ARTIGO ORIGINAL ISSN 0102-2067 / doi: 10.7213/estud.biol.7851 !"#$"!%&'()'*(+,%( !"#$ %(./#%0!1#(.',,'$)

[I] Scaptocoris castanea (Perty, 1830) (, Cydinidae) em área produtora de Glycine max (L.) no município de Primavera do Leste, Mato Grosso [I] Scaptocoris castanea (Perty, 1830) (Hemiptera, Cydinidae) in a producing area of Glycine max (L.) in the city of Primavera do Leste, Mato Grosso State, Brazil [A]

Luís Felipe Cavalli Pessa [a] , Edinalva Oliveira [b] , Rodrigo Penna Nogueira [c] [a] Biólogo, mestre em Microbiologia, Parasitologia e Patologia pela

[R] Universidade Federal do Paraná Resumo (UFPR), Curitiba, PR - Brasil, e-mail: [email protected] Uma população do percevejocastanhodaraiz foi estudada no município de Primavera do Leste, estado do Mato Grosso. [b] Bióloga, doutora em Ciências As coletas foram realizadas de junho a outubro de 2005, em cinco estratos de profundidade: 10, 20, 30, 60 e 120 cm. Foram Biológicas, área de concentração registrados 865 indivíduos; dentre estes, Scaptocoris castanea esteve presente em 621 exemplares. Essa população registrou Zoologia, pela Universidade Federal basicamente dois estágios de desenvolvimento: ninfas (n = 303) e adultos (n = 318). As ninfas foram mais abundantes em do Paraná (UFPR), professora titular do Núcleo de Ciências Biológicas e da julho e adultos em junho e outubro. Ninfas e adultos foram encontrados em todas as profundidades. Entretanto, uma maior Saúde da Universidade Positivo (UP), concentração ocorreu entre 30 e 120 cm. Em relação aos adultos, 87 eram machos e 231 fêmeas. Houve uma relação positiva Curitiba, PR - Brasil, e-mail: entre a abundância de S. castanea e a pluviosidade, porém a temperatura pareceu não inuenciar a espécie no local. [email protected] [P] [c] Palavras-chave Biólogo pela Universidade Positivo : Distribuição vertical. Flutuação populacional. Proporção sexual. (UP), Curitiba, PR - Brasil, e-mail: [email protected] [B] Abstract The population of the brownrootstinkbug were studied in Primavera do Leste, Mato Grosso State, Brazil. There was taken mensal samples of bug’s population from June to October 2005, in ve stratus of depth: 10, 20, 30, 60 e 120 cm. We counted 865 individuals of which Scaptocoris castanea equivalent 621 individuals: nymphs (n = 303) and adults (n = 318), the nymphs more abundant in July and adults in June and October. Nymphs and adults were found every depth. However, we veried bigger concentration from 30 to 120 cm. In adults, 87 are male and 231 female. There was positive relation between abundance and S. castanea and rainy, however the temperature didn’t inuence specie in this region. [K] Keywords : Vertical distribution. Fluctuation. Sex ratio.

Recebido: 30/09/2012 Received : 09/30/2012

Aprovado: 17/11/2012 Approved : 11/17/2012

Estud Biol. 2013 jan/jun;35(84):25-33 26 2#))%( 3(43(.35(67!1#!/%(835(9(:';+#!/%(<3(23

