 1992 – ARARIPINA-PE TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO

PREFEITA Partido Resultado eleitoral 25 Maria Dionea de Andrade Lacerda PFL 13.293 votos - Eleita PREFEITO E VICE – Oposição Partido Resultado eleitoral 36 Emanoel Santiago Alencar PRN 8.684 votos - Não Eleito PREFEITO E VICE – Oposição Partido Resultado eleitoral 52 José Alencar Gualter PST 4.290 votos - Não Eleito VEREADORES Partido Resultado eleitoral 25615 Flavio Ernane Modesto Simeao PFL 1.436 votos - Eleito 36606 Francisco Salomao de Morais PRN 1.150 votos - Eleito 52605 Humberto de O. Carvalho Filho PFL 1.104 votos - Eleito 36623 Maria Darticlea A. L. Modesto PRN 945 votos - Eleito 36609 Tadeu Braz da Penha PRN 938 votos - Eleito 25601 Francisco Rocival L. Gomes PFL 920 votos - Eleito 25614 Amilton Pereira da Silva PFL 835 votos - Eleito 36613 Moises Neri de Oliveira PRN 811 votos - Eleito 36601 Joaquim Alves de Castro Neto PRN 797 votos - Eleito 25613 Valdir Alves de Lucena PFL 783 votos - Eleito 25610 Sinval Ferreira dos Santos PFL 762 votos - Eleito Organizado pela autora. Fonte: TRE-PE. Eleições 1992 – Resultados327.

327 Fonte: TRE-PE. ELEIÇÕES 1992 – Resultados. Disponível em . Acesso em 26/01/2010. 183

ANEXO 6 - RESULTADO DAS ELEIÇÕES 2004 – ARARIPINA-PE TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO

PREFEITA Partido Resultado eleitoral Valdeir de Andrade Batista e José Valmir PSDB 45 16.927 votos - Eleito Ramos Lacerda PV PREFEITO E VICE – Oposição Partido Resultado eleitoral Lula Sampaio e Maria do Socorro H. Muniz PMDB 15 16.161 votos - Não Eleito Falcão do Espirito Santo PPS PREFEITO E VICE – Oposição Partido Resultado eleitoral PSB 40 Zé Alencar e Maria da Penha Silva 1.779 votos - Não Eleito PT VEREADORAS Partido Resultado eleitoral 11111 Maria Augusta Lima Modesto PP 1.509 - Eleita 20345 Maria Francisca Alves Souza PSC 300 votos - Não Eleita 45633 Hema Bandeira Portela PTB 260 votos - Não Eleita 43122 Francisca Betanha Nunes Neri, Betânia PV 239 votos - Não Eleita 43888 Maria Agaci Lopes da Silva PV 233 votos - Não Eleita 25130 Maria Aparecida da Conceição Araújo PFL 101 votos - Não Eleita 14333 Janaína Maria T. P. Cavalcante, Drª Janaína PTB 96 votos - Não Eleita 65966 Silvania Maria de Souza PC do B 67 votos - Não Eleita 13620 Ambrosina da Silva Sousa PT 63 votos - Não Eleita 11222 Neiremar Maria Elói Silva PP 52 votos - Não Eleita 25666 Maria Elisa A. Alencar, Maria de Santo PFL 50 votos - Não Eleita 40888 Irene Idelci Delmondes Souza PSB 43 votos - Não Eleita 13111 Ana Edileusa Nogueira PT 39 votos - Não Eleita 13444 Maria Renata de Melo, Renata PT 32 votos - Não Eleita 12111 Maria Elza G. Coelho, Elza de Zé Leó PDT 25 votos - Não Eleita 14222 Edilene de Lima Silva PTB 24 votos - Não Eleita 40999 Maria Janete C. Ribeiro, Janete PSB 24 votos - Não Eleita Maria do Socorro Emidio C. Rodrigues, 36115 PTC 21 votos - Não Eleita Socorro Emídio 12330 Maria Gilda Silva, Bia da Silva PDT 21 votos - Não Eleita Organizado pela autora. Fonte: TRE-PE. Eleições 2004 – Resultados328.

328 Fonte: TRE-PE. ELEIÇÕES 1992 – Resultados. Disponível em . Acesso em 26/01/2010. 184

ANEXO 7 - RESULTADO DAS ELEIÇÕES 1982 – SIMÕES-PI TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO PIAUÍ

PREFEITO E VICE Partido Resultado eleitoral Joaquim José Valdeci de Carvalho e PDS II 3337 votos - Eleito Abércio Josias de Carvalho

