CASA-GRANDE SEVERINA 120 Anos De Gilberto Freyre 100 Anos De João Cabral De Melo Neto
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CASA-GRANDE SEVERINA 120 anos de Gilberto Freyre 100 anos de João Cabral de Melo Neto 1 MINISTRO DA EDUCAÇÃO Abraham Bragança de Vasconcelos Weintraub PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO Antônio Ricardo Accioly Campos DIRETOR DE MEMÓRIA, EDUCAÇÃO, CULTURA E ARTE (DIMECA) Mario Helio Gomes de Lima COORDENADORA DA EDITORA MASSANGANA Elizabeth Mattos 2 CASA-GRANDE SEVERINA 120 anos de Gilberto Freyre 100 anos de João Cabral de Melo Neto Antonio Maura | Xico Sá | Fátima Quintas | Nathália Henrich João Cezar de Castro Rocha | Pablo González Velasco Anco Márcio Tenório Vieira | Ivan Marques | Arnaldo Saraiva José Castello | Cristiano Santiago Ramos | Joaquim Falcão Moacir dos Anjos| Ana Farache | Katia Mesel Marcelo Abreu (Org.) © 2020 Dos autores © 2020 Do organizador Organização Marcelo Abreu Projeto gráfico Sidney Rocha Foto da capa Detalhe da instalação “Sobre este mesmo mundo”, de Cinthia Marcelle, na exposição Educação pela pedra [curadoria de Moacir dos Anjos] Foi feito o depósito legal. Impresso no Brasil. Reservados todos os direitos desta edição. Reprodução proibida, mesmo parcialmente, sem autorização da Editora Massangana da Fundação Joaquim Nabuco. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Fundação Joaquim Nabuco. Biblioteca) A162c Abreu, Marcelo (Org.) Casa-grande Severina: 120 anos de Gilberto Freyre e 100 anos de João Cabral de Melo Neto/Organização de Marcelo Abreu. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2020. 240p.: il Bibliografia ISBN 978-85-7019-704-7 1.Freyre, Gilberto, 1900-1987 - crítica e interpretação. 2. Melo Neto, João Cabral de, 1920-1999 - crítica e interpretação. II. Título CDU 869.0(81) Fundação Joaquim Nabuco | www.fundaj.gov.br Av. 17 de Agosto, 2187 - Ed. Paulo Guerra Casa Forte - Recife, PE | CEP 52061-540 - Telefone (81) 3073.6363 Editora Massangana | Telefone (81) 3073.6321 https://www.fundaj.gov.br/index.php/pagina-editora-massangana SUMÁRIO Ideias que se concretizam, por Antônio Campos, 9 Sobre estas e outras Casas-Grandes Severinas, por Mario Helio, 11 Nota editorial, por Marcelo Abreu, 19 JOÃO E GILBERTO Marcas hispânicas na obra de Gilberto Freyre e João Cabral, por Antonio Maura, 27 Meus encontros com Gilberto e João, entre licores, aspirinas e cafés, por Xico Sá, 41 CASA-GRANDE Uma minibiografia, por Fátima Quintas, 51 Sobre mestres e discípulos: as trajetórias entrecruzadas de Gilberto Freyre e Oliveira Lima, por Nathália Henrich, 67 Paralelas que se encontram: as escritas de Gilberto Freyre e José Lins do Rego, por João Cezar de Castro Rocha, 87 Os itinerários hispânicos de Gilberto Freyre. Novas descobertas na Espanha, por Pablo González Velasco, 111 Gilberto Freyre e Flávio de Carvalho: diálogos sobre as pequenas utopias da moda, por Anco Márcio Tenório Vieira, 127 SEVERINA João Cabral de Melo Neto: os anos de formação, por Ivan Marques, 139 João Cabral na poesia portuguesa, por Arnaldo Saraiva, 155 A pedra que lateja, por José Castello, 167 Refazer o rio antigo que o fez: Sobre a fortuna crítica de João Cabral, por Cristiano Santiago Ramos, 177 A Constituição Severina, por Joaquim Falcão, 199 ARTES PLÁSTICAS E CINEMA Educação pela pedra: notas sobre uma exposição, por Moacir dos Anjos, 213 Dois mestres em imagens, por Ana Farache, 223 O poeta e a cineasta: "O cão sem plumas" e Recife de dentro pra fora, por Katia Mesel, 229 Sobre os autores, 233 IDEIAS QUE SE CONCRETIZAM Antônio Campos* Ao evocar o espanhol Pinzón, João Cabral de Melo Neto se referiu a um território tão iluminado que “leva dois sóis”. Esse terri tório é Pernambuco, e nele as praias de luz mineral, o “ros- tro hermoso” ou Cabo de Santo Agostinho, onde Joaquim Nabuco iluminou a própria consciência para sua missão social: debelar a escravidão. A escravidão no seu tempo tinha um nome só e poucos sinô- nimos. A escravidão atual, sendo nomeada ou não, é resul tado da desigualdade, da injustiça, da discriminação. Tudo isso é parte daquela “obra da escravidão” a que se referiu Nabuco. A instituição que há mais de setenta anos tem a missão de pes- quisar saídas para as dificuldades enfrentadas pelos mais des- favorecidos no Nordeste leva mais do que o nome de Joaquim Nabuco. Conduz os seus ideais. Concretamente, como órgão de pesquisa e de cultura, de edu- cação e difusão do conhecimento, de preservação da memória e valorização das artes, traduz esses ideais em ações. As ações se traduzem muitas vezes nas discussões de ideias, na formulação. * Antônio Ricardo Accioly Campos é advogado, escritor e presidente da Fun- dação Joaquim Nabuco. 