Introdução sua ação fungicida ou fungistática. Além disso, atua de $-0+ %#L'!'#,2#%!-+-%0#.#*#,2#%91%$-0+'% 1%#%,#+ 2-' - Os cidnídeos (Hemiptera, Cydinidae), compreen- des de solo, tais estudos sugerem uma possível utiliza- dem cerca de 500 espécies de insetos popularmen- ção em experimentos para controle biológico (Routh, te conhecidos por percevejos subterrâneos, que S[XSR% Timonin, 1958, 1961a, 1961b). habitam o solo e se alimentam de raízes (Oliveira & O S. casteanea percevejo ocorre tanto na semeadu- Malaguido, 2004). As espécies desse grupo se des- ra direta, quanto em áreas de manejo convencional. tacam pela morfologia especializada e pelos danos Ninfas e adultos sugam a seiva das plantas hospedei- .0-4-! "-1% 91% !3*230 1% O#!)#0Q% S[XYQ% S[[XR% L'1Q ras, injetando toxinas que impedem seu crescimen- Becker & Schaefer, 2000). São insetos de tamanho to, tornando-as amarelas e, em muitos casos, condu- médio (entre 5 mm e 10 mm), coloração castanha, zindo-as à morte (Oliveira, Pasini & Fonseca, 2002). corpo fortemente convexo, tíbias desenvolvidas e Quando as plantas atacadas não morrem, outros adaptadas para cavar, tarsos anteriores e médios re- sintomas emergem, destacando-se: desenvolvimento duzidos ou ausentes e posteriores ausentes. Na re- disforme, raquitismo, seca das folhas que circundam gião Neotropical, a subfamília está representada por o pseudocaule enegrecido das bordas das folhas ver- dois gêneros: Atarsocoris Becker, 1967 e Scaptocoris "#1Q% L'! ,"-% !-+% . 0N,!' % "#% /3#'+ " 1% ;+ 0 *Q% ?#027Q%SZUU%/3#% $-0+ +% 3+% %03.-% +-,-L'*M2'!-%"#% Medeiros, Oliveira, Souza & Oliveira, 2007). O registro Scaptocorini (Lis, 1999). desses percevejos nas lavouras ocorre em manchas Scaptocoris castanea (Perty, 1830) diferencia-se ou focos, contudo nenhuma explicação esclarece por das demais espécies pela presença de tíbia mediana "#L','2'4-% % %0#% I<-% 0#%'120 " % ?388'% % ;,"0 "#% com uma área dorsal achatada, glabra, tubérculos S[WYR% Lis, et al. 2000) . "'1! '1%"-%!-0 \!3*-%"'1.-12-1%,3+ %L'*#'0 %'00#%3 - Na cultura da Glycine max , Cividanes e Yamamoto lar que se estende desde a base até quase o ápice (2002) discutem a interferência de insetos predado- "-% !-0 \!3*-Q% !3( % 13.#0L\!'#% M% !& 2 " % O#!)#0Q% res atuando como pragas. A dimensão das pertur- 1967). O inseto adulto mede aproximadamente 8 bações provocadas por S. castanea oscila de poucos mm de comprimento e apresenta uma coloração ti- metros até vários hectares dependendo do diâmetro picamente castanha, originando-se, daí, o seu nome do foco da presença do inseto, sendo ainda o nível de .-.3* 0% #% !'#,2\L'!-% ?388'% % ;,"0 "#Q% S[WYT% V-% dano econômico inconstante. Em áreas de cerrado Brasil, esses hemípteros estão presentes na maio- têm sido observadas perdas na produtividade, a par- ria dos estados (Oliveira, Malaguido, Nunes, Corso, tir de uma população de 25 a 40 percevejos/metro Angelis, Faria, et al. 2000). "#%L'*#'0 1%"#%.* ,2 1%D*'4#'0 %%E * %3'"-Q%TRRVT% Os primeiros registros de culturas afetadas pelos A área de pastagens morta em 1992 no município de S. casteanea localizam-se em regiões do estado de Dom Aquino (Mato Grosso) foi de aproximadamente São Paulo (Puzzi & Andrade, 1957), particularmente 10.000 hectares (Picanço, Leite, Mendes & Borges, nos municípios de Ribeirão Preto e Pirassununga. As 1999) . Nardi (2005) discutiu a importância do co- principais culturas hospedeiras comerciais foram: a ,&#!'+#,2-%"-%!-+.-02 +#,2-%#%L*323 I<-%.-.3* - cana-de-açúcar, o algodão, o arroz, o milho, o feijão, o cional desse percevejo no solo para o estabelecimen- café e o eucalipto. Além disso, em 1985 foi observada to de estratégias para seu manejo. Contudo, no local ocorrência de S. castanea em um bananal da varie- de realização do presente estudo não são registrados dade nanicão, no município de Jacupiranga (Brisolla, na literatura. Furtado, Cardim & Kawamoto, 1985). Não obstante, Nesse sentido, questiona-se se S. castanea ocorre salienta-se que vários danos de ordem econômica #+%?0'+ 4#0 %"-%L#12#R%#+%! 1-%.-1'2'4-Q%!-+-% %.- - em lavouras e pastagens de diferentes culturas são pulação se comporta em termos de variação mensal, atribuídos em regiões de Cerrado a esses percevejos distribuição vertical e estágios de desenvolvimento? (Oliveira & Malaguido, 2004). Diante do exposto, o presente estudo tem por A presença de tais percevejos é facilmente reconhe- - (#2'4-%4#0'L'! 0% %"'120' 3'I<-%4#02'! *Q% %L*323 I<-% cida pelo odor repugnante característico — exalado por populacional e a proporção sexual de S. castanea , em glândulas odoríferas — que se desprende quando re- uma área produtora de Glycine max em sistema de volvido o solo no qual se encontram (Puzzi & Andrade, plantio direto no município de Primavera do Leste no S[WYT%W11 %1#!0#I<-%4-*:2'*%$-'% , *'1 " %#%4#0'L'!-3V1#% período de junho a outubro de 2005.

