O Caso De Uma Literatura Com Forte Componente Lexical Regional Proposta Para Uma Versão Francesa De Contos Gauchescos De João Simões Lopes Neto
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS LER PARA TRADUZIR: O CASO DE UMA LITERATURA COM FORTE COMPONENTE LEXICAL REGIONAL PROPOSTA PARA UMA VERSÃO FRANCESA DE CONTOS GAUCHESCOS DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO MICHEL THIERRY LE GRAND PORTO ALEGRE 2019 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS ÁREA: ESTUDOS DE LITERATURA LINHA DE PESQUISA: ESTUDOS LITERÁRIOS APLICADOS: INTERPRETAÇÃO DE TEXTO, ESTUDOS DA TRADUÇÃO LER PARA TRADUZIR: O CASO DE UMA LITERATURA COM FORTE COMPONENTE LEXICAL REGIONAL PROPOSTA PARA UMA VERSÃO FRANCESA DE CONTOS GAUCHESCOS DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a conclusão do Doutorado em Letras. MICHEL THIERRY LE GRAND ORIENTADOR: PROF. DR. LUIS AUGUSTO FISCHER PORTO ALEGRE 2019 Michel Thierry Le Grand Ler para traduzir: o caso da literatura com forte componente lexical regional Proposta para uma versão francesa de Contos gauchescos de João Simões Lopes Neto Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a conclusão do Doutorado em Letras. Porto Alegre, 29 de novembro de 2019 Resultado: Aprovado nota A BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________________________ Denise Sales Departamento de Letras Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ___________________________________________________________________________ Flávio Wolf Aguiar Departamento de Universidade de São Paulo (USP) ___________________________________________________________________________ Luis Rubira Departamento Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) AGRADECIMENTOS First and not least, minha gratidão ao professor Fischer pela sabedoria, imensa paciência e o amparo constante que me tem proporcionado ao longo dos anos. Às professoras Patrícia Reuillard e Denise Sales da UFRGS e à professora Luciana Rassier da UFSC que validaram o projeto, ainda em fase de desenvolvimento, e me ajudaram a achar o rumo do meu boi barroso. Meus agradecimentos também, mais abrangentes, à UFRGS e – por que não? – ao Brasil, por intermédio da CAPES, por ter-me acolhido da melhor forma possível, possibilitando um projeto concebido há décadas, mas que nunca conseguira realizar até hoje... Circunstâncias da vida... Também neste quesito, não posso deixar de incluir toda a équipe da secretaria do PPGLetras cujos funcionários sempre me ajudaram com muita paciência e pedagogia no cumprimento dos requisitos administrativos. Também quero agradecer à companheira, Rejane Martins, que aguentou, sempre com serenidade, literalmente, centenas de perguntas sobre o que quer dizer isto, porque ele/ela disse assim, será que queria dizer outra coisa, quando que se diz isto? e tantas outras... E a minha filha Catherine, que me ajudou a conferir a numeração das notas de rodapé para a qualificação e me ligou sempre para me dar o necessário apoio longe dos pagos. Enfim, fico grato pela contribuição da banca, cujos membros, agradeço particularmente pelas valiosas observações que fizeram e que me permitiram aprimorar a tese até chegar a esta versão definitiva Estou como que fazendo o caminho ao revés. Pois, oxalá este doutorado me abra as portas do mestrado, e quem sabe, depois, eu possa sonhar com o bacharelado, e ainda mais tarde talvez até algum vestibular, ensino médio, fundamental, e, sim, sempre se pode sonhar... se não se perder o fôlego... com algum jardim de infância para um final glorioso... Sky is the limit! Aviso O presente documento é, principalmente, um sumário dos trabalhos que acompanharam a elaboração de uma versão francesa de Contos gauchescos, de João Simões Lopes Neto, a qual tem sido sempre o cerne do meu projeto de doutorado. Em outros termos, seria um “apanhado” da parte tradutológica que viria completar a parte propriamente tradutória (a versão) no projeto. Os comentários em questão foram elaborados dentro de uma perspectiva que contempla, basicamente, três eixos principais: - a interpretação do texto de Simões, que, por ser intimamente vinculada com uma visada tradutória, talvez traga à tona elementos na composição escritural que não costumam receber tanta ênfase por parte dos estudiosos da obra simoniana (pelo menos é o que se conjetura). - A transferência do texto de Simões para outro contínuo linguístico-cultural, com a particularidade de se tratar de uma conversão na qual a linguagem de partida se caracteriza por um uso da coiné (variedade “dominante” do português do Brasil em escala nacional) bastante impactado pela inclusão massiva de formas regionais, enquanto a linguagem de chegada infelizmente se reduz a um uso da coiné (variedade “dominante” do