PREFEITO E VICE – Oposição Justino Antônio da Silva PDS I 2.337 votos - Não Eleito Cícero Alves Feitosa PMDB 36 votos - Não Eleito VEREADORES Partido Resultado eleitoral Alfredo Pedro Félix PDS 309 votos - Eleito Aluísio José do Nascimento PDS 290 votos - Eleito Cícero Severo de Macedo PDS 267 votos - Eleito Francisco Evaristo do Nascimento PDS 330 votos - Eleito Francisco Tiago de Carvalho PDS 331 votos - Eleito José Egeu Modesto PDS 357 votos - Eleito Maria Aldenora Oliveira PDS 378 votos - Eleito Maria Gracilda Lopes de Carvalho PDS 274 votos - Eleito Raimundo Batista Gomes PDS 371 votos - Eleito VEREADORES (AS) - SUPLENTES PDS Resultado eleitoral Anfrísio Luiz de Carvalho PDS 167 votos - Suplente Augusto Adelino de Sousa PDS 193 votos - Suplente Cícero Gil de Brito PDS 141 votos - Suplente Cícero Luiz de Carvalho PDS 90 votos - Suplente Claro José de Carvalho PDS 236 votos - Suplente Francisco Cassimiro de Morais PDS 123 votos - Suplente Francisco Gregório da Silva PDS 118 votos - Suplente José Alves Neto PDS 123 votos - Suplente José Feitosa Coelho PDS 126 votos - Suplente José Manoel Tiago PDS 128 votos - Suplente José Marques da Silveira PDS 202 votos - Suplente Juraci J. R. Damasceno PDS 100 votos - Suplente Pedro Carvalho PDS 245 votos - Suplente Raimundo P. dos Santos PDS 177 votos - Suplente Valdinar Joaquim Xavier PDS 244 votos - Suplente Zulmiro C. de Carvalho PDS 156 votos - Suplente VEREADORES (AS) - SUPLENTES PMDB Resultado eleitoral Antônia Nilsa dos Santos PMDB 17 votos - Suplente Elias Dionísio dos Santos PMDB 8 votos - Suplente Osmar dos Santos Araújo PMDB 5 votos - Suplente Rufino Raimundo Nascimento PMDB 2 votos - Suplente Timóteo Pereira Paraibano PMDB 2 votos - Suplente Organizado pela autora. Fonte: TRE-PI. Resultado por município para Prefeito e Vereador - Eleições 1982.329

329 Fonte: TRE – PI. Resultado por município para Prefeito e Vereador - Eleições 1982. Disponível em < http://www.tre-pi.jus.br/novo/home/resultado1982.jsp>, consultado 26/01/2010. 185

ANEXO 8 - RESULTADO DAS ELEIÇÕES 2004 – SIMÕES-PI TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO PIAUÍ

PREFEITO E VICE Partido Resultado eleitoral 25 Joaquim José de Carvalho e PFL/PSDB/P 4.522 votos - Eleito 251 Edilberto Abdias de Carvalho SB PREFEITO E VICE – OPOSIÇÃO Partido Resultado eleitoral 15 João Batista de Carvalho e Maria Aparecida PMDB/PT/ 3.215 votos - Não Eleito 131 dos Reis (Cidoca) PDT/PTdoB PFL/PSDB/ VEREADORES(AS) - ELEITOS COLIGAÇÃO Resultado eleitoral PSB/PTN 45612 Maria Clenilda de Carvalho Assunção PSDB 614 votos - Eleita 25444 Joaquim Honorio da Silva PFL 577 votos - Eleito 25888 Pedro Jose Angelo dos Reis PFL 448 votos - Eleito 25456 Gilson Candido de Lima PFL 410 votos - Eleito 25112 Aluizio José do Nascimento PFL 387 votos - Eleito 25555 Pedro Custódio de Carvalho PFL 351 votos - Eleito por Média PMDB/PT/ VEREADORES(AS) - ELEITOS COLIGAÇÃO PDT/PTdoB/ Resultado eleitoral PTN 12345 Elismar Cordeiro Nunes PDT 427 votos - Eleito 12333 José Aparecido de Moraes PDT 415 votos - Eleito 70000 Pedro Raimundo Felix Filho PTdo B 393 votos - Eleito PFL/PSDB/ VEREADORES (AS) – SUPLENTES Resultado eleitoral PSB 25369 Maria das Graças Veloso Sousa PFL 315 votos - Suplente 45678 Francisca Evaldina de Carvalho Gomes PSDB 304 votos - Suplente 40123 Luis Avilino Lopes dos Reis PSB 250 votos - Suplente 25777 Adão José de Sousa PFL 236 votos - Suplente 25123 Gilberto Basilio de Carvalho PFL 227 votos - Suplente 25000 Ildemarques dos Santos Alves PFL 196 votos - Suplente 25147 Francisca deSousa Nascimento PFL 117 votos - Suplente 25222 Edilson Fernando Felix PFL 110 votos - Suplente 25713 Maria Rosa de Carvalho 84 votos - Suplente PMDB/PT/ VEREADORES (AS) – SUPLENTES Resultado eleitoral PDT/PTdoB 12222 Egnaldo de Brito Nascimento PDT 359 votos - Suplente 13456 Adão Vieira de Araújo PT 224 votos - Suplente 12312 Augusto Carlos Pinheiro de Carvalho PDT 165 votos - Suplente 13123 José Romão da Silva PT 130 votos - Suplente 19456 Francisco Arcanjo do Nascimento PTN 119 votos - Suplente 15555 José Francisco da Costa Neto PMDB 101 votos - Suplente 12000 Walkiro Kell Pereira Chaves PDT 90 votos - Suplente 12369 Maria do Socorro Carvalho Reis PDT 84 votos - Suplente 12340 Joaquim Custódio de Carvalho PDT 53 votos - Suplente 15369 José Manoel Tiago PDT 44 votos - Suplente 12524 Francisca dos Santos e Silva PMDB 41 votos - Suplente 17123 José Elias de França PSL 29 votos - Suplente 12211 Evangelia Maria Pereira PDT 23 votos - Suplente 12328 Ana Maria da Conceição Silva PDT 5 votos - Suplente Organizado pela autora. Fonte: TRE-PI. Resultado por município para Prefeito e Vereador - Eleições 2004.330

330 Fonte: TRE-PI. Resultado por município para Prefeito e Vereador - Eleições 2004. Disponível em . Acesso em 26/01/2010.