Estud Biol. 2013 jan/jun;35(84):25-33 Scaptocoris castanea (Perty, 1830) (Hemiptera, Cydinidae) em área produtora de Glycine max (= 3>($'(,+$!"@!'(&#(2/!,%1#/%(&'( #)0#5(A%0'(B/'))' 27

Materiais e métodos material foi novamente peneirado em jogo de penei- ras de 0,5 mm de abertura de malha. Os organismos Primavera do Leste, Mato Grosso, (S 15° 33’ 45’’ registrados durante a triagem foram transferidos W 54 ° 17’ 41’’) apresenta solo tipicamente latosso- para recipientes plásticos, devidamente etiquetados *-%4#0+#*&-V + 0#*-%"'120L'!-% %+-"#0 "-Q%2#6230 % e conservados em álcool 70%. A manutenção inicial média e relevo plano. O clima é tropical quente e su- das amostras em freezer , seguida posteriormente de búmido com precipitação média anual de 1.750 mm, manutenção em estufa a 50 °C por horas afetou a in- e as maiores intensidades foram registradas nos me- tegridade de alguns organismos. Contudo, esse fato ses de dezembro, janeiro e fevereiro. A temperatura ,<-%'+.#"'3%/3#%-1%+#1+-1%$-11#+%'"#,2'L'! "-1%#+% média anual é de 22 °C, com a maior máxima registra- +'!0-1!.'-%#12#0#-1!.'!-Q%/3 ,2'L'! "-1%#%1#6 "-1T% da 38 °C e a menor mínima 0 °C (Ferreira 2001). Esse Além disso, foi possível reconhecer do estágio de de- município representa um dos grandes pólos produto- senvolvimento com base em Gassen (1996). O mate- res de soja no estado, no qual a infestação das lavou- rial testemunho encontra-se sob a responsabilidade ras com o percevejo-castanho cresce gradativamente. do primeiro autor. A Fazenda Colorado (S 15° 38’ 632” W 054° Para interpretação dos resultado,s foram aplica- 10’ 539”) compreende uma área com cerca de 112 dos o teste do Qui-quadrado e o teste não paramé- hectares, desmatada em 1981. Os cultivos locais 20'!-% "#% \-*+-%-0-4V]+'0,-4R% -% .0'+#'0-% 4'1 4 % restringem-se a soja e, menos frequentemente, milho 4#0'L'! 0%1#% 1%"'$#0#,I 1%+#,1 '1%, %"'120' 3'I<-%"#% e sorgo. A área selecionada para estudo compreen- frequências relativas entre os estágios de ninfas e deu quatro hectares numa borda de mata nativa, nos "3*2-1%1<-%1'%,'L'! 2'4 1R%-%-320-%2',& %- (#2'4-%"#% quais observações preliminares pontuaram a presen- testar a normalidade do padrão de distribuição entre ça de S. castanea . as diferentes profundidades analisadas. Os programas de amostragem foram realizados mensalmente no período entre junho e outubro de 2005. A área selecionada para o estudo foi dividida Resultados em quatro estações de amostragem, marcando um ponto amostral em cada uma, selecionado ao acaso. No município de Primavera do Leste (MG), du- Cada coleta compreendeu a retirada de uma parce- rante os meses de estudo o valor médio mínimo da la retangular de 150 cm 2 (50 cm × 30 cm), na qual temperatura foi de 21,3 °C (julho/2005) e máxima foram estabelecidos cinco extratos nas seguintes média de 25,0 °C (outubro/2005), enquanto que a .0-$3,"'" "#1S%-%.0'+#'0-% %SR%!