francês da França em escala nacional) muito mais padronizado em relação com o original. - A tradução do português do Brasil para o francês da França (novamente, em se tratando das variedades mais prestigiadas no ambiente, digamos, escolar), sendo que muitos dos pontos abordados são suscetíveis de interessar a outra configuração linguística, mas que a maior parte dentre eles me pareceu ter pertinência particular para o contexto de tradução que me tocava (p.ex. o léxico da escravidão, os etnônimos, o vocabulário equestre, os diminutivos, aumentativos e coletivos, etc.). "J'ai voulu dire ce que cela dit, littéralement et dans tous les sens" seria a resposta que o poeta francês Arthur Rimbaud teria dado à mãe desorientada por seus poemas e que teria perguntado sobre o que o filho queria dizer. Neste trabalho, talvez a preocupação com alguma duplicidade (literalmente e em todos os sentidos) basilar da palavra, nas suas funções tanto denotativas quanto conotativas tenha sido a linha diretriz principal da pesquisa. Abordei a palavra não só na sua função de designar algo (o chamado referente virtual), mas também de remeter a algo (além, pois, do referente virtual mais imediato). Provavelmente, no mais das vezes, errei no pealo e peguei o texto de meia espalda, mas aprendi... Pelo menos espero ter aprendido. ...E o professor retomava a chalra. Nisto o orientando já calejado e sabido, chegava-se-lhe manhoso e cochichava-lhe no ouvido: – Professor, não tem mais tese!… – Traz dessa mesma! Não demores, bandalho!... E o tempo ia correndo, como água de sanga cheia... A tese do Michel Le Grand criou fama… A gente daquele tempo, até, quando queria dizer que uma cousa era tardia, demorada, maçante, embrulhona, dizia: – Está como a tese do Michel Le Grand! (Contos grouchescos) Resumo Este trabalho está alicerçado em uma proposta de tradução para o francês da coletânea Contos gauchescos, de João Simões Lopes Neto. Além desta proposta de versão, a tese inclui um comentário que incorpora análises relacionadas à interpretação do texto e sua tradução. O documento está disponível em vinte e cinco "ensaios", os vinte primeiros associados a uma proposta de versão francesa da história destacada, seguindo a ordenação dos textos conforme organizados na edição de 1949. Cada ensaio se detém sobre um conto particular como pretexto para reflexão e precede imediatamente a proposta de uma versão francesa do mesmo conto. Cada um deles trata de uma questão específica que diz respeito tanto à interpretação do texto original quanto à sua conversão linguística, e provavelmente representa uma dificuldade recorrente para o tradutor. Alguns dos assuntos abordados se referem a uma reflexão mais ampla, considerando a tradução como um todo, independentemente das línguas utilizadas, outros estão mais intimamente ligados à configuração lingüística em que se situa a proposta de uma versão em francês. Os primeiros vinte comentários são, pois, mais específicos em sua abordagem e lidam com a busca de significado, juntamente com o problema de sua transferência, dos seguintes elementos linguísticos e textuais: topônimos, elementos de intertextualidade, antropônimos, estruturas rítmicas e musicalidade, frases feitas, configurações de camadas de idiomas, vocabulário "historizado" (palavras da escravidão) e vocativos, léxico equestre, componentes historiográficos, zoomorfismo da linguagem, etnônimos, procedimentos de dinamização e televisualização, fitônimos, trocadilhos, gentílicos e "politônimos", zoônimos, regionalismos, paremiologia e discurso gnômico, paralelismos estruturais, sintáticos e lexicais, diminutivos, aumentativos e coletivos. Os últimos cinco comentários não estão associados a um conto particular, mas visam convergir as análises feitas anteriormente, com foco no estudo de aspectos textuais possivelmente mais transversais e mais genéricos. Eles se relacionam mais precisamente à transferência de sistemas significantes que envolvem unidades menores que a palavra (vogais 'a' e 'o' neste caso), figuras numerológicas (em torno do '8' essencialmente), tempos verbais (tradução de "passado simples” do texto em português), teatralidade (especialmente a relação entre contar histórias e comédia) e figuras de iconicidade (por exemplo, a trança desenhada em filigrana ao longo da coletânea). Quatro deles (teatralidade, vogais, números e iconicidade) são usados para mostrar como os elementos mais particulares tratados nos comentários anteriores (etnônimos, diminutivos, designações de fauna e flora etc.) se encaixam nas redes globais significativas. O capítulo sobre a contribuição semântica de unidades menores do que a palavra (sílabas, letras, morfemas, por exemplo) visa destacar a maneira pela qual elementos “diferenciais”