9 Em projetos, em programas. Em debates livres. O seminário in- ternacional Casa-grande Severina é um exemplo disso. Reunindo especialistas na vida e obra de João Cabral de Melo Neto e Gilberto Freyre, a Fundação Joaquim Nabuco fez mais do que celebrar efemérides: no caso, o centenário de nascimento de Cabral e os 120 de Freyre. Cumpriu sua missão institucional. Semear livros é, como afirmou um contemporâneo de Joaquim Nabuco, o poeta baiano Castro Alves, uma forma de bendição fe- cunda, pois além de alimentar o pensamento, abre as portas da consciência e da ação. Ou como melhor disse João Cabral, num trecho de “Morte e vida severina”: De sua formosura deixai-me que diga: é tão belo como um sim numa sala negativa. Belo porque é uma porta abrindo-se em mais saídas. O seminário internacional sobre Gilberto Freyre e João Ca- bral propiciou, como indica a própria palavra seminário, o se- mear ideias. Ideias que se concretizam agora neste livro, e que se concretizarão em outros: como a nova edição do Livro do Nor- deste, organizado por Gilberto Freyre, em 1925, para celebrar o primeiro século do Diario. Em pleno advento dos 120 anos do sociólogo e jornalista, a iniciativa da Fundação Joaquim Nabuco, oficializada em público durante o seminário, irá unir os dois pon- tos extremos: o Nordeste do passado ao do futuro, sob o olhar e as tessituras do presente. 10 SOBRE ESTAS E OUTRAS CASAS-GRANDES SEVERINAS Mario Helio* Há no título deste livro um jogo de palavras. De todo óbvio para os leitores de Gilberto Freyre, o autor de Casa-grande & senzala; e de João Cabral de Melo Neto, o poeta dramático de Morte e vida severina. A ironia quase paradoxal contida na simi- litude sonora de Senzala/Severina pode sugerir outros desdobra- mentos de significados. Convém, no entanto, perceber mais as sutilezas que as associações de ideias feitas. Em dezembro de 2019, a Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte da Fundação Joaquim Nabuco realizou um semi- nário sobre João Cabral de Melo Neto e Gilberto Freyre. A de- cisão do diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte de batizar o encontro de Casa-grande Severina representou uma tentativa não tanto de fundir as duas obras, mas de estimular novas refle- xões e interpretações. Este livro reúne uma parte do falado e mostrado nos dias 4, 5 e 6 de dezembro, no campus do Derby. Casa-grande Severina foi intencionadamente uma anteci- pação. Os cem anos do poeta seriam completados no janeiro de * Mario Helio Gomes de Lima é escritor e jornalista, doutor em Antropologia pela Universidade de Salamanca, na Espanha, e diretor da Diretoria de Me- mória, Educação, Cultura e Arte da Fundação Joaquim Nabuco. 11 2020; e os 120 do sociólogo no março desse mesmo ano. Podiam ter sido pensadas as programações para eventos independentes. No entanto, entendeu-se como o mais adequado e original unir, pela primeira vez, os dois primos escritores pernambucanos. Ainda que, num primeiro momento, Gilberto e João pareçam tão diferentes, as semelhanças vão além da aliteração de G e J, a classe social, e serem ambos “Melo” ou “Mello” (conforme a ortografia, reformada ou não, que se escolha). Aliás, Freyre tinha um assumido gosto por arcaísmos, daí que preferisse, no seu so- brenome, grafar Mello, e não Melo, Freyre, e não Freire. Quando se trata, porém, de senzala e severina, não basta a coincidência verbal. Tampouco, sabendo-se a pobreza do perso- nagem do auto de Natal pernambucano Morte e vida severina, deduzir-se que seja Severino nome apenas de pobre, e até de ne- gro, de escravo, de gente desfavorecida ou desafortunada. Morte e vida severina começa com uma autoapresentação da personagem que, entre irônico e melancólico, tenta explicar ao público seu nome. O que haveria de particular e, ao mesmo tempo, de geral, em chamar-se Severino? Reconhece ele a vulga- ridade do seu nome próprio. É um dos tantos que assim são cha- mados por derivação do São Severino. Ou então porque filiados, além do santo, a mulheres chamadas de Maria (acentuando-se nisto o cristianismo, aliás já em si mesmo alegorizado no auto, por ser de Natal). Após as ruminações e perorações em torno do seu nome, Se- verino radicaliza a própria humanização ampla. O Severino de- signa todo um estilo de vida e métodos de morte. Sociologica- mente, passa ao jogo metonímico para todos os emigrantes, os reti rantes. Igualmente, os desempregados, os duramente atingi- dos – não pelo Destino, mas pela desigualdade social e econômi- ca. Da injustiça não dos deuses, mas dos homens, incluídos os outros severinos, burgueses e nobres. A escolha de um nome é algo sério, complexo e com impli- câncias pessoais e sociais profundas. Não apenas “the Naming of Cats is a difficult matter,/ It isn’t just one of your holiday games”, como avisa Eliot. Decidir se a flor se chamará rosa ou não, da 12 passagem famosa de Shakespeare, é outro aspecto na problemá- tica de nomear. O ser humano vive dando nomes aos bois e a si mesmo, às estrelas, aos deuses e a tudo o que se move ou é estático, ou é só uma ideia, desde o começo de sua existência.