+R%-%1#%3,"-% % taxa de pluviosidade total mensal oscilou entre 0 mm TR%!+R%-%2#0!#'0-% %UR%!+R%-%/3 02-% %XR%!+R%#%-% (julho/2005) e 20,6 mm (outubro/2005). No total, quinto a 120 cm, conforme proposto por Oliveira foram registrados 865 indivíduos, os quais foram e Malaguido (2004). Após a coleta, cada amostra mais abundantes em julho (276 indivíduos) e menos foi peneirada, em peneira de 0,5 mm de abertura abundantes em outubro (92 indivíduos). A análise de malha e 60 cm de diâmetro, acondicionada em dos parâmetros abióticos registrou um paralelo en- saco plástico, devidamente etiquetado por extrato tre os maiores valores de precipitação e o aumento e colocada em caixa de isopor e conduzida até o la- na frequência de indivíduos. Contudo, o efeito inver- boratório da Universidade Positivo. Os parâmetros so não foi observado, pois em julho de 2005 a preci- abióticos em análise foram obtidos pela estação pitação foi equivalente a zero, enquanto que a abun- meteorológica automática mantida pelo Instituto dância manteve-se em crescimento (Figura 1). Nacional de Meteorologia (INMET) disposta a cer- A análise dos exemplares evidenciou um predo- ca de 30 km do local de estudo. mínio de S. castanea %XTSR%YSQZ$%#+%0#* I<-% %-3 - No laboratório, o material foi mantido em freezer 20-1%!-+.-,#,2#1%" %$ 3, %#":L'! %TVVR%TZQT$T%V % até a triagem. A triagem consistiu na separação do análise da distribuição de frequências relativas, veri- substrato (solo e outros componentes) dos organis- L'! V1#%3+% 3+#,2-%%0 " 2'4-%, 1%$0#/3N,!' 1%0#* 2' - mos em estudo. Para tanto, cada amostra foi disposta vas dessa espécie, acompanhado de um declínio dos em recipiente metálico de 25 cm × 17 cm e altura de demais componentes dessa macrofauna (Figura 2). 4,5 cm e imediatamente colocada em estufa manti- O reconhecimento de adultos e ninfas de S. castanea da a 50 °C durante 8 horas. Após esse intervalo, o foi possível, contudo estas não puderam ser separadas

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300 n = 865 30

250 25

200 20

150 15

100 10

Abundância 50 5 Graus centígrados / milímetros

0 0 JJASO

Meses de estudo Temperatura Pluviosidade Macrofauna

Figura 1 C(D,@7!0+&#(&#(1%/!% '(&')(1%7'/#)(, &!')(,#$)%!)(&#(0#,@#/%0+/%(&'(%/(#(%(@7+1!')!&%&#(0'0%7($'(A+$!"@!'(&#( 2/!,%1#/%(&'( #)0#(&+/%$0#('(@#/'&'(&#(#)0+&'( Fonte: Dados da pesquisa.

em instares. Contabilizaram-se 303 (48,8%) ninfas e D1% "3*2-1%$-0 +%1#6 "-1% %L'+%"#%1#%4#0'L'! 0% % 318 (51,2%) adultos. Além disso, ambos ocorreram razão sexual. Ao todo, encontraram-se 87 machos e ao longo de todo o período. Foram registrados valo- 231 fêmeas. Ao longo dos meses do estudo, somen- 0#1%1'%,'L'! 2'4-1% %$ 4-0%" 1%,',$ 1%#+%(3*&-%"#%TRRW% te em junho de 2005 o valor do qui-quadrado regis- (67,2%) e a favor dos adultos em junho de 2005 e ou- trado está abaixo do valor tabelar ao nível de signi- tubro de 2005, respectivamente 80,8% e 86,1%. Nos L'!;,!' %"#%RQRW$Q%!-+%0 8<-%1#63 *%"#% V 1,4 : 1 W. meses de agosto e setembro de 2005 as diferenças Nos demais meses, o valor da razão sexual de fêmeas ,<-%$-0 +%1'%,'L'! 2'4 1Q% -%,\4#*%"#%RQRW$%"#%1'%,'L' - 0#%'120 "-%$-'%1'%,'L'! 2'4 +#,2#%13.#0'-0% -%"#%+ - cância (Figura 3). chos, em julho de 2005 ( V 2,4 : 1 W), agosto de 2005 Na sequência foi analisada a distribuição vertical (V 3,3 : 1 W), setembro de 2005 ( V 2,7 : 1 W) e outu- das ninfas e adultos nas cinco profundidades. Em ju- bro de 2005 ( V 4,7 : 1 W) (Figura 5). ,&-%"#%TRRWQ% %!-,!#,20 I<-%$-'%"#%WR$R%#+%(3*&-%"#% TRRWQ%UXQT$R%#%#+% %-12-%"#%TRRWQ%VSQV$T%V#11#1%.# - ríodos a maior concentração ocorreu na profundida- Discussão de de 60 cm. Em setembro e outubro, a concentração foi de 45,9% e 48,1%, respectivamente, nesses meses Machos, fêmeas e juvenis de S. castanea gradativa- a maior profundidade foi de 30 cm, respectivamente mente ampliaram suas abundâncias, em especial nas As análises dos padrões de distribuição desses valo- profundidades entre 20 cm e 120 cm, na cultura de 0#1% .-,2 +%/3#% 1%"'$#0#,I 1%1<-%1'%,'L'! 2'4 1Q%!-, - Glycine max em Primavera do Leste no período entre siderando-se o fato de os valores registrados estarem junho e outubro de 2005. Em outras áreas do estado sempre superiores ao valor tabelar ao nível de 95% de Mato Grosso foi igualmente constatada a presença "#%!-,L' ,I %a'%30 %VT desse percevejo, municípios de São Gabriel do Oeste,

Estud Biol. 2013 jan/jun;35(84):25-33 Scaptocoris castanea (Perty, 1830) (Hemiptera, Cydinidae) em área produtora de Glycine max (= 3>($'(,+$!"@!'(&#(2/!,%1#/%(&'( #)0#5(A%0'(B/'))' 29

Outros n = 865 Scaptocoris castanea 100

80

60

40

Frequência relativa % 20

0 JJASO Meses de estudo / 2005

Figura 2 !"#$%&#'(# +!,-!.&-/(12#3!&-43%#53!,+$!2+67+1-1%-$!,3!.3(13!-,\23!&-:#$%&3,+$!1+!6(1#27#+!,-!<ɻ-&3! ,+!=-$%-!,(&31%-!7-&+,+!,-!-$%(,+! Fonte: Dados da pesquisa.

<& . "<-%"-%?3*Q%@%3 %<* 0 %#%B 0 ! (3R%2-"-1%#12#1%"'1 - na população de S. castanea é similar aos resultados tantes cerca de 490 km de Primavera do Leste. Nesses de Bechinski e Pedigo (1981) nas culturas da soja e locais ninfas e adultos ocorreram em maior abundância milho. Entretanto, o período de desenvolvimento do nos primeiros 45 cm de profundidade, ao longo de todo presente estudo foi curto, o que indica a necessida- o ano, com picos populacionais em janeiro e setembro de de estudos futuros. aparentemente relacionados às oscilações pluviométri- A presença de adultos e ninfas foi igualmen- cas (Avila, Xavier & Gómez 2009). te registrada por Oliveira e Malaguido (2004) em Os resultados do presente estudo destacam que Sapezal (MG), em Cândido Mota (SP) e em Mineiros a pluviosidade parece ser um fator mais preponde- !"T% #1%#123"-1%-1% 32-0#1%4#0'L'! 0 +%,-1%.# - 0 ,2#%, 1%L*323 I#1%.-.3* !'-, '1%"-%/3#% %2#+.# - ríodos mais secos que os adultos ocorrem em me- ratura. Salienta-se que as variações de pluviosidade nor abundância. Além disso, ninfas predominaram foram mais acentuadas do que a oscilação da tem- numericamente entre maio e novembro (Sapezal), peratura. O fato de a taxa de umidade no solo afetar maio e agosto (Cândido Mota) e em novembro, de- a distribuição de S. castanea corrobora interpreta- zembro e março (Mineiros). Em Primavera do Leste, ções de Oliveira e Malaguido (2004) e Nardi (2005). as ninfas somente são mais abundantes em julho Os estudos desenvolvidos com essa espécie não in- "#%TRRWQ%#12#%$ 2-%.-"#%0#L*#2'0%3+%.'!-%,-%0#!032 - terpretam de maneira conclusiva o papel da tempe- mento no período. 0 230 %, 1%L*323 I#1%.-.3* !'-, '1R%!-,23"-Q%. 0 % As concentrações desse percevejo em Primavera os insetos, temperaturas próximas a 25 °C represen- do Leste na profundidade entre 30 cm e 60 cm os- tam valores ótimos para o desenvolvimento e pro- cilam entre 53% e 96%. Esse registro é semelhan- dução de descendentes (Wink, Guedes, Fagundes & te a estudos realizados em Mineiros, onde 80% da Rovedder, 2005). Além disso, o aumento gradativo população cresceu aos 30 cm de profundidade, em

Estud Biol. 2013 jan/jun;35(84):25-33 30 <-$$3!=>!?>!@>A!B4#5-#&3!C>A!D!E+:(-#&3!F>!<>

n = 621 Scaptocoris castanea

100

80

60

40

Frequência relativa % 20 Adultos Ninfas 0 J J A S O

Meses de estudo / 2005

Figura 3 !"#$%&#'(# +!,-!.&-/(12#3!&-43%#53!,-!1#1.3$!-!3,(4%+$! Scaptocoris castanea !1+!6(1#27#+!,-!<ɻ-&3!,+!=-$%-! durante o período de estudo Fonte: Dados da pesquisa.

Cândido Mota, em que se observaram valores en- Sugerem-se novas abordagens em condições controla- tre 54% e 63% na profundidade de 20 cm, e em das para interpretar de forma efetiva essa proposição. Sapezal, onde valores superiores a 77% ocorreram @0# 1%!-+%',$#12 I<-%1#4#0 %.-0%.#0!#4#(-%! 12 - acima de 60 cm de profundidade. Esse padrão de nho suscitam medidas preventivas sistematizadas distribuição vertical alerta para a necessidade das para minimizar a ação desses insetos sobre as planta- medidas de controle se estenderem até esses limites ções (Costa & Forti 1993). Em Primavera do Leste, um de profundidades. experimento para controle deste inseto foi realizado As diferenças registradas na razão sexual ao favor por Vivan (2010), aplicando medidas de controle bio- das fêmeas podem estar associadas a diferentes aspec- lógico e química sobre ninfas e adultos. Nesse caso, o 2-1%" 1%',2#0 I#1%',20 #1.#!\L'! 1%#% + '#,2 '1Q%!-,$-0 - 20 2 +#,2-% '-*%'!-%$-'%+ '1%#L'!'#,2#%1- 0#% 1%,',$ 1Q% me propostos por Charnov (1982), o qual ressalta que enquanto que o tratamento químico obteve melhores a razão sexual entre populações de insetos pode sofrer resultados para os adultos. A coexistência de diferen- alterações em funções de condições operantes do meio, tes estágios de desenvolvimento na população em #+%!-+-%',2#0 I#1%',20 #1.#!\L'! 1T%K +'*2-, (1967) estudo alerta para a necessidade de implantação de pontua que a competição por acasalamento entre “ir- tratamentos, aliando medidas de controle biológico ao mãos” e autocruzamento em certas populações poderia controle químico, com o intuito de mitigar a sobrevi- produzir uma razão sexual fortemente desviada para vência de quaisquer estágios que possam, na sequên- fêmeas. No presente estudo contatou-se uma presen- cia, recompor a abundância populacional. ça de fêmeas em valores superiores ao dos machos em Os resultados apontam para a presença constante todos os meses de estudo. Esse fato pode sugerir que de S. castanea na cultura de Glycine max em Primavera a população em análise resulta de autocruzamentos, do Leste. Aliando essa informação a outros estudos cujas condições ambientais são favoráveis às fêmeas. desenvolvidos no país, destaca-se a necessidade de

Estud Biol. 2013 jan/jun;35(84):25-33 Scaptocoris castanea (Perty, 1830) (Hemiptera, Cydinidae) em área produtora de Glycine max !G=>H!1+!6(1#27#+!,-!<ɻ-&3!,+!=-$%-A!I3%+!J&+$$+ 31

100 n = 51 10 1 10 cm relativa % Frequência 0,1 J J A S O Profundidade

100 n = 108 10 1 20 cm relativa % Frequência 0,1 J J A S O Profundidade

100 n = 165 10 1 30 cm relativa % Frequência 0,1 J J A S O Profundidade

100 n = 198 10 1

relativa % 60 cm Frequência 0,1 J J A S O Profundidade

100 n = 99 10 1

relativa % 120 cm Frequência 0,1 J J A S O Profundidade Meses de estudo / 2005 Ninfa Adulto

Figura 4 !?4(%(3 +!,3!,#$%&#'(# +!,-!.&-/(12#3!&-43%#53!5-&%#234!,-!1#1.3$!-!3,(4%+$! Scaptocoris castanea nas diferentes 7&+.(1,#,3,-$!-6!<ɻ-&3!,+!=-$%-!1+!7-&+,+!,-!-$%(,+! Fonte: Dados da pesquisa. Nota: Valores em escala logarítmica. estabelecer medidas de controle (manejo, químicas ou e 120 cm de profundidade, as medidas devem ser di- biológicas), durante todo o cultivo, considerando adul- recionadas pelo menos até essa amplitude de profun- tos e ninfas. Além disso, o fato das maiores concentra- didade, de modo a evitar dano econômico na cultura ções populacionais estarem distribuídas entre 30 cm estabelecida.

Estud Biol. 2013 jan/jun;35(84):25-33 32 <-$$3!=>!?>!@>A!B4#5-#&3!C>A!D!E+:(-#&3!F>!<>

Machos Fêmeas

J n = 318

J

A

Meses de estudo / 2005 S

O

100 80 60 40200 20 40 60 80 100

Frequência relativa %

Figura 5 ! "#$%&#'(# +! ,-! .&-/(12#3! &-43%#53! ,-! Scaptocoris castanea ! 73&3! 3! &3K +! $-L(34! ,-! 632M+$! -! .6-3$! -6! <ɻ-&3!,+!=-$%-!1+!7-&+,+!,-!-$%(,+! Fonte: Dados da pesquisa.

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